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Portugal
Portugal
“E começou de seer muy boo Rey e de justiça mais ouve maãos conselheiros e
despois da alli em diante nom foi justiçosso...e os bispos e arcebispos e os
abbades bentos e os príncipes e todollos outros prellados da Santa egreia
ouveram conselho e acordarrommsse de enviar dizer esto ao Papa... e diserom
no ao Papa que nom aviam yustiça nem huuma e que a nom fazia.” (Anais,
Crônicas Breves e Memórias Avulsas de Santa Cruz de Coimbra, com introdução
de António Cruz, p.146)1
Além disso, Sancho II continuou com a política dos seus antecessores de “esquecer”
do pagamento do censo prometido por Afonso Henriques à Santa Sé, obrigação
contraída para si e seus sucessores, quando da independência de Portugal. Para
completar tal quadro, o rei havia se casado com Dona Mécia Lopes de Haro, sua
parente em quarto grau de consangüinidade, sem que tenha havido pedido de
dispensa antes ou mesmo depois do casamento. Contudo, não podemos esquecer
que esses desentendimentos refletem a política de Sancho II de restringir os poderes
do clero em Portugal, num momento em que o pensamento hierocrático e o poder
papal ainda tinham vigor suficiente para enfrentar a monarquia portuguesa, ainda
feudatária da Santa Sé, com os ecos do pontificado de Inocêncio III, do qual
Inocêncio IV era um seguidor convicto.
A inabilidade de Sancho II em compreender o quadro político geral e a
disponibilidade do seu irmão em atiçar os problemas na Cúria Papal, mantendo o
papa atualizado acerca dos deslizes de irmão reinante deu ao papa e aos opositores,
marcadamente o alto clero lusitano, de Sancho II todos os elementos que
assegurariam uma transição pacífica do poder, caso se chagasse à deposição do
1
MARQUES, Maria Alegria Fernandes. O Papado e Portugal no tempo de D. Afonso III
(1245-1279). Coimbra, Centro de História da Sociedade Portuguesa. Fac. Letras, 1990
p.423.
monarca. Assim, a presença do conde Afonso de Bolonha entre os descontentes
confere aos seus projetos a exeqüibilidade necessária, por ser o segundo na linha de
sucessão. As consciências estão acalmadas e a legitimidade assegurada.
Assim, em 1245 Inocêncio IV emite uma bula na qual ameaça com os castigos
previstos nos cânones todos os que se opuserem a essa transferência de poder,
embora isto não tenha evitado a guerra civil, encurtada na prática e nos debates
jurídicos pela morte de Sancho II em 1248.
Assim, apesar dos problemas, o governo de Afonso de Bolonha, agora rei Afonso
III, inicia-se sob uma conjugação favorável: apoiado pelo papa e pela maioria do
alto clero português.
Ao firmar sua legitimidade definitivamente pela morte do irmão, Afonso III
percebeu a necessidade de consolidar sua autoridade e passa a utilizar-se dos
argumentos que fundaram a deposição do seu irmão: a desordem e a fraqueza do seu
reinado, para ordenar uma série de revisões de privilégios, competências e
jurisdições a fim de reorganizar o reino. Essas revisões passarão à História com o
nome de Inquirições e se efetivarão em 1258 e 1259. É nesse contexto que se insere
o nosso trabalho com as Ordenações do referido rei, buscando compreender a
extensão e os limites da competência e da jurisdição da autoridade real, pois:
6) BIBLIOGRAFIA:
7) FONTES: