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02/05/2023

Violência doméstica sobre


pessoas do sexo masculino
Mestrado em Psicologia da Saúde e
Neuropsicologia
1º ano
Avaliação e Intervenção Psicológica em Adultos e
Idosos

Catarina Neves
Casa de Abrigo para homens
20.04.2023

Violência
Números; Definições e construtos

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Violência doméstica em números – Uma visão geral

 É o crime mais participado em Portugal, de acordo com dados do RASI 2021 e 2022:
 Em 2020, os OPC registaram 27619 denúncias relativas ao crime de VD
 Em 2021 foram registadas 26511 ocorrências relacionadas com o crime de VD
 Em 2022 foram registadas 30488 participações (+3968 casos, correspondendo a um aumento de
15%)

 Trata-se, em média, de 2.540 participações por mês, 84 por dia, mais três por hora.

 Em 2021, a APAV recebeu 19846 pedidos de apoio por parte de VVD/Em 2022 foram
1684 (+7,7%)

 Mais de 15000 VVD recorreram à teleassistência como medida de proteção

Violência doméstica em números – Dados da RNAVVD

 Atendimentos em 2021: 15785 vítimas/Em 2022: 16736 vítimas

 Acolhimentos:
Acolhimentos 2020 2021 2022
Mulheres 1716 2877 3254
Crianças 1317 1421 2909
Homens 66 72

Total 3033 4364 6235

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Violência Doméstica contra homens

2020 2021 2022

RASI 9050 – 25% das vítimas 8937 – 25.1% das vítimas 11167 – 27.6% das vítimas

APAV 1627 1842 3013

Violência Doméstica contra homens

 A prevalência da VRI contra os homens tem sido


reportada por vários estudos internacionais, que
revelam que entre 25 % a 50 % das vítimas de VRI
são homens.

 Cada vez mais homens reportam serem vítimas de


VD. A Infografia publicada pela Fundação Francisco
Manuel dos Santos no início deste mês, revela que
em 2021, 25% das vítimas são homens.

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Violência

Violência - qualquer forma de uso intencional da força, coação ou intimidação contra terceiro –
pessoa ou objeto.

O ato pode resultar em:


 danos físicos ou psicológicos irreversíveis;
 a privação de bens e liberdade;
 ou morte.

“Violência” ≠ “Crime”

Tipologia da violência

(Krug et al., 2002)

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Distinções conceptuais da violência

 Violência doméstica (VD)


Comportamento violento único ou continuado exercido sobre qualquer pessoa que habite no
mesmo agregado familiar, ou que, mesmo não coabitando, seja companheiro, ex-companheiro,
familiar ou no âmbito de processos de maior acompanhado.

 Violência nas relações de intimidade (VRI)


A violência é exercida entre companheiros em diferentes tipos de relacionamentos íntimos.

Distinções conceptuais da violência

 Violência familiar (VF)


Comportamento violento que ocorre de um membro familiar para o outro. Não implica
coabitação.

 Violência de género (VG)


A agressão é dirigida a uma pessoa devido ao seu género, à sua identidade ou à sua expressão de
género. Tem por base num conjunto de crenças, atitudes e comportamentos que a sociedade
atribuiu aos géneros.

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Trabalho prático

 Leitura do texto
 Resposta a questionário
 Discussão

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História de Luís….

 Luís casou com Joana quando tinha 21 anos após cerca de 1 ano e meio de namoro.
 Os primeiros problemas surgiram ainda durante o período de namoro mas o Luís foi
desvalorizando os mesmos devido ao facto da sua companheira ser oriunda de uma família onde
havia muita violência e maus tratos entre os pais.
 Antes do namoro a Joana já tinha efectuado diversos tratamentos médicos devido ao fato de
apresentar alterações comportamentais e emocionais e inclusive já tinha estado internada no
serviço de psiquiatria.
 Após o casamento os primeiros dois anos correram bastante bem mas os problemas surgiram
quando o casal pensou em engravidar. Nesta altura as discussões eram frequentes e a Joana
começou a apresentar comportamentos agressivos e controladores. O Luís acabava por desculpar
porque a seguir a Joana ficava muito meiga com ele e ele percebia que ela estava a sofrer muito
com o fato de não conseguir engravidar.
 Iniciaram tratamentos de fertilidade mas o relacionamento entre o casal agrava-se cada vez mais,
embora o Luís continuasse a atribuir todos os acontecimentos ao período de stress que estavam a
vivenciar. Entretanto surgiu a ideia de se inscreverem para adoção mas a Joana acabou por
engravidar naturalmente, acontecimento que foi vivenciado pelo casal com grande alegria.

História de Luís

 Após mais um período de desemprego acabou por integrar uma empresa de reboques automóveis mas
a situação repetia-se. Houve uma vez que a esposa foi insultar uma cliente a quem o Luís estava a
rebocar um carro após um acidente.
 Entretanto a Joana engravidou novamente mas teve um aborto espontâneo. Sofreu bastante e o Luís
esteve sempre a apoiá-la. Tinha muita pena dela e acabava por perdoá-la de tudo.
 Após algum tempo, surgiu nova gravidez mas era uma gravidez de risco e teve de ser realizada uma
amniocintése. O resultado demorou um mês a vir e durante esse período a Joana não conseguia
dormir, alimentar-se ou trabalhar. O Luís mais uma vez esteve sempre ao seu lado e apoiá-la.
 Entretanto a filha nasceu. O comportamento da Joana foi se mantendo mas o Luís foi obrigado a ir
trabalhar para o estrangeiro uma vez que o casal estava com muitas dívidas. Quando estava fora
enviava todo o dinheiro que conseguia para a esposa, certo de que a mesma iria proceder ao
pagamento das dívidas. Nos meses mais complicados, em que ele não conseguia enviar tanto dinheiro
como habitual, a esposa recusava-se a falar com ele ao telefone e desligava-lhe constantemente o
telefone. Também não permitia que ele falasse com os filhos. E houve várias vezes em que ele chegou
a casa para passar férias mas a esposa não deixava que ele entrasse em casa, pelo que tinha de ficar
alguns dias em casa de familiares até a esposa se decidir a deixá-lo entrar. Acabou por deixar o trabalho
no estrangeiro porque percebeu que a esposa gastava o dinheiro todo e continuavam com as dívidas
todas por pagar. A situação só piorava com a sua ausência mesmo no que diz respeito aos cuidados que
a Joana prestava aos filhos.

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História de Luís…

 O primeiro filho do casal nasceu e nessa altura os problemas entre o casal agravaram novamente. A Joana passou a
apresentar elevada desconfiança em relação ao Luís, perseguia-o e controlova-o. Ia espiá-lo ao trabalho, queria
saber com quem ele andava a falar e se soubesse que ele tinha falado com algum elemento do sexo feminino fazia
“cenas” estivesse onde estivesse e recusava manter relações sexuais com ele meses a fio, para o “castigar”. Para
evitar problemas, o Luís evitava falar com outras mulheres, ia para casa logo que saía do trabalho e não aceitava
horas extra. Acabou despedido do emprego.
 Quando ficou desempregado a situação não melhorou porque surgiram os problemas económicos. A Joana sempre
teve alguma dificuldade em gerir a economia familiar mas exigia que o Luís lhe entregasse o seu salário por
completo. Ele cedia para evitar chatices mas quando ficou desempregado percebeu que a sua situação económica
era muito vulnerável.
 Sentiu-se obrigado a aceitar o primeiro emprego que surgiu, embora o mesmo não o realizasse profissionalmente.
Contudo, também este trabalho sofreu interferência dos problemas gerados pelo comportamento da Joana. Houve
uma altura em que o patrão tentou contactar com o Luís mas não conseguia. Tratava-se de uma situação urgente e
o patrão fez imensas tentativas de contacto com o funcionário sem que este nunca tivesse respondido. Ao analisar
a situação perceberam que a Joana havia desviado as chamadas do telefone do Luís para o seu, de forma a poder
controlar todos os seus movimentos. Houve outra altura em que ela instalou uma aplicação que gravava os
telefonemas que o Luís fazia e depois diariamente tirava-lhe o telemóvel para poder ouvir as gravações. Além disso,
a Joana perseguia o Luís de carro quando este andava com o carro da empresa, por vezes durante dias inteiros. Por
tudo isto acabou novamente por ser despedido.

História de Luís…

 Apesar da situação estar muito complicada, o Luís ia aceitando tudo isto porque não queria ter problemas com a
esposa. Esta tinha problemas e conflitos com toda a sua família, não falava com a sua própria mãe e com os
vizinhos.
 Houve alturas em que a esposa o obrigava a ter relações sexuais 2 e 3 vezes por dia, para garantir que ele não
conseguia ter relações extraconjugais. Se ele recusasse, já sabia que a sua vida não seria fácil nas próximas
semanas.
 A primeira agressão física ocorreu quando estavam casados há cerca de 10 anos. A partir dessa data as agressões
físicas passaram a ser regulares. Quando era agredido tentava fugir. Não se tentava defender por receio de magoar
a esposa ao fazê-lo e de que esta pudesse ficar com marcas físicas, sendo que nesse caso poderia ser ele acusado
de ser agressivo para ela. Também tentava não “levantar ondas”, pensou várias vezes em sair de casa e em fazer
denúncia mas sabia que, por ser homem, dificilmente seria validado pela polícia e pelos serviços. Sabia também
que num processo de regulação de responsabilidades parentais dificilmente ficaria com a guarda dos filhos, a quem
amava profundamente e a quem sentia necessidade de proteger.
 A sogra do Luís faleceu há 3 anos e a partir dessa altura a situação tornou-se insustentável. A Joana passou a
agredir o Luís com grande frequência e chegou mesmo a bater-lhe violentamente com uma vassoura na rua e em
frente aos vizinhos que acabaram por chamar as entidades policiais. A polícia tomou conta da ocorrência e fez uma
sinalização à CPCJ que iniciou o acompanhamento aos filhos.
 Nessa altura a esposa culpava-o constantemente da situação, humilhava-o e desprezava-o.

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História de Luís….

 Quando foram obrigados a ficar em quarentena devido à pandemia do COVID 19,


a situação sofreu novo agravamento. A Joana maltratava todos lá em casa e
inclusive os filhos. Numa situação em que ela se preparava para agredir o filho
mais velho, o Luís interveio na sua defesa e a violência acabou por recair sobre si.
A Joana agrediu-o violentamente com a bengala do seu pai, um idoso de 85 anos
que estava a viver com eles lá em casa e que também muitas vezes era alvo da
fúria da filha.
 A irmã do Luís, cansada de ver o irmão a passar por tudo isto, dirigiu-se à PSP
onde apresentou uma denúncia por violência doméstica. Quando a Joana tomou
conhecimento desta situação, teve um “ataque de fúria” arremessou com
objectos, partiu diversas coisas, rasgou a roupa e destruiu os bens pessoais do
Luís, telemóvel, rádio…. Os vizinhos acorreram a ajudá-lo e filmaram a situação.
Entretanto chegou a polícia e retirou-o de casa, conduzindo-o ao IML por
apresentar ferimentos.

História de Luís… o recomeço…

 Atualmente o Luís vive sozinho e trabalha como motorista. Os filhos encontram-se


acolhidos em Instituição e o Luís visita-os regularmente. Neste momento está a tratar do
divórcio para requerer a guarda dos filhos. O processo crime de Violência Doméstica
corre trâmites e encontra-se em fase de inquérito.
 O Luís apresenta sintomatologia ansiosa e depressiva diretamente relacionada com a
vivência traumática: elevada ansiedade, agitação psicomotora, flashbacks, alterações de
sono – insónias iniciais e terminais, humor depressivo, apetite diminuído, desmotivação,
isolamento social, dificuldade de concentração e irritabilidade.
 O Luís tem vindo a ser acompanhado ao nível psicológico, sendo que ocorreu uma
estabilização da sintomatologia apresentada bem como uma melhoria significativa no
seu funcionamento global.
 Contudo, recentemente o Luís contactou a psicóloga para solicitar uma consulta de
urgência uma vez que tinha sofrido uma recaída ao nível da sintomatologia sentido, após
ter recebido uma convocatória do Tribunal de Família e Menores para comparecer para
uma diligência de Tentativa de conciliação no âmbito do processo de divórcio.

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Questionário

 A situação de violência descrita é uma situação de:


 Violência de género
 Violência doméstica
 Violência em relações de intimidade
 Violência familiar
 Outros:____________________________________________________________________________
 Justifique:

 Os tipos de violência presentes são:


 Violência Física
 Violência Psicológica
 Violência Sexual
 Violência económica
 Outros:____________________________________________________________________________
 Justifique:

Questionário

 Tentar encontrar no texto frases onde se possa observar as seguintes dinâmicas:


 Ciclo da violência
 Poder e controlo
 Violência cruzada
 Escala da violência
 Outros:_____________________________________________________________________
 Justifique:

 Com os dados encontrados no texto identifique o perfil da agressora:

 Com os dados encontrados no texto, identifique o perfil da vítima:

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Questionário

 Identifique as consequências e o impacto da vitimação no Luís, ao nível


psicológico, físico e sócio-económico

 Identifique os factores de manutenção da relação abusiva encontrados no texto

 Quais os factores de risco e de proteção que consegue identificar na situação


descrita?

Questionário

 Considera que a Joana deveria ser sujeita a medidas de coação? Que medida
considera mais adequada tendo em conta a avaliação do risco efectuada?

 Consegue identificar vítimas indiretas no texto? E vítimas especialmente


vulneráveis? Em caso de resposta afirmativa, identifique-as.

 O Luís é uma vítima do sexo masculino. Na sua opinião as vítimas do sexo


masculino apresentam alguma especificidade em relação às do sexo feminino? Se
sim, aponte algumas.

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Violência doméstica

De acordo com o artigo nº 152 do Código Penal, de 2007…


Redacção dada por Lei nº 57/2021 de 16-08-2021, Artigo 3.º - Alteração ao Código Penal

1 - Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais,
privações da liberdade e ofensas sexuais:
a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge;
b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação de
namoro ou uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação;
c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; ou
d) A pessoa particularmente indefesa, nomeadamente em razão da idade, deficiência, doença, gravidez
ou dependência económica, que com ele coabite
e) A menor que seja seu descendente ou de uma das pessoas referidas nas alíneas a), b) e c), ainda que
com ele não coabite;

Violência doméstica

2 - No caso previsto no número anterior, se o agente:


a) Praticar o facto contra menor, na presença de menor, no domicílio comum ou no domicílio da
vítima; ou
b) Difundir através da Internet ou de outros meios de difusão pública generalizada, dados
pessoais, designadamente imagem ou som, relativos à intimidade da vida privada de uma das
vítimas sem o seu consentimento;

…é punido com pena de prisão de dois a cinco anos.

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Violência doméstica

3 - Se dos factos previstos no (1) resultar:


a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de dois a oito anos;
b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos.

4 - Nos casos previstos nos números anteriores, podem ser aplicadas ao arguido as penas acessórias
de proibição de contacto com a vítima e de proibição de uso e porte de armas, pelo período de seis
meses a cinco anos, e de obrigação de frequência de programas específicos de prevenção da
violência doméstica.

Violência doméstica

5 - A pena acessória de proibição de contacto com a vítima deve incluir o afastamento da residência
ou do local de trabalho desta e o seu cumprimento deve ser fiscalizado por meios técnicos de
controlo à distância.

6 - Quem for condenado por crime previsto no presente artigo pode, atenta a concreta gravidade do
facto e a sua conexão com a função exercida pelo agente, ser inibido do exercício de
responsabilidades parentais, da tutela ou do exercício de medidas relativas a maior acompanhado
por um período de 1 a 10 anos.

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Tipos de violência

 Violência física
Engloba os atos de agressão física.
Exemplos: bofetadas, pontapear, empurrar ou estrangular.

 Violência emocional e psicológica


Todo o tipo de atos e palavras que contribuam para maltratar, humilhar, diminuir, desvalorizar e
minimizar o outro.
Exemplos: insultos, ameaças, humilhações, privação ou isolamento social.

Tipos de violência

 Violência sexual
Obrigar, coagir, ameaçar ou forçar a vítima a práticas sexuais contra sua vontade.

 Violência económica
Privação do património, acesso às informações financeiras ou uso sem consentimento dos
recursos financeiros da vítima.

 Outros tipos… a explorar

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Crenças, mitos e estereótipos

“Entre marido e mulher não se mete a colher”

“Bater é sinal de amor”

“Uma bofetada de vez em quando nunca fez mal a ninguém”

A violência e o amor/afeto não coexistem nas famílias/nas relações íntimas

“O marido tem direito ao corpo da mulher. Ela tem de receber o marido sempre que ele quiser”

Crenças, mitos e estereótipos

“Só as mulheres de meios sociais desfavorecidos têm esse


problema”

“O marido tem o direito de bater na mulher quando ela se


porta mal”

“A mulher só é agredida porque não faz nada para o evitar ou


porque merece”

“As crianças vítimas de maus tratos serão, no futuro,


maltratantes ou os agressores são-no por terem sido vítimas
na sua infância”

“As vítimas é que são culpadas pela violência”

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Crenças, mitos e estereótipos

“Para pôr termo à violência, basta sair da relação”

“O casamento é para toda a vida”

“VD só ocorre nos estratos socioeconómicos mais


desfavorecidos”

“VD só ocorre sob efeito do álcool ou outras drogas”

“VD resulta de problemas de saúde mental”

Crenças, mitos e estereótipos - homens

“Os homens são fortes, logo não podem ser vítimas de VD”

“Os homens é que são os agressores”

“As mulheres quando estão agressivas é porque os homens lhes fizeram mal”

“Quando um homem apanha é porque fez alguma”

“Os homens têm o dever de cuidar das esposas”

“As mulheres são irritáveis por causa das hormonas e por isso às vezes descontrolam-se”

“As mulheres só são agressoras quando estão deprimidas”

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Dinâmicas e processos
associados

Ciclo da violência

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Poder e controlo Intimidação

Coação e Abuso
ameaças emocional
A manutenção do poder e do
controlo sob a vítima está na base
da relação conjugal violenta.
Abuso Poder e
Isolamento
económico controlo

A saída da relação (por parte da


vítima) põe em causa este
controlo. Tal poderá gerar maior Privilégio
Minimizar,
violência. relacionado
com o
negar e
culpar
género
Usar as
crianças

Provocando medo na vítima com olhares, ações, gestos, danificar


objetos, destruir pertences da vitima, agredir animais de estimação,
mostrar armas

Fazendo ou cumprindo ameaças no sentido de magoá-la, Desmoralizando-a, fazendo com que se sinta mal
ameaçando abandoná-la, suicidar-se, apresentar queixa consigo própria, chamando-lhe nomes, fazendo com
contra ela, obrigando a vítima a retirar as queixas, que a vítima se considere louca, utilizando jogos
obrigando a vítima a praticar atos ilegais mentais, humilhando a vítima e fazendo com que esta
se sinta culpada

Impedindo que a vítima procura ou mantenha, Controlando o que a vítima faz, com quem se
um emprego, dando-lhe uma mesada, encontra e fala, o que lê, onde vai, limitando as
retirando-lhe o dinheiro, não a informar dos suas atividades fora de casa, usando o ciúme
rendimentos familiares ou impedir-lhe o acesso para justificar as ações
aos mesmos

Tratando-a como uma criada, tomando todas as Minimizando o abuso, não levando a sério as
decisões importantes, agir como “um rei”, sendo o preocupações da vítima sobre o assunto, dizendo que o
único a definir o papel do homem e da mulher. abuso não aconteceu, transferindo a responsabilidade
pelo comportamento abusivo, dizendo que fi ela que
causou a situação

Fazendo com que a vítima se sinta culpada em relação aos filhos,


utilizando os filhos para enviar mensagens, utilizando as visitas para
assediá-la, ameaçando levar os filhos

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Violência cruzada

Refere-se à situação em a vítima e o agressor se agridem física, sexual ou psicologicamente.

Ocorre normalmente quando a vítima fica “saturada” da vitimação e passa a usar a violência como
estratégia de defesa/resposta.

A violência cruzada está associada à escalada da violência – aumento da frequência e intensidade


do episódio violento.

Violência cruzada ou violência bi-direcional

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Perfis e características
psicossociais

Características do agressor

 Antecedentes criminais;
 Problemas relacionados com consumos;
 Personalidade imatura ou impulsiva;
 Perturbação ao nível da saúde mental e/ou física;
 Antecedentes de maus tratos infantis ou presenciado violência conjugal na infância;
 Dificuldades socioeconómicas.

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Características da vítima

 Presença de vulnerabilidades;
 Perturbação ao nível da saúde mental e/ou física;
 Personalidade com características “dependentes”;
 Fraca rede de suporte social;
 Fraca autoestima com tendência a assumir culpa da situação;
 Fraca capacidade de perspetiva para o futuro;
 Dependência emocional do agressor;
 Dificuldades socioeconómicas.

Síndrome da pessoa batida

Negação

Culpa

Clarificação

Responsabilidade

Incluí distúrbios cognitivos, comportamentos de evitamento e fuga, sintomatologia depressiva e


ansiosa.

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A ver….

Perspectiva do agressor:
https://www.youtube.com/watch?v=6uKcEXCfZAU

Perspectiva da vítima:
https://www.youtube.com/watch?v=lWQh45Ejy1w

Consequências e impacto da vitimação


Psicológica Física Socioeconómica

 Depressão e ansiedade;  Lesões abdominais, torácicas e  Desemprego;


 Alcoolismo, tabagismo ou genitais;  Dificuldades económicas;
consumo de drogas;  Fraturas;  Possível mudança de residência
 Distúrbios alimentares;  Hemorragias; – em consequência da
 Fobias;  Doenças sexualmente denúncia;
 Perturbação de stress pós- transmissíveis;  Isolamento social;
traumático;  Intoxicações;  Estigma social;
 Ideação suicida;  Surdez;  Absentismo.
 Problemas relacionados com  Cegueira;
sexualidade.  Lesões cerebrais.

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Relação abusiva
Fatores explicativos para a sua manutenção
A manutenção da relação abusiva não é resultado de uma psicopatologia tipificada, mas sim de uma
complexidade de diferentes fatores:

 Sociais
 Interacionais
 Económicos
 Psicológicos
 Psicopatológicos (por vezes)

Relação abusiva
Fatores explicativos para a sua manutenção
Dinâmicas que promovem a manutenção:

 Medo de represálias  Fuga para a frente


 Esperança de mudança  Falsa sensação de controle/segurança através
(fase lua-de-mel)
de fatores externos
 Isolamento
 Filhos
 Falta de intervenções anteriores eficazes
 Dependência económica e emocional
 Aceitação do comportamento violento como  Pressão familiar
normativo nas relações  Crenças religiosas ou culturais
 Mitos

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Avaliação do Risco

Fatores de risco

 Ameaça com uso de armas;


 Maus tratos a crianças e jovens ou outros elementos da família;
 Lesões graves em episódios de violência anteriores;
 Ameaça ou abandono da relação por parte da vítima;
 Assédio/perseguições/stalking;
 Escalada da gravidade, intensidade e frequência da violência;
 Ciúmes exacerbados e controlo obsessivo com a atividade diária da vítima;
 Consumo de álcool ou outras substâncias (agressor);
 Aumento da situação da tensão familiar em função de um stressor externo;

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Fatores de risco

 Comportamento violento generalizado (agressor);


 Violência sobre animais;
 Antecedentes criminais (agressor);
 Perturbação ao nível da saúde mental;
 Poder e controlo;
 Isolamento social;
 Redes de suporte fragilizadas;
 Resposta da vítima às situações de agressão;
 Presença de violência cruzada;
 Escalada simétrica vs complementaridade rígida (psicologia familiar);

Fatores de proteção

Acesso a redes de suporte…


 formais (entidades que promovam a proteção da vítima;
 Informais (amigos e familiares).

Comportamento resiliente/autoajuda:
 Postura ativa;
 Autoeficácia;
 Autoimagem positiva.

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Escalas de avaliação de risco

As escalas de avaliação de risco auxiliam na identificação do nível de risco de revitimização.

É avaliado o grau de perigosidade vivenciado pela vítima e permite delinear um plano de


intervenção e de segurança para a mesma.

Avalia-se também o risco iminente nos próximos 2 meses, para além dos 2 meses, risco de extrema
violência ou morte, e risco de intensificação da violência (previsão de surgimento ou aumento de
fatores de tensão: separação, desemprego, doença).

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Processo crime

Processo crime

Etapas do processo:

Medidas de
Denúncia proteção à vítima Fase de inquérito Fase de instrução1 Julgamento Recurso2
e coação

Arquivamento Acusação
Liminar

Arquivamento

Suspensão do
1 facultativo processo
2 eventual

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Processo crime

Denúncia

Deve conter o maior número possível de informações acerca do crime:


 Dia, hora, local e como o crime foi cometido;
 Identificação do agressor e vítima;
 Possíveis testemunhas;
 Outros meios de prova.

Processo crime

Denúncia

Pode ser efetuada pela vitima ou por qualquer cidadão que tenha conhecimento do evento, por se
tratar de um crime público.

A avaliação do risco é realizada no momento da denúncia. Se for verificado a presença de risco


elevado, tem de se fazer uma reavaliação até 72 horas após a apresentação da denúncia.

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Processo crime

Estatuto de vítima - Lei n.º Lei n.º 112/2009 de 16 de Setembro, alterada pelas
leis 130/2015, de 04 de Setembro e pela Lei 57/2021, de 16 de Agosto (Estatuto
de VVD para crianças que sejam vítimas de VD ou de exposição da VD)

Após a apresentação da denúncia, a entidade judicial (órgão de polícia criminal ou MP) deverá
atribuir o “Estatuto de Vítima”, caso aquela assim o deseje.

É entregue um documento comprovativo do estatuto, enumerando os direitos e deveres da vítima.

O estatuto cessa caso surgem indícios de que a denúncia é infundada.

Processo crime

Medidas de proteção da vítima


 Plano de segurança;
 Encaminhamento para apoios diversos;
 Teleassistência;
 Afastamento da vítima da residência encaminhamento para estruturas de apoio;
 Casa segura de familiares;
 Respostas de acolhimento de emergência
 Casas de abrigo.

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Processo crime

Medidas de coação
São medidas de restrição da liberdade aplicadas ao agressor, que podem ser aplicadas logo após a
denuncia ou após a acusação, quando se considera que existe:
 Perigo de fuga;
 Contaminação ou destruição de provas;
 Continuação de atividade criminosa.

Processo crime

Medidas de coação
No crime de violência doméstica, as medidas de coação devem ser aplicadas no prazo máximo de
48 horas após a constituição do arguido:

 Proibição de contacto com a vítima;


 Afastamento da residência da vítima;
 Suspensão de exercício de profissão, função, atividade, direitos e responsabilidades parentais.
 Obrigação de permanência em habitação (com ou sem vigilância eletrónica);
 Prisão preventiva;

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Processo crime

Fase de inquérito
Fase obrigatória da investigação que se inicia sempre que há notícia da prática do crime. Pode
demorar semanas a meses, dependendo da quantidade de prova a recolher e complexidade da
investigação.

Desfechos possíveis da fase de inquérito:


 Acusação
 Arquivamento do inquérito
 Suspensão provisória do processo

Processo crime

Fase de instrução
Fase facultativa que pode ser requerida pela vítima ou pelo agressor.

Representa uma “segunda fase” de investigação na qual é designado um juiz de instrução ao


processo, sendo que este tem a função de validar a acusação ou o arquivamento do processo
ocorrido na fase anterior, em função das provas existentes. Nesta fase, a vítima – no caso de se ter
constituído assistente no processo, ou o agressor podem apresentar novas provas ao processo.

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Processo crime

Fase de instrução
Como resultado desta fase é emitida a decisão instrutória (decisão do juiz) que tem como desfecho:

 Despacho de pronúncia
(o processo avança para julgamento);

 Despacho de não pronúncia


(o processo não vai a julgamento por falta de indícios suficientes).

Processo crime

Fase de julgamento
Ocorre quando há acusação na fase de inquérito ou
despacho de pronuncia na fase de instrução.

Nesta fase, debate-se e apura-se a matéria de facto (i.e., saber o que se passou, produção de prova)
e discute-se a questão jurídica em sede de audiência.

Posteriormente é proferida uma decisão condenatória ou absolutória, que pode ser passível de
recurso.

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Processo crime

Fase de recurso
Recorre-se de decisão que saiu do julgamento por não se concordar com a mesma ou com a pena
aplicada.

Pode ser requerida pelo Ministério Público, pela vítima (caso se tenha constituído assistente, no
caso dos crimes públicos ou nos crimes privados), ou pelo réu.

O recurso é apresentado a um tribunal de instância superior: Tribunal da Relação, Supremo Tribunal


da Justiça, Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Vítimas de violência doméstica


do sexo masculino

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Violência Doméstica contra homens

 A prevalência da VRI contra os homens tem sido reportada por vários estudos
internacionais, que revelam que entre 25 % a 50 % das vítimas de VRI são
homens.

 Cada vez mais homens reportam serem vítimas de VD. Neste momento cerca de
10% das denúncias são realizadas por homens.

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Homicídios em contexto de VD
2020

 Em 2020, morreram 32 pessoas devido a violência doméstica, menos três do que


em 2019.

 Das vítimas, 27 foram mulheres, três homens e duas eram crianças (uma do sexo
masculino, outra do sexo feminino), de acordo com os dados disponibilizados
pela Polícia Judiciária, GNR e Procuradoria Geral da República.

Homicídios em contexto de VD
2021

 Em 2021, dos 33 homicídios, 18 tiveram como vítimas pessoas do sexo


feminino: 12 em que o crime foi praticado por uma pessoa com quem a vítima
mantinha ou tinha mantido uma relação e seis praticados por pessoa da família
próxima ou alargada. Quanto às vítimas homens, há registo de 14 pessoas do
sexo masculino assassinadas: três por alguém com quem mantinham ou tinham
mantido uma relação de intimidade e 11 por pessoas da família próxima ou
alargada

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Homicídios em contexto de VD
2022

 Em 2022, contabilizaram-se 28 vítimas de homícidio em contexto de VD: 24


mulheres e 4 crianças.

 Pela primeira vez em vários anos não há vítimas masculinas adultas, a registar.

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Violência doméstica ou ofensa à integridade física?

Importância da correta
tipificação do crime de forma
a serem garantidos os
direitos das vítimas e o
conhecimento do fenómeno…

Notícia in Correio da Manhã


24/10/2022

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Mulheres também podem ser agressoras….

E há formas de violência que são toleradas…

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E ainda…

E mais recentemente…. (novembro de 2022)

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Dezembro de 2022

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Março de 2023

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Mas os homens também são alvo de vitimação por parte de:

 Pais/Padrastos

 Mães/Madrastas

 Irmãos

 Filhos

 Outros – Representantes legais (PMA), cuidadores

Homens vítimas de violência

Os homens não pedem ajuda para abandonar a relação e o fenómeno é pouco conhecido porque:
 Não se percecionam como vítimas;
 Vergonha;
 Desconfiança do sistema de apoio;
 Receio de não acreditarem na história;
 Medo;
 Estereótipos.

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Maiores desafios para os homens vítimas são:

 Escassez de informação
 Ausência de campanhas inclusivas de prevenção/sensibilização/intervenção
 Menor reconhecimento nos media e reduzida consciencialização pública – a
violência contra os homens não é encaradas como um problema sério
 Esteriótipos sociais e papéis de género – masculinidade hegemónica
 Os próprios homens – cultura do masculino
 Tratamento diferencial pelo sistema de apoio de homens e mulheres vítimas
 Falta de investimento e sistematização dos dados estatísticos acerca dos homens
vítimas
(APAV,2019)

Homens vítimas de violência

Como são conotados como agressores ou como o “sexo forte”, sentem que serão tratados de forma
diferenciada e receiam ser desacreditados pelos serviços de apoio, familiares, ou policiais no auto
da denuncia.

Além disso, a feminização da violência doméstica contribuiu para a invisibilidade da violência contra
os homens:
 Falta de reconhecimento do fenómeno pela sociedade;
 Inexistência de redes de apoio;
 Inexistência de campanhas de prevenção.

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Homens vítimas de violência

Estratégias adotadas pela vítima masculina numa situação de violência doméstica:

 Conversar com o agressor para tentar um entendimento;


 Tentar acalmar o agressor;
 Agradar o agressor para que não se volte a repetir.

Homens vítimas de violência


Os homens estão mais vulneráveis e sujeitos a determinadas formas de violência:

 Ameaças;
 Agressões psicológicas;
 Abuso económico;
 Intimidação;
 Outing – casais homossexuais;
 Revitimização….

 USO ADMINISTRATIVO E LEGAL (forma de violência pouco


conhecida mas descrita internacionalmente: quando um/a parceiro/a
usa o sistema legal e admnistrativo para prejudicar, controlar, ou obter
Ganhos do/a outro/a)

https://www.youtube.com/watch?v=-htcQWATNwA

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Intervenção

Intervenção

 Avaliação da história de vitimação Realizada pelo técnico de apoio à vítima


 Avaliação das necessidades da vítima (TAV).
 Elaboração do plano de segurança
Profissional devidamente habilitado na
 Estabilização emocional prestação de apoio e assistência direta às
 Intervenção com o/a agressor/a e Encaminhamento vítimas.
 Colaboração no processo crime

Respeito pela vontade e timing da


vítima!

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Avaliação da história de vitimação


Ao pesquisar a história de vitimação, deve-se considerar…

 Tipo(s) de violência presente;


 Vítimas primárias e secundárias; Vítimas indiretas;
 Frequência, intensidade ou gravidade da violência;
 Risco de repetição da agressão ou de homicídio conjugal;
 Existência de armas de fogo;
 Consequência(s) para a(s) vítima(s);
 Dinâmicas de manutenção da situação de violência;
 Avaliação das medidas de proteção necessárias;

Avaliação das necessidades da vítima


As necessidades podem ser identificadas pelo vítima ou pelo técnico (durante e após a avaliação da
história de vitimação). São consideradas os seguintes tipos de necessidades:

 Saúde;
 Emprego e formação;
 Habitação;
 Segurança Social;
 Autonomia financeira;
 …

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Fundamental na intervenção com homens vítimas:

 Ajudar a reconhecer o fenómeno de vitimação de que são alvo

 Ajudar a identificar os processos de violência presentes na sua história

 Desconstruir crenças e estereótipos acerca da masculinidade e do papel do


homem na sociedade que o impede de se reconhecer enquanto vítima

 Ajudar os homens a reconhecer os seus direitos enquanto vítimas, sobretudo no


que diz respeito ao exercício da paternidade

E porque os homens também podem estar em


risco - Elaboração do plano de segurança

O plano de segurança consiste num conjunto de orientações e estratégias que visam a promoção e
segurança da(s) vítima(s). Deve ser sempre realizada após a Avaliação de Risco.

O plano de segurança prevê diferentes cenários…


mas no caso dos homens vítimas há outros a contemplar…

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Elaboração do plano de segurança


Cenário 1. A vítima permanece em casa e na relação.

Estratégias:
 Identificar áreas da casa que possam ser seguras. Preferencialmente espaços abertos com saídas.
Evitar cozinha (acesso a armas);
 Criar códigos de emergência com vizinhos (sinal, gesto, palavra, objetos à janela…);
 Procurar ter dinheiro disponível e os documentos pessoais, caso seja necessário. (recorrer
transportes públicos para fuga);
 Ter uma mala preparada com bens essenciais e documentos importantes para usar em caso de
fuga em situação de emergência.

Elaboração do plano de segurança


Cenário 2. Durante a crise/agressão:

Estratégias:
 Andar sempre com o telemóvel e as chaves de casa e/ou do carro;
 Proteger as zonas mais vulneráveis do corpo;
 Instruir as crianças a pedir socorro/sair de casa no caso de ouvirem a vítima a pedir socorro;
 Procurar um lugar seguro ou pedir auxilio a familiares ou amigos;
 Pedir a vizinhos para telefonarem para as forças de segurança sempre que ouçam barulhos
suspeitos;

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Elaboração do plano de segurança


Cenário 3. Preparar a saída:

Estratégias:
 Sair apenas quando a vítima sentir-se segura, preferencialmente quando o agressor não estiver
por perto;
 Evitar locais previsíveis que o agressor possa conhecer (casa de familiares);
 Preparar documentos importantes ou objetos que considere importantes.

Elaboração do plano de segurança


Cenário 4. Após a rutura da relação e/ou saída de casa:

Estratégias:
 Guardar fotografias com conteúdo que possa ser utilizado como prova (ferimentos);
 Procurar usar dinheiro em vez de cartões;
 Alterar rotinas e percursos;
 Evitar andar sozinho na rua;
 Não deixar que pessoas não autorizadas possam ir buscar os filhos à escola;
 Não revelar nova morada;
 Ter atenção ao uso das redes sociais e o risco de ser localizado;
 Certificar-se de que está sempre contactável e que existem sempre pessoas com conhecimento
do paradeiro/localização.

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Estabilização emocional
 Escuta ativa;
 Validação dos receios da vítima;
 Intervenção sobre a sintomatologia apresentada em consequência direta do trauma;
 Promoção do bem-estar e da segurança da vítima;
 Promoção da segurança das vítimas secundárias ou indiretas;
 Explicação do ciclo da violência e da dinâmica do poder e controlo;
 Explicação dos fatores de manutenção;
 Psicoeducação acerca do desenrolar do processo crime
e possíveis desfechos do mesmo.

Casa de Abrigo para homens


cahomens@caritas.pt

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Casas de Abrigo para homens


Alguns dados numa perspetiva mundial

 Austrália – foi pioneira, com abertura de CA para homens em 2001


 Europa:
 Dinamarca –2006
 Inglaterra – CA de apoio misto em 1990; Em 2006 abriu CA específica para homens
 Holanda – 2009
 Irlanda – 2010
 Bélgica – 2015
 Portugal – Faro em 2016; Fechou em 2020 e abriu nessa mesma data em Aveiro
 EUA – a primeira CA específica para homens abriu em 2015
 Canáda ….
 Ao todo existem em todo o mundo 29 CA para homens….
 Em Portugal existem 35 Casas de Abrigo e de Emergência para mulheres…

Critérios para acolhimento

 Ser vítima de violência doméstica mesmo que sem apresentação formal de denúncia;
 Ser do sexo masculino;
 Aceitar, de forma livre e devidamente expressa, as regras do Regulamento Interno
(descritas de forma resumida no documento com os Direitos e Deveres do utente,
enviadas em anexo);
 Ser autónomo;
 Estar orientado no espaço e no tempo;
 Não apresentar consumos ativos de substâncias psicoativas/estar estabilizado do ponto
de vista dos consumos;
 Estar compensado do ponto de vista da saúde mental;
 Não apresentar doença/limitação física incompatível com as condições da Casa de Abrigo
(condições físicas e logísticas);

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Quem pode encaminhar?

a) O organismo da Administração Pública responsável pela área da cidadania e da


igualdade de género;
b) As estruturas de atendimento;
c) Outras respostas de acolhimento de emergência;
d) As casas de abrigo;
e) Os serviços competentes da segurança social;
f) Os serviços da ação social das câmaras municipais;
g) Os órgãos de polícia criminal.
E também:
h) Serviços de Acompanhamento e Atendimento Social
g) Serviços de saúde

Direitos dos utentes

 a) Alojamento e higiene;
 b) Alimentação;
 c) Proteção e segurança;
 d) Apoio psicológico e social;
 e) Informação e apoio jurídico;
 g) Articulação com outras entidades ou serviços da comunidade, vocacionados para a
prestação dos apoios adequados às necessidades dos utentes, designadamente nas áreas
da justiça, da saúde, da educação, da administração interna, da segurança social, do
emprego, da formação profissional e do sistema de promoção dos direitos e proteção
das crianças e jovens;
 g) Definição de um Projeto de Vida com vista à reinserção social dos utentes e
encaminhamentos/articulação necessárias ao seu cumprimento.

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Deveres dos utentes

 Cumprimento das normas de funcionamento


 Cumprimento dos horários
 Manutenção de um comportamento adequado à resposta
 Manutenção de relações interpessoais cordiais/não violentas com os
colaboradores e demais utentes
 Colaborar na definição do projeto de vida/plano de intervenção e no processo de
autonomização
 Colaborar nas atividades propostas

Horários

 Levantar:
 Durante a semana: até às 8:30
 Fim-de-semana: Até às 10h
 Deitar:
 Durante a semana: Até às 00h
 Fim-de-semana: até às 01h (máximo 01h30m)
 Refeições:
 Pequeno-Almoço: 8:30 – 9:30 (ao fim-de-semana até às 10h)
 Almoço: 12:30 – 13:30
 Lanche: 17:15 – 17:30
 Jantar: 20:00 – 21:00
 Saídas:
 9:30 – 10:00
 13:30 – 14:30
 17:30 – 19:30

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O que os utentes não podem fazer:

 Maltratar ou desrespeitar funcionários e colegas – Expulsão Imediata


 Consumir álcool ou drogas; dentro ou fora da Casa Abrigo, enquanto estiverem acolhidos
pela CA
 Usar a cozinha e consumir alimentos sem autorização do funcionário
 Comprar alimentos e outros bens para a casa, sem autorização prévia da responsável
 Guardar alimentos no quarto
 Fumar em outros locais da casa que não nas varandas
 Atirar beatas fora – devem ser colocadas em cinzeiros e despejadas em saquinhos fechados
que posteriormente são colocados no lixo
 Trocar de quarto e de cama, sem autorização prévia
 Manter relações de cariz sexual dentro da casa
 Emprestar dinheiro a outros utentes

Alguns dados_ Abril de 2020 a Dezembro de 2022

 16/04/2020 – data de início de funcionamento na Cáritas Diocesana de Aveiro

 44 homens acolhidos (51 até ao momento)

 45% solteiros

 84% de nacionalidade Portuguesa

 68% entre os 18 e os 45 anos

 68% encaminhados pelas EAVVD

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Alguns dados _ Abril de 2020 a Dezembro de 2022

 72% vítimas de vários tipos de violência, inclusive sexual

 93% vítimas de violência com duração superior a 1 ano e/ou continuada

 56% vítimas de violência em relações de intimidade

 86 % apresentavam perturbação mental, sendo que 14% era doença mental grave

 14% apresentavam grau de incapacidade acima dos 60%

 46% apresentavam doença física incapacitante

 Apenas 36% dos utentes acolhidos apresentavam autonomia plena, todos os restantes apresentavam
limitações que dificultavam os processos de autonomização de auto-determinação

Para aprofundar conhecimentos

Associação de Mulheres Contra a Violência (ed.). (2013). Avaliação e Gestão de Risco em Rede: Manual para profissionais.
Comissão para a Cidadania de Igualdade e Género. (2016). Guia de requisitos mínimos de intervenção em situações de violência doméstica e
violência de género.
Comissão para a Cidadania de Igualdade e Género. (2021). https://www.cig.gov.pt/
Direção Geral da Saúde. (2014). Violência interpessoal: abordagem, diagnóstico e intervenção nos serviços de saúde.
Krug, E. G., Mercy, J. A., Dahlberg, L. L., & Zwi, A. B. (2002). The world report on violence and health. The Lancet, 360(9339), 1083-
88. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(02)11133-0
Manita, C., Ribeiro, C., & Peixoto, C. (2009). Violência doméstica: compreender para intervir. Guia de Boas Práticas para Profissionais de Saúde.
Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
Redondo, J., Pimentel, I., & Correia, A. (2012). Manual SARAR - sinalizar, apoiar, registar, avaliar, referenciar: Uma proposta de Manual para
profissionais de saúde na área da violência familiar / entre parceiros íntimos. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

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E para uma verdadeira igualdade….

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