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LST F ah ni nN Ue cultural do contlito * Ha 30 anos, sua queda Tle eR) da Guerra Fria e da PN Ut eMC CE Os dias em/que o mundo ny f esteve prestes a explodiry ie A eh ae oN VR Sh [ob SOCIALISMO A guerra ideoldgica travada entre EUA e URSS dividiu a politica internacional e tem consequéncias até os dias de hoje UMA LUTA DE VARIOS ROUNDS Jm novembro de 1985, milhs foram ao: prestigiar langamento do quarto ¢ aguardado filme da franquia Rocky ~ 0 boxeador ftalo-estadunidense imortalizado pela atuagio de ster Stallone. O roteiro da trama sc desenvolve baseado no confront do protagonista com 0 russ M mnas o ringuc foi palco para c cembate ideolégico entre 0 capitalismo dos EUA co sociali ouno quase. M foi o suficiente ps vir’ cl jo humana ao que cem esferas de influéneia, as duas poténcias travaram uma acirrada corrida cultural, espacial ¢ armamenti Diante do contexto, esta edicio de HISTORIA EM FOCO che; P der a compl idade de um periodo no qual i v contra tudo sobre as du: BRU Rece ccd Corrida Espacial e Armamentista Giéncia e tecnologia foram exploradas em busca da hegemonia mundial Como os Estados Unidos e a Unido Soviética dividiram o mundo em blocos de influéncia ‘CAPA ~ Produydo grétca: Josemara lascnents; imagens: Shute sock inages Muro de Berlim = Durante 28 anos, a construcao separou ideologias, culturas e familias Crise dos misseis EUA, URSS E Cuba: 0 Cultura triangulo que quase levou Dicas de filmes e livros que tém a © mundo a destruigao Guerra Fria como pano de fundo ‘meee so Sele ei iach spears MAE cea MESES ae ) const scene rs go Las bs oMGRC so TOR re eM ERGs UN cr N16 GP VTA Ca ‘aac ot en tne lL Aes Nene va, GPO, seaTADIMATORO LOR 2-0 [iva nated ae NO | ‘Sinan, cosines Cael? pam HLL CONTEXTO ATT ae de PAZ IMPOSSIVE Tee ict aU ee MOT er MNCL) mundo em blocos de influéncia cone see oe ee ee een eee eee Jim da Segunda Guerra Mundial, um conflito que devastou 0 mundo ¢ matou entre 40 ¢ 72 milhdcs de pessoas ~ os dados so varidveis porque nem todas as vitimas foram registradas. No cntanto, um capitulo histérico dessa proporgio nio terminaria coma lnagem: Shutretack Images ¢ declaragio do encerramento das ba- talhas: suas consequéncias cstrutu- rais, cconémicas, politicas ¢ idco- lbgicas foram sentidas no cenério global durante um longo perfodo «por que nio, até os dias de hoje. Bipolarizacéo no pés-guerra Com as vitérias em variadas frentes contra os paises do Fixo (en- tre os quais estavam Alemanha, Ité- lia c Japio), os Aliados se safram ven- cedores da Segunda Grande Guerra cimpuseram diversas sanges as na- g6cs derrotadas. Em reuniées como. as conferéncias de Tecra, Potsdam ¢ Talta, os lideres de Estados Unidos (EUA), Franga, Inglaterra ¢ Unio Soviética (URSS) discutiram ques- tes relacionadas nova _ordem internacional que se formaria apés o triunfo desse grupo. Em tais eventos, foram tomadas decisdes como a revogagio do do- minio das dreas de influéncia con- quistadas por Adolf Hitler durante oconflito co julgamento dos nazis- tas no famoso tribunal de Nurem- berg. Outro ponto essencial para a compreensio do cenério estabele- cido apés a Segunda Grande Guer- ra foi a divisio dos territérios entre 08 Aliados. Entre outros acordos, ficou estabelccido que Berlim, ca- pital alema, seria ocupada por for- gas americanas, britanicas, france- sas ¢ soviéticas — em uma partilha gue estabeleceu quatro zonas admi- nistrativas. Desse cisma, surgiria 0 emblemético muro de Berlim (saiba mais a partir da pagina 12). Tal contexto foi originado devi- do a0 embate que se estabeleceu en- tre as nagbes que venceram juntas as batalhas contra o Eixo. No decor- rer das conferéncias, ficou claro que, cembora estivessem do mesmo lado no embate que se passou, os paises mais fortalecidos ~ Estados Unidos © Unio Soviética — possufam di- vergéncias determinantes sobre a forma como pretendiam estabele- cer a nova ordem pés-guerra. “Am- bos tinham como inimigo comum a ‘Alemanha nazista. Logo, juntarem- se no combate a esse oponente. No entanto, apés 0 final do conflito, as rusgas que jé existiam desde a Pri- meira Guerra Mundial (1914-1918), aprofundadas durante a Revolucio Russa de 1917, voltaram 3 tona, tor~ nando-se ainda mais evidente o cho- que ideolégico”, pontua o professor, mestre ¢ doutor em literatura alems, Anténio Jackson de Souza Brandio. Com isso, formou-se 0 que co- nhecemos hoje como Guerra Fria, uma nova conjuntura de enfrenta- mento global e de tensio que se ¢s- tendeu aproximadamente de 1945 até 1991. “Nao hé nenhum consen- so definido sobre uma possivel ma- triz cronolégica da Guerra Fria. Os mais ortodoxos vio buscar o ano de 1948 para afirmar que as conferén- cias para organizar o fim da guerra ji teriam marcadoa divisio do mun- do. O mais convencional, no entan- to, éa interpretagio de que 0 marco € 0 ano de 1945, quando ocorreu 0 hombardeio nuclear das cidades ja- ponesas pelos EUA, utilizado como demonstragio de forga no cendrio mundial”, esclarece Karl Schurster, livre docente em Histéria Contem- porinea na Universidade de Per- nambuco ¢ pés-doutor em Histéria pela Universidade Livre de Berlim. Ideologia e poder O diferencial dese epis6dio histérico se revela no conceito de “guerra improvavel, paz imposs{- vel’. A primeira questio se relacio- na a0 desenvolvimento de bombas nucleares por parte das duas nagBcs. Sendo assim, caso o embate chegas- se a niveis militares, as armas ~ que foram ostentadas como simbolos de poder e usadas como ameaca ~ ti nham uma capacidade de destruicio global. “A configuracio da Guerra Fria desencadeou uma tensa relagio na construgio dos blocos socialista e capitalista, com forte instancia mili- tar que possibilitou uma corrida ar- ‘mamentista de tio temivel capacida- de destrutiva que nenhum dos lados se atreveu a usi-la’, pontua Karl. ‘Jia paz improvavel indica a bus- ca de EUA ¢ URSS por zonas de influéncia, a qual nio cessaria por diversos interesses ideolégicos, eco- némicos € politicos. De acordo com Brandio, deve-se lembrar de que o “fantasma” do comunismo assom- brava a Europa desde o final do sé- culo XIX; sendo, inchasive, empre- gado para a prépria ascensio do nazismo na Alemanha, quando hou- ve a vitéria do Exército Vermelho na Riissia ¢ 0 surgimento da Unio Sovi qucles contrétios 8 pla- nificagio social recorreram 3 nagio mais capitalista do momento, os EUA. Estes, por sua vez, viam na Europa ¢ em suas colénias a expan- so de sua prépria economia e fize- ram de tudo para manter os pafses do Ocidente ao seu lado, bem como cooptar aqueles que estavam sob a influéncia soviética”, ressalta 0 es pecialista em literatura alema. Dessa forma, o nome Guer- ra Fria faz referéneia justamente a auséncia de um combate direto: as disputas se mantiveram por ou- tros mecanismos, que nio os exérci- tos ¢ campos de confronto armado. Anténio Brandio pontua que os soviéticos ocuparam os pafses que ajudaram a libertar na Europa Oriental jé os BUA, a Europa Oci- dental. “As duas superpoténcias nto CONTEXTO se enfrentariam diretamente, mas por meio de seus satélites ou pela participacio em conflitos pelo mun- do quando uma nagio apoiava gru- pos rivais”,ressalta 0 professor. Capitalismo x socialismo Muito por conta do cendrio que se estabeleceu na Guerra Fria, até os dias de hoje, os temas capitalismo ¢ socialismo ainda permeiam dis- cusses politicas. Mas vocé sabe os pontos divergentes desses dois mo- delos? O sistema socioeconémico defendido pelos EUA é pautado na propriedade privada, em operagées Iucrativas ¢ no acimulo de bens, no trabalho assalariado c na légica da ‘economia de mercado (na qual o Es- tado pouco intervém na economia, guiada pela livre-iniciativa). Jaa URSS representava 0 pro- jeto de expansio do socis i tema no qual a distribuigio de ren- da torna-se uma pritica empregada com 0 objetivo de reduzir as desi- gualdades sociais, 0 Estado inter- vém de forma decisiva na economia © os meios de produgio (empresas, territérios, miquinas, por cxemplo) pertencem 3 coletividade ou a re- presentantes estatais. Diante dos _ posicionamentos opostos, a Guerra Fria se estabe- leccu como a busca pela ampliagio do poder das duas nagdes. Confor- me explica Karl Schurster, as rela~ ges internacionais sio pautadas por interesses das grandes potén- Macey TUT Td Pee mn ee a Dee Coenen iqualdades ee Cha Engels na obra Manifesto Comunista, publicada em 18: cias ¢ como elas conseguem arregi- ‘mentar adeptos aos seus projetos, na maioria das vezes pela politica e ou- tras pelo uso da forca. “Os interes- ses de EUA e URSS cram ampliar as zonas de influéncia ¢, com isso, ganhar orca no cendrio internacio- nal consolidando suas posigdes es- tratégicas como grandes poténcias”, afirma. O especialista ainda ressal- ta que é necessério ter em mente de ca disputa foi muito além da po- : a questo militar, para redese- nhar o mapa do mundo, foi a forma que encontraram para fazer valer suas posigbes. Embates indiretos Embora soviéticos ¢ americanos nunca tenham se enfrentado de fa- to, ambos participaram e interfe- riram em combates pelo mundo. ‘A Guerra da Coreia, que durou de 1950 a 1953, nos remete, novamen- te, a0 contexto pés-guerra, uma vez ‘que passou a ser um territério sobe- ano coma derrota do Japio. Ficou estabelecido que o pais seria dividido entre a Corcia do Sul, capitalista, que representa~ va os EUA; ¢ a Corcia do Norte, “comunista”, a qual contava com o apoio da URSS. Um cenirio pare- cido ocorreu na Guerra do Victni, tuma vez que se tratava de uma re- giio dominada pela Franga, mas in- vadida pelo Japio durante a Segun- da Guerra Mundial. Com o fim do conflito, os franceses reconheceram aindependéncia do pafs, que acabou dividido entre o norte socialista e 0 sul capitalista, ‘As guerras entre as regiées fo- ram fortemente influenciadas pelas disputas das duas superpoténcias. No Vietni, um dos pontos mais ‘marcantes ¢ sangrentos do embate se deu quando os americanos se va- Jeram das armas quimicas (com des- taque para 0 Napalm) e herbicidas (como o Agente Laranja) para atin- gir os vietnamitas. As consequén- cias desses ataques foram catastré- ficas, tanto para a vegetagio quanto paraa populacio. Estratégias Para marcar suas zonas de in- fluéncia, tanto a URSS quanto os EUA estabeleceram alguns proj tos. © Plano Marshall, dos america- nos, foi uma medida para fomentar a reconstrucio da Europa depois da Segunda Grande Guerra. “Nao hé davidas de que esse programa, in- luenciado pelo diplomata norte-2- mericano George Frost Kennan, foi fundamental para consolidar o ame- rican way of lift (modo de vida ame- ricano, em traducio livre) no Velho Mundo”, analisa Karl. Como rea~ ‘gio, houve 0 Conselho para Assis- téncia Econémica Méitua (Come- con) por parte dos soviéticos, cujos objetivos eram os mesmos, mas apli- cados As nagies do leste europeu. Nesse sentido, houve também estabelecimento da Organizagio do Fe age us Sere a io extintas (e ndo diminuidas)e a propriedade privada deixa de existir (nao 86 os meios de do, as idiosos, a sociedade descrita por Karl Marx e Friedrich Cenc Mene actos Tratado do uma alianga militar entre os paises do bloco capitalista, ¢ 0 Pacto de ‘Vars6via, acordo equivalente do: presentantes socialistas. A criagio das agéncias de inteli- géncia con perfod a CIA Gigla em inglés que significa tlintico Norte (tan), onde a ess ee Souza Brando, professor, mesre Peter cd Peter oe aod rey eet ray Puerta ng) €a KGB (da sigla em russo que pode ser tra- nité de Seguran- s organizagbes Central Intelligence Ag duzida como C ga do Estado). “E: € a espionagem alimentaram a di- nimica da Guerra Fria. Os gover- nos Truman (EUA) e Stilin, depoi Khrushchov (URSS), criaram es- sas agéncias como mecanismos, nem sempre desejados ou mesmo auto- rizados pela sociedade, impondo & forga as ideologias c os instrumento: de repressio como a ‘desculpa’ para combater 0 inimigo”, completa o pos-doutor cm Historia pela Uni- versidade Livre de Berlim. Retornar Eevasies 3 5 £ i } a f f E : £ CRISE DOS MISSEIS Chamamos de Guerra Fria, mas em outubro de 1962, o mundo esteve prestes a ser incinerado nico ¢ desconfianga pai- jraram no céu cubano na- fquele 14 de outubro de 1962. Como de costume, ‘os avides U-2 da Forca Aérca dos Estados Unidos sobre- voavam 0 territério da ilha caribe- nha. Dessa vez, porém, os registros forogrificos capturados pelos pilo~ tos trouxcram um clemento ines- perado: foram descobertas.diver- sas bases de misscis nucleares sendo construfdas no pais. Segundo os relatos da CIA, os artefatos possufam alcance de 1600 km em outras palavras, eram ca- pazes de atingir grande parte da costa atlintica norte-americana. Uma vez armados © prontos pa- 1a disparo, poderiam explodir nas proximidades de Washington cm menos de 15 minutos. Depois de checadas, as informa- Bes chegaram ao entio presidente dos Estados Unidos, John Kenne- dy, apenas no dia 16 — data que pas~ sou a ser conhecida como o inicio da famigerada “Crise dos Misscis”. WAGASAR J4PK0, 4 Durante 13 longos dias, o mundo —re testemunhou uma queda de brago & £ 5 i 5 2 & = i é 5 E diplomitica que por pouco no de- sencadeou uma batalha nuclear a ponto de colocar em risco a civil zacio humana. Mas, antes de saber como nés sobrevivemos para contar a historia, é preciso entender 0 con- texto que levou a0 episédio. Ainvasao a Baia dos Porcos Em 1961, com pouco menos de trés meses na presidéncia, John Ken- nedy aprovou um plano arquitetado pela CIA, cujo objetivo cra um ata- que a0 sul de Cuba com a ajuda de ci- dadios exilados pelo regime castrista. Alertado previamente por Che Guc- vara, Fidel Castro assumiu pela meira vez cm um discurso o cardter socialista de sua revalugio, a qual levara ao poder da ilha em 1959, Se ainda cxistiam reccios, as is rivas dos ianques forcaram os caribenhos a se alinharem diretamente com a Unido Soviética. Assim, no dia guinte ao pronunciamento, teve i cio a invasio. ‘Temendo envolver © governo stadunidense de mancira aberta ¢ institucional, Kennedy nao ofereceu todo o suporte disponivel para o su- cesso da acto. O presidente também niio contava que o exército adversi- rio estaria treinado ¢ financiado pe- los paises do bloco este da Europa. Foram trés dias de batalha, vitéria cubana ¢ feridas irremediaveis. Actise propriamente dita Prevendo uma nova invasio em seu territério, Havana solicitou aju- da militar aos soviéticos. Eles nio pensaram duas vezes: intimidados com bases militares capitalistas em reas estratégicas — sobretudo na ‘Turquia -, enviaram armamentos ¢ ainda aproveitaram para instalar pla- taformas de langamento de misscis em solo cubano. Foram 13 dias de delicadas nego- ciagaes entre John Kennedy e Niki- ta Khrushchev, o lider da URSS. Fi del Castro, por sua vez, permaneceu a margem do dislogo entre as su- perpoténcias ~ ¢ isso o irritou pro- fandamente. Mesmo sem sua par- ticipagio, os termos finais foram que, além da retirada dos misseis da ‘Turquia, a Casa Branca deveria sus- pender qualquer trama para atacar Cuba. Em troca, os soviticos tam- bém retirariam seus misscis das ter~ ras aliadas. Apés a crise, Khrushchev convi- dou o ressentido Castro para encon- tré-lo pessoalmente em seu pais, de modo que pudesse explicar os mo- tivos pelos quais manteve o chefe cubano no escuro durante o furaci Passada a tensio, as ameacas bé cas foram deizadas de lado. Em 1963, poucos meses apés a Crise dos Mis- seis, 0 Pacto de Paz. Atémica foi as- sinado por virios paises do mundo, entre os quais EUA e URSS. No ar- tigo 50 anasda Crise dos Méseis horror amuclear ene tempos presents, o dowtor em Histéria Charles Sidarta Domin- gosafirma que, “embora nio proibis- se a producio das bombas, 0 acordo limitava os testes nucleares na atmos- fera. Porém, apés aquele outono no hemisfério Norte, em 1962, 0 mundo sempre esteve rondado por um fan- tasma de destruigio nuclear”, catrizes No que diz respeito & relagio en- tre EUA e Cuba, especificamente, o conflito permaneceu no ambito eco- némico. Duas leis — uma de 1992 € outra de 1996 - robusteceram os embargos comerciais entre os dois paises: primeiramente, foi proibido ocenvio de alimentos norte-america- nos para a ilha (exceto em casos de ajuda humanitéria). Depois, empre- sas que mantivessem relagées finan- ceiras com o pais caribenho seriam passiveis de punigio judicial Segundo Marcos Damasceno, professor de Geografia, pesquisador autor do livro Vii pra Cubal A Cuba que vi, owe sent, embora as medi- das tenham deixado os cubanos ain- da mais isolados, a Casa Branca re- conheceu nos anos 90 que os rivais no ofereciam mais nenhum perigo aos Estados Unidos. “Invadir a ilha seria um prego muito alto para os EUA diante da comunidade inter- nacional. O rechago seria unénime, basta observar as votagSes que ocor- reram ano apés ano na Assembleia Geral da ONU contra o bloqueio econémico”, analisa 0 professor. smo com o declinio da Unio Sovietica, a fissura entre os vizinhos ainda permaneceu. E, de certa ma- neira, ambos encontravam vanta- gens coma situagio. O imperialismo americano justificava a perenidade do regime de Fidel Castro. Hé quem afirme que, mais do que qualquer coutra coisa, os embargos proporcio- naram 20 cubano uma desculpa pa- ra 0s problemas econdmicos de sua nagio. Em contrapartida, os Estados Unidos teriam utilizado as fragilida- des do adversirio como propaganda ideol6gica de sua politica externa. Fato € que, no dia 12 de janci- ro de 2017, quase 55 anos apés 0 emblemitico episédio, © governo do ex-presidente dos EUA, Barack Obama, revogou o tratamento espe- cial como parte da normalizagio das relagdes em curso entre 0s ex-inimi- gos da Guerra Fria. CCONSULTORIA Marces Dartasceno, professor ‘de Geografa, pesquisador eater do fro Vé ‘pra Cubat A Cuba que vi ouviesenti FONTE artigo 50 anos da Crise dos Misses: hhoror nuclear em tempos presentes, de Charles Sidarta Domingos CORRIDAS SUPREMACIA ESPACIAL E MILITAR Ciéncia e tecnologia foram exploradas como recursos por Estados Unidos e Unido Soviética em busca de hegemonia tanto na Terra quanto no espago TEXTO E ENTREVISTAS Marina Borge/Colaboradora DESIN JosemaraWascimenta agen Oleg YkovieSuteetock nage s disputas de poder entre as duas ee ets fn een ee cee eee meagaram a integridade do plane~ 0 ficou explicito quando os nort mericanos langaram os primeiros rec ee ee erates terme limites planctirios, um paso srado grandioso pela humanidade f eee eat eer ee ee eee de uma acirrada corrida em busca de supre~ ee eter Conn teas 20) Em meados da década de 1950, a Unio Re ee Cee ae Reo tengio de investir em satélites artificiais ee eens ter ete eet Pertenece ae: deo tee aN sa empreitada, foram 0s soviétioos que lar- garam na frente: em 1957, conseguiram lan- sar 0 primeiro desses corpos, batizado de erase eepae Ode ee ee eiro satélite em érbita terrestre, 0 Explorer I, no ano seguinte. Logo no inicio da década de 60, ambicionando realizar a primeira vviagem ao espago com tripulacio humana, URSS ¢ EUA criaram os programas Vostok ¢ Mercury, res- pectivamente. Em 1961, 0 astro- nauta Yuri Gagarin tripulou a nave Vostok I, realizando um voo orbi- tal de 108 minutos. Como respos- ta, os americanos langaram Alan Shepard um més depois ¢, logo no ano seguinte, John Glen se tornou 6 primeiro estadunidense a orbitar a Terra. Apesar do feito dos EUA, 0s soviéticos foram pionciros nova- mente 20 colocarem a primeira mu- Iher fora da érbita terrestre em 1963. A URSS predominava 0 cenério tecnolégico ¢, em 1965, impressionou ‘o mundo mais uma vez: 0 astronauta Alexey Leonov foi primeiro homem, a sair de uma nave para o espago, per- manecendo 12 minutos fora dela. Para ficar na historia Voltando no tempo, em 1961, 0 recém-eleito presidente america no, John Kennedy, anunciou que os ‘EUA levariam o homem a Lua antes do fim da década, Com esse objeti ‘vo, © projeto Apollo foi apresentado pela National Acronautics and Space Administration (NASA). Ao longo da década, um conjunto de expedi- g6es foi realizado c, em 1968, a nave norte-americana Apollo 8 realizou o primeiro voo tripulado em érbita lu- nar ~ primeira nave a sair da érbita terrestre ¢ retornar. Foram a partir dessas inova~ bes tecnolégicas que os america nos transformaram o cendrio espa cial e deram “um grande passo para humanidade”, No dia 20 de julho de 1969, os astronautas Neil Arms- trong ¢ Edwin Aldrin pisaram na lua. Com tamanho feito, a maior parte dos estudos realizados eravam queos estadunidenses cruzaram a li nha da corrida espacial, desbancan- doa Unio Soviética. Entretanto, algumas pesquisas apontam para algo diferente. “Co- mumente, acredita-se que os ven- cedores foram os Estados Unidos, ainda mais em um Ocidente com- pletamente influenciado pela visio americana da histéria. Porém, novas pesquisas tém apontado para uma outra perspectiva. Para o historia- dor americano Gerard de Groot, a URSS perdeu a corrida para chegar a Lua, mas a presenga continua do ser humano em érbita se deve muito a determinagio soviética e russa por conquistar o espago”, analisa o histo- riador Eduardo Molina. Nesse contexto, a competigio encerrou-se formalmente em julho de 1975, quando soviéticos ¢ nor te-americanos, orientados pela po- Iitica de distensio — que estabelece uum contrato de apaziguamento — criaram em conjunto um projeto de missio espacial tripulada, o Apollo- Soyuz Test Project. Armas com poder de destruicao total A Guerra Fria incentivou for- temente a pesquisa c o desenvolvi- mento de armas, motivando os dois blocos a produzirem cada vez mais equipamentos militares. O mar- co inicial da corrida armamentista aconteceu em 1945, quando os ame- ricanos langaram duas bombas at6- micas em solo japonés. Quatro anos depois, em 1949, foi a vez dos so- viéticos anunciarem a conquista da tecnologia nuclear. Surgiu, assim, tum jogo politico-diplomitico co- nhecido como “o equilibrio do ter- ror”, que se transformou num dos clementos principais da guerra. Segundo o historiador Lucas Pa- ris, tal pritica de constante atuali- zagio do arsenal das superpoténcias assumiu proporgSes absurdas com 0 tempo, originando aparatos bélicos capazes de destruir no apenas um rival geopolitico, mas também. to- da a humanidade. “O perigo de des- truigio ainda existe, mesmo apés 30 anos do final da Guerra Fria. Nao se pode negar que interesses ligados a0 poder ainda estimulam o desen- volvimento espacial teenolégico”, acrescenta o especialista. Esta competicio entre as super- poténcias durou décadas, chegan- do ao fim somente apés a assinatura dos Tiatados de Redugio de Armas Estratégicas (Start) Te II, em 1972 € 1993. O embate entre URSS ¢ EUA deixou miiltiplos impactos nos cam- pos tecnolégicos, midiéticos ¢ ideo- ligicos. Apesar de ter trazido avan- gos nocivos para o planeta, a disputa espacial e militar entre os dois paf- ses deixou um legado importante, resultando em diversas tecnologias como o desenvolvimento de satéli- tes de comunicagio. CCONSULTORIAS Eduardo Molina, histeriader ée-graduado em Pelficae Relapse Internacionas, palestrantee professor; vas Pars, historiador graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com especializacéo em seciologia pela Universidade Federal de Sao Joo del- el (UFSS) DOIS LADOS DA MESMA NACAO Durante 28 anos, o Muro de Berlim separou familias, culturas e ideologias TEXTO E ENTREVISTAS Gabel JaquColaborader DESIGN JosomaraNassimente = um lado, um dos mais bem sucedidos exemplos de socialismo 1, pressionado firmemente pelo receio das grandes poténcias capitalistas do Oeste. Do outro, uma nagio em meio a um milagre ico impulsionado pelos Estados Unidos, ccrcada da hos- tilidade soviética. Os dois extremos de Berlim entre os anos 1961 ¢ 1989 representam, em menor plano, toda a complexidade da disputa entre as duas poténcias que mudaram o mundo~ ¢ quase trouxeram o fim dele. ‘Simbolo da Guerra Fria Com o fim da Segunda Guer- ra Mundial, a Alemanha foi dividi- da c ocupada pelas poténcias vence- doras. Do lado oeste, Franga, Reino Unido ¢ Estados Unidos ficaram encarregados de desnazificar, des- militarizar, descentralizar a ccono- mia ¢ recducar os alemics & demo- cracia, enquanto a Uniio Soviética cumpria 0 mesmo papel no leste alemao. A tinica excecio foi Berlim, capital situada no lado oriental do pais, que, no entanto, também foi dividida entre as quatro poténcias. Em 1961, a Reptblica Democré- tica Alema (RDA), alinhada aos so- -vigtioos, encontrou uma safda para 0. &xodo de civis que partiam da capital socialista sediada cm Berlim Oriental para o lado oeste da cidade, sob do- minio da Repiblica Federal da Ale- manha c aliada aos blocos capitalstas do Ocidente. Trincheiras, grades © arames farpados foram os meios pro- visérios, que, em meses, se tornaram a grande fortaleza de conereto que visava impedir a passagem, ou fuga, da estagnada RDA para a bem suce- dida Alemanha Ocidental ~ que de- via 0 progresso econmico ao Plano ‘Marshall dos Estados Unidos. Isso no quer dizer, porém, que Berlim Oriental cra uma cidade sem_ condigées de manter sua popula- gio com qualidade de vida. Segun- doo artigo A Queda do Muro de Ber- lim: Um estudo com fontes brasileiras, do historiador Carlos Federico Do- minguez Avila, no qual sio analisa- E das cartas de embaizadores braslei- $ ros na Alemanha da época, “para os $ diplomatas brasileiros lotados em I beim Leste, a RDA era — ou pa- $ recia ser — um dos mais bem-suce- 4 dios cxcmplos de socalsmo seal mente existente no Leste Europeu”. £ Asdisparidades comegaram logo no pés-guerra, com o Plano Mar shall dos Estados Unidos. “Os nor- te-americanos emprestaram dinhei- ro, financiando a reconstrugio de paises curopeus, que poderiam ser seduzidos pelas idefas comunistas, para causar uma proximidade entre esses com o bloco norte-americano”, lucida © professor Felipe Soares. Esse apoio nio se estendia aos pafses alinhados com a nagio comunista. Dessa mancira, todo 0 territério da ‘Alemanha Ocidental era impulsio- nado pelo progresso do consumismo capitalista, enquanto o lado Orien- tal, ainda que estivel, permanecia estagnado sem previsio de avango. Abrindo caminho O processo de reunificagio ale iil foi lento, penoso e dependia nio 6 da colaboragio quasc impossivel entre os EUA ¢ Unio Soviética, co- mo também do fim da barreira que separava 0s lados leste ¢ ocste de Berlim. De acordo com os relatos de diplomatas brasileitos presentes no artigo de Carlos Federico Domin- guez Avila, um papel importante na reaproximagio dos territérios foi de- sempenhado, mesmo que sem inten do, por Erich Honecker, presidente da Alemanha Oriental a época. Isso porque, em meio a estag- nagio ccondmica dos blocos ali- nhados 4 Uniio Soviética, Mikhail Gorbatchov implantou duas famo- sas reformas que visavam dar mais liberdade is empresas estatais, mudar ‘0s quesitos para se considerar uma inckistria como bem-sucedida, entre ‘outros meios de tentar progredir eco- nomicamente. Os comunistas mais conservadores, como Honecker, con- sideravam cssas medidas um afasta- mento dos ideais originais. O entio presidente da RDA re- jeitava tais reformas, 0 que nio agradava parte do proprio governo, assim como Gorbatchow ea popula- gio alemi-oriental. O éxodo de in- dividuos era outra preocupacio na Berlim Oriental, especialmente pela abertura, no dia 2 de maio de 1989, da fronteira austro-hiingara, que possibilitava a ida legal dos alemies até a Hungria para, entio, fugirile- galmente 3 Austria, ¢ de Ii para a ‘Alemanha Ocidental. Caio muro... Todo esse cenirio, no entanto, era ignorado por Honecker, que, segundo os relatos brasileiros, pla nejava um grande festejo em come- moracio a0s 40 anos da fundagio da Repiblica Democrata Alemi, em. outubro de 1989. O aniversirio se- ria marcado, também, pela transi- G0 do governo para Egon Krenz. Esses fatores combinados coloca- vam a RDA cm um momento deli- cado, que foi aproveitado pela popu- lagio no levante inédito de diversas manifestagics pelas cidades da Ale- manha Oriental. ‘Assim, Krenz assume 0 governo cyainda no discurso de posse, admite a necessidade de reformas coondmi- cas, assim como o problema do éxo- do—ea abertura das fronteiras para viagens ao exterior. Em nove de no- vembro de 1989, foi anunciado que, naquela mesma noite, os habitantes da RDA poderiam transitar livre- mente aos paises exteriores, 0 que causou aglomeracio de mais de 100 mil pessoas nas adjacéncias do Mu- +0, no lado oriental, segundo osrela- tos dos diplomatas. O Muro de Ber- lim passava a ser apenas um simbolo. A partir de entio, 0 governo da RDA perde a soberania absoluta — foram abertas eleicdes democriti- cas, com formagio de partidos de oposicio ~ ¢ se aproxima da RFA, EXTREMOS que propdc uma sequéncia de acor~ dos visando ajudar 0 desenvolvi- mento da Alemanha Oriental e, no prazo de trés anos, a reunificagio das nagées alemas. EQ URSS “Quando cai o Muro, a alter- nativa socialista jé no cra mais uma possibilidade”, aponta Cleber Karls, Para o professor, a queda da Unio Sovictica se deve, principal- mente, pela incapacidade em lidar ‘com as adversidades de seu sistema ¢ manter os ideais propostos pelo ‘comunismo. “O sonho de uma so- ciedade igualitéria, democritica ¢ proetdria deu lugar a um Estado burocratizado, violento, opressor € que nio conseguiu apresentar al- ternativas as crises como fez 0 ad- versério capitalista”. “O muro de Beslim caiu, as ¢s- truturas do partido comunista jf nfo davam mais conta de governar todo © bloco soviético, entio temos a der rocada do socialismo real no mundo, especialmente com a queda da Unio Soviética’ finaliza Felipe Soares. Gcatrii Os professores Felipe © Cleber concordam que muitos dos con- flitos que acontecem atualmente sio sequelas do periodo da Guerra Fria. Além disso, varias consequén- cias indiretas podem ser notadas em todo o mundo. “A América Latina, por exemplo, passou por ditaduras militares aparclhadas pelos Estados Unidos, que tiveram como principal motivago o medo do comunismo”, esclarece Cleber Eduardo, que afir- rma também que a estagnacio coo némica do lest curopeu, 3 época, pode ser sentida até hoje. Felipe Soares dé como exemplo 1s conflitos na Siria, que, segundo © professor, muitos consideram um resultado dos embates por influén- cia no territério, disputado entre EUA e Riissia. “Na guerra da Siria, a Rissa apoia o presidente Bashar Al-Assad, € os americanos apoiam 1s rebeldes que querem tirar 0 pre~ sidente Asad’, pontua. As disputas ‘entre Coréia do Norte e Sul sio ou- tro exemplo, visto que o pats foi divi- dido durante a Guerra Fria, de acor- do com o professor. “Por mais que a Guerra Fria te- nha acabado, os conflitos ¢ as z0- nas de influéncia, bem como as relagdes diplomiticas, ainda se or- denam dentro de uma questio bi- néria de alinhamento aos EUA ou a Rissia, que é a herdeira direta de toda a histéria da Unio Sovitica”, completa Felipe. CCONSULTORIAS Cleber Eduardo Karls, douter cm Histiria Cemparada pela Universiade Federal do Rio de Janek (UFR), ‘la publicadona Revista de Sociologia ¢ Poltica da Universidade Federal do Parans| (UPR). : £ i a § + 2 £ CULTURA TY Confira nossas dicas de livros e filmes para vocé complementar seus conhecimentos sobre Guerra Fria exo ame te De IMAGENS Repose ‘LEGADO DE CINZAS- UMAHISTORIA DACA AUTOR: TM WEINER | EDITORA DOUBLEDAY |2007 Ganhador do prémio Pulitzer (especie de Oscar do jomalismo), Tim Weiner baseou-se em mais de 50 mil reportagens e documentos originais para produzir uma narrativa sobre a historia da CIA, criada em 1947 para satisfazer uma necessidade estratégica devido a0 inicio da Guerra Fria e ao avango do comunismo. Entre as fontesutiizadas estao arquivos da Casa Branca e do Departamento de Estado, além de mais de dois mil depoimentos de soldados, ciplomatas, oficiaise veteranos da agéncia — incluindo dez diretores da resguardada central de intligéncia, 0 autor precisou ter cautela para nao uftrapassar a linha ténue que separa ‘que & teora da conspiragao, o que veio a plbico e o que pode de fato ser comprovado, a TREZES DIAS QUE ABALARAM 0 MUNDO DIRETOR: ROGER DONALDSON |2000 Offme retrata a Crise dos Misseis, em outubro de 1962 — certamente, © episédio mais delicado de toda a Guerra Fria, A histiria é narrada por Kenny O'Donnel (interpretado por Kevin Costner, que também produz ofme), a época assessor especial da Casa Branca amigo pessoal dos irmaos Bobby e John Kennedy. Baseada em documentos, a obra retrata como a sede de destruicao dos niltares norte-americanos eram para © presidente de seu pais um problema ‘ao grande quanto a propria Rissia. AADEUS, LENIN! DIRETOR: WOLFGANG BECKER | 2003 Em 1989, pouco tempo antes da queda do muro de Beri, um enfarto faz com que a Sra. Kemer, professora comunista ferrenha, fique em coma durante um dos processos mais importantes de seu pais. Quando ela acorda, jé no ano de 1990, sua cidade, Beriim Oriental, est totalmente ‘modificada pelos acontecimentos poltcas. Sem poder passar emogies diferentes, seu fiho tenta esconder as ‘mudangas para evitar que a mae se choque com a nova realidade. 0 filme costuma ser muito utiizado como recurso didatico por professores, proporcionando aulas mais atrativas para os alunos e facitando a ccompreensdo do contexto da Guerra Fria, VOCE VAI SE EMOCIONAR COM ESTA HISTORIA REAL. TAMI OLDHAM ASHCRAFT COM SUSEA MCGEARHART JA NAS LIVRARIAS

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