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DISTRIBUÍDOS

The Rose Traduções


Disponibilização: Juuh Alves
Tradução: DK
Revisão Inicial: Oli
Revisão Final: Oli
Leitura Final: DK
Formatação: DK
Informações da série
Sings of love, by Mia Sheridan

Distribuídos

Sagitário

Escorpião

Leão

Touro

Aquário

Lançamento
Áries
Câncer
Gêmeos
Virgem
Capricórnio
Peixes
Próximos

Libra
Sinopse

Kira Dellaire está desesperada.


Alguns desafios da vida parecem muito difíceis de superar. Com pouco dinheiro e ainda menos
opções, a moça de vinte e dois anos de idade vibrante e de raciocínio rápido precisa reinventar-se.
Conhecida por seu generoso coração e personalidade impulsiva, ela inventa um plano de
sobrevivência e, possivelmente, sua ideia mais ultrajante.
Grayson Hawthorn está perdendo a esperança.
Alguns obstáculos da vida parecem muito difíceis de superar. Traição definitivamente é um deles.
Com capital limitado e escassez de recursos, ele está tentando ressuscitar o vinhedo falido de sua
família, um voto auto-imposto, aparentemente destinado ao fracasso. Isso é, até que uma jovem
mulher entra em seu escritório com uma estranha e inesperada proposta, impossível de recusar.
O que começou como um acordo de negócios temporário logo torna-se algo mais, quando a alegre
e espirituosa Kira desafia o arrogante Grayson a querer algo mais da vida. Querer algo mais para si
mesmo. Mas, quando suas vontades entram em conflito e a paixão ardente inflama, eles vão perceber
que, às vezes, o passado cria muros muito difíceis de escalar, e que mentiras e enganos raramente
precedem um felizes para sempre.
Enquanto Kira e Grayson correm em direção a seu destino, vão descobrir que algumas promessas são
feitas para serem quebradas, e que por outras vale a pena arriscar tudo... até mesmo seu próprio
coração.
Dedicatória
Este livro é dedicado à minha avó, que sempre tinha uma palavra de conselho sábio, um ouvido atento e um coração cheio de amor.
Eu sinto sua falta.
Todos os dias.

Libra
"Mesmo uma vida feliz não pode existir sem um pouco de escuridão, e a felicidade perderia a razão de ser, se não existisse tristeza" .
Carl Jung
Capítulo Um
"Não se preocupe, meu amor, o universo sempre equilibra a balança. Seus caminhos podem ser misteriosos, mas serão sempre justos."
Isabelle Dallaire, "Vovó"

Kira
Em uma longa história de maus dias, este estava no topo da lista. E eram só nove horas.
Saindo do meu carro eu respirei fundo o ar ameno do fim do verão e comecei a caminhar em direção
ao Napa Valley Banco de poupança. A manhã sensual brilhou ao meu redor, o doce aroma de jasmim
provocando meu nariz.
Eu suspirei enquanto abri a porta de vidro do banco. A beleza pacífica parecia errada de
alguma forma, a frieza de meu humor em contraste direto com o quente dia de sol. Uma idéia
arrogante, eu suponho. Como se o tempo devesse expressar-se de acordo com meu humor.
"Posso te ajudar?" uma morena alegre perguntou assim que me aproximei de seu caixa.
"Sim", eu disse, retirando meu ID e uma caderneta de poupança velha da minha bolsa. "Eu
quero fechar esta conta." Eu deslizei os dois em direção ao caixa. Um canto da caderneta de
poupança foi dobrada para trás, revelando números que minha avó tinha colocado quando me
mostrava como manter o controle de nossos depósitos. A memória rasgou meu coração, mas eu
forcei o que eu esperava que fosse um sorriso alegre, olhando para a menina quando pegou o
livro, o abriu e começou a digitar o número da conta.
Lembrei-me do dia em que tinha aberto essa conta. Eu tinha dez anos, minha avó tinha
me deixado aqui e eu orgulhosamente depositei os cinquenta dólares que ela tinha me
dado por ajudar com o trabalho de jardinagem durante todo o verão. Nós tínhamos feito viagens a
este banco ao longo dos anos, quando eu tinha ficado em sua casa em Napa. Ela tinha me ensinado o
verdadeiro valor do dinheiro, que ele deveria ser compartilhado, usado para ajudar os outros,
mas que também representava um tipo de liberdade. O fato de que atualmente eu tinha pouco
dinheiro, poucas opções, e que cada posse material que possuía estava recheando o porta-malas do
meu carro era a prova de quão certa que ela tinha sido. Eu era tudo, menos livre.
"Dois mil e quarenta e sete dólares e dezesseis centavos", a caixa declarou, olhando para
mim. Eu assenti. Era até um pouco mais do que eu esperava. Bom. Isso era bom. Eu precisava de
cada centavo. Respirei fundo, lentamente, juntando minhas mãos no balcão e esperando ela contar
a dinheiro.
Uma vez que o dinheiro estava enfiado em minha bolsa e a conta fechada, eu desejei ao
caixa um bom dia e me virei para sair do banco, parando no bebedouro.
Quando a água fria bateu os meus lábios eu ouvi vagamente do escritório ao virar a
esquina, "Grayson Hawthorn, prazer em conhecê-lo." Eu congelei. Levantei-me lentamente depois
usei o polegar para limpar a água distraidamente de meu lábio inferior. Hawthorn Grayson... Grayson
Hawthorn? Eu conhecia esse nome. Lembrava-me do forte som dele, do jeito que o tinha repetido a
mim mesma num sussurro para ouvi-lo em meus lábios naquele dia no escritório do meu pai. Eu olhei
rápido para o arquivo que meu pai tinha fechado quando eu coloquei a bandeja de café em sua mesa.
Poderia ser o mesmo Grayson Hawthorn?
Espreitei em torno do canto e não vi nada mais do que uma porta de escritório fechada, a
sombra na janela fechada. Eu andei em torno do canto para o banheiro do outro lado do corredor a
partir do escritório que Grayson Hawthorn ocupava.
Uma vez dentro do banheiro, eu tranquei a porta e encostei-me à parede. Eu ainda não tinha
conhecido Grayson Hawthorn que vivia em Napa. Seu julgamento teve lugar em San Francisco, de
modo que deve ter sido onde o crime foi cometido. Não que eu soubesse que crime poderia ter sido,
apenas que meu pai tinha tomado um breve interesse nele. Mordi o lábio, movendo-me para a pia e
olhando para mim mesma no espelho acima enquanto lavava e secava minhas mãos.
Eu abri a porta silenciosamente e tentei em vão ouvir a conversa na sala do outro lado
do hall, já que eu só podia ouvir vozes abafadas. De repente, ouvi a porta abrir e espiei para
ver outro homem em um terno – provávelmente um executivo do banco - entrar no escritório. Ele
fechou a porta atrás de si, mas ela não se encaixou no lugar e ficou muito, muito ligeiramente
entreaberta, permitindo-me ouvir algumas palavras de introduções. Mais uma vez, eu estava na porta
do banheiro tentando ouvir.
Realmente, Kira? Você é vergonhosamente uma intrometida. Isso é invasão de privacidade.
E pior, um pouco inútil. Sério, o que está errado com você?
Ignorando minha própria reprimenda, inclinei-me mais perto da abertura da porta.
Eu deixaria este momento menos-que-estelar fora das minhas memórias. Ninguém
precisava saber sobre isso, somente eu.
Algumas palavras derivaram o meu caminho. "Desculpe... Criminoso... não
posso dar... esse banco... infelizmente..."
Criminoso? Tinha que ser o Grayson Hawthorn que eu pensei que era. Que estranha e
aleatória coincidência. Eu mal sabia sobre ele. Tudo que eu realmente sabia era o seu nome, o fato
que ele tinha sido acusado de um crime e que meu pai tinha participado em usá-lo como um peão.
Grayson Hawthorn e eu o tínhamos em comum. Provavelmente meu pai não se lembraria do nome
do homem quando ele arruinou tantas vidas regularmente e com tão pouca e tardia reflexão.
Em todo caso, por que eu estava escutando de dentro de um banheiro, tentando ouvir sua conversa
particular? Eu não tinha certeza. No entanto, abundância de curiosidade era um dos meus defeitos
confirmados. Eu respirei fundo e abrí a porta do banheiro.
Eu estava saindo quando ouvi o arrastar de pés da cadeira e fiz uma pausa. As palavras do
outro lado do corredor eram mais claras agora que eles provavelmente tinham aberto mais a porta.
"Me desculpe, eu não posso aprovar um empréstimo para você, Sr. Hawthorn." A voz masculina que
falou parecia arrependida. "Se você valesse mais..."
Outra voz masculina, Grayson, eu assumi, cortou o outro homem fora. "Eu entendo.
Obrigado por seu tempo, Sr. Gellar."
Eu peguei o breve vislumbre de uma figura masculina alta com cabelo escuro em um terno
cinza, e me inclinei para trás dentro do banheiro, clicando a porta fechada novamente. Eu lavei
minhas mãos mais uma vez e, em seguida, deixei a pequena sala. Olhei para o
escritório onde Grayson Hawthorn tinha estado quando eu passei, e vi um homem sentado atrás da
mesa em um terno e gravata, sua atenção focada em algo que ele estava escrevendo. Deve ter sido
Grayson Hawthorn de terno cinza, e, aparentemente, ele já tinha deixado o banco.
Voltei para fora, para o dia de verão brilhante, e entrei em meu carro estacionado a rua. Eu
sentei lá por um minuto, olhando pela janela da frente, no centro da cidade pitoresca: batata
frita, toldos limpos que adornavam as frentes das empresas e grandes recipientes de flores
coloridas decoravam a calçada. Eu amava Napa, do centro da cidade à beira do rio, as vinhas
periféricas e maduras com frutas no verão, e coloridas com as flores
amarelas como mostardas selvagens no inverno. Isto era para onde minha avó tinha
se retirado depois que meu avô se foi, onde eu passava os verões, em sua pequena casa
com grande varanda na rua do Seminário. Em todos os lugares que eu olhava eu a via, ouvia sua voz,
sentia seu espírito quente e vibrante. Minha vó gostava de dizer, ‘Hoje pode ser um dia muito
ruim, mas amanhã pode ser o melhor dia da sua vida. Você apenas tem que aguentar até chegar lá’.
Eu dei uma profunda inspiração de ar, fazendo o meu melhor para sacudir a solidão.
Oh, vovó, se você estivesse aqui. Você iria me levar em seus braços e dizer que tudo ia ficar bem. E
porque era você que estaria dizendo isso, eu acreditaria que era verdade.
Deslizando os olhos fechados e inclinando-me para trás contra o encosto de cabeça, eu
sussurrei: "Ajuda-me, vovó. Estou perdida. Eu preciso de você. Me dê um sinal. Diga-me o que
fazer. Por favor." As lágrimas que eu estava segurando na baia por um tempo longo queimaram atrás
de minhas pálpebras, ameaçando cair.
Abri os olhos, e o movimento no espelho do lado do passageiro imediatamente
capturou minha atenção. Eu virei minha cabeça e vi um homem alto e bem construído num terno
cinza... Grayson Hawthorn. Eu sacudi ligeiramente, minha respiração vacilante. Ele estava de pé
contra o prédio ao lado do meu carro, à direita de meu para-choque, o local perfeito para eu vê-lo
claramente no meu espelho sem me mover. Eu furtivamente me abaixei no meu lugar só um pouco,
inclinei-me para trás e virei minha cabeça para vê-lo.
Ele tinha sua cabeça encostada no edifício atrás dele, e seus olhos estavam fechados,
sua expressão de dor. E, meu Deus, ele era... deslumbrante. Ele tinha as características lindamente
esculpidas de um cavaleiro de armadura brilhante, com o cabelo preto quase um pouco longo demais,
enrolando-se sobre o colarinho. Os lábios eram verdadeiramente devastadores, cheios e sensuais de
uma forma que fez meus olhos quererem passear por eles novamente. Eu olhava, tentando tirar cada
detalhe de seu rosto, antes do meu olhar viajar para baixo em sua forma e altura. Seu corpo
combinava com sua lindamente escura masculinidade - muscular e graciosa, ombros largos e cintura
estreita.
Oh, Kira. Você quase não tem tempo para estar admirando belos criminosos na calçada.
Suas preocupações são ligeiramente mais prementes. Você é sem-teto e bem, francamente,
desesperada. Se você quer se concentrar em alguma coisa, foque nisso. Eu mordi meu lábio, incapaz
de arrastar meus olhos. De qualquer maneira, qual teria sido seu crime? Eu tentei desviar o olhar,
mas algo sobre ele puxou para mim. E não era apenas a sua impressionante beleza masculina que fez
meus olhos permanecerem nele. Algo sobre a expressão em seu rosto era familiar, falando para o que
eu estava sentindo naquele exato momento.
Se você valesse mais...
"Você está desesperado também, Grayson Hawthorn?" Murmurei. Por quê?
Enquanto eu o observava, ele trouxe a cabeça reta, massageando-a, olhando ao redor.
Uma mulher passou e se virou quando passou por ele, sua cabeça se movendo para cima e para
baixo olhando seu corpo. Ele parecia não notá-la, e, felizmente para ela, ela se virou, olhando para
frente bem a tempo de quase colidir com um poste de luz. Eu ri baixinho. Grayson ficou olhando para
longe novamente.
Enquanto eu o observava, um homem sem-teto, obviamente, mudou-se de onde estava,
segurando seu chapéu para as pessoas passando. Todos eles moviam-se rapidamente por ele,
desviando o olhar desconfortavelmente. Quando o homem começou a se aproximar Grayson, eu
pressionei meus lábios juntos. Desculpe, meu velho. Parece-me que a pessoa de quem você está
prestes a se aproximar está numa situação muito próxima a sua. Mas para minha surpresa, quando o
homem se aproximou de Grayson timidamente, Grayson enfiou a mão no bolso, hesitou apenas
brevemente e, em seguida, agarrou sua carteira. Eu não podia ter certeza de onde eu estava sentada,
mas quando o interior escuro de sua carteira brilhou, de onde eu estava parecia que ele tinha
esvaziado-a para o velho. Ele acenou com a cabeça uma vez para o homem em trapos, que estava
agradecendo profusamente, e depois ficou olhando por um momento o mendigo ir embora.
Em seguida, ele caminhou na direção oposta, virando a esquina e ficando fora da vista.
‘Veja o que as pessoas fazem quando pensam que não há ninguém olhando, amor. É assim
que você vai saber quem elas realmente são’.
As palavras de vovó flutuaram pela minha mente, como se ela tivesse falado de algum
lugar apenas fora do meu carro. O toque estridente do meu telefone me assustou, e eu deixei escapar
um pequeno suspiro, agarrando minha bolsa do assento do passageiro para pegar o meu telefone.
Kimberly.
"Hey," eu sussurrei.
Um momento de silêncio. "Kira? Por que você está sussurrando?" Ela estava sussurrando
também.
Limpei a garganta e recostei-me no meu lugar. "Desculpe, o telefone só me assustou. Estou
sentada em meu carro, em Napa."
"Você foi capaz de fechar a conta?"
"Sim. Ela tinha uns dois mil dólares nela."
"Hey, bem, isso é ótimo. Isso é algo, pelo menos, certo?"
Eu suspirei. "Sim. Ele vai me ajudar a passar um pouco."
Eu ouvi os garotos da Kimberly rindo no fundo, e ela calou-os, segurando a mão sobre o
telefone e falando com eles em espanhol antes de voltar para mim, dizendo: "Meu sofá é sempre seu,
se você quiser."
"Eu sei. Obrigada, Kimmy." Eu não poderia fazer isso com a minha melhor amiga, no
entanto. Ela e seu marido, Andy, estavam espremidos em um pequeno apartamento em San Francisco
com seus filhos gêmeos de quatro anos de idade. Kimberly havia ficado grávida quando tinha dezoito
anos e, em seguida, teve a chocante notícia de que estava esperando gêmeos. Ela e Andy
tinham batido as propabilidades até agora, mas não tinham uma vida fácil.
A última coisa que ela precisava era sua amiga sem-teto dormindo em seu sofá e colocando
pressão extra sobre sua família. Sem-teto. Eu era sem-teto.
Eu tomei uma respiração profunda. "Eu vou bolar um plano, no entanto," eu disse,
mordendo meu lábio, um sentimento de determinação substituindo a desesperança que senti toda a
manhã. O rosto de Grayson Hawthorn brilhou rapidamente em minha mente. "Kimmy, você já se
sentiu como... como se um caminho estivesse traçado em sua frente? Como, claro como o dia?"
Kimberly parou por uma batida. "Oh, não. Não. Eu sei pelo tom em sua voz. Significa que
você está tramando algo que eu vou tentar, provavelmente sem sucesso, dissuadi-la a não fazer. Você
não está considerando o plano de fazer propaganda de um marido on-line não é?"
"Não", eu a cortei, "não exatamente, de qualquer maneira."
Kimberly gemeu. "Você esta em outro momento de Muito Más Ideias, não é? Algo
completamente ridículo e provavelmente perigoso."
Eu sorri. "Oh pare. Essas ideias que você sempre chama 'Muito Más’, raramente são
ridículas e raramente perigosas."
"E a vez que você ia comercializar a sua própria máscara de rosto toda-natural de
ervas do seu jardim?"
Eu sorri, conhecendo seu jogo. "Oh isso? Minha fórmula estava quase lá. Bem ao seu
alcance, na realidade. Se não tivesse sido minha cobaia-"
"Você deixou meu rosto verde. Fui afastada por uma semana. Foto do dia pela semana."
Eu ri baixinho. "Tudo bem, tá bem que não funcionou muito bem, mas tínhamos dez anos."
"Escapamos para a festa de Carter Scott quando tínhamos dezesseis-"
"Teria totalmente funcionado se-" comecei a defender.
"O corpo de bombeiros teve que vir me tirar de seu telhado."
"Você sempre foi tão covarde", eu disse, sorrindo.
"E a vez que você esteve em casa em férias de verão da faculdade
e organizou aquele jantar com temática asiática, onde todos nós tivemos que usar quimonos, e então
você quase matou todos lá".
"Um erro de ingrediente. Como eu ia saber que precisava ser licenciado para cozinhar o
peixe em especial? De qualquer forma, isso foi há muito tempo."
"Isso foi há dois anos." Ela tentou ficar inexpressiva, mas eu podia ouvir o sorriso em sua
voz.
Eu estava rindo agora. "Ok, você fez seu ponto, espertinha. E apesar de tudo isso, você me
ama de qualquer maneira."
"Sim." Ela suspirou. "Não posso evitar. Você é completamente adorável."
"Bem, isso é discutível, acho."
"Não", ela disse com firmeza, "não é. Seu pai é um idiota, mas você já sabe como me sinto
sobre esse assunto. E, querida, você precisa falar sobre o que aconteceu. Faz um ano. Eu sei que
você acabou de voltar, mas você precisa -"
Mordi o lábio e balancei a cabeça, embora ela não pudesse ver o movimento do outro lado
do telefone. "Ainda não", eu disse suavemente. "E obrigada por me fazer rir por um minuto.
Mas sério, Kim, eu estou em uma situação muito ruim agora. Talvez uma Muito Má Ideia seja o que
eu preciso." Eu não poderia ajudar o pequeno percalço na minha voz no final da minha frase.
Kimberly nunca deixou de levantar o meu espírito, mas, na verdade, eu estava com medo.
"Eu sei, Kira," Kimberly disse suavemente, compreensão em sua voz. "E, infelizmente, se
você está determinada a não usar qualquer um dos contatos de negócios de seu pai, você pode obter
um emprego de garçonete até descobrir o que vai fazer."
Eu suspirei. "Talvez, mas você realmente me quer em qualquer lugar perto de preparação
de alimentos?"
"Você fez um ponto válido." Ouvi outro sorriso em sua voz. "Qualquer coisa que você
decidir, vai sempre ser o Kira e Kimmy Kats, ok? Para sempre. Somos uma equipe", disse ela,
referindo-se ao nome da banda que eu tinha criado quando tínhamos doze anos, quando eu
tinha inventado o plano de cantar na esquina da rua para arrecadar dinheiro. Eu tinha visto um
comercial na TV sobre as crianças que não tinham o suficiente para comer na África, e meu pai não
me daria o dinheiro para patrocinar um deles. No final, fomos pegas escapando de casa em muito
inadequadas "fantasias" que eu tinha feito com papel e fita. Meu pai me deixou de castigo por um
mês. A mãe de Kimberly, que trabalhava como residente chefe de nosso serviço de limpeza pessoal,
deu-me os vinte e dois dólares que eu necessitava para ajudar a alimentar e educar Khotso naquele
mês, e, em seguida, todo mês que eu não poderia ter o meu próprio dinheiro depois disso.
"Sempre", eu disse. "Eu te amo, Kimmy Kat."
"Eu te amo Kira Kat. E eu tenho que ir, estes meninos estão ficando fora de controle." Eu
ouvi Levi e Micah aos gritos e risos ao fundo, e o som de pequenos pés correndo. "Parem de correr,
rapazes! E parem de gritar!" Kimberly gritou, segurando o telefone longe de sua boca por um
segundo. "Você estará bem esta noite?"
"Sim, eu estou bem. Eu acho que poderia até mesmo fazer alarde e alugar um quarto de
hotel barato aqui em Napa e, em seguida, caminhar ao longo do rio. Faz-me sentir perto
da vovó." Eu não mencionei que naquela manhã eu apressadamente embalei minhas coisas e
desci pela escada de incêndio do apartamento que meu pai tinha pago, quando ele gritou e bateu na
porta da frente. E que agora, essas ditas coisas estavam comprimidas no porta-malas do meu carro.
Kimberly iria apenas se preocupar e, por agora, eu tinha algum dinheiro e uma
parcial e sem dúvida Muito Má Ideia perambulando em minha cabeça.
E na minha história ilustre de Muito Más Ideias, esta poderia simplesmente pegar o bolo.
Claro, eu completaria minha pesquisa antes de tomar uma decisão final. E eu faria uma
lista dos prós e contras, o que sempre me ajudou a ver as coisas sob uma luz mais clara.
Esta exigia alguma devida diligência.
Kimberly suspirou. "Deus a tenha. Sua avó era uma mulher incrível."
"Sim, ela era", eu concordei. "Beije os meninos por mim. Eu te ligo amanhã."
"Está bem. Falo com você depois. E Kira, eu estou tão feliz que você está de volta.
Eu senti tanto a sua falta."
"Eu também senti sua falta. Tchau, Kimberly."
Eu desliguei e sentei no meu carro mais alguns minutos. Então eu peguei meu telefone de
volta para fazer um pouco de investigação na internet e para encontrar um quarto de hotel que eu
pudesse pagar.
Capítulo Dois
Grayson
"A bomba não pode ser reparada, senhor, vai ter que ser substituída."
Eu jurei sob a minha respiração e coloquei minha chave de volta na caixa de ferramentas,
levantando-me. José estava certo. Eu usei o meu braço para enxugar o suor na testa e balancei a
cabeça, inclinando-me contra a inútil peça de equipamento, apenas mais uma coisa que precisava
ser consertada ou substituída.
José me deu um olhar simpático. "Eu tenho o desengaçador trabalhando, no entanto. Bom
como novo, eu acho."
"Bem, isso é uma boa notícia", eu respondi, pegando a caixa de ferramentas que eu trouxe
comigo. Um boa notícia para adicionar à longa lista de ruins. Ainda assim, eu levaria o
que conseguiria obter agora. "Obrigado, José. Vou tomar um banho."
José acenou com a cabeça. "Alguma notícia do banco, senhor?" Eu parei, mas não me virei.
"Eles disseram não para um empréstimo." Quando José não respondeu, eu continuei
andando. Eu praticamente podia sentir o seu olhar decepcionado queimando nas minhas costas. Eu
tinha prometido manter a adega de minha família funcionando, e nada na terra era mais importante
para mim do que isso. Mas José tinha uma família para alimentar, o mais novo membro com apenas
algumas semanas de idade.
Se eu falhasse, não seria o único sem trabalho.
‘Se você valesse mais...’
Eu apertei minha mandíbula contra o modo como essas palavras tinham apunhalado, o que
implicava mais para mim do que apenas meu valor financeiro. Lembrando-me que eu nunca tinha
valido muito.
‘Se você valesse mais...’
Se, de fato.
Com esse poderoso ‘se’ e quatro trimestres, eu poderia comprar-me algo do
menu de dólar no McDonald.
Eu tinha ido ao longo dos "ses" da minha vida mais vezes do que poderia
contar. Era uma dolorosa e inútil perda de tempo.
E eu não precisava de mais um motivo para me desprezar.
Desliguei esses pensamentos, no entanto. Eu estava deslizando perigosamente perto
da auto-piedade, e sabia por experiência própria que esse era um buraco profundo para subir uma
vez que você se deixa descer.
Em vez disso, eu fiz um esforço concentrando em me enrolar na frieza que mantinha o
desespero na baía. E me permiti continuar a fazer o trabalho que precisava ser feito.
No final, eu lembrei-me, meu pai tinha me achado digno. E eu tinha feito um voto de
não decepcioná-lo - não desta vez.
O sol da tarde estava alto no céu quando eu pisei lá fora, o cheiro das rosas que
minha madrasta havia plantado há muito tempo enchendo o ar, o preguiçoso zangão de
abelha zumbindo em algum lugar nas proximidades.
Eu parei para examinar as fileiras e fileiras de uvas que amadureciam em suas
videiras, meu peito inchado de orgulho. Ia ser uma boa colheita. Eu sentia em meus ossos. Tinha que
ser uma boa colheita. E isso iria manter-me hoje, apesar do fato de que eu não teria nenhuma maneira
de usar a fruta se meu equipamento não estivesse pronto. Eu tinha vendido quase tudo de qualquer
valor em casa para levantar o dinheiro para plantar estas uvas...
Poucos minutos depois, eu estava pisando dentro da casa, uma propriedade de pedra
grande construída por meu pai, projetada com muita personalidade vintage do velho mundo. Tinha
sido uma vitrine em seu dia, mas necessitava de muitas correções agora, assim como o equipamento
de vinificação. Correções que eu não tinha nenhuma maneira de financiar.
"A bomba não tem conserto."
Eu cerrei os dentes quando Walter, o mordomo da família e o faz-tudo do lugar,
cumprimentou-me. "Assim parece."
"Eu fiz uma planilha de todos os equipamentos que precisam ser reparados e dos que
requerem substituição, e codifiquei por cores, de acordo com a prioridade de cada um." Grande.
Apenas o que eu precisava: uma ajuda visual do desespero de minha situação.
Hesitei em minhas estrias através do correio no console do vestíbulo. "Você é minha
secretária, agora, também, Walter?"
"Alguém precisa ser. Executar este lugar é um trabalho muito grande para uma pessoa,
senhor."
"Deixe-me perguntar-lhe algo, Walter."
"Sim senhor."
"Será que você tem uma lista das maneiras que eu poderia pagar por esses itens
codificados por cores que precisam ser consertados ou substituídos?"
Walter balançou a cabeça. "Não, senhor, eu não tenho todas as ideias, nem algo que você
ainda não tenha pensado. Mas eu espero que a lista por si só seja útil".
"Nem um pouco, Walter," eu disse enquanto me dirigia para a escadaria principal. "E eu já
lhe disse um milhão vezes para dispensar o 'senhor’. Você me conhece desde que eu era um
bebê." Sem mencionar que eu mal merecia o título respeitoso. Walter valia três de mim, e ele
certamente sabia disso. No entanto, eu também sabia que ele nunca deixaria de agir
com profissionalismo. Walter Popplewell era da Inglaterra. e estava com nossa família por mais de
trinta anos.
Walter pigarreou. "E há alguém esperando para vê-lo, senhor."
Eu mudei. "Quem é?"
"Alguém", Walter pigarreou de novo, "à procura de um emprego, senhor."
Revirei os olhos para o teto. Jesus. "Tudo bem, deixa eu me livrar dele. Que tipo de idiota
está tentando conseguir um emprego aqui mesmo?"
Walter passou a mão em direção à cozinha, onde eu ouvi sua esposa e minha governanta,
Charlotte, rindo com alguém.
Quando entrei na cozinha, vi um homem sentado na mesa de madeira grande, um prato de
biscoitos à sua frente. Quando ele me viu, ele se levantou rapidamente, levando o prato ao chão, onde
caiu no azulejo e se estilhaçou em mil pedaços.
"Oh, querido!" Charlotte exclamou e correu de onde ela estava derramando um copo de
leite no balcão. "Não se preocupe com isso, Virgil. Fale com o Sr. Hawthorn e eu vou limpar isso.
Não se preocupe nem um pouco."
O homem diante de mim era grande, vestindo calça cáqui, uma camisa listrada vermelha e
azul e boné de beisebol do ‘Giants’ em sua cabeça. Seu rosto redondo estava cheio de
medo quando ele olhou entre o prato despedaçado e eu.
Eu andei em direção a ele e estendi minha mão. "Grayson Hawthorn."
Seus olhos corriam ao meu lado. Ele estendeu a mão hesitante e tremula, e quando seu
olhar finalmente me conectou, eu podia ver em seus olhos cândidos ele era mentalmente lento.
Bom Deus.
"Meu nome é Virgil Potter, senhor, Hawthorn, Grayson, senhor." Ele soltou a minha mão e
olhou para baixo timidamente. Olhou para Charlotte varrendo o prato e os cookies, recuou um
pouco, e depois olhou de volta para mim. "Como o bruxo, senhor, só não tenho uma cicatriz na testa.
Eu tenho uma cicatriz na minha parte traseira, porém, de quando eu cheguei muito perto de nosso
aquecedor elétrico uma vez quando eu era- "
"O que posso fazer por você, Sr. Potter?"
"Oh, você não tem que me chamar de senhor, senhor. Basta Virgil."
"Ok, Virgil".
Charlotte me deu um olhar afiado de onde ela estava ajoelhada no chão. Eu olhei para
trás, para Virgil, ignorando-a.
Virgil hesitou, mudando de um pé para o outro, olhando de novo para Charlotte, que olhou
para cima para ele, sorriu e acenou com a cabeça. Ele pegou o boné de beisebol de sua cabeça
rapidamente, como se tivesse de repente lembrado que o estava usando e segurou-o em suas mãos
grandes. "Eu estava esperando, senhor... isso é... Eu preciso de um emprego, senhor... e eu pensei que
eu poderia fazer algo por você. Ouvi algumas pessoas falando na cidade e dizendo que teria um
monte de problemas para manter esta adega correndo, e eu pensei que poderia ajudar. E seria barato,
visto que eu não sou tão inteligente como algumas outras pessoas. Mas
eu sou um verdadeiro trabalhador. Minha mãe me disse. E eu poderia trabalhar para você."
Eu suspirei. Isto era exatamente o que eu precisava. Eu mal estava aguentando com o
pessoal que eu tinha agora - muito menos do que o necessário, mas todos que eu podia pagar – e os
únicos que tinham ficado. Eu dificilmente poderia assumir mais um. Muito menos um que eu teria que
supervisionar todo o dia, sem dúvida. "Virgil", eu comecei a dispensá-lo, mas ele me interrompeu.
"Veja, senhor, a minha mãe, ela não pode limpar casas, não mais, por conta de suas
costas, que estão ruins. E se eu não trabalhar, não teremos dinheiro suficiente para sobreviver. E eu
sei que posso fazer um bom trabalho. Se alguém só me desse uma chance."
Bom Senhor. Quando Charlotte chamou minha atenção enquanto ela estava esvaziando a pá
de lixo, dei-lhe o meu mais gelado olhar. Ela estava por trás disso. O que ela estava pensando?
Quando este lugar falhasse, ela e Walter ficariam sem emprego. Fechei os olhos por um segundo e,
em seguida, abri-os. "Virgil, me desculpe, mas eu-"
"Eu sei que você provavelmente acha que eu não valho muito, só de olhar para mim, mas
eu valho. Eu sei que eu valho, senhor. Eu poderia trabalhar para você." Seus olhos grandes como os
de crianças estavam cheios de esperança.
Se você valesse mais...
Os pedaços do prato bateram na lata de lixo bem alto, e eu olhei de novo para Charlotte,
que ainda tinha os olhos fixos em mim, apesar de suas mãos ocupadas. Eu pressionei meus lábios
juntos.
Se você valesse mais...
"Bem, Virgil. Você está contratado", eu disse, mantendo meu olhar treinado em
Charlotte. cujos lábios se curvaram um pouco em um pequeno sorriso. Quando eu finalmente olhei
para trás para Virgil, seus olhos estavam arregalados com alegria. Levantei minha mão como se eu
pudesse segurar a intensidade de sua felicidade com o meu gesto. "Mas eu não posso pagar-
lhe muito, e nós vamos fazer isso em uma base experimental, ok? Às vezes nós trabalhamos até que
escureça, e eu não notei um carro lá fora. Eu tenho um conjunto de beliches nas instalações de
vinificação. Você pode ficar lá, se precisar. Um mês, e depois vamos ver como fazer." Supondo
que esta vinha ainda estija funcionando daqui a um mês.
Virgil assentiu exuberantemente, torcendo o pobre boné em suas mãos que, muito
provavelmente, estaria inutilizado agora. "Você não vai se arrepender, senhor. Não, não vou te
desapontar. Eu sou um bom trabalhador."
"Ok, bom, Virgil. Volte amanhã de manhã para preencher a papelada e traga a sua ID. Nove
horas da manhã, ok?"
Virgil ainda não tinha parado de balançar a cabeça. "Eu vou estar aqui, senhor, ainda mais
cedo. Eu vou estar aqui às sete."
"Nove está bom, Virgil, e você pode me chamar de Grayson."
"Sim, senhor, Grayson, senhor. Nove horas, ok."
Virgil virou seu corpo grande e desajeitado, sorriu e acenou para Charlotte, em seguida,
correu para fora da cozinha, presumivelmente antes que eu pudesse mudar de ideia. Eu estava de pé,
em silêncio, observando pela janela Virgil deixar a casa e começar uma lenta e pesada corrida pelo
caminho até os portões de aço decorativos no início da propriedade. Eu jurei sob a minha respiração
pela centésima vez naquele dia, e dei a Charlotte outro olhar gelado. "Se eu não soubesse melhor, eu
diria que você estava tentando me sabotar."
"Ah, mas você sabe melhor, meu rapaz. Eu torço pelo seu sucesso."
Claro que eu sabia disso. Eu suspirei de qualquer maneira, para o efeito.
Charlotte sorriu para mim e começou a cantarolar na pia.
Virei-me sem dizer uma palavra, indo para o chuveiro. Eu não fazia isso muitas vezes, mas
esta noite eu estava indo beber até cair.

A luz do sol da manhã entrava pelas janelas, banhando o vestíbulo com uma luz dourada
enquanto eu descia as escadas muito cedo, vendo como eu só voltei para casa algumas horas antes.
Eu vacilei, protegendo meus olhos contra o brilho muito brilhante. Minha cabeça latejava. Não
menos do que eu merecia. Mas o álcool tinha afogado meus problemas por uma noite, e por isso tinha
valido a pena. Eu tinha trabalhando do nascer até o por do sol na maioria dos dias, e ainda não foi
o suficiente. E depois de ontem no banco... Bem, eu merecia um noite de esquecimento bêbado. Um
homem só pode suportar um tanto.
"Gray, querido, há alguém aqui para ver você. Bom dia." Charlotte sorriu para
mim quando eu cheguei ao fundo das escadas. "Oh", ela franziu a testa, "você parece como algo que o
gato trouxe."
Eu ignorei a última observação. "Quem é agora?" A primeira coisa de manhã? O que
exatamente não podia esperar até uma hora decente? O nascer do sol mal tinha passado. E eu me
sentia como o inferno. "Acha que é outra pessoa querendo um emprego? Alguém com nenhum
membro, talvez?"
Charlotte apenas sorriu. "Eu não acho que ela quer um emprego, mas não
perguntei qual era o seu negócio. E ela tem todos os membros apropriados. Ela está esperando em
seu escritório".
"Ela?"
"Sim, uma jovem mulher. Ela disse que seu nome é Kira. Muito bonita." Charlotte
piscou. Está bem, talvez isso não seja a pior maneira de começar o dia. A menos que fosse
alguém com quem eu tivesse dormido... e provavelmente não me lembraria.
Engoli um par de Tylenol, peguei uma xícara de café na cozinha e
caminhei até o grande escritório na frente da casa que uma vez pertenceu a meu pai.
Uma jovem mulher em um vestido solto de cor creme, de algum tipo de material de
sedoso e cinto na cintura estava de costas para mim, folheando a grande estante na parede em frente à
porta de entrada.
Limpei a garganta e ela se virou, o livro em suas mãos caindo no chão quando ela trouxe as
mãos ao peito. Seus olhos se arregalaram e então ela se inclinou para pegar o livro,
rindo firmemente.
"Desculpe, você me assustou." Ela se levantou, movendo-se de repente em minha direção.
"Desculpe, hum, desculpe. Grayson Hawthorn, certo?" Ela colocou o livro na borda da minha mesa e
estendeu a mão. Ela mal tinha uma estatura média, magra, com o cabelo de um profundo e rico ruivo,
e puxado para trás em algum tipo de nó na nuca. Não era o meu tipo, mas Charlotte estava certa: ela
era bonita. Eu tendia para loiras altas e elegantes. Uma loira alta e elegante em particular, na
verdade. Mas eu fechei esse pensamento doloroso imediatamente. Não adianta ir lá. Foi só quando a
garota chamada Kira chegou perto que eu realmente notei seus olhos grandes e emoldurados com
cílios grossos, sobrancelhas do mesmo tom rico de seu cabelo, arqueadas delicadamente acima
deles. Mas foi a cor de seus olhos que me atordoou. O mais rico tom de verde que eu já vi.
Eles eram luminosos, como esmeraldas gêmeas. Tive a sensação súbita de que aqueles
olhos viram coisas que outros olhos não fizeram. Encantamento. Magnetismo. Eu senti como se não
pudesse tomar uma respiração profunda.
Eu recuei um pouco e estreitei o meu olhar, mas peguei a mão dela na minha. Era quente e
pequena na minha própria. O calor parecia viajar no meu braço e na minha espinha. Eu fiz uma careta
e tirei minha mão da dela. "E você é?" Eu não tinha a intenção da hostilidade em meu tom.
"Kira", ela disse simplesmente, como se isso explicasse alguma coisa. OK. Kira
fechou aqueles olhos deslumbrantes dela, e eu senti uma pontada momentânea de decepção. Ela
balançou a cabeça um pouco, antes de olhar para mim. "Eu sinto muito, você se importa
se eu sentar?"
Inclinei a cabeça na direção da cadeira em frente da grande mesa de mogno. Eu defini o
meu copo de café na mesa e mudei-me para sentar-me na cadeira de couro atrás da mesa. "Gostaria
de uma xícara de café?" Perguntei. "Eu poderia chamar Charlotte." O que essa garota quer? Ela não
parecia familiar.
"Não, obrigada", ela balançou a cabeça, "ela já ofereceu." Uma mecha escorregou para
fora de seu cabelo puxado para trás, e ela fez um pequeno olhar severo e irritado quando tentou alisá-
lo de volta.
Esperei. Minha cabeça latejava, e eu massageava minha têmpora distraidamente. Seu olhar
seguiu o meu lado e eu queria olhar de soslaio para ela.
Ela respirou fundo e endireitou sua coluna, cruzando as pernas. Como sua
cadeira estava posicionada longe da minha mesa, meus olhos puderam facilmente passear por
suas panturrilhas bem torneadas, até os tornozelos finos que terminavam num par de sandálias de
salto alto azul. A bolsa, que estava em seu ombro e agora descansava em seu colo, tinha contas no
mesmo tom que seus sapatos. Eu não sabia nada de moda, mas sabia o que era caro quando via.
Minha madrasta de coração frio tinha sido o epítome da decadência penteada.
"Eu não quero apressá-la, mas tenho muito a fazer hoje."
Seus olhos se arregalaram. "Certo. Claro. Eu sinto muito hesitar. Bem, acho que eu vou
direto ao assunto. Eu tenho um acordo de negócios para lhe oferecer."
Eu levantei uma sobrancelha. "Um acordo de negócios?"
Ela assentiu com a cabeça e torceu o longo colar de ouro que usava. "Sim, bem, na
realidade, Sr. Hawthorn, eu estou aqui para propor casamento."
Eu ri, quase vomitando o gole de café que tinha acabado de tomar em toda minha mesa.
"Com licença?"
Aqueles olhos magníficos iluminaram com algo que eu não conseguia definir. "Se você só
me ouvir... eu acho que talvez isso é algo que poderia beneficiar a nós dois."
"E como exatamente você sabe alguma coisa sobre o que poderia me beneficiar,
Sra... Qual é mesmo seu sobrenome? Você não disse."
Ela ergueu o queixo um pouco. "Dallaire. Meu sobrenome é Dallaire." Ela me olhou com
algum tipo de expectativa.
"Dallaire?" Fiz uma pausa, franzindo a testa. Eu conhecia o nome. "Como o ex-prefeito de
San Francisco, Dallaire?"
"Sim." Ela ergueu mais o queixo. Ah, altivo... isso é o que esse gesto foi. Ela
era da realeza da política. Uma herdeira. Eu não sabia muito sobre Frank Dallaire, exceto que ele
tinha sido o prefeito por dois mandatos e era extraordinariamente rico - resultado não só de sua
carreira política, mas, eu pensei, negócios imobiliários? Algo nesse sentido.
Ele estava consistentemente na lista dos homens mais ricos do país. Então por que diabos sua
filha estava aqui?
"Então eu acho que a melhor pergunta, Srta. Dallaire, é como é que na terra verde de
Deus um casamento poderia me beneficiar?" Isso deve ser bom. Eu reclinei na minha cadeira.
Ela suspirou, parecendo apenas um pouco menos arrogante. "Eu estou em uma
situação delicada, Sr. Hawthorn. Meu pai e eu estamos", ela mordeu o lábio por um segundo,
parecendo estar procurando a palavra certa, "afastados. Para ser franca, eu preciso de dinheiro para
viver, para sobreviver."
Estudei-a por um segundo e depois dei uma risadinha. "Posso assegurar-vos, Srta.
Dallaire, que um casamento comigo não beneficiaria sua carteira financeira. Muito pelo contrário, na
verdade. Alguém a informou mal."
Ela balançou a cabeça, inclinando-se para frente. "O que me leva à parte que
beneficiaria a nós dois."
"Por todos os meios, por favor, me esclareça", eu disse, não tentando esconder o tédio na
minha voz. Eu massageava minha têmpora novamente. Eu quase não tinha tempo para isso.
Ela assentiu com a cabeça. "Bem, veio ao meu conhecimento que a sua vinha é, uh,
bem, está falhando, para ser honesta. Você precisa de dinheiro."
A raiva passou por mim pela forma como esta menina rica resumiu minha situação. Eu
puxei minha mão da minha têmpora e dei-lhe o meu olhar mais frio. "E você sabe disso... como?"
Ela ergueu o queixo novamente. "Eu pesquisei você."
"Ah."
"E, bem, eu estava no banco ontem. Eu acidentalmente ouvi parte da sua reunião. Você
estava procurando um empréstimo." Eu congelei com a mancha lenta de cor rosa em suas bochechas.
Bem, pelo menos ela teve a graça de estar envergonhada. ‘Acidentalmente ouviu’, minha bunda. Mas,
então, o queixo dela subiu um pouco novamente.
Raiva e uma pequena medida de vergonha sobre o que ela tinha ouvido espetou minha
espinha, fazendo-me sentar em linha reta. "Você rudemente escutou minha reunião no banco,
me googlou, e agora acha que entende a minha situação?" Que porra é essa?
Sua expressão suavizou e sua língua rosa disparou para fora, para umedecer o lábio
inferior. Meu corpo reagiu vigorosamente a esse pequeno movimento, e eu soquei-o com violência.
Eu não seria atraído para a princesinha arrogante sentada na minha frente. Além disso, eu tinha tido
uma mulher na noite passada, como uma questão de fato - uma loira chamada Jade que cheirava a
melancia... ou seria abacaxi? Ela tinha sido altamente energética. E, no entanto, mesmo assim toda a
aventura tinha me deixado vagamente insatisfeito... e cheirando a salada de frutas. Concentrei minha
atenção de volta na ruiva sentada na minha frente. Ou ela era morena?
Quase a mistura perfeita de ambos... Como se o cabelo dela estivesse respondendo aos
meus pensamentos. Outra mecha escorregou para fora. Kira enfiou-a atrás da orelha.
"Tenho certeza que não conheço todos os detalhes de sua situação. Mas eu sei que você
precisa de dinheiro, e você tem poucas opções, especialmente considerando o
seu... passado." Um rubor subiu-lhe em suas bochechas marfim novamente antes dela continuar, "Eu
preciso de dinheiro também. Estou desesperada, na verdade."
Soltei um suspiro. "Tenho certeza que se você for para papai tudo isso poderia ser
resolvido. As coisas raramente são tão desesperadas como parecem." Só que, na minha situação, elas
realmente eram.
Seus olhos cuspiram fogo para mim, mas sua expressão permaneceu neutra. "Não", ela
disse. "As coisas não serão resolvidas com meu pai. Tivemos uma briga há mais de um ano."
"Uh huh. E como você foi ficando desde então?"
Ela fez uma pausa, como se estivesse considerando sua resposta. "Eu estive no exterior."
Compras, provavelmente. Ou tomando sol. Corri meus olhos para baixo por suas pernas de
novo – pernas levemente bronzeadas. E agora seus fundos pessoais tinham acabado, e papai não
estava indo para supri-la com mais. Tão trágico.
"Você tem algo contra conseguir um emprego? Você tem uma educação?"
"Minha carreira universitária foi... encurtada. E não, é claro que eu não sou contra
conseguir um emprego, se necessário. Mas", ela sentou-se ainda mais reta, "basta dizer que eu vim
aqui hoje acreditando que esse era o melhor curso de ação para todos os envolvidos."
Minha cabeça latejava novamente. O que me importa sua situação exata, de qualquer
maneira? "Ok, nós podemos cortar a perseguição aqui? Como você tão sucintamente indicou, minha
vinha está falindo. Eu tenho um monte de trabalho a fazer hoje."
"Certo. Bem, sim. Sr. Hawthorn, você vê, a minha avó, mãe do meu pai, vivia
modestamente, mas graças a alguns investimentos fortuitos que meu avô fez, ela morreu com um
pouco de dinheiro. Ela deixou para seus dois netos, eu sendo uma, o outro um
primo que não conheço bem. No entanto, ela estipulou no testamento que nós só teremos o dinheiro
quando copletarmos trinta ou quando nos casarmos, o que vier em primeiro lugar."
Sentei-me de volta, juntando os dedos.
"E então," ela continuou rapidamente, "o que eu proponho é o seguinte: nós casamos,
dividimos o dinheiro, e em um ano pedimos o divórcio."
Eu levantei uma sobrancelha. "Dividimos o dinheiro? De quanto dinheiro estamos
falando, exatamente?"
"Setecentos mil dólares."
Meu coração começou a bater mais rápido. Trezentos e cinquenta mil dólares. Era ainda
mais do que o empréstimo que eu esperava que o banco fosse aprovar. Seria mais do que suficiente
para comprar todos os equipamentos e fazer reparos na casa. O suficiente para engarrafar o
vinho que estava agora nos barris. O suficiente para adicionar pelo menos um par funcionários
também. E se a mais nova colheita fosse tão boa como eu previa... esta adega seria bem sucedida
novamente em menos de um ano. Eu poderia cumprir a promessa que havia feito em nome de meu pai.
Eu fiquei em silêncio, não só para pensar sobre o que ela tinha acabado de dizer, mas
também para fazê-la se contorcer. Ela não o fez. Finalmente eu disse, "Interessante. Não há nenhuma
cláusula sobre como teríamos que parecer casados?"
Ela soltou um suspiro e balançou a cabeça, sem dúvida assumindo que a minha pergunta
significava que eu estava, na verdade, considerando esta ideia insana. Eu estava? Isto era mesmo
legítimo? Certamente havia algumas capturas. Era também absurdo demais para ser verdade. Minha
cabeça estava girando um pouco, e não apenas pela ressaca. "Não, mas meu pai ficaria... descontente
se soubesse que eu me casei para conseguir o dinheiro que minha avó deixou, só para dividi-lo com
você... ou seja, com qualquer um." Algo correu em toda sua expressão, mas eu não pude lê-lo. "Se
ele tivesse qualquer indicação que este seria um casamento falso, no entanto, ele poderia muito bem
tentar contestar o pagamento do testamento. Seria melhor, para ambos os nossos melhores
interesses, que o casamento parecesse tão legítimo quanto possível. No entanto, como eu disse, meu
pai e eu somos distantes. Imagino que o nosso esforço só terá de ser mínimo, embora convincente."
Eu levantei minhas sobrancelhas, permitindo-me outro momento para repassar o que ela
tinha dito. Era ultrajante, inacreditável. "Espere, você não é," eu me inclinei para frente, "uma dessas
mulheres loucas que escreveram para mim na prisão oferecendo casamento, não é?"
Os olhos dela se arregalaram. "O quê?"
Eu reclinei para trás novamente. "Sim, havia muitas delas. Aparentemente algumas
mulheres encontram uma emoção doente nesse tipo de coisa."
"Para o que... Por quê?" Ela balançou a cabeça ligeiramente, como se não tivesse certeza
de como a conversa tinha se desviado da pista. Sua confusão parecia genuína.
Eu sorri. "Pelo que eu sei, as mulheres gostam de um menino mau".
Ela me olhou fixamente por um momento. "Eu garanto que não sou uma dessas mulheres."
Eu balancei a cabeça lentamente em relação a ela. "Bem, bom, porque eu garanto que você
não é meu tipo, de qualquer maneira."
Ela se irritou, sentando-se ereta. "Melhor ainda, então. O que estou propondo é
estritamente profissional, nada mais." Ela desviou o olhar de forma que eu não podia ver aqueles
olhos de bruxa, mas quando olhou de volta para mim suas bochechas estavam rosadas novamente.
"No entanto, pareceria suspeito se eu não morasse aqui e, francamente, Sr. Hawthorn, eu preciso de
um lugar para morar. Então eu estava pensando que, em troca da habitação, que eu
poderia fazer o trabalho de contabilidade para você. Eu suponho que você não tem uma equipe de
funcionários muito grande."
Eu me inclinei para trás novamente. "Estou impressionado com a sua investigação,
Srta. Dallaire. Não, eu tive que deixar meu contador ir. E a minha secretária. E a maior parte do
restante da equipe também." Não que algum deles tenha vivido no jardim.
Ela assentiu com a cabeça. "Eu sou boa com números. Eu trabalhei como estagiária para a
equipe de contabilidade do meu pai. Eu sou bem familiarizada com programas de contabilidade. Eu
poderia trabalhar para você em troca de casa e comida, e, obviamente, para manter as aparências.
Não proponho que eu teria que viver aqui por um ano; talvez apenas por alguns meses, mais ou
menos, ou até saber que meu pai aceitou o casamento e voltou a me ignorar. Eu discretamente poderia
ir embora e nós nunca mais teríamos que ver um ao outro novamente, exceto, é claro, na corte de
divórcio. Seria realmente muito simples. E muito temporário. E, claro, colocaríamos tudo por
escrito. E, por favor, me chame apenas de Kira."
Eu a estudei por vários momentos, observando o jeito que ela tinha acabado de divagar.
Ela parecia ser polida e clara, mas estava realmente nervosa sentada aqui, na minha frente? Eu
segurei o contato visual em uma batida por muito tempo, mas ela não desviou o olhar e não vacilou.
"E o que você vai fazer com a sua metade do dinheiro, Kira? Se eu posso ser tão ousado a ponto de
perguntar."
Ela limpou a garganta. "Bem, além de viver, estou envolvida em várias instituições de
caridade em San Francisco. Um dos centros está em apuros e
terá que fechar se alguém não aparecer com o financiamento."
Sorri um sorriso tenso. Ah. Igual a minha madrasta. Uma herdeira com uma vida vazia. Eu
podia ver ela chegando em seu Bentley para salvar os humildes camponeses da fome, para que ela
pudesse se referir a si mesma como filantropo antes de correr à loja mais próxima para
adicionar itens à sua coleção de bagagem Louis Vuitton. "Eu vejo." O que me importa o que ela faz
com seu dinheiro e qual será o seu propósito? Eu só precisava me preocupar com a minha própria
situação. "É uma proposta altamente incomum. Eu vou pensar sobre isso e te dou uma resposta.” Eu
comecei a ficar de pé.
"Bem, veja, preciso de sua resposta rapidamente." Sua voz saiu rápida e ofegante. Meu
corpo, ou pelo menos a parte entre minhas pernas se contraiu novamente. Droga. Algo sobre a reação
do meu corpo para ela me deixou com raiva. Embora as partes que reagiram nunca tinham sido muito
exigentes.
Me sentei de volta.
"Quem me dera que eu pudesse dar-lhe mais tempo para considerar, Sr. Hawthorn, mas,
infelizmente, as circunstâncias ditam que eu -"
Eu abanei minha mão para detê-la. "Eu vou voltar a falar com você até o final do dia.
Como posso entrar em contato com você?"
Ela fez uma pausa. "Eu vou ficar no Motel 6 hoje. Posso dar-lhe o número do meu
celular, e você pode me ligar."
Motel 6? Nossa, o quão longe a princesa tinha caído! Sim, sua situação era bastante
desesperada. Eu assisti quando ela pegou um bloco e uma caneta na borda da minha mesa e
cuidadosamente escreveu seu número de telefone. Eu peguei e joguei casualmente sobre a pilha de
papéis bagunçados. Ela olhou para onde eu tinha jogado e, em seguida, de volta para mim, os lábios
apertados. "Eu garanto que minha proposta é legítima."
"Ela pode muito bem ser. Claro, eu gostaria de me reunir com o executor de confiança, de
qualquer maneira. Mas ainda tenho algo que preciso considerar. Eu tenho que pensar de que outras
maneiras isso pode afetar minha vida. Um criminoso é uma coisa, mas criminoso e divorciado?
Como vou afastar as senhoras?" Ela estreitou os olhos, sobressaltada.
"Sim, bem, se houvessem outras opções eu não estaria considerando isso também. Confie
em mim." Este, princesa, não seria um problema real se desse um tapa no rosto. Mas, quando nós
olhamos fixamente um ao outro, algo brilhou em seus olhos. Sob seu comportamento de negócio
legal ela estava apenas mal segurando um temperamento. Ela era uma princesa, mas, oh, sim, apenas
como eu pensava, ela tinha uma pequena bruxa nela, também. Nós estávamos ambos em silêncio
enquanto ela se inclinou para frente um pouco, como se esperasse... algo. Será que ela esperava que
eu lhe agradecesse?
"Tenha um bom dia." Eu não fiquei. Ela poderia sair. Ela levantou-se devagar, segurando a
mão dela para que eu pudesse agitá-la. Eu cheguei à frente e tomei sua mão na minha, pela segunda
vez. Esse mesmo calor passou através de mim, e eu me afastei rapidamente. Kira Dallaire girou nos
calcanhares, sua altivez de queixo no ar, e saiu de meu escritório sem olhar para trás.
Levantei-me e fui até a janela, à sombra. Eu assisti enquanto ela caminhava em direção a
um Jetta branco. Surpreendeu-me que ela estava dirigindo um carro tão não-ofuscante. Quando ela
chegou à porta e começou a subir, ela fez uma pausa e olhou para a vinha. Havia algo em sua
expressão que me fez inconscientemente dar um passo em direção a ela, com meu rosto quase
acertando o vidro na minha frente. O que tinha sido? Apreciação, pensei. Para este lugar degradado?
Mas com outra coisa, também... compreensão? Antes que eu pudesse considerá-lo por mais tempo,
ela se escondeu dentro de seu carro, batendo a porta atrás dela e, um minuto depois, estava dirigindo
através do portão e fora de vista.
Talvez eu estivesse julgando injustamente. Se alguém sabia o que era isso, esse era eu.
Talvez eu estivesse apenas de ressaca, e ela me lembrou o tipo de mulher que era minha madrasta. E,
claro, há o fato de que ela caminhou até aqui e me ofereceu descaradamente um casamento por
dinheiro... Mas talvez Kira Dallaire não fosse exatamente o que parecia ser.
Sentei-me na minha mesa e liguei o computador para o googlá-la. Uma boa volta
merecia outra. Assim que eu digitei o nome dela uma enorme quantidade de imagens apareceram:
Kira Dallaire em um vestido de noite, saindo de uma limusine, Kira Dallaire na estréia de um filme
em algum teatro ou outro, Kira Dallaire em pé ao lado do homem que reconheci como Frank Dallaire
em um evento beneficiente black-tie. Sempre com o mesmo sorriso pequeno, apertado e arrogante.
Em várias fotos ela estava de pé ao lado de um homem loiro de boa aparência que parecia ser, pelo
menos, cinco a dez anos mais velho que ela. Eu cliquei em uma das fotos e li a legenda
que identificava o casal como Cooper Stratton e sua noiva Kira Dallaire. Noiva? Olhei para a
data - um pouco mais de um ano atrás. Tinha sido isso o que tinha "interrompido" sua carreira
universitária? Teria ela saído para se tornar uma esposa da sociedade?
Eu cliquei através de vários artigos, meu desprezo crescendo conforme eu juntei a Kira
Dallaire da real situação. Nenhuma das histórias de notícia veio e disse isso, mas foi fácil ler
entre as linhas. Kira tinha estado comprometida com Cooper Stratton, um jovem assistente
do procurador geral a candidatar-se para juiz da corte superior em San Francisco, quando ela
esteve envolvida em algum tipo de escândalo vergonhoso - drogas foram fortemente insinuadas - que
teve lugar em uma cobertura no Hotel St. Regis. O pai dela, em um esforço para protegê-la e obter a
ajuda que ela precisava, mandou-a para algum centro de reabilitação, mais provavelmente um
glorificado spa em Londres ou Paris. E seu noivo tinha rompido o noivado. Quem poderia culpá-lo?
Mas agora ela estava de volta e seu pai... ele o quê? Não financiou o estilo de vida que ela
estava acostumada a festejar? Recusou-se a dar-lhe algum dinheiro até que pudesse provar
que estava disposta a melhorar sua vida? Claro, isso eu só estava adivinhando. De qualquer maneira,
Kira Dallaire havia decidido tomar o assunto em suas próprias mãos.
Eu estava certo em meu julgamento dela: ela era como minha madrasta. Uma
mulher a quem tinha sido dado tudo na vida, e que pensava que isso era seu direito. Uma mulher
egoísta que esperava que a vida se dobrasse à sua vontade. E quando isso não aconteceu, ela iria a
extremos para dobrá-la de volta, independentemente a quem doer.
Eu me inclinei para trás por um minuto, pensando nas coisas. Nunca em um milhão de anos
eu esperava acordar para isso.
Nós estávamos desesperados em nossos próprios caminhos. A pergunta era: eu estava
desesperado o suficiente para entregar meu nome - mesmo que temporariamente – em troca do
dinheiro que precisava para salvar esta vinha e cumprir meu voto?
Algo na tela do computador chamou minha atenção, uma pequena imagem no fundo do
artigo que eu estive lendo, e eu cliquei nela, tornando-a tão grande quanto possível. Era uma outra
imagem de Kira Dallaire e Cooper Stratton. Ele tinha a mão descansando possessivamente em
suas costas e estava sorrindo com orgulho de como ela sorriu para ele. Meus olhos se
detiveram sobre sua bochecha direita. Ela tinha uma covinha.
A bruxinha tinha uma covinha. E o que sobre essa pequena característica que fez meu pulso
acelerar eu não poderia explicar nem se minha vida dependesse disso.
Capítulo Três
Kira
Ele parecia um príncipe, mas se eu estivesse que colocá-lo em um conto de fadas agora,
eu o descreveria como O Dragão! Um dragão bestial, crítico e cuspidor de fogo.
É claro, isso não foi surpreendente, realmente. Minha habilidade em julgar
o caráter era, infelizmente... não hábil.
O que já tinha sido provado uma vez. Muito dolorosamente.
Ainda assim, eu não estava preparada para o seu desprezo zombeteiro. E sim, tudo
bem, então minha oferta, provavelmente parecia ultrajante para ele. Mas eu era a única a fazer-lhe um
favor aqui. Eu estava lhe oferecendo dinheiro livre. Ou praticamente de graça. Havia um
preço - eu admitia isso. Eu pedi-lhe para se casar por dinheiro.
Eu não podia evitar a verdade nua e crua. Mas eu tinha feito uma lista, e havia muito mais
"prós" do que "contras" para nós dois, eu pensei. Embora, sem dúvida, os "contras" eram
muito pesados e poderiam derrubar em qualquer escala, independentemente do que você é intitulado.
Apesar de ter tentado apresentar a oferta como um negócio, a forma como ele olhou para mim, com
tanto desdém, como se eu fosse lixo, só me deixou muito pior.
A condescendência que ele tinha mostrado, esse escárnio fraco que nunca deixou sua
expressão me deixou mais nervosa, confusa e insegura do que eu já estava. Eu odiava esse
sentimento. Eu covivi com ele durante toda a minha vida. Ser desprezada fazia meu coração sentir
coisas dolorosamente familiares.
E então ele me disse que eu não era o tipo dele. Como se isso importasse. Não importava.
De modo nenhum. Nem um pouco. Eu só precisava do dinheiro, e não de ser o tipo dele.
Então, por que doía?
Soltei um suspiro. Ele disse que me ligaria, mas baseada em sua grosseria demissão eu não
iria segurar minha respiração enquanto esperva. Bem... Eu tentei. Mais uma das
minhas Muito Más Ideias, e Grayson Hawthorn tinha deixado bem claro que isso era exatamente o
que ele tinha pensado. Com aquela voz um pouco entediada e agradavelmente masculina. Eu senti
meu lábios se curvarem. Portanto, a questão era, o que eu vou fazer agora? Voltar ao meu pai estava
fora de questão. Eu preferia dormir em uma esquina. Ou no centro de drop-in. Meu coração
afundou quando pensei no centro. O que eles iam fazer agora? Tanta coisa estava andando para obter
minhas mãos no dinheiro da vovó. Eu poderia... eu deveria parar meu carro e escolher
qualquer pessoa da rua para fazer a mesma oferta que tinha feito para Grayson Hawthorn. Ou colocar
um anúncio na internet, como eu tinha brincado com Kimberly. Eu poderia vender o meu
carro. Estava em meu nome, uma das poucas coisas que eu tinha comprado com meu próprio
dinheiro. Mas, então, eu não teria sequer um lugar para dormir, se e quando meu dinheiro acabar.
Eu apenas pensei... bem, que encontrar Grayson Hawthorn no banco parecia o
destino. Pensei sobre isso ontem, em meu pequeno e solitário quarto de hotel, quando meu coração
sentiu como se houvesse algo muito certo sobre partilhar o dinheiro da minha avó com aquele homem
em particular, considerando a conexão que eu sabia que existia entre ele e meu pai. Não que eu
pudesse compartilhar essa informação com ele, nem que lhe faria bem, de qualquer maneira. Mas eu
poderia compartilhar o dinheiro com ele, dinheiro que ele precisava desesperadamente, e talvez
definir algo certo, equilibrar o placar em alguma pequena medida.
E eu tinha que admitir: sua aparência havia me balançado também.
Parecia que o herói de cada conto de fadas que eu tinha sonhado tinha vindo à vida. E, Deus, eu
queria voltar a acreditar em heróis novamente.
Mas, às vezes, eu supunha, uma menina só tinha que ser seu próprio herói.
Especialmente quando o herói em questão acabou por ser um dragão.
Eu sabia o que Grayson Hawthorn tinha feito de errado em sua vida, mas depois de
examinar os dados de seu caso, mais parecia um terrível acidente. E de qualquer maneira, foi um
erro pelo qual ele tinha pago. Mais do que pagou. E ainda estava pagando. Ninguém lhe daria uma
chance, ou pelo menos o empréstimo que ele tanto desesperadamente precisava.
Então, eu tinha ido com o meu intestino, decidida a reservar seu julgamento até que o
conhecesse pessoalmente, pelo menos, e corri para sua casa na manhã seguinte antes que perdesse
completamente meu nervo.
Bem. O Dragão teria que descobrir sua vida por si mesmo. Assim como eu faria. Estou
sozinha e controlo meu destino. Eu mal tenho tempo para entrar em desespero. Estacionei meu carro
no estacionamento do hotel e fiz o meu caminho para o meu quarto.
Eu tirei o vestido e as sandálias que usei para me encontrar com Grayson Hawthorn - roupa
de uma antiga vida que eu nem tinha percebido que tinha embalado quando
lancei apressadamente os itens em minha mala.
Considerando como eu tinha me vestido esta manhã, eu tinha sido feliz pelo erro, no
entanto. Eu queria parecer profissional, e as calças jeans ou short desgastados que eu normalmente
usava não diziam exatamente "me leve a sério." Fiz uma pausa. Mas talvez eles dissessem: "Eu estou
desesperada! Case comigo!" Talvez eu devesse ter usado aqueles, afinal.
Depois de mudar, eu deixei o hotel e passei o dia andando pelo centro de Napa, fazendo
algumas compras, navegando pelas diversas lojas, incluindo uma livraria, e parei para um agradável
almoço em um pequeno café que vovó tinha gostado. Apesar de estar sem esperança e sem um plano,
eu fiz um esforço consciente para limpar minha mente e aproveitar o dia, tanto quanto possível. Se eu
tivesse que trabalhar de garçonete como Kimberly tinha sugerido, então isso é o que eu faria. Eu não
tinha medo de trabalho duro. Eu esperava um plano que oferecesse mais opções, mas isso não era
para ser. Eu endireitei minha espinha e canalizei o meu interior Scarlett O'Hara. Eu tomaria hoje, e
então viria com um novo plano uma vez que o desastre que foi esta manhã tivesse rolado dos meus
ombros.
Era fim de tarde quando voltei ao meu hotel, o céu de um azul claro, calmo. Entrei em
meu quarto e deitei em minha cama por um minuto, o cansaço me oprimindo. Eu tinha jogado e virei
a noite anterior, em antecipação à minha chamada de manhã em Grayson Hawthorn. Eu estava
exausta e adormeci quase que imediatamente.
Acordei com os olhos turvos, confusa por um minuto sobre meu entorno, ainda nesse hiato
entre o sono e a vigília. Mas sabia que algo estava errado, embora ainda não lembrasse o que. A
realidade fluiu lentamente, da mesma forma que a dor, as peças se juntando para sentarem-se
fortemente em meu peito.
Estremecendo um pouco, eu rolei e olhei para o relógio de cabeceira. Era depois
das quatro, então eu só tinha dormido por pouco mais de uma hora. Suspirei e me sentei.
O chuveiro quente acalmou meus músculos se não o meu coração, e quando eu saí me senti
um pouco mais viva. Sequei parcialmente meu cabelo, e, em seguida, enfiei-o em um nó no topo da
minha cabeça, mesmo que fosse certo que se soltasse. Minha avó sempre disse que meu cabelo era
tão ardente e incontrolável quanto eu. Mas ela disse isso com tanto amor em sua voz que eu não
pude deixar de levar como um elogio. Deus, como eu sentia falta dela, mesmo depois de tantos anos
que ela tinha ido embora. A ausência de seu amor incondicional ainda era uma dolorosa ferida.
Quando eu estava tirando roupas limpas da minha mala, meu celular tocou. Kimberly, eu
tinha certeza.
Mas quando eu olhei para a tela, era um número local que eu não reconheci. Meu batimento
cardíaco parou e, em seguida, acelerou no meu peito enquanto eu corria o dedo pela tela.
"Olá", eu respondi sem fôlego.
A voz profunda retornou a minha saudação, nenhum calor nele em tudo. "É Grayson."
"Oh." Eu fingi indiferença e desmoronei na cama em minha toalha. "Como posso ajudá-lo?"
"Em que quarto você está?"
"Quarto?"
"Quarto de hotel. Motel 6, certo? Solano Avenue?"
"Uh, sim. Mas-"
"O quarto?" Ele repetiu.
"Dois onze. Sabe que horas são... Olá?" Ele desligou? O que o -
Três golpes rápidos soaram na minha porta,, e eu soltei um grito assustada, deixando cair
meu telefone na cama e pulando em meus pés. "Espere!" Eu exigi, correndo para a minha mala e
apressadamente puxando um sutiã e calcinha. O bater retomou.
"ESPERE!" Eu gritei novamente. De todos o rude... dragão!
Eu puxei o vestido que tinha usado esta manhã sobre minha cabeça e afivelei o cinto antes
de abrir a porta. Grayson Hawthorn encheu a porta, vestindo a mesma roupa que estava usando mais
cedo – um par de jeans e uma camiseta azul que se estendia muito bem sobre seu magro,
mas, obviamente, bem musculoso peito. Sua masculinidade bateu-me no intestino.
Ele também cheirava como fez naquela manhã - algum tipo de fresco sabão de cheiro másculo. Mas
agora havia a ligeira adição de um toque salgado de suor. Eu me inclinei para
frente, atraída pelo perfume masculino dele, mas, de repente, percebi o que estava fazendo. Cruzando
os braços, saltei para trás. "Isto é altamente impróprio. Você deveria ter me dado algum aviso que
estava vindo."
Grayson entrou no quarto, tomando seu tempo olhando ao redor. Seus olhos pararam por
um segundo na minha bagagem Louis Vuitton antes que ele finalmente fizesse contato visual. "Eu não
tinha certeza se estava vindo até cerca de quinze minutos atrás."
"Eu vejo. Bem, você gostaria de ir lá embaixo? Nós poderíamos tomar café -"
"Isso é bom. Eu não vou ficar muito tempo. Eu tenho que voltar ao trabalho."
Olhei em volta do meu quarto na cama desfeita, as roupas espalhadas. Eu arrastei a
cadeira da mesa para a frente e, em seguida, sentei-me no banco estofado na extremidade da cama.
Grayson sentou-se na cadeira. "Eu estive pensando em sua oferta. Antes de irmos adiante, eu gostaria
de me reunir com o executor para me certificar de que o dinheiro será pago como você disse, após
o casamento ou pouco tempo depois."
Eu balancei a cabeça, o meu ritmo cardíaco acelerado. "É claro. Eu entendo."
Grayson deu um aceno sucinto. "E se tudo parecer bem lá, vamos precisar ter um acordo
pré-nupcial elaborado, indicando os termos financeiros do nosso casamento."
"Obviamente."
"Não importa o que acontecer financeiramente no próximo
ano enquanto estivermos casados, as finanças ou a propriedade não serão divididas de qualquer
maneira, forma ou formulário."
"Claro que não."
Sua expressão permaneceu enigmática. "Uma vez que me encontrar com o seu executor, eu
vou ter que confiar que após o pagamento você realmente vai me dar metade."
Eu fiz uma careta. "Isso seria o nosso negócio." Um pedaço de cabelo caiu fora do meu nó
e eu tentei colocá-lo de volta. Os olhos de Grayson seguiram minha mão e, em seguida,
permaneceram lá quando o cabelo caiu novamente.
"Sim, mas Kira", disse ele quase distraidamente antes de olhar de volta para os meus
olhos. Ele se inclinou para frente com seu olhar firme e alerta agora. "Eu não a conheço. Pelo que eu
sei, nós nos casamos, então você recebe o cheque e decola para o Brasil. Confiar em você em
qualquer aspecto seria um ato de fé da minha parte."
Eu me irritei. "Eu nunca faria isso."
"É o que você diz. Eu descobri que as pessoas dizem o que lhes convém no momento. Nem
sempre significa que se pode confiar."
Sim, eu sabia o que ele queria dizer. Eu respirei fundo e balancei a cabeça. "Eu... sei disso.
Mas eu pretendo manter a minha palavra.”
Ele me olhou por um instante... dois, antes que ele desviasse o olhar. "Eu concordarei com
você vivendo em Hawthorn Vineyard por dois meses. Isso deve ser tempo suficiente para notificar o
seu pai de nosso casamento, e para que você possa encontrar um lugar pra você com a sua parte do
dinheiro. Se houver algum problema com seu pai, poderemos renegociar o prazo. Há um chalé de um
velho jardineiro em minha propriedade que você pode viver. É pequeno e não oferece muitos luxos,
mas tem uma cama e água corrente." Ele olhou-me de alguma forma que eu não conseguia ler.
"Parece pitoresco."
"Pitoresco seria uma descrição generosa." Foi desafio que eu li nos
olhos pretos do dragão... talvez um pequeno capricho do seu lábio?
"Bem." Eu levantei meu queixo. Eu nunca recuei de meu pai, e eu não recuaria deste
homem.
"Você está desesperada."
"Então você também."
"É verdade." Ele fez uma pausa. "Se você não se importa de eu perguntar, por que você
me escolheria? Quero dizer, além do meu desespero?" Seu lábio fez beicinho, mas não havia
diversão em seus olhos. "Você poderia ter escolhido um mendigo na rua e compartilhado metade de
sua herança com ele. Tem muitas pessoas desesperadas neste mundo, Kira, se você está procurando
doar o dinheiro."
"Meu pai nunca iria acreditar que eu tinha caído de amor se me casasse com um homem
sem-teto, Grayson. Seria muito fácil para ele contestar o pagamento da herança. Meu pai está bem
servido, como você pode provavelmente imaginar, e eu tenho que ser cuidadosa. Tinha que escolher
a pessoa certa. Uma pessoa convincente."
Ele inclinou a cabeça. "Seu pai contestando o pagamento da herança... Isso é algo que eu
preciso me preocupar?"
Eu balancei minha cabeça. Seria mais provável que despendesse um esforço para encobri-
lo do que dar uma rodada de trabalho em seu favor, se um casamento com Grayson Hawthorn
realmente ocorresse. Ainda... "Eu não acho que sim, mas eu aprendi que, quando se tratar do meu pai,
é aconselhável estar atento." Apesar das minhas palavras otimistas um calafrio percorreu minha
espinha.
"Entendo. Então você pretende convencer o seu pai que me viu na rua, se apaixonou
loucamente, e nos casamos em uma semana?"
Eu suspirei. "Ele não vai achar tão difícil. Ele me vê como... impulsiva... inconstante...
irracional".
Seus olhos escuros me olharam especulativamente. "E você é? Você é essas coisas?"
Mordi o lábio. "Impulsiva, sim, eu admito que posso ser. Inconstante, não, eu acho que não.
Irracional... não somos todos às vezes?"
Ele pareceu considerar a minha resposta por um segundo. "Assim, qual vai ser a nossa
história? Esbarramos um no outro aqui em Napa, nos apaixonamos e
nos casamos impulsivamente porque estávamos irracionais - mas não inconstantes – com o novo
amor?"
Eu dei-lhe um pequeno sorriso. "Basicamente. Acho que podemos discutir os detalhes,
então estaremos em sintonia." Meu coração tinha começado a correr novamente. "Então você
concorda? Nós temos um acordo?"
"Se todas as panelas forem para fora uma vez que eu encontrar com o executor, sim, nós
temos um acordo."
Eu balancei a cabeça e soltei um suspiro. "Você não vai se arrepender, Grayson."
"Oh, eu tenho certeza que vou, de uma forma ou de outra, Kira. Mas... tempos
desesperados-"
"Exigem medidas desesperadas. E isso é tão desesperado como obter medidas."
Ele sorriu, piscando-me um conjunto de dentes retos e brancos. Mas o mesmo desprezo que
ele tinha me mostrado mais cedo estava de volta em sua expressão. Ele não me vê como alguém
dando-lhe um presente, mas como alguém obrigando-o a fazer algo que ele não queria fazer. Como se
eu não tivesse lhe dado uma escolha. Bem, isso era bom. Eu não preciso de sua gratidão. Eu
preciso de seu nome. Mas não podia negar a decepção que senti, no entanto. Quando tinha visto ele
na rua no dia anterior, ele parecia... perdido, quebrado, mas ainda compassivo. No entanto, o homem
sentado na minha frente agora era completamente diferente - duro e frio. Eu realmente tinha julgado-o
tão mal?
Como se tivesse lido meus pensamentos, o sorriso desapareceu de seu rosto tão
rapidamente quanto tinha aparecido.
"Há apenas mais algumas coisas que eu acho que devemos discutir brevemente."
"Está bem." Eu cruzei as pernas. Seus olhos seguiram meu movimento, e então ele apertou
a mandíbula e desviou o olhar antes de falar.
"Desde que você está indo viver em minha propriedade e fazendo alguns trabalhos de
contabilidade, acho que deve estar a par sobre a natureza de nossa relação."
"Relação? Eu pensei que estava claro. Estamos casando por dinheiro. Não temos nenhuma
relação."
A natureza deste encontro estranho e afetado destacou esse fato perfeitamente.
"Nós vamos ser sócios. Nada mais."
"Concordo. Enquanto você for discreto, conduza sua vida pessoal como quiser."
"Eu pretendo."
"Bem."
"Bom. Eu não quero que você obtenha quaisquer... ideias fantasiosas sobre este acordo."
Eu levantei uma sobrancelha. "Fantasiosa?"
"Romântica. Imprecisa."
Eu cerrei os dentes. "Sim, você já deixou claro que não sou seu tipo. E eu vou tentar o meu
melhor para não cair em seu charme irresistível e tornar as coisas," estretei os
olhos, "insuportavelmente estranhas."
"Bom."
Eu queria chutá-lo. Independentemente do que mais ele era, ele era obviamente um homem
acostumado a ser perseguido pelo sexo oposto. E, aparentemente, ele achava que eu era algum tipo
de freira, ou ele tinha zero preocupação com a forma como eu conduzia a minha própria vida pessoal.
Mais provável que fosse o último. "O que mais?" Perguntei friamente.
Grayson – daqui em diante referido como O Dragão – estudou-me. Eu não tentei descobrir
o que ele estava pensando. Provavelmente estava tentando determinar se eu seria realmente capaz
de impedir-me de cair de amor por ele. Ele estava ficando mais feio a cada segundo. Réptil
arrogante. "Você mencionou a minha pena. Estou supondo que você conhece a natureza do meu
crime?"
E imediatamente arrefeceu a raiva que eu estava sentindo. Senti calor vasculhar as minhas
bochechas. "Espero que você não me ache demasiada intrusiva, mas achei melhor pesquisar você
antes de fazer a minha oferta."
Ele deu de ombros. "Uma boa decisão de negócios. Você tem dúvidas sobre o que leu
antes, ou podemos avançar? Vou responder às suas perguntas agora, mas eu não pretendo discutir isso
mais tarde."
Eu não conseguia esconder a minha surpresa. "Eu... Bem, pelo que entendi, você teve
que lutar com um homem fora de um bar em San Francisco, e você acertou-o... ah, repetidamente. Ele
caiu e bateu a cabeça e morreu. Foi um acidente. Você não tinha a intenção de matá-lo. Isso
é verdade?" Eu me sentia envergonhada de resumir o que certamente foi uma situação extremamente
preocupante, mesmo agora. Ele tinha ido para a prisão por cinco anos por seu crime.
Ele ficou em silêncio por tanto tempo que eu me perguntei se ele iria responder.
Finalmente, ele disse simplesmente: "É preciso o suficiente." Eu olhei para ele por um momento, mas
seu rosto estava ilegível.
"Prisão deve ter sido... muito difícil para você." Algo passou sobre sua expressão, mas
ele educou-a com passividade antes que eu pudesse tentar nomeá-la.
"Você não tem ideia." Houve um silêncio constrangedor. Mordi o lábio.
"E agora, você é um criminoso."
Ele se inclinou para frente, seu olhar firme, escuro e fixo em mim, seu cheiro masculino
nublando meus sentidos.
"Sim, Kira. Eu sou um criminoso. Eu não posso obter um empréstimo - como você bem
sabe. Minhas opções de emprego são limitadas, para dizer o mínimo. Muitas portas estão fechadas
para mim. Você vai se casar com um criminoso. A filha de Frank Dallaire vai se casar com um
criminoso."
Mais uma razão para ele estender nosso estranhamento, talvez torná-lo permanente. O que
se adaptava a mim muito bem. Mas eu não disse isso. Em vez disso, eu respondi, "Seria difícil para
mim decepcionar meu pai mais do que eu já tenho."
Estudou-me novamente com os olhos de dragão, os que pareciam ver através de mim. "Eu
vou levar sua palavra por isso." Ele de repente se levantou, me assustando um pouco. Eu pulei, e
quase colidimos quando fomos dar um passo adiante. Ele me acalmou, colocando as mãos nos meus
braços. Levantei meus olhos para ele, e quando ele olhou para mim parecia assustado também. "Eu
tenho que ir", disse ele, virando e começando a caminhar em direção à porta.
"Oh, bem," eu disse, seguindo-o. "Só mais uma pergunta, hum, em relação ao
tempo deste arranjo." Eu olhei ao redor do quarto de hotel, calculando rapidamente quantos dias eu
poderia ficar aqui.
Claro que eu também tinha necessidade de contratar um advogado para elaborar um acordo
pré-nupcial com O Dragão, alguém que não tinha conexões com o meu pai. "Eu sei que você
provavelmente quer... bem, a coisa é..."
"Você não tem dinheiro para ficar aqui."
Soltei um suspiro. "Eu tenho, mas não por muito tempo. Especialmente se vou precisar
pagar os honorários do advogado."
Ele ficou na frente da porta, esfregando a parte de trás de seu pescoço. Finalmente, ele
disse: "Arrume sua mala. Você pode vir comigo agora. Vamos arranjar um advogado amanhã.
Mas, Kira", ele virou-se, olhando-me nos olhos, "se isto não funcionar de uma maneira que nós dois
estaremos satisfeitos, vou pedir para sair imediatamente."
Eu balancei a cabeça. "Você não teria que perguntar."
Ele sacudiu a cabeça em um aceno rápido. "Eu vou dar-lhe cinco minutos para fazer as
malas."
‘Sim, senhor, Dragão, senhor’, eu estava tentada a responder sarcasticamente.
Mas fechei meus lábios e apressadamente comecei a fazer as malas.

Trinta minutos mais tarde, eu tinha saído do hotel, e seguia o caminhão preto de
Grayson através das portas de Hawthorn Vineyard.
Eu tinha sido pega de surpresa pela beleza da vinha a primeira vez que vim aqui, e eu
estava tão tomada agora. Enormes carvalhos margeavam a longa entrada de automóveis, a copa de
folhas sombreando nossos veículos quando nós dirigimos abaixo deles. A casa de Hawthorn, ficava
logo atrás de um pátio com uma grande, fonte redonda no centro. Era uma visão de graça e elegância,
e ainda conseguia parecer quente e convidativo ao mesmo tempo. Hera subia do lado da grande
estrutura elegantemente curvada, e forjadas varandas de ferro ladeavam cada janela no andar
superior. Os hectares e hectares de vinhedos criavam um fundo deslumbrante para a casa e os jardins,
e eu pude ver um pequeno bosque de árvores frutíferas à esquerda da casa - pêssegos, talvez, ou
damascos. À primeira vista parecia um exuberante paraíso à espera de ser explorado. Era só quando
você se aproximava que se observava que a fonte não funcionava, que a hera precisava de
cuidado, que o gramado e os jardins circundantes foram abandonados. O jardineiro havia sido
demitido, sem dúvida. Era bonito mesmo assim. Em sua glória este lugar deve ter sido magnífico.
Meus olhos pousaram sobre as colinas de videiras à distância, enquanto eu me perguntava que
variedade de uvas produziam. Imaginei vê-lo restaurado, não apenas por causa de Grayson,
mas pela questão da beleza em si. Um lugar como este não deve ser autorizado a desfazer-se à ruína.
Pensei que vovó concordaria. Mas então empurrei o pensamento da minha avó de lado, por enquanto.
Não, ela não gostaria de ver este belo vinhedo no lugar que ela tanto amava desfazer-se à ruína, mas
ela também rolaria em seu túmulo se soubesse que eu estava casando por dinheiro. Eu era uma
mulher que se casaria com um completo estranho por dinheiro. Era eu. Desespero encheu meu peito
momentaneamente. Eu teria que acrescentar esse detalhe sobre mim mesma agora, e isso trouxe outra
pequena medida de auto-aversão.
Grayson encostou o caminhão antes de irmos ao redor da fonte, e eu encostei atrás dele.
Apenas notei uma pequena casa à direita, parcialmente escondida atrás de um grande carvalho e da
abandonada folhagem. Ele tinha chamado de casa do jardineiro, mas muito provavelmente qualquer
jardineiro que tinha trabalhado aqui recentemente não tinha vivido na propriedade, e tinha usado esta
"casa" estritamente para armazenamento de equipamentos. Ainda assim havia algo estranho nela,
meio escondida como era, e coberta de glicínias. Saí do meu carro e Grayson fez o mesmo, andando
na minha direção. Havia um brilho de diabólico desafio em sua expressão. Ele espera que eu
recusasse as acomodações? Provavelmente. Certamente ele me viu como todos os outros fazem, uma
princesa mimada, uma filhinha de papai que viveu uma existência fútil e inútil. E agora ele estava
indo se divertir um pouco comigo. Mas o que me importa o que ele pensava? Dentro de alguns
meses eu nunca o veria novamente. Nossos advogados poderiam lidar com um processo de divórcio
extremamente simples, e eu não pensaria nele novamente. E vice-versa, eu tinha certeza.
Segui Grayson para a porta da casa onde se mudaram as grandes e viostosas flores
de glicínias roxas de lado, e ele abriu-a sem a chave. Inalei um grande fôlego das flores do vinhedo e
entrei. Bom. Velho. Obviamente equipamentos de jardinagem não utilizados enchiam a sala da
frente. Era empoeirada, suja, e cheirava a mofo e óleo de motor. Eu lutei meu caminho através
de teias de aranha e entrei no segundo quarto, ou o que tinha sido um quarto e agora só tinha uma
pequena cama de metal com molas enferrujadas.
"Eu vou ter Charlotte para lhe trazer alguns cobertores e um travesseiro, é claro", disse
Grayson atrás de mim. Eu me virei e olhei para ele. Era diversão em seus olhos? Sim, era. Seu lábio
tremeu como se ele estivesse tentando controlar um sorriso que queria estourar. Pensou que
fosse engraçado, não é? Bem, o que ele não sabia era que as acomodações que eu estava mantendo o
ano passado eram muito piores do que esta. Para as pessoas com quem eu estava vivendo, este seria
um castelo.
"Eu vou tomar banho na fonte, suponho?" Eu perguntei, sorrindo docemente para ele.
"A fonte não funciona. Aqui a água é corrente. Só fria, no entanto, e não quente. Isso não
será um problema, não é?"
"Nããão," eu disse lentamente. "Um bom banho frio revigora uma pessoa, eu acho. Eu
prefiro duchas frias, na verdade."
O dragão escamoso pareceu considerar isso. "Eu aposto que você faz", ele finalmente
disse, inclinando o estreito quadril no batente da porta enquanto me observava. Que bom para ele
que estava se divertindo tanto. Eu nunca iria recuar agora. Eu dormiria no chão empoeirado neste
barraco se isso significava tirar o melhor de Grayson Hawthorn.
"Existe uma cozinha? Um lugar que eu poderia comer as cascas de pão que você vai me
jogar?" Perguntei. "Depois que eu der a você sua porção da minha herança, é claro.”
"Não, você vai ter que comer na casa principal. Vou dizer a Charlotte para espera-
la para jantar", disse ele, ignorando a segunda parte da minha pergunta. Lembrei-me de
Charlotte naquela manhã - uma gorda mulher de aparência doce e cabelos grisalhos.
"Você estará lá?"
"Não. Eu estarei fora." Silêncio. Okaaaaay.
"Quem você dirá a Charlotte que sou, exatamente?"
"Eu vou dizer Charlotte e seu marido, Walter, a verdade. Eles me conhecem toda a minha
vida. Eles são o epítome da discrição." A ansiedade me agrediu, e meu coração acelerou com o
pensamento de que sua governanta saberia que nosso casamento era falso. Mas decidi confiar em
sua epítome da descrição. Além disso, não haveria nenhuma maneira de fingir que tinha caído no
amor quando ainda ontem eu não existia na vida de Grayson. E eles sabiam muito bem disso.
Eu desejei que isso fosse algo que eu pudesse fazer por minha conta, mas não era. Eu
precisava dele.
"Eu vejo. Está bem." Olhei ao redor da casa de campo de novo, me distraindo com uma
avaliação do espaço. "Bem, existem alguns contras definidos, mas há prós, também."
Ele franziu o cenho, mas assentiu com a cabeça uma vez e, em seguida, virou-se para sair.
"O jantar é às sete e meia." Que seria em menos de uma hora. Acho que começaria a limpar este
lugar, tanto quanto possível.
Grayson voltou para dentro alguns minutos depois, trazendo minha mala e, em seguida,
virou-se para sair.
De repente ele parou, e eu pensei que ele me diria que tinha brincado sobre este lugar.
Em vez disso, ele disse friamente, "A propósito, eu absolutamente proíbo o uso de drogas
em minha propriedade. Se eu achar que você as trouxe aqui, nosso negócio está cancelado."
Eu gaguejei, tentando achar uma resposta, mas antes que eu pudesse chegar a qualquer
coisa ele se virou e saiu, fechando a porta atrás de si. Um segundo depois, ouvi seu caminhão rugir
para a vida e distanciar-se.
Claramente ele me pesquisou e leu sobre a "situação" em que eu estive um ano atrás.
Tarde demais, peguei uma lata de refrigerante vazia do chão e atirei-a à porta fechada.
Vil serpente! Eu deveria acabar com esta farsa imediatamente. Como ele ousa tratar-me assim depois
que eu tinha feito-lhe a oferta mais generosa de sua vida escamosa? Sua arrogância não conhecia
limites. E ele tinha julgado que eu era uma criança mimada. Uma pirralha mimada e drogada. Mas
sob minha raiva havia uma sensação inegável de vergonha e tristeza. Isto vale a pena? Deus, eu
tinha que acreditar que valeria. Algum dia.
Capítulo Quatro
Grayson
Ela manteve-se como se realmente estivesse indo viver naquela cabana pequena e suja. Eu
sorri para mim mesmo, perguntando-me quanto tempo levaria para ela vir correndo à casa principal
me dizendo que não havia maneira no inferno que ela ficaria lá. Quinze minutos? No jantar, no
máximo. Eu tive que dar-lhe uma grande medida de respeito, no entanto. Ela tinha jogado junto com a
piada. Eu esperava ultraje, pé pisoteando, respiração suspensa, possivelmente. Mas a bruxinha tinha
um pouco mais de coragem do que eu pensava originalmente. E eu não tive tanta diversão... em um
tempo muito longo. Eu nem queria rir por um minuto lá. Eu não tinha percebido o quão estranho esse
sentimento tornou-se até a diversão subir pela minha garganta.
Eu tomei um banho rápido, troquei de roupa e desci para avisar Charlotte que haveria um
convidado para o jantar. Quando eu entrei, a cozinha estava perfumada com o aroma de
estrogonofe de carne. Talvez eu fosse ficar para comer o jantar, depois de tudo.
"Bela noite, não é?" Charlotte perguntou, sorrindo radiante para mim.
Peguei uma cerveja da geladeira, abri e tomei metade da garrafa antes de grunhir
uma resposta afirmativa. "Eu tenho algo para falar com você."
Ela parou de mexer e me olhou. "Isso soa ameaçador."
Eu balancei a cabeça, tomando outro gole da cerveja gelada. "Para mim, sim, mas não para
você."
"Você sabe que qualquer coisa que afete negativamente você me afeta também, Gray," ela
disse suavemente. Um pequeno canto do meu coração, a parte que ainda vivia, pulsou com pesar.
"Eu sei, Charlotte."
"Então o que é? Basta dizê-lo."
"Vou me casar. Provavelmente."
A colher caiu no fogão, e Charlotte levou as mãos à boca. "Você engravidou alguém.
Oh, Gray!"
Engasguei com o gole de cerveja que eu tinha acabado de tomar. "Não, Deus não".
"E então? Por quê? Quem?" Charlotte estalou.
Eu dei a Charlotte os fatos nus que Kira tinha me apresentado em meu escritório naquela
manhã. Mesmo depois de um dia inteiro para pensar sobre o assunto, ainda parecia loucura. Insano.
"Os fatos não foram confirmados, ainda. Mas ela estará aqui para o jantar, então eu queria que você
soubesse. Na verdade, ela ficará aqui por enquanto."
O rosto de Charlotte era um estudo de desaprovação. Ela claramente odiava essa idéia.
"Casar por dinheiro, Gray? Não, eu não quero isso para você. E será que esta menina não tem ética?
Você merece mais. Você merece-"
"É temporário, ok? Se acabar sendo como disse Kira, vai ser uma coisa boa para
esta vinha. E, francamente, é minha última esperança." Eu defini meu queixo, sem vontade de discutir
sobre isso com Charlotte. "Você conhece minha situação."
"Sim, mas... temporário? O casamento não é temporário. O casamento não é um negócio –
uma questão de contratos e negociações. O casamento é sagrado, um voto sagrado de amar para
sempre."
Eu bufei. Charlotte sabia que tinha pouco ou nenhum respeito pela santidade do matrimônio
depois de testemunhar a natureza frígida de meu próprio pai e madrasta sobre a ‘felicidade conjugal’.
"A maioria das pessoas não são como você e Walter, Charlotte. Basta olhar para Jessica e Ford
Hawthorn."
Ternura preencheu a expressão de Charlotte quando ela se aproximou de mim. Ela levou
um momento, parecendo escolher suas palavras. "Gray, eu sei que desde que você chegou em casa as
coisas mudaram tanto, e tudo tem sido tão difícil para você. Eu sei que você se culpa... por tudo isso.
E você mudou, Gray. Você não sorri - apenas trabalha. Você desligou. Mas esta não é a resposta para
seus problemas. Não pode ser. Eu não posso deixar você fazer isso -"
Eu coloquei a garrafa de cerveja vazia sobre a bancada de mármore, o vidro
tilintando ruidosamente, a raiva e desamparo enchendo meu peito. Eu não precisava do somatório
do que eu havia me tornado para Charlotte. Quem eu tinha sido forçado a me tornar. Eu vivia
comigo mesmo a cada segundo de cada dia. "Você é a minha governanta, Charlotte, não é minha mãe.
Eu não vou discutir mais isso. Coloque outro prato."
Mágoa brilhou nos olhos de Charlotte, mas ela apertou os lábios, voltando-se para o fogão
e resmungando algo que eu não podia ouvir, e que não me importava. Charlotte era tão
suave quanto seu marido era rígido.
"Você vai ficar para o jantar, é claro", disse Charlotte sem se virar, quando eu comecei a
deixar o cozinha, "para nos apresentar à sua futura esposa."
Parei, a palavra "esposa" fazendo-me sacudir ligeiramente. Eu preferia muito mais
"parceira de negócios" quando se tratava de Kira. Claro, Charlotte estava, propositalmente, tentando
me assustar, tentando deixar claro o que eu estava considerando. Eu não tinha planejado jantar em
casa, mas disse: "Claro." Eu daria a Charlotte pelo menos isso.
Eu me fechei no meu escritório e abri o site do cartório de Napa Valley. Lá não
havia período de espera para se casar. Precisavamos somente marcar hora e aparecer com uma
testemunha, ou usar uma fornecida por eles. Esperemos que Kira não tenha problema para
fazer rapidamente uma consulta com o executor de sua confiança. Quanto mais cedo tivermos esse
falso casamento começado, mais cedo acabaríamos com este falso casamento e poderíamos continuar
com nossas vidas.
Eu vasculhei meu e-mail, colocando as contas de lado. Pela primeira vez em meses, não
tremi na pilha muito grande. Se isso funcionar... Se isso funcionar, eu poderia pagar todas elas. Eu
não me permiti pensar sobre os detalhes, no entanto, até que tudo tenha sido confirmado. Parei
quando vi uma carta pessoal para mim, reconhecendo a letra feminina imediatamente. Meu peito
apertou momentaneamente antes de eu ter minha oportunidade de aço. Curiosidade picou em minha
mente, mas eu joguei a carta de lado. Não havia mais nada que ela pudesse dizer que mudaria alguma
coisa. Eu não tinha necessidade de ouvir suas palavras lamentáveis ​de explicação ou pedido de
desculpas.
"Deus amaldiçoe você, Vanessa", eu sussurrei, inclinando os cotovelos sobre a mesa
e segurando minha cabeça em minhas mãos por alguns instantes.
Agora eu realmente queria sair daqui e queimar algumas calorias. Em vez disso, eu
tinha que jantar com uma estranha que poderia muito bem ser minha esposa em um curto espaço de
tempo. Charlotte estava certa. Esta foi uma idéia terrível.
Ridícula. Não importava em que capacidade deixei-as entrar, de alguma forma as mulheres
sempre arranjavam um jeito de estragar minha vida. E o xis da questão era que Kira Dallaire iria
acabar por ser a pior de todas. Ela seria um constante lembrete vergonhoso de quão longe eu tinha
caído. Uma lembrança constante do que eu tinha sido reduzido: casar-me com
uma estranha por dinheiro. Se eu pudesse encontrar qualquer humor nele em tudo, eu riria da minha
própria situação lamentável. Eu riria do fato de que estava mesmo considerando essa insanidade.
Poucos minutos depois ouvi a campainha. Eu terminei o que estava fazendo, sabendo sem
dúvida que Walter responderia a porta em seu comportamento formalmente frio e sem brincadeiras.
Claro que, se alguém estava acostumada a lidar com empregados essa era, sem dúvida, Kira
Dallaire. Ela provavelmente usou um enxame deles para fazer suas vontade e todos os seus
caprichos.
Quando eu finalmente fiz o meu caminho para a cozinha, Kira estava sentada à
grande e bem-arrumada mesa de jantar, um copo de vinho na sua frente. Ela estava usando jeans e
uma camisa verde-profundo. Seu cabelo estava puxado para trás tão severamente como naquela
manhã. Tinha sido apenas algumas horas atrás?
Parecia mais uma década.
Charlotte estava se movendo em torno da cozinha, ignorando-a. Ela se dirigiu a mim,
sem me olhar, "Eu não limpei a sala de jantar hoje porque não sabia que haveria um convidado." Ela
lançou um desdenhoso olhar para Kira. "Espero que comer na cozinha encontre sua aprovação,
senhor." Ela colocou ênfase no ‘senhor’, obviamente tentando me fazer sentir
culpado por me referir a ela como nada mais do que uma governanta, mais cedo.
"Você sabe que eu não gosto de comer na sala de jantar de qualquer maneira, Charlotte.
Isso está bom." Sentei-me a mesa, balançando a cabeça uma vez para Kira e tomando um gole da
minha água.
"Você não bebe vinho?" ela perguntou.
"Só às vezes."
"Não é incomum para alguém que dirige uma adega?"
"Eu suponho." Ela ficou olhando para mim, mas quando eu não continuei, ela desviou o
olhar, apreciando a cozinha.
"Esta cozinha é realmente bonita", disse ela baixinho.
Antes que eu pudesse responder, Charlotte colocou um prato na frente de Kira, um pouco
mais duro do que o necessário, eu observei, fazendo uma pequena dose de molho espirrar em cima da
mesa. Ela entregou meu prato do mesmo modo, virando o nariz enquanto se afastava. Sem reconhecê-
la, comecei a comer. Charlotte começou a fazer barulho em torno da cozinha, ignorando nós
dois. Barulho de outros pratos sendo manipulados, seguido de um silêncio constrangedor... que
continuou... e depois continuou mais um pouco.
O relógio na parede da cozinha badalava em alto e bom som, e os únicos outros
sons eram Charlotte lavando pratos com raiva e nossos garfos batendo nos pratos de vez em quando.
Notei Kira deslocando-se em seu assento, e a olhei até ver um rubor em suas bochechas. Ela chamou
minha atenção.
"Você já foi à África?" ela perguntou de repente.
África? Eu abri minha boca para responder, mas ela falou primeiro. Aparentemente a
questão tinha sido retórica. "Quênia, especificamente. Eles tem um maravilhoso costume de boas-
vindas lá. Os guerreiros da tribo, vestindo seus trajes mais vibrantes, fazem o que é chamado de
dança de salto. Todos eles formavam um círculo e competem para saltar mais alto, o que demonstra a
seus hóspedes a força e a bravura de sua tribo. É magnifico! As alturas que alguns deles
podem saltar, é irreal." Uma mecha caiu solta de seu cabelo puxado pra trás, mas ela ignorou-a,
levando uma mordida grande de estrogonofe e não se preocupando em engolir antes de continuar. "Eu
só estava pensando num funcionamento para seu dinheiro, que você poderia dar-lhes o acolhedor
costume Hawthorn, no entanto. É reconfortante. Eu não posso te dizer o quão confortável você me fez
sentir. Claro, no Quênia você também podia esperar um coquetel misto de leite e sangue de
vaca, que faz parte de sua saudação, de modo que isso derruba alguns pontos para eles. Ainda -"
Eu coloquei meu garfo para baixo. "Você terminou?"
Faíscas pareciam brilhar em seus olhos quando ela encontrou meu olhar. "Não realmente.
Por quê?" Uma sacudida lanceou minha coluna naquelas faíscas, fazendo seus grandes olhos verdes
brilharem de indignação. Mas então ela tomou um casual gole de vinho e voltou para sua refeição.
Olhei para Charlotte e jurei que vi um lado do lábio dela contrair antes dela se afastar.
Eu apertei minha mandíbula na resposta sarcástica de Kira, mas tinha que admitir que ela
estava certa. Fomos rudes com ela. Eu estava de mau humor. Mas ela realmente não tinha feito nada
de errado. Eu não gostava dela... ou em vez disso, eu não gostava de seu tipo, e sua existência em
minha casa era um lembrete gritante das muitas maneiras que eu tinha falhado. Mas isso não
significava que eu não poderia ser civilizado. Ela também estava apresentando uma saída. Eu não
agiria como se ela estivesse me fazendo um favor enorme, apesar do dinheiro, no entanto. E eu não
fingiria que gostava desta situação - ou que não éramos parceiros neste negócio desagradável. Nós
dois estávamos fazendo um sacrifício aqui. Ela estava entregando o equivalente a um monte de
dinheiro para mim, mas ela iria interromper minha vida para os próximos meses, no próximo ano
ou talvez mais, quando se tratasse de impostos. Eu veria seu nome nos formulários para o resto da
minha vida... Mas, nós seríamos sócios civis. Ela tinha ido muito bem até agora. Eu tive até um
pouco de diversão antes, com a coisa toda da casa de campo do jardineiro. Que, vamos lembrar,
ela não tinha falado ainda.
"Devemos discutir-"
"O fato de que você é da prole dos lagarto cuspidores de fogo? Eu já percebi isso."
Charlotte bufou da cozinha, mas cobriu o som com o estrondo de um pote.
"Ouça, Kira-"
"Não, você escuta, Grayson." Mais cabelo caiu para emoldurar seu rosto quando ela
bateu seu pequeno punho na mesa e olhou para mim, os olhos de bruxa piscando novamente,
aquecendo meu sangue, demais até, para meu próprio desespero.
"Eu estou fazendo-lhe uma oferta muito generosa aqui. Se isso vai funcionar, eu me recuso
a deixar você me tratar como tem feito até agora. Garanto que, com as suas credenciais, você não vai
receber uma oferta melhor que a minha. Continue a tratar-me como você tem feito e eu vou sair
e levar a minha herança comigo."
Raiva percorria o meu sangue, e eu bati o meu próprio punho na mesa. Tive a satisfação
de ver Kira saltar um pouco. "Se isso vai funcionar, eu não vou ser tratado como se você
estivesse com pena de mim, e como se eu não esticesse fazendo tanto sacrifício quanto você está," Eu
cerrei fora. "Você acha que eu tenho algum desejo de casar com você ou qualquer outra pessoa?"
"Não, eu imagino que você seja tão capaz de monogamia como um cão vadio. Não que isso
tenha algo a ver comigo."
Como se de uma grande distância, ouvi Charlotte tossir novamente.
Apertei os olhos em fendas. "Exatamente. Você acha que eu estaria fazendo isso se eu não
estivesse completamente desesperado, e se você não fosse minha. Última. Opção? Então jogue o
dinheiro na minha cara, se quiser, mas não aja como se você não precisasse de mim também. Não aja
como se você não estivesse tão desesperada quanto eu estou. E não finja que eu sou sua melhor e
única perspectiva. Você mesmo disse. Para alguém que veio aqui implorando, você seria sábia de me
tratar com algum respeito."
Seu rosto inflamou-se com ainda mais cor. "Implorando?" ela assobiou.
"Implorando?" Pesadas cascatas de fogo escuro caíram em torno de seu rosto quando seu
cabelo soltou-se completamente de tudo que ela estava usando para prendê-lo. Eu quase perdi o
fôlego. Eu não tinha percebido que ela tinha tanto dele. Ele cercou seu rosto e girou em torno dos
ombros, parecendo como se fosse até a metade das costas.
Ela levantou-se devagar, e eu o fiz também, até que nós dois estávamos encarando um ao
outro em toda a extensão da mesa da cozinha. O ar entre nós crepitava com... alguma coisa, o calor
no ar praticamente cintilando. E, estranhamente, esse calor formigando agora estava dançando
através do meu sangue em um desabrochado desempenho muito parecido com a dança de boas-
vindas africana que Kira tinha descrito, fazendo-me sentir... vivo.
"Eu estava louca por vir aqui. Isso", ela acenou entre nós, "é uma loucura. Nunca vai
funcionar. Nós deveríamos cancelar tudo. Eu poderia encontrar alguém para
casar. Não consigo imaginar por que escolhi você. Acho que você... é extremamente difícil de
gostar."
"Eu concordo. É ridículo. E vice-versa."
"Bom. Isso está fora", ela sussurrou.
"Bom", eu rosnei. Nós encaramos um ao outro, seus olhos dançando com fogo furioso. E
por que o diabos eu gostei tanto disso? Depois de vários momentos tensos e aquecidos eu fiz um
esforço consciente para controlar minha respiração, levantando uma sobrancelha para ela. "E por
falar nisso, da próxima vez que você se oferecer para casar com alguém, deveria tentar ser um pouco
mais mansa. Um homem gosta de alguma obediência em sua mulher."
Mais fogo brilhou em seus olhos, e outra emoção inegável chutou abaixo na minha espinha.
"Charlotte", ela disse de repente, muito docemente. "Você tem uma caneta e papel para me
emprestar?"
"Oh sim," Charlotte disse, pegando uma caneta e um bloco de papel da gaveta e
praticamente correndo a Kira, como se ela estivesse de repente ao seu dispor.
Eu assisti Kira de perto, esperando para ver o que ela faria a seguir.
Kira sorriu educadamente para Charlotte e, em seguida, destampou a caneta com cuidado,
colocando-a no final com deliberada lentidão, e, em seguida, segurou o bloco de papel, a caneta
suspensa perto dele. "O que foi isso agora? Eu quero ter certeza de obter cada palavra do sábio
conselho", disse ela, estendendo-se a palavra cada. "Mansa, sim? Isso tem duplo ‘e’ ou é ‘ea’?1 Eu
nunca consigo me lembrar."
Eu a olhava através de cílios abaixados, resistindo à vontade de rir de sua exibição
ridícula de sarcasmo. "Eu não me preocuparia tanto com a ortografia da palavra quanto em abraçar
o conceito."
"Hmm," ela cantarolou. "E obediente, você disse?"
"Sim."
"Obediente - sim." Ela fez uma grande marca de verificação no papel. "E?"
"Sua língua afiada - que será uma desilusão para futuros maridos."
Ela fingiu escrever isso. "Língua afiada - nenhuma." Ela marcou um grande X no papel.
"Qual outra coisa?"
Nos entreolhamos por alguns segundos tensos, sua expressão uma falsa aparência
de intenso interesse, e a minha com um leve sorriso. A verdade era que eu nem sabia se os aspectos
jurídicos do falso casamento que ela tinha proposto eram legítimos. Mas falar em cancelá-lo antes de
sequer saber causava uma lança de decepção através do meu corpo. Eu odiava a idéia, odiava a
língua ferina da pequena bruxa em pé na minha frente, odiava que, na realidade, ela tinha mais poder
nesta situação do que eu... mas, ao mesmo tempo, essa era a primeira coisa em muito tempo que tinha
me dado alguma esperança. E eu não tinha percebido até aquele momento quão doce
esperança eu provei. Desviei o olhar primeiro, quebrando a intensidade fluindo entre nós, mas ela
foi a primeira que falou quando colocou a caneta e papel na mesa. "Ouça, esta situação
é... incomum, para dizer o mínimo." Ela parou de novo, e eu olhei de volta para ela. A faísca
tinha abandonado seus olhos, como se a ideia de chamá-la não era exatamente o que ela queria
também. "Eu liguei para o executor da minha herança antes de entrar aqui. Ele pode nos ver no final
do dia de amanhã. Talvez nós poderíamos encontrar uma forma de conviver pelo menos até que
tenhamos apurado que tudo é como eu já disse. E então poderemos tomar uma decisão final a partir
daí."
"Eu posso concordar com isso."
Ela respirou fundo. "Ok, está bom." Ela estendeu a mão. "Trégua?" Ela arqueou uma
sobrancelha. Eu olhei para a mão dela e estendi a minha própria do outro lado da mesa.
"Trégua. Venha aqui, e nós podemos agitar."
"Você vem aqui", ela desafiou.
Eu sorri lentamente. "Nos encontramos no meio."
Ela estreitou os olhos, mas acenou com a cabeça, afastando-se de sua cadeira. Afastei-me
da minha, e nos encontramos ao lado do centro da mesa grande. Eu peguei sua mão quente na minha e
apertei-a, enquanto considerávamos um ao outro cautelosamente. Finalmente ela sorriu, e eu sorri em
troca. Ela retornou o seu lugar, e assim eu fiz também. Quando Charlotte veio para encher de vinho o
copo de Kira, ela não olhou para ela com desdém, mas com uma curiosidade cautelosa. Interessante
que, de alguma forma, a nossa luta congraçou Kira para Charlotte. As mulheres eram um mistério
para mim. Kira deu a Charlotte um pequeno sorriso e agradeceu-lhe pela refeição deliciosa.
"Gostaria de ver o resto da casa?" Eu perguntei, tentando fazer uma pequena oferta de paz.
Kira olhou surpresa, mas balançou a cabeça afirmativamente. Nós nos levantamos da
mesa, e Kira agradeceu Charlotte pelo jantar. Charlotte deu um sorriso que parecia genuíno, mas não
me ofereceu um.
Eu trouxe Kira de volta para o saguão principal e começamos a partir daí. "Meu pai
teve esse lugar projetado para imitar um castelo francês."
Kira acenou com a cabeça quando entramos na sala de estar formal. "Ele realmente faz.
Isso me lembra, em uma escala menor, de castelo de conto de fadas. Há alguma
coisa... encantadora sobre ele." Ela engasgou quando avistou a grande janela com vista para a parte
de trás da casa. A piscina estava diretamente abaixo de um conjunto de etapas, e fora de um pátio de
pedra natural. No entanto, sua cabeça se levantou, e eu sabia que ela estava olhando para a
sebe do labirinto pouco além disso. Ela girou em minha direção. "É um labirinto!" ela engasgou. "E é
enorme."
Cerrei minha mandíbula como faço a cada vez que olho para aquela coisa odiosa.
"Está completamente abandonado. Se eu tivesse dinheiro extra o teria cortado quando voltei."
"Oh, por quê?" ela engasgou. "É incrível! Eu posso ir lá dentro em algum momento-?"
"Não. Absolutamente não." Eu suavizei meu tom, embora quando eu disse: "não é seguro."
ela não soubesse por que eu odiava o lugar, e ela nunca saberia. Mas eu tinha falado a
verdade - tinha muito mato para ser seguro.
Ela estava me estudando com aqueles olhos brilhantes, penetrantes. Eu podia senti-los no
lado do meu rosto. Quando fiz o contato de olho, ela levantou uma sobrancelha delicada. "O coração
do seu covil, suponho?" Ela sorriu lindamente. "Onde você era... chocado?" Apertei os olhos, e
tentei dar-lhe um olhar mordaz, mas sabia que ela estava brincando, e eu não pude resistir o sorriso
que fez seu caminho para os meus lábios. Eu ri suavemente.
"Possivelmente." Levantei minha própria testa. "Mas, falando sério, fique longe dele."
Após uma breve pausa, Kira desviou o olhar e deu de ombros. "Bem, tudo bem, é a sua
casa."
Levei-a através das salas, uma por uma, e observei a reação dela. Esta casa tinha sido
uma peça de mostruário uma vez, mas sinais de negligência estavam por toda parte agora. Apesar
da mobília agora esparsa, Charlotte era apenas uma pessoa, e dificilmente podia manter a coisa toda
impecável como tinha sido uma vez.
Quando eu disse isso, Kira olhou para mim e disse: "Você cresceu em uma vida de
privilégio." Eu sabia o que ela não estava dizendo: eu tinha agido como se ela fosse a única pessoa
que tinha conhecido luxo.
"Privilégio não é definido apenas pela riqueza material, Kira. Eu cresci em uma bela casa
com muitos contratados para ajudar, mas posso assegurar-lhe que nunca vivi uma vida de privilégio.
Para todos os efeitos, eu nunca tive quaisquer pais em tudo."
Ela inclinou a cabeça, confusão enchendo sua expressão. "O que isso significa, Grayson?"
Eu balancei minha cabeça. "Os detalhes da minha dinâmica familiar não importam. Basta
dizer que eu estou acostumado a trabalho duro, e que não vou deixar um dólar do dinheiro que você
está tão generosamente me oferecendo ir para o lixo. De fato, estou considerando o dinheiro que você
está me dando um empréstimo. Uma vez que a vinha estiver trazendo algum lucro, eu vou pagar
você de volta."
Ela ficou em silêncio por um momento. Finalmente, ela simplesmente assentiu. "Nós não
precisamos colocar isso na papelada, mas você deve escolher..." Ela acenou com a mão no ar como
se eu pudesse fazer o que quisesse nessa frente. Interessante. Eu não tinha certeza do que
pensar de sua resposta.
Quando nós caminhamos através do corredor no andar de cima, Kira parou na imagem de
meu pai e madrasta. "Eles já faleceram?" Ela perguntou baixinho, olhando de volta para mim.
Eu balancei minha cabeça. "Só o meu pai. Minha madrasta vive em San Francisco."
Ela virou-se lentamente em minha direção. "Será que ela não tem nenhum interesse em
ajudar com o vinhedo de seu marido? Ou ela não tem os meios financeiros-?"
"Ela tem muito dinheiro. Mas meu pai deixou esta vinha para mim. Eu não vou
pedir à minha madrasta um centavo do dinheiro que meu pai deixou para ela. Não temos nenhuma
relação, e nunca teremos." Eu deveria tolerar quando sua própria mãe não poderia ser até mesmo
chateada? Ela me perguntou quando eu tinha doze anos. Eu ainda podia ouvir suas palavras frias
ecoando na minha cabeça. "Eu prefiro... Bem, eu prefiro me casar com uma estranha para ter o
dinheiro antes de ir para ela por um empréstimo." Eu dei-lhe um sorriso irônico, mas ela não sorriu
de volta. "De qualquer forma, é o voto que fiz ao meu pai. É para eu cumprir."
Ela olhou para mim, inclinando a cabeça. "Eu entendo de votos, Grayson. Eu os fiz,
também. Eu jurei nunca mais depender de meu pai." Ela voltou para a foto e olhou para ela por um
longo minuto.
"Você deve parecer com a sua mãe", disse ela, obviamente notando a coloração muito leve
do meu pai.
"Sim, para desespero de todos," eu disse. Ela olhou para mim, mas não questionou essa
observação enigmática. Eu não sabia por que tinha feito isso. Eu não
queria que ela questionasse sobre a minha vida.
Ela olhou de volta para a parede de fotos, inclinando-se mais perto de uma. Estudei seu
perfil, o declive reto de seu nariz pequeno, a curva suave de sua mandíbula, a ondulação suave de
seus cílios, e por muito tempo, seu sedoso cabelo caindo em volta do rosto e nas costas. "Você tem
um irmão", disse ela, olhando para o foto de Shane e eu.
"Sim."
"Ele mora perto?"
"Não, ele vive em San Diego."
"Vocês são próximos?"
"Eu não falei com meu irmão em mais de cinco anos."
Ela se virou para mim novamente. "Oh, eu sinto muito."
"Não sinta," eu disse, minha voz cortante quando a levei embora antes que ela
pudesse fazer mais perguntas intrusivas. Eu já estava me sentindo muito desconfortável com esta
turnê. E eu não poderia culpá-la - tinha sido minha própria idéia.
"Bem, eu vou deixar você com Charlotte. Ela vai estabelecê-la em um quarto. Eu vou sair",
eu disse com desdém, uma vez que tinha descido as escadas.
Ela pareceu confusa por um segundo. "Sim, bem, bem, obrigada. Tenha uma boa noite."
Eu balancei a cabeça bruscamente e comecei a me afastar, estreitando meus olhos quando a
ouvi sussurrar. Eu virei-me de costas e caminhei em direção a ela. "Você está cantarolando 'Puff The
Magic Dragon'?"
Seus olhos piscaram, parecendo grandes e inocentes. Um ato claro. "Esse é o nome dessa
música? Eu nunca soube, ou quem exatamente viveu em Honali, apenas a melodia na maior
parte." Ela deu de ombros.
Eu olhei para ela por um longo momento. Ela segurou o contato visual comigo, e o
pequeno queixo inclinou-se. O ar zumbia, alfinetadas de consciência batiam em minha pele.
Finalmente - acabando com seu pequeno jogo – virei-me novamente, deixando-a sozinha no
vestíbulo.
Capítulo Cinco
Kira
Deus, aquele dragão correu quente e frio. Como répteis tendem a fazer, eu acho. Eu quase
preferia o fogo que ele atirou-me ao ato gelado que ele vestiu quando terminou com um certo tópico
da conversa, ou quando ele olhou para mim com desdém frígido. Não compreendia exatamente como
sabia que a frieza era um ato, mas eu fiz. No fundo, ele era todo dragão. Mal contendo o calor... e,
provavelmente, a paixão também. Eu tremi. Eu não pensaria em Grayson Hawthorn nesses termos. Eu
só iria me queimar. Eu não era o seu "tipo", ou o que quer que seja.
Eu respirei fundo, meus olhos remanescentes nas palavras ricamente esculpidas na pedra
acima da entrada: In Vino Veritas. Eu teria que procurar. Voltei para a cozinha, onde encontrei
Charlotte ainda limpando o balcão. Ela olhou para cima e me ofereceu um sorriso - um cumprimento
muito mais quente do que ela tinha me dado mais cedo esta noite.
"Você gostaria de um pouco de café?"
"Oh, com certeza", sorri, "mas só se você se juntar a mim?"
Charlotte hesitou, mas acenou com a cabeça. Sentei-me num banco no balcão enquanto
ela servia dois copos e, em seguida, colocava um em frente a mim com creme e açúcar. Ela
também colocou uma travessa com torta e dois pratos com utensílios ao lado dela, e sentou-se com
sua própria caneca.
"Grayson saiu", eu disse, tomando um gole de café.
Seus lábios se uniram em uma linha reta. "Sim, eu ouvi. Torta salgada de caramelo?" ela
perguntou, cortando um enorme pedaço e estatelando-o em um prato.
"Oh, hm, tudo bem." Eu hesitei quando ela deslizou o prato em frente a mim, os deliciosos
aromas de caramelo e creme doce flutuando ao meu nariz. "Eu sei que esta situação provavelmente
parece..." Eu balancei a cabeça, procurando uma palavra que não fosse ridícula, desaconselhável,
desastrosa.
Imoral.
"Incomum", foi a palavra que eu finalmente soltei a Charlotte.
"Sim, é verdade", disse ela, cortando sua própria fatia de torta. Apesar de seu acordo, ela
sorriu. "Eu esperava mais para Gray. Sem ofensa a você. Você parece ser uma menina espirituosa. Eu
apenas... eu esperava que ele casaria por amor, é claro."
"Claro." Não pude deixar de corar. Eu esperava casar-me por amor algum dia, também.
"Você se importa muito com ele." Eu dei uma mordida de torta, os sabores doces e salgados
estourando em minha língua. Eu tentei não deixar meus olhos rolarem para a parte de trás da minha
cabeça.
Ela assentiu com a cabeça. "Eu tenho trabalhado aqui desde que Gray caiu fora..." ela
parecia ter capturado a si mesma, "isto é, desde que Gray veio morar aqui."
Eu queria me intrometer e perguntar o que ela quis dizer com "caiu fora", mas não o fiz.
Esta era a primeira vez que eu estava tendo uma conversa com a mulher. Não queria parecer
uma intrometida.
"Mas, é claro", continuou ela, "Eu entendo porque a sua oferta parece atraente para
Grayson. Ele," ela balançou a cabeça de novo, parecendo muito triste, "não vai
parar por nada até trazer esta vinha de volta ao que foi uma vez."
"É o seu legado de família", eu disse. "Eu não posso culpá-lo."
Ela assentiu com a cabeça, seus olhos encontrando os meus novamente, seus pensamentos
parecendo retornar de algum lugar distante. "E quanto a você? Será que não existem outras
opções melhores do que esta?"
"Esta parece ser a minha melhor opção no momento," eu disse calmamente, por alguma
razão sentindo vergonha em frente a esta mulher de rosto doce, mais velha e com sotaque inglês
cadenciado e olhos bondosos.
"Será que Gray não lhe contou sobre a minha situação?"
"Ele deu-me um resumo." Ela me olhou por um momento, seu olhar avaliador. "Tudo o que
posso dizer é que esta situação pode ter ramificações maiores do que você está pensando. Eu
imploro que você pense bem antes de fazer algo que não poderá desfazer."
"Eu entendo o que está dizendo, Charlotte, e eu aprecio o conselho, mas -"
"Você já tomou a sua decisão."
"Sim, é isso. Eu espero que você possa tentar entender."
"Bem", ela disse, "então é isso." Olhei para o pedaço de torta no meu prato, a sua maior
parte comido, não sabendo por que importava para mim que eu estivesse decepcionando esta mulher.
Ela continuou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. "E talvez você va ser boa para ele. Eu
admito que não vi nenhum fogo em seus olhos por... bem, por muito tempo."
"Hmm..." Eu cantarolava, tomando outro gole de café, sem saber se isso era uma coisa boa
ou ruim.
Isso provavelmente indicava que já trouxemos o pior um no outro, e só nos
conhecíamos por algumas horas. Eu terminei as duas últimas mordidas de minha torta.
"Oh hey, Charlotte, posso incomodá-la por alguma roupa de cama? Eu preciso de alguns
cobertores e um travesseiro para levar ao barracão do jardineiro, onde vou ficar." Charlotte olhou-
me fixamente.
"Barracão do jardineiro? Isso só foi usado para armazenamento, durante décadas. Você não
pode ficar lá. Certamente Gray só estava brincando quando colocou-a lá".
"Talvez", eu tomei o último gole de meu café, "mas, eu gosto. E é um espaço só meu. Não
vou incomodar alguém dessa maneira."
"Eu não posso tolerar isso", disse Charlotte, balançando a cabeça. "Eu não gosto da ideia
de você e Gray se casarem, mas não verei você morando em um sujo barraco, moradia de aranhas."
Eu ri. "Lembra quando eu mencionei a África? Eu vivi lá por um ano. Eu acabei de
voltar, há menos de uma semana, na verdade. As aranhas aqui seriam envergonhadas pelos
insetos de lá. Eu posso lidar com um par de pernas longas, ou dois. E uma cama e alguns lençóis
limpos é um passo acima do tapete no chão de terra que eu me acostumei a dormir lá."
"E por que você estava na África?"
Escondendo. Escapando. Sendo banida. "Para ajudar um amigo a construir um hospital
de qualidade." Eu sorri, o primeiro sorriso que senti realmente verdadeiro desde que voltei para San
Francisco. "Isso vai ajudar tantas mulheres e crianças. Vou lhe contar tudo sobre ele em algum
momento."
Charlotte acariciou minha mão, aquele olhar desconfiado dela parecendo ter recusado
vários encaixes. "Eu gostaria disso."

Uma hora mais tarde eu tinha varrido o quarto da casa com a vassoura que Charlotte tinha
me dado, e cuidadosamente limpei o estrado de metal da cama e coloquei o colchão que Walter
trouxe.
Quando Charlotte trouxe os cobertores, ela olhou em volta, horrorizada, pedindo-me
novamente para voltar com ela e, em seguida, foi embora tão rapidamente quanto possível.
Eu enfrentaria o banheiro de manhã. Eu usei a água gelada da torneira para lavar meu rosto
e escovar meus dentes. Olhei por trás da cortina de mofo sobre o chuveiro e me arrepiei quando
vi as luminárias enferrujadas, o piso coberto de sujeira e as teias de aranha grossas cobrindo o
teto. Blech2 .
Sendo final do verão, as noites estavam ficando apenas um pouco mais frias, mas eu abri as
janelas escancaradas de qualquer maneira. A brisa fresca que soprava para
dentro trazia o aroma muito fraco das rosas e das glicínias que cobriam a casa de campo,
dissipando o cheiro de pó e óleo.
Embora não houvesse muito a olhar, a cama era confortável, e eu subi debaixo das cobertas
com meu telefone, enviando um texto rápido para Kimberly. Eu
não a tinha preenchido completamente sobre o que estava acontecendo, mas eu queria esperar até
depois que tívessemos nos reunido com o Sr. Hartmann, o executor da herança que vovó tinha me
deixado.
Eu contaria isso uma vez que tudo fosse oficial, e não antes. Ela iria tentar me convencer
do contrário, e Kimberly era persuasiva. Provavelmente, ela me faria duvidar de tudo com o que eu
já havia chegado a um acordo.
E eu não podia permitir isso. Literalmente.
Eu tinha quatro mensagens. Respirei fundo, e me lancei sobre a primeira de meu pai.

Kira. Eu sei que você estava lá dentro quando eu estava batendo em sua porta, e eu sei
que você me ouviu. Eu enviei James para o seu apartamento com uma chave, e ele disse que
parecia que você tinha saído. Ligue-me imediatamente e me diga o que você acha que você está
fazendo. Precisamos sentar com Cooper e certificar-nos que estamos todos na mesma página.
Droga, Kira, você sabia o suficiente para não desaparecer. Eu preciso de você ao meu
dispor. Nada mudou desde que você deixou o país? Eu esperava... apenas me ligue.

Clique.
Lágrimas quentes encheram meus olhos. Eu preciso de você ao meu dispor. Claro que sim,
papai. Porque é isso que o que sou para você - descartável. As próximas duas mensagens eram do
número do meu pai também. Eu apaguei-as sem ouvir. Felizmente eu pensei em desativar o
rastreamento do meu telefone, para que meu pai não pudesse me encontrar - que foi como
ele soube que eu estava no meu apartamento embalando minhas coisas - a menos que tivesse espiões
no prédio relatando para ele, o que era bastante provável, também.
A mensagem final foi de Cooper. Eu apertei o play provisoriamente, mordendo meu lábio
até que provei sangue. Eu forcei meu corpo a relaxar.

Hey, Kira <pausa> Droga, eu esperava que tivesse algo a dizer uma vez que ouvi o
bip. <suspiro> Seu pai me disse que você estava de volta. Kira, nós precisamos conversar. Nós
precisamos... ouça, eu espero que você responda a minha chamada. Você nunca respondeu a
nenhuma das minhas cartas, mas por favor, me ligue. Eu senti muito a sua falta.

Clique.
Saudades de mim? Você é um bastardo. Lágrimas derramaram em minha face, e eu
virei meu rosto em meu travesseiro, lembrando daquele dia terrível, a traição de roubo de alma, o
choque, a humilhação, e, finalmente, apenas dor.
Eventualmente caí em um sono agitado, a acordei só uma vez quando ouvi um
veículo sobre o cascalho da calçada do lado de fora da janela aberta do meu chalé. Virei grogue e
abri meus olhos, mas havia muita folhagem fora da janela para ver mais além do caminho. Ouvi
passos como de uma pessoa, que eu supus ser Grayson, saindo de seu caminhão e
caminhando diretamente para sua casa. Minhas pálpebras pesadas se fecharam, e voltei a dormir
em segundos.

O sol da manhã brilhava através da janela aberta, espalhando luz limão e fazendo meus
sonhos se desvanecerem como névoa. Sentei-me e estiquei-me. Depois de lavar-
me rapidamente em água gelada da pia do banheiro e atar meu cabelo em cima da minha cabeça, vesti
um short jeans e um top azul-marinho. Eu teria que enfrentar o chuveiro hoje, e me limpar antes
de nosso encontro esta tarde.
O cascalho rangia sob meus pés quando eu caminhei para a casa principal e bati à porta.
Walter respondeu com o mesmo olhar distante no rosto, que ele parecia favorecer.
"Sr. Hawthorn está na cozinha tomando o café da manhã", disse ele formalmente.
"Obrigada, Walter." Eu sorri e me dirigi à cozinha.
Grayson estava sentado no mesmo local que estava sentado no jantar, uma revista de vinhos
de algum tipo em sua frente. Eu tomei o assento que tinha ocupado na noite anterior também
- no extremo oposto.
"Bom Dia!" Charlotte cantarolou.
"Dia", eu disse, acenando para Grayson.
Havia pratos de ovos, bacon, torradas e batata, então eu carreguei o prato em minha frente.
Depois de várias mordidas, eu olhei para cima para ver Grayson me observando comer.
Quando eu peguei seu olhar, ele parecia momentaneamente surpreendido e desviou o olhar. "Eu tenho
um monte de trabalho para fazer hoje. Quais são seus planos?" ele perguntou.
Eu terminei de mastigar a torrada que tinha acabado de morder antes de responder. "Eu vou
fazer um pouco mais de limpeza na casa de campo primeiro, e depois pensei que poderia dar um
passeio em torno de sua propriedade, se você não tiver nenhuma objeção."
Ele congelou. "O chalé? Você não pode realmente ficar lá. Isso foi uma piada, Kira."
Eu dei de ombros. "Eu não me importo. Seria um lugar meu próprio - longe de você... fora
de seu cabelo, eu deveria dizer. Vai ser como se eu não estivesse mesmo aqui." Eu ofereci-lhe um
grande sorriso, que ele não devolveu.
Grayson me olhou por um segundo, mas depois casualmente pegou a revista. "Faça como
quiser."
Poucos minutos depois, Grayson se desculpou - parecendo apenas um pouco menos frio - e
saiu para trabalhar, afirmando que iria me encontrar em frente da casa às três horas. Eu terminei o
meu café da manhã e ofereci ajuda a Charlotte para limpar, mas quando ela se recusou, eu pedi
emprestado algum mateial de limpeza e voltei à minha casa totalmente armada.
Passei as próximas quatro horas limpando décadas de poeira e sujeira do banheiro
pequeno – a maioria provavelmente uma relíquia dos anos setenta. Esfreguei janelas, pisos e até
mesmo as paredes do quarto.
Não havia muito o que fazer sobre a sala da frente, dado que estava repleta de equipamento
de jardinagem, então eu simplesmente criei um caminho através da confusão e limpei o pior das teias
de aranha. Eu poderia fechar a porta deste espaço e simplesmente viver nos dois quartos limpos.
Eu só fiz uma pausa para caminhar até a casa e comer um almoço rápido, que Charlotte
tinha dito que estaria esperando por mim.
Quando eu tinha acabado com a casa de campo, cada músculo do meu corpo doía, mas eu
me sentia realizada quando olhei em torno das novas salas nos trinques. Minha casa para os próximos
dois meses. Estava longe de ser elegante, embora luxo nunca me trouxe a verdadeira felicidade, de
qualquer maneira. Não, eu gostei este lugar, pois isso era o meu próprio espaço. E foi onde eu tinha
aterrado... onde o caminho que eu escolhi tomar tinha me levado.
Tinha sido um dia quente, mas a casa era completamente sombreada por árvores, e a
temperatura tinha caído agora que era fim da tarde. Eu gritei quando pisei sob a água gelada do
chuveiro, e dancei no lugar com desconforto enquanto rapidamente lavei meu cabelo e corpo com os
produtos de higiene pessoal que eu trouxe comigo. Eu tinha esquecido de pedir toalhas a Charlotte
- talvez eu comprasse uma para ter a minha própria - então me sequei com uma camiseta e vesti
roupas limpas. Felizmente o secador de cabelos me aqueceu quando eu usei-o para secar meu cabelo.
Sem me incomodar em prender meu cabelo longo, eu o deixei pendurado pelas minhas costas.
Lá fora o céu era de um azul bebê pacífico com uma dispersão de nuvens brancas,
transparentes. Eu fiquei de pé, admirando as colinas de vinhas novamente. Eu não sabia muito sobre
o processo de vinificação, mas eu esperava aprender. Não que eu estaria por aqui muito tempo,
mas seria interessante para mim, em geral, - uma antiquíssima prática de manter a tradição. Eu
passeei atrás da casa, ou seja, apenas para obter um olhar de perto do labirinto. Quando eu estava em
pé na frente da enorme estrutura natural, vi que a entrada não era fechada de qualquer maneira,
então aventurei-me para dentro, caminhando cautelosamente, apenas com a intenção de virar uma
esquina ou duas. Estava terrivelmente coberto, as vias muito mais estreitas do que deveriam ser, o
chão desigual com ervas daninhas e grama, mas era magnífico. E era pelo menos quinze graus mais
frio aqui.
Se eu pudesse ter certeza de que poderia encontrar meu caminho, eu iria passear por ele
sem parar. Eu me perguntava se havia qualquer coisa no centro. Por que Grayson queria arrancar algo
tão especial? Era uma farsa. Eu esperava que ele mudasse de idéia uma vez que tivesse fundos para
mantê-lo.
Virando-me antes de tornar-me irremediavelmente perdida, comecei a descer a colina em
direção a uma grande estrutura de pedra que eu assumi ser onde o vinho era feito e armazenado.
Havia vários tratores e caminhões estacionados em frente, e eu podia ouvir os equipamentos
operando dentro.
Quando cheguei mais perto, percebi um homem jovem ao lado de um trator perto do
edifício, um par de coxas musculosas no chão sob ele. Um dos homens saudou-me e eu acenei de
volta. O homem debaixo do trator deslizou para fora e se levantou. Grayson. Meu coração parou. Ele
estava sem camisa. Ele veio em sua altura e esperou por mim na curta distância a pé com eles. Eu já
tinha percebido que ele era poderosamente construído em perfeitas proporções masculinas, mas a
visão de seus ombros largos, seu peito ondulando músculos e seu estômago plano fizeram meu
fôlego pulsar, e minhas bochechas ruborizaram. Deus, ele era lindo em todos os lugares, amplo, mas
magro, sua pele macia, bronzeada, brilhando sob o sol. Ele era um estudo em masculinidade, e eu não
poderia ajudar-me da forma como meu corpo instintivamente respondeu, os músculos do
meu estômago invertendo e apertando. Dragão maldito.
Grayson tirou o boné de beisebol que ele estava usando, alisou o cabelo para trás, e, em
seguida, substituiu-o, dessa forma como os homens fazem. Eu fiz um esforço para livrar-me de seu
efeito e sorri brilhantemente. Ele apresentou os dois homens com ele: um era latino-americano com
um pequeno bigode e não muito mais alto do que eu, chamado José, e um gigante de um homem com
um sorriso tímido chamado Virgil. Cumprimentei-os e acenei para Grayson, que acenou de volta.
"Trator quebrado?" Perguntei.
"Não", respondeu Grayson. "Mas é uma das únicas coisas que não está. Eu estava
apenas verificando, garantindo que esteja pronto para a colheita."
"Bem, você faz de tudo, não é?" Eu sorri. "Não é de admirar que você trabalha do nascer
ao por do sol."
"Precisa-se. Como você pode ver, minha equipe é bastante limitada." Ele balançou a
cabeça para José e Virgil.
O homem chamado Virgil, que eu suspeitava ser mentalmente atrasado, avançou. "Estou
muito feliz em conhecê-la, minha senhora. Sr. Grayson diz que ele pode se casar com você, e eu acho
que está muito bem. Ele diz não consegue descobrir se você é uma princesa mimada ou
uma pequena bruxa, mas acho que se você é uma bruxa, é do bom tipo, porque você é bonita." Ele
corou e olhou para baixo. Em suas palavras, eu arrepiei, e sorri firmemente para Grayson, que teve a
graça de parecer um pouco envergonhado. José tossiu ligeiramente, obviamente tentando segurar uma
risada.
"É assim? O que mais o Sr. Grayson disse, Virgil?"
Grayson riu com força. "Bem, eu acho que isso é conversa fiada suficiente", disse ele.
"Devemos estar -"
"Ele diz que a razão pela qual ele gosta de você é porque você tem um monte de
dinheiro", Virgil continuou abestalhado. "Eu vou ter um monte de dinheiro um dia, para que as
pessoas gostem de mim, também." Sua testa enrugou em pensamento. "Claro, minha mãe diz que não é
o que uma pessoa tem, mas como ele trata os outros, então eu não sei..." Ele
coçou a nuca, parecendo confuso.
José balançou sobre seus calcanhares, com um sorriso tranquilo de diversão em seu rosto.
Ele estava gostando disso.
"Bem, Virgil, se eu fosse você, ouviria mais sua mãe do que o Sr. Grayson." Eu dei a
Grayson olhar sujo. O que ele estava pensando, batendo o queixo na frente deste homem inocente?
Além disso, ele deixaria mais pessoas em nosso negócio. Ele não tinha ouvido uma palavra que eu
disse sobre o meu pai?
Minha consternação não tinha nada a ver com o que ele disse sobre mim. Nenhuma mesmo.
Eram informações que eu já sabia, de qualquer maneira. Ele não tem que gostar de mim. E ele
poderia pensar que eu era uma bruxa, se ele gostava. O que me importa a consideração de um
dragão?
Grayson tomou a camiseta que tinha estado pendurada do bolso de trás, tirou o boné e
puxou a camisa sobre a cabeça. Soltei um silencioso suspiro de alívio. Répteis nus me perturbavam.
"Senhores", disse Grayson, acenando para José e Virgil. "Vejo vocês pela manhã."
Ele me levou pelo meu cotovelo para longe, e eu sorri e acenei para os dois homens nos
observando.
Então eu olhei desinteressadamente em Grayson. Eu não deixaria que me importasse a
sua avaliação do meu caráter. Eu precisava dele para uma coisa, e apenas uma coisa. Grayson riu.
"Vamos, eu vou levá-la de volta para casa. Então vamos descobrir se vamos nos casar ou não."
Capítulo Seis
Grayson
Eu olhei para a mulher sentada ao meu lado. A mulher que seria minha esposa em questão
de dias. Minha esposa. Eu balancei a cabeça sutilmente, dificilmente capaz de acreditar no curso dos
acontecimentos que transpareceram nas últimas vinte e quatro horas. O casamento era nada mais do
que um negócio, mas mesmo assim mantinha-se o fato, falso ou não, de que eu ia ter uma esposa.
Quando eu era jovem sempre presumi que gostaria de casar algum dia - inferno, eu até pensei que
sabia exatamente quem seria essa mulher. Eu tinha um profundo desejo de criar minha
própria família - o tipo de vida que eu sempre desejava, mas nunca tive.
E, em seguida, Vanessa... e bem... basta dizer que a vida é cheia de surpresas. E nem
todas são boas.
Ela mudou em seu assento, mordendo o lábio. "Você acha que é sábio contar a seus
trabalhadores que o nosso casamento é algo diferente de legítimo?", ela soprou fora. "Eu disse a
você sobre o meu pai, e quanto menos pessoas souberem-"
"Eu confio em José como um irmão," eu interrompi, puxando para um espaço de
estacionamento e desligando a ignição. Eu não poderia ajudar o riso não-bem-humorado que subiu na
minha garganta em minhas próprias palavras. Nem todos irmãos são confiáveis; quem sabia disso
melhor do que eu?
"José pode ser confiável," eu emendei. "Quanto a Virgil, eu duvido que
alguém escute muito cuidadosamente a sua conversa, de qualquer maneira."
Kira me lançou um olhar que era um cruzamento entre desdém e nervosismo quando abriu a
porta. Eu abri a porta e pulei para fora. "Ele parece ser um juiz sábio de caráter", disse ela quando
nós encontramos na calçada.
"Claro, da mesma forma como são os cães e as crianças. Em todo caso, eu não iria me
preocupar com o que qualquer um deles sabe." Alguém estava se aproximando na calçada. Entrei em
seu espaço, e ela andou para trás até que foi pressionada contra minha caminhonete, um olhar de
pânico em seu rosto. Eu sorri quando pressionei meu corpo no dela.
"O que você está fazendo?" ela sussurrou.
"Convencendo o público em geral que nossa relação é muito legítima", eu disse, perto de
seu ouvido. Deus, ela cheirava bem. Não apenas bom - incrível. O cheiro dela era fraco, como flores
distantes numa brisa. Eu não sabia como ela cheirava até que meu nariz foi até ela. Eu
esfreguei minha cara no lado de seu pescoço, inalando profundamente e sentindo o calor de sua pele
contra a minha própria. Ela sentia-se rígida como um ramo de árvore. Eu me afastei. Jesus, apesar do
fato de que só se passaram um par de dias desde que eu tinha ido com sabor de fruta Jade, eu
precisava de uma mulher. "Você vai ter que fazer um trabalho melhor se espera convencer alguém que
eu vou casar com você, e não molesta-la." Eu me virei e comecei a andar.
Depois de um segundo, ela me alcançou. Quando olhei em sua direção, eu ri com o
conjunto rígido de seu ombros e da forma que seu queixo foi empurrado no ar. Por que eu gosto tanto
de implicar com ela?
Durante a reunião com o Sr. Hartmann, o executor de confiança da avó de Kira, ele passou
por cima dos termos com nós dois. Era simples, disse ele. O pagamento poderia ocorrer
imediatamente, uma vez nós que trouxermos uma cópia da nossa certidão de casamento oficialmente
arquivada. Kira e eu sentamos ao lado um do outro, de mãos dadas como um par de pombinhos, o
calor de sua pele queimando na minha. Sr. Hartmann parecia encantado quando olhou entre nós dois.
"Sua avó era uma bela mulher, Kira. Ela ficaria tão contente de ver você apaixonada."
O estremecimento foi ligeiro e Kira cobriu-o imediatamente com um sorriso. "Obrigada.
Ela teria amado Grayson. Eu sei disso."
"Eu não duvido. E, claro, ela ficaria tão contente que você estava planejando fazer a sua
vida aqui. Ela amava esta cidade."
"Sim, ela amava", disse Kira, sorrindo um sorriso gentil. Claramente ela amava muito sua
avó. Culpa enrolou no meu intestino, mas eu ignorei o melhor que pude. Esta foi a escolha de Kira.
Eu não tinha mesmo conhecido sua avó. Eu não tinha nenhuma lealdade a ela ou a seu dinheiro.
"Você sabe," Sr. Hartmann continuou, "sua avó acreditava que a idade e a maturidade não
tornam uma pessoa mais consciente das necessidades dos outros, ou pelo menos um outro, como
o casamento certamente faria. É por isso que ela colocou as condições sobre o dinheiro de herança.
Ela queria que ele fosse usado bem, e idealmente em parceria com alguém com quem você
escolhesse compartilhar sua vida.” Ele piscou para Kira. "Eu estou tão feliz que é o seu caso."
Kira parecia vagamente doente quando sorriu e acenou para ele.
"Eu não vi o seu pai em algum tempo. Como ele está?" ele perguntou.
Kira visivelmente engoliu. "Ele está bem, Sr. Hartmann." Ela fez uma pausa. "Eu
não contei a ele sobre Grayson ainda." Ela me deu um sorriso apertado. "Se você não se
importar de não mencionar isso até que eu tivesse a chance de dizer-lhe eu..."
Sr. Hartmann franziu a testa, mas respondeu: "Claro."
Concluída a consulta, nós nos sentamos em meu caminhão e eu liguei para o advogado da
cidade que manipulou os assuntos de meu pai durante anos. Eu pensei que ele poderia me ver
rapidamente, e eu estava certo. Fomos capazes de marcar uma consulta para o dia seguinte. Minha
cabeça começou a girar. Isso estava acontecendo muito rápido. Mas isso é o que eu
queria. Novamente, quanto mais rápido este casamento começasse, mais rápido Kira iria embora.
"Se o Sr. Kohler puder elaborar o acordo dentro de uma semana, poderíamos nos casar
na próxima sexta-feira," eu disse, olhando para Kira enquanto dirigia de volta para a vinha.
Ela assentiu com a cabeça. "Eu concordo com isso", disse ela calmamente.
"Eu vou fazer a consulta em seguida. Vamos precisar de uma para a licença e,
então, outra para a cerimônia real. Eu olhei no site."
"Oh. Está bem." Ela puxou a saia para baixo modestamente, e meus olhos deslizaram para
suas pernas nuas. Ela tinha pernas grandes. Elegantes e finas. O tipo de pernas que um
homem queria envolvidas em torno dele –
Eu apertei minha mandíbula, desligando esses pensamentos imediatamente. Quando notei o
silêncio dela, eu disse, "Não está com medo, não é?"
"Não! Não. Isso é tudo de bom. Rápido, mas bom."
"Quanto mais cedo fizermos isso, mais rapidamente poderemos acabar com isso, também,"
eu disse, expressando o pensamento que tive mais uma vez.
"Sim. Verdade." Ela me deu um pequeno sorriso, não mostrando todos os dentes. Eu ainda
não tinha visto aquela sua covinha em pessoa. Talvez eu tenha imaginado isso na tela do meu
computador.
Olhei para ela quando ela tomou seu longo cabelo em suas mãos e usou um elástico de
sua bolsa para colocá-lo em um nó. Fios escorregaram ao redor do rosto, onde sempre pareciam
estar quando seu cabelo estava para cima; era aparentemente muito sedoso para ficar parado por
muito tempo. Eu me perguntava como me sentiria com seu cabelo enrolado no meu punho.
Caramba! Desligue esses pensamentos.
Ela era um enigma. Uma princesa bonita com o temperamento de
uma pequena bruxa ardente. Eu gostava de fazer aqueles olhos de cristal verde piscarem com calor.
Fiquei imaginando como ela seria na cama. Um pouco sedutora, quente e... Que droga. Eu cerrei os
dentes, frustrado com meus pensamentos, e desacelerei em frente ao chalé do jardineiro. Ela me
surpreendeu fazendo a opção de ficar naquela pequena cabana suja. Com apenas água fria.
Certamente ela não usou o chuveiro, mas de alguma forma parecia fresca e limpa. Eu me encolhi.
Isto realmente não era nada habitável. Por que ela queria passar cinco minutos lá, muito menos
habitar, estava além de mim. Eu tinha vivido em uma pequena cela de concreto por cinco anos, e
mesmo eu não tinha qualquer desejo de viver lá. Claro, talvez fosse precisamente por isso. Eu não
podia suportar pequenos espaços por muito tempo. Muitas noites eu tinha acordado em um suor frio
dos pesadelos do meu tempo lá dentro. Eu nunca tinha falado com ninguém sobre a
minha experiência, e eu duvidava que eu jamais faria. Por um momento muito breve, os sentimentos
de solidão e tristeza, meus companheiros constantes durante esses cinco anos, me agrediram, e eu me
sentia pesado com o peso das minhas próprias falhas. Eu fechei os olhos e empurrei as
memórias fora, desviando meus pensamentos de volta para Kira Dallaire e o fato de que ela estava
vivendo no galpão de meu jardineiro. Aparentemente eu a tinha julgado mal, pelo menos em alguma
pequena medida. Eu me perguntava quais outros segredos eu descobriria sobre ela se
eu procurasse bastante duro.
O que eu não fiz. Não, no mínimo.
Quando cheguei a uma parada completa, ela pulou para fora da minha caminhonete e estava
na porta aberta num momento. "Eu estarei pronta para o nosso compromisso de amanhã, e depois vou
de carro para San Francisco para cuidar de algumas coisas. Eu ficarei fora o fim de semana."
Eu balancei a cabeça. Isso me serviu muito bem. E eu percebi que ela precisava tomar
banho em algum momento. Quanto menos eu tinha que vê-la antes do nosso casamento, melhor.
Pelo menos assim eu não teria que pensar sobre a realidade dele.
"Ok, me encontre em frente às onze."
Ela assentiu com a cabeça e fechou a porta, voltando-se e caminhando através da folhagem.
Eu sentei lá por um minuto, guerreando comigo mesmo. Realmente não era certo deixá-la ficar lá.
Cristo, que se dane. Ela tinha feito a sua escolha.
Talvez uma dose de vida difícil seria bom para a princesa. Ou eram as
bruxas que preferiam pequenas casas na floresta? Não pude deixar de rir para mim mesmo quando
me afastei.

O encontro com o Sr. Kohler correu bem e rapidamente. Nós não estávamos
concordando com um acordo que "deveria" ter um divórcio, e que afirmava que deixaríamos o
casamento apenas com o que nós tínhamos chegado. O contrato foi extremamente simples,
e marcamos compromisso para quinta-feira para entrar e assinar a papelada. E com isso, estávamos
com a fita vermelha envolvida em nossa união. Marquei uma reunião no escritório do funcionário
para a manhã seguinte: sexta-feira, dez da manhã. A única coisa a fazer era aparecer. Meu estômago
estava um pouco enjoado. E se a aparência verde de Kira era alguma indicação, o
dela estava também.
Eu deixei Kira em sua cabana e disse que a veria na segunda-feira. Ela não olhou para
trás quando foi embora. Tão tranquila como ela tinha sido depois de nosso encontro, eu meio que me
pergunava se ela voltaria em tudo.
Talvez seria melhor se ela não o fizesse. Mas eu não acreditava nisso. Pela primeira vez
em um ano, eu senti uma ansiosa antecipação para o futuro. Naquela manhã eu abri a lista que Walter
tinha feito de equipamentos que necessitavam de reparação ou substituição, e senti uma vibração no
meu estômago. Logo eu seria capaz de eliminar os itens, um por um. A tensão tinha lançado em meus
ombros e eu finalmente permiti que esperança fluísse com máxima explosão através do meu sistema.
O poder dela tinha deixado o meu coração batendo descontroladamente. Quando foi a última vez que
eu senti essa sensação? Eu não conseguia lembrar. "Eu não vou te decepcionar", eu jurei pela
centésima vez, abordando meu pai. "Eu vou fazer você se sentir orgulhoso de mim, eu juro." Eu tinha
que acreditar que, de alguma forma, ele saberia. Era o que me mantinha.
Passei o fim de semana trabalhando com vigor renovado. Não seria um monte de trabalho
feito, apesar dos fundos recebidos. E eu ainda tinha uma equipe escassa. Eu teria que contratar mais
algumas pessoas uma vez que tivesse o cheque em minhas mãos, mas pelo menos sabia
que ajuda estaria chegando muito em breve.
Quando cheguei em casa domingo à noite, lembrei-me da garrafa de Vosne-Romanée que eu
tinha pedido a Walter para trazer da adega principal. Dores de culpa e desespero tinham-me aleijado
quando eu tinha considerado vender o orgulho e a alegria do meu pai – sua coleção rara de vinho
- para trazer alguma renda muito necessária para a vinha. O pensamento sozinho pareceu como uma
traição. Estou tentando. Estou tentando tão difícil salvar tudo o que era precioso para você. O alívio
por não ter que passar pela venda foi esmagador. Sucesso - outra coisa que eu não sentia há anos, se
estabeleceu no meu coração.
Quando eu vi Walter, eu instrui-o a colocar a garrafa de volta na adega inferior, onde
ela era originalmente mantida.
"Sim, senhor. Eu vou fazer isso esta semana."
"Obrigado."
"E eu posso oferecer minhas felicitações mais sinceras pelo seu... casamento, senhor?" A
palavra "casamento" foi oferecida com o desdém mais frio que eu já tinha ouvido falar de
Walter. O que estava dizendo algo.
"Não, Walter, você não pode."
Os lábios de Walter ergueram. "Muito bem, senhor. Eu desejo-lhe o melhor, no entanto.
Minha mãe costumava dizer que o casamento é muito parecido com o vinho. Ambos
amadurecem lentamente, e crescem mais profundo e mais complexo com o tempo."
Virei-me para Walter. "Walter, acho que você sabe tão bem quanto eu que ao meu
casamento não será permitido amadurecer. É temporário, apenas para fins comerciais."
"Como você diz, senhor."
Parei, franzindo a testa para ele.
"Eu digo."
"Muito bem, senhor."
Fiz uma careta para ele e parti para as escadas antes que ficasse excessivamente irritado
com o homem. Ele tinha um jeito de me fazer sentir como se eu tivesse doze anos novamente. E ele
tinha um jeito de me questionar com seu insolente, "Sim, senhor, não senhor." Eu o demitiria um
dia destes. Sem indenização.
Eu jantei sozinho, perguntando-me quando Kira voltaria. Eu não tinha perguntado nada
sobre sua viagem.
Eu não queria abrir um precedente onde perguntaríamos sobre o paradeiro ou ações um do
outro. Eu certamente não a queria pensando que poderia fazer isso comigo, e eu não tinha vontade de
fazê-lo com ela. Ainda... e se ela mudou de idéia... Eu prefiro saber agora do que ter que esperar por
ela para me ligar em algum momento desta semana após não ter aparecido.
Relutantemente, peguei meu telefone e usei o número de celular que só tinha usado uma
vez, quando tinha visitado-a em seu quarto de hotel. Eu debati sobre o que dizer no meu texto. Eu não
queria deixá-la com a impressão que eu estava checando-a.

Eu: Devo pedir a Charlotte para manter um prato aquecido para você?

Poucos minutos depois, meu telefone tocou.

Kira: Isso é atencioso, mas, não, obrigada.

Eu fiz uma carranca. Ela estava cheia?

Eu: Eu vou ter Charlotte definindo um lugar no café da manhã para você, então.
Kira: Não, isso não será necessário também. Obrigada.
Rosnei para o telefone, perfurando as pequenas letras no teclado.

Eu: Maldição Kira, você vai voltar ou não?

Vários minutos se passaram, um pânico estranho subindo na minha garganta.

Kira: Sim, eu estarei de volta amanhã à tarde. Saudades de mim?

Eu exalei.

Eu: Não. Boa noite.

Bruxinha!
Capítulo Sete

Kira
Hawthorn Vineyard estava impregnado com um tom mesclado do sol da tarde enquanto eu
dirigia pelos portões um pouco depois das quatro horas. Eu passei o fim de semana com
Kimberly, preenchendo-lhe com tudo que tinha ocorrido com Grayson Hawthorn desde que eu
tinha falado com ela. No início ela se recusou a falar comigo, e então discursou e se enfureceu por
quinze minutos – com frequentes acessos de espanhol - enquanto eu sentei-me diante dela no sofá
com os meus braços cruzados como uma criança que estava sendo disciplinada. Ela tinha
trazido pelo menos vinte exemplos de minhas Muito Más Ideias que tinham terminado terrivelmente.
Quando ela finalmente se acalmou o suficiente para discutir o assunto comigo, embora, e quando ela
percebeu que eu não ia voltar atrás, ela tinha me abraçado e oferecido seu apoio. Geralmente as
coisas com Kimberly eram assim. Eu sabia o suficiente para esperar para sair. E ela sabia o
suficiente para saber que uma vez que eu tinha cometido a uma Muito Má Ideia, era improvável que
eu mudasse a minha mente. Ainda assim, eu sabia que esse discurso me fez sentir como se ela
tivesse feito seu dever, então o levei na esportiva. Na sua essência, ela estava cheia de amor. Eu
tinha perdido tanto dela enquanto estava fora. Ela sempre foi um bálsamo para a minha alma,
aquela que me manteve sã.
Eu também fiz uma rápida visita ao centro de drop-in, onde passei muitas horas. Eu
garanti-lhes que tinha uma grande doação vindo em sua direção, uma que lhes permitiria passar
os próximos seis meses, até que entrassem maiores subsídios.
Eu desejei poder ficar um pouco mais visitando as pessoas de lá, pessoas que eu
tinha aprendido a amar e que não tinha visto em muito tempo, mas assegurei-lhes (e a mim) que eu
estaria de volta muito em breve.
Estar longe de O Dragão por uns dias tinha me permitido colocar as coisas em perspectiva.
Eu estava dirigindo de volta com um sentido renovado de fiador. Este plano ia funcionar. Tudo tinha
caído no lugar e eu tinha a tendência a pensar que, quando isso acontecia, você estava no caminho
certo. Em questão de dias estaríamos casados, teríamos o dinheiro da minha avó, e eu ficaria no meu
caminho de ser auto-suficiente. Eu poderia decidir o que queria fazer com o resto da minha vida. Eu
não estaria sob o controle de ninguém. Eu iria, finalmente, ser livre.
Surpreendentemente, eu tinha sentido falta da minha casinha. Depois de abrir as janelas e
colocar minha mala na extremidade da cama, caí nela e sorri para o vitrais e para o teto descascado,
girando um pedaço do meu cabelo e cantarolando em voz alta a canção que tinha tocado no rádio no
meu carro há poucos minutos.
Fora da janela eu ouvi o som distante de um veículo, provavelmente um trator, e o
barulho estridente das aves que enchiam as árvores. Eu gostaria de encontrar um lugar igual a este em
algum lugar de Napa Valley quando fosse me mudar. Um lugar simples. Um lugar onde eu pudesse ser
eu mesma. Um lugar onde eu poderia encontrar a felicidade.
Suspirando, sentei-me, deslizei para fora das minhas roupas e descompactei as
toalhas novas e macias que eu tinha comprado em San Francisco. Depois, fuçando na minha bagagem
para os meus produtos de higiene pessoal, virei-me para o chuveiro. Um homem estava de pé na
soleira da porta. Eu me assustei de forma tão abrupta que os meus produtos de higiene pessoal
saíram voando das minhas mãos e eu gritei, um som penetrante, horrorizado.
"Hei, hei," disse Grayson, movendo-se em minha direção com as mãos para cima em uma
pose de "Eu me rendo" e destinada a me acalmar, eu supunha. Seus olhos estavam arregalados de
surpresa, e eu não pude deixar de notar quando ele varreu meu corpo.
"Oh meu DEUS!" Eu gritei, percebendo que eu estava pelada como um
passarinho. Procurei desesperadamente por algo para esconder minha nudez, agarrando a camisa em
cima da minha mala aberta e tentando cobrir o máximo de mim. Praticamente ao
mesmo tempo Grayson girou e seguiu para fora.
Eu caí na cama, meu rosto quente e minhas pernas tremendo. "Você não bate?" Eu gritei.
"Você não tem nada que eu não tenha visto antes", eu o ouvir dizer em voz alta fora da
minha janela aberta quando ele andou para longe da minha casa.
Eu poderia ter rosnado.
Completamente humilhada, entrei no chuveiro, ainda resmungando com raiva sobre
rudes e desrespeitosos perseguidores. Nada que ele não tinha visto antes. Ugh! Besta escamosa!
Depois de esfregar-me um pouco demasiado duramente - se minha pele ardendo
fosse qualquer indicação – vesti-me, coloquei meu cabelo em um coque molhado e fui marchando até
a casa principal.
Charlotte me cumprimentou gentilmente quando me encontrei com ela na cozinha.
"Grayson está próximo?" Eu perguntei, tentando manter a fragilidade da minha voz.
"Ele -"
"Eu estou bem aqui", veio a voz atrás de mim.
Eu me virei, atirando-lhe punhais com meus olhos. "Posso falar com você em particular?"
Eu disse com falsa doçura.
Ele estreitou os olhos e não se mexeu, aparentemente ignorando o meu pedido - ou apenas
não se importando se Charlotte fosse nos ouvir. O que é que isso importa? Ela já nos ouviu
discutir antes. Cruzei os braços. "Você não pode apenas espernear na habitação pessoal de alguém
sem bater!", eu disse, minhas palavras saindo em raiva exasperada.
"Eu bati", disse ele em tom aborrecido, me fazendo ferver ainda mais. "E eu
nunca esperneei na minha vida." Ele virou-se para Charlotte." Charlotte, você já me viu espernear?"
"Não, é verdade", disse ela, franzindo a testa. "Você não é um homem inclinado
a espernear".
Eu gaguejava em frustração. "Espernear, empinar, intrometer!"
"Empinar?" Grayson perguntou, incrédulo. "Eu definitivamente nunca empinei. Nunca.
Charlotte?"
Charlotte balançou a cabeça. "Não, não empinou". Ela colocou um dedo para cima, virando
sua atenção para mim.
"Eu o vi pular uma vez. Mas ele ainda era apenas um rapazinho..."
Eu joguei meus braços no ar, irritada, tentando o meu melhor para ignorar o Grayson
zombeteiro e o apoio de Charlotte de sua zombaria, e espetei o assunto em mãos. "Você não
bateu! E se realmente o fez, eu não concedi-lhe permissão para entrar. Eu não daria, visto que eu
estava nua!" Isso foi um leve rosado tingindo suas maçãs do rosto?
Charlotte tossiu. "Oh meu Deus," eu a ouvi respirar.
"Sim, bem, tudo aconteceu muito rápido. Eu mal vi nada. Eu já limpei a visão da
minha mente. Cruze meu coração3 ." Ele disse isso, como se tivesse sido uma visão particularmente
desagradável.
"Isso se você tiver um coração, o que é discutível." Eu cerrei os dentes.
Seus olhos se estreitaram. "Foi um acidente, Kira. Peço desculpas. Não tenho nenhum
interesse em vê-la nua, eu prometo. Isso não acontecerá de novo." Ele esfregou um dedo debaixo de
seu olho, como se alisando fora uma contração muscular, seu tom entediado novamente.
Levantei-me, elevando meu queixo. Por que eu estava incomodada por sua atitude por ter
me visto nua?
O que eu queria? Que Grayson ficasse com sua língua pendurada de sua boca em
minha sensualidade de dar água na boca? Eu sabia que estava longe de ser atraente e sensual. Cooper
tinha me ensinado a lição. Cruzei os braços sobre o peito, abraçando-me, sentindo o fogo queimar
minha raiva. Eu respirei fundo. "Bem, muito bem, o que você precisava, afinal?"
Grayson fez uma pausa, me estudando. "Eu vi o seu carro chegar. Eu só estava indo dizer-
lhe que nosso acordo pré-nupcial estará pronto na quarta-feira. Eu mudei o nosso
compromisso de casamento para quinta-feira." Ele fez uma pausa. "Se estiver tudo bem com você."
"Oh, hum, sim. Tudo bem." Meu coração começou a bater mais rápido. "Está bem." Eu me
senti mal.
Ele olhou-me um pouco, mas não disse nada.
"Bem, então, é um plano", eu murmurei. "Eu estou indo até a cidade para jantar hoje à
noite. Eu te vejo amanhã ". Ele ficou olhando para mim com desconfiança, sem dizer uma palavra. Eu
me virei e sai rapidamente da casa, praticamente correndo de volta para minha casa quando fechei a
porta atrás de mim.

Grayson e eu nos evitamos pelos próximos dois dias. Ou pelo menos eu pensei
que éramos nós dois. Eu sabia que estava dirigindo para longe dele, e tinha certeza que ele estava
fazendo o mesmo. Eu o vi algumas vezes passando, mas fora isso, passava a maior parte do tempo
sozinha. Eu dei longas caminhadas em torno de Napa, incluindo a propriedade Hawthorn,
li e ajudei Charlotte com algumas refeições - refeições que Grayson não compareceu.
Mas eu amei conversar com Charlotte. Ela era muito fácil de se conviver, e tinha o mesmo
tipo de espírito aberto que minha avó teve. Mesmo que eu mal a conhecesse, era como se ela
preenchesse o espaço vazio criado quando vovó morreu – o de uma figura maternal.
O número de meu pai também tinha aparecido no meu telefone algumas vezes, mas eu não
respondi. Finalmente, porém, eu enviei-lhe um texto, dizendo que eu estava dando um tempo para
mim, e que o chamaria em breve. Eu não quis receber a resposta.
Às onze de quarta-feira Grayson e eu nos encontramos fora da casa principal, em seguida,
dirigimos até a cidade para a consulta com o advogado que ele tinha contratado. Nós tínhamos
dispensado advogados separados para economizar tempo e dinheiro. Nenhum de nós falou no
caminho até lá. Desde o incidente do nu tinha havido uma estranha tensão entre nós. Eu não consegui
descobrir se era raiva ou embaraço - talvez um pouco de ambos?
Da minha parte podia definitivamente dizer que me senti zangada e inábil. Mas porque ele
deveria sentir raiva eu não tinha ideia. Mas ele sentia. Talvez eu só não o conhecesse bem o
suficiente para lê-lo. E, me lembrei, eu nunca iria.
Estacionamos, e quando percebemos que chegamos um pouco mais cedo eu perguntei se ele
se importaria que eu fosse a uma pequena loja de vinhos na mesma rua. Eu queria comprar uma
coisinha para Charlotte, que tão gentilmente saiu de seu caminho para me incluir na casa
de Grayson - muito além de seu papel como dona de casa apenas fazendo o seu trabalho. Eu queria
que ela soubesse que eu apreciei, especialmente sob as atuais circunstâncias.
Uma vez dentro, Grayson começou a olhar as opções de vinho na frente, e eu dirigi-
me para a parte de trás da loja onde abridores de vinho e outros itens de
cozinha eram mantidos. Quando examinei algumas bandejas de queijo em um dos corredores, ouvi
uma mulher dizer num sussurro alto, "Você viu Grayson Hawthorn na frente da loja? Deus, eu
costumava ter a maior queda por ele."
Eu endureci um pouco quando outra mulher riu. "Quem não? Vá falar com ele. Quero dizer,
você não pode levá-lo para acasa da mamãe agora, mas para uma aventura de uma noite? Caramba,
eu pagaria por essa experiência."
"Talvez o faça. Ele é tão quente." A outra mulher riu, e quando ouvi-as caminhar
em minha direção meu pulso disparou, e eu apressei-me na outra direção, agarrando o braço de
Grayson quando caminhei rapidamente em direção à porta.
"Whoa", disse ele, mantendo o ritmo comigo.
"Eles não têm o que eu estava procurando", expliquei, nem mesmo
compreendendo exatamente porque me senti tão perturbada.
"O que você estava procurando?"
"Uh, uma bandeja de queijo, ou um carrinho do bolo ou algo assim, eu não sei",
eu acobertei.
"Eles tinham tudo lá atrás."
"Olha", eu disse, tomando uma respiração profunda e abrandando o ritmo para
uma caminhada normal. "Eu ouvi algumas mulheres discutindo sobre você, e eu senti
como se estivesse escutando." Fiz uma pausa. "É só... só que foi estranho. E desconfortável."
Grayson olhou para mim, e quando eu virei minha cabeça ele levantou uma sobrancelha.
"Discutindo sobre mim?"
Acenei minha mão. "Tenho certeza de que você está ciente de que as mulheres o
acham... atraente, por alguma razão desconhecida." Dei de ombros.
"Atraente?"
"Quente, derretedor de calcinha", eu elaborei.
Grayson parou e eu também, virando-me para encará-lo. O olhar em seu rosto estava cheio
de diversão. "Este tema me interessa. Eu gostaria de parar e discuti-lo ainda mais."
Suspirei, virei e voltei a andar. Ele me alcançou, girando em torno, de modo que ele estava
andando para trás na minha frente, sua expressão repugnantemente presunçosa. "Espere, você estava
desconfortável porque... você me acha... atraente, bruxinha?"
‘Você não tem nada que eu não tenha visto antes’.
"Não", eu disse, possivelmente um pouco mais acentuado do que o pretendido. "Nem um
pouco. Aqui estamos." Eu me mudei em torno dele e entrei pela porta do escritório do advogado.
A risada irritante de Grayson seguiu-me para dentro.
Criatura alada escamosa.
A papelada era simples e fácil de entender. Eu ignorei Grayson inteiramente enquanto nós
assinamos, embora ainda me sentisse vagamente irritada com sua provocação. Nós dois lemos
a papelada com cuidado, embora, e assinamos nossos nomes, levando uma cópia com a gente.
E estava feito. A única coisa que restava a fazer era casar. Casada. Com um dragão. Um
completamente desinteressante e chato dragão. Por dinheiro. Eu gemi internamente. Este foi, de
longe, o esquema mais louco que eu já tinha inventado.
Contras: Maluco, ridículo, provavelmente vergonhoso... definitivamente uma vergonha.
Desrespeitoso com a santidade do casamento. Desrespeitoso com a minha avó.
Eram um monte de contras. Mas... mas ia ter que funcionar. Eu estaria livre de meu
pai. Foco, Kira.
Concentre-se nisso. Era um pró incrivelmente significativo.
Eu tinha feito uma lista sobre O Dragão na noite anterior, depois que ele veio para a
cozinha para o jantar, tinha me visto sentada à mesa, e prontamente informou a Charlotte que ele
estaria comendo na cidade. Eu vinha evitando-o, também, então por que isso me incomodou eu não
tinha certeza. A lista tinha sido feita de orgulho ferido, mas tinha ajudado.
"Nosso compromisso é para as duas e meia da tarde de amanhã. São duas
etapas: uma para obter a licença e outra diretamente depois, para fazer o nó."
Eu balancei a cabeça vigorosamente, como se isso fosse tudo fino e elegante. Casada!
Amanhã. Duas e meia. Amarrando o nó! Isso parecia tão casual. Como se nçao fosse grande
coisa. Apenas um nó – que se amarrado frouxamente o suficiente, poderia ser desatado tão
facilmente. Eu tive um desejo súbito de rir loucamente, talvez até chorar.
O humor de Grayson parecia muito diferente - mais moderado.
"Você vai dizer ao seu pai antes ou depois?" ele perguntou.
"Depois. Uma vez que tenhamos embolsado o cheque." Nervosismo me agrediu com o
simples pensamento de confrontar meu pai.
Eu vi Grayson acenar da minha visão periférica, mas não olhei para ele. Ele parecia
estar me estudando. "Se você... quiser desistir, eu -"
Eu balancei minha cabeça. Chegamos muito longe. "Não, eu não." Olhei para ele. "Você?"
"Não."
Ele nos levou direto para casa, e eu o segui, com a intenção de obter algo para comer. Na
penumbra do hall de entrada tirei meus óculos de sol e enfiei-os na minha sobrecarregada bolsa,
empurrando-os para baixo onde eles estariam menos propensos a cair.
"Eu vou encontrá-la aqui às duas horas amanhã, então," disse Grayson, obviamente com a
intenção de sair para trabalhar, fazendo tudo o que ele fazia no edifício de pedra.
"Está bem", eu concordei, tentando parecer indiferente.
"Oh, aqui. Você deixou cair isso." Grayson se curvou e pegou um pedaço de papel, e
começou entregá-lo para mim. Eu vinquei minha testa.
"Não acho que isso é -" E então eu percebi o que era, pela cor do papel. Era a lista que eu
tinha feito sobre Grayson. A que eu também tinha rabiscado "Kira Hawthorn" várias vezes nas
margens, testando minha nova assinatura. Deve ter caído da minha bolsa. Senti o calor subindo na
minha cara, e peguei o papel dele. Grayson olhou-me com desconfiança, puxando o papel de volta.
"Não se atreva", eu respirei.
Ele olhou para o papel na mão e de volta para mim, obviamente mais interessado agora que
eu estava fazendo um negócio tão grande sobre isso. Estúpido, Kira! Mas tinha acontecido tão
rapidamente que eu não tive tempo para mascarar minha reação.
"O que temos aqui?" Perguntou Grayson.
"É pessoal", eu disse. "Devolva."
"Pessoal? Estamos prestes a casar, querida", disse ele, suas palavras cheias de sarcasmo.
"Nós não devemos ter segredos entre nós."
"Muito engraçado. Deixe-me tê-lo."
Ele desdobrou metade quando eu me atirei. Ele levou-me graciosamente,
sorrindo quando eu soltei um grito e quase cai no chão. Virou-se e caminhou rapidamente para a
grande sala de estar à direita do vestíbulo. "Acho que vou puxar uma cadeira de leitura e ver do
que se trata tudo isso."
"Devolva!" Eu gritei, soando como uma criança petulante. Ele desdobrou o
restante enquanto eu corria atrás dele.
"O Dragão, AKA Grayson Hawthorn: Prós e contras", leu em voz alta. Ele olhou por cima
do ombro para mim, levantando uma sobrancelha escura, e, em seguida, deu um passo atrás do grande
sofá de couro e se virou para mim. Tropecei no divã correspondente, quase caindo novamente.
"Não", eu avisei, tentando colocar toda a minha ira merecida em que uma palavra.
Ele inclinou a cabeça, obviamente lendo a minha assinatura rabiscada. "Eu realmente
prefiro que você mantenha o seu nome de solteira", disse ele. Ai.
"Sim, bem, é claro." Meu rosto estava pulsando com o calor. "Dê-me isto." Ele não o fez.
"Pró: Ele é um idiota, mas sua bunda é realmente fácil de olhar." Ele baixou
o papel e me olhou sobre ele. "Você gosta de minha bunda, bruxinha? Você deveria ter me dito. Eu
avisei para não desenvolver sentimentos por mim. Mas eu suponho que está tudo bem admirar minha
bunda se você, de fato, me achar... atraente." Ele sorriu. "Você é apenas humana afinal de contas",
disse ele, coçando o queixo como se perdido no pensamento. "As bruxas são humanas? Hmm..." Ele
olhou de volta para o papel.
"Você..." Eu gaguejava, incapaz de pensar em como terminar essa frase, agitando os
braços em total desamparo, fervendo de raiva. Ele parecia
gostar de despertar deliberadamente minha raiva. Eu queria limpar o olhar arrogante fora de suas
feições estúpidas, bonitas.
"Contra: Ele é um dragão pomposo," Grayson leu com calma.
"Fato comprovado," Eu rosnei.
"Pró: Ele precisa de mim." Os olhos de Grayson se lançaram aos meus, escurecendo.
"Correção - Eu preciso do seu dinheiro."
Bem, ele não iria consegui-lo agora! Ele tinha passado dos limites. Eu nunca iria dar a este
dragão uma maldita coisa. Eu olhei ao redor freneticamente por algo para feri-lo, localizando uma
garrafa de vinho em cima do aparador ao lado de uma porta que presumivelmente levava a uma
adega. Corri até ela, agarrei-a e fui para jogá-la nele.
"Não!" ele gritou, uma nota de pânico em sua voz que me parou no meu trajeto.
"Kira", ele deixou cair a lista e colocou as mãos para cima em uma pose de
rendição, "essa garrafa de vinho é insubstituível." Ele inclinou-se lentamente para oferecer minha
lista e se aproximou devagar, segurando-a para mim. "Acordo" disse ele, movendo-se
cautelosamente em minha direção, como se eu fosse um animal selvagem.
Eu olhei para a garrafa em minhas mãos. Algo francês. Quando eu olhei de volta para
Grayson seu rosto estava branco. "Esta?" Eu perguntei inocentemente, mudando-a para a minha outra
mão com um pequeno lance. Um som sufocado saiu de sua garganta. "Esta aqui? Insubstituível?"
Certamente ele estava exagerando. Caso contrário, por que estaria num aparador na sala de estar?
Ainda que, obviamente, significava muito para ele. Ele começou a mover-se em minha
direção novamente.
"Pare onde você está", ordenei. Ele fez. Eu levantei meu queixo. "Peça
desculpas pela sua grosseria extrema..." Eu acenei a garrafa de vinho ao redor, tentando achar
palavras sobre o que ele tinha feito a mim e ao meu orgulho. Esse mesmo som abafado saiu
da sua garganta de novo, seus olhos rastreando a garrafa.
"Sim, sim, eu peço desculpas. Eu estava apenas me divertindo um pouco com você. Eu não
queria fazer nenhum mal. Eu juro. Venha aqui e me dê a garrafa de vinho, Kira."
Apertei os olhos para ele. "Não."
Ele piscou. "Não?"
"Eu não vou até você. Você vem a mim."
Algo brilhou em seus olhos, mas ele cuidadosamente verificou sua expressão. Seus olhos
pousaram na garrafa em minhas mãos novamente. "Encontre-me no meio."
Eu pensei sobre isso, desafiante. Afinal, eu era a única claramente no controle agora. Mas
eu decidi que um meio termo era adequado. "Está bem.Troca rápida".
Ele assentiu com a cabeça e eu me movi em sua direção. Hmm. Eu gostei de ver aquele
olhar de impotente pânico em seus olhos, e de ouvir aquele som de asfixia estranha vindo de sua
garganta mais uma vez. Com a intenção de passar a garrafa da minha mão esquerda para a direita, eu
balancei meu braço esquerdo em um grande arco e adiantei meu braço direito para agarrá-lo,
mantendo contato visual com O Dragão, um pequeno sorriso em meus lábios. Mas o som de vidro
quebrando ecoou alto na sala silenciosa e eu congelei, sugando uma respiração.
O tempo pareceu desacelerar quando eu olhei à minha esquerda, onde tinha esquecido que ficava um
grande pilar de pedra. Eu levantei meu braço direito e bati na rocha implacável. Engoli em seco,
vendo o que parecia sangue escorrer da pedra em uma crescente poça para o chão. Um som ofegante
veio da entrada e eu chicoteei minha cabeça na direção do pequeno ruído. Walter estava ali, sua
boca aberta, sua tez de um branco medonho.
"Eu tinha acabado de conseguir a chave para a adega", disse ele, sua voz um sussurro
sufocado. "Sinto muito, senhor." Oh, Deus.
Eu olhei para baixo com o pescoço quebrado da garrafa ainda em minha mão e, em
seguida, lentamente, muito lentamente para cima, para Grayson. Ele estava fervendo com o que
parecia ser uma fúria mal controlada. "Não foi culpa sua, Walter. Você pode ir", disse ele, sua voz
cheia de calma mortal.
Houve uma pausa. "Sim, senhor", disse Walter, e, em seguida, ele rapidamente se afastou.
Pisquei, e minha mão largou o gargalo quebrado, que também se espatifou no chão. Eu
fiquei de pé, colada no lugar enquanto Grayson fez lentamente seu caminho para mim. Eu
praticamente podia sentir a raiva ardente emanando dele. Quando ele chegou até mim, aproximou-se,
levando seus dedos e inclinando meu queixo acima para ele. Um músculo se contraiu em sua
mandíbula - um pequeno aviso. Fiquei mais reta, encontrando seus olhos. "Essa garrafa de
vinho," Grayson falou entre dentes, "era o orgulho e a alegria do meu pai. Ele passou anos tentando
obtê-la. Quando finalmente o fez, ele chorou. Ele chorou, Kira. Lágrimas de alegria sobre a garrafa
que você acabou de esmagar com rancor."
Eu balancei a cabeça, tentando desesperadamente não vacilar. "Foi um acidente. Foi só...
Sentada ali..." Eu odiava o vacilo na minha voz quando minhas palavras desapareceram.
Ele soltou meu queixo, seus olhos escuros ainda olhando para mim atentamente. "Duas
horas", disse ele, finalmente. "Encontre-me aqui amanhã às duas horas."
Duas horas? O que tinha às duas horas? Eu não conseguia lembrar. Oh, Deus, o casamento.
Eu quase lhe disse que ele foi transferido. Abri minha boca para dizer as palavras, mas não saíram. É
evidente que ele passaria por ele agora para me punir - ou pelo menos para amortização
da "insubstituível" garrafa de vinho.
Com essas palavras Grayson saiu a passos largos da sala de estar. Fiquei ali por alguns
minutos, e finalmente andei com as pernas bambas para onde ele deixou cair minha lista infantil. A
peguei e caminhei para a cozinha, onde Charlotte estava limpando o balcão, o cheiro doce de canela
e maçãs flutuando no ar. Ela olhou para mim com um olhar claramente nervoso e, em seguida,
desviou o olhar. "Ele não é um homem mau, Kira."
Engoli em seco. "Eu..." Eu balancei a cabeça, começando novamente. "Tenho certeza que
ele não é sempre, mas eu tenho uma maneira de... trazer para fora o pior dos homens."
"Tenho certeza que isso não é verdade."
Dei de ombros. Realmente era. Realmente, era mesmo. Bile subiu na minha
garganta. Pensei que poderia estar doente, mas consegui engoli-la.
"E talvez sejam mais eles do que você, minha querida. Talvez será necesário um homem
muito especial para..."
"Lidar comigo?" Eu ri, um pequeno som que continha pouca diversão.
"Amar você", ela corrigiu. Eu não tinha certeza se deveria tomar isso como um elogio,
exceto pelo fato de que Charlotte estava sorrindo calorosamente para mim.
Amor. Anseio feroz subiu no meu peito. Por apenas uma vez ser valorizada. Eu suspirei.
"Em qualquer caso, meu arranjo com Grayson não tem nada a ver com amor. E,
também, isso não importa. Eu não seguirei completamente. Foi uma péssima ideia desde o início." Eu
me virei para Charlotte, para vê-la passando a esponja sobre os balcões, um olhar pensativo no
rosto. "Esse vinho, Charlotte, era realmente insubstituível? Será que seu pai realmente procurou-
o por anos..." Eu lutei contra a vontade de chorar.
Charlotte ficou em silêncio por um momento, parecendo tomar uma decisão. Ela colocou a
esponja sobre a pia e deu a volta no balcão para se sentar ao meu lado. Ela pegou minhas mãos nas
dela, um olhar de simpatia em seus olhos. "Ele provavelmente nunca dirá ele mesmo, e então
eu vou te contar algo sobre Grayson e seu pai, Kira. Eu não gosto de fofoca, mas
talvez conhecer alguns acontecimentos da vida de Grayson te ajudará a entender por que ele é tão
obcecado em trazer esta maldita adega de volta." Ela franziu os lábios por um segundo, mas então sua
expressão apagou. Maldita adega? Esta era sua casa, também. Será que ela não gosta daqui?
"Grayson e seu pai, Ford Hawthorn, não tinham um bom relacionamento." Ela balançou a cabeça
tristemente. "As razões eram muitas, e talvez Grayson vá compartilha-las com você algum dia, mas
basta dizer que ele nunca foi feito para sentir que pertencia a essa casa - tanto pelo seu pai quanto
pela sua madrasta. Eles... erradamente o culparam por coisas pelas quais uma criança nunca deve ser
responsabilizada. Trataram-no miseravelmente – excluindo-o, cada um tentando convencer o
outro que o odiava mais." Um olhar de tristeza crua encheu sua expressão. "Grayson tentou tanto, toda
a sua vida, ele... bem, não importa. Nada do que ele fez foi considerado bom o suficiente." Ela
balançou a cabeça. "Mais tarde, depois que ele foi preso..." Ela pegou um lenço de papel no balcão e
limpou o nariz. "Seu pai nunca o visitou, nem mesmo uma vez. Ford descobriu que tinha câncer
enquanto Grayson estava longe, e ele morreu rapidamente. Ou pelo menos pareceu assim. Quando
Grayson voltou para casa, descobriu que seu pai tinha deixado esta vinha para ele, um negócio que
havia começado a falhar assim que Ford descobriu que estava doente. Ele deixou o dinheiro para sua
esposa e para o irmão de Grayson, Shane, mas ele deixou o vinhedo para Grayson." Alguma coisa
deslizou em sua face, mas tinha ido embora antes que eu pudesse tentar lê-la. "Grayson prometeu
naquele dia que traria a vinha de volta, não para si, mas para o pai que tinha evitado-o durante toda
sua vida mas que, no final, deixou este lugar como uma oferenda de paz. Grayson sentiu que Ford lhe
tinha confiado sua mais amada posse porque ele finalmente acreditou que ele era digno. Digno de
revivê-la, digno de executá-la. E Grayson vai fazer praticamente qualquer coisa para provar que seu
pai não estava errado nessa crença."
Eu caí de volta no banco. Isso era muito. "Ainda que seu pai o tratasse tão
terrivelmente antes disso?"
Charlotte assentiu. "Eu acredito que seja justamente porque seu pai o tratar tão
terrivelmente antes disso. Para Grayson, redimir esta vinha significa resgatar seu próprio valor."
Eu balancei a cabeça lentamente, mordendo meu lábio, pensando no quanto Grayson
Hawthorn e eu tínhamos em comum. Ambos gerados por pais que nunca pensaram que
fôssemos suficientes.
"Obrigada, Charlotte. Eu o entendo um pouco melhor agora. E eu me identifico." Eu
pressionei meus lábios em pensamento. "Eu pensei que talvez nós pudéssemos ser amigos, exceto
que... que ele pensa que eu sou uma bruxa, e eu ainda tenho certeza que ele é um dragão. Pelo menos
quando se trata de mim."
Ela riu, aparentemente achando tudo divertido.
"Por que você me disse tudo isso, Charlotte?" Eu perguntei, inclinando a cabeça em
questão.
Ela agarrou minhas mãos novamente. "Eu acho que se pode ver as pessoas sob uma luz
diferente quando se entende suas motivações. E talvez você ache que traz o pior em Grayson, mas
desde que você entrou em sua vida, mesmo que tenha sido tão pouco tempo, ele tem estado mais vivo
do que em todo o ano que ele está em casa... mesmo que isso seja traduzido em lotes de respiração
de fogo." Ela apertou minhas mãos com força novamente. "Eu acredito que isso é uma coisa boa.
Grayson pode ser arrogante - devido à sua aparência em grande parte. Mas, por dentro, sua dor é
muito profunda." Ela parecia triste por um momento, mas depois sorriu para mim. Eu não pude deixar
de sorrir de volta. Havia algo tão maravilhosamente reconfortante em Charlotte. "Aqui, deixe-me te
cortar uma fatia grande de bolo de maçã e canela direto do forno", ela disse. "E por falar nisso,
minha querida", continuou Charlotte, descansando a mão na minha, no balcão, um brilho em
seu olhos, "esqueca o príncipe e a princesa. Eu sempre imaginei que a história real era entre a bruxa
e o dragão." Sua risada musical ecoou pela cozinha.
Capítulo Oito
Kira
Eu não imaginei o dia do meu casamento como este. Eu tinha acordado sozinha, tomado
uma ducha gelada e, depois rapidamente deixei a propriedade Hawthorn e fui ao centro de Napa para
comprar algo para vestir. Mas, uma vez que eu tinha começado a pesquisar em algumas lojas, percebi
o quão ridículo era. Por que preciso de uma roupa nova? Para
que ter um gasto extra, para trocar votos falsos de casamento para um homem, quando íamos
nos casar por dinheiro? O homem que provavelmente odiava-me depois do que tinha acontecido no
dia anterior. Eu respirei fundo. Ainda assim, eu ia passar por isso. Eu tinha feito a minha mente
enquanto eu estava deitada na cama na noite anterior, pensando em
minhas próprias razões da necessidade do dinheiro que a vovó tinha me deixado, e pensando sobre
as razões de Grayson também. Eu não podia deixar de sentir como se tivéssemos mais em comum do
que qualquer um de nós sabia. E talvez nunca teríamos que saber a extensão disso, mas lá no fundo eu
sentia uma espécie de paz sobre a partilha do dinheiro com ele, dragão ou não.
Eu finalmente escolhi um semi-ocasional vestido de renda branca, e um par de sandálias de
tiras azul-prateado.
Não era extravagante, mas pelo menos eu pareceria como se tivesse colocado algum
esforço para parecer uma noiva para as pessoas no escritório do escrivão. Tratava-se de
um show, afinal de contas, pensei tristemente.
Enquanto eu dirigia de volta para Hawthorn Vineyard uma memória de repente veio
à minha mente. Quando eu tinha sete ou oito anos encontrei a coleção de catálogos e revistas
velhas da minha avó. Um deles tinha vestidos de noiva, assim eu cortei todas as minhas escolhas para
uma festa de casamento inteira, e colei-as numa peça de papelão. Eu gastei horas passando por
cada livro, escolhendo flores, bolos e tudo mais que eu poderia achar, adicionando itens à minha
visão. Quando eu tinha mostrado orgulhosamente para minha avó, ela jorrou sobre ele, como
minha avó tendia a fazer. Mas então ela me perguntou por que não havia nenhum pai da noiva.
"Oh", eu disse, "ele estava trabalhando. Ele não pôde vir". Minha avó olhou-me tão
tristemente, e então me abraçou bem forte. "Você vai ser a noiva mais linda, meu amor", ela disse, "e
seu noivo vai amar você aos montes."
Senti uma forma de protuberância no meu peito. "Oh, vovó, eu sinto muito sobre isso", eu
sussurrei para o silêncio do meu carro.
Assim, quando eu estava terminando de me vestir, ouvi uma batida suave na minha porta da
casa de campo e assustei-me ligeiramente, imaginando se Grayson tinha vindo me procurar em vez de
nos reunirmos na casa como tínhamos planejado. Ou talvez ele estava vindo para cancelar o acordo?
Meu coração tomou uma batida irregular enquanto eu dizia, "Entre."
Um momento depois, ouvi a voz cantada de Charlotte dizendo Olá, e relaxei meus ombros.
Ela sorriu quando entrou no meu quarto. "Oh meu Deus, você está linda minha querida."
Eu dei-lhe um pequeno sorriso, mexendo-me um pouco. Eu não queria que ela fizesse isso
parecer como se fosse, de alguma forma, um dia de casamento real. Isso só iria acrescentar à minha
vergonha.
"Eu trouxe algo para dar sorte", disse ela, mantendo aberta a palma da mão e mostrando um
pino pequeno e prateado de cristal, em forma de rosa.
"Oh, não, Charlotte. Eu não posso. Esse casamento não necessita de qualquer sorte. Já
combinamos até de falhar", eu disse, minhas bochechas aquecendo.
"Bem, então, é boa sorte para você", disse ela. "Por favor, deixe-me. Minha mãe me deu
isso no dia do meu casamento, e eu não tenho uma filha a quem dar, nem
tenho quaisquer netas. Significaria o mundo para mim você aceitá-lo."
"Eu realmente não posso", gritei, tentando não chorar.
"Que tal só por hoje?" Ela sorriu esperançosa. "Você pode devolvê-lo, se quiser."
Ela bateu palmas. "Oh, isso é ainda melhor. Algo emprestado."
Soltei uma risada em uma respiração. "Está bem. Mas só se você me deixar devolvê-lo."
"Aqui," ela disse, inclinando-se e fixando-o no corpete do meu vestido. Ela se afastou e
sorriu suavemente. "Adorável."
Não sendo capaz de me ajudar, joguei meus braços ao redor de Charlotte, inalando o aroma
calmante de talco em pó. Ela riu um som doce e me abraçou de volta. "Agora, então," ela disse
suavemente.
Às duas horas eu andei até a casa principal, onde Grayson estava apoiado
casualmente na frente de pedra. Ele estava usando um par de calças cáqui e uma camisa azul de
abotoar. Tentei não notar como ele era impressionantemente bonito. Quando ele me
ouviu aproximando-me, olhou-me fixamente, e eu peguei um breve piscar de surpresa em seus
olhos, que depois desapareceu.
"Pronta?" ele disse simplesmente, sem fazer nenhum comentário sobre minha aparência. Eu
balancei a cabeça.
Nenhum de nós falou nos primeiros cinco minutos do passeio em seu caminhão. Finalmente
virei-me para ele, e seu olhar estava fixo em minhas pernas nuas. Eu cruzei-as, e seus olhos voaram
para os meus. Ele apertou a mandíbula. Será que ele achou que minha roupa estava muito casual?
"Grayson, eu sou... eu sinto muito pela garrafa de vinho de seu pai."
Seus ombros pareceram relaxar um pouco enquanto ele olhava para fora do pára-brisa
dianteiro. "Não foi inteiramente sua culpa. Você não teria como saber que uma garrafa de vinho tão
valiosa estaria na sala de estar. E eu te empurrei a esse ponto, eu admito. Eu não sou
inocente por brincar sobre sua... lista. Eu sinto muito, também."
Exalei conforme senti minhas bochechas ruborizarem com a menção de minha lista.
"Estamos quites, então?"
Ele me deu um leve sorriso. "Sim. Especialmente considerando que você me pagará de
volta por isso hoje." Ele virou o rosto para mim e me deu um sorriso diabólico que fez meu coração
gaguejar no meu peito. Mas então ele suavizou, e eu vi que ele estava fazendo uma piada.
"Pronta para prometer para sempre? Ou, pelo menos, doze meses?" ele perguntou, olhando-
me de lado.
Eu ri um riso nervoso. "Tão pronta como eu nunca vou estar, eu acho. Isso não é exatamente
como eu imaginei o dia do meu casamento."
"Não? Sem fotos do grande vestido branco e todo o crème de la crème da
sociedade convidados para a recepção?" Seus olhos pousaram em mim por um segundo.
Era verdade. Quando eu tinha sido noiva de Cooper, tinha sido o que eu tinha imaginado
para o meu casamento, principalmente porque era isso que meu pai e Cooper tinham imaginado.
Mas aquele nunca tinha sido meu sonho. Eu só estava tentando tão difícil agradar a ambos.
Eu sorri, mas o senti triste em meus próprios lábios. "Suponho." Eu não ia
entrar nisso tudo com Grayson, especialmente não agora. Seus olhos procuraram meu rosto por
alguns momentos rápidos, mas depois ele olhou de volta para a estrada, sem dizer nada.
O clima entre nós ainda estava um pouco tenso, e depois nenhum de nós falou, cada um
ocupado com seus próprios pensamentos. Embora Grayson tivesse dito que eu estava perdoada sobre
o vinho, ele ainda parecia um pouco tenso, se o tique-taque em sua mandíbula cada vez que ele olhou
para mim fosse uma indicação. Ah, bem, depois de hoje estaríamos evitando um ao outro, de
qualquer forma. Eu tinha oferecido minhas desculpas e ele aceitou. Se ele ainda nutria uma
hostilidade geral não fazia qualquer diferença para mim. Mordi lábio até doer, tentando distrair-
me de pensar em tudo. Eu não queria pensar sobre isso. Eu não queria considerar o que
realmente estava fazendo.
Chegamos ao cartório do condado de Napa poucos minutos depois, e quando íamos sair do
caminhão o céu se abriu de repente e começou uma chuva torrencial. Nós rapidamente fechamos as
portas, voltando para dentro.
Grayson riu. "O destino está contra nós."
Dei uma pequena risada também. "Aparentemente. Embora eu tenha ouvido dizer que
chuva no dia do casamento é boa sorte."
"Somente pessoas que receberam chuva no dia do casamento afirmam sentirem-se
sortudos. Nós vamos ter que dar uma corrida."
"Está bem. Na contagem de três", eu disse, abrindo a porta. Nós dois pulamos e
corremos, e eu guinchei enquanto corríamos para o edifício. Ele agarrou minha
mão no meio do caminho entre o carro e o escritório, e seu riso profundo subiu acima do som do
aguaceiro. Por um momento no tempo éramos apenas um menino e uma menina correndo e rindo na
chuva no dia do nosso casamento. O momento foi repentino, de sonho, e quando irrompemos no hall
de entrada e ambos piscamos um para o outro eu sabia que ele tinha sentido isso também. Mas
o encanto foi quebrado, e o momento estranho terminou abruptamente quando olhamos para as
pessoas que agora estavam nos observando. Havia dois outros casais lá, obviamente esperando para
casar, os dois de mãos dadas e ambos parecendo serenos e felizes com o que parecia ser o dia mais
feliz de suas vidas. Isso fez-me intensamente consciente do que estávamos prestes a fazer. E pelo
olhar no rosto de Grayson ele devia estar pensando a mesma coisa.
"Pronta?" ele perguntou.
Não não não. "Sim."
Atravessei a próxima hora como se estivesse apenas fora do meu próprio corpo. Tentei não
considerar a realidade da situação. Imaginei os rostos das pessoas no centro, a pequena casa na
qual eu ia estabelecer-me uma vez que deixasse Hawthorn Vineyard, qualquer coisa para manter o
meu foco sobre o que este dia significava. Nós obtivemos a licença de casamento e esperamos na fila
para dizer os nossos votos. A expressão de Grayson era distante, ligeiramente fria - O Dragão tinha
ido embora e O Príncipe de Gelo estava de volta. Eu não perguntei, no entanto, o que ele
estava pensando. Minhas próprias emoções eram bastante difíceis de gerir, então não
precisava adicionar as dele à mistura. Ele não seria nenhum apoio para mim - ele não
estava nem mesmo tentando ajudar. Embora, realmente, o que eu esperava que ele fizesse? A leveza
do momento quando tínhamos corrido na chuva se foi, agora substituída por silêncio e
desconforto. Finalmente um funcionário do Tribunal ficou como nossa testemunha, e eu recitei meus
votos, prometendo amar, honrar e estimar Grayson Hawthorn todos os dias da minha vida. Senti
uma cobra de medo resvalar pela minha espinha quando cometi o sacrilégio de prometer amor
e devoção a um homem a quem eu não tinha intenção de amar ou me dedicar. Era uma mentira, uma
farsa de algo sagrado. Eu nunca fui uma pessoa particularmente religiosa, mas tinha me perguntado
se seríamos punidos de alguma forma por esta zombaria.
Ele recitou seus votos para mim, a voz firme, sua maneira removida. Eu o vi, meu peito
doendo na expressão séria no rosto bonito. Quando o comissário de casamento perguntou se
tínhamos anéis para trocar, Grayson enfiou a mão no bolso e tirou um anel de ouro bonito com uma
opala no centro, rodeada por diamantes. Engoli em seco quando ele deslizou o anel no meu dedo. Eu
tentei pegar seu olhar, mas ele olhou por alguns segundos para minha mão e, em seguida, levantou os
olhos para o homem que executava nossa cerimônia. Fiquei olhando para a bela peça de antiguidade
– vista linda de jóias, um caroço se formando em minha garganta por sua consideração em lembrar de
trazer um anel. Eu não tinha sequer pensado nisso.
"Você pode beijar a noiva."
Grayson inclinou-se e deu um rápido beijo na minha boca. Ao sentir seus lábios
secos roçando os meus, a histeria que eu tinha mantido na baía desde que tinha acordado naquela
manhã de repente borbulhou no meu peito, e eu bufei uma risada mal contida. Eu fingi uma pequena
tosse, meus olhos arregalados na traição de meu corpo. Seu beijo me fez lembrar de um que meu
antigo e excêntrico tio Colburn daria. Tio Colburn cheirava a naftalina. Hilaridade e insanidade
guerrearam dentro de mim, ambas querendo o controle. Deixei escapar um outro pequeno bufo, e
tentei encobri-lo com outra tosse.
As sobrancelhas de Grayson dispararam e, em seguida, seus olhos se
estreitaram, parecendo quase preguiçosos quando ele me olhou, algo tenso e desafiador em sua
expressão, como se ele achasse que eu tinha rido exclusivamente para zombar dele. Engoli em
seco, repentinamente séria. O que tinha acontecido comigo? O estresse deste dia tinha
claramente partido meu cérebro ao meio. Claro que ele deveria beijar-me como um velho tio seco.
Este era um acordo de negócios.
Grayson deu um passo para o meu espaço e pegou meu rosto em suas mãos quando eu
chiei o que soou como um reles e surpreso pio. Ele pressionou seus lábios nos meus, varrendo sua
língua sobre a costura da minha boca. Eu não tive tempo para pensar, e meu corpo respondeu-
lhe instintivamente quando eu separei meus lábios avidamente para tomar sua língua, derretendo
contra ele. O beijo não mostrou misericórdia: sua língua saqueou minha boca e deixou meus joelhos
fracos enquanto eu me agarrava a seus ombros. E tão de repente como tinha iniciado ele se
distanciou, nossas bocas descolando com um pop molhado quando eu tropecei para
frente, equilibrando-me antes de cair nele.
O comissário de casamento sorriu. "Bem, agora!"
Bem, agora, de fato.
Tentei recuperar a compostura, usando o polegar para limpar a saliva do meu lábio
inferior quando as palavras finais foram ditas. "Pela autoridade investida em mim, eu os declaro
marido e mulher."
E então estava feito. Eramos oficialmente o Sr. e a Sra Grayson Hawthorn. Para sempre e
sempre. Amém.
Ou, pelo menos para o próximo ano ou assim. O que provavelmente não merecia um amém.
Eu andei com Grayson de volta para seu caminhão com pernas
que senti estranhamente dormentes, ainda me recuperando ligeiramente de seu beijo, sentindo uma
medida de humilhação. Ainda assim, ele tinha feito algo atencioso. "Obrigada por lembrar de um
anel", eu disse suavemente. "Eu nem sequer pensei em obter um para você. Onde você conseguiu
isso em tão pouco tempo?"
"Ele ainda estava na casa. Eu só não tive tempo de vendê-lo." Eu olhei para ele,
imaginando que ele tinha tal olhar firme em seu rosto porque essa tinha sido uma das jóias de sua
madrasta. Bem, serviu para tornar a nossa união legítima sob olhar do mundo exterior, então o que me
importava de onde tinha vindo? "Eu vou devolver-lhe quando, hum -"
"Está bem", foi sua resposta lacônica.
"Está bem", eu disse, decidindo não mencionar o beijo em tudo, ou o fato de que eu tinha
rido de seu primeiro.
Agora que minha mente estava mais clara, percebi que ele provavelmente fez isso por
nenhuma outra razão além de fazer nossa cerimônia parecer convincente. Após um momento de
silêncio, perguntei: "Então, você quer, hum, ir a um almoço tardio ou algo assim?" Eu não tinha idéia
do protocolo para este dia. Era o dia do meu casamento. Oh, Deus...
Só que não era realmente. Eu não consideraria este o dia do meu casamento. Algum dia eu
teria um verdadeiro, e seria o oposto disso. "Não posso. Eu tenho que voltar ao trabalho", disse
Grayson, sem olhar para mim.
Tudo bem então. "Talvez um jantar esta noite? Devemos pelo menos celebrar o golpe de
sorte que estamos prestes a obter." Eu dei-lhe um pequeno sorriso e me senti mais esperançosa do
que o pretendido.
"Kira..." Ele suspirou, correndo uma mão pelo cabelo como se minha conversa o chateasse,
como se ser convidado para jantar fosse um grave incômodo. Será que ele achava que isso
significava que de repente eu esperava um relacionamento com ele, agora que eu era sua esposa,
tinha recebido um beijo obrigatório e usava uma bugiganga que ele encontrou em torno de algum
canto empoeirado de sua casa? Raiva e uma dor que eu não queria admitir queimaram dentro de mim.
"Não se preocupe", disse. "Acabei de me lembrar que eu tenho planos, de qualquer
maneira."
Ele olhou para mim como se soubesse muito bem que eu estava mentindo. "Talvez outra
hora, ok? Eu estou tendo um problema com uma peça de equipamento. Perder estas poucas horas de
hoje já me coloca em desvantagem."
Eu tinha acabado de jogar a santidade do casamento de um penhasco, e ele mal conseguia
ser cordial? Eu não esperava por seus agradecimentos, mas também não esperava me sentir como um
inconveniente para o seu dia. Engoli minha decepção, porque obviamente seria desperdiçada com
o dragão arrogante. "É claro. Eu entendo", menti.
Quando nós chegamos à sua casa, eu pulei fora, chamando: "Eu devo ter o cheque dentro de
uma semana ou assim. Vou passar a sua parte." Eu olhei para trás. Grayson estava de pé ao lado de
seu caminhão com as mãos nos bolsos, observando-me ir
embora. Quando comecei atravessar o gramado para minha casa de campo, eu levantei meu queixo e
virei meu cabelo. E então senti quando galho afiado espetou minha coxa, arrancando um grande rasgo
no meu vestido. Eu pulei um pouco e soltei um pequeno grito. Droga. Ergui meu queixo e
continuei andando. Ouvi sua risada baixa de longe atrás de mim, e resisti ao impulso de
transformar por aí, correr de volta e arrancar seus olhos reptilianos. Em vez disso, eu bati a porta de
minha casa quando entrei, embora a velha porta não se encaixasse exatamente certo sobre as
dobradiças, e deu um clique muito insatisfatório quando fracamente reuniu-se ao batente.
Este foi o dia de casamento mais lamentável que já existiu. ‘O que você esperava? Você fez
isso’.
Tirei o anel de opala, que era nada mais que um adereço, e deixei-o no peitoril da janela.
Eu também removi o pino que Charlotte tinha me dado para não esquecer de devolvê-lo.
Em seguida, sentei-me na minha cama brincando distraidamente com o pedaço rasgado
do material do meu vestido e finalmente cedendo às lágrimas que eu senti queimando atrás de meus
olhos durante toda a manhã.

Exausta e emocionalmente esgotada após os acontecimentos do dia, e porque eu não tinha


dormido bem na noite anterior enquanto me virava na cama e reavaliava a minha decisão, eu tirei
uma longa soneca. Meus sonhos foram preenchidos primeiro com uma vasta paisagem de gelo. Eu
vagava sem rumo, gritando com o frio, tremores violentamente sacudindo meu corpo enquanto eu
tentava, em vão, me aquecer. E de repente eu estava no meio de uma cascata de fogo, presa em
um cachoeira de lava, meu corpo líquido, minha pele furiosa com um calor que se sentia
deliciosamente erótico. Chamas me consumiam, e ainda, de alguma forma, eu não estava sendo
queimada. Acordei gemendo, com os seios formigando, molhada e pulsando entre as pernas. Caí para
trás em meus travesseiros. Eu nunca tinha tido um sonho sexual tão intenso antes. Achei que era para
mostrar quanto tempo tinha sido. Minhas mãos foram para meus seios doloridos quando ouvi uma
porta de carro bater do lado de fora. Sentei-me rapidamente, correndo para a janela. Não podia
ser meu pai – não havia nenhuma maneira dele ter descoberto sobre meu casamento. Certo? Ou será
que ele tinha servos em todos os tribunais no país? Eu dificilmente duvidaria que o fizesse. Não, não,
eu me tranquilizei. Apesar de sua intrusão na minha vida, ele tinha peixes maiores para fritar do que
eu. Ainda assim, a adrenalina inundou meu sistema e meu coração pulou com
pânico, refrigerando meu sangue aquecido pelo menos alguns graus. Eu alisei minhas mãos sobre
meu rasgado e enrugado vestido, tomando uma respiração profunda, me acalmando. Ele não podia
fazer nada para mim, de qualquer maneira. Eu diria a ele que eu era casada - e que ele precisava
me deixar em paz.
Eu andei poucos passos através de uma moita e quando saí na calçada vi
uma mulher loira falando com Grayson na frente de um pequeno carro esporte vermelho. Os dois se
viraram, obviamente tendo me ouvido, e então eu não voltei como primeiro pretendia após detectá-
los. Em vez disso, andei para onde eles estavam. Conforme ela assistia eu me aproximar, tinha um
olhar em seu rosto como se tivesse acabado de provar algo azedo, e os olhos de Grayson se
estreitaram.
Eu estendi minha mão quando cheguei a eles. "Oi, eu sou Kira", eu disse.
A mulher olhou para a minha mão como se eu estivesse oferecendo-lhe um peixe morto,
mas finalmente agarrou as pontas dos meus dedos e apertou-os fracamente.
"Eu sou Jade. Eu parei para ver se poderia fazer o jantar para Grayson hoje à noite." Ela
olhou docemente para ele, batendo os cílios postiços. Um aroma pesado de pêssegos
artificiais depreendia dela, mas eu não podia negar que ela era bonita. Se você gostar desse tipo. O
que Grayson obviamente fazia. Olhei para ele e o encontrei me olhando com uma expressão que
parecia intensa e... com raiva? Seu humor eventualmente teria me dado chicotadas.
Eu me mexi nos meus pés, percebendo o quão terrível eu devia parecer. Eu podia sentir
que meu rosto ainda estava vermelho do meu sonho, e sabia que meu cabelo
devia estar numa desordem selvagem, como sempre ficava depois que eu tinha dormido. Meu
vestido estava rasgado e enrugado e... e eu era o oposto exato desta beleza penteada na minha frente.
Corri minha língua ao longo do meu lábio inferior nervosamente, sentindo-me insegura e
odiando isto.
Esperei por ele para contar a essa mulher que eu era sua esposa.
Grayson olhou para longe de mim, para Jade. "Claro, isso parece bom."
Senti meus olhos se arregalarem e deixei escapar um pequeno suspiro. Ele ia aceitar a
oferta de Jade para cozinhar o jantar para ele depois que ele tinha recusado jantarcomigo no dia do
nosso casamento? E se alguém os visse?
E se Jade tivesse uma boca grande e espalhasse a notícia que ela estava namorando
Grayson? Meu coração batia forte e minha pele sentiu uma coceira repentina.
Meu marido estava indo a um encontro no dia do nosso casamento. Meu marido estava
indo em um encontro no dia do nosso casamento. Eu tive o repentino e intenso desejo de dobrar de
tanto rir.
Somente você, Kira. Somente você estaria em uma situação como esta.
"Basta dar-me dois minutos para me limpar", disse Grayson a Jade.
"Claro, querido." Ela sorriu docemente para ele. Querido. Esta mulher só tinha chamado
meu faldo marido de querido. "Você pode tomar banho na minha casa, se quiser." Os lábios dela
transformaram-se na farsa de um sorriso, mas seus olhos me atiraram punhais.
Grayson entrou na casa, e Jade e eu ficamos olhando uma para a outra. "Então, quem
é você exatamente, Kira?", perguntou Jade, desagradável.
Eu? Eu sou sua esposa, querida. Espero que você tenha uma agradável noite em seu
encontro. Levou tudo de mim para não dizer isso. Eu tinha concordado que devíamos continuar como
de costume, enquanto fossemos discretos. Ainda assim, dependia de Grayson lidar com esta situação
com Jade. Eu não tinha realmente feito qualquer trabalho de secretariado ou de contabilidade para
Grayson ainda, e de repente me lembrei que tinha me oferecido. "Eu sou, hum, sua nova
secretária, barra contadora, barra... bem." Eu deixaria isso assim, numa soma das outras coisas.
Mal sabia ela que havia um grande espaço em branco.
Ela estreitou os olhos para mim. "E você... vive aqui?"
Nós duas olhamos para cima para ver Grayson trotando de volta descendo a escada. Ele
mal teve tempo suficiente para lavar as mãos e espirrar um pouco de água fria no rosto.
Aparentemente ele não se importava que Jade o pegaria anti-chuveiro, ou ele planejava pegar a
oferta dela e tomar banho em sua casa. Um flash dela na cozinha fazendo o jantar para ele, e ele
vindo por trás dela em uma pequena toalha para beijar sua nuca de repente veio à minha mente. E por
que, oh, por que essa visão me incomodava tanto?
Idiota, Kira!
"Pronta?" Grayson perguntou, olhando para Jade.
"Hmm hmm", disse ela. "Kira aqui estava me contando que ela é sua nova
secretária, barra contadora, barra..." Nós dois olhamos para ela, esperando que ela continuasse, e ela
olhou para nós, evidentemente à espera de um de nós para dizer algo, também.
Grayson pigarreou. Eu tossi. Jade apertou os olhos mais e aproximou-se de Grayson,
apontando claramente sua reivindicação.
"E você vive aqui agora?" Ela perguntou de novo, apertando os olhos mais.
"Eu vou ficar na casa de campo ali." Eu acenei minha mão na direção da minha pequena
casa de campo. Como se fosse completamente normal para secretárias viverem em encardidas casas
de jardineiro no local.
Jade enrugou seu narizinho bonito. "Eca! Aquele lugarzinho enterrado na mata que você
pode apenas ver a partir da entrada de automóveis? Deve haver ratos lá."
Cruzei os braços em relação a ela antes de arregalar meus olhos e falar lentamente, com
fingida excitação. "Oh sim! Existem. Um casal, na verdade," eu disse, lançando um olhar para
Grayson. Ele me olhou sem expressão. Virei meu olhar de volta para Jade e continuei. "Ogilthorpe e
Ortensia. Tenho certeza que Ortensia está grávida, também." Eu coloquei um dedo no meu queixo em
pensamento. "Eu vou ter que pensar em alguns nomes com ‘O’ antes que cheguem os bebezinhos
de rato, é claro. Se você tiver alguma sugestão boa, deixe-me saber." Eu dei-lhe um sorriso falso,
resistindo à vontade de girar meus olhos.
Suas feições apertaram em uma expressão de nojo, e Grayson virou um pouco e tossiu em
sua mão. Mas eu podia jurar que vi seu lábio se contorcer um pouco antes dele cobrir sua boca.
"Vamos lá", disse Jade para Grayson, me ignorando.
"Eu confio que você vai encontrar uma maneira de se divertir hoje à noite?" Grayson
perguntou, erguendo as sobrancelhas.
"Eu tenho certeza que vou", eu disse, dando-lhe um pequeno sorriso falso.
Seus olhos pousaram no meu rosto no espaço de vários batimentos cardíacos e, em
seguida, ele se virou com Jade. Quando chegaram ao carro dela, ela se virou para ele e disse em voz
alta o suficiente para eu ouvir, "Eu não sou como ela. Ela é estranha."
Se Grayson comentou, ele o disse suavemente o suficiente para que eu não pudesse ouvir.
Vi o carro virar, indo pela garagem e desaparecendo de vista.
Era só uma questão de tempo antes que meu pai soubesse que este casamento era uma farsa
total. Nem mesmo um dia passou, e Grayson já ia estragar tudo. Eu fiz um esforço combinado para
controlar minha respiração rápida.
Se alguma vez houve um dia que tinha merecido vinho, e em grandes quantidades,
este certamente era ele. E que sorte a minha: eu morava em uma adega!
Capítulo Nove
Grayson
"Obrigado", eu disse, saindo do carro de Jade. Ela me deu um sorriso tenso e acenou, sem
dúvida decepcionada sobre onde a noite tinha ido - ou não ido, como foi o caso. Eu
geralmente não voltaria por alguns segundos, mas tinha toda a intenção de trabalhar um pouco na
cama de Jade. No entanto, uma vez que eu tinha chegado no apartamento dela e ela me empurrou em
seu sofá e começou a me apalpar, tudo o que pude pensar era no fato de que este era o dia do meu
casamento. O que foi chato pra caralho, porque não era como se o dia do meu casamento significasse
alguma coisa. Mas no final, só parecia de mau gosto foder uma mulher no dia que eu tinha dado meu
nome - temporariamente ou não - para outra. Eu não chamaria de honra, porque claramente eu tinha
muito pouco disso, mas me senti... desagradável, errado. Mal o suficiente para esfriar quaisquer
pensamentos lascivos que eu possa ter tido sobre o pequeno corpo atlético de Jade.
Meus pensamentos se voltaram para Kira pela centésima vez naquela noite. Kira e aqueles
estúpidos nomes de ratos com ‘o’. Era definitivamente estranho - então por que me deu vontade
de beijá-la novamente? Beijá-la bem. Beijá-la muito e bem, envolvendo o cabelo de fogo em torno
de meu punho. Algo tinha claramente tinha se colocado entre mim e meu bom senso.
Eu vi o carro de Jade desaparecer e fiquei na garagem por mais um minuto,
considerando minha espirituosa esposa bruxa. Eu esperava que ela não fosse aparecer naquela
manhã, que ela acabaria com essa farsa de casamento e sairia depois do que tinha acontecido no dia
anterior com a lista e o vinho. E eu não conseguia decidir se queria isso ou não. Claramente nós
não complementávamos um ao outro em qualquer arranjo, comercial ou qualquer outra forma. Eu
ainda estava nervoso sobre o vinho, mas se fosse realmente honesto admitiria que as coisas tinham
corrido mal para mim desde que a vi nua. Se eu pudesse apagar a visão do meu cérebro eu iria,
porque não tinha sido capaz de parar de pensar nela desde então. Totalmente indesejável... e
ainda absolutamente inegável. Quando eu entrei em sua casa de campo e a vi ali, completamente
nua, luxúria tinha me agarrado com tanta força que eu quase peguei o batente da porta para garantir
apoio. Por um momento eu tinha sido vencido por algo forte o suficiente para me fazer sentir fraco
nos joelhos, minha mente ficando de repente e brevemente em branco. Eu nunca tinha experimentado
nada parecido antes. Eu tinha que acreditar que foi, em parte, o choque da situação que tinha roubado
o fôlego do meu corpo, me fazendo quase selvagem com o querer. Eu estava imaginando-a agora,
minha mente evocando sua pele suave e flexível; completa, deliciosa, seios com mamilos rosa-
escuro; quadris suavemente deslumbrantes; e pernas que eram longas e bem torneadas, apesar de
sua estatura menor. Ela era magra, mas sua roupa escondia o quão deliciosa era. Mas eu sabia agora.
E eu desejei não saber. Isto não traria nada de bom para o relacionamento de negócios que tínhamos
combinado. Isto não fazia nada de bom para a minha paz de espírito. Eu não tinha vontade de ter
pensamentos lascivos para minha esposa. Como os que eu tive quando ela apareceu na garagem esta
tarde, parecendo que tinha passado o dia na cama tendo relações sexuais: suas bochechas e lábios
corados, os olhos brilhantes, mamilos duros e seu cabelo descontroladamente despenteado. Por um
breve instante eu me perguntei se ela tinha tido relações sexuais com alguém em sua casa de campo, e
algo que senti suspeitamente como ciúme tinha me agarrado. Então me perguntei se ela tinha
estado sozinha nessa pequena cama, com as mãos sobre o seu próprio corpo... Eu conhecia o olhar de
uma mulher excitada. O que fez-me louco e frustrado o suficiente para aceitar a oferta de Jade. Meu
corpo pulsava com a lembrança, e eu jurei sob minha respiração pela minha própria reação
indesejada para Kira.
Pensar na minha esposa me fazia decididamente mal-humorado e hostil. Hoje teria que ser
o único dia fora dos limites no que diz respeito a dormir com outra mulheres, porque não
havia como eu sobreviver pensando em Kira do jeito que eu estava. Precisava distrair-me
com outros corpos dispostos. E, admito, com mais atenção do que eu havia mostrado hoje à noite.
Passar o tempo com mulheres que sabiam meu nome e onde eu morava não estava
seguindo exatamente o acordo que Kira e eu tínhamos feito sobre a condução de nossas vidas
pessoais com discrição. E agora havia ainda mais razões para despachar esta parte do nosso
casamento - com isso ela estaria fora da minha vista mais cedo do que mais tarde.
Kira. Que agora era a minha esposa.
Não, não de verdade. Cale a boca. Pare de repetir isto para si mesmo.
Ela tinha sido uma esquentadinha ontem. Esta manhã, ela tinha sido mansa e
subjugada, exceto quando riu do beijo casto que eu tinha dado a ela, aquecendo meu sangue na frente
de Deus e da nossa testemunha nomeada pelo tribunal, e provocando-me - conscientemente ou não - a
beijá-la novamente de uma forma que fosse nada alem de platônica.
Ela tinha crescido no luxo, mas ainda assim passou metade de um dia (Charlotte tinha me
dito) esfregando o que deve ter sido um banheiro nojento naquela pequena casa de campo. E estava
morando lá agora. Ela era um enigma. Eu não conseguia entendê-la, e não tinha tempo nem inclinação
para tentar.
E ainda assim, por algum motivo fútil, eu tinha dificuldade para resistir ao fascínio de
enfrentar os desafios que ela distribuía, dificuldade para resistir a vontade de fazer esse
fogo brilhar em seus olhos. Eu ansiava por isso. O jeito que ela parecia quando se enfurecia – as
bochechas coradas, os olhos ardendo e cheios de indignação...
Ela me manteve constantemente fora do equilíbrio, e nem por minha vida eu conseguia
descobrir por que diabos gostava disso.
Foi por isso que eu brinquei com ela com essa lista estúpida, antes das coisas irem por
água abaixo.
E agora nós éramos casados. Até que o divórcio nos separe.
Virei-me para voltar para casa quando ouvi o que pareciam ser vozes
vindas de... cima de mim? Eu franzi a testa, girando e olhando para o céu escuro. Não, elas vinham
de mais longe – bem na borda da casa de campo de Kira. Caminhei lentamente nessa direção,
confuso. "Olá?" Falei. As vozes cessaram, embora acho que ouvi uma pequena risada, abafada.
"Quem está aí?" Eu disse mais alto. Nenhuma resposta.
"Ai!" Eu disse quando algo pequeno bateu forte na minha cabe e mais risos
abafados vieram de cima. Eu olhei para cima. Alguém, ou alguns alguéns, tinham subido nas árvores.
Outra bolota fez contato com meu crânio, e eu grunhi. Que diabos? "Quem está aí?" Repeti com raiva.
"Desça agora antes que eu chame a polícia." Houve um momento de silêncio e então ouvi o que soou
como alguém descendo. Um par de pernas musculosas e vestidas de jeans apareceu pela primeira vez
e, em seguida, a cabeça de Virgíl apareceu à vista.
Ele pulou para baixo, com a cabeça inclinada quando olhou para mim nervosamente.
"O que você está fazendo em minhas árvores?" Perguntei, incrédulo.
"Eu, hum, bem, senhor, queríamos ver se podíamos observar algumas estrelas cadentes,
ver... Bem, Kira e eu, nós pensamos..."
"Kira?" Eu perguntei, apenas quando apareceu outro par de pernas, estas magras e bem
torneadas. Kira pousou em seu pés na minha frente, folhas presas a ela e aquele maldito cabelo
sedoso caindo em desordem ao redor de seu rosto. Assim como no início daquela noite, seu rosto
estava corado e ela estava ofegante. Mas desta vez ela cheirava a álcool. Minha esposa
estava subindo em árvores... bêbada. Cerrei minha mandíbula.
"Então... você é louca," eu declarei.
"Bem, olá, marido," ela arrastou ligeiramente. "Como foi seu encontro?"
"Meu encontro... Kira, você percebe que poderia ter quebrado o pescoço? E o pescoço de
Virgil também, diga-se de passagem. Suponho que isso foi idéia sua."
Kira olhou para Virgil, que parecia que era um menino que tinha acabado de ser enviado
para o gabinete do diretor.
"Foi tudo ideia minha, na verdade", Kira admitiu, levantando-se e cruzando os braços
sob seus seios. "Você sabia que se você se sentar em uma árvore todos os dias pode observar as
pessoas e a capacidade de seu coração? Ninguém nunca olha para cima. É a coisa mais interessante."
"Hmm. Você tem um monte de experiência em arborismo, sem dúvida."
Ela se inclinou e eu a segurei. "Um pouco."
"E, claro, há a coisa da estrela cadente."
"Bem, sim, isso. Pode tentar também, certo? Ninguém jamais se sentou em sua casa de
campo no bosque bebendo sozinho na sua noite de núpcias." Ela franziu a testa, como se tentasse
recordar algo. Ou talvez a pessoa que ela estava descrevendo fosse ela mesma.
"No futuro, por favor, deixe meus funcionários fora de acrobacias como essa? Eu
odiaria ter que chamar a mãe de Virgil e dizer-lhe que seu filho caiu de uma árvore."
"Oh, não havia qualquer perigo. Quero dizer, muito pouco. Você já não escalou estas
árvores? São árvores perfeitas para escalar. Os", ela soltou um pequeno soluço, "galhos... são tão
grandes e fortes e amplos. Você poderia dormir em um."
"Você está bêbada, Kira. Se você tivesse tentado dormir em um galho de árvore, eu
estaria ajuntando-a do chão amanhã."
Ela riu, como se isso fosse engraçado. "Sério, porém, certamente você já escalou uma
destas árvores?"
"Não."
"Não?" ela sussurrou. "Por quê?" Ela olhou para mim tão a sério, seu olhar tão
confuso, como se eu tivesse acabado de admitir que nunca tinha respirado ar antes.
Sem responder, eu me virei para Virgil que deslocava-se para frente e para trás em seus
pés. "Você deve voltar para o seu beliche, Virgil".
"Sim, senhor", ele murmurou. Ele se virou para Kira, seu rosto se iluminando como se ela
fosse o sol e ele estava apenas olhando da escuridão. Eu sendo a escuridão nesta circunstância
particular. Ele deu-lhe o sorriso mais abertamente apaixonado que eu já vi em um homem adulto, e
disse timidamente: "Boa noite, senhorita Kira."
Kira sorriu de volta para ele e eu me assustei um pouco. Lá estava ela. Essa covinha que eu
tinha visto na fotografia on-line. Virgil teve a covinha. Eu nunca tinha chegado a
covinha - nenhuma vez. E eu provavelmente nunca chegaria, especialmente depois de hoje à noite.
"Sra. Kira", corrigiu ela, piscando.
Virgil me atirou um olhar que eu jurei que estava desconfiado e, em seguida, acenou para
Kira, sorrindo de novo quando se virou e foi embora. Eu cerrei os dentes e me voltei para a pequena
bruxa.
Olhamos um para o outro por alguns momentos. "Meu pai nunca teria permitido", eu
disse. "Escalar árvores."
Ela franziu a testa, como se tentando lembrar do que estávamos falando. Seus olhos se
encontraram comos meus, e, embora ela estivesse claramente embriagada eu podia ver gentileza em
sua expressão. "Meu pai não permitia também”.
"Acho que você não obedeceu?" Eu levantei uma sobrancelha.
Ela riu suavemente e balançou a cabeça, de repente parecendo triste de uma forma que me
fez querer alcançá-la. Mas então ela sorriu e acenou com a cabeça para a árvore. "É evidente que
não. Eu nunca fui muito boa em obediência. Ou mansidão. Ou em controlar minha língua afiada.
Eu seria uma terrível esposa." Ela balançou novamente muito ligeiramente e deu um passo em minha
direção com uma pequena risada.
Eu não podia deixar de sorrir de sua piada quando peguei-a por seus braços.
De repente, algo pareceu ocorrer a ela. "Falando de meu pai, eu te disse para ser
discreto sobre sua vida pessoal. Discreeeeto", ela arrastou a palavra, inclinando-se para mim. "É
muito importante".
Limpei minha garganta. "Eu pensei que você disse que não estava preocupada demais com
o seu pai."
Ela mordeu o lábio. "Eu estou sempre preocupada com meu pai", ela sussurrou,
olhando em algum lugar distante. Então seus olhos focaram em mim novamente, e ela levantou-se
mais reta. "Eu simplesmente não quero convidar problema."
"Notável", foi tudo que eu dei-lhe, e ela balançou novamente. "Está bem, bruxinha,
vamos voltar à sua cabana na floresta." Quase ofereci um dos quartos na casa novamente, mas ela
tinha me abatido antes, e, francamente, pensei que o melhor era que houvesse distância entre
nós - por um montão de razões que eu não queria contemplar mais do que já tinha feito.
Quando chegamos à porta da sua casa de campo ela se virou para mim com os olhos turvos
e as bochechas coradas. Ela inclinou a cabeça, e quando as folhas das árvores sopraram no vento um
eixo de raio de luar atingiu seu rosto, iluminando apenas o suficiente para que seus olhos verdes
brilhassem como esmeraldas. O cabelo dela, talvez colocado em uma torção mais cedo esta noite,
tinha deslizado quase completamente solto e, como de costume, sedosas gavinhas emolduravam seu
rosto. Ela sorriu um pequeno sorriso para mim, seus lábios curvando-se só um pouquinho, e eu me
senti momentaneamente atordoado. Eu tinha pensado que esta menina era apenas bonita? Eu era o
homem mais estúpido vivo.
Um tolo cego.
Um idiota completo.
Ela era linda.
Irracionalmente senti-me enganado, como se a bruxinha houvesse colocado algum tipo de
feitiço em mim. Talvez não fosse tão irracional - ela provavelmente
tinha. Pequena feiticeira encrenqueira.
Cerrei minha mandíbula, virando-me em meus calcanhares. "Boa noite," eu falei por cima
do meu ombro, nem mesmo me preocupando em esperar até que ela passasse pela porta de sua casa
de campo. Voltei para minha casa e tomei um banho muito frio.

Evitei Kira pelos próximos dois dias. Eu estava ocupado, mas, mais do que isso, ela me
perturbou, e eu não precisava da distração. A única companhia feminina para a qual eu tinha tempo
ou vontade agora era muito temporária e reconhecidamente superficial. Envolver-me com a
minha esposa seria uma má idéia em quase todos os níveis.
O único contato que tivemos foi um texto dela, informando-me que tinha solicitado uma
cópia autenticada de nossa certidão de casamento, mas que levaria várias semanas antes que
fosse processada e postada. Mais espera – embora estivéssemos um passo mais perto. Algumas
semanas e teríamos o cheque que ambos desesperadamente necessitavam. Fim.
Não sabia o que ela estava fazendo, nem me importava muito. Ou pelo menos
é o que continuei me dizendo.
Em qualquer caso, ela parecia estar feliz o suficiente em me evitar também. Ela não
apareceu em qualquer uma das refeições normais, e eu recusei-me a perguntar a Charlotte se ela
comeu na vinha ou não. Embora eu peguei sua correria por aqui e ali, e eu pensei que ela poderia ter
trazido o almoço para os homens com quem trabalhava algumas vezes. Eu sempre comia em casa,
então eu não tinha certeza, e eu não perguntei-lhes.
Uma semana depois que estávamos casados, eu estava andando de volta da colina para as
vinhas, onde José, Virgil e os dois caras novos, que eu contratei a tempo parcial no dia anterior
estavam trabalhando, quando parei de repente, piscando meus olhos para certificar-me de que estava
realmente vendo o que pensei que estava vendo. Kira estava de pé sobre uma perna, a outra estendida
atrás dela na parte de trás de um dos tratores enquanto se movia em torno do perímetro das videiras.
Ela tinha uma longa fita de algum tipo em uma mão, e estava acenando-a no ar. Enquanto a
observava ela mudou as pernas, trazendo os braços para fora na frente dela em algum tipo de pose.
Os homens gritaram e aplaudiram, erguendo seus dedos como se marcando a sua performance.
Ela virou-se para eles, o trator ainda em movimento, José ao volante, e fez
uma profunda reverência, seu longo cabelo solto caindo para frente. Depois ela se levantou e virou-
se, trazendo a perna para cima novamente, em um tipo de pose de bailarina. Meu coração pulou com
pânico e minha respiração gaguejou na cena perigosa, o suficiente para fazer minhas pernas se
moverem novamente. Fui meio andando/meio correndo em sua direção. Quando eu estava perto, José
olhou para onde eu estava, o sorriso em seu rosto desaparecendo enquanto abrandava o trator,
finalmente parando completamente. Imóvel, eu olhei para eles, em uma completa perda de palavras.
Finalmente consegui cerrar fora, "Que diabos você está fazendo?"
José coçou o pescoço e sabiamente desviou o olhar, enquanto Kira ficou mais
reta, me olhando desafiadoramente. "Eu trouxe o almoço", disse ela, apontando para os invólucros
In-N-Out Burger espalhados num cobertor na base de uma árvore à direita do caminho do trator. Ela
pulou para baixo. "Eu estava simplesmente mostrando-lhes a rotina que eu planejava usar para me
juntar ao circo. Eu ia ser a garota que dança na parte de trás de um elefante. Eu aperfeiçoei
isso há anos, enquanto minha melhor amiga Kimberly dirigia o carrinho de golfe do meu pai.
Nós todos temos falado sobre sonhos de infância..." Ela parou, sorrindo em torno para os homens.
Olhei para ela. "Oh, bem, claramente," eu disse, minha voz cheia de sarcasmo.
Ela teve a graça e sabedoria de parecer momentaneamente embaraçada. Mas,
então, levantou o pequeno queixo de novo, e fogo dançou em seus olhos.
"Só estávamos nos divertindo um pouco - não no seu tempo, qualquer um. Era sua pausa para o
almoço." Ela colocou as mãos nos quadris.
"É o meu equipamento, Kira. Se você tivesse se machucado, eu seria responsável." Antes
que ela pudesse responder, eu olhei para José. "E você? O que você tem a dizer?"
José deu de ombros, mas eu podia ver a diversão em sua expressão, apesar de tentar
esconder isto. "Quando a patroa quer dançar na parte traseira de um trator, quem sou eu
para lhe dizer que não? Ela é dona da metade desta vinha."
Olhei para ele, rangendo os dentes. Eu não ia rever os termos exatos do acordo pré-
nupcial que Kira e eu assinamos, mas em qualquer caso, eu podia ver que José estava completamente
se divertindo, então isso não importava. Traidor. Eu olhei em volta para os homens que estavam
olhando para Kira como se ela estivesse pendurada na lua.
"Desça daí," eu exigi, lembrando que esta era a segunda vez em uma semana que eu tinha
pedido a minha noiva para ficar fora de algo alto e perigoso. "Você não vai subir em árvores nem
dançar em tratores em minha vinha. Está me ouvindo?"
Ela piscou os olhos para mim, desafio claro em sua expressão. Ela cruzou os braços. "E se
eu fizer? "ela desafiou.
"Se você fizer eu vou lhe mostrar o quão dragão eu realmente posso ser", eu disse com
calma fria.
Ela pulou em uma manobra suave e elegante, aterrissando perfeitamente em seus pés.
"Talvez", ela disse, íntegra e chicoteando sua fita através do ar, "Eu deveria ter praticado
ser uma domadora de dragão!" Seus longos cabelos ruivos giravam em torno dela enquanto ela se
movia, gavinhas de seda pesada escovavam suas bochechas que estavam em um rosa
profundo. Mudei-me, mas ela virou sua fita para frente e para trás na minha frente.
"Largue sua arma, bruxa," Rosnei, sangue quente agitando em minhas veias.
"Ou o quê?" Ela exigiu.
"Ou vou desarmá-la eu mesmo." E então eu estava indo para levá-la sobre meu joelho
e usar o chicote improvisado para lhe ensinar uma lição. Ela ergueu o queixo e pulou na minha
direção e, em seguida, afastou-se rapidamente novamente, provocando-me, toda agilidade e
elegância.
"Oh, eu te desafio", disse ela, algo ardente e emocionante queimando em seus olhos.
"Mostre-me seu lado draconiano. Faça o seu pior."
Eu aceitei imediatamente o desafio. "Draconiano? Oh, minha esposa, você nem
mesmo vislumbrou o draconiano ainda." Eu me mudei no momento em que ela virou sua fita para
mim, e eu senti a picada quente cortar, e dor em todo o meu queixo. Eu congelei.
Ela tinha me batido!
A bruxinha tinha literalmente me chicoteado e... derramado sangue! Eu estava
momentaneamente atordoado, minha mão se movendo lentamente para o meu maxilar e voltando com
uma mancha vermelha brilhante. Fogo quente despertou em meu corpo quando meus olhos
encontraram os de Kira. A bruxa estava tão atordoada quanto eu, os olhos arregalados olhando para
baixo para a fita grossa em sua mão, e depois retornando para o meu rosto como se ela não
pudesse calcular o que tinha acontecido. Abriu a boca, mas depois fechou de novo.
"Corra, Sra. Kira!" Ouvi a voz de Virgil de repente gritar. Olhei para ele, e
ele estava torcendo as mãos, um olhar de medo em seu rosto enquanto olhava para nós.
Kira soltou um pequeno grito, soltando a fita/chicote e fazendo exatamente o que Virgil
tinha sugerido. Eu levei um momento para olhar em cada um dos meus homens. Homens de Kira, eu
provavelmente deveria dizer.
"Não foi realmente culpa dela, senhor", disse José. "Nós a desafiamos. Parece que nenhum
de vocês pode resistir a um bom desafio." Ele estava segurando o riso e fazendo um trabalho muito
pobre.
Dei-lhe o meu melhor olhar fulminante. "No futuro," eu disse, virando-me na
direção que Kira tinha corrido, "por favor, abstenha-se da ousadia de minha
esposa de fazer acrobacias perigosas em equipamentos móveis."
"Sim, senhor", o ouvi murmurando atrás de mim. Peguei meu
ritmo, correndo após a pirralha insuportável.
Eu a vi pausar à minha frente, como se decidindo-se a seguir para sua casa de campo
ou para a casa principal. Ela escolheu a casa principal, provavelmente pensando que ia ter algum
apoio de Walter e Charlotte. Ambos sabíamos que não havia tranca em sua casa de campo.
Eu tinha pensado que ela poderia tentar escapar por uma das muitas portas traseiras, mas
quando entrei na casa ela estava de pé no vestíbulo, olhando para as escadas como se estivesse
tentando decidir para onde ir.
A porta clicou suavemente atrás de mim e eu usei a bainha da minha camiseta para limpar o
sangue que sentia escorrendo pelo meu queixo. Quando eu baixei, vi que seus olhos estavam na minha
barriga nua. Eu senti-me endurecer e inchar, meu sangue em movimento quente e grosso em minhas
veias. Bruxa maldita.
"Foi um acidente", disse ela, olhando no andar de cima como se contemplando tentar
escapar por ali.
"Eu percebo que você está mais propensa a acidentes do que a maioria, esposa. E
Kira," fiz um gesto de cabeça atrás dela, "se eu tenho em mente pegar você, você não vai
mesmo chegar à metade daquela escada."
Seus olhos se arregalaram e determinação encheu sua expressão. Ela forjou uma direita em
direção à cozinha, e, em seguida, fez uma investida repentina à esquerda, indo em direção à sala de
estar em vez disso. Fui atrás dela, o primitivo instinto masculino de caçar uma excitante fêmea
em fuga, todos os meus sentidos causando excitação em ondas através do meu corpo.
Kira correu em direção ao sofá, e eu estava bem atrás dela quando tentou subir nele. Eu a
puxei para baixo quando ela gritou e lutou comigo. "Charlotte!" Kira gritou. "Walter!"
Eu consegui segurá-la sob meu comando e fixei seus braços, olhando triunfante para seu
rosto. E então ela se encolheu e virou a cabeça, como se esperasse um golpe. Eu congelei,
imediatamente deixando-a ir.
"Você achou que eu ia bater em você?" Eu perguntei, incrédulo.
Ela piscou para mim com aqueles olhos lindos, de repente parecendo incerta e muito
jovem.
Ternura encheu meu peito, substituindo qualquer raiva que sentia. "Eu nunca te bateria."
Ela acenou para mim. "Eu... Eu sei", ela disse, mas o tom da voz dela me disse que ela não
estava completamente certa.
"Gray? Kira?" Eu ouvi Charlotte atrás de mim, mas não olhei para cima, e Kira não virou
sua cabeça. Não mexi nela.
"Nós estamos bem, Charlotte," eu disse enfaticamente.
"Eu ouvi -"
"Nós estamos bem, Charlotte," eu repeti. "Nos dê um minuto, por favor."
Ela hesitou por um momento, e então ouvi seus passos se afastando.
Kira ainda estava me observava com olhos grandes e cautelosos. Será que ela achou que
porque eu tinha sido preso por bater em alguém eu iria bater nela? Não, ela sempre agiu sem medo
comigo, até que ficamos nesta posição particular.
"Alguém bateu em você antes", eu imaginei.
Seu olhar fez contato com o meu. "Sim", ela sussurrou. Fechei os olhos, exalando um longo
suspiro.
Quando abri os olhos ela ainda estava olhando para mim, seu olhar fixo sobre o corte no
meu queixo, o que eu tinha completamente esquecido. Na verdade, era apenas uma
ferida superficial. Aquela fita burra deve ter me atingido apenas para a direita – quais eram as
chances de ser cortado por uma fita?
"Eu machuquei você", ela disse, com a voz cheia de arrependimento. Meu corpo estava
pressionado no dela, seu leve e florido perfume ao meu redor, os lábios ligeiramente entreabertos.
Seus olhos estavam cheios de preocupação, e tão lindos que meu coração doeu.
Não consegui parar. Baixei meus lábios nos dela. Ela se assustou um pouco, e depois de
um momento tenso em que olhamos cada um nos olhos abertos do outro ela relaxou de volta para o
sofá e trouxe os braços para cima e ao redor do meu pescoço, suas pálpebras tremulando fechadas.
Eu gemi e usei minha língua para traçar os contornos completos de seus lábios antes de
deslizar no interior quente de sua boca. Ela tinha gosto de doçura e fogo, sua língua emaranhando-se
com a minha enquanto eu trouxe minha mão sob seu corpo e acariciei a curva de sua coluna vertebral.
Ela arqueou-se para mim.
O beijo assumiu uma intensidade febril enquanto nossas línguas jogaram, meu mergulho em
sua boca em um penetrar-e-retirar padrão tão antigo quanto o tempo. Luxúria, tão acentuada e
repentina quanto um raio surgiu entre nós. Ela sentia-se tão bem debaixo de mim. Senti meu controle
escorregando, e o choque desse sentimento era tão surpreendente quanto preocupante. Eu quebrei
meus lábios dos dela e olhei para seu rosto - bochechas coradas, os lábios molhados e vermelhos do
meu beijo, os olhos meio cobertos. Impressionante. Pegando uma mecha de seda de mogno e
sentindo isso em meus dedos, eu murmurei suavemente, "Este cabelo..." Ela piscou para mim, sua
expressão em uma confusão cautelosa. Ela se contorceu e eu assobiei um suspiro de ar enquanto ela
se movia contra a minha virilha dura e dolorida. Ela saiu de debaixo de mim e eu sentei-
me abruptamente. Ela ficou de pé olhando para mim, e eu entrei em contato com ela com a
minha mão, mas ela recuou em vez disso, olhando para mim quase acusatoriamente. Eu abri minha
boca para dizer alguma coisa - eu não tinha idéia do que - mas antes que eu pudesse, ela virou-se e,
novamente, ela fugiu.
Capítulo Dez
Kira
Eu não tinha idéia do que tinha acontecido. Eu pensei que ele ia me matar num minuto –
quando me encarou com com predatória intensidade - e no minuto seguinte ele estava me beijando!
Meus lábios ainda formigavam da sensação de sua boca na minha, e eu levantei meus dedos para
eles, pressionando suavemente e sentindo a ternura, como se eu tivesse sonhado com o que
aconteceu.
Pior do que o fato de ele ter me beijado foi como lamentavelmente eu respondi-lhe. Mais
uma vez.
Minha mente balbuciava implacalvelmente sobre por que eu deveria me afastar. Mas eu
não tinha sido capaz de forçar-me a ouvir. Pelo contrario, deixei-me saber exatamente o quanto eu
gostei. Como era humilhante.
Especialmente depois do que ele tinha feito na nossa noite de núpcias.
Caindo na minha cama e fazendo com que as molas enferrujadas rangessem, olhei para o
teto, confusão correndo através do meu sistema. Eu tinha evitado-o e vice-versa, desde o dia que ele
tinha ido em um encontro com outra mulher e, presumivelmente, dormido com ela como uma questão
de fato. Eu pressionei meus lábios juntos com a lembrança daquele dia, mas fiz o meu melhor para
minimizá-lo, como eu vinha fazendo desde que aconteceu.
Principalmente com sucesso. E, quando necessário, com a ajuda dos algumas garrafas de
vinho, que eu agora mantinha na minha casa de campo. Ser casada com Grayson Hawthorn ia me
transformar em uma velha bêbada que vivia numa cabana de jardineiro. O plano para melhorar minha
situação estava indo esplendidamente até agora!
Eu gemia em voz alta, meus pensamentos voltando para Grayson. Ele não tinha gostado
do arborismo e tinha apreciado a dança de trator ainda menos, mas quem se importava? Ele era um
dragão que alternava quente e frio. Além disso, eu estava entediada. E meu pai sempredisse que
tempo em excesso em minhas mãos sempre trouxe o pior de mim. Ele provavelmente estava certo
quanto a isso, pelo menos. A vida era cheia de tantas possibilidades – por que você deve gastar um
dia ficando entediada? O que eu precisava fazer era dirigir-me para San Francisco e passar algumas
semanas trabalhando nas diversas instituições de caridade que apoiava. Eu
desejava estar ocupada, de forma que fizesse diferença para os outros. Eu não tinha ido ainda porque
queria levar vários cheques comigo quando fosse. Eu também não seria capaz de pagar nenhum lugar
temporário para ficar até que eu tenha a nossa licença de casamento oficial e o consequente dinheiro
da herança.
Licença de casamento... Grayson. Meu marido. Que tinha me beijado! Eu não entendia o
porque ele tinha feito isso tão perfeitamente claro, eu não era o tipo dele, e eu não tinha ideia. E
então ele fez isso? Devia estar louco de raiva; não havia outra explicação. Certamente ele não
teria realmente querido beijar-me. Certamente era semelhante à primeira vez que ele me beijou: uma
tentativa de ganhar a mão superior. Nós poderíamos passar por isso. Só precisávamos voltar a
ignorar um ao outro. Eu tinha que controlar o meu impulso para aventuras pela primeira vez na minha
vida. Certo?
Meus pensamentos desconexos foram interrompidos por uma batida forte na minha porta.
Levantei-me rapidamente e chamei, "Quem está aí?"
"Sou eu." Grayson. Eu não estava pronta para enfrentá-lo.
"Estou ocupada," disse. "Vá embora."
"Kira." Sua voz tinha a sugestão vaga de aborrecimento. "Esta casa não tem um bloqueio.
Vou entrar se você me conceder permissão ou não. Eu prefiro ter permissão."
Eu soquei minhas mãos. Dragão arrogante! "Tudo bem, entre", eu cerrei fora.
Fiquei imóvel enquanto ouvia-o entrar e fazer o seu caminho através da sala da frente. E
então ele estava de pé na porta do meu quarto. Eu desviei o olhar, porque não queria pensar sobre
como ele era bonito e quão bom seus lábios macios e cheios tinham se sentido nos meus quando ele
realmente colocou algum esforço nisso. E como eu ainda podia sentir o gosto dele na minha língua.
"Melhor falarmos sobre o que aconteceu agora", disse ele em voz baixa.
"O quê?" Perguntei levianamente, virando meu corpo em direção à janela.
"Você não se lembra?" ele perguntou, e eu ouvi a nota de humor em seu tom. "Se meu beijo
foi tão esquecível talvez eu deveria tentar novamente, e fazê-lo melhor desta vez. Eu pensei que tinha
melhorado meus esforços em comparação ao primeiro tempo, mas talvez nós precisemos
ainda de mais prática."
"Não", eu disse, virando-me para ele. Eu respirei. "Não, isso não será necessário.
Estávamos ambos... aquecidos. Esse tipo de coisa acontece às vezes. Não é grande coisa." Eu acenei
minha mão ao redor. "Você pode ter certeza que não tive nenhuma ideia sobre isso. Sem noções
fantasiosas."
Ele me deu um meio sorriso de menino cheio com o charme irresistível que eu estava
certa que resultou em mulheres atirando-se para ele a cada hora. Mulheres como Jade. A mulher que
ele tinha dormido na nossa noite de núpcias. Não que eu estava pensando sobre isso novamente,
porque eu não estava. Ele deu um passo mais perto.
"Talvez eu seja o único que está ficando com algumas noções fantasiosas."
"Oh," eu sussurrei. De repente, minha respiração tinha crescido tão fina quanto o laço
nupcial. Eu tomei uma golfada de ar. "Bem, isso não é uma boa ideia. Só iria complicar as coisas.
Além disso, eu não sou seu tipo, lembra-se?"
"Eu acho que posso estar errado sobre esse ponto, Kira." Mudou-se ainda mais perto.
"Você queria me matar", eu lembrei-o.
"Sim, bem, você precisa reduzir suas palhaçadas. Subindo em árvores e dançando em
tratores... Não posso ver você se machucar. Além disso, você zombou de mim na frente dos meus
homens e então, me chicoteou."
Bem, quando ele coloca assim...
"Acidentalmente", eu defendi, em relação à parte da chicotada. Meus olhos mudaram-
se para o pequeno corte em seu maxilar, e eu não pude deixar de sentir uma pontada de culpa.
Ele pegou uma mecha do meu cabelo, e meus olhos observaram os dedos ao lado do meu
rosto quando ele o enfiou atrás da minha orelha. Sua proximidade estava fazendo-me sentir
tudo misturado e confuso, sua sexualidade masculina flagrante transformando meus
membros em geleia. Eu podia sentir o calor de seu corpo contra o meu próprio, imaginando os
músculos tensos sob suas roupas. Meus olhos se mudaram para a boca muito bem esculpida, e
lembrei-me de sua sensação na minha. A memória sacudiu-me de volta à realidade.
"Eu sei", disse ele, pensativo. Minha mente se esforçava para lembrar sobre o
que falávamos. "Por alguma razão, com você eu sou especialmente..." Ele fez uma pausa, parecendo
estar procurando o palavra certa.
"Reptiliano?" Ofereci, levantando-me e tentando sacudir o seu efeito de mim.
"Temperamental," ele corrigiu, dando-me um grande sorriso torto como um
menino tentando me desarmar, eu estava certa. Não funcionou. Na maior parte.
Seus olhos se moveram sobre o meu rosto por alguns momentos. "Você provavelmente
precisará de algo para fazer. Você mencionou alguma experiência em contabilidade -".
"Sim, eu trabalhava no escritório do meu pai. Secretariado, contabilidade..."
"Bom. O escritório em casa é seu agora. Eu sinto muito em dizer que não tive muito tempo
para organizar qualquer coisa recentemente. Você terá seu trabalho cortado para você."
Balancei a cabeça. "Eu não tenho medo de trabalho duro."
Seu rosto ficou pensativo enquanto ele olhou-me - seus olhos escuros e
insondáveis, encapuzados por aqueles cílios impossivelmente longos. Ele olhou em volta do quarto
em que estávamos de pé, seus olhos pousando no vasos de flores que eu colhi naquela manhã e, em
seguida, vagando para a porta aberta do banheiro minúsculo.
"Eu posso ver isso."
Sussurros de orgulho encheram meu peito. Eu tive muito poucos elogios sobre o
meu caráter ou ética no trabalho de homens na minha vida. Eu estava quase envergonhada por
quanto essas quatro palavras significaram para mim. Eu queria entregá-los na minha cabeça e
saboreá-los por alguns minutos, mas Grayson falou novamente. "Ocorre-me que talvez nós fomos
precipitados na definição de nosso relacionamento. Somos casados, Kira. Há obviamente uma
atração entre nós. Há alguma razão que não devemos... explorar isso?"
Minha respiração ficou presa na minha garganta. Ele estava atraído por mim? Ele... queria-
me? Por quê? Porque ele estava com tesão e eu era conveniente? Borboletas levantaram vôo em meu
peito quando imaginei a primeira vez que eu estive com um homem. Eu dei um passo para trás e
olhei para baixo, incapaz de manter contato visual com aqueles olhos escuros - olhos que eu agora vi
de perto e eram da cor rica de grãos de café. Não preto em tudo, mas o mais profundo
e mais escuro marrom.
"Por que você precisa de mim? Você tem Jade." Não amarga - não em tudo.
"Eu não dormi com Jade, Kira. Você estava certa. Não teria sido discreto. Mas, mais do
que isso, não teria sido certo."
Eu zombou, mas o alívio foi secretamente fluindo através do meu corpo; não só ele não
tinha dormido com Jade, mas percebeu que suas ações poderiam ter causado a nossa
relação um olhar muito menos do que legítimo. "Estou feliz você percebeu que não estava agindo de
forma discreta, mas quase não me importa o que você fez com Jade, por qualquer razão além
disso," eu insisti, levantando meu queixo.
Ele apenas sorriu. "Então o que você diria? Sobre... nós?"
"Posso garantir-vos, Grayson, que você não vai ficar impressionado com o meu... talento
nessa área." Meus olhos momentaneamente mudaram-se para longe dos dele.
Sua sobrancelha arqueou. "Acho, bruxinha, que eu gostaria de fazer o meu próprio
julgamento sobre esse ponto." Sua voz era como mel quente.
O medo se moveu lentamente através de mim. Não. Não, eu não tinha interesse em ir para
lá com O Dragão. Ele tinha provavelmente ficado com inúmeras mulheres que sabiam exatamente o
que fazer em sua cama. Eu não seria comparada a elas. Além disso, eu tinha visto o tipo de
mulher por quem ele era atraído e definitivamente não era o meu. Eu balancei minha cabeça. "Não é
uma boa ideia e eu não estou interessada de qualquer maneira. Eu não gosto de você e eu acho-
o... desinteressante. Horrível, na verdade."
Ele riu como se eu apenas não tivesse insultado e chutado-o. Deus, ele sabia que nenhuma
mulher em sua justa razão jamais iria achá-o pouco atraente. Ele parecia achar que eu poderia ser um
pouco doida, porém, assim pude trabalhar a meu favor. "Além disso, você tem as maneiras de um
réptil dispéptico", eu adicionei para fortalecer meu argumento.
"Eu posso ser civilizado se colocar minha mente nisso", disse ele, com o mesmo sorriso
encantadoramente juvenil, e fazendo o meu estúpido e idiota coração jogar de novo.
"Duvido," eu murmurei sob a minha respiração.
"Eu vou provar. Esteja pronta às seis horas - eu venho pegar você. Nunca
tivemos um jantar de casamento."
Espere, o quê? Não. "Estou ocupada", eu gritei quando ele se virou.
"Seis horas", ele gritou de volta. Eu cerrei os dentes, considerando-o em pé. Mas a
verdade era que eu estava lamentavelmente sozinha, e entediada, por uma semana. Um jantar fora era
difícil de resistir - mesmo se tivesse que estar com meu marido. Talvez seria bom falar,
obter fora da sua mente essa noção ridícula de tornar-nos íntimos, e começar de novo como tínhamos
começado. Este jantar pode ser uma distração para hoje à noite, e somente esta noite.
Eu estaria menos inclinada a inventar Muito Más Ideias se estiver ocupada fazendo seus livros, e ele
estaria extremamente ocupado logo, de qualquer maneira, uma vez que o dinheiro da herança chegar.
As coisas iriam suavizar, e logo eu seria capaz de sair daqui e limpar Grayson Hawthorn da minha
memória para sempre. Mas primeiro... o que é que eu tinha que usar para o meu jantar de casamento
atrasado?

O Caminhão de Grayson parou em frente a minha casa de campo precisamente às seis


horas. Tomei uma profunda e fortificante respiração, e caminhei lentamente através dos arbustos. Ele
estava parado na porta do lado do passageiro, segurando-a aberta. "Meu, meu", eu disse, "você
tem boas maneiras quando quer usá-las. Quem teria imaginado?"
Seu sorriso era o de um réptil muito satisfeito, decididamente não-dislexo - doce, com um
brilho diabólico.
Peguei sua mão e dei um passo para dentro da cabine. Ele estava barbeado e seu cabelo
ainda semi-úmido brilhava à luz do sol, os fios quase-pretos brilhantes e despenteados. Ele era
perversamente lindo e eu olhei fora, fazendo um voto para endurecer meu coração contra ele. Se
havia uma coisa que eu sabia era que homens como ele eram hábeis em conseguir o que queriam,
utilizando charme, e eu não iria me apaixonar por ele.
Uma vez que ele estava sentado na cabine comigo e estávamos passando através de sua
porta da frente, eu perguntei: "Então, onde você está me levando? "
"Um local que eu acho que você vai gostar." Ele disse casualmente, mas uma expressão
preocupada se estabeleceu em suas características por um breve momento antes que voasse embora.
Eu torci o colar que usava enquanto observava seu perfil, imaginando o que ele estava
pensando. Ele olhou para mim e seus olhos se mudaram para minha mão onde eu tinha um dedo
envolto da corrente em meu peito, e depois baixou para meu decote, seu olhar persistente por várias
batidas antes que ele olhasse de volta para a estrada. Eu tinha decidido por um vestido de verão
amarelo de cintura império e um par de saltos marinho. Mas no momento, com a forma como os olhos
de Grayson tinham permanecido na minha pele exposta, e com a sensação
pequena e fervente de tensão sexual na cabine do caminhão eu estava desejando que
tivesse escolhido algo menos revelador, como um sari, por exemplo, ou talvez um muumuu.
"Então, Kira, você disse que estava na África até recentemente. O que foi que você estava
fazendo lá?"
Grayson pediu, conversando. Ah, agora, quando ele me queria para aquecer sua cama, ele
decidiu ter um interesse em mim. Como é típico. Mal sabia ele, porém, que eu conhecia o seu jogo e
não estava caindo vítima dele.
Limpei a garganta. "Um amigo meu estava construindo um hospital. Eu decidi ajudar com o
esforço."
Ele olhou para mim. "Um amigo?"
"Bem, na verdade, um garoto que eu tinha patrocinado através de um programa de
caridade. De qualquer forma, Khotso havia se tornado um amigo ao longo dos anos - por meio de
cartas. Sua mãe tinha sofrido com uma coisa chamada fístula obstétrica após seu nascimento, quando
ela tinha apenas treze anos, e isso alimentou seu sonho de se tornar um médico." O orgulho encheu
meu peito enquanto eu considerava meu amigo. "É praticamente inédito aqui na América, mas é um
grande problema na África, devido a idade muito precoce que muitas meninas se
casam e engravidam. Seus corpos pequenos simplesmente não estão prontos para ter filhos e eles têm
um tempo miserável - muitas vezes em trabalho de parto por dias e dias e frequentemente perdem seu
bebê, também, e, em seguida, elas vivem em um terrível estado devido às fístulas desenvolvidas. De
qualquer forma, Khotso abriu um hospital para reparar fístulas para estas mulheres, algumas das
quais viveram com elas há anos, e para ajudar aquelas que perderam seus bebês. É um feito incrível
para alguém tão jovem-" de repente parei de falar, percebendo que tinha sido apanhada na
paixão pelo projeto, como sempre costumava fazer quando falava sobre isso. Senti-me corar.
"Desculpe eu..."
"Você é apaixonada por ele. É admirável. E parece um esforço muito digno. Você
ajudou uma pessoa, que por sua vez ajuda a tantas agora." Ele olhou para mim com um olhar que eu
pensei que poderia ser sincero respeito. Meu coração aqueceu apesar do meu voto para mantê-lo frio
e distante. "Então você ajudou a ver o hospital concluído e voltou para casa?"
Estudei minhas unhas. "Bem, quase. Eu teria ficado até a cerimônia de corte da fita,
mas houve um, hum, um incidente."
Grayson levantou uma sobrancelha. "Um incidente?"
"Eu, uh, desafiei um líder tribal para uma corrida a pé."
"Claro que você fez."
Notei seu sarcasmo, mas quando olhei para ele vi diversão em seus olhos que pareciam
quase afetuosos, e então ri baixinho. "Aparentemente, líderes tribais não gostam de ser
superados publicamente. Em qualquer caso, eu pensei que o melhor para Khotso e seu
projeto seria que eu me distanciasse, literalmente. Então voei para casa um pouco mais cedo do que
inicialmente tinha previsto." E antes que eu tivesse a chance de bolar um plano melhor do que casar
com você, Grayson Dragão Hawthorn.
Nós puxamos para um estacionamento no centro de Napa e caminhamos até um restaurante
italiano que eu tinha visto antes, mas nunca tinha entrado. Ele era em um antigo edifício de banco
imponente, com grandes colunas de pedra flanqueando a frente. "Eu pensei que era a propósito,"
Grayson disse, abrindo a porta da frente para mim, "que nosso primeiro encontro fosse dentro de um
banco. Afinal, um banco é onde tudo começou..."
Eu levantei minhas sobrancelhas. "Verdadeiro. Embora isso não seja um primeiro encontro.
É apenas o nosso jantar amigável de casamento. Praticamente com finalidade de negócio, na
verdade."
Antes que ele pudesse responder, uma anfitriã cumprimentou-nos. "Grayson Hawthorn",
disse ele. "Eu tenho uma reserva para seis e meia."
A menina deu-lhe um olhar de admiração, alisou o cabelo para trás em um óbvio gesto e
virou-se para nos levar à nossa mesa.
Eu não pude deixar de notar os olhares em nossa direção quando caminhamos através do
restaurante para uma mesa perto da parte de trás da sala de jantar principal. Alguns dos olhares eram
meramente femininos e admirados por Grayson, mas muitos dos olhares pareciam quase
desaprovação, e eu não pude deixar de ouvir sussurros de seu nome - não parece como se
a conversa fosse de natureza positiva. Franzi a testa, percebendo a maneira
rígida como Grayson estava segurando-se quando seguimos a anfitriã.
Lembrei-me de ouvir as duas meninas na loja... você não poderia levá-lo para
casa da Mama agora... e franzi a testa.
Uma vez que estávamos sentados e a cada um tinha sido servido um copo de vinho,
Grayson começou a relaxar um pouco.
Olhei em volta, os olhos correndo para longe de nós em vez de fazer contato
visual. Obviamente estávamos sendo discutidos. Lembrei-me que Napa era uma cidade pequena.
Todas essas pessoas estavam fofocando sobre Grayson... julgando-o. Talvez por seu crime, talvez
pelas razões que ele estava de volta... talvez pelo fato que seu negócio de família estava em ruínas,
talvez pelo "fato" de que você não poderia levá-lo para casa da Mama agora. Meu coração partiu-
se por ele. Eu sabia exatamente o que se sentia ao ser julgado... e ao ser encontrado
severamente em falta.
Ele pareceu quase imune aos sussurros ao seu redor, mas algo me disse que ele não
estava. Olhei para ele, sentado rigidamente e estudando o seu menu apenas um pouco
demasiadamente intenso, e o voto que eu tinha feito para ficar desconectada desmoronou. "Eu acho,"
eu disse suavemente, movendo minha mão lentamente sobre a mesa para repousar sobre a sua, "que
às vezes a melhor coisa que você pode fazer é sorrir." Quando a minha mão fez contato com a dele,
ele sacudiu muito ligeiramente, seus olhos encontrando os meus. seu olhar foi tão intensamente
vulnerável que meu coração gaguejou no meu peito por algumas batidas. Este era o homem que
eu tinha visto pela primeira vez fora do banco. "Experimente," eu incentivei suavemente, inclinando a
cabeça e dando-lhe um sorriso grande, brilhante.
Ele voltou uma pequena careta, com os lábios apertados.
"Esse é o seu sorriso? Realmente?" Fingi tremer. "Parece mais como uma hiena demente."
Ele parecia chocado por um segundo, mas então ele inclinou a cabeça para trás e riu, e o sorriso
resultante era grande e brilhante e muito, muito bonito. Eu sorri de volta. E, de repente, a tensão
diminuiu. Eu retirei a minha mão, mas minha pele ainda estava quente onde nós tínhamos
tocado. Aliviados, a conversa casual facilitou depois disso - falamos de coisas mundanas através de
nossa refeição. Eu não queria quebrar o feitiço de amizade descontraída que encontramos de alguma
forma.
Quando a nossa sobremesa foi servida, uma mulher mais velha veio até nossa mesa, uma
jovem mulher persistente atrás dela, nervosa. "Eu pensei que era você, Gray Hawthorn," a mulher
mais velha disse. "Eu não tinha certeza, embora. Você não tem mostrado nem sombra de si
mesmo numa sociedade civilizada, desde que você... ah, retornou."
Ela virou-se para mim, estendendo a mão. "Eu sou Diane Fernsby. Você deve ser uma das
meninas de Gray", ela disse, desprezo praticamente escorrendo de seus lábios cirurgicamente cheios.
"Na verdade, Diane," Grayson interrompeu, "esta é minha esposa, Kira Hawthorn." Meus
olhos voaram para os dele e eu engoli, choque tornando-me em silêncio. Eu não estava preparada
para ouvir aquelas palavras.
O rosto de Diane drenou de cor. "Sua esposa? Por que, Gray, como melhor amiga de sua
mãe, eu não recebi um convite para o casamento?"
"Madrasta", Grayson corrigiu. "E nós tivemos uma cerimônia íntima." Ele pegou minha
mão e sorriu para os meus olhos. "Não podíamos esperar."
"Eu... Veja", disse ela, seus olhos movendo-se sobre mim, caindo na minha mão que estava
sobre a mesa, alargando quando viu o anel na minha mão esquerda. "Bem, este é certamente um -"
"Mãe, nós devemos ir. Oi, Gray," a mulher mais jovem falou logo atrás.
"Oi, Suzie", disse Gray, mais calor em seu tom. Suzie corou, desviando o olhar. Ex
namorada?
"Sim, tem razão, querida. Temos que ir." Ela se voltou para nós. "Bem, meus parabéns",
ela disse, soando como nada além de congratulações. "Depois do que aconteceu com Vanessa... Bem,
você ainda deve estar tentando superar isso." Ela balançou a cabeça." Quebrando seu noivado e, em
seguida, enquanto você estava na prisão, casando-"
"Nós não estávamos noivos", disse Grayson, voz firme e fria. Vanessa?
Diane acenou com a mão no ar. "Oh, bem, todos nós sabíamos que seria em breve. Sua
mãe me disse que você tinha até comprado um anel. E depois -"
"Mãe", disse Suzie duramente por trás dela. Ela sorriu desculpando-se para nós dois,
puxando a mão de sua mãe.
"Ah, bem, vou ver você por aí, tenho certeza. Boa noite", disse Diane Fernsby,
permitindo a filha levá-la embora. Quando elas só tinham se afastado uns poucos passos da nossa
mesa, Diane inclinou-se para sua filha e sussurrou muito calmamente: "Você se esquivou de uma bala
com isso, querida. Um ex-presidiário. Ouvi que a vinha está indo mal... Depois de todo sofrimento
que ele causou a seus pais-" Suas palavras desapareceram quando ela se moveu mais longe, mas o
som de sua desaprovação continuou através do restaurante.
Eu esperei até que elas tivessem desaparecido de vista antes de falar. "Sua esposa?" Eu
perguntei, mantendo um pequeno sorriso estampado no meu rosto por causa da aparência. "Eu achei
que você poderia apenas me apresentar como Kira."
A mandíbula de Grayson assinalou uma vez, duas vezes, antes dele fazer um esforço visível
para relaxar, recostando-se na cadeira e sobre mim. "Você disse que nós devemos fazer o
nosso casamento parecer real, por uma questão de prevenção contra suspeita do seu pai. Eu
só imaginei que começar a circular pela cidade que sou casado não faria mal. Diane Fernsby é uma
das maiores fofoqueiras da cidade."
"Oh..." Eu balancei a cabeça. Ele pegou o recibo do cartão de crédito do garçom e assinou-
o. O Prínciper de Gelo estava de volta. Senti-me excessivamente ferida. Eu queria ser grata que ele
estava colocando algum esforço em fazer com que o nosso casamento parecesse real em público, mas
sabia que ele não tinha mencionado que eu era sua esposa por minha causa, ou por causa de meu pai.
Ele tinha mencionado que eu era sua esposa como uma forma de calar a boca de Diane Fernsby.
Eu sabia que ele alternava entre quente e frio, mas estávamos nos dando tão bem antes de Diane
Fernsby aparecer e mencionar sua ex. O que foi aquilo, de qualquer
maneira? Uma mulher tinha abandonado Grayson? E onde ela estava agora? Perguntava-me se ela
vivia em Napa... se ela ouviria sobre nosso casamento agora. Ah, bem, eu não podia me preocupar
com a vida pessoal do meu marido. Não importa o quão tentador fisicamente ele poderia ser,
tentar entendê-lo era exaustivo.
Grayson me levou para fora do restaurante, para seu caminhão. O clima confortável que
tínhamos conseguido durante jantar tinha desaparecido, e foi substituído pelo constrangimento
da distância fria de Grayson. Mas quando nós dois estávamos sentados na cabine de seu caminhão,
ele se virou para mim. "Eu sinto muito por isso, Kira. Eu vivi nesta cidade minha vida inteira, e
muita coisa aconteceu com minha família nos últimos seis anos. As pessoas estão curiosas, eu
suponho. Desculpe-me, eu te expus a ela."
"A curiosidade é diferente de grosseria flagrante", murmurei, olhando pela janela da frente.
Grayson suspirou. "Provavelmente eu mereço sua grosseria. Tanto quanto Napa está em
causa, eu sou um assassino e um ex-presidiário. E eu matei um garoto de ouro da cidade
vizinha." Lembrei-me da leitura on-line que fiz sobre o seu crime.
O rapaz que morreu tinha vivido no condado vizinho de Sonoma.
Mordi o lábio, sem saber exatamente o que dizer. "Você não o matou, Grayson. Foi
uma acidente. Você me disse isso".
"E ainda assim ele está morto do mesmo jeito."
"Você quer falar sobre isso? Eu sou uma boa -"
"Não."
Ficamos em silêncio desconfortável por um minuto ou dois antes dele finalmente se
virar para mim, sua boca curvando-se num sorriso irônico. "Eu sei como dar a uma garota um bom
tempo, hein?"
Eu ri um pequeno som. "Tenho certeza que todas as outras garotas não se queixam."
Grayson fez uma leve careta. "Desculpe por isso. Apesar do fato de que a minha madrasta
nunca foi excessivamente afeiçoada a mim, Diane queria sua filha e eu juntos. Suzie só -"
"Não era o seu tipo?" Eu levantei uma sobrancelha.
Grayson riu. "Sempre foi apenas uma amiga."
Falando de mulheres que eram o tipo de Grayson... "Grayson, quem é Vanessa?"
Grayson não respondeu de imediato, mas vi seus ombros tensos. Ele continuou a olhar para
fora da janela da frente quando disse, "Vanessa é a esposa do meu irmão."
"Oh." A palavra foi mais fôlego do que som. Seu irmão tinha se casado
com a namorada dele - a mulher com quem ele estava planejando se casar - enquanto ele estava na
prisão? Estremeci, imaginando o que deve ter sido para ele. Não admira que ele não falou mais com
seu irmão. "Eu sinto muito, Grayson," eu disse, sem saber o que mais dizer.
Ele acenou com a cabeça uma vez, reconhecendo as minhas palavras, e então ligou o
caminhão e puxou para fora do estacionamento. A volta para casa foi principalmente tranquila, o
rádio tocando suavemente no fundo. Quando estacionou ao redor da fonte e parou na frente de sua
casa, Grayson se virou para mim. "Você quer uma bebida? Acontece de eu possuo uma garrafa de
vinho que um especialista disse ser bastante agradável."
Eu sorri. Provavelmente estava sendo tola me importando, mas parecia que ele não queria
ficar sozinho. O que poderia machucar uma bebida?
"Delicioso, você diz? Eu gosto de delicioso."
Ele riu suavemente. Saímos do caminhão e eu segui o meu marido para dentro de sua casa.
Capítulo Onze

Grayson
"Você sabe o que devemos fazer?" Kira perguntou de repente, inclinando-se abruptamente,
me surpreendendo. Estávamos sentados em cadeiras semi-oxidadas de estar no pátio, um copo de
vinho em cada uma de nossas mãos. Nós tínhamos bebericado em um silêncio confortável, com vista
para a piscina coberta - provavelmente obscura e cheia de lodo abaixo. Eu tinha toda a intenção de
tentar seduzi-la esta noite. Não achei que seria muito difícil - ela tinha respondido ao meu beijo mais
cedo, com tanta paixão entusiasmada. Mas depois do que aconteceu no restaurante, não estava
sentindo-me exatamente tão lascivo.
"Tenho a sensação que nada de bom segue essas palavras, quando elas estão vindo de
seu boca", eu disse.
Ela me lançou um sorriso. "Não, realmente. É uma boa ideia."
"Ok, o quê?"
"Deveríamos fazer uma festa!"
Levantei uma sobrancelha, inclinando a cabeça para trás na cadeira enquanto a observava.
"Uma festa? Por que no mundo faríamos isso?"
"Bem", disse ela, sentando-se completamente, balançando as pernas para o lado para que
ela pudesse me enfrentar, "parece-me que a comunidade de Napa esta... desconfiada de você
agora. Isto certamente poderia prejudicar a imagem da Vínicola Hawthorn em obter uma melhor
posição social em sua própria comunidade. Estou certa?"
"Bem... Eu acho." Ela estava certa. Se eu fosse ter uma chance de trazer meu negócio de
família de volta à vida, não seria bom se eu fosse a ovelha negra da região do vinho.
Ainda... "Como uma festa poderia ajudar nesse sentido, exatamente?"
"Seria apenas um começo", disse ela, parecendo pensativa. "Mas a notícia se espalha, você
sabe. Se convidarmos algumas das pessoas mais influentes da comunidade e
eles se sentirem acolhidos por você, estariam mais propensos a estender a mesma cortesia. Fofoca
tem uma maneira de fazer as pessoas esquecerem que o assunto é um ser humano. Convidar as
pessoas aqui iria lembrá-los disso. Acho que, por natureza, as pessoas querem entender e perdoar."
"Você dá muito crédito às pessoas."
Ela pareceu considerar, se as linhas de expressão que apareceram entre seus olhos fossem
alguma indicação. "Talvez. Mas eu gosto de achar que não. Pelo menos na maioria dos casos, de
qualquer maneira." De repente ela parecia vulnerável.
Depois de tomar um gole de vinho, eu disse: "Você deve estar familiarizada com fofoca."
"Bem, é claro. Grande parte da minha vida tem sido aos olhos do público." Sua expressão
parecia aflita, e eu tive o instinto súbito de levá-la em meus braços. Eu desviei o olhar, tomando mais
um gole do vinho branco amanteigado, saboreando as notas de caramelo e pera.
"De qualquer forma", eu disse, mudando de assunto, "como as pessoas vão se lembrar que
eu sou um ser humano? Eu pensei que você me considerava mais dragão que humano."
"Verdade." Ela sorriu. "Você teria que conter suas tendências reptilianas por uma noite."
Eu ri, estudando as sombras e os destaques de suas características na luz fraca da lua e nas
poucas luzes da casa ainda atrás de nós.
"Seriamente, embora eu quase não tenho tempo para planejar uma festa."
Ela balançou a cabeça. "Não, claro que não. Eu faria isso. Vai me manter longe de
problemas. Poderíamos fazer com tema de safari africano! Ou um luau tropical! Vou pensar em algo
perfeito." Ela sorriu, e eu tive um lampejo daquela covinha bruxinha. Meu batimento cardíaco
gaguejou, e então eu não pude evitar a pequena risada que encontrou seu caminho até minha garganta.
"Você deveria estar me ajudando a organizar meus livros de contabilidade para ficar longe
de problemas."
"Eu posso fazer as duas coisas."
Eu suspirei. "Tudo bem. Mas espere até receber o cheque, por favor, antes de começar a
gastar um dinheiro que nenhum de nós tem ainda."
"Eu vou. Bem, com exceção dos convites. Eu vou pagar por eles. Tenho sua permissão para
escolher uma data?"
"Vá em frente. Posso assegurar que não tenho quaisquer planos sociais no calendário."
Alguns momentos de silêncio se estabeleceram entre nós. O ar suave da
noite estava perfumado com as rosas das proximidades, o sabor do vinho batia gelado na minha
língua, o farfalhar das árvores continuava sussurrando ao redor, o furta-cor da névoa flutuava além
das videiras. Fechei os olhos, saboreando as sensações variadas, perguntando-me quando tinha
vivido um momento como agora. Eu tive, alguma vez?
"Há planos de restaurar a piscina quando chegar o nosso cheque?" Kira perguntou
baixinho, balançando a cabeça em direção a ela.
"Provavelmente não. Eu gostaria de arrancar isso."
"Por quê? Você não gosta de nadar?"
"Eu gosto de nadar, muito. Mas não tenho muito boas memórias
dessa piscina em particular. Meu pai pensou que seria uma boa ideia me ensinar a nadar jogando o
meu cachorrinho no fundo da piscina."
Kira respirou. "O seu cachorro? Por que ele faria isso?" ela sussurrou.
Jesus. Eu não pensava sobre isso há tanto tempo. Por que eu estava me lembrando
agora? Deveria ser porque a piscina estava diante de mim... "Eu tinha seis anos, e estava com medo
do fundo da piscina. Não importava o quanto meu pai me ameaçou, eu não entraria. Ele ficava do
lado da piscina em seu maldito terno de negócio, cercando-me enquanto eu chorava." Deus, vinte e
dois anos mais tarde e eu ainda podia sentir a humilhação. "Eu tinha encontrado este
cachorrinho perdido vagando fora dos nossos portões, e implorei aos meus pais para me deixar ficar
com ele. Eles concordaram, desde que fosse apenas um cão, e eu cuidasse
disso exclusivamente..." Deixei meus pensamentos vagarem, tentando imaginar esse cachorrinho que
eu tinha chamado de Sport. Tinha sido um vira-lata marrom e branco, com esses grandes olhos
confiantes... "De qualquer forma, estávamos aqui para uma aula e eu novamente me recusei a entrar.
Então meu pai pegou o cachorrinho que estava sentado ali no pátio", eu apontei meu dedo para
o ponto exato, "e atirou-o. Disse-me que se eu não pulasse atrás dele ele se afogaria."
"Oh Deus, Grayson," Kira respirava com a mão sobre sua boca.
Eu dei-lhe um pequeno sorriso. "Foi há muito tempo." Então por que meu peito ainda
doía com essa recordação?
"Eu estava ao lado da piscina chorando e gritando por esse cachorrinho afogado, Kira.
Meu pai eventualmente o recolheu, mas já era tarde demais." E a culpa ainda rasgava minha alma. Eu
tinha sido um covarde. "Eu só queria ter como fazer tudo de novo... Eu iria salvá-lo desta vez. Eu me
afogaria se fosse preciso. Mas iria salvá-lo."
"Claro que sim. Você é um homem agora, com a coragem de um homem. Você era
praticamente um bebê então," disse ela, movendo-se para se sentar na minha cadeira. "Você alguma
vez aprendeu a nadar depois disso?"
Corri a mão pelo meu cabelo, segurando um punhado enquanto recordava. "Walter. Meu pai
foi embora um par de semanas mais tarde, e Walter passou o fim de semana me ensinando a nadar.
Ele usava este estranho terno preto que ia dos joelhos até o pescoço." Eu ri
baixinho, lembrando como Walter tinha tido me treinado repetidamente em águas rasas
até que me senti confiante o suficiente para ir para o fundo, e então ele veio comigo e me deixou em
seus ombros até eu dizer-lhe que estava pronto para tentar sozinho. "Mais tarde naquele ano eu
ensinei meu irmão a nadar quando meu pai estava fora, por isso, quando ele finalmente jogou-no
fundo da piscina, ele nadava como um peixe pequeno. Meu pai estava tão orgulhoso", eu disse,
tentando soar irônico, mas a declaração saiu com o verdadeiro orgulho que senti. Estava orgulhoso
do meu irmão, e estava secretamente orgulhoso que o ajudei a evitar o terror e a culpa que eu tinha
enfrentado. Eu suspirei, minha mão caindo ao meu lado.
"Não foi culpa sua", disse ela suavemente, parecendo saber o que eu estava pensando. "O
que seu pai fez com você foi uma coisa má e horrível de se fazer com um garotinho. Oh, Grayson, eu
sinto muito que você experimentou isso." Ela colocou a mão no meu rosto, sua expressão suave e
cheia de compaixão. Quão errado eu tinha estado sobre a bruxinha. Tão completamente e totalmente
errado. Quando olhei em seus olhos indulgentes me senti como se relaxasse, e comecei a me afastar.
Por que eu tinha compartilhado essa história com ela? Ela tinha um jeito de tirar confissões
honestas de mim. Era porque, esta noite no restaurante, entre todos aqueles olhos arregalados,
ela tinha feito eu me sentir como se alguém estava do meu lado? Foi porque ela estava planejando
algo - uma festa - num esforço para me ajudar a elevar minha posição social aos olhos das pessoas,
por nenhuma outra razão além de que ela se importava, e pensou que poderia fazer algo para ajudar?
Ou foi porque de repente eu senti essa amizade inesperada e compreensão vindos da minha esposa
imprevisível? Ou haveria algum tipo de feitiço que flutuava na névoa esta noite?
"Doce bruxa bonita," eu murmurei, puxando-a até mim para que pudesse beijá-la. Enrolei
minhas mãos em seu cabelo espesso e sedoso quando nossos lábios se encontraram. Ela ficou tensa,
mas não se afastou, e eu segui seus lábios com a minha língua lentamente até que ela se abriu para
mim. Puxando-a para mais perto eu aprofundei o beijo, explorando o molhado contorno de seda de
sua boca. Ccalor enrolava através do meu corpo, aquecendo meu sangue. Quando ela
finalmente começou a participar, eu queria gemer com satisfação, mas também não queria fazer
qualquer coisa para quebrar a magia e tê-la se afastando. Eu trouxe as minhas mãos para baixo, para
subir e descer pelas suas costas, e depois de algumas momentos senti seus músculos relaxarem.
Nosso primeiro beijo tinha sido duro e desafiante, o segundo voraz e ainda suave, mas este era lento
e sensual, como se nossas bocas estivessem fazendo amor. Eu tinha beijado incontáveis mulheres na
minha vida, mas nunca tinha experimentado um beijo como este. Isso confundiu-me quase tanto como
despertou-me. Antes que ela pudesse reagir, eu mudei-me com ela –
rapidamente, mas com fluidez - de modo que ela estava sob mim e eu pairando acima dela, meu peso
do quadril para o lado de seu corpo na cadeira de salão. Ela piscou para mim, como
se estivesse incerta sobre o que tinha acontecido. Eu queria puxá-la totalmente contra mim, assim ela
podia sentir toda a extensão da minha excitação, mas sabia instintivamente que esse seria o
movimento errado agora. Minha querida esposa precisava ser induzida lentamente à paixão hoje
à noite, e eu estava muito disposto a fazer o que quer que fosse que ela precisava. A faísca rápida no
início do dia tinha me assustado por algum motivo - uma razão que eu descobriria, mas não esta
noite. Esta noite não era sobre ninguém, exceto nós.
Seu cabelo estava espalhado ao seu redor, os lábios brilhando com a umidade dos meus
beijos, e seus olhos me olhavam com paixão nebulosa e um toque de cautela. Inclinei-me e beijei-a
novamente, e meu corpo ficou tenso com o esforço para me segurar. Eu queria despir suas roupas e
mergulhar no seu calor suave e apertado aqui mesmo. Meu corpo estava pulsando com necessidade.
Comecei a puxar as alças de seu vestido de verão para baixo, mas ela fez um pequeno grito de
protesto. Eu parei, mas me inclinei e beijei seu pescoço, arrastando meus lábios para baixo por sua
pele macia e perfumada, correndo minha língua para fora para prová-la. Ela inclinou a cabeça para
trás e arqueou-se em mim, e eu aproveitei a oportunidade para puxar o vestido para baixo. Seus seios
bateram livres. Eu olhei para baixo, não capaz de reprimir o gemido profundo e animaldesco que
subiu de minha garganta com a visão de seus lindos e cheios seios, bem na minha frente. "Você tem os
mamilos mais bonitos que eu já vi", murmurei. "Eu não tenho sido capaz de parar de pensar
neles." Eu inclinei-me e beijei um, e Kira soltou um pequeno e feminino suspiro. Aquele som fez meu
pau endureceu a proporções dolorosas. "Eu queria prová-los e chupá-los desde que caminhei
até você no outro dia", admiti com meus lábios contra sua pele enquanto beijava o outro peito.
"Me perguntei se eles tinham um sabor tão doce quanto parecem."
"Grayson," ela gemeu, enredando os dedos no meu cabelo. Eu abaixei minha boca para um
pico duro e o lambi, girando minha língua ao redor e ao redor.
"Deus, você tem", eu gemi, "uma sabor tão doce quanto parece."
"Eu disse que não devíamos... não é..." As palavras dela pararam em um suspiro ofegante.
Poucos segundos depois, essas respirações viraram-se para as calças. Na sua resposta, eu passei
meus lábios completamente ao redor do mamilo e suguei-o, puxando-o em minha boca e, em seguida,
usando a minha língua para acalmá-lo suavemente. Ela gritou, puxando o meu cabelo. "Oh Deus,
Gray," ela gemeu. "Você, temos que-"
"Shh, bruxinha," eu acalmava, tendo o outro mamilo em minha boca e sugando-
o suavemente antes de puxá-lo para trás. "Permita-se desfrutar isso."
Eu abri suas coxas, colocando um de meus joelhos entre elas. Ela olhou para mim com os
olhos desfocados e drogados com a excitação. Um triunfo macho primitivo fez o meu
intestino apertar, e eu pressionei minha ereção contra sua barriga quando me inclinei para beijá-la
novamente. Seu corpo de repente ficou rígido e ela virou sua cabeça. "Não", ela disse, com voz
suave e ainda arranhada com paixão.
"Sim", eu disse, inclinando-me. Ela empurrou meus ombros.
"Não", ela disse com mais firmeza. Eu gemi, rolando para o lado. Ela se levantou
rapidamente, puxando seu vestido para cima, parecendo como se estivesse tendo problemas para
fazer suas pernas cooperarem. Meu corpo pulsava dolorosamente com luxúria não gasta. Deus,
eu a queria. Ela fez um esforço combinado para não parecer afetada. "Eu tenho que ir para cama."
Meu braço disparou e eu agarrei a mão dela antes que ela pudesse correr.
"Eu quis dizer o que eu disse, Kira. Não há nenhuma razão para dormirmos sozinhos. Nós
podíamos... consumar este casamento. Você sente que temos entre nós, tanto quanto eu." Dei-
lhe o meu mais charmoso sorriso, mas ela desviou o olhar e puxou sua mão livre da minha, as linhas
de seu corpo tensas, os olhos confusos e um pouco aflitos.
"Você me contou essa história e então achou que isto", ela moveu a mão para trás e para
frente entre nós dois, "aconteceria?"
Confusão me fez parar. "Que história?"
"Sobre o filhote de cachorro."
"O cachorrinho? O quê? Não." Será que ela achou que eu contei-lhe sobre isso para
manipulá-la para me beijar? Eu pressionei meus lábios juntos.
Ela me estudou por um momento e depois soltou uma respiração afiada. "Eu te disse,
Grayson, eu não estou interessada em... nisto." Ela fez o gesto entre mim e ela mais uma vez. "Isso só
complicaria uma situação já complicada. Isto não fazia parte do nosso acordo."
"Negócios mudam o tempo todo." Sentei-me e trouxe minha perna sobre a
cadeira, levantando-me para encará-la. Eu levei uma mecha de seu cabelo entre os dedos, testando
sua textura sedosa, desejando que a lua trouxesse para fora seus destaques ardentes como o sol. Mas
nesta luz, o seu fogo foi sombreado. Quando eu fizer amor com ela, eu quero sempre
estar na luz, para que eu possa ver as chamas em seu cabelo, o brilho de seus olhos cor de esmeralda.
Eu quero ver todas as maneiras que seu corpo proclamar a própria vida, cheio de calor e paixão.
Meu corpo pulsava novamente, ainda duro no próprio pensamento de fazer amor com
ela... por horas e horas.
Ou, inferno, mesmo apenas uma vez... "Isto pode ser temporário, Kira. Assim como o nosso
casamento."
Ela piscou para mim e levou as mãos ao rosto, como se estivesse quente. Eu não poderia
dizer nesta luz, porém, se era este o caso ou não. "isto não iria funcionar. Apenas confie em mim."
Ela se virou para a escadaria de pedra até a casa. Eu chamei o nome dela, mas ela não se virou, não
olhou para trás. Eu sentei-me na poltrona deixando escapar um longo suspiro sexualmente frustrado,
tentando descobrir o que tinha acontecido. Eu não tinha idéia de como lidar com minha própria
esposa. As mulheres sempre tinham chegado facilmente a mim. Mantê-las... bem, Vanessa tinha
provado que poderia ser uma questão diferente. Mas Kira e eu já tínhamos estabelecido que a nossa
relação seria temporária, então, com ela não seria um problema. Eu nunca tinha experimentado
ser rejeitado no sexo, especialmente quando ligava meu charme. Eu não estava sendo arrogante, era
apenas a verdade. Será que eu realmente sei como seduzir uma mulher?
Uma relutante? Quão irônico era que a primeira mulher pela qual eu tinha que
trabalhar fosse minha própria esposa?

"Até segunda, Charlotte," eu disse, inclinando-me e beijando seu rosto macio. Era sexta-
feira pela manhã, e ela e Walter fariam uma viagem de fim de semana para San Francisco, para
visitar amigos.
"Há várias caçarolas no congelador, com instruções escritas em cima", disse ela. "Oh, e eu
assei ​um lote dessas bolachas de manteiga de citrinos que você gosta. Elas estão na folha de
estanho em -"
"Charlotte", eu ri, "Eu sou um homem crescido. Posso cuidar de mim mesmo durante o fim
de semana."
Ela sorriu, sacudindo a cabeça e beliscando minha bochecha carinhosamente. "Gosto de
cuidar de você. Apenas deixe-me caducar. Oh! E, por favor, diga a Kira que assei para ela os
biscoitos de aveia com açúcar mascavo que ela gosta. Onde ela está afinal? Eu pensei que
ela viria até a casa para dizer adeus."
"Saímos ontem a noite. Ela provavelmente está dormindo," eu disse, imaginando-a se
enredando em seus lençóis na sua pequena casa de campo, com o cabelo glorioso todo espalhado-
Charlotte olhou-me como se pudesse ler meus pensamentos. "Como vão as coisas com
vocês dois agora que na verdade estão casados?" Ela queria vir conosco para a cerimônia, mas eu
disse a ela que absolutamente não. Na época eu não queria nada que fizesse a cerimônia
mais estranha do que já era. A presença de Charlotte só teria servido nos para fazer sentir
mais desconfortáveis... e para me fazer sentir culpado. Eu não podia negar isso.
Eu suspirei. "Eu não sei. É difícil dizer com ela. Eu mal sei o que ela vai fazer a partir
de momento a momento, muito menos o que ela está pensando." Só sabia que ela estava resistindo a
mim, e era provavelmente por isso que eu a queria tão mal.
"Hmm," ela cantarolou, parecendo pensativa. "Sim, muitos não combinam com
aquele espírito, vou dizer isso. Exceto, talvez, você." Ela piscou para mim. "Estou feliz que
vocês dois foram jantar na noite passada. É um bom começo." Ela sorriu, e antes que eu
pudesse abordar esse comentário ou dizer-lhe para não ter quaisquer grandes ideias, ela continuou:
"Diga-lhe para ter um bom fim de semana. Oh! E diga-lhe que eu tenho sua lista sobre a
festa. Esplêndida ideia! Eu não sei qual é a pressa, ou por que ela estava enviando-me o convite às
duas da manhã, mas Walter e eu vamos parar na cidade esta manhã e encomenda-los - eu conheço um
lugar que vai imprimi-los imediatamente. Eu ainda tenho a lista de endereços de etiqueta da Jessica,
elencando quem é quem em Napa, e posso envia-la por e-mail para a impressora uma vez que
eu tiver alguns minutos para passar por isso." Kira ficou acordada no meio da noite? Por
quê? Tinha ela, também, sido incapaz de dormir depois do que tínhamos feito no pátio? Tinha
ela se jogado e se virado, lembrando a sensação de-
"Diga a Kira que eles estarão no correio na segunda-feira," continuou Charlotte,
interrompendo meus pensamentos. "E aqui, beba seu suco de laranja", disse ela, entregando-me meu
copo meio-cheio. "Há uma terrível gripe acontecendo ao redor." Fiz o que ela disse, drenando o
vidro apenas para parar sua festa-conversa e incessante chateação. Ela me observava atentamente
enquanto eu bebia, com algo quase nervoso em sua expressão. Estava ela preocupada com uma
gripe? Quando eu terminei, ela pegou meu copo e lavou na pia antes de eu enxotá-la para fora da
cozinha, dizendo adeus a Walter, que estava esperando no hall de entrada com uma pequena mala no
chão a seus pés.
"Adeus, senhor", disse ele, dando a sua esposa um pequeno sorriso afetuoso assim que ela
veio em sua direção, exagerando sobre todas as coisas que foram deixadas por fazer, como se não
pudéssemos sobreviver sem a sua proteção durante o fim de semana.
Eu trabalhei até tarde naquele dia, e, em seguida, fiz uma viagem à cidade
para buscar suprimentos, retornando quase cinco. Depois de um banho rápido, fui até a cozinha para
colocar uma das caçarolas no forno para o jantar. Eu mandei uma mensagem para Kira, para informa-
la que o jantar estaria pronto às seis. Uma hora mais tarde, porem, quando ela ainda não tinha me
mandado uma mensagem de volta, comecei a ficar inquieto. Será que ela estava me ignorando? Eu
não a tinha visto nenhuma vez durante todo o dia.
Ela estava escondida naquele pequeno casebre, me evitando? E agora pensando sobre
isso, ela não estava planejando começar a trabalhar no meu escritório? Fui ver se havia algum sinal
de que ela tinha estado lá, mas não havia. Eu fiquei ao redor do meu escritório por um tempo, mas
quando os meus níveis de frustração tinham subido demais para concentrar-me em qualquer
coisa, afastei-me de minha mesa e fui pegar meu telefone. Eu mandei uma
mensagem a Kira novamente e, em seguida, esperei cinco minutos, tamborilando os dedos no balcão
da cozinha. Nada.
Eu estava caminhando após a fonte antes mesmo de perceber que eu tinha deixado a casa. E
se ela tivesse decolado para o Brasil como mencionou naquele dia no quarto do hotel onde estava
hospedada? A bruxinha!
Ela tinha me deixado? Será que o que tínhamos feito ontem à noite assustou-a tanto assim?
Ou ela havia imaginado consideração e compaixão como sendo um ato bem executado? Meu sangue
estava pulsando em minhas veias com algo que eu não pude identificar se era pânico ou raiva - talvez
uma mistura de ambos.
Será que sua mala tinha ido embora? Ela tinha feito de mim um completo idiota? Deixando-
me com nada alem de orgulho despedaçado e uma muito real perna algemada, mesmo sem nenhuma
evidência verdadeira de uma noiva? Eu não me incomodei em bater, caminhando pela sala da frente
desordenada e explodindo em seu quarto, meu batimento cardíaco batendo no meu peito com o que eu
iria encontrar.
Eu expulsei um fôlego gigante quando vi a mala dela aberta no chão, suas roupas caindo
como tinham estado no dia anterior. Meu olhar girou ao redor do quarto, descansando sobre
o caroço debaixo do cobertor na cama. Ela estava dormindo? Às seis da noite? "Kira?" Sem
resposta. Mudei-me para a cama e arranquei o cobertor. Um pequeno gemido emergiu, e Kira puxou
as pernas até o peito, rolando em uma bola menor. "Kira?" Perguntei novamente, desta vez com
preocupação atando minha voz.
Seu rosto estava coberto com o lindo cabelo dela, então me movi em volta da cama e
coloquei minha mão em sua testa. Sua pele estava quente ao toque, e ela estava transpirando embora
estivesse também arrepiada. "Oh não, Kira, você está queimando, querida." Ela só gemeu de novo,
movendo seu rosto em minha direção, mas mantendo os olhos fechados. Ela murmurou alguma coisa
ininteligível, e depois tremeu violentamente. Foda-me. Isto foi minha culpa. Eu deixei-a ficar
neste lugar empoeirado, cheio de correntes de ar, obrigando-a a tomar banhos gelados por dias a
fio. O que havia de errado comigo? Culpa me bateu no intestino e eu coloquei meus braços sob ela,
levantando-a delicadamente juntamente com a colcha. "Você está vindo para a casa principal e ponto
final. Eu vou ditar a lei. Eu sei que em algum lugar aí dentro você está discutindo comigo, mas eu não
estou tomando um não como resposta. Você não tem escolha a não ser me obedecer. Como você gosta
disso, esposa?" Eu perguntei, tentando obter algum tipo de reação dela. Ela deu outro senão
apertando-se mais perto de mim, e tremendo de novo. Levei-a cuidadosamente através da sala da
frente, suja e cheia de equipamentos, e chutei a porta fechada atrás de mim, movendo-me rapidamente
através do frio fora de época e pela a noite cheia de névoa. Enquanto eu subia as escadas com
Kira em meus braços, minha cabeça de repente cresceu tonta e eu parei, encostando no corrimão por
um momento.
Bem, isso foi estranho. Deus, eu esperava que não estivesse ficando doente também. Não
seria bom sincronismo. Após um momento, o sentimento passou, deixando apenas um
zumbido estranho no meu sangue. Eu trouxe Kira ao quarto que tinha pertencido à minha madrasta e
coloquei-a gentilmente sobre a cama. Puxei os cobertores do outro lado e, em seguida, movi-
a sobre os lençóis, cobrindo-a. Depois de alisar seu cabelo para trás e estabelecer uma toalha fria na
testa, eu fui pegar algum Tylenol. Quando voltei com os comprimidos, balancei Kira suavemente.
"Kira, você precisa me dizer se sjá tomou alguma coisa. Kira?" Ela se moveu, seus olhos piscando
para mim, o verde ainda mais vivo com a febre. "Kira, tomou alguma coisa? Qualquer
medicamento?" Ela balançou a cabeça e fez uma careta.
"Não tenho nada", ela resmungou.
"Ok, bem, então eu preciso que você tome estes", eu disse, segurando as pílulas perto de
sua boca. Ela tragou e tomou vários goles da água que eu trouxe, caindo de volta nos travesseiros e
fechando os olhos mais uma vez. Eu levei um momento para estudar seu rosto. Sua pele estava
vermelha com a febre, os cílios longos e escuros em suas bochechas, seus lábios secos e ligeiramente
separados.
"Bela pirralha", eu sussurrei, alisando os cabelos para trás. Tomei consciência do
estranho zumbido em minhas veias novamente, franzindo a testa. O zumbido parecia fluir até a minha
virilha, e eu fiz uma careta pelo pouco que eu tinha endurecido. Este dificilmente era o momento para
luxúria, mas meu corpo parecia ter outras idéias. Eu me senti levemente envergonhado. A mulher na
minha frente estava doente, pelo amor de Deus.
Ao longo de um dia e meio eu trabalhei para manter Kira confortável enquanto seu corpo
lutava contra a febre. Eu também lutava para manter o meu próprio corpo sob controle.
Necessidade correi enfurecida através de minhas veias, numa espécie de redemoinho ardente de
desejo incontrolável. Eu encontrei-me repetidamente dobrado pela pulsante intensidade de uma
ereção que parecia vir do nada e durar horas. Não era normal. Algo estava drasticamente errado.
Liguei para José e disse-lhe que estava muito doente para trabalhar, pela primeira vez no
ano desde que eu tinha voltado.
Eu não poderia trabalhar naquele dia, de qualquer forma, já que para tanto teria que
deixar Kira sozinha - mas a verdade era que eu precisava, de alguma forma, sair de casa. Eu era
como um animal fora-de-controle. Eu queria foder como um Viking - saquear e rasgar as roupas e
saciar meu desejo latejante mais e mais e mais, até que a dor pulsante deixasse-me finalmente
satisfeito e mole. O pensamento em si parecia ridiculamente dramático, mas ainda assim eu não
podia achar qualquer outra maneira de explicá-lo, nem mesmo para mim. Eu desviei o olhar enquanto
limpava com panos frios o pescoço e parte superior do peito de Kira, tremendo para controlar o
impulso de rolar em cima dela e levá-la, inconsciente, com febre ou não. Eu tive que me aliviar
quatro vezes sozinho no banheiro, apenas para funcionar o suficiente para cuidar da bruxinha. Não,
isso não era normal. Ela tinha colocado algum tipo de feitiço em mim? Eu senti-me possuído por um
demônio sexualmente agressivo, vindo direto das profundezas de Hades.
Eu estava a ponto de chamar um médico - ou talvez um padre, para realizar um exorcismo
em mim - quando os sintomas finalmente começaram a diminuir no final da tarde de
domingo. Mentalmente esgotado e fisicamente drenado – literalmente - me deitei na cama ao lado de
Kira apenas um momento. Sentia-me marcadamente resfriado, sua respiração suave e uniforme.
O início sombrio do crepúsculo filtrava através das bordas das cortinas pesadas, e o
zumbido baixo do ventilador de teto me embalou para dormir quase que instantaneamente.
Capítulo Doze
Kira
Eu despertei devagar, sentindo-me como se estivesse emergindo de algum lugar profundo e
escuro, a luz muito, muito acima. Pisquei os olhos, tentando entender onde estava, a sensação de algo
quente e sólido à minhas costas. Virando-me e ainda grogue, olhei para o rosto incrivelmente belo de
um dragão adormecido. Eu tentei reunir o que me trouxe aqui. mas só conseguia me lembrar de subir
na cama, praticamente incapaz de me levantar, sentindo-me primeiro como se uma pedra tivesse
caído no meu corpo e, em seguida, como se estivesse sendo fervida viva. Mesmo agora eu me senti
tonta, meus membros pesados. Eu tinha estado doente, com uma febre, pensei. Visões de Grayson me
alimentando com caldo, colocando panos frios na minha cabeça e alisando meu cabelo para
trás vieram à minha memória dispersa. Ele cuidou de mim quando eu estava doente. Ternura fluiu
através de mim como um fresco beber de água enquanto eu olhava para sua beleza masculina
pacífica. Minha mente não estava completamente acordada ainda, e desinibida de qualquer medo
ou lógica eu trouxe minha mão até seu rosto, mudando meu polegar para baixo por seu queixo
áspero e sombreado com restolho preto. Isto é como seria acordar com ele. Isto é como seria se ele
fosse realmente meu. Ele não tinha se barbeado há um par de dias. Estive aqui, nesta sala, por tanto
tempo?
Os olhos de Grayson se abriram e ele olhou para mim por vários momentos, a
compreensão lentamente aparecendo em sua expressão sonolenta. "Oi," ele murmurou, trazendo a
mão na minha testa. Suspirou enquanto se afastou de novo. "A febre foi embora", disse ele, sua
expressão calma e plácida.
"Sim. Você cuidou de mim", eu sussurrei. "Obrigada." Ele foi gentil. O pensamento veio
súbito e certo.
Ficamos assim, o momento parecendo estar preso entre o sono e a vigília, nós ainda
presos na teia nebulosa dos sonhos. Seus olhos eram tão bonitos - tão escuros, como o céu à noite, e
apenas tão fáceis de se perder. Ele levou a mão ao meu rosto e escovou o polegar sobre minha
bochecha. Eu suspirei, inclinando-me para seu toque. De repente ele piscou para mim, seus olhos
abrindo totalmente como se algo tivesse acabado de lhe ocorrer. E o encanto foi quebrado. Ele rolou
de costas, parecendo quase culpado, e levou a mão para seu cabelo, passando os dedos através dele,
agarrando-o no topo de sua cabeça. "Foi-"
A campainha da porta interrompeu seu pensamento. Ele sentou-se. "Walter e Charlotte
saíram. Eu vou atender."
Ele se levantou, seus jeans e camiseta enrugados, seus cabelos em desalinho, a sombra
escura da barba fazendo-o ainda mais bonito de alguma forma. Ele era um homem, e eu senti minha
respiração engatar no meu peito.
Seus olhos escuros correram sobre o meu corpo, e novamente ele desviou o olhar, quase
culpado. Eu me apoiei em um cotovelo.
"Você não fez... tirou proveito do meu estado febril, não é, dragão?" Eu levantei uma
sobrancelha.
Ele apertou a mandíbula, e seus olhos ficaram incrivelmente mais escuros enquanto
ele disse laconicamente: "Não" Depois virou-se e se dirigiu para a porta. "Tome um banho quente. Eu
trouxe sua mala para cá." Olhei para onde ele assentiu sua cabeça antes que ele saísse da sala e, na
verdade, a minha mala e nécessaire com meus produtos de higiene pessoal estavam sob a janela.
Fiz o que Grayson disse, dando-me o luxo de um chuveiro longo e quente, saboreando a
sensação do calor caindo em meus músculos doloridos, ensaboando e lavando minha pele com meu
gel de banho novamente. Parecia celestial. Quando eu finalmente emergi, limpa e esfregada, me senti
totalmente acordada e humana novamente. Depois de secar meu cabelo e me vestir, desci as escadas
para encontrar Grayson e conseguir alguma comida. Eu estava faminta.
Ouvindo vozes da sala de estar eu caminhei nessa direção, chegando a um impasse quando
vi Kimberly sentada no sofá, Grayson na sua frente. Ambos estavam rindo de alguma coisa, mas
pararam quando entrei na sala. Kimberly soltou um gritinho e se levantou, correndo para mim
e precipitando-se para um abraço gigante.
"O que você está fazendo aqui?" Eu perguntei sem fôlego, abraçando-a, apertando meu
coração de alegria.
Ela estava vestindo shorts jeans e um top florido, sua lisa pele oliva ainda
mais escurecida da luz do sol do verão, seu corpo pequeno e voluptuoso tão perfeito como sempre.
Ela tinha seu cabelo preto e encaracolado retido em um rabo de cavalo baixo.
"Você não respondeu minhas chamadas em dois dias! Eu estava preocupada. Eu vim
para me certificar que você não estava algemada numa adega de vinho sendo torturada sem
piedade." Ela piscou, mas depois sorriu de volta para Grayson como se essa fosse uma piada
que eles já tinham compartilhado. Eles já pareciam muito íntimos. E eu não tinha certeza de como me
sentia sobre isso. Grayson ficou de pé.
"Eu vou deixar você duas conversarem", disse ele, com o olhar fixo em mim quando se
aproximou de nós. Eu não pude deixar de notar que, apesar de ter acordado recentemente, ele ainda
parecia cansado, como se não tivesse dormido muito. "Eu preciso tomar um banho, de qualquer
maneira. Prazer em conhecê-la, Kimberly." Eu olhei, mordendo meu lábio para a imagem
repentina de Grayson Hawthorn nu sob um spray de água quente. Sabão em cascata-
"Kira?" Perguntou Kimberly. "Você quer sentar?" Ela estava, obviamente, repetindo a
pergunta que eu tinha acabado de perder.
"Oh, sim. Até mais", eu disse a Grayson, que já estava passando por nós. "Hum, obrigada,
de novo."
Sua cabeça virou-se ligeiramente, mas ele não disse uma palavra.
"Venha aqui", disse Kimberly, puxando minha mão. "O que está acontecendo? Eu não
tenho obtido uma atualização decente sua desde que você dois se casaram, e então você não
respondeu nenhuma das minhas chamadas ou textos este fim de semana-"
"Eu estava doente. Como, realmente doente." Nós sentamos no sofá e eu trouxe um
travesseiro no meu colo, abraçando-o a mim. "Grayson cuidou de mim." Eu ainda estava
confusa sobre isso, e não tinha tido a chance de perguntar-lhe nada a respeito. Por que ele fez isso?
Como ele tinha me encontrado? E Deus, tinha realmente sido apenas há alguns dias desde que ele me
beijou e me tocou com tanta paixão, fazendo com que eu permanecesse acordada, jogando e
virando com a confusão frustrante? Eu finalmente tinha saído da cama e feito uma lista de detalhes
para a festa, enviando-a por e-mail para Charlotte. Colocar minha mente para trabalhar em qualquer
coisa além dele tinha ajudado, e eu finalmente fui capaz de dormir quando voltei para a cama.
Kimberly levantou uma sobrancelha. "Estou feliz que você está melhor, e nós vamos falar
sobre isso em um minuto. Mas eu tenho uma conversinha pra você. Você propositadamente deixou de
fora que ele é um deus Grego."
Eu zombei. "Deus Grego? Eu não tenho ideia do que você está falando. Ele é um dos
homens mais feios que eu já vi. Eu mal posso olhar para ele."
Kimmy sorriu. "Mentirosa." Sua expressão tornou-se pensativa. "Isso me preocupa, no
entanto. Vai ser mais fácil se apaixonar se você já está atraída por ele. Uma vez que o plano é se
afastar em um par de meses, seria apropriado você encontrar uma maneira de não deixar isso
acontecer, isso é tudo que estou dizendo. E não deixe que ele te beije."
Eu suspirei e inclinei minha cabeça para trás no sofá. "Bem, na verdade..."
Eu atualizei Kimberly sobre tudo o que havia ocorrido desde o dia de nosso casamento.
Ela escutou, sua expressão alternando entre a raiva, leve horror, surpresa e, finalmente, melancolia.
"Você o deixou beijar você. É tarde demais - mas não me surpreende. A forma como os olhos dele
te rastrearam hoje, quando você entrou na sala... bem, agora, o que você vai fazer?" Seus olhos me
rastrearam? Ele provavelmente estava tentando certificar-se que eu poderia andar, dado o quão
doente eu tinha estado.
Eu balancei minha cabeça. "Nada. Ele só quer me transformar em uma esposa conveniente
e depois observar-me caminhar para longe. O que jamais... bem... você me conhece, Kimberly. Eu
não trabalho assim. Seria um desastre total. Para mim."
Kimberly abriu a boca para responder quando ouvimos Grayson gritar da cozinha.
Eu levantei-me e Kimberly seguiu-me enquanto eu corria para o outro lado da casa.
Grayson estava apenas saindo da cozinha. Charlotte, que deve ter retornado enquanto eu estava
tomando banho no andar de cima, estava em seus calcanhares. "Isto era para ser útil", ela gritou para
ele. Ele se virou, as linhas de seu corpo tensas, os olhos atirando fogo em Charlotte.
"Eu quase a molestei. Quando ela estava febril e inconsciente", ele grunhiu.
"Oh querido", disse Charlotte. Ela olhou para cima, colocando um dedo em seu queixo.
"Será que era para ser metade, e não o dobro?" Ela levou seu dedo para baixo." Sim, esse deve ter
sido o problema."
"O que está acontecendo aqui?" Perguntei. A cabeça de Kimberly mudou-se para frente e
para trás entre Grayson e Charlotte. Walter chegou calmamente e ficou de pé ao lado.
"Ela me envenenou", Grayson rosnou, apontando o dedo para Charlotte.
Charlotte riu alegremente. "Eu não quis envenená-lo. É uma mistura de ervas
simples que minha mãe me ensinou, destinada a aumentar o ardor masculino." Ela piscou para mim.
Senti meu rosto drenar de cor. Charlotte tinha dado a Grayson algum tipo de mistura de ervas para
aumentar libido antes deles saírem para o fim de semana?
Por quê? E... Oh, Deus. Ele disse que quase tinha me molestado enquanto eu estava
inconsciente? Engoli pesadamente.
Walter mudou-se para a frente. "Não é da minha conta, senhor, mas -"
Grayson olhou, pressionando os lábios por um momento. "Quando foi que você já
parou, Walter?"
"É verdade," Walter concordou sem remorsos antes de prosseguir.
"Eu descobri pessoalmente que água em abundância durante todo o dia
ajuda, uh... os efeitos acabarem mais cedo. No entanto, eu honestamente recomendo a dosagem
adequada. É bastante... útil."
Grayson deixou escapar um som de dor, olhando para o teto. "Eu estou no inferno."
Charlotte deu um passo adiante. "Gostaria que eu preparasse-?"
"Não, eu nunca vou deixar você me preparar alguma coisa novamente. Você está demitida!
Eu estou cercado por gente maluca." E então ele se afastou em direção à porta, batendo-a atrás de si
tão duro que um vaso na prateleira ao nosso lado cambaleou e quase caiu. Engoli em seco, meus
olhos voando para Charlotte. Ela sorriu para mim como se não tivesse apenas sido demitida.
"Ele despediu você?" Eu respirei.
Charlotte acenou com a mão no ar, como se não fosse nada. "Oh, ele me demite duas vezes
por mês, mais ou menos, desde que tinha dezesseis anos." Ela voltou para a cozinha, chamando
depois de Kimberly e eu. "Venham juntar-se a mim para tomar uma xícara de café, meninas."
Kimberly, com um largo sorriso, liderou o caminho.
Charlotte ficou no balcão, um grande bloco de açougueiro na frente
dela quando ela sovou a massa para algum tipo de cozido. Eu apresentei-a a Kimberly, e
ela serviu três xícaras de café quando Kimberly e eu sentamos.
"O que você estava pensando, Charlotte?" Perguntei-lhe, tentando o meu melhor
olhar, mas sabendo que poderia ter sido vítima de abuso sexual enquanto estava inconsciente, devido
a suas ações. Apenas... eu realmente acreditava nisso? Será que
eu acreditava que Grayson seria capaz de uma coisa dessas, mesmo que o motivo fosse a intromissão
de ervas da Charlotte? Eu franzi a testa. Eu achava que não, mas homens tinham me pego de surpresa
antes. Pela minha experiência eles eram, em sua maioria, não confiáveis. O Senhor sabia que a
palavra de meu pai nunca tinha significado qualquer coisa, e a do meu ex noivo menos ainda.
Quanto a Charlotte, suas intenções, embora equivocadas, tinham sido puras. Eu tinha
certeza disso.
Os olhos de Charlotte brilharam. "Pareceu-me que vocês dois estavam evitando um ao
outro. Mas, então, você foi jantar com ele. E eu estava pensando que talvez Grayson precisasse de
um pequeno empurrãozinho na direção certa. E, em seguida, se vocês dois
estivessem sozinhos durante todo o fim de semana..." Ela franziu a testa. "Mas eu posso ter me
enganado na dosagem, e claro, eu deveria ter considerado sua virilidade..."
Eu gemi e coloquei minha testa na mão por um momento antes de olhar para trás para ela.
Eu quase não queria pensar sobre a virilidade do meu marido. "Eu não sei exatamente como ele
precisava de um empurrão nessa direção."
Charlotte parou o que estava fazendo, colocando o rolo de lado. "E você?" ela
perguntou, claramente esperando eu responder que queria o mesmo.
"Eu..." Inclinei a cabeça. "Eu me sinto atraída por ele, também. Eu..." Eu circulei um dedo
ao redor da borda da minha caneca de café. "Bem, há momentos que eu gosto dele." Eu balancei
minha cabeça. "Mas não posso dar-lhe o que ele quer, por várias razões." Eu olhei para Kimberly e
mordi meu lábio. Ela me deu um simpático olhar. "Mas a razão principal é que ele
provavelmente não teria problema em compartilhar seu corpo comigo e, em seguida, ir em frente
como se nada tivesse acontecido. Algo que eu não seria capaz de fazer." Eu olhei para
baixo. Esse sempre foi o jeito comigo - onde meu corpo vai, meu coração segue. Medo deslizou
lentamente pela minha espinha no pensamento de quão facilmente Grayson Hawthorn poderia
destruir-me, se eu lhe desse a oportunidade. Eu aprendi essa lição uma vez, e não iria repeti-la.
Desta vez eu não iria ceder ao meu estúpido e imprudente capricho.
Especialmente quando se tratava de um dragão muito viril.
Charlotte acariciou minha mão em cima do balcão, deixando uma pequena mancha de
farinha na minha junta.
"É assim que nós mulheres somo construídas, minha querida. Quando damos nossos
corpos, nós damos nossos corações também. Quando os homens dão seus corpos, bem..." Ela olhou
para cima como se estivesse tentando encontar as palavras certas.
"Eles dão seus corpos," Kimberly e eu terminamos em uníssono, e em seguida nós três nos
desfizemos em gargalhadas. Meu coração disparou com carinho para as duas. Eu tinha sentido falta
de te-las ao redor.
Eu sorri para Charlotte. "Sim. Então, isso está fora da mesa."
"Bem, vamos ver", disse ela, piscando para mim.
"Sem mais empurrõezinhos", eu disse. Secretamente, porém, meu coração estava aquecido
por saber que Charlotte queria ver uma verdadeira relação entre Grayson e eu. Talvez, para
ela, fosse principalmente porque ela não acreditou no falso casamento que tínhamos protagonizado –
torna-lo real permitiria que ela fosse feliz por Grayson, ao invés de desapontada por ele.
"Oh, não", Charlotte disse, sem convencer. "Pelo menos não dos que eu seja pega."
Eu ri baixinho, e tomei um gole do meu café. Eu estava tentada a perguntar a Charlotte
sobre algumas das coisas que aprendi sobre Grayson na outra noite, especialmente em
relação a Vanessa. Mas, um) eu não me sentia exatamente correta falando sobre essas coisas por
suas costas, e dois) Kimberly estava lá.
"Será que ele vai te perdoar?"
"Oh, eventualmente. Isso aqui", disse ela, acenando para a massa de pão na mão, "é
para fazer os seus bolinhos de mirtilo favoritos. Ele gosta com geléia e creme. Ele vai agir com raiva
por uns dias, só para preservar seu orgulho, mas depois vai passar." Ela sorriu alegremente, e depois
ficou séria. "Oh, isso me lembra, Kira. Eu terei de ir para o campo ao sul recolher os damascos que
de tão maduros já estão caindo no chão. Você quer me ajudar a fazer um par de lotes da minha geléia
de damasco?"
"Oh, com certeza. Fiz geleia de morango com minha avó uma vez", eu disse, pensando com
carinho nesse dia.
"Eu gosto deste lugar", declarou Kimberly de repente, tomando um gole de seu café. "Eu
acho que você pertence aqui, Kira." Suas palavras alternadamente me trouxeram felicidade e pavor.
E como nós sentadas na cozinha quente e perfumada com os aromas de mirtilos e café,
comendo bolos de mel e aveia, Charlotte tagarelando sobre sua viagem de fim de semana, de repente
me bateu: Grayson tinha dito que, para todos os efeitos, ele cresceu sem pais em tudo. Eu ainda não
entendia a dinâmica exata dessa situação. Mas ele estava errado em uma conta. Ele teve pais o tempo
todo. Seus nomes eram Walter e Charlotte Popplewell, que o amavam como se fosse o seu
próprio filho. Eu perguntava-me se Grayson mesmo percebeu isso.
Nós conversamos por um tempo e, em seguida, Kimberly me disse que tinha que
ir. Acompanhei-a para fora e, enquanto estávamos no carro dela, ela sorriu para mim. "Esta foi uma
visita tão agradável. Eu quis dizer o que eu disse", ela olhou para a propriedade
Hawthorn, “parece que você se encaixa aqui." Ela estudou meu rosto por um segundo. "Mas cuide de
si mesma. Eu não posso suportar vê-la machucada novamente, Kira Kat."
Eu dei-lhe um breve sorriso. "Eu vou, eu prometo."
Ela assentiu com a cabeça. "Eu quase odeio dizer isso, depois de ver o quão bem você
está indo aqui -"
Meu coração afundou. "Meu pai está ligando para você, não é?" Eu perguntei, adivinhando
imediatamente. Ela sempre tem o mesmo olhar apertado no rosto quando meu pai vem à sua mente.
Ela assentiu com a cabeça.
"Ele tem chamado várias vezes, até mesmo insinuando uma vez que, se não fosse você
a chamá-lo, ele iria puxar algumas cordas, de alguma forma, no no trabalho de Andy - e eu não acho
que ele disse isso no sentido de conseguir uma promoção."
"Aquele bastardo controlador", eu fervi. Andy é despachante policial, e eu supunha que
não era fora do âmbito do impossível que meu pai tivesse alguma influência no Departamento de
Polícia de San Francisco. Mas até mesmo considerar isso? Não havia limite para as
profundezas que ele iria para me controlar?
Kimberly colocou a mão em mim. "Agora escute. Eu não lhe disse para que você entre em
contato com ele por nossa causa. Andy está um pouco preocupado, mas, francamente, nós
preferimos enfrentar desemprego do que deixar o seu pai influenciar as nossas vidas. Eu apenas
pensei que você devia estar ciente. Quem sabe o que ele está aprontando? Pode ser melhor você
ir a ele agora, então ele não descobre onde você está antes que você estar pronta para recebê-lo."
Eu tremi, passando os braços em volta de mim. Mas concordei, apesar de tudo. E eu não
iria deixar isso se tornar problema da minha amiga. Balançando a cabeça, eu disse, "Eu vou.
Obrigada, Kimberly." Por favor, deixe que a licença de casamento venha em breve. Eu só preciso
do dinheiro primeiro...
Despedi-me dela firmemente, prometendo visitar em breve e atualizá-la frequentemente, e
então assisti seu carro sair pelo portão.
Novamente, eu passei meus braços ao meu redor, olhando sem ver a
fonte quebrada, pensando sobre quando seria consertada e como pareceria funcionando, querendo
saber o quão longe ela estava na lista de prioridades de Grayson. Grayson... Ele passou toda a
semana num estado de tormento absoluto graças a Charlotte, e ainda que abnegadamente se importou
comigo, acalmando minha febre e certificando-se que eu nunca estivesse sozinha. Aparentemente eu
estava errada sobre O Dragão, de certa forma, pelo menos. Ele não era a besta insensível que eu
tinha pensado originalmente. Eu ponderei momentaneamente como ele tinha sido traído por seu
irmão, pai e madrasta. Ele era apenas um homem - um homem que tinha profundas feridas e estava
tentando o seu melhor para consertar em uma situação que, até a minha chegada, tinha oferecido
muito pouca esperança.
Ppensei novamente sobre como eu sabia que ele tinha sido injustiçado, não só por seu
próprio pai, mas pelo meu, também. Será que ele entenderia o por que de eu não ter mencionado, se
ele viesse a descobrir? Pensei em contar-lhe agora... apenas, nosso plano não tinha mudado. Nós
ainda iríamos nos separar em breve. Que propósito teria?
Minha mente estava cheia de preocupações enquanto eu vagava para dentro da casa e me
dirigia para o escritório - a sala onde eu havia oficialmente conhecido Grayson Hawthorn. Sentei-me
na grande mesa e comecei a vasculhar através da pilha de novos e-mails que Charlotte deve ter
recuperado da caixa de correio quando voltou esta manhã, juntamente com a grande pilha dos
velhos e ainda sem abrir, separando tudo em três pilhas: o que pareciam contas, lixo e
correspondência pessoal. Havia várias cartas não abertas endereçadas a Grayson no que parecia
ser escrita feminina. Eu pus de lado, mas quando cheguei a um cartão com a imagem de uma bicicleta
encostada a uma árvore eu virei-o, notando a mesma caligrafia, e muito
recentemente datada. Eu hesitei apenas brevemente antes de deixar meus olhos derivarem
longe do endereço e para a mensagem.

Grayson,
Lembra quando tínhamos treze anos e eu espirrei lama em cima de você com a minha
moto e me senti tão mal?
Você disse que era impossível ficar com raiva de mim por muito tempo. Estou
rezando para você ainda ter isso em seu coração para perdoar-me. Eu nunca vou parar de tentar...
Todo o meu amor, Vanessa.

Vanessa. Todo meu amor? Ela ainda o ama? Ela estava tentando persuadir
Grayson a perdoá-la?
Para se casar com seu irmão? Uma estranha dor tinha se estabelecido em meu peito,
fazendo minha pele se sentir espinhosa. Eu não gostei. Eu comecei a colocar o e-mail mais recente de
lado, decidindo o que fazer com a tarefa, quando cheguei em cima de um
envelope de negócios dirigido a mim. Eu respirei fundo, rasgando-o. Deixei escapar um
gritinho quando vi que era a nossa licença de casamento oficial, o sentimento espinhoso dissolvendo-
se na esperançosa excitação. Jogando o outro e-mail sobre a mesa, eu andei rapidamente para a porta
da frente, chamando Charlotte na cozinha: "Eu estou indo para a cidade. Estarei de volta em breve."
Ouvi-a cantar, "Tudo bem", antes que a porta se fechasse atrás de mim.
Eu tinha algum dinheiro para recolher. Um monte de dinheiro, na verdade.
Capítulo Treze
Grayson
Por volta das três horas eu estava exausto demais para trabalhar por mais um minuto. Voltei
para casa onde o cheiro de bolinhos de mirtilo de Charlotte estava docemente pendurado no ar. Fui
até a cozinha. "Você não joga justo", eu disse, fingindo hostilidade. "Eu estava indo para dar-lhe o
tratamento do silêncio por pelo menos mais um dia e meio. Dê-me um desses."
Charlotte sorriu alegremente para mim, colocando um bolinho quente em um prato com uma
colherada de creme de leite no topo, e uma colher de geleia na lateral. "Trapaceira", eu murmurei.
"Não ache que isso significa que eu perdoei você."
Charlotte sorriu conscientemente para mim enquanto eu dava uma grande mordida
do paraíso. "Eu me desculpo. Eu causei dor, e eu nunca teria feito uma coisa dessas de
propósito." Ela me estudou por um momento. "Eu só..."
"Você quer que Kira e eu tenhamos um casamento real." Eu balancei minha cabeça. "Eu
sinto muito, Charlotte, mas isso não vai acontecer. Eu não tenho o tempo ou o desejo de
uma esposa." Quanto ao aspecto físico... Eu tinha experimentado. Não que Charlotte
precisasse saber disso – apenas lhe daria falsas esperanças. Em qualquer caso, Kira tinha dito não.
Mas veríamos sobre isso. Eu não ia desistir. Por enquanto, pelo menos, éramos marido e mulher –
então por que não colher os benefícios por um tempo? Ela era como um pequeno fogo no meu
sangue - bonita, imprevisível e cheia de vida. E talvez dois meses, possivelmente um pouco
menos, deveria ser bastante tempo para extinguir o fogo. Eu conheceria a sensação dela debaixo de
mim, ao meu redor, em cima de mim... e então estaria terminado. Eu estaria satisfeito. E ia seguir em
frente.
"Eu não te dei essa mistura de ervas para que você agisse numa atração física por ela, você
sabe -"
Charlotte disse, parecendo ler os meus pensamentos. "Eu espero mais de você do que isso.
Isso foi só para chamar o sangue que flui, se você sabe o que quero dizer." Ela piscou para mim, e eu
fiz uma carranca. Estava desgostoso que deveríamos discutir isso. Ela tinha praticamente me criado.
Mas ela continuou, antes que eu pudesse detê-la. "Era para o corpo e o coração. E, quanto a Kira, ela
não quer um relacionamento puramente físico com você também, você sabe."
Hesitei, não sendo capaz de camuflar o meu interesse. "Como você sabe disso?"
"Porque ela é uma mulher. É assim que eu sei disso."
Eu considerei suas palavras. Se nós gostamos do corpo um do outro, Kira
gostaria de mais? Não, ela mal parecia gostar de mim metade do tempo. Mas ela gostou do meu
toque. Isso estava claro. Pensando bem agora, esse zumbido constante de conscientização sexual
tinha estado lá desde o início, tinha estado presente desde a primeira vez que minha pele tocou a
dela. Não tinha consciência disso porque estava muito ocupado julgando-a, ressentindo-me, e, em
seguida, sendo impelido a me distrair com suas palhaçadas ridículas. Mas eu não
estava mais negando. Achava seriamente que não havia qualquer razão pela qual não
poderíamos manter as coisas em um nível físico.
Da minha parte eu sabia que poderia desfrutar de seu corpo sem cair de amor por ela. Eu
gostaria. Eu iria parar de negar a mim mesmo no que dizia respeito a - principalmente exasperante,
mas altamente desejável - bruxinha. Agora só precisava convencê-la também.
O protecionismo que senti por Kira quando a encontrei doente e febril em sua cama
tinha me preocupado nas primeiras horas que eu cuidei dela. Mas então, antes que eu tivesse tempo
de totalmente considerar isso, as ervas de Charlotte me chutaram, e isso tinha acabado por ser tudo
que eu poderia fazer para sobreviver em meu próprio corpo, o esforço do autocontrole fazendo-me
exausto demais para pensar. Talvez, de alguma forma estranha, tinha sido uma coisa boa.
Mas, considerando-o agora, concluí que era apenas uma reação natural do sexo masculino
querer proteger a sua própria esposa - até mesmo num casamento de conveniência.
"Falando de Kira", eu disse, "onde está a pequena agitadora?"
"Eu não sei. Ela saiu daqui há algumas horas."
Eu levantei uma sobrancelha, perguntando-me o que tinha sido tão importante. Antes que eu
tivesse tempo de fazer a pergunta em voz alta ouvi um veículo na garagem. Alguns momentos
depois ouvi a voz de Kira, "Olá?"
"Aqui, querida", Charlotte chamou.
Olhei por cima do meu ombro enquanto Kira entrava apressadamente na cozinha, definindo
uma grande caixa com furos na parte superior no chão. "O que é isso?" Eu perguntei, apontando para
o recipiente grande.
"Uma surpresa", disse ela, sorrindo.
Eu gemi. O que na terra ela ia inventar agora?
"Mas primeiro", disse ela, sentando-se no banco ao meu lado, "estamos oficialmente
casados. Eu apresentei a certidão de casamento para o Sr. Hartmann. Nosso cheque será
processado hoje e descontado amanhã. Podemos ir buscá-lo como a primeira coisa da manhã."
Excitação percorreu meu corpo. "O quê?" Perguntei. "Realmente?"
"Realmente." Ela sorriu. E eu não consegui evitar. Levantei-me e peguei-a em um abraço,
girando-a ao redor enquanto ria.
"Conseguimos", eu disse quase incrédulo, chegando a um impasse e definindo-a no chão
na minha frente. Ela sorriu para mim, os olhos brilhando, seu sorriso brilhante. E eu ganhei a
covinha.
"Eu sei", ela respirou. Fiquei olhando-a nos olhos, a necessidade de beijá-la tão
intensa que precisei perguntar-me se era natural ou se as ervas de Charlotte ainda estavam correndo
soltas pelo meu sistema.
Eu fui interrompido, porém, pelo som suave de algo raspando do interior da caixa ainda no
chão atrás de nós. Eu ergui minhas sobrancelhas, e o sorriso de Kira aumentou, essa
encantadora covinha pulando para fora novamente quando ela afastou-se de mim, movendo-se
rapidamente para o que quer que estava no chão.
Girando, eu perguntei, "O que você fez?"
Ela se agachou no chão, abriu a caixa e levantou o que parecia ser um filhote de
cachorro grande ou um cachorro (adulto) pequeno. Olhos escuros com alma me encararam com
cautela, e os verdes brilhantes me olhavam com entusiasmo. "Oh meu", Charlotte suspirou, correndo
sobre Kira. "E quem é esse?" Charlotte levantou a tag de metal no pescoço do cão e leu, "Sugie
Sug?"
"É pronunciado como o açúcar, mas com um ie no final4 ", disse Kira com orgulho. "E
então como o rapper Suge Knight. Sugie Sug."
"Oh, sim," Charlotte disse, mesmo que ela nem soubesse o que era um rapper.
"Talvez eu devesse tê-lo escrito com SH5 ", disse Kira, seus olhos se deslocando para cima
como se pensasse nisso.
Eu balancei a cabeça, virando minha atenção de volta para a coisa nos braços de Kira. "O
que é um Sugie Sug?" Eu perguntei. "E o que há de errado com o seu rosto?" Parecia que toda a
metade inferior do rosto do cão, o nariz e maxilar tinham sido mutilados de alguma forma.
Kira puxou a coisa, que eu poderia dizer agora que era um filhote de cachorro mais velho,
uma espécie de vira-lata, em seu peito e cobriu sua orelha com a outra mão. "Shh", disse ela. "Ela
pode te ouvir, você sabe." Ela deu-me uma careta de desprezo. "E Sugie Sug é ela." Ela sorriu para o
cachorrinho que olhou para ela com o que parecia esperança mal contida. "Não é, bebê? Não é, torta
doce de açúcar? Sim você é, você é uma menina, boa menina. Uma boa menina. Uma
garota doce e boa." Eu fiz uma careta ao ouvir o som da conversa estridente de bebê. Mas,
aparentemente o cachorrinho não se importou nem um pouco.
O cão, tremendo em uma tentativa óbvia de segurar seu arrebatamento às atenções de Kira,
lambeu sua cara com aquela boca estranhamente deformada. Kira riu e depois cobriu a orelha do
cachorro novamente. "Eu resgatei-a. Seu primeiro proprietário amordaçou-a quando
ela estava quase desmamada. E então ele não tirou a bandagem do seu rosto enquanto ela crescia. Ela
foi encontrada quase morta, e teve que ter a engenhoca removida cirurgicamente." Ela tirou a
mão da orelha do cão. Charlotte, que estava clicando e babando como uma vovó a conhecer seu
neto pela primeira vez, arranhou as orelhas do filhote de cachorro.
"Oh, pobre querida. Você não se preocupe com nada, Sugie Sug. Você vai se encaixar muito
bem por aqui." Em seu entusiasmo óbvio o cachorro soltou um pequeno guincho e, em
seguida, abaixou a cabeça como se esperasse consequências terríveis como
resultado pelo pequeno ruído escapado. Ela olhou para nós, seus olhos erguidos catastroficamente,
sua cabeça ainda abaixada.
"Whoa, whoa, por aqui?" Perguntei. "Não. A última coisa que eu preciso é de um animal
correndo por aí e ficando no meu caminho. Eu não tenho tempo para um animal de estimação."
Kira franziu a testa e, em seguida, empurrou o cão para mim, obrigando-me a levá-lo dela.
"Eu salvei Sugie Sug para você. Ela é sua. Considere-a como, hum, meu presente de casamento.
E como um muito obrigada pela sua bondade deste fim de semana." Ela sorriu. Eu estava
momentaneamente atordoado olhando para o peso quente em meus
braços, aqueles olhos grandes e escuros apontados para mim com uma mistura de medo e esperança.
Eu senti uma agitação estranha na região do meu coração. Oh, Jesus. Kira tinha ido e me dado um
filhote de cachorro depois da história que eu lhe contara sobre meu pai. Bruxinha irritante.
Doce e compassiva, mas acima de tudo uma irritante bruxinha. Eu suspirei.
Tinha sido um pensamento amável, e eu estava feliz que ela não estava chateada com a
forma como paramos no pátio depois de nosso encontro. Ainda... "Kira, não posso ter um cachorro
chamado Sugie Sug. Nem sei o que isso significa. Mas soa incrivelmente feminino."
"Oh," ela colocou um dedo para cima em seus lábios, "bem, esse é o nome dela, e
ela responde a ele. Seu nome completo é Sugar Pie Honey Bunches, Sugie para os íntimos." Ela
estava segurando um sorriso mal reprimido. Isto divertia a bruxinha.
Eu considerei o animal novamente. Ela era miseravelmente feia. Lamentavelmente pouco
atraente. Danificada. Mas apesar de sua deformidade e de seu nome inaceitável não tive coragem
para mandá-la embora agora que estava em meus braços, olhando-me com uma esperança tão crua.
Eu tinha uma grande propriedade. Ela poderia correr ao
redor - eu provavelmente não teria sequer que vê-la. E ela teria, no mínimo, que ser treinada para
não comer as uvas, que poderiam ser perigosas para os cães. Eu a coloquei no chão. Ela ficou
imóvel, olhando para mim. "Ela ainda é um filhote, e você só a teve hoje. Ela pode aprender um novo
nome." Eu disse. "Vem cá, Scout."
Ela inclinou a cabeça feia, sentando-se diretamente sobre seu traseiro.
Kira voltou também. "Venha aqui, Sugie Sug," ela chamou. O cão avançou até
ela imediatamente, suas patas excessivamente grandes clicando no chão. Kira pegou-a e começou a
balbuciar para ela naquela mesma altamente irritante voz de bebê.
"Venha aqui, Sugie Sug," chamei experimentalmente. Kira colocou-a no chão e o
cachorro correu para mim, rangendo novamente e, em seguida, baixando a cabeça daquele jeito
assustado, tímido. Eu peguei-a e olhei em seus olhos. "Primeiro, você está autorizada a falar por
aqui." Ela me olhou com aqueles olhos expressivos, como se entendesse o que eu estava dizendo. Ela
lambeu minha bochecha timidamente. Eu olhei para Kira e Charlotte, que estavam ambas sorrindo
amplamente. "Tudo bem, ela pode ficar," eu disse, apertando meu maxilar e virando com o meu novo
cachorrinho, dirigindo-me para a porta. Meu novo filhote de cachorro nomeado Sugie Sug. Que
diabos estava acontecendo à minha vida? "Eu estou indo mostrar-lhe a casa e treiná-la para um novo
nome", eu disse quando saí da cozinha.
Feliz riso feminino me seguiu até as escadas, um som que percebi de repente
nunca ter ouvido tantas vezes nesta casa... antes de Kira ter vindo.

Bem cedo na manhã seguinte Kira e eu fomos ao centro para pegar o cheque que tinha
sido o catalisador e a razão para este casamento. Sr. Hartmann entregou-o e desejou-nos
felicidades e boa sorte e, nem dez minutos depois que tínhamos entrado no edifício, estávamos de
volta na rua, olhando um para o outro como se estivéssemos em choque. Eu sorri para Kira e
disse: "Vamos abrir uma conta bancária." Ela sorriu de volta e acenou. Indo para o outro lado da rua,
passamos pelo banco onde Kira tinha me visto pela primeira vez. Kira pode ter boas
lembranças daquele banco em particular, mas eu não podia aguentar abrir uma conta no
lugar que tinha rejeitado a minha solicitação de empréstimo - sua rejeição tendo sido justificada ou
não. Ainda assim, eu pensei sobre a última vez que estive lá, em quão desesperado e baixo me senti.
Eu agarrei a mão de Kira e dei-lhe um aperto. Ela sorriu para mim, sua covinha estalando para fora.
Uma mecha do cabelo ardente caiu na frente de um olho, e eu não poderia me ajudar. Parei e
caminhei com ela para trás, em direção a um edifício, e pressionei-a contra a parede, dando-lhe um
beijo rápido e duro e, em seguida, sorrindo para sua expressão de surpresa.
"Arranjem um quarto", murmurou alguém passando. Kira pareceu rapidamente chocada e
eu dei-lhe o meu melhor sorriso diabólico, levantando as sobrancelhas.
"Não", ela disse resolutamente, deslizando por debaixo de mim. Mas então ela olhou para
trás, um sorriso maroto em seu rosto. Meu coração virou de uma forma estranha. Eu ri, caminhando
rapidamente para recuperar o atraso.
Uma hora mais tarde tínhamos contas separadas, cada uma contendo trezentos e cinqüenta
mil dólares. Quando nos dirigimos para a vinha algo dentro de mim de repente sentiu vergonha, como
se eu estivesse roubando o dinheiro dela. Como se eu tivesse pouco direito sobre o que tinha
acabado de tomar. "Eu vou pagar de volta. Você sabe disso, certo?" Eu perguntei, olhando para Kira.
Ela assentiu com a cabeça, estudando meu rosto. "Se você quiser", disse ela.
"Eu quero."
Kira ficou em silêncio por um minuto e, em seguida, sua voz saiu suavemente. "Eu preciso
ir ver o meu pai hoje."
Eu olhei para ela, sua expressão uma mistura de tristeza e algo que parecia desânimo. O
que me surpreendeu - os olhos de Kira eram normalmente tão cheios de vitalidade. Era como se a
ideia de ver seu pai sugasse o brilho de seu corpo. Eu abri minha boca para dizer algo, mas não sabia
o que. Fechei-a novamente e, após um minuto, murmurei simplesmente, "Tudo bem."
Ela olhou para mim como se quisesse me perguntar algo, mas em vez disso apenas
balançou a cabeça, ficando fora da minha caminhonete quando parei na frente da
casa, falando que me veria em alguns dias.
Isso deveria ter me feito feliz. Eu teria um pouco de paz por aqui durante quarenta e oito
horas. Eu não precisaria me preocupar com uma bruxa irritante brincando em toda minha
propriedade, causando problemas e caos, fazendo meu sangue em rotatividade com necessidade. Eu
provavelmente deveria ir para a cidade e encontrar uma mulher disposta para me afundar. Deus
sabia quão sexualmente frustrado eu estava. Kira não sabia, ou simplesmente não se importava, pelo
som das coisas. Bastava ser discreto. Eu poderia ser discreto. Então, por que minha mente estava
pensando no vago sentimento de melancolia causado por Kira deixando a cidade em vez da minha
própria necessidade sexual e o que eu poderia fazer para satisfazê-la? Eu balancei fora de meus
pensamentos e fui ao meu escritório para colocar as encomendas de suprimentos e equipamentos que
eu tinha marcado por semanas agora. Uma emoção de satisfação percorreu meu intestino. Tudo
estava indo pro lugar.
O cão acolchoou-se no meu escritório e deitou-se aos meus pés enquanto eu trabalhava no
computador. Quarenta e cinco minutos depois, quando eu tinha colocado tudo em ordem, levantei-me
e chamei a vira-lata feia de onde ela ainda estava sob minha mesa. "Aqui, Buddy." Nada. Ela nem
sequer levantou a cabeça.
Eu considerei por um momento. Ela era uma menina, então talvez só quisesse um nome
mais adequado para uma fêmea. "Aqui, Bailey." Nem mesmo uma pontada muscular. Eu cerrei os
dentes. "Aqui, Sugie Sug", eu disse sob minha respiração. As orelhas do cão se animaram, e ela
soltou um gritinho animado e se levantou rapidamente, percorrendo os poucos passos para onde eu
estava. Eu apertei os lábios e dei-lhe um olhar amargo. Ela ofegava para mim, e eu jurei que a boca
deformada estava sorrindo.
"Todas vocês, mulheres, estão gostando disso, não é?" Eu perguntei, virando-me para a
cozinha, o cão trotando atrás de mim.
Charlotte me encontrou no corredor. "Kira está colocando a mala dela no carro", disse ela.
"Você não está indo com ela?"
Olhei para a porta. "Por que eu iria com ela?"
Ela deu de ombros. "Eu apenas pensei que faria mais sentido vocês se mostrarem juntos
para dizer ao pai dela que estão casados. Não iria torná-lo mais convincente?" Obviamente Kira
tinha dito a Charlotte onde estava indo, e por quê.
Eu fiz uma careta. "Se ela quisesse que eu fosse junto, ela teria pedido." Voltei minha
atenção para o cachorro. "Venha aqui, Maggie." Ela ficou olhando para mim. Eu suspirei. "Vamos,
Sugie." A insuportável vira-lata levantou-se para andar atrás de mim enquanto caminhávamos na
direção da cozinha. Charlotte riu. "Tenho certeza que isso é muito divertido para você", eu disse,
olhando para ela.
Charlotte sorriu, começando a levar itens fora da geladeira. "Eu estou fazendo um
sanduíche para Kira levar na estrada. Quer um?"
"Claro", eu disse, sentando em um banquinho de bar.
"Quanto a esta menina doce", disse Charlotte, sorrindo para o cão que abanou o rabo
alegremente para ela, "imagino que a primeira vez que Kira a chamou de Sugie Sug, ela disse
com tanto amor adorado que este cão não poderia facilmente deixá-lo ir agora. Eu suspeito que foi a
primeira vez que ela ouviu um tom amoroso dirigido a si mesma em sua curta vida, o que é muito
triste. Mas isso é uma coisa muito poderosa, você sabe."
Eu encontrei os olhos sábios de Charlotte, considerando suas palavras, pensando sobre o
fato de que minha esposa trouxe este cão para casa para tentar curar-me de algo que aconteceu há
muito tempo. Pelo olhar de medo e tristeza que tinha visto em seus olhos antes, talvez Kira
precisava que algo de muito tempo atrás fosse curado também. Talvez nos fôssemos marido e esposa
apenas no papel, mas ela tinha me mostrado imerecida bondade. Sem segundas intenções,
simplesmente porque ela podia. Talvez ela merecesse o mesmo. "Envolva os dois sanduíches,
Charlotte ", eu disse. "Eu vou com ela."
Charlotte apenas sorriu um sorriso conhecedor.
Capítulo Quatorze
Kira
Eu estava arrumando minha mala no porta-malas do meu carro quando vi Grayson
emergir da casa com o que parecia ser uma pequena valise própria e um saco plástico.
Fechando o porta-malas, fiquei olhando para ele até que ele tinha chegado ao carro. "O que
você está fazendo?" Eu perguntei.
"Indo com você", ele respondeu, abrindo o porta-malas e removendo minha mala.
"Vindo comigo?" Eu gaguejava. "Mas -"
Ele fechou meu porta-malas e virou-se para mim. "Kira, vai parecer mais convincente
se formos juntos. Nós fizemos este acordo de negócios juntos e devemos estar envolvidos no
que for necessário para fazê-lo funcionar. Considere isto como um pagamento pela
minha parte da barganha." Ele caminhou até seu caminhão e colocou a minha mala e seu pequeno
saco atrás dos assentos.
"E por que você está colocando a minha mala em seu caminhão?"
"Porque eu gosto de dirigir."
Eu joguei minhas mãos para cima, sentindo-me subitamente pisada. O que era um
sentimento deveras familiar. "Parte da sua natureza de dragão controlar, eu presumo?"
"Eu suponho." Ele colocou o pequeno saco plástico cheio do que eu supus
serem sanduíches de Charlotte no pequeno banco de trás e subiu ao volante. Abri a porta do lado do
passageiro, olhando para ele, mas não subi.
"Você gosta de me irritar, não é?"
Ele pareceu considerar isso. " Tem um certo apelo." Ele olhou para mim. "Mas isso não
é sobre aquilo."
"Você não precisa se sentir obrigado a fazer isso", eu disse. Francamente, eu quase não
queria Grayson conhecendo meu pai quando eu estaria contando-lhe sobre nosso casamento. Eu só
podia imaginar o frígido desdém que ele mostraria não só a mim, mas a Grayson também. E eu tinha
que saber se o nome de Grayson seria familiar? Eu duvidava - meu pai só lembra-se daqueles que
podem continuar a servir sua agenda de alguma forma. Além disso, o que tinha acontecido tinha
sido há alguns anos, e havia acontecido por uns breves momentos. Ainda assim, eu nunca tinha
imaginado Grayson estando na sala quando eu informasse a meu pai que eu tinha me casado sem
dizer-lhe antecipadamente. As coisas poderiam ficar feias, e eu não queria que ninguém
mais - especialmente Grayson Hawthorn – testemunhasse isso. Especialmente considerando que eu
tinha quase certeza que meu pai não iria se esforçar para poupar os sentimentos de Grayson de
qualquer maneira, forma ou formulário. Deus, quando eu tinha começado a
cuidar tanto dos sentimentos d’O Dragão?
Era realmente algo a ser pensado.
"É a maneira apropriada de lidar com isso, Kira. Agora, podemos ir? Eu não
quero pegar qualquer tráfego em São Francisco."
"Quem vai cuidar de Sugie?" Eu perguntei, tentando um argumento final.
"Charlotte. Virgil vai ajudar também. O cão parece ter tomado um gosto por ele."
Eu xinguei uma respiração final, mas depois cedi. Tudo bem, ele poderia vir e ver por si
mesmo exatamente porque eu preferi casar com ele do que tirar alguma coisa do meu pai nesta vida
ou em qualquer outra. Ele veria. Veja bem... ele veria exatamente quem eu era. E isso me assustou.
Por quê? E então veio a mim – eu queria que O Dragão me respeitasse. Eu não queria que ele me
visse como a herdeira mimada que ele tinha, obviamente, julgado que eu era naquele dia em seu
escritório quando tinha me mostrado tanto desdém frio. Eu não queria que ele visse a grandeza de
onde eu cresci e pensasse que que aquilo era qualquer parte de quem eu era ou do que eu queria
da vida. Eu tinha me casado com aquele homem, e ainda assim nunca tive a intenção de deixar
Grayson Hawthorn entrar na minha vida particular, meu sofrimento particular. Eu tinha criado este
acordo como um negócio de risco. E agora, de repente, percebi que estava se transformando
em algo mais - para mim, pelo menos. Eu me importava. E isso me assustou.
E era, provavelmente, muito, muito estúpido.
Engolindo minha própria confusão súbita, eu abri a janela quando nos dirigimos para fora
dos portões, inalando o ar ainda doce com o aroma do final do verão.
"Onde planeja ficar?" Grayson perguntou uma vez que tinha virado para a rodovia.
"Hotel", eu respondi.
"Não com Kimberly?"
Eu balancei minha cabeça. "Agora que tenho dinheiro para estadia em um hotel decente,
prefiro não me impor a eles. Seu apartamento é tão pequeno."
Grayson assentiu. "Ela parece ser uma boa amiga."
"Ela é. Ela é a melhor." Eu sorri, inclinando a cabeça para trás no assento. "Nós crescemos
juntas. Sua mãe veio trabalhar para nós quando tínhamos cinco anos. Ela é mais como uma irmã,
realmente. Minha mãe tinha acabado de morrer", mordi o lábio, "um acidente de esqui, e bem... a mãe
de Kimberly, Rosa Maria, tomou-me sob sua asa por um tempo." Eu sorri, feliz em mudar meus
pensamentos para outra coisa senão o confronto com meu pai sobre meu casamento. "O aniversário
do Kimberly foi uns dias depois que sua mãe começou a trabalhar lá, e Rosa Maria deu uma pequena
festa para ela e convidou as crianças dos outros que trabalhavam para nós. Eu estava
desesperada para ir, e implorei a meu pai para me levar, para comprar-lhe um presente, mas ele
disse ‘você não vai precisar comprar-lhe um presente, porque você não vai. Um Dallaire
não pode fazer parte de tal companhia baixa.’ Eu tinha aprofundado a minha voz para imitar o tom
masculino do meu pai, e sorri para Grayson. Ele tinha uma pequena carranca no rosto e não sorriu de
volta. "Bem, como você pode imaginar", eu lhe lancei outro sorriso, sentando-me ereta, "eu não ia
levar isso como resposta, por isso tomei um colar que minha mãe havia me dado com um coração
pequeno nele, e tive nosso jardineiro, George, cortando-o ao meio. Eu coloquei-o em um cordão,
esgueirei-me para a festa de Kimberly, dei-lhe o colar improvisado e declarei que significava que
seríamos melhores amigas por toda a eternidade." Meu coração se encheu de calor na memória. "Ela
ainda o tem."
Grayson ficou em silêncio enquanto chupava o lábio, não olhando para mim. Eu olhei para
a frente, sentindo-me desconfortável, e depois de alguns momentos senti seus olhos no lado do meu
rosto. "Você ainda é próxima de Rosa Maria?"
"Não", eu disse com tristeza. "Meu pai a demitiu anos atrás. Foi estranho e doloroso desde
que ele teve um relacionamento com ela e essencialmente a trocou por uma modelo mais nova e mais
jovem, para servir tanto como sua nova governanta quanto nova parceira de cama. Rosa Maria não
respondeu a nenhuma das minhas tentativas de falar com ela depois disso." Eu agitei minha mão,
tentando acenar longe o assunto e a dor associada que sempre vinha ao discuti-lo.
"Ela culpou você?" Grayson perguntou, uma borda estranha em sua voz.
"Kimberly diz que não, mas deve ser doloroso demais ter qualquer contato que a faz
lembrar do que meu pai fez com ela. Ela o amava, eu acredito. Enquanto ele... bem, ele a viu como
nada mais do que um maneira conveniente de manter sua casa limpa e sua cama quente."
"Eu vejo", disse ele, com a voz tensa. Olhei para ele, sentindo como se, de alguma forma,
ele realmente pudese me ver – ainda mais do que eu compartilhei com ele.
Franzindo a testa eu balancei minha cabeça. "Então, o que você e
Kimberly estavam falando antes que eu descesse ontem de manhã?", perguntei, percebendo que não
tive a chance de perguntar a Kimberly antes de sermos interrompidas por seu confronto com
Charlotte.
Ele sorriu para mim, quebrando o clima sombrio que tinha existido enquanto eu discutia o
assunto de Rosa Maria e meu pai. O sol da tarde inclinando pela janela atingiu o rosto de
Grayson, trazendo o profundo e rico marrom de seus olhos, e destacando a aspereza de seu ainda não
barbeado maxilar. Eu desviei o olhar, mordendo meu lábio. Ignore as escamas brilhantes, repeti
em minha mente. "Você", ele disse, e quando eu balancei meus olhos de volta aos seus, seu sorriso se
aprofundou. "Ela estava me contando algumas histórias interessantes sobre os problemas dos
quais teve que tirá-la ao longo dos anos."
Eu bufei. "Ela é uma boa garota, mas ela exagera. É um dos seus piores defeitos."
A risada de Grayson foi profunda e quente. "Eu não sei. Estou inclinado a pensar que ela
não faz." Ele olhou de volta para a estrada, ainda sorrindo. "Ela disse que você obtém essas ideias na
sua cabeça..."
"Só diversão", eu defendi. "Não problemas."
"Com você, parece ser uma linha muito fina." Eu dei-lhe um olhar irritado, mas
pisquei quando vi o sorriso em seu rosto, cheio de charme e afeição genuína.
Eu olhei para fora da janela novamente. "Eu fiz um esforço combinado para
restringir o segmento-problema das minhas "ideias" desde que tenho vivido com você."
"Querido Deus," ele gemeu. "Eu tremo só de imaginar o que acontece quando você não se
controla."
Eu suspirei, franzindo a testa. "Basta perguntar a meu pai", eu disse, secretamente
esperando que ele não fizesse. "Ele vai dizer-lhe o fardo que você assumiu quando encontrá-lo. Eu
não tenho nenhuma dúvida." Mordendo meu lábio novamente, virei minha cabeça para olhar para
fora, para o cenário zunindo por nós.
"Hey," disse Grayson, e eu senti sua mão quente segurar a minha no assento ao meu lado.
Eu olhei para baixo, em nossas mãos unidas, e depois em seus olhos antes de olhar de volta para a
estrada novamente. "Isso vai correr bem, ok?"
Eu balancei a cabeça, mas de alguma forma eu sabia que ele estava errado. Eu poderia
muito bem estar entrando em uma situação em que estaria completamente humilhada na frente de
Grayson. Não, isso não ia dar tudo certo. Isto vai ser decididamente não-tudo certo.

O amarelo suave e o laranja do crepúsculo se aproximando banhavam de luz a mansão no


monte do morro Italian Renaissane. Situada no bairro de Pacific Heights em São Francisco, estava
entre as peças mais caras de imóveis na cidade, provavelmente no país. A propriedade
Dallaire. Lar doce Lar. Eu me encolhi interiormente. Havia muito pouco doce anexado a este lugar
para mim.
Olhar para esta casa me fez terrivelmente ciente que eu tinha vivido a maior parte da minha
vida atrás da sombra do que meu pai desejou que eu fosse. E tudo que eu sempre desejei foi ficar na
luz do sol e ser amada por quem eu era.
Olhei para expressão enigmática de Grayson quando saimos de seu caminhão, estacionado
na rua, em frente a estrutura volumosa. Notei quando ele se virou em um círculo completo no topo
exterior da escadaria, admirando a vista inegavelmente deslumbrante da ponte Golden Gate,
Alcatraz, Angel Island e todo o caminho para a Marin Headlands. Eu podia ouvir alguém bater bolas
de tênis na quadra atrás da casa.
Grayson olhou para mim, permanecendo em silêncio enquanto eu toquei a campainha.
Eu me recusei a entrar nesta casa como se pertencesse a ela. Poucos segundos depois, ouvi o clique
de sapatos no piso de mármore no interior, e a porta se abriu para revelar uma jovem mulher latino-
americana em um uniforme de empregada doméstica, alguem que eu nunca conheci. Eu sorri. "Olá, eu
sou Kira Dallaire. Acredito que meu pai está me esperando." Eu havia mandado uma mensagem antes
de dirigir, mas ele nunca respondeu, então eu não tinha ideia se ele estava realmente me esperando ou
não. O jovem mulher sorriu e abriu a porta, e nós entramos.
"Eu vou buscá-lo", disse a jovem mulher com um sotaque espanhol pesado. "Você gostaria
de esperar na-"
"Vamos esperar aqui." Eu não tinha intenção de ficar muito tempo. Eu já queria sair.
A mulher assentiu com a cabeça e se virou. "Apenas me dê um momento para falar com o
meu pai", eu disse para Grayson. "E então eu vou apresentá-lo." Seus olhos correram sobre meu rosto
e, em seguida, ele ergueu o queixo em silenciosa concordância.
Vários minutos de pé no generoso vestíbulo de mármore mais tarde e eu pude ouvi passos
se aproximando de novo. Olhei para cima, para ver a figura alta de meu pai aparecer no topo das
escadas. Olhei para Grayson, que estava apoiado casualmente contra uma coluna de mármore a uma
curta distância de mim.
"Kira", meu pai disse, descendo as escadas rapidamente, seus olhos treinados nos meus,
seus lábios diluídos na mesma expressão de desaprovação a qual eu estava extremamente
familiarizada. "Estou feliz que você finalmente decidiu voltar para casa." Ele parecia tudo, menos
feliz. Ele nem sequer olhou para Grayson. "Venha ao meu gabinete para que possamos conversar",
disse ele, virando-se abruptamente e caminhando nessa direção. Eu levantei meu queixo.
"Isso está bem aqui", eu disse em voz alta, parando-o em seu caminho. Eu não tinha
intenção de seguir meu pai em seu escritório, onde ele se sentava atrás de sua mesa como um juiz
entregando sua sentença.
Meu pai virou-se lentamente, sua mandíbula assinalando em advertência enquanto
caminhava de volta para onde eu estava. Isso foi quando ele olhou para Grayson.
"E quem é você?" ele perguntou. Eu dei um passo para frente. Aqui vamos nós.
"Este, papai, é meu marido, Grayson Hawthorn."
Pelo intervalo de três batimentos cardíacos meu pai não proferiu um som. A cor vermelha
profunda subiu em seu pescoço quando ele se adiantou. "Você não pode estar falando sério."
"Estou falando sério. Nós nos casamos há várias semanas. Me desculpe por não convidá-
lo, mas eu sei como sua agenda social é ocupada."
O golpe levou-me inconsciente, o tapa afiado ecoando ruidosamente pelo vestíbulo aberto.
Eu ofeguei, a quente dor se espalhando do meu queixo até minha cavidade ocular. Ergui a cabeça a
tempo de ver a mão movendo em direção ao meu rosto novamente e me preparei para o segundo tapa,
mas ele nunca veio. Eu puxei meus olhos abertos para ver Grayson segurando o pulso de meu pai, a
expressão em seu rosto cheia com raiva de dragão assassino. "Que porra é essa?" ele trincou fora.
Ele deve ter se movido à velocidade da luz para chegar onde estava agora, considerando onde tinha
estado antes, para impedir meu pai de me bater de novo. Deixei escapar uma respiração irregular.
Meu pai, seu próprio rosto cheio de raiva quente, puxou a mão do aperto de
Grayson, e seus treinados olhos caíram em mim quando eu tropecei para trás, para longe dele. Levei
um segundo para me recompor, de pé tão alta quanto poderia e mantendo contato com os olhos dele,
mesmo que todo o lado esquerdo do meu rosto estivesse latejante.
"Obrigada", eu disse, levantando meu queixo, recusando-me a deixá-lo ver o quanto me
machucou. "Eu vou considerar este como meu presente de casamento."
"Somente você, Kira." Meu pai balançou a cabeça e fez um som de desgosto em sua
garganta. "Você realmente é uma idiota, não é?" Ele apontou com o queixo para Grayson, mas não
olhou para ele. "Você enganchou-se com um caçador de fortunas maldito, eu imagino, e você é muito
estúpida para vê-lo." Ele olhou para Grayson em seguida. "Ela não terá um centavo de mim, de modo
que vocês dois estão sem sorte, Grayson Hawthorn."
Ele disse seu nome como se pudesse estar relacionado a Satanás, porém meu coração
gaguejou no meu peito quando meu pai estreitou os olhos, como se esse nome lhe fosse familiar. Ele
balançou a cabeça ligeiramente e desviou seu olhar penetrante para mim.
"Nós não queremos um centavo de seu dinheiro," Grayson disse friamente. "Vamos, Kira."
Eu comecei a virar-me quando ouvi passos vindos da parte traseira da casa. Virei a cabeça para
ver Cooper. Deus, eles tinham planejado me emboscar. Meu estômago caiu como se eu tivesse
acabado de saltar de um penhasco muito alto. Cooper correu em minha direção, sua boa aparência
dourada realçada pelo tênis branco que ele usava.
"Kira", disse ele, seus olhos vagando sobre mim. Eu me encolhi e virei minha cabeça de
novo, longe dele quando ele passou a mão pelo lado do meu cabelo. Como eu já tinha pensado que
poderia passar a vida inteira com este homem? Eu mal podia tolerar estar na mesma sala com ele
agora. Senti Grayson pisando mais perto de mim, e de repente sentiu sua mão pegar a minha. Cooper
olhou para Grayson em confusão e, em seguida, de volta para mim, seus olhos questionando. "Kira?"
Ele tocou minha bochecha.
"Você bateu nela?" Cooper perguntou incrédulo, olhando atentamente para o meu pai. Como
se ele próprio nunca tivesse me atingido. Raiva e desprezo borbulhavam no meu peito até que senti
como se fosse engasgar.
Meu pai apertou os lábios. "Ela está casada, Cooper," ele disse, sua voz de zombaria
cheia de condescendência. "Felicite-a." Os olhos de Cooper se arregalaram, de repente balançando
para Grayson. Eu poderia dizer que ele parecia magoado se não o conhecesse. O olhar de Cooper
disparou entre Grayson e eu.
"Quem é ele? Qual é a sua história?" ele finalmente perguntou, seus olhos parando em
Grayson embora ele claramente estivesse falando comigo.
Grayson estreitou os olhos sobre Cooper com um meio sorriso zombeteiro. "Ele dirige os
negócios de sua família em Napa", eu disse." Foi onde nos encontramos." Eu esperava
que fosse informação suficiente para eles.
A cabeça de Cooper virou na minha direção. "Onde você o conheceu? O quê? Há duas
semanas?" Houve a sugestão de um rosnado em sua voz. Eu endireitei minha espinha.
"Não é da sua conta, Cooper," eu disse. "Não sou mais o seu negócio."
"O inferno que você não é", disse ele, dando um passo mais perto. Grayson moveu-se ao
meu lado em uma postura protetora, e antes que eu pudesse pensar voltei-me um pouco para ele,
mantendo meus olhos em Cooper.
"Você esperava que eu nunca mais fosse querer algo com você de novo?"
Perguntou Cooper. "Nós poderíamos ter resolvido, Kira", disse ele, sua voz soando triste. Ele
realmente deveria ser levado para o palco em vez de se tornar um juiz.
"Eu lhe garanto, não podíamos, nem vamos, jamais, por razões muito além de meu
casamento com Grayson."
Durante vários segundos ficamos todos neste tenso impasse.
"Pare com esse absurdo", meu pai latiu.
Cooper respirou fundo, olhando-me por um segundo a mais antes de dizer, "nós precisamos
resolver isso, então." Havia um tom de resignação em sua voz. Eu olhei para Grayson, soltando um
suspiro. Agora que eles iam para o modo de "conserto" nós não importaríamos mais.
De repente as palavras de meu pai, de um ano atrás, voltaram para mim. ‘Não se preocupe,
Cooper. Vou mandá-la embora até que as coisas acalmem. Apenas mantenha o foco no objetivo final.’
"Este é o território deles. Vamos deixá-los trabalhar." Eu sabia que soava amarga. Minha
voz engatou no final, traindo a profunda mágoa esmurrando meu coração.
"Kira-" Cooper começou, mas eu balancei minha cabeça e puxei a mão de Grayson.
Grayson resistia, deixando-me. Ele se aproximou de meu pai.
"Você pode ser o pai", disse ele calmamente, sua voz mortal, "mas você nunca tocará minha
esposa novamente. Fui claro?" Meu pai olhou desdenhosamente para Grayson, e então para mim.
"Tenha uma boa vida, Kira Hawthorn," ele disse sarcasticamente. Suas palavras me
atingiram como outra bofetada na cara. Era o que eu queria, não era? Então por que doía tanto? Com
isso, meu pai virou-se e caminhou para fora da sala. Cooper manteve-se onde estava, mas eu me virei
e Grayson e eu fomos em direção a saída.
Grayson agarrou minha mão enquanto descíamos as escadas exteriores
silenciosamente. Senti como se sua mão na minha fosse a única coisa que me mantinha de pé.
Capítulo Quinze

Grayson
Deixei a mala de Kira na cama do quarto de hotel e me virei para ela. Ela ainda não tinha
falado desde que tinha deixado a casa de seu pai. Eu não tinha tentado qualquer conversa - eu
precisava processar o que aconteceu, também. Eu teria conduzido direto para Napa, mas sabia que
Kira queria visitar o Centro, e imaginei que já estivesse fechado a esta altura. Teremos uma parada
na parte da manhã, depois de uma boa noite de sono e de algum tempo para esquecer o que tinha
acontecido com seu pai.
Eu me virei para olhá-la, e seus olhos deslumbrantes encontraram os meus, grandes e
luminosos e cheios de dor.
Seu sofrimento me afetou como um soco no estômago, e eu deixei escapar um suspiro
súbito. Foi com isso que esta maravilhosamente vibrante menina tinha crescido? Eu entendia a dor de
ser uma decepção constante.
Mas como ela tinha mantido esse espírito livre e aberto no meio de nada alem de frieza e
desprezo?
Como ela tinha crescido acima disso? Quando ela me contou a história sobre Rosa Maria,
eu pensei que tinha entendido. Seu pai - embora não o mais agradável dos homens para sua
equipe - tinha sido duro para sua filha, não sabendo como lidar com uma bem divertida menina, sem
mãe. Mas eu lhe tinha dado demasiado crédito. Demasiado, demasiado muito crédito.
"Você deve me odiar por envolver você nisso," ela finalmente disse, olhando para longe
e atormentando seu lábio. "Eu sinto muito."
Odiá-la? Mudei-me para ela. "Não, eu sou o único que está arrependido." Corri meus
dedos suavemente pela sua bochecha machucada. "Se eu tivesse alguma idéia de que ele ia te bater,
eu estaria perto o suficiente para pará-lo."
Ela balançou a cabeça. "Eu deveria ter tomado tempo para bolar um jeito melhor de dar-
lhe a notícia. Mas ele raramente me bateu. Eu não esperava isso. E eu o provoquei. Não fui capaz de
evitar." Ela soltou um suspiro profundo.
"Não é sua culpa que ele bateu em você, Kira."
Ela assentiu com a cabeça, mas não parecia convencida. "Eu acho que gostaria de tomar
um longo banho quente e me limpar. Talvez pedir o jantar no...."
Eu entendi, ela estava pedindo para ficar sozinha. "É claro. Vou me instalar no outro
quarto." Kira assentiu com a cabeça, e eu me mudei para a porta que separavaxz o quarto do resto da
suíte, pegando meu saco de viagem do assoalho onde tinha deixado-o. Eu teria gostado de me
fazer confortável no quarto que ela estava dormindo, mas depois do que aconteceu com o pai de Kira
e seu ex-noivo, eu sabia que não era o momento de empurrar a minha agenda física sobre ela.
Senti um novo sentimento de culpa por tentar empurrar alguma coisa sobre ela em tudo - parecia que
ela já tinha tido o suficiente para uma vida.
"Ah, e Grayson", disse ela, virando a meio caminho em direção a mim. "Obrigada pelo que
disse ao meu pai, sobre eu ser sua esposa..."
Fiz uma pausa. "Você é minha esposa."
Ela sorriu suavemente. "Você sabe o que quero dizer. Você fez soar como se eu fosse sua
verdadeira esposa. Foi muito convincente."
Eu franzi a testa ligeiramente, mas não soube o que dizer. Era verdade - ela não era minha
verdadeira esposa. Se fosse, eu saberia o que fazer agora para limpar esse olhar assombrado em seus
olhos. Só concordei em vez disso. "Eu verei você pela manhã."
Fui para o meu quarto e tomei um banho, lavei a poeira da estrada do meu corpo e
tentei limpar a sensação do confronto com o pai de Kira da minha mente. Tudo em mim queria dar
um soco na cara de Frank Dallaire quando ele deu um tapa em Kira. Mas eu tinha me segurado.
Agredir alguém só iria me enviar de volta para a prisão, e eu não arriscaria. Dessa forma, o incidente
serviu para lembrar-me de minha vergonha, e trouxe para casa as minhas limitações como um homem.
Se eu precisasse, como mesmo lutaria pela minha mulher agora? Minha mulher. Não, talvez Kira
não fosse minha mulher nesse sentido, mas a questão ainda detinha peso.
Eu suspirei, voltando minha mente para Frank Dallaire. Eu nunca prestei muita atenção à
política de San Francisco, mas tinha percebido que ele era um prefeito popular. Duro, mas justo, um
amigo para as minorias e para a classe média. Acho que era só para mostrar o que era um
jogo político. Acho difícil de acreditar que um homem que trata sua bela filha tão
abominavelmente fosse um verdadeiro amigo para alguém, além de si mesmo.
E agora ele era meu sogro temporário. Deus, em que eu acabei de ser envolvido?
Eu só poderia esperar que Kira tivesse razão - ele colocaria um pouco de rotação sobre isso para o
público em caso de necessidade, e nos deixaria ir sobre nossos negócios. Por que tive um mau
pressentimento de que esse não seria o caso? Sacudi-o fora, vesti-me e fui sentar-me na varanda por
um tempo, pensando no que Kira estava fazendo no outro quarto. Eu não pude deixar de imaginar seu
corpo nu submerso em água, sua pele lisa e úmida, o cabelo selvagem caindo em desordem de
qualquer clipe que ela tinha usado para segurá-lo preso. Calor subiu em minhas veias, mas ao mesmo
tempo eu queria levá-la em meus braços e acalmar a dor e o constrangimento que eu tinha visto em
seu rosto quando saí do quarto. Eu não sabia como classificar esses sentimentos novos e confusos.
Mas, sentado lá, algo poderoso cresceu dentro de mim - uma necessidade masculina de possuir minha
esposa, combinado com uma proteção que eu não estava preparado para sentir.
Pare com isso. Pare com isso agora.
Mas eu não pude evitar. Eu queria colocar a luz brilhante de volta em seus olhos, para
confortá-la e ver a pequena covinha da bruxinha. Eu inclinei minha cabeça para trás e soltei um
gemido. Isso nunca daria certo. Eu tinha que me controlar. Nada disso era meu trabalho. Tínhamos
começado este casamento como um acordo de negócios, e o mesmo se dava em nossa atração
um pelo outro: tinha que permanecer nesses termos.
Nós éramos casados - nosso relacionamento tinha que ser tudo ou nada. Nós não
poderíamos entrar na escuridão de algo que não podia ser definido. Isso não acabaria bem para
nenhum de nós. Saber sobre Rosa Maria e seu pai tinha me pouco mais de compreensão sobre sua
hesitação em se envolver comigo. Ela provavelmente via uma relação física entre nós como pouco
mais do que o que eles tinham tido. Era isso?
Confusão rodou dentro de mim. Talvez eu devesse abandonar a idéia de satisfazer minha
necessidade física com ela, agora que eu poderia admitir que havia mais envolvido do que apenas
desejo sexual, agora que eu poderia admitir que gostava dela como pessoa. Mas por alguma razão eu
perdia o controle em torno dela, e todas as minhas melhores intenções iam pelo ralo. Toda vez. E eu
ainda não conseguia entender exatamente o porque. O que era sobre ela que tanto me desequilibrava?
O que eu sabia? Kira estava na mesma suíte de hotel, e talvez precisasse de companhia.
Talvez ela precisasse de mim. Ou talvez eu só estava esperando que ela o fizesse.
Depois de olhar o menu do serviço de quarto e fazer um pedido para ser entregue em nossa
suíte, eu bati na porta de seu quarto. Ela respondeu vestindo um par de jeans e um top preto, com os
pés nus e o cabelo ainda parcialmente molhado. Seu rosto estava livre de maquiagem e ela
parecia muito linda e muito jovem. Claro, ela era muito jovem, apenas vinte e dois anos. Eu não
pensei sobre sua idade muitas vezes, talvez porque às vezes ela agia como uma
criança desobediente, e às vezes parecia tão sábia.
E, claro, esses vislumbres de profundidade e discernimento só tinham servido para fazê-la
mais interessante para mim. Bruxinha intrigante. Entrei, inalando o aroma floral que era dela.
"Oi," ela disse, olhando-me com desconfiança.
Eu entrei no seu quarto sem ser convidado. "Eu tomei a liberdade de pedir o jantar para
nós. Eu sei que você gosta do strogonoff de carne de Charlotte. Tenho certeza que o chef aqui não é
tão bom quanto Charlotte, mas..." Eu dei de ombros. Kira parecia um pouco insegura, mas, em
seguida, soltou um suspiro, obviamente concordando.
"Isso soa bem. Obrigada. Embora eu possa não ser a melhor companhia."
Ela virou-se e caminhou de volta para a varanda onde estava olhando para fora sobre a
cidade. Eu me juntei a ela, inclinando meus braços no corrimão de metal e olhando para ela. Ela
desviou o ohar, inclinando o queixo para baixo como se tentando esconder o rosto de mim.
"Hey," eu disse suavemente, levantando-me e voltando-me para ela. Eu usei meus dedos
para cutucar seu queixo em minha direção. Seus olhos estavam brilhando com lágrimas não
derramadas. Ela chupou uma respiração afiada, um pequeno soluço chegando à sua garganta. Um raio
de protecionismo espetou através de mim e eu a puxei em meus braços, enfiando sua cabeça debaixo
do meu queixo. "Shh", eu disse, "está tudo bem." Minha garganta estava apertada quando seu corpo
ficou tenso nos meus braços, como se ela não soubesse como era ser segurada. Deus, crescer sem
mãe e com um pai assim, ela provavelmente não sabia. Eu tinha apenas um pouco mais para mostrar,
mas o suficiente para assumir a liderança.
"Kira", eu sussurrei, "relaxe. Deixe-me segurar você, querida." Ela lutou fracamente por
um breve momento, mas quando eu apertei meus braços em torno dela, ela caiu em mim e deu lugar
às lágrimas.
Kira chorou em meus braços, seu rosto enterrado no meu peito por um longo tempo. Meu
instinto ficou tenso com a dor quando testemunhei seu sofrimento. Finalmente seus soluços
começaram a diminuir e ela levantou o rosto para mim. A ternura que pulsava em meu peito era
diferente de tudo que eu já tinha sentido antes. Isso vagamente me preocupou, mas eu empurrei meus
sentimentos de lado e escovei meu polegar sobre a bochecha macia de Kira, enxugando a umidade de
suas lágrimas. Ela piscou, parecendo um pouco confusa, mas aliviada também. Eu alisei o
cabelo do seu rosto. "Está tudo bem", eu disse, "eu estou aqui."
"Disse O Dragão à bruxa," ela disse suavemente, um pequeno brilho em seus olhos ainda
marejados. Eu ri.
"Esta é a minha garota." Ela sorriu suavemente e se afastou. Meus braços de
repente se sentiram muito vazios. Kira caiu em uma das cadeiras de plástico da varanda, e eu sentei-
me na outra, restando apenas uma pequena mesa de plástico entre nós.
"Você vai me contar sobre isso?" Ela se inclinou para trás em sua cadeira, suspirando,
parecendo saber que eu estava pedindo para saber o que a tinha enviado correndo para África.
Depois de tomar uma respiração profunda, ela disse: "Eu conheci Cooper num evento de
caridade organizado pelo meu pai. Eu estava em casa para o verão do meu primeiro ano da
faculdade. Meu pai tinha tomado Cooper sob sua asa e estava preparando-o para ganhar seu primeiro
juizado." Ela mordeu o lábio e desviou o olhar por um momento.
"Embora meu pai não esteja mais na política, ele está muito envolvido no
sistema tribunal de San Francisco."
Seus olhos correram para mim por um segundo rápido e eu me perguntava se ela estava
pensando sobre meu envolvimento com o sistema tribunal de San Francisco. Felizmente, porém, eu
nunca entrei em contato com Frank Dallaire. Ela ficou em silêncio por alguns momentos. "De
qualquer forma, Cooper e eu começamos a namorar, e meu pai era estava tão malditamente feliz com
isso." Ela olhou para o horizonte, parecendo perdida na memória. "Foi a primeira vez na minha vida
que eu senti como se estivesse lhe agradando. Me senti... bem, senti-me querida. Foi uma sensação
inebriante. Quase viciante", refletiu ela, balançando a cabeça desanimada.
"Então, você nunca amou Cooper realmente?" Eu odiei a minúscula punhalada de ciúme
com a menção de Kira com outro homem - mesmo aquele que era principalmente de seu passado.
Sacudi-a.
"Oh, eu pensei que sim, suponho. Ele era todo polido e modos de clube de campo. Meu
pai pensava que nós éramos um casal brilhante, e que equilibrávamos perfeitamente um ao outro.
Cooper finalmente iria domar-me, e eu ofereceria o nome Dallaire para sua campanha e para sua
futura carreira como juiz."
"O que aconteceu?" Eu perguntei, um sentimento de temor fixando-se em meu estômago.
"Ficamos noivos no Natal e eu, bem, eu dei-lhe a minha virgindade." Ela franziu a testa
e desviou o olhar pelo que pareceu um longo tempo. Meus músculos estavam tensos, e eu
conscientemente foquei em relaxar. "Eu apenas contei-lhe isso porque se relaciona com o resto da
história."
"Tudo bem", eu disse.
Kira limpou a garganta. "Eu planejei voltar para casa naquele verão e começar o
planejamento do casamento. Cooper estava fortemente envolvido com sua primeira campanha, e sua
equipe estava trabalhando fora do St. Regis Hotel." Kira pegou na sua unha por alguns segundos antes
de continuar. "Eu saí das finais mais cedo e em vez de ir direto para o apartamento que meu
pai guardou para mim aqui, eu decidi surpreender Cooper lá." Sua carranca se aprofundou. "Cooper
sempre pareceu... descontente comigo na cama. Ele nunca disse isso exatamente, mas transmitiu a
mensagem com clareza suficiente. Eu pensei que talvez se eu o surpreendesse, usasse alguma coisa...
você entendeu a ideia." Um rubor subiu em seu rosto. "De qualquer forma, eu fui ao seu quarto e um
membro de sua campanha abriu a porta, obviamente à espera do serviço de quarto. Ele tentou parar-
me de avançar para o quarto, mas eu não obedeci e entrei. Encontrei Cooper com... mulheres."
"Mulheres? Plural?"
Kira acenou com a cabeça, com uma expressão de dor. "Havia uma debaixo dele e
uma atrás, usando algum tipo de..." Ela balançou a cabeça e fechou os olhos, obviamente
tentando sacudir a imagem de seu mente. "Deus..." Ela colocou o rosto entre as mãos por um breve
momento, tomando uma respiração profunda.
"Eu não preciso de uma descrição completa. Já obtive a essência," eu disse, minha voz
soando apertada.
Ela assentiu com a cabeça, parecendo aliviada. "Havia linhas do que parecia cocaína na
mesa de café, e garrafas de licor meio vazias."
"Jesus", eu disse, movendo a mão pelo meu cabelo, imaginando Cooper, o menino de ouro
em seu tênis branco esta tarde.
"Cooper... desengatou quando finalmente me reconheceu, mas ele estava tão bêbado ou
drogado, ou ambos. Eu não sabia. Ele começou a pedir desculpas, mas isso evoluiu para
ele gritando comigo sobre como não queria uma puta como esposa. Ele tinha prostitutas reais para
isso. Eu tentei sair, mas ele me puxou e eu lutei com ele. Nós caímos no chão e ele me bateu, mas
eu consegui escapar. Só que quando me virei para sair ele segurou meu tornozelo e eu caí sobre a
mesa de café de vidro, quebrando duas das minhas costelas, batendo meu rosto ainda mais e
cortando o meu braço. Aconteceu tão rápido, mas eu era uma bagunça. Havia sangue por toda
parte. Os membros da equipe de campanha de Cooper, que estavam no outro quarto, vieram correndo.
Eles me tiraram de lá e chamaram um médico quando chegamos na casa do meu pai."
"Kira", eu disse, minha voz crua, meu intestino revolto. Eu agora totalmente
compreendia porque ela estava tão insegura sobre sexo. Não era só sobre seu pai e a demissão de
Rosa Maria. Era ainda mais pessoal – foi dito a ela basicamente que seu ardor na cama era
de certo modo inadequado e repugnante. E ela acreditou nisso. E quem poderia culpá-la? Ele tinha
sido sua primeira experiência. Ela só esteve sempre com um homem.
Kira olhou para longe novamente. "Quando meu pai chegou em casa e descobriu o que
aconteceu" seu rosto apertou como se ela fosse chorar novamente, mas ela se reagrupou com uma
respiração profunda, "ele disse-me que eu tinha estragado tudo. E então ele entrou em modo de
recuperação: entrou em contato com a equipe do hotel, colocando para fora a história que eu tinha me
metido em problemas com drogas, e enlouqueceu com a possibilidade de que mais alguém tenha me
visto deixando o quarto, ou no caso de outros funcionários falarem sobre a limpeza. É claro, ele não
quis me ouvir sobre a anulação do noivado, mas eu estava muito definitiva sobre isso."
"Ele te jogou embaixo do ônibus."
Ela assentiu com a cabeça. "Sim. A campanha de Cooper e seu status eram mais
importantes do que sua própria filha. Ele sugeriu uma viagem à Europa, para fazer parecer como se
eu estivesse em um programa de recuperação e, em seguida, quando eu retornasse, poderíamos
transformar a história em nosso favor – fazendo-me parecer como um sucesso. Você pode ver as
manchetes agora? ‘Herdeira se volta para as drogas, vida em ruínas, mas graças ao amor e devoção
do noivo altruísta, transforma a própria vida’. Que história de amor perfeita. Claro, Cooper ficaria
ainda mais como herói. Sua atual campanha, e todas as campanhas futuras, seriam ainda mais
bem sucedidas com uma história como essa anexada a ele. E eu, eu seria a garota em queda, mas tudo
por uma boa causa."
"Jesus". Eu olhei em descrença.
Ela suspirou. "Bem, como você pode imaginar, eu não concordei com o plano de meu
pai de me enviar para a Europa para fazer compras, mas ainda precisava ir embora. Mesmo
retornar para a faculdade aqui na Califórnia parecia muito perto. Eu queria um oceano entre
nós - muito literalmente.
Fiquei devastada e necessitava me curar, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Eu precisava de
tempo para elaborar um plano de vida. Eu lembrei do convite de Khotso para ajudar com o seu
hospital - um convite que eu não tinha sido capaz de aceitar originalmente - mas que naquele
ponto me desligaria de meu pai e Cooper. Eu levei um dia extra para ter um completo check-up
de STD (sexually transmitted disease/DST doenças sexualmente transmissíveis), e depois voei para a
África usando a última parte do dinheiro que eu tinha em minha conta bancária." Ela corou um pouco
após a observação sobre um check-up, em seguida, sua expressão se voltou pensativa. "Quando
eu cheguei lá, eu me sentia tão vazia, tão aflita. Mas veja", os olhos de repente se iluminaram, e eu
chupei uma respiração ao vê-la brilhando à luz novamente, "eu trabalhei com essas mulheres que
tinham perdido tanto. Elas eram rejeitadas pelas suas aldeias e suas famílias por causa do estigma de
algo que não tinham controle. Muitas delas haviam perdido seus bebês. Elas estavam doentes e
traumatizadas. Elas haviam perdido muito mais do que eu. E eu pensei comigo mesma: se
eu vou incentivá-las a serem forte, a encontrar o poder além de suas próprias circunstâncias, então eu
tenho que ser capaz de fazer o mesmo por mim. As pessoas sofrem em todo o mundo, todos os dias.
Mas elas também triunfam em todo o mundo, todos os dias. E eu pensei: se estas mulheres estão
confiando em mim para ajudá-las a curar e triunfar, eu tenho que ser capaz de elevar-me acima de
meus problemas também. E eu fiz."
"Você faz isso parecer fácil." Minha voz tinha uma nota áspera. Como ela era tão forte?
Ela balançou a cabeça. "Não é fácil. É preciso trabalho, fé e um coração cheio de
esperança. É preciso deixar a dor ir, também. Porque o problema é que você não pode
desligar uma emoção sem desligar todas as outras. Você tem que sentir a dor, se quiser sentir a
alegria. É apenas a maneira como isso funciona. Assim não, não é fácil, mas é possível. E agora, tudo
que eu quero é que meu pai me deixe em paz, a fim de permitir-me descobrir por mim mesma o que
eu vou fazer com o resto da minha vida."
Eu entendi agora. Entendi porque ela estava disposta a adotar medidas drásticas para
ganhar alguma liberdade. Eu entendi porque ela estava disposta a se casar com um estranho em vez
de pedir a seu pai por um centavo de seu dinheiro - dinheiro esse que certamente não tinha qualquer
número de parte moral-despojada anexado. Ela tinha escolhido dividir o dinheiro, meio a meio,
como se fosse o único instrumento de barganha que ela sentiu que valia a pena. E ela tinha me
escolhido, e de repente eu senti a gratidão que até agora superou o ganho financeiro.
"E o que conseguiu até agora?" Perguntei. Quais são seus sonhos, doce Kira?
"Eu poderia voltar para a faculdade. Ou poderia me tornar uma pirata e navegar os sete
mares. O ponto é que eu tenho escolhas. Por causa da minha avó, e por causa de você, eu posso fazer
qualquer coisa." Nossos olhares se encontraram e eu tive o muito breve desejo afiado de cair de
joelhos e jurar minha eterna servidão a ela. Relaxe, Gray.
"Você daria uma pirata muito quente", eu finalmente disse.
Ela riu, bem quando uma batida forte soou na porta da frente e nós dois nos assustamos um
pouco. "Seviço de quarto", eu disse, sorrindo.
Não havia mesa na suíte, então eu configurei a comida na mesa de café na espaçosa sala de
estar do quarto, onde nos sentamos para comer. O clima parecia ter aliviado apesar dos temas muito
pesados que nós tínhamos discutido, e apesar do fato de Kira ter acabado de compartilhar sua
história pessoal e dolorosa. Talvez fosse isso o que ela precisava, no entanto. Imaginei que ela não
tinha falado muito disso, se é que tinha feito em tudo, dado que tinha saído imediatamente após o
ocorrido e só havia retornado recentemente.
"Você sabe," eu disse através de uma mordida no estrogonofe que não era tão bom quanto o
de Charlotte, "devo-lhe um pedido de desculpas. Eu julguei-te mal desde que te conheci. Eu tinha-lhe
completamente errado."
Kira deu de ombros. "Eu estou acostumada a isso. E eu também fiz minha parte de
menosprezar, dragão." Ela piscou e eu sorri.
"Kira", eu disse depois de um minuto, "eu sei que nós concordamos em dois meses, mas
você pode ficar mais tempo se quiser. Quero dizer, se isso for ajudar e te dar tempo para
descobrir qual é seu próximo passo."
Ela me olhou de lado. "Você pode vir a lamentar essa oferta."
Eu suprimi um sorriso em seu sarcasmo. "Provavelmente. Você incansavelmente tenta a
minha paciência. Mas, mesmo assim, quero dizer isso."
Ela se virou para mim e sorriu, aquela pequena covinha de bruxinha aparecendo, e a
luxúria que disparou através do meu corpo era aguda e repentina.
"Eu aprecio isso. Mas eu acho que vai ser bom para mim configurar meu próprio lugar."
Eu não queria reconhecer o sentimento de decepção que senti em suas palavras. "Você vai
ficar em Napa?" Por favor. Por favor, fique.
Ela pareceu pensativa. "Eu não sei. Se nós estamos tentando elevar sua posição social em
Napa, não tenho certeza que mudar minha casa para lá faça sentido. Mas eu vou ficar na Califórnia
por um tempo, pelo menos. Até nós pedirmos o divórcio."
Eu balancei a cabeça e seguiu-se um silêncio constrangedor. Ela estava pensando em
minhas circunstâncias em tudo isso? Por que ela se importava? Eu não tinha certeza do que eu senti
naquele momento, e tinha ainda menos certeza se queria analisar isto.
Nós terminamos o jantar e eu coloquei os pratos do lado de fora para o coletor. Quando
voltei para a suíte, achei Kira de volta em seu quarto de pé na porta de correr de vidro da varanda,
olhando para fora.
Observei-a por alguns segundos, vendo sua postura relaxada, as longas ondas de seu
cabelo caindo pelas costas. Ternura encheu meu peito. Ela era tão forte e tão bonita. Eu andei para
ficar atrás dela. Mudei seu cabelo sobre um ombro e me inclinei para beijar a parte de trás de seu
pescoço. Ela estremeceu, mas não se afastou.
"Kira", murmurei, inalando sua doce fragrância. Eu não tinha certeza se deveria estar
tocando-a, se eu deveria estar tentando mover nosso relacionamento nesse sentido. Talvez eu
precisasse protegâ-la de mim. Mas nem por minha própria vida eu poderia me fazer parar. E quando
a beijei no pescoço novamente e ela soltou um gemido suave, acabei completamente desfeito.
Virei-a em meus braços e trouxe minhas mãos para segurar o rosto dela, tomando cuidado
para não colocar pressão sobre a contusão em sua bochecha, onde seu pai havia batido. Inclinei-me
para beijar sua boca doce, um gemido profundo chegando a minha garganta quando enfiei os dedos
nas ondas de seda de seu cabelo, inclinando sua cabeça para que eu pudesse mergulhar minha língua
mais profundamente. Eu queria devorá-la, tornar-me parte de seu fogo, de sua força, de sua vida.
Eu andei para trás, puxando-a comigo suavemente até que as costas das minhas
pernas bateram na cama. Então eu virei-me para que ela caísse para trás, e a segui para baixo. Eu me
senti quase frenético com luxúria e forcei-me a abrandar, respirando longo e estremecendo.
Kira olhou para mim com os olhos semicerrados. Deus, ela era linda. "Eu quero você", eu
disse, minha voz soando crua até para os meus próprios ouvidos.
Ela piscou, sua expressão se enchendo de incerteza. Ela me queria também, mas não estava
pronta. Eu jurei a mim mesmo, um súbito clarão de como ela parecia mais cedo em meus braços, os
olhos avermelhados pelas lágrimas, com seus lábios tremendo. Eu poderia convencê-la a dormir
comigo esta noite, eu tinha certeza, mas não me parecia mais certo. Não agora que eu conhecia a sua
história. Quando ela viesse para a minha cama, ela tinha que vir de boa vontade. Mas eu ainda podia
fazer algo por ela. Inclinei-me e beijei-a novamente. "Deixe-me dar-lhe prazer, Kira. Deixe-me
mostrar-lhe como você é linda enquanto faço você gozar." Ela ainda parecia incerta, mas
não me disse para parar, e por isso eu tomei isso como um sim e me inclinei para beijar seu pescoço.
Ela inclinou a cabeça para trás e deixou escapar um pequeno suspiro enquanto eu lambia e
mordiscava a pele macia e suave de sua garganta. O gosto dela era novo e familiar ao mesmo tempo,
e eu senti meu coração batendo rápido no meu peito. "Você é encantadora. Perfeita"
Eu sussurrei em seu ouvido, elevando-me acima dela para remover sua camisa. Ela
levantou os braços sobre a cabeça, o olhar em seus olhos menos cautelosos do que antes, o calor
queimando sua reserva anterior.
Eu desabotoei o sutiã e levei um momento para olhar para seus seios nus. Meu pau
pulsava contra o zíper restritivo da minha calça jeans, e mudei minha mão para seu mamilo cor de
rosa. Eu raspei suavemente com a unha do meu polegar e ela empurrou seus quadris para fora da
cama, gemendo. "Gray", ela respondeu asperamente.
Ao som de meu nome em seus lábios luxúria frenética cravou pelo meu corpo novamente, e
eu cerrei os dentes.
Eu lambi meu polegar e molhei seu mamilo, estimulando o pico duro até que ela estava
deixando escapar pequenos suspiros doces. Então eu me inclinei e suguei o outro em minha boca,
girando minha língua em torno, mordendo e, em seguida, levando suavemente novamente. Seus
quadris pressionaram para cima em minha ereção inchada, e nós dois gememos.
Os dedos de Kira agarraram meu cabelo enquanto eu beijava abaixo de seu estômago.
Eu removi seu jeans e nossos olhos se encontraram, os dela brilhantes e luminescentes com
paixão, tremulando fechados depois de um momento.
"Linda", murmurei. "Tão bonita." Minha bruxinha ardente estava se contorcendo e
gemendo, maravilhosamente vibrante com paixão. Como é que qualquer homem vivo não achou
isso incrivelmente erótico? Como é que qualquer homem vivo não gostaria de experimentar esta
resposta da mulher com a qual ele estava fazendo amor?
Da mulher que lhe pertencia? Olhando para ela dessa maneira me senti como se inalando
um raio brilhante de luz solar.
Jogando sua calça jeans e calcinhas de lado, eu fiquei de joelhos no chão na frente dela e
suavemente arrastei-a para perto de mim, assim meu rosto estaria diretamente entre suas pernas. Ela
estava nua, tão brilhante e lisa com a excitação que eu quase rosnei ao sentir o cheiro dela, uma
sensação de ardor, de necessidade primordial rugindo pelas minhas veias. Eu estava praticamente
tremendo de desejo pela bela bruxinha. "Gray", sua voz quebrou o meu nome.
Ela virou a cabeça para o lado, abafando um gemido no travesseiro espesso ao lado de sua
cabeça.
"Não, Kira, deixe-me ouvir você", eu implorei.
Ela olhou para mim, a confusão nebulosa em seus olhos, mas empurrou o
travesseiro à distância.
Inclinando-me eu a lambi, girando minha língua em torno de seu clitóris inchado. O gosto
dela estourou em toda a minha língua, impossivelmente fazendo-me ainda mais duro. Eu teria
um orgasmo só por dar prazer a ela. Eu nunca me senti tão desesperado. Ela gemeu baixinho,
apertando-se em meu rosto. Eu chupei e lambi e provei sua carne escorregadia por longos
momentos enquanto ela gemia e ofegava, seus sons de prazer fazendo-me sentir selvagem. Finalmente
eu pressionei dois dedos em sua entrada molhada e ela soltou um pequeno grito, suas coxas tremendo
quando seu corpo tremeu e contraiu em torno de meus dedos. Depois que ela se acalmou eu levantei
meu rosto e beijei de volta até seu estômago. Kira soltou um suspiro de satisfação, tendo o meu
rosto em suas mãos enquanto eu pressionei meus lábios nos dela, para que ela pudesse provar sua
própria paixão na minha boca e língua.
Nós nos beijamos lentamente por longos momentos, minha ereção ainda pulsando
dolorosamente com a luxúria não utilizada para a mulher bonita em meus braços. Dando-lhe um
último beijo eu rolei para o lado e puxei seu corpo nu em meus braços, trazendo os cobertores sobre
ela e alisando minha mão para baixo em seu cabelo. "Você é linda", eu repeti, sentindo
algo surpreendentemente parecido com medo no meu peito. Porque é que os meus sentimentos por ela
me assustavam?
Ela suspirou contente de novo e se aconchegou no meu peito. Conforme eu
desenhava círculos preguiçosos em seu quadril, tentando conter a minha excitação ainda em fúria e a
confusão das minhas emoções, eu me lembrei como eu havia dito que ela não era o meu tipo. Eu
quase ri. Ela não era apenas o meu tipo... era como se ela fosse feita para mim. Eu empurrei esse
pensamento perturbador de lado, embora. Eu não podia deixar-me pensar coisas assim. Deve tê-la
machucado, entretanto, ouvir essas palavras da boca de um homem - mesmo um que ela não gostava
na época - depois do que ela passou com o noivo. Pensamentos sobre Cooper Stratton
trabalharam para arrefecer o sangue em minhas veias, mas apenas moderadamente. Ouvi a respiração
de Kira acalmando até que ela soltou um pequeno e delicado ronco. Ela estava dormindo. Deus, se
eu soubesse que ser casado seria tão sexualmente frustrante eu poderia ter pedido mais compensação.
Ela tinha me deixado louco, me irritado mais do que ninguém que eu conhecia, e me excitado demais,
tudo ao mesmo tempo. No entanto, ela me fez rir, me fez sorrir. Ela até me comprou um maldito
cachorro. E agora ela tinha me dado ainda mais. Ela me deu a confiança com seu corpo delicioso.
Tesão? Foda sim. Satisfeito? Absolutamente. Eu sorri para mim mesmo, beijando o topo da
cabeça de Kira.
Capítulo Dezesseis
Kira
Batendo suavemente na porta do quarto de Grayson, mordi o lábio e esperei que ele
respondesse. Eu tinha acordado sozinha na minha própria cama esta manhã, ainda nua e enrolada nos
lençóis do hotel. Quando recordei o que aconteceu entre Grayson e eu me senti envergonhada, mas
por baixo havia um profundo sentimento de ternura. Obviamente ele tinha entendido a dor que Cooper
tinha causado e tinha procurado remediar algumas. E curiosamente, funcionou. Ele me fez sentir
bonita e desejável, a um custo dele mesmo. Na verdade, eu tinha certeza que ele tinha sido deixado
severamente frustrado. Eu me senti mal sobre isso, mas quando ele finalmente respondeu à sua porta
e sorriu para mim eu deixei escapar um suspiro de alívio. Ele obviamente não estava com
raiva sobre isso. Ainda assim, ele tinha deixado meu quarto. Eu me perguntava por que ele não ficou,
por que ele não tentou satisfazer sua própria excitação. Gostaria de tê-lo deixado. Eu poderia ter
implorado se não tivesse caído no sono diretamente depois, bêbada de prazer e esgotada de um dia
longo e emocional.
"’Dia", disse ele.
"Você deixou o meu quarto ontem à noite," eu soltei, sentindo o calor no meu rosto.
Ele encostou-se no batente da porta, os olhos movendo-se sobre meu rosto por um
momento, como se tentasse ler meus pensamentos. Baixei os cílios para esconder meus olhos. "Eu
pensei que você precisava de uma boa noite de sono, e eu não sabia se estaria bem se eu ficasse. Eu
não queria acordá-la para perguntar. Você teve um dia difícil."
Sua reflexão fluiu sobre mim como um abraço caloroso, e eu olhei em seus olhos
escuros novamente. "Obrigada", eu disse. "Por, hum, tudo."
Um estranho sorriso surgiu sobre sua boca. "Você é muito bem-vinda", disse ele.
"Pronta para ir?"
Eu balancei a cabeça, ainda olhando para sua boca –
boca linda e sensual que agora eu sabia que poderia trazer muito prazer. Quando eu percebi que
aqueles lábios estavam curvando-se em um sorriso ainda maior, conhecedor, rasguei meus olhos e
olhei para baixo, para minha mala na mão. Grayson riu suavemente quando agarrou seu saco e
saímos para o corredor.
"Tem certeza que não se importa em fazer uma parada no centro?" Eu perguntei,
mudando o assunto que eu sabia que nós dois estávamos pensando, olhando-o de lado enquanto
caminhávamos em direção ao elevador. Eu amei seu aspecto fresco do chuveiro – cabelo escuro
parcialmente molhado e desgrenhado, seu cheiro masculino limpo me envolvendo. Eu não tinha
certeza de como o que fizemos na noite anterior ia mudar qualquer coisa na nossa relação, então
esperei por um sinal dele. Talvez isso não mudaria nada em tudo. Isso é o que ele me indicou quando
falou pela primeira vez sobre alterar nosso acordo. Temporário, lembrei-me. Ele quer que nosso
relacionamento seja temporário. Não tenha ideias na sua cabeça estúpida, Kira.
"Nem um pouco", disse ele. "Enquanto nós não ficarmos muito tempo. Eu gostaria de voltar
para a vinha cedo o suficiente para ter algum trabalho hoje."
"Nós não vamos ficar muito tempo", eu garanti a ele. "Só o tempo suficiente para dizer oi e
escrever-lhes um cheque. Tenho algumas outras instituições de caridade para as quais gostaria de
escrever cheques também, mas posso colocar esses no correio."
Meia hora depois paramos no estaciomanento do centro no bairro de Tenderloin, sem
dúvida o bairro mais perigoso de San Francisco. Mas o aluguel aqui era acessível, ao contrário da
maioria dos outros locais na cidade, e havia uma grande população sem-teto.
Quando eu e Grayson entramos no prédio um homem velho e obviamente sem-teto passou
por nós, e o ruído de fala, riso, e uma criança chorando em algum lugar no fundo enchendo o ar. O
cheiro que reconheci como café aguado atingiu meu nariz.
Uma mulher com cabelo preto encaracolado e curto veio correndo em nossa direção, o
rosto familiar que eu conhecia bem. "É você, Kira Dallaire?" Ela soltou um pequeno grito quando me
puxou para seus braços, me abraçando com seu corpo macio e grande. Eu ri.
"Oi, Sharon."
"Garota, fiquei tão triste que eu não estava aqui quando você parou noutro dia. Carlos
disse-me que tinha sido. Faz muito tempo." Ela olhou para mim com preocupação maternal, me
avaliando. "Bem, você parece bem. Mas como você está? E o que aconteceu com seu rosto?", ela
perguntou, pressionando os dedos suavemente sobre meu rosto e virando minha cabeça para que
pudesse ver a grande marca que ainda não tinha inteiramente desaparecido.
Eu sorri, deixando o calor de Sharon mover através de mim. "Eu estou bem. E isso é
cortesia do meu pai, mas eu estou bem."
Sharon fez uma careta, apertando os lábios. "Estou feliz que você nunca vote para esse
homem. Algo que eu possa fazer?"
Eu balancei minha cabeça. "Cuide-se." Olhei para Grayson ao meu lado. "Sharon Murphy,
este é Grayson Hawthorn." Eu propositadamente não ofereci uma explicação sobre o nosso
relacionamento. Sharon me olhou desconfiada, mas estendeu a mão para Grayson e sorriu
calorosamente para ele. "Nós não podemos ficar muito tempo, Sharon, mas eu queria escrever um
cheque. Eu conversei com Carlos sobre a situação com o financiamento".
Sharon suspirou. "Eu tenho que ser honesta, Kira, nós vamos ter que fechar as portas até a
concessão vir."
"Bem, agora não." Eu sorri.
Sharon me abraçou novamente. "Você tem um coração tão grande, doce menina. Deus te
abençoe." Com lágrimas brilhando em seus olhos, Sharon virou-se para Grayson. "Gostaria de um
passeio de nossas instalãçoes? Kira, algumas crianças que você conhece estão lá fora. Eles
adorariam se você fosse e desse um oi", disse ela, piscando para mim.
Olhei para Grayson que estava olhando ao redor da instalação que eu tinha passado tanto
tempo. Era tão estranho vê-lo aqui. "Você se mporta?"
Ele olhou de volta para mim. "Não, vá em frente."
Quinze minutos mais tarde eu tinha escrito o cheque e fui jogar um jogo
de marca com as crianças. Eu olhei para cima, rindo sem fôlego e tentando em vão controlar o cabelo
voando descontroladamente ao redor no meu rosto, e chamei a atenção de Grayson. Um pequeno
garoto chamado Matthew me marcou e gritou com prazer, e eu ri de novo, cumprimentando-o com
um high-five por seus movimentos furtivos. Grayson estava de pé do lado de fora da porta, seu olhar
escuro, um pequeno sorriso em seu rosto enquanto observava o nosso jogo. Senti-
me momentaneamente envergonhada que eu estava tão envolvida em uma brincadeira de criança
e movimentei-me para ele, dizendo adeus para as crianças.
"Hey," eu disse, tentando recuperar o fôlego.
"Ei, você mesmo. Parecia que você estava se divertindo."
Eu dei de ombros. "Oh, sim. Eles são grandes crianças. Pronto para ir?"
Ele assentiu. "Eu posso ver porque você é tão favorável ​a este lugar. Parece que eles fazem
um excelente trabalho."
Eu sorri alegremente para ele e seus olhos se mudaram para minha bochecha, uma carranca
aparecendo antes dele olhar longe. Ainda o incomodava que eu tinha sido ferida. A realização me
aqueceu. "Eles fazem", eu disse, simplesmente.
Depois de dizer adeus a Sharon nós voltamos à estrada, a caminho de Napa, indo para
casa.
Para minha casa temporária, eu me lembrei. mas ainda encontrei-me animada com a
perspectiva de retornar à minha pequena casa de campo e ver Charlotte, Walter,
Virgil e José, e a doce Sugie Sug.
O sentimento me preocupou, no entanto. Eu estava agindo como se Hawthorn
Vineyard fosse a minha casa, o que não era.
Na verdade, eu sairia de lá em questão de semanas. Embora Grayson tenha me oferecido a
opção de ficar mais eu sabia que isso só iria dificultar as coisas. Eu cedi e fiquei física com ele,
e enquanto eu não me arrependia também sabia que isso só faria nossa despedida mais difícil para
mim - mesmo que em algumas pequenas medidas. Eu nunca deixaria que ele percebesse, é claro, mas
sabia que era a verdade. No entanto, agora que a estrago estava feito, havia realmente alguma razão
para não desfrutar dele enquanto eu podia? Talvez eu deixaria Grayson com o meu coração um pouco
machucado. Mas não era um coração ligeiramente ferido digno da eletricidade que criamos juntos?
Eu tremia só de lembrar do jeito que ele me tocou na noite anterior,
a maneira que ele parecia conhecer o meu corpo melhor do que eu.
"Frio?" ele perguntou, colocando a mão na frente do respiradouro para testar a temperatura
do ar.
"Não", eu disse, mas não expliquei por que eu tremi.
O passeio passou rapidamente enquanto conversávamos principalmente sobre
tópicos casuais. Eu sabia que para mim tinha pesado o suficiente o que tinha acontecido na casa do
meu pai e, em seguida, no hotel.
"Oh," eu disse quando estávamos cerca de meia hora na unidade, "eu esqueci de
mencionar que sua festa tem um tema."
Grayson levantou uma sobrancelha. "Oh? Qual?"
"Bem, eu pensei sobre a primeira coisa que eu disse sobre sua casa quando você me levou
em uma turnê."
Ele ficou em silêncio, obviamente, não se lembrando. Finalmente, ele disse: "Que era o
covil de um dragão?"
Eu soprei uma respiração impaciente. "Não, isso foi sobre o labirinto."
"Ah, certo. Você terá que lembrar-me o que disse sobre a casa, então."
"Eu disse que parecia um castelo de conto de fadas."
"OK..."
Eu ri e revirei os olhos, fingindo estar ainda mais exasperada com ele. "O tema
será um baile de máscaras de conto de fadas. É perfeito. E a data é daqui a duas
semanas. Marquei no calendário da cozinha e em seu escritório."
"Duas semanas? Será que alguém ainda se mostra com tão pouco tempo?"
"Eles estarão ainda mais propensos a aparecer. Planejá-lo com tão pouco tempo envia a
mensagem que não importa se eles estarão lá ou não. Eles vão ficar intrigados. A cidade inteira
virá." Com sorte.
Grayson riu. "Ok. Eu vou guardar a festa Psicologia 101 para você."
Eu sorri. "Além disso, eu tenho tempo limitado para deixar a minha marca na sua vida."
"Oh, você fez a sua marca."
Eu ri baixinho. "Eu quero dizer uma marca positiva. Algo duradouro", eu meditava,
pensando em todas as maneiras que eu esperava que meus planos para a festa iriam beneficiá-lo a
longo prazo.
Ele olhou para mim por várias batidas, e então olhou de volta para a estrada. Um pequeno
sorriso brincou em seu lábios, mas ele não disse nada.
Era após o meio-dia quando chegamos de volta em Napa. Grayson levou nossas
malas do seu caminhão e começou a andar para a casa. "Eu vou colocar estes no vestíbulo. Por que
você não vem comigo até as instalações da vinificação para ver no que investiu?" Ele atirou um
sorriso encantador sobre o ombro, apertando os olhos para a luz do sol, e meu estômago virou.
"OK." Eu morava aqui há semanas agora, e nunca tinha sido convidada para
o interior desse misterioso edifício onde Grayson parecia estar constantemente. Eu estava
ansiosa para descobrir o que tinha lá dentro.
Ele estava fora trinta segundos depois, dizendo que Charlotte e Walter estavam fora e que
deviam ter levado Sugie com eles. Eu andei com ele descendo a colina, passando o cheiro de rosas
exuberantes e das flores brancas pequenas que cheiravam doce e amadeirada. Inalei profundamente,
suspirando. "Cheira tão bem aqui."
"Rosas e flores de espinheiro," ele disse, sua expressão sombria. "Minha madrasta plantou
anos atrás, quando estava grávida de Shane. Charlotte disse-lhe que a rosa simboliza equilíbrio - a
flor é a beleza, e os espinhos contrastantes são um lembrete de que o amor pode ser doloroso. As
flores de espinheiro são, obviamente, para o nosso nome. Elas foram as últimas coisas que ela
plantou aqui."
"Oh por quê?" Eu perguntei, pensando sobre o pino em formato de rosa que Charlotte tinha
me emprestado no dia do meu casamento.
"Porque ela estava plantando no dia em que a minha mãe – a mulher com quem meu
pai a traiu - apareceu para me deixar em sua porta. Ela nunca deixou de me dizer que a fragrância
destas flores lembravam-na do pior dia de sua vida: o dia que ela tinha descoberto que tinha sido
traída, e que cada vez que ela olhava para mim ela se lembrava desse fato."
Meu coração gelou e depois tamborilou dolorosamente no meu peito. "Oh," eu respirei,
pegando sua mão e apertando-a enquanto caminhávamos. "É... Eu sinto muito. Como é cruel."
‘Você deve parecer com a sua mãe’, eu tinha dito. ‘Sim, para desespero de todos’, ele
respondeu. Oh, Grayson. Agora entendi sua amargura, e também a sua... profunda solidão.
Ele sorriu sombriamente para mim. "Ela realmente tentou arrancá-las várias vezes, mas
elas apenas não iam embora. Tipo como eu, ela disse." Ele sorriu de novo, como se não tivesse sido
afetado. Isso deve tê-lo ferido profundamente dentro de seu coração, apesar de tudo. Impossível que
não fosse por isso. Eu apertei sua mão novamente e me aproximei enquando andamos, oferecendo o
conforto de minha presença, se ele quisesse. O pensamento do belo homem
andando ao meu lado ser indesejado e malquisto por alguém fez meu coração doer. Mas, ao mesmo
tempo, eu não podia deixar de me sentir honrada. Ele era uma pessoa privada, e geralmente tão
reservado.
E ainda assim ele tinha compartilhado algo profundamente pessoal comigo.
"Minha madrasta estava envolvida em muitas instituições de caridade em Napa, mal podia
acompanhar todas. Eu acho que ela ia principalmente para os almoços das senhoras." Ele riu,
mas aguentou um pouco de diversão.
Eu olhei para cima, estudando seu perfil, compreendendo de repente que, inicialmente, ele
tinha julgado que eu fosse como ela. "Eu acho que existem diferentes tipos de generosidade. Eu sinto
muito que sua madrasta não conseguiu encontrar a generosidade de coração para mostrar mais
bondade para com um menino que não era dela."
Ele olhou para mim, a expressão em seu rosto quase chocada. "Está tudo no passado, eu
acho." Não, eu não acho que está.
Hesitante, e sem saber o quão longe ele iria se abrir para mim, perguntei, "você me
contará sobre a sua mãe?"
"Minha mãe?" Suas sobrancelhas se uniram. "Sinceramente, eu não sei muito sobre
ela além dela ser uma dançarina de balé. Ela era um membro do New York City Ballet quando
conheceu meu pai. Eles tiveram um caso de uma noite. Ela ficou grávida. Por causa de sua gravidez,
ela foi convidada a deixar a companhia. Ela teve problemas para me apoiar, me culpando pela ruína
de sua carreira e de seu corpo, e então decidiu que não conseguia mais olhar para mim. Ela deixou-
me aqui com meu pai e foi embora. Eu nunca ouvi falar dela novamente desde então."
"Quão terrível e egoísta." E ser abandonado aqui, só para ser objeto de ainda mais
culpa, amargura, crueldade e exclusão. Não admira que ele estava tão bem guardado.
"Estamos bastante a par, não estamos?" ele perguntou, um pequeno sorriso de
diversão irônico nos lábios.
Eu soltei um suspiro. "Sim, acho que somos." Mordi o lábio, considerando nossas
histórias. "Engraçado o muito que temos em comum."
"Nós não equilibramos um ao outro em tudo, não é?"
Eu ri baixinho. "De jeito nenhum. Estamos todos errados juntos."
Ele se moveu na minha frente e virou-se, então eu fui forçada a parar. Ele pegou meu rosto
nas mãos e sorriu para mim. "Nem tudo errado", ele murmurou, trazendo seus lábios aos meus.
Sua boca era suave, seu beijo lento, mas espalhou sensação por todo o meu corpo, assim
como seus beijos sempre faziam. Ele afastou-se muito rapidamente, deixando-me olhando
vertiginosamente para ele, minhas mãos em seu peito duro. Seu sorriso era lento e cheio de orgulho
masculino, e eu não pude deixar de sorrir de volta para ele. Sacudi a cabeça, exasperada enquanto fiz
isso.
"Vamos, dragão," eu disse, puxando sua mão. "Eu vou descobrir o que você faz nas
profundezas da caverna escura que você habita tantas vezes." Ele riu, me seguindo o resto do
caminho.
Quando abrimos a porta do edifício de pedra na parte inferior do morro, Grayson gritou:
"Jose?"
"Aqui, no fundo," ouvi José chamar.
A sala que entramos era grande, com clarabóias gerais que iluminavam toda a área com
eixos de luz solar. Havia várias máquinas grandes que estavam dos lados da porta e o que
pareciam enormes tambores de aço inoxidável por trás daqueles.
Grayson foi até a máquina mais próxima. "Este é um cinto de classificação, onde as uvas
vão quando chegam pela primeira vez depois de terem sido escolhidas. São separadas à mão, para
remover qualquer fruta indesejável para o futuro, bem como todas as folhas." Ele caminhou ao longo
da enorme peça de equipamento, passando rolantes, e finalmente apontando para o que parecia ser
uma pequena escada rolante. "Esse é o desengaçador. As hastes saem lá", ele apontou para um
recipiente de metal, "e voltam para o solo da vinha." Ele se moveu ao longo e eu segui-o. "Esta é a
segunda tabela de classificação", explicou ele, apontando para outra mesa da sala, com capacidade
para, pelo menos, oito pessoas. "Move-se o fruto passando os trabalhadores, e eles
escolhem qualquer final de pedaços de caule e frutos indesejáveis ​à mão." Ele me deu um olhar cheio
de charme e uma nota de pura zombaria. "Aqui no Hawthorn Vineyard nós acreditamos que a
qualidade do vinho vem da qualidade da fruta. Gastamos um monte de tempo garantindo que o
fruto seja classificado com cuidado e diligência."
Eu dei-lhe um sorriso, levantando uma sobrancelha. "Eu não tenho nenhuma dúvida disso.
Quantas pessoas Hawthorn Vineyard empregava quando estava em ordem de marcha completa?"
"Cento e setenta e cinco."
E Grayson tinha seis funcionários: apenas um em tempo integral, três em tempo
parcial - um dos quais era mentalmente lento - e dois que estavam velhos e eram mais familiar do
que funcionário. Se eu não tivesse percebido antes exatamente o quanto ele estava lutando, tenho
certeza que o faria agora.
Ele me mostrou os fermentadores de aço inoxidável e, em seguida, me acompanhou em uma
segunda sala grande onde havia equipamentos de aparência semelhante. José parecia estar instalando
algo, e estava intensamente focado no que estava fazendo. Ele nos deu um aceno rápido e, em
seguida, voltou a trabalhar. Em vez de barris de aço inoxidável esta sala mantinha o que pareciam ser
muito grandes fermentadores de madeira na parte de trás da parede. Quando ele me levou através da
sala pude ouvir quando Grayson descrevia as funções variadas do equipamento, prestando atenção a
suas descrições, mas também observando o entusiasmo que emanava de seu corpo inteiro.
Ele adorava isso. Eu quis ficar para trás e simplesmente vê-lo enquanto ele se movia, seus
olhos brilhantes com orgulho e seus ombros largos erguidos. Ele parecia estar vivo com energia.
"José está instalando um novo baga de agitador na nova máquina de classificação", disse
ele. "Uma das primeiras coisas que eu encomendei com o generoso investimento Dallaire."
Eu ri baixinho. "Um bom investimento, parece." Estudei-o por um momento. "Seu pai
teria orgulho de você, Grayson."
Muito de repente veio-lhe uma expressão no rosto que o fez parecer um garotinho - tímido
e vulnerável. Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças de brim e se balançou sobre seus calcanhares.
"Eu acho que ele teria", ele disse suavemente, finalmente sorrindo de volta com orgulho. "Você quer
ver onde os barris são armazenado para o envelhecimento?"
Eu sorri e acenei, percebendo o quanto ele ainda era afetado pelo julgamento de seu pai.
Eu entendia mais do que a maioria, mas por alguma razão isso me fez incrivelmente triste. Grayson
tomou minha mão e me levou até uma porta na parte de trás da sala. O ar estava mais frio e de
repente não havia quase nenhuma luz. Grayson pegou minha mão e eu segui-o por um corredor longo
e de uma espécie de cimento.
O corredor se abriu e havia filas em filas empilhadas de barris. O ar cheirava a
pungente madeira. Eu inalei, puxando o ar úmido de terra em meus pulmões.
"Estes são barris de borgonha, feitos com madeira borgonha da França", explicou.
"Hmm," eu cantarolava. "Quanto tempo você envelhece o vinho?"
"Este vinho vem envelhecendo há cinco anos. Está quase pronto para ser engarrafado. O
que, novamente graças ao investimento Dallaire, agora pode acontecer." Então foi colocado em
barris logo depois que seu pai ficou doente. Uma das últimas coisas que realizou aqui no Hawthorn
Vineyard. Até agora.
"Você vai engarrafá-lo aqui?"
"Vamos", disse ele, "uma vez que a minha nova máquina de engarrafamento chegar."
"Eu nunca conheci tanto sobre o processo", ponderei, olhando em volta para os barris.
"Eu só te mostrei como o fruto é processado. Há mais ainda sobre a vinificação em si.
Vou mostrar-lhe isso um dia também." Algum dia... e ainda assim, os meus dias
aqui estavam contados. Antes que eu pudesse alongar-me sobre isso, percebi que Grayson tinha se
aproximado de mim. Eu respirei fundo, observando o olhar de intensidade em seu rosto. Mesmo sob
a luz fraca eu podia ver o fogo em seus olhos. Eu dei um passo para trás e pressionei meu corpo na
parede de cimento atrás de mim. Suas mãos subiram nos lados do meu rosto e ele se inclinou na
minha direção. O ar nesta sala era tão legal, e os seus lábios contra os meus se sentiam especialmente
quentes e ainda assim muito macios.
"Você é tão quente", ele murmurou, obviamente tendo o mesmo pensamento. Inclinando-se
para trás, ele passou a língua ao longo da costura dos meus lábios, e com um gemido eu abri para ele.
Ele trouxe suas mãos até meu rosto, e eu passei meus braços ao redor de seus ombros, segurando-
o para não deslizar para baixo da parede. Por que seu beijo me inflama da forma que faz, e ainda
relaxa cada músculo do meu corpo ao mesmo tempo? O beijo dele estava cheio de confiança, seu
corpo muito quente e sólido uma vez que pressionou no meu. Ele passou a língua em todos os
lugares: ao longo do cume sensível no céu da boca, no interior das minhas bochechas, ao longo dos
meus dentes, e então de volta, entrelaçando com a minha língua como se procurasse conhecer cada
parte da minha boca. Tentei segurar o gemido que veio à minha garganta, mas foi um esforço
desperdiçado. Pressionando nele eu gemi mais uma vez, meu coração batendo insistentemente entre
as minhas pernas, meus mamilos sensíveis esfregando deliciosamente contra seu peito duro.
Eu tinha beijado homens antes - alguns deles mais meninos que homens - mas de repente eu
percebi que não, não, eu nunca tinha sido beijada. Não se essa era a forma como um beijo devia
parecer. Eu nunca tinha sido beijada assim.
"Você," disse Grayson quando deixou os meus lábios, "é tão deliciosa. Eu não me canso de
você." E em seguida, graças a Deus, ele se inclinou para trás e me beijou novamente, sua língua
entrando em minha boca enquanto eu corria minhas mãos em suas costas magra, musculosa.
Ele era tão maravilhosamente construído, tão largo e alto, tão sólido. Uma emoção passou por mim
com a sensação intrigante do contorno desconhecido de seu corpo masculino. Eu queria conhecer
cada parte dele, cada mergulho e plano duro. Eu podia sentir a forte pressão de sua ereção em
minha barriga, e isso enviou uma sacudida de excitação através do meu sangue.
Descendo minha mão entre nós eu esfreguei a dura protuberância na parte da frente da
calça jeans. Ele estremeceu, pressionando-se em minha mão.
"Kira", ele murmurou, "eu tenho que parar. Deus me ajude, mas se eu não fizer agora não
vou mais ser capaz de fazer." Eu tremi. Me senti da mesma forma, quase querendo implorar-lhe para
não parar, para levar-me aqui contra esta parede fria. Mas não, José estava do lado de fora da porta.
Ele podia caminhar de volta aqui a qualquer minuto. Quando eu me entregar a Grayson quero ter
muito tempo, e quero que seja em uma cama.
Grayson se afastou de mim, e meus olhos vagaram até a evidência de sua
excitação. A frente de seu jeans parecia tensa e cheia. Engoli em seco, querendo muito sentir isso na
minha mão novamente.
Sim, eu queria ele, eu admiti. Eu o queria com um desespero dolorido que me assustou
e deixou-me boba e excitada e animada sem sentido.
Eu tinha pensado que poderia resistir a ele, mas tinha subestimado o poder que ele possuía
quando estava não só empenhado em sedução, mas quando me permitiu vislumbrar o lado terno da
sua personalidade. E agora eu não tinha vontade de resistir.
"Devemos voltar", eu disse, alisando meu cabelo da melhor forma possível.
Ele me estudou por várias batidas antes de usar um dedo para mover uma onda rebelde de
cabelo da minha bochecha. "Fique comigo esta noite", ele sussurrou. "Venha até minha cama, Kira."
Medo e carência enrolaram simultaneamente em minha barriga. Estava brincando com
fogo. Eu sabia que estava. E ainda... Eu queria. Eu queria conhecê-lo intimamente. Eu queria que ele
me fizesse sentir bonita e desejável como tinha feito na noite anterior. Eu queria conhecer a sensação
de seu corpo, bem como o que ele gostava, o que o fazia selvagem com paixão. Eu
poderia desenvolver sentimentos por ele; na verdade, eu provavelmente o faria.
Talvez eu já tinha. Mas eu iria gerenciá-los. Afinal, o que era a vida sem algumas aventuras
emocionantes?
Não valia a pena um pouco de mágoa para saber como era o toque de Grayson Hawthorn?
Um que me iluminou a partir de dentro para fora. E se eu nunca tivesse um como ele de novo? Eu não
deveria arrebatar esta experiência enquanto tinha a chance? Mesmo se difícil, eu iria gerir as minhas
emoções. E eu nunca, nunca iria permitir-me a tola esperança de que tornar-me física com o meu
marido levaria a sentimentos de sua parte.
"Sim", eu disse, encontrando seus olhos.
Triunfo encheu sua expressão e ele pegou minha mão, puxando-a. Demos adeus a José
e, em seguida, saímos para a luz do sol brilhante. Fizemos um passeio até o morro e quando entramos
na casa alguns minutos depois, peguei minha mala, que Grayson tinha colocado dentro mais cedo e
virei-me para devolvê-la para minha casa.
"Ei, ei, onde você está indo?" ele perguntou.
Eu virei. "Para minha casa."
"Você não vai mais ficar lá. Eu mudei-a para a casa."
"Você me mudou?" Eu perguntei, estreitando os olhos. Eu gostava da minha casinha. Eu
gostava de ter o meu próprio espaço. E se as coisas estavam indo para avançar entre Grayson e eu
em... outras maneiras, ia ser imperativo que eu tivesse um lugar que fosse só meu.
"Sim. Parte da razão que você estava doente é que você estava respirando o ar
empoeirado, tomando chuveiros frios -"
"Isso é ridículo. Eu tinha um vírus. Você não pode pegar um vírus de ar empoeirado
ou duchas frias."
"Talvez sim. Talvez não. Você ainda vai para casa."
"Eu não vou."
"Você vai."
Ficamos em um impasse no vestíbulo por vários momentos, até Grayson cruzar os braços,
inclinando-se casualmente contra a parede. "Você já concordou em ficar no meu quarto esta noite."
"Sim, hoje à noite, mas isso não significa que eu estou indo morar com você."
"Você vai."
"Eu não vou," eu moí fora. A grande escadaria chamou minha atenção e eu olhei para
Grayson, levantando uma sobrancelha. "Eu vou correr. O vencedor ganha o seu caminho."
Ele riu. "Uma corrida? Oh, bruxinha, você não tem chance em uma corrida contra mim.
Você pode simplesmente se render agora."
"Eu nunca vou me render. E eu não quero dizer uma corrida a pé. Eu vou correr até o
corrimão. Você pega um lado e eu tomo o outro." Eu estava morrendo de vontade de deslizar por esse
corrimão desde que o tinha visto. Esta era a oportunidade perfeita. Eu era uma especialista
em deslizamento de corrimão. Se alguém conhecia grandes escadarias, esta era eu. A casa de meu pai
tinha três.
Grayson riu de novo. "Você deve estar brincando."
Levantei ambas as sobrancelhas em resposta.
"Não, claro que você não está brincando. Isso é ridículo. Você sabe disso, certo?" Mas ele
começou a andar em direção à escada. Eu o segui, e quando nós chegamos ao topo,ele mudou-se para
a direita e eu desloquei-me para a esquerda. Eu posicionei minha bunda em cima da madeira escura
polida.
"Eu não posso acreditar que estou fazendo isso", murmurou Grayson, posicionando-se no
outro trilho.
"Se você está nervoso, eu posso dar-lhe uma vantagem", eu disse, sorrindo lindamente para
ele.
Ele sorriu de volta diabolicamente. "Não há necessidade, bruxa. Vamos fazer isso."
Eu mexi minha bunda no trilho, estabelecendo-me no lugar. "Em suas marcas, preparar,
vá!" Eu gritei quando nós decolamos, deslizando rapidamente pela madeira
lisa. Precariamente equilibrada, eu gritei quando quase derrubei fora o lado, mas me corrigi antes de
cair. Ouvi a profunda risada de Grayson ao meu lado, mas não me atrevi a olhar para ele. Ganhando
velocidade mais rápido do que pensei que iria, o final veio rapidamente e eu saí voando para frente
no ar vazio, incapaz de aterrar em meus pés e, em vez disso, apoiando-me em minhas mãos
quando bati no chão de mármore duro. Eu me senti momentaneamente sem fôlego e pensei ter ouvido
a porta abrir e fechar na minha frente, mas não podia descascar do riso quando ouvi o riso profundo
de Grayson perto de mim, e olhei para vê-lo deitado no chão também. Eu tinha certeza que ia bater
primeiro no chão. Nós dois ficamos ali por um momento, recuperando o fôlego, nossa risada
desaparecendo. Olhei para cima e percebi que havia quatro pares de sapatos em nossa frente, e
quando levantei minha cabeça vi Walter, com uma sobrancelha levantada. Próximo a ele, a expressão
de Charlotte era chocada quando ela olhou boquiaberta primeiro para mim e depois para Grayson.
Eu comecei lentamente a ficar de pé, o riso sumindo totalmente quando notei os
olhares igualmente chocados na face do homem louro alto e bonito, e na mulher loira deslumbrante na
minha frente.
O homem loiro de repente abriu um grande sorriso e me surpreendeu rindo.
"Oi," eu respirei, chegando à minha altura completa e dando um passo à frente. Eu estendi
minha mão. "Eu sou -"
"Shane", disse Grayson, sua voz estranhamente cortada. "Vanessa".
Balancei meu olhar para ele e vi que sua expressão ficou muito de repente sem humor e, em
vez disso, friamente distante. "O que diabos vocês dois estão fazendo aqui?"
Capítulo Dezessete
Kira
Oh, meu Deus. Shane: irmão de Grayson. Vanessa: a mulher que ele tinha estado a ponto de
propor casamento antes que fosse mandado para a prisão. Agora a mulher de seu irmão.
Aqui. Em carne e osso. Eu alisei minhas mãos para baixo no meu jeans e tentei o meu melhor para
parecer legal, calma e recolhida. Ou pelo menos tão legal, calma e recolhida quanto uma pessoa
poderia ser depois de ter se levantado de uma posição esparramada no chão, onde caiu após voar
pelo corrimão.
"É ela?" Shane perguntou, aparentemente ignorando Grayson, em vez disso olhando para
mim. Eu não tinha certeza exatamente do que fazer com a sua pergunta, mas a expressão de seu
rosto era amigável e seu tom era quente, então eu sorri e estendi minha mão novamente.
"Eu sou Kira Dallaire", eu disse.
"Hawthorn agora, não é?" Shane deu-me um sorriso aberto, de menino, e pegou a minha
mão na sua.
Olhei para Grayson, cuja expressão estava fechada. "Ah, bem. Bem, sim." Limpei a
garganta. "Sempre esqueço", murmurei.
"Bem, é novo ainda, certo?" Shane disse, dando-me um meio sorriso compreensivo.
"Certo..." Eu sussurrei.
A loira alta e marcante sorriu calorosamente para mim e moveu-se para frente, segurando
minha mão entre as dela uma vez que eu soltei a de Shane. Deus, ela era realmente linda – a irmã
ainda mais bonita da Grace Kelly.
Shane olhou para Grayson. "Quando Charlotte contou-nos a notícia, você pode imaginar
nosso choque. Mas nós esperávamos que isso significasse-"
"Que você seria bem-vindo em minha casa?" Grayson perguntou friamente. "Você estava
errado. Você pode dar meia volta e sair de novo."
"Gray", Charlotte disse, movendo-se em direção a ele. "Eles vieram até aqui para vê-lo
e para conhecer Kira."
"Você manipulou isso, Charlotte," disse Grayson, seu olhar lívido descansando sobre ela.
"Grayson," eu sussurrei, sentindo-me estranha no meio desta reunião de família gelada.
"Talvez eu deva..."
Ele girou os olhos para mim, pausando momentaneamente. "Eu ganhei", disse ele, e por um
minuto eu não tinha ideia a que ele estava se referindo. Então eu percebi que ele estava falando sobre
nossa corrida de corrimão. Eu teria argumentado com ele - pois ele certamente não ganhou - mas
pensei que o que ele realmente queria dizer é que eu não tinha escolha a não ser ficar em casa agora,
se não íamos levantar suspeitas com seu irmão e cunhada - sua ex-namorada - quase noiva. Senhor
Deus. Isso se ele permitir que eles fiquem. E se ele estaria fazendo parecer como se tivéssemos um
casamento de verdade. Meu coração sentia-se como se estivesse batendo a mil por hora. Eu
apenas concordei.
Walter pigarreou. "Eu acredito que vou pedir licença." Eu pensei que deveria fazer o
mesmo.
"Vou apenas," eu balancei a cabeça em direção à minha mala e ao saco de noite de Grayson
ainda na porta, "levar estas para cima e deixá-los conversar." Senti-me severamente auto-consciente
e em exposição quando me mudei para pegar as malas. O hall de entrada ficou completamente em
silêncio, exceto pelo som dos meus sapatos estalando. Com meu rosto ardente eu virei-me ao pé da
escada. "Então eu só vou, então..." eu limpei minha garganta, "vê-lo no jantar." Eu olhei ao redor, mas
Grayson não estava olhando para mim. Ele estava encarando Vanessa com um expressão em seu rosto
que eu nunca tinha visto antes. Ele não respondeu, nem sequer tirou os olhos de Vanessa tempo
suficiente para reconhecer-me. Parecia como um punho no meu intestino.
Eu ouvi as unhas do Sugie estalando no chão de pedra e ela apareceu na esquina, olhando
para todos nós. Ela deu um pequeno camponês e baixou a cabeça. "Aqui, Sugie", eu disse
calmamente. Ela trotou em minha direção.
"Prazer em conhecê-la, Kira," Shane disse, dando-me um olhar de simpatia. Ele sabe que
seu irmão ainda a ama. Charlotte acenou para mim, torcendo as mãos em seu estômago. Por que ela
me empurrou em direção a Grayson se ela sabia disso? Será que ela quer que eu vá embora? Vanessa
me deu um pequeno meio sorriso, seus olhos arremessando para Grayson e rapidamente de volta para
mim, suas bochechas rosadas. Ela o ama, também? Oh, Deus. Era tudo demais. Virei-me e corri até a
escada, para o quarto em que fiquei quando estive doente, Sugie em meus calcanhares. Jogando as
malas para baixo eu me inclinei contra a porta fechada por tempo suficiente para recuperar o fôlego.
Estúpida, Kira, eu me adverti. Alguns beijos, algumas revelações pessoais e você
pensou que Grayson era o quê? Seu amigo? Seu marido de verdade? Você é uma idiota! Idiota, idiota,
idiota! A maneira como ele tinha olhado para essa mulher no andar térreo foi... como
ele jamais olhou para mim. Mas ela era casada com seu irmão... não era como se ele pudesse tê-la
novamente. Deus, mas só o fato de que ele ainda a queria machucou o suficiente por si só. E eu
odiava isso. Odiava.
Levantei-me ereta. Bem, graças a Deus que eu não tinha me dado a ele completamente. As
coisas estavam bem. Eu estava bem. Então nós tínhamos compartilhado alguns momentos. Agora só
tinhamos que voltar ao plano original, o que era um muito melhor ideia, de qualquer maneira. Como
eu deixei afastar-me até agora fora do caminho, eu não tinha idéia.
Houve uma batida repentina na porta e eu me assustei, afastando-me dela e me virando.
Eu abri-a para encontrar Vanessa de pé diante de mim. Ela sorriu um pouco timidamente. "Posso
entrar?" ela perguntou.
Engoli em seco, mas devolvi-lhe o sorriso e fiz um gesto para que ela entrasse. "Estou
apenas tomando banho aqui," eu menti. "O chuveiro no banheiro principal está quebrado."
Vanessa suspirou. "Deus, e o que não esta? Parece tão diferente por aqui..." Ela parou de
falar, o olhar em seu rosto dizendo tudo - ela não quis dizer "diferente" de uma forma positiva.
Sugie se aproximou e farejou timidamente os pés de Vanessa. Vanessa se afastou,
começando a se dobrar para oferecer a Sugie sua mão, mas, em seguida, retirou-a rapidamente
quando deu uma boa olhada na cara de Sugie. "Oh, ela é... é -?"
"O nome dela é Sugie", eu disse, pegando-a e depositando-a na cadeira à direita da cama e
dando-lhe alguns animais de estimação antes de caminhar de volta para Vanessa.
Ela sentou-se no banco de vaidade e cruzou as pernas bem torneadas. Sentei-me no baú de
armazenamento ao pé da cama. Vanessa estava usando uma curta saia rosa Glamour e
uma camiseta cinza pálido acetinada e cavada com top, exibindo seu bronzeado de verão. Havia
vários fios de miçangas atadas entre seus seios.
Ela deslizou os dedos para baixa-los em um gesto nervoso enquanto me estudava.
Eu agitei-me sob o seu exame minucioso.
"Eu amo a sua roupa", eu disse. E eu fazia. Era elegante, mas divertida também.
Ela abriu um largo sorriso. "Obrigada. É uma da minha própria coleção. Eu tenho uma
pequena boutique em San Diego. Estou pensando em abrir uma aqui, também, na verdade. Isso é parte
do objetivo desta viagem - para encontrar um espaço. Eu não cresci com muito, e vestir-me
elegantemente com um orçamento pequeno tem sempre sido uma espécie de paixão minha. Esse é a
meta com a minha loja de moda - chique em um orçamento." Ela corou lindamente e baixou os olhos.
"Eu sinto muito, estou falando besteira."
Ela limpou a garganta antes de levantar os olhos para mim e continuar. "Nós estávamos tão
cheios de felicidade quando ouvimos que Gray havia se casado", disse ela, mudando de assunto. E
ela parecia sincera. Torci minhas mãos no meu colo.
"Obrigada", eu finalmente disse. "Quero dizer, eu... Não sei exatamente o que aconteceu
entre Grayson e Shane, mas espero que eles possam encontrar uma maneira de resolver as
coisas..." Deus, isso era estranho. Eu deveria contar que Grayson e meu casamento não eram reais?
Eu desejei que Grayson tivesse tomado um momento para falar-me sobre isso antes que eu tivesse
esse mano a mano com Vanessa Hawthorn. Vanessa parecia estar lutando, também, e eu tinha que
saber o quanto ela sentia por Grayson. Por que ela tinha feito o que tinha feito? Eu queria
desesperadamente perguntar-lhe, mas não parecia certo, e eu não tinha certeza se deveria agir como
se soubesse qualquer coisa em tudo.
"Eu também", disse ela, mordendo o lábio. "Eles estão falando sobre o assunto. De
qualquer forma, eu realmente só queria ter mais alguns minutos para dizer oi para você, e que
você soubesse o quanto estou feliz de ter uma irmã."
"Obrigada, eu agradeço isso. E eu também." Eu sorri. "Estou feliz por ter uma
irmã também." Embora eu vá ser uma temporária. Eu torci o anel no meu dedo no
nervosismo de Vanessa, de pé. Sua roupa estava perfeita e sem rugas. Como ela conseguiu
isso se eles tinham viajado? Eu realmente queria odiá-la por muitas razões, mas ela estava tornando
difícil com sua bondade e sinceridade. Não me surpreendia que Grayson a amasse. Ela era tudo o
que eu não era.
Seus olhos se moveram para o meu dedo anelar. "Posso?" ela perguntou, vincando a testa
ligeiramente. Eu olhei para a minha mão e, em seguida, levantei-a quando ela agarrou-me na dela e
estudou o anel que Grayson tinha me dado. Ela respirou fundo.
"Uma opala. Olhe!" E ela ergueu o anel de noivado para mostrar-me sua pedra de centro,
que era uma opala também. "É a minha pedra favorita", explicou ela. "Ela significa amor e paixão."
Ela sorriu amplamente, seus dentes retos e perfeitamente brancos. "Bem, isso prova que nós amamos
opalas. Temos que ser irmãs." Ela se mudou para frente e me abraçou rapidamente, o perfume de
alguma fragrância cara que era tão adorável quando bateu em meu nariz, e, então, ela apenas se
afastou rapidamente. "Falaremos mais, mais tarde?"
"Certo." Eu sorri fracamente.
Quando ela saiu eu me sentei na cama, meus olhos se estreitando sobre o anel no meu dedo.
Lembrei-me de Diane Fernsby dizendo que ela sabia que Grayson havia comprado um anel para
Vanessa, embora ele nunca teve a oportunidade para propor. Eu não imaginei que este anel fosse um
anel de noivado, por causa da única pedra no centro, mas eu estava errada. "Ele me deu o anel que
tinha a intenção de usar para pedir-lhe para se casar com ele," eu sussurrei, incrédula. Raiva e
mágoa picaram pela minha espinha, e eu torci o anel até que o tirei.
"Escamosa besta", murmurei meio timidamente sob a minha respiração. Mas, de alguma
forma, chamar-lhe de um nome não diminui a dor. Chama-lo de um nome não reparava a pequena
fissura no meu coração, que suas ofuscantemente belas escamas haviam criado.

Depois de tomar um banho e deixar a conversa com Vanessa rolar dos meus ombros tanto
quanto possível, desci as escadas em busca de Grayson. Precisavamos sentar e
conversar exatamente sobre o que eu deveria estar fazendo nesta situação estranha, desconfortável.
Eu disse Oi, mas quando não recebi resposta andei para fora, encontrando Shane
mexendo na fonte. Ele tinha uma pequena caixa de ferramentas no chão ao lado dele e estava
encostado todo o caminho através do aparelho, no meio do poço vazio. "Hey," eu disse.
Ele sentou-se, sorrindo para mim. "Olá."
"Eu estava esperando que alguém se interessaria em arrumar essa coisa em algum ponto",
eu disse, sorrindo.
Ele sorriu de forma mais ampla. "Parece que só precisa de uma nova peça. Eu vou correr
para a cidade amanhã e pegá-la."
Eu balancei a cabeça, e houve um silêncio constrangedor antes de nós dois começarmos a
rir baixinho. Ele sorriu e eu vi muito de Grayson em seu sorriso. Ele realmente era um muito bonito –
com uma expressão mais juvenil - considerando que Grayson era impressionante, mas tão alto e
masculino. "Você sabe onde Grayson está?", perguntei.
Seu sorriso desapareceu. "Ele foi à cidade para jantar."
Meu coração despencou. Grayson saiu sem uma palavra – deixando-me para me
virar e sobreviver sozinha nesta situação embaraçosa - confirmando que eu importava muito pouco
para ele. "Oh, hum, com a Vanessa?" Eu sussurrei-resmungando e depois limpei minha garganta.
Shane balançou a cabeça lentamente, seus olhos focados no meu rosto. "Não. Vanessa foi
ver seus pais."
Deixei escapar um suspiro. "Oh, certo." Eu ainda não tinha pensado sobre Vanessa
crescer aqui, também. Minha barriga apertou quando pensei sobre toda a história que estes três
tiveram juntos. E eu perguntei-me onde me encaixo entre eles, decidindo que provavelmente não me
encaixava em tudo. Temporária, Kira. Você é temporária.
Shane sentou-se na borda da fonte e acenou com a cabeça ao seu lado, em
silêncio perguntando-me se gostaria de me sentar, também. Ele me ofereceu um sorriso hesitante.
Caminhei alguns passos e sentei-me, girando de frente para ele. Ele me estudou por um momento, e
eu corei sob seu olhar.
"Posso perguntar o quanto você sabe sobre a situação com Vanessa, Gray e eu?"
Então íamos direto ao assunto. "Não muito", eu respondi honestamente. "Só que Grayson e
Vanessa estavam... juntos, e você e Vanessa se casaram enquanto ele estava na prisão." Eu mordi o
meu lábio inferior.
Shane apertou os lábios. "E que, naturalmente, ele se sente traído por nós."
Eu balancei a cabeça, meus olhos treinados em seu rosto, tentando ler sua expressão. Se eu
tivesse que atribuir qualquer nome para a emoção que parecia atravessar suas feições, eu escolheria
dor. Estranho. "Naturalmente", murmurei.
"Há mais do que isso", disse ele. "Eu amo meu irmão, Kira."
Eu balancei a cabeça e estranhamente acreditei nele. Sua expressão era tão sombria e
cheia de tristeza.
"Então por quê?" Perguntei.
Shane soltou uma respiração profunda. "Eu realmente devo explicar isso a Grayson, em
primeiro lugar. Eu percebo que nós colocamos você em uma situação embaraçosa e sem nenhum
aviso. Eu só queria que você soubesse que já tentei de tudo." Ele balançou a cabeça. "Ele não
responde às cartas, não atende aos telefonemas. A única coisa que não temos feito foi amarrá-lo a
uma cadeira com fita adesiva e forçá-lo a nos ouvir."
Eu ri sem muito humor. "Você pode querer considerá-lo. Os homens, em geral, podem ser
teimosos e espinhosos - eu encontrei O Dragão especialmente disposto nessa categoria."
Shane olhou para mim, sorrindo com diversão. "O Dragão? É disso que você o chama?"
"Só quando ele respira fogo e agita-se em torno da casa."
"Agita-se ao redor da casa." O sorriso de Shane alargou. "Charlotte disse isso, mas eu mal
podia acreditar sobre o meu sério irmão desanexado. Então eu o vi descendo o corrimão como uma
criança que ele nunca foi..."
"Oh, isso? Nós estávamos apenas resolvendo uma aposta."
Shane inclinou a cabeça. "Eu acho que você é boa para ele. E eu esperava que
ele estaria mais dispostos a ouvir-nos agora que encontrou a felicidade com
você." Constrangimento agarrou-me. Como é que este homem vai se sentir quando descobrir a
verdade? Talvez não havia razão contra ele. E se Grayson não tivesse simplesmente se levantado e
saído sem sequer dizer adeus para mim, eu poderia ter-lhe perguntado. E por que Charlotte jogou
isto acima? Eu tinha pensado que ela queria ver Gray e eu juntos. Eu não conseguia entender isso, e
eu não poderia evitar de me sentir traída, embora não conseguisse descobrir exatamente o porquê.
"Bem, ele não expulsou-o de qualquer maneira, certo? Isso é um começo."
Shane sorriu. "Sim, isso é um começo." Ele se levantou, oferecendo-me sua mão.
"Charlotte e Walter estão jantando com amigos. Ela colocou algo no forno e é quase hora de tirá-lo.
Junta-se a mim para o jantar?"
Peguei a mão dele e me levantei. "Certo."
Nós fomos para dentro e ele tomou o frango recheado de Charlotte para fora do
forno enquanto eu misturava uma pequena salada. Sentamos e comemos juntos enquanto Shane
me contava sobre o negócio de software que tinha começado em San Diego.
Parecia que ele adorava e lhe permitia trabalhar em casa também.
"Então você não tinha interesse em fazer vinho?" Eu perguntei, levando uma mordida de
salada.
Ele balançou a cabeça. "Nenhum interesse e nenhuma habilidade. Tecnologia de
computador sempre foi a minha coisa. Quando meu pai me deixou uma pequena parte de dinheiro eu
usei-o para começar a minha própria empresa."
Eu balancei a cabeça. "Bem, felizmente seu irmão queria fazer vinho."
Ele balançou a cabeça, mas sua expressão era sombria. "Sim, felizmente."
Eu disse-lhe um pouco sobre mim mesma, contornando que eu estava afastada de meu pai –
isso convidaria apenas perguntas. Uma vez que tínhamos comido e limpado a cozinha eu lhe disse
que estava indo de cabeça para o meu quarto ler, uma vez que tinha sido um longo dia e eu estava
cansada. Mas de verdade, porém, eu estava nervosa que ele começaria a fazer perguntas sobre
Grayson e eu, coisas que eu não estava preparada para responder.
Depois de me preparar para dormir decidi enviar a Grayson um texto rápido. Eu sentia
como se estivéssemos construído algo entre nós, embora eu me recusasse a tentar definí-lo neste
momento. Certamente ele estava chateado e vulnerável agora, com a chegada inesperada de seu
irmão e ex-namorada. Talvez ele pudesse usar um amigo. Peguei meu telefone e digitei:

Você está bem? -K

Esperei alguns minutos, mas quando não houve resposta, peguei meu livro e tentei me
concentrar sobre a história que eu estava lendo. Quando Grayson ainda não tinha me enviado uma
mensagem uma hora mais tarde eu desliguei a luz e abracei meu travesseiro, fechando os olhos e
tentando desesperadamente adormecer, apesar da hora mais cedo.

Eu acordei com o arranque, a sensação de braços fortes me levantando da cama. Lutei,


chutando para fora com minhas pernas e batendo meus braços até que a pessoa segurando-me soltou
um sonoro "Oomph", me deixando cair na cama macia e descendo ao meu lado. Meus olhos
encontraram os de Grayson na semi-escuridão, sua expressão de dor como se eu tivesse feito contato
com algo vulnerável.
"O que você está fazendo?" Eu assobiei, chegando em meus joelhos. Eu podia sentir meu
cabelo uma bagunça selvagem todo em volta do meu rosto e das minhas costas. Ele rolou para o lado
e ficou olhando para mim com a cabeça no meu travesseiro, seus olhos sonhadores.
"Você deveria estar em minha cama hoje à noite", ele arrastou.
"Sua cama?" Perguntei. "Você esperava que eu..." Inclinei-me, inalando. "Você está
cheirando a bebida e perfume barato." Eu tentei manter a mágoa da minha voz.
Ele estava provavelmente bêbado demais para perceber, de qualquer maneira.
Grayson se apoiou em um cotovelo. "Alguma loira estava em cima de mim no bar."
"Oh." O que eu deveria responder a isso? Eu soquei minhas mãos sobre os topos das
minhas coxas, desesperada. Sua ex aparece e então ele vai para um bar e deixa uma estranha apalpá-
lo? Por que não poderia ter vindo a mim, Grayson?
"Mas, aparentemente," ele disse, passando o dedo ao longo da minha coxa nua, "Eu não
gosto mais de loiras. Eu gosto das ruivas. Ou morenas. Ou a mistura perfeita de ambas. Eu gosto de
você." Ele olhou para mim, sua expressão de repente confusa. "Por que não está na minha cama?"
Eu zombei, virando a cabeça para longe dele e cruzando os braços sobre os meus seios.
"Você deve estar brincando. Você decola sem uma palavra para mim, deixando-me para lidar com seu
irmão e sua ex. E então você fica bêbado e deixa mulheres te apalparem num bar, e ainda espera que
eu esteja convenientemente esperando em casa, na sua cama? Quem você acha que eu
sou, exatamente?" Eu fervi, raiva misturando com a dor.
Grayson se inclinou mais para cima. "Eu acho que você é minha esposa." Seu sorriso
estava cheio de calor íntimo, apesar de seu estado embriagado.
Eu levantei meu queixo, recusando-me a deixá-lo me encantar. Ele tinha me machucado.
"Apenas no nome."
"Vamos mudar isso. Hoje à noite. Mais cedo... você estava disposta." Ele parecia
momentaneamente muito vulnerável, ​e meu coração estúpido gaguejou. "Por favor, Kira, diga que me
quer. Eu só... Eu quero você, eu preciso de você." Sua voz soava crua. Ele precisava de mim? Então
eu não era nada mais do que uma conveniência.
Nada mais do que uma forma de saciar temporariamente seus desejos físicos. Mas eu
queria mais do que sua luxúria. Eu queria... Oh, Deus, eu queria o seu coração. Meu peito encheu-se
com pânico repentino.
"Você ainda está apaixonado por ela?" Eu disparei.
A expressão de Grayson endureceu imediatamente, e ele puxou-se a seus pés. Mesmo em
seu estado embriagado ele obviamente não tinha nenhuma dúvida sobre a quem eu me referia. Ele
olhou para mim, o olhar em seu rosto de repente frio e removido.
"Você não vai me responder?" Eu levantei meu queixo, recusando-me a olhar para longe,
odiando que ele tinha tal presença esmagadoramente física, especialmente em cima de mim como
ele estava. Seu olhar era penetrante, seus olhos de ébano parecendo me enxergar direito.
"Eu não quero feri-la, Kira. Mas a situação com Vanessa, meu irmão e eu não é da sua
conta. Não tem nada a ver com você", afirmou.
Se ele não queria me machucar, ele tinha um jeito engraçado de prová-lo. Dor atravessou
meu peito, mas eu segurei seu olhar. Eu não iria deixá-lo saber que suas palavras tinham causado um
poço aberto em meu coração. Eu quase não queria reconhecer isso para mim mesma. "Por favor,
apenas vá," eu disse, minha voz firme. "Eu não quero você. Eu não quero você em tudo."
Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo deliberar sobre algo, parecendo como se fosse
eu a machucá-lo. Mas então ele oscilou ligeiramente em seus pés, deixando escapar uma respiração
afiada.
Ele jurou baixinho, virou e saiu do meu quarto, fechando a porta suavemente atrás dele.
Se eles não estivessem hospedados aqui eu gostaria de deixar esse quarto e ir para o
santuário de minha casa. Eu tinha planejado dormir com Grayson esta noite. E agora dormir em um
quarto na mesma casa que ele sentia insuportável.
Eu desabei no meu travesseiro, abraçando-me e recusando-me a chorar.

Se eu tivesse pensado que o alvorecer de um novo dia teria O Dragão batendo no meu
quarto e implorando perdão, eu teria ficado muito desapontada. Na verdade eu mal o vi ao longo dos
próximos dias. Evidentemente ele tinha fugido para a instalação de vinificação, instalando novos
equipamentos e assegurando-se que tudo estivesse em ordem. Ou, pelo menos, isso é o que eu me
informei com Shane, que parecia quase tão frustrado quanto eu que Grayson estava ignorando todos
nós. Claramente Grayson não se importava se o nosso casamento parecia ser uma farsa.
"Eu só vou ficar por aqui e me colocar em seu rosto sempre que possível", disse Shane.
"Eventualmente eu vou cansá-lo." Ele piscou para mim, embora não parecesse particularmente
convencido por sua própria afirmação.
Quanto a mim, eu não estava disposta a fazer o mesmo. Na verdade, meu modus
operandi geralmente tinha sido fugir de situações dolorosas, o que era o meu instinto agora. Mas eu
tinha uma festa para planejar, e o tempo estava passando sobre isso.
O que eu estava pensando em me dar tão pouco tempo para fazê-lo? Eu mal
podia me lembrar agora. Mesmo assim, convites tinham sido entregues, e as pessoas estavam
esperando pelo evento, um evento que O Dragão certamente não iria expor-se. Cabia a mim,
embora, mesmo que neste momento em particular fosse difícil lembrar por que era mesmo
importante em tudo.
Passei a primeira parte da semana limpando o escritório de Grayson e tentando dar algum
sentido aos arquivos financeiros. Walter me ajudava onde podia, desde que tinha sido ele
quem mantinha as coisas atualizadas, tanto quanto possível, embora ele não conhecesse os programas
tão bem quanto eu.
"Walter", eu perguntei enquanto percorria as contas a pagar, "você acha que eu poderia
ver alguns dos dados financeiros de alguns anos atrás? Eu não quero ultrapassar meus limites, mas
quero ter uma melhor idéia de onde as coisas começaram a falir para a adega." Eu pensei que se eu
entendesse o porque das coisas terem quebrado tão rapidamente (literalmente e figurativamente) uma
vez que Ford Hawthorn adoeceu, eu seria mais capaz de ajudar a gerenciar as contas da vinha, talvez
até oferecer alguns conselhos para Grayson - não que ele merecia. Eu provavelmente deveria
assistir com alegria quando ele não cumprisse sua promessa. Mas eu não podia fazer isso. Meu
coração não permitiria, e eu queria ver o dinheiro de vovó ter bom uso também.
Walter limpou a garganta, e eu pensei que ele parecia um pouco desconfortável. "Os
registros não eram bem guardados naquela época. Tudo foi negligenciado uma vez que o Sr.
Hawthorn ficou doente."
"Mas certamente há algo? Se eu pudesse dar uma rápida olhada em tudo o que existe, eu
acho que poderia ajudar. Realmente, eu não sei se posso ajudar agora se não entendo o que aconteceu
no passado."
Walter ficou em silêncio por tanto tempo que eu não sabia se ele tinha me ouvido. Mas
quando olhei para cima ele estava olhando-me atentamente. Quase me assustei. Eu nunca tinha visto
um olhar que fosse diferente de impassível no rosto de Walter. "Eu vou ver o que posso encontrar",
ele finalmente disse.
"Obrigada, Walter."
Mais tarde naquele dia, quando Walter me trouxe uma pilha de CD-ROMs, ele me olhou
diretamente nos olhos e disse: "Estes são os registros contábeis voltando cinco anos."
"Oh," eu disse, dando um passo mais perto dele para pegar os discos, "muito obrigada."
Eu coloquei minhas mãos sobre eles, mas mantive-as quando ele disse, "como você disse,
é mais fácil ajudar no presente se você entender o passado. Espero que estes sejam úteis."
Eu fiz uma careta. "Sim..."
Walter soltou a pilha, acenando com a cabeça para mim e indo embora rigidamente. O
que foi isto?
Eu não teria tempo para começar a analisar os discos até que tivesse os arquivos atuais
atualizados, então coloquei meu esforço nisso. Eu também procurei Vanessa na cozinha e perguntei se
ela tinha tempo para me ajudar com os preparativos da festa. Já tínhamos recebido um punhado de
RSVPs, o suficiente para me fazer um pouco nervosa – as pessoas iam aparecer, é melhor
estarmos prontos. E eu poderia usar alguma ajuda. Expliquei o tema a Vanessa e mostrei as listas que
eu tinha feito até agora.
"Oh meu Deus, é claro. Eu adoraria", disse ela. "Esta é uma ideia incrível."
"O que é uma idéia incrível?" Ouvi o timbre profundo do dragão por trás de mim. Nós
duas giramos para assistir Grayson enquanto ele caminhava até a geladeira e tirava várias garrafas de
água, Sugie Sug atrás dele. Meus olhos correram sobre Grayson. Eu não o tinha visto em dias, e senti
como se meus olhos estivessem famintos. Ele estava suado e maravilhosamente corado. Eu desviei o
olhar, sentindo dor por minha reação a ele. Claramente, ele era completamente não afetado por mim
agora que Vanessa estava por perto.
"Ideia da festa de Kira", disse Vanessa. "Será que ela te disse? É um baile de máscaras
de conto de fadas -"
"Ela me disse," Grayson disse, abrindo uma garrafa de água e tomando um longo gole. Eu
assisti como seus músculos da garganta trabalharam engolindo a água, e quando olhei para seu
rosto seus olhos estavam zerados em mim. Eu desviei o olhar novamente, fingindo me concentrar na
minha lista. Senti minhas bochechas corarem e queria me chutar.
Vanessa olhou para mim com entusiasmo. "Minha personagem de conto de fadas favorita é
Tinkerbell." Ela riu. "Isso é idiota?"
Eu sorri para ela. "Nem um pouco. Você pode convencer Shane a se vestir como Peter
Pan."
Ela riu novamente, o tom como um som musical que eu nunca tinha ouvido falar. Ela seria a
perfeita Sininho. Ela seria sempre perfeita. Olhei para ela, de pé lá em
seu longo vestido colete coral-e-branco, o cabelo dourado lustroso e direto até os ombros. Ela era
perfeita. Eu a odiava.
Não, não. Eu gostava dela – o que eu odiava era que gostava dela. Por que ela não
podia ser uma grande ‘cadela’? "Eu farei, e vou me certificar que ele tenha um olhar
masculino de Peter. Com apenas o suficiente de infantilidade. Assim como ele."
"O quê?" Eu perguntei distraidamente. Eu balancei a cabeça, forçando-me de volta para a
conversa. "Oh... Shane... Peter Pan, certo."
Olhei para Grayson, que estava aparafusando lentamente a tampa de volta na garrafa de
água, sua expressão dura, um pequeno tique trabalhando em sua mandíbula.
Sugie tentativamente cheirou os pés de Vanessa, e Vanessa inclinou-se para baixo, a mão
acariciando a cabeça de Sugie rapidamente e, em seguida, puxando de volta. "Eu sinto que vou
machucá-la toda vez que vou tocá-la", disse ela, sua voz cheia de simpatia.
"Você não vai," eu disse. "Ela precisa de amor, mais do que qualquer coisa. A única coisa
que vai machucá-la é você se afastar."
Grayson olhou para mim por um momento e, em seguida, sem dizer uma palavra, virou-se e
saiu da cozinha. Sugie seguiu-o, olhando para a porta e deixando escapar um pequeno gemido, em
seguida, baixando a cabeça e correndo para alcançar Grayson.
Meu coração se apertou de dor. Olhei para minha lista, para esconder meu
rosto da sondagem de Vanessa.
Ele não conseguia nem mesmo fingir gostar de mim, para manter as aparências? O que
devem achar Shane e Vanessa?
"Eu sinto muito, Kira", disse Vanessa. "Nossa presença está colocando pressão sobre o seu
casamento. Devemos ir-"
"Não por minha causa, não. Shane e Grayson tem algo a resolver. Eu não
vou ficar no caminho disso." Eu iria embora logo, mas Shane sempre seria o irmão de Grayson.
Recusei-me a ser a razão pela qual Grayson não lhe daria uma chance de, pelo menos, se
explicar. Qualquer interesse físico que Grayson tinha tido por mim já estava muito longe. E eu
podia entender por quê. Quem poderia competir com Vanessa? Ela era linda, por dentro e por fora, e
eu me sentia como a bruxa que Grayson imaginava - feia, maltrapilha e excluída. Ninguém queria
estar com a bruxa. Não no final da historia.
Charlotte veio movimentando-se para a cozinha poucos minutos depois, atirando olhares
nervosos entre Vanessa e eu. Desde que Shane e Vanessa tinham chegado, eu não tinha tido qualquer
tempo a sós com Charlotte, mas sempre que eu a via ela parecia estar torcendo as mãos e dizendo
orações em voz baixa. Por si só isso não me deu muita confiança de que esta situação acabaria bem.
Vanessa, Charlotte e eu estudamos as listas em detalhe e dividimos as tarefas.
"Agora, quem vai me ajudar a fazer um bolo de manteiga de amendoim? Pedido de Shane - é o seu
favorito", disse ela, encantada.
"Oh, eu vou ajudar", disse Vanessa. "Eu preciso aprender a receita para que possa cozê-lo
para ele, às vezes."
Charlotte pegou dois aventais da gaveta, entregando um para Vanessa e oferecendo o
outro para mim.
"Oh, da próxima vez, Charlotte," eu disse. "Eu preciso ir lá fora e fazer uma lista dos itens
que já foram concluídos." Mas a verdade era que eu percebi que Charlotte e Vanessa mereciam
um tempo juntas. Eu só ia ficar aqui por um curto período de tempo, enquanto
Vanessa era uma verdadeira parte dessa família. Com esse pensamento, a dor aguda no meu coração
pareceu quase excessiva, mas estava lá, no entanto. Charlotte olhou para mim com simpatia, mas
acenou com a cabeça, quase com tristeza. Eu não poderia estar zangada com ela. Ela sabia que
eu era temporária.
Vanessa estaria aqui para sempre, enquanto eu estaria saindo em breve. Era mais
importante Charlotte ajudar a construir uma ponte entre Shane, Vanessa e Grayson do que tentar
empurrar Grayson e eu juntos de forma mais permanente. Seria um esforço inútil, de qualquer
maneira. Talvez ela finalmente tenha percebido isso.
Sentindo-me sozinha e melancólica eu vaguei lá fora para olhar a fachada da casa. Eu tinha
uma tripulação de jardineiros escalados para trabalhar o resto da semana. Fazer o terreno ter uma
aparência decente ia dar um pouco de trabalho. Mas a casa pareceria muito melhor uma vez que a
hera fosse cortada. Anotei as poucas coisas que eu pensei que poderiam ser realizadas no exterior da
casa, e em seguida virei-me para andar atrás dela e fazer algumas notas sobre essa área também. Eu
gostaria de poder abrir a parte de trás do pátio e limpar a piscina, se possível. Imaginei
luzes brilhantes penduradas nas árvores, lançando um brilho mágico de conto de fadas...
Então por um momento eu estava ali, imaginando a cena, meu olhar subindo para as fileiras
de videiras. Por que eu sentia esta saudade desesperada por dentro? Eu pensei no
que Grayson estaria fazendo agora, no quanto eu estava começando a amar esta vinha e as pessoas
que viviam e trabalhavam aqui. Pensei sobre como tinha imaginado que Grayson e eu
estávamos indo na direção de... do que, Kira? Amor?
É isso o que eu tinha secretamente começado a esperar? Uma emoção não muito diferente
de medo apertou meu intestino, e eu dei alguns passos para que pudesse me inclinar contra uma
árvore de olmo próxima, fechando meus olhos, sentindo-me miserável. Eu tinha a sensação terrível
de que, em algum lugar ao longo do caminho, eu tinha caído no amor com meu marido. Não
havia outra explicação para a agonia que eu estava sentindo por sua súbita indiferença fria e a
possibilidade de que ele ainda estava apaixonado por outra mulher.
Olhando para o sol da tarde brilhando sobre as videiras eu admiti só para mim
- apenas para mim - que talvez eu tivesse mesmo me apaixonado por Grayson Hawthorn, no primeiro
momento em que coloquei meus olhos nele. Meu cavaleiro de armadura
brilhante em frente àquele banco, a promessa de que ele iria me salvar, e eu a ele, fluindo através do
meu coração como um sussurro secreto.
Oh Deus, isto era um desastre.
Um desastre épico.
Eu queria correr, fugir desses sentimentos e destas realizações. E eu sabia exatamente o
que faria assim que a festa tivesse acabado. Eu não poderia ficar aqui, sabendo que poderia cair
ainda mais apaixonada pelo meu marido a qualquer momento. Ele nunca iria me amar de volta. Pelo
contrario: a dor de seu amor não correspondido aos poucos me levaria à desolação, até que eu já
não pudesse encontrar nenhuma alegria na vida.
Meus pensamentos desesperados foram cortadas quando eu vi uma figura solitária
caminhando em torno do perímetro do labirinto abaixo de mim. Eu olhei, reconhecendo Shane.
Hesitando apenas brevemente eu coloquei a lista e a caneta no bolso de trás do meu shorts jeans e
desci a colina para me juntar a ele.
"Hey," eu disse suavemente. Ele virou-se, obviamente assustado, deixando escapar uma
respiração rápida.
"Hey, Kira." Ele sorriu.
"Desculpe, não quis assustar você."
"Não, não, apenas profundo no pensamento, eu acho." Ele sentou-se num banco de pedra ao
lado e fez um gesto para eu me sentar também. Eu fiz, apoiando minhas mãos atrás de mim.
Olhando para o labirinto ao nosso lado eu disse: "É realmente incrível. Você deve ter se
divertido nele quando criança."
Shane soltou um suspiro, passando a mão pelo cabelo, assim como Grayson fazia
algumas vezes. Sua expressão ficou um pouco desapontada. "Deus, não. Meu pai nos obrigou a
caminhar ao meio uma vez que tinha ficado escuro, e então mandou-nos encontrar a saída. Ele nos
torturou com essa maldita coisa."
Senti o sangue escorrer do meu rosto, e me voltei para Shane. "Por quê?" Eu resmunguei.
Ele deu de ombros e balançou a cabeça, de repente parecendo um garotinho. "Quem sabe
por que meu pai fez o que fez? Ele tinha ideias estranhas sobre como nos tornar homens. Essa foi
uma delas. Claro que Grayson teve o pior de tudo, sendo o mais velho." Ele fez uma pausa, olhando
para as mãos em seu colo. "Eu podia ouvir Grayson aqui chorando para o nosso pai, tentando
encontrar seu caminho para fora, noite após noite." Miséria varreu sua expressão, como se
ele tivesse voltado lá novamente, ouvindo seu irmão gritar por socorro e sendo incapaz de fazer
qualquer coisa sobre isso. Sentei-me, passando os braços em volta de mim.
"Depois de pesquisar nos de arquivos do meu pai Walter encontrou um mapa do labirinto –
é claro, eu só soube disso anos depois - e o deu a Grayson. Grayson devia ter sete ou oito anos então.
Ele lhe disse: ‘Você estuda isso. Vá durante o dia e aprenda cada turno, cada canto e recanto,
e então, quando o seu pai te mandar andar lá dentro você vai ser o único no controle. Certifique-se
que o seu pai não descubra, mas conheça esse labirinto como a palma da sua mão. Então não haverá
medo.' Bem, isso foi exatamente o que Gray fez." Ele sorriu, e de repente as sombras fugiram do seu
rosto bonito. E eu não pude deixar de sorrir também.
Walter. Deus te abençoe, Walter. "Mais tarde, quando meu pai me levou para dentro,
Grayson escapou da parte de trás, me encontrou e me levou para fora sem o nosso pai saber. Ele
ficaria escondido no labirinto até que estivéssemos lá dentro, em seguida, ele iria me encontrar. Eu
nunca soube o que era o medo que ele sentiu, porque ele me salvou. Eu apenas temi aqueles breves
momentos antes dele aparecer. E, Deus," sua voz falhou um pouco, mas ele limpou a garganta e
continuou: "não há nada na terra como a sensação de alguém que ama você agarrar sua mão no escuro
quando você está perdido e com medo."
Sombrio desgosto me dominou. Esse pobre menino. Eu não sabia o que dizer,
estava totalmente sem palavras, um caroço do tamanho de uma laranja bloqueando minha garganta.
Não é de admirar Grayson odiasse o labirinto - ele tinha servido como uma câmara de tortura para
ele.
"Meu irmão fez isso por mim em centenas maneiras diferentes ao longo dos
anos - descobriu-me no escuro e agarrou minha mão."
"Então por quê?" Eu sussurrei, piscando para conter as lágrimas.
Shane virou a cabeça para olhar para mim. "Por que Vanessa?" ele perguntou.
Eu balancei a cabeça, mordendo meu lábio. "Por favor, diga-me, Shane. Eu estou tentando
entender. Eu só estou tentando entender, e talvez se eu fizer isso, de alguma forma, eu possa ajudar."
Ele suspirou. "Porque eu a amei durante toda a minha vida." Ele fez uma pausa, sorrindo
um pequeno sorriso triste. "Nós crescemos juntos, você sabe, nós três. Grayson nunca pareceu notá-la
do jeito que eu fazia." Ele apertou os olhos para o espaço por um momento, provavelmente
lembrando eventos específicos. "Mas então ele perguntou-lhe em primeiro lugar, e eu pensei que
talvez ele só estava escondendo seus sentimentos, e assim eu... dei um passo atrás, quando
tive que jogar o meu chapéu no ringue, por assim dizer. Eu teria mostrado o meu coração também, se
tivesse sido qualquer outro. Mas eu não consegui. Ele sempre tinha chegado ao final curto da vara, e
tinha se sacrificado por mim mais de uma vez. Como eu não poderia fazer o mesmo por ele? E
assim... Eu a amava, mas deixei-a ir sem nunca dizer uma palavra."
Eu apertei os lábios, a tristeza se movendo por de mim enquanto eu olhava para o céu azul.
"Mas então ele foi embora..."
"Sim", ele disse suavemente. "Você deve pensar que eu sou uma pessoa tão horrível."
"Não, eu não sou seu juiz," eu disse suavemente.
Shane suspirou, passando a mão pelo cabelo.
Eu não perguntei mais nada. Eu sabia que ele queria explicar o resto ao seu irmão, em
primeiro lugar. Mas eu acho que tive uma melhor compreensão da situação, a partir das duas
perspectivas. Eu só queria saber como Vanessa se sentia sobre Grayson agora. Que
bagunça. Uma bagunça da qual eu precisava dar um passo atrás, e deixar que eles encontrassem uma
saída sozinhos, especialmente à luz das minhas próprias realizações sobre onde meu coração estava.
Eu estava certa. Não havia lugar para mim no presente. E talvez Grayson estivesse certo, também.
Talvez nada disso fosse realmente o meu negócio. Sentada lá, senti-me de repente mais solitária do
que jamais me senti antes.
"Ele me contou sobre sua mãe - sua madrasta - que ela nunca aceitou-o", eu disse
suavemente.
Shane soltou um suspiro. "Não, ela o odiava. Ela odiava o que ele representava. Ela
considerava sua vida perfeita antes da mãe de Grayson aparecer em sua porta. Eu ainda não tinha
nascido na época, mas ouvi-a lembrá-lo disso o suficiente ao longo dos anos. E o nosso pai... ele não
era o mais carinhoso dos pais, de qualquer maneira, mesmo para mim, mas ele tratou Grayson de
forma especialmente fria, como uma forma de enviar a mensagem para minha mãe que ele
reconhecia seu erro. Não havia nenhuma reconciliação para isso aos olhos dela, no entanto. E essa
não era a maneira correta de pedir desculpas, de qualquer maneira." Shane de repente virou a cabeça
para mim. "Estou surpreso que ele lhe contou qualquer coisa sobre isso, na verdade. Eu nunca soube
dele falando sobre isso, nem mesmo para mim."
Eu dei de ombros. "Ele falou tudo com naturalidade, como se estivesse explicando o curso
do tempo."
O sorriso de Shane foi irônico. "Confie em mim, Grayson não se expressa muito, mas ele
sente algo. Se importa, de fato, sobre seu pai e sua madrasta. Eu estava lá."
Eu balancei a cabeça novamente, sem saber exatamente o que dizer, sabendo que não
deveria investigar mais profundamente o tormento oculto de Grayson. Isso só me faria amá-lo mais.
Não era assim com todas as mulheres? Eu não era exceção. O que era mais sexy que um homem de
grande abs e um coração cheio de tormento oculto? Deveriam engarrafá-lo e vendê-lo aos montes. Ou
talvez escrever um livro: "Abs e Tormento Oculto: Um Guia de Um Homem". Eu teria rido se não
sentisse tanta vontade de chorar.
E então ficou ainda mais claro para mim que ele nunca me amaria,
mesmo se pudesse superar seu amor por Vanessa. Blocos de gelo cercavam seu coração, e eu seria
uma tola se imaginasse que seria suficiente para derrete-los.
"Ei, não fique tão triste. Nós temos algumas boas lembranças também. Nossas infâncias
não foram todas horrores e traumas. Nós também costumávamos roubar cookies de Charlotte, e
frequentemente irritávamos Walter tentando levá-lo a dar um sorriso de vez em quando."
Eu ri apesar de mim, vincando minha testa ao mesmo tempo. "Obrigada por
compartilhar isso comigo, Shane. Significa muito que você confiou em mim o suficiente para abrir-se
comigo."
Ele me estudou por apenas um segundo, o rosto abrindo um sorriso. Sem pensar, eu me
inclinei para a frente e abracei-o, imaginando o pequeno garoto que ele foi uma vez, sozinho e no
escuro quando seu bravo irmão mais velho pegou sua mão. Ele riu, me abraçando de volta. Quando
eu me afastei ele começou a dizer: "Eu sou em sua maioria -", mas foi interrompido.
"Você já roubou uma mulher de mim. Imagina que pode roubar outra?"
Nós dois nos levantamos rapidamente, como se tivéssemos sido pegos fazendo algo errado.
Afastei-me de Shane. "Grayson, nós só estávamos-"
"Fique fora disso, Kira", disse ele, com o olhar furioso focado em Shane.
"Jesus, Gray," Shane disse, incrédulo. "Nós estávamos apenas conversando."
Grayson deu um passo adiante para Shane, seu maxilar duro e apertado. Eu chupei uma
respiração afiada, não sabendo se queria chorar ou começar a atirar coisas. "Estou bem ciente de
como falar funciona", Grayson disse com a voz elevada, mas seu tom era frio e mortal, "e não
envolve braços e corpos. Diga-me, Shane? Uma não foi suficiente? Esta tentando seduzir Kira,
também?"
"Seduzir Kira? Deus, você realmente é um idiota quando está com ciúmes. Você acha que
eu iria seduzir sua esposa, seu estúpido idiota?", ele gritou.
Fora da minha visão periférica eu vi Vanessa e Charlotte correndo em nossa direção.
A mandíbula de Grayson trincou com a palavra inveja, seus olhos se tornando fendas
quando ele olhou para seu irmão.
"Ciumes? Você acha que eu te acho indigno de confiança porque eu estou com ciúmes? Não
porque você é um mentiroso traidor bastardo? Não estou com ciúmes." Ele deu um passo mais
perto. "Jesus. Ela nem é minha esposa de verdade. Nós nos casamos por dinheiro", ele rosnou.
Eu chupei uma lufada de ar, mas senti como se estivesse inalando lâminas de barbear, meu
rosto corando com o calor.
O silêncio caiu de repente quando três pares de olhos focaram em mim. Eu olhei em
volta: as expressões chocadas de Shane e Vanessa; a expressão aflita de Charlotte. Grayson ainda
estava olhando para Shane, mas quando viu que todos estavam olhando para mim, voltou seu olhar
em minha direção também, sua expressão parecendo limpar momentaneamente quando ele se tornou
ciente do que tinha acabado de dizer. "Kira-" ele começou a dizer, mas eu me virei e corri. Corri
para longe dos olhares, para longe do julgamento, longe da vergonha e da dor lancinante. Embora.
Capítulo Dezoito

Grayson
Eu era um idiota. Um idiota ciumento. Shane estava certo. Quando
vi ele e de Kira se abraçando eu perdi a cabeça. Eu me desliguei completamente desde que Shane e
Vanessa tinham chegado, ignorando Kira depois de ter ido para o quarto dela e tentado reclamá-la
como um tolo bêbado. Eu só poderia culpar a mim mesmose ela foi à procura de Shane para conforto
e companheirismo. Shane, que sempre tinha sido o descontraído encantador. Shane, que nunca tinha
decepcionado ninguém.
Eu não quero você. Eu não quero você em tudo.
Ninguém quer você. Ninguém nunca quis.
É claro que ela se sentiu confortável e segura com Shane - quem não o fez? Outra lança de
ciúmes passou abatendo minha espinha, e eu cerrei os dentes. Eu nunca na minha vida tinha caído em
um ataque de ciúmes por uma mulher, mas a possessividade que senti quando tinha visto Kira e Shane
abraçados tinha me jogado sobre a beira. Eu assisti-os durante a semana passada, vi a forma como
eles caminhavam ao redor da propriedade, conversando, mesmo rindo. Desespero cresceu em meu
peito. Jesus, eu precisava me controlar. Do que eu estava com ciúmes, afinal? Ela tinha estado
disposta a vir para a minha cama - mesmo que isso estivesse fora de cogitação agora - o que mais eu
queria? Eu estava chateado porque tinha me sabotado, assim como parecia sabotar tudo de bom na
minha vida? Ou era só porque Shane tinha roubado Vanessa de mim? Não me deixei pensar muito
sobre isso desde que eles chegaram aqui – não queria explorar nada disso, de qualquer maneira. E
então eu simplesmente desliguei.
E então fiz algo pior ainda: em um esforço idiota para provar que eu não estava com
ciúmes - e talvez ferir Kira, eu reconheci - eu tinha exposto a verdade do nosso casamento de uma
forma cruel e sem coração. A profunda dor e humilhação que eu tinha visto em seus olhos tinha
enviado a culpa me esmagando. Outro homem em sua vida usando-a como bode expiatório. Porra. E
então ela correu. Agora eu estava procurando por ela, para tentar fazer a coisa certa depois que eu
tinha deixado Shane, Vanessa e Charlotte pasmados atrás de mim. Que porra de bagunça era
essa. Que bagunça do caralho eu era. Senti como se tudo o que eu estive segurando durante toda a
semana estivesse rodando dentro de mim, subindo à minha cabeça como fervura.
Que diabos realmente tinha acontecido comigo?
Eu conheci Kira Dallaire, isso é o que tinha acontecido comigo.
Avistei-a no campo sul, parecendo como se estivesse... coletando damascos do chão?
Ela estava segurando-os na parte inferior de sua blusa? Por um segundo eu apenas fiquei e
assisti-a enquanto ela se aproximava da fruta, curvava-se e a coletava, trazendo um pedaço de fruta
para seu nariz de vez em quando.
Qual era a da bruxinha? Algo puxou apertado em mim – por que minha esposa
exasperante me fascinava tanto que até mesmo minhas entranhas se agitavam dentro do meu corpo?
Aproximei-me dela lentamente e cheguei até a borda de onde centenas de damascos excessivamente
maduros cobriam o chão. Ela tinha dez ou quinze peças de fruta pesando em sua camisa.
"Kira", eu disse com toda calma que podia, "o que você está fazendo?"
"Coletando frutas para Charlotte fazer geléia - geléia que você ama tanto, geléia que te faz
feliz. Eu tenho feito isso durante toda a semana, mas entre a organização de seu escritório
e o planejamento de uma festa para que você possa mais facilmente se reintegrar à
sociedade de Napa, entreter sua família e tentar descobrir como escapar de certas questões de Shane
e Vanessa - que, por falar nisso, eu gostaria de agradecer a você por apenas deixar escapar a
verdade, porque isso era outro problema no meu prato. Eu não posso te dizer quão aliviada estou
por não ter mais que mentir-"
"Kira", eu disse, aproximando-me. "Eu sinto muito. Isso foi mal feito da minha parte."
"Além disso," ela continuou como se não tivesse me ouvido, "é um desperdício de comida.
Há pessoas que não têm o suficiente para comer – bem aqui em Napa mesmo. E
aqui está toda essa fruta, apenas sujando o chão. É inconcebível, realmente."
"Kira", repeti, aproximando-me mais.
Ela girou em minha direção, seu cabelo longo e ondulado pendurado em suas costas,
mechas e cachos enquadrando seu rosto. Seus olhos eram verdes brilhantes e tempestuosos,
colocando minha mente em uma tempestade tropical prestes a atingir o chão. Suas bochechas estavam
vermelhas, e eu podia ver que ela estava tão cheia de raiva, e mais alguma emoção que eu não tinha
ideia como nomear. Ela estava tendo dificuldades para recuperar o fôlego. O mínimo vislumbre de
seu estômago plano era visível onde sua camisa tinha sido elaborada como uma cesta
improvisada, agora pesada com as frutas. Minha respiração pegou quando eu a segurei. Ela era a
coisa mais selvagem eu já tinha visto, e a minha parte primitiva de repente tinha o desejo de domá-la
imediatamente, neste exato momento.
Eu sabia que deveria me rastejar e - Deus, eu sabia que ela merecia isso - mas depois de
uma semana mantendo Kira no comprimento do braço, e vendo-a agora em pé na minha frente,
toda fogo e vida, eu perdi o controle, de uma maneira que só ela poderia me obrigar a fazer.
Caminhei em direção a ela quando seus olhos se arregalaram, e ela deixou cair
os frutos colhidos de sua camisa, macios damascos fazendo sons molhados quando espalharam-se no
chão a seus pés. Ela me pertencia.
O ciúme que senti quando a tinha visto nos braços de Shane inflamou-se novamente quando
a puxei para o meu corpo.
Olhando para ela agora e percebendo o quão desesperadamente eu a queria - estes últimos
dias tinham sido como viver sem luz – me senti ciumento e vulnerável tudo de novo. Eu
desesperadamente queria que ela acalmasse a agonia selvagem e furiosa no meu interior, para
tranquilizar a parte ferida do meu coração que pensou que havia algo digno em mim, que ela me
queira também. Mas eu não tinha idéia de como colocar esses sentimentos em palavras. Não sabia
como pedir, especialmente quando tinha tanta coisa para me desculpar. E então eu disse da única
maneira que eu conhecia. Eu aproximei-me e agarrei-a, pressionando meus lábios nos dela.
Eu só tinha planejado beijá-la uma vez e então deixá-la ir, mas o gosto dela enviou uma
chama para baixo em minha barriga. Agarrei-a, incapaz de tirar minha boca da dela. Ela lutou por
uns poucos e breves momentos, tanto que nossos braços arranharam uns nos outros quando eu
procurei puxá-la para perto e ela lutou para se afastar. Mas então ela soltou um pequeno soluço e
colocou os braços ao redor do meu pescoço, beijando-me de volta com apaixonado fervor. Eu lambia
sua língua, o gosto dela acalmando a dor dentro de mim, causando-me simultaneamente uma perda de
controle e o primeiro gostinho de paz que eu tive em muito tempo. Talvez por toda a vida.
Antes que eu tivesse tempo para mergulhar no beijo, Kira empurrou meu peito, tropeçando
para trás vários passos, os lábios machucados, os olhos cheios de dor renovada. "Kira", eu disse,
notando o tom de súplica na minha própria voz, "venha aqui".
Seu queixo subiu, e ela tomou mais alguns passos para trás. "Não."
Eu hesitei. O que ela queria? "Encontre-me no meio." Eu balancei a cabeça em direção a
um lugar na grama entre onde estávamos enfrentando um ao outro.
"Não", ela cuspiu rebelde.
Uma onda de raiva tomou conta de mim. Eu não iria manter minhas mãos longe dela. Meu
instinto estava agitado com desejo, e meu sangue zumbia com a necessidade de possuí-la. Eu nunca
quis tanto uma mulher.
Dane-se a bruxinha, para o inferno com isso. O que ela quer de mim? Eu fui para agarrá-
la novamente, mas ela de repente pegou algo do chão e atirou em mim, o som alto de um muito
maduro damasco explodindo na minha testa e escorrendo em meu rosto. Eu estava momentaneamente
atordoado. Alcancei minha mão e levei um dedo cheio de damasco da minha testa, trazendo-o para
baixo para olhá-lo, incrédulo. "Você, desafiante pequena diaba", eu disse, meus olhos encontrando os
dela. Com um movimento rápido eu peguei um macio damasco e atirei-o nela. Ela rangeu quando ele
fez contato com o pequeno pedaço de pele que aparecia no decote em V de sua blusa, desfazendo-se
em um salpico de suco e polpa e deslizando para baixo de sua blusa. Sua boca caiu aberta, e ela
olhou para mim como se em choque pelo que eu tinha feito, pelo que ela tinha feito.
"Você sirva-se, monstro viscoso," ela sibilou.
Nós dois começamos a recolher os frutos e jogá-los contra o outro, numa explosão de uma
centena de emoções que eu não conseguia identificar em mim mesmo, muito menos nela. Meu sangue
estava quente em minhas veias, e era como se a fria indiferença em que eu havia me envolvido
recentemente estivesse derretendo a minha pele. Fruto mole voou para mim de novo e de novo, a
maioria fazendo contato, a umidade pegajosa cobrindo meu cabelo e escorrendo para cada parte do
meu corpo. Nossas vontades se enfrentaram como o doce cheiro pungente de
damascos que perfumava o ar. Kira parecia como eu imaginava que também estava – como
quem tinha rolado em um tonel de fruta. Quando ela parou por um fôlego, olhando para mim, eu
lancei-me para ela, nós dois rolando sobre a grama macia, seu corpo vindo descansar sob o meu.
Luxúria subiu através de mim, afiada e quase dolorosa. Eu não tinha ideia de quem iniciou o beijo,
mas pensei que poderia ter sido ela. Nós lambemos a boca um do outro descontroladamente,
avidamente, gemendo e agarrando. Enfiei minha mão sob sua blusa, sentindo a pele macia
e suave, mas ela ainda resistia embaixo de mim. Eu senti o forte ritmo de seu pulso quando trouxe
minha outra mão à sua garganta, esfregando o polegar em círculos sobre ela, exultando-me na
sensação de sua força vital sob meus dedos. Meu desejo por ela queimou, escaldando meu
coração. Linda, voluntariosa, suave, teimosa, compassiva e irritante bruxinha.
"Oh, por favor, Gray," ela ofegou, puxando minha camisa.
"Sim", eu consegui dizer, rolando meus quadris contra os dela. "Diga-me que você me quer,
Kira, por favor, diga isso", implorei descaradamente.
"Eu faço, eu quero você. Eu te quero tanto."
Alívio explodiu no meu intestino, súbito e feroz. Oh Deus, eu estava ridiculamente e
irremediavelmente encantado por ela. Eu não podia esperar mais um segundo. Meu pau latejava
ansiosamente entre as minhas coxas. Ela seria minha. Eu não me importava que estávamos rolando na
grama-.
"Oh meu Deus," veio uma voz de mulher acima de nós.
"O que o-?" veio outra voz.
"Pelo amor de-"
"Bem, eu nunca vi nada-"
Nós dois congelamos, piscando um para o outro, confusão evidente na expressão de
Kira quando nós dois olhamos para cima.
Eu pisquei na luz do sol, mas só conseguia ver os contornos escuros de seis figuras que
pairavam sobre nós. Eu senti-me atordoado, e levou vários minutos para eu me orientar e para meu
sangue esfriar. Kira se afastou de mim como se eu fosse o fogo onde ela tivesse se queimado. Quando
percebi que ela estava de pé também me levantei. Gosma gelatinosa de damasco deslizou pelo meu
rosto e braços nus.
Quando finalmente fui capaz de distinguir os rostos diante de mim, meus olhos percorreram
a partir de Charlotte e Walter para Shane, Vanessa, uma mulher com cabelo rosa que não conhecia e
um novo rosto, que eu reconheci imediatamente. "Harley", eu disse com admiração surpresa.
Harley, tão grande e de aparência rude como eu me lembrava dele, um grande urso de um
homem coberto de tatuagens, adiantou-se com os olhos esquadrinhando sobre Kira e eu. "Bem,
eu serei almodiçoado."
"O que? Como?" Eu gaguejava, avançando para pegar sua mão, minha mente tentando tirar
qualquer sentido desta situação. Forcei-me a afastar meu foco de Kira por tempo suficiente
para ordenar alguns fundamentos mentais. "Como você está aqui?" Eu limpei minha mão pegajosa na
minha calça, mas ela apenas voltou com mais polpa de fruta pegajosa.
Harley olhou para mim por um momento e então começou a rir, sua risada profunda
e quente. "Cara, sai há um mês." Ele olhou-me de cima abaixo, a expressão em seu rosto entre nojo
e hilaridade. "Mas acho que estou mais interessado em ouvir sobre o que está acontecendo com você,
no entanto. Parece que tem sido... pegajoso."
Kira de repente deu um passo adiante, o rosto principalmente irreconhecível sob os montes
de polpa de damasco.
"Espere, Harley? Harley?" ela perguntou, sua voz ofegante.
Harley virou-se para ela, apertando os olhos. "Kira?" ele perguntou.
Minha cabeça moveu-se para frente e para trás entre eles. "Vocês dois se conhecem?" Eu
perguntei, minha voz preenchida com o choque que senti. Eu podia ver todo mundo na minha visão
periférica, suas cabeças balançando de pessoa para pessoa também. A única coisa que faltava era
pipoca.
"Oh meu Deus!" Kira disse, emocionada, correndo em direção a Harley, indiferente ao fato
de estar prestes a cobri-lo com a mesma lama pegajosa que ela estava coberta. Ele não a impediu, no
entanto, quando ela jogou-se para ele, abraçando-o firmemente. Eu poderia ter tido outro momento de
ciúme, mas o abraço foi breve e Harley estava sorrindo para Kira com afeição amigável. "Eu não
posso acreditar que você está aqui."
"Como vocês se conhecem?" Perguntei novamente.
"Do centro de drop-in", disse ela, nem mesmo olhando para mim. Minha cabeça estava
nadando, não só a partir desta estranha explosão do meu passado, mas a partir da transição entre o
que tinha acontecendo com Kira e eu para o que estava acontecendo agora. Se o silêncio de todos os
outros que estavam vendo essa troca fosse qualquer indicação, eles ficaram chocados também.
"Como vocês dois se conhecem?"
"Da prisão," eu disse.
"Oh," ela respirou, finalmente olhando para mim. Ela olhou de volta para Harley. "Harley,
você cumpriu pena?"
"Sim, Kira, eu fiz, sinto dizer. Acabou por ser uma das melhores coisas que poderiam
ter acontecido comigo, na verdade. A vida é boa. Embora", ele se virou para mim, "eu estou
esperando que pudesse haver uma oportunidade de emprego aqui."
"Você precisa de um emprego?" Perguntei. "Sim, é claro que você pode ter um emprego.
Cara, o que você precisar."
A cara musculosa de Harley abriu um sorriso. "Estava esperando que dissesse isso." Ele se
virou para a mulher com cabelo rosa vestindo uma saia de couro muito pequena e um top
decotado, muito pequeno também, ao lado dele. "A propósito, esta é Priscilla."
Mostrei-lhe a minha mão pegajosa como explicação sobre por que eu não estava
oferecendo-a. Ela riu suavemente e disse: "Prazer em conhecê-lo, Grayson. Harley me falou muito
sobre você. Vejo que ele pode ter deixado um pouco de fora, entretanto." Ela olhou entre Kira e eu,
mas seu olhar era divertido, sem zombaria. Ela sorriu para Harley.
Charlotte deu um passo adiante. " Gray? Talvez você e Kira possam se
limpar de... Bem, de... bem, se limpar, e então todos nós poderemos familiarizar
em casa?" Ela parecia esperançosa. Eu assumi que todos correram para cá pensando que Kira e eu
estávamos em algum tipo de confronto físico depois do que tinha acontecido perto do labirinto. Eu
acho que essa descrição era realmente bastante precisa, embora não tivesse sido violento.
Principalmente.
"Essa é uma boa ideia. Kira?" Ela olhou para mim, parecendo como se não pudesse decidir
o que queria fazer.
"Sim, tudo bem", disse ela finalmente.
Eu puxei a manga de sua blusa e ela parou, olhando onde minha mão a estava tocando.
"Kira-"
"Vamos só nos limparmos, Grayson", disse ela em voz baixa, não encontrando meus olhos,
não me permitindo tentar ler sua expressão. Eu balancei a cabeça, liberando-a.
Nós todos começamos a ir para a casa, Kira andando na frente, Harley me contando como
tinha me encontrado aqui em Napa e sobre o lugar pequeno que Priscilla tinha em Vallejo, uma
cidade próxima. "Lembrei-me de que você estava em Napa Valley, do que você descreveu, e
sabia que esse tinha que ser o lugar. Cara, eu não posso acreditar que faz tanto tempo."
Olhei para Harley com pesar. "Eu sei que não fui grande sobre manter contato. Peço
desculpas por isso. Quando cheguei aqui e percebi o quanto de trabalho tinha que enfrentar eu meio
que desenvolvi uma visão de túnel."
"É compreensível. Nenhum pedido de desculpas. Este lugar, embora, uau. Eu sabia que
você disse que era lindo aqui, mas não imaginava isso", disse ele, varrendo sua mão na direção das
colinas verdes e brilhante de vinhas à distância e na outra direção, onde a vista de montanhas
majestosas criavam uma silhueta de tirar o fôlego.
"Esta a caminho de ser o que era antes," eu disse, distraidamente
olhando em frente para Kira quando nos aproximamos da casa. Ela virou-se rapidamente, parecendo
considerar algo antes de ir para dentro.
Ela beijou Harley no rosto e apertou sua mão. "Estou tão feliz em vê-lo tão bem" ela disse,
soando como se fosse chorar. Franzi a testa, mas ela não olhou em meu caminho e não esperou Harley
responder. Ela virou-se e desapareceu dentro da casa, deixando-me a olhar para o lugar vazio onde
ela tinha estado.
"Grayson," Shane disse, aproximando-se de mim, "depois de tomar um banho e ter a chance
de conversar com Harley e Priscila, nós temos que conversar." Vanessa estava atrás dele,
nervosamente mordendo o lábio. Deus, ele estava certo. Eu deixei escapar que Kira e eu tínhamos um
casamento de conveniência por dinheiro. E agora precisava explicar. Só que, como eu poderia
começar a fazer isso quando mal compreendia a minha situação? Não mais, pelo menos.
Parecia bem definida uma vez... Agora, era quase tão pegajosa e lamacenta quanto eu
estava atualmente.
"Claro", eu murmurei, indo para dentro. "Charlotte, você pode servir para Harley e
Priscilla algo para comer e beber? Eu estarei de volta em breve."
"É claro", disse Charlotte, levando-os para a cozinha.
Tentei a porta do quarto onde Kira estava hospedada, mas ela havia trancado-o, e quando
eu bati ela não respondeu. Ela provavelmente estava no chuveiro. Eu tomaria banho também e, em
seguida, voltaria. Eu precisava falar com ela primeiro e acima de tudo. Tínhamos negócios
inacabados. E eu queria ter certeza que ela estava bem. Eu queria certificar-me que estávamos bem.
Tomei banho, embaralhando as minhas roupas pegajosas em uma pilha e envolvendo-as em
uma toalha para levar para a lavanderia. Deus, o que diabos tinha vindo sobre nós? O que foi aquilo?
Depois de me vestir com jeans limpos e uma camiseta eu andei descalço para o quarto de Kira, e
bati na porta novamente. Quando ainda não houve nenhuma resposta eu tentei a maçaneta da porta e
encontrei-a desbloqueada. Ela já tinha descido? Olhei dentro do quarto e percebi imediatamente que
a mala tinha desaparecido. Pânico rodou no meu intestino e eu entrei no quarto, chamando seu nome.
O armário estava aberto, mas não havia nada dentro, exceto por alguns sacos de vestuário que eram
algumas roupas velhas da minha madrasta. Avistei a nota sobre a cômoda quando me virei para sair.
O anel que eu tinha dado a Kira em nossa cerimônia - o que ela tinha usado desde o nosso jantar de
primeiro encontro – estava no topo. A luz pegou os diamantes enquanto eu o levantei. O que
eu estava pensando dando-lhe este anel? Eu não tinha certeza se queria ler a nota.

Grayson,
Eu acho que é óbvio depois de hoje que precisamos de algum espaço um do
outro - e que você precisa de tempo para resolver as coisas com Shane e Vanessa sem me ter pelo
caminho. Eu estarei na festa na próxima semana para realizar o meu último ato como sua esposa,
e então eu vou embora para sempre.
Kira
P.S. Eu acho que este anel pertence a Vanessa, e não a mim. Não que alguma vez tenha
realmente me pertencido.

Deixei cair o pedaço de papel, um caroço se formando na minha garganta, frieza


subindo pela minha espinha. Ela disse que me queria e, em seguida, ela foi embora. Virei-me e
desci as escadas, o gelo se movendo rapidamente por minha coluna, enchendo meu peito e
cercando meu coração. Tirei conforto do sentimento frígido. Era o que eu conhecia, o que eu merecia,
e como eu iria sobreviver à dor.
Seguindo as vozes para a cozinha eu entrei para encontrar Harley, Priscilla e Charlotte na
mesa. Charlotte começou a me cortar um pedaço de seu bolo de café de creme de leite, mas eu
levantei minha mão, recusando em silêncio a oferta. Ela franziu a testa.
"Harley estava me dizendo como você salvou sua vida." Charlotte me estudou, um olhar
de ternura e tristeza em sua expressão.
Passei a mão pelo meu cabelo. Eu nunca tinha falado com ninguém sobre o meu tempo na
prisão. Eu não estava necessariamente disposto a isso agora, mas também não poderia exatamente
expulsar Harley. Eu lhe devia muito. Ele tinha estado lá comigo - ele viveu isso. "Mais como ele
salvou a minha", eu disse.
"Não, esse não é o jeito que eu lembro", disse ele, inclinando-se de volta e entrelaçando os
dedos atrás de sua cabeça careca.
"Eu fiz uma coisa só por sorte - você teve minhas costas pelos próximos cinco anos", eu
disse, algo pegando na minha garganta. "Se não fosse por você eu não teria sobrevivido
àquele lugar." E era verdade. Quando tinha chegado lá eu estava em estado de choque, entorpecido
com a descrença por tinha sido condenado a uma pena de cinco anos depois que meu
advogado garantiu-me que eu iria obter serviço comunitário na melhor das hipóteses, seis meses
na pior. Eu tinha estado na pátio com Harley - que eu nem conhecia na época – quando algo
brilhante me chamou a atenção. Instintivamente eu o empurrei, o que tinha dado-lhe tempo para virar
e desarmar o homem que de outra forma teria lhe estripado com a faca improvisada. Daquele dia em
diante, Harley - que tinha várias passagens na prisão e entendia como o sistema funcionava com
conexões de dentro – tinha me protegido de qualquer número de horrores que eu poderia ter
experimentado se não fosse por ele.
"Bem, você é família então," Charlotte disse antes desviar o olhar para longe, os olhos
brilhantes com o que pareciam lágrimas não derramadas.
Harley acenou para Charlotte, dando-lhe um sorriso caloroso antes de olhar de volta para
mim. "E agora," ele disse, inclinando-se, "venho aqui e te encontro casado com Kira Dallaire. A vida
é cheia de surpresas."
Fiz um pequeno som de acordo em minha garganta, decidindo não mencionar as
circunstâncias do nosso casamento ou o fato de que ele acabaria em breve de qualquer maneira.
Harley estava me olhando daquele jeito dele. Ele pode parecer grande e malvado, mas era
o melhor juiz de pessoas que eu já conheci. Ele me disse que o necessário para crescer nas ruas de
San Francisco era antecipar o próximo movimento de uma pessoa, ou tornar-se sua vítima.
"Posso contar-lhe uma história sobre Kira?", perguntou.
"Claro", eu disse cautelosamente.
Harley assentiu. "Cerca de seis anos atrás eu estava num lugar muito ruim." Ele fez uma
pausa, olhando para Priscilla, que estava olhando para ele com simpatia e, em seguida, tomou-lhe a
mão. "Eu não conseguia descobrir como ficar sóbrio, tinha perdido tudo, alienado todos que se
importavam comigo. Eu planejei acabar com a minha vida. Tinha uma arma e tudo. Estava carregada,
pronto para ir."
"Jesus, Harley," eu murmurei. "Eu não sabia."
Ele assentiu. "É difícil admitir o quão baixo eu estava, o quão pouco eu valorizava minha
vida naquela época. Mas é a verdade da minha história. Eu fui para o centro de drop-in, para o que
eu pretendia que fosse a minha última refeição, e foi aí que eu conheci Kira. Ela era apenas
uma adolescente na época."
Uma adolescente. Os adolescentes não eram normalmente conhecidos por sua abnegação.
Mas Kira tinha sido gentil, mesmo então...
Concentrei-me no que estava dizendo Harley. "Ela me serviu um pouco de comida, sentou-
se comigo, e nós conversamos por um tempo. Ela tinha trazido este kit de mágica para entreter as
crianças, mas fez alguns truques para mim - completamente amador. Ela estava toda animada sobre
isso, porém, cheia de vida, sabe?" Sim, eu sei. "E foi a primeira vez que me lembrei de sorrir em um
longo tempo. Ela me disse que se eu voltasse no dia seguinte ela me mostraria como havia feito a
mágica. Bem, eu provavelmente teria sido capaz de entender o truque por conta própria, eles
não eram muito complicados. Mas só o fato de alguém me pedir para voltar, alguém que parecia
querer o suficiente para tentar subornar-me com as respostas de alguns truques bobos...", ele riu
suavemente, "bem, eu voltei no dia seguinte. E então ela fez algo mais para despertar o meu interesse.
E foi a primeira vez que eu percebi que tinha qualquer interesse. Uma coisa simples deu-me a
esperança que eu precisava. Então eu continuei voltando, e acho que poderia dizer que me distraí de
acabar com a minha vida. Essa é a verdade."
Deus, isso soou como Kira - soava exatamente como ela. Senti meu coração batendo no
meu peito, e o gelo que tinha começado a reconstruir em torno de meu coração começou a derreter.
Eu não conseguia decidir se estava furioso com isso ou não. Droga, bruxinha. Onde ela estava?
Harley continuou, "eu não estava pronto ainda para mudar minha vida, e cometi alguns
erros, e acabei cumprindo pena com você. Mas vou te dizer isso, com Deus de testemunha: se
não fosse por Kira salvar a minha vida, eu não teria sido salvo novamente por você e, em
seguida, feito o que podia para tornar o seu tempo lá dentro um pouco mais fácil. Engraçado como
isso funcionou, não é? Engraçado como uma vida pode afetar outra e, então, aquela vida afeta a
outra, e assim por diante."
"Engraçado", eu respirei. "Aleatório."
Harley piscou. "Se você é um crente em aleatório." Ele fez uma pausa, um sorriso
aparecendo, "bem, ouça, meu homem, teremos muito tempo para relembrar. Mas se eu vou estar no
meu melhor para trabalhar amanhã de manhã, é melhor eu ir para casa, para que eu possa descansar.
Além disso, Priscilla tem que trabalhar esta noite."
"Oh", disse Charlotte. "O que você faz, querida?"
"Eu sou uma dançarina exótica", disse ela, sorrindo.
"Oh, uma dançarina! Que formosa," Charlotte respondeu, trazendo as mãos juntas como se
Priscilla tivesse apenas dito que era a liderança na Broadway.
Limpei a garganta e sorri para Harley e Priscilla quando me levantei. "Eu não posso te
dizer o quão feliz estou que você me procurou. É bom te ver."
"Você também, irmão." Nós apertamos as mãos, batendo os punhos como se estivéssemos
na prisão. Charlotte deu a Harley e Priscilla um abraço e foi com eles até a porta. Depois que
eles saíram, mas antes que alguém tivesse uma chance de me procurar, eu peguei minhas chaves e
sai pela porta dos fundos, fazendo a volta pela frente e entrando no meu caminhão. Eu dirigi em
direção à cidade: eu tinha uma esposa para procurar, e algumas coisa para fazer.

"Oh, você está de volta", disse Charlotte, segurando o cesto de roupa do meu banheiro e
duas camisas que ela obviamente apenas passou ​a ferro. Eu estava olhando para fora da janela e mal
poupei-lhe um olhar. Eu tinha ignorado-a, também na semana passada, principalmente para a façanha
que ela tinha puxado em atrair Shane e Vanessa aqui sob falsas intenções e obrigando-me a lidar com
sua presença.
Eu tinha acabado de chegar em casa a partir da condução em torno de Napa procurando o
carro de Kira. A história de Harley me convenceu a ir à procura dela; mas talvez eu não deveria ter
procurado-a em tudo.
Ela disse que me queria. Calor do momento? Ou ela disse isso em um sentido puramente
físico? Ou ela mentiu? Ou... que importava o quê? Ela não estava aqui, e isso era a linha de fundo.
Ela me deixou.
Eu não quero você. Eu não quero você em tudo.
Se você valesse mais...
Talvez ela tivesse dirigido a San Francisco para ficar com Kimberly.
Ela disse em sua nota que estaria de volta para a festa, no entanto.
"Bem, quando você acabar de sentir pena de si mesmo, o jantar estará-" as palavras de
Charlotte terminaram abruptamente, e eu olhei para cima. Ela estava em pé na porta do armário,
tendo apenas guardado as camisas passadas. Ela se virou para mim bruscamente. "Então é assim que
você se vê? O vilão? Ou, espera, talvez a vítima? Capitão Gancho para o Peter Pan do seu irmão?
Isto é o que você escolheu?", Ela perguntou enquanto segurava a fantasia que eu tinha parado e
alugado depois de ser incapaz de encontrar Kira. Só havia uma descrição para o olhar em seu rosto –
total decepção.
"Como você teria me vestido, Charlotte?" Perguntei. "Um príncipe? É só uma festa
estúpida, de qualquer maneira. Não significa nada. E eu não sou nenhum príncipe."
"É uma festa que a sua esposa está oferecendo para você a partir da bondade em seu
coração."
Eu olhei para ela. "Minha esposa se foi. Ela me deixou. Ela só está voltando para a festa e,
em seguida, estará me deixando de novo -permanentemente. Assim como tínhamos planejado." Assim
como nós havíamos planejado.
Charlotte pareceu chocada por um breve momento, mas depois conhecidos
olhos percorreram meu rosto quando o silêncio se estabeleceu entre nós. "Só que não é
como você planejou, não é? Nada é como você planejou. O que te assusta muito, muito
mesmo." Charlotte se aproximou de mim e estendeu a mão. Eu peguei, e ela apertou a minha entre as
suas, o cheiro reconfortante dela - seus assados, produtos e talco – fazendo minha respiração
acalmar. "Ah, meu rapaz, você caiu muito difícil, não é?"
"Caído?" Eu levei minha mão de Charlotte. "Caído onde?"
Charlotte sorriu gentilmente para mim. "No amor, é claro. Com Kira. Com sua esposa."
Engoli pesadamente e me virei para a janela. "Eu não estou apaixonado por Kira," insisti.
Mas as palavras pareciam frágeis, como se ela não tivessem qualquer peso e pudessem simplesmente
flutuar.
Charlotte suspirou. "Pelo amor de todas as coisas sagradas, vocês dois são tão teimosos.
Vocês dois provavelmente merecem nada menos do que serem algemados um ao outro para a vida. É
uma maravilha ver que vocês juntos não me forçaram a beber."
Eu bufei. Eu não estava apaixonado pela bruxinha. Estava? Não, eu não poderia estar - as
minhas emoções por ela também eram muito turbulentas, muito fora de controle... aterrorizantes.
Talvez eu estivesse obcecado por ela, encantado, seduzido. Mas amor? Não, não amor. "Ela me deixa
louco", eu disse, voltando-me para Charlotte. "Quando estamos juntos, agimos como crianças fora de
controle metade do tempo." E as outras vezes como desesperados amantes, incapazes de manter
nossas mãos um do outro...
Charlotte fez um som de clique na parte de trás da boca e assentiu com a cabeça. "Devemos
todos ser crianças quando se trata de amor - abertos e vulneráveis." Ela fez uma pausa. "Eu não sei
tudo o que há para saber sobre o passado de Kira, mas eu sei que você tem um bom motivo para
proteger seu coração. E uma boa razão para querer escolher alguém que não inspire tanta paixão,
tal intensidade e tal medo. Mas, Gray, esses sentimentos significam que você a ama. E para aqueles
que foram feridos como você foi, e como eu suspeito que Kira foi também, o verdadeiro amor é uma
perspectiva assustadora. O verdadeiro amor é o maior salto de fé que existe."
Passei a mão pelo meu cabelo. Isso tudo era demais, e eu não sabia nem por onde
começar, em que me concentrar. Eu estava irritado com Kira, todo torcido dentro de um minuto,
querendo ela desesperadamente no próximo...
"Eu acho que um bom lugar para começar", disse Charlotte, como se estivesse lendo minha
mente, "é falar com seu irmão e Vanessa. E ouvi-los, não com a sua dor, mas com o coração." Ela
segurou minha mão novamente. "E ter isso em mente: o amor nem sempre é suave e fácil O amor
pode ser doloroso. Amar também é se expor - tudo de si mesmo, cada parte macia - para
ser magoado. Porque o amor verdadeiro não é apenas a flor, o amor verdadeiro também são os
espinhos."
"Certo", eu disse. "Afiado e doloroso."
A risada de Charlotte foi um tilintar quente, como sinos em uma catedral. Ela apertou
minha mão firmemente. "Afiado, sim, perfurante, sim. Mas não é sempre doloroso. Seja corajoso o
suficiente para não lutar contra isso. Rendição, meu rapaz. Deixe ir. Por apenas uma vez, tenha a
coragem de deixar ir."
Ela inclinou-se na ponta dos pés e beijou meu rosto, e eu me inclinei um pouco para deixá-
la. Então ela sorriu calorosamente, se virou e saiu do meu quarto.
O amor nem sempre é suave e fácil. Foi por isso que eu tinha escolhido Vanessa uma vez?
Porque meus sentimentos por ela eram mornos? Assim que eu levantei a questão para
mim mesmo, eu sabia no meu coração que a resposta era sim. Shane e eu tínhamos crescido com
Vanessa. Ela sempre foi uma amiga – linda e doce - e eu tinha notado a forma como Shane tinha
olhado para ela, e o modo que ela olhou para ele, esperando que ele fizesse um movimento. Nenhum
dos dois percebeu que o outro tinha sentimentos. Mas eu sabia, e eu pedi Vanessa em namoro mesmo
assim, sabendo que Shane daria um passo para trás por mim. Vergonha encheu meu coração, e
eu olhei para baixo.
Eu a queria porque eu me sentia perfeitamente no controle de meus sentimentos onde ela
estava em causa, e esse tipo de calma, a falta de risco, a ausência de espinhos, era algo que eu
ansiava após a profunda mágoa que tinha experimentado ao crescer. Depois que a
humilhante ganância para o amor nunca mais voltou, restou o isolamento da esperança em prol
da alegria. Eu não queria entender mais nada. Eu não me importava de esperar por mais tempo. Doeu
demais. E então eu escolhi alguém que não inspirava nada em mim. Vanessa tinha sido doce demais
para dizer não. E, em algum lugar lá dentro, eu senti uma certa satisfação de tomar algo que eu sabia
que pertencia a Shane por direito. Eu já tinha perdido toda a minha vida certificando-me que ele
nunca sofresse da maneira que eu tinha. Eu merecia passo à frente dele onde Vanessa estivesse em
causa. Jesus. Ele era meu irmão e eu o traí - mesmo que ele não soubesse disso. E eu não tinha
pensado nela também. Será que meus sentimentos mornos seriam suficientes para ela a longo prazo?
Claro que não. Eu tinha estado vagando em um estado permanente de distanciamento frio, e só Kira
tinha sido capaz de acenar-me com seu calor e exuberância. Vanessa e eu nunca faríamos um ao outro
feliz. Tinha dito a mim mesmo que nunca houve necessidade de confiar meus segredos para ela,
porque ela conhecia minha dinâmica familiar, mas a verdade era que eu não queria. Eu
nunca quis compartilhar tudo de mim com ela. E se eu tivesse amado-a tinha sido apenas como
uma... amiga.
Ela me disse que queria guardar-se para o casamento, e depois de todas as mulheres que
eu já tinha tido pelo tempo que nós começamos a namorar, pareceu-me certo. Que eu deveria esperar
por minha esposa. Provavelmente ela estaria se guardando para Shane mais do que para o
casamento – tenha ela percebido isso naquele momento ou não.
Mas agora... graças a Deus eu nunca tinha feito amor com a mulher do meu irmão. As
coisas que tínhamos feito, de repente, sentiram-se incestuosas e cem por cento pouco atraentes.
Eu tinha ido para a prisão, e eles de alguma forma encontraram seu caminho um para o
outro. E tudo que eu senti foi um oco sentido de traição. Principalmente estive de luto pela perda de
uma das poucas pessoas que sempre esteve do meu lado: meu irmão mais novo. Desde então, eu não
tinha me permitido sentir qualquer coisa. E então veio Kira, que agitou cada emoção dentro de mim
e obrigou-me a reconhecer as necessidades guardadas lá dentro. Ela me manteve
em um constante estado de antecipação, e eu esqueci-me principalmente de como preservar minha
indiferença. E então, logo que comecei a construir as paredes frias dentro de mim de novo, ela as
derreteu com o seu calor e vitalidade. Cada. Maldita. Vez.
Kira, que nunca fez nada em meias medidas.
Kira, que tinha sofrido tanto ou até mais do que eu tinha.
E, de repente, senti-me ainda menor, porque vi tão claramente que, apesar das
semelhanças das nossas histórias, e apesar do fato de que ela tinha sido severamente prejudicada,
Kira tinha escolhido enfrentar o mundo com esperança e otimismo, e uma bondade perto de
deslumbrante. E eu? Eu tinha me retirado e cercado-me com frieza, focado apenas em meus desejos
egoístas. Ao contrário da minha esposa, eu tinha sido um covarde.
Mas eu desejava ser melhor. Eu desejava ser digno dela. E eu a queria. Mas não
apenas seu corpo.
Deus me ajude, eu queria seu corpo, sim, mas eu queria muito mais do que isso também. Eu
queria sua aprovação, para ouvir sua opinião, conhecer seus segredos. E eu queria continuar a
contar-lhe os meus.
Sentei-me fortemente na minha cama. Eu a amava. Linda, encantandora Kira, com seus
cabelos de fogo e olhos verdes. Kira, que me trouxe de volta à vida. Kira, com sua combinação
de rebeldia feroz e vulnerabilidade profunda. Kira. Minha esposa.
Um pequeno arranhão veio à minha porta, que abriu-se quando Sugie empurrou-
a com seu nariz, trotando para mim. Ela ficou encantada com um som muito suave e, em vez de
abaixar a cabeça desconfigurada, ela colocou-a no meu joelho, olhando para mim com seus
olhos profundos. Eu cocei sua orelha. "Você é uma boa menina, Sug", eu disse, agradecendo-
lhe por encontrar sua voz e ter coragem suficiente para usá-la. "Quando caí no amor por ela?" Eu
perguntei ao cão que minha esposa tinha me presenteado, coçando a outra orelha.
Sugie não ofereceu nenhuma resposta além de uma pequena lamentação satisfeita.
Quando isso aconteceu? A primeira
vez que ela me chamou de dragão? Foram aqueles ratos estúpidos com nomes que começavam com
‘o’? A primeira vez que eu a tinha beijado? Quando assisti ela brincando com as crianças no centro
de drop-in, seu cabelo voando descontroladamente em torno de seu rosto, seu aberto
e amoroso espírito inconfundível, mesmo que ela tinha todo o direito de ser infeliz após a crueldade
de seu pai na noite anterior? Quando eu tinha caído de amor por ela, sem nem mesmo perceber?
Oh Deus, eu fiz – eu a amava. E queria o seu amor. Ansiava por isso. Era uma dor profunda
no meu coração. E aterrorizava-me querer assim. Eu não sabia como sentir as emoções que eu
estava sentindo. E de repente reconheci que sabia menos ainda como expô-los à sua rejeição.
Rendição, meu rapaz. Deixe ir.
Por apenas uma vez, tenha a coragem de deixar ir.
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos, sem saber se seria capaz, sem saber se
poderia ser tão corajoso.
Capítulo Dezenove

Kira
O Beazley House era uma mansão de 1902 que havia se transformado em um charmoso bed
and breakfast há apenas uma curta caminhada do centro da cidade ribeirinha. É onde eu estava
hospedada por quase uma semana agora, enquanto simultaneamente lambia minhas feridas e
completava a minha parte da lista para a festa em Hawthorn Vineyard. Eu tinha estado em contato
com Charlotte através de texto, que era como eu sabia que tudo ia bem com os projetos dentro e fora
da casa. Charlotte tinha se oferecido repetidamente para vir me visitar, mas eu declinei. Apreciei
isso, mas não havia nada que alguém pudesse fazer por mim. E isso só iria me prejudicar mais no
final, se eu continuasse a me aproximar das pessoas que eram a família de Grayson... e não a minha.
Eu tive que começar a afastar-me, para não estar ainda mais devastada no final do que eu já sabia
que era finito.
Grayson não tinha sequer me mandado uma mensagem, muito menos tentou me ligar.
Que confusão tornou-se o meu projeto mais recente. Mas eu tive que me consolar com o
conhecimento que o objetivo final, na verdade, havia sido cumprido. Eu era independente
financeiramente, na posse da liberdade que eu tinha procurado, e quanto ao Grayson, sua
vinha estava no caminho de volta a ser operacional e, com sorte, muito bem sucedida.
E agora aqui estava eu, dando os últimos retoques no meu traje para a festa de hoje à noite.
Eu compareceria como tinha prometido, me certificaria que tudo corresse bem e
garantiria que Grayson e eu parecêssemos um casal exemplar. E então eu imediatamente sairia da
cidade. Não poderia voltar ao Beazley House sem parecer estranho. Eu tinha feito amizade com os
proprietários, e eles pensaram que eu estava hospedada aqui por causa de todo o trabalho que estava
sendo feito na vinha. Eu queixei-me que o pó de construção agitava minha asma. Eu não seria capaz
de ficar em ou perto de Napa, afinal. Se alguém na cidade descobrisse que não éramos de fato um
casal feliz, eles se sentiriam enganados, e a ideia da festa – para melhorar a percepção das pessoas
de Grayson - seria em vão. Eu pediria a Grayson se eu poderia passar uma última noite na minha
pequena casa de campo, e em seguida pediria a Walter para me dar uma carona para recolher meu
carro, e sairia de manhã.
Meu coração afundou e eu limpei uma lágrima antes dela cair do meu rosto. Eu tinha
chorado o suficiente esta semana. E eu não tinha tempo para lágrimas agora, para não mencionar que
tinha gastado quase uma hora na minha maquiagem.
E então, eu endireitei meus ombros e escorreguei em meus sapatos. Meu celular tocou, e a
carona de hoje à noite tinha chegado.
Eu dei um último olhar no espelho, peguei minha mala e saí do meu quarto. Ouvi a equipe
na cozinha à esquerda da entrada preparando o jantar, mas não havia ninguém por perto. Eu já
tinha pago minha conta e veria os proprietários na festa - eles haviam sido convidados.
O carro estava esperando em frente da casa, e o motorista me olhou com os olhos
arregalados quando eu desci as escadas. "Uau", disse ele, "essa é simplesmente A fantasia." Ele
pegou minha mala e abriu a porta, oferecendo-me sua mão, mas seus olhos se moviam sobre
mim com apreciação.
Eu sorri. "Obrigada", eu disse, entrando no carro e recolhendo o meu vestido
longo e extravagante para organizá-lo da melhor forma que podia para ele não me engolir. Este
vestido era o principal motivo pelo qual eu não estava dirigindo. Eu nunca iria caber atrás de um
volante. O vestido era uma confecção de preto e um fundo de cetim verde e tule, a
saia aumentada por três aros. Era sem alças e tinha um espartilho construído que fazia minha cintura
parecer minúscula. Eu tinha adicionado como acessório luvas longas, pretas e puras, jóias
negras enroladas em volta do meu pescoço, e um chapéu de bruxa de abas largas, que completou
o personagem. Deixei meu cabelo longo solto, e o fiz ainda mais selvagem do
que normalmente era com a ajuda de um ferro de frisar. Eu estava usando um brilhante batom
vermelho, e meus olhos foram margeados de preto. Minha máscara também era preta, e cobria apenas
meus olhos, deixando meu olhar ainda mais parecido com o de um gato.
Eu tinha considerado uma série de figurinos mas, no final, este foi o único no qual me senti
bem. Eu teria Grayson sabendo como cheguei a ele: sua bruxinha. Não, eu pensei cabisbaixa, não
dele. Nunca dele. Desespero rodou na minha barriga com o conhecimento de que esta seria a última
noite que eu gastaria tempo em Hawthorn Vineyard. Talvez este traje fosse apenas a minha maneira
patética de reconhecer em particular o meu amor por ele. Eu queria que ele me aceitasse como eu
era. Tudo de mim. Em vez disso, Grayson queria meu corpo e nada mais. Que idiota você é, Kira.
Uma tola desesperada e estúpida. Eu nunca seria o suficiente aos seus olhos, assim como eu nunca
tinha sido suficiente aos olhos do meu pai, ou mesmo de Cooper. Eu precisava ser
suficiente aos meus próprios olhos, e, por enquanto, isso teria que servir.
O carro parecia levar apenas alguns momentos, e eu me forcei a respirar profundamente.
Graças a Deus eu estava usando luvas. Eu tinha certeza que minhas mãos estavam frias e úmidas.
Meu carro puxou para uma parada, e quando o motorista abriu a porta e eu tomei sua mão e
saí, prendi minha respiração, meu coração mergulhando em meu estômago
e depois subindo novamente.
A fonte foi preenchida com água, que espirrava suavemente em cascata a partir da camada
superior até a piscina cintilante abaixo. Os rosas e roxos com a aproximação do crepúsculo
enchiam o céu e compensavam as luzes douradas da casa totalmente iluminada. A hera foi aparada, as
caixas de janela em cada varanda preenchidas com vegetação exuberante e brancas cascatas
de petúnias. O perfume de rosas, que agora eu reconhecia como flores de espinheiro-alvar, flutuou na
brisa, agora farfalhando paisagísticas folhagens. Virei-me lentamente em um círculo
completo, vendo tudo, e notei o brilho das luzes brilhantes que enchiam as árvores que antecediam a
entrada de automóveis, adicionando magia ao ambiente. Era gloriosamente bonito,
cativante - o cenário perfeito para um conto de fadas.
Como eu queria que fosse o meu.
Sustentando uma respiração profunda eu endireitei meus ombros e acenei com a cabeça
uma vez para o motorista, que me entregou minha mala e acenou de volta.
Os únicos veículos na garagem eram uma van auto-suficiente e outros dois carros que
provavelmente pertenciam aos músicos que eu contratei; o que significava que eu tinha chegado no
tempo perfeito para cumprimentar os primeiros convidados. Eu iria cumprimentá-los com Grayson
ao meu lado. Por apenas um momento o pânico ameaçou quebrar minha compostura, mas eu respirei
fundo e trouxe meu queixo para cima, sussurrando uma oração silenciosa à minha avó, pedindo-lhe
para me enviar força. Então eu relaxei meus ombros, tranquilizando-me.
Você pode fazer isso, uma última coisa.
Eu balancei a cabeça em saudação aos dois manobristas vestidos com calças pretas,
camisas brancas e coletes vermelhos que ficaram ao lado, esperando os primeiros carros chegarem.
Eles acenaram de volta. Toquei a campainha, embora eu tivesse me acostumado a entrar direto desde
que Grayson e eu tínhamos nos casado. Walter abriu-a, arregalando os olhos antes que
eles dobrassem ​muito ligeiramente nos cantos. Eu pisquei. Eu apenas recebi meu primeiro semi-
sorriso de Walter? Eu sorri para ele quando ele pegou minha mão na sua e inclinou a cabeça. "Sra
Hawthorn."
"Walter..." Eu parei, prestes a dizer-lhe para me chamar de Kira pela centésima vez,
quando minha voz prendeu na minha garganta ao perceber o vestíbulo e a sala de estar esvaziados até
o outro lado. Pus minha mala para baixo, assim Walter poderia armazená-la em algum lugar, meus
olhos arregalados. O molde de madeira brilhou a um elevado requinte, os lustres brilhavam
intensamente e os últimos vestígios de luz do dia entravam pelas janelas, criando fragmentos de
prismas nas paredes. Vasos altos de rosas, lírios e folhagens estavam expostos em cada
superfície, perfumando as salas com sua doçura inebriante. Enquanto eu vagava pela sala, vi o
pequeno quarteto de cordas que havia se instalado em um canto, e um bar totalmente
abastecido que estava no canto oposto. O mobiliário tinha sido organizado para fornecer assento
amplo, mas também muito espaço para se misturar e até mesmo dançar lentamente ao som
da orquestra, caso os hóspedes desejassem.
Caminhando para a janela, olhei para a água clara e limpa da piscina abaixo, onde uma
pequena banda iria começar a tocar após a hora do coquetel.
Pequenas e íntimas mesas foram espalhadas no pátio, e velas maravilhosamente posicionadas
incendiavam toda a cena com uma aura romântica.
Voltando-me para enfrentar a sala, eu fiquei em silêncio por um momento, um sentimento de
alegria misturado com tristeza se espalhando através de meu corpo. Eu amava este lugar
profundamente. E eu estava saindo. Olhei para baixo, desespero fazendo-me sentir fraca.
Eu senti o peso do olhar de alguém, e levantei meus olhos. Grayson estava do outro lado da
sala. E quando aquela boca bem sensual se curvou em um sorriso eu respirei fundo, reparando em seu
traje.
O prazer que senti foi súbito e feroz, e eu trouxe minhas mãos enluvadas à minha boca,
dobrando-me para frente quando ri alegremente. Alegria, esperança, felicidade, surpresa e tristeza e
uma centena de outras emoções bateram em mim. Dei um passo em direção a ele no mesmo momento
em que ele começou a andar para onde eu estava. Ele fez isso por mim?
Ele estava vestindo um smoking preto. A máscara que ele usava cobria apenas o
topo de metade de seu rosto, feita para parecer escamas de dragão em furta-cor azul, verde
e preto, curvando-se em torno de seus olhos e pelos lados de sua cabeça. Havia pequenos chifres na
parte superior, e fios de brilhante vermelho e laranja atravessando-a para funcionar como fogo.
Ele estava vestido como um dragão.
Ele fez uma pausa e virou um pouco para mostrar-me as asas anexadas à sua volta –
pretas, com as mesmas escalas de azul esverdeado e fios de fogo. Seu sorriso cresceu quando ele se
virou para mim novamente e nos encontramos no meio da sala, apressando-nos juntos e parando de
repente quando estávamos a algumas polegadas de distancia.
Nós ficamos olhando um para o outro por vários segundos antes dele dizer, "Oi, bruxinha."
A voz dele soou crua, e eu olhei em seus olhos através dos furos na máscara, jurando que vi saudade.
"Você está deslumbrante."
"Oi, dragão," eu respirei, perguntas rodando pela minha cabeça. Ele estava diabolicamente
lindo quando sorriu novamente para mim, e meu coração capotou uma vez e depois duas vezes dentro
do meu peito. "Assim como você. Eu não acredito que você fez isso." Eu balancei a cabeça para sua
máscara, sorrindo novamente.
"Oh, eu fiz", ele me assegurou. Seu sorriso desapareceu quando ele deu um passo para
frente. "Senti sua falta."
"Você fez?" Eu sussurrei, dando um passo para frente também.
Ele deu um passo mais perto. "Sim, Deus sim. Kira, esta semana... Eu tenho tanto para te
dizer. Temos, então, muito o que falar. Espero-"
"Vamos conversar?" Eu perguntei, minhas palavras colidindo com as suas, a esperança
florescendo dentro de mim novamente.
"Sim."
Eu olhei para baixo. "Você nem me ligou", eu disse, tentando manter a dor longe da minha
voz. "Eu pensei-"
"Charlotte tentou descobrir onde você estava."
Eu pisquei. "Eu não sabia que ela estava pedindo para você. Por que não me perguntou
você mesmo?"
"Eu pensei que depois... bem, eu queria te mostrar, ao invés de dizer, e então
eu achei melhor esperar por esta noite", disse ele, uma borda gutural em sua voz. "Eu precisava olhar
nos seus olhos. Kira -"
"Eu -"
"Kira!" Ouvi o cantar alto da porta. Charlotte veio correndo em nossa direção,
vestida como uma fada madrinha. Eu ri alegremente, virando-me para ela, e a deixei fazer
sua varredura em seu quente abraço. "Oh, eu não quero esmagar você. Deixe-me olhar para você."
Ela me virou para um lado e depois para o outro. "Perfeito, simplesmente perfeito."
"Você, também, Charlotte," eu disse. "Você devia usar isso o tempo todo."
Sua expressão suavizou quando ela disse: "Minha querida menina, você sabe o quanto
eu me afeiçoei a você, certo?"
"Sim", eu disse, abraçando-a novamente. E eu sabia. Apesar das razões pelas quais ela
trouxe Shane e Vanessa aqui - e de repente eu estava começando a acreditar que suas razões eram
mais profundas do que eu sabia - eu não duvidei da pureza de seus motivos, ou que ela gostava de
mim. Eu sentia isso no meu coração.
Segundos depois Vanessa e Shane entraram na sala. Vanessa estava vestida como a mais
perfeita Tinkerbell que eu já vi, e Shane estava usando um smoking com uma máscara verde e o
chapéu de Peter Pan, uma espada amarrada à seu lado. Senti um aumento de calor em minhas
bochechas com o pensamento da última vez que os tinha visto, mas quando eles sorriram para mim, e
porque Vanessa me abraçou calorosamente, eu relaxei, e senti uma medida de alívio. Eu olhei para
Grayson, cuja expressão parecia calma.
Quando Vanessa e Shane foram obter uma bebida no bar, eu me virei para Grayson, vendo
calor e uma paz em seus olhos que eu nunca vislumbrara antes. "Você fez as pazes com eles", eu
disse, incrédula.
Ele assentiu. "Sim. Havia um monte de desculpas para todos. E eu expliquei... tudo sobre
nós. Eu disse que tinha muito a te contar."
Eu abri minha boca para falar, querendo muito ouvir exatamente o que ele disse a Vanessa
e Shane, mas a campainha tocou. O quarteto de cordas iniciou, cantando a melodia de "I See The
Light" conforme a equipe da comida vinha da cozinha segurando deliciosos e cheiroros canapés
em bandejas de prata.
As próximas duas horas foram um turbilhão de cumprimentos e conversas com os clientes,
certificando-me que todos estavam confortáveis e se divertindo, e garantindo que a festa tivesse um
início perfeito.
Os figurinos eram maravilhosos, alguns não mais do que belas máscaras combinando com
o tema da noite, e outros criações inteiras, da cabeça aos pés. Eu ainda não podia
acreditar em Grayson vestido como um dragão.
Uma vez que tive um momento para fazer uma pausa, tomei uma taça de champanhe de uma
bandeja que passava e fiquei para trás para admirar todo o trabalho duro que eu tinha tido. Toda a
gente parecia que estava tendo um grande tempo, e se o olhar admirado no rosto de todos
eles fosse qualquer indicação, Hawthorn Vineyard tinha impressionado-os. Esperemos que eles
espalhem a palavra na cidade: que Grayson foi acolhedor e hospitaleiro, e que sua
casa era maravilhosamente convidativa. Este lugar não estava em ruínas como a fofoca indicava.
Pelo contrário, sua casa enviava a mensagem que lá estavam todas as razões para acreditar no
próprio vinhedo que estava em ascensão sob a gestão de Grayson. Quem não gosta de um bom
retorno da história? Quem não gostaria de ser parte de uma? Esta era a minha esperança, e o
motivo da festa.
Procurei em volta por Grayson e vi-o entre um grupo de convidados, um dos quais eu
reconheci como Diane Fernsby. Eles estavam rindo, obviamente entretidos por algo que ele estava
dizendo-lhes. Ele olhou para cima e chamou minha atenção, sorrindo para mim. Foi a expressão em
seus olhos que fez minha respiração falhar, no entanto. Aquele sorriso. Seria a minha ruína.
Minha atenção foi roubada por Harley, vestido como A Fera, e Priscila, vestida como
uma versão punk da Bela. Abracei os dois, o prazer de vê-los. Harley tinha começado a trabalhar
no vinhedo, o que era maravilhoso. Apesar de suas cicatrizes internas e externas, ele era um homem
tão bom e amável.
Eu estava tão feliz que Grayson tinha alguém como ele. Passei alguns minutos conversando
com eles para conhecer Priscilla melhor e, em seguida, afastei-me para me misturar com os outros
convidados.
Cumprimentei Virgil, vestido como um grande Aladdin, e conversei com José e sua
esposa - vestidos como Lobo e Chapeuzinho Vermelho - por um curto período antes de dispensar-
me para verificar se tudo estava indo bem lá fora.
O pátio externo foi inundado com o brilho da luz de velas, os hóspedes de moagem em
torno da piscina, os sons de risadas confundindo-se com o som da banda apenas começando uma
nova canção. Fiquei ali por um momento, apenas observando. Não tinha havido outro momento para
falar mais com Grayson, e eu estava cheia do desejo para fazê-lo sozinhos. A noite tinha sido um
turbilhão até o momento, no entanto, e apesar da minha impaciência, eu estava muito satisfeita com a
forma como a festa estava indo.
"Posso ter esta dança?"
Eu me virei com a sensação de um corpo quente atrás de mim, o sussurro
de uma respiração no meu ombro nu. Um belo dragão estava sorrindo para mim, sua mão se
aproximando para tomar a minha. "Eu apenas percebi que não tinha dançado com a minha esposa
ainda... ou nunca, para ser exato." Deixei escapar uma pequena risada, e peguei a mão dele quando
ele me levou para o meio da pista de dança. Eu reconheci a música do filme "Encantada", embora eu
não pudesse lembrar do nome.
"Eu não sabia que dragões podiam dançar."
Ele puxou-me em seus braços e começou a liderar. Inclinando-se perto da minha orelha, ele
sussurrou: "Oh sim. As pessoas assumem que somos complicados, mas não é verdade. É um
fato pouco conhecido, mas dançar com um dragão é como dançar com um relâmpago." E então ele me
virou. Meu coração pulou e eu ri alto, meu cabelo voando atrás de mim. Ele me girou para o outro
lado enquanto sorria para mim, e tão bobo como poderia ter soado, eu me senti como se
estivesse brilhando.
Nós desaceleramos em seguida; eu estava perdida na música e na influência de seu corpo
contra o meu. Eu queria perguntar-lhe tantas coisas, necessitava ouvi-lo dizer as palavras que eu
pensei ver refletidas em seus olhos, mas para isso eu precisava ficar sozinha com ele. Eu precisava
de um momento apenas para nós. Eu ainda estava nervosa e lutando com a rapidez com que as coisas
tinham mudado - eu estava preparada para dizer adeus a ele esta noite, e agora... agora havia um
sussurro de esperança, mesmo que eu quase tivesse medo de sonhar.
A música terminou e eu me afastei lentamente, incapaz de tirar os olhos de meu marido
enquanto ele olhava para mim também, algo em sua expressão que eu nunca tinha visto antes. Ele
estendeu a mão como se fosse tocar minha bochecha quando de repente ouvimos aplausos. Olhei em
volta e vi que éramos os únicos na pista de dança, e que os convidados estavam batendo palmas
como se tivéssemos acabado de nos apresentar para eles. Eu ri, calor subindo no meu rosto enquanto
eu fazia uma pequena reverência. Grayson se curvou, parecendo um pouco envergonhado também.
Uma mulher se aproximou de nós, andando com um leve mancar, um sorriso amável em seu
rosto. "Isso foi adorável", disse ela, estendendo sua mão. Peguei na minha própria. "Eu sou a mãe de
Virgil, Trudy Potter."
"Oh!" Eu disse, "tão bom conhecer você. Virgil se tornou parte da família aqui."
Ela soltou um suspiro, parecendo chorosa quando apertou a mão de Grayson. "Eu não
vou demorar, mas eu," ela respirou bruscamente, como se tentando não chorar, "só queria agradecer a
você, Sr. Hawthorn." Suas palavras terminaram num sussurro.
"Não tem porque agradecer", Grayson disse suavemente. Ela assentiu com a cabeça e se
virou, desaparecendo na multidão.
"Eu só lhe dei um emprego", ele murmurou.
"Suponho", eu disse, "mas acho que para ela isso é um somente muito grande."
Eu olhei para ele. Seu olhar apreciativo pegou o meu, e ele soltou um suspiro suave. De
repente, fora à minha direita, ouvi o aplauso suave de uma pessoa singular se aproximando de nós, e
virei-me, sorrindo, para ver meu pai. Meu sorriso desapareceu e meu coração gaguejou em meu peito
enquanto Grayson agarrava minha mão.
"Olá, Kira," meu pai disse.
Eu olhei para ele com cautela, olhando em volta rapidamente para garantir que ninguém nas
proximidades poderia nos ouvir. Ele estava em pé na sombra, e aparentemente ninguém o havia
reconhecido até o momento. Isso era peculiar para o meu pai, eu supunha: estar em uma festa que eu
estava oferecendo, mas que certamente não queria que ele ficasse. "O que diabos você está fazendo
aqui?" Eu assobiei.
"Eu pretendia visitá-la em sua nova casa. Desculpe a intromissão. Eu não tinha ideia de
que estaria interrompendo uma festa, mas eu não gosto da maneira como nós terminamos as coisas em
San Francisco. Eu queria aprender um pouco mais sobre o homem com quem se casou." De repente
ele olhou para Grayson. "Parece que você é mais do que Kira levou-me a acreditar", disse ele. "É
claro que qualquer pai ficaria preocupado com sua filha, sob estas circunstâncias."
"Podemos discutir isso em algum lugar mais privado?" Grayson perguntou, dando um
passo à frente, a mandíbula dura, as palavras recortadas. "Este não é o lugar." Ele acenou para as
pessoas ao redor bebendo champanhe, rindo e começando a encher a pista de dança atrás de nós.
Meu pai estreitou os olhos, mas assentiu com a cabeça uma vez, e Grayson não largou a
minha mão enquanto guiou o caminho para seu escritório. Quando ele fechou a porta atrás de nós, seu
tom era ártico quando ele disse, "Deixe-me dar-lhe um conselho - não apenas apareça em nossa
casa."
Meu pai se virou para ele, seus olhos igualmente frios. "Você vai entender, é claro, se
eu optar por não tomar qualquer conselho de um assassino." Ele falou por entre os dentes, os lábios
mal se movendo.
Grayson olhou para ele sem emoção alguma em suas feições.
"O que você quer?" Perguntei desanimada. Esta noite tinha sido tão cheia de magia antes
que ele tivesse se mostrado. O desespero fez meu coração afundar.
Ele olhou para trás e para frente entre nós dois, olhando para nossas
fantasias, e obviamente escolhendo não fazer comentários. "Você e eu não temos nos visto sempre
olho no olho, Kira. Mas claramente eu não quero minha filha casada com um assassino e um ex-
condenado", disse ele.
"Não", eu respondi. "Você não sabe nada sobre quem ele é." Náuseas pressionaram contra
o meu estômago, e eu trouxe a minha mão ali, como se para segurá-la de volta.
"Kira", disse Grayson, um tom de advertência em sua voz, sua expressão imutável. "Você
não precisa lutar minhas batalhas. Deixe-me falar com seu pai em paz, por favor."
Eu agarrei o braço dele. "Grayson, você não sabe o que ele é -"
"Eu acho que é uma boa idéia", disse meu pai. O sorriso que ele atirou em minha direção
parecia tão frágil quanto sua campanha.
Grayson fez contato visual comigo. "Eu posso cuidar disso, bruxinha." Sua voz tornou-se
macia. "Volte para a festa, por favor."
Soltei um suspiro frustrado, olhando para o meu pai por um momento e depois encontrando
os olhos de Grayson novamente. Meu coração caiu, uma sensação de medo fixando-se no meu
estômago. O que ia acontecer agora?
"Bem." Eu concordei, não sabendo mais o que fazer. Saí da sala, segurando minhas mãos
em punhos para manter a agitação ao mínimo.

A lua lançava um brilho dourado de cima, e os dedos de penas da névoa cercava meus pés
abaixo.
Sentei-me no banco ao lado do labirinto, aquele que eu tinha sentado com
Shane. Parecia que tinha sido há muito tempo, mas na realidade tinha sido apenas há uma semana.
Tirei minhas luvas e, em seguida, os pinos que prendiam meu chapéu, e deixei-os no banco ao meu
lado, usando os dedos para levantar meu cabelo do meu couro cabeludo.
O medo que eu senti no escritório de Grayson havia se estabelecido em um nódulo
solitário e frio. Eu mal podia tentar nomear as muitas preocupações que rodavam em meu intestino
com o pensamento de meu pai e Grayson conversando sozinhos. Por que meu pai estava aqui, e o que
ele poderia querer? O que ele sabia? Isto não soava como se ele tivesse se lembrado de Grayson... O
que ele tentaria controlar agora? Eu nunca ficaria livre dele?
Quando ouvi passos se aproximando eu fiquei de pé, virando a tempo de ver Grayson
aparecer em torno da curva no caminho. Ele tirou a máscara. Deixei escapar um suspiro, sentindo um
surto de pânico.
"O que aconteceu?" Perguntei. Ele me deu um pequeno sorriso.
"Seu pai me ofereceu todo um inferno de um monte de dinheiro para me afastar de você
permanentemente, ainda mais do que sua avó deixou de herança."
O caroço anteriormente na minha garganta caiu para o meu estômago. Eu exalei uma
respiração afiada e virei-me à distância, passando os braços em volta de mim. Bem, a boa
notícia era que ele evidentemente acreditava que nosso casamento era real. "Será que ele já foi?"
"Sim."
"Você deve aceitar," eu disse. "Estamos nos divorciando, de qualquer maneira. Ele não tem
que saber que já era planejado." Eu tentei parecer sincera. Só esperava que a negligência em minha
voz não me traísse inteiramente.
"Você está tremendo", disse ele.
"Estou?" Eu esfreguei minhas mãos pelos meus braços. "Está um pouco frio, eu acho..."
Suas mãos substituíram as minhas, esfregando meus braços nus. Elas eram quentes e
sólidas sobre a minha pele.
"Kira", sussurrou Grayson. "Você não tem que se preocupar mais com ele. Eu sou o seu
marido - é meu trabalho cuidar de você agora. Eu não quero seu dinheiro. Falei isso para ele. E
eu também não quero ir embora. Eu estava esperando que você entendesse isso esta noite."
"Você... Você não?" Eu encontrei a minha voz e me virei para ele.
Ele alisou uma mecha de cabelo para trás do meu ombro. "Não, doce e bela bruxa. Eu
não quero. Eu percebi que poderia ser difícil de levar a sério um homem que está vestido em um
traje de dragão, mas..."
Eu ri baixinho. "Essa é a razão pela qual eu vou te levar a sério."
Ele sorriu. "Bom, porque eu estava esperando... Bem, eu estava esperando que pudéssemos
dar a esse casamento uma tentativa real. Eu estava esperando que você concordasse em ser
minha... de verdade. Minha esposa, minha amante, minha amiga."
Vulnerabilidade estava gravada no conjunto esperançoso de suas características, naqueles
profundos olhos escuros, e meu coração pulou com alegria.
"Fazer o nosso casamento verdadeiro?" Eu respirei.
"Sim."
Eu queria, também, tanto que quase não me atrevi a ter esperança. Mas ainda havia muito
para resolver entre nós...
"E quanto a Vanessa?" Eu perguntei, olhando para baixo.
Ele exalou um suspiro. "Eu nunca amei Vanessa, Kira. Ou se o fiz, não era o tipo certo de
amor. Eu sei agora. Vanessa sempre foi de Shane. Eu sei, porque agora eu entendo o que se sente
quando uma mulher é para um homem, a forma como você está destinada à mim."
"Gray", murmurei, inclinando-me em sua mão quando ele escovou-a ao longo da minha
bochecha.
"Nós todos conversamos esta semana. Vanessa e eu nunca estivemos destinados
a nos casar. Éramos amigos. E, Kira? Nós nunca... bem, nós nunca dormimos juntos também.
Eu... sabia. Eu sabia que não a amava, e que ela não me amava." Deixei escapar uma respiração
profunda. Ouvir aquelas palavras só me trouxe paz. Ele sorriu então. Lindo dragão. "Eu disse a eles
sobre nós. Contei-lhes que eu iria tentar convencê-la a me dar um chance. É como se um peso tivesse
sido tirado de todos os nossos ombros. E eu tenho o meu irmão de volta."
Eu estudei seu rosto, compreendendo a paz em seus olhos.
"Eu sinto muito por esse anel estúpido. Eu..." Ele franziu os lábios, como se escolhendo as
palavras. "Eu não quis te machucar. Eu simplesmente não pensei nisso, e quando encontrei esse
anel achei que serviria bem o suficiente como um suporte. Sinto muito, isso é o que era na época. Se
eu estivesse escolhendo jóias para você, eu escolheria algo inteiramente diferente... esmeraldas para
seus olhos, talvez", ele terminou em um sussurro. "Nada incolor como diamantes ou opalas. Não para
você."
Eu senti como se estivesse em um sonho. Mas eu havia passado uma semana afastando-
me disso, tão cheia de medo da rejeição e de instinto de fuga. "Isto funcionará? Já fizemos tudo isso
para trás. Eu sou sua esposa."
Ele deu uma risadinha. "Sim, você é. Minha esposa encantadora." Seus olhos percorriam
meu rosto quando sua expressão tornou-se séria, cheia de necessidade. "Apenas me diga que você me
quer também, Kira."
Meu coração acelerou. Ele me perguntou duas vezes antes se eu o queria. A primeira vez,
em minha mágoa e confusão, eu disse que não. Na segunda vez eu disse que sim, mas depois o tinha
deixado. Mas agora eu via o que ele estava realmente perguntando. Além de Charlotte e Walter, que
haviam preenchido tantos buracos quanto possíveis em sua vida, ele nunca se sentiu realmente
querido por qualquer pessoa. Ele tinha sido necessário para seu irmão, mas rejeitado por
todos as outras pessoas que contavam. Sim, eu o queria. Eu queria que ele soubesse que era digno de
ser amado. Eu estava pronta para dar-lhe a minha confiança novamente, embora? E ele estava
disposto a me dar a sua?
"Eu quero, Grayson. Eu quero você. Nós apenas... Em alguns aspectos sabemos tão pouco
sobre o outro."
"Eu sei o que preciso saber, e o resto vamos aprender."
Eu sorri. Ele pegou minha mão e começamos a caminhar ao longo do caminho em direção à
frente do labirinto, os sons da festa à deriva na fraca brisa noturna. "Qual é o seu nome do meio?" ele
perguntou.
Eu ri baixinho. "Isabelle, como minha avó. Qual é o seu?"
"Eu não tenho um."
Virei-me para ele. "Sem nome do meio? Não parece certo que
alguém não tenha um nome do meio ".
Ele deu de ombros e sorriu, seus lábios curvando-se em um sorriso suave e vulnerável.
"Não, acho que não."
Eu deixei meus olhos bebe-lo. Ali mesmo, sob as estrelas, eu o vi tão claramente. Não
apenas a sua impressionante beleza masculina, mas tudo dele: sua inteligência, sua lealdade e
natureza protetora, sua sagacidade e sua profunda sensibilidade – coisas que ele deixou poucas
pessoas verem. E, de repente, eu me senti intimidada. Eu era sua esposa. Este belo homem tinha me
escolhido. Eu queria amá-lo, curá-lo, transformar todas as suas memórias escuras em claras. Eu
queria ser digna dele, e eu ansiava por ele me amar de volta.
"O que fez você perceber como você se sentia?" Eu perguntei, olhando para ele e
abaixando meus cílios, de repente me sentindo tímida.
Ele sorriu. "Charlotte me ajudou a perceber. Ela me incentivou a dar um salto de
fé e deixar ir."
"Ah. É um bom conselho."
"E você? Você sabia antes desta noite?"
"Eu acho que que já sabia há algum tempo agora."
"Sério?" O olhar encantado em seu rosto dizia tudo.
Paramos ao lado da entrada para o labirinto e eu me virei na direção dele, agarrando suas
mãos nas minhas.
"Aqui estamos nós," eu disse suavemente, balançando a cabeça em direção ao labirinto.
"Sim", ele disse, com os olhos piscando distantes do labirinto e de volta para mim. "Aqui
estamos."
Ele se aproximou de mim, me puxando para seus braços e sussurrando contra os meus
lábios. "Você me traz paz, bruxinha, e coloca fogo no meu sangue." Eu sorri contra sua boca.
"Mas você confia em mim?" Eu perguntei, colocando minha mão plana contra sua jaqueta,
correndo a mão sobre o seu peito, sentindo a forte batida de seu coração debaixo.
"Confiar em você?" Um vinco se formou entre suas sobrancelhas escuras.
Eu entrei debaixo do braço e ele girou para me encarar. "Venha me encontrar, Grayson," eu
disse, e corri para o labirinto.
"Kira", ele chamou, uma borda baixa em sua voz, "o que você está fazendo agora?"
"Ajudando você a abrir mão de algo", eu disse, virando uma esquina e, em seguida,
virando rapidamente em outra. Eu ouvi Grayson atrás de mim, caminhando lentamente enquanto eu
corria. "Se você puder me encontrar, então eu sou sua."
"Kira", disse ele, e apesar da distância, ouvi o tom de aviso, "Eu conheço este labirinto
bem - não há esconderijo de mim aqui."
Ah sim, mas eu sabia disso.
Um tremor desceu pela minha espinha quando virei outra esquina. "Realmente,
dragão?" Falei. "Vamos ver. Estou esperando." Eu já estava irremediavelmente perdida, sentindo
simultaneamente um pequeno fio de medo e simpatia para o que Grayson deve ter sentido
estando sozinho aqui todos esses anos atrás, mas também o formigamento da emoção ao saber que ele
ia me encontrar. A grama era alta e desamparada, e enquanto eu corria, segurando os aros da minha
saia tão próximos ao meu corpo quanto possível, meu vestido longo arrastava pelo chão atrás de
mim, enroscando em ramos que pareciam me agarrar. A lua e as estrelas e o brilho da
casa além forneciam a única luz.
Ele não disse uma palavra, mas eu podia ouvi-lo andar com objetivo através das ervas
daninhas e ramos caídos diretamente para mim, como se soubesse para onde eu correria. Virei mais
uma esquina, e lá no que parecia ser o meio do labirinto havia uma fonte velha, em ruínas e
abandonada. Vendo um banco de pedra eu me sentei e esperei por Grayson me encontrar.
As cepas distantes de música e vozes da festa ficaram em segundo plano na minha mente
enquanto eu escutava atentamente por seus passos, meu pulso acelerado, meu coração batendo.
"Onde está você, bruxinha?" ele perguntou, muito mais perto agora. Mas não soava como
se houvesse pergunta em sua voz. Sim, ele sabia exatamente onde eu estava. Minha frequência
cardíaca aumentou.
Ele virou a esquina na extremidade distante de onde eu estava sentada, e minha respiração
gaguejou na minha garganta. No brilho da luz das estrelas eu podia ver claramente seu olhar treinado
em mim. Levantei lentamente, e quando ele começou a andar para mim eu levantei a minha
mão, apontando para ele parar, para que eu pudesse ir ate ele. Porque de repente eu entendi que às
vezes é certo se encontrar no meio, mas, às vezes, é o mais simples ato de graça encontrar a outra
pessoa onde ela está. Isso é amor. Ele viu quando me aproximei, seus olhos escuros e insondáveis.
Quando me aproximei dele agora algo ficou claro para mim: eu já tinha caído no
amor quando assisti Grayson em frente ao banco naquele dia, só que foi de alguma forma
romântica, de menina. Eu tinha caído no amor com a ideia dele. Mas aqui, no profundo escuro do
labirinto – onde ele tinha estado perdido e assustado e sozinho - eu ofereci a minha mão, e eu me
apaixonei pelo homem. Eu me apaixonei pelo meu marido.
Sua mão na minha era sólida e quente e real. E ele me segurou de volta.
Capítulo Vinte

Grayson
A festa estava acabando quando eu fiz as despedidas o mais rápido possível, parando para
conversar rapidamente ou dizendo boa noite para aqueles que
saíam. Quando avistei Charlotte conversando animadamente com a família de José, eu sorri e
acenei para eles, em seguida, perguntei se poderia pegar Charlotte emprestada por um momento.
Quando ela pisou de lado, eu disse: "Desculpe, Charlotte, estou me retirando para a noite.
Você irá incentivar os hóspedes a permanecer e apreciar a música e a comida? Se
perguntarem, oferecer minhas desculpas e as de Kira?" Minha esposa está esperando no andar de
cima no nosso quarto.
"Desculpas? Tem certeza? Há ainda-"
"Sim, Charlotte, estou muito certo." Eu pisquei para ela e me afastei, antes que pudesse
dizer qualquer outra coisa. Eu consegui passar por alguns convidados que estavam profundamente
envolvidos na conversa, e virei a esquina para as escadas.
Subi dois degraus ao mesmo tempo. Podem ter sido até mesmo três.
Quando eu abri a porta do meu quarto Kira estava sentada à escrivaninha com uma pequena
escova em seu cabelo, uma toalha dobrada em torno dela. Ao som do clique da porta ela se virou e
sorriu suavemente para mim.
A maquiagem que ela tinha usado anteriormente tinham sido lavada de seu rosto, e seu
cabelo caía suave e longo para baixo de suas costas. Ela parecia bem inocente, e apenas um pouco
tímida. Ela se levantou e deu um passo em volta da cadeira onde ela esteve sentada, olhando para
mim quando me aproximei dela.
"Oi, bruxinha," eu murmurei, dando um passo até ela.
"Oi, dragão," ela respirou, chegando para desfazer o laço atado no meu pescoço. Embora
ela parecesse ansiosa para me despir, eu notei o tremor em suas mãos, e quando cheguei para ajudá-
la, ela riu timidamente. "Eu me sinto como uma nova noiva." Ela entregou as palavras com uma
pitada de humor, mas seus olhos estavam arregalados e vulneráveis.
"Você é. Isso é o que você é." Minha noiva. De repente senti-me em terreno
estranho também. O ar no quarto parecia fechar-se em torno de nós, de modo que só ela e
eu existíamos dentro dele.
Minhas mãos caíram ao meu lado, e eu a deixei terminar com a minha gravata borboleta,
finalmente lançando-a de lado antes de desabotoar os dois primeiros botões da minha camisa. Ela se
inclinou e beijou a pele nua da minha garganta, e minha respiração engatou com a sensação de seus
lábios suaves e quentes. Sua língua saiu para me provar e, em seguida, ela beijou o local novamente,
inclinando-se para trás, para desfazer o resto dos meus botões. Vi seus olhos sobre o que ela
estava fazendo com as mãos. Essa mulher é minha. Ninguém nunca vai tê-la, eu pensei, bebendo o
meu olhar na sombra escura que seus cílios faziam em suas bochechas, na forma como seus lábios
estavam entreabertos, o fundo mais cheio que o topo, na marca de beleza muito pequena ao lado de
sua sobrancelha direita e no local exato na bochecha onde eu sabia que sua covinha apareceria
quando ela sorria.
"Você é tão linda", eu disse com reverência.
Seus olhos encontraram os meus, grandes e cheios de admiração, tão verdes quanto
a grama das colinas relvadas em alguns enevoados, terra mítica. Minha linda bruxinha – tem magia
dentro dela, e eu queria me banhar em sua luz.
Eu nunca mais olharia para esse labirinto sem pensar nela andando na minha direção ao
luar com um olhar de amor em seu rosto enquanto estendia a mão.
Ela trouxe meu casaco para baixo dos meus ombros e deixou-o cair no chão, em seguida,
fez o mesmo com minha camisa desabotoada, suas mãos agora arrastando abaixo de meu bíceps nus.
"Você é tão bonito", disse ela.
Com olhos treinados nos meus, ela soltou a toalha enrolada em volta dela e deixou-a cair
no chão. Eu chupei uma respiração afiada com a visão de sua beleza nua, tão exuberante e docemente
curva. Tomando seu rosto em minhas mãos eu me inclinei para beijá-la, um gemido profundo
chegando em minha garganta. Senti-me fraco com querer, meu pênis surgindo totalmente à vida dentro
dos limites apertados de minhas calças. Eu chutei meus sapatos enquanto chupava seu lábio inferior,
e trouxe minhas mãos para desfazer meu cinto, jogando-o de lado. Nós
continuamos beijando quando eu desabotoei minhas calças e tirei-as, juntamente com a minha
cueca, chutando-as e dobrando-me para remover minhas meias. Quando eu também fiquei nu diante
dela, seus olhos percorreram meu corpo, parando na minha ereção inchada. Seus olhos deram um tiro
para os meus, o rubor em suas faces aprofundando. "Posso te tocar?"
"Sim, Deus sim," eu me engasguei. "Eu sou seu. Por favor, me toque." Eu tinha esperado
décadas para sentir suas mãos sobre mim. Séculos. Eternidade.
Ela se abaixou e pegou meus testículos delicadamente na palma da mão, testando seu peso.
Eu gemia, mas me forcei a permanecer imóvel enquanto ela explorava. Minha respiração saiu em um
suspiro irregular quando ela agarrou meu comprimento, deslizando a mão da base à ponta, onde ela
usou o polegar para girar em torno da cabeça. Deus, me senti bem. "Kira", eu gemi, colocando minha
mão sobre a dela e puxando-a para longe. Eu queria isto para ontem.
Seus lábios se separaram quando ela olhou para as nossas mãos ligadas, e eu
assisti o movimento de sua garganta enquanto ela engolia. Eu trouxe o meu polegar para ela,
querendo sentir cada reação que seu corpo tinha de mim. Mudei o meu polegar para cima e para
baixo de seu pescoço, lentamente e apenas por um momento antes de segurar a parte de trás de sua
cabeça e inclinar-me novamente para provar sua boca. Estremeci com a sensação de sua pele suave e
sedosa contra a minha própria, e saboreei a sensação de sua suavidade fundindo contra a minha
dureza. Dando. Rendendo. Eu me inclinei para trás para olhar para o rosto dela, precisando
desesperadamente ver o que estava em sua expressão - isso significa tanto para ela quanto para mim?
Isso era novo para ela? Diferente? Eu não tinha palavras para perguntar, não
sabia como formular as perguntas, então procurei as respostas em seus olhos. Tornei-me pego no
feitiço de seu olhar antes que seus cílios baixassem. Ela pegou minha mão para me levar para a
cama.
Quando ela sentou-se sobre ela e deitou-se, eu mudei-me sobre ela, mantendo meu peso em
um joelho e com o outro separando suas coxas. Eu pressionei contra o local onde o mais quente do
seu calor emanava, e ela gemeu baixinho.
"Aqui estamos", murmurei, repetindo as palavras que ela disse para mim no labirinto.
Finalmente. Finalmente. Como a palavra ecoou na minha cabeça, parecia maior do que apenas a
espera que eu tinha sofrido para fazer Kira minha. Era como se ela resumiu algo que eu esperei para
sentir por muito tempo. Toda minha vida.
Finalmente você está aqui.
Ela piscou, seus olhos desfocados antes de seus lábios apontarem para cima. "Sim", disse
ela. "Aqui estamos."
Revirando meus quadris contra os dela, nós dois gememos, e eu inclinei a cabeça de volta
para o colchão. Suas mãos vieram até minha cabeça e ela passou as unhas por cima do meu couro
cabeludo, fazendo-me gemer de prazer.
No passado, eu sempre tive uma ordem definida das coisas que fiz na cama, não que teria
dito isso alguém. Eu sabia o que trazia prazer as mulheres e o que me proporcionava prazer, o que
resultava em uma experiência mutuamente satisfatória. Mas com Kira tudo saiu pela janela. Eu tentei
lembrar o que deveria fazer primeiro, e onde deveria seguir de lá, mas tudo fugiu da minha mente,
então tudo que eu tinha que fazer era instinto. Eu só poderia incidir sobre o peso da minha própria
excitação, e o calor de sua carne macia quando ela mudou-se debaixo de mim. Eu me senti inseguro e
inexperiente, como se Kira fosse a primeira mulher que eu já tinha tocado.
Eu fiz isso antes, me tranquilizei, mas as palavras me sentiam falsas. Eu não tinha certeza
de nada mais.
Trazendo a minha boca na dela, eu inclinei minha cabeça, para que minha
língua pudesse penetrar completamente na boca dela. Ela fez um som profundo de aprovação, sua
língua encontrando a minha. Ela torceu e emaranhou com sua pélvis na
minha, impulsionando contra meu pau latejante, e seus seios macios pressionaram contra o meu
peito. Eu grunhi no delicioso impacto, e me afastei de sua boca, arrastando meus lábios em sua
garganta e lambendo seus mamilos endurecidos, primeiro um e depois o outro. Eu esfreguei e
mordi suavemente, e depois acalmei com a língua até que ela enlouqueceu embaixo de mim, ofegante
e pressionando seu corpo contra o meu.
"Kira", eu gemi. Eu queria adorá-la. Cada local secreto, cada vale sensível, cada
curva. Virando-a quando ela choramingou baixinho, beijei-lhe a espinha, inalando o perfume
feminino de sua pele, respirando-a. Eu lambia as pequenas ondulações acima de suas nádegas, meus
lábios de penas sobre sua bunda, bochechas e nas costas dos joelhos, uma e outra vez. Eu tinha
perdido todo o controle, rendendo-me completamente para os ditames do meu corpo. Os sons que ela
fazia tinham-me selvagem de desejo, desesperado com amor para a doce e sexy bruxinha debaixo de
mim.
"Kira", eu sussurrei novamente.
Virando-a mais uma vez, eu mudei minhas mãos sobre o corpo dela, acariciando,
modelando, moldando quando ela se arqueou, oferecendo-se para mim. Eu me inclinei e beijei o
interior de uma coxa enquanto suas mãos passavam novamente pelo meu cabelo. "Por favor", ela
engasgou quando eu trouxe minha língua para seu clitóris inchado e lambi ao redor dele, meu
corpo ficando ainda mais quente e mais duro com seus sons de prazer. Eu não podia aguentar, não
mais. Eu estava indo para o orgasmo, mesmo sem estar dentro dela, e eu desesperadamente queria
cobrir o corpo dela com o meu próprio, afundar-me dentro, bombeando e empurrando na
sua quente suavidade escorregadia. Acomodando meu peso em cima dela, eu rolei minha pélvis
sobre a dela, meu pênis dolorido com a necessidade.
Kira agarrou meus ombros, um olhar de puro desespero no rosto. "Por favor", disse ela
novamente, sua voz crua.
"Sim", foi tudo o que consegui dizer, minha boca retornando à dela, nosso beijo selvagem
enquanto suas mãos acariciavam meus braços, costas, peito, parecendo estar em toda parte. Sim Sim
Sim. Em algum lugar nos recessos de meu cérebro confuso, pensei: o que é isso? Se trata-se de fazer
amor, então eu nunca fiz isso antes. Se isto é desejo, então eu só tenho experimentado a versão morna
dele. Isso, isso era como se eu estivesse dançando com um raio - fazer amor com uma mulher que eu
amava. Eu me afastei apenas momentaneamente para olhar em seus olhos quando suas mãos
agarraram meus ombros e eu entrei ela. Ela piscou para mim, sua expressão uma deliciosa mistura de
luxúria, perplexidade e impaciência.
"Kira", murmurei novamente, pressionando-me dentro dela. Parecia que todo meu
vocabulário tinha sido reduzido à uma palavra. Seu corpo era quente, molhado e macio, mas tão
apertado que eu mal podia caber dentro. Eu ofeguei um
gemido, buscando controle, tremendo quando deslizei um pouco mais para dentro. Ela levantou ao
meu encontro, como se eu estivesse indo devagar demais para ela, e apesar da minha necessidade
desesperada, um sorriso puxou meu lábios.
Meu Deus, ela é encantadora.
Meu Deus, ela é minha.
Eu entrei uma fração a mais e Kira soltou um pequeno gemido, envolvendo suas pernas em
volta dos meus quadris. Eu pressionei mais profundo, finalmente afundando todo o caminho dentro
dela em um impulso final. Seus olhos se fecharam, seus lábios se separando quando ela soltou um
pequeno suspiro. O olhar dela encontrou o meu novamente quando eu comecei a mover-me e, a
intimidade de olhar fixamente em seus olhos enquanto eu estava junto com ela tornou-se quase
insuportável. Sua respiração estava vindo mais e mais rápido, seu quadril encontrando o meu
impulso por impulso enquanto eu lutava para segurar de volta o prazer que rodou meu abdômen
e apertou minhas bolas. Minha pele estava formigando.
Deus, me sentia tão bem que quase doía.
Eu vagamente sussurrei-lhe palavras que não eram palavras; Eram meramente emoções
colocadas em som - eram desconexos, crus, e vieram de uma parte muito profunda do meu coração.
Suas mãos patinaram nas minhas costas, explorando, até que chegaram a minha bunda, que
ela agarrou quando eu mudei-me dentro dela.
"Mais rápido," ela gemeu, e eu senti os cabelos na minha nuca formigar na emoção
do único comando. Eu peguei o ritmo, empurrando nela mais duro, minha respiração saindo em
exalos afiados. Eu não tinha idéia de onde eu terminava e ela começava. Eu trouxe a minha boca na
dela para mais um beijo, e quando ela soltou um pequeno suspiro e senti seus músculos começarem a
se contrair, inclinei-me ligeiramente para trás para testemunhar a sua rendição. Eu assisti com
admiração quando ela se desfez, esta mulher que resistiu-me estridentemente, desafiou-me a cada
passo, essa mulher que me fascinava, me testava, empurrava meus limites, e me mantinha nas pontas
dos pés. Ela era tudo para mim: meus sonhos, minha fraqueza, e a pessoa que me fez querer ser forte.
Ela era a única mulher que me mostrou que eu importava, que eu era querido. Que eu era o suficiente.
"Kira", eu gemi uma última vez, antes de estourar em um clímax perturbador, com direito
a estrelas explodindo diante de meu olhos quando o prazer atingiu o pico. Eu
cedi molemente nela, minha cabeça apoiada na curva de seu pescoço enquanto a nossa respiração
voltava ao normal. Suas mãos ainda corriam pelas minhas costas, e eu precisava de seu
toque, abalado como estava a partir do que fizemos. Depois de alguns minutos eu rolei de cima dela
e reuni-a em meus braços, olhando cegamente no ventilador de teto acima, recuperando-me de
ter experimentado algo que transformou numa triste caricatura cada encontro sexual que eu já
tive antes.
Eu me senti estranhamente vulnerável, como se ela segurasse todo o poder. Eu não tinha
certeza do que fazer com esses novos sentimentos. Sexo sempre me fez sentir como o único no
controle. E agora...
"Como você está se sentindo?" ela sussurrou.
"Como seu marido," eu disse imediatamente, um sorriso em meus lábios. "Como você está
se sentindo?"
Ela inclinou a cabeça até olhar para mim, a expressão no rosto feliz e satisfeita.
"Como sua esposa", ela sussurrou.
Eu sorri novamente e puxei-a para mais perto.
Kira circulou a ponta do dedo ao redor do meu mamilo e eu tremi, puxando-a para mais
perto. Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para mim. "É sempre assim?" ela perguntou, uma nota
de provocação em sua voz.
"Não", eu respondi imediatamente. Olhei para ela, deixando-a ver a sinceridade em meus
olhos. "Eu nunca tinha experimentado nada tão maravilhoso quanto isso. Eu nunca tinha
experimentado nada tão maravilhoso como você." Alívio e felicidade brilharam em sua expressão, e
ela sorriu gentilmente.
"Será sempre assim conosco?"
Estudei sua expressão vulnerável. Sim, pensei que seria sempre assim para nós,
porque Kira era parte disso - sua alegria, sua paixão, seu belo espírito. Mas, eu achava que sabia o
que ela estava realmente pedindo. Certa vez, ela tinha sido humilhada por algo que veio-
lhe naturalmente. Um desconfortável sentimento de ciúme me ameaçou, e eu não estava disposto a
trazer seu ex para o quarto, então pensei que melhor não responder a sua pergunta, agora. Sorri e
beijei sua testa. "Nós vamos ter que descobrir, não vamos?" E então virei-me de repente e
pairei sobre ela, beijando-a na boca uma vez, duro, enquanto trouxe seus braços para cima e coloquei
suas mãos acima da cabeça. Ela riu, e então se contorceu embaixo de mim, o
momento transformando luz e paquera.
Eu beijei-a novamente e deixei-a ir. "Nós não usamos preservativo", eu disse, meus olhos
se movendo sobre seu rosto para avaliar sua reação. Eu só percebi depois que, pela primeira
vez, nem mesmo pensei sobre isso. De alguma forma, porém, eu não estava muito preocupado. Eu
estava preocupado que ela poderia estar, embora ela não tivesse falado também.
Ela hesitou, obviamente apenas considerando-o agora, pela primeira vez, também. "Uma
vez é provavelmente OK. Vou começar o controle de natalidade, assim não teremos que pensar sobre
isso."
"Tudo bem", eu disse, acenando com a cabeça e pensando sobre a minha falta de
preocupação. Nós estaríamos seguros a partir de agora, mas nós éramos casados. Tínhamos um lar.
Eu não pensei que estava pronto para crianças, nunca tinha sequer pensado nisso. Mas, também, não
seria uma tragédia se acontecesse. Eu queria a minha nova esposa para mim por um tempo, mas, se
isso acontecer, nós daríamos um jeito.
"Precisa de um pouco de água?" Eu perguntei, esfregando o nariz ao longo dela
e depois beijando o canto de sua boca.
"Sim, por favor", disse ela.
Levantei-me enquanto Kira sentava-se, movendo-se para trás contra os travesseiros na
cabeceira da cama. Eu levei um momento para observá-la: seu cabelo de mogno espalhado ao seu
redor, seus olhos verdes preguiçosos e meio fechados, a expressão em seu rosto de pura satisfação,
sua beleza nua totalmente em exibição – seu lindo corpo que eu tinha acabado de estar dentro. Antes
que eu esquecesse a água e voltasse para a cama para desfrutá-la de novo, eu virei-me e fui ao
banheiro. Quando peguei um vislumbre de mim mesmo no espelho, fiquei surpreso ao ver o sorriso
que eu nem tinha percebido que estava usando.

"Você vai me contar sobre isso?" ela perguntou suavemente, inclinando-se e beijando meu
pescoço. Nós tínhamos acabado de fazer amor pela segunda vez, e estávamos deitados contra os
travesseiros, a cabeça de Kira descansando em meu peito.
Fiz uma pausa, confuso por um segundo sobre o que ela poderia estar falando. "Você quer
dizer sobre a prisão?"
Ela assentiu com a cabeça, os lábios ainda na minha pele, o perfume de seus cabelos
flutuando em mim e fazendo-me sentir pacífico e satisfeito.
Eu suspirei. Eu queria que ela soubesse tudo sobre mim. Eu queria compartilhar com ela as
coisas que eu nunca tinha compartilhado com ninguém, mas forçar as palavras para fora era difícil,
e algo em que eu não tinha qualquer prática.
Alisei minha mão pelo seu cabelo sedoso, agarrando um punhado dele. "Eu tinha acabado
de voltar de Nova York, onde eu tinha ido ver minha mãe."
"Você foi ver sua mãe?" ela perguntou, surpresa.
Eu balancei a cabeça. "A viagem praticamente terminou antes de sequer começar. Eu tentei
colocá-la fora da minha mente. Mas naquela época, eu... bem, eu tinha me graduado na faculdade, e
pensei que se ela me visse, veria o homem que eu tinha me tornado E ela iria, eu não sei, cair de
joelhos e implorar-me perdão. Eu imaginei muita coisa, tão estúpido quanto isso soa." Fiz um
pequeno som de escárnio. "Eu voei para Nova York e observei ela levantar, ir até a porta com
nenhum convite." Fiquei em silêncio por um momento, lembrando-me da esperança que
eu carregava tão próxima à superfície quando estava em frente ao seu apartamento. "Ela era casada,
tinha uma família - dois filhos jovens."
"Ela deve ter ficado feliz que você foi vê-la", disse ela baixinho.
Eu fiz um som que teria sido uma risada se houvesse qualquer diversão. "Não. Ela era
tão amarga – disse-me que eu arruinei sua vida, disse-me que tinha estado à beira de uma grande
carreira quando eu coloquei um fim nisso. Ela disse que estava feliz que não precisava olhar para
mim todos os dias e se lembrar de tudo o que podia ter tido. Em seguida, ela me pediu para sair. A
pior parte, porém, foi o jeito que ela olhou para os dois outros garotos enquanto eu estava lá. E eu
percebi que não era que ela era incapaz de amar - era apenas que ela era incapaz de me amar." Eu
entreguei as palavras tão casualmente quanto pude, mas senti o leve rubor em minhas próprias maçãs
do rosto. A lembrança desse momento ainda ardia como uma marca em brasa.
"Gray", disse ela, todo um mundo de compaixão em seus olhos quando ela estendeu a mão
e acariciou minha bochecha. Inclinei-me para ela.
"Eu voei para San Francisco e decidi ir a um bar. Eu precisava de uma bebida, ou dez."
"Você estava machucado", disse ela.
"Eu... Sim. Deus, se eu tivesse somente pego a estrada e voltado para casa", eu admiti.
Minha voz falhou na palavra final, enchendo-me de arrependimento. Kira colocou os braços em volta
do meu corpo e abraçou-me com ela.
"Estava no bar por cerca de uma hora quando encontrei Brent Riley, um garoto rico que
tinha conhecido através de conhecidos, e com quem tinha ido a algumas festas ao longo dos anos. Sua
família vive em uma cidade cerca de meia hora a partir daqui. Ele estava em San Francisco para sua
despedida de solteiro - havia todo um grupo deles lá. Fiquei com eles durante um tempo. Brent e eu
nunca tínhamos nos dado bem, no entanto. Ele era um verdadeiro idiota - o tipo de pessoa que parece
perfeito e íntegro para o mundo exterior, mas nos bastidores é assustador e egoísta."
Ela assentiu com a cabeça. "Eu estou um pouco familiarizada com o tipo", disse ela
ironicamente. Eu beijei sua testa suavemente, sabendo que ela estava pensando em Cooper. Ou
talvez em seu pai. Ou em ambos.
"Sim, então, estávamos andando do lado de fora do estacionamento e ele disse que
tinha drogado uma garota, e que ele e os outros caras estavam indo de volta para o seu hotel e se
divertir." Kira olhou para cima em mim, e seus olhos se arregalaram no que parecia
surpresa e repulsa. "Ele perguntou se eu desejava participar, e apontou para um carro onde uma
garota estava caída no banco traseiro. Eu meio que fiquei um pouco louco." Fiz uma pausa. "Eu
estava procurando por uma briga, Kira. Congratulei-me com uma razão para lutar com ele".
"Foi uma boa razão, Gray," ela sussurrou.
Deixei escapar um assobio alto de ar. "Talvez. Eu o atingi com um direito em seu rosto,
mas ele foi o único que me empurrou primeiro. E era tudo que eu precisava. Eu não lhe
mostrei nenhuma misericórdia. Ele conseguiu alguns bons golpes, mas a maioria dos socos eram
meus. Eu gostei. E então ele caiu..." Fiz uma pausa, fechando os olhos quando imaginei o momento
terrível. "O modo como ele caiu... Eu soube imediatamente que ele estava morto. As pessoas
começaram a dispersar, carros partiram, a polícia chegou..."
Ela olhou para mim, seus olhos com tanta compaixão e compreensão que eu queria cair
neles, acreditando que encontraria a redenção lá. "Você não teve a intenção de matá-lo", disse ela.
"Não. Deus, não, eu nunca quis matá-lo. Eu queria machucá-lo, ensinar-lhe uma
lição. Atuei como seu juiz, júri e, como se viu, seu carrasco naquela noite."
Kira levou a mão para cima e correu o polegar sobre meu rosto. Como ela podia olhar para
mim com tanto amor em seus olhos depois do que eu tinha compartilhado com ela? Mas, no
entanto, ela fez.
"Será que eles nunca encontraram a menina?"
Eu pressionei meus lábios juntos. "Sim, eles encontraram, mas era tarde demais para fazer
qualquer teste de drogas. Minha defesa não poderia usá-la no julgamento." Eu respirei fundo. "Minha
defesa. Que piada. Meu pai não pagaria por um advogado – deixou-me enforcar", eu disse, incapaz
de manter a dor e amargura da minha voz. "Eu tive que contratar um defensor público. O cara era
totalmente incompetente - e até mesmo se ele não fosse, o seu número de casos era tão grande que ele
não teria sido capaz de fazer muito por mim, de qualquer maneira. Ainda assim, porém, ele tinha
certeza que eu só ficaria o tempo mínimo para o que aconteceu - seis meses no máximo, serviço
comunitário na melhor das hipóteses. E assim, quando o juiz voltou com cinco anos, eu era... Eu
fiquei derrubado, chocado. Parecia que minha vida tinha acabado."
Senti o corpo de Kira ficar tenso, mas ela ainda permaneceu. Eu soltei uma
respiração profunda. "Eu esperei uma visita do meu pai – apenas uma vez - mas ele não o fez. E
então Shane veio ver-me, para me dizer que tinha casado com Vanessa..." A dor daquele momento
ainda me afetava, mesmo que o resultado não mais o fizesse. “Eu estava devastado. E então eu
cortei Shane fora também, excluindo-o fora da minha lista de visitantes. Ele tentou. Todos esses
anos, ele nunca parou de escrever, tentando me visitar. Assim como Vanessa.”
Kira ergueu a cabeça para olhar para mim. "Deve ter sido terrível para você. Você deve ter
se sentido abandonado, tão enganado."
Concordei, sabendo o quanto ela entendia. "Eu não teria sobrevivido se
não fosse por Harley. E você, bruxinha, tinha tudo a ver com isso." Sua sobrancelha arqueou.
"Como?"
Eu contei-lhe o que Harley tinha compartilhado comigo. Ela apoiou o queixo no meu
peito, um pequeno sorriso sereno nos lábios. "Talvez, de alguma forma, eu estivesse lá com você,
então," ela sussurrou. "Não soa maluco?"
Eu ri. "Não, faz sentido para mim." Eu olhei para ela, meu coração batendo no meu
peito. Seu doce corpo macio continuava pressionado contra o meu, e surpreendentemente o desejo
encheu meu corpo novamente. Mas a dor não era apenas entre as minhas pernas. A dor era no meu
coração. Eu queria ela em todos os sentidos que um homem pode querer uma mulher.
Eu te amo. Eu sempre te amarei, eu queria professar, mas as palavras ficaram presas na
minha garganta, medo subindo para engolir qualquer som. Em vez disso eu me inclinei e beijei-a,
rendendo-me, mas não completamente. Eu não era corajoso o suficiente. Ainda não.
Capítulo Vinte e Um

Kira
Como era estranho estar no amor com o meu marido. Estranho, mas completamente
maravilhoso. Eu encontrei-me andando por Hawthorn Vineyard com um pequeno sorriso sonhador em
meus lábios com mais frequentemente do que não. Eu mudei minhas coisas para o quarto de Grayson,
e começamos novamente, agora como um casal real. Eu me senti como se estivesse num estado
constante de tonturas, não sendo capaz de acreditar que isso era real.
Nós dissemos adeus para Shane e Vanessa, prometendo-lhes que uma vez que a colheita de
outono tivesse acabado, iríamos passar algum tempo com eles em sua casa de praia em San Diego.
Quão diferente sua partida foi de sua chegada. Eu sorri para mim mesma com o pensamento, rindo
com a lembrança de Grayson e eu esparramados no chão do vestíbulo, pensando que talvez
precisávamos de uma revanche já que O Dragão ainda estava sob falsa a impressão que ganhado a
corrida de corrimão.
Passei os dias organizando seu escritório, pagando a grande pilha de contas acumuladas e
fazendo o meu caminho através de seis anos de registros contábeis. Não seria um trabalho rápido ou
fácil. Ainda assim, fiquei determinada a entender o que tinha acontecido para provocar o rápido
declínio da vinha que agora era a minha casa, e que continuaria sendo de agora em diante. Eu não
deixaria isso acontecer novamente.
Esperei com grande expectativa Grayson acabar seu trabalho no final de cada
dia, porque então poderíamos jantar juntos. E então daríamos longos passeios ao redor do vinhedo,
conversando e rindo, compartilhando segredos e aprendendo um sobre o outro, como se estivéssemos
namorando recentemente. Para todos os propósitos e efeitos isso é o que estávamos fazendo, só para
mim, com o elemento adicional de já estar apaixonada.
E eu sonhava com o dia em que ele se apaixonaria por mim, também.
Quando a hora fose decente suficiente, ou às vezes até mesmo quando não era, nós
nos retirávamos para a nossa cama, onde passamos muitas noites fazendo amor. Eu aprendi coisas
sobre Grayson que o fez ficar selvagem com paixão, descobri formas de usar meu corpo e minha
boca para obrigá-lo a abandonar um pouco desse controle que ele sempre parecia carregar. E eu lhe
permiti me conhecer também, mais profunda e intimamente do que qualquer um tinha antes. Com cada
gemido, cada masculino suspiro de ar, cada carícia trêmula, Grayson assegurou-me que Cooper
tinha estado errado - eu podia proporcionar alegria e satisfação na cama.
Quando fomos para a cidade para jantar algumas vezes, várias pessoas que estiveram na
festa se aproximavam de nós para dizer Olá, e Grayson era quente e gentil. Era quase como se eu
estivesse assistindo o comportamento frio que ele tinha adotado deslizar fora em grandes pedaços.
Claro, ainda havia aqueles que o olhavam com cautela, mas só levaria tempo para apaziguá-los
também. Eu colocaria minha mente para trabalhar, e chegaria a algumas outras idéias, disse-lhe. Ele
simplesmente riu e disse que tinha certeza que eu faria.
Certa manhã, algumas semanas depois da festa, eu decidi tomar Sugie e passear
pelo vinhedo. Todo esse tempo e eu não tinha andado nas fileiras das plantas que eu sempre
admirei à distância. O dia estava ligeiramente frio para isso, embora o sol estivesse brilhando – o
outono estava no ar. Logo as uvas seriam colhida e o verdadeiro trabalho em Hawthorn Vineyard
começaria. Inalei profundamente uma lufada do ar fresco com cheiro de terra e tingido com as doces
uvas em maturação. Sugie fungou para o chão, explorando as coisas interessantes com seu nariz de
cão. Grayson tinha dito que ele estava preparado, principalmente, para a próxima colheita. Ele ainda
tinha alguma contratação para fazer mas, para além disso, todo o equipamento de trabalho estava
em ordem e pronto para funcionar.
Isso não poderia ter-me feito mais feliz - o nosso plano tinha funcionado. A
vinha estava preparada para o sucesso que não teria garantido sem o dinheiro da minha avó. Eu olhei
cegamente para os parreirais, mordendo meu lábio. Esta manhã eu estava preocupada. Havia algo
muito preocupante sobre os arquivos de contabilidade que Walter tinha me dado. Eu não queria
admitir sequer para mim mesma o que pensei que tinha descoberto, mas quanto maisos estudava,
mais segura estava me tornando. E eu não sabia o que fazer.
"Você está imersa em pensamentos."
Eu me virei, trazendo minha mão para a boca e rindo enquanto Grayson me mergulhou em
seus braços. "Como me encontrou aqui?" Eu perguntei quando ele pressionou os lábios na minha
garganta. "Eu pensei que estava devidamente escondida de você."
"Você nunca pode se esconder de mim. Eu sempre vou farejá-la." Então ele colocou o
nariz na minha garganta e começou a fuçar ao redor como um cão super-ansioso. Dragão. Eu gritei,
rindo da sensação de sua respiração fazendo cócegas na minha pele. Eu o empurrei enquanto ele ria
também.
"E eu que tive tanto trabalho para traçar um esquema para poder encontrá-la sozinha em
algum lugar oculto, e fazer todo tipo de coisas draconianas sujas para o seu corpo."
Eu ri. "Você já não fez o suficiente disso?" Eu perguntei provocativamente.
"Nunca". Ele virou-se, e foi então que avistei o cesto que ele pegou e trouxe para onde eu
estava. Ele olhou ao redor, ajustando suas vistas em uma pequena área gramada num local quente
de luz solar direta. Abrindo a cesta, ele tirou uma grande colcha e espalhou-a no chão. Grayson
virou-se para Sugie, que estava farejando alguma coisa nas proximidades. "Dê-nos um pouco de
privacidade, Sug. Vá caçar um rato ou alguma coisa." Sugie, encantada, passou para uma vinha mais
para baixo da linha, evitando s uvas exatamente como tinha sido treinada para fazer.
"Você tem conspirado", eu disse. "O que é isso?"
"Isto", disse ele, sentando-se e batendo um ponto ao seu lado, "é sobre ensinar você a
reconhecer os diferentes tipos de uvas. Venha aqui."
Me juntei a ele, sentando-me ao lado dele na colcha.
"Se você vai ser a boa esposa de um enólogo, então precisa conhecer a variedade
de uvas que nós cultivamos, para que, quando as pessoas perguntarem, você possa identificá-las com
confiança."
"Ah." Tentei abrir o cesto, mas ele agarrou-o fechado, me fazendo rir.
"Paciência, bruxinha. Em primeiro lugar, eu precisarei que você tire a roupa."
Eu levantei uma sobrancelha. "Esta lição requer nudez?"
"De fato. Como todas as boas lições fazem", disse ele, olhando de soslaio sugestivamente,
o brilho de diabrura dacroniana em seus olhos escuros. Meu coração virou e meus músculos
femininos apertaram em sua beleza masculina flagrante, tornando-o ainda mais atraente quando ele
agia como um dragão.
"Está um pouco de frio para nudez, não acha?"
"Eu vou mantê-la aquecida. Promessa".
Eu ri baixinho, mas obedeci, retirando minha camiseta de manga comprida, chutando meus
sapatos e desabotoando o botão superior do meu jeans. Deitei-me, e Grayson suspendeu meu
traseiro e puxou-os fora.
Uma onda de insegurança tomou conta de mim enquanto ele estudava-me deitada lá apenas
em meu sutiã e calcinha. Ninguém nunca tinha me estudado tão atentamente sob a luz brilhante do sol.
"Você é tão bonita que dói", ele murmurou. Ele se inclinou, o toque macio de seus lábios na
minha garganta e, em seguida, sussurrou em meu ouvido. "Uma vez eu pensei que quando
fizesse amor com você, sempre iria querer fazê-lo à luz, para que eu pudesse ver cada parte
vibrante sua - este bonito e ricamente-colorido cabelo", ele pegou um fio e deixou-o cair por entre os
dedos, "esses olhos tão verdes que eu quero cair neles..."
"Grayson," eu murmurei, arrastando meus dedos por seu cabelo escuro. Meu
corpoestava relaxado, aquecido sob o manto de seu calor. Ele ficou de joelhos
momentaneamente para tirar sua camiseta, e então inclinou-se para desprender meu sutiã. Este caiu
para o lado, e ele trouxe as tiras pelos meus braços, seu olhos se demorando em meus mamilos, que
se endureceram imediatamente no ar fresco.
"Assim como pétalas de rosa", ele sussurrou. E então ele voltou por cima de mim, sua
língua deslizando em minha boca. Eu tremi, acendendo faíscas entre as minhas pernas.
Minhas mãos patinaram por sua espinha. Sua pele parecia cetim quente. Ele era tão amplo,
tão forte em todos os lugares em comparação com a minha suavidade –
pecaminosamente e perfeitamente masculino. Eu adorava a sensação de seu peso em cima de mim,
sentir seus músculos movendo-se sob minhas mãos, causando um rebuliço delicioso na minha
barriga. Ele era muito mais forte do que eu, e mesmo assim me tratava tão gentilmente. O movimento
lento de sua pélvis sobre a minha fez meu sangue pegar fogo, e eu gemi em sua boca. Tínhamos feito
amor inúmeras ​vezes mas, de alguma forma, a cada vez eu me senti nova, diferente.
Eu trouxe a minha mão entre nós e corri meus dedos sobre os músculos do seu estômago,
sentindo-os tensos sob o meu toque quando ele respirou. Eu amei fazer o meu lindo marido suspirar.
Ele sorriu contra a minha boca, afastando-se para longe de mim quando eu soltei um pequeno
gemido pela perda. Ah, mas ele era o único no controle hoje. Inclinando-se, ele tirou algo do cesto e
colocou-o sobre o cobertor ao nosso lado. Um cacho de uvas. "Isso", disse ele, sua voz rouca, "é uma
uva chardonnay." Ele arrancou uma do cacho, sugando-o entre os lábios e mordendo-a ao meio. Eu
assisti fascinada quando ele a tomou entre os dedos e trouxe-a para o meu mamilo. Eu respirei fundo,
inclinando a cabeça para trás enquanto meus olhos fechavam. A sensação da fruta
molhada e aquecida por sua boca parecia deliciosa contra a minha pele macia. Inclinou-se para baixo
ele lambeu o suco deixado pela uva, beijando cada mamilo antes de colocar o pedaço de
uva em meus lábios.
"O sabor de uma uva chardonnay é geralmente neutro; os sabores mais acentuados
são trazidos pelo carvalho", ele disse, esfregando-a em minha boca. Lambi meus lábios
enquanto ele observava minha língua, seus olhos escurecendo e preguiçosos com desejo. Eu vi o
pulso em seu pescoço batendo rapidamente. Peguei a uva entre meus dentes, fechando meus olhos
com a explosão de doçura em toda a minha língua. Grayson se inclinou e beijou-me novamente,
rodando sua língua na minha boca.
"Hmm," ele murmurou contra a minha orelha quando se afastou da minha boca. "Você está
indo bem até agora. Uma estudante muito atenta", ele brincou.
"Você é um pouco difícil de ignorar."
Seus lábios se inclinaram em um pequeno sorriso satisfeito, e ele se inclinou para trás e
puxou outro cacho de uvas da cesta, estas roxo azuladas. "Cabernet Sauvignon", disse ele em voz
baixa. Ele novamente tomou um grão nos lábios e mordeu-o ao meio, arrastando-o para baixo pela
minha barriga. Inclinando-se para lamber o suco, a sensação de sua língua quente sobre a pele
sensível do meu estômago fez com que meu pulso pulasse freneticamente. Agarrei sua cabeça em
minhas mãos, ofegando um suspiro. Ele levantou a cabeça e, por um breve segundo nossos olhos se
encontraram e seguraram, algo não dito fluindo entre nós.
Eu te amo, eu pensei. Meu coração é seu. Eu deixei minha cabeça cair para trás, com muito
medo de dizer as palavras, com medo que ele não as diria de volta.
"Estas uvas fazem um vinho encorpado", disse ele, sua voz soando como se ele estivesse
lutando pelo controle. Eu sempre me lembraria desta lição; eu me lembraria de cada palavra. De
todas as sensações.
Antes mesmo que eu percebesse Grayson tinha se levantado e aparentemente tirado os
sapatos, já que ele estava agora tirando seu jeans. Ele estava de volta ao meu lado em apenas alguns
segundos, arrancando outra uva de um grupo diferente de frutas roxo profundo. Ele segurou-a entre os
dentes e enfiou os polegares na minha calcinha. Quando eu levantei meus quadris, ele puxou-
a e jogou-a de lado. Ajoelhando ao meu lado ele passou o dedo indicador entre as minhas pernas e eu
gemi, abrindo-me para ele. Ele correu a uva sobre a minha pele mais sensível enquanto eu lutava
para controlar meu quadril, evitando empurra-lo em sua direção, querendo mais. "Merlot", ele
praticamente rosnou. "Produz vinhos com sabores ricos." Eu suspirei em tormento e
alívio quando ele lambeu o suco. Quando sua língua rodou e enrolou em mim o prazer foi tão
intenso que eu pensei que teria um orgasmo em meros segundos. Eu me contorci, ofegando seu nome.
E de repente ele tomou conta de mim de novo, minha pele fria aquecida novamente pela cobertura de
seu calor. Ele tomou-se em sua mão e esfregou a cabeça inchada em minha entrada enquanto eu
inclinava meus quadris em sua direção num convite aberto.
"Sim", ele respirou, empurrando para dentro.
Minha respiração ficou presa na sensação agora familiar dele me enchendo. Nada era mais
maravilhoso. Nada.
Exceto, sim, havia algo.
Ele começou a empurrar.
Deixei escapar um suspiro agudo com o súbito prazer intenso, e corri minhas mãos por
suas costas, terminando na sua bunda, saboreando a sensação de seus
músculos duros trabalhando sob minhas mãos. Nos movemos juntos, e como a poesia sensual o
prazer se construiu mais e mais alto, até que não havia mais para onde ir, exceto sobre a borda. Eu
gritei, espasmos felizes forçando meu corpo enquanto distantemente ouvia Grayson grunhir
seu próprio clímax, seus
quadris dando dois últimos impulsos desajeitados quando ele gozou tremendo e, em seguida,
respirando asperamente na curva do meu pescoço. O mundo ainda estava calmo quando eu flutuei de
volta à Terra, a respiração de Grayson lentamente irregular contra a minha pele. As nuvens flutuavam
preguiçosamente acima de nós. Pássaros clamavam nas árvores ao redor, e o coração de meu marido
batia contra o meu próprio. E eu me senti como se o mundo fosse apenas cheio de beleza.
"Que outras lições posso ansiar como a esposa de um enólogo?" Eu perguntei, sem fôlego.
Grayson riu contra a minha pele.
"Oh, eu tenho um montão de instruções a dar. Isso é apenas o começo." Ele rolou de cima
de mim e beijou-me mais uma vez, sorrindo contra minha boca. Eu tremi um pouco no
ar fresco conforme me sentava e puxava nossas roupas. Grayson tirou uma garrafa térmica de
café, alguns bolinhos de laranja cranberry de Charlotte e um recipiente plástico com morangos. Nós
comemos o nosso pequeno almoço/piquenique juntos, rindo e conversando. E se havia felicidade
maior do que isso, eu pensei, eu não poderia imaginar o que era.

Na tarde seguinte, a chuva veio para baixo. Ela tamborilou na janela, pintando o mundo
exterior em aquarelas enevoadas. Sentei-me no escritório de Grayson, olhando para as árvores de
carvalho e para os portões da frente mais além, as impressões de registros contábeis espalhadas
sobre a mesa anteriormente limpa. Eu tinha organizado seu escritório, e agora tudo tinha um
lugar, desde uma pasta de arquivo rotulada ordenadamente em sua gaveta da mesa até uma das
bandejas com papel empilhado sobre ela. Quando me levantei, Sugie se afastou dos meus pés
e bocejou.
"Fique aqui, menina," eu acalmei. "Eu já volto."
Eu encontrei Charlotte e Walter na cozinha, sentados ao lado um do outro na grande mesa
de jantar, uma xícara de chá na frente de cada um.
"Oh, olá, querida. Você gostaria de se juntar a nós para uma xícara de chá? A temperatura
realmente caiu hoje."
"Claro. Mas eu mesma pego a caneca. Fique aí", disse a Charlotte quando ela começou a
ficar de pé. Eu sentei-me à mesa, segurando meu copo em direção a Charlotte quando ela derramou
chá de um pote que já estava na mesa. Agradecendo-lhe, coloquei minhas mãos em torno da caneca
morna e deixei o calor escoar na minha pele.
"Você está bem?" Charlotte perguntou, uma nota de preocupação em seu tom. "Está tudo
bem com você e Gray? Parece -"
"Sim, está tudo bem com a gente." Eu sorri. "Melhor do que bem." Eu mordi meu lábio. "É
outra coisa." Eu olhei para trás e para frente entre Charlotte e Walter, não querendo pôr em palavras
o que eu suspeitava, mas sabendo que eu tinha que fazer.
"O que foi?" Perguntou Charlotte. Ela e Walter pareciam tornar-se muito quietos.
"Eu fui inspecionar os registos contabilísticos antigos e parece... Bem, parece como se
Ford Hawthorn propositadamente tivesse levado esta vinha à falência. Isso é mesmo possível?" Eu
sussurrei.
Charlotte e Walter olharam para o outro, suas expressões sombrias.
"Você não deve dizer a Grayson o que descobriu", disse Charlotte. "Eu não sou
geralmente a favor de reter a verdade, mas... ele sofreu o suficiente nas mãos de seu pai e
isto... o destruiria. Talvez algum dia... Eu acho que nós vamos saber quando for a hora certa, mas não
agora. Ele está apenas começando a curar."
Eu exalei um grande fôlego. "Então é verdade", eu botei para fora, um arrepio correndo
pelo meu corpo. "Por quê? Por que ele faria isso?"
"Esta foi sua última mensagem para Grayson", disse Charlotte, com os olhos lacrimejando.
"Walter tentou evitar, tanto quanto ele poderia - tentou preservar qualquer coisa possível, mas quando
Ford descobriu que estava doente, e Shane e Jessica disseram que não queriam ter nada a ver
com a vinha, ele percebeu que só poderia deixá-la para Grayson, e então começou a destruí-la.
Felizmente ele tinha menos tempo do que pensava, mas ainda assim fez bastante dano, mesmo no
curto período de tempo que teve."
Eu me senti mal, náuseas agitando meu estômago. "Ele o odiava tanto assim?" Meu corpo
de repente sentiu um calafrio apesar do chá quente em minhas mãos. Eu percebi que estava apertando
a caneca, e soltei minha aderência.
"Ele odiava a si mesmo", Charlotte disse, e pela primeira vez desde que eu
tinha a conhecido ouvi raiva aquecida em sua voz. "E ele canalizou isso em seu relacionamento com
seu filho. Ele quis deixar um inútil pedaço de nada a Grayson como sua última bofetada em seu rosto.
Foi cruel e feio e vingativo e-"
"É mentira," a voz de Grayson veio da porta. Todos nos assustamos. Chá quente espirrou
nas minhas mãos quando meu corpo estremeceu.
"Grayson", eu respirei.
"Não", ele disse, mas sua voz quebrou quando ele caiu contra o batente da porta. Charlotte,
Walter e eu nos levantamos rapidamente e corremos para ele.
"Gray", Charlotte disse, estendendo a mão para agarrar a dele, sua expressão
profundamente atormentada.
"Diga-me que é mentira, Charlotte," ele disse, seus olhos suplicando.
Seu rosto registrou uma profunda tristeza, mas ela baixou os olhos. Ela não pode mentir em
resposta a uma pergunta direta, não para Grayson. O estrago já estava feito. Grayson virou-se e
caminhou rapidamente para fora da sala, indo para as escadas.
Charlotte e Walter passaram a segui-lo, mas eu coloquei minha mão para cima. "Deixe-me
falar com ele", eu disse. "Por favor."
Ambos assentiram, Charlotte torcendo as mãos, parecendo angustiada.
"Se você precisar de nós, estaremos aqui", disse Walter. Eu balancei a cabeça, oferecendo
um pequeno sorriso triste.
Subi as escadas, descrença ainda golpeando meu coração. Como isso foi possível? Ao
analisar os registros eu fiquei profundamente desconfiada, mas tinha dificuldade em acreditar que
poderia realmente ser verdade.
Alguém poderia ser tão mau? Alguém poderia odiar tanto assim no final de sua vida? Esse
foi o legado ele optou por deixar? Eu não poderia envolver minha mente em torno disso. Esse tipo de
vingança era totalmente irreal na minha mente. Entrei no quarto principal que Grayson e eu
compartilhamos e encontrei-o em pé diante da janela, olhando para a chuva.
"Gray", eu disse timidamente, aproximando-me. Ele se virou para mim, e o olhar de
devastação austero em sua rosto me parou no meu rastro. Eu respirei fundo.
"Eu fiz uma promessa a ele", engasgou. "Eu pensei... E todo esse tempo..." Ele afastou-
se da janela, pressionando as costas contra a parede ao lado dele. Suas pernas entraram em colapso
sob ele, e ele deslizou para o chão, enterrando a cabeça nos braços. Eu soltei um pequeno grito
assustado e corri para a frente, caindo sobre o tapete e passando os braços ao redor de seu corpo
tremulo. E enquanto eu o segurava ele fez o que provavelmente tinha precisado fazer por seis longos
anos, mais provavelmente por toda a sua vida: ele chorou.
Capítulo Vinte e Dois

Kira
Hawthorn Vineyard parecia muito tranqüila. Grayson tinha ficado em nosso
quarto pelo resto do dia, não retornando ao trabalho, permanecendo deitado na cama e olhando para
a parede. Eu vim para o quarto várias vezes, mas ele não tinha falado muito comigo. Eu imaginei que
ele só precisava processar o que descobriu. Quem não precisaria? Ele estava profundamente ferido e
angustiado. O sistema de crenças que ele tinha mantido perto de seu coração por tanto
tempo estava agora completamente destruído. Ele tinha vivido para cumprir uma promessa – um
voto singular embasado no que ele agora sabia que eram mentiras. E a verdade que havia lá embaixo
era feia e esmagava a alma. Eu não precisava saber se ele se sentia sem direção - eu estive lá uma
vez, também. Eu só queria que ele falasse comigo.
Eu tinha acordado no meio da noite e procurado pelo meu marido, mas seu lado da
cama estava vazio e frio. E agora eu estava andando em minha pequena camisola através de
uma casa escura e silenciosa, procurando por ele. "Grayson?" Eu chamei baixinho. Sem resposta.
Fiquei parada e ouvi, e então finalmente escutei algo muito distante que soava como vidro
quebrando.
Eu segui o barulho distante até que cheguei a porta da sala que agora eu sabia que ia até
uma adega de vinhos, embora nunca tivesse entrado ali. Apenas uma pequena fenda estava aberta,
uma luz brilhando de baixo para cima. "Grayson?" Eu chamei novamente. Quando ainda
não obtive resposta, eu timidamente abri a porta e desci a estreita escada em espiral. Os
sons ficaram mais distintos, um estrondo alarmante levando-me a fazer uma pausa antes de avançar.
Quando cheguei ao fundo e espiei ao virar a esquina vi Grayson sentado no
chão, inclinando-se contra uma prateleira e bebendo uma garrafa de vinho. Ele me viu e levou a
garrafa para longe de seus lábios, limpando a boca com as costas de uma mão e segurando o vinho
em minha direção. "Kira, experimente. É um Domaine Lefl... blá blá blá quem se importa, a partir de
França", ele arrastava a fala ligeiramente, me dando um sorriso irônico. Então ele jogou a garrafa e
viu como ela se espatifou no chão de cimento no meio várias outras garrafas quebradas, seus
conteúdos juntos numa mistura agora inútil de vinho, vidro, e rótulos de garrafas encharcadas. "Opa,
desculpe, deslizou para fora da minha mão. Eu não sou normalmente tão propenso a acidentes. Aqui,
vamos tentar outra?" Ele chegou por trás dele e apanhou uma garrafa diferente da prateleira e pegou o
abridor de vinho ao lado dele no chão. Corri para a frente, ajoelhando-me ao seu lado.
"Grayson," eu disse, inclinando-me para a frente e colocando uma mão em seu rosto, "o
que você está fazendo?"
Ele parou em seus esforços para abrir a garrafa, olhando com os olhos turvos para mim.
"Estou experimentando a coleção de vinhos raros do meu pai", disse ele." Walter fez um bom
trabalho protegendo-a antes que ele pudesse destruir ele mesmo, mas estou realmente apenas fazendo
o que ele teria feito se tivesse sido dada a oportunidade." Ele fez uma pausa, mágoa deslizando sobre
suas características antes que ele continuasse. "Você sabe que de todas as coisas que eu vendi nesta
casa, eu evitei estas, porque eu acreditava que decepcionaria o meu pai? Quando você veio ao
longo do dia, e eu não tive paz de espírito para lutar contra isso", ele acenou com o braço para trás
da prateleira atrás dele que ainda tinha várias garrafas, "eu estava tão
aliviada que faria qualquer coisa para deixar meu pai orgulhoso." Ele riu, um som oco preenchido
apenas com a dor.
Ah, então ele estava determinado a tomar na justiça o que podia com as próprias mãos. Só
que, se o olhar no seu rosto era qualquer indicação, não o satisfazia.
"Então," eu disse, lançando-me mais perto, "sobre nós vendermos o resto deles em vez de
dar-lhe o satisfação de fazer exatamente o que ele teria feito? Que tal fazer algum dinheiro com isso
e comprar... um macaco de estimação e nomeá-lo com o nome do seu pai? Ou... uma bicicleta dupla-
sentado? Nós vamos andar por aí por Napa falando sobre quão burro seu pai era. Ou... um papagaio!
Vamos ensiná-lo a dizer coisas desagradáveis repetidamente sobre Ford Hawthorn." Eu coloquei
minha mão em seu joelho. "Há coisas melhores para fazer do que isto. Nós vamos chegar a algo
juntos."
Grayson tocou minha coxa nua com um dedo e arrastou-o para cima, levantando o material
da minha camisola com ele. "Você é tão bonita", disse ele.
Sorri um pequeno sorriso. "E você está tão bêbado."
"In Vino Veritas", ele sussurrou, repetindo a frase gravada acima da porta que eu tinha a
intenção de procurar o significado. Seu dedo traçou o cós da minha calcinha. "No vinho há uma
verdade." Ah. Ele fez uma pausa, sua testa franzida. "Só que aqui existem apenas mentiras e
enganos."
"Grayson, não..."
Ele balançou a cabeça, trazendo a mão. "Pense nisso, apesar de tudo. Era realmente como
um perfeitamente desonesto plano - a maneira perfeita para me dizer o quanto ele me odiava, a
vingança perfeita. Se ele tivesse apenas um pouco mais de tempo, eu poderia ter
vindo em casa para um monte de cinzas inúteis." Ele deu uma forte e trêmula respiração. "Eu pensei
que era um presente, e foi exatamente o oposto. Depois de tudo... Eu pensei que finalmente... Jesus.
Dói muito, Kira", disse ele, sua voz cheia de angústia. O olhar em seu rosto me fez sentir como se
meu coração fosse quebrar em pedaços minúsculos e se juntar as garrafas quebradas espalhadas pelo
chão. "Há tanta dor", disse ele num sussurro quebrado.
"Eu sei", eu disse, movendo-me até ele para levá-lo em meus braços conforme ele
inclinava a cabeça no meu peito. Deus, eu conhecia a dor que ele estava sentindo agora. Eu entendia,
e eu sofria por ele. "Ouça-me, Grayson." Eu me inclinei e tomei seu rosto em minhas mãos, olhando-
o nos olhos. "Há sempre dor nesta vida. Não só para mim, não apenas para você – mas para todos.
Você não pode evitár. E, às vezes, a dor é tão grande que parece como se esculpisse a própria
essência de quem você é. Mas isso não acontece, não se você não permitir. Ela esculpe um lugar em
você, sim, mas o amor é destinado a preencher esse espaço. Se você deixá-la, a dor toma mais
espaço do que o amor dentro de você. E o amor que carregamos dentro de nós torna-
nos fortes quando nada mais pode."
Seus olhos escuros procuraram os meus. "Você acredita nisso?" ele perguntou.
"Eu sei disso."
Grayson deixou escapar um suspiro longo e instável, enterrando a cabeça no meu peito
novamente. "Minha Kira..." ele murmurou, "se eu pudesse acreditar nisso, também."
"Você pode. Com o tempo você vai. Deixe que seja o legado que seu pai deixou a você.
Essa é a vingança perfeita."
Sentamos dessa forma pelo que pareceu um longo tempo, e eu segurei-o até que minhas
pernas começaram a ter cãibras.
Grayson finalmente olhou para mim, passando o polegar sobre minha bochecha, e
murmurou, "será que arruinara o momento se eu lhe dizer que quero te levar lá em cima
e te foder até que eu não consiga ver direito?"
Eu ri baixinho. "Eu estou à seu serviço. Mas, primeiro vamos fazer um café e te
deixar sóbrio. Você vai se sentir como o inferno amanhã. E nós temos um longo dia de macaco para
fazer compras."
Grayson soltou uma risada, que terminou em metade gemido/metade suspiro.
"Ok", ele finalmente disse. "OK."

"Grayson não está trabalhando hoje?" Charlotte perguntou, seu rosto um estudo em
preocupação.
"Acho que não. Ele não saiu da cama esta manhã. Mas ele precisa dormir - ele bebeu um
pouco ontem à noite." Eu tinha dito a Walter sobre a bagunça no porão, e ele já tinha
limpado, fazendo um inventário das garrafas que Grayson não tinha esmagado. Talvez o
macaco fosse um pouco exagerado, mas eu estava falando serio sobre o papagaio.
"Talvez eu devesse ir lá em cima e falar com ele..." Charlotte disse.
Eu balancei a cabeça. "Mais tarde, Charlotte, ele precisa dormir. Mas eu tenho certeza que
ele apreciaria o que você tem a dizer. Ele parece tão" eu mordi meu lábio por um momento, "triste-
deprimido".
"Eu tenho certeza que é exatamente como ele está", disse ela, e balançou a cabeça
tristemente. "E ele não pode está feliz comigo, nem com Walter..."
"Ele vai superar."
Charlotte assentiu, mas seu olhar era duvidoso e sua falta de confiança só serviu para me
fazer mais nervosa. Ela parecia tão perturbada que eu dei-lhe um abraço. "Ele vai ficar bem", eu
disse. Mas meu tom estava sem convicção, mesmo para os meus próprios ouvidos. O olhar perdido
em seus olhos quando eu tinha deixado o quarto esta manhã tinha enviado um calafrio através do meu
sangue.
E lá estava o fato de que eu estava escondendo alguma coisa dele também. No início,
não parecia que a informação precisava ser partilhada. Mas então tudo tinha acontecido tão
rapidamente... e agora, isto era um segredo entre nós, e eu sabia que precisava dizer-lhe, mas não
sabia como ele reagiria. Ele ainda estava no chão, tão emocionalmente instável. Quantos segredos
ele poderia processar agora? Com quanta dor uma pessoa pode lidar antes de se quebrar?
Sou eu de novo, vovó. Se você pudesse me enviar alguma sabedoria... o que eu faço?
Charlotte me puxou do meu devaneio preocupado. "Gray recebeu um telefonema esta
manhã dizendo que seus rótulos de garrafas estão prontos", disse ela. "Eu acho que vou pra cidade
buscar para ele."
"Eu vou cuidar disso. Eu preciso sair para um pouco, de qualquer maneira. Sinto que estou
respirando no pescoço de Grayson. Ele provavelmente precisa de um pouco de tempo para processar
tudo por conta própria. Eu não quero ficar no seu caminho. Se ele vier para baixo, você vai
me enviar um texto?"
"Sim, claro, querida. Nos vemos em breve."
Eu dirigi para a cidade, indo direto para a pequena gráfica, onde Grayson tinha
encomendado os rótulos para o vinho prestes a ser engarrafado. A mulher na recepção trouxe a caixa
para mim e, em seguida, passei meu cartão bancário, franzindo a testa ligeiramente na máquina. "Eu
sinto muito, Sra Hawthorn, diz que seu cartão foi recusado."
"O quê? Isso não pode estar certo", eu disse. Havia muito dinheiro na conta. "Será que
pode tentar novamente?" Ela fez, e obteve o mesmo resultado, parecendo desconfortável.
Apesar do frio que passou pela minha espinha eu balancei minha cabeça. "Meu marido
provavelmente comprou algo e não me disse. Eu vou ter que parar no banco. Homens."
Ela riu suavemente. "Isso já aconteceu comigo antes, também. Você quer que eu tente outro
cartão?"
Eu não tinha outro cartão. Eu procurei na minha bolsa, contando o dinheiro que eu tinha.
Felizmente eu tinha um pouco. Eu tinha sacado dinheiro para dar de gorjeta aos fornecedores na festa
há algumas semanas, mas no fim Grayson tinha dado a Walter o dinheiro para isso, então eu não tinha
usado o que estava na minha carteira. Contei o dinheiro para pagar a conta e entreguei-o,
agradecendo-lhe e saindo da loja com a caixa de rótulos.
Coloquei-a no porta-malas, entrei no meu carro e fui direto para o banco. O sentimento de
pânico que tinha varrido através de mim dentro da loja de impressão era agora um caso de explosão-
máxima de zumbido de nervos. Meu coração batia no meu peito como se estivesse pressentindo que
algo terrível estava prestes a acontecer. Oh Deus, por favor, deixe que este seja algum mal-
entendido estranho, um erro do banco, qualquer coisa. Por favor, por favor...
Eu estacionei, e levei um momento para tomar respirações profundas e calmantes antes
de caminhar até o banco. Felizmente ele estava praticamente vazio, e eu me aproximei de um caixa
sem ter que esperar. Quando eu disse a ela porque estava lá, ela olhou para a minha conta e franziu a
testa para a tela. "Eu sinto muito, Sra Hawthorn. Parece que sua conta foi colocada em custódia." Oh
Deus.
"Em custódia?" Eu guinchei. "Será que há uma razão de por quê?"
Ela balançou a cabeça. "Não, eu sinto muito. Você deve receber algo por e-
mail explicando se sua conta está sendo notificada ou se há outra razão legal para a espera."
Meu coração estava batendo tão rapidamente que eu tive problemas para recuperar o
fôlego. "Você é capaz de verificar a conta do meu marido?", perguntei. "Só para me dizer se esse
bloqueio foi posto na sua, também?"
"Bem..."
"Por favor", eu disse, "eu não quero qualquer outra informação. Eu sei que está somente em
seu nome. Apenas se você pudesse..." Eu puxei uma respiração afiada, o pânico me oprimindo por
um momento. Eu trouxe a minha mão ao meu peito. "Sinto muito."
A mulher mais velha sorriu com simpatia. "Deixe-me apenas..." Ela começou a digitar no
computador dela.
Ela franziu a testa novamente. "Sim, parece mesmo que a conta dele foi colocada em
custódia, também."
"Obrigada", eu disse, o conteúdo do meu estômago chegando em minha garganta. Engoli
pesadamente. "Eu agradeço-lhe muito."
Eu me virei para ir embora, e ela me chamou, "eu tenho certeza que isto será esclarecido,
Sra Hawthorn."
Eu virei minha cabeça, mas continuei andando. Não, não, não faria. Oh, Deus. "Sim, eu
tenho certeza. Obrigada."
Eu andei rapidamente para o meu carro, minha pele fria e espinhosa, e uma vez que estava
sentada atrás do volante eu puxei meu telefone, discando o número do meu pai.
Ele atendeu no terceiro toque. "O que você fez?"
Pausa. "Kira."
"O dinheiro era da minha avó", eu explodi. "O que você fez?"
Eu ouvi o seu profundo suspiro e, em seguida, ele pareceu colocar a mão sobre o receptor
enquanto falava com alguém no fundo. Eu pensei ter ouvido uma porta fechar antes dele voltar. "Ele
não é certo para você, Kira. Ele é um criminoso."
"Seu filho da puta", eu jurei. "Você fez isso. Por quê?" Minha voz falhou, tristeza e
raiva me oprimindo. "Você realmente me odeia tanto assim?" As palavras soaram familiar.
Não fiz essa mesma pergunta sobre Grayson e seu próprio pai?
"Claro que eu não odeio você, Kira. Eu só não quero que você faça escolhas para a sua
vida que levarão você na direção errada".
"É minha vida!" Eu gritei. "Eu sou uma mulher adulta. Você não tinha o direito de fazer
isso. E agora você colocou seu negócio em risco, também - ele tem funcionários que contam com
ele."
"Se o seu marido conta com o seu dinheiro para o sucesso, então ele não é um homem em
tudo." Sua voz era firme, implacável.
"Você não tinha esse direito – sem pernas para se sustentar. Esse dinheiro é legalmente
meu. Minha avó deixou para mim."
"Sim, talvez, mas eu posso amarrá-lo no tribunal até você ver a lógica da minha posição
e a loucura de suas escolhas. Estou fazendo isso para seu próprio bem, Kira. Eu sou seu pai. Não
posso deixá-la arruinar sua vida."
Choque e horror deslizaram pela minha espinha enquanto lágrimas deslizavam pelo meu
rosto. "Você está fazendo isso para o seu próprio bem", eu assobiei. "Você nunca deu à minha
felicidade um momento de consideração. Voce está fazendo isso por causa de seu próprio
orgulho - você não suporta me ver fazer qualquer coisa que não funciona em alguma agenda de sua
própria criação. Você não pode suportar a idéia de que eu não estou sob seu polegar como todos os
outros em seu mundo."
Ele suspirou. "Kira -"
"Você não fez o suficiente para ele?" Eu perguntei, percebendo que não havia nada a perder
agora se discutíssemos isso. Ele já tinha feito o que eu mais temia. "Eu me lembro, você sabe. Eu
estava lá quando o juiz do seu caso chegou ao seu escritório. Ouvi o seu conselho. Eu ouvi você
dizer-lhe para lançar o livro em Grayson, para fazer dele um exemplo. E isso foi o que ele fez."
"Eu dou um monte de conselhos às pessoas. Não há nenhuma lei contra isso. E se esse
menino teve o livro jogado nele, é porque é o que ele merecia."
Ele se embrou. A rapidez da sua resposta deu-me certeza. Ele não
tinha recordado quando fomos vê-lo em San Francisco, no entanto, eu tinha certeza disso.
Ele pesquisou Grayson mais de perto em algum momento depois disso.
Eu sabia. Mas se foi antes ou depois que ele ofereceu o dinheiro de suborno, eu não podia
dizer.
Meu pai tinha feito sua parte em oprimir Grayson ao todo. Mas não só foi o crime de
Grayson um acidente, como também tinha sido baseado em razões corajosas - ele estava tentando
proteger alguém.
Por um momento, o único som era a minha respiração áspera enquanto eu tentava engolir os
soluços desesperados que escapavam do meu peito. "Esses conselhos que você dá afetam vidas,
papai. Vidas de seres humanos que têm esperanças e sonhos. Como o conselho que você
deu a Cooper sobre como lidar com a situação comigo. Você acabou comigo. Você sabia disso? E
você esmagou Grayson, também. Por favor, por favor, não faça isso. Apenas acabe com tudo que
você fez e nos deixe ser felizes. Você já fez o suficiente. Por favor." Eu chorei em seguida, um som
áspero, ofegante.
"Eu sinto muito, Kira. Isto é para o seu próprio bem, e o de Cooper também, sim. Mas você
vai ver a sabedoria em minha visão algum dia. Quanto ao seu atual marido, eu fiz-lhe uma oferta
muito generosa para ir embora. Eu sugiro que ele aceite, se não quer seu negócio falhe."
"E que cordas estão anexadas a isso?" Eu cuspi para fora.
"Não há muitas. Ele está recebendo uma quantidade significativa de dinheiro para muito
pouco sacrifício. Eu pedi apenas que ele se afastasse de você permanentemente, e concordasse com a
história que ele se aproveitou de você - uma garota problemática com um fundo fiduciário
significativo."
Muito. Pequeno. Sacrifício. Eu. Isso é o que ele pensa de mim.
Meu sangue virou água gelada, e não pelo fato de que meu pai me jogaria debaixo
do ônibus, mas por perceber que ele não tinha escrúpulos de arruinar a vida de Grayson também.
Mais uma vez. "Ele está apenas começando a ganhar de volta a sua reputação. E agora você está
pedindo-lhe para mentir e ter as pessoas olhando para ele como um pária novamente? Como você
espera que ele faça uma vida para si mesmo em um lugar onde as pessoas não têm respeito por ele?"
"Isso não é problema meu. Com o dinheiro que eu estou oferecendo ele pode fazer uma
vida em qualquer lugar."
Ele se via como uma espécie de herói. Seu ego era tão colossal que ele realmente se via
como um agente de justiça. Ele era verdadeiramente delirante.
"É por isso que se casou com ele?" ele perguntou. "Outro caso de caridade para você?"
"Não. Eu o amo", eu disse com simplicidade e sinceridade. Não havia nenhuma razão para
tentar convencê-lo de mais nada.
De repente, senti-me entorpecida. Ele nunca me deixaria em paz. Eu passaria o resto da
minha vida sendo seu peão, de alguma forma ou de outra. Olhando fixamente sem ver pelo pára-
brisa eu terminei a chamada sem mais uma palavra.
Eu não me lembrava de dirigir de volta para casa. Casa. Outro soluço ameaçou me
sufocar quando as lágrimas deslizaram pelo meu rosto, uma mais rápida do que a outra. "Você está
bem." Eu me assegurei. "Tudo ficará bem. Grayson e eu vamos resolver isso juntos. Ele disse
que cuidaria de mim agora." Oh Deus, mas nenhum de nós tinha um centavo em nosso nome, de novo.
Eu atravessei os portões e imediatamente notei um carro preto
estacionado na frente da fonte. Oh Deus, e agora? Quando eu parei atrás dele Cooper saiu do banco
de trás. Meu coração gaguejou novamente e, em seguida, assumiu uma batida staccato. A este
ritmo eu provavelmente morreria de insuficiência cardíaca antes que este dia acabasse.
Eu dei um último suspiro profundo e sai do meu carro, fechando a porta com um clique
silencioso. Cooper já estava andando em minha direção. "Kira, o que se passa?" ele perguntou, um
olhar de preocupação em seu rosto. Eu enxuguei os olhos.
"Você realmente não sabe, Cooper? Ou você está nisto também? Você e meu pai - algum
tipo de dupla demente", sugeri categoricamente.
Ele respirou fundo, vincando sua testa. "Sim, eu sei o que ele fez. Eu sinto muito. Mas
tenho que concordar com seu desejo de te tirar daqui." Ele acenou seu braço atrás dele, para a casa
de Grayson. "Ele é um assassino, Kira", ele disse asperamente. "Você provavelmente sequer está
segura."
"Eu estou um milhão de vezes mais segura com ele do que já estive com você." Minha
voz aumentou em volume quando eu cuspi as palavras para ele. Mas, de repente outra onda de
derrota caiu sobre mim. Lutar com Cooper não resolveria esta situação. Eu mudei minha tática.
"Cooper", eu disse, aproximando-me dele, a minha voz tremendo um pouco, "Eu sei que o que você
fez foi..." Eu balancei a cabeça, procurando as palavras que iriam convencê-lo, ao invés
de motivar sua raiva, "por causa das drogas e do álcool. Eu sei que não foi o verdadeiro você."
Ele pareceu considerar essa explicação momentaneamente, e encontrei-o agradável. "Não
foi, Kira." Mentiroso. "Não fui eu. Eu estava fora de controle. Mas ninguém pode saber disso. Isso
me arruinaria." Mas você estava perfeitamente bem com arruinar-me.
Eu balancei a cabeça rapidamente. "Eu não quero expô-lo, Cooper. Eu nunca vou revelar o
que aconteceu entre nós. Eu vou levar a culpa. Está tudo bem. Eu vou fazer o que me pede. Só, por
favor, convença meu pai a tirar a custódia do dinheiro da minha avó. Convença-o a deixar-nos em
paz. Será que vai realmente feri-lo elaborar um novo plano, um que não me envolva? Por favor,
Cooper, se alguma vez você me amou, por favor, deixe-me ser feliz."
Cooper mordeu preocupado seu lábio, parecendo contemplar minhas palavras.
Esperança pulou no meu peito, e eu aproximei os poucos passos que nos separavam. "Você não sabe
tudo o que ele faz, tudo do que ele é capaz. Eu sei que você é melhor do que ele, Coop. Não se
misture com meu pai mais do que você já fez."
"O que ele faz?" Cooper perguntou, movendo uma mecha de cabelo do meu rosto. Olhei
para a casa, com a esperança de que Grayson não estivesse olhando pela janela. Não,
ele provavelmente ainda estava dormindo. Eu não queria que ele entrasse no meio disso. Eu
precisava convencer Cooper a me ajudar.
Eu balancei minha cabeça. "Ele manipula as pessoas para seus próprios esquemas. Ele
usou até Grayson. Ele já machucou-o, usou-o de forma tão terrível."
"Usou-me como?" veio a voz dura e fria ao meu lado. Chupei uma respiração irregular,
meu coração pulando. Eu não tinha visto Grayson, porque nossos carros tinham escondido-lhe
quando se aproximou, e eu estava tão concentrada em Cooper. Eu não esperava que
ele estivesse trabalhando hoje, mas ele deve ter ido, pelo menos por um pouco de tempo. Essa era a
direção de onde ele vinha.
"Grayson", eu respirei, afastando Cooper.
Sugie veio de trás de Grayson, olhando diretamente para Cooper e deixando escapar
um rosnado singular, seguido por dois latidos. Meus olhos se arregalaram. Era a primeira
vez que Sugie - pelo meu conhecimento – tinha latido em sua vida.
"Eu acho que você deveria sair. Meu cão não gosta de você."
Cooper sorriu. "Eu tenho certeza que ela é quase tão bom juiz de caráter quanto você é."
"Ela não mente", respondeu Grayson, sua expressão tensa, sua voz gelada. "Ela é um
cachorro, não um político. Saia da minha propriedade."
"Eu estava de saída." Ele voltou sua atenção para mim. "Você sabe a minha posição, Kira.
Eu estou preocupado com você, assim como seu pai. Estamos aqui para ajudá-la. Se precisar de mim,
me ligue. Eu estarei aqui num piscar de olhos."
Grayson deu um passo adiante. "Eu garanto que minha esposa não terá nada de você –
não agora, e nem no futuro."
Cooper olhou para Grayson por um momento tenso, minha respiração suspensa e, em
seguida, ele sabiamente recuou, voltando-se e caminhando para o seu veículo. Deixei escapar um
suspiro áspero.
Nem Grayson nem eu dissemos uma palavra quando Cooper entrou em seu carro e seu
motorista se afastou em torno da fonte e para fora do portão da frente.
"Que diabos foi isso? Você estava chorando?" Grayson perguntou, movendo-se
em minha direção, um olhar em seu rosto que era um cruzamento entre raiva, preocupação e
desconfiança.
"Eu... sim." Eu soltei outro suspiro. "Nós precisamos conversar, Grayson." Eu balancei a
cabeça, os braços pendurados frouxamente em meus lados. "Podemos entrar?"
Ele estudou meu rosto por um momento, desconfiança de repente tomando o centro do
palco. Oh Deus, eu ia machucá-lo, e ele já estava tão magoado. Medo fez meus ombros
enrolarem para frente.
Ele me levou em direção à casa enquanto eu tentei o meu melhor para ignorar minhas
pernas tremendo para segui-lo em seu escritório. Eu perguntava-me o porquê dessa escolha, mas
talvez ele tenha me levado lá simplesmente porque era a sala mais próxima da porta da frente. "Você
quer se sentar?" Perguntei.
"Eu prefiro ficar de pé", ele respondeu laconicamente. Ele estava agindo tão negócios –
assim como eu. Eu tremi, passando os braços em volta do meu corpo. "O que está acontecendo,
Kira?" Sua postura e o olhar atento em seu rosto me lembraram de um homem esperando um golpe.
"O dinheiro foi congelado", eu sussurrei, meu rosto desmoronando.
Sua expressão registrou primeiro a confusão e, em seguida, choque. "O que? Como?"
Eu tomei uma profunda golfada de ar. "Meu pai... Não sei os detalhes.
Ele fez algo, fez reclamações, amarrou isto de alguma maneira até que eles possam ser averiguados."
"Ok, bem, quaisquer reclamações que está fazendo, elas são infundadas. Esse
é o teu dinheiro, pela via das cláusulas."
"Eu sei", eu disse, minha voz embargada. "Mas ele pode amarrá-lo por um longo tempo,
ate que seremos forçados a começar a vender coisas apenas para sobreviver. Ele pode. Ele vai."
Grayson jurou duramente, passando a mão pelo cabelo.
"Eu sinto muito. Eu o subestimei. Eu não acho..."
Grayson olhou em algum lugar além de mim, sua expressão uma máscara ilegível, ficando
em silêncio por tanto tempo que eu queria saber se ele falaria de novo em tudo. "Por que
Cooper estava aqui, e o que você estava falando? Você mencionou que seu pai me usou", ele
finalmente perguntou, trazendo seu olhar para mim. "O que você quis dizer por isso? Conte-me."
"Cooper... Ele estava apenas, eu não sei, fingindo estar preocupado comigo." Eu me mudei
para Grayson, colocando minhas mãos em seus bíceps e olhando para o seu rosto, usando meus olhos
para pleitear com ele. "Por favor, tente entender o que quero dizer-lhe em seguida. Por favor, entenda
porque eu só estou dizendo a você agora. No começo eu não achei que fosse necessário... e, depois
que passou mais tempo..."
Grayson tinha endurecido como pedra, entretanto. "Desembucha, Kira. Agora."
Eu me virei para longe dele. "Eu disse a você como estagiei para o meu pai. Eu estava com
frequência em seu escritório. Eu ouvia coisas..." Eu deixei cair meus braços, voltando-me para
Grayson, que estava ouvindo atentamente. Eu sacudi a cabeça, tentando encontrar as palavras certas.
"Meu pai, ele sempre teve essa ideia de que, se ele tem influência com os juízes locais, ele tem o
poder supremo". A esse respeito, ele não estava errado. Verdade não importava, fatos não importam,
desde que você tenha as pessoas que tomam as decisões finais no seu bolso.
"Ele se vira como pode, como no caso de Cooper, em que ele arranjou favores,
faz acordos... Ele tem feito isto por anos." Poder, tudo volta ao poder.
"O que isto tem a ver comigo?"
Meus olhos se moviam sobre as linhas duras de expressão de Grayson. "Uma noite
estávamos em seu escritório depois do horário. Eu estava terminando alguns projetos enquanto
esperava por ele. Juiz Wentworth, o juiz do seu caso", eu olhei para ele, mas sua expressão não
mudou, "entrou para consultar com meu pai sobre alguns casos, um dos quais era o seu."
"Vá em frente", disse ele, assinalando um músculo em sua mandíbula apertada.
Eu expulsei um longo suspiro. "Eu estava entregando um arquivo, e só ouvi o
suficiente... o suficiente para compreender. Era ano eleitoral, observei, e meu pai aconselhou-o a
lançar o livro em você – dar uma sentença final para enviar a mensagem de que ele não só era duro
com crimes cometidos pelo pobres e minorias, mas que ele também proferia duras sentenças
para criminosos brancos e ricos. É tudo um jogo - um jogo de percepções e manipulação de "fatos".
Os jogadores não importam, o indivíduo, as vidas... não importam - tudo pode ser
torcido, basta observar de um ângulo diferente. Você era um peão. E essa é a razão pela qual você
não conseguiu serviço comunitário ou uma sentença mínima, como seu advogado
acreditava que aconteceria. Por causa do meu pai você foi embora por cinco anos. E eu... nunca
esqueci o seu nome. Naquele dia, no banco, ao ouvi e me lembrei."
Eu finalmente enfrentei um olhar para o rosto de Grayson, à procura de compreensão, mas
apesar de sua pele ter empalidecido, sua expressão demonstrava nada exceto uma fria indiferença. "E
então você decidiu me usar também. Foi tudo uma grande armadilha."
Franzi minha testa. "O quê? Não, não é... encontrar você naquele
banco foi como se o destino-"
"Você espera que eu acredite nisso agora? Usando a mim foi exatamente o que você fez."
Ele riu, um feio som cheio de desdém. "Que maneira perfeita de se vingar de seu próprio pai. Fale-
me sobre a perfeita vingança. Casar com o homem que ele ajudou a colocar na prisão – não admira
que ele esteja tão lívido. Jesus, você é igual a ele, conspirações... usando as pessoas." Eu estava
sufocando, o quarto ficando escuro nas bordas ao meu redor, como se eu tivesse desenvolvido visão
de túnel.
Esquema? Usar as pessoas? Não, eu não fiz isso... fiz? Eu admiti que muitas vezes
vinha com planos e ideias, mas eles não estavam habituados a magoar as pessoas... De repente eu
estava doente e confusa. Eu coloquei minha mão sobre a borda da mesa, firmando-me. Eu fiz? É isso
que eu fiz? Eu tinha feito isso para Grayson?
Eu balancei a cabeça em negação. "Eu não te usei, Grayson, eu queria tentar fazer a coisa
certa. Eu pensei-"
"Fazer a coisa certa?" ele gritou, me assustando. "Como você fez tudo certo?" Ele riu
novamente, correndo a mão pelo cabelo e pegando um punhado antes de trazer a mão para baixo
novamente. "Foi um plano o tempo todo? Usar-me para conseguir o dinheiro e, em seguida, levá-
lo de volta de alguma forma? Santo, porra, Deus. Vocês são todos mentirosos. E olha onde você me
deixou - sem um tostão – casado com uma manipuladora, e agora tendo que lidar com seu
pai novamente, o homem que uma vez arruinou a porra da minha vida!" Seu rosto foi de pálido a
ruborizado, e sua voz tremia quando ele gritou.
"Grayson," eu disse, segurando a minha mão e me movendo mais perto, "é claro que eu não
planejei isso. Você está entendendo isso tudo errado. Depois do que seu o pai fez, eu posso entender,
mas você está olhando para isso através dos olhos de alguém que foi gravemente ferido. Por favor, se
nos unirmos - você e eu – nós podemos pensar em algo que será-"
Ele recuou para longe de mim, o olhar em seu rosto cheio de desgosto. Deixei minha
mão cair. "Pensar em alguma coisa? Ainda conivente, Kira? Basta parar, eu não aguento
mais. Isso está me deixando doente. Você me deixa doente. Eu estou farto de tudo - as manipulações,
as mentiras, as meias-verdades."
Eu balancei minha cabeça. "Você está fazendo isso ser algo que não é. Por favor,
leve algum tempo para pensar nisso. Eu não sou como meu pai. Eu não sou como o seu pai." Minha
voz terminou num sussurro, e eu podia ouvir a dúvida em minha própria voz.
"Isto não tem nada a ver com o meu pai", ele cuspiu. "Isso tem a ver com você, e com o
fato de que eu vou nunca confiar em você novamente."
Eu balancei a cabeça, negando o que estava acontecendo, negando a distância fria em sua
expressão. "Eu sei que deve parecer que você não pode acreditar em mais nada. Mas você pode
acreditar em mim."
"Eu pensei que pudesse."
Uma única lágrima escorreu pelo meu rosto. "Grayson, eu sou sua esposa. O que temos
juntos-"
"Eu posso arranjar bebendo no bar da esquina em qualquer dia da semana", disse ele
friamente.
Coloquei meus braços em volta de mim novamente, tentando desesperadamente não
acreditar em suas palavras vis. "Eu conheço você, sei que não quis dizer isso. Eu não quis te magoar.
Eu te amo", eu resmunguei entrecortada.
Ele inclinou a cabeça para trás e riu, me fazendo estremecer com profunda dor. "Amor?
Amor? Você sabe o que o amor fez na minha vida?" Ele pegou um peso de papel de sua mesa e jogou-
o duro na janela. O vidro quebrou quando foi atingido, quebrando completamente e
desembarcando em algum lugar no chão lá fora. Deixei escapar um gritinho. Ele virou para mim, com
as mãos cerradas em seus lados. "Você não me ama. Eu fui comprado e pago, nada mais. Eu
agi como um marido, não foi? E agora o nosso acordo está acabado. Cai fora", disse ele. "Saia da
minha casa."
"Sair?" Perguntei. "Eu sou sua esposa, eu moro aqui. Esta é a minha casa-"
"Não mais. Eu estou chamando seu pai esta tarde e aceitando a sua oferta. Pelo menos
o resto das pessoas que trabalham nesta vinha não terão que sofrer porque eu me casei com você."
Baixei a cabeça e, em seguida, levantei-a para encontrar seus olhos. "Por favor, Gray, se
você somente me permitir explicar-"
"Eu não tenho nenhum uso para as suas explicações ou suas palavras bonitas.
Todas terminam em mentiras. Saia!" ele gritou, sua expressão furiosa. Eu me assustei novamente e,
em seguida, deixei escapar um soluço singular. Eu me virei para a porta, atirando-a aberta.
Corri, passando por Sugie quando ela se lamentou pesarosamente e seguiu atrás de mim.
Soluçando abertamente agora, eu corri para o quarto principal e coloquei as roupas e
produtos de higiene pessoal na minha mala. Eu tinha certeza que estava deixando algumas coisas para
trás, mas estava muito perturbada e deprimida para fazer uma pesquisa minuciosa.
Eu não tinha feito isso antes? Colocar roupas em uma mala para fazer uma fuga
precipitada? Só que naquele tempo alguém estava me perseguindo. Desta vez... desta vez eu estava
sendo jogada fora.
Por meu marido.
Pelo homem que eu amava com todo meu coração.
E talvez isso seja exatamente o que eu merecia.
Abaixei-me e olhei Sugie nos olhos, esfregando as mãos sobre a cabeça ferida,
tentando controlar minha respiração áspera. "É a minha menina bonita", eu disse. "Você cuida de
todos aqui, OK? Eu sei que te amo, e que você é uma boa menina, uma boa menina." Levantei-me
antes que entrasse em colapso em mais lágrimas, e fiz meu caminho escadas abaixo.
Quando cheguei na frente da casa eu fiz uma pausa, olhando pela porta aberta do escritório.
Grayson estava de pé atrás de sua mesa, inclinando-se com as mãos sobre a superfície na frente dele.
Eu quase andei em sua direção, mas então ele olhou para cima, seu rosto duro e remoto enquanto
olhava para mim sem dizer nada. Ele tinha se retirado completamente, como se nunca tivéssemos
compartilhado nada.
Eu recuei, em seguida, virei-me e corri pela porta da frente, para o meu carro,
jogando minha mala no banco de trás e ficando atrás do volante. Uma rajada de ar estremeceu do meu
peito enquanto eu lutava novamente para recuperar o fôlego. Parecia que o mundo havia desabado ao
meu redor.
Grayson estava de pé na janela agora, observando-me ir embora, assim como fez
no primeiro dia.
Eu liguei o motor e contornei a fonte borbulhante, passando pela minha casinha e pelo
carvalho, a árvore que eu tinha uma vez escalado, continuando para fora através das portas,
acelerando para longe de Hawthorn Vineyard. Indo embora da única casa onde eu já senti que
pertencia.
Capítulo Vinte e Três

Grayson
Miséria. Era a única emoção que eu parecia capaz de sentir. Tudo o que eu achava que
sabia – tudo que já me deu razão para avançar, acabou desabanodo ao meu redor. Eram todos
mentirosos.
Mentirosos, trapaceiros, manipuladores.
Minha casa agora mais parecia aquela pequena cela na prisão que eu vivi por cinco
longos e solitários anos - escura e sombria. Eu rondava pelas salas à noite, bebendo quando eu não
podia encontrar descanso e, em seguida dormindo durante o dia. Trabalho não se mostrava
mais a distração bem-vinda que eu tive uma vez. Qual era o ponto em trazer esta vinha de volta à
vida? Então, eu poderia viver no lugar que meu pai tinha a intenção de usar como ferramenta para me
punir, me lembrando quão inútil eu era? Vê-la prosperar não proporcionava
mais nenhuma satisfação. Na verdade, era apenas um gigante e doloroso lembrete de quanto o homem
me odiava, e como eu pateticamente nunca tinha perdido a esperança de que ele iria me amar um
dia, agarrando-me cegamente a crença de que ele havia deixado esta vinha para mim por amor. Eu
via meu pai em todos os lugares aqui, mas agora, em vez disso me trazer orgulho,
trazia apenas vergonha e amargura.
Se ele me odiava, eu poderia muito bem odiá-lo em retorno. Essa seria minha nova
promessa.
As palavras que eu tinha ouvido meu pai proferir no meio de uma briga com a minha
madrasta voltaram para mim agora. ‘Puta que pariu, Jessica, foi a porra de um erro. Se eu pudesse
voltar atrás, eu faria’. Eu era esse erro. Bem, eu tinha cometido um, também. Confiar nele era a
coisa mais estúpida, mais desesperadamente tola que já fiz. Confiar em alguém em geral era tolo e
estúpido. Eu não cometeria o mesmo erro duas vezes. Nunca mais.
Eu tive Walter vendendo as últimas garrafas de vinho da coleção do meu pai. Eu tinha
reunido a pouca força que me restava para me reunir com José, Harley e Virgil, para que eu pudesse
deixá-los ir. Eu não poderia mais pagá-los. Eu usei o dinheiro das vendas do vinho para pagá-los até
o fim do mês. Suas expressões chocadas e entristecidas só fizeram com que eu me desprezasse
ainda mais.
E então eu disse a Walter e Charlotte que eles estavam demitidos, também. Eu tinha
despedido Charlotte com bastante frequência ao longo dos anos, mas agora podia ver nos olhos dela
que ela sabia que desta vez era muito sério. Eventualmente eu teria que vender a vinha para
sobreviver, para começar de novo, mas não podia evocar a força para isso ainda.
Charlotte e Walter... ambos tentaram falar comigo, mas eu não queria ouvir qualquer um
deles. Até mesmo eles mentiram para mim - as duas pessoas que eu pensei que podia confiar com a
minha alma. Eles me deixaram acreditar meu pai tinha me amado, no final, e isso só tinha
sido um cruel, uma cruel fonte de retenção da verdade. Eles assistiram enquanto eu fazia de mim
mesmo um idiota ridículo, e isso doeu.
E Kira... meu coração gaguejou no meu peito. A pior de todas. Eu tinha dado todo o
meu coração estúpido para ela, até a última parte, e todo o tempo, ela tinha mentido para mim,
também. O que mais teria ela mentindo? Em que outras coisas ela me fez acreditar,
esperar desesperadamente, apenas para descobrir que eu sido feito de bobo de novo? Eu apertei
meus olhos fechados quando voltei a pensar naquele momento no meu escritório, quando ela me disse
que esteve mentindo para mim desde o início. Tinha sentido como uma faca mergulhando em meu
coração. Um único pensamento tinha ficado se repetindo pela minha cabeça: ‘não você, qualquer
outra pessoa, mas por favor, não você também’.
Joguei meu copo de vinho contra a lareira na sala de estar, desfrutando a quebra
acentuada do som do vidro. Apoiando minhas mãos contra ele, eu coloquei minha cabeça contra a
pedra fria. Mesmo assim, semanas depois que ela tinha saído, somente o pensamento do nome de
Kira ainda trazia um anseio-profundo e doente de amor, um desejo ardente, saudades e um latejante
vazio. Idiota!
Ela tinha me dito que tinha apenas repugnância por Cooper Stratton. E então eu a vi
conversando com ele, de pé e perto, com as mãos sobre o peito dele, tentando convencê-lo de algo.
Coop, como ela tinha o chamado. Eu tinha reconhecido a expressão culpada quando os
surpreendi. Pequena manipuladora mentirosa.
Nunca mais. Nunca mais me importaria se alguém me amava. Deixei o gelo enrijecer a
parte de mim que ainda podia ser ferida, odiando que havia mais alguma coisa em tudo. Eu sabia
como fazer isto. Eu tinha vivido com um coração coberto de gelo durante anos, então encontrar a
indiferença não foi difícil. Mas doeu pra caramba.
Eu precisava ir ao tribunal e pedir o divórcio, mas, francamente, eu não tinha ideia de onde
Kira estava, e não queria mais sair de casa de qualquer maneira. Eu não ia aceitar o dinheiro do pai
dela e dar-lhe a satisfação de ter-me sob seu comando. Ninguém ia me controlar novamente,
especialmente aquele bastardo.
Finalmente exausto pelo simples ato de pensar, eu caí no sofá, não querendo ir para
minha cama hoje - não quando ela só trazia lembranças dela. Do perfume dela. E, ainda assim, eu caí
no sono com o som de seu nome em meus lábios.

Era um dia triste e cinzento no centro de Napa, lúgubre pelo fato de que eu tinha acabado
de penhorar o anel que tinha dado a Kira no dia do nosso casamento, em busca de algum
dinheiro tão necessário. Vergonha e embaraço tragaram-me. Isso era ao que eu tinha sido reduzido -
de novo. Eu tinha originalmente comprado o anel para Vanessa, e ainda assim, entrega-lo sobre o
balcão para o dono da loja de penhores trouxe uma forte dor no meu peito. Não por causa de para
quem eu tinha comprado, mas por causa daquela a quem eu tinha realmente dado-o. Kira.
Eu estava dirigindo pela cidade no meu caminho de volta para a vinha quando vi o carro de
Kira. Eu puxei uma respiração afiada, choque passando por mim. Kira estava em Napa? Esteve aqui
todo esse tempo?
Onde ela teria ficado? Ela tinha muitas escolhas em San Francisco, mas aqui? Meu coração
começou a tocar bateria rapidamente. Eu puxei o meu caminhão para o lado da estrada e pulei para
fora. Havia algumas lojas neste bloco, bem como um restaurante. Eu olhei através das janelas
frontais das duas lojas, mas não a vi. O que você está fazendo, Grayson? O que exatamente você acha
que você vai dizer a ela, de qualquer maneira? Eu não tinha ideia, e ainda algum tipo de antecipação
animada fez o meu intestino apertar. Ela estava aqui. Eu fiquei devastado quando ela me contou sobre
seu pai, e tinha agido tão duramente, mas talvez... talvez se eu apenas falesse com ela, talvez
ela pudesse me ajudar a entender. Eu não me dei tempo para reconsiderar. Apenas agí.
O restaurante não tinha janela, então eu fui até a porta aberta e entrei para ver se
poderia encontrá-la, esperança florescendo em meu coração. Vi-a imediatamente, andando na minha
direção.
Cooper Stratton estava ao lado dela, a mão possessivamente em seu braço.
O feltro da sala se inclinou debaixo de mim, e tudo que eu vi foi vermelho. Eu estava
certo sobre ela. Foi quando ela me viu. Uma centelha de surpresa, seguido de um olhar de algo que
eu não pude identificar brilhou em seu rosto. Com os olhos arregalados, ela olhou para Cooper e
depois de volta para mim, um olhar suplicante naqueles magníficos olhos. Fui tomado por uma raiva
avassaladora. Meu corpo fechou o espaço entre nós antes mesmo de eu decidir me mover. "Você não
perdeu tempo, não é?" Eu cerrei fora. "Este era o seu plano o tempo todo? Casar comigo, pegar o
dinheiro, de alguma forma leva-lo de volta, e então... ele?" Ela não só tinha mentido para mim sobre
o envolvimento de seu pai na minha vida, ela mentiu para mim sobre Cooper também. Se ela
realmente odiava-o do jeito que me fez acreditar, ela nunca lhe daria três minutos de seu tempo,
muito menos aceitaria almoçar com ele. Pequena mentirosa. Bela mentirosa. Agonia rasgou minha
alma.
Kira deu um passo atrás, mas não antes que eu pegasse um aroma de seu perfume delicado.
Afiada saudade me dominou, me fazendo querer rugir com angústia. Ela não é sua. Ela nunca foi sua,
não realmente. Ela nunca será novamente.
Eu não quero você.
Eu não quero você.
Eu não quero você.
Eu não quero você.
Eu não quero você em tudo.
"Grayson, por favor, você não tem ideia do que está falando", ela disse, com voz
embargada.
"Oh, eu acho que eu tenho ideia do que estou falando, sim." Mudei-me de novo e me
inclinei em direção à sua orelha, dizendo baixinho: "Diga-me, Kira, você optou por ser uma das suas
prostitutas ou uma esposa recatada que mantém os olhos fechados? Se for o último, você percebe que
terá que se divorciar de mim em primeiro lugar, certo?"
Senti Kira se assustar com as minhas palavras, e aspirar uma respiração repentina. Em
seguida, Cooper estava ao meu lado, dizendo: "O que diabos você esta fazendo aqui?" e antes que ele
pudesse tentar entrar no meio de Kira e eu, eu virei-me. Minha raiva e dor - tudo o que eu tinha
perdido - borbulhou à superfície, rodando em meu peito num tsunami de angústia. Eu agarrei
a sua camisa e andei com ele para trás, até a parede, e o bati nela.
Kira gritou, e eu ouvi várias pessoas suspirarem alto no restaurante ao lado do lobby, onde
estávamos tendo nosso confronto.
A expressão de Cooper estava pálida, os olhos cheios de medo quando eu o pressionei
contra a parede. Eu expulsei uma lufada de ar alto e deixei-o ir. Ele quase caiu para frente, mas
conteve-se como eu, e se afastou. Medo caiu em mim tão rapidamente quanto a raiva tinha. Oh Deus,
o que eu estava fazendo? Eu olhei para o rosto de Cooper, sua expressão mostrando simultaneamente
raiva e algum tipo de alegria. Ele apontou o dedo para mim. "Você vai voltar para a prisão, seu
maldito perdedor." Ele ajeitou os ombros e riu, em seguida, virou-se para quem eu pensei que
fosse, provavelmente, o gerente do restaurante – ali de pé com um olhar de choque no rosto - e
disse, "obtenha os nomes e números de todos que testemunharam isso. Meu advogado vai ligar mais
tarde. Então ele olhou para Kira com satisfação. "Vamos."
Lágrimas escorriam pelo rosto de Kira. "Deixe-me falar com ele por um minuto", ela
disse a Cooper, a voz embargada.
Cooper fez uma careta. "Eu não posso deixá-la sozinha com ele. Ele é obviamente
perigoso."
Dei um passo em direção a ele novamente, e Kira moveu-se rapidamente na minha frente,
colocando a mão no meu peito. "Estamos em público", disse ela. "Estamos bem. Ele é meu marido,
Cooper."
"Por enquanto." Copper estreitou os olhos e olhou para trás e para a frente entre nós por um
momento e em seguida, assentiu. "Eu tenho que pegar a estrada de qualquer maneira. Eu vou buscá-
la esta noite." Ele se inclinou e beijou-a no rosto, seus olhos em mim quando ele fez isso. Mais raiva
chutou nas minhas entranhas. Eu estava tentado a bater-lhe - o que importava agora? Em vez disso,
eu fiquei ali, apertando meu queixo, outra vez tentando recuperar o controle das minhas emoções.
Cooper apontou para mim. "Você vai ouvir do meu advogado."
Eu simplesmente olhei para ele. Eu não lhe daria a satisfação de uma reação.
Ele caminhou a passos largos para a porta sem olhar para trás, e meus olhos finalmente
se moveram para Kira. O rosto dela estava pálido, os olhos arregalados. Ela, obviamente, não
esperava ver-me enquanto estava com seu novo/ex-namorado.
"Gray", ela sussurrou. Ela deu um passo em minha direção e eu girei, espreitando para fora
da porta do restaurante. Não havia nada mais a dizer para ela. Meu coração parecia que estava
quebrando aberto no meu peito. Eu não tinha percebido que poderia quebrar mais do que já tinha.
"Grayson!" Ouvi-a chamar atrás de mim enquanto eu caminhava para longe dela pela rua.
Parando e girando, eu andei com um propósito direto de volta para onde ela estava de pé na calçada.
Havia um pequeno beco ao lado dela, e eu agarrei-lhe o pulso e puxei-a para ele, pressionando-a
contra a parede de tijolos. Ela deixou escapar um pequeno suspiro. "O que você está fazendo?"
"Tentando lembrar o que eu vi em você." Eu coloquei minha boca contra a dela, lambendo
a costura de seus lábios. Ela choramingou suavemente e abriu-se para mim, embora seu corpo
ainda estivesse tenso contra o meu próprio. Eu mergulhei minha língua em sua boca e, em seguida,
retirei-me rapidamente, forçando uma expressão vazia no meu rosto. "Não, não é tão bom quanto eu
me lembro."
Seus olhos se arregalaram e ela piscou para mim, confusa. Inclinei-me e corri meus lábios
em sua garganta.
Seu corpo enrijeceu e eu me afastei. "Não, nada." Seus lábios se viraram para baixo, e
lágrimas brilharam em seus olhos. Sacudi o desconfortável sentimento de culpa em minhas veias. Ela
é uma mentirosa, eu me lembrei.
"Você sabe o que eu acho? Eu acho que estava desesperado, e você estava... qual é a
palavra? Conveniente. Desde que você se foi, eu cheguei à conclusão de que gosto mais
de uma variedade de mulheres do que daquilo que os votos do casamento ditam. Eu
já experimentei algumas recentemente. Você estava ok, mas desde então eu já tive melhores."
Ela se encolheu, lágrimas fluindo livremente por suas bochechas agora e,
embora, vergonha rodasse no meu intestino, eu não mostrei nenhuma reação. Eu não faria isso. Se ela
estava indo direto para a cama de Cooper, então eu poderia pelo menos sair com uma pequena
pitada de orgulho. Enquanto ficamos encarando um ao outro, e então seu queixo pequeno se ergueu.
Mesmo agora ela estava sendo forte. Droga, direto para o inferno!
Eu queria quebrá-la, como ela tinha me quebrado.
Eu queria cair de joelhos, pedir e implorar para que ela fizesse as coisas ficarem ok de
alguma forma – pedir para ela embrulhar os braços em volta de mim e me dizer que tudo isso foi um
pesadelo terrível - e eu me odiava por isso.
Eu me odiei por sentir esperança.
Esse velho sentimento familiar de querer o amor de alguém que nunca iria me amar fez um
arrepio percorrer todo meu corpo. Ela ficou ali, parecendo pálida e abatida e dolorosamente linda,
mas ela não tinha esse direito! Ela havia tirado tudo de mim - ainda mais do que eu pensava que tinha
a perder.
A visão tortuosa de Kira emaranhada em lençóis com Cooper veio espontaneamente à
minha mente, e eu engoli a bile na minha garganta.
"Eu não quero dar-lhe a impressão que não apreciei os favores, embora. No momento,
eles foram agradáveis. Acabou que você veio a um preço muito elevado, no entanto." Eu corri um
dedo para baixo em seu rosto suave, e ela olhou para mim, imóvel. "Meu nome, minha vinha, e agora
provavelmente a minha liberdade..." Meu coração, minha alma.
Uma lágrima atingiu meu dedo, e eu puxei-o para trás como se tivesse sido queimado por
ácido, afastando-me dela e saindo do beco escuro para a calçada brilhante. Eu ouvi o suave som de
soluços, mas ela não veio depois de mim, e eu não olhei para trás. Eu deixei meu
coração naquele beco. Não haveriam mais segmentos de meu coração partido para alguém tomar, já
que ela tinha levado tudo. E eu não precisaria mais dele novamente.
Fui para casa cheio de dor gelada, minha pele espinhosa com mais miséria do que eu já
senti na minha vida.
Quando cheguei lá, fui direto para o armário de bebidas e trouxe uma garrafa de uísque
envelhecido. Vinho não ia ser forte o suficiente hoje.
Quando eu engoli a primeira dose, eu olhei pela janela, para além das vinhas. Logo
antes de Kira ter me deixado, eu tinha medido o açúcar, o ácido, os taninos, e determinado quando as
uvas estariam perfeitamente prontas para colher. Elas estavam prontas agora. Mas eu não tinha fundos
para contratar alguém para me ajudar na colheita. Eu levantei meu copo para as vinhas em um brinde
trocista. "Você fez sua parte muito bem. Desculpe, eu falhei com você, também." Em um tempo muito
curto o fruto estaria apodrecendo na videira, um completo desperdício - a perfeita metáfora para toda
a minha vida. Claro que, agora, eu provavelmente estaria na cadeia de qualquer maneira, por agredir
Cooper Stratton. Eu engoli outra dose, deixando-a queimar na minha garganta. Tudo isso foi perdido.
Não havia esperança, nenhuma esperança em tudo.
Capítulo Vinte e Quatro

Grayson
O mundo mudou de foco enquanto eu gemia, agarrando minha cabeça em minhas mãos para
deter a incessante batida. Eu estava na sala de estar, esparramado no sofá, e a garrafa vazia de uísque
escocês encontrava-se sobre meu estômago, juntamente com o copo de tequila que eu usei para beber.
Eu não me incomodei de movê-los antes de sentar-me, e eles rolaram para o chão. Não
quebraram; só pousaram sobre o tapete num baque suave.
Tropeçando em meus pés, eu esfreguei a parte de trás do meu pescoço, tentando massagear
a torção. Lá fora o sol ainda estava subindo, o céu inundado em tons de ouro. Eu pisquei e congelei.
Parecia que havia... dezenas de trabalhadores na vinha, na colheita de frutas. Eu observei, coçando
distraidamente o meu estômago, tentando entender o que eu estava vendo.
"Eu acho que você vai precisar destes", ouvi alguém dizer atrás de mim. Virei-me para
encontrar Charlotte deixando dois comprimidos - que eu assumi serem analgésicos - e um copo de
água na mesa ao lado do sofá. "Não que o que você está sentindo não seja exatamente o que merece.
Eu gostaria de bater na sua cabeça eu mesma, mas não vou. Parece que você tem feito bastante por si
mesmo."
"O que diabos está acontecendo lá fora?" Eu exigi, ignorando suas outras observações.
"As uvas não vão se colher sozinhas", disse ela.
Eu tomei uma respiração profunda. "O que eu quero dizer é: quem contratou essas pessoas?
Você sabe muito bem que não posso pagar-lhes."
"Harley chamou alguns favores, e ele, Virgil e José reuniram o dinheiro que você pagou-os
até o fim do mês. Eles vão dividi-lo entre os homens que concordaram em trabalhar para você esta
semana."
"Colher uvas leva mais tempo do que isso, como você bem sabe."
"Sim, bem, isso vai ser um começo, e se você puder obter o vinho dos barris em
garrafas, então poderá começar a vendê-lo. Há uma segunda equipe, que vem à noite, para ajudar
com isso."
Eu virei-me bruscamente em direção a Charlotte, fazendo uma careta na dor aguda e
repentina no meu crânio. "Por que? Por que que fariam isso?"
"Acho que é porque eles acreditam em você."
"Acreditam em mim?" Deixei escapar um latido agudo de risada, que só serviu para ferir
ainda mais minha cabeça. "Que bem isso vai lhes fazer quando chegar a hora de alimentar suas
famílias? Falando nisso, por que você ainda está aqui?"
Charlotte apenas franziu os lábios. "Talvez você gostaria de tomar um banho, descer e se
juntar a eles."
Eu bufei. "Não. Uma segunda garrafa de uísque e eu temos planos para o dia."
Eu disse a mim mesmo que não me importava com o olhar de desaprovação que ela atirou
em mim antes de sair da sala. Ela havia mentido para mim, também. A única razão de eu não expulsá-
la da minha casa era porque esta tinha sido sua casa por mais tempo do que tinha sido a minha. Mas
ela seria forçada a sair em breve - uma vez que eu não pudesse mais arcar
com os ingredientes da cozinha. Ou quando eu fosse preso por agredir Cooper Stratton. Eu
gemi, passando minhas mãos pelo meu cabelo, a bagunça da minha vida voltando ao foco.
"Charlotte", eu chamei. Ela parou na ampla arcada que separava a sala de estar
do vestíbulo, olhando de volta para mim. "A polícia esteve por aqui? Ou ligou?"
"Não", ela disse, virando-se e caminhando em direção à cozinha. Eu me perguntava por
que ela não estava curiosa sobre por que eu tinha feito essa pergunta. Talvez ela simplesmente
não pudesse lidar com mais um problema agora. Nem eu poderia. No entanto, aparentemente o
destino tinha outros planos para mim.
Eu traguei as duas pílulas que Charlotte tinha deixado, e, em seguida, subi as escadas
e tomei banho, deixando a água quente acalmar meus músculos doloridos. Depois de vesti-me eu fui
para o quarto de hóspedes do outro lado do corredor, para olhar as videiras. O equipamento e os
homens ainda estavam lá. Seus idiotas! Era tudo um desperdício de tempo.
Eu fui e deixei-me cair na minha cama, olhando para o ventilador de teto, o que eu tinha
encarado maravilhado tantas noites depois que Kira e eu tínhamos feito amor. Pare. Não pense nela,
não agora. Será que ela acordou com Cooper esta manhã? Eles tinham tomado café da manhã na
cama? Torturado por meus próprios pensamentos, levantei e fui pegar a segunda garrafa de whisky.
Eu beberia muito, para que meu cérebro azedasse e matasse todos os neurônios que
seguravam a memória dela.
Charlotte estava na sala de estar, dobrando o cobertor que eu tinha usado para dormir
metade das ultimas noites.
Olhando pela janela, eu murmurei, "Eles estão todos perdendo seu tempo. Eu desprezo este
lugar. Mesmo que eu tivesse uma maneira de torná-lo bem sucedido, eu não me incomodaria agora.
Eu prefiro destruí-lo, como meu pai fez. Há somente miséria para ser encontrada aqui - miséria,
mentiras e más recordações."
"Se é isso que você acredita, então acho que é verdade."
Apertei os olhos. "Eu acredito nisso. Eu sei disso."
"OK."
Eu apertei os lábios, irritado que Charlotte ainda poderia irritar-me com apenas algumas
palavras.
E aparentemente ela não tinha acabado. "Walter está lá fora, também, você sabe", disse ela
quando me inclinei para o licor no armário. "Eu só espero que ele não se esgote. E, claro, ele tem
dificuldade para enxergar bem agora também. Espero que ele esteja colhendo as uvas certas..." Parei,
revirando os olhos.
"Walter é o retrato da saúde", eu disse.
Ela encolheu os ombros. "Eu não queria perturbá-lo. Você, volte a beber, se metendo
no esquecimento. Talvez isso dê aos homens um bom exemplo, se você pensar sobre isso. Tenho
certeza de que vai aumentar seus espíritos, enquanto eles fazem o trabalho manual duro por salário
mínimo no sol quente durante todo o dia."
"Jesus", eu murmurei, "não está nem tão quente." Eu estava plenamente consciente de que
ela estava tentando me culpar.
A verdade era que talvez um dia de trabalho duro fosse a melhor maneira de limpar a
minha mente. Melhor do que o álcool. E, pelo menos, não me deixaria com a sensação como se
houvesse uma pedra de dez toneladas sentada na minha cabeça.
"Se isso significa não ouvir-lhe um segundo a mais, eu vou lá fora trabalhar os meus
dedos até o osso", eu resmunguei.
Charlotte deu de ombros, mas eu vi seus lábios curvarem-se em um sorriso antes dela se
virar.

Maldita.

Quando eu voltei naquela noite, sujo e encharcado de suor, cada músculo do meu corpo
doía. Aparentemente Harley havia contatado todos os ex-presidiarios que ele conhecia no hemisfério
norte, e eles estavam todos trabalhando na minha vinha. Eu não sabia se isso era bom, mas a
sensação de mal estar que eu tinha no estômago quando pensei que o fruto que eu tinha cultivado tão
cuidadosamente iria apodrecer e cair no chão tinha diminuído.
No mínimo as uvas estariam em barris agora, e eu seria capaz de iniciar o engarrafamento
do vinho. E quando eu vender este vinhedo, poderia conseguir um preço mais elevado se ele fosse
uma adega de trabalho ao Inez de algo que estava em ruínas. Eu me divorciaria de Kira, faria um
pouco de dinheiro com a venda de Hawthorn Vineyard, e iria para algum lugar fazer... alguma coisa.
Mas o quê? O que eu sabia fazer, além de vinificação? Muito pouco. O grau de negócios que eu
ganhei há muito tempo na faculdade era um desperdício agora. Além disso, ninguém queria contratar
um criminoso. Miséria ameaçada. Os pensamentos que tinham ficado no banco traseiro na minha
mente quando eu tinha trabalhado o dia inteiro estavam de volta novamente para me torturar.
Tomei um banho rápido e comecei a me dirigir para o térreo, parando em
frente ao quarto onde Kira tinha se hospedado antes que se mudasse para o que eu ainda chamava
de nosso quarto. A dor apertou meu coração quando eu olhei ao redor do espaço vazio. Abri o
armário, mas ela não tinha deixado nada para trás. Puxando a primeira gaveta da cômoda aberta,
descobri duas camisas esquecidas. Vergonhosamente eu as trouxe ao meu nariz e inalei,
respirando seu cheiro persistente, doce e delicado. Eu segurei o atormentado gemido que subiu pela
minha garganta e as coloquei de volta onde tinham estado. Isso foi quando eu vi o que parecia um
pequeno estojo de anel. Apanhei-o e abri-o lentamente, inalando um profundo gole de ar quando vi
um anel de casamento masculino de platina. Tirei-o do veludo azul escuro e segurei-o contra a luz.
Meu Dragão. Meu Amor.
As palavras estavam gravadas dentro do anel, e eu as sentí como um duro golpe para o meu
coração já dolorido. Eu fiquei ali pelo que parecia um longo tempo, a confusão agitando através de
mim. Finalmente eu coloquei o anel de volta na caixa e coloquei-o na gaveta, indo lá embaixo para
cumprimentar Harley, Virgil e José, que ficaram para jantar a pedido de Charlotte. Eles foram
chegando, todos sujos e cansados mas, de alguma forma, felizes. Culpa empilhou no topo da
minha pilha de mágoa. Apesar de todo o seu trabalho, no final, eu não seria capaz de oferecer-lhes
muito. Eles teriam que encontrar emprego em outro lugar.
Punho-colidindo com Harley, eu agradeci-lhe novamente.
"Cara, você não achou que eu pararia de zelar por você só porque estamos do lado de fora
agora, certo?" Ele sorriu, massageando seus bronzeados e musculosos braços. Eu tinha certeza que
ele estava tão dolorido quanto eu, talvez mais.
Ele tinha estado trabalhando desde o nascer do sol.
"Eu não mereço isso, Harley," eu disse, esfregando a parte de trás do meu pescoço.
"Talvez sim, talvez não. Isso não cabe a mim julgar. Eu só posso escolher aqueles
que serão meus amigos, e eu ajudo meus amigos. Te devo minha vida – devo a Kira minha vida,
também. Qualquer coisa que qualquer um de vocês pedir, eu faço."
Limpei a garganta, a emoção de repente me surpreendendo. Eu estava tão
malditamente cansado.
"Minha mulher sente o mesmo, também. Você tem-me?"
"Uh..."
Harley riu. "Um inferno de uma mulher, a Priscilla." Ele sorriu.
Virgil pesadamente nos interrompeu. "Hey Virgil", eu disse. Sugie estava atrás dele.
"Oi, Sr. Hawthorn, senhor." Ele sorriu, feliz. "Colhendo uvas, tomando o vinho."
Eu sorri de volta. "Obrigado, Virgil". Estendi a mão e apertei o seu ombro. "Você é um
bom homem."
"José", eu cumprimentei, quando ele também entrou pela porta. "Vamos comer."
Fomos em direção à cozinha enquanto Walter estava descendo as escadas. Ele não parecia
bem, e o fato de que ele tinha trabalhado o dia todo me causou uma onda de culpa, me consumindo.
Cristo, ele tinha duas vezes a minha idade. Eu fiz uma careta quando ele agarrou a grade, trazendo
uma mão ao peito. "Walter?" Perguntei.
Ele fez um som abafado e caiu para frente. Corri para ele, impedindo sua queda com o meu
corpo.
Eu ouvi Charlotte gritar atrás de mim, e me esforcei para sentar-me ereto com peso de
Walter em cima de mim.
"Vire-o," eu ouvi Harley instruir, e o peso de Walter foi rapidamente tirado de mim.
Tudo parecia lento, vozes vindo de debaixo d'água, o som do meu coração batendo alto em
meus ouvidos. Ouvi José no telefone com o 911 quando me ajoelhei sobre Walter. Ele estava
ofegando por ar, a mão ainda sobre seu coração quando Charlotte e eu nos ajoelhamos sobre ele.
"Ajuda está vindo", eu resmunguei, meu peito cheio de medo.
Charlotte estava chorando em silêncio enquanto esfregava seu cabelo. Ele parecia estar
tentando dizer algo, primeiro para ela e depois para mim, mas as palavras não saiam; apenas
suspiros e gemidos para o ar. Finalmente ele pegou minha mão, apertando-a firmemente na
sua quando engasgou, "Como... meu... próprio filho..."
Meu coração se apertou com tanta força no meu peito que eu engasguei por ar para mim
mesmo.
"Não fale", disse Charlotte. "E não se atreva a me deixar. Não se atreva, seu
velho teimoso, cabra."
Walter soltou um suspiro final e entrou em colapso, só para ficar parado e em silêncio.
Pânico arrepiou minha pele. Minha respiração saiu em exalos afiados. Eu ouvi uma palavra
que estava sendo repetido uma e outra vez. "Não, não, não." Eu finalmente percebi que era minha
própria voz aterrorizada, pleiteando a palavra como uma oração desesperada.

O quarto do hospital estava escuro e silencioso, o brilho precoce de filtragem


amanhecendo através das cortinas, o constante batimento do coração de Walter sendo cantado pelo
monitor cardíaco ao lado de onde ele estava. Sentei-me curvado em um cadeira ao lado de sua cama,
meus cotovelos sobre os joelhos, a cabeça entre as mãos. Charlotte tinha ido para casa várias horas
atrás, para descansar e alimentar Sugie. Ela queria passar a noite, mas não havia uma cama extra em
qualquer lugar no hospital, e não era provável que Walter acordaria durante a noite, mesmo que
ele estivesse estável agora. Então eu me ofereci para ficar, dizendo-lhe que minhas costas eram mais
jovens, e que eu ligaria se ele acordasse antes dela chegar na parte da manhã.
Trazendo uma mão para a parte de trás do meu pescoço, eu massageei os músculos tensos.
"Eu espero que você não se importe comigo dizendo," eu bati minha cabeça na voz de
Walter, "que você parece como inferno, senhor."
Eu soltei um suspiro. "Quando o que me importa já fez diferença para você, Walter?"
Eu perguntei, tentando esconder o sorriso que queria se libertar.
"Nunca", ele admitiu.
Levantei-me e servi-lhe um copo de água do jarro sobre a mesa ao lado de sua
cama, e o ajudei a segurar o copo enquanto ele tomava vários longos goles. Colocando sua cabeça de
volta no travesseiro, ele me olhou. Sentei-me na cadeira e puxei-a um pouco mais perto de sua cama.
Retirando meu telefone, eu disse, "é como você puxar esse drama como fez ontem à noite. Eu vou
deixar Charlotte saber-"
"Espere apenas alguns minutos", disse Walter, sua voz grave quando ele levantou a mão.
Fiz uma pausa e, em seguida, coloquei meu telefone longe. "Eu não fui tão dramático para que você
tenha que sair daqui sem ouvir-me."
Eu dei-lhe um pequeno sorriso irônico, mas balancei a cabeça. "Ok. Tudo bem então."
Por um momento, Walter não disse nada. Quando ele finalmente falou, sua voz era baixa,
mas constante.
"Quando eu estava deitado na parte inferior da escada, você sabe o que eu fiquei
pensando?" Eu balancei minha cabeça. "Eu continuei a pensar: ‘por favor, não me deixe sair deste
mundo sem contar a esse rapaz como me sinto sobre ele’."
"Walter-" eu disse, passando a mão pelo meu cabelo, emoção subindo no meu peito. Eu
nunca iria discutir sentimentos com Walter.
"Nós tivemos um filho", disse ele, limpando a garganta quando sua voz quebrou sutilmente
sobre a palavra filho.
Inclinei a cabeça. "O quê? Você nunca disse-"
"Não, é difícil para nós para falarmos sobre Henry. Perdemo-lo quando ele era apenas um
bebê. Charlotte, ela... lamentava muito, assim como eu."
"Eu sinto muito, Walter," eu disse com a voz rouca. Ele assentiu. Eu tinha visto essa tristeza
em seus olhos antes de hoje. Eu tinha visto essa cara toda vez que meu pai tinha aplicado seus
castigos - a maioria deles foi frio, e todos foram dolorosos. Todo esse tempo Walter tinha se
preocupado tão profundamente sobre como eu tinha sido tratado, e eu nunca
tinha conhecido sua perda e de Charlotte.
"Nós não pudemos mais ter filhos depois disso. E ficar lá, na casa onde o tivemos, tornou-
se insuportável. E assim", ele respirou fundo, "decidimos vir aqui, para a América, para começar
uma nova vida. Começamos trabalhando para a sua família, e encontramos um pouco de felicidade
novamente. E então, um dia bateram na porta, e lá estava você. Apesar da maneira como Ford e
Jessica Hawthorn reagiram, para Charlotte e eu, para nós... você foi o nosso presente, e assim tem
sido todos os dias desde então. Nem um dia se passou em que não temos sido orgulhosos de você. Eu
quero que você saiba disso."
"Walter -" minha voz se quebrou.
"Nós não poderíamos estar sempre lá, e nós nem sempre podíamos intervir, porque
temíamos que seu pai nos mandaria embora, e então não seríamos nada de bom para você em tudo,
mas nós fizemos tudo o que podíamos para que você soubesse... que não estava sozinho. Não naquela
época, e não agora. Nem nunca. Nós só ocultamos o verdadeiro motivo do legado do seu pai porque
nós te amamos, e tentamos suportar aquele terrível fardo para você enquanto podíamos. Nós não
fizemos isso por desonestidade. Fizemos por amor. Espero que você possa vir a entender um dia."
Sentei-me na cadeira, permitindo que suas palavras fluíssem através do meu coração. É
claro que eu sempre soube - Walter e Charlotte eram mais meus pais que o meu pai real e madrasta já
tinham sido.
Mas... o que seria se Walter e Charlotte estavam errados e ele não? "E se ele estava certo
sobre mim, Walter?" Eu me engasguei, manifestando meu medo mais profundo.
"Seu pai?"
"Sim", eu sussurrei asperamente. "Todos eles."
"É isso que você acha? Que Charlotte e eu estavámos errados sobre você, mas
Ford Hawthorn estava certo? Sua mãe? Jessica?"
"Eu..." Imaginei Walter em seu maiô preto à moda antiga me ensinando a nadar, vi-
o levando-me através do labirinto enquanto contávamos os passos e giros aprendidos, vi Charlotte
torcendo as mãos quando sabia que eu estava sofrendo, pensei em todos os conselhos sábios que ela
tinha me dado através do anos, todo o amor que ela prontamente dava.
"Talvez", Walter disse, "também porque você quer saber qual categoria sua
esposa pertence."
Walter sempre soube de tudo, antes que alguma vez lhe dissesse. Eu não sei porque pensei
que esta situação seria diferente. "Eu... sim. Eu apenas, não sei se posso confiar nela."
Ele me olhou por vários momentos. "Bem", ele suspirou, "Eu acho que você
nunca vai descobrir se nunca realmente correr o risco. Eu suponho que você poderia assombrar os
corredores do Hawthorn Vineyard como um fantasma, tinindo em torno de cadeias de sua própria
criação, e assustando as crianças pequenas nas janelas."
Deixei escapar uma pequena risada, que terminou com um suspiro.
"Você sabe por que eu te chamo de senhor? Por que eu sempre chamei você de senhor?" ele
perguntou.
Eu balancei minha cabeça.
"Porque é um lembrete de que você é digno de respeito, que sempre foi."
"Obrigado, Walter," eu disse, engasgado com gratidão por sua presença em minha vida.
"O que seu coração diz?"
Eu olhei para baixo, pensando sobre o anel que tinha encontrado na gaveta. Meu Dragão.
Meu Amor. Eu não sabia mais em que acreditar. Eu te amo, ela disse, e ainda assim eu tinha
jogado de volta para ela. Desespero e dúvida rodaram em meu intestino. Eu a tinha
chamado de conspiradora conivente, fiz acusações de que nem sequer pareciam racionais agora,
não lhe dando qualquer chance de explicar mais detalhadamente o que tinha acontecido. E, no
entanto, se eu estivesse disposto a acreditar nela, acreditar que me ver no banco naquele dia foi
realmente apenas um golpe do destino, eu poderia perdá-la por não entrar em meu escritório no
primeiro dia e me dizer que seu pai tinha sido responsável por minha sentença excessivamente
severa? Eu não tinha começado a desconfiar dela, também? Nós
dois não decidimos que nosso relacionamento seria apenas temporário? E se eu realmente
ouvisse meu coração, como Walter estava sugerindo, será que isto me diria apenas como Kira
viria a dividir o dinheiro comigo como uma forma de compensar a injustiça que seu pai tinha feito no
meu caso? Como se tivesse sido sua culpa em tudo.
A partir do momento que eu a conheci, ela sempre tinha lutado com unhas e dentes.
Não para me derubar, embora – para elevar-me. Para restaurar em mim uma aparência de esperança,
de alegria. A festa, seu traje, todos me dizendo que ela acreditou em mim, que ela queria-
me restaurado aos olhos dos outros, e aos meus olhos. Ela tinha visto o meu valor, e ela me
disse isso de centenas de maneiras diferentes.
Oh, Jesus. O que eu sabia ser a verdade fluía por minhas veias como culpa
derretida e quente, corroendo meu interior. Eu tinha sido uma bagunça naquele dia, disposto a
acreditar que todos em quem eu confiava tinham ou acabariam me traindo. Vê-la com Cooper e, em
seguida, ouvir sua confissão, tinha sido a confirmação deste medo. Em certo sentido doente, eu
queria acreditar no pior dela. Kira foi como uma luz que brilhou intensamente, e eu estive vivendo na
escuridão fria por muito, muito tempo. Senti como se a minha alma tivesse
sido arrancada, desesperada para sentir o calor do seu amor, e ainda com tsnto medo da agonia de se
retirar de volta para escuridão novamente quando ela inevitavelmente saiu e levou a luz do sol com
ela. Assim, em vez disso, na primeiro dúvida eu tinha me afastado dela, antes que ela
pudesse me afastar. Eu tinha estado relutante em acreditar que ela me amava, mesmo quando ela disse
isso, e mesmo que ela tinha demonstrado seu amor por mim novamente e novamente. Sim, eu tinha
sido ridiculamente irracional... frio e cruel, afundando-me tão baixo a ponto de usar suas mais
profundas inseguranças contra ela. Ela era uma bela e suave mulher de vinte e dois anos de
idade, uma menina, e eu assisti como seu espírito tinha quebrado na minha frente – como a luz
brilhante que eu tanto amava se enfraquecera diante dos meus olhos.
Tormento cravado através de mim. Eu tinha descartado-a, sem um centavo em seu nome.
Deus, por tudo que eu sabia minha esposa estava dormindo em seu carro maldito. Não admira que ela
tinha ido procurar Cooper. Que outra opção ela tinha? Vergonha e auto-ódio tomaram conta de
mim, com uma intensidade que quase me deixou sem fôlego.
Quando na verdade tinha chegado a hora de fazer uma escolha, para confiar nela ou afastá-
la, eu tinha a afastado.
Rendição, meu rapaz.
Só que, no final, eu não tinha sido capaz de fazer. Não totalmente. Eu falhei com ela.
Eu não tinha conseguido sozinho.
E então veio uma realização que me roubou o fôlego. Ela poderia muito bem estar
carregando minha criança. Nós tínhamos feito amor duas vezes sem proteção alguma. "Eu a empurrei
para longe", eu disse miseravelmente. "Eu disse-lhe coisas cruéis e sem coração. Mesmo que
eu... ela nunca vai me perdoar. Eu nem sei se eu posso me perdoar. Não há esperança."
Walter, o homem que tinha agido como meu herói novamente e novamente, me olhou em
silêncio por vários momentos antes de fechar os olhos com aparência cansada. Eu fui sair do
quarto para que ele pudesse dormir, quando sua voz veio atrás de mim. "Eu acho que você
vai perceber que, onde há amor verdadeiro, há sempre esperança."

Cheguei em casa no final da tarde, os homens que Harley


tinha contratado ainda trabalhavam arduamente no vinhedo. Eu desci e cumprimentei a todos, com a
intenção de atualizar Harley no prognóstico de Walter. Parecia bom.
Ele precisaria colocar de um stent, mas seu médico garantiu-nos que a cirurgia era simples,
e que Walter provavelmente estaria em casa em apenas alguns dias. Mas quando eu perguntei sobre
Harley, um dos rapazes me disse ele apareceu por pouco tempo e depois saiu, dizendo que estaria de
volta no final do dia.
Voltei para casa, para tomar banho e me juntar a eles na instalação de vinificação onde
José supervisionaria a utilização dos equipamentos. Eu estava com os ossos cansados, mas não havia
nenhuma maneira que estaria deixando os homens lá fora trabalhando sem mim. Eu poderia dormir
mais tarde. E talvez, quando eu estivesse trabalhando, algo viria a mim; uma maneira
de reconquistar minha esposa. Porque o Senhor sabia que eu não tinha ideia do que fazer agora, além
de cair de joelhos e implorar por seu perdão.
Após o banho, desci para a cozinha e comecei a preparar uma xícara de café.
Eu liguei a televisão enquanto esperava, e congelei quando vi o rosto de Cooper Stratton na tela.
Agarrando o controle remoto no balcão, eu atrapalhei-me com ele enquanto tentava aumentar o
volume. O apresentador estava no meio da frase quando eu finalmente consegui apertar o botão certo.

"...Parece que este vídeo chocante foi filmado por uma garota de programa, que
gravou o Juiz Cooper Stratton em um hotel. Um quarto no The Palace Hotel, durante um jantar de
caridade black-tie realizado duas noites atrás. A câmera escondida pegou um supostamente
embriagado Juiz Stratton se vangloriando de aceitar suborno, manipular os resultados de casos, e
outras atividades altamente corruptas. Uma investigação está apenas começando, e detalhes
ainda são emergentes neste caso, mas o juiz Stratton também se gabava de sua aliança com o ex-
Prefeito de San Francisco, Frank Dallaire, várias vezes no vídeo. Afirmações essas que o Sr.
Dallaire está veementemente negando desta vez. Alguns podem recordar o ex-noivado de Cooper
Stratton com a filha do prefeito Dallaire, Kira Dallaire, um compromisso que terminou em um
escândalo próprio."

Choque ricocheteou através do meu sistema, e eu agarrei minhas mãos no balcão


em minha frente para me segurar. O apresentador continuou:

"Esta história ressalta a profunda preocupação da população sobre a corrupção na


política. Porque os eleitores e os cidadãos, todos nós gostaríamos de acreditar que aqueles em
posições de poder dizem não ao comércio de influência, mas este caso parece estar trazendo essas
suspeitas para a vanguarda do debate político de hoje. Vamos mostrar o vídeo mais uma vez."

O vídeo começou a partir do ponto de vista de alguém sentado em cima de Cooper Stratton
enquanto ele estava deitado numa cama, vestindo um smoking. Ele estava
rindo enquanto discutia precisamente o que o apresentador tinha dito. Meu corpo inteiro ficou tenso,
ira e incredulidade resolutas apertando meu estômago enquanto eu o ouvia
discutir a maneira como ele casualmente arruinou vidas, primeiro como promotor, e agora como juiz.
Não é de admirar que Frank Dallaire havia estado tão disposto a protegê-lo quando Kira tinha pego-
o com prostitutas. Copper tinha feito o trabalho sujo para ele durante anos. E ela não tinha nenhuma
pista. Engoli em seco, concentrando-me novamente no vídeo.
A menina usando a câmera riu e estimulou-o, acariciando seu ego, dizendo-lhe o quanto seu
poder a excitava. Quando ela se inclinou ligeiramente para desfazer a gravata-borboleta eu peguei
um vislumbre das extremidades de seu cabelo, quando este balançou para frente. Era rosa. Eu
balancei a cabeça para trás e para frente. Não podia ser. Eu pisquei os olhos quando a pessoa
que usava a câmera de vídeo pediu licença para usar o banheiro e, em seguida, a imagem
granulada foi cortada para ela andando rapidamente através do que parecia ser uma festa
de gala black-tie. Havia risos, conversas e pratos barulhentos no fundo, e quando eu
me aproximei ainda mais da televisão, pude ver um convidado no fundo usando um smoking,
e embora fosse somente seu perfil, ele parecia suspeitamente com Harley. E... puta merda, eu
reconheci mais alguém nessa gala. Ela estava apenas de perfil, mas eu sabia, sem sombra de dúvida,
que era minha madrasta, Jessica Hawthorn. Que diabos estava acontecendo?
"Charlotte!" Eu gritei, lembrando-me de repente que ela estava no hospital. "Puta merda".
José não atendia o telefone, e então eu corri até o vinhedo onde rapidamente informei a ele que eu
estaria de volta assim que possível.
"Está tudo sob controle, chefe," ele respondeu. Eu já estava a meio caminho da porta. Corri
para casa, joguei algumas coisas num saco e entrei no meu caminhão, dirigindo para fora do portão.
Jesus Cristo.
Como tinha acontecido? Minha mente estava correndo um milhão de milhas por minuto.
Kira. Kira estava por trás disso. Eu queria sacudi-la e, em seguida, esmagá-la contra mim, e nunca
deixa-la ir. A bruxinha tinha inventado isso. Eu sabia que ela tinha. Doce bruxinha linda. Ela poderia
ter-se colocado em perigo. Foi por isso que ela tinha estado com Cooper aqui em Napa? Eu a tinha
tratado tão cruelmente naquele dia. Ela fez isso para me ajudar, nos ajudar, assim como Harley e
Priscilla tinham - eu sabia disso no meu intestino, e eu confiei.
Mas eu ainda precisava de respostas. Perguntas bateram no meu cérebro, uma após a outra.
E eu sabia onde precisava ir para respondê-las.
Enquanto eu dirigia, visões de Kira passaram pela minha mente: ela virando-se para mim
em nossa cama, a luz da manhã acertando seu rosto enquanto seus sonolentos olhos verdes abriam, os
lábios transformando-se num sorriso suave enquanto ela me olhava. Eu a vi segurando Sugie em seus
braços.
"Ela precisa de amor mais do que qualquer coisa", ela disse a Vanessa. "A única coisa
que vai machucá-la é você se afastar."
Eu apertei meus olhos fechados momentaneamente, e uma intensa dor encheu meu peito. Eu
a vi saltar para baixo daquela árvore, de pé sobre o trator numa pose de bailarina,
deslizamento para baixo no corrimão, um olhar de alegria descarado em seu rosto. E sim, ela tinha
definitivamente ganhado naquele dia. Eu a vi andando na minha direção no labirinto enquanto
estendia a mão. Naquela noite, sob o luar, ela me salvou. E quando chegou a hora, eu não tinha sido
forte o suficiente para salvá-la também. Deixei escapar um suspiro profundo, e as
visões continuaram fluíndo através da minha mente, no meu coração. Imaginei-a ajoelhada
em minha frente no chão da adega de vinhos, um olhar de ternura e amor em seu rosto.
"Se você deixar, a dor toma mais espaço que o amor dentro de você. E o amor que
carregamos internamente nos torna fortes quando nada mais pode."
Jesus. Isso é exatamente o que ela tinha feito. Ela tinha tomado todos esses espaços
vazios dentro dela e enchido-os com amor. E quando o pior tinha acontecido, eu tinha sido muito
estúpido, tinha ficado com medo e cheio de auto-dúvidas para permitir que ela me ensinasse a fazer
isso também.
Eu tinha caído perdidamente apaixonado por uma bruxinha encantadora, uma menina
radiante com olhos de esmeralda e uma juba selvagem de cabelo tão indomável quanto ela. Kira,
minha esposa ardente com um espírito tão brilhante quanto o sol, e um coração tão suave quanto o
de um cordeiro recém-nascido. Ela possuía meu coração e minha alma - eu seria dela até meu último
suspiro. E eu estava pronto agora. Eu estava pronto para entregar o meu tudo, até a última gota,
aconteça o que acontecer. Eu só esperava que não fosse tarde demais. Por favor, não deixe ser tarde
demais.

A mulher que atendeu a porta estava vestindo um uniforme de empregada. Ela me levou
para a formal sala de estar, e me disse que veria se Jessica estava disponível. Eu balancei a cabeça
tristemente, optando por não me sentar no sofá branco e imaculado.
Poucos minutos depois minha madrasta veio deslizando para a sala, tão perfeitamente
penteada como eu lembrava-me dela, cada pedaço de cabelo loiro escuro no lugar. "Grayson," ela
cumprimentou, em pé desajeitadamente perto da porta. Após uma breve pausa ela mudou-se para o
bar na parede distante. "Queres um cocktail? É cinco horas em algum lugar, certo? A corrupção na
política é a conversa na cidade, não é?" E aí estava a confirmação que ela tinha sido parte de tudo
que tinha acontecido com Cooper Stratton.
"Você estava lá", eu disse, indo direto ao ponto.
Ela serviu-se de um copo de vinho, virou-se e segurou-me em questão. Eu balancei minha
cabeça. Ela engoliu um grande gole antes de responder. "Sim, eu estava lá. Quem você pensou que
pagou pelo custo de cento e vinte e cinco dólares por prato?"
Eu olhei para ela cautelosamente. "Você pagou para quem? Harley e Priscila?"
Ela tomou outro gole de vinho. "E para mim mesma. Eu decidi que era uma boa causa.
Então, você realmente não sabia sobre isso?"
"Não."
Ela assentiu com a cabeça. "Sua esposa veio a mim na semana passada. Aparentemente
esse tal de Cooper estava envolvido em algo, causando-lhe conflitos. Ela disse que conhecia sua
fraqueza, e que planejava tirar fotos para chantageá-lo, e, consequentemente, seu pai."
Deixei escapar um assobio alto de ar. Kira. Eu ia beijá-la sem sentido e, em seguida,
estrangulá-la. Ela estava planejando chantageá-lo tirando fotos obscenas. De todas os
loucos e fantasiosos esquemas!
"Pelo que posso ver, eles têm mais do que esperavam. Mesmo Washington
esta toda tremulante sobre isto. Governo corrupto é a conversa de cada cidade na América hoje."
"Assim, o plano era apenas para tirar fotos?"
Jessica deu de ombros. "A menos que eles não mencionassem o resto para mim. Ela só
perguntou se eu iria financiá-la."
"E por que você fez isso?" Eu perguntei, pensando em todas as vezes que ela tinha dito
coisas cruéis para mim, todas as vezes que ela observou como meu pai me punia simplesmente por
existir.
Ela se virou e olhou para fora da janela, saboreando o vinho. "Eu tive tempo para
considerar as coisas desde que Ford se foi." Ela se virou para mim, colocando o copo de vinho em
uma mesa lateral." Eu... poderia ter feito melhor quando ele veio para você. Eu estava amarga e
magoada e..." Ela acenou com a mão ao redor. "Bem, eu tenho certeza que você não está interessado
em ouvir sobre isso, e, francamente, eu não estou tão interessada em falar sobre isso também. Mas
quando me pediram para ajudar, eu percebi que lhe devia pelo menos isso. Sua esposa,
ela obviamente te ama muito, Grayson." Ela olhou para mim, como se me vendo pela primeira vez.
Eu estava atordoado. Enquanto eu ficava de boca aberta em silêncio, ela se mudou para
uma pequena escrivaninha no canto e tirou algo da gaveta superior. "Eu ia enviar isso para você, mas
desde que você está aqui..."
Ela estendeu-o para mim e eu peguei dela, olhando para baixo, para ver que ela tinha me
dado um cheque de duzentos e cinquenta mil dólares.
"O que é isto?" Eu exigi, segurando-o de volta para ela.
"É parte do espólio de seu pai. Esperemos que cubra, pelo menos, alguns dos danos que
ele fez para o vinhedo antes de morrer." Ela sabia. Ela sabia o que ele tinha feito.
"E se eu não quiser o dinheiro dele?"
"Então você seria um tolo equivocado, tal qual ele era. Tome-o e faça uma vida para si
mesmo, Grayson, onde quer que seja. Tome-o e seja feliz. "
"Eu -"
"As rosas e flores de espinheiro ainda estão florescendo?" ela perguntou.
"Eu... O quê? Sim."
Ela assentiu com a cabeça, algo se movendo através de sua expressão. Parecia tristeza, ou
talvez arrependimento. Ela se moveu em direção à porta. "Bom, eu estou contente de ouvir isso",
disse ela. "Suponho que você pode encontrar seu caminho para fora?"
"Sim", eu disse, confusão, surpresa, esperança e uma centena de outras emoções que eu não
conseguia identificar nesse momento movendo-se em meu peito. Dobrei o cheque e coloquei-o em
minha carteira, e, em seguida, saí da casa da minha madrasta.
Eu estava cambaleando. Apenas Kira poderia amolecer um coração como o de Jessica.
Apenas Kira. Deus, só ela.
Eu tinha uma esposa para encontrar, e algum rastejar para fazer. Eu estava indo rastejar
tanto que talvez seria necessário encontrar uma nova palavra descrevê-lo.
Capítulo Vinte e Cinco

Kira
"Aí, é a definição de lamentável", disse Kimberly, que espreitando para fora da janela ao
meu lado.
A chuva tamborilava contra o painel de vidro do apartamento de Sharon, onde eu havia
permanecido nas últimas duas semanas. O homem sentado na varanda abaixo - o homem que
era atualmente meu marido - estava encharcado até os ossos, o cabelo escuro grudado em seu crânio.
E ele estava usando asas de dragão.
"Você vai ter pena dele, ou o quê?" Kimberly perguntou, virando-se para mim com os
braços cruzados.
Sabendo que Sharon estava no centro de drop-in e que eu estava sozinha, ela correu aqui
depois de Grayson tinha aparecido no apartamento dela, pedindo-lhe para dizer onde eu estava. Ela
desabou, mas eu não tinha tanta certeza de que podia. Grayson tinha passado vinte minutos batendo na
porta da frente, chamando por mim. Quando tinha começado a chover, eu tinha certeza que ele sairia,
mas em vez disso ele sentou-se e se acomodou na escadaria.
Eu balancei minha cabeça. "Eu não posso, Kimberly. Se eu der uma olhada nele eu vou
desintegrar-me, e as coisas que ele disse para mim... as coisas que ele pode ter feito... Eu não posso
desmoronar." Grayson conhecia o meu calcanhar de Aquiles e o usou como alvo da forma
mais dolorosa possível.
“Desde que você se foi, eu cheguei à conclusão que gosto mais de uma variedade de
mulheres do que daquilo que votos de casamento podem ditar-me. Eu
já experimentei algumas recentemente. Você era ok, mas desde então eu já tive melhores.”
Eu senti uma forte picada dolorosa nas imediações do meu coração quando suas
palavras voltaram para mim. Afastei-me da janela, para que não tivesse que olhar para ele lá fora.
"Além disso, as coisas que eu fiz. Eu planejei e tramei e-"
"Sim, você veio com a mãe das Muito Más Ideias, e tem apenas sorte que não me
disse sobre isso com antecedência, pois eu teria te amarrado ao invés de deixá-la passar por isso.
Mas também, Kira, você pode muito bem ter exposto duas das figuras políticas mais corruptas da
história recente - aqueles que teriam, eventualmente, arruinado mais vidas. Estou orgulhosa de você."
Deixei escapar um longo suspiro. "Priscilla fez todo o trabalho duro. Mas de qualquer
maneira, Grayson não necessariamente o vê da maneira que você faz."
"Bem, junto com o resto da América, ele já sabe sobre o que aconteceu, e
descobriu qual foi o seu plano. E ele ainda está sentado lá fora, como um
molhado e patético... pássaro ou algo assim."
"Dragão", corrigi friamente. "E ele pode apenas querer me estrangular. O que ele disse
para você exatamente quando chegou no seu apartamento?"
"As coisas que você precisa ouvir", disse ela suavemente. Coisas
que obviamente tinham influenciado-a o bastante para dar-lhe o endereço de onde eu estava
hospedada. Senti minha vontade ceder apenas uma fração.
Nós duas congelamos quando ouvimos o raspar de algum tipo no lado do duplex de Sharon.
Eu chupei uma respiração, meus olhos arregalados. De repente, o gemido rangente de uma janela
antiga abringo encheu o silêncio.
"Alguém está tentando entrar" Kimberly sussurrou. "Meu telefone está lá embaixo." Nós
duas corremos para o corredor, e eu soltei pequenos gritos quando olhei na porta aberta do quarto no
final do corredor e vi alguém que puxava-se pela janela. Ele foi pego no quadro por... asas.
Parei no meio do caminho, deixando escapar uma lufada de ar alto, aliviada.
"Grayson", eu respirei, movendo-me para ficar na porta grande.
"O que o-?" Kimberly perguntou em voz alta atrás de mim quando ele arremessou seu
corpo através da janela, caindo no chão em um alto baque molhado. Ele gemeu, esfregando o
braço quando se ajoelhou.
Ele me viu de pé, imóvel, olhando estupidamente para ele, e pôs-se em pé. "Kira",
ele murmurou, formando uma poça debaixo de seus pés. A labareda de desejo em seus olhos escuros
fez meu estômago apertar.
"O que você está fazendo?" Eu perguntei, meus olhos passando sobre ele. Sua camiseta
azul acinzentada estava grudada ao peito, mostrando cada mergulho muscular e entalhe, seus jeans
agarrados às suas coxas fortes. Eu ingeri. Ele parecia tão incrivelmente lindo ali de pé, mesmo
encharcado como estava, asas suspensas molemente atrás dele.
Grayson passou a mão pelos cabelos, alisando-os longe de sua testa. Ele pegou algo em
seu peito e eu virei minha cabeça, percebendo que Kimberly lhe jogou uma toalha. "Eu vou só... estar
lá embaixo", disse ela. Eu balancei a cabeça, pressionando meus lábios juntos e olhando de volta
para Grayson, apenas para encontrá-lo passando a toalha sobre a cabeça. Ele deslizou as asas,
esfregou a toalha em sua camisa, e em seguida, correu-a sobre suas pernas, finalmente inclinando-se
para enxugar a poça embaixo dele. Meus olhos seguiram cada movimento.
Quando ele voltou até sua altura completa, nos olhamos fixamente um para o outro através
da sala por vários momentos tensos. Finalmente ele disse baixinho: "Quando eu estava sentado lá
fora na chuva, eu pensei comigo mesmo, o que Kira faria agora? Ela faria alguma coisa. Ela viria
com um plano. Não seria como se ela apenas sentasse aqui e esperasse as coisas acontecerem por
ela. Ela iria reunir toda a sua coragem, e tentaria, mesmo que toda a esperança parecesse perdida. E
eu pensei sobre o quanto eu quero ser corajoso como você."
Oh. Eu me mexi nos meus pés, lutando para não me desintegrar imediatamente. "E assim
que você escalou o lado do prédio e invadiu a casa de Sharon?"
Ele deu de ombros, dando-me um sorriso torto. "Invasão foi a melhor coisa que eu pude
pensar no momento." Ele limpou a garganta. "Na verdade, é o plano B, no entanto. Veja,
inicialmente o meu plano não era tão bom. Eu te daria um sermão sobre os perigos do que você tinha
feito e faria algumas sugestões sobre suas... ideias impulsivas. Então", ele enfiou a mão no bolso
e puxou um molhado e dobrado pedaço de papel, "Eu fiz uma lista de prós e contras." Deixei escapar
uma pequena risada/meio bufo, e ele atirou-me um olhar esperançoso quando cuidadosamente
desdobrou o papel, tomando cuidado para não rasgá-lo. "Eu escrevi sobre o seu espírito, sua
compaixão e sua bondade. Mas eu também escrevi sobre todas as maneiras que você me deixa
louco e traz-me à beira da insanidade." Ele virou a nota de cabeça para baixo e da direita para cima
novamente. "Mas, então, eu não conseguia lembrar quais eram os prós e quais eram os contras,
porque todos eles se unem para molda-la, e eu não quero mudar uma única coisa em você."
"Oh," eu respirei, pendurada por um fio na promessa de não-desmoronar. "Bem", eu disse,
cruzando os meus braços sobre o peito, "Bem, isso... funcionou, eu suponho, o plano B. E não foi o
pior dos planos no que diz respeito a planos." Eu afastei meus olhos dele, mordendo meu lábio por
um momento. "Mas, o que exatamente você estava tentando fazer? Agora que você está na minha
frente, o que você quer, Grayson?" Eu limpei minha garganta, sabendo que a forma como a minha voz
falhou no seu nome entregou minhas emoções instáveis, bem como a esperança subjacente que eu
estava tentando tão duramente negar.
"Eu quero te dizer o que eu deveria ter dito naquele dia no meu escritório, se eu tivesse
sido corajoso o suficiente, em seguida, se eu tivesse sido forte o suficiente. Eu quero te dizer que eu
confio em você, que eu te amo e que eu não quero viver minha vida sem você. E estou esperando que
você me perdoe por ter te afastado, por dizer essas coisas cruéis para você, por ter mentido, e
espero que... espero que você possa me ajudar a me perdoar. Sinto muito, estou muito
arrependido." Sua voz tinha uma dor tão crua que fez meu coração pular no meu peito.
Tentei raciocinar através de tudo o que ele acabou de dizer, e minha mente se agarrou
em três palavras em particular. "Você me ama?" Eu perguntei, a esperança me deixando sem fôlego.
Dei um passo em direção a ele, mas ele levantou a mão, parando-me no meu caminho. Eu
pisquei para ele. E em seguida, as lágrimas saltaram aos meus olhos, quando a
compreensão despontou. Ele queria vir até mim. Ele assim o fez, detendo-se a poucos passos de onde
eu estava. Um sorriso trêmulo inclinou para cima os cantos dos meus lábios.
"Sim", ele disse, "Eu te amo tanto que me sinto como uma concha vazia sem você."
Mordi o lábio trêmulo. "E essas coisas que você disse, sobre estar com outras..." Minha
voz arrastou fora, a dor brutal daquele momento voltando para mim e roubando as palavras.
"Não", respondeu asperamente. "Deus, não. Eu disse essas coisas para te machucar, como
eu pensei que você estava me machucando." Ele fechou os olhos, um olhar de vergonha passando
sobre suas belas feições. "Eu tenho sido e sempre serei fiel a você - corpo, e também o coração e a
alma. Eu fiz uma promessa, e eu pretendo viver por ela."
Eu sorri através de uma pequena respiração ofegante, tentando segurar um soluço, de
repente fraca com alívio.
"Eu fui fiel a você, também. Naquele dia, em Napa, eu estava apenas com Cooper porque
era parte do plano, e ele pensava que eu ainda morava lá. Eu tinha que descobrir onde ele estaria.
Depois disso, eu pedi desculpas e sai. Eu nunca fui a qualquer lugar com ele, naquela noite ou
qualquer outra."
Ele fechou os olhos por um momento. "Eu sinto muito ter duvidado de você."
Eu balancei minha cabeça. "Parecia ruim, eu sei. Eu teria explicado, mas -"
"Eu fui terrível. Mais que horrível."
Eu coloquei meus dedos sobre os lábios, fungando enquanto olhava para o rosto dele.
"Você estava machucado."
Ele balançou a cabeça, sua expressão aflita e cheia de culpa.
"Eu tinha certeza que você ia me enviar os papéis do divórcio. Você não aceitou a
oferta do meu pai?"
Ele balançou a cabeça. "Não, eu não aceitei. Eu prefiro morrer de fome."
Eu olhei para baixo. "Bem, isso é uma atitude conveniente, porque ainda podemos. Eu não
sei quanto tempo vai demorar para chegar a preensão que tirou o dinheiro da minha avó, ou mesmo se
meu pai ainda vai perseguir isso. Ele pode-"
"Acontece que Jessica Hawthorn estava interessada em investir na vinha da família."
Inclinei a cabeça, olhando para ele com confusão. "Ela fez? Eu só encontrei-me com ela
tão brevemente. Ela concordou em me dar o dinheiro para financiar meu plano, mas foi concisa e sem
consideração”.
"Sim." Ele sorriu, e havia uma nota de admiração ali.
"E," ele continuou, "eu quero que você saiba que eu cheguei à todas as conclusões sobre
meus sentimentos por você, e todas as maneiras que eu agi como um idiota completo antes de
descobrir o que você fez por mim, por nós", ele fez uma pausa, "ultrajante como era" ele não
parecia ser capaz de ajudar a adicionar.
Eu engoli, meu sorriso desaparecendo enquanto eu olhava para baixo. "Eu
planejei e conspirei..." Eu olhei em seu olhos. "Eu tive que fazer, Grayson. Eu não sabia se você
realmente tinha aceitado a oferta do meu pai ou não, mas, se você tivesse feito, ele teria arruinado o
seu nome e todo o progresso que você fez para melhorar sua reputação, e se você não,
você estaria sem um centavo. E era tudo minha culpa. Eu tinha que corrigí-lo. Eu tinha que
tentar." Lágrimas saltaram aos meus olhos.
Ele deu um passo em minha direção, um sorriso terno aparecendo em seu rosto. "Eu sei,
bruxinha. E temos muito o que falar sobre esse assunto. Mas primeiro eu quero que você saiba que eu
estava errado quando disse que você era parecida com seu pai ou com o meu. Você conspirou, é
verdade", ele sorriu e passou o dedo sobre minha maçã do rosto, "mas suas ideias são preenchidas
com amor e alegria para a vida, assim como você. Nada de ruim poderia vir de você, Kira, porque
nada de ruim está dentro de você."
Alívio e felicidade fluíam através das minhas veias. Eu balancei minha cabeça. "Eu não
vou conspirar mais", insisti. "Eu quero dizer... a menos que seja algo muito, muito importante." Eu
mexi meus olhos para o lado. "Ou, bem, a menos que -"
Minhas palavras pararam e meus olhos dispararam para o seu rosto ao ouvir o som de sua
risada suave, seu olhar cheio com diversões suaves. "Ok", ele disse calmamente. "Eu te amo, Kira.
Eu nunca vou parar de dizer isso. Estou pronto para enfrentar os espinhos. Eu vou
mergulhar sozinho sobre eles por você."
"Soa doloroso", eu respirei.
Ele riu. "Eu espero que seja uma metáfora. Charlotte", ele disse como explicação. Ah. Sim,
Charlotte.
Ela tinha ligado e me verificado todos os dias e, embora eu não tivesse confiado minha
mais recente Muito Má Ideia até que tudo estivesse acabado e a fita fosse enviada para a notícia, ela
me manteve com seus sábios conselhos e palavras de conforto e, acima de tudo, oferecendo o seu
amor de avó.
"A rosa", eu disse. "Eu tenho esse, também."
Seus lábios se inclinaram para cima em um sorriso de menino quando ele escovou uma
mecha de cabelo do meu rosto. Sua expressão tornou-se tristemente contemplativa. "Eu gostaria de
ter estado verdadeiramente pronto para viver por suas palavras. Poderíamos ter evitado estas últimas
semanas."
Emoção tomou conta de mim, e uma lágrima rolou pela minha bochecha. Grayson usou seu
polegar para secá-la. Eu peguei o brilho de prata, e olhei mais de perto sua mão quando ele se
afastou. "Você encontrou o anel?" Eu respirei.
"Sim", disse ele. "E se ainda é meu para manter, eu nunca vou tirá-lo."
Eu balancei a cabeça. "Sim, ele é seu", eu sussurrei. "Me desculpe. Eu sinto muito por
manter o segredo sobre o meu pai e o seu caso de você. Eu nunca quis te machucar. Eu também te
amo. Eu nunca parei. Eu nunca o faria. Meu dragão."
Alívio passou sobre seus traços antes dele perguntar com voz rouca, "Posso ficar agora?"
Eu balancei a cabeça vigorosamente, pisando para seu abraço. Ele sorriu contra a minha
testa, esfregando sua mandíbula masculina e áspera na minha pele. "Vem comigo para casa, Kira," ele
sussurrou. "Venha de volta para casa. Por favor. Deixe-me provar que posso ser o marido que você
merece."
Eu balancei a cabeça contra seu peito, respirando o dolorosamente delicioso aroma de
chuva fresca e de meu marido. Meu marido que me amava e queria que eu fosse para casa com ele. A
miséria, o sofrimento e o medo das últimas semanas, de repente, tomaram conta de mim
e, ofegante, deixei escapar um soluço, enterrando minha cabeça mais firmemente contra ele. Seus
braços vieram ao meu redor e ele esfregou seu rosto contra o topo da minha cabeça.
"Por favor, não chore, Kira," ele sussurrou. "Eu não quero nunca mais ser a causa de suas
lágrimas novamente."
Eu balancei a cabeça, agarrando sua camisa e olhando para cima em sua expressão
crua com amor e ternura.
Ele pegou meu rosto em suas mãos, inclinando-se para beijar minha boca. Eu o beijei de
volta avidamente, glorificando-me no gosto dele, a sensação de seus lábios nos meus. Eu tinha tanta
saudade dele. Ele se afastou, beijando as lágrimas que corriam pelo meu rosto, sua respiração quente
na minha pele. Levantando minha boca para a dele, eu o beijei novamente e novamente, provando a
essência salgada da minha dor em seus lábios, regozijando-me na forma como os nossos
beijos se tornaram doce novamente. Nós dois estávamos sem fôlego quando minhas lágrimas
finalmente diminuíram.
Quando ele puxou sua boca da minha, seus olhos se moviam sobre meu rosto quando ele
sussurrou, "Você poderia estar grávida."
Eu pisquei e depois balancei a cabeça. "Eu não estou", eu disse, lembrando o dia há
uma semana quando meu período veio. Eu tinha estado parcialmente aliviada, mas principalmente
desapontada, e eu disse isso a Grayson. "Eu pensei que mesmo se você não me quisesse mais, pelo
menos eu teria uma pequena parte de você para sempre."
"Kira", disse ele com a voz rouca, puxando-me com ele novamente e me abraçando com
força.
Eu olhei para cima, meus olhos encontrando os seus. "Leve-me para casa", eu disse.

Depois de caminhar com uma Kimberly sorridente até o carro dela e dizer adeus, Grayson
e eu arrumamos minhas malas e entramos em seu caminhão, indo para casa. Casa. Só
com o pensamento da palavra meu coração já pulou de alegria.
Eu pegaria meu carro outro dia. Por agora eu não poderia suportar me separar do meu
marido, até mesmo por uma hora.
Passamos o passeio de carro atualizando um ao outro em tudo o que tinha acontecido desde
que tínhamos nos separado.
Grayson me escutou explicar o plano que Harley, Priscilla e eu tínhamos bolado, suas
mãos segurando o volante com força. "Eu não sei se mato todos os três, ou se construo um santuário a
sua coragem", ele trincou fora.
"Eu pessoalmente gosto da ideia do santuário. Eu quero dizer, se você está tomando votos."
Dei-lhe o meu mais brilhante sorriso.
Seus olhos encontraram os meus e ele sorriu de volta, rindo suavemente depois.
"Essa maldita covinha pode só ter te salvado." Eu ri, mostrando-a que para ele novamente.
"Eu acho que Harley merece uma promoção", disse ele.
"Ele é obviamente talentoso com tarefas de malabarismo. Não só estava te ajudando,
mas foi ele que organizou um grupo inteiro de homens para vir trabalhar na vinha, embora eu não
possa pagá-los no momento."
"Eu sei." Eu sorri. "Charlotte contou-me."
Ele olhou para mim e levantou uma sobrancelha. "Então, eu fui o único deixado de fora?
Aparentemente todo mundo sabia tudo o que acontecia, exceto eu."
Eu coloquei minha mão em seu braço. "Nunca mais", eu disse. "A partir de agora, todas as
minhas tramas vão envolvê-lo."
"Você não deveria tramar mais", ele me lembrou.
Mordi o lábio. "Oh, certo..." Ele inclinou a cabeça para trás e riu.
Quando dirigimos através das portas do Hawthorn Vineyard, Grayson pegou minha mão e
apertou-a.
Nós paramos perto da casa e Charlotte veio pra fora, juntando as mãos ao peito em delírio.
Nós dois saímos e ela desceu as escadas, levando-me em seus braços e me abraçando com
tanta força que eu ri, lutando para respirar.
"Como está Walter?" Perguntei.
"Ele está maravilhoso! Ele chega em casa amanhã." E então ela me abraçou novamente.
Sentimentos de gratidão e contentamento fluíram através de mim. Eu estava em casa. Finalmente, o
meu coração sussurrou. Enfim.
Harley, Virgil, José e vários homens que eu não conhecia vieram andando em direção à
casa, aparentemente acabados com o trabalho do dia. Eles estavam rindo e brincando, e
gritaram saudações quando chegaram perto. Sugie veio correndo atrás
deles, bufando animadamente, e por um momento o tempo diminuiu quando eu sorri ao redor para
eles: minha família. Um grupo de desajustados e azarados que, juntos,
tinham trazido uma falida vinha de volta à vida, e virado a mesa em dois muito poderosos homens
corruptos.
"Hey Harley," Grayson chamou. "Chame sua mulher. Ela precisa se juntar a nós. Eu tenho
cerca de mil brindes para fazer com ela."
Harley sorriu. "Vai fazer, meu homem."
Decidimos não assistir ao noticiário naquela noite. O mundo iria esperar. Depois que
tínhamos apreciado um jantar em família cheio de turbulentos risos, conversas e muitos, muitos
aplausos por toda parte, Grayson e eu nos retiramos para o nosso quarto. Ele fez amor comigo
primeiro ferozmente e rapidamente, e, em seguida, novamente, de forma lenta e docemente. Alívio
fluiu através de mim por ter sido preenchida por ele novamente. E enquanto eu estava deitada em
seus braços depois, senti-me mole com felicidade e amor.
"Kira", ele murmurou, virando-se para mim, "eu quero que você saiba que eu fiz
uma nova promessa – uma com que pretendo viver para o resto da minha vida."
"O quê?" Eu sussurrei, sentindo a importância das palavras que ele estava prestes a dizer.
Ele inclinou meu rosto para ele. "Nós somos casados, e haverá momentos em
que estaremos em desacordo ou brigaremos, ou mesmo questionaremos o outro. Haverá momentos em
que amar você trará à tona todo medo dentro de mim. Mas meu voto é este: não importa o que
aconteça, eu nunca deixarei o quarto até que tenhamos trabalhado sobre isso."
Seus olhos se moveram sobre o meu rosto, sua expressão suave e vulnerável. "E com
isso eu quero dizer que eu não irei me afastar para dentro de mim mesmo também. Eu vou estar
presente, até que tenhamos resolvido o problema entre nós, não importa quanto tempo leva.
Eu também não quero que você se preocupe que eu vou te mandar embora de novo. Juro isso a
você, com todo o meu coração."
Senti uma dor profunda de ternura quando concordei com ele. "Eu me comprometo com
o mesmo."
Ele sorriu gentilmente. "E, às vezes, vamos nos encontrar no meio do caminho, mas outras
vezes, eu vou até você. E eu vou tentar o meu melhor para colocar o meu orgulho de lado,
então saberei quando preciso ser o único a fazer isso."
"Eu também", eu sussurrei, lágrimas inundando meus olhos. Ele se inclinou e beijou minhas
pálpebras, fazendo mais lágrimas fluírem pelas minhas bochechas. Ele beijou minhas lágrimas e
então me puxou para mais perto contra ele, acariciando seu rosto no meu cabelo.
E estes votos, feitos em sussurros privados na penumbra, com raios da lua fluindo através
da janela do nosso quarto, eram sagrados e reais, pois foram baseados em verdade e amor.
Epílogo

Oito anos mais tarde


Grayson
"O que exatamente você está fazendo, pequena duende?" Eu perguntei, olhando para a
garota de sete anos rastejando através da grama. Sua cabeça apareceu, cascatas de cabelos ruivos
caindo pelas costas, olhos marrom profundo piscando para mim.
"Eu estou fingindo ser uma lagarta", ela respondeu.
"Ah", eu disse, segurando o sorriso que puxou meus lábios. "Ontem você era uma
margarida, e hoje você é uma lagarta."
Ela ficou de joelhos, colocando as mãos nos quadris pequenos. "Vovô Walter diz que você
não pode compreender verdadeiramente outra pessoa a não ser que você veja o mundo através de
seus olhos."
"Ele disse?" Isso soou como Walter, o homem que me ensinou tudo o que eu sabia sobre ser
um bom pai. "Bem, eu não sei se ele estava se referindo margaridas e lagartas."
"Mas são minhas favoritas!" ela insistiu. "Eu quero entendê-las acima de tudo!"
Eu ri. "E o que você descobriu até agora?"
"Bem, margaridas olham para o céu durante todo o dia e o assistem mudar. Elas devem
pensar que o mundo é um lugar muito bonito. Lagartas só olham para o chão." Ela franziu a
testa. "Lagartas devem estar muito desapontadas com o mundo."
Eu ri, pegando-a em meus braços e sorrindo em seu rostinho sério. "Você sabe o que
eu vejo? Uma menina bonita com um coração muito compassivo. Agora, onde está a sua irmã mais
nova? Eu tenho algo para contar a vocês."
"Ela está jogando dress-up na casa de campo. Papai, você colocou um outro bebê dentro de
mamãe?"
Meus olhos se arregalaram e eu parei. "Como você sabia disso?"
"Você tinha o mesmo olhar em seu rosto quando me contou que ia colocar Celia na barriga
da mamãe."
"E que olhar é esse, exatamente?"
Ela arranhou o braço dela, sua expressão contemplativa. "Eu não sei. Tipo como
Sugie parece quando ela pega um pedaço de pau."
Eu ri alto, imaginando o olhar principalmente orgulhoso, mas um pouco chocado no rosto
de Sugie quando ela faz algo que considera brilhante. "Bem, você está certa. E, adivinhe? É
outra irmã."
"Outra irmã?" Seu rosto irrompeu num sorriso, mostrando seu dente faltante e a
cativante covinha que ela herdou de sua mãe. "Isso é um monte de garotas, papai."
Eu sorri. "Aham." Felicidade fluiu através do meu coração. Não parecia que a vida
podia ficar melhor do que já estava, e ainda, de alguma forma, todos os dias melhorava um pouco
mais. Tudo por causa de um garota que uma vez corajosamente entrou no meu escritório e me
propôs casamento. Tudo porque eu finalmente tive a coragem para me render à minha bruxinha doce
e, em troca, ela tinha me dado uma casa cheia de garotas animadas que subiam em árvores,
fingiam ser lagartas, me enfrentam de volta de vez em quando, me colocavam no meu lugar
muito regularmente, lembrando-me muitas vezes que eu definitivamente não era o governante em
minha própria casa, e geralmente me levando à distração.
Eu defini Isabelle para baixo, e nós entramos na pequena casa de campo onde uma
vez uma muito bonita bruxa tinha vivido, e encontramos Celia, de quatro anos e vestida como uma
princesa tomando chá na mesa em miniatura na sala da frente. Vários anos atrás nós tínhamos tido a
casa limpa e atualizada, e a transformamos em um teatro para as nossas meninas.
"Nós vamos ter outra irmã!" Belle gritou.
O copo de plástico de Celia parou a meio caminho de sua boca e seus olhos se
arregalaram. "Uma outra irmã?", ela disse, saltando para seus pés. Ela cambaleou em minha direção
em saltos de plásticos e se jogou em meus braços quando eu dobrei-me para apanhá-la. "Obrigada,
papai. Eu desejei uma irmã mais nova."
Eu sorri para o seu belo rosto em formato de coração, os olhos verdes brilhantes com
felicidade e ligeira, e um pouco de malícia que ela sempre teve. "É o meu trabalho sabe, fazer todos
os seus desejos se tornarem realidade."
Sua expressão ficou pensativa enquanto girava uma mecha de seu cabelo escuro. "Posso ter
um pônei então?"
Eu usei o meu dedo indicador para bater em seu nariz. "E," eu qualifiquei, " para não
mimá-la completamente."
"Hmm," ela resmungou, mas eu podia ver as rodas girando por trás de seus olhos. Ela já
estava tramando uma maneira de conseguir o pônei.
Eu ri, e nós três fomos até a casa principal, onde Charlotte estava na cozinha. Eu
peguei uma inspiração profunda do ar perfumado com um doce aroma de limão.
"Vovó Charlotte," Celia chamou. "Nós vamos ter uma irmãzinha!"
Charlotte riu e pegou Celia em seus braços enquanto Isabelle abraçava sua cintura. "Eu sei,
meus amores, eu ouvi a notícia maravilhosa. Devemos comemorar com um bolo de limão, fresco do
forno?"
"Ou talvez dois?" Celia inclinou a cabeça e sorriu lindamente.
Eu ri. "Olhe isso."
Charlotte sorriu quando eu a beijei na bochecha. "Você viu Kira?" Perguntei.
"Eu acho que ela está la trás", disse ela, estabelecendo Celia para baixo. "Você
vá encontrá-la, eu cuido destas duas."
Ela sorriu, feliz, e eu saí, sabendo como muito feliz e agradecida ela se sentia com uma
casa cheia de garotas para estragar, mimar e amar. E para assar-lhes deleites.
Eu pisquei para ela e fui em busca de minha esposa, tendo uma ideia de onde ela poderia
estar. Enquanto eu caminhava descendo a colina, eu olhei para fora sobre as videiras, meu peito
cheio de orgulho. Há oito anos nós trouxemos esta vinha da beira da ruína com o dinheiro que Jessica
tinha me dado, muito trabalho duro e uma abundância de amigos leais. Desde então, nós tínhamos
crescido com mais sucesso a cada ano, ganhando até mesmo vários prêmios para os vinhos
produzidos. Hawthorn Vineyard estava prosperando, e eu estava especialmente orgulhoso do fato de
que agora empregava quase duas centenas de pessoas, muitas das quais eram ex-presidiários à
procura de uma segunda oportunidade, procurando alguém para acreditar neles. Harley, que agora era
meu diretor de operações, foi quem inspirou essa ideia. E poucas outras empresas em Napa
tinham até mesmo seguido a ideia quando a noticia de quão leais e trabalhadores eram nossos
funcionários se espalhou.
O dinheiro da avó de Kira eventualmente foi desbloqueado, muito antes do julgamento que
colocou Cooper Stratton atrás das grades por todo um rol de crimes. Frank Dallaire nunca tinha sido
provado culpado de participar em qualquer coisa ilegal, mas como ele sabia melhor do que ninguém,
na política, a imagem é tudo. Ninguém queria estar ligado à suspeita que rodeava seu nome. Ele
desapareceu do panorama político e tanto quanto sabíamos, não estava mais envolvido no governo
em tudo. Nem foi envolvido em nossa vida.
Felizmente, porém, nós não faltamos para a família, incluindo Shane e Vanessa. Eles tinham
agora dois garotos que visitam muitas vezes, e sempre saem parecendo um pouco atordoados depois
de nossas garotas correm espezinhando sobre eles, brincando, forçando-os a jogar dress-up e
participar de aventuras um pouco traquinas.
"Eu pensei que eu iria encontrá-la aqui", eu disse, virando o último canto do labirinto bem
cuidado. Eu sorri quando me juntei a Kira no banco em frente à fonte, onde ela estava sentada com a
mão no seu minúsculo inchaço do bebê. As esmeraldas de seu anel de casamento brilhavam ao sol,
me lembrando do dia que eu tinha colocado-o em seu dedo, e de como tínhamos renovado os nossos
votos em uma pequena cerimônia iluminada pelo sol sob a árvore de damascos em nossa vinha. Eu
queria dar-lhe um dia de casamento real, um cheio de amor, alegria e família - e isso é o que eu tinha
feito.
Minha esposa sorriu, me mostrando a covinha e fazendo com que o meu coração virasse.
"É o meu lugar favorito, o coração de seu covil. Eu sempre sei que você vai me encontrar aqui,
dragão."
Eu ri baixinho e recolhi-a para mim, levantando-a para o meu colo. Ela colocou os braços
ao redor do meu pescoço, e colocou sua testa contra a minha. "Outra garota", ela suspirou feliz.
Eu aninhei em seu pescoço. "Hmm," eu murmurei. "Outra mulher para me manter sob seu
polegar. É quase como se você tivesse planejado dessa maneira."
Kira riu. "Não, não planejado, apenas sonhado. Sonhei com esta vida que você me deu."
Ela pegou meu rosto entre as mãos e beijou meus lábios. "Obrigada", ela sussurrou contra a minha
boca.
Gratidão e amor me dominaram, e eu trouxe minha mulher ainda mais perto, abraçando-a
ao meu corpo e inalando seu perfume doce. E, naquele momento, eu soube que não voltaria a
acreditar que a vida não realizava milagres. Com seu amor, minha linda bruxinha tinha transformado
um lugar uma vez preenchido com solidão e dor num cheio de alegrias e sonhos. Enquanto nós nos
abraçamos, uma frase milenar sussurrou por entre as árvores, as rosas e as videiras além: In Vino
Veritas. No vinho há verdade.
Mas o maior conhecimento que agora vivia no silêncio calmo do meu coração: no amor
existe verdade.
E a verdade que o amor tinha me ensinado era que você só pode ser forte uma vez que for
corajoso o suficiente para quebrar, e que a dor faz com que haja mais espaço para o amor. Eu
era grato por tudo isso, porque esse era o belo equilíbrio da vida.
Agradecimentos
Como sempre, eu tive um monte de ajuda para escrever este livro.
Amor enorme e graças ao meu editor de enredo, Angela Smith, por me ajudar a aprimorar o
enredo, e por acreditar nesta história - ainda mais do que eu, às vezes. Obrigado por estar
lá, desde a primeira palavra até a última.
Gratidão imensa para o meu editor de desenvolvimento e linha, Marion Archer. Você é tão
talentoso e sempre cheio de tal conselho brilhante. O entusiasmo e empenho que colocou neste
projeto é apreciado além da medida.
Obrigada a Karen Lawson que sempre me faz sentir como o produto final que eu estou
colocando para fora no mundo é é polido com cuidado e carinho. Isso é um presente para mim.
Para meus leitores beta extremamente valiosos que leram Voto de Grayson primeiro e
desde que tais comentários incrivelmente úteis e sugestões: Cat Bracht, Natasha Gentile, Michelle
Finkle e Elena Eckmeyer (que deu a meu dragão e bruxa TLC extra pela leitura através de meu
manuscrito duas vezes, e adorei o meu dragão, apesar de suas cuspidas de fogo, e amei a minha bruxa
por cutucando-o até que ele derreteu).
Obrigada a minha agente maravilhosa, Kimberly Brower, que segurou a minha mão através
deste processo em muitas, muitas maneiras. Obrigada por sempre ter me apoiar em
cada empreendimento. Você é invulgarmente generosa com o seu tempo e cuidado e nunca deixou-
me de me fazer sentir como se eu fosse seu único cliente. (E eu tenho a sensação de que todos que
todos dizem isso). AIADW para sempre!
Para você, leitor, eu não teria o privilégio de fazer o que eu faria sem você e eu nunca,
jamais, tomaria isso como garantido. Infinito amor e agradecimento!
Para todos os blogs que reveem e recomendam meus livros - muito grata por todos vocês.
Para meu marido: Mal sei como expressar minha gratidão a você por toda sua ajuda e
apoio com esta história... a conversa extensa sobre a trama - carros, restaurantes, cama, enquanto
escova os dentes - minhas infinitas perguntas, dúvidas intermináveis, e a quantidade interminável de
tempo que passei na minha própria cabeça tentando criar estes personagens. O voto que fiz para você
levou a mais alegria do que eu jamais me atrevi a sonhar.
Sobre o autor
Mia Sheridan é uma autora do New York Times, USA Today e Best-seller do Wall Street
Journal. Sua paixão é tecer verdadeiras histórias de amor sobre pessoas destinadas a ficar juntas.
Mia vive em Cincinnati, Ohio, com o marido. Eles têm quatro filhos aqui na terra e um no céu. Além
de Grayson’s vow, Leo, Leo’s Chance, Stinger, Archer’s voice, Becoming Calder, Finding
Éden e Kyland também fazem parte da coleção Signs of love.
Mia pode ser encontrada online em:
www.MiaSheridan.com
www.facebook.com/miasheridanauthor
Grayson’s Vow
A Sign of Love Novel
Copyright © 2015 por Mia Sheridan
Todos os direitos reservados

A permissão do autor deve ser concedido antes de qualquer parte deste livro poder ser usado para
fins publicitários. Isso inclui o direito de reproduzir, distribuir ou transmitir de qualquer forma ou
por qualquer meio.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da
imaginação do autor ou são usados ​ficticiamente.
Qualquer semelhança com fatos reais, localidades ou pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.

1. NT: manso = meek, ela fala ‘e’ ou ‘ea’ por não se lembrar se é meek ou meak
2. uma expressão como repugnante, nojento,horrível, buto...
3. NT: o mesmo que Juro por Deus.
4. Sugar = açúcar, logo, sugar = sugie
5. Sugar pronuncia-se com som de sh, como shugar
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