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Desmascarando Falsos Profetas

marciokobax@gmail.com
Publicado em 2011. Última edição em 2020.

1) O que é um falso profeta?

Nada melhor do que começarmos esse estudo pela forma como Jesus definiu ser um falso
profeta. Estas palavras abaixo, quando colocadas em prática, serão como rocha para
firmarmos nela a construção das nossas casas (Mateus 7:24).

Mateus 7:15-23 - “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos
como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.
Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore
boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar
maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se
e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que
está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu
nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas
maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós
que praticais a iniqüidade.”

A primeira característica dos falsos profetas é que eles parecem ser ovelhas. Os falsos
profetas são espertos, pois sabem como uma ovelha se comporta e dessa forma conseguem
se infiltrar no rebanho sem que sejam reconhecidos. Vivem uma vida de aparências e ficam
muito ocupados em conservar seus disfarces exteriores. Sabem cumprir as regras e visões
das igrejas, sabem distinguir quais roupas são aceitáveis e aplicam o linguajar correto no
convívio, mas no fundo não entendem os princípios que devem nortear esses
posicionamentos. Estão mais preocupados em serem reconhecidos pelas pessoas do que
buscar ter uma vida interior transformada agradável a Deus. Praticam a iniquidade às
escondidas da visão da maioria das pessoas, mas não da visão de Deus.

A segunda característica dos falsos profetas é que eles são lobos devoradores. Eles estão
infiltrados dentro do rebanho com a finalidade de roubar, matar e destruir (João 10:10). Jesus
nos ensinou a reconhecer esses ladrões como sendo aqueles que não passam pela porta
das ovelhas, que é Jesus (João 10:7-9). Reconhece-se quando há um ataque de lobos pela
dispersão das ovelhas (João 10:12).

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Algumas ovelhas mais frágeis acabam sendo devoradas. Isso não significa que elas venham
a morrer fisicamente, pois Jesus está nos ensinando sobre a vida espiritual. Na verdade, as
ovelhas são devoradas na sua fé. É a fidelidade a Deus das ovelhas que está em jogo, pois
fé traz o mesmo significado que fidelidade. A fidelidade de alguém a Deus pode ser roubada
quando for tentada ou induzida a se afastar de Deus, ou seja, a voltar a viver no pecado. Os
lobos incitam a rebelião contra Deus e a contaminação com o mundo, afastando-as de uma
vida cheia de temor e piedade.

Os falsos profetas são discernidos pelos seus frutos, que são as palavras que saem de suas
bocas (Lucas 6:43-45). As palavras que saem da boca dos falsos profetas não são
necessariamente falsas profecias, pois eles sabem como profetizar acertadamente por
imitação, por dedução ou ainda por revelação. É fácil desmascarar aqueles que profetizam
mentiras (Jeremias 14:14-15), e nesse caso, não haveria tanta necessidade de sermos
alertados quanto a esses. Falsos profetas são aqueles que sabem como profetizar
acertadamente em nome de Jesus, ou seja, os principais falsos profetas não são os profetas
de Baal, macumbeiros, espíritas e feiticeiros, pois além desses não se preocuparem em
colocar um disfarce de ovelhas, eles não profetizam em nome de Jesus Cristo.

Diante disso, o cuidado que o povo de Deus deve ter não é com o conteúdo em si das
revelações, mas sim com a intenção delas, pois os falsos profetas são encantadores (Atos
13:6-8) que profetizam para distrair a atenção que os fiéis deveriam dedicar a Deus. Os
falsos profetas fazem uso de profecias verdadeiras para induzir as pessoas a ficarem
apegadas cada vez mais às ilusões deste mundo, fazendo-as abandonar seu primeiro
compromisso com Cristo.

Falsos profetas gostam de dar ênfase às riquezas materiais e prosperidades passageiras


como: carros, casas, casamentos, títulos na igreja, posições sociais, formação acadêmica,
gravações, etc. Eles transbordam de êxtase ao falar dos amores que vem do mundo: o
desejo da carne, o desejo dos olhos e a soberba da vida [ostentação dos bens materiais]
(1João 2:15-16, 4:4-5). Porém, Jesus nos ensinou que não se pode amar a Deus e às
riquezas, pois odiará um e amará o outro (Mateus 6:24).

Os falsos profetas buscam poder e autoridade no mundo, querendo ser reconhecidos diante
das pessoas, não esperando pela exaltação que vem de Deus. Eles imaginam que Deus
está justificando- os quando expulsam demônios e fazem maravilhas. Eles ignoram o fato de
que os sinais servem só para confirmar a palavra, não os profetas (Marcos 16:20). Ao invés
de fazerem uso dos sinais de poder para testemunharem a Jesus (Atos 1:8), testemunham a
si mesmos, seus próprios ministérios ou o nome de suas organizações (2Tessalonicenses

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2:7-12, Deuteronômio 13:1-5). Ao pensarem que são justificados pelos seus atos de poder
sobrenatural, demonstram que não são justificados pela fé ou pela sua fidelidade a Deus, e
isso explica porque não se arrependem da iniquidade.

Mateus 24:11, 24 - “[Jesus disse:] E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
(...) Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios
que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”

2) Qual foi o caminho de Balaão?

Apocalipse 2:14 - “No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que
se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os
israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade
sexual.”

Na época em que Moisés liderava o povo de Israel, Balaão foi um profeta que sabia ouvir o
SENHOR (Números 22:12), tinha visões verdadeiras (Números 22:31), profetizava palavras
acertadamente (Números 23:8, 16, 19) e o Espírito de Deus estava sobre ele (Números
24:2). Caso Balaão profetizasse nos dias de hoje, seria provavelmente reconhecido pela sua
grande “unção”.

Balaão tinha experiência e prática com o poder celestial, mas não tinha um coração correto
diante de Deus, pois usou a sua autoridade de profeta para induzir os israelitas a se
contaminarem pela prostituição com as moabitas (Números 25:1-2, 31:16). Ele acabou sendo
morto junto com os reis midianitas (Números 31:8).

2Pedro 2:1-3, 13-15, 17-20 - “No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como
também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias
destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos
repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por
causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os
explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre
eles, e a sua destruição não tarda. (...) Eles receberão retribuição pela injustiça que
causaram. Consideram prazer entregar-se à devassidão em plena luz do dia. São nódoas e

manchas, regalando-se em seus prazeres, quando participam das festas de vocês. Tendo
os olhos cheios de adultério, nunca param de pecar, iludem os instáveis e têm o coração
exercitado na ganância. Malditos! Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram,
seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o salário da injustiça (...) Esses

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homens são fontes sem água e névoas impelidas pela tempestade. A escuridão das trevas
lhes está reservada, pois eles, com palavras de vaidosa arrogância e provocando os
desejos libertinos da carne, seduzem os que estão quase conseguindo fugir daqueles que
vivem no erro. Prometendo- lhes liberdade, eles mesmos são escravos da corrupção, pois
o homem é escravo daquilo que o domina. Se, tendo escapado das contaminações do
mundo por meio do conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
encontram-se novamente nelas enredados e por elas dominados, estão em pior estado do
que no princípio.”

Pedro está alertando a igreja a respeito dos falsos mestres, estes que disseminam heresias
destruidoras, por exemplo as doutrinas de Balaão. O efeito desses falsos ensinos é a
destruição da fé das pessoas, pois são induzidas a abrir mão da libertação que alcançaram
com o SENHOR. Os falsos profetas vem abrir portas para os falsos mestres, que são
caracterizados por: induzir caminhos vergonhosos, cobiça, testemunhos falsos, devassidão,
adultério, provocar desejos da carne, sedução e entrega de falsas promessas de libertação.
Esses falsos mestres chegaram a conhecer a Jesus e por isso estão na igreja, mas
infelizmente voltaram a se tornar escravos do pecado, e como mais uma vez estão
dominados pelas trevas, se tornaram novamente instrumentos nas mãos do inimigo.

2Timóteo 4:3-4 - “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para
si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para as fábulas”.

Falsos mestres normalmente fazem bastante sucesso nas igrejas, pois não pregam as
verdades que Deus está querendo dizer, mas sim aquilo que as pessoas estão querendo
ouvir. Muitas pessoas ficam extasiadas com os falsos testemunhos desses mestres, algumas
até choram.

Balaão foi um falso profeta, pois era mais apegado ao poder de Deus do que ao Deus que
concede o poder. Ele não tinha motivações íntegras diante de Deus, pois estava apegado às
ilusões deste mundo. Ele sabia como fazer uso prático do poder de Deus, mas foi um lobo
devorador em Israel.

3) Como fazer a distinção entre verdadeiros e falsos profetas?

1João 4:1 - “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de
Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.”

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Jesus nos ensinou que os falsos profetas são discernidos pelas palavras que saem dos seus
corações (Lucas 6:44-45). Eles usam suas bocas para atrair a atenção das pessoas, mais
para si mesmos que para Deus. Sendo caçadores de aplausos e de recompensas nesta
vida, amam o reconhecimento do mundo e as riquezas passageiras. Para que todos venham
a falar bem deles, iludem as pessoas anunciando uma paz irreal e que nenhum mal virá
sobre elas (Jeremias 23:17, Ezequiel 13:16).

Lucas 6:26 - “[Jesus disse:] Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim
os antepassados deles trataram os falsos profetas.”

Ninguém inventa uma identidade falsa se não houvesse uma identidade verdadeira. Não
haveria motivo para que fosse criado o dinheiro falso se antes não existisse o dinheiro
verdadeiro. Quero dizer com isso que a vinda dos falsos profetas aponta para existência de
verdadeiros profetas.

Existe um perigo de nos permitirmos ser encantados pelos falsos profetas, mas estamos
correndo um risco maior se desprezarmos as profecias (1Tessalonicenses 5:20, Provérbios
29:18, Atos 2:17- 18, Apocalipse 19:10) e o fundamento do ministério profético na igreja
(Efésios 2:20, 4:11). No decorrer de toda a história, Deus escolheu se comunicar com seu
povo por meio dos profetas (Lucas 16:29, 2Crônicas 20:20). Se hoje não conseguimos
aceitar os profetas verdadeiros, dificilmente reconheceríamos a Jesus como profeta, se
estivéssemos no primeiro século.

Jesus Cristo manifestou-se como profeta (Mateus 21:11, João 4:44, João 6:14) e a igreja
deveria refletir essa sua característica fundamental (Atos 11:27-28, 13:1, 15:32, 21:9-11).
Quais são os verdadeiros valores que Jesus destaca nos verdadeiros profetas?

Lucas 6:22-23 - “Bem-aventurados serão vocês, quando os odiarem, expulsarem e


insultarem, e rejeitarem o nome de vocês, como sendo indigno, por causa do Filho do
homem. Alegrem-se nesse dia e saltem de alegria, porque grande é a recompensa de vocês
no céu. Pois os antepassados deles fizeram o mesmo com os profetas.”

Jesus está nos ensinando neste contexto de Lucas 6:21-26 a diferenciar as


bem-aventuranças dos ais. Deus vê como bem-aventurados aqueles que o mundo atribui
pouco valor e diz “ai” àqueles que são muito valorizados pelo mundo. Quando vemos
pessoas se empenharem para edificar suas vidas sobre aquilo que o mundo considera como
tendo muito valor, não pensemos que Deus está olhando dos céus como um pai orgulhoso
que se agradou do grande esforço que fez o filho, afinal, aquilo que tem muito valor aos

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olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus (Lucas 16:15).

Verdadeiros profetas não são identificados como aqueles que entregam algumas palavras de
arrependimento, pois é fácil vestir esse disfarce. Verdadeiros profetas são aqueles que estão
dispostos a não medir consequências para agradar a Deus e não se contaminar com o
mundo. Pela denúncia da hipocrisia e desmascarando os falsos profetas (1Coríntios 14:32,
Isaías 9:15, Ezequiel 13:3, Jeremias 5:31, 1Reis 18:37-40), pregam arrependimento sem a
preocupação de ser odiados, expulsos, insultados e perseguidos, pois estão satisfeitos com
a recompensa que receberão no céu.

Verdadeiros profetas, como foram Moisés e Elias, são protegidos por Deus quando alguém
quiser causar-lhes dano (Apocalipse 11:5). No entanto, quando já tiverem concluído seu
testemunho, Deus pode permitir que sejam vencidos ou até mesmo assassinados
(Apocalipse 11:7, Marcos 6:27, 14:41-42). Quando os verdadeiros profetas são mortos, os
habitantes da terra não lamentam ou choram por eles, ao contrário, realizam festa
(Apocalipse 11:10).

Na verdade, os habitantes da terra irão lamentar somente pela Babilônia, quando Deus
trouxer a ela o seu juízo (Apocalipse 18:9-19). É nessa Grande Cidade que encontra-se o
sangue dos profetas (Apocalipse 18:24, Mateus 23:37). A rainha dos profetas de Baal é
Jezabel e este é o nome do espírito maligno que conduz uma pessoa a denominar-se profeta
sem que seja chamada, visando induzir o povo a pecar (Apocalipse 2:20) e exterminar os
verdadeiros profetas (1Reis 18:4).

Jesus também ensinou-nos que podemos discernir os assassinos dos verdadeiros profetas
pela hipocrisia (Mateus 23:29-31). Os assassinos dos verdadeiros profetas são atores, pois
esse é o significado da palavra hipócritas. Na tentativa deles quererem mostrar aos homens
que são inocentes de toda inveja, ódio e violência, eles ocupam-se em edificar o túmulo dos
profetas e enfeitar os monumentos dos justos. Em outras palavras, tome cuidado com
aqueles que estão oferecendo exagerados elogios e lisonjas, pois os assassinos dos
verdadeiros profetas são bajuladores (Provérbios 29:5) e sedutores (2Reis 9:10). Os beijos
dos inimigos são enganosos (Provérbios 27:6, Mateus 26:48).
Jesus nos ensina a discernir os lobos devoradores que estão infiltrados no rebanho, pois
eles representam uma ameaça ao corpo de Cristo. No entanto, que isso não se torne um
pretexto para rebeliões e condenações, pois não podemos nos colocar contra os ungidos de
Deus (1Samuel 24:6).

Aprendamos a aplicar um discernimento sem impor julgamento, pois Jesus nos recomendou
que seremos medidos pela medida com que medirmos os outros (Mateus 7:1-2). Que

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ninguém fuja da responsabilidade de chamar uns aos outros ao arrependimento, mas não se
ire com seu irmão, nem o chame de tolo (Mateus 5:22-26). Ame seus inimigos e ore pelos
seus perseguidores (Mateus 5:44). Sabendo que a ira do homem não produz a justiça de
Deus (Tiago 1:20), deixe de lado a justiça própria e busque em primeiro lugar o Reino e a
justiça de Deus (Mateus 6:33). Lembre-se que a vingança pertence ao Senhor, por isso
prefira sempre dar lugar à ira de Deus (Romanos 12:19).

Para realizarmos cada discernimento, devemos estar fundamentados nas palavras de Jesus,
mas temos que nos permitir também ser guiados pelo Espírito e não pela carne, pois o
discernimento de espíritos é um dom que vem do Espírito Santo (1Coríntios 12:10). Estou
querendo sinalizar que devemos orar para ver e ouvir o que está acontecendo com os olhos
e ouvidos que Deus tem para a situação, afinal, dentro da Sua soberania Ele pode criar
exceções para todas as regras.

Por exemplo, a Lei determinava que deveria ser morto aquele que profetizar uma palavra
que Deus não tenha enviado, e que se a palavra de um profeta não se cumprir, ele não
deveria ser temido (Deuteronômio 18:20-22). No entanto, Deus enviou Jonas para profetizar
que Nínive seria destruída em quarenta dias, mas diante do arrependimento dos habitantes,
a sua palavra não se cumpriu (Jonas 3:4, 10).

Micaías também profetizou para o rei Acabe que ele seria bem sucedido na guerra, mas era
o SENHOR quem colocou essa mentira para que o rei fosse morto na guerra (1Reis 22:15,
23, 37). Jesus disse que fosse destruído esse templo, pois ele seria levantado em três dias,
mas ali ninguém compreendeu que ele estava se referindo à sua ressurreição (João
3:19-21). Quero dizer que nesses casos de Jonas, Micaías e Jesus, discernimentos racionais
baseados na letra (2Coríntios 3:6), e não no Espírito, são perigosos, pois podem nos levar a
falsas e perigosas interpretações.

4) Como chamar falsos profetas ao arrependimento?

Atos 26:20 - “Preguei (...) dizendo que se arrependessem e se voltassem para Deus,
praticando obras que mostrassem o seu arrependimento.”

Todo arrependimento envolve necessariamente uma mudança de mentalidade da nossa


parte. Cabe ao Espírito Santo o convencimento do pecado (João 16:8), e a mudança mais
profunda de coração é dada por Deus (Ezequiel 36:26), mas a nossa parte é a mudança de
mentalidade, que é o significado da palavra arrependimento, esta que vem do grego
metanoia.

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O arrependimento está relacionado a uma decisão de mudança diante do pecado, não de
remorso ou sentimento de culpa. O posicionamento de Zaqueu foi um modelo de
arrependimento para nós, pois sendo um homem desonesto que tinha usado a sua
autoridade para explorar necessitados, mudou de mentalidade ao dizer a Jesus: “Darei aos
pobres metade de meus bens, e se prejudiquei alguém em alguma coisa, eu lhe restituirei
quatro vezes mais” (Lucas 19:8-9). Isso mostra que as obras que demonstram
arrependimento estão ligadas a decisões práticas (Lucas 3:8-14) e não a sentimentos, por
exemplo: quem roubou, deve agora restituir e também dar esmolas; quem desonrou aos
pais, deve passar a respeitar e obedecê-los; quem confiava em si mesmo ou em homens,
deve começar a confiar em Deus; quem enganou as pessoas, deve desmentir seus falsos
testemunhos e começar a falar a verdade; quem escondeu seus pecados, deve
abandoná-los e passar a colocá-los na luz.

Tiago 5:16 - “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos
outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.”

Nesse texto, a palavra pecados (ou erros) vem do grego hamartias, e não deve ser
vagamente traduzida por culpas, como fazem algumas traduções bíblicas. Confessamos
nossos pecados uns aos outros se somos sinceros diante de Deus para concordar que
somos pecadores (Romanos 3:23) e que não vivemos mais para agradar as pessoas.
Confessamos nossos pecados uns aos outros porque essa é a obra de arrependimento que
devem fazer aqueles que reconhecem que estavam vivendo nas trevas e desejam se
aproximar da luz (João 3:19-21, Salmo 51). Confessamos nossos pecados uns aos outros
não porque dependemos do cumprimento deste ritual para sermos perdoados por Deus, pois
ninguém é justificado pelas obras (Gálatas 2:16). Confessamos e abandonamos nossas
transgressões porque cremos que essa é uma etapa importante para alcançarmos a
misericórdia de Deus (Provérbios 28:13, Tiago 2:24).

Mateus 18:14-17 - “[Jesus disse:] Da mesma forma, o Pai de vocês, que está nos céus, não
quer que nenhum destes pequeninos se perca". "Se o seu irmão pecar [contra você], vá a
sós com ele e repreenda-o. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir,
leve consigo mais um ou dois outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada
pelo depoimento de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja;
e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como gentio e publicano.”

Jesus está apresentando como se deve fazer para resgatar a ovelha que se extraviou do
caminho, qual é a estratégia para resgatá-la do pecado (Mateus 18:12-14). O primeiro passo
é estar a sós com a ovelha perdida e repreendê-la. A motivação dessa conversa não é

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afastá-la do convívio pelo fato de estar trazendo contaminação, pelo contrário, o objetivo é
ganhá-la de volta para o rebanho.

Caso ela não ouça você, não desista. O segundo passo é chamar mais um ou dois irmãos
que possam confirmar a repreensão. Não é recomendado insistir em confrontá-la sozinho,
até porque essa atitude pode configurar independência ou soberba por parte de quem está
fazendo a correção, sendo que este pode estar sendo influenciado por alguma suspeita
maligna (1Timóteo 5:19, 6:4).

Algumas pessoas discordam da necessidade desse procedimento ensinado por Jesus de


chamar mais pessoas para confirmar os erros da ovelha pecadora, pois pensam que isso
seria fazer fofoca dentro da igreja. No entanto, a diferença é que a fofoca visa difamação e
calúnia, já este procedimento ensinado por Jesus visa a restauração da ovelha perdida por
intermédio de arrependimento. É importante avaliarmos qual é a intenção que temos ao
convidar um ou dois irmãos para a conversa.

Considerando que a ovelha perdida venha a se recusar a ouvir de novo, ainda não se deve
desistir de repreendê-la. O terceiro passo é apresentar a questão para a igreja. Na intenção
de querer evitar maiores conflitos, muitas vezes desobedecemos a Jesus e desistimos de ir
até o fim para confrontar o pecado uns dos outros, e então acabamos também pecando, só
que por omissão (Tiago 4:17).

Quando uma pessoa ouve a confissão de um pecado de um amigo e se compromete em não


contar para ninguém, ela cai numa grande cilada. Afinal, se o amigo não se arrepender do
pecado, a pessoa ficará presa ao juramento de sigilo e estará impedida de cumprir com o
ensinamento de Jesus, sobre confessar o pecado para a igreja. Isso quer dizer que, quando
uma ovelha te solicitar sigilo a respeito de erros cometidos, pode até parecer que a intenção
dela seja confessar pecados a você, mas na maioria das vezes isso não passa de uma
estratégia maligna para gerar cúmplices dos pecados dela, ou seja, é uma armadilha usada
para levar mais pessoas a constituir uma aliança de morte selada com o fermento da
hipocrisia (Atos 5:1-11, Gálatas 5:9, 1Coríntios 5:6, Lucas 12:1-2).

Jesus denunciava constantemente a hipocrisia dos fariseus para as multidões (Mateus 23),
pois não estava limitado à falsa doutrina de que não é permitido trazer escândalos, uma vez
que ele mesmo era a própria pedra de tropeço (Mateus 11:6, 1Pedro 2:6-8). Certa vez, os
fariseus e escribas ficaram escandalizados quando Jesus chamou-os de hipócritas (Mateus
15:1, 7), pois ele não estava cooperando em apoiar o “importante” ministério de ensino deles.
Esses religiosos demonstravam muita vaidade, pois gostavam de serem reconhecidos como
líderes ou “cobertura” dos judeus.

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Mateus 15:12-14 - “Então os discípulos se aproximaram dele e perguntaram: "Sabes que os
fariseus ficaram ofendidos quando ouviram isso? " Ele respondeu: "Toda planta que meu
Pai celestial não plantou será arrancada pelas raízes. Deixem-nos; eles são guias cegos. Se
um cego conduzir outro cego, ambos cairão num buraco.”

Alguns líderes religiosos cometem fraudes e adultérios nos bastidores do púlpito e dizem aos
subordinados que estão cientes desses fatos de estarem proibidos de fazer qualquer espécie
de exposição, alegando que não se pode trazer escândalos para a igreja, e que isso pode
levar alguns membros a deixar de congregar e dizimar. No entanto, de quem foi que veio
com o escândalo nessa história? Quem trouxe o escândalo foi quem cometeu o pecado
(Mateus 18:7) e nunca aquele que mediante seu primeiro compromisso com Cristo assumiu
a responsabilidade de expor o pecado.

Jesus também expôs os pecados de seus discípulos (Mateus 26:23, 34) e a igreja também é
chamada a realizar as mesmas exposições (1Timóteo 5:20). Foi assim que a igreja do
primeiro século reagiu diante do pecado, confrontando desde aqueles que estavam
começando a se converter (Atos 8:18- 23, 19:18, 1Coríntios 14:24-25), chegando até aos
mais maduros na fé (Atos 5:3, Gálatas 2:11).

Muitos discípulos de Jesus estão dispostos a não medir consequências para amar a Deus,
mas ainda se sentem presos doutrinariamente por se sentirem acusados por causar
escândalos (Mateus 11:6) ou por serem taxados de rebeldes por líderes religiosos mais
amantes das trevas que da luz (João 3:19- 21). Esse estudo vem para lembrá-los de todas
as palavras que o Senhor Jesus nos ensinou, para que a sua igreja se levante com coragem
para amar uns aos outros por meio da correção (Provérbios 27:5-6, Hebreus 12:6), sendo
liberta de todo medo (1João 4:18), tomando posição para denunciar todo fermento de
hipocrisia do qual tem se tornado cúmplice. Quem está disposto a ser perseguido por viver
uma vida piedosa em Cristo Jesus (2Timóteo 3:12)?

Se mesmo diante de todas essas etapas a ovelha perdida não aceitar a correção, Jesus nos
ensina que o quarto passo é tratá-la como alguém que não faz parte do povo de Deus. Isso
não significa que ela deva ser desprezada ou humilhada pela igreja, pelo contrário, uma vez
que não se comporta como uma pessoa convertida, deve ser tratada com muito mais amor e
paciência, pois tudo se passa como se estivesse na condição de precisar ser evangelizada
de novo.

Uma vez que os falsos profetas estão participando do convívio da igreja e muitas vezes são
somente profetas imaturos que cometeram erros que nós já cometemos, ou que ainda

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podemos um dia vir a cometer, devemos tomar cuidado com a medida que estamos fazendo
a eles, pois Jesus disse que seremos medidos pela mesma medida que fizermos (Mateus
7:1-5). Não cabe a nós condenar os falsos profetas (João 8:7), pois Deus já julgou-os na sua
palavra (João 12:48, Apocalipse 19:20, Mateus 7:15, 23). O que cabe a nós é que sejamos
cuidadosos para não compactuarmos com a hipocrisia deles, não deixando de
repreendê-los, em amor, fazendo uso de exposição pública, visando que sejam levados ao
arrependimento, e libertos do erro.

Gálatas 6:1 - “Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são
espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que
também não seja tentado.”

O estudo Desmascarando Falsos Profetas de Marcio Kobayashi


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