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Ji-Paraná RO
2022
PRISCILA MIRANDA ENGELHARDT
Ji-Paraná-RO
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Fundação Universidade Federal de Rondônia
Gerada automaticamente mediante informações fornecidas pelo(a) autor(a)
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CDU 53:37
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Bibliotecário(a) Cristiane Marina Teixeira Girard CRB 11/897
09/08/2022 19:14 SEI/UNIR - 1038825 - Folha de aprovação de Defesa de Mestrado
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA - JI-PARANÁ
Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação de Mestrado de autoria de Priscila Miranda
Engelhardt, submetida ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática – PPGEM, da
Universidade Federal de Rondônia – UNIR, na Linha de Pesquisa Formação de Professores que Ensinam
Matemática, defendida e aprovada em 22 de julho de 2022 em Ji-Paraná - RO, pela Banca Examinadora
composta pelos professores:
Após mais de dois anos nessa jornada, iniciada em meio a uma pandemia, em que tanta
coisa teve que ser reinventada, é uma grande satisfação ter conseguido chegar até aqui, e não
poderia deixar de reconhecer que nada disso seria possível se não fossem as inúmeras pessoas
que, direta ou indiretamente, estiveram comigo, ajudando-me ou me incentivando. Agradeço
de coração a todos que participaram de alguma forma desta etapa importante e que contribuíram
para que esse sonho se concretizasse. Mesmo com receio de cometer alguma injustiça, eu não
poderia deixar de agradecer:
Aos meus professores de graduação que contribuíram muito com a minha formação, em
especial a professora Maily Marques Pereira e o professor Claudemir Miranda Barboza por
acreditarem na minha capacidade, incentivando-me a seguir em frente nos meus estudos.
Também aos professores que participaram do meu processo de formação, ao longo do período
em que estive no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática PPGEM, por todos os
ensinamentos e conhecimentos compartilhados.
À minha orientadora, Ana Fanny, por todos os seus ensinamentos, críticas construtivas
e pelo grande exemplo de profissionalismo dados ao longo desta parceria, os quais contribuíram
para o meu amadurecimento como pesquisadora e profissional, sua orientação foi essencial para
o desenvolvimento deste trabalho.
À minha banca de qualificação e defesa, Eliane Matesco Cristovão e Nerio Aparecido
Cardoso, pelas valiosas contribuições que proporcionaram o refinamento e uma melhor
organização deste trabalho.
Aos professores participantes desta pesquisa pela disponibilidade e comprometimento com
que responderam ao questionário e as entrevistas.
À CAPES e UNIR pela oportunidade e apoio financeiro.
Às minhas amigas e colegas de mestrado, Elianai Rodrigues Lima Pedroso, Fabiola
Gomes de Souza e Flávia de Andrade Correa, pelo apoio, companheirismo e experiências
compartilhadas durante essa caminhada.
À Lidiane Casteluber da Silva e Willian Silva Sales, pela hospitalidade com que me
receberam em sua casa, em Ji-Paraná (RO), na primeira semana de aula do mestrado, em março
de 2020, a única inclusive que foi presencial, nunca me esquecerei do apoio que recebi de vocês
naquele momento.
Aos meus pais, por sempre terem me incentivado a buscar um futuro melhor e, mesmo
diante das dificuldades, terem lutado para poderem me proporcionar condições para seguir nessa
busca. Agradeço por sempre estarem do meu lado e acreditarem em mim.
Aos meus familiares e amigos, que me incentivaram e torceram por mim em todos os
momentos.
À pessoa que escolhi para juntamente caminhar Lidiomar Casteluber da Silva, pelo
amor, parceria, companheirismo e incentivo, desde os tempos de graduação, fazendo-me
acreditar que posso ir além do que imagino. Obrigada por me entender, por escutar minhas
angústias, por comemorar comigo as conquistas e por estar comigo para celebrar a finalização
dessa etapa. Você me deu muitas forças para continuar nessa caminhada e alcançar essa vitória.
Muito obrigada por fazer parte da minha vida.
A matemática nos ensina analisar a realidade com rigor, estudar os fatos, segui-los aonde
quer que levem. Isso nos liberta de dogmas e preconceitos, fomenta a capacidade de inovação.
Portanto, proporciona ferramentas que transcendem o próprio sujeito. (FRENKEL, Edward,
2014).
RESUMO
Este estudo está vinculado à linha de pesquisa “Formação de Professores que ensinam
Matemática” do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática (PPGEM), da Fundação
Universidade Federal de Rondônia (UNIR) campus Ji-Paraná, e tem por objetivo analisar as
concepções dos professores de matemática do ensino médio sobre a Resolução de Problemas
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sua relação com o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem). No ensino médio e também em todos os outros níveis de ensino da educação
básica, a Resolução de Problemas Matemáticos está inserida nas competências e habilidades a
serem desenvolvidas em todo o percurso escolar, isso é retratado na BNCC e no Enem. A BNCC
orienta que o ensino ocorra de forma contextualizada e interdisciplinar, já o Enem apresenta em
sua composição questões que buscam ser contextualizadas e interdisciplinares. Portanto, um
ensino no desenvolvimento de um currículo de matemática em rede que leva em conta a
perspectiva da epistemologia filogenética e da ontogenética indica seu encaminhamento a partir
de situações-problema. Ao identificar esses conceitos presentes na formação do professor, fez-
se necessário investigar as concepções expressas por professores de matemática do ensino
médio sobre seu entendimento da abordagem dos problemas no ensino. Para isso, foi realizada
uma pesquisa de abordagem qualitativa, que combina a coleta de dados por meio de
questionários e entrevistas, nos quais foram realizadas com professores do ensino médio das
escolas públicas urbanas estaduais dos munícipios de Cacoal (RO) e Ministro Andreazza (RO).
O modelo adotado para o questionário foi misto, com questões abertas e fechadas e para a
entrevista adotou-se o modelo semiestruturado. Na análise e interpretação dos dados utilizou-
se a análise de conteúdo, com o propósito de criar categorias de análise, no intuito de estabelecer
as concepções dos professores de matemática do ensino médio a respeito da Resolução de
Problemas Matemáticos no contexto da BNCC do ensino médio e do Enem. A pesquisa contou
com 11 participantes que responderam ao questionário, sendo que 4 deles também participaram
das entrevistas. Como resultado, obtivemos que a abordagem da Resolução de Problemas
Matemáticos mais conhecida pelos professores é a “ensinar sobre resolução de problemas” que
se baseia na perspectiva de Polya, porém, eles utilizam em conjunto a essa a abordagem o
“ensinar para resolução de problemas”. No que diz respeito à concepção dos professores sobre
a relação entre a BNCC e o Enem no contexto da Resolução de Problemas Matemáticos, eles
visualizam tal relação nas competências e habilidades presente em cada um dos documentos e
também pela ênfase dada à contextualização e interdisciplinaridade em ambos, já no que diz
respeito às abordagens da Resolução de Problemas Matemáticos, a relação entre BNCC e Enem
se revela na perspectiva do “ensinar sobre resolução de problemas”. Por fim, compreende-se
que os professores participantes acreditam que a Resolução de Problemas Matemáticos é um
excelente recurso didático para que atinjam uma formação mais crítica e reflexiva, como
estabelece a BNCC, e simultaneamente preparem os alunos para um melhor desempenho no
Enem.
This study is part of the research line “Training teachers who teach Mathematics” of the
Graduate Program in Mathematics Education (PPGEM) of the Fundação Universidade Federal
de Rondônia (UNIR) campus of Ji-Paraná. Our aim is to analyze the conceptions of high school
mathematics teachers on problem solving in the National Common Curriculum Base (BNCC)
and its relationship with the National High School Exam (Enem). In high school and also in all
other levels of Basic Education, the Resolution of Mathematical Problems is inserted in the
competences and abilities to be developed throughout the school course, this is portrayed in the
BNCC and the Enem. The BNCC guides that teaching occurs in a contextualized and
interdisciplinary way and the Enem presents in its composition questions that seek to be
contextualized and interdisciplinary. Therefore, teaching in the development of a mathematics
curriculum in a network that considers the perspective of phylogenetic and ontogenetic
epistemology indicates its approach based on problem-situations. By identifying these concepts
present in teacher training, it was necessary to investigate the conceptions expressed by high
school mathematics teachers about their understanding of approaching problems in teaching.
For this, a qualitative approach was carried out, which combines data collection through
questionnaires and interviews, in which they were carried out with high school teachers from
urban state public schools in the municipalities of Cacoal (RO) and Ministro Andreazza (RO).
The model adopted for the questionnaire was mixed, with open and closed questions, and the
semi-structured model was adopted for the interview. In the analysis and interpretation of the
data, content analysis was used, with the purpose of creating categories of analysis, in order to
establish the conceptions of high school mathematics teachers about Mathematical Problem
Solving in the context of the BNCC of High School and the Enem. The research had 11
participants who answered the questionnaire, 4 of them also participated in the interviews. As
a result, we obtained that the Mathematical Problem Solving approach best known by teachers
is the "teaching about problem solving" which is based on Polya's perspective, but they use the
"teaching for problem solving" approach together. Regarding the teachers' conception of the
relationship between the BNCC and the Enem in the context of Mathematical Problem Solving,
they visualize this relationship in the skills and abilities present in each of the documents and
also by the emphasis given to contextualization and interdisciplinarity in both and with regard
to Mathematical Problem Solving approaches, the relationship between BNCC and Enem is
revealed in the perspective of “teaching about problem solving”. Finally, it is understood that
the participating teachers believe that Mathematical Problem Solving is an excellent didactic
resource to achieve a more critical and reflective training as established by the BNCC, and
simultaneously to prepare students for a better resourcefulness in the Enem.
Quadro 1 – As quatro fases da Resolução de Problemas propostas por Polya (2006) ............. 46
Quadro 2 – Habilidades relacionadas a Resolução de Problemas na BNCC para o ensino médio
da área de Matemática e suas Tecnologias ............................................................................... 86
Quadro 3 – Habilidades relacionadas a Resolução de Problemas Matemáticos na matriz de
referência do Enem para a área de Matemática e suas Tecnologias ......................................... 94
Quadro 4 – Os saberes dos professores .................................................................................. 103
Quadro 5 – Competências gerais dos docentes da BNC-Formação ....................................... 113
Quadro 6 – Relação das escolas públicas urbanas estaduais do ensino médio selecionadas para
a pesquisa em Cacoal (RO) e Ministro Andreazza (RO) no ano de 2021 .............................. 121
Quadro 7 – Identificação dos participantes da entrevista, realizada em outubro de 2021 ..... 129
Quadro 8 – Especializações lato sensu realizadas pelos professores pesquisados ................. 130
Quadro 9 – Formação superior dos professores – Ano de conclusão da graduação .............. 131
Quadro 10 – Faixa etária dos professores............................................................................... 131
Quadro 11 – Escolas em que os professores pesquisados lecionam no ano de 2021. ............ 131
Quadro 12 - Tempo de atuação dos professores pesquisados no ensino médio ..................... 132
Quadro 13 - Cursos de formação continuada realizados pelos professores pesquisados ....... 132
Quadro 14 - Significado de problema de matemática para os professores............................. 133
Quadro 15 - Fontes de busca de problemas matemáticos dos professores pesquisados ........ 137
Quadro 16 – Professores que utilizam a Resolução de Problemas Matemáticos de acordo com
a abordagem “ensinar sobre resolução de problemas” ........................................................... 138
Quadro 17 – Benefícios que a Resolução de Problemas proporciona à aprendizagem dos alunos
................................................................................................................................................ 142
Quadro 18 – Obstáculos e desafios para ajudar os alunos na Resolução de Problemas ........ 144
Quadro 19 – Processo de utilização da BNCC pelos professores pesquisados ...................... 146
Quadro 20 – Formação continuada sobre a BNCC da área de Matemática e suas Tecnologias
................................................................................................................................................ 148
Quadro 21 – Escolha pelos novos livros didáticos fundamentados na BNCC ....................... 149
Quadro 22 – Concepção dos professores de como a BNCC aborda a Resolução de Problemas
Matemáticos ........................................................................................................................... 150
Quadro 23 - A Resolução de Problemas Matemáticos e os benefícios que pode trazer para
preparação do Enem ............................................................................................................... 153
Quadro 24 – Concepção dos professores na relação entre a BNCC e o Enem no contexto da
Resolução de Problemas Matemáticos ................................................................................... 155
Quadro 25 – Professores que utilizam a Resolução de Problemas Matemáticos de acordo com
a abordagem “ensinar para resolução de problemas” ............................................................. 158
Quadro 26 – A preparação dos alunos para o Enem pelos professores pesquisados.............. 159
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 17
2 A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ......... 24
2.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
.................................................................................................................................... 24
1 INTRODUÇÃO
Segundo Vale (1993), as concepções embasam a forma como o professor pensa e atua
em sala de aula, e elas se formam por meio de um processo individual e social. Dessa forma, as
concepções que podemos ter na qualidade de professores sobre a Resolução de Problemas, por
exemplo, “são influenciadas por um lado, pelas nossas experiências que identificamos como
desse âmbito, e por outro lado pelas influências sociais em que estamos inseridos” (VALE,
1993, p.60). Sendo assim,
1
Tomando como base Onuchic e Allevatto (2011), nesta pesquisa será adotada a grafia Resolução de Problemas
com “R e P” maiúsculos quando se trata da metodologia, e resolução de problemas com “r e p” minúsculos quando
se trata do ato de resolver problemas, a não ser nos casos das citações diretas, que será mantida a grafia utilizada
pelos autores das obras consultadas.
18
Matemática e resolução de problemas são duas ideias que sempre estão juntas. Não se
concebe aprender matemática se não for para resolver problemas; por outro lado,
resolver problemas necessariamente inclui alguma forma de pensar matemática.
Mesmo os problemas diários ou profissionais exigem que os dados sejam analisados
e que alguma estratégia seja pensada para sua resolução, que depois de executada,
precisa ser avaliada para verificação se, de fato, permitiu ou não chegar à solução da
situação inicial (BONILHA; VIDIGAL, 2016, p. 9)
[...] verificar como o conhecimento assim construído pode ser efetivado pelo
participante por meio da demonstração de sua autonomia de julgamento e de ação, de
atitudes, valores e procedimentos diante de situações-problema que se aproximem, o
máximo possível, das condições reais de convívio social e de trabalho individual e
coletivo (BRASIL, 2002a, p. 13).
Outro fato importante a ser levado em consideração, segundo Lima (2016, p. 68), é que
“A literatura em Educação Matemática é farta em pesquisa sobre solução de problemas. No
entanto, há uma carência nessa área em estudos relacionados ao Enem”. Assim, como no que
se refere à BNCC, por ser o documento curricular mais recente, ainda há poucos estudos na
área da Educação Matemática que o debatam.
Tomando como base essas considerações elencadas até aqui, tanto a BNCC como o
Enem parecem explicitar a importância da Resolução de Problemas Matemáticos para o ensino
médio, que é a última etapa da educação básica. Diante dessas informações, faz-se necessário
que o professor que pretende atuar nessa etapa conheça de forma mais aprofundada a dimensão
desses documentos, tanto para atuar de forma mais consciente como para entender e ajustar as
reais necessidades à sua realidade profissional. Dessa maneira, a partir deles, o professor poderá
desenvolver uma atuação que possibilite avançar no desenvolvimento das capacidades
intelectuais e que colabore para melhor estruturar o pensamento e o raciocínio lógico nos
alunos, a fim de torna-los melhor preparados para lidar com os conflitos, contradições e
necessidades de nossa sociedade e que possam usar um pensamento mais elaborado como
ferramenta na solução de problemas interdisciplinares tão presentes no mundo contemporâneo.
Sendo assim, ao identificar a relação entre a BNCC e o Enem no contexto da Resolução
de Problemas e entendendo que a Resolução de Problemas traz concepções já abordadas na
Educação Matemática mundial desde o século XX, podendo ajudar a estabelecer o
entendimento das escolhas curriculares pautadas em competências e habilidades nos
documentos curriculares do Brasil, faz-se necessário compreender como se dá a concepção do
professor de matemática do ensino médio sobre sua atuação frente ao ensino-aprendizagem
envolvendo as abordagens da Resolução de Problemas no contexto da BNCC e do Enem,
verificando se eles conseguem estabelecer uma relação entre esses temas. E a partir dessas
considerações formulou-se a questão norteadora dessa pesquisa:
Quais são as concepções dos professores de matemática do ensino médio sobre a
21
Resolução de Problemas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sua relação com o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)?
Segundo Thompson (1997, p. 12), “[...] as concepções dos professores (suas crenças,
visões e preferências) sobre o conteúdo e seu ensino desempenham um papel importante no que
se refere à sua eficiência como mediadores primários entre o conteúdo e o aluno”. Dessa forma,
as concepções dos professores são elementos fundamentais para o êxito do processo de ensino-
aprendizagem. Sendo assim, Moron (1999, p.92) define que concepção significa
[...] uma maneira própria de cada indivíduo ou de cada professor elaborar, interpretar,
representar suas ideias e de agir. É construída a partir das experiências individuais que
são influenciadas por uma série de variáveis do ambiente (conhecimentos, valores,
experiência prática componente emocional).
Desde a Antiguidade até os dias atuais, a resolução de problemas tem sido o mote da
construção de conhecimento, matemático e ligado a outras ciências, e um tópico
sempre presente nos currículos de Matemática. No entanto, num processo dinâmico
de se constituir pela constante reconstrução, ela, a resolução de problemas, vivencia
um processo permanente de (res)significação, de geração de novas formas de concebê-
25
O papiro Rhind é uma fonte primária rica sobre a matemática egípcia antiga; descreve
os métodos de multiplicação e divisão dos egípcios, o uso que faziam das frações
unitárias, seu emprego da regra de falsa posição, sua solução para o problema da
determinação da área de um círculo e muitas aplicações da matemática a problemas
práticos.
Na primeira metade desse século, Edward Lee Thorndike falou sobre o papel que os
problemas de matemática poderiam desempenhar na formação do estudante
colocando ênfase nos tipos de problemas que deveriam ser trabalhados. Para esse
pesquisador, mais do que falar da importância de voltar a atenção para à resolução de
problemas era preciso considerar os tipos de problemas. E, nessa direção, desejando
colocar em questão teorias psicológicas vigentes, a Teoria da Disciplina Mental
(TDM), por exemplo, esse pesquisador afirmava que como a nova economia mundial,
com a passagem da sociedade agrária para a sociedade industrial, mais pessoas
deveriam saber matemática, aquela usada para a vida (MORAIS; ONUCHIC; LEAL
JUNIOR, 2017, p. 410).
livro e, discutindo-os, ilustrou cada uma das fases (MORAIS; ONUCHIC, 2014, p.
22-23).
Com isso, Polya tornou-se o grande precursor dos estudos referentes à Resolução de
Problemas, sendo que a partir de suas ideias, os currículos escolares de matemática começaram
a ser repensados trazendo uma abordagem mais profunda e significativa para a área.
Entre os anos de 1960 e 1970 do século XX, houve o Movimento da Matemática
Moderna – MMM, que recomendava que o currículo fosse organizado a partir de lógica,
álgebra, topologia e a teoria dos conjuntos. No entanto, esse movimento fracassou, pois os
professores do primário da época não estavam preparados para lidar com esses conteúdos e os
pais não tinham conhecimento suficiente para ajudarem seus filhos nas tarefas de casa. Nesse
período também as produções de pesquisas na área de Resolução de Problemas tiveram seu
ritmo diminuído.
Nesse ano foi criado, segundo Morais e Onuchic (2014, p. 28), “[...] o documento “Uma
Agenda para Ação - Recomendações para a Matemática Escolar para a década de 1980”,
publicado pelo NCTM”. Esse documento retratou a Resolução de Problemas como o foco da
matemática escolar, entendendo a Resolução de Problemas a partir de um trecho traduzido desse
documento por Morais e Onuchic (2014, p. 28) como a “[...] aplicação da matemática ao mundo
real, servindo à teoria e à prática de ciências atuais e emergentes, e resolvendo questões que
ultrapassem as fronteiras das ciências matemáticas”. Nas recomendações sobre Resolução de
Problemas, o NCTM de 1980 pontuava que:
Mais adiante, nos anos 2000, foram publicados pelo NCTM os princípios e padrões para
a matemática escolar, que, dessa vez, trouxeram grandes avanços para a Resolução de
Problemas na Educação Matemática. Segundo Morais e Onuchic (2014, p.27), “[...] como uma
teoria já bem estruturada ganhou espaço nos currículos escolares dos Estados Unidos e,
posteriormente, em muitos países do mundo”.
2
National Council of Teachers of Mathematics
29
matemática, não só nos Estados Unidos e Canadá, mas também em todo o mundo
(VAN DE WALLE; 2009, p. 19-20).
Mais recentemente, nos anos 90, a Resolução de Problemas ganha uma outra
dimensão sendo descrita como uma metodologia para o ensino de matemática e, como
tal, passando a ser um conjunto de estratégias para o ensino e o desenvolvimento da
aprendizagem de matemática. Essa concepção da Resolução de Problemas pode ser
vista através de indicações de natureza puramente metodológicas, como usar um
problema detonador ou desafio que possam desencadear o ensino e a aprendizagem
de conhecimentos matemáticos, trabalhar com problemas abertos, usar a
problematização ou a formulação de problemas em projetos, etc. Também está
presente em orientações mais amplas para o ensino de matemática, que correspondem
a linhas de pesquisa e de atuação da Educação Matemática, como é o caso da
modelagem e do ensino por projetos (SMOLE; DINIZ, 2007, p. 88).
Com esses avanços nos estudos relativos à Resolução de Problemas no Brasil, “[...] a
partir dos anos 1990, a Resolução de Problemas ganha impulso, pesquisas legitimam as
possibilidades abertas através do ensino de matemática através da Resolução de Problemas”
(CAVALCANTE; 2013, p. 43). A Resolução de Problemas passou então a ser discutida, sendo
parte integrante de diversos documentos da educação brasileira, como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), criados entre 1997 e 1998, em que se nota a importância dada
à Resolução de Problemas trabalhada através de problemas vivenciados no cotidiano e que
interligam várias disciplinas. Além disso, nesse documento tem-se que a Resolução de
Problemas “[..] proporciona o contexto em que se pode apreender conceitos, procedimentos e
atitudes matemáticas” (BRASIL, 1997, p.33), ou seja, ela orienta a aprendizagem matemática.
Enfim, a Resolução de Problemas Matemáticos vem sendo até hoje debatida em vários estudos,
programas de pós-graduação e grupos de pesquisas.
30
Boavida et al. (2008, p. 15) traz ainda outra concepção sobre o que é um problema é a
de). Para a autora,
[...] tem-se um problema quando se está perante uma situação que não pode resolver-
se utilizando processos conhecidos e estandardizados; quando é necessário encontrar
um caminho para chegar à solução e esta procura envolve a utilização do que se
designa por estratégias.
Para Dante (2002, p. 9), um problema “[...] é qualquer situação que exija o pensar do
indivíduo para solucioná-la”. Sendo mais específico, o autor também define o que seria um
31
problema de matemática. Em sua visão “[...] é qualquer situação que exija a maneira matemática
de pensar e conhecimentos matemáticos para solucioná-la” (DANTE, 2002, p. 10).
Na interpretação de Proença (2018, p. 16):
Com base em todos esses argumentos sobre o que significa um problema, evidencia-se
que problema corresponde a algo maior e que é aplicável em várias situações cotidianas e em
várias ciências. Já um problema de matemática se refere aos procedimentos operacionais
matemáticos que serão utilizados em sua resolução. Proença (2018, p. 17) aponta que: “[...] uma
situação de Matemática se torna um problema quando a pessoa precisa mobilizar conceitos,
princípios e procedimentos matemáticos aprendidos anteriormente para chegar a uma resposta”.
Allevato e Onuchic (2014, p. 48) consideram “[...] o problema como ponto de partida e
orientação para a aprendizagem matemática” e também para “[...] a construção de novos
conceitos e novos conteúdos; os alunos sendo co-construtores de seu próprio conhecimento e,
os professores os responsáveis por conduzir esse processo” (ONUCHIC; ALLEVATO, 2011,
p. 80). Dessa forma, um bom problema de matemática, segundo Serrazina (2017, p. 60), deve
possuir as seguintes características:
[...] (i) ser desafiante e interessante a partir de uma perspectiva matemática; (ii) ser
adequado, permitindo relacionar o conhecimento que os alunos já têm de modo que o
novo conhecimento e as capacidades de cada aluno possam ser adaptadas e aplicadas
para completar as tarefas; (iii) ser problemático, a partir de algo que faz sentido e em
que o caminho para a solução não está completamente visível.
Dante (2002) define como situação-problema o cenário no qual se procura uma resposta
para algo que não é conhecido e em que não se conhece nenhuma fórmula matemática ou
algoritmo que possa ajudar na sua resolução. Portanto, é necessário usar a criatividade e
32
2018, p. 18). Portanto, Van de Walle (2009, p. 90) ressalta que é muito importante compreender
que “[...] os exercícios não ajudarão em nada a compreensão conceitual. Os exercícios não
fornecerão quaisquer habilidades ou estratégias novas. Os exercícios só enfocam sobre o que já
é conhecido”.
A partir das contribuições de diversos autores, entende-se que os exercícios servem
puramente para memorizar regras, fórmulas e algoritmos e são utilizados para fixar conteúdos,
já os problemas de matemática também podem ser denominados como situações-problema e se
referem a situações que possuem um contexto matemático determinado, podendo ser
apresentadas por meio de fatos cotidianos ou não. Por sua vez, a definição de problema ganha
um sentido mais amplo, estando relacionada aos problemas enfrentados diariamente pela
sociedade e pela comunidade científica.
Ao resolver uma situação-problema, é necessário o uso de estratégias e procedimentos,
elencando conhecimentos matemáticos que contribuam para sua resolução. Dessa forma,
designa-se a esse uso de estratégias e procedimentos como o processo de “resolução de
problemas”. Sobre isso, Boavida et al. (2008, p. 14) afirma que “[...] a resolução de problemas
é o processo de aplicar o conhecimento previamente adquirido a situações novas e que pode
envolver exploração de questões, aplicação de estratégias e formulação, teste e prova de
conjecturas”. Portanto, o processo de resolução de problemas envolve
Para Polya (2006), o aluno só aprende a resolver problemas por meio da prática,
observando como outras pessoas fazem. Segundo ele:
É importante compreender que a matemática deve ser ensinada por meio da Resolução
de Problemas. Quer dizer, tarefas ou atividades baseadas em resolução de problemas
são o veículo pelo qual se pode desenvolver o currículo desejado. A aprendizagem é
um resultado do processo de Resolução de Problemas.
Em vista disso, como podemos notar, a aprendizagem matemática deve ser orientada
para a Resolução de Problemas. Com isso, entende-se que o processo de resolução de problemas
está organizado em etapas e estratégias frente à resolução de uma situação-problema. Portanto,
Por meio dessa perspectiva, percebe-se que o ensino da matemática, suas técnicas,
procedimentos e conceitos teriam de ser ensinados antes para que a partir disso o aluno
conseguisse resolver problemas. Portanto, a Resolução de Problemas encarada como uma meta
serve para avaliar se o aluno conseguiu ou não aprender matemática.
A Resolução de Problemas tomada como uma habilidade básica, segundo Branca (1997,
p. 10), “[...] pode nos ajudar a organizar as especificações para o dia-a-dia de nosso ensino de
habilidades, conceitos e resolução de problemas”. Dessa maneira,
Segundo Smole e Diniz (2016, p. 10), a Resolução de Problemas como habilidade básica
ganhou importância
[...] aguçam a curiosidade do aluno e permitem que ele desenvolva sua criatividade,
sua iniciativa e seu espírito explorador. E, principalmente, iniciam o aluno no
desenvolvimento de estratégias e procedimentos para resolver situações-problema, o
que em muitos casos, é mais importante que encontrar a resposta correta.
Já os problemas não convencionais “[...] não possuem solução evidente ou para os quais
o aluno não sabe de antemão que conteúdo deve usar exigem que ele planeje o que fazer, como
fazer, e, ao encontrar uma resposta, é preciso verificar se ela faz sentido” (SMOLE; DINIZ,
2016, p. 15).
As mesmas autoras ainda definem mais detalhadamente os tipos de problemas, para que
o professor, ao conhecê-los, possa entender a finalidade de cada um e, assim, estar munido de
uma boa coletânea de problemas para então poder fazer uma escolha consciente frente ao seu
trabalho docente. Nesse sentido, Smole e Diniz (2007) e (2016) apontam que os tipos de
problemas são: problemas sem solução, problemas com mais de uma solução, problemas com
excesso de dados, problemas de lógica e problemas de estratégia.
Logo, segundo Smole e Diniz (2007, p. 107), os problemas sem solução rompem “[...]
com a concepção de que os dados apresentados devem ser usados na sua resolução e de que
todo problema tem solução. Além disso, ajuda a desenvolver no aluno a habilidade de aprender
a duvidar, a qual faz parte do pensamento crítico”. Os problemas com mais de uma solução têm
o propósito de romper o paradigma de que todo problema apresenta uma resposta única e
somente uma maneira para encontrar a sua solução, sendo que seu objetivo é fazer “[...] com
que o aluno perceba que resolver problemas é um processo de investigação, do qual ele participa
e em que pode produzir soluções diferentes daquelas encontradas por seus colegas” (SMOLE;
DINIZ, 2016, p. 19).
Os problemas com excesso de dados são do tipo que contêm muitas informações
disponíveis em seu enunciado e que não são uteis para sua resolução. Esse tipo de problema
pode ajudar o aluno a evidenciar “[...] a importância de ler, fazendo com que aprenda a
selecionar dados relevantes para a resolução de um problema” (SMOLE; DINIZ, 2007, p. 110).
Os problemas de lógica, como próprio nome já diz, requerem dos alunos muito raciocínio
lógico-dedutivo para sua resolução, e por diversas vezes “[...] não contêm números em seus
dados, mas pistas na forma de afirmações que, combinadas, devem levar à resposta do
problema” (SMOLE; DINIZ, p. 22).
Por último, temos os problemas de estratégia, que, em seu processo de resolução,
41
reconhecer que o que é considerado problema para uma pessoa pode não necessariamente ser
um problema para outra pessoa, o que dependerá do contexto em que a pessoa está inserida.
Dessa forma, o educador matemático, além de conhecer os tipos de problema, deve saber
também em que momento os utilizar, dependendo do contexto em que lecionará.
A partir da década de 1980, foram construídas muitas pesquisas para sala de aula com
foco em Resolução de Problemas, logo, foi necessária uma organização dessas pesquisas em
vertentes que poderiam trazer uma melhor estruturação para o campo da Resolução de
Problemas. Acerca disso, Andrade e Onuchic (2017, p. 437) relatam que:
De acordo com esses pesquisadores, essas três categorias já haviam sido elencadas
por Hatfield em 1978, embora eles acreditassem que outros pudessem, antes ter
defendido pontos de vista semelhantes. Cada uma das três abordagens foi discutida
por Schroeder e Lester (MORAIS; ONUCHIC, 2014, p. 29).
Sobre essas abordagens, Onuchic (1999, p. 207) observa que “Embora na teoria essas
três concepções de ensinar resolução de problemas matemáticos possam ser separadas, na
prática elas se superpõem e acontecem em várias combinações e sequências”.
No que diz respeito ao papel do professor, nas últimas décadas, vários pesquisadores e
estudiosos da Educação Matemática buscam formas de melhorar o ensino da matemática. Como
resultado dessas pesquisas estão as tendências de ensino da Educação Matemática que visam a
43
Loyo e Cabral (2018, p.31) definem que ao se trabalhar com as tendências de ensino,
Dessa forma, as tendências de ensino com maior notoriedade no meio acadêmico são:
“etnomatemática, novas tecnologias, modelagem matemática, resolução de problemas e história
da matemática” (LOYO; CABRAL, 2018, p. 31).
No contexto da Resolução de Problemas como uma tendência de ensino, o professor
exerce um papel fundamental, pois é ele o mediador entre o aluno e o conhecimento. Como
ilustrado na figura 1, Silva e Siqueira Filho (2011, p. 28) consideram “[...] o professor como o
elo entre o aluno e o saber científico, elementos constitutivos do triângulo didático”.
É claro que essas etapas não são rígidas, fixas e infalíveis. O processo de resolução de
um problema é algo mais complexo e rico, que não se limita a seguir instruções passo
a passo que levarão à solução, como se fosse um algoritmo. Entretanto, de um modo
geral elas ajudam o solucionador a se orientar durante o processo.
Estratégias para resolver problemas são métodos identificáveis de abordar uma tarefa
que é completamente independente do tópico específico ou assunto temático. Os
objetivos das estratégias desempenham uma parte em todas as fases da resolução de
problemas: compreender o problema, resolver o problema e refletir sobre a resposta e
solução (VAN DE WALLE, 2009, p. 77).
Portanto, para Van de Walle (2009), “ensinar sobre resolução de problemas” requer o
uso de estratégias e processos que visam a desenvolver habilidades de análise de problema,
desenvolver e selecionar estratégias, justificar as soluções e estender ou generalizar problemas.
Essa abordagem da Resolução de Problemas Matemáticos também traz contribuições
para a ideia de contextualização e interdisciplinaridade no ensino da matemática, pois seu
precursor, George Polya, em seus trabalhos e estudos, salienta a importância de que os alunos
resolvam problemas matemáticos em diversos contextos, no intuito de ampliarem seus
processos cognitivos.
No que diz respeito às quatro fases de Polya, o trabalho do professor deve ser bem-
organizado para que o aluno tenha uma boa orientação e consiga alcançar com êxito o objetivo
de se tornar um bom resolvedor de problemas.
Na primeira fase, que é a compreensão do problema, o professor deve ser muito
atencioso na escolha do problema, pois este deve estar de acordo com as capacidades cognitivas
dos alunos, precisa fazer sentido e ser interessante. Nas palavras de Polya (1997, p. 3), o
professor deve “[...] estabelecer a classe certa de problemas para os alunos: não muitos difíceis,
nem fáceis demais, naturais e interessantes, que desafiem sua curiosidade, adequados a seu
conhecimento”. Nessa primeira etapa, o professor deve orientar os alunos a interpretarem bem
o enunciado, anotarem os dados que são relevantes e identificarem a incógnita. Com a
identificação das partes principais do problema, é possível fazer com que os alunos se
familiarizem com aquela situação, sendo mais fácil relembrar os dados importantes do
problema para proceder em outras fases de resolução.
No decorrer da segunda fase, denominada estabelecimento de um plano, Polya
recomenda que o professor se baseie em sua experiência ao resolver problemas, com base em
seus sucessos e dificuldades, para poder ajudar o aluno da forma mais adequada possível.
Conforme Polya (2006, p. 7), “A melhor coisa que pode um professor fazer por seu aluno é
propiciar-lhe, discretamente, uma ideia luminosa”. Essa ideia não pode revelar tudo para o
aluno, apenas ajudá-lo a traçar o melhor plano.
Na execução do plano, a terceira fase do método de Polya, se o aluno tiver traçado um
bom plano, o professor não terá muito o que fazer nessa etapa, o que pode acontecer é que o
aluno esqueça o plano, então “[...] o professor deve insistir para que o aluno verifique cada
passo” (Polya, 2006, p. 11). Na quarta e última fase, denominada de retrospecto, o professor
deve orientar seus alunos a reexaminarem o resultado final para que eles possam ampliar a sua
compreensão sobre o problema, encorajando-os a imaginar outras situações em que poderão
aplicar os procedimentos utilizados. Dessa maneira,
Portanto, para Polya, o professor deve ser o grande incentivador do aluno, apresentando
situações desafiadoras que instiguem a curiosidade e o gosto por aprender matemática, por meio
de situações-problema que façam sentido no contexto em que o aluno está inserido.
Dante (2002, p. 11) afirma que “Um dos principais objetivos do ensino de Matemática
é fazer o aluno pensar produtivamente e, para isso nada melhor que apresentar-lhes situações-
problema que o envolvam, o desafiem e o motivem a querer resolvê-las”. Portanto, o professor
deve desenvolver nos alunos o espírito explorador, para que eles tenham iniciativa, criatividade
e independência ao resolverem problemas. É importante que o professor apresente os conceitos
matemáticos presentes no dia a dia dos alunos para que estes compreendam que a matemática
é uma ciência muito útil e está presente em tudo. Nesse sentido, é de grande relevância
apresentar situações contextualizadas, a fim de que, além do conteúdo e técnicas matemáticas,
os alunos possam perceber a utilidade da matemática em seu cotidiano.
Mais do que nunca precisamos de pessoas ativas e participantes, que deverão tomar
decisões rápidas e, tanto quanto possível, precisas. Assim, é necessário formar
cidadãos matematicamente alfabetizados, que saibam como resolver, de modo
inteligente, seus problemas de comércio, economia, administração, engenharia,
medicina, previsão do tempo e outros da vida diária (DANTE, 2002, p. 15).
Contudo, Dante (2002) assevera que ensinar a resolver problemas não é uma tarefa
muito fácil, como ensinar conceitos, habilidades ou fórmulas matemáticas, pois “Não é um
mecanismo direto de ensino, mas uma variedade de processos de pensamento que precisam ser
cuidadosamente desenvolvidos pelo aluno com apoio e incentivo do professor” (DANTE 2002,
p. 30). Dessa forma, “[...] o professor deve funcionar como incentivador e moderador das ideias
geradas pelos próprios alunos” (DANTE, 2002, p. 52).
A par disso, Dante (2002) apresenta duas formas para trabalhar com a Resolução de
Problemas em sala de aula, a partir do método de Polya: o trabalho com a classe toda e o trabalho
com pequenos grupos.
No trabalho com a classe toda, o professor deve apresentar “[...] um problema
desafiador, real e interessante, e que não seja resolvido diretamente por um ou mais algoritmos”
(DANTE, 2002, p. 52). Com isso, a partir do diálogo, o professor deve apresentar as quatro
fases da Resolução de Problemas propostas por Polya, sempre questionando os alunos, os
estimulando a resolverem o problema por meio de conhecimentos prévios e ajudando em suas
dúvidas. Ao final, o professor notará que aparecerão várias maneiras diferentes de se resolver
51
o mesmo problema, sendo que todas deverão ser discutidas e analisadas. Já no trabalho com
pequenos grupos, a orientação é a mesma para o processo de resolução, a única diferença é que
os alunos resolverão o problema em grupo, e isso é ótimo para que eles estabeleçam a habilidade
da comunicação e o respeito mútuo. No entanto, a única indicação aqui é “Quanto a formação
dos grupos, é conveniente que não sejam fixos, a fim de permitir uma melhor interação entre
os alunos” (DANTE, 2002, p. 54). Ao final da resolução do problema, no trabalho com
pequenos grupos, o professor deve pedir para que um representante de cada grupo resolva o
problema na lousa, para que, dessa forma, sejam compartilhadas e discutidas as maneiras como
cada grupo lidou com o problema.
Alan H. Schoenfeld (1997) defende que ao trabalhar com a Resolução de Problemas em
sala de aula, o professor deve promover uma aula que habilite os alunos a desenvolverem o
raciocínio lógico quando confrontados com situações-problema, mostrando que por meio disso
é possível tornar as aulas de matemática menos rigorosas e mais atrativas.
Além da forma da aula, Schoenfeld (1997) leva em conta também a motivação que o
professor deve proporcionar aos alunos durante o processo de resolução de problemas, o ensino
de uma estratégia particular que favoreça o entendimento acerca do problema que se está
tentando resolver, além de um modelo de discussão em que se esbocem todos os procedimentos
usados para resolver o problema a serem debatidos em conjunto em sala de aula. Segundo
Schoenfeld (1997, p. 29), “a curto prazo, os benefícios de prestar atenção ao processo de
resolução de problemas em sala de aula são, pelo menos, uma desmistificação da matemática e
uma sala de aula mais animada. Felizmente, os benefícios de longo prazo serão enumerados por
vários anos”.
No âmbito dessa abordagem de ensino, segundo Van de Walle (2009), existe uma
dificuldade com o paradigma “ensinar-então-praticar”, no qual a resolução de problemas é
apartada do processo de aprendizagem. Corroborando, Allevato e Onuchic (2014, p. 38)
também demonstram sua preocupação com essa abordagem:
Van de Walle (2009, p. 57) afirma que a partir do documento ‘Princípios e Padrões para
a matemática Escolar’, conhecido como Standards 2000 do NCTM, “A maioria, senão todos,
dos conceitos e procedimentos matemáticos podem ser ensinados melhor através da Resolução
de Problemas”. Dessa forma ensinar matemática via/através da Resolução de Problemas:
Alguns autores optam por dizer somente ensinar “via” Resolução de Problemas e outros
optam por usar “através” da Resolução de Problemas. Para explicar melhor o significado de
via/através da Resolução de Problemas, Morais e Onuchic (2014, p. 29-30) apontam que:
[...] no ensino “via” resolução e problemas, problemas são validos não só com o
propósito de se aprender matemática, mas também, com significado primeiro de fazer
matemática. O ensino de tópicos matemáticos começa com uma situação-problema
que incorpora aspectos-chave desse tópico e técnicas são desenvolvidas como
respostas razoáveis para problemas razoáveis.
Van de Walle (2009) destaca que no ensino pela Resolução de Problemas, ou seja,
via/através:
[...] os estudantes devem resolver problemas não para aplicar matemática, mas para
aprender nova matemática. Quando os alunos se ocupam de tarefas bem escolhidas
baseadas na resolução de problemas e se concentram nos métodos de resolução, o que
resulta são novas compreensões da matemática embutida na tarefa. Enquanto os
estudantes estão ativamente procurando relações, analisando padrões, descobrindo
que métodos funcionam e quais não funcionam e justificando resultados ou avaliando
e desafiando os raciocínios dos outros, eles estão necessária e favoravelmente se
engajando em um pensamento reflexivo sobre as ideias envolvidas (VAN DE
WALLE, 2009, p. 57).
em seu contexto, ele também pode usá-la para apresentar a importância da matemática para a
humanidade e para a realidade em que os alunos estão inseridos, mostrando sua utilidade.
Dessa maneira, Van de Walle (2009) acredita que o professor em sala de aula deve criar
um ambiente propício à aprendizagem matemática, transmitindo muita confiança, instigando
sempre o espírito de pesquisa. Em sua visão, o professor deve fazer com que os alunos busquem
soluções para os problemas nos conhecimentos adquiridos em situações anteriores.
No trabalho docente guiado pela Resolução de Problemas, não se busca apenas
respostas, mas sim explicações e justificativas que possam ajudar a desenvolver o raciocínio
lógico, favorecendo assim um ensino construtivo centrado na aprendizagem do aluno, em que
o professor é o mediador que não apenas transmite seus conhecimentos, mas cria uma atmosfera
de exploração e de pesquisa que enriquece o processo de ensino-aprendizagem da matemática.
Van de Walle (2009) também apoia uma organização de aula pautada na Resolução de
Problemas, para tanto, ele apresenta o formato de uma aula dividida em três fases, são elas: a
fase antes de uma lição, a fase durante de uma lição e a fase depois de uma lição.
58
Os professores que ensinam deste modo nunca retornam a um método de ensinar por
exposição de regras [e receitas]. O estímulo dos alunos para desenvolver sua
compreensão através de seu próprio raciocínio merece todo o esforço. E, é claro que,
é divertido para eles (VAN DE WALLE, 2009, p. 59).
2) Leitura individual – Deve-se entregar uma cópia impressa do problema gerador para
cada aluno e solicitar que façam sua leitura. Ao ler de forma individual, o aluno tem
a possibilidade de refletir e desenvolver o seu próprio entendimento sobre o
problema que foi proposto.
3) Leitura em conjunto – Nessa etapa, o professor deve orientar que os alunos se juntem
pequenos grupos, solicitando que eles façam a leitura do problema em cada grupo
em conjunto. Caso haja alguma dificuldade na leitura, o professor pode esclarecer
as dúvidas e ajudar os alunos a interpretarem o problema.
4) Resolução do problema – A partir da compreensão do enunciado e do
esclarecimento de todas as dúvidas, os alunos iniciam a resolução do problema
gerador, que proporcionará a aquisição do novo conhecimento necessário para
aprender o conteúdo planejado pelo professor para aquela aula. A ação dos alunos
nessa etapa se concentra em traçar o melhor caminho e decidir as estratégias que
serão utilizadas para a resolução do problema com base em seus conhecimentos
prévios.
5) Observar e incentivar – O professor deve observar o trabalho dos alunos,
estimulando-os a usarem seus conhecimentos prévios e técnicas matemáticas já
conhecidas, buscando incentivar também a troca de ideias entre os grupos. Com isso,
o professor pode auxiliar nas dúvidas e dificuldades, porém, não deve conceder
respostas prontas para os alunos, atuando sempre como interventor e questionador.
6) Registro das resoluções na lousa – Nesse momento o professor convida um
componente de cada grupo, para registrar na lousa, a resolução do problema, com
isso, deve-se levar em consideração todos os tipos de resolução encontradas, sejam
elas (certas, erradas ou maneiras diferentes de se resolver o mesmo problema).
7) Plenária – Nessa etapa o professor juntamente com toda a turma comenta e discute
as resoluções registradas na lousa. Cabe ao professor ser o guia e mediador dessas
discussões, incentivando sempre a participação ativa de seus alunos. Com isso, os
alunos devem esclarecer suas dúvidas e defenderem seus pontos de vista. Essa etapa
configura-se em um dos momentos mais ricos para a aprendizagem.
8) Busca do consenso – Após serem analisados e discutidos todos os resultados para o
problema proposto, o professor deve incentivar os alunos a chegarem a um consenso
relativo à resposta correta para o problema. Portanto, essa etapa torna-se
fundamental, pois a partir dela os alunos conseguem aperfeiçoar a leitura e escrita
62
Isso significa dizer que, quando o professor adota essa metodologia, os alunos podem
aprender tanto sobre resolução de problemas, quanto aprendem matemática para
resolver novos problemas, enquanto aprendem Matemática através da resolução de
problemas. (ALLEVATO, 2005, p. 61).
Tal metodologia demanda professores bem preparados para o seu uso, pois precisam
selecionar cuidadosamente os problemas; observar os alunos na busca de soluções
para esses problemas, incentivá-los e ouvi-los, mantendo-os confiantes na própria
capacidade para resolvê-los. Nas salas de aula onde essa metodologia foi adotada, os
alunos se sentiram aptos a dar sentido à matemática que constroem. Professor e
alunos, depois dessa experiência, não querem voltar a trabalhar com o método de
ensino tradicional (ONUCHIC, 2013, p. 103).
Outra proposta metodológica que os professores podem ter em mãos para trabalhar com
63
empregado como estratégia ou mesmo por não tentar entender o raciocínio utilizado em uma
estratégia” (PROENÇA, 2018, p. 47).
A segunda ação é a introdução do problema, para isso, recomenda-se que o professor
divida a turma em grupos, com a finalidade de proporcionar o maior compartilhamento de
informações e de conhecimentos advindos de situações anteriores, facilitando também que
sejam sanadas dúvidas e os alunos sejam auxiliados em suas dificuldades. Em seguida, com os
grupos estabelecidos, o professor deve entregar a situação para que os alunos possam tentar
resolvê-la. Segundo Proença (2018, p. 51), a orientação que o professor deve fornecer aos
grupos é a de que eles “[...] tentem resolver da maneira como quiserem ou como acharem
conveniente, utilizando o que já sabem de matemática. É nesse momento de início da tentativa
de resolução que a situação pode se configurar como algo difícil ao grupo, isto é, pode se tornar
um problema”.
O auxílio dos alunos durante a resolução é a terceira ação desse processo e visa a
auxiliar e direcionar os grupos na resolução da situação proposta, com isso, o papel do professor
“[...] é o de observador, incentivador e direcionador da aprendizagem, apoiando os alunos a
desenvolver autonomia frente ao processo de resolução” (PROENÇA, 2018, p. 51). Por meio
desse papel, o professor conseguirá avaliar o desempenho dos grupos e identificar as
dificuldades vivenciadas por eles. Será possível detectar também os grupos que não estão
conseguindo encontrar nenhum caminho para a resolução do problema, nesse caso, o professor
pode direcionar o grupo a usar uma das estratégias previamente elaboradas por ele em seu
planejamento, no entanto, não deve revelar demais, apenas o suficiente para que o grupo tenha
um norte.
Prosseguindo, a quarta ação é a discussão das estratégias dos alunos, tendo o intuito de
promover a socialização das resoluções feitas por cada grupo, então, para isso, cada grupo deve
fazer o registro da sua resolução na lousa, isso ajudará os alunos a perceberem as relações entre
as estratégias utilizadas por cada um dos grupos. Nessa ação, cabe ao professor mostrar as
dificuldades, os equívocos, o uso inadequado de conceitos e procedimentos matemáticos, bem
como também elucidar as dúvidas sobre todas as estratégias utilizadas para a resolução do
problema. “Por fim, deve-se levar os alunos a perceber a necessidade de se avaliar a
racionalidade da resposta encontrada, ou seja, se a resposta está de acordo com a natureza do
contexto do problema. Deve-se, contudo, levar os alunos a sintetizar o que aprendem”
(PROENÇA, 2018, p. 52).
Na quinta e última ação, articulação das estratégias dos alunos ao conteúdo, o objetivo
principal é “[...] buscar articular as estratégias dos alunos ao conteúdo/conceito/assunto que se
65
quer ensinar. Nesse momento, o papel do professor é utilizar pontos centrais de uma estratégia
e tentar relacioná-la ao conceito ou a uma expressão matemática (fórmula, algoritmo etc.)”
(PROENÇA, 2018, p. 52).
Podemos notar que existem várias concepções para se trabalhar com a Resolução de
Problemas em sala de aula, e em todos eles o professor exerce um papel fundamental, pois é
ele quem planejará e organizará todo o processo de aprendizagem, tendo sempre por objetivo
melhorar a aprendizagem dos seus alunos, preparando-os para a vida.
e dificuldades dos alunos, também oferece uma maneira de avaliar as capacidades e limitações
que seus alunos possuem ao decorrer desse trabalho. É ainda uma fonte de trabalho riquíssima
para envolver a contextualização e a interdisciplinaridade em sala de aula.
67
[...] a base é pensada e no seu texto introdutório, com duas principais justificativas
para seu estabelecimento: i) por estar prevista na legislação nacional – Constituição
de 1988 (BRASIL, 1998), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN/96), Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024); ii) pela concepção de
que uma normativa desta natureza garantirá o direito à aprendizagem e,
68
Figura 5 – Marcos legais que embasam a BNCC e aqueles que se embasarão na BNCC
3
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico. Acesso em: 01 mar. 2022.
70
4
Disponível em: https://observatorio.movimentopelabase.org.br/o-dia-d-da-bncc/. Acesso em: 01 mar. 2022.
71
criados comitês de debate em que essas pessoas puderam sugerir melhoras para o documento
da base a partir de um formulário online.
A partir desse grande percurso que teve sua origem prevista na Constituição Federal de
1988, a BNCC foi homologada em 2018, contemplando todas as etapas da educação básica.
Callegari (2018, p. 9) aponta que “A BNCC recém-aprovada pelo Conselho Nacional de
Educação é obra de milhares de mãos em diferentes tempos da história recente”. O autor
também afirma que:
A BNCC é fruto de uma determinação legal e tem por objetivo contribuir com o
trabalho das escolas e seus professores. Ela é o resultado de um longo processo de
discussões envolvendo amplos setores da sociedade que lutam para que todos tenham
acesso à educação de qualidade, independentemente do local e da condição social em
que vivam (CALLEGARI, 2018, p. 7).
Dessa forma, a BNCC é um documento de caráter normativo, ou seja, tem valor de lei,
definindo assim, “o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os
alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica” (BRASIL,
2018a, p. 7). Conforme Callegari (2018, p. 12):
Portanto, a BNCC não é um currículo a ser seguido, mas sim um documento que traz os
referenciais para a elaboração curricular “dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares”
(BRASIL, 2018a, p. 8). Corroborando esse contexto, Bes et al (2019, p. 107) afirmam que:
Como a BNCC não se constitui como um currículo, mas, sim, como um documento
de referência para a sua elaboração, cabe aos sistemas de ensino, às escolas e aos
professores pensar em formas efetivas de organização curricular que respeitem as
diferenças, garantam os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento constantes na
BNCC e a qualidade do ensino.
um documento que visa em seu contexto à melhoria da qualidade da educação, existem ainda
diversas críticas a seu respeito.
[...] o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criado pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em 1998, para ser aplicado anualmente aos
alunos concluintes e aos egressos deste nível de ensino, com o objetivo fundamental
de avaliar o desempenho do aluno ao término da escolaridade básica, para aferir o
desenvolvimento de competências fundamentais ao exercício pleno da cidadania
(BRASIL, 2002a, p. 5).
A primeira edição do Enem ocorreu no dia 30 de agosto de 1998 e teve um total 157.221
inscritos, tendo um total de 4 horas de duração, iniciando às 13 horas, tomando sempre como
base o horário de Brasília. Nessa primeira edição, o Enem conseguiu alcançar 184 municípios
brasileiros.
Entre 1998 e 2008, a avaliação era composta por 63 questões contextualizadas e
interdisciplinares e aos participantes também cabia a realização de uma redação. Ferreira (2019,
p. 107) afirma que:
Dessa forma, o exame passou a trazer questões nas seguintes áreas do conhecimento,
respectivamente, sobre o 1° e 2° dia de prova:
Ciências da natureza e suas tecnologias (química, física e biologia); Ciências humanas
e suas tecnologias (história, geografia, filosofia e sociologia). Com um total de 90 questões
objetivas e 4h30min de duração de prova, respeitando o horário de Brasília em ambos os dias.
Linguagens, códigos e suas tecnologias (língua portuguesa, língua estrangeira, que
poderia ser inglês ou espanhol, sendo que a partir do ano 2010 foram acrescentadas as
disciplinas de artes e educação física);
Matemática e suas tecnologias e Redação, contando com 90 questões objetivas, tendo
a duração de 5h30min, com um tempo maior para realização da redação.
Sendo assim, o Enem deixou de empregar o papel inicial de apenas avaliar a
aprendizagem dos estudantes ao término da educação básica para se tornar o principal meio de
entrada nas universidades brasileiras, sendo que ainda até o ano de 2017 era usado também para
obtenção de diploma de conclusão do ensino médio.
Em 2009, o Enem toma outro formato e passa a ser utilizado como critério de seleção
das universidades federais e a induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio,
além de habilitar os estudantes a concorrerem a bolsas integrais ou parciais no
Programa Universidade para Todos (ProUni) ou, ainda, a conseguirem o subsídio do
Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). O exame serviu
também, até 2017, como certificação de conclusão do ensino médio para os alunos da
Educação de Jovens e Adultos (EJA), em substituição ao Exame Nacional para
74
Outra mudança que ocorreu nessa avaliação a partir de 2009 foi a adoção da Teoria de
Resposta ao Item (TRI) para a correção da prova objetiva. Essa teoria é adotada, segundo Brasil
(2011), na maioria dos programas de avaliação em larga escala do mundo e se baseia nas ideias
de Lawley (1943) e Lord (1952). Com o decorrer do tempo, essa teoria ganhou a implementação
de softwares que permitiram modelos matemáticos mais sofisticados. No Enem, essa teoria foi
utilizada como uma alternativa metodológica para a análise do desempenho dos participantes e
produção dos resultados destes. A TRI é composta por parâmetros estatísticos e possui uma
escala que é usada para classificar os estudantes de acordo com a resposta individual e a resposta
do conjunto de todos os participantes da avaliação. Dessa forma,
Sendo assim, esse modelo de análise dos resultados adotado para o Enem baseia-se em
três parâmetros, os quais são: discriminação, dificuldade e controle e coerência. Marins (2016,
p. 254) explica cada um desses parâmetros:
Em 2017 houve outra mudança no Enem, a partir de uma consulta pública com a
população brasileira, foi determinado que o Enem seria realizado em dois domingos
consecutivos e a certificação de conclusão do ensino médio para estudantes da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) passou a ser de responsabilidade novamente e exclusivamente do
Exame Nacional para Certificação de Jovens e Adultos (Encceja). Houve também a
reordenação das áreas do conhecimento, sendo que as provas do 1° dia foram nas áreas de:
linguagens, códigos e suas tecnologias, redação e ciências humanas e suas tecnologias,
enquanto o 2° abrangeria ciências da natureza e suas tecnologias e matemática e suas
tecnologias.
75
Com a homologação da BNCC, em 2018, Callegari (2018, p. 26) aponta que “A BNCC
funcionará como uma espinha dorsal do sistema educacional brasileiro, promovendo a
articulação dos seus diferentes segmentos”. Dessa forma, a BNCC será o documento que
fomentará os diversos segmentos da educação brasileira. Conforme podemos notar na figura 6,
a BNCC se encontra no centro e os segmentos da educação, como recursos didáticos, concursos
de admissão, formação inicial e continuada de professores, avaliações externas e o currículo
76
Dessa forma, o objetivo das avaliações externas em larga escala é de fornecer elementos
que possam subsidiar a formulação e monitoramento de políticas públicas, bem como auxiliar
o trabalho dos profissionais da educação ditando o redirecionamento das práticas pedagógicas,
a fim de ser um instrumento para o acompanhamento e melhoria do processo de ensino-
aprendizagem. Bes et al., (2019, p.14-16) salienta que:
Portanto, ao que tudo indica, o Enem precisará ser atualizado nos próximos anos para
atender aos objetivos impostos nas resoluções e portarias do MEC, adaptando-se aos
referenciais curriculares estabelecidos pela BNCC em suas aplicações futuras.
Outra informação relevante para sua compreensão é a identificação das habilidades por
código alfanumérico, cuja organização pode ser visualizada na figura 8:
81
Com base na figura 8, temos que na BNCC para a área de Matemática e suas
Tecnologias, o termo que relaciona às habilidades com o componente curricular é caracterizado
pelo uso da abreviação MAT no código alfanumérico. Como exemplo, temos a habilidade
EM13MAT101, que se refere à primeira habilidade relacionada à competência específica
número 1 da área de Matemática e suas Tecnologias.
No que concerne as competências gerais da BNCC para todas as etapas da educação
básica, são formadas por 10 itens que articulam-se atuando para estabelecer a construção de
conhecimentos, favorecendo o desenvolvimento de habilidades e também a formação de
atitudes e valores. Dentre as dez competências gerais da BNCC para a educação básica temos
duas que retratam a importância da Resolução de Problemas:
conhecimentos para outros problemas. Portanto, ainda na BNCC, há uma visão de que a
Resolução de Problemas deve ser aplicada a conteúdos de forma que, a partir deles, os alunos
possam praticar matemática, ou seja, assume a abordagem mais tradicional da pesquisa em
Resolução de Problemas Matemáticos.
No entanto, verifica-se também a influência da abordagem “ensinar sobre resolução de
problemas” com a matemática, sendo vista como algo útil à realidade. Dessa maneira, há um
foco muito grande em torná-la contextualizada, levando em consideração o contexto em que os
estudantes estão inseridos que na maioria das vezes são “[...] impactados de diferentes maneiras
pelos avanços tecnológicos, pelas exigências do mercado de trabalho, pelos projetos de bem
viver dos seus povos, pela potencialidade das mídias sociais, entre outros” (BRASIL, 2018a, p.
528).
Nesse sentido, na BNCC para o ensino médio na área de Matemática e suas Tecnologias,
a Resolução de Problemas exerce um papel cognitivo para a formação dos estudantes no sentido
de torná-los “bom resolvedores de problemas”, assumindo com mais rigor a perspectiva teórica
da abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, haja visto o caráter propedêutico dessa
etapa da educação básica. Assim, a Resolução de Problemas adquire um sentido de preparação
para a vida, em vista disso, os problemas adotados para o ensino da matemática nessa etapa
devem ter caráter interdisciplinar e contextualizado.
(EM13MAT315) Investigar e registrar, por meio de um fluxograma, quando possível, um algoritmo que
resolve um problema.
(EM13MAT316) Resolver e elaborar problemas, em diferentes contextos, que envolvem cálculo e
interpretação das medidas de tendência central (média, moda, mediana) e das medidas de
dispersão (amplitude, variância e desvio padrão).
(EM13MAT505) Resolver problemas sobre ladrilhamento do plano, com ou sem apoio de aplicativos de
geometria dinâmica, para conjecturar a respeito dos tipos ou composição de polígonos que
podem ser utilizados em ladrilhamento, generalizando padrões observados.
(EM13MAT507) Identificar e associar progressões aritméticas (PA) a funções afins de domínios discretos,
para análise de propriedades, dedução de algumas fórmulas e resolução de problemas.
(EM13MAT508) Identificar e associar progressões geométricas (PG) a funções exponenciais de domínios
discretos, para análise de propriedades, dedução de algumas fórmulas e resolução de
problemas.
Fonte: Adaptado pela autora com base em BRASIL, 2018a, p. 533-541.
Com base na análise das competências e habilidades, percebemos que o foco da BNCC
para o ensino médio não está somente na ideia de transformar os estudantes em bons
resolvedores de problemas e desenvolver o raciocínio lógico, mas também no ideal de utilizar
a Resolução de Problemas Matemáticos como recurso didático de investigação. Com isso, o
sentido de Resolução de Problemas se amplia, abarcando novos significados, conforme Brasil
justifica em seu texto (2018a, p. 536).
Posto isso, verifica-se uma grande relevância dada às heurísticas, que é a forma como
os estudantes organizam seus pensamentos para conseguirem um melhor desempenho na
resolução de problemas. Além disso, incluem os caminhos que buscam para tentar solucionar
problemas e que, ao final, devem justificar a solução procurando argumentos consistentes.
Portanto, mais uma vez verificamos a influência da abordagem “ensinar sobre resolução de
problemas”. A BNCC recomenda que “[...] os estudantes deverão mobilizar seus
conhecimentos e habilidades a fim de identificar conceitos e conceber um processo de
resolução” (BRASIL, 2018a, p. 535). Nota-se então, com base nesses fragmentos do texto da
BNCC, a importância dada ao processo de resolução de problemas.
Verifica-se ainda, em alguns excertos da BNCC, uma certa aproximação de “etapas de
resolução de problemas” de alguns teóricos da Resolução de Problemas Matemáticos. Um
desses excertos aponta que
89
No entanto, a BNCC para o ensino médio não consegue englobar todos os significados
da abordagem “ensinar via/através da resolução de problemas”, não há nela uma perspectiva
que traga a utilização da Resolução de Problemas Matemáticos ao longo de todo o processo de
ensino-aprendizagem em matemática, em que o professor realiza um trabalho didático-
pedagógico no qual se utilizem problemas em todo o percurso trilhado por ele. Isso deve se dar
no sentido de iniciar, treinar e avaliar os estudantes por meio de situações-problema, mas não
podemos negar que a BNCC para o ensino médio aponta indícios do uso dessa perspectiva,
visando ampliar os benefícios da Resolução de Problemas Matemáticos.
Por fim, temos que na BNCC para o ensino médio, a Resolução de Problemas
Matemáticos é vista de forma mais aprofundada sob a perspectiva teórica da abordagem
“ensinar sobre resolução de problemas”. Embora ainda se note a forma mais tradicional e
conteudista de se abordar essa metodologia, mediante a abordagem “ensinar para resolução de
problemas”, por meio da aplicação da resolução de problemas focada em diversos conteúdos
matemáticos. Observa-se também o ideal de se trazer a abordagem mais conveniente da
Resolução de Problemas Matemáticos a “ensinar via/através da resolução de problemas”.
Entretanto, é possível observar apenas nuances dessa abordagem, não sendo possível afirmar
que esta seria a perspectiva teórica mais notória na BNCC.
Portanto, a perspectiva mais notada na BNCC do ensino médio, como afirmado
anteriormente, é a abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, pois, além de notarmos
um método de resolução de problemas completo baseado nas 4 fases de resolução de Polya
(2006), percebe-se a relevância de se dar significado à matemática, de apresentar aos alunos
problemas que condigam tanto com a sua realidade quanto com a realidade da sociedade. Isso
no sentido de que os conhecimentos adquiridos por meio do processo de resolução de problemas
poderão acompanhar os alunos por muito tempo, adquirindo o significado de preparação para
vida, no intuito de que ao se depararem com situações que demandem um pensamento mais
reflexivo, os alunos possam dispor de ferramentas para elaborarem de forma crítica e reflexiva
caminhos para solucioná-las e justificá-las com convicção.
Nesse sentido, faz-se necessário que o professor de matemática do ensino médio
compreenda a BNCC e seu papel na formação básicas dos estudantes, entendendo a Resolução
de Problemas como uma metodologia de ensino que pode trazer contribuições significativas
para o processo de ensino-aprendizagem de matemática, sendo uma forma de atingir as
91
Em um primeiro momento, o Enem, desde seu surgimento, em 1998, até o ano de 2008,
possuía apenas o objetivo fundamental de avaliar o desempenho do estudante ao término da
escolaridade básica para examinar o desenvolvimento das competências essenciais para o
exercício pleno da cidadania. Sendo assim, o Enem era composto também por competências e
habilidades.
Entretanto, até o ano de 2008, o exame possuía cinco competências gerais e 21
habilidades gerais, dessa forma, não existia a divisão ainda por áreas do conhecimento. Por esse
motivo, as habilidades não estavam relacionadas diretamente a essas áreas, como, por exemplo,
a área matemática e suas Tecnologias. Conforme aponta o INEP (2018, p. 12), “cada uma das
cinco competências que estruturam o exame, embora correspondam a domínios específicos da
estrutura mental, funcionam de forma orgânica e integrada. Elas expressam-se, especificamente
no caso do Enem (1998-2008), em 21 habilidades”.
Em 2009, o Enem mudou, sendo que o seu objetivo, além de avaliar o desempenho dos
estudantes ao fim da escolaridade básica, passou a incluir se tornar um dos principais meios de
acesso às universidades federais do país. Então, “diante desse novo cenário, o INEP viu-se na
necessidade de não apenas se organizar para um crescente número de participantes, mas ampliar
92
Com isso, em 2009, houve a reformulação das Matrizes de Referência para o Enem,
sendo estruturada em quatro áreas do conhecimento, estando contidas nesse documento, além
dos eixos cognitivos comuns a todas as áreas do conhecimento, as competências específicas e
habilidades ligadas a cada área do conhecimento.
Assim como na BNCC, o Enem também traz a área do conhecimento matemática e suas
tecnologias, bem como também competências específicas e habilidades relacionadas a essa
área. Além disso, de forma geral, traz os eixos cognitivos relacionados a todas as áreas do
conhecimento.
Segundo o INEP (2013), os eixos cognitivos são comuns a todas as áreas do
conhecimento e correspondem aos domínios da estrutura mental, funcionando de forma
93
Com base nas análises realizadas e por se tratar de uma avaliação, a estrutura do Enem
é basicamente composta por situações-problema que tem por objetivo examinar “se o
participante é capaz de transformar dados e informações, articulando-os para resolver os
problemas propostos” (BRASIL, 2002a, p. 15), ou seja, verifica-se a demonstração dos
conhecimentos dos participantes.
Segundo Fainguelernt e Nunes (2012), o Enem se destaca por ser uma avaliação
contextualizada e interdisciplinar e por considerar a ideia de situação-problema envolvendo o
cotidiano. Quando trabalhadas em sala de aula no ensino de matemática, essas questões trazem
experiências contextualizadas e interdisciplinares que estão de acordo com o uso da
metodologia de Resolução de Problemas.
O modelo de avaliação adotado por esse exame dá ênfase na aferição das estruturas
mentais com as quais construímos continuamente o conhecimento e não apenas na
memória. A prova é interdisciplinar e contextualizada. E mais que saber conceitos,
esse exame exige que o estudante saiba interpretar, transferir e aplicar os conteúdos
de matemática em diferentes situações-problema (FAINGUELERNT; NUNES, 2012,
p. 16-17)
conhecer essa diferença nesse campo de pesquisa. Desse modo, segundo o INEP (2005, p. 15),
com relação ao que significam exercício e problema, temos que: “Em síntese, exercício é o
repetir, como meio para uma outra finalidade: por exemplo, caminhar para promover um
trabalho cardiovascular. Problema é o que surpreende nesse exercício, é o novo, o que supõe
invenção, criatividade, astúcia.” Sendo assim, o INEP (2005) considera uma situação-problema
questões que podem desencadear um processo para sua resolução, adotando para isso o método
de George Polya como o mais ideal. “Um problema supõe um projeto mais complexo, que
envolve, para seguir o esquema clássico de Polya, interpretação da questão proposta,
planejamento, execução e avaliação. Envolve também atenção, malícia, espírito crítico e
reflexão” (INEP, 2005, p. 16).
Como tal característica, na fundamentação teórico-metodológica do Enem, a Resolução
de Problemas é uma competência que envolve o domínio de muitas habilidades, tais como ler,
interpretar, comparar, calcular; responder por escrito, tomar decisões sobre qual alternativa
expressa a melhor escolha para o problema que for proposto. Nesse sentido, uma situação-
problema é vista nesse documento como:
[...] elaborar questões para o Enem constitui uma ação que se reveste do caráter
inovador do exame, à medida que elas se organizam em torno de situações-problema
96
norteadores da educação brasileira a respeito desse tema para que o seu papel na prática possa
ser desempenhado com excelência.
98
Há algum tempo a formação de professores vem se tornado uma área de pesquisa muito
útil, complexa e fundamental, sendo muito discutida entre os estudiosos do campo da educação,
oferecendo soluções aos problemas do sistema educativo (GARCÍA, 1999). Corroborando,
Cavalcante (2013, p. 22) aponta que
Assim, a formação pode ser entendida como uma função social de transmissão de
saberes, de saber-fazer ou do saber-ser que se exerce em benefício do sistema
socioeconômico, ou da cultura dominante. A formação também pode ser entendida
como um processo de desenvolvimento e de estruturação da pessoa que se realiza com
o duplo efeito de uma maturação interna e de possibilidades de aprendizagem, de
experiências dos sujeitos. Por último é possível falar-se da formação como instituição,
quando nos referimos à estrutura organizacional que planifica e desenvolve as
actividades de formação (GARCÍA, 1999, p. 19).
conhecimento adquirido na prática de sua profissão, nesse sentido, faz-se necessário que o
professor reflita sobre suas ações e que, de forma consciente, possa proporcionar e intervir,
levando melhorias ao processo de ensino e aprendizagem.
Um profissional reflexivo deve estar atento aos padrões de fenômenos, ser capaz de
descrever o que observa, estar inclinado a propôr modelos ousados e, às vezes,
radicalmente simplificados de experiência e ser engenhoso ao propor formas de testá-
los que sejam compatíveis com os limites de um ambiente de ação (SCHÖN, 2007, p.
234).
Com isso, entende-se que o professor reflexivo deve conhecer as demandas da sala de
aula, a qual é seu ambiente de ação, devendo compreender também que a sala de aula é um
espaço dotado de complexidade e dinamismo. Segundo Schön (2007), dizer que o professor
reflexivo tem seu conhecimento pautado em sua prática não significa que o professor deve
desprezar os conhecimentos acadêmicos adquiridos durante a sua formação, mas sim que esses
conhecimentos serão um importante instrumento para gerar reflexões sobre a sua prática. Posto
isso, entra-se em campo o papel da teoria e prática, em que, segundo Altet, (2008, p. 26), para
o professor reflexivo,
[...] a dialética entre teoria e prática é substituída por um ir e vir entre PRÁTICA-
TEORIA-PRÁTICA; o professor torna-se um profissional reflexivo, capaz de analisar
as suas próprias práticas, de resolver problemas, de inventar estratégias; a formação
apoia-se nas contribuições dos praticantes e dos pesquisadores; ela visa a desenvolver
no professor uma abordagem das situações vividas do tipo AÇÃO-
CONHECIMENTO-PROBLEMA, utilizando conjuntamente prática e teoria para
construir no professor capacidades de análise de suas práticas e de metacognição.
humana, ou seja, pode ser considerado o saber fazer que se manifesta por meio da interiorização
de vários saberes que são constituídos mediante as experiências cotidianas ligadas às reflexões
dos acontecimentos profissionais. Já a reflexão sobre a prática é aquela analisada a partir de três
pontos de vista: a reflexão-na-ação, a reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão-na-
ação.
A reflexão-na-ação é o que corresponde à reflexão realizada na ação pedagógica, seria
o momento em que o professor utiliza o fazer e o pensar simultaneamente em sua atuação
docente, tendo por objetivo intervir nas situações que já estão ocorrendo em sala de aula,
refletindo conscientemente sobre os eventos cotidianos no momento em que os vivencia.
Segundo Schön (2007, p. 34), na reflexão-na-ação, “[...] o repensar de algumas partes de nosso
conhecer-na-ação leva a experimentos imediatos e a mais pensamentos que afetam o que
fazemos – na situação em questão e talvez em outras que possamos considerar como
semelhantes a ela”.
A reflexão sobre a ação é o que ocorre após a ação pedagógica, no sentido de que o
professor deve fazer um trabalho reflexivo sobre sua prática, tendo por objetivo estabelecer um
retrospecto sobre o seu trabalho docente, procurando analisar os momentos que deram certo na
aula e os momentos que poderiam ser melhorados.
E, por último, a reflexão sobre a reflexão-na-ação, que, segundo Schön (2007, p. 226),
é a reflexão “pela qual os profissionais, às vezes, adquirem nova compreensão de situações
indeterminadas e vislumbram novas estratégias de ação”. Dessa maneira, tal reflexão se torna
complexa e engloba as outras perspectivas de reflexões, exigindo uma reconstrução da prática
pedagógica.
Segundo García (1999), o professor que em sua formação desenvolveu características
de um professor reflexivo conseguirá obter mais êxitos relacionados às aprendizagens dos
estudantes, “[...] a formação de professores procura desenvolver nos docentes um estilo próprio
e assumido reflectidamente, de modo a produzir nos alunos uma aprendizagem significativa”
(GARCÍA, 1999, p. 23).
Outro referencial importante para as discussões referentes à formação de professores
são os saberes necessários à prática docente. Segundo Pimenta (1999), a formação sempre
estará relacionada à mobilização de vários tipos de saberes, como, por exemplo os saberes de
uma prática reflexiva, saberes de uma teoria especializada, saberes de uma militância
pedagógica.
102
apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura
erudita e de formação para a cultura erudita (TARDIF, 2014, p. 38).
Portanto, tanto a formação inicial quanto a continuada fazem parte de um ciclo contínuo
105
e permanente que visa ao desenvolvimento profissional, que, segundo Imbernón, (2010, p. 113),
é o “desenvolvimento pedagógico, o conhecimento e a compreensão de si mesmo, o
desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento teórico e a situação laboral que permitem ou
impedem o desenvolvimento de uma carreira docente”. Consequentemente, a formação é
contínua, sendo vista
5
A nomenclatura Formação de Professores que ensinam Matemática segue os pressupostos do Grupo de Trabalho
(GT) 07, da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM, tendo por objetivo estudar a formação de
professores de matemática e de pedagogia, levando em conta a atividade nos anos iniciais da educação básica.
106
Em um sentido mais estrito, aos professores que atuarão no ensino médio, as diretrizes
para a formação de professores da educação básica apontam que é fundamental que os
professores possam estimular os alunos a valorizar o conhecimento, os bens culturais e o
trabalho, levando o aluno a ter autonomia e, principalmente, o pensamento crítico e reflexivo
para conseguir “selecionar o que é relevante, investigar, questionar e pesquisar; a construir
hipóteses, compreender, raciocinar logicamente; a comparar, estabelecer relações, inferir e
generalizar; a adquirir confiança na própria capacidade de pensar e encontrar soluções” (Brasil,
2002b, p. 10).
O ensino médio, conforme Brasil (2002b), é composto por saberes disciplinares, nos
quais cada saber em particular se articula a outros saberes que pertencem a uma mesma área da
organização curricular. Diante desse cenário, a formação do professor que atuará no ensino
médio precisa contemplar “[...] a necessária compreensão do sentido do aprendizado em cada
área, além do domínio dos conhecimentos e competências específicos de cada saber disciplinar”
(BRASIL, 2002b, p. 28). Dessa forma, esse documento indica que a formação inicial do
professor deve contribuir para o ensino, tendo o propósito de melhorar a aprendizagem dos
107
alunos, utilizando metodologias e estratégias diferenciadas. Com base nesses excertos, nota-se
que esse tipo de formação só pode ser construído a partir da prática reflexiva dos professores,
tanto em caráter individual quanto coletivo. Logo, a aprendizagem “deve ser orientada pelo
princípio metodológico geral que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta a
resolução de situações-problema como uma das estratégias didáticas privilegiadas” (BRASIL,
2002b, p. 41).
Para compreender esse cenário, particularmente sobre a esfera da formação dos
professores que ensinam matemática no ensino médio temos as diretrizes curriculares para os
cursos de matemática, bacharelado e licenciatura (BRASIL, 2002c), que específica à
Licenciatura em Matemática o principal objetivo de formar professores para a educação básica.
Dessa maneira, essa formação deseja que seus egressos possuam as seguintes características:
Art. 10. A formação inicial destina-se àqueles que pretendem exercer o magistério da
educação básica em suas etapas e modalidades de educação e em outras áreas nas
quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, compreendendo a articulação entre
estudos teórico-práticos, investigação e reflexão crítica, aproveitamento da formação
e experiências anteriores em instituições de ensino (BRASIL, 2015b, p. 9).
De acordo com Santos e Ferreira (2020, p. 39), na BNCC os professores são vistos como
“sujeitos que põem “em prática” as dez competências gerais e, para que isso aconteça, é
necessário que a mudança desencadeada pela BNCC atinja também a formação de professores”.
Dessa forma, Santos e Ferreira (2020, p. 39) afirmam que “A formação de professores foi o
último eixo a perceber os efeitos do sistema de pensamento instaurado a partir da homologação
da BNCC”.
Nesse sentido, Callegari (2018) explana que por mais que o Brasil tenha políticas
públicas cujo objetivo é formar o professor com plenitude, sabedor de suas competências e
deveres, o sistema de formação profissional de professores no país ainda é deficiente. Segundo
ele, “Os diagnósticos convergem ao apontar que a maior parte dos cursos de licenciatura não
forma profissionais suficientemente preparados para enfrentar os desafios de o que ensinar e
como ensinar” (CALLEGARI, 2018, p. 28). E no que se refere à formação continuada, muitos
professores que já atuam na educação básica são portadores de muitas lacunas, e para que se
possa sanar essas lacunas, todos os anos os órgãos educacionais brasileiros gastam grande parte
da verba na realização de programas de formação continuada e de atualização, entretanto, “[...]
no mais das vezes, são ações dispersas e fragmentadas, com baixa repercussão na qualidade de
ensino e da aprendizagem” (CALLEGARI, 2018, p. 29).
Além disso, os cursos de licenciatura são também acusados de serem muito teóricos
e pouco práticos e de se desenvolverem com pouca ou nenhuma inserção nas redes de
ensino da educação básica. A tendência a culpar a formação de professores pelos maus
desempenhos da educação básica é reforçada, inclusive, pelos organismos
internacionais que têm apontado a prioridade dos investimentos nesse campo, a fim
de melhorar os índices de aproveitamento dos estudantes e das escolas (GARCIA;
FERREIRA; MARSICO, 2020, p. 211).
Para tanto, Callegari (2018) aponta como positivas as mudanças que a BNCC
proporcionará para a formação inicial e continuada de professores.
Para Callegari (2018), a BNCC será um guia para que os professores possam refletir e
mudar suas práticas, no sentido de poder verificar o que já fazem de forma correta e o que ainda
precisam adequar para o efetivo trabalho docente.
De igual modo, para Perez (2018), a BNCC servirá de guia, dessa maneira, “[...] os
educadores de cada localidade devem realizar uma análise detalhada do currículo em uso e do
que é proposto na BNCC” (PEREZ, 2018, p. 13). Segundo a autora, os educadores devem:
Sendo assim, segundo Pereira e Silva (2020, p. 118), a BNCC “pressupõe o modelo de
formação de um profissional de “amplo perfil”, versátil, capaz de tomar decisões, refletir sobre
sua prática e imbuído do compromisso de uma educação para o exercício da cidadania”.
Entretanto, essa não é uma tarefa fácil, para Castro (2020, p. 109),
Conforme podemos notar, essas diretrizes deixam bem claro que a formação de
professores deve levar em consideração o desenvolvimento das competências gerais em
ambiente escolar, ou seja, esta se torna uma das condições que os professores, ainda em sua
formação inicial, precisam adquirir, tendo por objetivo estabelecer a educação integral.
Dessa maneira, no que diz respeito a uma formação de professores pautada nos preceitos
da BNCC, uma análise de suas diretrizes revela uma forte familiaridade entre os dois
documentos. Percebe-se que a BNC-Formação traz as competências gerais dos docentes, as
competências específicas e também as habilidades relacionadas às competências específicas.
No diz respeito às competências gerais dos docentes, temos que tal documento apresenta dez
competências gerais, assim como a BNCC, cujo corpo teórico traz dez competências gerais para
todas as etapas da educação básica. Nesse sentido, no quadro 5 podem ser constatadas as dez
competências gerais da BNC-Formação:
113
Consta na BNC-Formação relativa à carga horária dos cursos em licenciatura que estas
devem ter no mínimo 3200 horas. Essa mudança considerável vem das DCNs de 2015 6, se
observarmos a carga horária mínima do curso em Licenciatura em Matemática estabelecida
pelos RCN dos cursos de bacharelado e licenciatura (BRASIL, 2010b), que previa 2800 horas.
Portanto, as licenciaturas, de uma maneira geral, terão o prazo de dois anos a partir da
publicação dessas diretrizes, em 2019, para se adaptarem aos preceitos da BNC-Formação
(BRASIL, 2019).
Art. 27 Fica fixado o prazo limite de até 2 (dois) anos, a partir da publicação desta
Resolução, para a implantação, por parte das Instituições de Ensino Superior (IES),
das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a
Educação Básica e da BNC-Formação, definidas e instituídas pela presente Resolução
(BRASIL, 2019, p. 12).
Nesse sentido, a nova carga horária desses cursos deverá ser dividida de modo a
contemplar os seguintes requisitos.
Art. 11. A referida carga horária dos cursos de licenciatura deve ter a seguinte
distribuição: I - Grupo I: 800 (oitocentas) horas, para a base comum que compreende
os conhecimentos científicos, educacionais e pedagógicos e fundamentam a educação
e suas articulações com os sistemas, as escolas e as práticas educacionais. II - Grupo
II: 1.600 (mil e seiscentas) horas, para a aprendizagem dos conteúdos específicos das
áreas, componentes, unidades temáticas e objetos de conhecimento da BNCC, e para
o domínio pedagógico desses conteúdos. III - Grupo III: 800 (oitocentas) horas,
prática pedagógica, assim distribuídas: a) 400 (quatrocentas) horas para o estágio
supervisionado, em situação real de trabalho em escola, segundo o Projeto Pedagógico
do Curso (PPC) da instituição formadora; e b) 400 (quatrocentas) horas para a prática
dos componentes curriculares dos Grupos I e II, distribuídas ao longo do curso, desde
o seu início, segundo o PPC da instituição formador (BRASIL, 2019, p. 6).
6
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=136731-
rcp002-15-1&category_slug=dezembro-2019-pdf&Itemid=30192. p. 11. Acesso em: 02 mar. 2022.
115
Todo profissional da Educação bem formado e atualizado deve dominar a Base. Além
de ser um documento normativo nacional, define as aprendizagens essenciais que os
alunos têm o direito de adquirir durante a Educação Básica. Por isso, é necessário mais
que um esforço individual: conhecer e dominar a BNCC é uma tarefa coletiva que
exige organização, planejamento, apoio e capacidade de trabalhar em equipe de forma
colaborativa (CALLEGARI, 2018, p. 8).
Para Perez (2018), essa nova mudança curricular, tanto no que diz respeito à BNCC
quanto à formação de professores, deve ser encarada pelos professores com entusiasmo, sendo
uma maneira de se desenvolver profissionalmente.
116
Dessa forma, perante tal mudança, o professor precisa estar apoiado em sua formação
em uma proposta coletiva da escola e da gestão escolar, percebendo, assim, que as novas formas
de ensinar que vieram juntamente às atualizações impostas pela BNCC são fundamentais para
sua formação e seu avanço na educação.
No que concerne à Resolução de Problemas Matemáticos, fica evidente que a BNCC
foca em trazer esse recurso metodológico de forma contextualizada e interdisciplinar em suas
competências e habilidades, estimulando processos mais elaborados de reflexão, dando
visibilidade à abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”. Vemos também que a
Resolução de Problemas deve ser aplicada a conteúdos, voltando-se a praticá-los em situações
que necessitam desses conteúdos, o que ainda demonstra, de certa forma, a abordagem do
“ensinar para a resolução de problemas”. Porém, a BNCC traz uma ampliação para o significado
da Resolução de Problemas Matemáticos, apresentando indícios do uso da abordagem “ensinar
via/através da resolução de problemas”, considerada a abordagem mais atual e que fomenta
maiores benefícios no processo de ensino-aprendizagem. Dessa maneira, nos próximos anos,
acredita-se que esse assunto poderá ser mais debatido tanto na formação inicial, quanto na
continuada, tendo por objetivo formar professores mais capacitados ou capacitar os professores
que já atuam em sala de aula, para que eles possam contribuir de forma mais significativa para
a formação dos estudantes, de acordo com as exigências da educação e do mercado de trabalho.
Neste sentido, acredita-se também que os formadores de professores desempenharão um
papel fundamental para o avanço da concepção da abordagem “ensinar via/através da resolução
de problemas”, pois eles poderão ir além do que a BNCC traz para essa abordagem,
aprofundando e trazendo mais elementos para a compreensão e adoção dessa abordagem de
Resolução de Problemas, tanto na formação inicial como na continuada.
117
5 METODOLOGIA DA PESQUISA
Este capítulo tem o objetivo de apresentar a metodologia usada nesta pesquisa. Para tal
propósito, é necessário falar um pouco sobre o conceito de concepção de professores para
justificar a abordagem metodológica adotada. Além disso, trazemos a caracterização dos
participantes e os instrumentos de coleta de dados usados. Por último, é apresentado o
procedimento adotado para a análise e interpretação dos dados.
Segundo Ponte (1992, p. 16), “o estudo das concepções dos professores tem estado
estreitamente associado ao das suas crenças”, sendo que realizar esse tipo de estudo não é uma
missão muito fácil, pois as concepções não se constituem da mesma forma para todos os
professores, mas sim ao longo de todo o percurso formativo e da prática de cada profissional,
considerando ainda suas experiências individuais e sociais.
[...] por trás de cada modo de ensinar, esconde-se uma particular concepção de
aprendizagem, de ensino, de Matemática e de Educação. O modo de ensinar sofre
influência também dos valores e das finalidades que o professor atribui ao ensino da
matemática, da forma como concebe a relação professor-aluno e, além disso, da visão
que tem de mundo, de sociedade e de homem.
As pessoas raramente estão à vontade a expor as partes mais íntimas do seu ser. Além
disso, têm de um modo geral dificuldade em expressar as suas concepções,
particularmente naqueles assuntos em que habitualmente não pensam de uma forma
muito reflexiva (PONTE, 1992, p.34).
Com base nessas considerações, entende-se que para se obter êxito na realização de uma
pesquisa devem ser usadas técnicas e normas específicas que definem o rigor com que a
pesquisa será executada, refletindo assim na qualidade da análise dos resultados. Nesse sentido,
Dessa maneira, esta tem por objetivo geral, como anunciado anteriormente no capítulo
da introdução, analisar as concepções dos professores de matemática do ensino médio sobre a
Resolução de Problemas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sua relação com o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), visando, também, por meio de objetivos específicos:
• Compreender qual é a abordagem dada à Resolução de Problemas Matemáticos na
BNCC do ensino médio e no Enem;
• Estabelecer em que medida a Resolução de Problemas Matemáticos indicados no
Enem se aproxima das orientações da BNCC;
• Compreender as principais ações indicadas pelos professores de matemática do
ensino médio na sua atuação em sala de aula, no contexto da Resolução de
Problemas Matemáticos em relação à BNCC e à preparação dos alunos para o Enem
em Cacoal-RO e Ministro Andreazza-RO.
Buscando estabelecer tal análise, fundamentada nas concepções de professores de
matemática do ensino médio, tem-se que
concepções.
A abordagem qualitativa, segundo Lakatos e Marconi (2017, p. 300), “[...] teve sua
origem desenvolvida pela Antropologia; depois, foi empregada pela Sociologia e Psicologia e,
posteriormente, a investigação qualitativa passou a ser aplicada em Educação, Saúde, Geografia
Humana etc.”. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa permite a concretização de investigações
mais aprofundadas, podendo ter um amplo repertório de temas.
Para Lakatos e Marconi (2017, p. 299), a pesquisa qualitativa, “[...] objetiva obter uma
compreensão particular do objeto que investiga”, isso se dá pelo fato de que a sua utilidade não
é quanto a esclarecer ou explicar o objeto de estudo, mas sim tentar compreendê-lo dentro do
contexto em que se estabelece. Corroborando, Lüdke e André (2018, p. 14) afirmam que a
pesquisa qualitativa “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do
pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa
em retratar a perspectiva dos participantes”. Na mesma ótica, Gil (2021, p. 15) aponta que
Segundo Yin (2016, p. 22), a pesquisa qualitativa possui cinco características, são elas:
Quadro 6 – Relação das escolas públicas urbanas estaduais do ensino médio selecionadas para
a pesquisa em Cacoal (RO) e Ministro Andreazza (RO) no ano de 2021
Código Inep Nome das Escolas Munícipio
11027401 EEEFM Celso Ferreira Da Cunha Cacoal
11046740 EEEMTI Josino Brito Cacoal
11026278 EEEFM Cora Coralina Cacoal
11027347 EEEFM Clodoaldo Nunes De Almeida Cacoal
11031298 EEEFM Nilo Coelho Ministro Andreazza
Fonte: Elaborado pela autora.
7
Link do site: http://inep.gov.br/dados/catalogo-de-escolas
122
houve a aprovação do projeto via Comitê de Ética em Pesquisa 8. Após, foi necessário entrar em
contato com os diretores dessas escolas para realizar o levantamento da quantidade de
professores que lecionavam matemática no ensino médio, bem como obter o contato (telefone
e e-mail) de cada um deles. Isso foi possível a partir de um documento concedido pela CRE de
Cacoal que autorizava a realização da pesquisa e trazia uma lista com o nome de cada escola
estadual pública urbana com seus respectivos diretores e seus contatos de e-mail.
Dessa forma, a pesquisa teve como participantes os professores de matemática das
escolas públicas urbanas estaduais que atuam no ensino médio no estado de Rondônia, nos
munícipios de Cacoal e Ministro Andreazza. O universo de professores de matemática do
ensino médio a partir da consulta aos diretores das escolas selecionadas resultou em um total
de 17 professores identificados. No âmbito dessa representatividade, foi realizado o convite a
cada um dos professores via e-mail para que participassem dos instrumentos de coleta de dados
da pesquisa. Dentre eles, 11 professores aceitaram participar da pesquisa.
8
Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIR, por meio do Parecer n° 4.613.143 de 25 de março
de 2021.
123
No que se refere ao modelo misto de questionário, Walliman (2015, p. 98) afirma que
“[...] possuem tanto perguntas fechadas quanto abertas, que são planejadas de acordo com os
objetivos da pesquisa”. Segundo Gil (2019), nas questões abertas os participantes devem
responder as questões por meio da sua interpretação, nesse caso, são respostas pessoais. Já nas
questões fechadas, os participantes devem escolher uma alternativa dentre uma lista de opções
que compõem a questão. Corroborando, Creswell e Plano Clark (2013, p. 161) afirmam que:
De acordo com Bell (2008, p.171), “os dados coletados por meio de questionários,
entrevistas, diários ou qualquer outro método significam muito pouco até serem analisados e
avaliados”. Consequentemente, segundo Marconi e Lakatos (2021, p. 195), “uma vez
manipulados os dados e obtidos os resultados, o passo seguinte é sua análise e interpretação,
126
constituindo-se ambas no núcleo central da pesquisa”. Nesse viés, Fiorentini e Lorenzato (2009)
apontam que:
Considerando isso, para a análise e interpretação dos dados, foi utilizada a análise de
conteúdo como forma de obter os resultados referentes às concepções dos professores sobre os
temas debatidos nesta pesquisa, e assim obter uma melhor visão sobre o problema da pesquisa.
A análise de conteúdo, segundo Walliman (2015), foi desenvolvida principalmente nos
Estados Unidos, e fundamenta-se como
[...] uma forma quantitativa de análise que consiste em examinar o que pode ser
considerado texto de qualquer tipo (artigos, propagandas, notícias etc.) ou outras
mídias, como quadros, programas de rádio ou de televisão e filmes, além de situações
ao vivo, como entrevistas, peças de teatro e concertos. Muitas vezes, mas não
necessariamente, a análise é feita por meio de fontes secundárias. Apesar de se
quantificar as categorias predeterminadas, a análise de conteúdo é mais presente em
pesquisas que possuem abordagem qualitativa, especialmente pela natureza dos dados
que estão sendo investigados. (WALLIMAN, 2015, p. 86).
Segundo Fiorentini e Lorenzato (2012, p. 99), o pesquisador que opta por uma
abordagem qualitativa de pesquisa poderá usar análise de conteúdo para “[...] pode projetar
possíveis categorias de classificação e análise dos conteúdos”. Para os autores, ainda, “A
categorização significa um processo de classificação ou de organização de informações em
categorias, isto é, em classes ou conjuntos que contenham elementos ou características comuns”
(FIORENTINI; LORENZATO, 2009, p. 134).
Portanto, para a análise dos questionários e das entrevistas realizadas com os
professores de matemática no intuito de criar as categorias de análise, utilizaram-se as três fases
fundamentais de análise de conteúdo criadas por Bardin (2011), que são: pré-análise,
exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
Na primeira fase, a dita “pré-análise” pode ser compreendida como a fase da
organização. Para Bardin (2011, p. 125), essa fase “[...] tem por objetivo tornar operacionais e
sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento
das operações sucessivas, num plano de análise”.
Na segunda fase, denominada “a exploração do material”, são efetuadas a codificação e
categorização e quantificação das informações estudadas. Se o pesquisador tiver realizado uma
boa organização na primeira fase, não terá muito trabalho para pôr em prática todos os preceitos
desta fase. Bardin (2011, p. 131) afirma que a exploração do material “[...] consiste
essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de
regras previamente formuladas”.
A terceira fase do processo de análise de conteúdo, chamada de “tratamento dos
resultados, a inferência e a interpretação”, consiste em ser o momento em que os resultados
ainda brutos são tratados, no intuito de se tornarem significativos e válidos. Para obter esse
rigor sobre os resultados, podem ser usadas “Operações estatísticas simples (percentagens), ou
mais complexas (análise fatorial), permitem estabelecer quadros de resultados, diagramas,
figuras e modelos, os quais condensam e põem em relevo as informações fornecidas pela
análise” (BARDIN, 2011, p. 131). Com isso, será possível obter resultados significativos e, a
partir de então, propor inferências e fazer interpretações sobre o objeto de estudo da pesquisa.
128
Este capítulo relata as descrições e análises dos dois instrumentos de coleta de dados
desta pesquisa: o questionário e a entrevista. Com base nos elementos da análise de conteúdo,
para análise dos dados desta pesquisa foram criadas categorias que se fundamentam em 5 blocos
temáticos:
6.1 Perfil dos professores de matemática do ensino médio participantes da pesquisa;
6.2 Concepções gerais dos professores acerca dos significados e características da
Resolução de Problemas Matemáticos;
6.3 A abordagem “ensinar sobre resolução de problemas” na prática dos professores;
6.4 A abordagem “ensinar para resolução de problemas” na prática dos professores e
6.5 A abordagem “ensinar via/através da resolução de problemas” na prática dos
professores.
Essa categorização em blocos temáticos se ocupou de retratar os conceitos e expressões
diante dos temas educacionais debatidos nesta pesquisa, com o propósito de atender aos
objetivos e responder à questão problematizadora proposta. Nesse sentido, principalmente no
âmbito das abordagens da Resolução de Problemas Matemáticos, verifica-se que elas se
desvelam na prática dos professores, tanto no que tange à BNCC quanto ao Enem. Para a análise
dos dados, sua apresentação foi organizada a partir de quadros, que estarão dispostos nas
próximas discussões.
possuem algum tipo de especialização. Desse total, conforme o quadro 8, a grande maioria dos
cursos está relacionada a especializações referentes ao ensino de matemática, totalizando 5
professores: Ensino de Matemática (3), Ensino de Ciências e Matemática (1) e Metodologias
do Ensino de Matemática (1). Além disso, houve dois professores que optaram por curso de
especialização em Didática do Ensino Superior e um em Operacionalização em Ensino de
Física. Dentro da amostra analisada, temos um professor que possui mestrado profissional em
Física e outro que está com o mestrado nessa mesma área em andamento, além de um professor
que também é formado em direito e uma professora que fez MBA em Agronegócios.
Considerando a faixa etária dos professores pesquisados, a partir dos dados do quadro
10, é possível observar que as idades são bem variadas: 5 professores estão entre a faixa etária
de 30 a 40 anos, três de 41 a 50 anos e mais três entre 51 e 60 anos. Portanto, esses resultados
permitem analisar que esses professores tiveram momentos formativos diferentes e passaram
por muitas mudanças curriculares, tanto no que diz respeito à formação inicial e continuada
quanto no que se refere aos currículos da educação básica. Essas mudanças são o que também
contribuiu para os professores terem as suas concepções acerca dos temas educacionais
debatidos nesta pesquisa.
Com base no tempo de atuação dos professores no ensino médio, observa-se que mais
da metade deles possuem muita experiência em sala de aula. Ainda, mesmo os professores com
menos de 10 anos de atuação estão atualizados quanto às mudanças curriculares, sendo que a
mais recente é a BNCC, que traz uma nova política pública educacional contemplando também
o ensino médio.
Em relação à formação continuada, todos os 11 professores indicaram no questionário
que passaram por esse momento formativo. No contexto desta pesquisa, no quadro 13 buscou-
se identificar, além da Resolução de Problemas Matemáticos, se os professores já fizeram
cursos de formação continuada relativos à BNCC e ao Enem.
Dessa maneira, podemos visualizar no quadro 13 que houve maior formação continuada
envolvendo a BNCC, ou seja, 10 professores realizaram cursos com essa perspectiva, em
seguida tivemos 4 professores que fizeram cursos de formação continuada sobre o Enem e
apenas três que estudaram especificamente a Resolução de Problemas Matemáticos.
Nesse sentido, a partir de suas experiências vivenciadas durante sua trajetória formativa
e profissional, os professores possuem concepções acerca da Resolução de Problemas, quer seja
pelas mudanças curriculares ou por seu trabalho na prática de sala de aula. Para constituir a
133
procedimentos matemáticos para sua resolução e precisam ser utilizados de forma estratégica.
Na entrevista, o professor também relatou uma diferença entre resolver exercícios e resolver
problemas de matemática. “Apenas a resolução de exercícios acaba mecanizando. Então, eu
vejo que a Resolução de Problemas acaba levando os alunos para um contexto mais amplo,
porque acaba vinculando a realidade em que eles estão inseridos” (DANIEL, 2021, entrevista).
Então, percebe-se que o professor Daniel tem a mesma perspectiva de exercício
apresentada pelos pressupostos teóricos de Van de Walle (2009). Já como problema de
matemática, o professor Daniel afirma que este deve envolver o uso de procedimentos
matemáticos para sua solução e deve se vincular também à realidade do cotidiano em que os
alunos estão inseridos, em conformidade com Dante (2002) e Proença (2018).
Já a professora Helena explicou de forma mais detalhada que acredita que o problema
de matemática,
[...] faz com que o aluno desenvolva melhor a capacidade de raciocínio, a mentalidade
dele de conseguir relembrar e às vezes de forma diferente, o aluno vê que em um
conteúdo ele consegue aplicar de várias maneiras para resolver diversos problemas de
formas diversificadas (HELENA, 2021, entrevista).
Dessa maneira, percebem-se rastros da visão de autores como Polya (1997, 2006),
Dante (2002) e Proença (2018), no contexto em que na resolução de um problema de
matemática, os alunos precisam basear suas estratégias de solução em conhecimentos
adquiridos em situações anteriores.
Outro fato importante relatado pela professora Helena foi que ela trouxe também uma
diferenciação entre problema de matemática e exercício, para ela, “A realização de exercícios,
na verdade é só replicar aquilo que eu acabei de ensinar. Então, a questão de exercícios eu
acredito que o exercitar é o que o aluno faz porque eu acabei de explicar, então nós vamos
replicar isso” (Helena, 2021, entrevista). Nesse sentido, entende-se que a professora usa
exercícios para treinar conteúdos, o que está de acordo com a definição de exercício apresentada
pelos seguintes autores: Dante (2002), Polya (2006), Van de Walle (2009) e Proença (2018).
O professor Fernando, por sua vez, a fim de tentar compreender sua definição sobre
o que significa problema de matemática de forma mais significativa, a entrevista perguntou
novamente acerca do que ele entendia ser um problema de matemática. Como resposta
também obtivemos uma diferenciação entre exercício e problema de matemática.
A questão do exercício ele é bom para você praticar, mas as vezes se torna mecânico.
Então o exercício é bom por um lado até certo ponto, mas o problema
contextualizado ele faz o aluno pensar mais, raciocinar mais. Então o exercício é
135
Portanto, o professor Fernando enxerga que os exercícios servem apenas para treinar
e seu uso se torna mecânico, não trazendo benefícios a longo prazo. Esse ponto de vista está
de acordo com a concepção de Van de Walle (2009) sobre exercícios. Para o autor, os
exercícios não fornecem nenhuma habilidade nova aos alunos, eles só se embasam no que já
é conhecido por eles e não melhoram em nada a compreensão conceitual do conteúdo. Para
o professor Fernando, os problemas de matemática devem ser contextualizados e devem
fomentar o desenvolvimento do raciocínio lógico e o pensamento produtivo matemático,
conforme Polya (1997, 2006) e Dante (2002).
De acordo com a professora Ana, um problema de matemática pode apresentar
diversas resoluções, ou seja, diversos caminhos e estratégias para se alcançar o resultado.
Dante (2002) e Proença (2018) enfatizam que um problema deve propiciar várias estratégias
para sua solução, então, ao resolver um problema de matemática os alunos podem encontrar
caminhos diferentes, mas que os levarão ao mesmo resultado.
Já a professora Catarina relaciona problemas de matemática com o mesmo significado
de atividades e exercícios, isso é o oposto do que dizem as pesquisas em Resolução de
Problemas Matemáticos, pois trazem definições para cada um desses termos. No entanto, a
professora disse que nessa relação a resolução necessita de interpretação, análise e
compreensão, o que nos leva às heurísticas de Polya (1997, 2006), que retrata a busca de
todos os procedimentos necessários na compreensão e resolução de uma situação-problema.
A professora Maria destaca de forma simplória que um problema de matemática deve
propiciar a busca por soluções. Fundamentando-se na base teórica da Resolução de
Problemas Matemáticos, um problema de matemática deve fomentar a busca por soluções,
em que é necessário o uso de procedimentos matemáticos para a sua solução. Esses
problemas podem estar relacionados ao cotidiano, a outras ciências e à própria matemática.
Na visão do professor Fábio sobre o que considera um problema de matemática, são
reveladas muitas diferenças entre problema de matemática e exercício de matemática. Para ele,
o problema necessita de ferramentas matemáticas para sua resolução e envolve o uso de
raciocínio e estratégias, bem como a análise de situações cotidianas. Na sua definição de
problemas, temos:
136
Uma pergunta em si, ou seja, para trabalhar resolução de problemas, ela envolve o
cálculo, ela tem que ter pensamento, as vezes ela tem que ter outras estratégias pra
você chegar ao mesmo resultado, inclusive o que eu faço, muitas vezes pode não ser
a mesma coisa que o outra pessoa está fazendo para resolver o problema, porque o
caminho é outro, as vezes os caminhos são até antagônicos, tem vários pontos que
você pode usar para chegar ao mesmo resultado, tem vários caminhos que você vai
chegar ao mesmo ponto. A resolução de problemas ela trabalha nesse sentido, ela é
algo mais profundo e que usa mais o raciocínio (FÁBIO, 2021, entrevista).
Já o exercício, por sua vez, o professor define como repetição, usado para exercitar
cálculos matemáticos e que não proporciona o desenvolvimento do raciocínio lógico, sendo
algo trabalhoso que serve apenas para treinamento.
(2009) e Proença (2018), os quais compartilham o pensamento de que exercício serve para
exercitar, treinar procedimentos matemáticos, mas não fornecem habilidades para desenvolver
o raciocínio lógico, pois são repetitivos.
A professora Dulce retrata de forma simples que um problema de matemática deve
proporcionar a aquisição do raciocínio logico, ou seja, deve favorecer o desenvolvimento do
pensamento matemático e, a partir de sua resolução, a aprendizagem de conceitos
matemáticos.
Já a concepção do professor Paulo se aproxima muito da definição apresentada por
Dante (2002), na qual explica que um problema de matemática é a circunstância em que não
se conhece nenhuma fórmula matemática ou algoritmo que possa ajudar a encontrar a
solução, sendo que o resolvedor precisa se apoiar em seus conhecimentos prévios para buscar
o melhor caminho para a solução do problema.
Por último, mas não menos importante, temos a concepção do professor Edgar, que
nos remete à contextualização e à interdisciplinaridade tão presentes na Resolução de
Problemas Matemáticos.
A par do que os professores pensam por problema de matemática e exercício, buscou-
se levantar as fontes em que os professores costumam buscar problemas para as suas aulas. Essa
busca, indicada no quadro 15, obteve 11 professores, ou seja, todos utilizam livros didáticos,
10 utilizam banco de questões do Enem, 9 usam banco de questões da OBMEP e três, além de
usarem todos as outras fontes anteriores, também costumam buscar outras alternativas para
trabalharem com problemas matemáticos, como: bancos de questões disponíveis na internet e
a própria formulação de problemas.
Schroeder e Lester Junior (1989), que são: ensinar sobre resolução de problemas, ensinar para
a resolução de problemas e ensinar via/através da resolução de problemas. Com isso, buscou-
se compreender em que abordagem da Resolução de Problemas Matemáticos os professores
lecionavam, sendo que no contexto dessas abordagens, buscamos identificar as principais ações
indicadas pelos professores no âmbito da relação entre a Resolução de Problemas Matemáticos
na BNCC e no Enem.
aplicadas de outras edições do Enem, de edições anteriores, levo a resolução para poder mostrar
pra eles e também várias maneiras de resolver, às vezes tem um caminho que algum aluno acha
mais fácil o outro acha mais difícil, e às vezes a gente pode mostrar vários caminhos diferentes pra
resolução do problema. Eu gosto sempre de mostrar, além de explicar algumas questões, levar
questões que são meio que um desafio pra sala de aula e também mostrar vídeos de resoluções de
outras pessoas pra poder abrir um pouco mais essa compreensão, porque nem sempre o que é fácil
pra mim é fácil pra você e é fácil pro outro.
O MBA que eu fiz em Agronegócio, digamos assim, abrangeu um pouco mais a questão de como
você lidar, aqui na região a gente trabalha muito com culturas específicas, então lá no MBA teve
um leque maior a gente trabalhou e estudou a questão de contabilidade e direito, a questão
ambiental, tudo isso que a gente pode também aplicar na realidade dos alunos (Entrevista, 2021).
Fernando Procuro contextualizar as atividades usando o cotidiano e fornecendo exemplos da matemática
na nossa vida e no cotidiano (Questionário, 2021).
A resolução de problemas é importante na minha opinião, não só para que o aluno vá bem no
Enem, mas para que ele também vá bem no concurso e também vá bem na vida na questão de
interpretação. Então eu procuro jogar a Resolução de Problemas na questão do dia a dia por
exemplo, coisas do cotidiano que realmente o aluno vai precisar, algumas coisas né! Porquê nem
tudo na matemática a gente consegue jogar para o dia a dia, mas eu procuro contextualizar de uma
maneira que ele consiga conciliar no caso a matemática com o mercado de trabalho, com o dia a
dia, para o aluno ver que tem sentido e que não é uma coisa assim jogada ao vento, mas para ele
ver que tem sentido, para ele se basear e aprender realmente e entender que a matemática é
importante para a vida. Então, sendo contextualizada eu acredito que é mais fácil para o aluno dar
sentido a matemática e entender o quanto que ela é importante (Entrevista, 2021).
Catarina Incentivando meus alunos a buscarem as respostas com pensamentos próprios e questionaram
sempre que tiverem dúvidas (Questionário, 2021).
Estela A utilização de operações matemática diretas faz com que o estudante apenas faça
mecanicamente continhas, mas ao trazer essas contas contextualizadas em situações problemas,
o estudante usa o raciocínio e aguça a vontade de vencer desafios. Assim melhora seu
conhecimento num todo (Questionário, 2021).
Fábio O método mais comum, o de Polya em 4 etapas (Questionário, 2021). Geralmente eu começo
com uma pergunta, aquela pergunta cativadora importante que faz com que o aluno pense sobre o
assunto. Como por exemplo: ao trabalhar no terceiro ano com conteúdo de números complexos,
faço uma introdução com a resolução de uma raiz quadrada negativa, os alunos dizem que isso não
existe, então eu vou apresentar para eles a ideia que os nossos matemáticos trouxeram de conseguir
com os números imaginários chegar ao resultado de um número negativo, então aí a primeira coisa
que eu faço para instigar o aluno, é começar com uma pergunta motivadora, aí depois vou passo-
a-passo da resolução de problemas, que já está descrito em vários livros, primeiro você tem que
entender, ler o problema, interpretar, fazer algumas fórmulas de como você pode resolver aquele
problema, e depois você pode aplicar essas fórmulas, aí você tem que rever se aquilo realmente
levou você para o caminho certo, se não levou para o caminho certo você tem que voltar de novo
no primeiro passo. Então alguns dizem que são 4, outros dizem que são 6 passos, mas aí vai de
cada autor que a gente está pegando para estudar (Entrevista, 2021).
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.
envolvem a realidade desses alunos. Para isso, buscou fazer cursos como o MBA em
Agronegócios que a ajudou a entender melhor o contexto que esses alunos estão inseridos.
Dessa forma, ao trabalhar matemática, procura sempre envolver os conceitos matemáticos
relacionados às atividades diárias desempenhadas pelos alunos e suas famílias.
Portanto, ao analisar os relatos da professora Helena no que tange ao seu trabalho com
a Resolução de Problemas Matemáticos, percebemos também de forma predominante que há
uma forte influência da abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, corroborando os
pensamentos de Polya (1997, 2006) e Dante (2002) no que se refere à utilização de problemas
contextualizados que façam sentido para a realidade dos alunos. Isso se dá a partir de situações-
problema que desafiem e agucem a criatividade e vontade de aprender matemática,
proporcionando o desenvolvimento do raciocínio lógico, tendo o professor como um
incentivador que leva os alunos a encontrarem caminhos para a resolução dos problemas
baseados em conhecimentos adquiridos em situações anteriores.
O professor Fernando compreende que a Resolução de Problemas Matemáticos deve
ser trabalhada de forma a fazer sentido para a realidade dos alunos, mostrando que a
matemática é uma ciência útil para a sociedade e deve ser trabalhada por meio de problemas
contextualizados que possam mostrar a sua importância. Conforme indicado, isso está
consoante à abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, pois, segundo Polya (2006),
o professor de matemática tem uma grande oportunidade para despertar a vontade dos alunos
para aprender matemática e de entender o quanto ela é necessária para a humanidade,
apresentando problemas que façam sentido para realidade deles, desafiando a curiosidade e
desenvolvendo o raciocínio lógico.
O trabalho da professora Catarina envolvendo a Resolução de Problemas Matemáticos
está de acordo com a abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, pois, segundo Polya
(2006), ao trabalhar com essa perspectiva, o professor dever ser o incentivador dos alunos,
auxiliando-os na medida certa, instruindo-os a buscarem as respostas em seus próprios
conhecimentos.
No que diz respeito à concepção da professora Estela, podemos perceber que a ela, além
de explicar como é seu trabalho envolvendo a Resolução de Problemas Matemáticos, também
trouxe uma diferenciação entre exercício e problema de matemática. Segundo ela, a utilização
de exercícios que são as operações rotineiras de matemática, faz com que os estudantes façam
apenas mecanicamente os cálculos matemáticos, algo que não traz o desenvolvimento de
habilidades significativas para os estudantes a longo tempo. Porém, ao retratar o seu trabalho
envolvendo os conteúdos e operações matemáticas em problemas contextualizados, a
141
professora Estela deixa bem claro que esse ofício traz muitos benefícios para o processo de
ensino-aprendizagem de matemática, favorecendo o desenvolvimento do raciocínio lógico,
despertando a vontade de se aprender matemática, encarando cada problema como se fosse um
desafio a ser vencido pelos alunos. Nessa perspectiva, a professora Estela acredita ser possível
melhorar o desempenho dos alunos na Resolução de Problemas Matemáticos, melhorando o
conhecimento deles de forma geral.
Com base nessa descrição da professora Estela sobre como utiliza a Resolução de
Problemas Matemáticos, percebemos que tal concepção está de acordo com a abordagem
“ensinar sobre resolução de problemas”, visto que Polya (2006) e Dante (2002) afirmam que
objetivo da Resolução de problemas é fazer os alunos pensarem produtivamente. Para isso, o
professor deve ser o grande incentivador dos alunos, levando situações-problema desafiadoras
e que façam sentido para a realidade deles, de forma que tais problemas possam instigar a
curiosidade e a vontade de aprender matemática.
O professor Fábio foi mais específico e descreveu a utilização da Resolução de
Problemas Matemáticos e seus contornos para o ensino-aprendizagem relatando que utiliza o
método de Polya. Com base na reposta do professor Fábio, percebemos que ele utiliza a
Resolução de Problemas Matemáticos por meio da abordagem “ensinar sobre a resolução de
problemas”. O professor que usa essa abordagem fundamenta-se no método proposto por Polya,
com o emprego das 4 fases para a resolução de problemas: 1° – compreensão do problema, que
na fala do professor Fábio é o passo da leitura e interpretação do problema; 2° – estabelecimento
de um plano, é o passo em que professor diz que é necessário fazer algumas fórmulas sobre
como resolver o problema; 3° – execução do plano, nessa fase o professor diz que os alunos
devem aplicar as fórmulas feitas no segundo passo e no 4° – retrospecto, o professor recomenda
fazer uma revisão da solução encontrada voltando ao primeiro passo.
No que se refere aos benefícios da aprendizagem, quadro 17, quanto aos usos da
Resolução de Problemas Matemáticos em sala de aula, estes se revelam de acordo com a
abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, pois nessa perspectiva, o processo de
resolução de problemas permite desenvolver o raciocínio lógico, ampliando significativamente
os aspetos cognitivos em relação à elaboração de estratégias e teste de conjecturas, além de
oferecer significado ao ensino da matemática, buscando sempre que possível trabalhar com
situações contextualizadas e interdisciplinares que possam mostrar a importância da
matemática.
142
ele acredita que o trabalho com a Resolução de Problemas permite a elaboração de estratégias
e caminhos para resolver problemas, em que os alunos podem partir de caminhos e estratégias
diferentes para alcançarem o mesmo resultado, mostrando que não há uma única forma para
resolver um problema e que todas as maneiras de resolução a partir de suas justificações podem
demonstrar a diversidade de ferramentas matemáticas e processos interpretativos que os
estudantes utilizam na resolução de problemas, proporcionando o desenvolvimento do
pensamento matemático.
A professora Helena destaca que os benefícios são a melhora do raciocínio lógico e a
questão de relembrar conteúdos, pois, ao resolverem problemas, os alunos precisam se basear
em conhecimentos prévios adquiridos em situações anteriores, conforme as indicações de Polya
(1997, 2006), Branca (1997) e Dante (2002).
O Professor Fernando aponta vários benefícios que são listados por diversos teóricos da
Resolução de Problemas Matemáticos, como Polya (1997, 2006) e Dante (2002). Porém, ele
traz que tal metodologia seria mais proveitosa se fosse trabalhada desde as séries iniciais, então,
o professor Fernando demonstra uma preocupação com a aprendizagem de matemática em um
contexto mais amplo, envolvendo diversas etapas da educação básica.
Os argumentos do professor Fábio revelam um trabalho contínuo com a Resolução de
Problemas usando o método de Polya, em que, ao final da resolução do problema proposto,
indica-se aos alunos que façam a revisão da solução encontrada. Nesse processo, os alunos
podem identificar seus erros e melhorar cada vez mais a suas aprendizagens, ele propõe que os
alunos não devem se preocupar com os erros no sentido de se sentir mal ou ficar preocupados
pela nota, mas sim de buscar identificar o erro e melhorar os seus processos cognitivos em que
ele está errando. Para isso, o uso da perspectiva metodológica da Resolução de Problemas
Matemáticos se encaixa perfeitamente.
Essa concepção surge ao serem analisados os trabalhos de Polya (1997, 2006), os quais
expressam uma importância muito grande quanto às heurísticas, que são as formas de se
raciocinar logicamente na busca de estratégias para a solução dos problemas. Nesse contexto,
a característica mais importante é encontrar o caminho para a resolução do problema proposto,
enquanto a resposta em si se torna menos relevante. Ao fazer isso, será permitido, como Dante
(2002) afirma, o desenvolvimento do pensamento matemático, e isso abrirá portas para a
aprendizagem matemática.
Apesar de os professores conhecerem e apontarem os diversos benefícios da Resolução
de Problemas, de forma geral, como analisado, esses benefícios são vistos com mais ênfase a
partir da perspectiva da abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”. Ainda assim, eles
144
acabava não servindo para gente. Agora não, no sexto, no sétimo, no oitavo e no ensino médio é
importante que ele reveja esses conteúdos ao longo da grade curricular. Eu creio que a matemática
vai melhorar muito nos próximos anos, eu sou professor sonhador. (Entrevista, 2021).
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.
Conforme o quadro 19, percebe-se que o professor Daniel tenta usar a BNCC como
uma guia para seu trabalho docente, no entanto, às vezes encontra algumas dificuldades,
tendo de mudar o planejamento ou adaptá-lo para conseguir atingir as competências e
habilidades em cada conteúdo a ser ensinado. Isso se dá porque a BNCC para a etapa do
ensino médio ainda está sendo implantada nas escolas estaduais do estado de Rondônia,
sendo que o trabalho dos professores pautado na BNCC, ainda é de adaptação, em que eles
verificam o que está sendo feito de forma correta e gerando bons resultados e modificam
suas atitudes e estratégias em situações que podem ser melhoradas a partir do que a BNCC
traz para a organização do trabalho docente.
Já a professora Helena costuma fazer uma triangulação, realizando um trabalho
integrado, levando questões de avaliações externas e também de livros didáticos de acordo
com as competências e habilidades. Com isso, ela consegue preparar os alunos para avalições
externas, como o Enem, e também oportuniza uma formação que leva em consideração as
competências e habilidades que devem ser garantidas aos alunos durante a educação básica.
O professor Fernando também usa a BNCC como um guia para seu trabalho docente,
consultando as competências e habilidades mais adequadas para o conteúdo que pretende
ensinar. Outro ponto a ser percebido é a preocupação tanto do professor quanto da escola em
que ele leciona em já preparar os alunos para adquirem essas competências e habilidades por
meio de questões contextualizadas, envolvendo, sobretudo, a realidade dos alunos.
As professoras Ana, Catarina e Estela usam a BNCC como um guia, consultando-a
para orientar o trabalho docente exercido por elas. Conforme Callegari (2018), a BNCC atua
como uma espécie de GPS, tendo como função a elaboração curricular, ajudando os
professores, dessa forma, a organizarem seus planejamentos e definirem melhor as
aprendizagens essenciais que serão passadas aos alunos.
O professor Fábio, por sua vez, descreve que a BNCC propõe que o ensino deve ser
contextualizado, e os estudantes precisam ter continuidade das aprendizagens desenvolvidas no
ensino fundamental, evidenciando a matemática como imprescindível para a realidade, para que
realmente a aprendizagem aconteça. Dessa maneira, na visão do professor Fábio, a BNCC
melhorará muito o processo de ensino-aprendizagem matemática nos próximos anos.
Como podemos notar em tempos de pandemia, verifica-se no trabalho do professor
Fábio uma preocupação em elaborar apostilas dentro da proposta da BNCC, elencando em
148
Com base no quadro 21, temos conforme relato do professor Fábio que alguns livros
didáticos de matemática, lançados ainda na época em que a BNCC estava em processo de
construção e discussão, já traziam os conteúdos pautados nas competências e habilidades
propostas na BNCC. Como ele ainda não teve nenhuma formação continuada em BNCC
especificamente para a área de Matemática e suas Tecnologias para o ensino médio, então
costuma fazer pesquisa sobre esse assunto.
Com isso, percebe-se muita familiaridade entre as falas do professor Fábio e a do
professor Daniel, pois os dois descreveram que na utilização de livros didáticos de anos
anteriores eles já viam traços da BNCC e tentavam incluir essa perspectiva em seus
planejamentos. Fazendo uma análise mais profunda dessas falas acerca da Resolução de
Problemas Matemáticos, percebe-se que ambos os professores citam um autor de livro didático
que é uma referência para a pesquisa em Resolução de Problemas Matemáticos no Brasil.
Em seus livros, Dante, o autor citado pelos professores, sempre escreve acerca da
Resolução de Problemas Matemáticos sob a perspectiva de Polya. Seu trabalho também é
refletido nos livros didáticos de sua autoria que chegam aos professores da educação básica.
Isso permite inferir que é por esse motivo que a maioria dos professores pesquisados utiliza a
abordagem “ensinar sobre a resolução de problemas”.
A fim de entender a opinião dos professores acerca da Resolução de Problemas
150
Matemáticos na BNCC, o questionário buscou levantar a visão de cada um deles sobre como a
BNCC aborda tal metodologia. Posteriormente, na entrevista, essa questão foi aplicada
novamente a fim de obter um maior aprofundamento a esse respeito. Diante disso, as
informações obtidas estão registradas no quadro 22.
problemas”, pois a professora Estela trouxe a forma como a BNCC propõe que um problema
seja apresentado para o aluno, muito parecida com a perspectiva de Polya (2006),
relacionando com os conteúdos a serem ensinados.
Para o professor Fábio, a BNCC para o ensino médio aborda a Resolução de Problemas
Matemáticos, mas, em seu entendimento, a Resolução de Problemas deveria ser mais
aprofundada no documento. Porém, ele acredita que a BNCC lhe dá uma boa direção sobre
como trabalhar com essa metodologia. Conforme o relato do professor, verifica-se que a BNCC
traz sim a Resolução de Problemas Matemáticos, mas ele vai além, dizendo que ela está inserida
nas competências e habilidades, como foi descrito no capítulo 3 desta pesquisa, em que foi
estabelecido que 4 das 5 competências especificas da área de Matemática e suas Tecnologias
estão relacionadas à Resolução de Problemas. Além disso, temos também as habilidades
relacionadas a essas competências, nas quais identificamos 20 entre as 43 habilidades dessa
área sob a perspectiva da Resolução de Problemas. Como relatou o professor Fábio, as
habilidades são ligadas às competências, ou seja, elas se correspondem.
Na ótica do professor Paulo, a BNCC do ensino médio aborda a Resolução de Problemas
Matemáticos, cuja utilização ele acredita que possibilita que o aluno seja um sujeito mais
participativo no processo de ensino-aprendizagem, levando a um maior interesse e satisfação
em aprender matemática. Realmente, a BNCC para o ensino médio traz muita ênfase a essa
perspectiva metodológica a fim de fazer com que os alunos tenham uma aprendizagem mais
significativa.
Portanto, segundo a concepção dos professores pesquisados, a BNCC para o ensino
médio aborda a Resolução de Problemas Matemáticos de forma contextualizada e
interdisciplinar, explicitando o uso de problemas que façam sentido para a realidade dos alunos.
Com isso, verificou-se novamente uma forte influência da abordagem “ensinar sobre resolução
de problemas”, a qual visa tornar os alunos bons resolvedores de problemas, bem como que os
benefícios do uso dessa metodologia serão recursos que auxiliarão os alunos ao longo de suas
vidas. Outro ponto que fica claro na fala dos professores é que eles visualizam a Resolução de
Problemas Matemáticos nas competências e habilidades da BNCC do ensino médio, sendo algo
essencial para pautar o trabalho docente que se baseia em tal perspectiva metodológica.
No intuito de obter a opinião dos professores sobre se seria benéfico usar a Resolução
153
Enem, pois pode ajudar a desenvolver estratégias de resolução de problemas que podem
favorecer o estudante em ter um melhor desempenho no Enem.
Na mesma perspectiva, temos as concepções dos professores Helena, Fernando,
Estela, Paulo e Edgar, que retratam que o Enem traz muito a contextualização e
interdisciplinaridade nas questões. Por esse motivo, a Resolução de Problemas é uma
metodologia muito benéfica para fazer com que os alunos alcancem resultados melhores,
pois seu uso propicia que desenvolvam processos interpretativos mais amplos. Ainda, a partir
do trabalho com questões contextualizadas em sala de aula, os alunos teriam menos
dificuldades em lidar e solucionar os problemas do Enem, pois estariam familiarizados com
eles.
As professoras Catarina, Ana e Maria foram bem singelas ao retratarem suas opiniões,
dizendo que acreditam ser só mais um meio de preparação e que a aprendizagem matemática
teria mais sentido.
O professor Fábio afirma que os problemas do Enem são bem elaborados e que requerem
muita leitura e interpretação para o seu entendimento, por isso, são problemas que podem ser
aplicados também no contexto da Resolução de Problemas. Ainda, quando o aluno se apropria
disso, ou seja, quando o professor desenvolve um trabalho que reflete a utilização dessa
metodologia em sala de aula, ele poderá alcançar resultados melhores nas provas do Enem.
Com base nos argumentos dos professores, compreende-se que a Resolução de
Problemas Matemáticos torna-se uma excelente metodologia para a preparação dos alunos para
o Enem, pois na concepção deles, as questões do Enem são em grande maioria contextualizadas.
Nesse sentido, trabalhá-las por meio da Resolução de Problemas Matemáticos seria uma
alternativa para deixá-los mais bem preparados e acostumados com esse tipo de questão, além
de melhorar a interpretação e o desenvolvimento do raciocino lógico. Dessa maneira, nota-se
muito a influência da abordagem “ensinar sobre resolução de problemas” na fala dos
professores, pois entre as abordagens ela é a primeira que começa a abrir caminho para a
contextualização e interdisciplinaridade, além de fornecer vários outros benefícios, como o
desenvolvimento do pensamento matemático.
Portanto, o trabalho com essa metodologia por meio da abordagem “ensinar sobre
resolução de problemas” requer que o ensino de matemática por meio de problemas faça sentido
para o aluno. Com isso, a melhor estratégia seria escolher problemas contextualizados e
interdisciplinares, sendo que, de acordo com a opinião dos professores, a avaliação de
matemática do Enem é composta por essas questões. Unindo esses dois conceitos na preparação
dos alunos para o Enem, seria possível fazer com que os alunos obtivessem um desempenho
155
“ensinar sobre resolução de problemas”, pois demostram muita preocupação em fazer com que
o ensino da matemática tenha significado para seus alunos. Por isso, sempre buscam selecionar
problemas contextualizados e interdisciplinares, que possam mostrar a importância da
matemática para os estudantes.
Diante desses relatos, fica explícito que o professor de matemática não consegue utilizar
apenas uma abordagem em seu trabalho com a Resolução de Problemas Matemáticos, e isso
está em concordância com a concepção de Onuchic (1999), ao apontar que apesar das
abordagens da Resolução de Problemas Matemáticos na teoria serem separadas, na prática
podem ser realizadas em combinações e sequências. Dessa maneira, o professor de matemática
pode utilizar essas abordagens de forma integrada na prática pedagógica docente.
matemática resolvem o exemplo da forma mais difícil e depois mostra a forma mais fácil. É
porquê a forma mais difícil geralmente você aborda mais conceitos e forma mais fácil é mais
direta e por ela ser mais direta os conceitos ficam para traz, então a gente acaba abordando a
forma difícil e depois a gente mostra a forma mais fácil de resolver o problema. Se vocês não
entenderam dessa forma, agora vocês podem fazer dessa forma.
Essa preparação para o Enem, os livros eles já vêm pré-programados, tem uma parte nos livros
que tem o nosso conteúdo, aí tem as questões do conteúdo e tem lá três, quatro perguntas do
Enem. Então, os livros já vêm programados dessa forma. A gente tem ainda o calendário de
aulões da CRE que é a Coordenadoria Regional da Educação de Cacoal e a gente tem o
calendário de aulões da própria escola. Então, a gente tem esses momentos, assim acabamos
trabalhando no dia a dia dos alunos dentro do livro ou de acordo com apostila, e isso em todas
as matérias, não é só em matemática não. (Entrevista, 2021).
Dulce Trago todos os conceitos básicos possíveis, exemplifico com outros problemas, mostro
formas diferentes de resolução, procurando despertar o interesse dos alunos para a
disciplina (Questionário, 2021).
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.
O professor Daniel relatou no quadro 26 como trabalha na preparação dos alunos para
o Enem e apresentou também como acontece esse processo na escola em que leciona.
Verifica-se então no trabalho do professor Daniel que além de ministrar aulões, durante o
ano letivo, ele gradativamente trabalha em sala de aula essa preparação para o Enem,
ajudando também os alunos a entenderem a importância da avaliação para suas vidas e os
orientando desde o processo de inscrição até o acompanhamento do resultado. O professor
também relatou a dificuldade de fazer essa preparação em tempos de pandemia, pois há
pouca participação por parte dos alunos. No trabalho em sala de aula durante o ano letivo, o
professor Daniel comentou que costuma trabalhar também com questões do Enem
apresentadas nos livros didáticos e que ainda busca questões do Enem em outros materiais.
Portanto, o professor Daniel também trabalha com a resolução de questões de provas
passadas do Enem, ele tenta passar aos alunos a importância da interpretação dessas
questões, mostrando que eles não devem sair “chutando” as questões do Enem, por qualquer
motivo. Em vez disso, devem ler atentamente os enunciados e buscar os dados que podem
ajudar a solucionar as questões, ao fazer isso, os alunos podem clarear as ideias e buscar a
melhor estratégia para solucionar o problema. Esse foi um diálogo persistente na fala do
professor Daniel, que sempre demonstrou muito destaque a ensinar os alunos a encontrarem
o melhor caminho para solucionar os problemas. Nesse viés, esse professor faz uma transição
entre as abordagens “ensinar para a resolução de problemas” e “ensinar sobre resolução de
problemas” no que tange à preparação dos alunos para o Enem.
A Professora Helena explicou como acontece o seu trabalho frente a preparação dos
estudantes para o Enem, sendo que, sobre isso, percebe-se que ela ministra aulões, além
daqueles que são ministrados pela Coordenadoria Regional de Educação de Cacoal e a
plataforma Revisa Enem. No trabalho da professora Helena, vemos também a resolução de
162
questões anteriores do Enem, com isso, temos que ela faz uma transição entre as abordagens
“ensinar para a resolução de problemas” e “ensinar sobre resolução de problemas”, pois
apesar de apresentar os conteúdos por meio de revisão e depois utilizar as questões de provas
anteriores do Enem para praticar, a professora também costuma ensinar por meio de um
passo a passo como resolver essas questões.
O professor Fernando relatou que em seu trabalho na preparação dos estudantes vai
gradativamente começando com questões de nível fácil até chegar às mais difíceis. Ele
também comentou que a preparação para o Enem na escola em que leciona acontece durante
todo o ano letivo e há uma grande preocupação em trabalhar com questões contextualizadas.
Outro fato percebido é que o professor Fernando também utiliza a resolução de
questões anteriores de provas passadas do Enem para preparar os alunos, no entanto, nota-
se que ele costuma fazer algumas adaptações nas questões para modificar alguns dados ou
deixá-las mais contextualizadas em relação à realidade do aluno. Durante toda a entrevista,
ele demonstrou muita preocupação em trazer o ensino da matemática contextualizada, para
mostrar a seus alunos a importância dessa ciência para suas vidas e para a sociedade. Diante
disso, na preparação dos alunos para o Enem, o professor Fernando faz uma transição entre
as abordagens “ensinar para a resolução de problemas” e “ensinar sobre resolução de
problemas”.
Sobre o trabalho de preparação das professora Maria e Catarina, percebe-se o uso da
abordagem “ensinar para resolução de problemas”, no entanto, no caso específico dessas
professoras, não foi possível fazer uma análise mais profunda sobre como é o trabalho delas
na preparação do Enem, pois não foram muito descritivas.
No trabalho do professor Daniel, verifica-se que além de ministrar aulões, durante o
ano letivo ele gradativamente trabalha em sala de aula essa preparação para o Enem, além
de ajudar os alunos a entenderem a importância da avaliação para suas vidas e os orientar
desde o processo de inscrição até o acompanhamento do resultado. O professor também
relatou uma dificuldade em fazer essa preparação em tempos de pandemia, pois há pouca
participação por parte dos alunos. No trabalho em sala de aula durante o ano letivo, o
professor Daniel comentou que costuma trabalhar também com questões do Enem
apresentadas nos livros didáticos, além de buscar questões do Enem em outros materiais.
Em relação à forma com que prepara seus alunos para o Enem, o professor Fábio relatou
que na escola em que leciona, há aulões fornecidos pela Coordenadoria Regional da Educação
– CRE de Cacoal, além daqueles da própria escola. No que se refere à CRE de Cacoal, ele
descreveu que é um dos professores parceiros ministrando aulões e que tudo está acontecendo
163
Nessa abordagem teórica, os nomes que mais se destacam por pesquisas na área são
Onuchic (1999, 2013, 2014), Van de Walle (2009) e Proença (2018). A professora Onuchic,
inclusive, tem várias pesquisas nessa área em parceria com outros pesquisadores que se
fundamentam em seus ideais. Dessa forma, temos que essa abordagem se evidencia como a
mais moderna e ampla no trabalho didático pedagógico com situações-problema, pois seu foco
164
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa teve como objetivo analisar as concepções dos professores de matemática
do ensino médio sobre a Resolução de Problemas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
e sua relação com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para isso, elencamos que as
concepções apresentam elementos que podem incidir na prática dos professores, e são
construídas a partir das experiências individuais e sociais de cada professor, influenciando nas
suas crenças, no seu modo de lecionar, nas suas escolhas metodológicas, e em todo caminho
percorrido no processo de ensino-aprendizagem.
A fim de estabelecer as concepções dos professores de matemática do ensino médio
acerca dos temas educacionais debatidos nessa pesquisa, iniciamos o trabalho apresentando
aspectos importantes para a compreensão da metodologia de Resolução de Problemas
Matemáticos e suas abordagens.
Na Educação Matemática, a Resolução de Problemas Matemáticos começou a ganhar
notoriedade a partir do século XX, sendo a principal referência para essa base temática as ideias
do matemático húngaro George Polya, considerado pela comunidade de educadores
matemáticos como o “pai da Resolução de Problemas”.
Na década de 1980, o Conselho Nacional de Professores de Matemática dos Estados
Unidos (NCTM) dedicou a sua publicação anual à Resolução de Problemas, na qual indicou
que deveria ser o centro do ensino e das pesquisas daquela década. Com isso, surgiu um vasto
repertório de pesquisas com foco em sala de aula a respeito da Resolução de Problemas
Matemáticos. No intuito de organizá-las, Schroeder e Lester Junior (1989) dividiram e
classificaram essas pesquisas em três abordagens: ensinar sobre resolução de problemas,
ensinar para resolução de problemas e ensinar via/através da resolução de problemas.
A partir dos anos de 1990, a Resolução de Problemas Matemáticos ganha uma outra
dimensão, sendo caracterizada como uma metodologia para o ensino de matemática e, nesse
sentido, seus preceitos alcançaram diversos países a partir das considerações advindas do
NCTM. Chegando ao Brasil ainda nessa década, passou a ser discutida e estudada, sendo parte
integrante de inúmeros documentos da educação brasileira.
Na abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, o processo de resolução de
problemas compete no uso de estratégias e procedimentos matemáticos que têm o objetivo de
ajudar a resolver problemas, ou encontrar o melhor caminho para resolvê-los. Com isso, frente
à resolução de um problema, é fundamental usar conhecimentos matemáticos prévios
adquiridos em situações anteriores, e como forma de organização do processo de resolução
166
utiliza-se etapas, com o propósito de facilitar a resolução do problema. O professor que utiliza
essa abordagem fundamenta seu trabalho no método de Polya (2006) ou em alguma variação
desse método. Outro requisito importante que essa metodologia traz é o caminho que abre para
contextualização e interdisciplinaridade em sala de aula, em que o professor deve levar para o
trabalho didático-pedagógico situações que façam sentido para a realidade dos alunos.
Em vista disso, o professor deve ser o mediador do ensino, sendo o incentivador dos
estudantes, levando-os a buscarem por conta própria a resolução para as situações-problema
apresentadas em sala de aula. Dessa forma, o professor tem a missão de desmitificar a
matemática, para isso, se torna importante a escolha de bons problemas, que possam ser
contextualizados e interdisciplinares, mostrando a aplicação da matemática em diversos
contextos da sociedade. Assim, será possível tornar a matemática algo acessível e comum, visto
como útil e imprescindível para a humanidade, sendo que seus preceitos guiarão e
acompanharão os estudantes ao longo de suas vidas.
A abordagem “ensinar para resolução de problemas” é o cenário no qual o professor
explica o conteúdo matemático e depois trabalha com problemas para treinar o que foi ensinado
(transferido) por ele e, assim, praticar a matemática. Essa perspectiva é considerada a mais
habitual em sala de aula, e sua meta final é que os alunos sejam capazes de transferir o que
aprenderam para outras situações que envolvam o mesmo conhecimento matemático.
Já a abordagem “ensinar via/através da resolução de problemas” é considerada a
perspectiva mais atual e adequada da Resolução de Problemas Matemáticos, pois amplia a
compreensão dada a essa metodologia em sala de aula, passando a englobar todo o percurso
didático-pedagógico do professor. A partir dela será possível iniciar um conteúdo, treiná-lo e
avaliar a aprendizagens dos alunos. Nessa abordagem, o problema é visto como ponto de partida
da aprendizagem, e os alunos devem começar a resolução a partir de conhecimentos prévios e,
durante o processo da solução, se os conhecimentos prévios não forem suficientes, pode-se
estabelecer a aprendizagem de novos conhecimentos ou conceitos matemáticos necessários
para a resolução do problema proposto. Dessa maneira, o processo de ensino-aprendizagem de
matemática acontece enquanto resolvem-se problemas. Nessa perspectiva, há também o
cuidado de se trabalhar com situações contextualizadas e interdisciplinares, e o papel do
professor ao trabalhar com a Resolução de Problemas é de criar um ambiente investigativo
propício à aprendizagem matemática, em que deve transmitir muita confiança e estimular o
espírito de pesquisa e exploração da matemática, proporcionando a interação e participação dos
estudantes.
Segundo a BNCC, o ensino médio tem o dever de fornecer aos estudantes dessa etapa
167
estadual pública de ensino, das escolas urbanas de Cacoal e Ministro Andreazza, ambos
munícipios do estado de Rondônia.
Nas análises e nos resultados dos questionários, percebe-se que a maioria dos
professores pesquisados possuem formação em Licenciatura em Matemática e detêm algum
tipo de especialização. No que diz respeito à Resolução de Problemas, apenas 5 professores
tiveram conhecimento sobre esse tema ainda na formação inicial. Ao longo da trajetória
profissional desses professores, todos os 11 fizeram cursos de formação continuada, sendo que
destes, 3 fizeram cursos com a temática de Resolução de Problemas. Com isso, é possível inferir
que os professores possuem concepções sobre a Resolução de Problemas Matemáticos, quer
seja pelos conhecimentos adquiridos em formação inicial ou continuada ou pelo seu trabalho
em sala de aula. Essas concepções foram analisadas a partir do questionário e das entrevistas
realizadas. A respeito da entrevista, obteve-se a participação de 4 dos professores que
responderam ao questionário.
Em referência à BNCC do ensino médio, nos locais em que a pesquisa foi realizada,
ainda não houve formação continuada para os professores em específico sobre a área de
Matemática e suas Tecnologias. A maioria dos professores pesquisados costuma basear seus
planejamentos nos preceitos da BNCC, indicando as competências e habilidades em cada aula
planejada. Dessa forma, a BNCC torna-se um guia para o trabalho desses professores. Posto
isso, temos que o processo de implantação da BNCC do ensino médio no estado de Rondônia
ainda está em andamento, a escolha pelos novos livros didáticos de acordo com as normas
curriculares da BNCC foi realizada no ano de 2021, para que chegassem no início do ano letivo
de 2022. Sendo assim, dois professores notaram que alguns livros didáticos da época em que a
BNCC estava em processo de construção já traziam os conteúdos conforme as indicações da
BNCC, e isso ajudou os professores a irem se familiarizando com essa nova proposta de
organização curricular.
Com relação à abordagem da Resolução de Problemas Matemáticos usada pelos
professores pesquisados em sala de aula, verificou-se uma forte influência da abordagem
“ensinar sobre resolução de problemas”, em virtude de ser esta a mais presente em livros
didáticos que chegam aos professores da educação básica, e até mesmo pelo fato de um dos
autores de livros didáticos ser bem reconhecido pelos professores e um renomado nome da
pesquisa brasileira em Resolução de Problemas Matemáticos, Luiz Roberto Dante. Nos livros
de sua autoria, sempre traz o uso dessa metodologia sob a perspectiva de George Polya, trazendo
o passo-a-passo para a solução dos problemas, que devem sempre envolver a realidade dos
alunos, explorar a contextualização e a interdisciplinaridade, fomentando o desenvolvimento
170
do pensamento matemático.
Nesse viés, percebe-se que por mais que esta seja a concepção de Resolução de
Problemas mais notada nos professores participantes, ainda foi constatado o uso da abordagem
mais tradicional e habitual desse recurso didático sob a abordagem “ensinar para a resolução de
problemas”, com alguns professores que fazem o uso da explicação dos conceitos matemáticos
e depois usam problemas para treinar estes conceitos. No entanto, notou-se que a maioria dos
professores que usam essa abordagem preocupam-se em levar situações-problema que
envolvam o cotidiano dos estudantes. Nesse sentido, buscam levar problemas contextualizados
e interdisciplinares, incentivam também os alunos a resolverem os problemas a partir de
conhecimentos prévios e ensinam a fazer a análise dos problemas trabalhados em sala de aula.
Portanto, esses professores fazem uma transição entre as abordagens “ensinar para a resolução
de problemas” e “ensinar sobre resolução de problemas”. Segundo Onuchic (1999), embora que
nos princípios teóricos as abordagens da Resolução de Problemas Matemáticos possam estar
separadas, na prática do trabalho docente elas podem ser usadas em combinações e sequências.
No que diz respeito à abordagem “ensinar via/através da resolução de problemas”, na
análise das concepções dos professores não se notou em nenhum momento sinais do uso dessa
perspectiva, sob a autoria de autores como Lourdes de La Rosa Onuchic. Acredita-se que essa
abordagem é mais reconhecida e notória quando se faz pesquisas na área da Educação
Matemática, em grupos de pesquisas ou em cursos de pós-graduação. Talvez isso ocorra por
conta dos obstáculos que são enfrentados diariamente pelos professores da educação básica,
tais como: a falta de uma formação inicial e continuada adequada, a carência de materiais
apropriados que tragam problemas que possam ser trabalhados com os mais diversos conteúdos
matemáticos, no sentido de conseguir com eles iniciar um novo conteúdo, treiná-lo e avaliar a
aprendizagem dos alunos sobre o conteúdo, por intermédio dessa abordagem. Porém, como a
BNCC vem ampliando os significados da Resolução de Problemas Matemáticos, futuramente
o debate e a utilização dessa perspectiva poderão ser mais divulgados e aplicados na formação
de professores.
Acreditamos também, que somente a BNCC não será capaz de proporcionar a mudança
de concepção dos professores para a abordagem “ensinar via/através da resolução de
problemas”, os formadores de professores desempenharão um papel crucial para que as ideias
dessa abordagem realmente de fato possam alcançar os professores da educação básica, tanto
na formação inicial como na continuada, pois são eles que poderão ir além das nuances que a
BNCC traz para essa abordagem, aprofundando e trazendo mais elementos que possam gerar
uma futura mudança de concepções acerca dessa metodologia.
171
ações do ser humano na sociedade. Dessa maneira, os professores fazem uma transição entre as
abordagens “ensinar para resolução de problemas” e “ensinar sobre resolução de problemas”.
Todos os 11 professores que participaram da pesquisa acreditam no grande potencial da
Resolução de Problemas Matemáticos para a preparação dos alunos no Enem, pois como
evidenciado por eles, a prova de matemática do Enem é composta por situações-problema
contextualizadas e interdisciplinares, sendo que a referida metodologia requer o trabalho com
problemas que façam sentido para a realidade dos alunos. Dessa maneira, a união desses
princípios seria o ideal para um melhor desempenho nessa avaliação.
Na concepção dos professores pesquisados, existe sim uma relação entre a Resolução
de Problemas Matemáticos no contexto da BNCC do ensino médio e do Enem. Tal relação se
desvela com mais ênfase sob a abordagem “ensinar sobre resolução de problemas”, ficando
explícita na relevância dada a contextualização e interdisciplinaridade em tais documentos, que
trazem de forma notória a importância do uso desses recursos para o sucesso do processo de
ensino-aprendizagem de matemática, desde seus textos introdutórios até as competências e
habilidades presentes em cada um deles.
Sendo assim, a Resolução de Problemas pode ser um meio de atingir os preceitos de
uma formação mais significativa em matemática, pois, além de trazer vários benefícios para o
desenvolvimento cognitivo dos estudantes, ela tem o potencial de ser um meio de desmistificar
a matemática, de mostrar que a disciplina está presente no dia a dia das pessoas e que é
imprescindível para a sociedade contemporânea, sendo utilizada nos diversos segmentos do
mercado de trabalho, nas mais variadas profissões e em diferentes ciências, fornecendo aos
estudantes ferramentas para atuarem de forma crítica e reflexiva sobre a realidade em que
vivem.
No decorrer da pesquisa, foram enfrentadas muitas dificuldades, muitas delas em virtude
da pandemia de COVID-19. A primeira dificuldade foi em relação a encontrar os participantes,
pois, devido ao período em que a iniciamos (em plena pandemia), todos estávamos passando
por adequações. O contato com os participantes teve de acontecer de forma remota e, nesse
período, os professores estavam reinventando suas práticas, por isso, foi muito difícil contactá-
los. Durante o início dos contatos, verificou-se que alguns professores não poderiam participar,
pois estavam enfrentando em suas famílias a COVID-19 e, por esse motivo, respeitosamente,
compreendemos a decisão de não participarem. Ao longo da pesquisa, tivemos professores
participantes que contraíram o vírus, mas, felizmente, conseguiram se recuperar.
Em relação ao caráter teórico da pesquisa, o desafio deste trabalho foi conseguir material
de autores renomados, pois antes poderíamos contar com o acervo da biblioteca das
173
universidades, porém, com a pandemia, esse acesso ficou limitado, principalmente para pessoas
que residem em cidades diferentes da universidade em que estudam. Apesar dos percalços
vivenciados, não houve perdas na qualidade do trabalho executado.
Por fim, espera-se que os conhecimentos adquiridos com essa pesquisa alcancem os
professores de matemática do ensino médio, para que eles possam conhecer o quanto a
Resolução de Problemas Matemáticos pode ser uma metodologia útil, no sentido de atingirem
as competências e habilidades propostas na BNCC na área de Matemática e suas Tecnologias
e, simultaneamente, prepararem os estudantes para o Enem. A fim de alcançar essa meta,
futuramente pretende-se apresentar os resultados dessa pesquisa nas escolas selecionadas e em
outras escolas do estado de Rondônia, para que os professores que lecionam nelas possam
conhecer o potencial desse recurso didático. Outra intenção é criar um material didático pautado
na Resolução de Problemas Matemáticos, a fim de que os professores do ensino médio possam
dispor de um elemento que os ajude a fazer a preparação para o Enem, conforme as normas e
diretrizes impostas na BNCC na área de Matemática e suas Tecnologias, uma vez que, nos
próximos anos, o Enem será atualizado e estará mais alinhado com as orientações trazidas pela
BNCC.
174
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aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 17. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
APÊNDICE B – Questionário
Prezado(a) participante______________________________________________________.
A partir de sua anuência no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), gostaria de
contar com a sua colaboração voluntária e gentileza para responder esse questionário, que nos
ajudará a levantar informações para o desenvolvimento da pesquisa intitulada “A
CONCEPÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA SOBRE A RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS: UM OLHAR REFERENTE À BASE NACIONAL COMUM
CURRICULAR E SUA RELAÇÃO COM O EXAME NACIONAL DO ENSINO
MÉDIO”. Ressalto que sua identidade será preservada no anonimato e que as respostas serão
utilizadas somente para fins de pesquisa, podendo assim ser divulgadas em eventos acadêmicos
científicos.
Atenciosamente,
Priscila Miranda Engelhardt
Ana Fanny Benzi de Oliveira Bastos
DADOS PESSOAIS
Nome:
Idade: Celular: Cidade (reside):
Natural: E-mail:
Escola em que Leciona:
Há quanto tempo leciona no ensino médio:
Qual é sua carga horária: Semanal _______
FORMAÇÃO
Possui: ( ) Graduação; ( ) Especialização; ( ) Outros.
Por favor abaixo escreva o nome dos cursos que fazem parte da sua formação.
Graduação: Ano de obtenção do título:
Especialização: Ano de obtenção do título:
Outros: Ano de obtenção do título:
Durante a sua formação, participou de cursos ou teve alguma disciplina em que foi
apresentada a Metodologia de Resolução de Problemas? ( ) Sim; ( ) Não.
Caso a resposta seja sim, destaque se foi: ( ) Cursos; ( ) Disciplinas; ( ) Outros:
_______________________________
Já fez algum curso de formação continuada: ( ) Sim; ( )Não
Caso a resposta seja sim, já fez algum curso sobre: ( )Resolução de Problemas; ( ) BNCC;
( )Enem;
Outros____________________
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RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
1) Você utiliza a Resolução de Problemas matemáticos em suas aulas?
( ) Sim; ( ) Não. Se sim, explique
como?_________________________________________
4) Em quais fontes você costuma buscar problemas para as suas aulas? ( ) Livros
didáticos; ( ) Bancos de questões da OBMEP; ( ) Bancos de questões do Enem;
Outros___________________________________
10) Você acredita que usar a Resolução de Problemas como metodologia em sala de
aula, poderia ajudar os alunos alcançarem resultados melhores no Enem?
( ) Sim; ( ) Não.
Explique?_________________________________________________
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Prezado(a) participante_______________________________________________________
Quero agradecer por sua colaboração voluntária e gentileza por me conceder essa entrevista que
será realizada hoje (xx/xx/xxxx). A realização dessa entrevista nos ajudará a levantar
informações para o desenvolvimento da pesquisa intitulada “A CONCEPÇÃO DO
PROFESSOR DE MATEMÁTICA SOBRE A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: UM
OLHAR REFERENTE À BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E SUA
RELAÇÃO COM O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO”. Informo que a
entrevista será gravada e após a transcrição lhe será dada a devolutiva para que possa proceder
a leitura e fazer os ajustes que julgar necessário. Ressalto ainda que sua identidade será
preservada no anonimato e que as respostas serão utilizadas somente para fins de pesquisa,
podendo assim ser divulgadas em eventos acadêmicos científicos. (Texto para proceder a
leitura para o sujeito colaborador, antes de proceder a entrevista).
Atenciosamente,
Priscila Miranda Engelhardt