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Coração-de-Negro

Poecilanthe parviflora
Coração-de-Negro
Poecilanthe parviflora

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Casca externa

Árvore (Cascavel, PR)


Fotos: Paulo Ernani R. Carvalho

Flores e folhas
Sementes
Foto: Carlos Eduardo F. Barbeiro

Frutos

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Coração-de-Negro
Poecilanthe parviflora

Taxonomia e Nomenclatura podendo atingir até 25 m de altura e 90 cm de


DAP, chegando raras vezes a atingir 150 cm,
De acordo com o Sistema de Classificação de na idade adulta.
Cronquist, a taxonomia de Poecilanthe parviflora
Tronco: reto a levemente tortuoso.
obedece à seguinte hierarquia:
Fuste normalmente curto, atingindo, no máximo,
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae) 10 m de altura.
Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae)
Ramificação: dicotômica a irregular.
Ordem: Fabales Copa ampla e muito esgalhada.
Família: Fabaceae (Leguminosae Papilionoideae)
Casca: com espessura de até 15 mm.
Espécie: Poecilanthe parviflora Bentham
Casca externa marrom-escura, escamosa,
Nomes vulgares no Brasil: canela-do-brejo, desprendendo-se com facilidade e apresentando
no Rio Grande do Sul e no Estado de São Paulo; manchas brancas devido a liquens. Casca interna
coração e coração-negro, no Estado de São Paulo; vermelho-escura.
ipê-coração; jacarandá-de-mato-grosso; pau-ferro;
e pau-jantar. Folhas: compostas, com 3 a 7 pares de folíolos,
Nomes vulgares no exterior: lapachillo, com até 7 cm de comprimento e 3 cm
no Uruguai, e lapacho, na Argentina. de largura.
Etimologia: Poecilanthe vem do grego poikilos Flores: amarelas ou amareladas, com manchas
(variegado) e anthus (flor); o significado de ou linhas roxas, agrupadas em densos racemos
parviflora é “que tem pequenas flores”. axilares ou terminais, de 2 a 4 cm
de comprimento.
Descrição Fruto: legume castanho-pardo, de forma orbicular
com 2,2 a 4,7 cm de comprimento por 1,5
Forma biológica: árvore perenifólia, com a 2,3 cm de largura, geralmente com 1 ou
4 a 10 m de altura e 20 a 50 cm de DAP, 2 sementes.

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Semente: de cor preta, com tonalidade No Brasil, essa espécie ocorre nos seguintes
alaranjada, achatada, medindo 10 a 15 mm de Estados (Mapa 44):
comprimento.
• Bahia (Lewis, 1987).
• Goiás (Ghilardi & Mainieri, 1964) – sul do
Biologia Reprodutiva Estado.
e Fenologia • Mato Grosso (Pinto, 1997).
Sistema sexual: planta hermafrodita. • Mato Grosso do Sul (Souza et al., 1997).
Vetor de polinização: principalmente as abelhas • Minas Gerais (Ghilardi & Mainieri, 1964) –
e diversos insetos pequenos. oeste do Estado.
Floração: de outubro a novembro, no Rio Grande • Paraná (Soares-Silva, 1992; Souza et al.,
do Sul, e de outubro a janeiro, no Paraná. 1997).
Frutificação: os frutos amadurecem de abril a • Rio Grande do Sul (Knob, 1978; Brack et al.,
agosto, no Paraná, de junho a julho, 1985; Jarenkow, 1985; Backes & Nardino,
no Rio Grande do Sul, e de junho a setembro, no 1998).
Estado São Paulo. O processo reprodutivo inicia
• Estado de São Paulo (Mainieri, 1970;
a partir dos 4 anos de idade, em plantios em solos
Primavesi et al., 1997).
férteis.
Dispersão de frutos e sementes: autocórica,
principalmente barocórica, por gravidade. Aspectos Ecológicos
Grupo sucessional: espécie secundária tardia
Ocorrência Natural (Dias et al., 1998) ou clímax exigente em luz
Latitude: 15º S em Mato Grosso a 30º 30’ S (Pinto, 1997).
no Rio Grande do Sul. Características sociológicas: o
Variação altitudinal: de 70 m no Rio Grande do coração-de-negro é uma espécie invasora de
Sul a 900 m de altitude em Mato Grosso e no Rio pastagem via brotação das raízes, tornando-se
Grande do Sul. praga de pastos; não sendo roçada, forma,
com outras espécies, verdadeiras capoeiras.
Distribuição geográfica: Poecilanthe parviflora
ocorre de forma natural no nordeste da Argentina Regiões fitoecológicas: Poecilanthe parviflora
(Martinez-Crovetto, 1963), e no oeste do Uruguai habita principalmente a Floresta Estacional
(Lombardo, 1964; Muñoz et al., 1993). Semidecidual e a Floresta Estacional Decidual

Mapa 44. Locais identificados de


ocorrência natural de
coração-de-negro (Poecilanthe
parviflora), no Brasil.

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(Rambo, 1966; Marchiori, 1997), sendo menos Número de sementes por quilo: 1.700
freqüente na Floresta Ombrófila Mista (Floresta (Lorenzi, 1992) a 3.000.
com Araucária). Aluvial e Montana (Dias et al.,
Tratamento para superação da dormência:
1998).
não apresenta dormência.
Longevidade e armazenamento: sua
Clima viabilidade em armazenamento é superior a
4 meses (Lorenzi, 1992).
Precipitação pluvial média anual: desde
1.100 mm no Estado de São Paulo a 1.700 mm
no Paraná. Produção de Mudas
Regime de precipitações: chuvas
Semeadura: recomenda-se semear em sacos de
uniformemente distribuídas, na Região Sul
polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de
(excetuando-se o norte do Paraná), e periódicas,
altura e 7 cm de diâmetro, ou em tubetes de
com chuvas concentradas no verão ou no inverno,
polipropileno de tamanho médio.
nas demais regiões.
Quando necessária, a repicagem pode ser feita
Deficiência hídrica: moderada no inverno, com 3 a 5 semanas após a germinação.
estação seca até 3 meses, no oeste do Estado de
Germinação: hipógea, com início entre 15 a
São Paulo, e de moderada a forte, no inverno,
60 dias após a semeadura. O poder germinativo é
com estação seca até 5 meses, na Região Central
alto (até 90%), em média, 75%. As mudas
de Mato Grosso.
atingem porte adequado para plantio, cerca
Temperatura média anual: 18,5ºC (Tibagi, PR) de 6 meses após a semeadura.
a 25,6ºC (Chapada dos Guimarães, MT).
Cuidados especiais: as mudas de raiz nua
Temperatura média do mês mais frio: 14,7ºC apresentam bom pegamento, sendo recomendado
(Tibagi, PR) a 22,8ºC (Chapada dos Guimarães, o uso de areia como substrato na sua produção
MT). (Barbosa, 1983).
Temperatura média do mês mais quente: Associação simbiótica: as raízes do
22ºC (Marília, SP) a 27,2ºC (Chapada dos coração-de-negro associam-se com Rhizobium,
Guimarães, MT). apresentando nódulos do tipo astragalóide, com
atividade da nitrogenase (Faria et al., 1984).
Temperatura mínima absoluta: -3,5ºC
(Londrina, PR). No viveiro da Embrapa Florestas, em Colombo,
PR, foi encontrada nodulação espontânea nessa
Número de geadas por ano: médio de 0 a 4;
espécie com Rhizobium, em solo vindo de
máximo absoluto de 10 geadas, na Região Sul,
bracatingais.
mas predominantemente sem geadas ou pouco
freqüentes. Em função da configuração de seu sistema
radicular, deve-se investigar a presença de fungos
Tipos climáticos (Koeppen): temperado úmido
micorrízicos arbusculares.
(Cfb); subtropical úmido (Cfa); subtropical de
altitude (Cwa e Cwb) e tropical (Aw). Propagação vegetativa: essa espécie também
propaga-se com facilidade, por meio de brotações
de raízes.
Solos
Poecilanthe parviflora ocorre naturalmente tanto Características Silviculturais
em espigões secos e em solos rasos, como em
solos de fertilidade química boa, e úmidos. O coração-de-negro é uma espécie heliófila
e tolerante a baixas temperaturas.
Em plantios experimentais, tem crescido melhor
em solos com propriedades físicas adequadas, Hábito: irregular, sem dominância apical definida,
bem drenados e com textura que varia de franca a com bifurcações, muito ramificada e com fuste
argilosa, e fertilidade química boa. curto. A desrama só é considerada satisfatória
quando o plantio é feito sob espaçamento
apertado.
Sementes Na desrama artificial, verifica-se que a cicatrização
Colheita e beneficiamento: colher os frutos é difícil, o que inevitavelmente provoca a
diretamente da árvore quando iniciarem a queda formação de árvores com ocos.
espontânea, ou no chão. A extração da semente é Métodos de regeneração: o coração-de-negro
feita manualmente. pode ser plantado a pleno sol, em pequenos

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plantios puros ou em plantios mistos, associado Outras Características
com espécies pioneiras e secundárias, e
em vegetação matricial arbórea, em faixas • Apresenta veios que lhe dão aspecto bonito
abertas na vegetação secundária. e atraente.
Recomenda-se espaçamento de 2,50 x 2,50 m, • Assemelha-se ao ipê-roxo (Tabebuia
por apresentar menores porcentagens de heptaphylla), diferindo no cerne, que é mais
bifurcação do que 3,00 x 3,00 m (Nogueira claro, mas apresentando as mesmas
& Siqueira, 1977). propriedades físico-mecânicas.
Espaçamentos menores, apesar de não • As toras do coração-de-negro geralmente são
apresentarem bifurcações, fornecem menores ventadas, partindo-se com facilidade.
volumes de madeira, pela presença de árvores de
• Madeira com alta durabilidade natural.
diâmetro reduzido, razão pela qual não são
recomendados.
Brota intensamente das raízes após a morte do Produtos e Utilizações
tronco, formando moitas que são difíceis de se
exterminar, mesmo com o uso de herbicidas. Madeira serrada e roliça: por ser muito pesada,
de contrações médias e aspecto atraente,
a madeira de coração-de-negro é indicada
Crescimento e Produção para fabricação de móveis, peças torneadas
e painéis decorativos.
O crescimento do coração-de-negro varia de lento
É usada também em carpintaria, para fazer
a moderado, atingindo até 9,15 m3.ha-1.ano-1
balcões e vigamentos de pontes. Na construção
(Tabela 40).
civil (como esquadrias), tacos e tábuas para
assoalho, vigas, caibros e ripas. Em estruturas
Características da Madeira externas, como postes, dormentes, cruzetas,
mourões e cercas.
Massa específica aparente: a madeira do Energia: lenha de ótima qualidade, ardendo
coração-de-negro é densa (0,99 a 1,00 g.cm-3), mesmo quando verde.
a 15% de umidade (Pereira & Mainieri, 1957;
Celulose e papel: produz celulose para papel de
Mainieri & Chimelo, 1989).
baixa qualidade; teor de celulose de 48,1%; teor
Cor: alburno amarelo-pardacento; de lignina de 26,4% e comprimento de fibra de
cerne pardo-claro-amarelado, mas geralmente 0,85 mm.
bege amarelado-pardacento, às vezes com
Óleo essencial: o tronco fornece o óleo essencial
nuanças róseas, apresentando veios mais escuros,
norolisol.
mas pouco destacados.
Resina: extrai-se da casca, resina esbranquiçada,
Características gerais: superfície lisa ao tato
como se fosse breu.
e de pouco brilho; textura fina e desigual;
grã irregular, revessa, sobretudo nas faces radiais. Reflorestamento para recuperação
Cheiro característico, levemente acentuado e ambiental: essa espécie é recomendada para a
gosto imperceptível. recuperação de ecossistemas degradados.

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Espécies Afins angelim-ferro e chorão, com ocorrência no Es-
pírito Santo, em Minas Gerais, na Paraíba, em
Ocorrem cerca de oito espécies do gênero Pernambuco e no Estado do Rio de Janeiro.
Poecilanthe Bentham, na parte tropical da • Poecilanthe subcordata Bentham, na Caatinga
América do Sul (Lewis, 1987). Além de e no Cerrado, na Bahia e em Minas Gerais.
Poecilanthe parviflora, ocorrem no Brasil:
• Poecilanthe ulei (Harms) Arroyo & Rudd, na
• Poecilanthe effusa (Huber) Ducke, assinalada Bahia, na Caatinga, onde atinge 4 a 7 m de
no sudoeste do Maranhão, no Pará e em altura e é conhecida por besouro.
Rondônia, conhecida por gema-de-ovo.
Todas essas espécies são produtoras de madeira
• Poecilanthe falcata (Vell.) Heringer (sinônimo: utilizável pelas populações rurais nas regiões de
Poecilanthe grandiflora Benth.) conhecida por ocorrência.

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Referências Bibliográficas
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