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Canafístula

Peltophorum dubium
Canafístula
Peltophorum dubium

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Botões florais
Foto: Paulo Ernani R. Carvalho

Arborização urbana (Curitiba, PR)


Foto: Paulo Ernani R. Carvalho

Tronco e copa
Foto: Vera L. Eifler

Flores
Foto: Vera L. Eifler
Frutos
Casca externa Foto: Carlos Eduardo F. Barbeiro
Foto: Paulo Ernani R. Carvalho

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Canafístula
Peltophorum dubium

Taxonomia e Nomenclatura barbatimão, cabeça-de-negro e cabelo-de-negro, no


Estado do Rio de Janeiro; cambuí, em
De acordo com o Sistema de Classificação de Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais; canafiste;
Cronquist, a taxonomia de Peltophorum dubium canafrista-branca, no Paraná; canafístula;
cancença e favinha, em Pernambuco;
obedece à seguinte hierarquia:
canela-de-veado; canhafistula; caobi;
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae) cássia-amarela; farinha-seca e faveira, na Bahia
e em Minas Gerais; faveiro, no Distrito Federal,
Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae)
em Minas Gerais e no Estado de São Paulo;
Ordem: Fabales guarucaia, em Minas Gerais e no Estado de São
Família: Caesalpiniaceae (Leguminosae: Paulo; guazu; ibira-puitá, no Rio Grande do Sul
e no Estado de São Paulo;
Caesalpinioideae).
jacarandá-de-flor-amarela; madeira-nova,
Espécie: Peltophorum dubium (Sprengel) Taubert, em Pernambuco e na Paraíba; pau-vermelho;
Engler et Prantl, Natürl. Pflanzenf. ed. I. quebra-serra, na Bahia; sobrasil; tamboril,
3(3).77:176, 1892. na Bahia, em Pernambuco e no Estado do Rio de
Janeiro; tamboril–branco; tamboril-bravo,
Sinonímia botânica: Caesalpinia dubia Sprenger;
na Bahia e no Estado de São Paulo; e tamburi.
Cassia disperma Vellozo; Peltophorum vogelianum
Bentham Nomes vulgares no exterior: arbor de artigas,
no Uruguai; cañafístula e ybira puitá, na Argentina;
Nomes vulgares no Brasil: acácia-amarela;
pacay, na Bolívia, e yvyra pyta, no Paraguai.
amendoim, amendoim-falso, angico-bravo,
camurça, curucaia, ibirá e monjoleiro, no Estado Etimologia: Peltophorum significa “o que conduz o
de São Paulo; amendoim-bravo; angico; disco”, referindo–se ao estigma. Em tupi-guarani,
angico-amarelo e angico-cangalha, em Minas é conhecida como ibira-puita-guassú, que significa
Gerais; angico-vermelho e pororoca, no Paraná; “madeira-vermelha-grande” (Longhi, 1995).

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Descrição Biologia Reprodutiva
e Fenologia
Forma biológica: árvore caducifólia (perde
totalmente as folhas no inverno), com 10 a 20 m
Sistema sexual: planta hermafrodita.
de altura e 35 a 90 cm de DAP, podendo atingir
excepcionalmente 40 m de altura e 300 cm de Vetor de polinização: principalmente as abelhas
DAP, na idade adulta. No Nordeste do Brasil, e diversos insetos pequenos.
atinge 12 m de altura.
Floração: de setembro a março, no Estado de
Tronco: cilíndrico, mais ou menos reto ou
São Paulo; de outubro a março, nos Estados do
levemente curvo e achatado e com base
Rio de Janeiro e de Santa Catarina;
acanalada. Fuste com até 15 m de comprimento.
em novembro, em Mato Grosso do Sul;
Ramificação: dicotômica, cimosa. Copa ampla, de dezembro a março, no Rio Grande do Sul e no
umbeliforme, largamente achatada e Paraná e, de março a agosto, em Pernambuco.
arredondada.
Frutificação: os frutos amadurecem de abril a
Casca: com espessura de até 25 mm. A casca outubro, no Rio Grande do Sul; de abril a agosto,
externa é marrom-escura, rugosa, provida de no Paraná; em maio, no Distrito Federal; de maio
pequenas fissuras longitudinais, que se a dezembro, no Estado de São Paulo e, de junho
desprendem em lâminas pequenas quando jovem a agosto, em Santa Catarina. O processo
e em placas retangulares em exemplares velhos. reprodutivo inicia entre 7 e 12 anos de idade, em
plantio.
Quando jovem, apresenta abundantes lenticelas,
de distribuição difusa ou colunar multisseriada; Dispersão de frutos e sementes: autocórica,
solitárias ou anastomosadas, de disposição principalmente barocórica, por gravidade, e
e abertura horizontal (Gartland & Salazar, 1992). anemocórica (os frutos são lentamente dispersos
A casca interna é dura, rósea, pouco fibrosa. pelo vento). As sementes da canafístula são
Folhas: compostas, bipinadas, alternas, de até encontradas no banco de sementes do solo.
50 cm de comprimento por 25 cm de largura, com Sassati et al. (1999) estudando a longevidade de
16 a 21 pares de pinas, de cor verde-escura; cada sementes dessa espécie, armazenadas no solo,
pina com 24 a 30 pares de folíolos observaram que a maioria delas permaneceram
elípticos-oblongos, opostos, de 5 a 10 mm de intactas por 11 a 12 meses.
comprimento e 2 a 3 mm de largura, ápice
acuminado e base desigual.
Ocorrência Natural
Flores: amarelo-vivas ou alaranjadas, com até
2 cm de comprimento, em vistosas panículas ou Latitude: 7º S na Paraíba a 29º S no Rio Grande
racemos terminais ferrugíneos e tomentosos, do Sul, no Brasil, atingindo o limite Sul a 30º25’S
medindo até 30 cm de comprimento. em Artigas, no Uruguai.

Fruto: sâmara com 4 a 9,5 cm de comprimento e Variação altitudinal: de 30 m no Estado


1 a 2,5 cm de largura. Contorno longitudinal do Rio de Janeiro a 1.300 m de altitude em
lanceolado ou elíptico, com ápice agudo e base Minas Gerais.
estreitada. Distribuição geográfica: Peltophorum dubium
ocorre de forma natural no nordeste da Argentina,
Superfície castanho-avermelhada a marrom,
nas províncias de Misiones, Corrientes, Formosa e
puberulenta, com nervuras predominantemente no
Chaco (Martinez-Crovetto, 1963; Arboles, 1992),
sentido longitudinal. Estas são mais fortes na no leste do Paraguai (Lopez et al., 1987), e no
região central, delimitando o núcleo seminífero norte do Uruguai (Lombardo, 1964).
que se estende até o ápice. Em cada fruto,
com 1 a 4 sementes no sentido longitudinal. No Brasil, essa espécie ocorre nos seguintes
Estados (Mapa 30):
Semente: de contorno longitudinal ovado e
transversal, elíptico; superfície lisa, brilhante, • Alagoas (Heringer & Ferreira, 1973).
amarelo-esverdeada. Testa membranácea. • Bahia (Mello, 1968/1968; Lima, 1977;
Occhioni, 1981; Harley & Simmons, 1986;
Na parte basal-lateral, encontra-se um hilo oval,
Lewis, 1987; Pinto et al., 1990; Lima & Lima,
micrópila visível e rafe curta e fina, oposta à
1998).
micrópila (Oliveira & Pereira, 1984). Com cerca
de 1 cm de comprimento e 4 mm de largura. • Espírito Santo.

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• Goiás. • Estado de São Paulo (Mainieri, 1970;
Nogueira, 1976; Baitello & Aguiar, 1982;
• Mato Grosso do Sul (Conceição & Paula,
Nogueira et al., 1982; Silva, 1982; Bertoni et
1986; Leite et al., 1986; Assis, 1991; al., 1987; Demattê et al., 1987; Pagano et al.,
Conceição, 1991; Souza et al., 1997; 1987; Vieira et al., 1989; Nicolini, 1990;
Romagnolo & Souza, 2000). Kotchetkoff-Henriques & Joly, 1994;
• Minas Gerais (Thibau et al., 1975; Occhioni, Durigan & Leitão Filho, 1995; Nave et al.,
1981; Brandão et al., 1989; Gavilanes 1997; Cavalcanti, 1998; Durigan et al., 1999)
& Brandão, 1991; Brandão, 1992; Brandão
& Araújo, 1992; Brandão & Silva Filho, 1993; Aspectos Ecológicos
Brandão et al., 1993; Brandão & Araújo,
1994; Vilela et al., 1994; Brandão et al., 1995; Grupo sucessional: espécie secundária inicial
Carvalho et al., 1995; Pedralli & Teixeira, (Durigan & Nogueira, 1990), mas com
1997; Brina, 1998; Carvalho et al., 2000). característica de pioneira (Marchiori, 1997).
• Paraíba (Ducke, 1953). Características sociológicas: a canafístula é
abundante em formações secundárias, mas com
• Paraná (Inoue et al., 1984; Roderjan
poucos indivíduos, geralmente de grande porte,
& Kuniyoshi, 1989; Goetzke, 1990; Roderjan,
ocupando o estrato dominante do dossel em
1990a; Roderjan, 1990b; Oliveira, 1991; floresta primária.
Soares–Silva et al., 1992; Silva et al., 1995;
Nakajima et al., 1996; Souza et al., 1997). Desempenha papel pioneiro nas áreas abertas, em
capoeiras e em matas degradadas. É comumente
• Pernambuco (Ducke, 1953; Lima, 1954; encontrada colonizando pastagens, ocupando
Tavares, 1959; Lima, 1970). clareiras e bordas de mata. É árvore longeva.
• Estado do Rio de Janeiro (Mello, 1950; Regiões fitoecológicas: Peltophorum dubium
Guimarães, 1951; Barroso, 1962/1965; é freqüente em todo o domínio da Floresta
Occhioni, 1974; Bloomfield et al., 1997b). Estacional Semidecidual Submontana e Montana,
onde ocupa o estrato dominante (Roderjan, 1990).
• Rio Grande do Sul (Mattos, 1983; Reitz et al.,
1983; Brack et al., 1985; Thum, 1992). Essa espécie é encontrada também em outras
tipologias florestais, como Floresta Estacional
• Santa Catarina (Reitz et al., 1978; Occhioni, Decidual Montana austral, na Bacia do Rio Jacuí,
1981). onde ocupa o estrato emergente (Klein, 1984);

Mapa 30. Locais identificados


de ocorrência natural
de canafístula (Peltophorum
dubium), no Brasil.

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no Cerradão (Bertoni et al., 1987; Durigan et al., Solos
1999); no Chaco Sul-Mato-Grossense (Conceição,
1991); nos encraves vegetacionais na Região Peltophorum dubium ocorre naturalmente em
Nordeste (Tigre, 1964; Fernandes, 1992); vários tipos de solos, aparecendo em solos ácidos,
na Caatinga (Lima & Lima, 1998), e no Pantanal inclusive de Cerradão, até solos de fertilidade
Mato-Grossense, onde ocorre nas áreas de química elevada.
transição entre as partes úmidas e secas
(Conceição & Paula, 1986). Em plantios experimentais, tem crescido melhor
em solos de fertilidade química média a alta, bem
A espécie também tem sido observada na flora de
drenados e com textura de franca a argilosa.
áreas erodidas de calcário bambuí, no sudoeste da
Não tolera solos rasos, pedregosos ou
Bahia (Lima, 1977). Fora do Brasil, é encontrada
demasiadamente úmidos.
na Selva Misionera, na Argentina, e em parte do
Chaco, no Paraguai. Peltophorum dubium é bastante exigente em N
(nitrogênio) (Nicoloso et al., 2000). Recomenda–se
Densidae: em levantamentos fitossociológios
aplicar 2,5 g de fertilizante da formulação
realizados na Floresta Estacional Semidecidual,
NPK 4–14–8, por recipiente (volume de terra:
em Minas Gerais e no Estado de São Paulo, foram
400 ml) (Pacheco, 1977).
encontradas entre 4 a 6 árvores por hectare
(Vieira, 1989; Vilela et al., 1994). A adição de lodo ou de esterco de curral e esterco
Em área da Floresta Estacional Decidual, de galinha bem curtidos, na composição de
no noroeste do Rio Grande do Sul, foram substrato, são eficazes em produzir mudas de
encontrados dois indivíduos por hectare canafístula de elevada qualidade (Guerra, 1983).
(Vasconcelos et al., 1992).
Sementes
Clima
Colheita e beneficiamento: os frutos da
Precipitação pluvial média anual: desde canafístula devem ser colhidos quando mudam
700 mm na Bahia a 2.300 mm em Santa de coloração verde-escura para
Catarina. marrom-clara-acinzentada.
Regime de precipitações: chuvas
Como os frutos permanecem na árvore por muito
uniformemente distribuídas na Região Sul
tempo, quando as sementes são colhidas muito
(excetuando–se o norte do Paraná), e periódicas,
com chuvas concentradas no verão ou no inverno, secas, geralmente apresentam germinação lenta e
nas outras regiões. irregular, mesmo se deixadas imersas na água por
tempo superior a 72 horas (Duarte, 1978).
Deficiência hídrica: moderada, no inverno, no
oeste do Estado de São Paulo, no norte do Paraná Por se encontrarem no interior de vagens
e no sul de Mato Grosso do Sul, e forte, com indeiscentes, as sementes de canafístula são de
estação seca de 5 a 7 meses, na Região Nordeste difícil extração. A extração é feita manualmente,
(Bahia, Paraíba e Pernambuco) e no centro-norte com o auxílio de um cacetete, ou em máquinas
de Minas Gerais. beneficiadoras, tipo debulhadora de milho
Temperatura média anual: 18,1ºC adaptada para sementes florestais (Ragagnin
(Diamantina, MG) a 25,3ºC (Bom Jesus da & Amaral, 1984).
Lapa, BA). Número de sementes por quilo: 4.200
Temperatura média do mês mais frio: 13,8ºC (Castiglioni, 1975) a 25 mil (Amaral & Araldi,
(Francisco Beltrão, PR) a 23,7ºC (Bom Jesus da 1979). Um quilo de frutos contém aproximada-
Lapa, BA). mente 200 g de sementes (Longhi, 1995), ou entre
Temperatura média do mês mais quente: 4.900 e 12 mil sementes (Arboles..., 1992;
20ºC (Diamantina, MG) a 27,2ºC (Corumbá, Durigan et al., 1997) e o número de frutos por
MS). quilo é igual a 5.280.
Temperatura mínima absoluta: -7,1ºC Tratamento para superação da dormência:
(Campo Mourão, PR). as sementes da canafístula apresentam forte
Número de geadas por ano: médio de 0 a 15; dormência tegumentar, que pode ser superada em
máximo absoluto de 40 geadas, na Região Sul. ambientes naturais pelo aumento repentino da
Tipos climáticos (Koeppen): principalmente temperatura do solo por ocasião da abertura de
em subtropical úmido (Cfa); subtropical de clareiras na floresta (Costa & Kageyama, 1987).
altitude (Cwa e Cwb); tropical (Aw), e Para obtenção de mudas, sugerem-se os
eventualmente em temperado úmido (Cfb) e em tratamentos: escarificação mecânica por 2 a
semi-árido (Bsh), na Bahia (Lima & Lima, 1998). 5 minutos (Figliolia & Silva, 1982) ou 30 minutos

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(Alcalay et al., 1988) e escarificação com papel de relação ao apresentado pelas mudas formadas em
lixa (Arboles..., 1992); pelo corte do tegumento na sacos de polietileno (Machado et al., 1998).
região oposta à da emergência da radícula
(Alcalay et al., 1988) ou corte do tegumento na Quando necessária, a repicagem deve ser feita
região radicial (Figliolia & Silva, 1982). entre 3 a 5 semanas após a germinação,
ou quando a muda atingir 3 a 6 cm de altura.
Imersão em ácido sulfúrico concentrado por 2 a
10 minutos (Bianchetti & Ramos, 1981), A canafístula apresenta elevada tolerância à poda
20 minutos (Guerra et al., 1982; Perez et al., radicial, podendo-se podar as mudas a 20 cm de
1999) ou por 30 minutos (Capelanes, 1991), profundidade (Locatelli & Galvão, 1980).
ou imersão em água ambiente por 24 horas
(Marchetti, 1984). As mudas são formadas por uma raiz pivotante
muito desenvolvida em comprimento e espessura,
Os tratamentos de imersão em água quente fora da qual saem poucas raízes laterais, curtas e bem
do aquecimento (70ºC a 95ºC) não são eficientes mais finas (Carvalho & Carpanezzi, 1982).
para superar a dormência (Bianchetti & Ramos,
1981). Germinação: epígea, com início entre 6 e
As sementes mantêm germinação baixa e irregular, 120 dias após a semeadura. O poder germinativo
se não forem submetidas a tratamento para é alto, até 95% em sementes com superação da
superação da dormência. dormência, e baixo, até 28% em sementes sem
superação da dormência.
Para sementes não tratadas, os tratamentos
pré-germinativos utilizados por Figliolia & Silva As mudas atingem porte adequado para plantio,
(1982), não foram eficazes na permeabilização cerca de 4 meses após a semeadura. Mudas com
do tegumento. 50 cm de altura, de raiz nua e pseudo-estacas de
canafístula também apresentam bom pegamento
Longevidade e armazenamento: as sementes
no plantio (Souza Cruz, 1992).
da canafístula apresentam comportamento
ortodoxo em relação ao armazenamento Para Portela et al. (1999), mudas dessa espécie
(Eibl et al., 1994; Perez et al., 1999). não necessitam de sombreamento na fase de
Sementes com faculdade germinativa inicial de viveiro, podendo ser produzidas sob pleno sol.
99%, armazenadas em sacos de papel kraft, em
câmara seca e em temperatura ambiente, com Associação simbiótica: as raízes da canafístula
umidade relativa de 50%, aos 25 meses não associam-se com Rhizobium (Campelo, 1976;
apresentaram germinação de 92%, enquanto as Allen & Allen, 1981;Carvalho & Carpanezzi,
armazenadas em sala apresentaram uma 1982; Faria et al., 1984a; 1984b; Gaiad &
germinação de 82% (Amaral et al., 1988). Carpanezzi, 1984; Oliveira, 1999).

Sementes com faculdade germinativa inicial de Entretanto, no Paraguai, menciona-se que suas
95%, armazenadas em tamborete em câmara fria raízes têm nódulos grandes e que fixam nitrogênio
(3ºC a 5ºC e 92% de UR) apresentaram germinação (N) (Lopez et al., 1987). Deve–se investigar a
de 41% após 7 anos de armazenamento. presença de fungos micorrízicos arbusculares.
Germinação em laboratório: os substratos areia Propagação vegetativa: propaga-se por enxertia,
a 26ºC e 30ºC, papel mata-borrão branco a 22ºC por meio do método da garfagem em fenda cheia
e 26ºC e papel-toalha a 24ºC e 26ºC, podem ser apresentando, após 30 dias, 100% de pegamento
utilizados nos estudos de germinação dessa espécie (Silva, 1982). Propaga-se também por estacas
(Ramos & Bianchetti, 1984). radiciais.
As sementes de canafístula são indiferentes à
Segundo Kirst & Sepel (1996), a canafístula
qualidade e intensidade da luz (Perez et al., 1999).
apresenta capacidade de micropropagação através
de emissão de gemas laterais, embora nas
Produção de Mudas condições testadas, o número médio de gemas
obtido por ápice tenha sido relativamente baixo
(duas a três para cada ciclo de 4 semanas).
Semeadura: pode ser feita diretamente em
recipientes, sendo recomendado semear duas Segundo os mesmos autores, para que se
sementes. Se o recipiente for saco de polietileno, obtenham clones de canafístula, que possam ser
recomenda–se que este tenha dimensões mínimas testados a campo, é necessário que se otimize a
de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro. capacidade dos ápices desenvolverem gemas
As mudas de canafístula, produzidas em tubetes laterais por períodos mais longos, que taxas de
de polipropileno de tamanho médio, apresentaram multiplicação sejam maiores e que se obtenha
um custo total de produção três vezes menor em uma freqüência de rizogênese maior.

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Características Silviculturais No Paraguai, estacas de canafístula são usadas
para postes vivos, que em pouco tempo brotam
A canafístula é uma espécie heliófila (Ferreira, e começam a se desenvolver (Parodi, 1934).
1977; Inoue & Galvão, 1986); medianamente
tolerante a baixas temperaturas. Sofre lesões por Melhoramento e Conservação
geadas, com temperatura mínima de -1ºC
(Embrapa, 1986). de Recursos Genéticos
Em florestas naturais, árvores adultas toleram Peltophorum dubium está ameaçada de extinção
temperaturas de até -7ºC. No Estado no Estado de São Paulo (Itoman et al., 1992),
de São Paulo, é considerada tolerante às geadas sendo necessária preservá-la ex situ, através de
(Durigan et al., 1997), e tolera perfeitamente as populações-base, sob a forma de testes de
baixas temperaturas do inverno gaúcho progênies e procedências (Siqueira & Nogueira,
(Maixner & Ferreira, 1976). 1992).
Hábito: variável, geralmente irregular, com perda Instituições como o Instituto Florestal de São
de dominância apical, com bifurcação desde a Paulo e a Embrapa Florestas têm-se preocupado
base ou com formação de galhos grossos, ainda com o melhoramento e a conservação genética
que não seja rara a forma monopódica. dessa espécie (Nogueira et al., 1982;
Há ocorrência de desrama natural. Shimizu et al., 1987).
Não obstante a característica ramificação Testes efetuados no Paraná e no Estado de São
dicotômica do tipo ortotrópica, a canafístula deve Paulo evidenciaram variabilidade genética entre
sofrer poda corretiva como complemento e procedências e entre progênies de canafístula
desramas periódicas para aumentar a altura (Siqueira et al., 1986; Shimizu et al., 1987).
comercial. A espécie rebrota dos pontos de poda.
Para essa espécie, nos locais sem déficit hídrico,
Métodos de regeneração: recomenda-se o evidenciou–se a diferença entre as populações
plantio da canafístula a pleno sol, em plantio evoluídas em regiões com e sem déficit hídrico
puro, com bom crescimento, mas forma (Shimizu et al., 1987).
inadequada.
Na maioria dos plantios, apresenta sobrevivência Crescimento e Produção
superior a 80%, mas com heterogeneidade entre
as plantas no crescimento em altura e diâmetro A canafístula apresenta crescimento rápido
e na forma. (Tabela 27); a produtividade volumétrica máxima
Em plantio misto, associado com espécies registrada é 19,60 m3.ha-1.ano–1 (Nogueira et al.,
pioneiras, apresenta poucos ramos, boa desrama 1982).
e cicatrização natural, formando fuste alto e livre O baixo crescimento observado em Concórdia, SC,
de nós (Kageyama et al., 1990). deveu-se às geadas fortes verificadas nos 4 anos do
A canafístula serve no tutoramento de espécies experimento. Higuchi (1978) elaborou equações
secundárias-clímax; em vegetação matricial volumétricas para volume comercial com e sem
arbórea, em capoeiras muito jovens, devendo-se casca, para as condições edafo-climáticas de Foz
abrir faixas largas, garantindo-se iluminação direta do Iguaçu e Guaíra, ambas no Paraná.
da copa ou em povoamentos densos espontâneos
de Leucaena leucocephala com abertura de faixas, Características da Madeira
preferencialmente na direção Leste - Oeste
(Zelazowski & Lopes, 1993). Brota vigorosa da
Massa específica aparente: a madeira da
touça, após corte.
canafístula é densa (0,75 a 0,90 g.cm-3), a 15%
Sistemas agroflorestais: em sistema de umidade (Braga, 1960; Stillner, 1980; Mainieri
silviagrícola, na arborização de culturas perenes, & Chimelo, 1989).
como o chá (Thea sinensis) na Argentina. Massa específica básica: 0,53 a 0,65 g.cm-3
A espécie é recomendada também para (Silva et al., 1983).
sombreamento de pastagens, abrigos para o gado Cor: alburno róseo-claro levemente amarelado;
e em quebra-ventos, por apresentar copa ampla. cerne com alternâncias irregulares de colorido
Mudas grandes com 2 a 3 m podem ser róseo-acastanhado e de bege-rosado-escuro,
transplantadas com sucesso com as raízes nuas freqüentemente com veios escuros irregulares.
(Maixner & Ferreira, 1976). Resiste a ventos fortes, Características gerais: superfície irregularmente
sem quebra de galhos ou tombamento da árvore. lustrosa e um tanto grosseira ao tato; textura

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médio-grosseira; grã fortemente revessa e diagonal. • A descrição anatômica da madeira dessa
Cheiro e gosto imperceptíveis. espécie pode ser encontrada em Mello (1950).
Durabilidade natural: resistência moderada ao
apodrecimento. Estacas de cerne dessa espécie
mostraram alta resistência a fungos e a cupins Produtos e Utilizações
(Cavalcante et al., 1982). Contudo, a vida média
da madeira de canafístula em contato com o solo Madeira serrada e roliça: essa essência
é inferior a 9 anos (Mucci et al., 1992; Rocha constitui-se, atualmente, numa madeira de alto
et al., 2000). valor econômico, uma vez que já foi desprezada
Preservação: madeira com baixa permeabilidade comercialmente. Por isso, permanecia nas
às soluções preservantes em tratamentos derrubadas sem aproveitamento econômico
sob pressão. imediato, como é o caso das queimadas do oeste
do Paraná, feitas há alguns anos (Pereira, 1978).
A madeira de canafístula é indicada em
Outras Características construção civil, para uso em vigas, caibros, ripas,
• Apresenta certa semelhança com a madeira do marcos de portas, janelas e assoalhos.
amendoim (Pterogyne nitens), mas inferior a Em uso externo, é aproveitada para mourões,
esta. É sujeita ao empenamento. dormentes e cruzetas.

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É usada também na indústria de móveis Trata-se de árvore de grande efeito ornamental,
e guarnições e em construção naval e militar. pela beleza de suas grandes panículas amarelas,
Em marcenaria e carpintaria, para fabricar sobressaindo de grandes folhas delicadamente
carroçarias, chapas e peças para decorações de penadas, produzindo belo efeito decorativo;
interiores e parquetes. a canafístula apresenta sistema radicial bem
Energia: produz lenha e carvão de qualidade desenvolvido, sendo dificilmente tombada
regular. Poder calorífico da madeira pelo vento.
de 4.755 kcal/kg (Silva et al., 1982). Os ramos são resistentes à ruptura. Entretanto,
Celulose e papel: espécie viável para produção essa espécie não é indicada para arborização
de papel (Paula & Alves, 1989). urbana, por apresentar porte grande.
Reflorestamento para recuperação
Carboidratos: das sementes da canafístula se
ambiental: espécie recomendada para restauração
obtêm açucares e galactomanana com teor de
3,8% (Mayworm & Buckeridge, 1997). de mata ciliar, mas não tolera terrenos
encharcados, ainda que sobreviva a inundações
Constituintes químicos: pequena porcentagem periódicas (Ferreira, 1983; Kageyama, 1986;
de saponina nas folhas (Mainieri & Chimelo, Salvador, 1987; Salvador & Oliveira, 1989;
1989), presença intensa na casca e muito intensa Durigan et al., 1997).
no lenho (Sakita & Vallilo, 1990).
É indicada também para recuperação de áreas
Substâncias tanantes: presença muito intensa degradadas (Carvalho, 1988) e utilizada no
de tanino na casca, com teores de 6% a 8% e reflorestamento de encostas no Município do Rio
presença intensa no lenho (Sakita & Vallilo, 1990). de Janeiro (Portela et al., 1999).
Alimentação animal: a forragem da canafístula
apresenta 11,2% de proteína bruta e 7,8%
de tanino (Leme et al., 1994), sendo imprópria
Principais Pragas
como forrageira. Destacam-se as famílias de Lepidoptera,
Saturnidae (Molippa sabina) e Geometridae, que
Apícola: as flores da canafístula são melíferas,
causaram desfolhamento total em povoamentos
com produção de néctar, mas comenta-se que
puros com menos de um ano de idade,
seriam nocivas às abelhas (Correa, 1952).
em plantios no sudoeste do Paraná.
Medicinal: as raízes, folhas, flores e frutos
Os serradores cerambicídeos Oncideres ulcerosa
possuem propriedades medicinais e são usadas na
e Oncideres dejeani, também causam danos
medicina popular (Correa, 1952;
pequenos, em plantios.
Celulosa Argentina, 1973).
Os índios de várias etnias do Paraná e de Santa
Catarina usam a casca do caule dessa espécie na Espécies Afins
forma de chá, como anticoncepcional O gênero Peltophorum (Vogel) Walpers é
(Marquesini, 1995). monoespecífico na América do Sul. Contudo,
Paisagístico: é cultivada para ornamentação de outras espécies são assinaladas em outras partes
áreas amplas, em arborização de avenidas, do mundo.
rodovias, praças, parques e jardins (Toledo Filho
Ao todo, existem nove espécies com ocorrência em
& Parente, 1988; Lorenzi, 1992), de várias cidades
Cuba, Antilhas, África, sudeste e sul da Ásia e
brasileiras, entre as quais Curitiba, PR (Roderjan,
nordeste da Austrália.
1989); Foz do Iguaçu, PR (Costa & Kaminski,
1990); Rio de Janeiro, RJ (Occhioni, 1974) Em Brasília, DF, Peltophorum africanum é usada
e Santa Maria, RS (Santos & Teixeira, 1990). na arborização urbana (Heringer & Ferreira, 1973).

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Referências Bibliográficas
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