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Aroeira-Verdadeira

Myracrodruon urundeuva
Aroeira-Verdadeira
Myracrodruon urundeuva
Folhas

Casca externa

Árvore (Russas, CE)

Plantio (Foz do Iguaçu, PR)


Fotos: Paulo Ernani R. Carvalho

Sementes
Foto: Carlos Eduardo F. Barbeiro

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Aroeira-Verdadeira
Myracrodruon urundeuva

Taxonomia e Nomenclatura aroeira-do-campo, em Minas Gerais, nos Estados


do Rio de Janeiro e de São Paulo;
De acordo com o Sistema de Classificação de aroeira-do-ceará; aroeira-do-sertão, em Alagoas,
Cronquist, a taxonomia de Myracrodruon na Bahia, no Ceará, no Distrito Federal, em Minas
Gerais, no Piauí, nos Estados do Rio de Janeiro e
urundeuva obedece à seguinte hierarquia:
de São Paulo; árvore-da-arara; chibatan; gibão;
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae) gibatão; guaritá, no Paraná; orindeúva; orindiuva;
Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae) ubatan; ubatani; urindeúva, em Minas Gerais
e no Estado de São Paulo; urindiúba; uriunduba;
Ordem: Sapindales urundeúva, em Minas Gerais, nos Estados do Rio
Família: Anacardiaceae de Janeiro e de São Paulo.

Espécie: Myracrodruon urundeuva Freire Nomes vulgares no exterior: cuchi, na Bolívia,


Allemão; Trab. Comm. Sc. Expl. Secç. Bot. 1:3, urunde’y mi, no Paraguai, e urundel,
na Argentina.
1862.
Sinonímia botânica: Astronium juglandifolium Etimologia: o termo Myracrodruon vem de
myra, bálsamo; urundeuva é nome guarani
Griseb.; Astronium urundeuva (Freire Allemão)
(uba = árvore). O nome comum aroeira é
Engler. corrutela de arara e da terminação eira,
Nomes vulgares no Brasil: aderno; almecega, significando “árvore da arara”, por ser a árvore
em Minas Gerais; arendeúva; arendiuva; em que, de preferência, essa ave pousa e vive
arindeúva; aroeira, em todo o Brasil; (Braga, 1976).
aroeira-legítima e aruíva, no Estado de São Paulo;
aroeira-preta, aroeira-do-cerrado e pandeiro, em
Minas Gerais; aroeira-vermelha e itapicurus,
Descrição
na Bahia; aroeira-d’água e urunday, em Mato Forma biológica: árvore caducifólia. Atinge 5 a
Grosso; aroeira-da-serra; aroeira-de-mato-grosso; 20 m de altura e 30 a 60 cm de DAP na Caatinga

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e no Cerrado, até 27 m de altura e 85 cm de DAP Frutificação: os frutos amadurecem de janeiro a
na Região do Chaco (Lopez et al., 1987) ou fevereiro, em Minas Gerais; de junho a agosto, em
mesmo até 30 m de altura nas florestas pluviais Pernambuco e no Maranhão; de agosto
(Heringer & Ferreira, 1973) e 100 cm de DAP a setembro, no Piauí; de agosto a novembro, no
(Flinta, 1960). Estado de São Paulo; em setembro, no Ceará;
Tronco: geralmente curto e tortuoso na Caatinga, de setembro a outubro, na Bahia, no Distrito
mas na floresta pluvial, apresenta fuste com até Federal, em Mato Grosso e em Mato Grosso
12 m de comprimento. do Sul.
Ramificação: dicotômica a irregular, simpodial.
Quando plantada, o processo reprodutivo tem
Copa irregular, paucifoliada.
início aos 3 anos de idade nas condições de
Casca: com espessura de até 15 mm. A casca Petrolina, PE com 67% das árvores apresentando
externa é de coloração castanho-escura, áspera, flores e frutos (Lima, 1982).
suberosa, sulcada, subdividida em placas
escamiformes aproximadamente retangulares nas Já em Selvíria, MS, o florescimento se iniciou aos
árvores adultas; nas árvores jovens, a casca é lisa, 3 anos e meio de idade, sendo encontradas flores
cinzenta e coberta de lenticelas. A casca interna é em 34,7% das plantas, com maior floração nas
avermelhada. plantas com florescimento masculino (Moraes et
Folhas: compostas, imparipinadas, de inserção al., 1992), e no Estado de São Paulo,
alterna, com 5 a 7 pares de folíolos entre 8 e 15 anos (Siqueira & Figliolia, 1998).
opostos, ovados, com até 5 cm de comprimento e
Dispersão de frutos e sementes: anemocórica,
3 cm de largura. Os folíolos macerados exalam
pelo vento.
forte odor de terebintina (cheiro de manga).
Flores: masculinas, sésseis, pequenas,
de coloração púrpura; hermafroditas, reunidas em Ocorrência Natural
panículas de até 20 cm de comprimento.
Fruto: drupa globosa, preto com cálice Latitude: 3º30’ S no Brasil, no Ceará a 25º S
persistente, formando uma espécie de estrela, com na Argentina. No Brasil, o limite Sul dá-se a 23º S,
até 5 mm de diâmetro. O exocarpo é unisseriado e no Estado de São Paulo. Para Salomão et al.
lignificado. O mesocarpo é totalmente aderido ao (1992), a aroeira ocorre no Brasil de 3º29' S a
exocarpo. O endocarpo lignificado é constituído 28º08' S e na longitude 38º19' W a 57º41' W.
por quatro camadas (Carmello-Guerreiro & Paoli, Contudo, o ponto extremo de 28º08' S em Santa
1998). Catarina não corresponde à sua área de
Semente: piriforme, orbicular, com tegumento ocorrência natural.
membranáceo, desprovida de endosperma, de cor Variação altitudinal: de 18 m, no Rio Grande
marrom tendendo para preto, com 3,5 a 4,2 mm do Norte a 1.200 m de altitude, no Distrito
de comprimento e 3,7 a 4,3 mm de largura, com
Federal.
superfície rugosa (Souza & Lima, 1982; Feliciano,
1989). Distribuição geográfica: Myracrodruon
urundeuva ocorre de forma natural no extremo
noroeste da Argentina, onde encontra-se nas
Biologia Reprodutiva províncias de Salta e Jujuy (Castiglioni, 1975;
e Fenologia Celulosa Argentina, 1975), no sul e no leste
da Bolívia (Killean et al., 1993), e no Paraguai
Sistema sexual: planta dióica (Santin & Leitão (Lopez et al., 1987).
Filho, 1991) ou monóica.
No Brasil, essa espécie ocorre nos seguintes
Sistema reprodutivo: planta de fecundação
Estados (Mapa 19):
cruzada (Nogueira et al., 1982).
Vetor de polinização: principalmente as abelhas • Alagoas.
e diversos insetos pequenos. • Bahia (Mello, 1973; Lima, 1975; Lima, 1977;
Floração: ampla e variável: em janeiro, em Silva et al., 1983; Pinto et al., 1990;
Pernambuco; de março a abril, no Ceará; de maio Lima & Lima, 1998; Lima et al., 1999).
a julho, em Minas Gerais; de junho a agosto, no
• Ceará (Ducke, 1959; Tavares et al., 1969;
Estado de São Paulo; de julho a agosto, no
Tavares et al., 1974a, 1974b; Martins et al.,
Distrito Federal; de agosto a setembro, Mato
Grosso do Sul e em outubro, no Rio Grande 1982; Fernandes, 1990; Fernandes et al., 1995;
do Norte. Campelo et al., 2000; Castro et al., 2000).

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• Espírito Santo. Alcoforado Filho, 1993; Ferraz, 1994;
Machado & Barros, 1997; Sá, 1998; Campelo
• Goiás (Ratter et al., 1978; Imaña-Encinas et al., 2000; Lyra & Mota Filho, 2000).
& Paula, 1994; Motta et al., 1997; Munhoz
& Proença, 1998; Machado et al., 1999; • Piauí (Rizzini, 1976; Barroso & Guimarães,
Rocha & Silva, 1999; Felfili et al., 2000; 1980; Fernandes, 1982; Emperaire, 1984;
Scariot & Sevilha, 2000). Costa Filho, 1987; Campelo et al., 2000).

• Maranhão (Berg & Silva, 1986). • Estado do Rio de Janeiro (Laroche, 1978).

• Mato Grosso (Ratter et al., 1978; Maciel et al., • Rio Grande do Norte (Lima, 1964; Tavares
et al., 1975; Oliveira, 1976; Ferreira & Vale,
1987; Guarim Neto, 1991; Pinto, 1997).
1992; Carvalho et al., 1994; Lacerda et al.,
• Mato Grosso do Sul (Pott, 1990; Conceição, 1996; Meunier & Carvalho, 2000).
1991; Pott et al., 2000). • Sergipe.
• Minas Gerais (Thibau et al., 1975; Magalhães
• Estado de São Paulo (Nogueira, 1976;
& Ferreira, 1981; Hahrie et al., 1986; Carvalho Nogueira et al., 1982; Demattê et al., 1987;
et al., 1996; Lima, 1997; Pedralli & Teixeira, Toledo Filho, 1988; Mainieri & Chimelo, 1989;
1997; Rodrigues & Araújo, 1997; Brina, 1998; Siqueira et al., 1993; Nave et al., 1997;
Brina & Lemos Filho, 1998; Meira Neto et al., Nagase et al., 1999).
1998a; Carvalho et al., 1999; Neri et al.,
• Tocantins.
2000).
• Paraíba (Tavares et al., 1975; Lacerda et al., • Distrito Federal (Ribeiro et al., 1985;
Pereira et al., 1990).
1996; Gadelha Neto & Barbosa, 1998;
Marinho & Brilhante, 1998; Carvalho et al., A ocorrência de Astronium urundeuva no noroeste
1999; Cordeiro & Trovão, 2000). do Paraná, citada por vários autores (Maack,
1968; Klein, 1985; Leite et al., 1986; Roderjan &
• Pernambuco (Lima, 1954; Tavares, 1959; Kuniyoshi, 1989; Goetzke, 1990), é equivocada;
Lima, 1970; Drumond et al., 1982; Lira et al., trata-se, na verdade, de Astronium graveolens
1987; Miranda, 1989; Araújo et al., 1991; Jacq (ver Guaritá).

Mapa 19. Locais identificados


de ocorrência natural de
aroeira-verdadeira
(Myracrodruon urundeuva),
no Brasil.

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Aspectos Ecológicos plantios no Nordeste, com pluviosidade média
anual a partir de 300 mm, para a Caatinga
Grupo sucessional: espécie secundária inicial hiperxerófila.
(Motta et al., 1997) a secundária tardia Regime de precipitações: chuvas periódicas
(Kageyama et al., 1990), ou clímax exigente de luz concentradas no verão, ou chuvas de verão com
(Pinto, 1997). máxima no outono, no Nordeste.
Características sociológicas: a aroeira-verdadeira Deficiência hídrica: moderada, com estação
é comum tornar-se bastante freqüente na vegetação seca de 2 a 5 meses de duração nas regiões
secundária por rebrota, com grande quantidade de Centro-Oeste e Sudeste, de forte a muito forte,
plantas de todas as idades, formando, por vezes, com estação seca de 7 a 9 meses no nordeste e
bosques quase puros (Guarim Neto, 1986). Essa no norte de Minas Gerais.
espécie invade pastagens, onde sobrevive ao fogo. Embora resistente à seca, a aroeira-verdadeira
É árvore longeva. sofre com a falta de umidade nos solos, secando
Regiões fitoecológicas: Myracrodruon as pontas dos galhos; entretanto, não morre
urundeuva possui ampla distribuição, ocorrendo totalmente, mas sua forma é prejudicada.
em várias regiões fitoecológicas: na Floresta Temperatura média anual: 18ºC (Barbacena,
Estacional Semidecidual Submontana MG) a 27,2ºC (Mossoró, RN).
(Carvalho et al., 1996); na Floresta Estacional
Decidual, no oeste da Bahia (Silva et al., 1983), Temperatura média do mês mais frio: 14,7ºC
na formação Submontana, no baixo Paranaíba, (Barbacena, MG) a 26ºC (Morada Nova, CE e
em Minas Gerais (Carvalho et al., 1999) Picos, PI).
e na formação das Terras Baixas e Submontana, Temperatura média do mês mais quente:
em Mato Grosso do Sul (Pott et al., 2000). 20,6ºC (Barbacena, MG) a 30,9ºC (Picos, PI).
No Cerradão, onde é freqüente, surgindo nos Temperatura mínima absoluta: -2,2ºC
afloramentos calcários; na Caatinga/Mata-Seca (Uberaba, MG).
(Lira et al., 1987; Fernandes, 1992; Brandão
Número de geadas por ano: até cinco geadas,
& Gavilanes, 1994; Lima & Lima, 1998);
na área sul de sua distribuição, no Estado de São
no Carrasco (Araújo et al., 1998) no Chaco
Paulo, mas predominantemente sem geadas ou
Sul-Mato-Grossense e no Pantanal
pouco freqüentes.
Mato-Grossense (Conceição & Paula, 1986).
Tipos climáticos (Koeppen): tropical (As e
A espécie tem sido observada, também, nos Aw); semi-árido (BSw e BSh) e subtropical de
bosques de galeria (Imaña-Encinas & Paula, 1994) altitude (Cwa e Cwb).
e na flora de áreas erodidas de calcário bambuí,
no sudoeste da Bahia (Lima, 1977).
Solos
Fora do Brasil, ocorre na Selva
Tucumano-Boliviana e na Região Chaquenha,
Myracrodruon urundeuva é uma espécie calcífila
onde forma uma parte do estrato superior do característica. As melhores populações dessa
Bosque Alto (Lopez et al., 1987). espécie aparecem em solos ricos em cálcio (Ca) e
Densidade: numa área de Caatinga, na Bahia, rasos e situados em declives acentuados (Heringer
foram encontrados 115 indivíduos por hectare & Ferreira, 1973).
(Lima & Lima, 1998), e na Bacia do Essa espécie ocorre naturalmente em solos de ori-
Rio Piranhas, na Paraíba, entre 2 a 11 árvores por gem arenítica como basáltica, de textura arenosa
hectare e no Rio Grande do Norte, entre 2 a ou argilosa, não inundáveis. Sua presença é rara
3 árvores (Tavares et al., 1975). em solos profundos de Nitossolo (terra-roxa), ou
Sá (1998), em inventário florestal em em terrenos de baixadas úmidas.
Pernambuco, encontrou entre 11 a 48 árvores No Paraná, em plantios experimentais, tem se
por hectare no sertão, e entre 19 a 99 árvores por destacado melhor em solo de fertilidade química
hectare, no agreste. elevada e com propriedades físicas adequadas,
como bem drenado e com textura que varia de
franca a argilosa, Latossolo Vermelho distroférrico
Clima (Latossolo Roxo distrófico).
Precipitação pluvial média anual: desde Costa Filho (1987) verificou acentuado efeito
400 mm na Bahia e em Pernambuco a 2.300 mm positivo da aplicação da calagem em mudas dessa
no Ceará. Carvalho (1978) indica essa espécie para espécie, sobretudo na dose mais elevada, o que

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evidencia ser a espécie bastante exigente em cálcio ser desidratadas e armazenadas por longo tempo
(Ca) e ou magnésio (Mg). em bancos de germoplasma a baixas
temperaturas. Armazenadas a -20ºC e 5%
Segundo Melo et al. (1982), torna-se praticamente
de umidade relativa, a longevidade prevista para
impossível obter-se plântulas de aroeira de boa
essa espécie é de 669 anos (Medeiros, 1996).
qualidade em Latossolo Vermelho-Amarelo
distrófico (Latossolo Vermelho-Amarelo) sem Germinação em laboratório: as temperaturas
melhoria de suas condições químicas. alternadas de 20ºC a 30ºC e alternância de luz
(8 horas de luz e 16 horas de escuro), utilizando-se
substrato rolo de papel, podem ser usadas nos
Sementes estudos de germinação dessa espécie (Cavallari
& Faiad, 1987).
Colheita e beneficiamento: a colheita de
Moraes et al. (1999), sugerem que a composição
sementes é dificultada pelo reduzido tamanho,
química e a germinação de sementes em
pois a semente assemelha-se a uma
populações dessa espécie pode, provavelmente,
pimenta-do-reino; as sementes são aladas e de
variar de acordo com a procedência da mesma.
maturação rápida.
Os frutos só devem ser coletados plenamente
maduros, quando apresentam-se firmes, com Produção de Mudas
aspecto rugoso, de coloração marrom-escura e Semeadura: recomenda-se semear em
com início de dispersão, pois imaturos sementeiras e depois repicar as plântulas para
não germinam. sacos de polietileno com dimensões mínimas de
Outro problema é que o ponto ótimo de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro, ou em
maturação ocorre na primavera, quando chuvas tubetes de polipropileno de tamanho médio.
e vendavais podem inutilizar as sementes. A repicagem deve ser efetuada a partir de
Para a coleta, Melo (1991) recomenda o uso de 4 semanas após a germinação. A planta jovem
uma rede de captura de insetos, que consiste num possui tecido de reserva e tubérculo na raiz
saco de pano preso a um aro de metal, provido de principal.
um cabo de madeira. Germinação: fanero-epígea (Santin, 1991), com
Sementes coletadas com alto teor de umidade início entre 4 e 40 dias após a semeadura.
germinam menos do que sementes coletadas com O poder germinativo é variável, de 32% a 92%.
baixo teor de umidade (Siqueira & Figliolia, 1987). As mudas se formam em cerca de 6 meses, após
a semeadura.
Número de sementes por quilo: 47.800
(Duarte, 1978) a 65 mil (Durigan et al., 1997). A raiz da muda dessa espécie é axial, levemente
tuberosa, com raízes secundárias pouco
Tratamento para superação da dormência: desenvolvidas e esparsas, de coloração
a semente apresenta dormência embrionária, por castanho-clara (Feliciano, 1989).
não existir impermeabilidade do tegumento.
Cuidados especiais: mudas em raiz nua
Como tratamento pré-germinativo, recomenda-se apresentam bom pegamento no campo. Santos &
a imersão das sementes em água por 24 horas, Castro (1997), recomendam a incorporação no
em temperatura ambiente. solo de substratos colonizados com fungos
Depois, as sementes são levadas à geladeira antagônicos (Trichoderma viride e T. harzianum)
(4 a 5ºC), onde devem permanecer por 6 dias antes do plantio, já que apresentaram efeito
(Capelanes, 1991). positivo no desenvolvimento das plântulas de
aroeira-verdadeira.
Longevidade e armazenamento: em condições
naturais, as sementes dessa espécie perdem o Propagação vegetativa: a propagação
poder germinativo em pouco tempo. Armazenadas assexuada dessa espécie é muito fácil. Até mesmo
em sacos de papel kraft em câmara fria (4ºC), por partes verdes da árvore, fincadas no solo, brotam
18 meses, apresentaram 67% de germinação com vigor (Heringer & Ferreira, 1973).
(Duarte, 1978).
A criopreservação é um método de Características Silviculturais
armazenamento promissor para a aroeira,
sugerindo-se desidratação prévia das sementes a A aroeira-verdadeira é uma espécie heliófila e
6% de umidade (Medeiros et al., 1992). medianamente tolerante às baixas temperaturas.
Mudas afetadas por geadas apresentam boa
Sementes dessa espécie apresentam comportamento recuperação, devido à presença do tecido
ortodoxo em relação ao armazenamento, podendo de reserva do sistema radicial.

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Hábito: geralmente apresenta forma péssima em Melhoramento e Conservação
plantio, com fuste curto, crescimento simpodial,
não formando fuste principal, e com muitas de Recursos Genéticos
ramificações mesmo sob espaçamento apertado. Myracrodruon urundeuva é muito explorada no
Bifurca-se a cerca de 2 a 3 m do solo, não Brasil, sob o escudo do extrativismo, tornando-a
adquirindo forma vertical e tornando-se muito escassa em todas as áreas de ocorrência (Paula &
esgalhada. Não forma fuste principal em plantio Alves, 1997).
sem intervenção artificial, tendo necessidade de Por isso, a aroeira-verdadeira está na lista oficial
desbrota e desrama para a formação de fuste. de espécies da flora brasileira ameaçadas de
Apresenta cicatrização ruim. extinção, na classe vulnerável (Brasil, 1992).
Métodos de regeneração: o plantio da No Estado de São Paulo, é considerada espécie
aroeira-verdadeira, a pleno sol, não é compatível em ameaça de extinção (Itoman et al., 1992),
com sua auto-ecologia. Recomenda-se plantio sendo preservada ex situ através de
misto, associado com espécie pioneira de populações-base, sob a forma de testes de
crescimento rápido, como Trema micrantha, para progênies e procedências (Siqueira & Nogueira,
forçar melhoria em sua forma. 1992).
No Estado de São Paulo, a aroeira-verdadeira Em Mato Grosso, está na categoria de espécie
apresentou melhor desempenho quando plantada vulnerável (Fachim & Guarim, 1995), e na Região
em consórcio com Anadenanthera macrocarpa, do Cariri Paraibano, é considerada como espécie
espécie secundária inicial (Kageyama et al., 1990). em extinção (Cordeiro & Trovão, 2000).
Em Assis, SP, houve diferença estatística em A variação genética entre e dentro de populações
altura, em favor do plantio misto comparado ao de aroeira vem sendo estudada, principalmente
puro (Garrido, 1981; Garrido et al., 1990). através de caracteres quantitativos, sendo que a
Garrido et al. (1997) consorciaram a aroeira com maioria dos resultados encontrados até o
Pinus caribaea var. caribaea, concluindo que o momento indicam que a maior parte da variação
consórcio foi, de modo geral, benéfico genética está dentro de populações, havendo
ao desenvolvimento dessa espécie em altura. pouca variação entre as populações estudadas
(Nogueira et al., 1982; 1986b; Moraes et al.,
Os mesmos autores recomendam o plantio da 1992; Moraes, 1992 e Siqueira, 1996).
aroeira 1 ano após o plantio de Pinus,
Esses resultados têm grande importância, tanto
na proporção de 20% a 40% de aroeira no
para a coleta de sementes na amostragem de
espaçamento de 3 por 2 m.
populações como na condução de programas de
Tarsitano et al. (1994), estudaram o custo de conservação genética in situ e ex situ da aroeira
implantação de aroeira em sete sistemas de (Moraes & Freitas, 1997).
plantio. Os resultados encontrados indicaram que
Moraes et al. (1995), utilizando-se da análise do
os custos de um sistema de plantio estão
coeficiente de caminhamento, evidenciaram que
diretamente relacionados com a quantidade de
embora a variação genética seja grande dentro de
mudas e as espécies envolvidas. Assim, o sistema populações, foram encontrados efeitos
aroeira/candiúba (Trema micrantha) diferenciados em cada uma das populações
e palmeira-jerivá (Syagrus romanzoffianum) foi o estudadas.
que apresentou maior custo de implantação, cerca
de R$ 2.500,00/ha e o de aroeira/eucalipto Com o avanço do uso de técnicas moleculares
o menor custo, aproximadamente R$ 950,00/ha. aplicadas ao estudo de genética de populações,
um número maior de populações –
Essa espécie brota da touça, após corte, podendo famílias/populações e
ser manejada por talhadia simples. Também indivíduos/famílias/populações – agora, podem ser
apresenta rebrota da raiz (Pott & Pott, 1994). estudados.
Sistemas agroflorestais: espécie Assim, Lacerda et al. (1996), trabalhando com
tradicionalmente deixada em pastagens, para populações de aroeira da Região Nordeste,
fornecer sombra ao gado. Na Bolívia, seu uso é apresentam protocolo para o estudo de diferentes
recomendado em quebra-ventos, como sistemas isoenzimáticos em aroeira; tal estudo
componente das fileiras centrais das cortinas de representa um grande avanço, pois permite que
três fileiras, ou para o enriquecimento de cortinas várias populações de aroeira sejam avaliadas
naturais (Johnson & Tarima, 1995). rapidamente e ao mesmo tempo (Moraes
& Freitas, 1997).
É mais recomendável combinar com outras
espécies na fileira central. Nas cortinas, plantar de Em ensaio, testando-se duas populações de
4 a 5 m entre as árvores. aroeira, observou-se variação genética entre

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e dentro das populações testadas, para as Cor: alburno branco ou levemente rosado.
características altura e florescimento (Moraes Cerne bege-rosado ou castanho-claro quando
et al., 1992) e para germinação e condutividade recém-cortado, escurecendo para castanho-escuro
elétrica (Moraes et al., 1997). ou castanho-avermelhado-escuro, quando velha,
chegando ao negro.
Contudo, o controle genético dessas duas
características foi baixo, devido à fase juvenil Características gerais: superfície um tanto
das plantas. lustrosa e lisa ao tato; textura média e uniforme;
grã irregular. Cheiro e gosto imperceptíveis.
Durabilidade natural: cerne durável,
Crescimento e Produção imputrescível, sendo considerada a madeira mais
resistente do Brasil. Na prática, é tida como
A aroeira-verdadeira apresenta crescimento lento madeira de alta resistência ao apodrecimento, pelo
(Golfari & Caser, 1977) a moderado. teor de tanino e por ser resistente ao ataque de
O incremento médio máximo registrado é de cupins de madeira seca.
5,60 m3.ha-1.ano-1, aos 9 anos (Tabela 18). Segundo um dito popular do interior de Goiás,
Estima-se uma rotação de 8 a 10 anos para “a aroeira dura a vida toda, e mais cem anos”
mourão e de 15 a 20 anos para a obtenção de (Ribeiro, 1989). Entretanto, o alburno é facilmente
dormentes (Tigre, 1964). atacado por insetos.
Preservação: apresenta permeabilidade
Características da Madeira extremamente baixa às soluções preservantes.
Trabalhabilidade: apresenta fácil polimento.
Massa específica aparente: a madeira da
aroeira-verdadeira é muito densa (1,00 a
1,21 g.cm-3), a 15% de umidade (Mainieri & Outras Características
Chimelo, 1989).
• A madeira é furada por larva de besouro,
Massa específica básica: 0,60 a 0,65 g.cm-3 o que pode ser evitado, se esta for laminada
(Silva et al., 1983). ainda verde.

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• A descrição anatômica da madeira dessa diquadra (espécie de xarope das cinzas da
espécie é encontrada em Paula (1982); aroeira-verdadeira) para fazer sabão caseiro.
Mainieri & Chimelo (1989) e em Flörsheim
& Tomazello Filho, 1994. Substâncias tanantes: a casca contém até 17%
de tanino, usado no curtimento de couros (Lopez
• Propriedades físicas e mecânicas da madeira et al., 1987). Espécie tradicionalmente utilizada na
dessa espécie podem ser encontradas em Chapada do Araripe, no sul do Ceará, para
Mainieri & Chimelo (1989). extração do tanino (Pinheiro, 1997).
Alimentação animal: no Nordeste, as folhas
Produtos e Utilizações dessa espécie são usadas como forragem,
principalmente na época da seca.
Madeira serrada e roliça: a madeira de
aroeira-verdadeira é indicada para construções Apícola: as flores da aroeira-verdadeira produzem
externas, como vigamentos de pontes, pinguelas, pólen e apresentam interesse para a apicultura.
postes, esteios, curral e dormentes. Em construção Na Chapada do Araripe, no sul do Ceará,
civil, como vigas, caibros, ripas, tacos para é considerada uma das espécies apícolas mais
assoalhos; móveis torneados e peças torneadas; importantes (Batista et al., 1997).
rodas, moenda e pisos.
Medicinal: na medicina popular, a casca, a folha
É a madeira preferida para cercas no interior do e a raiz da aroeira-verdadeira são usadas em
Brasil, seja como mourão, esticador, batente, forma de chá e de infusão, como balsâmica e
estaca, palanque ou balancim e obras de entalhe. hemostática.
Dormentes comuns de aroeira apresentam uma
duração média de 25 anos (Heringer & Ferreira, Na forma de chá ou de infusão — a casca
1973). Aborígenes brasileiros fabricavam suas (balsâmica e tônica) — é também utilizada no
lanças com o cerne da aroeira (Correa, 1975). tratamento das doenças respiratórias e urinárias.
Na Região Oriental no Ceará, na zona sertaneja, Serve também para estancar hemoptises,
devido à escassez de água, existem muitos poços hemorragias e metrorragias (Campelo, 1988).
(cisternas ou cacimbões), onde usam-se degraus É usada também no tratamento da diarréia e de
de aroeira-verdadeira fixos, desde a borda até o feridas rebeldes. Quando fervida, em forma
fundo do poço, à guisa de escada. Esses degraus de emplastro e aplicada em pano com suporte de
podem ficar submersos e também servem para tala de bambu, pode substituir o gesso, em caso
medir o volume ou nível da água.
de fratura óssea (Pott & Pott, 1994).
Na mesma região, leito dos rios temporários,
Outros usos são mencionados, como no combate
durante a seca, os ribeirinhos cavam cacimbas na
à inflamação de garganta, para curar gastrite e
areia e usam caixotes vazados feitos de
aroeira-verdadeira, à guisa de manilha, para evitar como regulador menstrual. O uso da aroeira-
o desbarrancamento das paredes arenosas. verdadeira tem comprovado efeito antiinflamatório
e cicatrizante em casos de úlceras e alergias.
Energia: madeira para carvão e lenha de boa Por ser rica em tanino, a aroeira tem propriedade
qualidade (Paula, 1982), mas a lenha não queima adstringente, daí seu efeito de contrair, fechar e
bem (Pott & Pott, 1994). Poder calorífico
cicatrizar (Matos, 1982; Berg & Silva, 1986).
da madeira de 4.582 kcal/kg (Silva et al., 1983).
Essa espécie indicada, também, para a produção Paisagístico: recomendada como árvore
de álcool (Paula, 1982). ornamental em arborização de ruas e praças, por
Na Região Oriental do Ceará, também na zona fornecer boa sombra (Guarim Neto, 1986; Lorenzi,
sertaneja, os oleiros ou ‘loiceiros’ utilizam a 1992). É utilizada na arborização de Brasília, DF
madeira dessa espécie como combustível nas (Jacinto & Imaña-Encinas, 2000).
caeiras (fornos), porque segundo eles, “é uma lenha Reflorestamento para recuperação
de queima lenta, mas de alto poder calorífico e as ambiental: espécie recomendada para solos
peças de barro não racham e nem se quebram compactos, consorciada com gramíneas (Silva,
durante a queima”.
1978) e para matas ciliares (Salvador, 1987).
Celulose e papel: espécie inadequada para
Os frutos são comidos por periquitos e papagaios
este uso.
(Pott & Pott, 1994). Em Piracicaba, SP, essa
Resina: a casca da aroeira-verdadeira fornece espécie apresentou maior consumo médio de água
resina por lesão. no decorrer da primavera, reduzindo-o no verão e
Sabão: Na Região Oriental do Ceará, na zona no outono, aos níveis mais baixos do ano (Mello,
sertaneja, as pessoas de baixa renda extraem a 1961).

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Principais Pragas e Doenças Em mudas dessa espécie, com 30 meses de idade,
foi observada a ocorrência de uma doença com
Eventualmente, na fase de viveiro, pode ocorrer sintoma de queima em folhas, causada por
ataque de pulgões nas folhas. Nesse caso, Phomopsis sp. (Anjos et al., 2000).
recomenda-se a aplicação do ingrediente ativo
pirimicarb 50 pm na dosagem de 50 g/100 l de
água, tomando-se as precauções no manuseio Espécies Afins
recomendadas pelo fabricante (Melo, 1991).
Essa aplicação só deve ser feita quando o ataque A braúna (Schinopsis brasiliensis Engl.), também
atingir 10% das plantas. A madeira das árvores da família Anacardiaceae, é espécie bastante
caídas dessa espécie sofre, no mato, ataque de próxima da aroeira-verdadeira (Rizzini, 1971).
coleobroca, que perfura a madeira. Astronium fraxinifolium Schott, ou gonçaleiro,
é também muito semelhante.
O responsável pelas perfurações comuns em
postes é o coleóptero Brasilianus bacordairei, que As duas espécies se separam pelos frutos e pela
penetra nas galerias enquanto as toras se acham casca. A casca do gonçaleiro é muito mais lisa,
derrubadas na mata (Heringer & Ferreira, 1973). quase íntegra (Rizzini, 1971).

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Referências Bibliográficas
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