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Cambará

Gochnatia polymorpha
Cambará
Gochnatia polymorpha
Casca externa
Fotos: Paulo Ernani R. Carvalho

Plantio (Colombo, PR)

Flores Folhas
Foto: Vera L. Eifler

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Cambará
Gochnatia polymorpha

Taxonomia e Nomenclatura óleo-do-campo e pau-candeia, no Paraná;


cambará-do-campo; candeão; candeias, em Mato
De acordo com o Sistema de Classificação de Grosso do Sul e no Paraná; e erva-d’ouro,
Cronquist, a taxonomia de Gochnatia polymorpha em Minas Gerais.
obedece à seguinte hierarquia: Nomes vulgares no exterior: ka‘a mbara, no
Paraguai.
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Etimologia: Gochnatia é uma homenagem ao
Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae) botânico francês Frederico Cn. Gochnat, de
Ordem: Asterales Strassburg, que em 1808 escreveu sobre as
Cichoriáceas (Cabrera & Klein, 1973); polymorpha
Família: Asteraceae (Compositae) é uma alusão à grande plasticidade morfológica
Espécie: Gochnatia polymorpha (Lessing) (polimorfismo) da espécie (Marchiori, 1995).
Cabrera; Nat. Mus. La Plata, 15:43, 1950.
Sinonímia botânica: Moquinia mollissima Descrição
Malme.; Moquinia polymorpha (Lessing) C.
de Candolle. Forma biológica: árvore perenifólia, com 3,5 a
10 m de altura e 20 a 40 cm de DAP.
Nomes vulgares no Brasil: balieira-preta, Exemplares adultos atingem até 15 m de altura
cambará-açu, cambará-do-mato e candeia, no e 60 cm de DAP.
Estado de São Paulo; camará, no Estado do Rio Tronco: raramente apresenta tronco reto; quase
de Janeiro e em Santa Catarina; cambará-branco, sempre é irregular a canaliculado, tortuoso
no Paraná e no Estado de São Paulo; e inclinado. Fuste normalmente curto, até 6 m de
cambará-guaçu; cambará-pérola; comprimento, geralmente com multitroncos.
cambará-de-folha-grande; Ramificação: irregular, dicotômica, simpodial.
cambará-de-folha-miúda; Copa baixa, densifoliada, arredondada, com
cambará-de-légua-e-meia, cambarazinho, folhagem verde-clara.

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Casca: com espessura de até 30 mm. A casca No Brasil, essa espécie ocorre nos seguintes
externa é acastanhada, com sulcos longitudinais Estados (Mapa 29):
profundos e desprendimento em placas irregulares
• Bahia (Stannard, 1995).
(Ivanchechen, 1988). A casca interna é de
coloração oliva e fibrosa. • Espírito Santo.
Folhas: simples, alternas, espiraladas, discolores, • Goiás.
ovadas a ovado-elípticas, com 7 a 17 cm de
• Mato Grosso do Sul (Leite et al., 1986).
comprimento por 2,5 a 7 cm de largura e pecíolo
curto e piloso até 2 cm. • Minas Gerais (Giulietti et al., 1987; Ramos
Flores: brancas, pequenas, reunidas em panículas et al., 1991; Bastos et al., 1993;
terminais de 10 a 20 cm de comprimento, com Gavilanes et al., 1995; Macedo, 1995).
numerosos capítulos de 1 cm de comprimento, • Paraná (Martins, 1944; Hatschbach & Moreira
permanecendo por muito tempo nos ramos, uma Filho, 1972; Carvalho, 1980; Longhi, 1980;
vez secas. Rotta, 1981; Machado et al., 1992; Takeda
Fruto: aquênio (Barroso et al., 1999) ou cipsela et al., 1998; Cervi et al., 1999; Ziller, 2000).
diminuta, com um penacho de pêlos lembrando • Estado do Rio de Janeiro (Guedes, 1988;
um pincel de barbear, deiscente, oblongo, preto, Guimarães et al., 1988).
piloso e sulcado, coroado de um papilho cerdoso e
piloso, de 2 a 5 mm de comprimento, • Rio Grande do Sul (Girardi & Porto, 1976;
branco-amarelado. Bueno et al., 1987; Schneider et al., 1988;
Matzenbacher, 1990; Tabarelli, 1992; Longhi,
Semente: inclusa no fruto. 1997; Costa et al., 2000).
• Santa Catarina (Cabrera & Klein, 1973;
Biologia Reprodutiva Citadini-Zanette & Boff, 1992).
e Fenologia • Estado de São Paulo (Nogueira, 1976; Matthes
Sistema sexual: planta dióica (Occhioni et al., 1988; Pagano et al., 1989a e b;
& Hastsbach, 1972). Rodrigues et al., 1989; Robim et al., 1990;
Pastore et al., 1992; Rossi, 1994; Durigan
Vetor de polinização: principalmente as abelhas et al., 1997; Ivanauskas et al., 1997;
(Maixner & Ferreira, 1978), e diversos insetos Durigan et al., 1999).
pequenos (Morellato, 1991).
• Distrito Federal (Pereira et al., 1990).
Floração: de outubro a fevereiro, em Minas
Gerais; de outubro a dezembro, no Estado de
São Paulo; de novembro a fevereiro, no Estado do Aspectos Ecológicos
Rio de Janeiro; de dezembro a fevereiro, em Santa
Catarina, e de dezembro a abril, no Paraná. Grupo sucessional: espécie secundária inicial.

Frutificação: os frutos amadurecem de março a Características sociológicas: o cambará


abril, em Santa Catarina; de março a maio, no é considerado uma das precursoras na invasão de
Paraná e no Estado de São Paulo, de abril a maio, campos, em solos bem drenados. Geralmente
no Rio Grande do Sul e, de junho a julho, é encontrado nas bordas da mata e nos capões,
em Minas Gerais. O processo reprodutivo inicia em condições de farta luminosidade, e raramente
precocemente a partir de 2 anos de idade, encontrado na floresta primária.
em solos férteis. A substituição de Gochnatia polymorpha pelo
Dispersão de frutos e sementes: anemocórica, estabelecimento de Miconia cinnamomifolia e
pelo vento, a longas distâncias. Myrsine ferruginea, entre outras espécies, foi
observada com diferenciações nas regiões
de capoeira, na Floresta Pluvial Atlântica
Ocorrência Natural (Baixo-Montana), no Estado do Rio de Janeiro
(Neves et al., 1996).
Latitude: 11º S na Bahia a 30º S no Rio Grande
do Sul. Regiões fitoecológicas: Gochnatia polymorpha
ocorre em Cerrado (Mendonça et al., 2000) e
Variação altitudinal: de 20 m, no Rio Grande
Cerradão, sendo comum no Estado de São Paulo
do Sul a 1.650 m de altitude no Estado de São
(Durigan et al., 1997) e em zonas ecotonais entre
Paulo.
o Cerrado e a Floresta Estacional Semidecidual.
Distribuição geográfica: Gochnatia polymorpha Ocorre, ainda, na Floresta Ombrófila Densa
ocorre de forma natural no nordeste da Argentina, (Floresta Atlântica), na formação Baixo-Montana
e norte e no leste do Paraguai (Lopez et al., 1987). (Guimarães et al., 1988); na Floresta Ombrófila

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Mapa 29. Locais identificados
de ocorrência natural
de camabrá (Gochnatia
polymorpha), no Brasil.

Mista (Floresta com Araucária); na Floresta Temperatura mínima absoluta: -7,3ºC


Estacional Decidual, na formação Baixo-Montana (Campos do Jordão, SP).
(Tabarelli, 1992), e nos campos gerais e campos
Número de geadas por ano: médio de 0 a 30;
rupestres ou de altitude (Brandão et al., 1994,
máximo absoluto de 81 geadas, na Região Sul
Stannard, 1995).
e no Estado de São Paulo.
Fora do Brasil, ocorre no Paraguai, no Campo
Tipos climáticos (Koeppen): temperado úmido
Alto Arbóreo, na vegetação conhecida como
(Cfb); subtropical úmido (Cfa); subtropical de
matorral, onde vive associada com espécies de
altitude (Cwa e Cwb) e tropical (Af e Aw).
Cactaceae e Bromeliaceae (Lopez et al., 1987).

Clima Solos

Precipitação pluvial média anual: desde Gochnatia polymorpha é observada comumente


1.000 mm na Bahia a 2.000 mm em Santa em solo de fertilidade química baixa, ocorrendo
Catarina. geralmente sobre solos arenosos e álicos, podendo
também ser encontrada em terrenos úmidos, às
Regime de precipitações: chuvas margens dos rios.
uniformemente distribuídas na Região Sul,
e periódicas, com chuvas concentradas no verão, Tolera solos pedregosos, rasos, declivosos e
nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. aluviais. Prefere solos com textura que varia de
franca a argilosa, bem drenados ou inundáveis por
Deficiência hídrica: nula na Região Sul, curto período, evitando solos com lençol freático
e moderada com estação seca até 3 meses, superficial.
no interior do Estado de de São Paulo, a forte,
com estação seca até 6 meses na Bahia.
Temperatura média anual: 13,4ºC (Campos do Sementes
Jordão, SP) a 23,7ºC (Rio de Janeiro, RJ). Colheita e beneficiamento: a colheita deve ser
Temperatura média do mês mais frio: 8,2ºC feita antes da queda natural e os frutos devem ser
(Campos do Jordão, SP) a 21,3ºC (Rio de secos ao sol, protegidos por tela fina. A extração
Janeiro, RJ). das sementes dos frutos dá-se por maceração.
Temperatura média do mês mais quente: Número de sementes por quilo: 2 milhões
17,2ºC (São Joaquim, SC) a 26,5ºC (Rio de (Durigan et al., 1997) a 2,2 milhões (Lorenzi,
Janeiro, RJ). 1992).

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Tratamento para superação da dormência: de até 9,20 m3.ha-1.ano-1. O crescimento em altura
não é necessário. Todavia, em condições naturais, é bastante expressivo até os 4 anos de idade
o cambará necessita de eventos favoráveis como (Aoki & Leite Filho, 2000). Estima-se uma rotação
abertura de clareira, entre outros, para alcançar de 10 a 15 anos para lenha e de 15 a 20 anos
bom índice de germinação das sementes para mourões.
(Veiga et al., 1998).
Longevidade e armazenamento: quando Características da Madeira
armazenadas em ambiente não controlado, as
sementes do cambará não se conservam viáveis Massa específica aparente: a madeira do
por muito tempo. Elas perdem o poder cambará é moderadamente densa (0,60 a
germinativo em menos de 3 meses (Durigan et al., 0,77 g.cm-3), a 15% de umidade (Mainieri
1997). & Chimelo, 1989).
Cor: alburno destacado, branco-cinza. O cerne
Produção de Mudas recém-polido apresenta-se amarelo-claro,
escurecendo para bege-claro com manchas
Semeadura: recomenda-se semear o fruto em
amareladas, tendendo para castanho-claro
sementeiras e depois repicar para sacos de
levemente rosado, uniforme.
polietileno, com dimensões mínimas de 20 cm de
altura e 7 cm de diâmetro, ou em tubetes de Características gerais: superfície lisa ao tato,
polipropileno de tamanho médio. A repicagem com brilho pouco acentuado; textura fina;
deve ser efetuada 4 a 8 semanas após a grã direita a irregular. Cheiro e gosto
germinação. imperceptíveis.
Germinação: epígea, com início entre 8 a 68 dias Durabilidade natural: madeira de alta
após a semeadura, sendo geralmente baixa resistência ao ataque de organismos xilófagos,
(entre 30% e 50%). As mudas de cambará apresentando alta resistência natural em contato
atingem um porte adequado para plantio, cerca com o solo.
de 5 meses após a semeadura. Preservação: madeira pouco permeável a
soluções preservantes, em tratamento sob pressão.
Características Silviculturais Outras características: geralmente apresenta
O cambará é uma espécie heliófila e tolerante a pouco alburno; quando em idade avançada,
baixas temperaturas. apresenta proporção elevada de cerne.

Hábito: apresenta crescimento simpodial com


multitroncos, devido a sua capacidade de emitir Produtos e Utilizações
várias brotações na altura do colo. O cambará Madeira serrada e roliça: a madeira de
exige desbrota nos primeiros anos de idade; caso cambará pode ser usada em construção civil,
contrário, haverá formação de touceiras, sem uma esteios, esquadrias, caibros, estacas, forro, ripas,
definição do tronco principal. Exige, ainda, tacos, entalhes, peças torneadas e em construção
desrama artificial, pois é uma essência de naval. Tanto o tronco como as raízes produzem
ramificação simpodial. excelentes curvas para as embarcações
A cicatrização dos galhos e brotos cortados é (Boiteux, 1947).
satisfatória. Plantado sob vários espaçamentos, Apesar de o tronco ser geralmente tortuoso, é
até o sexto ano de avaliação, não se observou bastante utilizado na construção de cercas e
nenhuma influência do espaçamento na mourões, e em obras externas. A madeira do
conformação do fuste (Aoki & Leite Filho, 2000). cambará é também usada para postes.
Brota da touça após corte, geralmente formando
multitroncos, podendo ser manejada pelo sistema Energia: produz lenha e carvão de boa qualidade.
de talhadia. Celulose e papel: espécie inadequada para
Métodos de regeneração: recomenda-se plantar este uso.
o cambará a pleno sol, em função da exigência Alimentação animal: a forragem dessa espécie
lumínica. apresenta 11% a 14% de proteína bruta e 5% a
7% de tanino (Leme et al. 1994).
Crescimento e Produção Apícola: as flores do cambará são
potencialmente melíferas (Ramos et al., 1991;
O crescimento do cambará é lento a moderado Bastos et al., 1993), com produção de néctar,
(Tabela 26), com produção volumétrica máxima com 27% a 31% de açúcar (Barros, 1960).

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Medicinal: na medicina popular, as folhas dessa angustifolia, Cabralea canjerana subsp. canjerana e
espécie são empregadas em chás, no tratamento Podocarpus lambertii (pinheiro-bravo).
das afecções bronco-pulmonares. O chá das
Nesses plantios, a espécie mais comum em
folhas é usado como expectorante e como
regeneração natural é Myrsine ferruginea
emoliente (Correa, 1926).
(capororoca), com algumas árvores já ultrapassando
Os índios de várias etnias do Paraná e de Santa a altura do cambará, principalmente nos pontos
Catarina usam a casca do caule no tratamento do onde o mesmo está morrendo.
reumatismo ósseo (Marquesini, 1995).
O cambará é planta com grande possibilidades em
Paisagístico: espécie utilizada em arborização de conservação do solo, principalmente por poder ser
ruas e avenidas e plantada em parques e praças. cultivada sem problemas em muitos locais bem
Seu sistema radicial dificilmente causa dano ao drenados; com inundações periódicas de rápida
calçamento. Contudo, o uso do cambará como duração ou com lençol freático superficial, o que
espécie ornamental deve ser limitado, pois a torna útil como planta fixadora de barrancas de
apresenta copa rala e larga, responde às podas de rios (Longhi, 1995).
forma ruim e apresenta folhas caducas.
Em plantios puros, o cambará apresenta
Reflorestamento para recuperação deposição de folhedo até 4.751 kg.ha-1.ano-1, com
ambiental: espécie recomendada para teores altos de potássio (K) e magnésio (Mg)
reconstituição de ecossistemas degradados. (Garrido, 1981).
Por apresentar copa rala, desenvolve processo
sucessional rico e diversificado, desde que haja
fontes de sementes de outras espécies nas Principais Pragas
proximidades.
Os coleópteros cerambicídeos Oncideres saga
Em pequenos plantios, em Colombo, PR, com e O. dejeani, conhecidos por serradores, danificam
22 anos de idade, próximos à floresta primária árvores jovens, alimentando-se da casca dos
alterada, foi constatada regeneração natural de galhos finos; as larvas desenvolvem-se nos caules
50 espécies arbóreas, entre as quais Araucaria e nos galhos serrados (Link et al., 1984).

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Espécies Afins • Gochnatia cratensis (Gardn), na Serra do
Araripe, no Ceará.
Gochnatia H.B.K. é um gênero pantropical, com
cerca de 66 espécies e várias subespécies e • Gochnatia lucida (Baker) Cabrera, conhecida
variedades; as espécies neotropicais ocorrem desde por candiá e assinalado nas serras, no Ceará
as Antilhas até a Argentina. Cabrera & Klein e em Pernambuco (Pereira et al., 1993).
(1973) distinguem duas subespécies para G.
polymorpha: subsp. ceanothifolia e subsp. • Gochnatia paniculata (DC.) Cabrera, conhecida
floccosa. por cambará, arvoreta do capão, encontrada
nos campos, no Paraná e no Estado de São
No Brasil, além de Gochnatia polymorpha, Paulo, com floração de novembro a dezembro.
ocorrem outras espécies do gênero, entre elas: Há uma candeia muito famosa em Minas
• Gochnatia barrosii Cabr., conhecida por Gerais, da mesma família, mas de outro
cambará, encontrada no Cerrado, em gênero: Vanillosmopsis erythropappa (DC)
Minas Gerais, e no Estado de São Paulo. Selt. & Bib.

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Referências Bibliográficas
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