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Paulo Júnior

Aconselhamento

ANTES ACOMPANHADO DO QUE SÓ.

O desafio e o privilégio de Relacionamentos Bem-Sucedidos.

INTRODUÇÃO:

Reino de Deus é relacionamento. Não há como compreender Sua natureza,


Sua plenitude, Seus segredos e mistérios se nosso entendimento está fechado
para o relacionamento; se nosso coração está “traumatizado” por relações
mal sucedidas do passado e, portanto, contaminado de amargura e
PAULO JÚNIOR
ressentimento.
É pastor, casado com Lana,
pai de 5 filhos
“Segui a paz com todos, e a santificação; sem a santificação ninguém verá o
È um dos fundadores e Senhor. Tende o cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de
coordenador do Ministério que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se
Sal da Terra. contaminem”. Hebreus 12
Serviu como missionário em
Edimburgo na Escócia
Relacionamento é a expressão visível da consciência que temos de Deus, de
Hoje mora em Goiânia onde
nós mesmos e dos outros; das ligações eternas e temporais entre nós. Uma
pastoreia uma igreja Sal da
forma de expressarmos no tempo as convicções que temos da eternidade. A
Terra
oportunidade de materializarmos as realidades espirituais. É determinado pelo
Tem um forte ministério na
que cremos e não pela maneira como nos comportamos. Não é, apenas, uma
área do ensino e na
questão de comportamento, mas de entendimento – não de atividades, mas
formação de líderes
de atitudes. Se mudarmos apenas as ações sem a transformação das
viajando e ministrando por
motivações, jamais iremos mergulhar a profundidade das “águas” do
todo Brasil e Europa
relacionamento e descobrir as riquezas ali guardadas, mas ainda não
pgbj@uol.com.br conhecidas.

No exato momento em que vai criar o homem, Deus manifesta Sua “Natureza
Relacional”, dizendo: “Façamos o homem, uma imagem que seja conforme a
Nossa Semelhança”. Até aquele momento, não poderíamos concluir muita
coisa sobre a Sua identidade. No entanto, quando Ele diz façamos, revela-se
diante de nós Sua natureza plural. Deus, o Senhor absoluto, criador de todas
as coisas, é relacional. Ele é um, mas se expressa de formas distintas. Não
são vários deuses trabalhando juntos, mas uma única identidade
expressando-se em formas diferentes, exercendo funções distintas. O homem,
por sua vez, como uma expressão visível de Suas virtudes invisíveis, será,
também uma pessoa revelada em feições distintas, como macho e fêmea.
Ambos, em relacionamento, são a imagem segundo a semelhança de Deus.

A semelhança é antes da imagem. É ela que viabiliza, que respalda, que dá


crédito à imagem. A semelhança vem em primeiro, e a imagem vem a seguir,
como testemunho visível do que a semelhança é. Abdicar do privilégio do
relacionamento é tentar manter a imagem de algo que perdeu a semelhança;
é preservar a forma do que já não tem mais a essência. Subverter seu valor
ou propor qualquer outra forma de vida é, antes de tudo, propaganda
enganosa. Ignorar sua importância é como jogar o conteúdo fora e guardar a
embalagem.

Após o pecado, na medida em que o homem perdeu a semelhança, passou a


priorizar a imagem e detrimento da semelhança; o comportamento em lugar
da identidade, a atividade em lugar da atitude. É preciso uma cura da nossa

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percepção e entendimento. Uma transformação radical dos nossos valores e


conceitos. Não podemos pretender uma mudança efetiva do comportamento
se, primeiro, os conceitos não forem transformados.

O homem natural não tem grande dificuldade em perceber as coisas óbvias,


aquelas que, efetivamente, “saltam” aos olhos; que são evidentes. Porém, aí
está o seu limite; ele não pode ir além do óbvio, ir além do que naturalmente
não se vê. Já o homem espiritual, discerne bem todas as coisas. Não só as
espirituais, como alguém que estivesse alienado da sua realidade, mas tudo.
Ele pode ver o que é invisível aos olhos, e que só pode ser discernido
espiritualmente. O homem espiritual não está limitado ao que é aparente.

A cura daquele cego em Betsaida nos ajuda a compreender melhor esse


ponto. Quando Jesus o toca pela primeira vez e lhe pergunta o que ele via,
sua resposta foi: “Vejo as pessoas como árvores que andam”. Naquele
momento, segundo sua resposta, ele já não podia mais ser considerado um
cego. Ele podia ver. Em relação ao seu estado anterior poderíamos concluir
que houve uma evolução considerável. Alguém até poderia pensar que era o
suficiente, e que ele estivesse curado.

Graças sejam dadas a Deus, pois Jesus não pensa como nós pensamos. Seus
pensamentos e seus caminhos são mais altos do que os nossos.

Aquele homem só podia reconhecer “formas e movimentos”, mas ainda não


era capaz de discernir a identidade e natureza das coisas. Confundia pessoas
com árvores, pois tinham formas semelhantes, mas movimentos diferentes.
Podia reconhecer comportamento, mas não identificar a essência, os valores.

Ao primeiro toque, na perspectiva da sua necessidade, aquele homem já tinha


mais do que antes, mas na perspectiva do que Deus podia lhe dar, ainda era
bem menos do que podia ser. Jesus, então, o toca segunda vez e ele passa a
ver ao longe e distintamente todas as coisas. Não apenas o que está perto,
mas, também, o que está longe; não só homens e árvores nas suas formas e
movimentos, mas todas as coisas.

Para experimentar a plenitude dos propósitos de Deus para nossa vida, do


que Ele quer revelar de Cristo através de nós, precisamos ser curados desta
nossa “miopia” espiritual.

“Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco”. Mateus 15

Em nosso esforço por cooperar na cura das enfermidades emocionais e


espirituais que atormentam os outros, temos o privilégio e a oportunidade de
tratar o que, por vezes, está obscurecendo o nosso próprio entendimento.
Poder mergulhar em nosso próprio intimo e, segundo a revelação eficaz do
Espírito Santo, identificar o que está mal posicionado ou fundamentado e,
portanto, comprometendo nossa estabilidade.

Neste sentido vamos nos concentrar na identificação dos princípios e


fundamentos de relacionamentos bem sucedidos, uma vez que é neles que
podemos expressar o que conhecemos e experimentamos em nosso
relacionamento com Deus e sua vontade para nossa vida. Relacionamentos

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bem fundamentados e orientados são terapêuticos. Em contrapartida, é


através de relacionamentos desordenados e “viciados” que estabelecemos os
preceitos e dogmas que vão determinar “esquizofrenias” e deformações da
identidade e, por conseguinte, do comportamento.

Quando Deus vem visitar o homem, logo após este ter caído em pecado, Ele
faz perguntas que são de extrema importância na compreensão do que pode
comprometer o nosso entendimento de uma vida sadia. A segunda pergunta
de Deus ao homem é: “Quem te fez saber que você estava nu?”. Ou seja:
“Com quem você andou se relacionando, e que te influenciou a ponto de
mudar suas convicções e percepções a respeito de si mesmo, de seu
semelhante e que terminou por corromper a natureza de suas relações, que
antes eram puras e genuínas?”.

A saúde emocional e espiritual está na iluminação dos olhos do nosso


entendimento, na cura da nossa “miopia” espiritual, na plena compreensão e
desmistificação dos mistérios que envolvem esta relação entre Deus, eu e o
meu próximo. Em várias referências bíblicas temos a exortação de que o
pleno conhecimento e cumprimento da vontade de Deus se resumem em
“amar a Deus de todo nosso entendimento, com todas as nossas forcas e
amar ao próximo como a nós mesmos”. Antes de se despedir de seus
discípulos Jesus muda a referência deste mandamento e diz que deveríamos
“amar aos outros como Ele mesmo nos amou”. João ao falar sobre isso nas
suas cartas diz que ninguém pode afirmar com toda segurança que ama a
Deus, a quem não vê, a não ser que saiba o que é amar, de fato, aqueles a
quem vê.

No Sermão do Monte, que é a condensação de todo o Evangelho de Cristo, a


essência de todo o Seu ensinamento e revelação do que é o propósito de
Deus, o “manual prático” da vida bem-aventurada, Jesus nos exorta a “amar
nossos inimigos”, para que possamos experimentar e expressar de modo
visível e eficaz o que é ser, verdadeiramente, filhos de Nosso Pai Celestial. Ele
diz que não há virtude em amar apenas os amigos, pois isso não expressa
nada além do óbvio e natural. O sobrenatural está revelado na forma como
nos relacionamos com aqueles de quem não podemos esperar nenhum
benefício ou vantagem pessoal, ou que podem até, eventualmente, nos
prejudicar. Neste sentido, poderíamos até afirmar com certa ousadia, mas
com espírito correto, contrariando o dito popular, que: “Antes mal
acompanhado do que só”.

O UNIVERSO É RELACIONAL.

O relacionamento é parte da identidade de todos os elementos do Universo;


sejam eles animados ou não, racionais ou não, conscientes ou não; tudo está
sujeito às “leis de relacionamento”. De um átomo a uma galáxia, de uma
única célula a um elefante, do mundo microscópico ao mundo macroscópico,
tudo existe em relacionamento.

As forças de atração e repulsão, o magnetismo, as polaridades, as órbitas, as


colisões, as explosões de energia, os ciclos vitais, nada mais são do que
expressões de relacionamento no Universo.

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O SER HUMANO É UM SER RELACIONAL.

A existência humana está condicionada ao relacionamento e suas implicações;


qualquer que seja o conceito adotado à respeito da origem humana, seja ele
certo ou errado, cientificamente comprovado ou não.

A procriação se dá como fruto e expressão do relacionamento de duas partes


de naturezas distintas, por mais que as técnicas de inseminação artificial
tenham evoluído, e possamos até abrir mão do contato físico entre essas
partes. Elas vão “co-operar” na formação de uma terceira, que não será,
necessariamente, de natureza distinta ou diferente; mas, terá a mesma
natureza e características semelhantes, às das partes que a formaram.

ISOLAMENTO E MORTE.

A forma mais rápida de fragilizar, enfraquecer, corromper, matar, é isolar -


quebrar os vínculos relacionais; é fazer interromper os meios e processos de
troca e compartilhamento. Não há expressão de vida no isolamento, na
solidão.

RELACIONAMENTO E VIDA.

De maneira bem sintética, a DEFINIÇÃO DE VIDA poderia ser: “A capacidade


e possibilidade de respirar”. Em todos os níveis de existência, consciente ou
não, Física, Intelectual, Emocional ou Espiritual, a RESPIRAÇÃO é o que
melhor expressa a identidade e a ação de viver.

Uma ação composta de duas partes:


INSPIRAÇÃO - Receber e
EXPIRAÇÃO - Dar.

Asfixia é a incapacidade de trocar o ar, e a conseqüente intoxicação do


sistema vital.
Muitos não sabem Dar porque, na verdade, não sabem Receber.

NÃO É BOM QUE O HOMEM SEJA SÓ. Gênesis 2

É importante compreendermos que a criação do homem e da mulher é, antes


de tudo, uma expressão do Amor e da Bondade de Deus. Pois, imediatamente
antes de criar a mulher, Deus faz uma reflexão a respeito daquilo que é Bom,
e conclui que: Não é bom que o homem seja só. Nossa identidade, nossa
sexualidade e, portanto, nossa moralidade expressam como conhecemos e
reconhecemos a Deus, a nós mesmos e aos outros. Uma forma de Deus Se
manifestar através de nós.Enquanto no restante da criação Deus apenas
conclui que todas as coisas são boas, ao observar o homem Ele reflete sobre
a plena expressão da bondade, e revela uma alteração no processo criativo.
Essa é uma reflexão a respeito de Si mesmo, pois só Deus é Bom. Toda
referência da bondade é Ele mesmo. Ele, então, manifesta o seu desejo de
expressar Sua identidade e bondade através do relacionamento do casal. Que
vai apontar para a relação de Cristo e a Igreja, que é uma relação conjugal,
de um esposo com a sua esposa.
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NO DIA EM QUE COMERDES ENTÃO, SEREIS!!! Gênesis 3

Se considerarmos esse texto na perspectiva de que ele revela uma linha de


raciocínio, então, não há dúvida de que a mais profunda, a mais íntima crise,
é uma crise de identidade. Provocar uma incerteza a respeito da identidade, é
a arma de Satanás para gerar uma instabilidade, mesmo onde não há pecado,
e que resulte numa ação equivocada e pecaminosa. A crise de identidade é
anterior ao próprio pecado e a qualquer outra crise, pois na verdade, é ela
que prepara o ambiente para a tentação, para o pecado e para as demais
crises.
Essa é uma questão tão forte, que o diabo não muda de estratégia mesmo
quando vai tentar a Cristo – o Filho de Deus. Tanto no Éden como no deserto
e na cruz, a questão proposta por ele, não era o que Adão ou Jesus iriam
fazer, mas a motivação de provar o que eram por aquilo que fariam ou não. A
tentativa, ou tentação, de condicionar o que somos como resultado do que
fazemos, para que a glória do resultado seja de quem fez, e a culpa do
fracasso seja de quem não fez. O objetivo é criar um ambiente de deveres e
obrigações, de débitos e créditos, onde se estabeleça o senso de direito e
culpa. Gênesis 3; Lucas 4
Quando falamos de casamento, paternidade, vida, ministério ou trabalho, é
levados a associar isso à nossa Responsabilidade diante dos desafios que
isso implica e, conseqüentemente, à Autoridade, ou poder, de que vamos
precisar para que sejamos bem sucedidos. Por conta de uma mente ainda
imatura, estamos nos acostumando a pensar apenas nos resultados de um
serviço bem feito, muito mais do que na Identidade que temos como
cristãos, cônjuges, pais, filhos, pessoas, ministros. Estamos vivendo numa
sociedade que privilegia os resultados, mas não se preocupa com os
processos.

Numa cultura assim, sucesso está relacionado apenas aos resultados obtidos.
Onde as relações se tornam comerciais porque são fundamentadas em troca
de benefícios e interesses. Desta forma, as pessoas já não percebem que
estão se prostituindo pelo modo como tomam suas decisões ou fazem suas
escolhas. Estão vendendo a alma para quem paga mais.
O verdadeiro sentido de ministério, qualquer que seja ele, está muito mais
ligado à expressão da nossa identidade, intimidade, relacionamento com Deus
como Seus filhos, do que com a quantidade de serviço que podemos prestar.
O diabo, que antes de cair era chefe do serviço, pensa, e quer levar as
pessoas a pensar, de forma contrária. Ele coloca as coisas na ordem inversa.
Propõe que, uma vez identificadas as necessidades – responsabilidade,
busquemos todo o poder que pensamos ser necessário – autoridade, para que
uma vez alcançados os resultados desejados, nos sintamos realizados –
identidade.
Esse é o caminho da cobiça, da vaidade, da soberba e da frustração, onde o
sucesso e o fracasso estão sempre relacionados à uma questão de
competência e ao seu reconhecimento. A Palavra de Deus nos revela que tudo
o que não provém de fé, de convicção, mas está motivado por uma dúvida,
por uma necessidade de auto-afirmação, é pecado. Romanos 14
“Pois aquele que quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua
por amor de mim, a achará”. Mateus 16
O verdadeiro significado de servir a Deus e manifestar Suas Virtudes,
qualquer que seja a situação ou o desafio, é ser tomado de uma profunda

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convicção de quem Ele é, e da oportunidade que temos de Ter parte na Sua


identidade. Ter a certeza de que Ele já nos deu tudo que é necessário à vida e
ao ministério, de modo que todas as nossas necessidades já foram supridas.
E, então, ocupar-se de servir as pessoas com toda a intensidade e dedicação,
fazendo exatamente aquilo que O vimos fazer. Identidade e intimidade com
Deus pode ser traduzido em serviço às pessoas que Ele ama, e por quem fez
tudo. II Pedro 1
Aquilo que fazemos deve ser a oportunidade e o resultado da manifestação do
que já somos. De modo que a capacidade, o serviço, o desempenho, não são
para produzir, para criar os resultados que imaginamos, pois estes seriam
segundo a nossa própria capacidade, e aquém da nossa verdadeira
necessidade e possibilidade. Mas eles são os meios de alcançar o que já nos
foi concedido, e que é segundo a capacidade d’Aquele que nos concedeu.

Quando Deus criou o homem e a mulher, antes mesmo de lhes falar sobre

suas responsabilidades individuais e coletivas, ele os abençoou com toda

autoridade segundo a sua identidade. Revelou-lhes que a eficácia de sua

vocação, como casa e cabeça da criação, estaria diretamente ligada, não ao

seu serviço, mas ao exercício da sua identidade na forma da intimidade, ao

dizer: “Sede fecundos!”.

A responsabilidade seria satisfeita, com toda autoridade, como expressão

inequívoca da sua identidade. Ao revelar Jesus como Seu Filho, Ele dá a todos

os que O recebem, a oportunidade de serem também Seus filhos. Filhos Re-

criados para expressar a Sua Identidade e Suas Virtudes, numa perspectiva

espiritual superior, e não mais numa dimensão natural, humana, terrena. I

Coríntios 15

NÃO É DOS FORTES A VITÓRIA. Eclesiastes 3

É importante entendermos, como filhos de Deus, que o ensino que nós


recebemos a respeito de uma geração espontânea, de um surgimento
espontâneo e ocasional de todas as coisas, de uma evolução fundamentada
na preservação dos mais capazes e qualificados, ainda que no íntimo
queiramos recusar isso, deforma e compromete nossa identidade, nossa
sexualidade e da nossa pseudo-moralidade.
Mais do que podemos imaginar, nós estamos impregnados da idéia de que

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aquele que cede, que renuncia, que dá, que não prevalece, que dá sinais de
fraqueza ou fragilidade, que não usa a força, a violência, é um tipo de
“espécie em extinção”.
O pensamento do mundo é que a melhor maneira de obter resultado, de
garantir o futuro, é prevalecendo pela força.

A falta de convicção a respeito da identidade é tanta, que o caminho de


muitos é o uso da agressividade e a violência, ainda que de palavras, na
defesa do seu espaço e dos seus direitos. Sendo que, quanto mais agressivos
nos tornamos na defesa dos nossos pontos de vista, mais revelamos nossa
incerteza, e não nossa convicção. É comum expressarmos nossa falta de
convicção naquilo que dizemos acreditar, através de uma forma agressiva de
argumentação. Se, temos certeza de quem somos, não precisamos afirmar
isso violentando ou agredindo quem quer que seja.

“Deus escolheu as coisas fracas desse mundo para confundir as fortes.


Falamos a Sabedoria de Deus oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes
dos séculos para nossa glória. Nenhum dos poderosos deste mundo a
conheceu”. I Coríntios 1 e 2

“Mas Ele me disse: A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa
na fraqueza. Pelo que sinto prazer nas minhas fraquezas... Pois quando estou
fraco, então é que sou forte”. I Coríntios 12

É a nossa convicção a respeito de quem já somos em Cristo Jesus, como


filhos de Deus, que nos levará a conquistar a herança com toda a mansidão.
Pois essa é garantia que temos da Palavra de Deus. Mateus 5

Quando a Palavra de Deus está falando de mansidão, não está se referindo à


passividade, omissão ou à indiferença. O que ela revela como mansidão é
resultado de um relacionamento íntimo com Deus e a segurança e paz que
isso produz, na certeza do Seu Amor e controle sobre todas as coisas. O que,
sem dúvida, fará com que sejamos firmes em nossas decisões e atitudes,
porque temos convicção do que fazemos, mas, certamente, nos livrará de
sermos duros ou agressivos.

NOSSA IMAGEM CONFORME NOSSA SEMELHANÇA. Gênesis 1

Quando Deus diz: “Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves
do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todo o
réptil que se arrasta sobre a terra”, fica claro que o cumprimento da
responsabilidade, com plena autoridade, está relacionado àquilo que o homem
é no contexto de toda criação.

Qual é a origem da nossa identidade? Qual e' o seu fundamento, sua fonte?
Muitas vezes por não compreendermos bem essa origem vivemos frustrações,
equívocos em nossa vida. Somos tentados a fazer, ou deixar de fazer, coisas
que nada têm a ver com a nossa verdadeira vocação. Dificilmente o homem
vai, espontaneamente, associar sua identidade à pessoa de Deus. Contudo, é
importante compreendermos que sua origem é a própria pessoa de Deus;
porque a Palavra de Deus diz que fomos criados à Sua imagem, conforme, de
acordo com, a Sua semelhança. E, isso alcança o seu mais pleno e absoluto

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sentido, na re-generação em Cristo.


Foi Ele Quem nos deu essa identidade, na forma da nossa sexualidade,
criando-nos macho e fêmea. Essa é a nossa origem, a mente de Deus. Fomos
estabelecidos na mente de Deus, como figuras masculinas e femininas, desde
a eternidade. Desde o momento em que pensou o homem e mulher, eles
seriam como sombras de uma expressão maior, que é Cristo e a Igreja. Ele
diz: "Desde a eternidade Eu te escolhi e te estabeleci", e também: "Antes
mesmo que todas as coisas fossem criadas Eu te escolhi". Há uma ação
proposital, planejada do Todo Poderoso em relação à nossa identidade. Uma
origem eterna implica num propósito eterno.

A Palavra de Deus é enfática ao dizer que tanto homem como a mulher foram
criados imagem conforme uma semelhança. Isso quer dizer que a
mulher, na sua imagem, também manifesta aspectos da identidade de Deus.
Há um propósito de expressão de atributos específicos de Deus na forma que
Ele deu à mulher. Pois só ela poderá revelar esses atributos naquilo que é a
sua aptidão peculiar, própria. Por exemplo:

Gestação – Nesse aspecto da sua identidade a mulher, além da fertilidade,


manifesta sua capacidade de abrigar e sustentar o processo de fecundação e
formação de filhos. Assim como Deus, através de Cristo, gera e sustenta Seus
filhos no ventre da Igreja. Isso não se aplica só a filhos, mas a idéias,
projetos, desafios, empreendimentos. Exemplos: a esposa de Noé, Sarah.

Amamentação – Fala da sua capacidade de acolher, cuidar e satisfazer uma


necessidade específica. É o aspecto da sua identidade que não fala só da
capacidade de alimentar, mas de produzir o alimento e fornecê-lo numa base
de relacionamento e contato íntimo. Exemplificando o que Deus faz conosco
ao nos colocar assentados ao redor da Sua mesa, nas Suas recâmaras, no Seu
lugar mais íntimo, não se contentando em apenas suprir nossas necessidades.

Já no homem, alguns aspectos peculiares seriam outros:


Inseminar – A idéia de introduzir, de fecundar, de acionar o processo
criativo. A possibilidade de transmitir características, identidade. A condição
de ser modelo, de ser a referência para os filhos, quando o próprio Jesus diz
que só faz aquilo que viu o Seu Pai fazer.

Sustentar – A oportunidade de prover o sustento, o alimento, de cooperar

com o crescimento sadio. A graça de ensinar, de corrigir, de conduzir e

acompanhar.

Toda forma e imagem masculinas e femininas podem manifestar algo da


identidade Deus, pois foram estabelecidas segundo Sua semelhança. Há uma
relação direta entre o que é a imagem do ser humano e certos atributos de
Deus a serem manifestos através dela. Sua identidade está fundamentada
naquilo que é o atributo de Deus e não na sua aparência física. Suas formas
não são apenas partes da sua anatomia, mas veículos de expressão da sua
identidade. Sendo que, qualquer tipo de limitação ou mutilação dessa forma,

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pode representar uma dificuldade, mas nunca um impedimento, para a plena


expressão desse atributo de Deus.

Um bom exercício de restauração e manifestação da identidade, é começar a


reconhecer na sua forma e imagem quais os aspectos da identidade divina
que podem ser expressos.
Qualquer dúvida a respeito de quem somos, e do papel que ocupamos numa
relação, faz com que os valores dentro dessa relação sejam totalmente
alterados. Nosso desempenho passa a ser concentrado na necessidade de
auto-afirmação, e nossa satisfação condicionada à receptividade desse
desempenho. Se o resultado do nosso esforço não condiz com nossas
expectativas, passamos a duvidar, ainda mais, de quem realmente somos, e
da importância que temos. Ou invés de, simplesmente, questionar a eficácia
da nossa metodologia ou estratégia.

A motivação da auto-afirmação é egoísta, pois contempla a satisfação de uma


necessidade pessoal, a defesa de um interesse próprio, a proteção de si
mesmo.
Ela não é a expressão da disposição de dar o que se tem, mas de conquistar o
que se deseja. É ela que fundamenta o medo de morrer, de perder, de sofrer
o dano ou o prejuízo, sob pena de deixar de ser.

Ele os abençoou... Toda Autoridade me foi dada. Gênesis 1; Mateus 28

A mulher samaritana é um bom exemplo do que pode acontecer à pessoa


quando ela não conhece o que Deus já lhe deu. Jesus encontrou aquela
mulher cheia de relacionamentos mal sucedidos, conceitos religiosos mal
fundamentados e cansada de tantas atividades e responsabilidades. A Palavra
que Ele lhe deu para mudar toda aquela situação e transformar sua vida, foi
de que bastaria a ela conhecer o Dom de Deus, ou o que Deus já havia lhe
dado. Então ela pediria e receberia muito mais abundantemente além daquilo
que pedisse ou pensasse.

O cristão está perfeitamente capacitado e equipado para exercer bem aquilo

que é a sua função e ministério.

Antes de nos dar uma tarefa, Deus já derramou sobre nós as bênçãos

necessárias para que fossemos bem sucedidos. Ele nos deu autoridade para

que a usemos em favor um do outro, em benefício mútuo, e não para

determinar uma hierarquia onde uns prevalecem sobre os outros. Provérbios

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Muitas vezes nos tornamos ansiosos e preocupados com muitas coisas, por
não conhecer o que, na verdade, já possuímos em Cristo Jesus. Um exemplo
claro disso é a comparação que Jesus faz entre as atitudes de Marta e Maria,
e o resultado das opções que cada uma fez.

“Se tivesses conhecido o Dom de Deus e quem é O que te diz: Dá-me de


beber, tu lhe pedirias e Ele te daria Água Viva”. João 4

“Àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além
daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que opera em nós”.
Efésios 3

“Respondeu-lhe Jesus: Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas

coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a boa parte, a qual não

lhe será tirada”. Lucas 10

SEDE FECUNDOS; MULTIPLICAI-VOS; ENCHEI A TERRA, E


SUJEITAI-A.

O fazer, o realizar, o empreender, o servir devem ser uma expressão da


identidade. A homem pode fazer porque tem convicção de quem é, e não
fazer para sentir que é quem deseja ser. Ainda em Gênesis, a Palavra nos
ensina um princípio do Reino de Deus, que se aplica ao nosso ministério: As
árvores davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua
espécie. Se há uma crise de identidade, se não sabemos quem somos, e que
atributos de Deus podem ser expressos através de nós, não seremos capazes
de cumprir o nosso propósito. Essa crise faz com que concentremos todo o
nosso esforço no serviço, no trabalho, como forma de nos sentirmos
reconhecidos ou aceitos. Isso faz com que o serviço seja bem feito, mas sem
alegria, sem prazer.

O pleno desempenho das responsabilidades, o perfeito cumprimento da


vocação e do ministério, em qualquer área da vida, está no desdobramento e
expansão da identidade. É na frutificação, na multiplicação que ocupamos
todos os espaços possíveis e necessários, e, então, vencemos os desafios.
Onde não há filhos, não há expressão e comunicação da Identidade, pois é
pelos frutos que se conhece a árvore. O próprio Deus escolheu Seu Filho para
ser a exata e perfeita expressão do Seu Ser, para que gerasse outros filhos
para Si. Hebreus 1

Se, duvidamos de quem realmente somos, colocamos em nossa cama o


serviço e não o relacionamento e a intimidade. Isso trará para dentro do
relacionamento uma condição de cobrança e constrangimento. Quando
substituímos o relacionamento pelo serviço e pelo desempenho, os filhos que
geramos são servos e não filhos. São eles que, ao final, irão perseguir de
morte os filhos do nosso relacionamento. Paulo deixa isso bem claro quando
nos esclarece sobre o relacionamento entre os filhos de Agar e Sarah.
Gálatas 3

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“Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em comunhão... pois ali o
Senhor ordena a Sua benção e a vida para sempre”. Salmo 133

“Em verdade vos digo que tudo o que ligarem na terra, será ligado no céu, e
tudo o que desligarem na terra será desligado no céu. Também vos digo que,
se dois de vocês concordarem na terra a respeito de qualquer coisa que
pedirem, será concedida por meu Pai, que está nos céus. Pois onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”. Mateus 18

TRANSFORMADOS PELA RENOVAÇÃO DO ENTENDIMENTO.

“Quem te fez saber que estavas nu”. Gênesis 03

“Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem


está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos
incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da gloria de
Cristo, que é a imagem de Deus”. II Coríntios 04

“As armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus,
para destruição de fortalezas. Derrubamos raciocínios e toda altivez que se
levante contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento à
obediência de Cristo. Estaremos prontos para punir toda a desobediência,
quando for cumprida a nossa obediência”. II Coríntios 10

“Portanto, rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os


vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos
pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Romanos 12

“Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as
suas obras de mansidão de sabedoria. Mas, se tendes em vosso coração
amarga inveja, e sentimento faccioso, não vos glorieis, nem mintais contra a
verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e
diabólica. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda
sorte de obra má. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente pura,
depois pacifica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos,
sem parcialidade, e sem hipocrisia”. Tiago 03

O pecado, antes de significar uma mudança de comportamento, significa uma


mudança do entendimento do homem sobre Deus, sobre si mesmo e toda a
criação. Antes de pecar o homem mudou sua maneira de pensar, abrigando
em seu entendimento uma outra referência de avaliação e decisão. Sua
própria natureza se transformou e, portanto, todas as suas motivações e
relações com a vida. Sua identidade e propósito degeneram.

Ao criar o homem Deus o fez segundo Sua semelhança, comunicando-lhe


aspectos da Sua própria natureza. O abençoou de antemão, e traduziu essa
benção em Palavra – Verbo, ao declarar: “Sê Fecundo, frutificai” – Identidade;
“Multiplicai, enchei a terra e sujeitai-a” – Propósito. O desafio era, a partir daí,
encarnar o “Verbo” – Identidade e Propósito, materializando na terra as
virtudes de Deus comunicadas a ele. Segundo o próprio exemplo de Deus, o

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11
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Aconselhamento

que o homem viesse a fazer seria uma expressão visível do seu ser. Gênesis
01

DEUS - BENÇÃO

HOMEM = FRUTIFICAR CRIAÇÃO

O homem não precisaria estar ocupado com a benção, uma vez que já estava
abençoado. Seu desafio era: Como manifestar essa benção através de seu
modo de vida? Ele era na terra o “representante fornecedor” das virtudes de
Deus. “Cheio”, tinha o privilégio de “encher a terra”. Tendo consciência de
Quem Deus é, e do compromisso que Ele tem com o homem, viver segundo
essa convicção. Frutificar gerando filhos para Deus.

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele


que se aproxima de Deus creia Quem Ele é, que Ele é o Abençoador –
Galardoador daqueles que o buscam”. Hebreus 11

Antes de pecar, o homem tem seu entendimento corrompido a respeito de si


mesmo, de sua relação com Deus e com a criação. Ele absorveu de Satanás
uma outra forma de entendimento e, conseqüentemente, mudou sua maneira
de ver e de agir. O pecado é o resultado deste entendimento adulterado. O
homem passa, então, a relacionar-se com Deus e a criação na perspectiva da
sua necessidade – sua “fome virtual”. Está “vazio” e quer “comer – encher-
se”.

Segundo o modelo que temos em Cristo, a seqüência é:


“Dar graças – Repartir – Comer”.

Segundo o que vemos a mulher fazer, segundo um entendimento já


corrompido, a seqüência passa a ser:
“Comer – Repartir – Sentir-se gratificado”.

Satanás não mudou a temática, o assunto continuou sendo o fruto. O que ele
mudou foi o enfoque, corrompendo a natureza das coisas na mente do
homem. A sua consciência foi afetada – o seu entendimento encoberto.

Antes da queda, o fazer era a oportunidade de expressar e materializar o ser.


Após a queda, passou a ser uma tentativa alucinada de obter o que ainda não
somos ou temos. O fazer deixou de ser fruto da convicção – vontade, e
tornou-se instrumento da obsessão – expectativa e desejo.

A consciência de Deus e de Sua benção conduziria o homem a viver


comprometido com o “fornecer = dar”. O sentimento de carência o
condicionou à subsistência, obrigando-o à negociação de seus ideais pela
conveniência do que é mais vantajoso. Oprimido pela idéia de “consumir =
receber”, faz o que for necessário para aquele que oferece mais por menos.

A convicção da benção foi substituída pela expectativa da benção.

“No dia em que comerdes, então, sereis como Deus”. Gênesis 3

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DEUS – BENÇÃO

CRIAÇÃO HOMEM = COMER O FRUTO

Essa mudança significou uma inversão radical no sentido (objetivo) dos


relacionamentos, fazendo com que as pessoas procurem umas às outras pela
perspectiva do benefício, e não pela oportunidade do compromisso. Quando
os relacionamentos estão em crise, as pessoas estão se perguntando: O que é
que eu ainda não recebi? Sendo que, a pergunta certa e que poderia resolver
a crise é: O que é que eu ainda não dei? O que é que eu ainda não entreguei?

O que pode, realmente, nos fazer perder a vida, não é o que entregamos, ou
o que tiram de nós. O que pode nos fazer perder a vida é o que tentamos
proteger, o que retemos.

“Pois aquele que quiser salvar (poupar) a sua vida perdê-la-á, mas quem
perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”. Mateus 16

CONHECERAM QUE ESTAVAM NUS.

Tendo sua natureza corrompida e seu entendimento obscurecido o homem


passou a subsistir motivado pelas suas necessidades. Suas motivações
passaram a serem geradas pela sensação da carência e da falta, e não mais
pela certeza da benção.

Por conta de uma natureza corrompida, que o separa da natureza de Deus,


todo homem nasce naturalmente e espontaneamente ignorante. Seu
entendimento é influenciado e formado a partir das experiências que vivencia,
e das relações que percebe e estabelece entre uma situação e outra da vida.
Seu aprendizado é fundamentado em Observar – Comparar – Concluir.
Basta que tenha um mesmo resultado na maioria de suas experiências, para
que faça disso um dogma, uma convenção, e que isso seja aceito como sendo
verdade. Sua noção de verdade se confunde com a sua realidade pessoal e
experimental. Está mais para aquilo que consegue concluiu dos resultados
obtidos das experiências vividas, do que para aquilo que a verdade de fato é.
A realidade extraída das circunstâncias, ou seja:
“A verdade de cada um”.

Os nossos instrumentos naturais de percepção do mundo e da vida são os


“sentidos = olhos” (as janelas da nossa alma; as lâmpadas do corpo). Vemos
através da visão, audição, tato, olfato e paladar, e com eles tentamos definir a
identidade e o estado das coisas à nossa volta. Se algum desses sentidos está
prejudicado na plenitude da sua eficácia pode comprometer toda nossa
percepção da verdade. Um tipo qualquer de “miopia – cegueira” em qualquer
um desses sentidos pode levar às conclusões mais equivocadas.

A observação de que o homem estava nu, contudo não se envergonhava, é


importante para a compreensão da natureza dos relacionamentos, e de como
torná-los bem sucedidos. Não haveria a necessidade desse tipo de observação
se a nudez não fosse um possível fator de constrangimento. Há uma ressalva

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Paulo Júnior
Aconselhamento

de que mesmo nus não se envergonhavam. Tanto que a primeira providência


ao perceberem que estavam nus foi de se vestirem.
A nudez do homem, ou qualquer outra de suas limitações e necessidades, até
o momento em que ele pecou e o seu relacionamento com Deus quebrado,
não era razão para que ele se sentisse envergonhado, constrangido. O acesso
à satisfação de todas elas estava garantido, pois sua consciência de Deus e de
sua relação com Ele, lhe permitia ser sempre satisfeito, no exato momento em
que sua necessidade, “sua fome”, se tornasse evidente.

Sempre que tivesse fome ou sede, bastaria ir até a fonte ou árvore mais
próximas e se fartar. O constrangimento surgiu a partir do momento em que,
diante de uma necessidade, ele não podia mais simplesmente satisfazê-la
como era seu costume. A partir do momento em que pecou, ele iria conviver
com um elemento novo em sua rotina de trabalho - o suor. Enfrentaria uma
concorrência até então desconhecida - os espinhos e abrolhos.
As necessidades e o trabalho só passaram a ser fator de constrangimento
após o pecado. Jesus teve fome sem ter pecado e nos diz que Seu Pai
trabalha.
Somos filhos de um Trabalhador, que nunca fez nada por conta de uma
necessidade pessoal ou particular, pois é o Deus Soberano, o Todo Poderoso
Senhor de todas as coisas. Sua motivação para o trabalho não está vinculada
a uma necessidade qualquer, porque Ele simplesmente não as tem. O Seu
trabalho foi motivado exclusivamente pelo Seu Amor e pelo Seu desejo de Se
dar a conhecer, de compartilhar a Sua identidade com aqueles que amou.
“Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem
por necessidade, porque Deus ama ao que dá com alegria”. II Coríntios 09
Neste texto, Paulo nos instrui quanto ao fato de que nem mesmo a oferta
deve ser movida pelo senso de necessidade ou de constrangimento, como se
fosse possível negociarmos com Deus. Ele ama aqueles que ofertam, que
repartem, como expressão e fruto de convicção e alegria.
O pecado associou o cansaço e o salário ao trabalho, fez separação entre o
necessitado e a sua fonte de provisão. As necessidades são constrangedoras,
pois são difíceis de serem satisfeitas e revelam a fragilidade humana.
Trabalho deixou de ser o privilégio de manifestar o que somos = Dom; para
ser o meio de adquirir o que não temos = Salário. As necessidades deixaram
de ser a oportunidade de fazer o que podemos, para ser a obrigação de fazer
o que devemos. A responsabilidade deixou de ser um privilégio para se tornar
culpa.
Aquela nudez, que antes não representava qualquer tipo de constrangimento
no relacionamento do homem com Deus e consigo mesmo (macho e fêmea),
agora se tornou vergonhosa. O homem passou a conhecer e experimentar um
sentimento, até então, desconhecido para ele – o medo, o medo da morte. O
medo de perder o que possui, de ser exposto na fragilidade da sua
intimidade, de não conseguir o que pensa que precisa, de que suas
necessidades sejam maiores do que sua capacidade de satisfazê-las, de não
conseguir sustentar o que já conquistou, de ser mal compreendido nas suas
ações, de não ser aceito por aqueles que deseja conquistar ou seduzir.
A necessidade – a fome, é o ambiente da tentação, tanto que Jesus para ser
tentado teve que sofrer a fome. É o momento em que o homem pode ser
seduzido a tentar provar quem é através do que faz, provar sua identidade
através da sua capacidade, e a satisfazer suas necessidades à sua própria
maneira. Com sua identidade em crise, confrontado por suas limitações, sua

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nudez exposta e evidenciada sua vergonha, ele já não sabe mais como
satisfazê-las, como preenchê-las, então se esconde e improvisa.
O exemplo que temos em Jesus é o Daquele que nos revelou Quem é através
do que fez, e que se recusou a ceder à proposta de ter que provar Sua
identidade usando Seu poder para transformar pão, satisfazendo
exclusivamente a si mesmo.
Uma coisa, é poder revelar uma identidade através de ações e realizações que
testificam desta identidade, e outra coisa é sentir-se ameaçado ou
desacreditado nesta identidade a ponto de ter que prová-la fazendo algo,
como uma imposição. Na primeira condição a ação é gerada pela convicção,
pela certeza, pelo conhecimento, na segunda a ação é determinada pela
dúvida, pela incerteza, pela ignorância.
Quando fazemos algo pela necessidade de provar quem somos, estamos
focados em nós mesmos e, portanto, nossa motivação é egoísta. Contudo,
quando fazemos algo vislumbrando a oportunidade de revelar quem somos,
isso diz respeito ao desejo de compartilhar o que somos e o que temos para
benefício dos outros. Enquanto uma motivação é de auto proteção e de auto
preservação, a outra é de exposição.

“E VESTIRAM-SE DE FOLHAS DE FIGUEIRA...”.

Aqui está a evidência mais forte de que, imediatamente após o pecado, o


homem, em uma profunda crise de identidade, passa a ser guiado por uma
mentalidade animal, terrena (natural) e demoníaca.
Como já vimos, sua forma de pensamento e percepção passa a ser apenas
dedutiva, sensitiva, conclusiva, primária, animal, infantil, instintiva, natural.
Sua capacidade de decisão está comprometida e ele quer se esconder. Ao
fazer roupas de folhas de figueira não está se escondendo somente de Deus,
mas, também, de si mesmo, fugindo da intimidade do relacionamento macho
e fêmea. Protegendo-se um do outro.
Quem já manuseou folhas de figueira sabe que, de todas as folhas das
árvores do jardim, essas seriam as últimas indicadas para confeccionar
roupas. Afinal de contas:
• O que levou Adão a buscar, justamente na figueira, folhas para se vestir?
• Que tipo de pensamento e valores estava na sua mente?
• Qual era a lógica do raciocínio que fez com que ele optasse por aquelas
folhas para satisfação das suas necessidades?

Uma das experiências de Jesus nos dará condições de discernir essa questão
a partir da natureza dos elementos envolvidos. Em Marcos 11, lemos que
Jesus teve fome e viu na figueira a possibilidade de ser saciado. O texto diz
que Ele foi ver se acharia nela algum fruto e não achou senão folhas. Essa
não é a única situação na Palavra de Deus em que a figueira é apresentada
como fonte de alimento (provisão).
É bem provável, então, que essa era a relação do homem com a figueira no
jardim. Era ali que ele, também, buscava alimento para sua fome. Ao pecar, e
se vê surpreendido por uma realidade até então desconhecida – sua nudez.
Naquele momento não tem dúvidas, e recorre àquela que é a sua fonte
provedora. O raciocínio é lógico e instantâneo. Ele não tem que pensar para
agir na tentativa de acudir aquela emergência. Se na figueira é onde ele
satisfazia sua necessidade de alimento, então, também, satisfará as outras.

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Paulo Júnior
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Enquanto Jesus continua a procurar na figueira frutos, que são a expressão e


o elemento de comunicação de sua identidade, o homem, caído e dominado
por uma mentalidade pecadora, carente e ignorante, confuso quanto a sua
própria identidade e a dos outros, continua a buscar na mesma figueira a
satisfação de todas as suas outras necessidades através das folhas, que tem
efeito apenas terapêutico e paliativo, mas não transformador. Pois elas falam
do que a figueira aparenta ser, enquanto que o fruto fala do que ela
realmente é.
É pelo fruto que se conhece a árvore, e não pelas folhas. Foi assim que Adão,
movido por uma sabedoria de dedução e não de revelação, buscou uma
solução aparente e temporária para um problema de aparência, sendo que o
seu verdadeiro problema era de identidade e intimidade. Ela já não sabia mais
lidar com o oculto do aparente, reconhecer a semelhança por trás da imagem.
Passa o tempo e esse ainda é, na verdade, o pensamento de todos aqueles
que não têm a revelação plena da verdade. O homem natural só consegue
avaliar pela aparência, sem conseguir distinguir a verdadeira identidade das
coisas. Ele tem a capacidade de comparar, mas não de separar, de discernir.
A roupa de folhas é o primeiro produto da tecnologia humana desenvolvida
para encobrir e compensar suas deficiências. São improvisações e não
soluções. São adaptações, no que diz respeito ao verdadeiro suprimento das
necessidades. Uma estrutura de elementos que aumenta a sensação de
conforto e segurança, mas que, ao mesmo tempo, isola; que facilita a
comunicação visual, mas dificulta o conhecimento da intimidade.Trazem uma
certa noção de satisfação imediata, mas parcial. Substitui a cegueira pela
miopia. O homem desenvolveu um binóculo para ampliar sua capacidade de
enxergar à distância, contudo, bem perto de si continua a ver os outros
homens apenas como árvores que andam.
A incapacidade de discernimento, associada a uma cultura de valores e
raciocínios baseada na lei de causa e efeito, faz com que as realidades e
necessidades da pessoa exerçam sobre ela uma influência marcante na
definição de seus relacionamentos, suas estratégias e métodos.
É muito comum encontrar pessoas obcecadas em satisfazer suas supostas ou
aparentes necessidades, o mais imediatamente e facilmente possível. Gente
tentando aplicar às suas realidades, soluções que seriam mais adequadas a
outro tipo de realidade. Copiando métodos e comportamento, em lugar de
imitar atitudes e compromissos. Fazendo comparações – Forçando a barra!
Ao declarar: “Antes só que mal acompanhado!”, o homem está admitindo sua
intenção de tentar minimizar o prejuízo, proteger o que sobrou. É a evidência
de um pensamento formado a partir da carência. Há um sentimento de perda
embutido nesta declaração, um trauma não confessado, mas admitido, de
relacionamentos anteriores fracassados.
Ao se entregar na cruz, revelando-se o Cristo – Ungido de Deus para ser
oferta, Jesus não foi movido pela necessidade que criamos, como se reagisse
a uma iniciativa nossa. Ou ainda, como se estivesse providenciando uma
solução paliativa e urgente para corrigir a frustração de um projeto anterior.
Não era um plano B substitutivo de um plano A que não dera certo. Ele estava
nos reconciliando com Deus, entregando Seu Espírito para que fosse enviado
a nós, reconduzindo-nos à eternidade dos propósitos de Deus.
Ele é o Cordeiro que foi entregue antes da fundação de todas as coisas, a
referência e o centro convergente de toda vontade e a ação de Deus. Nele
não nos tornamos só um pouco melhores do que jamais fomos, mas somos

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transformados até que cheguemos a ser exatamente como Ele é – Imagem


visível do Deus invisível.

TENHO DESEJADO ARDENTEMENTE COMER COM VOCÊS.

“Então Jesus foi levado pelo Espírito ap deserto, para ser tentado pelo diabo.
Depois de jejuar por quarenta dias e quarenta noites, teve fome”. Mateus 04
“Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. João 04
“Pois a minha carne verdadeiramente comida...”. João 6
“Tenho desejado ardentemente comer convosco essa páscoa”. Lucas 22
“Quando vos reunis no mesmo lugar, não é para comer a ceia do Senhor, pois
quando comeis, cada um se apressa a tomar a sua própria ceia. Assim um
tem fome e outro se embriaga. Portanto, qualquer que comer o pão ou beber
o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do
Senhor. Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e beber
deste cálice. Pois o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua
própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto, há
entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem”. I Coríntios 11
Se há algo em que, sem dúvida, precisamos ser transformados em nosso
entendimento, é a Celebração da Ceia do Senhor. Em função de uma
tendência religiosa e ritualista tem-se perdido a compreensão do poder e da
eficácia da Mesa da Comunhão na vida da Igreja. Um lapso de percepção que
ocorre de maneira muito mais rápida e sutil do que podemos imaginar, e que
só é percebido quando já está causando danos irreparáveis na vida do povo.
Tanto que isso já era razão de exortações do apóstolo Paulo à Igreja.
Como o homem caído tem a tendência de só concluir a partir do que é visível,
muitas vezes ele não é capaz de perceber a degeneração do espírito da ceia.
Pois a grande mudança não está na forma como ela é celebrada, mas na
motivação daqueles que a celebram.
Para compreender isso melhor vamos considerar o processo de tentação de
Jesus no deserto. A Palavra de Deus diz que Ele foi levado ao deserto para ser
tentado e que, depois de quarenta dias, teve fome. A conclusão mais óbvia e
coerente, a partir da compreensão humana natural, é que o texto está falando
de comida. Num certo sentido projetamos em Jesus aquilo que seriam nossas
necessidades (fome) depois de quarenta dias.
É importante fazer algumas perguntas que nos ajudem a entender isso
melhor:
- Se a questão era só sentir fome de comida, seria mesmo necessário ir ao
deserto, uma vez que Jesus era cheio do Espírito Santo, e o fruto do Espírito é
domínio próprio?
- Por que é que Jesus recusou a comida que os discípulos lhe trouxeram,
supondo que estivesse com fome, alegando que tinha uma comida para
comer que eles não conheciam?
- Até onde podemos tomar num sentido literal Sua declaração de que quem
come e bebe d’Ele, jamais voltará a ter fome e sede?
- Será que comida é tão importante para Ele a ponto de que seja tentado?
Se relacionarmos algumas declarações de Jesus, podemos chegar a uma
conclusão totalmente diferente:
“Levado ao deserto...”;
“Tenho desejado ardentemente comer essa ceia com vocês...”;
“Vocês me deixarão só...”;

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Paulo Júnior
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“Pai, por que me desamparaste (me deixaste só)...”.


Começa a ficar claro que a questão não era a comida, mas o deserto. A fome
de Jesus não era de comida, mas de comunhão. Pois é na comunhão que
Deus está e ordena a vida para sempre. Desde a eternidade havia um desejo
ardente e intenso no seu coração, de comer com os discípulos aquela ceia.
Por mais que o diabo acenasse com a possibilidade de transformação de
pedra em Paes, Jesus recusaria. Ele não comeria um pão sozinho.
Sua identidade não estava revelada na forma como comia o pão, mas na
forma como o partia.
“Estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e deu a eles.
Então, seus os olhos foram abertos e O conheceram, mas Ele desapareceu de
diante deles”. Lucas 24
É... Jesus desapareceu antes de comer, mas não antes de partir o pão. E, por
vezes, nós gostaríamos de desaparecer antes de ter que repartir, mas não
antes de comer.
A declaração “Antes só do que mal acompanhado” é terrena, é natural e,
portanto, demoníaca. Ela não se aplica a Jesus, que só andava mal
acompanhado. Afinal, foi traído por aqueles que diziam ser seus amigos. E,
nem o fato de estar sendo traído o fez desistir de repartir.
“O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado
graças, o partiu”. I Coríntios 11
Sua perspectiva, contudo, não era o que podia receber, mas o que podia dar.
Assim, o certo que seus discípulos podiam dizer: “Antes bem acompanhados
do que só”.
Eu cresci aprendendo que, no momento da ceia, deveria vasculhar minha vida
em busca de erros e falhas, e ver se era possível toma-la. Quantas vezes,
ainda adolescente, pensei que seria fulminado por um raio vindo dos céus
direto sobre minha cabeça?!. A voz do pastor soava condenatória e fazia
tremer o meu coração. Hoje eu entendo que o ponto fosse apenas o nosso
comportamento, então ninguém estaria habilitado a comer.
A exortação de Paulo à Igreja não é sobre comportamento, simplesmente. Ele
fala de facção, contenda, divisão, ganância, cobiça, amargura. As mãos que
tomam o pão devem ser santas, sem ira e nem contenda. Comer condenação
é comer apressadamente, sem reconhecer o irmão. A verdadeira preparação
para a ceia é a Verdadeira Comunhão - reconhecimento e honra mútuos. O
desejo ardente de servir uns aos outros, e não de ser servido.

CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ.

“Então conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. João 08

“Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. João 08

“Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Estai, pois,
firmes e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da escravidão”. Gálatas
05

“Pois a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de
glória, acima de toda comparação. Portanto, nós atentamos nas coisas que se
vêem, mas nas que não se vêem. Pois as que se vêem são temporais, e as
que não se vêem são eternas”. II Coríntios 04

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Paulo Júnior
Aconselhamento

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação. Pois foi do


agrado do Pai que toda a plenitude n’Ele habitasse”. Colossenses 01

“Olhando firmemente para Jesus”. Hebreus 12

Influenciado pelo conceito de contrário e antônimo, o homem convencionou


que mentira e verdade são, apenas, universos contrários e opostos.

Esse conceito atribui à mentira o mesmo valor de grandeza, domínio,


influência e força da verdade, apenas que em sentido oposto. Fazendo com
que verdade e mentira, em termos de equivalência, sejam iguais em
dimensão, força e importância, apenas que opostas. Como se ambas tivessem
origem e existência comuns, uma vez que são apenas contrárias. Ou seja,
desde o instante em que a verdade manifestou sua existência, o seu oposto, a
mentira, também o fez. Sem que se perceba, isso coloca em nosso
inconsciente, um conjunto de valores que vai comprometendo radicalmente o
sentido absoluto da verdade em nossa vida:

- A verdade como expressão do que é bom, e a mentira como expressão do


que é mal, passaria a ser uma mera convenção ou conceito questionável. Uma
vez que se tratasse de dimensões iguais e, portanto, de mesma amplitude,
seria apenas uma questão de se optar por aquele que melhor nos conviesse,
para que essa passasse a ser a “nossa verdade”.
- A verdade deixaria de ser absoluta pelo próprio conceito de contrários.
Uma vez que há um contrário isso torna o universo da verdade relativo, pois
seria oposto, e, então, não-absoluto. Do mesmo modo que a mentira seria o
contrário da verdade, a verdade seria o contrário da mentira.
- A mentira passaria a ter o valor intrínseco de reveladora da verdade, pois
pela lei dos opostos, o contrário da mentira seria verdade. Uma mentira dita,
vista, experimentada acabaria levando à revelação da verdade. É o mesmo
que dizer que a verdade poderia ser percebida ou identificada a partir da
mentira, perdendo, assim, a excelência de sua essência e caráter.
- A mentira teria tanta eficácia quanto a verdade, apenas que restrita ao seu
universo de domínio, e passaria a ter um tipo de virtude própria, pois seria até
necessária como força de equilíbrio no universo.
A essência da Verdade é o Amor, que lhe garante sua identidade divina e
eterna. É o que testifica e afirma o seu teor absoluto.

Se alguma coisa ou afirmação não está fundamentada, ou não foi gerada no


Amor, então não é a expressão da Verdade. Pode ter a aparência de Verdade,
mas não tem a sua essência.

A mentira não é o contrário da verdade, mas é a verdade quebrada ou


adulterada na sua natureza, na sua essência. Assim, alguma coisa pode ter a
aparência, a forma, a textura, o som, a cor, o cheiro e o sabor da verdade,
ser provada e aprovada pelos nossos cinco sentidos, e não ser verdade.

Os nossos sentidos, nossos “olhos”, enganados pela aparência das coisas,


podem ser impressionados positivamente, e sermos induzidos a pensar,
equivocadamente, que se trate da verdade.

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Paulo Júnior
Aconselhamento

A pior de todas as mentiras é a “não-mentira”. Que não é, necessariamente, o


contrário da verdade, mas que não tem a sua essência ou o seu caráter. É a
verdade que foi corrompida no seu propósito e identidade originais, sem
mudar de forma ou aparência. É o caso de Abraão, que não mentiu quando
disse que Sarah era sua irmã, filha do seu tio, mas tão pouco disse a verdade,
pois ela era sua esposa. É, também, o caso de Satanás que, tanto com Adão
como com Jesus, não mentiu ao dizer o que de fato estava dito ou escrito,
mas não disse a verdade, porque seu real objetivo era causar, com aquelas
afirmações, uma crise de identidade em ambos. Usando toda a sua
capacidade de dissimulação ele não mentiu, porém não disse a verdade, pois
o seu coração estava movido de cobiça, de engano e não de amor.

O pior de todos os enganos é quando o Diabo “não-mente” e, contudo, não


diz a verdade.

A maneira mais eficaz de matar é oferecer a alguém a verdade sem o Espírito


da verdade - o Amor. Pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. Não existe
nada mais destrutivo, poderoso em matar, danificar, ferir, corromper,
enganar, do que a verdade dita ou compartilhada sem Amor. Só a verdade
experimentada na plenitude da sua essência – o Amor, pode produzir a
perfeita identificação com Cristo, e nos livrar de toda mentira e toda não-
mentira.

A mentira tem um tempo próprio de existência. O dia e hora em que ela


surgiu. Não está vinculada à verdade ou à criação de Deus desde a
eternidade. Ela não pode revelar a verdade, pois uma mentira dita ao
contrário pode vir a ser uma mentira ainda pior.

Enquanto o desafio de Deus para nós é que sejamos a expressão da verdade,


o sofisma dos contrários faz com que as pessoas pensem que seria suficiente
uma vida de não-mentira. É um engano pensar que não-pecar seria o
suficiente para nos levar ao sentido pleno da santidade. O conceito de não-
pecado como expressão da virtude, é o mesmo que tenta fundamentar a lei
como veículo de salvação. A Palavra revela que é da lei que o pecado tira sua
força. “Não cobiçarás”, só fez Paulo saber que era possível cobiçar.

O que é Abstrato e o que é Concreto?

Esse é outro conceito que, se mal compreendido, pode ser impedimento para
um conhecimento genuíno da verdade.

Sendo ignorante por natureza, e contando apenas com seus sentidos físicos,
como os “olhos” que vão lhe permitir aprender e apreender a vida, o homem
é levado a considerar como concreto aquilo que impressiona seus sentidos,
aquilo que sensibiliza a sua “retina”.

É natural que a percepção humana considere como concretas aquelas coisas


que se vêem, aquilo que se pode tocar. Do mesmo modo que são abstratas
aquelas que não podemos identificar com um dos nossos cinco sentidos.

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Paulo Júnior
Aconselhamento

Isso está associado ao conceito que já temos de duradouro e passageiro, já


que é natural considerarmos concreto o que é mais duradouro, que
permanece; e abstrato o que é efêmero, passageiro.
Na prática há uma inversão total de significados e valores diante daquilo que
é apresentado pela Palavra de Deus. Ela é enfática ao afirmar que: “Portanto,
nós não atentamos nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois
as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas”.
Se experimentarmos associar palavras, vamos ver que essa inversão de
valores é muito mais significativa em nossa vida do que imaginamos. Por
exemplo: Céu – Espírito – Eternidade – Amor, relacionamos com o “abstrato”;
e Terra – Corpo – Dinheiro – Roupa – Alimento; com o “concreto”.
Temos que reconhecer que isso é muito mais forte e importante do que
queremos admitir. Interfere radicalmente no universo de valores no qual nos
apoiamos e que compartilhamos com as pessoas. Quando falamos de casa,
rua, cadeira, cidade o nosso pensamento vai até o “arquivo – concreto” em
busca de informações, onde também estão os elementos terra, dinheiro e que
acreditamos serem duradouros, permanentes. Quando falamos de espírito,
eternidade, céu e suas variantes, buscamos o “arquivo – abstrato”, onde
estão as referências das coisas ditas efêmeras, passageiras.
Portanto, as coisas celestiais estão muito mais identificadas com o que é
passageiro, intangível, do que com a visão e certeza de coisas concretas. As
coisas espirituais são abstrações porque não podem ser tocadas, “sentidas”.
Enquanto que, as coisas materiais são tidas como concretas, permanentes,
por sua aparência de consistência e de volume.
Se, queremos que a felicidade seja duradoura e sua consistência tangível,
temos que fundamentá-la no que é, de fato, concreto. Daí a importância de
“sermos transformados pela renovação do nosso entendimento”.
É quase natural, espontânea, a associação que se faz entre o conceito de
realidade e o conceito humano de concreto.
Há uma indisposição e uma resistência naturais por parte do homem em
desejar mais ardentemente o céu, ou as “moradas celestiais”, por conta de
sua “inconsistência”, seu aspecto quase irreal. Contudo, é facilmente atraído e
seduzido pelas coisas materiais, que se vêem, e que, na verdade, são as
incertas, pois são sombras das espirituais, que não se vêem.
Muito antes de existirem casas, cidades, carros ou cadeiras na terra, tudo isso
já existia no céu. As espirituais é que são reais, concretas, duradouras,
permanentes, enquanto que as coisas materiais é que são passageiras.
Em resumo, não haverá cura em nossa vida enquanto não houver uma
mudança total de conceitos e valores. Enquanto não formos transformados
pela renovação completa da nossa mente, e deixarmos de pensar e avaliar
segundo a forma de pensamento deste mundo.
Há muitos crentes que têm o coração em Jerusalém, mas ainda têm a mente
em Babilônia. Ainda não foram educados quanto aos valores da Graça.
Essa cura não virá pela simples argumentação ou confrontação dos valores e
pensamentos que dominam a mente das pessoas. Não é suficiente dizer que
aquilo em que acreditam tão fortemente é mentira, e que seus valores estão
mal fundamentados. Afinal toda sua noção de realidade está fundamentada
em “não-mentiras” e em coisas bem “concretas”.
A pessoa seria capaz de nos mostrar as marcas, as “provas”, as evidências,
daquilo em que acredita, já que, na maioria dos casos, trata-se de suas
experiências pessoais, sua sabedoria aprendida da vida. Seus valores e seu

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código de métodos e práticas estão estabelecidos segundo sua realidade, sua


percepção, sua não-mentira.
Para que haja cura é necessária a revelação da verdade, a única capaz de
estabelecer a plena liberdade. É suficiente compartilhar a verdade com toda a
segurança de que ela é, em si, eficaz para expor e remover a mentira. A única
maneira de corrigir uma não-mentira é colocá-la ao lado da verdade e deixar
que a natureza de ambas se revele. Na ânsia de remover o que nos parece
ser mentira, corremos o risco de remover junto com ela a verdade.
Aliás, a estratégia e expectativa do Diabo, ao semear no coração do homem a
semente do joio, de aparência semelhante à do trigo, é de criar uma crise de
identidade. O melhor a fazer é semear mais da verdade.
Paulo diz que nossas armas são poderosas em Deus para destruição de
fortalezas. O mais óbvio seria pensar que sejam as habitações espirituais dos
principados e potestades. Na seqüência ele deixa claro que se trata de uma
forma equivocada de raciocínios e pensamentos – os sofismas. Temos que
combater e destruir, com toda a autoridade das armas que Deus colocou à
nossa disposição, a cultura de conceitos e valores fundamentada em enganos,
vaidade e sofismas que está alojada na mente das pessoas. Pois, é daí que
Satanás tem tirado força para o seu reino no mundo.
“Do tranco de Jessé sairá um rebento, e de suas raízes um renovo. Repousará
sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de Sabedoria e de Entendimento, o
Espírito de Conselho e de Fortaleza, o Espírito de Conhecimento e de Temor
do Senhor. Se deleitará no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos
seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir do seus ouvidos; mas julgará
com justiça os pobres, e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra”.
Isaias 11

QUADRO COMPARATIVO

VERDADE REALIDADE
Semelhança Imagem
Fato Experiência
Revelação Percepção
Poder Capacidade
Verdade Não Mentira
Convicções Sentimentos
Virtude Necessidade
Vontade Desejo
Suprimento Satisfação
Identidade Forma e movimento
Responsabilidade

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DIAGRAMA ILUSTRATIVO DA CONDIÇÃO HUMANA

HOMEM “RE-GENERADO”
Segundo as Virtudes de Cristo
Vivendo por Revelação
Movido para as necessidades
Créditos
Responsabilidade = Oportunidade
Dificuldades = Desafios
Dom - Dádiva
Suprir
as necessidades
LINHA DA NECESSIDADE HOMEM CRIADO - Adão
O homem tinha necessidades e limitações,
mas elas não eram constrangedoras.

Satisfazer
as necessidades
HOMEM CAÍDO
Movido pelas necessidades.
Oprimido pela sua ignorância.
Observação – Comparação – Dedução
Constrangido pelas suas limitações.
Administrador de Débitos - Responsabilidade = Culpa
Dificuldades = Impedimentos

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