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ÁCAROS HEMATÓFAGOS PARASITOS EM NINHOS DE AVES SILVESTRES NO

MUNICÍPIO DE CAPÃO DO LEÃO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL


MASCARENHAS, Carolina Silveira ; KRUGER, Cristiane; PESENTI,
Autor(es):
Tatiana Cheuiche; BRUM, João Guilherme Werner
Apresentador: Carolina Silveira Mascarenhas
Orientador: João Guilherme Werner Brum
Revisor 1: Nara Amélia da Rosa Farias
Revisor 2: Gertrud Müller Antunes
Instituição: UFPEL

ÁCAROS HEMATÓFAGOS PARASITOS EM NINHOS DE AVES


SILVESTRES NO MUNICÍPIO DE CAPÃO DO LEÃO, RIO GRANDE DO SUL,
BRASIL

MASCARENHAS, Carolina Silveira 1; KRUGER, Cristiane1; PESENTI,


Tatiana Cheuiche1; BRUM, João Guilherme Werner2

1 – PPG Parasitologia - Deptº de Microbiologia e Parasitologia – IB – UFPel


2 - Deptº de Microbiologia e Parasitologia – IB – UFPel
Campus Universitário – Caixa Postal 354 – CEP 96010-900.
phrybio@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

As aves são hospedeiras de uma rica diversidade de ácaros que


infestam penas, pele, vias respiratórias e ninhos. A acarofauna encontrada nos
ninhos das aves pode apresentar desde ácaros hematófagos até aqueles que
se alimentam de detritos associados ao material dos ninhos. Dentre os
hematófagos, Dermanyssus (Dermanyssidae) e Ornithonyssus
(Macronyssidae) são os mais estudados. Esses ácaros têm curto tempo de
geração podendo rapidamente aumentar sua população (Proctor & Owens,
2000 e Proctor, 2003).
O presente trabalho teve como objetivo identificar as espécies de ácaros
hematófagos parasitos de ninhos de aves silvestres (Passer domesticus,
Troglodytes musculus, Sicalis flaveola e Columbina picui) em uma área urbana
do município do Capão do Leão, Rio Grande do Sul.

2. MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletados, em uma área urbana do município de Capão do Leão,
20 ninhos de quatro espécies de aves silvestres, a saber: 10 de P. domesticus
(pardal); seis de T. musculus (corruíra); dois de S. flaveola (canário-da-terra);
dois de C. picui (rolinha-picuí). Os ninhos das três primeiras espécies foram
retirados de caixas-ninho distribuídas em uma propriedade de 3ha, os ninhos
de rolinha-picuí foram retirados do ambiente, pois a espécie não tem o
comportamento de nidificar em caixas-ninho ao contrario das outras. Os ninhos
foram coletados após o abandono dos mesmos pelos filhotes. No laboratório o
material das caixas-ninho foi retirado e colocado em um funil de Berlese por um
período de 24 a 48h para coleta dos ácaros. Os ninhos das rolinhas, ao serem
retirados do ambiente, foram acondicionados em saco plástico, levados para o
laboratório e colocados no funil. Os artrópodes foram conservados em álcool
70ºGL. Após, foram clarificados em lactofenol e montados entre lâmina e
lamínula para identificação, com auxílio de microscópio óptico e bibliografia
especializada.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 20 ninhos examinados, 19 estavam parasitados por ácaros


hematófagos (tabela 1).

Tabela 1 – Relação dos ácaros parasitos de aves silvestres no município de


Capão do Leão - RS
Aves Ácaros Nº de ninhos infestados/
Total de ninhos
examinados
P. domesticus Ornithonyssus bursa (Macronyssidae) 10/10
Androlaelaps casalis (Laelapidae) 2/10
Pellonyssus marui (Macronyssidae) 1/10
T. musculus Ornithonyssus bursa (Macronyssidae) 6/6
C. picui Pellonyssus marui (Macronyssidae) 2/2
Ornithonyssus bursa (Macronyssidae) 1/2
S. flaveola Pellonyssus reedi (Macronyssidae) 1/2

Ornithonyssus bursa (Berlese, 1888) distribui-se pelas regiões tropicais e


subtropicais como parasito de aves domésticas e silvestres, sendo encontrado
em maior número em ninhos parasitando filhotes (Fletchmann, 1985). O. bursa
já foi registrado parasitando ninhos de Agelaius xanthomus (Passeriformes:
Icteridae) em Porto Rico (Post, 1991); de Myiopsitta monachus (caturrita)
(Aramburú et al., 2002) e Amazona aestiva (papagaio-verdadeiro) na Argentina
(Berkunsky et al., 2005); de Zenaida auriculata (pomba-de-bando) no estado de
São Paulo (2005); Mascarenhas et al. (2006 e 2007) relataram a ocorrência de
O. bursa parasitando filhotes de Otus choliba (corujinha-do-mato) e de Pitangus
sulphuratus (bem-te-vi) no município de Pelotas, atendidos pelo NURFS-
CETAS/UFPel. O. bursa tem sido registrado como agente causador de
dermatites em humanos, devido à presença de ninhos de aves sinantrópicas
próximo de residências, quando por grandes infestações e/ou falta dos
hospedeiros os ácaros abandonam os ninhos para exercer hematofagia nos
moradores (Ribeiro et al.,1992; Semenas & Rocha, 1998).
As espécies de Androlaelaps são primariamente nidícolas, alimentando-
se de sangue e exudatos. Androlaelaps casalis (Berlese, 1887) é um ácaro
cosmopolita, sendo sua distribuição na região neotropical mal conhecida. Pode
ser encontrado em grande variedade de pássaros, mamíferos e material
orgânico (Wilson & Wodzicki, 1977), sendo que exibe especial afinidade por
ninhos de pássaros (Masan & Stanko, 2005) tendo sido citado parasitando
ninhos de Agelaius xanthomus (Passeriformes: Icteridae) em Porto Rico (Post,
1991) e de Ciconia ciconia na Polônia (Btoszyk, 2005). Rosen, Yeruham &
Braverman (2002) encontraram este ácaro causando dermatite em humanos.
Estébanez-Gonzáles (1997) relatou, no México, a ocorrência de 27
espécies de ácaros pertencentes a 17 famílias, em ninhos de oito famílias de
aves, e Radowvski & Estébanez-Gonzáles (2001) identificaram Pellonyssus
reedi (Zump & Patterson, 1952) e Pellonyssus marui Yunker & Radovsky, 1966
coletados por Estébanez-Gonzáles (1997). Weddle (2000) estudando os
efeitos de P. reedi sobre filhotes de P. domesticus constatou que esse
ectoparasito pode reduzir a qualidade de desenvolvimento dos filhotes. Stoehr
et al. (2000) associaram o elevado nível de parasitismo por P. reedi em
Carpodacus mexicanus à diminuição do hematócrito e da massa corporal.
Pellonyssus reedi foi registrado pela primeira vez no Brasil por Sinkoc & Brum
(2004) em ninho de T. musculus no município de Pelotas, RS. P. marui foi
relatado no Brasil por Coimbra et al. (2007) parasitando um indivíduo de C.
picui no município de Capão do Leão, RS.

4. CONCLUSÕES

Relata-se a ocorrência de ácaros hematófagos parasitando ninhos de


aves silvestres na zona urbana do município de Capão do Leão, Rio Grande do
Sul. Este trabalho caracteriza o primeiro registro no Brasil de Androlaelaps
casalis e Pelonyssus marui parasitando ninhos de Passer domesticus, assim
como a presença de Pelonyssus reedi em ninho de Sicalis flaveola.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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