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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA al José Jorge de Carvalho (org.) O QUILOMBO DO RIO DAS RAS HISTORIAS, TRADICOES, LUTAS Salvador - 1996 ISBN: 85.232-0141-6 CENTRO DE ESTUDOS AFRO-ORIENTAIS EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Rua Augusto Viana, 37 Canela CRP: 40110-069 Salvador: Fone: (071) 2459564 - Internet (E-Mail): edutba EA a Apoio: Fundagio Ford SUMARIO PREFACIO sonnw ee AGRADECIMENTO8 emnonnnnn ‘A EXPERIENCIA HISTORICA NAS AMERICAS E (ose Jorge de Carvali) 0S QUILOMBOS NAS AMERICAS ‘A COMUNIDADE RURAL NEGRA DO RIO DAS RAS (Siala. in ¢ Joss jorge de Carealha) O.CONFLITO EA LUTA PELA POSSE DA TERRA. 75 LARA: ASAT ina) COMUNIDADES RURAIS DO MEDIO SAO FRANCISCO: PROCESSO DE ASSENTAMENTO ... 205 PREFACIO ir do laudo pericial tagao da Procuradoria Rural Negra do Rio 163 165 forma organizada, rei A. COMUNIDADE NEGRA DO RIO DAS RAS: ira a demarcagao e 2 ENTES DOS QUILOMBOS tu Doria Jose Jorge de Caroatho) 181 ESTADO ATUAL DA LUTA JURIDICA (Siglia Zambrots Dora eos Jorge de Carvalho) 185 BIBLIOGRAPIA soccer 10 REFLEXAO ANTROPOLOGICA E PRATICA PERICIAL, propos uma Acao contra a (Adolfo Neves de Oliveira Je) oe ITORIO E COMUNIDADE : A ORGANIZACAO SOCIAL DOS NEGROS DAS RAS... REFLEXAO ANTROPOLOGICA E PRATICA PE Ab BIBLIOGRAPIA ccennnene dade. , abedecendo a quesitos elabo- ico Federal, procurou levantar a de, sob a perspectiva da ocupagéo smes e tradigdes proprios ao gru- invasores das terras des de sua repro- Os auesitos que fomos chamados 2 259 ducao fisica Fesponder a0 Rio das Ras envolviam: 1 antropolégico da comunidade do ~identidade do grupo — fronteiras étnicas; + tempo de ocupagao da re = como 0 grupo chegou ar de suas terras; como se deu a ocupacao 2 exile doi eRe Sou grato a José Maria Tendrio da Rocha pelas infor- ‘magées prestadas a respeito do quilombo em Alagoas: a Terry do Suriname; a P: 0s maroons da Jamaica; explicagdes sobre 0 vodu hai Rita Segato, pelo est sugestdes incorporadas. AL capoeira, Agradego a todos aqueles que contribuiram para o bom éxito do trabalho de campo— a Dom Francisco Batistela, Bispo da Diocese de Bom Jesus da Lapa; & Miss8o Redentorista, responsdvel pela Pardquia de Bom Jesus da Lapa; a Manoel Pereira dos Santos, Presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bom Jesus da Lapa; a Andrelino Francisco Xavier que acolheu os pesquisadores em sua residéncia, no Enchuy a boa gente das Ras, na figura do Presidente da Associagio Agropastoril e Quilombola do Rio das Ras, jo Arcanjo Rodrigues. Agradeco, igualmente, ao Padre José Evangelista de Souza pelas entré doente ~,de Belo Horizont equipe em Bom Jesus Especialmente, mui Miriam Inés Bersch qu 3s, eruzou uma cl La José Jorge de Carvatho Brasilia — Gainesville, outubro de 1995 A EXPERIENCIA HISTORICA DOS QUILOMBO: NAS AMERICAS E NO BRASIL. : José Jorge de Carvalho OS QUILOMBOS NAS AMERICAS informapses do negro escravo no Nove la bastante escassas entre nds, © que traz 8 consciénela, tanto do negro bra : estudlosos da tradiio arora isolamento, Eis porque me pareceu importante trazer une sintese, ainda que breve, da saga dos escravos libertos nas Vaias regides do mundo afro-americano, de modo a situar a luta do negro brasileiro, durante o regime escravsta ¢ noe gine de hoe (como ¢ cso do present vo sabre a comun ie do Rio des RAs), no contexto desse movimento hist dade do Ri. sse movimento histori ‘As comunidades formadas pelos negros escravos, fugiram do trabalho foreado er recapira por parte das forgas eseravocrat u ior dl Ria das Ris palenques na Colémbia e em Cuba; cumbes, na Venezuel ‘marrons no Haiti e nas demais ilhas do Caribe francés: grupos ‘ou comunidades de cimarrones, em diversas partes da Amé- rica Espanhola: maroons, na Jamaica, no Suriname e no sul dos Estados Unidos, Os termos maroon e marron derivam do espanhol cimarrén, nome dado pelos primeiros coloni zadores das Américas ao gado doméstico fugido para as ‘montanhas da entio ilha de Hispaniola (hoje Haiti e Santo Do- mingo). Em cada regido das Américas, onde o regime escrava- sta se instalou, registraram-se movimentos de rebelido contra, 0 deles datando de dezembro de 1522, sjustamente| spaniola. Isso significa dizer que ahistéria {do cativeiro negro nas Américas se confunde com a histéria da rebelido contra o regime escravagista. Ambos movimentos moldaram, profunda e definitivamente, até os dias atuais. 0 perfil ideoldgico, cultural e psicossocial de todos os paises das ‘Américas Negras. E, em cada um deles, se foi construindo uma sage das lutas dos escravos, com seus sucessos, fracassos, perseguigdes, retraces, armisticios, traigoes eatos de heroismo. ‘Apresento, a seguir, uma seqiléncia dos fatos historicos dos mitos mais importantes surgidos da resistencia escrava no Novo Mundo, dando énfase especial aqueies paises onde seu impacto, na formagao mesma do discurso nacional, forte, Enquanto, em alguns lugares, esse perfil histérico bem compreendido — como nos casos do Haiti, do S eda Jamaica — no Brasil, nossa compreensao da comunitéria negra tradicional — seja quilombola, escrava ou pos-aboligao — é ainda muito dispersa e incompleta, Certas conguistas politicas e territoriais dos escravos libertos de outras nacées saltarso aos olhos do leitor que conhece o mas- sacre, sem piedade e sem trégua, sofrido pelos quilombos no ‘por outro lado, podera identificar certas diferencas de ethos ¢ certas atitudes pacificas de tolerancia interracial, do ponte de vista do negro brasileiro, simplesmente sur- preendentes para quem nos vé de fora. Falo de certos valores de convivencia, e superacdo do ressentimento, que seriam Acsportnca hieies das ose Arce no Bess 18 impensaveis em paises como a Jamaica, o Suriname e os Estados Unidos, onde o negro alcangou uma posigao politica a a, a preco, porém, do cultivo de um édio racial até hoje praticamente intransponivel. Tudo isso, porém, & antecipacao. Bis a histéria dos quilombos nos continentes americanos ¢ no Caribe. ‘SURINAME Acexperiéncia mais extraordinaria de quilombos no Novo Mundo sucedeu, sem divida aiguma,no Suriname. Nesse pals, 9 negros lograram fugir massivamente das plantagdes nas primeiras décadas do seculo XVII e, ap6s mais de cem anos de duras guerras contra os exércitos escravistas, conseguiram finalmente, assinar varios tratados de paz.com o Estado holan- diés e apossar-se, definitivamente, do vasto territrio da selva {que conquistaram com o suor e 0 sangue de sua resisténcia. Refizeram entao, no norte da América do Sul, seis nagbes, resultado de mais de um seculo de adaptagéo forcada a selva tropical, mas cujo estilo de vida se moldou diretamente nas sociedades da Africa Ocidental. Essas nacdes se comportam, como estados semi-auténomas dentro do Estado surinamés, cada uma delas com o seu rei proprio — Saramaca, Djuka, Paramaka, Matawai, Aluku e Kwinti—e vivem em um regime de independéncia peito & ex-coldnia holan- ddesa, via comércio eexploracio dos recursos naturais da selva tropical. Enquanto sociedades de homens e mulheres extre mente orgulhosos de seus antepassados, que Ih a Princesa Isabel) para salrem A gloria eo drama dos chamados pelos habitantes da costa e das plantagées, s30 a temo do io dos is tipicos do que ocorreu em varios outros paises. No momento ‘mesmo em que assinaram seus tratados de paz, comprome- teram-se a ndo mais interferir com a ordem escravocrata: 08 donos das plantagdes, de onde fugiram, continuaram explo- rando, como sempre, 0 negros que no escaparam e esses tiveram que sofrer as agruras da escraviddo, por quase um ‘século mais, sem contar com a ajuda dos negros livres, agora organizados em nagbes e donos — pelo menos em principio — de seu destino, tanto in (O que é sabido ainda por muito poucas pessoas no Brasil é que existem afinidades antigas entre os nossos quilombos e um dos reinos negros da selva surinamesa. Os saramacas descendem de quilombolas fugidos de plantacGes que perten- ciam a familias de ricos fazendeiros portugueses da Bahia, de origem judia, os quais se mudaram para a entio colonia da Guiana Holandesa, na década de 1680, fugindo da inqui: baiana. Em torno de 200 judeus sefarditas se instalaram na savana surinamesa e, jé em 1680, eram donos de um tergo das, privilégios especiais e mantendo suas proprias instituigpes religiosas, juridicas, educativas e até militares. Alguns escravos negros dessas plantagdes levavam os nomes de seus donos judeus-portugueses-baianos, tais como Immanuel Machado, Manuel Pereyra, Mosés Nunes Henriquez, etc.’ Os escravos dessas plantagées aprenderam, entio, um vasto vocabuldrio de palavras portuguesas que entraram no Iéxica basico do que se tornou, a partir de meados do século XVIII, a lingua saramaca. Tive o privilégio de viver com os Saramacds, durante um més, em 1979, e conheci o seu rei, Gaanman Aboikéni, entio jé com mais de noventa anos (faleceu com cento e tes anos), herdeiro do trono do cli Matjau, formado justamente pelos escravos fugidos da plantagio de Immanuel Machado (dai 0 nome do cla). © caso surinamés é, certamente, o mais proeminente iram sociedades inteiras, a partir dda experiencia de vida nos quilombos, endo apenas comunidades assimilados 4 sociedade nacional. Os saramac: 3, os djuka e los artisticos, religido, economia. Enfim, sdo grupos hume. ia Le © numero de descendentes de quilombolas da bia (também, uns poucas feeeoueee dispersivo das comunidades e a consequente dificuldade em absolutamente precisa da origem étnica, das fugas das dos seus principais herdis fundadores — até os dias de hoje. Precisao, a ordem cultural encontrada nas. ‘comunidades negras nas, jamaicanas, cubanas ou brasileiras, No caso dos integral de sociedades africanas nas Américas, Basta lembrar que, ainda hoje, apenas 20% dos saramacas Professam a fé ~, cristé. proporcio que os distingue até mesmo das nagdes da ~~ costa ocidental africana, hoje altamente cristianizadas & ‘slamizadas, de onde vieram seus antepassados. 6 on oda Ris Aalta densidade historia e cultural dessa experiencia quilombola bem sucedida inspirou, coerentemente, uma série de estudos de grande peso académico, sobretudo de cunho historiogrifico. E justamente sobre a historiografia seramacé, lida do ponto de vista de sua propria meméria oral, € contrastada com as fontes holandesas da epoca, a fascinante monografia de Richard Price, First Time, de 1983, a meu juizo o melhor estudo académico produzido, até agora, sobre os negros livres no Novo Mundo, Essa obra narra e interpreta 08 feitos historicos mais importantes que conduviram a consolida- go da nag3o saramaca, incluindo os fragmentos secretos retidos pelos ideres e homens de conhecimento, que conden- sam 0 essencial dessa saga.' A narrativa de First Time foi complementada, mais tarde, por um segundo volume, Alabi’s World (1990), que conta a historia das relagbes entre a nascente nagdo livre e 0 estado colonial holandés, de 1762 a 1820.* eus herdis fundadores foram dois irmaos, Lanu © Ayakd. ambos da nacio Twi de Ghana, que foram trazidos ‘como escravos para a plantagao do judeu portugues Immanuel Machado e de onde escaparam em 1685. Um dia, a mulher de anu the deu caldo de cana de agicar para beber. Os brancos viram ¢ chicotearanrna até a morte. Levaratn-na, ento, até Lanu e disseram: “Eis agui a sua mulher!” Logo, chicotearam- no também, ate deixi-lo semimorto no chéo. Ai, 0 espirito da sua mulher entrou na sua cabega, despertou-o ¢ ele correu para a floresta, Os brancos no se preocuparam em persegu- lo, certos de que morreria em sequida. Viuse inteiramente perdido no mato fechado até que win apuleu (espirito da flores- ta), chamado Wamba, entrou em sua cabeca e conduziu-o a tum lugar onde vivia um grupo de indios, que o recolheram eo salvaram da morte. Em seguida, Ayaké escapou e, guiado pelo der magico’, encontrou o irmao no meio do retornaram escondidos 4 plantagao e Ayakd conseguiu resgatar sua rma See/e, depois, sua esposa, Asukume ‘eseu flo Dabi. Logo, um outro escravo, Guunguukusu, também possuidor de um obeah poderoso, fugiu da mesma plantarao Machado e, por meio de adivinhacto, localizou Seei na floresta ese juntou a0 seu bando. Uma vez reunido uin grupo razoavel de exescravos, 0 proxi ido por Lanu e Ayak, crucial para o futur -gr0 no Suriname, foi a destruicao de uma das plantagdes de Machado e a sua exe- ° ‘omecou uina inpressionante epopéia de resisténcia na selva e continuos assaltos as plantagdes, em busca de viveres, armas, munigbes, utensilios e, sobretudo, mulheres. Apés mais de sessenta anos de guerras, um descen- dente direto de Ayako. Abini, tornou-se o primeiro chefe da ‘agdo saramaca, a0 assinar, junto com outros lideres, o tratado de paz com o qual conquistaram o direito de construir, com orgulho e sem interferéncia, sua prépria forma de vida, no dia 19de setembro de 1762. Historia similar sucedeu com & nagio Djuka, formada por escravos escapades de outro grupo de plantagdes de holandeses (dai sua lingua diferir da lingua saramacd), cujo tratado de paz data de 1760. Desde entio, os, escravos libertos viveram na selva, adaptando-se ao ambiente de uma forma distinta de como 0 fazem os it em populagdo ¢ desenvolvendo ricas instituigbes culturai como a arte de gravacao e por exemplo, famosa hoje, mundialmente, e c nte por antiquarios europeus ¢ americanos, Em varios generos musicais saramacds, podemos encon- trar textos de cantos que preservam a meméria precisa das facanhas de seus heréis funcladores e, a0 mesmo tempo, con- tam a ajuda dos seus espiritos protetores para que aleancassem aliberdade. Eis um canto sagrado, de circulagao restrita e can- tado na lingua esotérica apulcu (termo vindo, provavelmente, da palavra q 20 0 gumbo do Ri as Re Luleéin rao termo usado pelo deus protetor de Séei para diigi-se a Ayako, bandngoma ¢o termo apa para tesignar uma pessoa de cor negra (a palavra comum saramacs {rnenge) kibamba 0 termo apulca para gente branca 08 esttanha, quer diet, para qualquer nabsaramaca (0 terme Srdinanc ¢ baka; ees ver do ingles haste, presa, Quanto 2 Kivasimukdimba, ou simplesmente Kwa, fo mais famoso Seramact; negro african, trabalhava para sponsivel pela desruigh de varios grupos Texto Invoca 0 episodio, ocorrido durante de suas muita inflragbes no redutosaramacd, com © fim de assassinar Ayal fundador da napho. Ua tradugBo aproximada rezara: Depressa, negro Ayakd, depressa Kyoasimuhamoa esté trazendo ki Kwasimukdmba vem chegando Essa palavra kibamba, de origem quimbundo, é encon- trade tambem em textos rituais afro-brasileiros, sob a forma quibamba, significando, igualmente, o homem branco escra- vista, E-la no seguinte canto, de funeao ritual catirtica, dos Congos de Pombal, na Paraiba, tal como o registrou Roberto Benjamin (1977): us tava rufando con meu maracé Os saramacis preservam, ainda, muitos dos cantos eentoados pela primeira vez em 1762, em Sentéa, quando come- moraram 0 fim das lutas ea paz alcancada. Eis como o ancifo Tebini um dos grandes historiadores de sua nagio, descreve que Se passou no momento da assinatura da paz: "Quando ‘Acperinct tena ds nboa nas Améreas ena Best a chegaram ao final do encontra com os brancos, bem, nds finalmente dissemos Sim. Logo que respondemos Sim, todos 08 presentes bateram palmas, solenemente juntos, bélobélo, € entio se aquietaram [um sinal de ago de gracas ou de Ai, cantamos: transmitiu o sentido geral da cangao.” Timba foi um apulku (espirito da floresta) que ajudou o cli Matjau nas batalhas contra os brancos. Ent 0 coragao de Tiimiba esa fio (sossegado)™: ndo ht mats guerra, tas boas chegaram; d sangue dos homens do deve mais derramarse no chao. Caso a alguns possa parecer forcada a introdugio — neste contexto — de um canto de Congadas do Brasil, vale esclarecer que @ conexto cultural dos saramacis com 05 brasileiros deve remontar, primeiramente, a Africa, de onde foram vendidos escravos (sobretudo das nagées bantus) para © Brasil e para a Guiana Holandesa. Além dessa ligagao mais ‘bvia e geral, existe a probabilidade de que uma parte .'0s Dbrasileiros (em particular baianos) sejam parentes dos saraina- ‘cas, Afinal de contas, os mais de duzentos judeus portugueses que se mudaram para o Suriname no século XVII (e de cujas plantacdes fugiram os negros que fundaram a nagao sarama- 4), levaram consigo todos os seus bens, o que significa dizer que devem ter levado, também, alguns de seus escravos, 03 uals poderiam ter deixado parte de seus parentes no Brasil Isso ocorreu em 1660, ainda numa época de escasso povoamen- to nos dois patses. Assim, a conexio lingiistica (e simbélica, obviamente, jé que a simbélica do homem branco é central na a yam do Rl as as maioria dessas formas culturais tradictonais afro-americanas) @ apenas a parte mais palpavel da alta probabilidade de que ‘muitos brasileiros e saramacas de hoje possuam descendentes comuns. Na década de sessenta do presente século, os Saramaci sofreram sua maior crisé politica e social desde os dificeis tem- pos das guerras de libertago, quando tiveram que sobreviver escondidos no meio da selva e de inventar, aduras penas, com uma reduzida ajuda dos Indias, esquemas de adaptacao a esse ecossistema desconhecido. Em nome de una nogdo puramente economicista e capitalista de modernizagao e desenvolvimento, © governo colonial inundou metade do territorio tradicional saramacé para construir uma represa e fornecer eletricidade barata para a empresa de minera¢io Alcoa. Dezenas dealdeias e monumentos histdricos, conser vados desde a formagao mes- ma da nagio no século XVII, foram, para sempre, cobertos pelas aguas e seis mil pessoas foram forcadas a abandonar suas casas ¢ a mudar-se para vilas de assentamento construidas pelo governa, ‘Para que se tenha uma idéia da dimensao do isolamento, ea conseqllente alteridade radical alcangada pelos negros da selva surinamesa, conto um incidente ocorrico durante minha estada no pais saramaca. Tive a oportunidade de conhecer a distante regiao de Langu, além das grandes cachoeiras do Rio Suriname e onde se locafizam, provavelmente, as comunidades hegras inais remotas de todo o Novo Mundo. Quando estava- mos a apenas uns dois quilémetros da primeira comunidade dia regio, eu e meu colega Terry Agerkop encontramos uns botes que vinhain nos receber e nos quais viajavam algumas criangas. Quando nos viram, entraram em panico absoluto, gri- tando desesperadamente e pedindo a seus pais que se afastas- sem do nosso bote. E que o diabo thes ¢ descrito como um homem branco — 0 castigo comum dado as criancas de mal comportamento ¢ ameacé-ias de que sero entregues a um homem branco. Enos éramos, certamente. os primeiros ho- mens dessa cor que viam na sua vida, pois ja haviam passados -Axperine histones dos qllonbos ss Asuneat en Bra a ez anos da tillima visita de um branco a essa afastada regiao do nosso continente. Hoje, queim sabe, Langu esteja ainda tio ou maisisolada que quinze anos atras, devido 4 seqiiéncia de crises institu- ionais, politicas e econémicas vividas pelo Estado surinamés na titima década, a qual afetou, também, os negros da m termos de conquista da liberdade e reconstructo de uma lignidade em bases absolutamente proprias, a saga dos negros do Suriname. HAITI © Haiti foi a primeira nagdo, em todo o mundo latino- americano e caribenho, 2 se tornar independente, em 1804, do poder colonial europeu. A histéria da independén haitiana esta intrinsecamente (08 quilombolas (li conhecidos como marronage) © da iio vodu, Desde o sécuio XVII, quando a Iiha de Hispaniola era simplesmente Saint Domingue, sem a separacao tardia entre 0s dois pai ia Republica Dominicana, jé se registravam intimeros levantamentos de escravos nas plantagdes de acucar. 0 quilombo mais famoso da historia haitiana foi o Bahoruco, localizado numa montanl fronteira coma Repiblica Don jécom 1200 homens. O Bahoruce fc havendo resistido a intmeras expedigdes militares ao intermitente, contudo parcial, exterminio de seus ocupantes. No Bahoruco, engendraram-se as instituigdes basilares das tagdes, ‘giosa catélico-africana, que €0 vodu. Mi lider guerreiro marron c d do tratamento ritual dos loas (as divindad« lo ponto de vista da retdrica politica di , contagiada pela relacdo com o inimigo branco. ‘J4 Cudjoe resolveu o conflito com os escravistas por uma via, se nao retorcida, pelo menos ambigua, do ponto de vista, 1 quilombola: ap6s lutar valentemente contra os no esforco por construir uma 80 dade livre, altaneira e digna, beijou os pés do Coronel Guthrie o 0, Esse compor- de Cudjoe dew lo XVIII ate do escravo ainda quando se tenha liberado for- malmente do vinculo; outros encontram uma razao cerimo: nao havia que descartar, sequer, a possi- idade de que Cudjoeo tenha feito de pura alegria e mesmo reconhecimento pelo acordo fechado: afinal, os homens de Guthrie deixaram de persegul-o, 0 que ndo Comparado com esses modelos, o qui distorce bri is brasileiras, sobretudo no que tange ia de fraternidade e 20 seu senso de autonomia, Em lesonra a memoria dos inumeros grupos indigenas das Alagoas que, no século XVII, lutaram do lado de Palmares; e, em segundo, desonra tambem seus ancestrais Tendrio da © Auto do qui na Cidade de iro. Ble est "u argumento foi criado por nte por j mando dos donos de engenho, com a finalidade abet tamente ideoldgica de controle social sobre a massa de trabalhadores rurais alagoanos. Confirmar essa origem branca do quilombo seria trazer & tona um dado de grande importancia para a presente reflexao. Contudo, nao nos consolaria de todo, em termos da perp! inagao ideolégica antiquilombol ois 0 texto do branco foi assumido pelos negros e mulatos obres como proprio, tendo sido incorporado as tradigdes das ‘suas comunidades, Apesar da sua possivel origem branca e jesulta, 0 Auto do quilombo expressa bem porque o negro prefere nao enfren- tarse a figura do branco. Pois que meméria, mesmo oficial, a ptm do Ro das Ra nos ficou das tentativas de resolugo do desafio lingado pela reptiblica de Palmares, paradigma da alternativa quilombola A escravidao no Brasil, a colonia em Alagoas? Do lado da tenta- tiva de Ganga Zumba, 0 branco empenhou sta palavra apenas para trai-lo miseravelmente; do lado de Zumbi, a perseguicio foi implacavel e impiedosa e sua cabera foi posta a alto prémio, a ponto de tornar o seu assassinato inevitavel. Além disso, n se registraram vozes brancas dissidentes, ou pelo menos mini- ‘mamente simpaticas, a uma solugdo deveras conciliatéria, Assim posta, portanto, a relagdo negro-branco no contflito de Palma- +s, nao ha imagem que nao seja de medo ou de ressentimento. Essa é a heranga, especificamente brasileira, da fase historica das guerras quilombolas, da qual Palmares foi para- diginética, Jé a comunidade do Rio das Ras foi construida num momento muito distinto dessas lutas contra a escravidao — conforme discutido acima, jé nao se tratava de construir pali- adas, fortificacbes, fossos e cercas de estacas pontiagudas para defender-se, mas ocultar-se nas dobras perdidas de rios, igarapés, montanhas, cerrados, caatingas, minas abandonadas. Posso identificar mementos da vida dos quilombolas do Rio das Ras, nas entrevistas transcritas na segunda parte deste livro, que nos lembram de perto o estilo de sobrevivéncia de Esteban Montejo, 0 famoso cimarron cubano: encontrar mel no mato para alimentar-se, frutas selvagens, fumo natural, cag, pequena, etc. O homem branco passou a ser construido como alteridade perigosa através do distanciamento fisico © niio através do embate direto. Ainda nio dispomos, obviamente, de um quadro histérico do desenvolvimento cas comunidades do Rio das Ras tio detathado como o que nos apresenta Richard Price sobre a origem e o desenvolvimento da sociedade sara- maci. Contudo, podemos extrair o modelo de sua experiencia historica através de sua institulgdo cultural mais proeminente, {qual seja, o culto de jurema. Faremos uma apresentacdo muito mais extensa desse culto na segunda parte do livro; contudo, a discussio presente, distinta daquela, exige a sua mengao, ainda que breve, como contraponto ao folguedo alagoano, espera trie don hs 1 Be a Uma leitura dos pontos de jurema nos permite ver, meiramente, que a comunidade redime miticamente a divida historica dos escravos fugidos da regio para com os indios ‘que 05 ajudaramn. A maioria dos historiadores dos quilombos insistem na importancia do apoio dos indios aos brancos nas ‘suas campanhas de exterminio aos quilombolas. Contudo, co- mo afirma Stuart Schwarz, "a cooperaggo afro-indigena contra ‘08 europeus e a escravidio foi comum, tanto no Brasil portu- gués como no holandlés” (1991:174), Ajurema do Rio das Ras nos transmite exatamente uma imagem sagrada dessa coope- ragao, em tudo oposta a que vimos no folguedo alagoano. Eis, tum ponte cantado, numa ceriménia, na case de Andrelino, lider espiritual da comunidade: Tava sentada 1a pedra fina us divine ‘me chavnar. tei para trabathar. Tave sentada na pedra fina india a peda fina ‘ore dos indi Sou eu India Flecheira ‘que venho ara flechear Essas imagens tio luminosas e elevadas de uma entidade superagio do ressentimento que a condigao de fugitivo poderia haver gerado, Lendo o texto mais de perto, podemosidentificar oR a ie “ om ‘uma equivaléncia, ou transitividade, na figura mitiea invoeada ‘no terceiro verso. A propria construcao poética convide-nos a postular uma igualdade essencial latente entre as figuras: Meu Presidente ¢ o Rei do {ndios, que traz consigo a Luz Divina. ‘Uma ver assegurad sua sobrevivéncia como grupo, ¢ conso- lidado seu tervitério na regio do Rio das Ras, a dignidade advinda do viver autonome condicionou o modo como os mem- bros do grupo selecionaram, reinterpretaram e expandiram criativamente os simbolos sagrados eas formas estéticas das tradigdes africana, eabocla e crist& a que estiveram expostos. Puderam, entio, recuperar a visdo utopica e projetar no indio fo caboclo, o ser humano que os precedeu nessa aventura de fixar-se no seriao baiano) o ideal da vida boa, da vida bem vivida, da vida que se almeja viver. Uma vida que integra 0 mar, que trouxe os nagés para o Brasil, com a mata, onde chegaram a0 fugir do eativeiro na cidade © nas fazendas. E 0 que dizem esses dois pontes: Que cavaleiro ¢ aquete awe vem beivando 0 mar Ea Caboclo Rei guerreiro (gue vem para irabathar Cabocto do mato é rei Rei das 0 ‘quem ten nesta aldeia vem salvar Nao deve causar surpresa que o elemento ausente nessa geogratia mitica seja justamente a cidade, espago construido, .gundo o modelo de civilizagdo escravista. Esse € ‘oniicleo, aids, de todo o espirito da jurema, do catimbé: cele ra mata ¢, nela, a aldeia indigena, muitas vezes denominada idade da jurema” para distingui-la da urbe construida pelo branco segundo seus interesses de dominagao. O modelo brasileiro de urbe sempre incluiu, na sua realizacdo, um quar- teirdo, canto ou setor para o cortigo, extensio das senzalas, Acspesénca histone os qulbog ns Amada exe Brat 6s local onde se confinou, para que vivessem a experiés supostamente urbana, nossos excluidos — negros, ainda hoje, ‘em sua vasta maioria, Igualmente luminosa é a mensagem do ponto seguinte, que atesta a introjecao da melhor mensagem crista no espaco sincrético da jurema rate fowwar Quem tem as do en coragto puro ‘quem 180 ¢ vaideso Ea pa liberdade e mi ir dessa base sélida, fundada num mito de relagéo vital com um territorio do qual se apropriaram, sem subjuger outros grupos nem grilar proprie- dades de outrém (como o fizeram com eles os brancos), que 08 quilombolas do Rio das Ris cantam o mesmo samba cantado pelos dancantes do folguedo alagoano, porém com uma mensagem ideolégica e politica muito distinta. Em vez de paré- dia da submisséo ao branco, esses versos passam a ser a prépria celebragdo da autonomia: Saynba négo branco ndo vem ca se ale vem lec Samba néga branco 66 (0 auilombe HoH des Rie Igualmente incisivo éo texto do samba que aparece como epigrafe deste livro, que recupera a memoria da experiéncia historica dos quilombos do Rio Itapecuru, no Maranhao: Bx ainda von tira, forex do Ttapecu ‘pra bater uma coca ‘pra amacsar sururu ‘Se morder sum mata be matar num come fe ou Batendo na gente. Uma panga de eachaca pra beber mais.a mé Eu ainda vow sambar no saldo desse bomen, Aproximando-se do final, nosso texto, de modo ouro- borico, to jo, recuperando e expandindo a primeira estrutura mitica que identificamos em Ayaké ¢ seu dbia, em Makandal e seus m Nanny ¢ seu obeah. Andrelino do Rio das Ras, cujo perfil sera discutido na segunda parte deste livro, também encarna, numa atualizagao que reflete as condi- iras da sobre- sobrenatural, Descendente de nagd, puxa a raiz do negro liber- nscende as barreiras do poder naturai, roti- nizado. O heroismo do Rio das Ras nao ¢ do tipo guerreiro, nao se confunde, nem por coincidénci ‘aestrutura tripar- tite de Georges Dumezil; trata-se de um heroismo da resis: téncia branda, da invsibilidade social, da capacidade de mime: tizar-se com os pontos ermos dé margem esquecida do Velho Chico, ‘Afinal de contas, nao é o dom da invisibilidade um dos ‘mais altos paieres alcancados pelos mestres de jurema, como ‘o ponto de Mestre dos Anjos antes citado? O mestre preeisou se esconder? "O mato abriu e se feciou” para ele © 0 branco 1ndo 0 viu, O ponto celebraa saga dos quilombolas lutando por Aexperiéaca hse Bras er sobreviver a perseguicao XVII. Como bem o explica Adolfo Neves na terceira parte deste volume, no século passado 0 mato, em que se escondiam, jd estava mais proximo dos caminhos abertos pela sociedade escravista; conseqiientemente, os poderes extraordinarios, requeridos para a sobrevivéncia dos quilombos, haveriam de ser outros. Nao se tratava mais de seguir os planos bélicos dos grandes estrategas militares, como Ganga-Zumba, ou Zum- i, capazes de erigir uma fortaleza nos limites das terras habita- ddas pelos colonizadores, mas de diesem rnhos perdidos, grotas ind: latifGndios. Seria importante conhecer 0s textos tradicionais conducentes a construcao da subjetividade das comunidades de Oriximin: 'vexal, no Maranhao, ja que ambas slo, sabidas inuage de quilombas assen- tacos nesses locais desde 0 56 enfrentaram, portanto, (ntas daquelas que deram ia para o surgimento da comunidade tas, bem no meio de regides de © horizonte de referés do Rio das Ras Finalmente, talvez a mensagem maior que comunidade do Rio das Ras possa passar a sociedade nacional seja, con: forme esbogado anteriormente, algo que nao é nada fécil de alcangare que Ihes confere uma comparada com dda Jamaica construgdo dai Sua tradi¢ao cultur © culto da jurema, nao faz uso de nenhuma retérica de exclusio radical do homem branco, linguagem essa constitutiva tanto da danga kromanti dos ‘maroons jamaicanos como de muilas instituigbes culturais dos saramacas e dos demais negros da selva surinamesa Igualmente distante esta cia negritude de baixa auto-estima dramatizada no quilombo alagoano e, por isso, pode festejar, os lamb do io as Ras ‘sem recalque ou ironia, o rechaco ao branco escravista. Comu- nidade de negros, lutando ainda hoje pela posse definitiva de suas terras, o povo do Rio das Ris optou por absorver a imagem de fraternidade universal trazida pelo homem branco; por tal a venera, lado a lado, a figura do no Preto Velho e no nag6 velho chamado Rei Nag6, patriménio até agora exclusivo de suas comunidades; ea figura do branco que transcendeu 0 édio e o desejo de opressao, nas imagens de Jesus Cristo e da Virgem Maria BIBLIOGRAFIA AGORSAH, B Kofi. Maroon Heritage. Archaeological, Ethnographic and Historical Perspectives. Kingston: Canoe Press, 1934, ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno, Terras de preto, terras de santo e terras de indio, Hwmanidades, Ano IV, N? 15, 42-48, 1987-1988, ALVES, Jucélia M., Rose Mery de Lima & Cleidi Albu- uerque (orgs). Cacumbi. Ed. da UPSC\Secretaria de Cultura edo Esporte, 1990. ARAUJO, Alceu Maynard Folelore Nacional. Vol. I. Sio Paulo: Edigdes Melhoramentos, 1964 BANDEIRA, Maria de Lourdes. Terras Negras: Invisibili- Gade Expropriadora. 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