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Espécies

Arbóreas
Brasileiras

Pinheiro-Bravo
Podocarpus sellowii

volume

2
Pinheiro-Bravo
Podocarpus sellowii

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Quatro Barras, PR
Pinheiro-Bravo
Podocarpus sellowii

Taxonomia e Nomenclatura mo explica-se pelo fato de a semente ser susten-


tada por um pedúnculo carnoso, dito epimácio
De acordo com o Sistema de Classificação de (MARCHIORI, 1995). O epíteto específico, sello-
Cronquist, a posição taxonômica de Podocarpus wii, é em homenagem a Friedrich Sellow (1789
sellowii obedece à seguinte hierarquia: – 1831), botânico alemão integrante da comitiva
de naturalistas que veio ao Brasil acompanhando
Divisão: Pinophyta (Gymnospermae) Dona Leopoldina, noiva de Dom Pedro I.
Classe: Coniferopsida
Ordem: Coniferae Descrição
Família: Podocarpaceae
Forma biológica: arvoreta a árvore perenifólia.
Gênero: Podocarpus As árvores maiores atingem dimensões próximas
Espécie: Podocarpus sellowii Klotzsch ex Endl. de 25 m de altura e 50 cm de DAP (diâmetro à
altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na
Publicação: Syn. Conif. 209. 1847 idade adulta.
Nomes vulgares por Unidades da Fede-
Tronco: é reto, com fuste medindo até 18 m de
ração: pinheirinho e pinheirinho-da-mata, em
comprimento.
Minas Gerais; pinheiro-do-mato, pinho-bravo e
pinho-bravo-de-folha-larga, no Paraná; pinheiro- Ramificação: apresenta esgalhamento esparso,
-brabo, pinho e pinheiro-do-mato, no Rio Grande além de cicatrizes de folhas e escamas impressas
do Sul; pinheirinho, pinheiro-bravo, pinheiro-do- e unidas em retículo.
-mato e podocarpo, no Estado de São Paulo.
Casca: com espessura de até 10 mm. A casca
Etimologia: o nome genérico Podocarpus origi- externa é pardacenta, levemente fendilhada, des-
na-se do grego podos (pé) e karpós (fruto). O ter- camando-se em lâminas finas, que ficam mais ou

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menos soltas na árvore, caem aos poucos e com Ocorrência Natural
as pontas dobradas para cima. A casca interna é
carmim-clara e levemente perfumada. Latitudes: de 1º 30’ S, no Pará, a 28º S, em
Santa Catarina.
Folhas: são sésseis, glabras, pouco rígidas,
oblongas, ou oblongo-lanceoladas, medindo de Variação altitudinal: próximo ao nível do mar,
6 a 13 cm de comprimento por 7 a 15 mm de no Pará, a até 1.800 m de altitude, em Cato-
largura. São alternas, com ápice agudo, pecíolo lés, na Chapada Diamantina, BA (ZAPPI et al.,
curto e nervura central um pouco elevada acima, 2003).
com leve sulco entre duas arestas na página infe- Distribuição geográfica: Podocarpus sellowii
rior elevada, desaparecendo para o ápice. Geral- ocorre, de forma natural, no Brasil, nas seguintes
mente, a ponta da folha não é espinhosa. Unidades da Federação (Mapa 53):
Cones polínicos: são subsésseis, medindo de • Bahia, em Catolés, na Chapada Diamantina
10 a 20 mm de comprimento e 2,5 a 3,0 mm de (ZAPPI et al., 2003).
largura quando maduros, dispondo-se solitaria- • Ceará, na Serra de Baturité (FIGUEIREDO
mente ou agrupados de 2 a 8, nos galhos adultos et al., 1991).
(GARCIA, 2002; GARCIA, 2003).
• Distrito Federal (FILGUEIRAS; PEREIRA,
Cones ovulíferos: são solitários e sustentados 1990; PROENÇA et al., 2001).
por um pedúnculo de 5 a 12 mm, apresentando
• Espírito Santo, em Iúna.
receptáculo que mede de 5 a 18 mm, com 2 a 3
brácteas soldadas. Os cones são localizados na • Goiás (IMAÑA-ENCINAS; PAULA, 1994;
região basal da folha, nos galhos novos lançados PAULA et al., 1996; MUNHOZ; PROENÇA,
no ano. 1998).

Fruto: é um epimácio, pedúnculo carnoso unido • Minas Gerais (CARVALHO, 1992; GAVILA-
ao cone, medindo 10,85 mm de diâmetro, verde- NES et al., 1992; ÁVILA, 1997; SILVA et al.,
1997; MEIRA-NETO et al., 1998).
-claro na fase de desenvolvimento, tornando-se
roxo-escuro quando atinge a maturação. Barbosa • Pará (MAINIERI; PIRES, 1973).
(2002) contou 4,03 frutos no ramo um e 83,42 • Paraná (INOUE et al., 1984; RODERJAN;
no ramo dois. KUNIYOSHI, 1988; HARDT et al., 1992;
Sementes: são esféricas (subglobosas), levemen- RODERJAN, 1994; KOEHLER et al., 1998;
te estriadas, de consistência coriácea e coloração LACERDA, 1999; GARCIA, 2003).
verde-escura, quando maduras. Medem de 7,10 • Pernambuco (LIMA, 1982; LIMA, 1991; PE-
a 10,63 mm de comprimento, 6,40 a 8,76 mm de REIRA et al., 1993). Em 1963, Beurlen e Osó-
largura e 6,40 a 8,67 mm de espessura (GARCIA, rio de Andrade, citados por Andrade-Lima
2003). A semente é sustentada pelo epimácio. (1966), coletaram material fossilizado e de
madeira silicificada em Araripina e São José
do Belmonte.
Biologia Reprodutiva
•Rio Grande do Sul (REITZ et al., 1983; BA-
e Eventos Fenológicos CKES; NARDINO, 1998).
Sistema sexual: essa espécie é dióica. • Rondônia (MAINIERI; PIRES, 1973).
Vetor de polinização: essencialmente abelhas e • Santa Catarina (REITZ et al., 1978; KLEIN,
diversos insetos pequenos. 1979/1980; NEGRELLE, 1995).
Cones polínicos: ocorrem de outubro a maio, • Sergipe (ANDRADE-LIMA, 1966), na Serra
no Estado de São Paulo (GARCIA, 2002). de Itabaiana.
Frutificação: sementes dessa espécie ocorrem • Estado de São Paulo (MAINIERI, 1967; CUS-
de fevereiro a junho, no Paraná (GARCIA, 2003),
TODIO FILHO, 1989; ROBIM et al., 1990;
em maio, no Pará e de setembro a maio, no Esta-
ZICKEL et al., 1995; IVANAUSKAS
do de São Paulo (GARCIA, 2002).
et al., 1997; GARCIA, 1997 e 1999; IVA-
Dispersão de frutos e sementes: é zoocórica, NAUSKAS et al., 1999; GARCIA, 2002;
principalmente pela avifauna. SZTUTMAN; RODRIGUES, 2002).

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Mapa 53. Locais identificados de ocorrência natural de pinheiro-bravo (Podocarpus sellowii), no Brasil.

Aspectos Ecológicos • Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical


Pluvial Atlântica), nas formações das Terras
Grupo ecológico ou sucessional: o pinheiro- Baixas, Montana e Alto-Montana, no Cea-
rá (FIGUEIREDO et al., 1982) e no Paraná
-bravo é uma espécie secundária tardia. Contu-
(RODERJAN, 1994; KOEHLER et al., 1998;
do, para Ivanauskas et al. (1999), é uma espécie LACERDA, 1999; BARBOSA, 2002).
sem caracterização ecológica.
• Contato Floresta Ombrófila Densa (Floresta
Importância sociológica: nas Serras da Man- Atlântica) / Floresta Ombrófila Mista (Floresta
tiqueira e da Bocaina, ambas em Minas Gerais, de Araucária), no Paraná (GARCIA et al.,
formam maciços puros, consideráveis (AZEVE- 2003).
DO, 1962).

Bioma Amazônia
Biomas / Tipos de Vegetação • Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical
(IBGE, 2004) e Outras Forma- Pluvial Amazônica), no Pará e em Rondônia.

ções Vegetacionais
Bioma Cerrado
Bioma Mata Atlântica
• Savana ou Cerrado lato sensu, em Goiás
• Floresta Estacional Semidecidual (Floresta (MUNHOZ; PROENÇA, 1998).
Tropical Subcaducifólia), nas formações Alu-
vial e Montana, em Minas Gerais e no Esta-
do de São Paulo, com freqüência de 1 a 17 Outras formações vegetacionais
indivíduos por hectare (MEIRA-NETO et al., • Ambiente fluvial ou ripário, no Distrito Federal
1998; IVANAUSKAS et al., 1999). (PROENÇA et al., 2001), onde é bastante

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comum ao redor de Brasília (PAULA; ALVES, a estação chuvosa se adiantando para o outono),
1997), em Goiás e em Minas Gerais (GAVI- em Pernambuco e em Sergipe. Cfa (subtropical
LANES et al., 1992; ÁVILA, 1997), com fre- úmido, com verão quente), no Paraná, em Santa
qüência de seis indivíduos com alturas maio- Catarina e no leste do Estado de São Paulo.
res que 2 m e DAP inferior a 5 cm (IMAÑA- Cfb (temperado sempre úmido, com verão suave
-ENCINAS; PAULA, 1994) e uma árvore e inverno seco, com geadas freqüentes), no Para-
adulta por hectare (PAULA et al., 1996). ná. Cwa (subtropical úmido quente, com inverno
• Brejos de altitude, em Pernambuco (LIMA, seco e verão chuvoso), no Distrito Federal, no
1991; PEREIRA et al., 1993). sudoeste do Espírito Santo, em Goiás e na Zona
do Paranapanema, SP (IVANAUSKAS et al.,
• Campo rupestre, na Serra da Bocaina, MG,
1999). Cwb (subtropical de altitude, com verões
onde é uma planta rara (CARVALHO, 1992).
chuvosos e invernos frios e secos), na Chapada
• Ecótono Ambiente Ripário / Floresta Estacio- Diamantina, BA, e no sul de Minas Gerais.
nal Semidecidual, na Bacia do Rio Jacaré-
-Pepira, no Estado de São Paulo (ZICKEL et
al., 1995). Solos
• Floresta turfosa, no Estado de São Paulo Podocarpus selowii ocorre, naturalmente, em
(SZTUTMAN; RODRIGUES, 2002). solo de fertilidade química e variável, na maioria
pobres, rasos, bem drenados e com textura que
varia de franca a argilosa.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de 700
mm, em Pernambuco, a 3.700 mm, na Serra de
Sementes
Paranapiacaba, SP. Colheita e beneficiamento: a coleta das
Regime de precipitações: chuvas uniforme- sementes deve ser efetuada nas árvores, com
mente distribuídas, em Santa Catarina e no Para- auxílio de um podão, quando mais de 50% dos
ná. Periódicas, nos demais locais. epimácios se encontram arroxeados e bem de-
Deficiência hídrica: nula, em Santa Catari- senvolvidos (GARCIA, 2003).
na, no Paraná e nas Serras da Mantiqueira e da Número de sementes por quilo: 2.607, com
Bocaina, em Minas Gerais. De pequena a mode- teor de água inicial de 54,8% (GARCIA et al.,
rada, na Serra de Guaramiranga, CE, no Pará, 2003) a 3.695, com umidade inicial de 45,5%
em Pernambuco, em Rondônia e em Sergipe. De (GARCIA, 2003).
pequena a moderada, no inverno, no Distrito Fe-
deral, no sudoeste do Espírito Santo, em Goiás, Tratamento pré-germinativo: não há necessi-
no sul de Minas Gerais e no Estado de São Paulo. dade.

Temperatura média anual: 16 ºC (Quatro Bar- Longevidade e armazenamento: as sementes


ras, PR) a 25 ºC (Caruaru, PE). dessa espécie têm comportamento recalcitrante,
com grau crítico de umidade em torno de 26,8%
Temperatura média do mês mais frio: 15,3 de água (GARCIA, 2003).
ºC (Caparaó, MG) a 23,2 ºC (Caruaru, PE).
Germinação em laboratório: na temperatura
Temperatura média do mês mais quente:
de 25 ºC, em vermiculita, com 49,5% de germi-
21,2 ºC (Guaramiranga, CE) a 26,5 ºC (Caruaru,
nação (BARBOSA, 2003).
PE).
Temperatura mínima absoluta: -4 ºC (Quatro
Barras, PR). Produção de Mudas
Número de geadas por ano: pouco freqüentes Semeadura: é feita em sementeiras. Depois, as
a raras, no Paraná e na Serra de Caparaó, MG, a plântulas são repicadas para sacos de polietileno
ausentes nas demais Unidades da Federação. de dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm
Classificação Climática de Koeppen: de diâmetro ou em tubetes de polipropileno de
Af (tropical superúmido), no litoral do Para- tamanho médio. Recomenda-se fazer a repica-
ná. Am (tropical chuvoso, com chuvas do tipo gem 1 a 6 semanas após a germinação ou quan-
monção, com uma estação seca de pequena do atingirem 4 a 8 cm de altura.
duração), na Serra de Baturité, CE, no Pará e em Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. A
Rondônia. As (tropical chuvoso, com verão seco emergência tem início de 24 a 122 dias após a

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semeadura. A porcentagem de germinação varia Crescimento e Produção
de 13% a 71,8% (BARBOSA, 2002; GARCIA
et al., 2003). Há poucos dados sobre o crescimento do pinhei-
ro-bravo em plantios (Tabela 44).
Características Silviculturais
Características da Madeira
Podocarpus sellowii é uma espécie esciófila a
heliófila, que não tolera baixas temperaturas. Massa específica aparente (densidade):
a madeira de Podocarpus sellowii é leve a mode-
Hábito: o pinheiro-bravo apresenta disposição
radamente densa (0,46 a 0,55 g.cm-3) (MAINIE-
simpodial (característica incomum às coníferas). RI; PIRES, 1973).
Nos plantios a pleno sol, apresenta-se esgalhado,
bifurcado e com brotações na base do colo. Em Cor: o cerne e o alburno do pinheiro-bravo não
plantio em vegetação matricial arbórea ou em são nitidamente diferenciados. A madeira é de
coloração bege-clara, levemente amarelada e
regeneração natural, apresenta crescimento mo-
uniforme.
nopodial, com ramificação lateral leve e espaça-
da entre os pseudoverticilos. Características gerais: as superfícies da ma-
deira dessa espécie são lisas ao tato, com brilho
A desrama natural é deficiente, devendo sofrer pouco acentuado. A textura é muito fina. Apre-
poda freqüente e periódica, que pode ser feita a senta grã direita, gosto e cheiro ausentes ou não
partir do terceiro ano (poda verde) após o plan- perceptíveis.
tio. Essa espécie rebrota dos pontos de poda,
Outras características: a descrição anatômica
bem como na base do tronco. do pinheiro-bravo é encontrada em Mainieri;
Métodos de regeneração: o pinheiro-bravo Pires (1973).
pode suportar perfeitamente plantios que permi-
tam uma boa disponibilidade de luz. Recomenda-
-se plantio misto associado com espécie pioneira Produtos e Utilizações
ou plantio em vegetação matricial arbórea, com Madeira serrada e roliça: por suas caracterís-
abertura de faixas, em capoeiras e feito em li- ticas físicas e mecânicas, a madeira do pinheiro-
nhas. Essa espécie brota na base do colo. -bravo é indicada na produção de embalagens,
molduras, ripas, guarnições, tábuas para forros,
caixaria, lápis, palitos de fósforo, brinquedos,
Conservação de caixas de ressonância, compensados, laminados,
Recursos Genéticos aglomerados, instrumentos musicais, carpintaria
comum e marcenaria.
Podocarpus sellowii está presente na lista das Energia: essa espécie produz lenha de qualidade
espécies raras ou ameaçadas de extinção no aceitável.
Distrito Federal (FILGUEIRAS; PEREIRA, 1990). Celulose e papel: Podocarpus sellowii é ade-
Leite et al. (1986) mencionam sua ocorrência no quada para esse uso, principalmente para fibra
sul de Mato Grosso do Sul. Contudo, Souza et al. longa.
(1997) não confirmaram a presença dessa espé-
Paisagístico: a planta é bastante ornamental,
cie na área citada. podendo ser cultivada em parques e jardins.
Lima (1991) faz um apelo para garantir a preser- Plantios em recuperação e restauração am-
vação dessa Gimnosperma, já em vias de extin- biental: em restauração de ambientes ripários,
ção, em decorrência dos constantes desmatamen- em locais sem inundação.
tos registrados em sua única área de ocorrência,
em Pernambuco.

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Principais Pragas e Doenças Espécies Afins
Pragas: 23% das sementes dessa espécie (recém- Podocarpus L’Hérit. ex Pers. é considerado o úni-
-coletadas e maduras) são danificadas por inseto co gênero tropical das Coniferales no Hemisfério
(Coleoptera) não identificado (GARCIA, 2003) Sul (DUARTE, 1973). Ocorrem mais outras três
e por uma pequena vespa preta (Himenoptera) espécies de Podocarpus no Brasil.
encontrada nas sementes perfuradas, verificando-
-se que essa vespa tem função predadora, ou Podocarpus sellowii apresenta grande variabilida-
seja, alimenta-se das larvas do coleóptero, ainda de fenotípica quanto ao porte, tamanho das fo-
dentro da semente. lhas e número de cones polínicos por axila foliar
(GARCIA, 2002). Essa espécie assemelha-se a
Doenças: Garcia (2003) encontrou um fungo
P. lambertii, distinguindo-se por ter folhas lan-
patogênico de fraca atuação (Pestalotia spp.) na
fase germinativa das sementes dessa espécie. ceoladas maiores e ausência de um pedúnculo
comum aos grupos de estróbilos masculinos
(MARCHIORI, 1996).

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Referências Bibliográficas
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