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editora brasiliense a xh Ansa A carta de alforria }.\"Detinigdo jurfdtea © descrigio Para o eseravo brasileiro hé, como dissemos, levam a liberdade 10 cobic prios do sécvlo XIX ea alforria, A_praxe ‘a morte, dispositivos legais pro- nasga eseravo, mesmo se o pai é um homem livre: “Par Oiniea excegto 2 essa rex a crianga_gerada por obra do seahor lei que liberta os sexagendrios, de 188: tudo a Jei do “entre li tembro de 1871, n.° 2040, chamada Jei do “ventre importagdo de eseravos africanos esti proibi SER ESCRAVO NO BRASIL 7 criangas escravas ¢ a escravidio estava ameagada de extingo gradual, da mic escrava, tem duas opgSes: receber do Extdo uma indenizasio de 600 000 res on exereer 0 dieito de utilizar os servigos.d0 menor até {que complete 21 anos, No primoiro e850, 0 meno? pissa 0 gO gue, em gel, p colaea numa instituigéo de earidade, que 0 faré até tos 21inos, Os 600.000 réis so pagos ao. amo_em renda do estado, a 6 no prazo de 30 anos. Quando a eta 40s § anos, 0 senhor deve excoher 2 modaidade que mais the convém. (Quase sempre, prefereficar com o ment. F ume nova forma de:esers- ‘ido, pois a lei nfo determina 0 wimezo de horas de trabalho, 0 regime ou a alimentagio a serem dados 20 jovem “escravo live", que iramente A mereé do senhor, Numa sociedade em que 0 in ino de pele escura € tmediatamente identiticado como “escravo", sua da que fofre a masta dos eseravos. B sua sorte no cigio de cariade, quando o seshor enizagio, De faio, neste caso ele & erushmenteseparado, de io protetora mas impessoal, que também o explo ‘cbrigando-o a trabalhar, Como a escravidio serd ss que qualquer das criangas me tbelide no B chepue 20s alferriados so cor is problemas se equivalom inteiramente, aos dos 6 um dispositivo legal. Pode ser concedi ira presumida, por ato entre vivos ou como lar ou na presenes de um notirio, com ou sem documento faz-se necessério que haja testemunhas comprovantes ds a fo, assinado pelo senhor ou por um terceiro, a seu pedida, se ole ¢ to, Para evitar contestaglo, tornou-se_hibito_que_o_documento trado no cattorio em presenga de testemunhas. Com muita fre- porém, que se passem snos ene a concessio da alforrin hee ides do vente livre im KATIA M. DE QUEIROS MATTOS cent tesiamenta OU nal pas batismais. O proprietno 1 Tuniriemente 2 sea manus sobre @ eaio, que st "como so for de nscensa, segundo a expres habitual o texto das alforias, ‘As ctlangas, que nfo tém vontade propria do ponto de vista juri ico, nBo podem por isso ibertar seus eseravos. Os tutores 0 de menores no tém o direito de dispor dos bens dos seus pu se com’ autorizagSo judicial expresia. Da mesma forma, a pessoa que ‘para’ assinar uma Elo com autorizagio do s6u mi quando $6 toma igual a0 esposo. Por autoriza:a alforria dos “escravos da naga Nusa’ Nemear Hate. perspective ers feqUentementedetahada” nas vel aqui embaixo, a Tet berta também o 2 cOnjuge legal: de um casamento, s¢ um dos membros do casal é livre. 22 it — 0 abendono dos reoéim-nascidos ef dissemos que 0 escravo: que en- wilates) também 6 jo, que Fecebe a pedra, indeniza 0 ma graca € concedida ao escra- dos produtos ‘monopolizados pela Coroa (ouro, diamé com a isea de um prémio de 200 000 izaram esse recurso para obter a liberdade, durante a Guerra do Para- 1864-1869), Em casos de. herancas, pode acontecér a um escravo ‘Sversse propriedade de varios senhores ao mesmo tempo. Se um destes resolve conceder a Jjberdade ao escravo, os demais herdeiros véem-se na ie 0) ‘obrigagdo de fazer © mesmo. a quanta fixada para a 3 ‘curador ow de um tutor nomeado pelos proprios tibunais, pois o esctavo 7, ica. A partir de 1831, se o senhor pede uma forria do escravo, este pode ser libertado de ‘Uns quinze anos a “fundo de emancipagio’ fa sbolicao, um e nado & emancipagzo, que durante ese mesmo perodo, 132 77 no eativeiro, Com freqiénea, parece impossivel reir as june tasiqie devem, decidir.cssas:ibertagSes ¢, quondo sesionam, algumas dels'cedem as presses dos proprstrios, como ororreu i de So Paul, =”? anos antes ‘da aboligao, obriga os novos: libertos a” foram sob cléusulas que. lhes jmpdem tum tempo de servigo bem mais longo do que o estipulado pela , lei -Regulamentos e leis, cuja generosidade € muito mais aparente do t ulament ‘Em gerl, 0 eseravo nBo tem leis. Para que posse bene todas as provis6es legais em seu favor, precisa contar com < sao, Bima TH anther Yn f KATIA M. DE QUEIROS MATTOSO'Je. senhores. A alfortia pode ser. gt Sea orque © legilador assim 0 ja porgue 0 proprictirio quis mostrar-se generos Em gers, porém, & concedida com nus. Nesies catos_o escravo. deve pagécla:em ante, oufo ou papel, de uma vez oem pretiagses? Acontess, também, 0 escrave comprare dando outro eseravo a eseravo qu seus herdeiros deverdo libertar, geralmente real do cativo, este teto devera ser respk ‘Mos a alforria, gretite ov oneros das ambiglidades tanto da legislagdo, quanto da prét Jo propretério tem 0 direito de invocar podem ser inteiramente subjet- .¥0s. ©. séahor eitobre de repente a ingratido do seu antigo\eseravo? ia 0 documento de alforria com a mesma facilidade com que 0 assi- ' revogaeao da alforria por moti lo 13 do livro.4 das Ordenaghss flipinas jalmente legal. Somente em_ 1917.0 Bra- préprio. Outra ambiglidade esté em que fori. contém eldusul dighes suspensivas, que anulam ne. prat ‘pagio 0 escravo passa a lib do séeulo XVII, se mantém adotou um Cédigo Ci je, finalmente, 0 escravo: conse- i todas as restrigSes;, todas: as na_um cidadli “livre”. Pode, no entanto, dispor de seus bens como Ihe aprouver. Se mor testado ¢ sem filhos, a heranca é de sua mulher e dos outros herdeiros {que tena. Se morre solteiro, seus bens, como os de fodos os: homens + na justiga, ele precisa de autorizaeio especial do tribunal ¢ um_doeumento opaixonante., A mente transformando 80 longo SER ESCRAVO NO BRASIL 18h dos séeuios, clas narram 9 histéria_muito digna dos esforgos e das penas ° as fodo um povo eseravo, sedenio das miseras liberdades ot pelos senhores mais calculistas do que generosos. Bis a tran ipral de divas dessos cartas, escolhidas entre milhares, duas da mais cur- las e bantis. Existem multe outras que so verdadeitos relatos ¢ estfo rechesdas de todo tipo de consideragbes. As que reproduzimos, em sua rnuder de simplierdade total, aponatm os limites minima dentro dos quis se dever explicar forria fornecem indicagSes diversas: o nome“ fo,_seconhecida, cor, os wrado, a modalidade dessa libertagio — que sad condigses —, os nomes das testemunhas = ». Esporadicamente depara-se também com do-exerave que 1 liber imlion pelos quel ¢ al determinaram a outorga da libertago e as condigdes, por vezes suspensi- dessa concessio. Nelas esté, 20 fe mulheres que palmilharam um caminho minado de armadilhas, 0 da liberdade. Quem comprn sua liberdade? antiga quanto 1 da_propria_escrav is ou conjuatirais, Sempie obstaculizaram 0 desenvolvimento dessa instituigio. | PA lei prevé quatro casos em que a libertagSo do, esravo_¢proibida: | quando, por ocasiéo da venda do negro, particular ou em lelf0,,0.pro- jamente que ele jamais poderd ser_alforrad, 0 de venda pode inciuir também cléusulas Be KATIA M. DE QUEIROS MATTOSO SER ESCRAVO NO BRASIL 19 pelo prego justo”, escreve © amo todo-poderoso. No século XIX, se 0 "fide por sua aforia e munca mais recupert-la, Em sero lugar, a8 cartes de berdade outorgadas por testament so cosideradas mls, se _scordo entre senbor e exeravo se torn diel, seja pela revsifcla foes- tiverhavido vst legal: por exemplo, 0 rennor nio pode dispor de mals ‘erada do seahor em libertar seu eseravo, sya por este considera insa- ‘que 0 sew'*tergo- disponivel” para libertar escravos. Pode ocorrer que ficionte a. quantia proposta, 0 escravo pode buscar um padrinho que sus: ele tenha avalindo mal ¢ 0 esravo, alforriado em total bos 6, se 7e¥eja tente,udicakmente sua eavsa, Nesses casos, em goral, o tribunal decide talivo, se araude” for comprovada polos herdcires. Finaimente, 0 ~[ favor, doseservo, Quantos eseravos, pork, puderaireeorer a es caso mnis interessante referese 208 esravos dados em. cago ot hipo- prdtea?AS-informagSes. que possuimos stuslmente nifS fos petmitem teea, Um bem mével como qualquer outro, objeto empenhivel sem qu: | predisiro,,Seja como for, aa_maioria dos casos, os cartes proclamam, a quem o quiser saber, que elas foram concedidas ’ sem_qualquer_contrangimenio”, no que estamos i quer razio para um se- ude a seu, escravo, se ce seu interesse. Esse quer restrigfo, o escravo hipotecado pode :. 8 gua alforria no fer nunca o dlreito de s fem como ponto de referéneia o prego de venda do escravo local, valor que, como ficou visto, depende, para ser fixado, da sadde co eseravos perlencentes a um estabelecimento agricol ‘podem eseravo, sua idade, sexo e as suas qualifieagses no mundo do trabalho. Na ‘continuar servindo como cauglo. Esses atos sio registrados em cartério, verde «avlago ted om conta sods ote for mine importa, s requerem a pre ceujo peso : bem i se do relacionamento assim como ‘as doagGes intervivos por causa mi cexistente,entre 0 senhor, que dé, ou melhor, que vende. a libertagio do senga de-cinco testemunhas. “0 eseravo 6 bem uma mercadoria. Dai a imutilidade da preocupa- Seu SECFBV0, €) 0 €% (980 das autoridades administrativas e religiosas, que tentaram impedir a ‘Trotasse do grau de wo goza junto a seu senor, 2 de sentimentos diffceis de serem contabilizados, nos quais influenciam os prostituigo de escravas como fonte de lueros para scus senhores muito respeitavels. E tfo intl fol o artigo da lei, herdado do direito romano, ue di liberdade ao escravo obrigado & prostituiglo pelo sew senbor, que pparalelo, no-qual © valor do escravo € co ptaticamente néo foi uilizado. O escravo precisaria ter apoios muito for- ispbe.a faclliter-the & alforr - tes para obter sua liberdade sob tal alegagio. Ainda em 1871, um tit tensio.-As cartes de.clfortia outorgadas a um prego baseado na estima 4, mal do Rio de Janeiro nega a alforria de uma escrava forgada 8 prosti- ‘entre proprietério e eseravo subvalorizam 0 cativo, enquanto o prego dos tuigio “porque 0 0 artigo: 179 da Const emais:semantém préximo da cotago do mercado :de mio-de-obra | ropredade em toda a sua plenitude © 2 hiptese do diceto romano invoeada nfo € aplicivel ao caso ja.eatanto,o senhor somente tem interese em alfrriar um escravo libertado. Nested sum escravo envelhecide e ter outro, mais mogo %y! jastado pelo trabalho, O prego da compra possi fe, 0 senhor, uma verdadsira mais-valia, um lucro suplementar sobre o *”igualmente impedir 0 escravo de alcangar 3 c conhecida delas 6 © preso'a ser pago. Fle & ‘verbal miituo, e grande amero de KATIA M. DE QUEIROS MATTOSO Imero 6 ainda maior. Ora, muitos escravos compram sua alforria a prazo, isto 6, pelo sistema de pagamento parcelado, Apbs 1850, devido & restri- fo do mercado desde aboligio do téfico, vinte anos antes, o prego do escravo sobe mui avferie grandes Jus alto do escravo jf envelhecido pa novo. Con} rlodos de igH0: de exigir um prego que posss adquirir um trabalhador livrarse da_mio-ie-obra que se_tornow vin peso. Mass priofitatiamente og escravos Idosot_e os qua_tém_pouca: sale, Na ver- ‘dade, faltem os estudos que permitam anélises mais apuradas, Certo, pporém, é que o senhor procura sempre sumentar seu luero e que a alforria permite-be 0 encaixe de um capital que pode investi methor: Ap6s 1850, , €tentador, © mesmo de bom tom, em Salvador, adquirit ‘ages banciriese subscries da divida piblica:« venda ia, que produza imediatemente dinheira vivo. dite bom negécio a0 senkir e 20 escravo. smente mais cheia de nuangas do que parece, pois ou papel — nfo comparece sozinho no jogo das oblema # pouco conhecido ¢ somente trés estudos erdade em Salvador, entce 1684 concadidas entre 1789 ¢ 1822, io esclarecedores de certos aspectos dos'contratos de beragfo. Ao que parece, em Salvador, as cartas de alforia concedidas «8 titulo oneroso no representare, em momento algum, mols de 48% 4 total, enguanto em Parati aleangam apenas a 31%. Por qué? Um a pode eartamente ser dado pela andl -expedidas "sob condigées", que sla. mais numerosas em (439%) do que em Salvador. Sera realment "como B08 tam de escrover certos senhores, essa lberdade concedida sob’a:condi- co do forro permanecer escravo enquanto vives forem o senhor, ow seu filho, sua iem ou qualquer dos cla & paga muito caro, & sempre revopivel e toma oe | ainda mais dependent, pois ele sabe de mau humor, pode pir absixo 0 edi futura libertaglo. Ora, na Bahia, ese tipo de alforria sob condigBes re- presenta, conforme o periodo, de 18 a 23% do total das c ii 5. 43% do fon mestigas e, em consegiéncia, mais mulheres e criangas. parte © sempre, mulo nomerosos entre os forros. Na Bahia, eles somam tno fim do séeulo XVII e até mea IX essa proporeio baixa considera- mages profundas: paralelamente a certo d mices da produgio de agicar, 2 cidade toma-se um centro comercial ui as mercadorias importadas. Seu crescimento per- se podem xr perfeitamente 03 etioules © os mestigos. Além disso, os escraves {que vio chegando entdo so prioritariamente encaminhados 2s regiGes das inde gozam de pregos mais elevados do que na Bahia ov no todas essas condigdes favorecem a emancipagto dos criou- ‘outro lado, quando, @ partir da segunda metade do se desenha ume clara retomada anos sobe. nimera ate a aboligéo do tréfico negreiro, em atividade cos engenhos de agdear conhece fases de 5 de relativa prosperidade. O ndmero de afci- tento, em relagio ao dos erioulos. Atinge 52% perto dos 80%. leres e criangas, dispomos de estudos rea- lizados no Rio @ Janeiro, em Salvador e em Ps Nessas trés cidades brasileiras as mulheres obtm (na proporeio de | 2 escravas para um negro) a alforria com mais facilidade. Ora, na po-) pulagio escrava a proporela & de 2 homens para 1 mulher. As cartas de ja slo, pois, concedidas muito mais facilmente as mulheres que, vive na intimidade do senhor ou exercem o oficio de 1 50, custa menos substitublas ¢ elas en- ymens, Mereadoria ainda mais preciosa, idamente desvalorizada, escrava berdade ov a de vendedoras velhecem joulos, mestigos, mulheres, criangas so, em toda“. vosi§Q8 do proprictétio. A carta de 6 KATIA M. DE QUEIROS MATTOSO alta até 1745 na Bahia, ¢ sobretudo em Parati. O retrocesso anotado no ratura brasileira desereve os yelhos abandonados que so vistos a men- digar & porta das igrejas, doentes, cegos, aleijados, gotosos, reduzidos 1 apelo & earidade publica, Estudos sérios comprovam, no entanto, que de alforriados idosos em parte alguma uitrapassa 10% do ia dos senhores no jogam na rua seus escravos initels e, por outro lado, mozre-se_jovern. no Brasil, e ainda mais jovem quem é trabalhador escravo. Em resumo,, dois tergos. dos al outros, as variagées so devides ow a diferengas na composigio da massa e tados sto mulheres. Quanto aos Imente & conjuntura econémica Wa, Por toda parte, no en- ‘¢ Server, antes de tudo, aos interes- ia € um ato comercial, raramente toda & grattidade a0 ato da al tum gesto de geneconidade: Ser Hberiado imedtatamente Por que os escravos de ganho © os domésticos tém mais oportuni-

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