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ENTOMOLOGIA FORENSE: INSETOS QUE CONTRIBUEM COM

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL1
Wanderson Mendes Martins2
Jim Heiji Aburaya3

RESUMO: Uma das áreas que pode colaborar com a investigação criminal é a Entomologia
Forense, ciência aplicada ao estudo dos insetos e outros artrópodes, associados a um cadáver
em decomposição. Quando utilizada de maneira correta e adequada é um importante meio de
obtenção de evidências, contribuindo com o trabalho dos peritos e legistas. O presente
trabalho teve por objetivo descrever a contribuição da Entomologia Forense para a
Criminalista, auxiliando na elucidação de diversos tipos de crime. Como uma revisão
bibliográfica, teve como finalidade analisar e comentar trabalhos científicos que foram
publicados na área. A metodologia é composta essencialmente por uma coleta de
informações. A pesquisa foi realizada através levantamento de informações bibliográficas na
internet, sites específicos nas áreas de pericia criminal, Criminologia e Entomologia Forense.
Diante do exposto, a Entomologia, apesar de estudada desde o século XIII, ainda é
considerada como uma nova ciência, sendo grande auxílio na área criminal por meio de
estudos da sucessão dos insetos que colonizam cadáveres (especialmente Dípteros). Assim,
podem conter informações para determinação do intervalo post-mortem (IPM) e quando
possível à causa da morte. O Estado de Mato Grosso possui poucas informações e pesquisas
nessa área, apesar de possuir extensa fauna de insetos, tanto no bioma Cerrado, quanto no
Pantanal, fator que pode interferir nas principais classes de insetos presente na entomofauna
associada à decomposição cadavérica.
Palavras-chaves: Coleóptera, Díptera, Criminologia.

ABSTRACT: One of the areas that can cooperate with the criminal investigation is Forensic
Entomology, applied science to the study of insects and other arthropods, associated with a
body corpse. When used correctly and properly techniques are an important means of
obtaining forensic evidence, contributing to the work of the experts and phisycians. This
study aimed to describe about the contribution of forensic entomology to Crime Scene
Investigation, assisting in elucidation of various types of crime. The article is a scientific
literature review, having as purpose to analyze and comment on scientific papers that were
published in the area. The methodology consists essentially of a collection of information.
This was conducted through a survey of bibliographic information on the internet, specific
sites in the areas of criminal forensics, Criminology and Forensic Entomology. On the
exposed, though studied Entomology since the 13th century is still considered as a new
science, and great assistance in criminal area through studies of the succession of insects that
colonize dead bodies (especially Fly), may contain information for determining the post
mortem interval (PMI) and when possible the cause of death. The State of Mato Grosso has
little information and research in the area of Forensic Entomology, despite possessing
extensive insect fauna both in the Cerrado and Pantanal biomes, despite of possessing

1 Artigo Científico elaborado a partir do Manual de Artigo Científico do Athenas Grupo Educacional e das
Normas da ABNT solicitado no curso de pós-graduação “Lato Sensu” em Ciência Forense e Perícia Criminal.

2 Pós-graduando em Ciência Forense e Perícia Criminal. Faculdade do Pantanal (Fapan), Cáceres. Email:
wandersonc3_hand@hotmail.com.

3 Orientador Professor Doutor da Faculdade do Pantanal (Fapan), Cáceres.


extensive insect fauna in both. This factor can interfere in the main classes of insects present
on the insect fauna associated with the decomposing corpse.
Keywords: Coleoptera, Diptera, Criminology.

1. INTRODUÇÃO

O exame pericial é composto de uma ampla variabilidade de vestígios que exigem


diversas metodologias e técnicas de áreas distintas, utilizando elementos de diferentes
ciências para que seja realizada uma análise correta de um possível vestígio (Foltran e
Shibatta, 2011).
Uma das principais áreas que pode integrar as investigações criminais é a Entomologia
Forense, considerada a ciência aplicada ao estudo dos insetos e outros artrópodes (taxonomia,
biologia e ecologia) em processos legais, auxiliando os trabalhos de peritos e legistas
(Paradela etal., 2007; Caneparo et al., 2012; Cruz et al., 2014).
A Entomologia Forense é um desses métodos, essa ciência trata da aplicação de um
estudo no comportamento de insetos e outros artrópodes associados a um cadáver humano, tal
procedimento visa determinar a data da morte, se o corpo foi movido para um segundo local e
também se foi manipulado, e possivelmente deduzir as circunstâncias que cercaram o fato
antes ou depois do ocorrido (Oliveira-Costa, 2003).
Conforme Keh (1985), os insetos associados a cadáveres estão classificado como:
Necrófagos: são determinados insetos imaturos e/ou adultos na sua grande maioria
moscas e besouros (Dípteros Muscóides e Coleópteros) que se alimentam de tecido em
decomposição;
Ominívoros: insetos com uma dieta alimentar ampla, tanto dos corpos quanto da fauna
associada. Formigas e vespas (Himenópteros) e alguns besouros;
Parasitas e Predadores: os parasitas neste contexto utilizam a entomofauna cadavérica
a qual retira os meios pra seu próprio desenvolvimento e os predadores são os indivíduos que
se alimentam das formas adultas ou imaturas dos insetos cadavéricos. Nessas duas
classificações podemos encontrar Himenópteros (parasitando ou predando), Coleópteros,
Dípteros Muscóide e Dermápteros (vulgo tesourinha).
Acidentais: são insetos que se encontram ao acaso no cadáver, explicado muitas vezes
pela frequência como ocorrem naturalmente em determinadas áreas ecológicas. Aranhas,

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centopéias, ácaros e outros artrópodes são exemplos de animais pertencentes a esta
classificação.
A ordem Diptera é a ordem de maior importância para a entomologia forense
(Oliveira-Costa 2011) e as famílias mais importantes são Calliphoridae, Sarcophagidae e
Muscidae, pois são os primeiros que chegam aos corpos em decomposição, seu ciclo de vida
permite obter informações valiosas para serem utilizadas como ferramenta desta ciência
(Archer 2003).
Os besouros, grupo de insetos pertencentes à ordem Coleóptera, são o segundo grupo
de insetos de maior interesse forense no Brasil, sendo encontrados nas carcaças tanto em sua
fase adulta de desenvolvimento, quanto na fase imatura (larvas) (Carvalho et al 2000, Barbosa
et al 2006).
Através dos artrópodes existentes em cadáveres, pode se estimar o intervalo pós-morte
(IPM). Segundo Catts e Goff (1992), há duas maneiras de determinar o IPM: uma dada pela
oviposição de dípteros no substrato poucas horas depois da morte, sendo este intervalo
estabelecido pela determinação da idade dos imaturos coletados nos cadáveres; e outra, é
estabelecida pela coleta dos espécimes e a análise do seu padrão de sucessão nos corpos.
Além da estimativa do IPM, os insetos ou parte do corpo deles, bem como o
conhecimento de sua distribuição geográfica, podem ser úteis na determinação do local do
óbito (Hall 1990). Este autor relata ainda que o transporte do corpo pode resultar na condução
da fauna adquirida no mesmo local. Assim, a discrepância entre a composição de insetos
presentes no momento da análise forense e a composição de espécies situadas na região
geográfica onde o corpo foi encontrado, pode fornecer evidências de que a vítima foi
deslocada. E de acordo com (Leclercq e Verstraeten 1993, Arnaldos et al. 2001), pode ainda
determinar a existência de maus tratos e inclusive, a identificação da presença de substâncias
no cadáver (medicamentos, drogas, venenos etc.), a partir de larvas e pupas de certos insetos,
quando não é possível fazê-lo por meio dos tecidos do cadáver.
Cada grupo de artrópodes desempenha um papel diferente nos diversos estágios de
decomposição da matéria orgânica. O seu desenvolvimento no cadáver é afetado por vários
fatores, sendo a temperatura o mais importante, afetando a taxa de desenvolvimento e
podendo provocar diapausa (ou suspender o completo do desenvolvimento), o que afeta os
posteriores estudos de sucessão entomológica (Lefebvre e Pasquerault 2004).

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Variações na temperatura e umidade relativa estão em frequente associação com as
estações do ano, e de acordo com os trabalhos realizados por Souza e Linhares (1997), Moura
et al. (1997), Monteiro-Filho e Penereiro (1987), entre outros, expõem que a fauna encontrada
na carcaça pode variar de acordo com as estações, pois algumas espécies podem não aparecer
em determinadas épocas do ano, isso demonstra que os dados obtidos em estudos sazonais são
de extrema importância (Corrêa 2010).
A composição dos representantes da ordem Diptera em cadáver está influenciada pelo
estágio de decomposição do corpo e também das condições ambientais (Carvalho et al. 2000,
Horenstein et al. 2005, Malvárez-Cardozo et al. 2005, Barbosa et al. 2009, 2010).
A Entomologia Forense pode ser classificada em três categorias: urbana, de produtos
estocados e médico-legal (Lord e Stevesson, 1986). Assim, essa área da Entomologia é
utilizada em investigação de morte violenta, tráfico de entorpecentes, maus tratos, danos em
bens imóveis, contaminação de materiais e produtos estocados, entre inúmeros outros casos
que se apresentam no âmbito judicial (Paradela et al., 2007; Oliveira-Costa, 2003).
Recentemente, com o avanço dos estudos no campo da Entomologia Forense, duas
novas categorias foram propostas: Toxicológica, que da origem a ciência denominada
Entomotoxicologia, onde os insetos necrófagos são utilizados para detecção de drogas e
toxinas presentes nos tecidos e investiga o efeito causado por estas substâncias no
desenvolvimento dos artrópodes para aumentar a precisão na estimativa do tempo de morte
(Introna et al. 2001); Ambiental, onde os insetos apresentam informações relevantes a
apuração de crimes ambientais, como a biopirataria e como bioindicadores de regiões de
impacto ambiental.
É importante ressaltar que os insetos de interesse forense não são somente aqueles que
visitam o cadáver na forma adulta, mas aqueles que se reproduzem utilizando o cadáver como
substrato. Assim sendo, é possível determinar o desenvolvimento dos imaturos e com
embasamento nesses dados, pode-se estimar o IPM (Shalaby et al. 2000). Presente trabalho
teve por objetivo descrever sobre a contribuição da entomologia forense para criminalista,
auxiliando na elucidação diversos tipos de crime.

2. METODOLOGIA

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O artigo cientifico é uma revisão bibliográfica, tendo como finalidade analisar e
comentar trabalhos científicos que foram publicados na área. A metodologia é composta
essencialmente por uma coleta de informações. A pesquisa foi realizada através levantamento
de informações bibliográficas na internet, sites específicos nas áreas de pericia criminal,
criminologia e entomologia forense.

3. DESENVOLVIMENTO
3.1 Contextualização
O primeiro registro da aplicação dessa ciência ocorreu ainda no século XIII (relato em
um manual de medicina legal chinês - 1235). Contudo, a partir de 1855 a literatura
especializada atribuiu ao médico francês Bergeret a primeira utilização da Entomologia
Forense (primeira estimativa de intervalo post-mortem) (Miranda et al., 2013; Oliveira-
Costa,2013; Ries, 2013). E apenas depois de 1894, com o trabalho de Mégnin (livro - La
faune des cadavres), esse estudo científico ficou conhecido mundialmente (Oliveira-Costa,
2003).
No Brasil, os estudos nessa área tiveram início no ano de 1908, através dos trabalhos
pioneiros de Edgard Roquette-Pinto, no Rio de Janeiro, e Oscar Freire, na Bahia (1914 até
1923) (Oliveira-Costa, 2003; 2013; Miranda et al., 2013). Com levantamentos de estudos
envolvendo casos humanos e animais, esses autores registraram a diversidade da fauna de
insetos necrófagos em regiões de Mata Atlântica. Porém, foram raros os trabalhos científicos
sobre Entomologia Forense ou a ela relacionados, entre as décadas de 1940 a 1980 (Pujol-Luz
et al., 2008). O tema permaneceu por muito tempo abandonado devido às dificuldades de
coleta do material entomológico ou por falta de interesse da comunidade científica (Cruz et
al., 2014).
Oscar Freire em 1908 apresentou à Sociedade Médica da Bahia a primeira coleção de
insetos necrófagos e os resultados de suas investigações, que em grande parte foram obtidos
com estudos em cadáveres humanos, e animais de pequeno porte. Ainda antes dele, Domingos
Freire (Factos da vida dos insetos II, Fauna dos cadáveres, 1908) publicara um artigo sobre o
tema, que fora criticado por Oscar Freire que o descreveu como “um reflexo impessoal do
trabalho de Mégnin”. No mesmo ano, Roquette Pinto publicou um estudo de caso “Nota sobre
a fauna cadavérica no Rio de Janeiro” que também foram com base em cadáveres humanos,

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esses dois pesquisadores também lançaram as bases da entomologia forense nos trópicos
(Pujol-Luz et al., 2008).
Descreveram em sua obra os coleópteros de interesse médico-legal do Estado de São
Paulo. Os autores trataram especialmente da família Scarabaeidae, mas também apresentaram
nesse artigo um histórico detalhado das pesquisas sobre o tema, no Brasil e no mundo, até
aquela data. Importantes dados sobre a taxonomia e biologia dos besouros necrófagos foram
fornecidos (Pessôa e Lane,1941), Figura 01.

Os estudos sobre taxonomia, biologia e ecologia de dípteros necrófagos e biontófagos


no Brasil, estudos básicos para a Entomologia Forense, têm sido realizados por vários
pesquisadores brasileiros, sendo notáveis os trabalhos de Hugo de Souza Lopes
(Sarcophagidae), Rubens Pinto de Mello (Calliphoridae), José Henrique Guimarães e Nelson
Papavero (Calliphoridae).
Os primeiros trabalhos sistemáticos sobre entomologia forense abordando estudos
sobre a diversidade, ecologia, taxonomia e sucessão da fauna cadavérica foram desenvolvidos
por Arício Xavier Linhares, Claudio José Barros de Carvalho e respectivas equipes, como por
exemplo: Souza & Linhares (1997); Moura et al. (1997); Carvalho et al. (2000); Carvalho &
Mello-Patiu (2008), sendo estes dois pesquisadores os responsáveis pelo esforço de
desenvolver uma entomologia forense genuinamente brasileira.

3.2 Insetos de Importância Forense


A grande biodiversidade de insetos no Brasil se reflete também na fauna associada a
cadáveres (Baltazar et al., 2011). As moscas (Diptera) são as primeiras a encontrar o cadáver
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e representam a maior parte dos insetos que habitam carcaças. Outro grupo que se destaca são
os besouros (Coleoptera), importantes para estudos de sucessão entomológica, pois habitam a
carcaça ao longo das fases de decomposição (Caneparo et al., 2012). No caso da recuperação
de esqueletos secos de humanos, os coleópteros compreendem a principal evidência
entomológica na determinação do IPM (baseada principalmente no padrão de sucessão) (Mise
et al., 2007).
De acordo com Payne (1965), esses dois grupos podem representar aproximadamente
78% da fauna presente na decomposição de um cadáver. Carvalho et al. (2000) relataram que
outros grupos de insetos podem ser considerados como indicadores forenses da área, mas para
isso, é necessária a elaboração de uma lista com todos os insetos do local, quer associados ao
cadáver, quer associados à flora presente na localidade. Assim como diferentes autores
descreveram a importância de outros insetos pertencentes às ordens: Dermaptera e
Lepidoptera com importância forense (Velho et al., 2012).
Dessa forma, devido a essa grande biodiversidade de grupos, é fundamental a correta
identificação taxonômica dos insetos que exploram recursos em decomposição para viabilizar
qualquer procedimento em Entomologia Forense (Linhares e Thyssen, 2012).
O cadáver é uma fonte rica em recursos, porém efêmera, que serve como alimento e
abrigo para diversos grupos de artrópodes (Caneparo et al., 2012). É importante lembrar que a
fauna frequentadora dos cadáveres nem sempre se alimenta de tecidos decompostos (Oliveira-
Costa, 2013).

3.3 Entomofauna na Região Centro-Oeste


Composta pelos estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal;
esta região é composta por diferentes biomas, sendo estes: Cerrado, Amazônico, Mata
Atlântica e Pantanal (Moraes e Mello 2009). Apesar da diversidade dos biomas, a maioria dos
estudos relacionados a esta área são realizados no Cerrado ( fazer referancia artigo fauna
necrófaga (diptera muscomorpha) associada a decomposição de porcos domésticos sus scrofa
l. coletada em área de cerrado de mato grosso do sul, brasil).
Machiori et al. (2000) estudaram a fauna de artrópodes associados a caraças de porcos
em dois ambientes distintos – Mata e pastagem em Itumbiara, sul de Goiás, durante as épocas
de alta e baixa umidade relativa do ar, onde foram coletadas 16 famílias de artrópodes. As
espécies mais importantes foram: Diptera – C. albiceps (Calliphoridae); Coleoptera -

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Trichillum externepunctatum (Preudhomme de Borre, 1880) (Scarabaeidae); Hymenoptera –
Spalangia endius (Walker, 1839) (Pteromalidae); Acarina – Macrocheles muscaedomesticae
(Scopoli, 1972) (Macrochelidae). Na estação de alta umidade a decomposição foi mais rápida,
nove dias e na de baixa umidade mais lenta, 25 dias (Figura 02 e Figura 03).
Santana (2006) em sua dissertação teve como objetivo ampliar o conhecimento sobre
os dípteros do cerrado no Distrito Federal com ênfase na família Calliphoridae. Foram
identificadas oito espécies, sendo C. albiceps a mais frequente ao longo do processo de
decomposição.
Barros et al. (2008) estudaram a família Sarcophagidae associados à decomposição de
carcaças de S. scrofa L. em área de Cerrado do Distrito Federal, Brasil. Este trabalho
apresentou uma lista de dípteros sarcofagídeos adultos coletados na carcaça e acompanhou o
processo de decomposição da carcaça, durante 45 dias. Foram identificadas 28 espécies,
sendo 16 novos registros para a região estudada. As espécies mais abundantes foram
Oxysarcodexia thornax (Walker, 1849), seguida por Dexosarcophaga carvalhoi (Lopes,
1980), Tricharaea (Sarcophagula) occidua (Fabricius, 1794), Peckia (Sarcodexia) lambens
(Wiedemann, 1830) e Peckia (Peckia) pexata (Wulp, 1895).
Biavati et al. (2010) estudaram a decomposição de porco domestico em Brasília – DF,
com objetivo de catalogar as espécies de califorideos associados a carcaça. Foram observadas
oito espécies: C. albiceps, C. megacephala, C. macellaria, Chloroprocta idioidea (Robineau-
Desvoidy, 1830), H. semidiaphana, H. segmentaria, L. cuprina e L. eximia. A espécie mais
frequente foi C. albiceps. O estágio de decomposição mais atraente observado foi o estágio de
inchaço.
Castro et al. (2010) analisaram a frequência de coleta de famílias de dípteros de
interesse forense em um fragmento de Cerrado em Brasília, utilizando um sistema de
armadilhas suspensas a 1,5 m de altura do solo, feito a partir de garrafas plásticas recicláveis,
contendo isca à base de carne bovina em decomposição. Observou-se maior frequência de
coleta de indivíduos das famílias Calliphoridae e Muscidae durante os primeiros 26 dias de
experimento. Após esse período, as famílias Sarcophagidae e Uliididae começaram a aparecer
em maior número.

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Corrêa et al. (2010) realizaram um estudo sobre a abundância relativa e a sazonalidade
de três espécies de Chrysomya (C. albiceps, C. putoria e C. megacephala) na Fazenda
Nhumirim, base experimental da Embrapa Pantanal, sub-região da Nhecolândia, Pantanal,
Mato Grosso do Sul. Os dípteros foram capturados por armadilhas orientadas pelo vento
(Wind Oriented Trap – W.O.T.) contendo como isca fígado bovino deteriorado, no período de
dezembro de 2004 a novembro de 2007. No total de Calliphoridae capturados, 31,87% foram
do gênero Chrysomya. A espécie mais abundante foi C. albiceps, seguida por C. megacephala
e C. putoria. As três espécies apresentaram flutuações sazonais semelhantes, com dois picos
populacionais anuais, observados entre junho e agosto e entre outubro e dezembro.
Koller et al. (2011) estudaram a flutuação sazonal de C. macellaria, na fazenda
Nhumirim no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Foram realizadas coletas de dípteros no

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período de dezembro de 2004 a novembro de 2007 utilizando armadilhas orientadas pelo
vento, contendo iscas com fígado bovino deteriorado. Cochliomyia macellaria (57,33%) foi à
espécie mais abundante, observada em todos os meses do ano, apresentando comportamento
bimodal com picos populacionais em maio/julho (final de outono/início de inverno) e
outubro/dezembro (primavera).
Ledo et al. (2012) realizaram um trabalho com insetos decompositores (Sarcophagidae
e Calliphoridae) associados a carcaças de pequeno porte de dois répteis Bothrops moojeni
(Hoge, 1966) (Reptilia, Serpentes) e Mabuya frenata (Cope, 1862 (Reptilia, Lacertilia) e de
um anfíbio Rhinella schneideri (Werner, 1894) (Anura, Bufonidae), encontrados em áreas de
matas de galeria e de cerrado sensu stricto em unidades de conservação de Brasília, Distrito
Federal. Foram encontradas sete espécies de insetos associados a essas carcaças, sendo cinco
sarcofagídeos: Peckia (Sarcodexia) lambens, Oxysarcodexia sp., Dexosarcophaga sp., Peckia
(Squamatodes) trivittata (Curran, 1927), P. (P.) intermutans e um califorídeo (L. eximia).
Sendo estas duas últimas às espécies mais abundantes, corroborando o estudo de
Moretti (2006) que sugere que estas espécies apresentam especializações para a colonização
de carcaças menores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos fatos apresentados, a entomologia a pesar de estudada desde século XIII ainda
é considerada como nova ciência, sendo grande auxilio na área criminal por meio de estudos
da sucessão dos insetos que colonizam cadáveres (especialmente Dípteros), podem conter
informações para determinação do intervalo post-mortem (IPM) e quando possível à causa da
morte.
Os insetos também podem fornecer informações sobre toxinas presentes no cadáver
(tecidos), pois mesmo cadáver apresente estado avançado de decomposição ou na inexistência
de elementos necessários para realização de exame, é possível utilizar insetos, devidos os
mesmo manter relação direta com o cadáver ou com a carcaça e devido substancias toxicas
ficarem retidos no organismo animais ramo entomologia forense conhecida como
entomotoxicologia.
Apesar da sua satisfatória eficácia na investigação de mortes, essa técnica ainda é
pouco empregada pelas autoridades policiais e pelas instituições técnico-cientifica do Brasil,

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muitas vezes causados pela falta de investimento e estruturas por parte do governo, o
inexpressivo intercambio entre universidades e instituições policiais e policia cientifica, pois
através desse contato seria possível expandir pesquisas com entomofauna no local de crime,
confrontando dados presente na literatura com o cotidiano criminal presente nas grandes
cidades. Outro fator importante é carência de formação de peritos especialista e bem treinados
nessa área.
O Estado de Mato Grosso possui poucas informações e pesquisas nessa área da
entomologia forense, a pesar de possuir extensa fauna insetos tanto no bioma cerrado e
pantanal, fator esse pode interferir nas principais classes de insetos presente na entomofauna
associada à decomposição cadavérica.

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