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FACULDADE DE DIREITO
RAFAELA RIBEIRO
São Paulo
2022
RAFAELA RIBEIRO
São Paulo
2022
1
RAFAELA RIBEIRO
Artigo científico apresentado à Universidade São Judas Tadeu como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em Direito, área de Direito Digital, sob orientação do Prof. Dr.
Angelo Rigon Filho.
Data de aprovação:____/____/____
Avaliação:______________________________________________________
Assinatura do Professor-orientador:__________________________________
Avaliação:______________________________________________________
2
DEDICATÓRIA
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a minha mãe, por ter me criado e educado sozinha
e por sempre ter dado o seu melhor, tenho certeza de que sem o apoio dela, eu não conseguiria.
Agradeço a minha família por todo apoio, incentivo e orgulho que sempre tiveram por mim,
foi essencial para passar por todos os desafios durante os 5 (cinco) anos de faculdade.
Não poderia deixar de agradecer ao Thalis, meu namorado, que iniciou essa jornada junto
comigo, mas em outro curso, que foi um grande companheiro não só na faculdade, mas em
todos os dias quando eu precisava apenas de um abraço.
Além disso, aqueles que estiveram ao meu lado (literalmente) durante todo o período e
foram fundamentais para o meu crescimento: Camila, Carolina, Isabella e Giovanna. E, claro
a turma (DIR1AN-PLK), por me proporcionar a melhor experiência universitária e por me
oferecer o suporte quando mais precisei.
Por fim, agradeço aos profissionais que me fizeram ter certeza do caminho que eu queria
seguir e que sem dúvidas, são as minhas referências no ramo de direito digital: Helena,
Mariana, Marina, Tiago e Thamara. E, claro, a toda equipe de Proteção de Dados do escritório
Opice Blum, Bruno e Vainzof por terem me dado a oportunidade de estágio e que auxiliou
muito no meu crescimento profissional.
4
RESUMO
5
ABSTRACT
This paper aims at the legal discussion of the use of devices endowed with artificial
intelligence, specifically aimed at smart homes, can impact negatively on people’s lives, due
to the vulnerability and legal insecurity of theses deceives, especially in the face of the violation
of Sensitive Personal Data. From there, it is time to analyze artificial intelligence systems,
focusing on the machine learning model, and the problems involved in their developed and
decision-making. From there, evaluate how these problems impact on Sensitive Personal Data,
mainly due to the use in intelligent homes. Thus, it is sought to observe clarify the operation of
these devices, their failures, the risks, to promote knowledge about the theme and its
applications that are so present in people’s daily lives.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 22
6. REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 23
7
1. INTRODUÇÃO
8
2. DA PRIVACIDADE E PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS
9
nortear a disciplina da Proteção de Dados Pessoais deve abranger a informação pessoal
(DONEDA,2006).
Com a autodeterminação informativa, o indivíduo pode controlar o uso de seus dados,
determinar quem pode utilisá-los, para qual finalidade, sob quais condições e por quanto tempo,
erigindo-se como uma condição indispensável para uma sociedade democrática (SIMITIS,
2010),5 porém, a perspectiva individual não é suficiente para atender a finalidade da proteção
de Dados Pessoais. Dessa forma, a privacidade tem uma progressão para ser compreendida não
em uma lógica excludente, mas em caráter positivo de indutor da cidadania, da atividade
política em sentido amplo e das liberdades (DONEDA, 2006). 6
Todavia, de forma paradoxal, o papel de decisão individual do Titular dos dados foi
reduzido, uma vez que ocorreu o reconhecimento de que a proteção para certos Dados Pessoais
deveria se dar em um grau maior, como no caso dos Dados Pessoais Sensíveis (DONEDA,
2011). Com a limitação aos poderes individuais, foi indicada a necessidade de um controle
institucional que assegure o respeito aos Dados Pessoais por parte daqueles que tem sobre eles
o poder e, consequentemente, sobre as pessoas que tem os seus dados coletados (RODOTÁ,
2019).
A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) dispõe em seu art. 2º, inciso II (BRASIL,
2018), sobre a autodeterminação informativa, porém, é necessário ressaltar a possibilidade de
a autodeterminação informativa ser considerada uma “chave”, que poderiam gerar alguns
confrontos, especialmente em relação ao consentimento do Titular dos dados para o tratamento
de seus dados, podendo conduzi-los a uma falsa impressão de propriedade sobre as suas
informações, e comprometendo a sua natureza de direito fundamental (DONEDA, 2006).
Por conseguinte, resta claro que a relação entre a privacidade e o livre desenvolvimento
da personalidade é direta e conforme Rodotà (2008, p.92-93):
depuração de seu conteúdo – daí que a informação carrega em si também um sentido instrumental, no sentido de
uma redução de um estado de incerteza” (DONEDA, 2006, p. 152).
5 “Only then, the Court added, would individuals be able to freely form, express, and defend their opinions. The
Court concluded that the more personal privacy is curtailed, the more individuals will gradually give up their
constitutional rights. Informational self-determination, the Court stated, must therefore be seen and treated as an
elementary precondition of a democratic society. Both its existence and functioning depend, thus, on the capacity
of citizens to autonomously act and participate in society, a capability irrevocably linked to the knowledge and
control of their personal data” (SIMITIS, 2010, p. 1997-1998). Para tanto, a Corte Constitucional alemã
reconheceu a inexistência de dado pessoal irrelevante, uma vez que ainda que aparentemente sem valor, o dado
pessoal pode vir a adquiri-lo (DONEDA, 2006).
6 Em 1981 a Convenção de Strasbourg representa o ponto de referência inicial do modelo europeu sobre proteção
de dados, associando-a diretamente aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, como pressuposto de um
estado democrático (DONEDA, 2006).
10
“A privacidade pode ser identificada com a tutela das escolhas
de vida contra toda forma de controle público e de estigmação
social, em um quadro caracterizado justamente pela liberdade das
escolhas existências.”
Portanto, na medida em que a privacidade emerge como prerrogativa do indivíduo
determinar o seu grau de exposição e de inserção na vida social, com a exposição,
corresponderá à representação da sua personalidade perante a sociedade. Dessa forma, o
conceito de privacidade está associado ao reconhecimento da construção dinâmica da
identidade pessoal como novas formas de manifestação da proteção jurídica da pessoa contra
as ameaças de estigmatização e discriminação oriundas do desenvolvimento tecnológico
(KONDER, 2019, p.451). 7
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), tem como objetivo proteger Dados
Pessoais de pessoas naturais, tratados tanto por meio físico, quanto por meio digital, garantindo
a proteção de direitos como os da liberdade de expressão e de comunicação, privacidade, honra,
imagem, autodeterminação informativa e livre desenvolvimento da personalidade (art. 2º).
Nesse sentido, a LGPD protege situações concernentes a operações de tratamento de
dados, ou seja, aquelas que se referem a coleta, produção, receptação, classificação, utilização,
acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, armazenamento,
eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação, transferência,
difusão ou extração (art. 5º, X).
Todavia, o art. 4º da LGPD, traz algumas exceções no que tange a aplicação da Lei, são
elas: (i) tratamento por pessoas naturais para fins particulares e não econômicos; (ii) tratamento
para fins exclusivamente jornalísticos, artísticos ou acadêmicos; (iii) tratamento para fins
7 A noção de direito ao esquecimento enquanto pedido para que “determinada informação não esteja mais
acessível publicamente” (BRANCO, 2017, p. 144), compreendido neste trabalho enquanto integrante da
privacidade, estabelece relação com a construção da identidade da pessoa. Branco (2017, p. 180) define o direito
ao esquecimento como “violação à privacidade por meio de publicação de dado verídico, após lapso temporal,
capaz de causar dano a seu titular, sem que haja interesse público, conservando-se em todo caso a liberdade de
expressão e desde que não se trate de fato histórico, cuja demanda é direcionada, em última instância, ao Poder
Judiciário, que deverá, se entender cabível, ordenar a sua remoção ao meio de comunicação onde a informação se
encontra (e nunca ao motor de busca)”. Contudo, como apontam Machado e Negri (2017, p. 372), apesar de
reconhecida a privacidade enquanto direito, “não basta que seja mobilizada de forma abstrata para que se afirme,
sem maior cautela e ônus argumentativo, o direito ao esquecimento, como seu mero e linear desdobramento”. A
propósito, recomenda-se a leitura da análise empírica realizada por Negri e Korkmaz (2019) sobre a aplicação do
direito ao esquecimento pelo Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial n. 1.660.168/RJ.
11
exclusivos de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado ou atividades de
investigação e repressão de infrações penais; e (iv) tratamento de dados provenientes de fora
do território nacional e que não sejam objeto de comunicação, uso compartilhado de dados com
agentes de tratamento brasileiros ou objeto de transferência internacional de dados com outro
país que não o de proveniência, desde que o país de proveniência proporcione grau de proteção
de Dados Pessoais adequados ao previsto na lei.
A LGPD também prevê alguns princípios que tem como objetivo restringir a atividade
de tratamento de Dados Pessoais, exigindo-se o cumprimento. Para Newton de Lucca (2018)
“princípio é uma proposição filosófica que serve de fundamento a uma dedução”, bem como,
“um conjunto de princípios a partir dos quais se pode fundar ou deduzir um sistema, um
agrupamento de conhecimentos”.
Dessa forma, o art. 6º da LGPD, estabelece os seguintes princípios: “finalidade,
adequação, necessidade, livre acesso, qualidade dos dados, transparência, segurança,
prevenção, não discriminação, responsabilização e prestação de contas”. É necessário ressaltar
a relevância do princípio da finalidade e do princípio da não discriminação, principalmente em
relação ao tratamento de Dados Pessoais Sensíveis.
É por meio do princípio de finalidade que é garantido ao Titular, mediante informação
prévia, quais as fronteiras de legalidade do tratamento de seus dados, delimitando assim, seus
propósitos, desde que lícitos e de terceiros que poderão ou não ter acesso aos dados.
Para Danilo Doneda, (2008) o princípio da finalidade conduz de forma incisiva os traços
característicos da matéria de proteção de Dados Pessoais, tendo em vista, que o motivo da
coleta deve ser compatível com o objetivo final do tratamento dos dados. Assim, deverá ser
informado ao titular as informações sobre o tratamento dos seus dados, que deverão ser
disponibilizadas de forma clara, adequada e ostensiva acerca da finalidade específica do
tratamento.
Quanto ao princípio da não discriminação, é vedada a utilização de Dados Pessoais para
fins discriminatórios, ilícitos ou abusivos. Este princípio se torna fundamental para evitar a
estimação, criação de estereótipos e coibir a limitação de direitos, pois prevê a impossibilidade
do tratamento de dados para fins discriminatórios, impondo limites e exigindo permissões no
tratamento de dados, de modo a mitigar o risco do determinismo tecnológico.
Por fim, o princípio em comento prevê que é vedado o tratamento dos dados para fins
discriminatórios quando praticado ilicitamente ou abusivamente, vislumbrando-se a
discriminação no tratamento de Dados Pessoais e de Dados Pessoais Sensíveis.
12
2.2 Tratamento de Dados Pessoais Sensíveis
Os Dados Pessoais Sensíveis estão previstos no inciso II da LGPD, sendo aqueles “sobre
origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou
organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou a vida
sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural” (BRASIL,
2018, sem paginação).
Em outras palavras, o Dado Pessoal Sensível é todo Dado Pessoal que denota
características de maior criticidade, de modo que seu tratamento equivocado ou ilícito pode
implicar riscos e vulnerabilidades aos direitos fundamentais do Titular ao qual se referem. Para
DONEDA (2006)8, a qualificação de um Dado Pessoal Sensível é fruto da noção de que certas
espécies de informações apresentam um elevado potencial lesivo ao seu Titular, de acordo com
uma configuração social.
Nesta linha, a configuração de um Dado Pessoal Sensível não poderia ser estabelecida
em abstrato, na medida em que é à luz do contexto de utilização do dado e da combinação com
outros dados disponíveis que pode ser verificada a potencialidade lesiva do seu tratamento
(KONDER,2019).
É em virtude do armazenamento e tratamento dos Dados Pessoais Sensíveis que podem
acarretar maior risco à personalidade do indivíduo, e principalmente a práticas discriminatórias.
Entre os diversos dados que podem ser associados à pessoa, alguns são aptos a favorecer a
exclusão e segregação, o que se representa como a chave de qualificação de determinados
dados sensíveis (KONDER,2019). Com isso, nas palavras de Rodotà (2019, p.36):9
8 Doneda (2006) refere a um aspecto temporal dos dados sensíveis, como a inscrição na maçonaria.
9 Tradução livre de: “È necessario sottolineare, infatti, che i dati sensibile sono quelli che riguardano la salute e
la vita sessuale, le opinioni e l’appartenenza etnica o razziale, con una elencazione analoga a quella che si trova
nelle norme riguardanti i casi di discriminazione. Siamo così di fronte a qualcosa che eccede la semplice tutela
della vita privata e si pone come presidio della stessa eguaglianza tra le persone”.
13
Diante dos avanços tecnológicos, qualquer dado pessoal, principalmente os Dados
Pessoais Sensíveis podem ser tratados com uma finalidade discriminatória, para Doneda
(2006), o potencial lesivo no tratamento dos Dados Pessoais Sensíveis apresenta maior risco
que a média, seja para a pessoa, ou para a coletividade. Conforme expõe Doneda (2006, p.163):
Em virtude dos avanços tecnológicos e no paradigma do Big Data, resta claro o risco
subjacente referente a circulação de um Dado Pessoal Sensível, que pode prejudicá-la, mesmo
que acobertado pela opacidade do tratamento dos dados. Em virtude da tecnologia, é crescente
a relação que se estabelece entre a utilidade das informações e a capacidade de interferir no
nosso cotidiano (DONEDA, 2006).
Com a possibilidade de utilizar Dados Pessoais Sensíveis para fins discriminatórios, tanto
por parte do mercado, quanto do Estado, que os dados sensíveis associam a conjunturas que
podem violar direitos fundamentais (MULHOLLAND, 2018). Dessa forma, proteger dados
sensíveis permite uma efetivação de direitos como saúde, liberdade religiosa, de associação,
dentre outros (MULHOLLAND, 2018).
Portanto, a proteção dos dados sensíveis permite efetivar o direito à saúde, à liberdade de
expressão e comunicação, à liberdade religiosa, bem como a liberdade de associação, na
medida em que resguardando essas informações, resguarda-se a pessoa natural para que se
desenvolva livremente (RODOTÀ, 2008).
14
e até disco remoto”. 10 No mais, conforme Gil Press (2014, p.1) o termo se popularizou após a
publicação em 2008 de um artigo11, ao qual afirmava que big data iria revolucionar as
atividades das empresas e pesquisa cientificas.
Ainda, no que tange a definição de big data, Frank Olhlhorst (2013, p. 6) descreve:
Dessa forma, após esclarecer as definições de big data, resta claro que o tratamento dos
dados coletados é muito difícil, tendo em vista a quantidade de dados gerados a dada segundo,
por organizações e consumidores. Nesta linha, Mckinsey Global Institute (2011, p.6) explica:
10 Tradução livre do trecho: “data sets are generally quite large, taxing the capacities of main memory, local disk,
and even remote disk. We call this the problem of big data”.
11 Randal E.; KATZ, Randy H.; LAZOWSKA, Edward D. Big-Data Computing: Creating revolutionary
breakthroughs in commerce, science, and society. A white paper prepared for the Computing Community
Consortium committee of the Computing Research Association. Acesso em: 30 outubro de 2022.
12 Tradução livre do trecho: “Big Data defines a situation in which data sets have grown to such enormous sizes
that conventional information technologies can no longer effectively handle either the size of the data set or the
scale and growth of the data set. In other words, the data set has grown so large that it is difficult to manage and
even harder to garner value out of it. The primary difficulties are the acquisition, storage, searching, sharing,
analytics, and visualization of data”.
13 Tradução livre do trecho: “Big Data refers to datasets whose size is beyond ability of typical database software
tools to capture, store, manage, and analyze. This definition of how big a dataset needs to be in order to be
considered big data -i.e., we don't define big data interms of being larger than a certain number of terabytes
(thousands of gigabytes). We assume that, as technology advances over time, the size of datasets that qualify as
big data will also increase.”
15
As principais características da Big Data que devem estar presentes nos dados para que
assim, possa considerar o termo, conforme Doug Laney (2001, p.1), 14são volume, velocidade
e variedade.
Primeiro, uma grande quantidade de dados é gerada a cada segundo e boa parte desses
dados se torna muito grande para armazenar e analisar usando as tecnologias de banco de dados
tradicionais, que acabam demandando uma atualização mais continua.
Segundo, tendo em vista o grande volume da produção de dados, a velocidade e o uso de
destes também aumentam de forma significativa. Em consequência disso, o armazenamento e
o processamento devem acelerar na mesma medida e de forma rápida e eficaz (LANEY,
2001, P.1).
Por fim, a última característica se refere a variedade dos dados, sendo possível observar
que os dados podem ser apresentados em diferentes formas e formatos (LANEY, 2001, P,1).
Porém, após a publicação da IBM15, as características da big data aumentaram,
ressaltando também: veracidade, valor e validação.
Referente a veracidade dos dados, resta claro a necessidade de garantir a confiabilidade
e a validade das informações, uma vez que todos os dados imprecisos poderiam se tornar cada
vez mais inúteis.
Para Eric Brown (2014, p.1), na medida em que os dados não teriam mais valor
intrínseco, apenas se tornariam úteis quando ocorresse a análise deles, podendo extrair
informações que traga valor aos consumidores e até mesmo para o mercado.
Por fim, a validação, é considerada como uma capacidade de assegurar algumas fontes
de dados que possam fazer sentido e serem analisadas sob os níveis de segurança e governança
previstos nos regulamentos legais (BAGNOLI, 2016, p. 9-10).
14 Para maiores informações, consultar LANEY, Doug. 3D Data Management: controlling data volume, velocity,
and variety. Application Delivery Strategies, 6 fev. 2001. [S.l.], META Group, 2001.
15 Para maiores informações, consultar IBM. The four V’s of Big Data. Big Data & Analytics Hub.
16
Os estágios de desenvolvimento bem como as expectativas variam entre os campos e
suas aplicações, que incluem os veículos autônomos, reconhecimento de voz, games, casas
inteligentes, robótica, dentre outros. Nos dias atuais, os sistemas inteligentes estão em todas as
áreas de conhecimento e quase em toda a vida em sociedade.
A IA está associada com a capacidade de executar diferentes tarefas em diversos tipos de
ambientes, sem a ajuda humana. Dessa forma, o termo IA constitui vários procedimentos
computacionais cujas funções realizadas, caso o ser humano as executasse, seriam consideradas
inteligentes.16 Podemos citar como exemplos de alguns avanços que ocorreram na utilização
da IA: compreensão da linguagem, casas inteligentes, reconhecimento de fala etc. E
provavelmente, no futuro elas estarão presentes em praticamente todas as atividades humanas.
17
Assim, é necessário analisar todos os riscos, tendo em vista que a IA é uma atividade
baseada em coletar informações e, por isso, a importância da privacidade e proteção de dados,
bem como, a aplicação da LGPD é tão importante. Em consequência disso, nas últimas
décadas, devido ao aumento do poder computacional e do crescimento das técnicas de IA, a
linha conhecida como Aprendizado de Máquinas, vem ganhando muito importância. 18
Dessa forma, as informações são coletadas e processadas com o objetivo de atingir a
finalidade pretendida, sendo assim, a IA funciona com o alimente de informações e quanto
mais informações ela tiver, consequentemente mais benefícios poderá proporcionar. Sendo
assim, a utilização da Inteligência Artificial tem que estar em consonância e obedecendo todas
as normas de proteção de Dados Pessoais, pois em virtude da coleta de informações sem o
conhecimento do titular dos dados, poderá gerar muitos danos, pois a tecnologia já adquiriu
vida própria e passou a coordenar o ritmo das sociedades humanas.19
Portanto, para aplicar a Inteligência Artificial é fundamental seguir as regras e normas
referente as legislações protetivas ao cidadão, como é o exemplo da Lei Geral de Proteção de
Dados aqui no Brasil, principalmente no que tange a privacidade e proteção dos seus Dados
Pessoais, encontrando assim, um equilíbrio entre a aplicabilidade da Inteligência Artificial e a
privacidade e proteção dos dados dos indivíduos. Para que assim tenham conhecimento sobre
16 LOPES, Isaia Lima; SANTOS, Flávia Aparecida Oliveira; PINHEIRO, Carlos Alberto Murari. Inteligência
Artificial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p. 1.
17 ARTERO, Almir Olivette. Inteligência Artificial: teoria e prática. São Paulo: Livraria da Física, 2009, p. 13.
18 LOPES, Isaia Lima; SANTOS, Flávia Aparecida Oliveira; PINHEIRO, Carlos Alberto Murari. Inteligência
Artificial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p. 4.
19 TEIXEIRA, João de Fernandes. O Cérebro e o Robô: inteligência artificial, biotecnologia e nova ética. São
Paulo: Coleção Ethos, 2015, p. 17.
17
o que será feito com os seus dados e eventual aplicabilidade da Inteligência Artificial em
decorrência do dado coletado e armazenado.
Para Alan Turing, após o teste de Turing, foi comprovado que a Inteligência Artificial se
refere a um jogo de imitação, o que culminou a Turing descobrir quando o computador é
indistinguível de um humano em uma comunicação de linguagem natural e, portanto, o
computador deve ter atendido como uma inteligência no nível humano.
Para Gabriel (2018)20, a abordagem simbólica da inteligência é fruto do pensamento
orientado pela matemática em descrever de forma abstrata os processos que geram
comportamento inteligente, culminando no desenvolvimento dos computadores. Nesse sentido,
a Inteligência Artificial cataloga os Dados Pessoais que são oferecidos e o Banco de Dados que
irá alimentar a Inteligência Artificial que mostrará categorias diferentes de dados.
20 GABRIEL, Martha. Você, Eu e os Robôs: pequeno manual do mundo digital. São Paulo: Atlas, 2018, p. 191.
21 PISTONO, Frederico. Os robôs vão roubar seu trabalho, mas tudo bem: como sobreviver ao colapso econômico
e ser feliz. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Portifolio-Penguin, 2017, p. 45-46.
22 GABRIEL, Martha. Você, Eu e os Robôs: pequeno manual do mundo digital. São Paulo: Atlas, 2018, p. 193.
23 LOPES, Isaia Lima; SANTOS, Flávia Aparecida Oliveira; PINHEIRO, Carlos Alberto Murari. Inteligência
Artificial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p. 112.
24 HARTLEY, Scott. O fuzzy e o Techie: por quê as ciências humanas vão dominar o mundo digital: Trad. Luis
Dolhnikoff. São Paulo: BEI Comunicação, 2017, p. 33.
18
Portanto, a Inteligência Artificial pode ser uma ameaça importante à privacidade, pelo
seu posicionamento em espaços tradicionalmente protegidos e íntimos como por exemplo, em
sua própria casa, e pela sua capacidade de extrair informações relativas a Dados Pessoais
Sensíveis e de os transmiti-los.
25 SANTOS, Pedro Miguel Pereira. Internet das coisas: o desafio da privacidade. Dissertação (Mestrado em
Sistemas de Informação Organizacionais) — Escola Superior de Ciências Empresariais, Instituto Politécnico de
Setúbal, 2016.
26 NASCIMENTO, Rodrigo. O que, de fato, é internet das coisas e que revolução ela pode trazer?
Computerworld, 12 mar. 2015.
27 4 KOBIE, Nicole. The useless side of the internet of things. Motherboard, 5 fev. 2015.
28 I.T.U. International Telecommunication Union. World summit on the information society stocktaking. 2012.
Disponível em: www.itu.int/net.
29 POLLONI, E. G. F. Administrando sistemas de informação: estudo de viabilidade. [S.l.]: Futura, 2000.
19
manipulados por um sistema de processamento, se tornam informações relevantes que podem
ser usados para uma finalidade diferente, principalmente com relação a aplicação de IoT em
casas inteligentes, que possuem um grande volume de dados sensíveis e intrinsecamente
privados.
Uma “smart home” pode ser definida como uma residência equipada com
tecnologia da informação e computação que antecipa e responde às
necessidades dos ocupantes, trabalhando para promover seu conforto,
conveniência, segurança e entretenimento por meio da gestão de tecnologias
na casa e conexões para o mundo além (ALDRICH, 2003) 30
Assim, a smart home é uma casa que proporciona segurança, conforto, conveniência e
entretenimento, através de tecnologias computacionais, que possuem capacidades de
identificar, adaptar-se e responder as solicitações dos habitantes por meio da conectividade
30 Texto original: “A “smart home” can be defined as a residence equipped with computing and information
technology which anticipates and responds to the needs of the occupants, working to promote their comfort,
convenience, security and entertainment through the management of technology within the home and connections
to the world beyond.” (ALDRICH, 2003).
20
com a Internet onde, realiza a troca de informações entre as aplicações na smart home, que
permitem a coleta de dados, e informações dos habitantes.
Portanto, para o funcionamento de uma smart home a IoT realiza a conexão que
permitindo o monitoramento e controle desses locais por meio da internet, como por exemplo,
ligar o ar-condicionado, ligar e desligar uma lâmpada, pedir para abrir e fechar cortinas, ou até
mesmo, fazer uma pesquisa ou tocar uma música.
Por esse motivo, a privacidade e a proteção desses Dados Pessoais Sensíveis são de
extrema importância, pois estão associados nas opções e características fundamentais da pessoa
e consequentemente, possuem um potencial inclinação para serem utilizados com finalidades
discriminatórias (RODOTÀ, 2008, P.96).
É dessa forma, que com a possibilidade de discriminação, para L.M.Friedman e J. Rosen,
Rodotà (2008, p.15), que reconhece que com a coleta de Dados Pessoais Sensíveis e a aptidão
de gerar perfis sociais e individuais discriminatórios que indicam a privacidade como:
31 Tradução livre de: “La privacy si presenta così come un elemento fondamentale della società
dell’eguaglianza”.
21
“a proteção de escolhas de vida contra qualquer forma de controle
público e estigma social”, a implicar na indispensável “reivindicação
de limites que protegem o indivíduo do direito de não ser simplificado,
objetivado e avaliado fora de contexto.”
5. CONCLUSÃO
22
margem para que seja julgada por condições das quais não escolheu, por exemplo, da sua
escolha religiosa ou de suas características genéticas.
Por sim, as tecnologias citadas no decorrer do trabalho, que não ostentam limites
intrínsecos e extrínsecos, podem cooperar para amplificar os problemas de ordem social,
política, ou podem ser funcionalizados para a pessoa e, dessa forma, para os valores
compartilhados socialmente.
6. REFERÊNCIAS
AGUIRRE, Katherine; BADRAN, Emile; MUGGAH, Robert. Future Crime: Assessing twenty
first century crime prediction. Instituto Igarapé, SN 33, julho de 2019.
ALDRICH, F. K. Smart Homes: Past, Present and Future. In: HARPER, R. (ed.). Inside the
Smart Home. London: Springer, 2003. p. 17-39.
23
BRASIL. Lei no 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Brasília, 2018. Disponível em: http:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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DONEDA, Danilo Cesar Maganhoto et al. Considerações iniciais sobre inteligência artificial,
ética e autonomia pessoal. Pensar - Revista de Ciências Jurídicas, [s.l.], v. 23, n. 04, p.1-17,
2018. Fundacao Edson Queiroz. http://dx.doi.org/10.5020/2317-2150.2018.8257.
24
Heetae Yang, Wonji Lee, Hwansoo Lee, “IoT Smart Home Adoption: The Importance of
Proper Level Automation”, Journal of Sensors, vol. 2018, Artigo ID 6464036, 11 páginas,
2018. https://doi.org/10.1155/2018/6464036.
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Dados Pessoais e suas repercussões no direito brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters
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LESSIG, Lawrence. Code: version 2.0. Nova York: Basic Books, 2006.
25
RODOTÀ, Stefano. Il mondo nella rete: Quali i diritti, quali i vincoli. Roma: Laterza & Figli
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