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Engenharia Elétrica
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
15 pag.
As linhas de transmissão são os equipamentos empregados para transportar grandes blocos de energia por
grandes distâncias, entre os centros consumidores e os centros geradores. No Brasil, em função do parque
gerador ser baseado na energia hidrelétrica, o sistema de transmissão desempenha um papel muito
importante pois as distâncias entre os centros consumidores e geradores são elevadas.
Os dados do setor elétrico brasileiro podem ser obtidos nos boletins do Sistema de Informações Empresariais
do Setor de Energia Elétrica (SIESE) que é parte do Sistema Integrado de Informações Energéticas (SIE) da
Secretaria Geral do Ministério das Minas e Energia (MME). Um extrato do relatório, referente às linhas de
transmissão encontra-se no Quadro III.1.
Uma linha de transmissão de energia elétrica possui quatro parâmetros básicos: resistência série, indutância
série, capacitância em derivação e condutância em derivação. Estes parâmetros influem diretamente no seu
comportamento como componente de um sistema de energia elétrica mas, a condutância em derivação
(utilizada para representar a fuga pelos isoladores e corona de linhas aéreas ou isolação dos cabos
subterrâneos) geralmente é desprezada por ser muito pequena.
Assim, para a análise do regime permanente de uma linha de transmissão serão considerados apenas três
parâmetros: resistência série, indutância série e capacitância em derivação.
Na construção de linhas de transmissão são empregados largamente os condutores de alumínio devido aos
seguintes fatores:
• Menor custo e peso;
• Maior diâmetro que equivalente em cobre (portanto menor densidade de fluxo elétrico na superfície
proporcionando um menor gradiente de potencial e menor tendência à ionização do ar – efeito corona).
Os nomes código dos cabos CA são nomes de flores (por exemplo: 4 AWG Rose; 266,8 MCM Daisy; 636
Orchid) e dos cabos CAA são nomes de aves (por exemplo: 1 AWG Robin; 636 MCM Grosbeak; 1590
Falcon).
A resistência série é a principal causa das perdas de energia nas linhas de transmissão.
Na determinação da resistência dos condutores devem ser levados em conta os seguintes aspectos:
• Para a faixa normal de operação, a variação da resistência de um condutor metálico é praticamente
linear, ou seja:
T + T2
R2 = R1 0 (III.2)
T0 + T1
onde:
R1 – Resistência à temperatura T1 [Ω]
R2 – Resistência à temperatura T2 [Ω]
2 o
T0 – Constante do material [ C]
• Em cabos encordoados, o comprimento dos fios periféricos é maior que o comprimento do cabo (devido
ao encordoamento helicoidal). Isto acresce à resistência efetiva em 1 a 2%.
Em corrente alternada (CA), devido ao efeito pelicular (skin), a corrente tende a concentrar-se na superfície
do condutor. Isto provoca um acréscimo na resistência efetiva (proporcional à freqüência) observável a 60
Hz (em torno de 3%).
Exemplo III.1 – Para o cabo de alumínio Marigold 1113 MCM ( 61 × 3,432 mm ), a resistência em CC a
20oC é igual a 0,05112 Ω/km e a resistência CA-60 Hz a 50oC é 0,05940 Ω/km. Determinar:
a) O acréscimo percentual na resistência devido ao encordoamento.
b) O acréscimo percentual na resistência devido ao efeito pelicular.
Solução:
a) A área da seção transversal do condutor é:
2
3,432 × 10 −3 −4
A = Nπr 2 = 61π = 5,643 × 10 m
2
2
Utilizando a expressão (III.1), tem-se:
l 1000
RCC = ρ = 2,83 × 10 −8 = 0,05015 Ω km
A 5,643 × 10 − 4
Portanto, o acréscimo devido ao encordoamento , ∆ enc , é:
ef
RCC 0,05112
= = 1,019 ⇒ ∆ enc = 1,9 %
RCC 0,05015
1
Para o alumínio têmpera dura a 20o C, ρ = 2,83 × 10 −8 Ωm .
2
Para o alumínio têmpera dura a 20o C, T0 = 228 o C .
Solução (continuação):
Um condutor constituído de dois ou mais elementos ou fios em paralelo é chamado condutor composto –
observar que isto inclui os condutores encordoados e também os feixes (bundles) de condutores.
Sejam os dois condutores compostos arranjados conforme a Figura III.1. O condutor x é formado por n fios
cilíndricos idênticos, cada um transportando a corrente I n e o condutor de retorno Y é formado por M fios
cilíndricos idênticos, cada um transportando a corrente I
M .
b
a A B
DbC
Dbn
c C
n M
Condutor x Condutor Y
Figura III.1 – Seção transversal de uma linha monofásica constituída por dois condutores compostos.
Considerando as distâncias indicadas na Figura II.1, a indutância dos fios a e b que fazem parte do condutor
x são dadas por:
µ M D D D LD
La = n ln aA aB aC aM
[H/m]
2π n r′D D L D
a ab ac an
µ M D D D LD
Lb = n ln bA bB bC bM
[H/m]
2π n r ′D D L D
b ba bc bn
onde:
µ = µr µ0 – Permeabilidade do meio3 (para o vácuo, µ 0 = 4π 10 −7 H
m = 4π 10 −4 H
km ) [H/m]
Dαβ – Distância entre os fios α e β [m]
rα′ – Raio de um condutor fictício (sem fluxo interno) porém com a mesma indutância que o
condutor α, cujo raio é rα rα′ = rα ⋅ e 4 [m]
−1
Nas expressões anteriores, é imprescindível que Dαβ e rα′ estejam na mesma unidade (em metros, por
exemplo).
3
Geralmente é utilizada a permeabilidade do vácuo pois, para o ar, a permeabilidade relativa é unitária: µ r ≈ 1 .
A indutância do condutor composto x é igual ao valor médio da indutância dos fios dividido pelo número de
fios (associação em paralelo), ou seja:
La + Lb + Lc + K + Ln
L x médio n L + Lb + Lc + K + Ln
Lx = = = a [H/m]
n n n2
Segue daí que:
Mn (D D L D
µ aM )(DbA DbB L DbM )L (DnA DnB L DnM )
Lx = ln 2 aA aB [H/m] (III.3)
2π n (D D L D )(D D L D )L (D D L D )
aa ab an ba bb bn na nb nn
onde Dαα = rα′ . O numerador da expressão (III.3) é chamado de Distância Média Geométrica (DMG) e é
notado por Dm ; o denominador é chamado de Raio Médio Geométrico (RMG) e é notado por Ds . Assim,
µ Dm
Lx = ln [H/m] (III.4)
2π Ds
com:
Dm – Distância Média Geométrica (DMG):
Dm = Mn (DaA DaB L DaM )(DbA DbB L DbM )L (DnA DnB L DnM ) [m]
Ds – Raio Médio Geométrico (RMG):
Ds = n (Daa Dab L Dan )(Dba Dbb L Dbn )L(Dna Dnb L Dnn ) [m]
2
Considere a linha trifásica transposta com espaçamento assimétrico mostrada na Figura III.2.
D12
2
Condutor B Condutor C Condutor A Posição 2
D13
D23
Transposição
Posição 3
3
1 1 1
/3 comprimento /3 comprimento /3 comprimento
Para a linha da Figura III.2, a indutância média por fase é dada por:
µ Deq
L= ln [H/m] (III.5)
2π Ds
onde:
Deq – Distância média geométrica entre condutores Deq = 3 D12 D23 D31 [m]
Ds – Raio médio geométrico do condutor [m]
Observar a semelhança entre as expressões (III.4) e (III.5). Em linhas constituídas por mais de um condutor
por fase, o raio médio geométrico deve ser calculado como anteriormente, ou seja:
Ds = n (Daa Dab L Dan )(Dba Dbb L Dbn )L(Dna Dnb L Dnn )
2
e os termos empregados no cálculo da distância média geométrica (D12 , D23 e D31 ) correspondem às
distâncias médias geométricas entre cada uma das combinações das fases, ou seja, D xY é dado por:
Para uma linha de transmissão monofásica formada por condutores de raio r, conforme a mostra Figura III.3,
a capacitância entre os dois fios desta linha é dada por:
πk
C ab = [F/m]
D
ln
r
onde k é a permissividade do meio ( k 0 = 8,85 × 10 −12 F m = 8,85 × 10 −9 F km , é a permissividade do vácuo,
geralmente empregada no cálculo de linhas aéreas).
a b
D
Figura III.3 – Seção transversal de uma linha monofásica.
Assim, a capacitância de qualquer um dos fios ao neutro corresponde ao dobro do valor determinado pela
expressão anterior (associação série de capacitores), conforme ilustra a Figura III.4.
C aN C bN
C ab a b
N
a b
C aN = C bN = 2C ab
Capacitância linha/linha
Capacitância linha/neutro
Figura III.4 – Capacitâncias linha/linha e linha neutro.
Desta forma, a expressão da capacitância entre linha/neutro, para uma linha monofásica é dada por:
2πk
CN = [F/m] (III.6)
D
ln
r
Para uma linha de transmissão trifásica espaçada igualmente e formada por condutores de raio r, conforme
mostra a Figura III.5, a capacitância entre linha/neutro de qualquer uma das fases pode ser obtida, também,
pela expressão (III.6).
b
D D
a c
D
Figura III.5 – Seção transversal de uma linha trifásica.
Observar que na expressão (III.5) não foi contemplada a existência da terra que causa uma descontinuidade
no meio dielétrico (passa de isolante para condutivo). Embora a consideração do efeito da terra, geralmente,
não provoque alterações significativas no valor da capacitância (em outras palavras, a capacitância entre as
fases é muito maior do que a capacitância entre as fases e a terra), é possível determinar esta componente
aplicando-se o método das imagens.
Considerando os condutores fase e as imagens, mostrados na Figura III.6, a capacitância média com relação
ao neutro é dada por4:
2πk 2πk
CN = = [F/m] (III.7)
Deq 3 Daβ Dbχ Dcα Deq 3 Daα Dbβ Dcχ
ln − ln ln + ln
r 3 Daα Dbβ Dcχ r 3 Daβ Dbχ Dcα
sendo Deq = 3 Dab Dba Dca a distância média geométrica entre condutores. Observar a semelhança entre as
expressões (III.6) e (III.7). Como os condutores das linhas de transmissão são suspensos e adquirem a forma
de uma catenária, a altura adotada no cálculo da capacitância é diferente da altura de suspensão (H), pois o
cabo apresenta uma flecha f, sendo sua altura média é inferior. Usualmente, a altura empregada no cálculo, h,
é dada por: h = H − 0,7 f .
b
Condutores
Dab
a Dbc
Dca c
Superfície do solo
D aβ Dcα Dbχ
χ
α
Imagens
β
Figura III.6 – Seção transversal de uma linha trifásica assimétrica e sua imagem.
Exemplo III.2 – Para as duas configurações abaixo (vertical e horizontal), determinar a indutância série e a
capacitância em derivação por unidade de comprimento (km). Considerar que ambas as linhas são
transpostas.
a
Vertical
D
µ = µ 0 = 4π 10 −4 H
km
b
k = k0 = 8,85 × 10 −9 F km Horizontal
D Cabo 636 MCM Grosbeak
r = 1,257 cm a b c
c
D D
Ds = 1,021 cm (RMG)
D = 7 ,0 m
H H = 20 m H
Superfície do solo
5
Isto explica porque o efeito da terra é muitas vezes desprezado no cálculo da capacitância das linhas de transmissão.
Exemplo III.3 (Provão 2002) – Questão relativa às matérias de Formação Profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).
Exercício III.1 – Descrever e demonstrar com exemplo as alterações necessárias na disposição dos cabos
(altura, arranjo das fases, arranjo do bundle, etc.) para:
a) Reduzir a indutância série de uma linha de transmissão.
b) Aumentar a capacitância em derivação de uma linha de transmissão.
Embora as linhas nem sempre possuam espaçamento eqüilátero e sejam plenamente transpostas, a assimetria
resultante em sistemas de alta e extra-alta tensão é pequena e as fases podem, geralmente, ser consideradas
equilibradas (via de regra, a carga é bastante equilibrada).
Os parâmetros utilizados nos estudos de fluxo de carga para representar linhas curtas e médias podem ser
obtidos diretamente das expressões anteriores – basta multiplicá-los pelo comprimento da linha de
transmissão. Para linhas longas é necessário fazer uma correção para considerar que os parâmetros são
distribuídos.
Qualquer linha de transmissão pode ser representada de modo exato, a partir dos seus terminais, por um
circuito π equivalente, como mostrado na Figura III.7, onde:
′
γ ⋅l
′ Y Y km
tanh
Y km
=
km 2
2 2 2 γ ⋅l
2
Logo, para linhas de transmissão médias, pode-se utilizar diretamente a impedância série total da linha (pois
′ ′
Z km = Z km ) e a metade da admitância em derivação total (pois Y km 2 = Z km 2 ), resultando no chamado
circuito π nominal.
Para linhas de transmissão curtas, pode-se desprezar a admitância em derivação e utilizar-se somente a
impedância série total da linha.
Exercício III.2 – Para a configuração vertical do Exemplo III.2, determinar o circuito equivalente,
considerando a resistência em corrente alternada por unidade de comprimento igual a r = 0,10054 Ω km , 60
Hz, e que o comprimento da linha é:
a) 500 km (linha longa)
b) 150 km (linha média)
c) 50 km (linha curta).
Após realizadas as correções necessárias para levar em conta o comprimento, a representação das linhas de
transmissão no fluxo de carga é realizada pelo seu equivalente π, mostrado na Figura III.8 que é definido por
sh
três parâmetros: a resistência série rkm ; a reatância série xkm e a susceptância em derivação (shunt) bkm .
V k = Vk θ k V m = Vm θ m
k I rkm jx km m
I km I mk
sh sh
jb km jb km
(
I km = Y km V k − V m + jbkm
sh
)
V k = Y km + jbkm
sh
(
V k − Y km V m ) (III.8)
I mk = Y km (V m −V k ) + jb sh
km V m = (Y km + jbkm
sh
)V m − Y km V k (III.9)
[ (
S km = g km − j bkm + bkm
sh
)]
Vk2 − (g km − jbkm )VkVm θ km
= [g − j (b )]V
(III.10)
km km + bkm
sh
k
2
− VkVm ( g km − jbkm )(cosθ km + j sen θ km )
Separando as partes real e imaginária, chega-se a:
(
Qkm = −Vk2 bkm + bkm
sh
)
− Vk Vm (g km sen θ km − bkm cosθ km ) (III.12)
* sh * * *
* sh 2
= V m Y km − jbkm V m − Y km V k = Y km − jbkm
* *
Vm − Y km V m V k
cujas partes real e imaginária são:
(
Qmk = −Vm2 bkm + bkm
sh
)
− Vk Vm (g km sen θ mk − bkm cosθ mk ) (III.14)
rkm I Vk
jx km I
θ km
V km
Vm I
Figura III.9 – Diagrama fasorial da linha de transmissão.
As perdas de potência ativa e reativa em uma linha de transmissão podem, então, ser determinadas somando-
se, respectivamente, as expressões (III.11) com (III.13) e (III.12) com (III.14), ou seja:
( )
Pperdas = Pkm + Pmk = Vk2 + Vm2 g km − 2Vk Vm g km cosθ km
(
Qperdas = Qkm + Qmk = − Vk2 + Vm2 bkm + bkm
sh
)(
+ 2Vk Vm bkm cosθ km )
As expressões (III.8) e (III.9), podem ser arranjadas de outra forma, tendo em vista possibilitar a
representação da linha de transmissão por um quadripolo, conforme mostrado na Figura III.10.
I km I mk
+ +
V m A B V k
V k = Vk θ k = ⋅ V m = Vm θ m
I mk C D I km
– –
Vm =
1
[(Y km + jbkm
sh
)
] jb sh
V k − I km = 1 + km V k −
1
(
I km = 1 + Z km jbkm
sh
V k − Z km I km) (III.15)
Y km Y km Y km
sh
I mk = jbkm
jb sh
Y km
jb sh
2 + km V k − 1 + km I km = jbkm
Y km
sh
2 + Z km jbkm
sh
(
V k − 1 + Z km jbkm
sh
)
I km ( ) (III.16)
Assim, os parâmetros do quadripolo são: A = 1 + Z km jbkm
sh
B = − Z km
C= sh
jbkm (2 + sh
Z km jbkm ) (
D = − 1 + Z km jbkm
sh
).
Exemplo III.4 (Provão 2000) – Questão relativa às matérias de Formação Profissional Específica (Ênfase
Eletrotécnica).