Você está na página 1de 82

poesia

nada com
pleta

luVenegas
n b a
m á a ç
a c a t s
s t q ê u a
d e ã v o r
e e r o
b à ç o m b
c e e a c e e a
a m b m a c
e e s o
m o ã i v t
n s q n e a
i c e n m
m a a ç
n b a
poesia
nada com
pleta

luVenegas

25.07.2022
chispando

dure a vida musa


a solidão da semente na fruta
as crisálidas reféns das amoreiras
a roma enforquilhada
suma a diva rude

toda capital oprime muita operária


é natural que o sêmico pólen termine
mas a produção dos alvéolos persiste

ele anda mais realista


o encouraçado também adjetiva

ela enfim pôde sair


fez teias
agora fabrica casulos

múltiplo esse bicho

05
des
mamado
que diz

nós da ausência de crença


desatando a fantasia
de um amolador de facas

cigarros e mariposas
decantando na gua
pira clássicos

bem sabidos mas sem telescópio


intuíam as relações microscópicas
dadas pela catástrofe da patife sida

garoava
em tu
curu
vi

06
as santas casas
desintegrando

tinha quem muito


as amasse

a aurora lavada
de várias chicas
pós sacudida
na buarque

rachaduras
no esqueleto
dos tristes thanks

la bruta fatura

um longo bixiga
rebolando
pra ser

07
recebendo caras
minguam

estio

foto
gramas
de medo

canastra
dos inglórios
jardins

suas insu
lares portáveis
latrinas

os incríveis maiôs
de muita gente
à guache

08
o regozijo na malharia
da rosa bastante tomada
plugando seus brotinhos

o declínio colorido
das almofadas de sala

espalhando pelo
piso restos de látex

havia uma película


de alienígenas predadores
transfigurados em clowns

a nave era toda


a lona que cobria
as arquibancadas

as picadeiras
no jaçanã

09
qualquer lágrima rende
quando encurva

até rosto com pressa

nessa
cidade
glande

orgasmo tenta
quase que perdura

a grana con
sumindo cala

frio

no vão eles vêm


com cbd pós tetra
hidrocanabinol

10
ao terminar
no metrô
mano

que
carac

oo

ar

tão cá

ga

do

11
grafite

maná
cabaça
e desertão

cabem
à beça
e menos são

mina
cabeça
que vê

outras
comem a beca
que inventam

13
radar

enormes sobrados
aviões subindo
obstinadamente

descendo

a pandorga indo embora


algum destino pras vaquetas

trançamos linhas
dobramos papel

alguma valquíria na cola

soltamos outras
com rabiola

barulhos na mes

15
a posta

os insolventes apavorados
com o custo
dos hidrocarbonetos

pós
zinco
abrasivo
lero

bosta

abduzidos
nas avenidas
sussurram

quanto buraco
mesmo menor
feito abala

16
os mira
bolantes
bólides

sob o terraço em arco


qualquer vergado gaio

come
mora
fa

zendo
cenas
a giz

logo
maquia

o óbito
das silvas

17
quanta razão
por de trás
dos feixes

a pardaloca vai
dividindo os maços

rodopiando lentes
em varais despidos

frequentando biroscas

caindo pra imitar as ninfas


ao observar tanto asfalto

o anhangá podre
cido vem fisgando

a moçada
na rede dos autos

18
pano rami cá muito ruim
gusanos rasgando no carnaval
os cômicos prevendo um fim
pro trágico e escaldante canavial

o áudio da tríade programando ódios


a explícita ebulição contra esses ciclos
faz tempo que tudo desmancha no ar
dos anéis à flatulência dos bispos

um monte de gogó
prometerá café
com pão & ócio

é demais encenar
variações de chiliques

as muquiranas coronas
maldizendo quaisquer
minúsculos palpites

19
contíguos
murros

esqueço
as baganas

visto que a
bordam

sumo

a ni
vi vil
inha

muito suor

as poucas saídas
dos concretos
rumos

20
todos aqueles
fortes músculos
se movendo na tv

várias fitas

a
mo e
la

com muitas
birras em bo
tequins

as partículas
enfileiradas

um cárcere
entre as
ampolas

21
bam
bu
al
os té
dios men

su
rados

anti
go dra
ga

os
erra
pios

25
o bra
bo de
ste l a
do

agá lam
bendo
a di
vin a

o sur
o eu
fórico

26

man
cando

caô
sem
cré

dito
coito

na
val a

27
sua ex celên cia
na da pro funda
me n te pe re ne
à toa nota
boia diz farsa

29
gran o
di em pó
oir arre
vista gri

tando
litiún

a corda girando

qualquer pique
nessa pravda

é fe
tiche des
tro na moita

31
a per ta lu
man ece
niente

as tan
tas ori

gens
do
emi

メイ

a cor na pá
gina é bi
anca

32
as mui
pu to
rinhas

não gos
tam de
f
lora

que o fau
no se

vá na
flau
ta

33
ovo

a manha vem
empaca

hora consome
ora dá sem tempo

a polarizada
mesquinhez
soterrando
sonhos

virtualidades
enchendo
o saco

as sofridas filas
nada imunes
à deficiência

35
lump in
the throat

que transa estúpida


corriam alucinados

a geringonça
ainda assim
os alcançaria

num beco
teco

em sinucas mesmo
recusando bicas

um eco só

tuim
tuim

36
através da janela
a madrugada pisca

o sol de tungstênio
aquecendo outras
oblíquas no banquinho

na ponte pro céu


vão ao dente

devaga
rinho

os malcriados
com os rostos ocres
duros e magros demais

a foz rindo
ao cair no ri
acho psilocibina

37
fumaça

covacho
dá cansão

não flagrar
o falecimento
da saliva

grenha

na caixa
se acha

lá trem
do pinga

ar de
dar
na tar

38
o sentido
de no tênis
ter barro

deixa
rasto

uns bípedes
cafajestes
pesando

enquanto as
tontas mãos

sem nenhum
dos quatro naipes

ba
tra
lham

39
pirilampos na tanque velho
o fluído aquém tietê

quintais com taquaras


verdes e gafanhotos

os limites da cantareira

nesses quantos azarões


se entendiam rojos

em tempos
de mínimo amor
a barbárie

poucos insetos sóbrios


nas contingentes rotinas

bu
sílis

40
a puta
que o pariu
está morta

declarou

em seu último
e inevitável

suspiro

todo narciso
se sente feio

mas terá de per


passar uns espelhos

a sua prole
ao sugar
degenera

41
grafeno

oeste
tá pra
quilo

o mesmo
jogado
xadrez

bongo
pingue
ponga

vai nau
somar
a leste

43
húmus

como vi
vi cresceu

embolada só
lida sentia

o toldo fluindo

sabre sobe os
relevos da paupérie

a lâ
mina assum
indo

guira
una can
tando

45
vendo

as dominantes malpassadas
estimulando as sacanagens
dos numerosos primos

a luma se espanta
com o cruel doce anular

cínicas geladeiras recheadas

a prótese de porcelana
medonha mordendo
os lábios posudos

vovô mineiro
agonizava plúmbeo
enquanto vovó variava

as implacáveis silicoses

46
papai andaluz pós carolina
principalmente carpinteiro
foi massacrado pelo enfisema

minha nostálgica mamãe


bonita mesclando
sua aragonesa fabla

no porto hispani
camente brasileto
nossa geni iria ali

na idade de bam
bolê com gang

orra

quantas pálidas heroicas vinhetas


nas ondulantes tão esmagadoras
trilhas do objeto culto que se esgota

47
as sortidas comunidades
cercadas pelos tiretes
com cinta

a barafunda
surfactante
das tóxicas ledas

seus dissonantes
pingentes

as amotinadas
iscas escuras

terrivelmente cada
vez mais escutam

gostá
vamos de fa
vale

48
na divertida banguela
mesmo não sendo
ao vapor trinca

percebeu atônita
a assombrada ambulante

os curtidos lolós
servindo dum dum
ao fino açúcar

bárbara tremia

esvaiu
se enchar
cando o local

sua existência flatu


morosa coando
cotovelos de balcão

49
o vetor misógino
da miséria provável
do cativo eu nunca

escolher entre
escroto vazio
ou cacete invisível

antes de ser
esquar
tejado

madalena se encantando
com o cyrtopodium
punctatum

unzinho amaria

cada bela
bem vista

50
assim

ao
fio
cina

se abri
ria

nh

ca

51


elcuspir

sujo de galáxias em obras


o rosto do aluno no horizonte
roteiro quase muro e controverso

transblanco de poesia da tarde


corpo serial da lábia do anticrítico
palavra do verso provável pela pedra

a educação viva e concreta


é antes do ímpeto das letras
caderno corporal do reverso

paranoia com silêncio pois


até agora fez arte em livro
e tradução antropofágica

depois da tempestade semiótica


vaia primeiro uma grande inter
estelar memória aos últimos

55
r i a pau de pé d i a s

que ritmo
o pulso do tempo
deve ter

biblioteca nacional 1993

há sa
ci
na fo
me

a pietroforte 2009

aeronave
chega
birutas
tremulam

a lucarezi 2015

56
do grafite ao grafeno

Após o primeiro ataque ao livro-artefato-petardo-vene


gástrico, intitulado como Poesia Nada Completa, em po
sição estamos de arriscar algumas (in) conclusões sobre
o que nos passou pelas mãos, vistas, ventas, língua, estô
mago, pulmões e tripas.

Enganamo-nos ledamente se assuntarmos hipóteses so


bre manuais ou bulas papais para localizarmos um para
lelepípedo na enchente, que sirva de apoio aos pés, en
quanto providenciamos uma mínima ordem no sótão ce
rebral.

Leitores precipitados, mal habituados, sempre tentados


em associação como (falso) processo de elogio, perde
mos o tempo nosso, e o do autor, em sacadas espertas:
ah, João Antônio, opa, Adoniran, ei, mestre Quevedo,
aqui a Concreta, agora o Fluxo, um Uivo...

Vamos à crônica em versos estilhaçados, não funciona.


Radicais livres estão mais para dissociações e cantos

59
que passam ao largo de avenidas conhecidas e melodias
reconhecíveis. Entramos nos territórios "heavy metal"
dos viajantes testemunhais despencando ribanceira abai
xo. É luVenegas e isso lhe nos vasta.

Há uma gota de sangue


em cada poema?

Também há, misturada a saliva, secreções, suor, bílis e


esperma. Por sobre a estrutura aparente do clamor sóli
do não reconhecemos filiação nem parecença, a não ser
o poeta com a sua estirpe e consigo só, em crono bio ra
dio grafia, acerto de contas pessoal que, recusando trans
cendências, nos arrasta para dentro das tocas de nossas
próprias experiências subitamente arrancadas a fórceps.
E nesse momento preciso viramos cúmplices; e o poe
ma, universo.

Então lá vai, a única associação exequível, cabível a


martelinho de ouro: Homero. Que tal? O viajante coleti
vo, narrador de cidades, reanimador de geografias vitais
e guia de memórias construídas sobre pedras, Helenas e

60
escombros urbanos a (res) guardar a estirpe dos nautas
de Hespanha atracados em (a) becos carcamanos. E à
medida em que o redemoinho nos traga, aspiramos a ve
loz cidade, que adquire vivacidade e nos oferece a certe
za de haver profunda necessidade de cada linha e cada
decomposição vocabular. É o trotamundo em navegação
de retorno, a recolher os respingos de alma largados (le
gados) pelo caminho.

Ao Brás, Bexiga e Barra Funda, o poeta sobrepõe Bixi


ga, Consolação e Vila Buarque, à guisa de Liberdade. O
novo mundo de seres envelhecidos e fatos esmaecidos
que, apesar da pancadaria verbal, permite a transparên
cia das palavras na folha e por trás da ardência retrospec
tiva vislumbramos o insulto camarada, o afago...

A dialéxica?

todo narciso
se sente feio

mas terá de per


passar uns espelhos

61
E retornemos, no outra vez, e desta vez na ascendente.

Liu Say Yam

evoé

62
pa
pos a
nexos
algo sobre a poesia de papai

Meados de 1998, Rua do Tanque Velho, Zona Norte de


São Paulo, não muito longe de onde eu vivia, mas distan
te, pois eram sensações experimentadas apenas nos dias
em que eu o visitava:

a música, geralmente brasileira, alguma canção que


fazia do saxofone o protagonista, tocada, claro, na vitro
la; o quintal estreito e perfumado pelas rosas cor-de-rosa
e o cheiro de tabaco queimado.

Tenho na minha cabeça que algumas de suas criações,


aconteceram durante a fase das minhas visitas. Não reco
nheço o histórico particular dele disposto em suas poe
sias, mas conheço a sua coragem em derramar os seus
pensamentos de forma menos cautelosa, quando se trata
de rebeldia, intensa, instigante, quando tenta estimular
intelectualmente a sua improvável recepção.

E desde às visitas até os dias de hoje, sinto-me como


uma das principais ouvintes dos seus pensamentos, e a

71
acreditem, em todos os nossos encontros, mesmo com
as canções, agora, claro, tocadas através de um display,
o meu histórico olfativo está muito presente.

Além de contribuir para o meu universo, pelo simples fa


to de existir na minha vida, ao ler seus poemas, através
da língua portuguesa e da estrutura em que ele os dis
põem, vou compreendendo a relação de mão dupla que
o luVenegas mantém com seus possíveis leitores, a sua
coragem em des (a) fiar qualquer intimidação, a sua
constante lembrança sobre a imprescindível liberdade de
expressão.

Maíra Venegas

72
@ Luís Fernando Soler Venegas, 2022

capa, contracapa e projeto gráfico luVenegas


fotografias o beto me convidou 2012 Guiomar Aquilini

ilustrações
na capa regalo 2018 Soraya Kolle
no verso da capa pedaço de grafite 2022 El
no verso da contracapa microscopia do grafeno 2022 Nosotros

retratos
na capa boa lembrança do liu, malu 2003 Blas
na contracapa guiomar, herminia e maíra 2011 luVenegas
lu aqui e lá 2022 Guiomar Aquilini
Queridas e queridos,

considerem a relevância
deste trabalho poético
para valorizá-lo.

Contribuam,
generosamente,
através da chave PIX:

luvenegas.agradece@gmail.com
o es te
tá pra
qui lo

o mesmo
joga do
xa drez

bon go
pin gue
pon ga

vai nau
som ara
le s te

Você também pode gostar