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Leitura e Gramática
Lê o artigo seguinte.
Duelo de artilharia no Tejo
Não foi num passado distante, mas há bem menos de cem anos, em 1936. A Revolta dos
Marinheiros pôs o regime de Salazar à beira do desespero.
No dia 8 de setembro de 1936 os lisboetas foram surpreendidos com um forte aparato bélico
montado no Terreiro do Paço e ao longo de toda a zona ribeirinha. Tanques e outros veículos militares,
5 além de muitos soldados do Exército e da GNR, concentravam-se na «sala de visitas» da cidade. Mas
a perplexidade viria um pouco mais tarde, quando as baterias dos fortes costeiros, sobretudo dos de
Almada, começaram a fazer fogo sobre navios de guerra ancorados no Tejo. Os navios eram
portugueses, os fortes também. Tratar-se-ia de uma súbita e algo inesperada guerra civil?
Quase. Era uma sublevação de sargentos e praças da Armada. O movimento que ficaria conhecido
10 por Revolta dos Marinheiros.
Salazar fundara três anos antes o repressivo Estado Novo, herdeiro da Ditadura Militar imposta em
1926. Nos primeiros anos após o fim da I República tinham-se sucedido as tentativas de derrube da
ditadura. Oficiais do Exército e da Marinha, em ligação com os civis do «reviralho» (como se designava o
movimento oposicionista), haviam tentado por todos os meios o regresso à normalidade democrática. Em
15 vão. O regime contava com fortes apoios nos meios militares e as «revoluções» eram afogadas no sangue.
Em 1936, quando se deu a Revolta dos Marinheiros, já as coisas estavam mais calmas. Os portugueses, até
então buliçosos e entusiastas da política, iam-se tornando amorfos, abúlicos, gente de «brandos costumes».
Afinal, já tinham passado dez anos sobre o golpe de extrema-direita, e uma geração nova ia surgindo.
Mas os sargentos e praças dos avisos Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias e do
20 contratorpedeiro Dão, mobilizados e enquadrados pela Organização Revolucionária da Armada
(ORA), uma estrutura clandestina ligada ao clandestiníssimo PCP, o que pretendiam no imediato não
era derrubar o Governo, mas satisfazer reivindicações de tipo corporativo. Segundo algumas fontes,
queriam a libertação de camaradas que tinham sido presos mal os navios haviam regressado de portos
espanhóis, acusados de contactos com republicanos, um dos lados em confronto na guerra civil que
25 recentemente eclodira no país vizinho. Outra versão conta que o objetivo dos sublevados era
bombardear Lisboa e exigir a libertação de presos políticos. Segundo outros, finalmente, os revoltosos
pretendiam ir juntar-se aos republicanos espanhóis, defensores do governo legal, que lutavam contra a
rebelião de extrema-direita. Foi esta versão que se tornou a oficial, constante de notas do Governo. Era
a que mais convinha a Salazar: navios portugueses irem pôr-se ao serviço de «piratas vermelhos»
30 espanhóis era, está bom de ver, crime de alta traição.
Na repressão morreu uma dezena de marinheiros e 60 foram deportados, sem julgamento, para o
campo de concentração do Tarrafal. Coube-lhes a «honra» de irem estrear o sinistro «campo da morte
lenta». Centenas de outros ficaram detidos em Portugal e foram expulsos da Armada.
O regime salazarista sentiu muito o golpe, pois era a primeira vez que a iniciativa de o derrubar
35 partia, não de oficiais, mas de praças e sargentos, o verdadeiro povo em armas. Mas uma coisa é certa:
mesmo que a sublevação tivesse corrido bem naquele dia 8 de setembro, a revolta das tripulações
subalternas de três navios não seria suficiente para derrubar o Estado Novo.
Luís Almeida Martins, «Duelo de artilharia no Tejo», in 365 dias com histórias
da História de Portugal, Esfera dos Livros, 2011, pp. 384-386.
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Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 12.o ano 227
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
1. Segundo o autor do texto, a Revolta dos Marinheiros foi
(A) um golpe de estado contra o Estado Novo.
(B) um levantamento popular contra o Estado Novo.
(C) uma manifestação de agentes da Armada contra o Estado Novo.
(D) uma rebelião de agentes da Armada contra o Estado Novo.
2. Na expressão «as “revoluções” eram afogadas no sangue» (l. 15), o autor usa
(A) uma comparação.
(B) uma metáfora.
(C) um eufemismo.
(D) uma metonímia.
3. O uso de parênteses nas linhas 13-14 do terceiro parágrafo justifica-se pela introdução de uma
(A) enumeração.
(B) conclusão.
(C) transcrição.
(D) explicação.
4. Na expressão «Os portugueses, até então buliçosos e entusiastas da política» (ll. 16-17), os
adjetivos significam, respetivamente,
(A) ativos e admiradores.
(B) inquietos e defensores.
(C) sugestivos e conhecedores.
(D) determinados e apaixonados.
5. No contexto em que ocorre, a expressão «Afinal» (l. 18) contribui para a coesão
(A) frásica.
(B) interfrásica.
(C) referencial.
(D) temporal.
6. Os elementos sublinhados em «Salazar fundara três anos antes o repressivo Estado Novo,
herdeiro da Ditadura Militar imposta em 1926» (ll. 11-12) desempenham a função sintática de
(A) complemento direto.
(B) complemento indireto.
(C) complemento oblíquo.
(D) modificador.
9. Indica o antecedente do pronome pessoal presente na frase «Foi esta versão que se tornou a
oficial, constante de notas do Governo» (l. 28).
10. Classifica a oração sublinhada em «Outra versão conta que o objetivo dos sublevados era
bombardear Lisboa» (ll. 25-26).