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VITÓRIA
2018
Checklist de dipterofauna de interesse forense em
fragmento de Mata Atlântica, Vila Velha - ES.
Brenda Machado Corrêa¹, Rodrigo Novaes Armini¹, Carlos Augusto Chamoun².
RESUMO
Entomologia Forense é a ciência que estuda os insetos, relacionando os mesmos a procedimentos
legais. Essa ciência tem grande importância no ramo biológico e criminal, uma vez que os insetos
necrófagos podem ser vestígios e fonte de informação para as investigações. O principal objetivo
desse trabalho foi catalogar adultos das famílias de Diptera, encontradas no cadáver de suíno (Sus
scrofa) durante o processo de decomposição, associando o encontro dessas famílias às variáveis
climáticas e ao intervalo pós-morte do animal. O experimento foi realizado nos entornos do 38º
Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro, localizado no bairro da Prainha, Vila Velha – ES, em
uma área de Mata Atlântica, próximo ao mar. O período de coleta foi de 19 dias, na estação chuvosa,
a partir do dia 15 de dezembro de 2016, com término no dia 02 de janeiro de 2017. O animal foi
sacrificado com três disparos de arma de fogo na região cefálica, a fim de simular uma morte violenta.
Foi colocada sobre ele uma armadilha do tipo Malaise, para possibilitar a entrada de insetos adultos e
a posterior coleta dos mesmos. A temperatura média foi de 29ºC e a umidade relativa do ar teve
média de 62,47%. Foram coletados 11.200 insetos, classificados em 14 famílias: Calliphoridae,
Chamaemyiidae, Fannidae, Chloropidae, Culicidae, Heleomyzidae, Lauxanidae, Muscidae,
Sarcophagidae, Phoridae, Stratiomyidae, Syrphidae, Therevidae e Ulidiidae, sendo as três primeiras
as mais abundantes. Obtendo-se um resultado inesperado, uma vez que a Chamaemyiidae não está
classificada como de interesse forense atualmente, e foi a famila de maior abundância. Pode-se
concluir que a Ordem Diptera possui grande atratividade ao corpo em decomposição e são os
pioneiros a colonizar o cadáver, tendo uma grande importância criminal. Estudos em diferentes
localidades do Espírito Santo e abrangendo as duas estações (seca e chuvosa) devem ser feitos, a
fim de contribuir para a Entomologia Forense no Brasil.
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INTRODUÇÃO
De acordo com Alonso (2015) e Rafael et al. (2012), os insetos constituem o grupo
nutrem dos cadáveres mas também da fauna associada e dos parasitas são ditos
importância no ramo biológico e criminal, uma vez que os insetos necrófagos podem
identificação do intervalo pós morte (IPM), baseada na idade dos insetos imaturos
cadáveres suínos, uma vez que estes animais apresentam grande semelhança com
a estrutura fisiológica, muscular e tecidual do ser humano. Além disso, esse animal
(Oliveira-Costa, 2011).
A Entomologia Forense vem sendo uma ferramenta útil para as análises da Perícia
Criminal por oferecer dados relacionados às condições e causas das mortes dos
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forense na área médico-legal, auxiliando os Peritos Criminais nas investigações
MATERIAIS E MÉTODOS
aproximadamente, toda sua extensão era composta por mata atlântica (Rbma,
2008), sendo que, atualmente os fragmentos florestais desse tipo de bioma somam
Prainha, município de Vila Velha – ES (-20.326932, -40.282701) (Figura 1), que foi
cadáveres encontrados em locais ermos da Grande Vitória, dias após o homicídio ter
ocorrido.
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3ª PONTE
Figura 1 - Área de estudo. (A) Localização no Espírito Santo. (B) Localização do 38º Batalhão de Infantaria. (C)
Foi utilizado o porco doméstico como modelo animal, da espécie Sus scrofa
por uma pistola da marca Taurus, modelo 940 e calibre .40, na região cefálica, a fim
de simular um tipo de morte violenta. Após a morte do animal, foi colocada sobre ele
uma armadilha do tipo Malaise que descrita por René Malaise em 1937 (Figuras 2 e
3), para a captura de insetos adultos e foi modificada para esse estudo. Essa
profundidade, sendo 20cm (da altura) sem forro, pois 10cm ficaram fixados ao solo e
um recipiente, com um funil feito da parte superior de uma garrafa pet transparente,
para assegurar que os insetos fossem atraídos pela luz ficassem presos (Figuras 2,
3 e 4).
Figura 2 - Armadilha Malaise modificada. (A) Desenho da armadilha com os tamanhos especificados. (B)
Armadilha montada e fixada. Fonte: Entomologia Forense: Quando os insetos são vestígios. Janyra Oliveira-
Costa (2011).
As laterais foram cobertas por tecido branco de algodão e o topo foi recoberto por
um tecido mais fino, tipo “escaline”, que permite a entrada de luz e assim a atração
dos insetos para o interior do recipiente superior (garrafa pet transparente), onde os
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Figura 4 – Armadilha Malaise modificada. (A) Armadilha Malaise após a montagem. (B) Armadilha de garrafa pet
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A amostragem teve início no dia 15 de dezembro de 2016 e término no dia 02 de
Janeiro de 2017.
Variáveis Ambientais
sacrifício do animal (16/12/2016), sendo realizadas coletas diárias, uma vez por dia,
totalizando 18 dias.
Estágios de decomposição
Ao longo do período de amostragem, foram tiradas fotos diariamente para que fosse
descrita por Bonnet (1978) que se divide em: Fase fresca, Fase de Coloração ou
Análise da entomofauna
A análise em laboratório dos insetos coletados foi feita em duas etapas: na primeira,
foi realizada triagem quantitativa por dia de coleta e, posteriormente, o total ao final
dos 18 dias; na segunda etapa, foi feita a identificação e catalogação com auxílio da
(2011), Rafael et al. (2012) e Borror (2011), através das nervuras e morfologia das
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asas e padrão de antenas, utilizando um microscópico óptico binocular (Figura 5C e
D e Figura 6).
Figura 5 – Acondicionamento e contagem de dípteros. (A) Recipientes de 50 mL com álcool 70%. (B)
Recipientes de 300 mL com álcool 70%. (C) Triagem quantitativa. (D) Triagem quantitativa.
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Figura 6 – Identificação dos insetos. (A) Identificação dos insetos com auxílio de microscópio e chave de
identificação específica. (B) Vista de exemplar coletado em microscópio binocular para ser identificado a partir
RESULTADOS E DISCUSSÃO
relativa do ar teve uma média de 62,47%, com mínima de 50%, registrada nos dias
Figura 7 - Temperatura e umidade de cada dia de coleta e suas respectivas médias, mínimas e máximas.
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Foi possível determinar a duração de cada estágio, segundo proposta por Bonnet
O inicio da fase fresca deu-se no 1º dia após a morte do suíno, uma vez que este se
apresentava fresco, tendo duração de dois dias (Figura 8A). A fase de coloração
iniciou-se a partir do 3º dia, em que foi possível notar uma coloração verde azulada
que o cadáver estava com um aspecto de balão, os gases romperam uma pequena
viscoso de odor forte e fétido (Figura 8C). No 6º dia, o animal não estava mais com
aspecto inchado, dando início à fase coliquativa. A pele estava mais escura e seus
para o solo, criando uma espécie de poça. Oliveira-Costa (2013) chama isso de
Essa fase teve duração de dois dias (Figura 8D). A partir do 8º dia, iniciou-se a fase
começaram a aparecer, dando um aspecto mais seco ao cadáver (Figura 8E). Esse
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Figura 8 – Estágios de Decomposição, segundo a proposta Bonnet (1978). (A) Fase Fresca. (B) Fase de
Coloração. (C) Fase Gasosa. (D) Fase Coliquativa. (E) Fase de Esqueletização.
Tabela 1 - Duração dos diferentes estágios de decomposição no cadáver de porco Sus scrofa, através da
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Ainda em relação aos diferentes estágios de decomposição, observou-se que a fase
em que foi recolhida o maior número de indivíduos foi no Estágio Fresco; já a fase
em que foi recolhida o menor número de indivíduos foi no Estágio de Coloração, que
duração dos estágios de composição são valores médios fornecidos pela literatura,
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que na prática sofrem influência de diversos fatores, como por exemplo, temperatura
e umidade. Neste trabalho, foi observado que a temperatura e umidade nos dias do
estágios de decomposição.
Tabela 3 - Abundância das famílias no período de 16 de Dezembro de 2016 a 02 de Janeiro de 2017, onde (N) =
Família N %
Chamaemyiidae 6468 57,75
Calliphoridae 1249 11,15
Fanniidae 1237 11,04
Ulidiidae 780 7,0
Lauxaniidae 606 5,41
Sarcophagidae 360 3,21
Phoridae 322 2,87
Muscidae 123 1,10
Culicidae 25 0,22
Syrphidae 17 0,15
Stratiomyidae 10 0,09
Chloropidae 1 0,01
Heleomyzidae 1 0,01
Therevidae 1 0,01
Total 11200 100
aproximadamente 355 espécies, sendo que muitas são predadoras e suas larvas
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outros sugadores. Essa família foi a mais abundante (Tabela 3; Figura 9) e esteve
presente em todos os dias de amostragem (Tabela 4), o que não era esperado, visto
que essa família não é citada como de interesse forense. Algumas literaturas dizem
Sus scrofa em Portugal, e nela também foram encontrados espécimes dessa família.
influência antrópica direta, uma vez que se encontra em uma área de acesso restrito
A segunda família mais abundante foi Calliphoridae (Tabela 3; Figura 9). Segundo
maioria dos califorídeos é saprófaga e muitos são necrófagos. Moscas desse grupo
põem seus ovos nos cadáveres de animais e humanos e suas larvas se alimentam
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Tabela 4 – Distribuição das famílias de dípteros coletados em relação ao período pós-morte de suíno Sus scrofa
foi feito era próximo à vazão de esgoto para o mar de Vila Velha e apresentava
(Tabela 3).
De acordo com Mcalpine et al. (1987) e Marchiori & Silva (2000), os principais
postura de ovos, com larvas principalmente saprófagas. Essa família também esteve
das famílias de interesse forense no Brasil. Entretanto, foi observada uma frequência
elevada dessa família no experimento (Tabela 2; Figura 9). Essa família tem como
importância nos estudos da entomologia forense, uma vez que esses insetos podem
larval, mas alguns podem parasitar outros invertebrados (Marchiori et al. 2003). Os
estavam mais baixas, o que favorece o aparecimento das espécies desse grupo ,
que colonizam carcaças principalmente nas épocas mais secas do ano (Souza &
Linhares, 1997).
Outra família com grande importância forense é Muscidae, que esteve presente em
Phoridae é uma família de dípteros pequenos (em média 2mm), muito semelhante
(1994), essa família é considerada uma das mais ricas em diversidade de hábitos
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saprófagas e fungívoras. Ela esteve presente em 17 dos 18 dias de coleta desse
capazes de detectar e podem ser atraídos por odores exalados pelos hospedeiros
todos os dias de coleta. Isso pode estar relacionado com os odores e líquidos
Costa (2013) diz que se houverem hospedeiros disponíveis, essa família tende a
(Tabela 2) e, de acordo com Triplehorn & Johnson (2011) e Rafael et al. (2012), os
Costa (2011) diz que as larvas da espécie Ornidia obesa são predadoras de outros
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matéria orgânica, além do estudo ter sido feito em um local com presença de
Foi coletado um indivíduo para cada uma das famílias Chloropidae, Therevidae e
aves e tocas de mamíferos (Brown et al. 2009). Desta maneira, pode-se explicar a
razão do aparecimento desse grupo, uma vez que o trabalho foi feito em um local
Chamaemyiidae, uma vez que, como dito anteriormente, as larvas dessa família
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podem ser predadoras de estágios imaturos de outros insetos, prejudicando desta
Figura 9 – Abundância relativa das famílias encontradas em experimento realizado em cadáver suíno Sus scrofa
CONCLUSÃO
Conclui-se com o presente trabalho que insetos da ordem Diptera são importantes
Chamaemyiidae, o que não era esperado, pois atualmente não está classificada
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Importante ressaltar que este trabalho por si só não garante um levantamento
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REFERÊNCIAS
Bonnet, P. (1978). Lecciones de medicina legal. (3ª ed.) Buenos Aires. Argentina.
BROWN, B.V. (2012) Small Size No Protection for Acrobat Ants: World’s
BROWN, BV, Borkent A, Cumming JM, Wood DM, Woodley NE, Zumbado M.
Manual of Central American Diptera. 1 ed. Ottawa: NRC Research Press; 2009.
1v.
DISNEY, R.H.L. (1994) Scuttle flies: the Phoridae. Chapman and Hall, London, xii
+ 467 pp.
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FORATTINI, O. P. Culicidologia Médica. Editora da Universidade de São Paulo:
MAJER, J. M. 1997. Family Therevidae. In: Papp, L. & Darvas, B. eds. Manual of
MARCHIORI, C.H.; SILVA, M.H.O.; Brito, B.M.C; Silva Filho, O.M.; Pereira, L.A.
PORTUGAL, 2008.
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NEVES, D.P.; MELO, A.L.; GENARO, O.; LINARDI, P. M. Parasitologia Humana.
Atlântica.
2015.
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TRIPLEHORN, A. C.; JOHNSON F. N. ESTUDO DOS INSETOS – Tradução da 7ª
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