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1ª.

Apostila de Sociologia

Os Clássicos da Sociologia I -
Émile Durkheim
II - Max Weber
III - Karl Marx
Resumo da aula anterior.
A Sociologia surge no momento de desagregação da sociedade feudal e da
consolidação da civilização capitalista. É resultado do trabalho de um conjunto de pensadores
que se empenharam em compreender as novas situações sociais, econômicas, políticas e
culturais.
As conseqüências da rápida industrialização e urbanização levaram ao aumento da
prostituição, do alcoolismo, da criminalidade, epidemia, dos bolsões de miséria. A sociedade
passou a ser um problema, um objeto que precisava ser investigado e modificado.

I - Emile Durkheim (1858-1917)

Uma das três matrizes do pensamento científico da Sociologia, a obra de Emile


Durkheim exerceu grande influência nas Ciências Sociais. Apesar de ser posterior a
Marx, é considerado o pai da Sociologia, pois é ele que vai estruturar, de fato, a ciência
sociológica na França, tendo dedicado toda sua carreira ao desenvolvimento dessa ciência,
metódica e rigorosamente objetiva.
Nasceu na região francesa da Alsácia, em 1858. Descendente de judeus franceses e
rabinos, frequentou grandes escolas e formou-se em Filosofia. Tornou- se professor e mais
tarde foi estudar Ciências Sociais na Alemanha 1885, onde esses estudos estavam mais
avançados. Ministrou o primeiro curso de Sociologia criado em uma universidade francesa.
Durante estes estudos, teve contatos com as obras de Augusto Comte e Herbert Spencer que o
influenciaram significativamente na tentativa de buscar a cientificidade no estudo das
humanidades.

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As condições históricas em que viveu:
Emile Durkheim viveu a segunda metade do século XIX ao final da Primeira Grande
Guerra (1914-1918). Na França, o momento era marcado pela instabilidade política e social. É
o momento de reorganização política do estado, rompimento das tradições: separação
Igreja/Estado, conflitos sociais grandes massa da população em péssimas condições de
vida.
Por outro lado, havia um certo otimismo em virtude do progresso tecnológico e
científico. É o momento de expansão do industrialismo, aumento da produção e melhorias em
outras áreas,como a educação. Havia forte crença no racionalismo. Surgem mudanças na
forma de pensar e conhecer a natureza e a sociedade, marcados pelo rompimento com o
pensamento dominante anterior da Igreja: fé cristã. Surge grande interesse pelo homem e sua
história.

Pensamento e teoria em E. Durkheim


Para esse pensador “Não existe moralidade fora do contexto social e a moralidade é a
grande força coesiva da sociedade. A função básica da sociedade é justamente transmitir
valores morais.”
Durkheim se propôs a construir a Sociologia como uma ciência autônoma, que
deveria analisar a sociedade cientificamente, com racionalidade. Ao mesmo tempo, procurou
conhecer cientificamente a sociedade, para que a partir desse conhecimento da ciência
pudesse compreender a sociedade e fazer as intervenções necessárias na realidade social, a
fim de ordená-la. Tinha uma visão otimista da sociedade industrial.
Seguindo aos princípios do Positivismo de A.Comte, Durkheim considerava que a
ciência poderia, por meio dos conhecimentos e pesquisas, encontrar soluções no sentido de
por ordem na sociedade.
Durkheim parte dos valores morais como elementos capazes de atenuar os conflitos
sociais, adotando uma posição conservadora em relação à crise social de seu tempo.
Acreditava que os conflitos seriam resolvidos pela recuperação dos valores morais, por
meio da formação de instituições públicas, tais como a educaçao e o direito, capazes de se
impor aos membros da sociedade e estabelecer a ordem.
Discordava das ideias socialistas e da ênfase dada aos fatos econômicos nas crises da
época. Em suas análises não utilizava conceito de classe social e não

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considerava importante os fatores econômicos na compreensão dos fatos humanos. Sua
explicação buscou os elementos morais, os valores, as regras para conservação da ordem
estabelecida – os chamados aspectos superestruturais. Estava preocupado com a integração
social, ressaltando que grande parte de pessoas passava a maior parte da vida no meio
industrial e comercial e esse meio estava desprovido de valores morais.
Segundo esse pensador, para restabelecer a saúde da sociedade era necessário criar
novos hábitos e comportamentos, baseados em valores morais que garantissem a integração
social. A função da Sociologia seria detectar e buscar soluções aos problemas sociais e
restaurar a normalidade social, para manutenção e preservação da ordem.

Metodologia: positivismo e objetividade

Durkheim segue a postura metodológica de A.Comte, salientando a importância em


definir a Sociologia como uma ciência autônoma, com objeto de estudo definido, seguindo o
mesmo método das ciências naturais.
O objetivo principal do método sociológico é estabelecer como devem ser estudados
os fatos sociais.
Em As regras do Método Sociológico define o objeto de estudo, estabelece as
regras do método para a investigação sociológica que garantissem à Sociologia o caráter
rigoroso e objetivo. Os fatos sociais seriam trados do mesmo modo objetivo dado aos
fenômenos físicos, segundo a abordagem metodológica racionalista e positivista:
 A sociedade é regulada por leis naturais.
 Os métodos de conhecer a sociedade são os mesmos das ciências da natureza.
 O observador deve limitar-se à análise e observação dos fenômenos sociais, de
forma neutra, objetiva, livre de julgamentos de valor e pré- noções.
Os fatos sociais devem ser tratados como coisas, por meio do método de observação e
experimentação.

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Temas e conceitos fundamentais da Sociologia de Durkheim

1. O fato social
É o objeto da Sociologia. Os fatos sociais “são maneiras de agir, pensar e sentir
exteriores ao indivíduo, e dotadas de poder coercitivo “, e que exercem influências sobre o
indivíduo.
Os fatos sociais possuem três características:
 A exterioridade: os fatos sociais existem antes do nascimento do indivíduo e atuam
sobre ele independente de sua vontade.
 A coercitividade: os fatos sociais exercem força social e força sobe os indivíduos,
levando-os a agirem de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade. Ex: a
língua.
 A generalidade: os fatos sociais são tomados coletivamente, pelo conjunto da
sociedade. As crenças, os costumes, os valores.
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo
uma coerção exterior ou, ainda, que é geral em uma determinada sociedade, apresentando
uma existência própria, independente das manifestações individuais.
Os fatos sociais existem fora dos indivíduos, mas são interiorizados e passam a existir
em suas consciências. São externos porque foram transmitidos socialmente aos indivíduos.
A educação é um fato social, imposto aos indivíduos e pressiona-os a girem de
acordo com leis, normas, valores, costumes e tradições de uma sociedade. O comportamento
dos indivíduos é socialmente determinado e a educação é uma força essencial na conformação
do indivíduo aos padrões morais e sociais de uma sociedade.São fatos sociais: o direito (as
regras jurídicas e morais), os dogmas religiosos, os sistemas financeiros, a educação, entre
outros.
A sociedade e os grupos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, fazendo-os
assumirem papéis relacionados com um fenômeno em particular. Ao assumir o papel de
torcedor de um time ou ao fazer parte de determinada religião, por exemplo, a pessoa toma
atitudes especiais, que lhe são exteriores.

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2. A divisão do trabalho social: solidariedade mecânica e solidariedade
orgânica.
Para este pensador, a sociedade só pode existir segundo a solidariedade ou sentimento
de interdependência que o ser humano possui em relação ao outro. Não é possível existir
sociedade sem tal princípio, de tal maneira que a vida coletiva pressupõe, para Durkheim, a
formação de um contexto que possui vida própria, para além das vontades individuais. A
sociedade se sobrepõe ao indivíduo. Assim, todo grupo existe segundo o desenvolvimento de
regras comuns a partir das quais a vida social é possível.
A divisão do trabalho no capitalismo se intensifica em função do aumento do volume
da população. Esse aumento leva a uma maior aproximação dos membros da sociedade, no
espaço físico, e maior comunicação e interdependência, no espaço social. Durkheim
considerava que a crescente divisão do trabalho, levava a um aumento da solidariedade entre
os homens, pois a especialização das atividades dos indivíduos aumentava a dependência
entre eles, unindo-os e reforçando a coesão e solidariedade social.
Em sua obra A divisão do trabalho social, Durkheim relaciona a divisão do trabalho
social à ordem moral. A divisão do trabalho resultaria na relação de cooperação e de
solidariedade entre os homens. No entanto, como as transformações sócio-econômicas eram
aceleradas nas sociedades européias capitalistas, inexistia um novo e eficiente conjunto de
idéias morais que pudesse guiar o comportamento dos indivíduos, isso levava ao mau
funcionamento da sociedade.
Durkheim identifica a existência na história das sociedades de dois tipos de
solidariedade: a mecânica e a orgânica.
A solidariedade mecânica surge nas sociedades simples e tradicionais, onde os
indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma
sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciaram e reconhecem
os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a
uma coletividade. Os indivíduos compartilham a tal ponto padrões de conduta que não há
grande diferenciação entre eles, pois numa tribo ou cidade do interior, o padrão moral
se efetiva sobre os

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indivíduos a tal ponto que o que é válido para um, também, é aos demais. Existe uma
forte imposição moral nessas sociedades tradicionais.
A solidariedade orgânica surge nas sociedades mais complexas e modernas, onde
existe uma maior divisão do trabalho e uma maior individualidade, pois as pessoas criam
autonomia em relação à consciência coletiva. Por meio da divisão do trabalho social, os
indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos
costumes, tradições. Assim, o efeito mais importante da divisão do trabalho não é o aumento
da produtividade, mas a solidariedade que gera entre os homens.
Nas grandes cidades industriais, observadas por Durkheim no final do século XIX e
início do XX, as relações sociais não estavam pautadas pela intensa imposição
moral presente nas sociedades simples e tradicionais. A presença do individualismo e da
diversidade causavam a perda de coesão e do consenso da vida em sociedade.

4. O normal e o patológico – o conceito de anomia


Durkheim caracterizou o fenômeno social de normal ou patológico. Para ele, o
fenômeno pode ser considerado normal se for encontrado na sociedade de forma generalizada,
não coloque em risco a integração social e esteja dentro de um determinado nível.
O crime é um fenômeno normal, pois é encontrado em todas as sociedades de todos
os tipos, é geral, e, ao mesmo tempo em que, ao se impor a punição, serve para lembrar e
fortalecer os valores de toda sociedade.
Fato social normal é geral, recorrente e que favorece a integração social.
Fato social patológico é excepcional, transitório e põe em risco a integração
social.
Para ele, o suicídio também é normal, pois existe em todas as sociedades.
Torna-se anormal se houver o aumento das taxas.

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II - Max Weber (1864-1920)

Max Weber nasceu na Alemanha, em 1864, em uma família da alta classe média. Filho
de um renomado advogado, foi criado em uma atmosfera intelectualmente estimulante,
voltado para os ensinamentos humanistas. Weber recebeu excelente educação em línguas,
história e literatura clássica.
Em 1882, começou os estudos superiores em Berlim, onde se dedicou ao estudo de
economia, história, filosofia e direito. Tornou-se professor na Universidade de Berlim e foi
livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Sua obra é extensa
e influente. Sua formação intelectual acompanha o período em que as primeiras disputas sobre
a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa.
Sofreu perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só
voltando à atividade mais tarde. Com tendências depressivas e saúde frágil, morreu em 1920.
Viveu na Alemanha no final do sec. XIX e começo do XX. Sua obra coincide com momento
de intensa industrialização na Alemanha.

Seu pensamento:
O pensamento de Max Weber é uma inesgotável fonte de reflexão para os problemas
do mundo contemporâneo. De um lado, Weber questionava a confiança no modelo positivista
em se formular leis sociais. Para ele, não é possível produzir leis sobre os fenômenos sociais,
pois a relação existente entre os homens e entre estes e as instituições sociais é desordenado,
imprevisível e caótico, não existindo continuidade na história humana. O conhecimento da
história é importante, no entanto isso não tornava possível a elaboração de leis e
generalizações dos fenômenos sociais. Não existem leis sociais que possam ser antecipadas e
controladas e que passe a prever e controlar a realidade social (do positivismo).
Por outro lado, Weber considerava a economia e as formas de produção importantes,
mas não acreditava que os fatores econômicos explicavam as condições históricas em sua
totalidade, ou seja, não acreditava que a economia tivesse papel preponderante sobre as
demais esferas da realidade social (do marxismo).

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Weber sempre se preocupou em conferir o caráter científico à Sociologia.
Considerava que o cientista deveria assumir uma posição neutra, não podendo ter preferências
políticas e ideológicas a partir de sua profissão. Fazia a distinção entre o cientista e o político -
o homem de ação. Na verdade, ele isolou a Sociologia dos movimentos revolucionários: A
ciência deve oferecer a compreensão da conduta, das motivações e conseqüências dos atos do
homem. A Sociologia deveria ser um conjunto de técnicas neutras para a compreensão da
realidade social.

Seu objeto
Weber considerava o individuo e a sua ação como ponto chave da investigação.
Era preciso compreender as intenções e as motivações dos indivíduos que vivenciam as
situações sociais.

Seu método
Naquele momento surge nas ciências sociais uma tendência que distingue explicação
e compreensão da realidade. O modo explicativo seria característico das ciências
naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria
o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser
explicados propriamente, mas sim buscam os processos vivos da experiência humana,
extraindo deles seu sentido. Os fenômenos sociais só tem significado se conhecermos a
motivação e o sentido mais profundo que existem por trás desses fenômenos.
Weber analisa o papel das pessoas e as suas ações individuais. A sociedade deve ser
entendida a partir das interações sociais. A ação social dá sentido à ação individual. A ação
social é orientada pelo comportamento e valores dos indivíduos e dos grupos, sendo
fundamental para a organização da sociedade humana.
A conduta adquire o sentido social quando se orienta pelo comportamento de outras
pessoas. As teorias sociológicas desenvolvidas ao longo do século XIX privilegiavam os
fenômenos sociais coletivos. Para Emile Durkheim o importante era o fenômeno coletivo e
não o comportamento individual, pois a sociedade está acima do individuo. Karl Marx, por
sua vez, trata da relação dos agrupamentos sociais, e não do indivíduo.

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Para colocar o homem no centro das preocupações sociológicas, Weber teve que
reformular o método científico: a tarefa do sociólogo é captar o sentido das condutas
humanas.
Weber concebe o objeto da sociologia como, "a captação da relação de sentido" da
ação humana, ou seja, conhecer um fenômeno social seria extrair o conteúdo simbólico da
ação que o configura. Para Weber não é possível explicar um fenômeno social como resultado
da relação entre causas e efeitos, semelhante às ciências naturais, mas compreendê-lo como
fato carregado de sentido, isto é, como algo que aponta para outros fatos e somente em função
dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude.
Por exemplo, mais importante do que entender porque de algo aconteceu (causas) é
compreender o que levou ao indivíduo, ou conjunto de indivíduos, a se comportar de
determinada maneira.
O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido
que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações.
Por exemplo, se uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é
irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel
para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está
diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em
questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais,
na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir
como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma
comunidade maior de pessoas.

Conceitos:
Para realizar a análise compreensiva, Weber formula o conceito “tipo ideal”, que
representa o primeiro nível de generalização de conceitos abstrato. O tipo ideal é um ponto
de partida, contendo parâmetros estabelecidos de comportamento, de ação, de dominação. O
tipo ideal fornece o recurso essencial para a compreensão dos comportamentos sociais,
permitindo analisar as formas de ação social.

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1. Tipos de ação social
Os tipos de ação social jamais são encontrados na realidade em toda a sua pureza, e,
na maior parte dos casos, os quatro tipos de ação encontram-se misturados.
Ação é social quando um determinado comportamento implica uma relação de
sentido para quem age. Nem todo comportamento humano é social. É preciso que tenha
sentido para o individuo que age. A ação social orienta-se pelo comportamento de outros. Os
“outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou uma multiplicidade de desconhecidos.
Weber definiu quatro tipos de ação social:
a. Ação tradicional: tradições, costume. Ex: dar presente de Natal
b. Ação afetiva: baseada em sentimentos e afetividade, não racional. Ex: torcer por
um time
c. Ação racional orientada para valores: racional, a ação é importante e não os fins.
Ex: trabalho voluntário ou de um político, onde o retorno não é o dinheiro ou
prestígio final, mas a missão. (em crise)
d. Ação racional orientada pra fins: racional, o importante é o resultado. Ex: empresa
capitalista.

Esses tipos de ação existem de formas diferentes nas sociedades humanas. Nas
sociedades antigas e feudais prevaleciam os tipos tradicionais e afetivos, daí a família e a
igreja terem papel fundamental nessas sociedades.
Na sociedade capitalista predomina ação racional, com planejamento eficiente e com
metas, orientada pra fins. A empresa do século XVIII para a atual sofreu várias
modificações, mas seus fins e objetivos continuam os mesmos: lucro, acumulação econômica
e otimização produtiva.
Esse tipo de comportamento social pautado na racionalidade é o que caracteriza a
sociedade moderna e a que subordinam a tradição, os afetos e os valores à racionalidade. Isso
leva ao “desencantamento do mundo”, pois o homem passa a maior parte do seu tempo
realizando atividades buscando os efeitos esperados (racional) e não pautados em seus
valores, suas tradições e suas afetividades.
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2. Tipos de dominação/autoridade
Existem três tipos puros de dominação:
a. Tradicional: respeita aos costumes e regras. É o tipo em que o indivíduo ocupa
posição de autoridade independentemente do controle de um corpo administrativo.
A autoridade e as prerrogativas pessoais são mais extensas. Ex: coronéis,
soberanos e patriarcas antigos ou medievais
b. Carismática: capacidade de liderança e comando, em que se almeja estabelecer
uma nova ordem.
c. Racional-legal: assentada na noção de direito que se liga aos aspectos racionais e
técnicos da administração. Racionalidade e justiça se fundem. Ex: sociedades
modernas. Atua baseado nas leis e regulamentos e precisa de formação técnica.

Temas
Weber abrangeu vários temas em sua produção acadêmica: religião, direito, arte,
economia, política, burocracia.
1. A religião
Em “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber buscou examinar as
implicações das orientações religiosas na conduta econômica do indivíduo, considerando as
contribuições dos valores éticos protestantes na formação do moderno capitalismo. A
acumulação de capital foi um fator importante para o capitalismo, mas surge também uma
nova mentalidade guiada por princípios religiosos. Essas convicções religiosas no indivíduo, a
partir de uma vida pessoal rígida e disciplinada, levaram o indivíduo a valorizar o trabalho e a
considerar o sucesso econômico como bênção de Deus. Havia uma doutrina pessoal austera,
que permitiu a acumulação de riqueza e novos investimentos – que foi a base do capitalismo.

2. O Capitalismo
Por que o capitalismo se desenvolveu somente na sociedade Ocidental, especialmente
na Europa a partir do século XVI? Como historiador, Weber possuía grande conhecimento
das civilizações orientais que chegaram a ter forte economia

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monetária, avanço tecnológico e uso intensivo. No entanto, não desenvolveram o capitalismo.
Considerava que as instituições capitalistas – as grandes empresas - eram fruto de uma
organização racional que desenvolvia suas atividades dentro e um padrão de precisão e
eficiência. O capitalismo se caracterizava pela busca contínua de rentabilidade por meio de
empreendimentos científicos e racionais, sendo uma expressão da modernização e
racionalidade. Weber conclui que ética protestante, juntamente com outros fatores políticos,
tecnológicos e econômicos, contribuiu para o surgimento do capitalismo. Nos países
ocidentais se fortaleceu uma forma de ação social especial a partir da religiosidade
protestante: ascetismo e valorização do trabalho, que então passou a ser considerado uma
virtude. Estabeleceu-se um ideal de vida baseado no trabalho assentadas nas seguintes
posturas: disciplina, parcimônia, discrição e poupança. Esses novos valores defendidos pelas
seitas protestantes alteraram a conduta de diversos grupos dirigentes e elites econômicas.
Na ordem feudal, a nobreza considerava o trabalho indigno e o ócio era virtude
e privilégio. Nesse processo, foi surgindo uma nova mentalidade que recusava o desperdício,
o luxo e o ócio e valorizava o trabalho, a poupança, a pontualidade e a racionalidade.
Na sociedade moderna consolidou-se um estilo de vida que tinha significado religioso
(fé no trabalho) e efeito econômico (acumulação e investimento). Sem a ética protestante o
capitalismo teria evoluído diferente, pois para ser capitalista não basta ter dinheiro. E preciso
outras qualidades: conduta racional, metódica e científica.
Com o tempo, a noção protestante de que o trabalho enobrece e o ócio e a preguiça são
pecados se expande por outras culturas e religiões, passando a fazer parte de diversas classes
sociais e culturas.

3. A burocracia
Weber considerava que a sociedade moderna atravessava um processo de
racionalização, em que todas as áreas adquiriam o caráter racional e científico. O fenômeno
social que representa essa racionalização é a burocracia moderna, o governo de repartições.

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Ao analisar a instituição burocrática, Weber percebeu que essa ação racional
orientada para os fins passou a fazer parte da vida moderna e a penetrar em todas as
atividades. A burocracia existiu em outros sistemas, mas nas sociedades modernas ela assume
três características essenciais:
a. Sistemas regulados por normas formais, o que torna o comportamento dos
funcionários previsível e controlado.
b. Impessoalidade, cargos e não pessoas tomam as decisões.valores e preferências não
devem intervir.
c. O burocrata tem uma especialidade técnica.
Weber esclareceu que a burocracia é um sistema social que se aproxima dos ideais
democráticos, pois promove a igualdade de oportunidades e premia o mérito pessoal. No
entanto, apesar dos processos administrativos mais transparentes da burocracia, o intenso
crescimento da racionalidade penetra em todas as áreas e gera uma excessiva especialização,
construindo um mundo cada vez mais intelectual e artificial, sem criatividade e originalidade,
guiado por normas e regulamentações.
No mundo contemporâneo todas as instituições se tornam empresas, com padrões
sofisticados e previsíveis, com planejamento e metas. Há um preço a ser pago: a perda da
autonomia e criatividade dos indivíduos.

Concluindo, Weber prioriza o papel dos atores e as suas ações individuais.


A sociedade deve ser entendida a partir desse conjunto de interações sociais.

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III - KARL MARX (1818-1883)

Sua obra
A obra de Marx é resultado de um contexto sócio-político específico, resposta aos
problemas colocados pela sociedade burguesa e, também, propõe a intervenção e
transformação dessa sociedade.
Não podemos confundir a obra de Marx com o Marxismo. Na verdade não existe um
Marxismo, mas vários, ou seja, são várias as interpretações dadas de suas teorias e variam em
função do interesse e do momento histórico em que se quer aplicá-las.
Marx desenvolveu uma teoria da história e analisou a sociedade capitalista, de
forma crítica, original e estruturada, apresentado aspectos práticos para transformação dessa
realidade. A sua obra fundou um modo original de pensar a sociedade burguesa e a sua
dinâmica, que incluía a revolução socialista.
Enquanto o positivismo se preocupava com a manutenção da ordem capitalista, Marx
vai realizar uma crítica profunda e radical da sociedade, ressaltando suas contradições e
antagonismos.
A Sociologia traz no bojo de sua formação duas tradições diferentes: a conservadora,
que se identifica com os valores e os interesses da classe dominante, e a revolucionária, que se
compromete com a crítica e a transformação da sociedade. Esse pensamento crítico surge na
tradição da obra de Marx.

Condições históricas
Marx nasceu na Alemanha, filho de advogado em uma família abastada.
Inicialmente cursou Direito, mas optou por Filosofia, tornando-se doutor.
Marx abandonou a vida universitária, trabalhou em um jornal de tendência liberal,
onde foi editor. Depois se transfere para Paris, onde conhece F. Engels, com o qual
desenvolveu intensa atividade política e teórica até o final da vida. Entrou em contato com
setores mais radicais do movimento operário e realizou um intenso trabalho político e teórico,
até ser expulso. Foi para Bruxelas, continuando sua atuação junto ao movimento operário,
sendo novamente expulso. Retornou a Paris e depois para Alemanha, de onde foi expulso e,
em 1949, aos 30 anos, seguiu para o seu último exílio, a Inglaterra, onde morreria em 1883.

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Seu pensamento
Marx articulou um modo radicalmente novo de pensar a sociedade, por meio de crítica
e reflexão rigorosa. Seu pensamento se desenvolveu ancorado na experiência, permeadas de
vitórias e derrotas, que o movimento operário e popular da época acumulava, nas lutas
sindicais e políticas do século XIX.
Marx, sempre preocupado com a teoria e a prática, elaborou um conjunto de idéias
inovadoras: o materialismo histórico, a teoria econômica e a proposta de
transformação, o socialismo científico.
Para ele, a função da Sociologia não era solucionar os problemas sociais e estabelecer
a ordem, segundo os positivistas. Ao contrário, a Sociologia deveria contribuir para a
transformação da sociedade, ao proporcionar uma análise crítica e desmistificadora da
realidade capitalista.
Marx foi extremamente original em sua obra, tendo fundamentado seus estudos em
Hegel, no pensamento socialista francês e inglês e nos economistas clássicos Adam Smith e
David Ricardo.

Seu método
O materialismo pressupõe, de modo geral, que a produção material de uma
sociedade constitui o fator determinante da organização social e política de uma época.
Assim, a base material (econômica) exerce influência direta nos outros níveis da realidade:
Estado, instituições jurídicas, políticas, religião, moral.
Por meio da dialética, Marx explicou as significativas transformações da história da
humanidade através dos tempos. Ao estudar determinado fato histórico, ele procurava seus
elementos contraditórios, buscando encontrar aquele elemento responsável pela sua
transformação num novo fato, dando continuidade ao processo histórico.
Marx elaborou um esquema teórico sobre a história da humanidade, desenvolvendo o
método materialismo histórico. Segundo sua teoria da história, as sociedades
encontravam-se em constante transformação e o motor da história era os conflitos e as
posições entre as classes sociais. Assim, o movimento da história possui uma base material,
econômica e obedece a um movimento dialético. E conforme muda esta relação, mudam-se
as leis, a cultura, a literatura, a educação,

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as artes. Em outras palavras, a estrutura de uma sociedade reflete a forma como os homens se
organizam para a produção social de bens.

Sua teoria
Segundo Marx, para conhecer a realidade era preciso compreender a relação dos
homens com o mundo material. Também, era preciso compreender como esse mundo material
e as idéias a ele relacionadas se transformavam e transformavam a realidade.
Para ele, a sociedade tem contradições e conflitos e, são essas contradições e
conflitos que garantem sua transformação. Cada época histórica tem seus conflitos e
contradições. Para entendermos uma sociedade é preciso compreender seus conflitos e suas
contradições.
A chave para a compreensão da trama social é a organização do trabalho e as
relações estabelecidas entre os homens no mundo da produção. Ou seja, é na vida material
que tudo acontece. A política, a cultura, a justiça, a religião refletem esse conflito.
Na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações
– são as relações de produção. Essas relações são necessárias e independentes da vontade
humana. O conjunto das relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade,
a base real, a base econômica de uma determinada sociedade. Sobre essa base real se levanta a
superestrutura jurídica, política e espiritual.

“não é consciência do homem que determina sua existência, pelo contrario, é


sua existência que determina sua consciência.”(Marx)

As relações de produção, marcadas pela existência de classes sociais com


posições e interesses antagônicos, desenvolvem relação de conflito e esse conflito é a mola
propulsora das transformações e mudanças históricas. Essa é a teoria da história para Marx.
Marx aplicou essa teoria e desvendou profundamente o modo de produção
capitalista. Segundo suas análises, no capitalismo as relações de produção são

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fundamentadas na propriedade privada dos meios de produção e na venda da força de trabalho
assalariada.
“as relações burguesas de produção são a última forma antagônica do processo social
de produção;... antagonismo que provém das condições sociais de vida dos indivíduos.”

Segundo seu pensamento, as classes sociais são determinadas no processo


produtivo, sendo definidas pelo lugar que as pessoas ocupam no processo produtivo em
relação aos meios de produção: se detém ou não esses meios. Variando ao longo da história:
senhores da terra/servos, burguês/assalariado, entre outros. A relação entre as classes sociais é
marcada pela opressão de uma sobre a outra, pela exploração de uma sobre a outra.

O modo de produção capitalista e sua superação


O capitalismo é marcado por relações sociais de produção nas quais uns são
proprietários dos meios de produção e outros vendem sua força de trabalho como mercadoria
para garantiram a reprodução material de suas vidas. Os donos dos meios de produção
utilizam a força de trabalho para produzir mercadoria e é a força de trabalho que gera valor à
mercadoria.
A partir da inter-relação entre infra-estrutura econômica se constrói toda uma
superestrutura (Estado, leis, religião, etc) para garantir a ordem do sistema capitalista.
O capitalista paga o salário ao trabalhador, mas esse salário nunca corresponde ao
valor produzido pelo trabalhador. Este produz uma parte de trabalho que é paga pelo
salário, a outra parte trabalhada fica com o empresário – é a mais-valia, o que valoriza o
capital.
A resolução do conflito entre os proprietários dos meios de produção e do proletariado,
ou seja, da relação de exploração do capitalismo, só pode ser conseguida com a luta de
classes, em que seja superada a causa dos conflitos: a propriedade privada dos meios
de produção. Aí está formada a teoria do socialismo científico, que constitui o processo
de transição pelo qual a sociedade tem que passar até a etapa final, o comunismo.

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O Estado
Marx expõe uma nova concepção, segundo a qual o Estado surgiu junto com a
propriedade privada na história da humanidade. Em suas análises, rompeu com o pensamento
liberal que analisava o Estado como um arranjo contratual entre os indivíduos a fim de
garantir a ordem, a propriedade e os direitos civis, sendo o representante de todos os setores a
sociedade.
Segundo Marx, o Estado é um instrumento cujo objetivo fundamental é manter as
relações sociais dominantes. Enfim, o Estado é instrumento de manutenção da ordem
dominante e representante dos interesses dessa classe.
Para que essa dominação seja aceita pacificamente por toda sociedade, o Estado age
em nome do “interesse geral” e das “leis”. Assim, a maneira como as classes dominantes
justificam sua dominação se impõe também pelas idéias, não apenas dentro do Estado, mas
nos códigos de leis, nas igrejas, jornais, educação, meios de comunicação, propagandas – a
ideologia.
Concluindo, Marx elaborou uma crítica radical ao capitalismo, colocando em
evidência os antagonismos e contradições desse sistema. Para Marx, o estudo da sociedade
deveria partir de sua base material e estrutura econômica, que é o fundamento da história
humana.

Leitura Recomendada:
I – E. Durkheim
 O que é Sociologia? Martins. Cap. 1: A Formação (pags. 34 a 61)
 Capítulo “Sociologia e Sociedade” do livro Introdução às Ciências Sociais.
Marcellino (org). pags. 27 a 29.
II – Max Weber
 O que é Sociologia? Martins. Pags 61 a 71
Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. (Cristina Costa), Editora
Moderna

III – Karl Marx

 Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. (Cristina Costa), Editora


Moderna. Pags 110 a 129.

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