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UNIVERSIDADE ALBERTO CHIPANDE

Rua Carlos Pereira, Nº 952, Telefone Nº 843136375/843366570, Estoril, Beira, Moçambique

= UNIAC =

Faculdade de Ciências Jurídicas e Criminais - FCJC

Licenciatura em Ciências Jurídicas e Investigação Criminal - CJIC

Módulo/Caderno/Brochura de

= ENTOMOLOGIA FORENSE =

UNIAC © | Beira – Moçambique

2014
MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

NOTA PRÉVIA

O presente Módulo/Caderno/Brochura, tem como objectivo facilitar o ensino e aprendizagem,


fornecendo ao estudante uma ferramenta capaz de traduzir todos os conteúdos que serão
abordados durante a disciplina aplicável como também para futuros estudos didáticos e
científicos. O autor organizou o caderno segundo o plano da disciplina leccionável,
verificando todos os itens importantes e sistematizados segundo o entender do autor de como
deve ser materializado os conteúdos que constam neste caderno.

Autor: Msc Ivan Chamil Abibo, MD


Co – Autor: FCJC
Beira, Novembro de 2014
Editora: Revista Científica do UNIAC
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MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

NOÇÕES PRELIMINARES

O presente Módulo/Caderno/Brochura tem como finalidade falar sobre a Entomologia


Forense que é a aplicação do estudo da biologia de insectos e outros artrópodes em processos
criminais, onde os peritos na área estudam o cadáver (post mortem)1 de modo a ajudar a
determinar o intervalo post mortem (IPM) e local da morte em questão, pois é normal num
crime descobrir – se a partir deste método de que o corpo da pessoa que foi por exemplo
assassinada (Homicídio) num local (local do crime ou de sucesso) foi removido para um
outro local e exposto a outros agentes físicos, que provavelmente são diferentes do anterior.
Casos como esses ja aconteceram no nosso país e podem vir a acontecer, tendo em conta que
o crime organizado tende a ter novos contornos e serem mais violentos e sofisticados, longe
das capacidades normais da nossa Polícia de Investigação Criminal (PIC). O mais agravante é
saber que a peritagem no local de sucesso pode apresentar lacunas por não uso ou
desconhecimento desta técnica, trazendo e tornando as provas ou as conclusões (Laudos e
Autos) susceptíveis de não apresentar os detalhes chaves e cruciais para uma decisão
susceptível de ser justa e juridicamente aceitável. A aplicação e experimentação da
Entomologia Forense e o conceito desta remontam dos meados do século XIII. No entanto,
apenas nos últimos 30 anos é que a Entomologia Forense tem sido sistematicamente
explorada como uma fonte verosímil de evidência em investigações criminais. Nos países
mais desenvolvidos, como o caso do Brasil, Estados Unidos da América, Inglaterra,
Alemanha, França, dentre outros, esta técnica faz parte obrigatória dos elementos
investigátivos no local de crime e indispensáveis, cujos estudos estão altamente avançados,
com laboratórios bem desenvolvidos e com a base de dados mais detalhada e precisa. A
Entomologia Forense é mais comummente associada a investigações de morte, ajudando a
determinar local e tempo dos incidentes de acordo com a fauna encontrada no cadáver e o
estágio de desenvolvimento desta.

1
Post mortem – após a morte, estudos efectuados em pessoas após os sistemas normas do organismo terem
entrado em paragem por completo. Que ocorre após a morte de alguém.

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CAPÍTULO I – NOTAS INTRODUTÓRIAS

1.1. Introdução
1.1.1. Contexto histórico

Segundo a Dra. Ana Maria de Almeida Marques2 os primeiros casos de Entomologia Forense
documentados reportam directamente para um advogado e investigador chinês, o Sung Tz’u 3,
isso no século XIII, segundo o que descreve seu livro que retracta a vida de um médico-legal.

Segundo o Sung Tz’u, o mesmo descreve no seu livro de um caso de um agricultor que foi
vítima de esfaqueamento perto de um campo de arroz e no dia seguinte, após o homicídio, o
investigador e advogado Sung Tz’u, reuniu todos os suspeitos e as suas ferramentas e de
seguida, todos os instrumentos foram colocados no solo à luz do dia e sobre todo o tipo de
exposição.

Dos resultados, não se encontraram evidências óbvias, mas algo curioso despertou atenção,
uma das ferramentas atraiu inúmeros insectos do género Calliphora (Blowflies),
aparentemente devido a vestígios invisíveis a olho nu de sangue no instrumento. Confrontado
com os achados e outros vestígios, o culpado que também era o dono do instrumento que se
encontrara manchas invisíveis de sangue e que atraiu os insectos, acabou confessando o
homicídio do agricultor.

Consequentemente, anos depois e até a data de hoje, alguns especialistas da área de medicina
- legal, dedicam a observar de perto a decomposição de corpos humanos (cadáver) com o
intuito de estudar as fases de desenvolvimento larval, principalmente das moscas.

Os documentos mais antigos que ilustram larvas em corpos humanos datam da Idade Média,
incluindo talhas em madeira do século XV “Dances of the Death” (Figura 1), e o intrincado
trabalho no marfim “Skeleton in the Tumba” (Figura 2), do século XVI.

2
MARQUES, Ana Maria de Almeida, ENTOMOLOGIA FORENSE: ANÁLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADÁVER DE SUS
SCROFA (LINNAEUS), NA REGIÃO DE OEIRAS, PORTUGAL, Universidade de Lisboa, Palmeiras editora, Lisboa, 2008.
3
(Sung Tz’u 1981).

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Figura 1 – As figuras ilustram o tempo da Idade Média, talhas em madeira do século XV


“Dances of the Death”, a Dança da Morte
Fonte: (Benecke 2004).

Figura 2 – Escultura de um esqueleto em marfim “Skeleton in the Tumba”, onde o coração é


substituído por uma mosca. Muito comuns na época da Renascença
Fonte: (Benecke 2004).

1.1.2. Contexto científico, metodológico e de estudos.

Este tipo de arte segundo a Dra. Ana Maria de Almeida Marques:


Descreve pormenorizadamente o padrão da redução de massa corporal mediada pela acção
dos insectos, particularmente a esquelectização do crânio e a redução dos órgãos internos,
com grande parte da pele ainda intacta (Figuras 1 e 2) (Benecke 2004).

O poema “Une Charogne” do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) é muitas vezes
mencionado neste contexto, visto conter observações dos estádios de decomposição dos

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cadáveres humanos, incluindo uma referência exacta ao som das larvas no interior do corpo
(fleursdumal.org/poem/126).
Um século mais cedo, em 1767, o biólogo Carl Von Linné 4 faz uma observação bastante
famosa em dias de hoje, segundo o Carl Von Linné afirma que três moscas conseguem
destruir por completo um cavalo mais depressa que um leão macho e adulto (no sentido de
produzirem grandes massas larvares) (Benecke 2004).

Durante as exumações em massa, na França e Alemanha, nos séculos XVIII e XIX, os


médicos legais observaram que nos corpos enterrados são habitados por muitos tipos de
artrópodes (insectos).

No início do século XIX, começou a verificar-se que os insectos eram atraídos pelos
cadáveres num estado precoce de decomposição, minutos após a morte, tendo sido compilada
uma lista de insectos necrófagos, incluindo moscas e escaravelhos que gostam de ser
primeiras a chegarem ao cadáver, até mesmo não sendo um medico - legal é possível notar
que mesmo vivo existe uma atracção irresistível das moscas pelo corpo humano e a maioria
das vezes conseguem criar um certo desconforto, tentando penetrar em orifícios como os dos
ouvidos e fossas nasais, este comportamento não é de estranhar, faz parte de sua natureza
tentar procurar formas, mecanismos de encontrar um corpo hospedeiro para desovar e poder
as suas larvas se alimentarem, por isso são consideradas como as primeiras hospederas
porque possuem este tipo de característica e graças aos sentidos que um corpo humano
possui, pelo menos em vida e com saúde não conseguem.

Também se descreveram as possibilidades e problemas associados ao uso de insectos para a


estimação do Intervalo Pós - Morte (IPM), muitas dessas conclusões permanecem relevantes
(Amendt et al. 2004).

4
O biólogo Carl Von Linné - Carolus Linnaeus, em português Carlos Lineu, e em sueco após nobilitação
Carl von Linné (Råshult, Kronoberg, 23 de Maio de 1707 — Uppsala, 10 de Janeiro de 1778) foi um botânico,
zoólogo e médico sueco, criador da nomenclatura binomial e da classificação científica, sendo assim
considerado o "pai da taxonomia moderna". Foi um dos fundadores da Academia Real das Ciências da Suécia.
Lineu participou também no desenvolvimento da escala Celsius (então chamada centígrada) de temperatura,
invertendo a escala que Anders Celsius havia proposto, passando o valor de 0° para o ponto de fusão da água e
100° para o ponto de ebulição. Lineu era o botânico mais reconhecido da sua época, sendo também conhecido
pelos seus dotes literários. O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau enviou-lhe a mensagem: "Diga-lhe que não
conheço maior homem no mundo."O escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe escreveu: "Além de
Shakespeare e Spinoza, não conheço ninguém entre os que já não se encontram entre nós que me tenha
influenciado mais". O autor sueco August Strindberg escreveu: "Lineu era na realidade um poeta que por acaso
se tornou um naturalista". É ainda o cientista da área das ciências naturais mais famoso da Suécia e a sua figura
pode ser encontrada nas actuais notas suecas de cem kronor.

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Assim se deu o início da disciplina de Entomologia Forense no mundo, sendo creditada em


muitos tribunais a partir do final do século XIX (Amendt et al. 2004).

1.1.3 Definição
Durante muito tempo, a disciplina de Entomologia Forense foi definida como a ciência que
aplica o conhecimento dos insectos (e outros artrópodes) a procedimentos civis e julgamentos
criminais (Turchetto e Vanin 2004).

A Entomologia Forense procura determinar o Intervalo Pós - Morte (IPM) por meio do
relacionamento dos estágios de decomposição dos cadáveres utilizando-se o conhecimento a
respeito da deposição dos ovos e larvas da fauna cadavérica (OLIVEIRA; COSTA, 2003;
PUJOL; LUZ et al., 2008).

A Entomologia Forense é o estudo de insectos e outros artrópodes num contexto legal. Tem
inúmeras aplicações, mas a mais frequente é na determinação do tempo mínimo desde a
morte (Intervalo Post - Mortem, ou IPM, mínimo) na investigação de mortes suspeitas. Para
isso, determina-se a idade dos insectos presentes num cadáver humano, o que permite uma
estimativa relativamente precisa em circunstâncias em que os patologistas apenas conseguem
fazer aproximações. O principal pressuposto é que o corpo não está morto há mais tempo do
que o necessário para os insectos chegarem ao cadáver e se desenvolverem. Assim, a idade
dos insectos mais velhos presentes no corpo determina o IPM mínimo (OLIVEIRA; COSTA,
2003; PUJOL; LUZ et al., 2008).

A Entomologia Forense consiste no estudo de insectos e outros artrópodes associados às


diversas situações criminais, servindo como uma ferramenta auxiliar, na investigação de
crimes contra pessoas vítimas de morte violenta. (OLIVEIRA; COSTA, 2003; PUJOL; LUZ
et al., 2008).

A Entomologia Forense é uma ciência que estuda a utilização de insectos e outros artrópodes
que fazem parte da fauna cadavérica para auxiliar na resolução de factos delituosos em
investigações médico - criminais, tendo como uma de suas principais aplicações a estimativa
do Intervalo Pós - Morte (IPM).

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Nos anos seguintes, diversos assuntos relacionados com a Entomologia Forense foram
explorados, como por exemplo a fauna presente nas sepulturas, a esqueletização dos corpos e
as alterações sofridas no cadáver pelos insectos (Amendt et al. 2004).

Todavia, dados de biologia, ecologia e sucessão de insectos necrófagos (Bornemissza 1957)


não foram considerados nos estudos forenses.

O Leclercq e Leclercq (1948), Nuorteva (1959a, 1959b), Nuorteva (1965) e Leclercq (1983),
foram os primeiros a usar a Entomologia Forense na determinação do intervalo pós-morte
(IPM) na Europa, isso final do século XX.

A Entomologia Forense só foi aceite em muitos países como uma ferramenta forense
importante nos princípios do século XXI.

Esta disciplina manteve-se principalmente devido ao médico Leclercq e ao biólogo Nuorteva,


que conservaram um interesse nos casos judiciais, criando mais bases para o
desenvolvimento desta disciplina.

Desde então, foram realizadas investigações fundamentais e aplicações avançadas da


Entomologia Forense nos Estados Unidos da América (principalmente), Rússia, França,
Inglaterra, Índia, Brasil e Canadá com o intuito de resolver casos judiciais de rotina.

Actualmente, investigadores em todo o mundo usam a Entomologia Forense em ligação com


a Medicina - legal em investigações criminais, incluindo homicídios e casos mediáticos.

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CAPÍTULO II - IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Necessariamente é preciso frisar que será sempre útil o estudo dos insectos, embora que haja
apesar da grande aversão provocada na maioria das pessoas, pois estudar insectos depende do
espírito e capacidade de certas pessoas, há pessoas que são anfobicas a certos insectos, não
conseguem nem chegar perto, por isso estudo dos insectos requer antes de mais nada coragem
e determinação, contudo possuem uma grande importância para o meio ambiente e para a
sociedade.

Já, dentro da entidade policial os insectos contribuem com um papel muito importante. O
objectivo desse trabalho foi apresentar antes de mais os princípios básicos da Entomologia
Forense, por meio de um estudo de revisão de obras literárias e apanhados, de seguida
demonstrar a sua importância e frisar por fim que o seu não uso pode sem dúvida alguma
deixar certas dúvidas nos resultados das análises criminalísticas.

O início dos estudos em Entomologia Forense foi um grande passo para os estudos actuais na
medicina - legal, o primeiro caso como se frisou foi revelado pelo investigador Sung T’zu em
1235 e vem sendo pesquisado ainda hoje em diversos países.

Nos EUA esta ciência esta no mesmo patamar que muitas outras ciências e existe laboratórios
sofisticados e especializados no estudo e aplicação da ciência nos casos de investigação
criminal, esta tão desenvolvido que já existe seriados como CSI miami, CSI new york, que
demonstram, retratam, transmitem o quão é interessante e maravilhoso os estudos e como tais
estão numa fase avançada em todos os aspectos, tecnológicos, científicos, literários, etc, e no
Brasil por exemplo, que um dos países falantes da língua portuguesa e que faz parte da
CPLP5, o estudo da Entomologia Forense, só para frisar, iniciou-se em 1908, com os
trabalhos pioneiros de Edgard Roquette Pinto e Óscar Freire, respectivamente nos estados do
Rio de Janeiro e da Baia e vem sendo pesquisado por pesquisadores das áreas de ciências
biológicas.

54
(Sung Tz’u 1981). - Song Ci
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Deve-se lembrar que os insectos contribuem de certa forma para os estudos relacionados
com:
- Tráfico de entorpecentes,
- Maus tratos e cronotanatognose.,
- Estudos Pós - Mortem (IPM),
- Investigação de vestígios,
- Investigação de provas, (CSI)
- Dentre outros.

Assim, deve-se considerar a ciência, a Entomologia Forense, como mais um recurso da


investigação pelas entidades investigadoras como é o caso da PIC. O estudo da Entomologia
Forense esta ligado directamente ao estudo da Medicina Forense aplicada, visando responder
as questões (quesitos) formuladas pelos Juízes ou Ministério Público. Apresenta de certa
forma mecanismos solucionatórios quando a questão é de cadeia de custódia.

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CAPÍTULO III – ENTOMOLOGIA FORENSE COMO CIÊNCIA

3. Breve historial das moscas “la moca”.

A civilização de moscas desde a antiguidade foi recentemente descoberta (principio do século


XXI), o seu estudo aumentou ultimamente devido a proliferação de matéria orgânica residual
o dito lixo orgânico e inorgânico, demografia, meios de transportes, mudanças climáticas,
aumento populacional, bem como a domesticação de animais selvagens cujo sua vida normal
permite a ploriferação das moscas, aumento de criação de animais domésticos e de criação de
grandes vilas e cidades em muitos casos sem acompanhamento de sistema de saneamento
adequado onde os resíduos sólidos, águas negras e outros factores estão expostos ao ar livre.

No entanto, é de frisar que o seu estudo é muito antigo, muito antes que se imagina.

Há escrito em cuneiforme e pergaminhos, nas paredes (pinturas rupestres), estátuas, descritos,


que indicam a existência de estudos de insectos desde 3600 anos d.C. e o primeiro livro de
zoologia é conhecido foi revelado e datado da existência desde a data acima citada.

Entre os 396 animais descritos no livro, 10 à 111 dos insectos, são moscas.

Como o caso de "Green Fly" Mosca Verde (Phaenicia) e "mosca azul" (Calliphoridae), muito
comum hoje em dia nas nossas casas, basta escamar um peixe ao ar livre, expor carne, que
pelo cheiro logo são atraídas e aparecem, não precisa muita ciência, porém em casos forenses
são mencionados neste livro pela primeira vez.

Só para melhor situar, falava – se de moscas nas civilizações antigas, tais moscas aparecem
como amuletos (Babilônia, Egipto), como deuses (Belzebu, O Senhor das Moscas) e é uma
das maiores pragas na história segundo a bíblia.

A metamorfose das moscas era conhecida no antigo Egipto, já que desempenhava um papel,
foi encontrado dentro da boca de uma múmia e contém a seguinte inscrição:
"Os vermes não entram na mosca vai se tornar dentro de você" (Papyrus gized No. 18026:
4: 14).

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A maioria dos insectos que foram embalsamados na altura ajudou na resolução de casos de
morte (Greenberg, 1991).

O primeiro registo escrito de um caso decidido pela Entomologia Forense remonta ao século
XIII, em um manual Medicina Chinesa Legal de Song Ci (também conhecido como Sung
Tz'u)6 relativo a um caso de assassinato em que:

- Um agricultor decapitado por uma foice apareceu numa aldeia no interior da China. Para
resolver o caso, chamou - se todos os agricultores da região, que poderiam estar relacionado
com o morto, recolheu – se e depositou - se as suas foices que usaram para seus trabalhos
até a altura da morte no chão e ao ar livre, num lugar protegido das pessoas, observando
que apenas um deles em que as moscas mais voaram para lá e acabaram por se
estabeleceram em sua lâmina por muito mais tempo chamando as outras e aumentando
ainda mais, o que levou à conclusão de que o proprietário dessa mesma foice era para ser o
possível assassino.

Isto porque as moscas foram atraídas pelos restos de sangue que haviam sido anexas a "arma"
do crime.

Existem vários relatos da aplicação e experimentação da Entomologia Forense e que deram


resultados satisfatórios, e o conceito desta remonta meados do século XIII.

No entanto, apenas nos últimos 30 anos é que a Entomologia Forense tem sido
sistematicamente explorada como uma fonte verossímil de evidência em investigações
criminais.

6
Song Ci - Era um advogado e investigador de morte que viveu na China no final do século XIII. Em 1248,
Song Ci escreveu um livro intitulado “A Expiação dos Males”. Neste livro são citados alguns casos nos quais ele
faz anotações da cena e elabora causas prováveis. Ele descreve detalhadamente como examinar um cadáver
tanto antes como depois de ser enterrado, além de explicar o processo de determinação da possível causa mortis.
O propósito do livro era ser usado como guia por outros investigadores para que pudessem explorar a cena do
crime efetivamente. Seu nível de detalhamento ao explicar o que havia observado estabeleceu os fundamentos
da Entomologia Forense moderna e é o relacto escrito mais antigo do uso desta com fins judiciais. 1 Este livro se
tornou popular e simboliza a primeira vez que o público geral se tornou ciente de que os insectos podem muito
bem ser usados em investigações criminais para identificar aspectos como IPM.

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Pelas suas observações da relação artrópodes/morte e experimentos, Song Ci, Francesco


Redi, Bergeret d´Arbois, Jean Pierre Mégnin e o médico alemão Hermann Reinhard
ajudaram a fundar os alicerces da Entomologia Forense actual.

Durante muitos anos, antes mesmo da Entomologia Forense ser a ciência que hoje é
conhecida, em certos ambientes, são pensados por certos curiosos pela arte de investigar de
que basta uma pessoa morrer que logo aparece em larvas, que servem para devorar o cadáver
e que aparecem do nada, descartadas todas as descobertas até hoje já realizadas, o que era
estranho na altura é que criaram a crença de que as larvas ou vieram de fora ou do próprio
corpo mesmo.

3.1. Francisco Redi


Estas crenças persistiram até que Francisco Redi7, naturalista renascentista que partiu a
busca provar de uma forma científica de que essas larvas vieram porque certos insectos é que
depositam seus ovos e que de seguida foram desenvolvendo sobre ou dentro do cadáver e que
de forma alguma existe uma relação entre esses insectos e o corpo a não ser somente o de
servir de hospedagem e alimentação.

Para isso, Francisco Redi realizou o seguinte experimento:


Expos ao ar libertar um grande número de experimentos (testes com pedaços de carne) e cada
um colocou uma peça de carne dentro de uma caixa, carne que variava de cru e cozida para
que as moscas fossem atraídas por diferentes cheiro, porém vindo a gerar em todas elas.

Descobriu que em um tipo de carne (cru) é que vieram antes as moscas e que desovaram na
presença de Redi, que assistiu esses ovos postos por certos insectos e que são estes os
primeiros a serem transformados em larvas, pupas e então, finalmente, indivíduos adultos
como os que vieram desovar.
Redi distinguiu quatro tipos de moscas:
- Moscas azuis (Calliphoridae vomitória);

7
Francesco Redi - Em 1668, o biólogo italiano Francesco Redi (1626-1697) desbancou a teoria de geração
espontânea. A teoria aceita na época de Redi alegava que vermes se desenvolviam espontaneamente de carne
apodrecendo. Em um experimento, ele usou amostras de carne em decomposição que estariam em um jarro sem
tampa, em um jarro com uma tampa de tela e um jarro com tampa completamente vedado. Foi constatado que
apenas o vaso exposto desenvolveu larvas de mosca. Essa descoberta mudou completamente o modo como as
pessoas viam a decomposição de organismos e incentivou estudos mais profundos no ciclo de vida de insectos e
Entomologia em geral. Enciclopédia da Google.

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- Listras cinza com moscas pretas (Sarcophaga Carnaria), voa semelhantes aos das nossas
casas (Musca domestica ou talvez stabulans Curtonevra) e
- Moscas verdes finalmente ouro (Lucilia caesar).

Mas é claro que tudo tem seu experimento e reeteste.


Para fazer isto, os mesmos alimentos foram colocadas em caixas, mas desta vez coberto com
uma gaze hospitalar (serve para fazer gessos), para que eles também ocorressem a
putrefacção, mas que as moscas não teriam acesso a elas ou teriam dificuldades de la
chegarem.

Redi foi observando durante um tempo e depois, obviamente, observou de que as gazes
passado um tempo se corromperam, putrificou – se a carne pelo tempo de exposicao e sem
conservantes, mas nas carnes não apareceram qualquer tipo de larva, não houve existência de
larvas, contudo pelo cheiro milhares de moscas, formigas e outros animais rodeavam a caixa.

Também observou de que as moscas fêmeas estavam tentando introduzir pela ponta do
abdómen das mesmas, o lugar onde guardam os ovos através da gaze e fazendo de tudo,
tentando de tudo para passar por ela para por directamente os seus ovos e que algumas
moscas em certas caixas conseguiram passar e conseguiram depositar os ovos e notou de que
havia várias fases larvais, mas as larvas vivas eram de só de duas espécies, dois dos quais
foram introduzidos através do tecido. Redi mostrou também de que certas espécies de moscas
cavaram o solo onde as caixas estavam e as minhocas sob quaisquer circunstâncias
começaram a penetrar nas carnes.
Porém os estudos eram ambíguos e sem muita consistência.

3.2. Bergeret
Foi só quando, Bergeret8 em 1805, começou a usar continuamente e em grande forma a
Entomologia Forense como uma grande ajuda na medicina legal e consequentemente
cientificou os seus estudos e as teorias que até hoje são usadas.

8
Bergeret d'Arbois - Dr. Louis François Etienne Bergeret (1814-1893) foi um clínico francês, e o primeiro a
aplicar entomologia forense em um caso. Em um relatório de casos publicado em 1855 ele descreveu ciclos de
vida geral para insectos e fez algumas conclusões sobre seus hábitos de acasalamento. É o primeiro relacto
documentado do uso de conhecimentos entomológicos como ferramenta para determinar o "post - mortem
interval" (PMI) (Intervalo Pós - Morte - IPM) num indivíduo.

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Ele, junto com Orfila e Redi, deram um grande contributo na realização de estudos que são o
ponto de partida para a aplicação do concurso Brouardel Megnin, que se expandiu e que
apresentou a Entomologia Forense de forma sistematizada.

3.2.1. Publicações de Bergeret


A primeira publicação foi em "O Diário de medicina hoddomaire et de chirugie" em um
artigo intitulado "De l'aplicação de l'entomologie légale Médicine à la" e, em seguida, numa
comunicação à Academia de Ciências, em 1887, sob o título "La Faune des Tombeaux."
Embora, o nascimento real da Entomologia médica - Legal (Forenses) ocorreu em 1894 com
a publicação de "A Fauna da Aplicação Cadáveres da Medicina Legal Entomologia."

Um livro que deu um grande impulso à ciência.

Diferentes grupos de artrópodes foram definidos por Bergeret (como professor) e Megnin
(como seu discípulo) como "os esquadrões da morte".

Segundo o autor, estes suportes são retirados selectivamente e com uma ordem precisa.
Tão preciso que a população de insectos no cadáver indica o tempo desde a morte.

Estudos posteriores mostraram que isso não é tão preciso, porém, pode desvendar mistérios
que sem tais estudos não era e é possível serem revelados e que mesmo que a sequência não
seja exacta pois depende de vários factores ambientais e técnicos, pode-se sim definir o IPM.

3.3. Jean Pierre Mégnin


Jean Pierre Mégnin (1828-1905), veterinário do exército, publicou livros como:
- “Faune des Tombeaux e La Faune des Cadavres”

Que são considerados dois dos mais importantes livros sobre Entomologia Forense da
história. Em seu segundo livro La Faune des Cadavres, ele revolucionou a teoria de etapas
previsíveis, ou sucessão de insectos em cadáveres.
Ao contar o número de ácaros vivos e mortos que se desenvolviam a cada 15 dias e
comparando e comparando com sua contagem inicial no cadáver, ele era capaz de estimar a
quanto tempo o indivíduo estaria morto.

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Nesse livro, ele afirmava que cadáveres expostos estavam sujeitos a 8 (oito) etapas
sucessivas, enquanto cadáveres enterrados apenas a 2 etapas.

Mégnin fez grandes descobertas que descreviam características gerais da fauna e flora da
putrefacção.

Seu trabalho e estudo em formas larvais e adultas de famílias de insectos achadas em


cadáveres desencadeou o interesse de futuros entomologistas e encorajou o patrocínio de
pesquisas da ligação de artrópodes/falecidos, portanto ajudando a estabelecer oficialmente
como disciplina científica a Entomologia Forense.

3.4. Hermann Reinhard


O primeiro estudo sistemático em Entomologia Forense foi conduzido em 1881, por
Hermann Reinhard (1816-1892), um médico alemão que teve papel vital na história da
Entomologia Forense.

Ele exumou cadáveres e demonstrou a relação do desenvolvimento de várias espécies de


insecto e corpos enterrados. Reinhard conduziu seu primeiro estudo no leste da Alemanha, e
colectou várias moscas Phoridae no estudo inicial.

Também concluiu que o desenvolvimento de apenas algumas espécies de insectos vivendo


sob a terra com cadáveres está associada a estes, pois havia besouros de 15 anos de idade que
tinham pouco contacto directo com os corpos.

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CAPÍTULO IV – ENTOMOLOGIA FORENSE E SUAS SUBCATEGORIAS

4. Subcategorias da Entomologia forense.

Para melhor estudo da Entomologia Forense houve a necessidade de especificar exactamente


em que campo de estudo cada um deveria caber, pois, por mais que um Entomólogo
estudasse o desenvolvimento larval não era suficiente para tirar conclusões certas, depende
muito os tais estudos dos locais onde os estudos estão a ser realizados, a temperatura, factores
ambientais, etc., por isso foi necessário subdividir as áreas de estudos para que fosse possível
encontrar – se respostas cabíveis para cada circunstancia e que se pudesse desenvolver as
ciências envolvidas em casa uma delas sem que houvesse interferência de uma com a outra
mas sim uma interligação.

Lord e Stevesson (1986), em Washington, classificaram essa ciência em 3 categorias


distintas: urbana, de produtos estocados e médico-legal.

 URBANA – inclui acções cíveis envolvendo a presença de insectos em imóveis,


danificando-os, como, por exemplo, a presença de cupins. Essa modalidade é muito
utilizada em acções envolvendo compra e venda de imóveis;

 DE PRODUTOS ESTOCADOS – trata-se da contaminação em grande extensão de


produtos comerciais estocados, como, por exemplo, o caruncho, que é uma espécie de
besouro que ataca os cotilédones do feijão;

 MÉDICO-LEGAL – é a categoria que mais nos interessa, visto que, envolve a área
criminal, principalmente, com relação à morte violenta. E é a essa categoria que se
dedica o presente trabalho.

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MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

4.1. Entomologia forense urbana


A Entomologia Forense Urbana e de Produtos estocados – O primeiro diz respeito à
infestação de pestes em construções ou jardins que podem ser base de litígio entre
particulares e prestadores de serviços como senhorios e detectizadores. Os estudos da
Entomologia Forense Urbana podem elucidar o tratamento pesticida apropriado, também
pode ser usada para investigar infestações em produtos armazenados. Ajudando, assim, a
determinar a cadeia de custódia9, até que todos os pontos da possível infestação sejam
examinados para determinar quem é o culpado. Já o segundo, Entomologia Forense de
Produtos Estocados, permite desvendar a proveniência de uma possível contaminação
alimentar através de um inquérito que parte desde o local em que foi confecionado o alimento
até ao local que foi produzido de forma a seguir toda a cadeia de comercialização do produto
comercializado e descobrir qual foi a etapa deste processo que culminou com uma má gestão
de armazenamento e estocagem de um certo produto que levou a sua contaminação por
exemplo por besouros e que fez com que naquele produto se propaga – se bactérias com
Estreptococos Aereus, causador de diarreias e vómitos.

4.2. Entomologia forense médico-legal


A Entomologia Forense Médico-Legal - estuda evidências susceptíveis baseada em estudos
de artrópodes (como as moscas domesticas) em eventos como assassinato, suicídio, estupro,
abuso físico e contrabando. Em investigações de assassinato, faz a ligação entre insectos que
depositam ovos num corpo humano para saber quando e onde o fez, e em que ordem
aparecem nos cadáveres. Dito isso, pode ajudar a determinar o Intervalo Post - Mortem (IPM)
e o local da morte em questão. Como a maioria dos insectos, tais exibem um certo grau de
endemismo10 (só existem em determinados locais), ou uma fenologia bem definida (activos
somente em uma dada estação, ou etapa do dia), sua presença associada a outras evidências
pode demonstrar potenciais ligações a tempo e local de onde o evento pode ter ocorrido.

9
Cadeia de custódia - é um processo de documentar a história cronológica da evidência, esse processo visa a
garantir o rastreamento das evidências utilizadas em processos judiciais, registrar quem teve acesso ou realizou
o manuseio desta evidência. É a sistemática de procedimentos que visa à preservação do valor probatório da
prova pericial caracterizada. - NASCIMENTO, Luciara J. M.; Márcia V. F. D. L. dos SANTOS (2005). Cadeia
de Custódia. Revista Científica de Polícia Técnica da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, ano 2, nº 6,
pág. 17, Dezembro de 2005. Página visitada em 27 de Junho de 2014.
10
O endemismo - é o resultado da separação de espécies, que passam a se reproduzir em regiões diferentes,
dando origem a espécies com formas diferentes de evolução. O endemismo é causado por mecanismos de
isolamento, alargamentos, movimentação de placas tectônicas. Por exemplo, devido à deriva continental, as
espécies de Madagáscar ou da Austrália são exemplos flagrantes de endemismos - Cláudio J. B. de Carvalho.
Biogeografia da América do Sul: Padrões e Processos - São Paulo: Editora Roca, 2010.

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MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

Outra área coberta pela Entomologia Forense médico-legal é o campo relativamente novo de
entomotoxicologia (ligação entre a Entomologia a Toxicologia). Este ramo particular envolve
a análise de espécimes entomológicos encontrados em uma cena de crime com o intuito de
buscar por diferentes drogas ou substâncias que possam ter tido um papel na morte da vítima.

4.2.1. Origem
Os manuais de Medicina Legal que citam Entomologia Forense referem-se a sua primeira
aplicação como ocorrida em 1235 como já citou – se, nas notas introdutórias, na China,
baseados em um manual chinês, escrito por Sung Tz’u, intitulado “The washing away of
wrongs”.

Como já se referenciou – se, no livro o Sung Tz’u citou um caso de um homicídio perpetrado
com uso de instrumento de acção cortante, cujos investigadores, na busca de vestígios na
vizinhança, localizaram uma foice em torno da qual sobrevoavam moscas, possivelmente,
atraídas pelos odores exalados pelos restos de substâncias orgânicas ali aderidas e
imperceptíveis a olho nu.

Em vista disso, o proprietário da foice foi interrogado pela polícia, levando-o a confessar a
autoria do crime (apud McKnight, 1981). Contudo, a literatura especializada em Entomologia
atribui a primeira utilização dessa ciência a Bergeret, em 1855, na França, pois ele foi o
primeiro a utilizar, conscientemente, insectos como indicadores forenses.

Neste caso foi encontrado o corpo de uma criança oculto no piso, coberto por uma capa de
gesso, no interior de uma residência. Ele indicou um Intervalo Post - Mortem extenso através
da associação da fauna encontrada com o estágio de decomposição do cadáver, e como os
moradores residiam no imóvel há poucos meses, as investigações e suspeitas dirigiram-se aos
habitantes anteriores da casa.

Essa ciência, porém, só se tornou mundialmente conhecida após 1894, com o célebre trabalho
de Mégnin o qual publicou, na França, o livro “La faune des cadavres”. Nesse livro, ele
divide os insectos que visitam os cadáveres em oito legiões distintas, que se sucedem de
modo previsível no processo de decomposição, com duração de cerca de três anos.

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MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

Essas legiões são, ainda hoje, muito divulgadas em livros de Medicina Legal, porém, apesar
de este trabalho ter sido um marco genial na história dessa ciência e uma grande descoberta
quanto ao padrão de sucessão de insectos europeu, esses dados não podem ser aplicados em
Moçambique, pois as espécies podem ser caracterizadas de forma diferente devido
principalmente pela variação climática.
Nosso clima é tropical e vária, o que conduz a um processo de decomposição muito mais
veloz do que o europeu por exemplo, além de que algumas das espécies verificadas aqui não
ocorrem em países de clima temperado.

No início do século XXI, alguns pesquisadores brasileiros, cujo clima não difere muito do
nosso país, realizaram pesquisas nesta área e apesar de obterem bons resultados enfrentaram
uma série de dificuldades devido à carência de dados taxonômicos, biológicos e técnicos.

O que faz perceber de que se não abarcarmos com força e vontade esta arte, podemos na
altura de decidir – se iniciar estarmos num patamar completamente atrasado, o que dificultara
o processo, esta é sem duvida uma arte que requer um financiamento a longo prazo, porem,
Moçambique pode negociar com os países como Estados Unidos da América para
desenvolver a arte, isso porque, tais países também desejam ver a arte em desenvolvimento.

4.2.2. Aplicações nos casos de morte violenta


Conhecimentos entomológicos podem ser utilizados para revelar o modo e a localização da
morte do indivíduo, bem como mais frequentemente, estimar o tempo de morte (Intervalo
Post - Mortem – IPM).

4.2.3. Local da morte


Baseado na distribuição geográfica, habitat natural e biologia das espécies colectadas na cena
da morte, é possível verificar o local onde a morte ocorreu.

Por exemplo, certas espécies de dípteros da família Calliphoridae são encontradas em centros
urbanos. E, em vista disso, a associação dessas espécies a corpos encontrados em meio rural
sugere que a vítima tenha sido morta no centro e levada para o ponto onde foi encontrada.
Da mesma forma que, algumas moscas apresentam habitat específico, além de distinta
preferência em realizar postura em ambientes internos ou externos, e até mesmo, em
diferentes condições de sombra e luz.

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4.2.4. Modo da morte


Drogas e tóxicos presentes nos corpos afectam a velocidade do desenvolvimento de insectos
necrófagos. Cocaína, heroína, “methamphetamina”, “amitriptylina” e outros metabólitos têm
mostrado efeitos no desenvolvimento das larvas e da decomposição, podendo indicar um caso
de morte por ingestão de dose letal dessas substâncias (“over dose”) (Goff , 1989).11

Pela voracidade das larvas, os fluidos do corpo e partes macias necessárias para as análises
toxicológicas desaparecem, sendo então, necessário identificar esses medicamentos e
substâncias tóxicas no corpo de larvas de insectos necrófagos que se alimentaram desses
cadáveres contaminados (Goff, 1989).

Podendo, também, a presença de certas substâncias, como o arseniato de chumbo e o


carbonato de diferentes substâncias, impedir a colonização do cadáver por certos insectos
necrófagos (Goff, 1989).

4.2.5. Intervalo Post - Mortem (IPM)


Na medicina legal uma das questões mais críticas reside em “Quando a morte se deu?”

A determinação do Intervalo Post - Mortem é, frequentemente dada por patologistas e


antropólogos forenses e, raramente um entomólogo é consultado (Goff, 1991).

Circunstâncias intrínsecas e extrínsecas fazem variar a marcha e a fisionomia particular dos


fenómenos putrefactivos.

Desta forma, não se pode imaginar um problema que é de mais difícil solução e que exija
maior reserva dos peritos do que a cronologia da morte.

Para responder a esse quesito, os Peritos podem se valer da evolução da rigidez cadavérica,
resfriamento do corpo, livores cadavéricos, evolução das fases de decomposição e, mais
recentemente, da fauna cadavérica. Normalmente, nos métodos tradicionais, o IPM e a sua
estimativa são inversamente proporcionais, isto é, quanto maior for o IPM, menor é a
possibilidade de acurada determinação. Porém, com auxílio de conhecimentos
entomológicos, quanto maior o intervalo mais segura é a estimativa (Goff, 1987).
11
GOFF, Klein, Over doses, 1990, EMBO J. 9 PP 2517-2522.

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O método entomológico pode ser muito útil, sobretudo, com um tempo de morte superior a 3
dias.

Das técnicas de cronotanatognose como relatório policial, necropsia, e entomológica,


estatisticamente, a entomológica é a mais eficiente (Goff , 1987).

O Intervalo Pós - Morte (IPM) corresponde ao período de tempo entre a ocorrência da morte
e o momento em que o corpo é encontrado. Em casos de morte suspeita, a estimativa do IPM
tem importância na reconstrução de eventos e de circunstâncias da morte, na conexão do
suspeito à cena do crime ou à vítima e no estabelecimento da veracidade das informações
fornecidas por testemunhas. O IPM também tem aplicações na área cível, em casos de morte
natural, acidental ou suicídio, por ter implicações em questões de herança (GREENBERG,
2002).

A estimativa do IPM por métodos entomológicos baseia-se em padrões conhecidos de


sucessão de insectos e no estágio de desenvolvimento dos insectos imaturos colectados no
corpo em decomposição (VOSS et al., 2011). Portanto, o conhecimento dos factores que
podem interferir na decomposição e na colonização do cadáver é de suma importância para o
estabelecimento do IPM com precisão.

O modelo mais aceito para o cálculo do IPM é o linear, também chamado grau - dia
acumulado (GDA), no qual são relacionados o tempo transcorrido para o desenvolvimento do
insecto e a temperatura a que o insecto foi submetido.

A multiplicação destes dois factores fornece a quantidade de energia ou calor acumulado que
é requerido para completar etapas do ciclo de vida do insecto (OLIVEIRA-COSTA, 2008).

Nas fases iniciais da decomposição, a estimativa do IPM é realizada com base no estágio de
desenvolvimento mais adiantado dos espécimes encontrados no cadáver (SMITH, 1986),
geralmente, representados pelas larvas de moscas mais crescidas obtidas no corpo.

Estas são então criadas até a fase adulta em condições controladas de temperatura e humidade
para a identificação da espécie e estimativa da idade das larvas colectadas por meio da
aplicação do cálculo do grau dia acumulado, considerando as condições de temperatura do

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local e dados da literatura sobre o tempo de desenvolvimento da espécie analisada


(OLIVEIRA-COSTA, 2008).

Assumindo - se que a chegada das moscas e oviposição ocorreram logo após a morte, a idade
do exemplar mais velho colectado reflecte o IPM mínimo. Para corpos em adiantado estado
de putrefacção, a estimativa do IPM envolve a análise da composição da entomofauna
cadavérica de acordo com um padrão de sucessão entomológico previamente estabelecido em
estudos que retratem as mais precisamente possíveis as mesmas condições em que o corpo foi
encontrado, considerando região, clima e circunstâncias da morte (OLIVEIRA-COSTA,
2008).

O principal objectivo deste trabalho foi analisar, entre as diferentes subáreas de produção de
trabalhos dentro da Entomologia Forense, as principais variáveis avaliadas ou identificadas
nos trabalhos científicos analisados que influenciam a estimativa do IPM, com a finalidade de
sistematizar os dados obtidos nestes estudos.

Dada a grande relevância da ordem díptera como evidência entomológica, este trabalho
concentrou-se mais em dados sobre espécies deste grupo. Com isso, pretende-se desenvolver
uma fonte de consulta sobre o tema, além de tecer considerações e apontamentos sobre
aspectos que deveriam ser explorados em novas pesquisas, considerando principalmente
publicações mais recentes.

4.2.6. Outras aplicações


4.2.6.1. Entorpecentes
Identificar a origem da Cannabis sativa (droga - maconha), com base na identificação dos
insectos acompanhantes da droga que, no momento da prensagem do vegetal, ficaram ali
retidos, traçando a rota do tráfico através da distribuição geográfica dos mesmos (Goff ,
1987).

4.2.6.2. Maus tratos

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A ciência pode, ainda, ser utilizada em casos de maus tratos a crianças. É possível precisar o
número de dias, durante os quais, o bebê foi privado de cuidados de higiene baseando-se na
determinação da idade das larvas de moscas achadas nos cueiros e camas. (Goff , 1987).

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CAPÍTULO V – RESULTADOS

5.1. Estádios de decomposição

Para se fazer um estudo a partir da decomposição é preciso que ao longo do período de


amostragem, sejam retiradas fotos diariamente para se poder realizar a caracterização e
descrição das alterações sofridas pelo cadáver seja ele por exemplo de porco doméstico.

Através da análise directa das fotos (ver fígura 3), conseguiu-se observar o período crítico das
alterações ocorridas nas condições físicas do cadáver (ver tabela 1).

5.2. Resultados:
Para a demonstração de dados usou – se os dados que constam do estudo apresentado pela
Dra. Ana Maria de Almeida Marques no seu livro “Entomologia forense:

“Análise da entomofauna em cadáver de sus scrofa (LINNAEUS), na região de Oeiras, em


Portugal.”

5.3. Dados recolhidos:


- No primeiro dia, o cadáver apresentava-se fresco, sem sinais externos de alterações em
relação à hora da morte.
- No dia seguinte, houve uma precipitação do sangue, o que levou à formação do livor mortis,
isto é, uma ruborização do cadáver nas zonas de contacto com o solo. Nesta altura também
era visível o rigor mortis.
- Do terceiro ao oitavo dias, observou-se o início da decomposição, com o início da formação
de gás no interior do cadáver e com uma colonização de insectos mais acentuada.
- Ao nono dia, a produção de gás no interior do cadáver aumentou muito e começou-se a
observar a presença de manchas verdes, especialmente na zona de contacto do cadáver com o
solo e na zona do tórax entre os membros anteriores e posteriores.
- O odor a decomposição intensificou-se a partir do 30º dia.
- Começou-se também a notar a presença de larvas no interior do cadáver, os tecidos moles
dos orifícios naturais de entrada (língua, olhos, genitais) começaram a desaparecer.
- No 37º dia, notou-se a exposição dos tecidos vermelhos e um escape dos gases do interior
do cadáver.

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- O odor a decomposição atinge o seu máximo.


- Até ao 45º dia houve a exposição de mais de 80% do cadáver ao ambiente, sendo visíveis os
agregados de larvas particularmente nas zonas do tórax e coxas.
- Deu-se o início da migração das larvas, uma vez que estas começaram a ser observadas na
zona circundante da armadilha.
- A partir do 46º dia iniciou-se a última fase de decomposição observada, onde os tecidos
vermelhos começaram a desaparecer e a secar, as larvas continuaram a sua migração para
longe do cadáver, enterrando-se no substrato ou na camada de folhas secas sobre o solo.
- O odor a decomposição desapareceu gradualmente. O esqueleto começou, pouco a pouco a
tornar-se mais visível, sendo, já no fim do período de amostragem bastante evidente a
secagem dos tecidos vermelhos e a permanência da epiderme ressequida sobre o esqueleto do
animal.

Figura 3 – Fotos ilustrativas das principais alterações sofridas pelo cadáver em cada estádio
de decomposição. a) Estádio inicial; b) Estádio de Putrefacção; c) Estádio de Putrefacção
escuro; d) Estádio de Fermentação butírica
Fonte: (foto de A. Marques).

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Tabela 1 – Duração dos diferentes estádios de decomposição no cadáver de porco doméstico,


através da observação das fotografias diárias do local de amostra.
Estádio de decomposição Intervalo de cada estádio Dias em cada estádio
Inicial (fresco) Dia 1 a 8 8
Putrefacção Dia 9 a 36 27
Putrefacção escura Dia 37 a 45 7
Fermentação butírica Dia 46 a 64 18
Seco Não se apresentou 0

Fonte: UNIAC.

Ainda em relação aos diferentes estádios de decomposição, viu-se que o estádio onde foi
recolhido um maior número de famílias (39 famílias de várias classes) (ver tabela 2) foi no
estádio de putrefacção.

Este estádio foi o que ocupou o maior intervalo de tempo (27 dias), correspondendo ao
aparecimento das massas larvares e à maior destruição do cadáver.

Embora o número de famílias recolhidas possa ser semelhante entre si, cada família
evidenciou uma diferente atracção para cada estádio de decomposição.

Portanto, a análise da percentagem de famílias atraídas em cada estádio e qual a sua


representação nos outros estádios é importante para a caracterização da fauna sarcosaprófaga.

Quando se relacionam os diferentes estádios de decomposição, em relação ao número de


famílias atraídas em cada um deles, observa-se que existe uma relação significativa (63%)
entre o estádio inicial e o estádio de putrefacção, ou seja, 63% das espécies presentes no
estádio inicial também estão presentes no estádio de putrefacção.

Já a relação contrária apresenta apenas uma percentagem de 31% (ver tabela 2).

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Tabela 2 – Número (abundância) total e percentagem (%) de famílias atraídas ao longo dos
diferentes estádios de decomposição.
Total de % de famílias atraídas noutros estádios de decomposição
Estádio de famílias
Inicial Putrefacção Fermentação
decomposição por Putrefacção
(fresco) escura butírica
estádio
Inicial (fresco) 19 100 31 29 32
Putrefacção 39 63 100 82 82
Putrefacção
28 42 59 100 75
escura
Fermentação
28 42 59 75 100
butírica

A putrefacção escura e a fermentação butírica apresentam percentagens baixas (29 e 32%,


respectivamente) em relação ao estádio inicial.

Das 19 famílias presentes no estádio inicial, apenas uma pequena percentagem (entre 29 e
32%) aparece nos restantes estádios.

No estádio de putrefacção estão presentes 39 famílias, das quais 82% também foram
capturadas nos estádios seguintes (putrefacção escura e fermentação butírica).

Este estádio é o que apresenta o maior número de famílias e é o período em que estas
começam a ser mais atraídas para o cadáver, permanecendo no estádio de putrefacção escura.

As 28 famílias dos estádios de putrefacção escura e fermentação butírica estão representadas


por 42% no estádio inicial, 59% no estádio de fermentação e 75% nos estádios subsequentes.

Estes dois últimos estádios não apresentam diferença na percentagem de famílias atraídas
entre si, o que significa que as 28 famílias recolhidas estão, na sua grande maioria, presentes
nestes dois estádios.

Isto significa que existe uma sequência quase que exacta, da chegada dos insectos em termos
de famílias, quando é que aumenta e quando é que diminui, contudo é preciso salientar que
outros factores podem ter influenciado como é o caso da temperatura.
Para determinar o IPM depende realmente da determinação da actividade dos insectos que
vem ao encontro do cadáver, mais a determinação do tempo de por si (Goff, 1993).

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Assim, é possível, em certos casos, que os dados fornecidos pelo Entomologista não
coincidam com os dados fornecidos pelo médico legista que realizou a autópsia.

Isto pode acontecer ou porque os insectos não colonizaram o corpo nos primeiros dias após a
morte ocorrer (lugares difíceis de penetração para insectos, casas, janelas, lugares
perfeitamente fechadas, etc.), ou, por exemplo, em casos de negligência e maus-tratos em
crianças e idosos podem ser feridas e lesões ou por falta de higiene.

Pode ser que são colonizados por insectos antes da morte da pessoa ocorrer, isto é, ainda em
vida “entre vivus”, portanto, para a correcta estimativa do Intervalo Pós - Morte (PMI)
utilizando Entomologia Forense deve – se levar em conta que cada caso é único e diferente
dos outros.

Embora o processo de seguir uma sequência geral de eventos que é:


 Determine de facto a fase ou estado físico de decomposição em que o corpo é
encontrado.
 Realizar um estudo de profundidade de tipos de insectos encontrados no corpo, bem
como recolhidas sob ele, em torno dele, para descartar a possibilidade de que o corpo
foi movido de um lugar para outro.
 Se tiver qualquer razão, para um exame mais aprofundado dos vestígios, faça, tanto
das áreas circundantes, o que será necessário tendo o principio de que ainda nao ficou
claro os dados.
 Organizar os espécimes colectados, tanto dos restos da cena com a maior precisão
possível.
 Nos corpos encontrados ao ar livre, é essencial colectar os dados como temperatura,
precipitação, nebulosidade, etc.
 Além de factores como vegetação, arborizado, terreno irregular, etc.
 Para os casos de serem encontrados cadáveres no interior de um lugar também é
necessário registar a temperatura, a existência de aquecedores automáticos, a posição
do corpo em relação às portas e janelas, bem como quaisquer outros detalhes que você
pode constatar, as informações sobre como e quando os insectos cadáveres chegaram
é de carácter importante.

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5.4. Fase inicial da putrefacção:


As questões que se levantam são:
Como e quando esses insectos chegam a alcançar o corpo e como elas se desenvolvem na
mesma? São as perguntas a fazer por qualquer um que esteja interessado em Entomologia
Forense.

A estoria começa da seguinte forma:

As primeiras ondas de insectos chegam a carcaça (cadáver) atraídas pelo cheiro dos gases
liberados no processo de degradação imediata, logo após a pessoa morrer, (degradação de
carbohidratos, lipídios e proteínas), gases tais como o amoníaco (NH3) que deveria ser liberto
através da urina, ácido sulfúrico (SH2) pela urina e pelo suor, azoto disponível (N2) e dióxido
de carbono (CO2) já que as vias respiratórias ficaram congestionadas pela retracção dos
músculos por não haver estímulos, já que o cérebro parou de exercer a sua função.

Esses gases são detectados pelos insectos, principalmente as moscas (curiosas) muito antes
do nariz humano perceber porque ainda em vida quotidiana libertamos tais gases, mas em
pequenas quantidades.

As pessoas em fase de paragem ou colapso dos sistemas cardio - respiratório ou com défice
do mesmo têm a tendência de começar a liberar com maior quantidade ou percentagem
desses gases, tanto no leito da morte como em casos de doenças graves (HIV).

Tradicionalmente as moscas das famílias de Dipteras são mencionadas como os primeiros


colonizadores de corpo, onde esses insectos desempenham uma parte importante do seu ciclo
de vida. Eles são as primeiras onda de vampiros que aparecem imediatamente após a morte.

Eles são representados por moscas pertencentes às famílias Calliphoridae (Calliphora vicinia)
e muitas vezes Sarcophagidae (Sarcophaga carnaria).

Estas moscas têm um ciclo de vida que deve ser conhecido em vários estágios e
características de duração, para fins de namoro.

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As fêmeas destas famílias, muitas vezes colocam seus ovos nos orifícios naturais do corpo,
como olhos, nariz e boca, bem como as possíveis lesões que podem ter o corpo.

Os ovos são aproximadamente de um a dois milímetros de comprimento e tem um período


embrionário curto.

A fase de ovo dura geralmente entre 24 e 72 horas de duração, dependendo da espécie.

Esses primeiros ovos podem fornecer informações importantes para o pesquisador, sua
análise de seu desenvolvimento embrionário pode refinar e definir o tempo de oviposição, e,
assim, o tempo de morte, o número de ovos depende do estado nutricional da fêmea e
tamanho do corpo.

Os resultados indicam de que se dois corpos estão expostos ao mesmo tempo, um com lesões
ou trauma e um sem, aquele que apresenta lesões se decompõe muito mais rápido do que o
que não apresenta, isto porque a maioria das moscas são atraídas para as feridas, não que as
feridas liberam gases acima referenciados, mas sim porque a consertarão de bactérias é maior
e a colocação de ovos não apresentam dificuldades.

Também não devemos descartar o lugar ou área que estabelece o contacto directo com o
corpo, com o substrato, possivelmente porque esta é a área de onde os fluidos corporais saem,
o qual fornece uma humidade adequada e uma temperatura mais estável.

Temos que ter em conta que os ovos postos em um cadáver normalmente eclodem de uma só
vez, o que resulta numa massa de larvas que se movem como um todo, dentro do mesmo
corpo.

As larvas são brancas, afunilada, sem pernas e formado por 12 segmentos.

Logo que nascido, entram imediatamente nos tecidos subcutâneos, pela liquidificação dos
tecidos graças a bactérias e enzimas, os tecidos serviram de alimentos por sucção contínua.

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Quando as larvas terem completado o seu crescimento e deixará de ter como alimentação a
carcaça e as dobras do corpo e se escondem nos vestuário ou em lugares longe do corpo, onde
se tornam em pupas.

O crescimento e transformação em pupa também variam de acordo com cada espécie, com
condições de campo e dependem da causa da morte e do tipo de alimentação.

Existem inúmeras referências à chegada antecipada do Diptera no corpo, uma vez que a
morte ocorreu em várias circunstâncias.

Há também referências específicas da presença de larvas nos corpos colocados ainda vivos,
pela existência de feridas abertas ou processos inflamatórios purulentos.

As larvas que eclodem em corpos vivos também, no primeiro momento de vida elas se
alimentam de tecido necrosado (morto), causando rompimento de vasos sanguíneos e
aumentando assim a extravasculação e necrose múltipla e sua contínua alimentação. Portanto,
a presença de uma recente callifóridos nesses cadáveres é inevitável, principalmente se o
corpo estiver exposto as tais moscas.

Qualquer ausência de uma das etapa, como encontrar pupas vazias, no caso de encontrar
adultos mortos, deve obrigar aos pesquisadores a formular certas hipóteses como as
seguintes:
a) Que o corpo foi transferido e, mesmo neste caso alguma outra dessas moscas seriam
encontradas e haveria de apresentar diferentes tipos de estádios larvais.
b) Que o lugar da morte é suficientemente escuro e inacessível para estas grandes
moscas o que é improvável isto porque os callifóridos estão sempre dentro de uma
casa durante todo o ano, principalmente em África.
c) Os restos mortais de Diptera desapareceram pela acção do necrófilo (predadores ou
parasitas de Ghouls) ou animais (aves insectívoras, formigas, vespas).

Isso não acontece quase nunca por completo, a menos que o Intervalo Pós - Morte seria
muito longo. E mesmo nestes casos, tem que ter em mente que a cutícula de artrópodes é
praticamente indestrutível, pode permanecer por milhares de anos.

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MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

d) Que o corpo tenha sido impregnada com produtos repugnatórios aos insectos, que
impediam o acesso das primeiras ondas de insectos por um período de tempo.

Nestes casos, continuam a ser exibidos ou visíveis vestígios no corpo de tais produtos, como
arsénio, chumbo ou formaldeído, difíceis de serem decompostos e grandes inibidores de
certos insectos.
Os insectos mais valiosos para a Entomologia Forense são, sem dúvida alguma, as moscas
varejeiras (da família Calliphoridae), pois são geralmente as primeiras a colonizar um corpo
após a morte, muitas vezes num espaço de horas.

Imagem 3: Fases de crescimento da mosca, desde a larva até uma mosca adulta, o ciclo de
vida de uma mosca varejeira Calliphorídae (no sentido horário, da esquerda em baixo):
adultos, ovos, larvas de primeiro estádio, larvas de segundo estádio, larvas de terceiro estádio,
pupários contendo pupas. (Benecke 2004).

Fonte: (Benecke 2004).

Por conseguinte, a idade das moscas varejeiras mais velhas constitui a prova mais precisa do
IPM. Muitas outras espécies de moscas, escaravelhos, vespas, dentre outros insectos e
animais de outras espécies estão associadas directamente aos cadáveres, constituindo uma
sucessão de insectos a colonizar o corpo em decomposição, mas como tendem a chegar
depois das moscas varejeiras são menos úteis na determinação de um IPM.

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A colonização de cadáveres humanos por moscas varejeiras é um resultado natural do papel


das mesmas como decompositores primários. A presença de larvas de mosca em cadáveres
torna-se evidente para qualquer pessoa, basta que encontre um animal morto durante um
passeio no campo ou em outras actividades do dia – à - dia. Estas infestações larvais podem
parecer nojentas ao olho nú e no primeiro momento, mas são sem duvida alguma, um
componente vital da reciclagem natural de matéria orgânica e, em cadáveres humanos e
podem fornecer pistas vitais para a hora e causa de morte.

As varejeiras estão bem adaptadas para detectar e localizar as fontes de odores de


putrefacção, por isso encontram rapidamente os cadáveres.

A postura ocorre geralmente nos orifícios naturais (ex.: olhos, nariz, boca, ouvidos) ou
noutros locais escuros e húmidos, tais como dobras de ropa ou simplesmente debaixo do
corpo. Os ovos eclodem, nascendo larvas de primeiro estádio que crescem rapidamente,
sofrendo duas mudas para passar pelo segundo e terceiro estádios até pararem de se
alimentar.

Conforme a espécie, podem transformar-se em pupas no cadáver ou afastar-se em busca de


um local apropriado. Podem deslocar-se vários metros antes de se enterrarem no solo ou
debaixo de objectos como rochas ou troncos ou, dentro de casa, debaixo de tapetes e mobília.
Então, a larva contrai-se e a cutícula endurece e escurece, formando o pupário em forma de
barril, no interior do qual a pupa sofre metamorfose, transformando-se numa mosca adulta.
Quando a mosca emerge, a cápsula vazia do pupário fica para trás como prova duradoura do
seu desenvolvimento.

Em todos os insectos, a taxa de desenvolvimento depende directamente das condições


ambientais, sobretudo da temperatura. Entre limites superiores e inferiores, que variam entre
espécies, quanto maior a temperatura mais rapidamente os insectos se desenvolvem; quanto
mais baixa a temperatura mais lentamente se desenvolvem (ver gráfico).
Se a temperatura ambiente durante o período de desenvolvimento for conhecida, então,
teoricamente, pode determinar-se o IPM mínimo.

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Contudo, existem muitos factores adicionais que afectam a taxa de desenvolvimento de larvas
num cadáver:
 Temperatura (que pode depender da localização geográfica, exposição dentro ou fora
de casa, sol ou sombra, altura do dia e estação do ano)
 Calor gerado pela “massa larval”’
 Fonte alimentar (tipo de tecido, por exemplo: fígado, coração, pulmões)
 Contaminantes and toxinas (externos e internos)
 Enterramento ou outras obstruções (ex.: sacos de plástico, água) que dificultam o
acesso e postura aos insectos adultos.

O grau de envolvimento de um entomólogo forense num caso vária. Pode deslocar-se


pessoalmente ao local do crime para recolher espécimes de insecto do cadáver ou das
redondezas. Esta é a situação ideal, pois assim pode utilizar o seu conhecimento da biologia e
comportamento dos insectos para se certificar de que é recolhido o máximo de espécimes
possível e para ajudar na interpretação dos resultados.

Em alternativa, o entomólogo pode recolher espécimes durante o exame post - mortem e


observar fotografias do local do crime ou visitá-lo após a remoção do corpo.
Por fim, os espécimes podem ser recolhidos pela polícia, por exemplo, de preferência depois
de consultar o entomólogo via telefone. Neste caso, fotografias do local do crime e do exame
post - mortem serão mais tarde mostradas ao entomólogo.

Ao investigar uma morte suspeita, as principais perguntas a que um entomólogo forense tem
de responder são:

Que espécies de varejeira estão presentes no corpo?


Os espécimes recolhidos têm de estar correctamente identificados, para que possa ser
utilizada toda a informação relevante acerca da fisiologia, comportamento e ecologia da
espécie. A resposta a esta questão é dada pela taxonomia, uma das ciências naturais mais
negligenciadas, mas que é a base para todas as outras.
Quais os mais velhos espécimes de varejeira?
Podem ainda estar a alimentar-se no corpo; podem ter deixado o cadáver para se transformar
em pupa noutro local; ou podem já ter emergido como adultos, deixando para trás as cápsulas
de pupário vazias.

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Qual a idade dos espécimes mais velhos?


A estimativa da idade envolve estudos morfológicos detalhados recorrendo a um microscópio
binocular, para determinar o seu estado de desenvolvimento e para o comparar com dados
standard relacionando estado de desenvolvimento e idade a diferentes temperaturas (ver
próxima questão).

Quais eram as temperaturas-ambiente no local quando as moscas se estavam a desenvolver


no cadáver?
Coloca-se um registador electrónico de temperatura no local do crime durante sete a dez dias,
e comparam-se as leituras com dados da estação meteorológica local para o mesmo período.

Esta comparação pode ser utilizada, juntamente com os dados da estação meteorológica para
o período anterior à descoberta do corpo, para estimar as temperaturas no local do crime
durante esse período.

Assim, determina-se a temperatura a que as larvas se desenvolveram.


A Entomologia Forense é uma ciência relativamente nova, por isso existem ainda muitas
áreas em que é necessária mais investigação. Estão actualmente a realizar-se estudos de ADN
para determinar diferenças genéticas entre espécies de mosca e também entre populações da
mesma espécie, o que poderá ajudar a determinar se um corpo foi movido após a primeira
infestação.

A extracção e análise do aparelho digestivo de larvas que tenham estado a alimentar-se de um


cadáver humano poderá ajudar a verificar a existência ou não de drogas no corpo, indicando
um possível suicídio ou overdose. Resíduos de pólvora no aparelho digestivo das larvas
indicariam um tiroteio mesmo quando as provas físicas já não existem. É até possível que
pudesse extrair-se ADN humano das larvas, demonstrando a presença de um corpo mesmo
depois de ter sido removido, deixando as larvas para trás.
As espécies mais comuns de varejeira encontram-se durante todo o ano, mas os efeitos do frio
nos diferentes estados de vida das varejeiras têm sido pouco estudados.

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Um maior conhecimento desta questão seria valioso, uma vez que a baixa taxa de
desenvolvimento em períodos frios permite fazer estimativas de IPM muito mais tempo
depois da morte, contrariamente ao que é possível no Verão.

Mais investigação contribuiria para melhorar a acuidade e robustez das reconstruções de


casos baseadas na Entomologia Forense.

5.5. Imagens térmicas

Cientistas no Museu de História Natural de Londres estão agora a começar a explorar a


dinâmica térmica das massas larvais, usando fotografia de infra-vermelhos. Pode medir-se a
temperatura de larvas individuais de varejeira (em baixo à esquerda). O bácoro nado-morto
(direita) parece não ter sido tocado por insectos numa fotografia normal, mas a imagem
térmica sugere uma massa larval activa nas zonas da garganta e peito (em baixo à direita)
causando um aumento de temperatura onde as larvas se alimentam.

Figura 4: Porco do
tipo bácoro, nado-
morto.

Fonte: (Benecke 2004).

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Figura 5 e 6: Massa larval no bácoro, evidenciada por imagens térmicas e temperatura de


larva individual de varejeira, medida recorrendo a imagens térmicas.
Fonte: (Benecke 2004).

O conhecimento dos interferentes que podem alterar as fases de decomposição, a colonização


e a sucessão das espécies no cadáver constitui outro requisito para a estimativa do IPM de
forma confiável. Estes factores, que seguem elencados sumariamente na tabela 3, podem
influir basicamente na duração das fases de decomposição cadavérica, no acesso das espécies
necrófagas ao corpo para oviposição, no tempo de desenvolvimento das espécies desde a
eclosão das larvas até a emergência dos adultos e na composição da entomofauna.

5.6. Condições Climáticas


A temperatura constitui o principal factor que influencia a velocidade de decomposição e de
colonização do corpo, devido à sua grande influência sobre a putrefação e a actividade dos
insectos.

Na estimativa do IPM, o cálculo do mesmo, é sem duvida um reflexo da imperatividade do


factor temperatura no desenvolvimento dos insectos.

5.6.1. Temperaturas muito baixas


Temperaturas muito baixas como do deserto do sahara, no continente africano, no corno de
africa, preservam de certa forma o corpo dos fenômenos putrefactivos, isso devido à inibição
da actividade da microbiota (afasta as barcerias, vírus, fungos e outros microseres), além de
interferir directamente na actividade e na taxa de desenvolvimento dos insectos, uma vez que
estes são animais pecilotérmicos12.

5.6.2. Temperaturas muito altas

12
São animais de temperatura variáveis.

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O mesmo acontece quando se trata de temperaturas muito altas como o caso das temperaturas
polares, preservam de certa forma o corpo dos fenômenos putrefactivos, isso devido à
inibição da actividade da microbiota (afasta as barcerias, vírus, fungos e outros microseres),
congelando as vezes no total o corpo, além de interferir directamente na actividade e na taxa
de desenvolvimento dos insectos, uma vez que estes são animais pecilotérmicos, houve casos
como o do achado do antepassado dos elefantes, um filhote de um mamunte em um estado de
conservação altíssima que pelos estudos é da decada de 2.500 anos a.C. só para eluncidar.

Tabela 3 – Relação entre o tipo de interferência provocada pelas diversas variáveis analisadas
e o efeito geral na estimativa do IPM.

Tipo de Interferência Variáveis Efeitos no IPM


- Sobterramento do corpo
- Embrulhamento do corpo
Retardo no tempo de
Restrição ao acesso das - Confinamento do corpo em
colonização
espécies necrófagas ambiente fechado
- Chuvas fortes
- Comportamento noturno
- Temperatura Retardo ou aceleração do
Alteração do tempo de
- Drogas tempo de desenvolvimento
desenvolvimento das
- Predatismo larval, pupação e emergência
espécies necrófagas
do adulto
- Temperatura
Alteração da taxa de - Local Retardo ou aceleração na
decomposição do corpo - Vestimentas taxa de decomposição do
- Tamanho do corpo corpo
- Ferimentos
- Sazonalidade
- Local
Alteração na composição da Interfere no padrão de
- Predatismo
entomofauna sucessão entomológica
- Confinamento do corpo
em ambiente fechado

5.6.3. Local
Quando as condições do tempo são favoráveis, a chegada dos dípteros ao corpo e a
oviposição ocorre dentro de poucos minutos após a morte, quanto a isso não há o mínimo de
duvidas segundo o que já se abordou anteriormente, no entanto, se no local em que o cadáver
estiver exposto for um espaço que pode afectar a velocidade de decomposição ou dificultar o
acesso da entomofauna ao corpo, a situação de oviposição ocorrer dentro de poucos minutos
após a morte muda de figura e é de certa forma imprescindível de que todo entomologo ou
medico legista saiba ou tenha conhecimento sobre esse factor. (Goff, 1993).

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Porém, em geral, em locais onde o corpo é exposto à insolação directa, exposto aos raios
solares directo, o processo de decomposição é favorecido, devido ao aumento da temperatura,
o que verificaram que a decomposição é bem mais rápida em carcaças expostas ao sol, tendo
sido atingido o estágio final de esqueletização duas semanas mais cedo em relação a carcaças
expostas em região sombreada e ao examinarem este factor (sol) em diferentes estações do
ano, concluí-se de que embora haja uma decomposição mais acelerada em habitats com
insolação directa, a variação da temperatura ambiente provocada pela sazonalidade apresenta
um maior peso na taxa de decomposição da carcaça.(Goff, 1993).

Observa – se também de que se ocorre uma menor flutuação da temperatura em locais


sombreados, sendo que estas regiões também apresentaram uma maior diversidade faunística
em relação às carcaças expostas, também considera – se um ambiente propicio para que a
flora larval desenvolva com fluidez e rapidez desejada se for o caso de desenvolvimento
rápido e não lento. (Goff, 1993).

5.6.4. Tóxicos
A entomotoxicologia constitui uma nova área dentro da Entomologia Forense que consiste na
utilização de métodos de análise toxicológica em artrópodes envolvidos na decomposição
cadavérica para identificar a presença de drogas e toxinas nos tecidos do cadáver.

A entomotoxicologia também se dedica a investigação do efeito dessas drogas no


desenvolvimento dos insectos, já que essa constatação tem implicações na estimativa do IPM.

Nos casos em que não se dispõe de tecidos para análise toxicológica devido ao avançado
estado de decomposição do corpo, os insectos podem fornecer uma importante alternativa
para a pesquisa de toxicantes.

A pesquisa de toxicantes em insectos apresenta alguns aspectos vantajosos como a facilidade


de colecta e a presença de menor quantidade de contaminantes do que os tecidos do corpo em
degradação, que poderiam provocar interferência nos ensaios químicos.(Goff, 1993).
É importante frisar de que:

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“Diversas substâncias podem interferir na taxa de desenvolvimento das larvas, o que pode
levar a erros na estimativa do IPM por métodos entomológicos. (Goff, 1993).”

As alterações podem envolver diferentes aspectos no desenvolvimento das larvas, sendo que
nos trabalhos de entomotoxicologia as variáveis analisadas são o peso e comprimento das
larvas em relação ao tempo de desenvolvimento, tempo para atingir a pupação, taxa de
mortalidade larval e pupal, e tempo total de desenvolvimento.(Goff, 1993).

Atenção:

“Em trabalhos de GOFF et al. (1989; 1991), foi verificado que a cocaína e a heroína
aceleram a taxa de desenvolvimento larval em moscas Sarcophagidae, podendo provocar
grande alteração na estimativa do IPM.”

Alguns antibióticos, como cefazolina e gentamicina, provocam redução na velocidade de


desenvolvimento e na sobrevivência larval.

O diazepan, uma droga do grupo dos benzodiazepínicos, muito utilizado com tranquilizante
e sedativo em Moçambique, aumenta a taxa de desenvolvimento larval e retarda a pupação e
a emergência do adulto. (Goff, 1993).

5.6.5. Vestimentas
A presença de vestimentas pode alterar a velocidade de decomposição e colonização do corpo
acelerando ou retardando o processo. De um modo geral, apesar da escassez de trabalhos,
pode-se afirmar que o embrulhamento do corpo entre camadas de tecido funciona como uma
barreira à chegada dos insectos, o que pode atrasar a decomposição e a sucessão em vários
dias (GOFF, 1992).

No entanto, em corpos trajando roupas comuns, não há impedimento à invasão dos insectos,
além de se obter um microambiente mais protegido e com melhores condições de umidade e
temperatura que favorecem o desenvolvimento larval, o que pode levar a um aumento na
velocidade de decomposição do corpo (GOFF, 1992).

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Em trabalho de (GOFF, 1992), sobre a influência das vestimentas, constituídas por roupas
folgadas, sobre a decomposição e a sucessão em carcaças de suínos, foi verificado que a
duração do estágio coliquativo foi marcadamente maior nas carcaças vestidas, com diferença
de seis dias em relação às carcaças sem vestimentas.

Além disso, os autores verificaram que a presença de roupas permitiu manter parte dos
tecidos ressecados sobre o esqueleto no estágio seco.

Com relação ao padrão de sucessão observou-se que a mosca L. Sericata realizou oviposição
24 horas mais cedo na carcaça vestida e a mosca Australophyra rostrata realizou duas ondas
de colonização na carcaça vestida, sendo estas no início e no final do estágio molhado, ao
passo que na carcaça sem vestimenta só houve uma onda de colonização no início do estágio
coliquativo.

5.6.6. Ferimentos
Os dípteros preferencialmente colocam seus ovos nas cavidades naturais do corpo (boca,
narinas, ouvidos, olhos, ânus e vagina), ou em suas adjacências de modo a oferecer um local
protegido e húmido para o desenvolvimento de sua prole (GOFF, 1992).

A presença de ferimentos também constitui um local atractivo para a oviposição.

No entanto, há divergências quanto à influência dos ferimentos na velocidade de


decomposição do corpo.

De acordo com (GOFF, 1992), os traumas atraem preferencialmente os insectos para a


oviposição e aceleram a taxa de decomposição do corpo.

Em trabalhos mais recentes, como o de (GOFF, 1994), não foram verificadas diferenças entre
os grupos com ferimentos e sem ferimentos, sendo apontados problemas metodológicos de
falta de dados quantitativos nos trabalhos anteriores. De qualquer modo, os ferimentos, de um
modo geral, fornecem um local atractivo e propício à oviposição e ao desenvolvimento larval,
o que constitui um factor que dificulta a análise de circunstâncias da morte com base nas
características dos ferimentos encontrados no corpo.

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5.6.7 Sobterramento
O sobterramento do corpo constitui uma forma comum de ocultação do cadáver em casos de
morte criminosa e pode restringir o acesso de muitos dos artrópodes envolvidos na sucessão
cadavérica (GOFF, 1992).

As espécies necrófagas encontradas em cadáveres enterrados podem ser decorrentes de uma


colonização do corpo previamente ao sobterramento, ou da chegada de espécies que têm a
habilidade de penetrar o solo até alcançar o substrato.

(GOFF, 1992) refere a LUNDT (1964) que relactaram de que certas moscas da família
Phoridae conseguem perfurar o solo e atingir directamente os corpos enterrados em
profundidade de até 50 cm em quatro dias, tais moscas são frequentes encontrar em
cemiterios e ajudam as Calliforidae de certa forma também que presseguem as que perfuram,
ao passo disso, existe moscas como as moscas da família Muscinaspp que realizam a postura
de ovos na superfície e as larvas eclodidas migram pelo solo até chegar à carcaça.

Os dípteros não tem as capacidades acima mencionadas, o de colonizar corpos enterrados em


profundidade superior a 30 cm, e acima de 60 cm não há qualquer sinal de actividade
entomológica desta mosca em estudos ate hoje realizados segundo o GOFF, 1993.

5.6.8. Comportamento nocturno


Tendo em vista a importância destacada dos dípteros em ocorrências médico - criminais, pois
geralmente são os primeiros insectos a encontrar o corpo (GOFF, 1992), alguns estudos têm
se concentrado na análise do comportamento das principais espécies de moscas de
importância forense.

Considerando que a maioria dos homicídios ocorre à noite, o comportamento nocturno dos
dípteros tem grande implicação no cálculo do IPM (GOFF, 1992).

Neste sentido, apesar da escassez de trabalhos e de observações discrepantes na literatura


publicada, as moscas são geralmente apontadas como inactivas durante a noite, o que pode
levar a uma alteração na estimativa do IPM de até 12 horas (GOFF, 1992).

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5.6.9 Predatismo
A interação larval entre as espécies da entomofauna que colonizam o cadáver também
constitui um factor importante a ser considerado no comportamento das moscas, já que, na
competição por espaço e alimento, algumas espécies podem realizar predatismo facultativo
sobre outras. (GOFF, 1992).

Em estudos comparativos de (GOFF, 1992), entre colônias puras e mistas de larvas da


espécie de C. albiceps com larvas da espécie C. macellaria, foi verificado que as larvas
abandonam a dieta mais precocemente nas culturas mistas, o que provoca uma redução de
peso das larvas maduras, além disso, estes autores registraram uma queda de mais de 70 % na
taxa de sobrevivência de C. macellaria nas culturas mistas com C. albiceps.

A taxa de mortalidade pode chegar a 99% para larvas de L. sericata devido à actividade
predatória de C. Albiceps. (GOFF, 1992), ao avaliar o predatismo de C. albicepsem diferentes
condições de abundância de alimento, verificaram que houve a completa eliminação de larvas
de C. megacephala e C. macellariaem todos os experimentos.

O risco de predação constitui um factor que também pode influenciar na oviposição dos
dípteros. (GOFF, 1992).

Algumas espécies de formigas, particularmente Solenopsissp, podem provocar um efeito


significante de redução na velocidade de decomposição, devido à remoção de ovos colocados
pelos dípteros no corpo (GOFF, 1992).

Sendo assim, na presença de espécies predadoras, a composição da entomofauna cadavérica


pode ser bastante alterada, havendo a possibilidade de redução e até mesmo eliminação de
populações larvais de outras espécies, o que deve ser considerado na estimativa do IPM
(GOFF, 1992).
CAPÍTULO VI – Contributo da Bioquímica Humana na Entomologia Forense (A
chegada das moscas da Família dos Dípteros ao cadáver e etapas subsequentes)

4. Conceito

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Bioquímica - É a ciência que estuda os processos químicos que ocorrem


nos organismos vivos (metabolismo). (Oliveira-Costa, Janyra, Entomologia Forense -
Quando os insetos são vestígios, 3ª edição, 2003).

4.1. A chegada da mosca ao Cadáver

“In vivo”:

Em vida o individuo catalisa varias reacções de Biossínteses de substâncias essenciais para a


vida (METABOLISMO) como o glicogénio apartir da glicose, síntese de ácidos graxos
(moléculas altamente energéticas que compõe a nossa massa gordurosa, síntese de
aminoácidos (utilização do grupo amina – NH 3) para posterior síntese de proteínas (enzimas)
e síntese de nucleoides para DNA e RNA.

Ocorre a degradação de substancias orgânicas apartir do estado basal do individuo.

Glicemia baixa, uso de ácidos graxos, uso de corpos cetónicos - cetoacidose diabética, após 3
meses, uso de proteínas (aminoácidos) – caso de sequestro.

Cérebro – consome 80% de glicose acordado, e em repouso 60%, não tem reservas
energéticas, o principal alimento é a glicose e em caso de jejum prolongado usa corpos
cetónicos (degradação de ácidos graxos).

Colesterol Alto.

Liberação em excesso do grupo amina atrai as moscas.

Outros casos:

Higiene pessoal – falta de banho regular, excesso de úrina na vagina e não retirada de pelos
das áxilas e virilhas pode atrai as moscas.

Extravasamento de sangue por roptura de vasos sanguíneos ou lesões por ferimentos corto -
condudentes – deficiência de Vitamina K – produção de trombos (coagulação sanguínea) –
parasitoses (sem tratamento) - pús.

Estado basal – Jejum prolongado.

Consumo de drogas (medicamentos antidiuréticos e antidepressivos).

Tudo o que foi apresentado representa o que acontece antes da pessoa morrer.

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4.3. Período “Pós – Mortem” – IPM

• A estória começa da seguinte forma:

As primeiras ondas de insectos chegam a carcaça (cadáver) atraídas pelo cheiro dos gases
liberados no processo de degradação imediata, logo após a pessoa morrer ocorre a degradação
de carbohidratos, lipídios e proteínas, fazendo com que haja a liberação de gases tais como:

Substância Principal

As moscas são atraídas primeiramente pelo amoníaco (Libertação do NH3) que deveria, pelo
processo de metabolismo “in vivo”, ser liberto através da produção da úrina (Cíclo da Ureia)
junto com a bilirrubina (derivado da degradação de nucleótidos) que da cor a urina e as fezes
ou reabsorvido pelos próprios rins em caso de falta para a produção de Nucleótidos (Síntese
de novo).

O Ácido Sulfúrico (Liberação do SH2) que deveria libertar o enxofre e Nitrogénio através da
úrina e pelo suor.

Liberação do azoto disponível (N2), monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO 2)
pelas vias respiratórias ficaram congestionadas pela retracção dos músculos por não haver
estímulos hormonais e neurais no diafragma, já que o cérebro parou de exercer a sua função,
3 segundos após a morte.

Dai se segue as fases de decomposição do cadáver em coordenação com a fase de


desenvolvimento larval.

CAPÍTULO VII – APLICAÇÃO DA ENTOMOLOGIA FORENSE QUOTIDIANA

A Entomologia Forense utiliza o comportamento dos insectos em cadáveres para auxiliar a


área de investigações médico - criminais.

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Embora seja uma área de pesquisa bem difundida em alguns países de Primeiro Mundo, ela
pode ser considerada recente no mundo, no entanto, já atrai o interesse de muitos
pesquisadores e peritos.

Estudos sobre alguns aspectos da biologia das moscas-varejeiras-calliforidae, ajudam


bastante nos achados do IPM e são importantes como indicadores forenses que vêm sendo
desenvolvidos há alguns anos.

Os insectos constituem o grupo de animais com o maior número de espécies já descritas pela
ciência.

Esse número é de quase um milhão, segundo especialistas.

Quando se leva em conta a importância económica desses animais, normalmente as primeiras


espécies lembradas são as que, directa ou indirectamente, causam prejuízos materiais ou
danos à saúde de plantas e animais (inclusive o homem) e muitas delas vistas como 'pragas'.

É preciso não esquecer, porém, que inúmeros organismos desse imenso grupo trazem
benefícios ao homem, como, entre outros, o bicho-da-seda e as espécies polinizadoras, estas
são essenciais para muitas culturas agrícolas.

Em suma, sua relação com a espécie humana é variável de espécie para espécie, porém, os
insectos podem desempenhar muitas vezes um papel surpreendente, como o caso dos estudos
entomológicos.

É justamente o caso da Entomologia Forense, a ciência que aplica o estudo dos insectos a
procedimentos relacionados a investigações médico-criminais que nos interessa revelar para
usa-la nas investigações criminais.

A ligação entre os insectos e a medicina legal é a seguinte:

Quando um animal morre em um ambiente natural, o seu corpo é rapidamente colonizado


por uma fauna necrófaga, ou seja, por animais que se alimentam de tecidos orgânicos
decompostos, isso ajuda de certa forma a manter o ambiente saudável, cumprindo assim

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todos os passos criados pela natureza em termos da


cadeia alimentar. Isso também acontece com
cadáveres humanos deixados expostos por certas
razoes a.

Em geral, os primeiros animais atraídos para a


carcaça, imediatamente após a morte, são as
moscas-varejeiras-calliporidae.

Tais moscas, existentes em praticamente todo o mundo (excepto nas regiões polares e áreas
vizinhas), utilizam a carne em decomposição para sua alimentação e para a postura de ovos e
larvas.

Durante o processo de decomposição, o corpo servirá de alimento e/ou abrigo para uma
sucessão de diferentes espécies de insectos. As moscas-varejeiras-calliporidae, por exemplo,
predominam no início da decomposição do cadáver, mas quando esta já está em fase
adiantada diminui devido a presença dos besouros e nesta fase são encontrados em maior
número.

Outros artrópodes como as formigas, vespas e alguns aracnídeos (ácaros e aranhas), também
podem ser encontrados comendo os ovos, as larvas e as pupas das tais moscas-varejeiras-
calliporidae, mas normalmente são, assim como lagartas de mariposas, considerados
visitantes acidentais dos cadáveres, não pertencem a classe normal de predadores.

Em alguns casos, porém, podem fornecer informações importantes sobre o estado de


decomposição do corpo.

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Figuras 7 e 8 – A "mosca azul" (Calliphoridae) e


o seu ciclo de vida, a mosca que pode se encontrar
todos os dias nas nossas casas basta expor um
pedaço de carne, peixe ou camarão.
Fonte: (Benecke 2004).

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CAPÍTULO VIII – INSECTOS E A METAMORFOSE DA MOSCA

Figura 9: A metamorfose da mosca.


Fonte: (Benecke 2004).

8. A Mosca Doméstica - a metamorfose.

8.1. O ovo
A mosca doméstica, segundo o José Henrique Guimarães13, deposita seus ovos
preferencialmente no esterco ou onde houver matéria orgânica em decomposição.

Os ovos medem cerca de um milímetro de comprimento e o tempo mínimo necessário para


seu desenvolvimento é de seis a oitos horas, a uma temperatura de cerca de 35 ºC.

8.2. A Larva
Quando o ovo eclode, dá origem a uma larva de 12 a 13 milímetros de comprimento. São
larvas esbranquiçadas, sem patas e que se locomovem activamente.

Nessa fase, que dura de quatro a seis dias, elas passam por três estágios, mudando de pele
duas vezes.

13
O artigo publicado é de autoria de José Henrique Guimarães, do Departamento de Parasitologia -
Universidade de São Paulo.

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Quando observamos a larva ao microscópio, encontramos dois pontos escuros na extremidade


posterior; são aberturas chamadas espiráculos, por onde ela respira.

As larvas preferem a temperatura de cerca de 35 ºC e precisam de muita humidade.

Elas se alimentam de bactérias e matéria orgânica em decomposição.

Quando completam seus desenvolvimentos, movem-se para as áreas mais secas do substrato,
onde ocorre a transformação para a fase de pupa.

Figura 10: A metamorfose da mosca segundo o José Henrique Guimarães, do


Departamento de Parasitologia - Universidade de São Paulo.
Fonte: (Benecke 2004).

8.3. A Pupa
Quando a larva está perstes a entrar na fase de pupa, sua cutícula (pele) se contrai e endurece,
tomando a forma de um barril, chamado pupário, onde se desenvolverá a fase adulta.
No início, o pupário tem cor amarelada, mudando aos pucos para castanho-claro e castanho-
escuro. E essa fase dura de três a quatro dias, dependendo das condições de temperatura, que
pode variar de 35ºC a 40ºC.

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8.4. A Fase Adulta


Quando a mosca adulta sai do pupário, ela tem o corpo mole e é incapaz de voar. Move-se
vagarosamente, até encontrar um local apropriado para descansar, onde irá esticar
inteiramente suas asas e endurecer sua cutícula. Isso pode levar várias horas, até que a mosca
possa usar suas asas e voar.

8.5. O Acasalamento
O acasalamento acontece no segundo dia da fase adulta, se a temperatura for favorável (cerca
de 30ºC).

O estímulo visual parece ser o factor mais importante, mas o odor também pode estar
envolvido na atracão sexual. Tanto o macho quanto a fêmea produz uma substância química
chamada feromônio, que tem forte poder de atrair o parceiro.

Figu
ra 11: A metamorfose datada da mosca segundo o José Henrique Guimarães, do
Departamento de Parasitologia - Universidade de São Paulo.

Fonte: (Benecke 2004).

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Figura 12: A metamorfose da mosca segundo o José Henrique Guimarães, do


Departamento de Parasitologia - Universidade de São Paulo.

Fonte: (Benecke 2004).

8.6. Holometabolismo

É o desenvolvimento dos insectos mediante metamorfose completa, com quatro fases bem
distintas:
- Ovo,
- Larva,
- Estado bem activo,
- Entrando de seguida num estado inactivo conhecido por pupa e
- Emergindo finalmente para adulto.

Aqueles insectos que nos estágios imaturos têm formas semelhantes aos adultos (com
excepção das asas) são chamados de Hemimetábolos, significando que eles sofrem uma
mudança parcial ou simplesmente incompleta (hemi = parcial).

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Durante a fase em que tais insectos ainda não atingiram a sua maturidade, recebem o nome de
ninfas. São representantes deste tipo de matmorfose: os Himípteros, os Blatódeos, as
Odonatas, etc.

Hemimetabolia ou Paurometabolia é um modo de desenvolvimento indirecto, com


metamorfose, característica de muitos artrópodes.

O insecto assemelha-se ao adulto, mas não apresenta asas e tem os órgãos genitais imaturos
(não há pupa).

Exemplos: Orthoptera, Hemiptera, Blattodea, Isoptera.

Alguns autores consideram Hemimetabolia apenas quando as formas jovens são aquáticas
(náiades) e os adultos têm hábitos terrestres.

Exemplos: Odonata, Ephemeroptera.

As fases de desenvolvimento de insectos hemimetábolos são: Ovo → Ninfa → Imago.

Ovo é a fase em que se encontra o insecto antes de seu nascimento.

A fase de ninfa ocorre logo após o nascimento, com o insecto apresentando características de
um adulto, porém ainda pouco desenvolvidas.

Imago é a última fase do desenvolvimento desse insecto, tendo todas as estruturas do insecto
desenvolvidas.

Esses insectos compreendem uma divisão e são chamados de holometabólicos.

Algumas espécies de escaravelhos e algumas da ordem Strepsiptera sofrem


hipermetamorfoses, com uma sequência de formas larvares precedendo o estado de pupa.

Relativamente à questão se o insecto passa mais tempo na forma adulta ou na forma juvenil,
depende da espécie.

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Exemplos notáveis são por exemplo as efémeras cujos estados adultos reduzem-se a um dia,
ou então o caso das cigarras, cujos estados juvenis subterrâneos prolongam-se durante 17
dias.

Apesar disso esta espécie tem uma metamorfose legal incompleta.

Geralmente nas espécies nas quais a vida adulta é mais longa que a vida juvenil, estas sofrem
metamorfoses complexas.

8.7. Tipos de metamorfose:

a) Simples:

Caracterizado por muito pouca diferenciação entre os instares e o insecto não apresenta uma
fase imóvel (pupa).
Os jovens são chamados de ninfas.
- Paurometabolia
- Batmetabolia
- Hipometabolia
b) Completa ou Holometabolia.
c) Hipermetamorfose.
d) Intermediária.

Tabela 4: Fases de desenvolvimento de certos insectos incluindo a mosca.


ESPÉCIE OVO LARVA PUPA ADULTO
Mosca 1 dia 8 dias 9 dias 35 dias
Joaninha 4 dia 18 dias 15 dias 9 meses
Borboleta 14 dia 1 mes 14 dias 10 meses
Cigarra 1 mes 17 dias Não existe 1 dia
Barata 1 mes 3 meses Não existe 9 meses

8.8. Os insectos

São invertebrados com exoesqueleto quitinoso, corpo dividido em três segmentos (cabeça,
tórax e abdómen), três pares de patas articuladas, olhos compostos e duas antenas.

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Seu nome vem do latim insectum.

Pertencem à classe Insecta e compõem o maior e mais largamente distribuído grupo de


animais do filo Arthropoda e, consequentemente, dentre todos os animais.

A ciência que se dedica a estudar os insectos é conhecida como Entomologia.

Os insectos são o grupo de animais mais diversificado existente na Terra.

Embora não haja um consenso entre os entomologistas, estima-se que existam de 5 a 10


milhões de espécies diferentes, sendo que quase 1 milhões destas espécies já foram
catalogadas.

Figura 13: Um besouro (Coleópteros).


Fonte: Postado por JOTA JOTA Dedetizadora às 07:12.

Os insectos podem ser encontrados em quase todos os ecossistemas do planeta, mas só um


pequeno número de espécies se adaptaram à vida nos oceanos.

Existem aproximadamente 5 mil espécies de Odonata (libelinhas), 20 mil de Orthoptera


(gafanhotos e grilos), 170 mil de Lepidópteros (borboletas), 120 mil de Dípteros (moscas), 82
mil de Hemipteros (percevejos e afídeos), 350 mil de Coleópteros (besouros) e 110 mil de
Hymenópteros (abelhas, vespas e formigas).

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Alguns grupos menores, com uma anatomia semelhante, como os colêmbolos, eram
agrupados com os insectos no grupo Hexapoda, mas actualmente seguem um grupo
parafilético Ellipura, tendo discussões filogenéticas relevantes no campo da biologia
comparativa.

Os verdadeiros insectos distinguem-se dos outros artrópodes por serem ectognatas, ou seja,
com as peças bucais externas e por terem onze segmentos abdominais.

Muitos artrópodes terrestres, como as centopeias, Maria-café, mil-pés, escorpiões, aranhas,


como também microartrópodes colêmbolos são muitas vezes considerados erroneamente
insectos.

Em biologia, metamorfose ou “alomorfia” (do grego metamórphosis) é uma mudança na


forma e na estrutura do corpo (tecidos, órgãos), bem como um crescimento e uma
diferenciação, dos estados juvenis ou larvares de muitos animais, como os insectos e anfíbios
(batráquios), até chegarem ao estado adulto.

Depois do nascimento, os animais podem sofrer dois tipos de desenvolvimento: direto, ou


indireto.

No desenvolvimento indirecto os animais que nascem diferem significativamente da forma


adulta, assim os indivíduos passam pela metamorfose.

Já no desenvolvimento directo, os animais já nascem com a forma definitiva, pois são muito
semelhantes aos adultos, como por exemplo o ser humano.

8.9. Insectos importantes na Medicina Humana14


Na saúde humana, diversos insectos actuam como vectores de agentes infecciosos, como por
exemplo: malária, Doença de Chagas, filarioses, oncocercose e leishmanioses.

14
Entomologia e Acarologia Médica e Veterinária. Freitas, M. G. et al. 1984. (BC/UFV 595.7 E61).

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Para ter-se uma noção do impacto e importância destas enfermidades humanas, de acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS) dentro das oito doenças que mais afectam a
população mundial actualmente, as cinco citadas encontram-se incluídas.

Completando este grupo, incluiríamos amebíase, hanseníase e tuberculose.

Como agentes espoliadores, estressantes e/ou vectores de agentes infecciosos humanos temos
moscas, mosquitos, pulgas, piolhos e barbeiros, respectivamente, Ordens Díptera (Sub-ordens
Cyclorrapha e Nematocera), Siphonaptera, Anoplura e Hemíptera (Sub-ordem Reduviidae).

8.10. Ordem Díptera


8.10.1. Moscas
Na família Muscidae, a Musca domestica é conhecida como veiculadora de ovos e larvas de
helmintos (Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiuris, Enterobius vermiculares, Taenia
solium e ancilostomídeos) e protozoários (Entamoeba histolytica, Giardia intestinalis e
Cryptosporidium parvum), ocasionando dentre os exemplos listados quadros clínicos de
parasitoses intestinais de maior ou menor gravidade dependendo da carga parasitária, do
agente infeccioso e do hospedeiro (idade, estado nutricional, resposta imune etc).

8.10.2. Mosquitos
Na sub-ordem Nematocera, temos representantes de importância médica na família
Simulidae (Simulium sp.) vetor da larva da Onchocerca volvulus, na família Psychodidae,
sub-família Phlebotominae (Lutzomyia sp.) vetores dos agentes das leishmanioses
tegumentares (p. ex. Leishmania braziliensis, Leishmania mexicana e Leishmania
amazonensis) e da leishmaniose visceral (Leishmania chagasi), e nas tribos Anophelini e
Culicini, vetores dos plasmódios causadores da malária (Plasmodium vivax, Plasmodium
falciparum, Plasmodium ovale e Plasmodium malarie) e de alguns vírus como o da Febre-
amarela, p. ex.
8.11. Ordem Hemíptera
Na Ordem Hemíptera, sub-ordem Reduviidae, comumente conhecidos como barbeiros, temos
os vectores dos tripanosomas, causadores das tripanosomíases, dentre as quais temos em
nosso país a Doença de Chagas ocasionada pelo Trypanosoma cruzi.

8.12. Ordem Siphonaptera

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A Pulex irritans juntamente com a Xenopsyla queops apresentam-se como os representantes


da ordem Siphonaptera de maior importância para a saúde humana. Isto deve-se ao fato
destas actuarem como vector de agentes infecciosos de graves enfermidades, como p.ex., a
peste bubônica causada pela Yersinia pestis e transmitida pela pulga do rato (Xenopsyla
queops). Também deve ser considerada a acção deletéria da Tunga penetrans, levando a um
quadro clínico comumente conhecido como “bicho de pé”.

8.13. Ordem Anoplura


Somente os piolhos sugadores apresentam-se como importantes devido a espoliação e
irritação de agentes infecciosos importantes para os humanos. São eles o Pediculus humanus
e o Pediculus capitatis, respectivamente conhecidos como piolho da cabeça e piolho do
corpo. O Phithrus pubis, é uma pulga que ocorre na área genital ocasionando um quadro
conhecido vulgarmente como “chato”, transmitido mais comumente pela relação sexual.

8.14. Ácaros importantes na Medicina Humana


Na Ordem Acari temos de importância médica sarnas e carrapatos, ocasionando
respectivamente casos de parasitismo cutâneo (p.ex. escabiose causada pelo Sarcoptes
scabiei) ou quadros de envolvimento sistêmico (p.ex. Febre maculosa causada pela Rickettsia
rickettsii, Doença de Lyme causada pela Borrelia burgdorferi e a Ehrlichiose causada pela
Ehrlichia sp.).

Apesar das enfermidades que podem ser transmitidas por carrapatos, o que é mais observado
são as lesões inflamatórias devido a fixação de larvas e ninfas na pele dos humanos e da
tentativa sem sucesso da retirada destes agentes. Para a fixação, o carrapato após localizar um
local com características adequadas ao seu desenvolvimento, como p. ex.: espessura,
irrigação, protecção e temperatura local, introduz o seu aparelho bucal (hipóstoma) na pele do
hospedeiro.
Quando da tentativa de retirada deste agente, pode ocorrer quebra na base do aparelho bucal,
o qual permanecerá introduzido na derme e actuará como corpo estranho, levando a uma
reacção inflamatória variável dependendo do hospedeiro.

8.15. Insectos e Ácaros importantes na Medicina Veterinária


Na Medicina Veterinária os insectos e ácaros adquirem grande importância seja devido às
questões de saúde animal e/ou saúde pública no caso daquelas enfermidades de carácter

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zoonótico, ou no caso daquelas enfermidades que afectam as criações do ponto de vista


económico.

Dentre as perdas de produção podemos citar a queda na produção de carne, leite e ovos, p.
ex., a danificação do couro, o gasto com medicamentos e assistência médico veterinária,
perda de crias e a morte do animal. Os diferentes agentes infecciosos podem actuar como
vectores de outras enfermidades (p.ex. carrapatos actuando como vetores da Babesiose
bovina), ou simplesmente actuando como factor de estresse e ou espoliante de nutrientes
(p.ex. moscas e mosquitos).

8.16. Insectos importantes na Medicina Veterinária


Dentre os insectos importantes como agentes comprometedores da produção animal temos as
moscas, as mutucas, as pulgas, piolhos mastigadores e piolhos sugadores, respectivamente
Ordem/sub-ordem: Díptera/Cyclorrapha, Díptera/Tabanidae, Siphonaptera, Anoplura e
Mallophaga.

8.16.1. Moscas de importância Médico Veterinária


Na sub-ordem Cyclorrapha temos as famílias Muscidae com Musca domestica, Stomoxys
calcitrans, Cochlyommia hominivorax, Cochlyommia macellaria, Haematobia irritans,
Crysomia spp., Phania spp. e Lucilia spp. Todas estas moscas apresentam algum factor que
ocasiona queda na produção seja pela espoliação e/ou irritação do animal ou pela veiculação
de outros agentes.

A Stomoxys calcitrans é uma mosca de hábitos hematófagos, espoliando e provocando


estresse no animal pelo mesmo tentar se livrar deste agente incômodo interrompendo
constantemente a alimentação e o descanso além de poder actuar como veiculador
(transportador) de parasitas sanguíneos.

Esta mosca realiza a oviposição em matéria vegetal em decomposição e fezes de equinos.

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Introduzida há menos de vinte anos em nosso país, a Haematobia irritans apresenta um


elevado potencial comprometedor da produção bovina nacional.

Esta pequena mosca hematófaga além de estressar o animal e actuar espoliando sangue,
também pode actuar assim como outros insectos hematófagos como veiculadores mecânicos
de diversos agentes infecciosos, especialmente aqueles de desenvolvimento sanguíneo.

A Haematobia possui como característica a realização de vôos muito curtos, realizando a


postura em fezes recém-defecadas (15-20 minutos).

Quanto às moscas não hematófagas, a Musca domestica é uma mosca de característica não
hematófaga, porém apresenta uma grande capacidade de veiculação de outros agentes
infecciosos.

No caso da pecuária bovina, por exemplo, actua possibilitando a ocorrência de casos de


mamite e onfaloflebite pela veiculação de bactérias.

Além das moscas extremamente comuns em nossos rebanhos e citadas acima, temos também
de importância moscas que ocasionam miíases devido ao desenvolvimento da fase larvar
ocorrer nos tecidos do hospedeiro.
As larvas das moscas que causam miíases podem ser biontófagas ou necrobiontófagas,
dependendo de alimentarem-se de tecido vivo ou tecido morto, sendo as miíases classificadas
como superficiais ou internas e primárias ou secundárias.

Como exemplo de miíase superficial, aquelas nas quais o desenvolvimento das larvas inicia-
se e ocorre na derme e tecido subcutâneo podendo em alguns casos comprometer inclusivé o
tecido muscular e órgãos adjacentes, temos aquelas ocasionadas pela mosca do berne (1, 2)
(Dermatobia hominis) e as miíases com aglomerado de larvas, comumente conhecidas como
bicheiras, devido ao desenvolvimento de larvas de Cochlyomia hominivorax e Cochlyomia
macellaria. Todas as citadas são consideradas larvas biontófagas. Como exemplo de larvas
necrobiontófagas, ou seja, se alimentam de tecido morto, temos as moscas da família
Sarcophagidae, as quais realizam a posturas em carcaças.

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Além destas moscas que causam miíases superficiais, temos as moscas das famílias
Gasterophilidae e Oestridae. Na família Gasterophilidae, a Gasterophilus intestinales e a
Gasterophilus nasalis.

Estas moscas realizam a postura dos seus ovos na região inferior dos membros anteriores dos
equinos e ao redor das narinas, respectivamente. As larvas são levadas à boca pelo ato de se
lamber, atingindo de maneira passiva o estômago destes animais, aonde irá ocorrer o
desenvolvimento até a fase de pupa, quando então são eliminadas para o meio ambiente com
as fezes.

Na família Oestridae, a Oestrus ovis realiza a postura ao redor das narinas de ovinos, com
posterior migração das larvas para os seios, para as vias nasais, aonde ocorre todo o
desenvolvimento até a fase de pupa.

A postura das moscas que não causam miíases, Stomoxys calcitrans, Musca domestica,
Crysomia spp. e Phania spp. ocorre em fezes de equinos, bovinos, aves, humanas ou em
matéria biológica em decomposição.
Também classificadas como moscas ou mutucas, os representantes da família Tabanidae
(tabanídeos) são importantes agentes principalmente na criação de equinos e de bovinos. São
insectos de hábitos hematófagos e de picada muito dolorosa, provocando a fuga dos animais,
além de veicularem mecanicamente agentes infecciosos.

8.17. Mosquitos de importância Médico Veterinária


Os mosquitos de importância em Medicina Veterinária actuam tentam como factor
irritativo/estressante, como na veiculação de agentes infecciosos.

Dentre os representantes da sub-ordem Nematocera, os mosquitos das famílias Culicidae,


Simulidae, Ceratopogonidae e Psychodidae, apresentam actividades que comprometem tanto

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a saúde animal com reflexo dirceto na produção quanto a saúde humana no caso daquelas
infecções de carácter zoonótico.

Os cães são gravemente afectados pelos agentes das leishmanioses, tanto tegumentar quanto
cutânea, actuando como reservatório para os mosquitos transmissores do gênero Lutzomyia.

As fêmeas destes mosquitos, os flebotomíneos, quando realizam o ato da hematofagia em


cães domésticos ou silvestres, ou mesmo em outros animais silvestres, contaminam-se,
sofrendo infecção de seu tubo digestivo por formas evolutivas de Leishmania e passando a
transmitir este agente quando realizam novo repasto sanguíneo.

Na família Culicidade, tanto os representantes das tribos Culicini quanto Anophelini


apresentam actuação como vectores de enfermidades de importância em saúde veterinária,
dentre as quais merecem destaque os mosquitos dos gêneros Culex spp. e Anopheles spp.

Estes quando previamente infectados transmitem microfilárias de Dirofilaria immitis a cães,


principalmente em regiões litorâneas.

Os simulídeos e ceratopogonídeos apresentam picada dolorosa e quando de ataques maciços a


rebanhos de bovinos e equinos acabam provocando enormes prejuízos tanto pela actuação
estressante quanto pela espoliação sanguínea, além de poderem veicular mecanicamente
agentes infecciosos, principalmente virais.

8.18. Pulgas e piolhos de importância Médico Veterinária


As pulgas e os piolhos são um achado relativamente frequente em animais silvestres e de
produção, espoliando, estressando e veiculando enfermidades entre os animais e o homem.

Na fase parasitária, as pulgas permanecem sobre os hospedeiros realizando a hematofagia e a


postura.

As pulgas do gênero Tunga penetrans apresentam como particularidade o fato das fêmeas
penetrarem no tecido cutâneo quando da realização da postura de ovos, ocasionando o
vulgarmente conhecido como “bicho de pé”, que dependendo do animal, do local de
instalação deste insecto e do grau de infestação pode comprometer a produção.

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Dentre as pulgas também merece citação a Ctenocephalides spp., que acomete


principalmente cães e gatos.

Esta pulga espolia pelo ato do repasto sanguíneo, atua estressando o animal e pode veicular
biologicamente o Dipylidium caninum, um helminto que apresenta em uma de suas fases de
desenvolvimento uma larva cisticercóide no tecido muscular da pulga, a qual quando é
ingerida possibilita a infecção intestinal de cães e crianças por esta tênia.

Os membros das famílias Anoplura e Mallophaga, conhecidos como piolhos picadores-


sugadores e mastigadores, respectivamente, agem principalmente espoliando e irritando os
animais, em especial bovinos, cães, aves e suínos.

Nos suínos, o Haematopinus suis, desenvolve-se principalmente em criações não tecnificadas


devido a não adopção de medidas eficientes de controle e sanidade. Nas aves especialmente
nas de actividades de postura, piolhos mastigadores do gênero Melopon alimentam-se na base
das penas ocasionando uma actividade muito intensa da ave no sentido de eliminar estes
insectos.

Nos bubalinos piolhos picadores-sugadores como o Haematopinus sp., espoliam e irritam os


animais levando a queda de produção.

Normalmente estes insectos ocorrem em unidades de produção que apresentam falhas graves
no sistema de manejo dos animais.

Nos cães, piolhos mastigadores do gênero Trichodectes canis, podem ocorrer em altas
infestações podendo inclusive levar o animal ao óbito.

8.19. Ácaros de importância Médico Veterinária


Dentre os ácaros de importância médica veterinária temos sarnas e carrapatos.

Estes organismos actuam com agentes espoliantes e irritativos levando a quedam de produção
acentuada, além de no caso dos carrapatos actuarem como vectores biológicos de diversas
enfermidades, principalmente aquelas ocasionadas por parasitas sanguíneos (hemoparasitos).

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8.19.1. Sarnas de importância Médico Veterinária


Tanto as sarnas superficiais da família Sarcoptidae quanto as sarnas profundas da família
Psoroptidae, p. ex., ocasionam quadros clínicos de relativa importância devido a irritação e
inflamação local desencadeada pelas diversas fases evolutivas destes agentes. Na família
Sarcoptidae, o Sarcoptes scabiei pode parasitar praticamente todos os mamíferos domésticos,
sendo no entanto mais comum em cães e bovinos, ocorrendo principalmente na região dorsal,
pescoço e região da barbela. Em gatos e coelhos, a Notoedres cati desenvolve-se na região da
orelha, estendendo pela face, ao redor dos olhos e focinho.

Em aves, temos como exemplo de sarna profunda, a Knemidocoptes sp., a qual é de grande
importância, devido ao seu aspecto irritactivo principalmente naqueles animais criados a solta
e/ou sob condições inadequadas.

Dentre as sarnas superficiais em nosso meio temos a ocorrência de Psoroptes equi, Otodectes
sp. e Chorioptes bovis, sendo mais comum nos equinos a Psoroptes e a Otodectes.

8.20. Carrapatos de importância Médico Veterinária


Temos de importância veterinária tanto os carrapatos moles quanto os carrapatos duros,
sendo os primeiros representantes da família Argasidae e os outros da família Ixodidae.

Na família Argasidae, temos no Brasil de ocorrência em aves criadas a solta em pequenas e


grandes propriedades e raramente em plantéis avícolas, de carrapatos dos gêneros Argas
miniatus e Ornithodorus sp.
Estes ácaros buscam os animais quando da realização da hematofagia (repasto sanguíneo) nas
suas diferentes fases evolutivas (larva, ninfa e adulto), não permanecendo por períodos muito
longo sobre estes animais, retornando para locais de protecção (gretas e buracos em
instalações, p.ex.) após repletos de sangue.

Faz-se interessante citar que uma fêmea de Argas miniatus pode permanecer por períodos de
até cinco anos sem realizar a hematofagia, mostrando-se desta maneira ser um agente de
difícil erradicação após instalado.

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Os carrapatos da família Ixodidae são os mais conhecidos dentre este grupo por serem
agentes de ocorrência mais comum, actuando como ectoparasitos de grande importância em
animais domésticos e silvestres.

O Boophilus microplus é um carrapato que permanece sobre um hospedeiro, na maioria das


vezes bovinos, desde a infestação deste animal na fase de larva, passando por ninfa e indo até
a fase adulta, quando após a fecundação e repasto sanguíneo, a fêmea desprende-se caindo no
solo aonde realiza a postura de ovos (aproximadamente 3.000 ovos/fêmea).

Por esta característica, este carrapato é considerado um carrapato de um hospedeiro. Durante


a fase de larva e ninfa, este carrapato pode transmitir hemoparasitos sanguíneos dentre os
quais merece citação Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale, ocasionando
quadros clínicos conhecidos comumente no meio rural em nosso país como babesiose,
anaplasmose, tristeza parasitária bovina ou tristezinha.

Também pode transmitir a ehrlichiose ocasionada pela Ehrlichia bovis. Estas enfermidades
são relativamente graves em nosso país, podendo inclusive levar ao óbito dos animais
infectados.

O carrapato Boophilus microplus também é muito importante se considerarmos somente a


realização de repasto sanguíneo, com cada f6emea ingerindo entre 0,5-1,0 ml de sangue.

Nos equinos, os carrapatos do gênero Amblyomma cajennense são muito comuns em nosso
meio, sendo conhecidos vulgarmente como carrapatos estrela devido a aparência conferida
pelo escudo dorsal ornamentado na fase adulta nos machos desta espécie. É considerado
assim como o Rhipicephalus sanguineus – carrapato vermelho do cão – um carrapto de três
hospedeiros.

Esta classificação deve-se ao fato de realizar as mudas (larva para ninfa e ninfa para adulto)
fora do hospedeiro retornando ao mesmo animal ou a outro para a continuação do seu
desenvolvimento evolutivo.

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Uma fêmea realiza a postura de aproximadamente 5 a 8.000 ovos, os quais irão dar origem as
larvas. Neste gênero, as larvas são de baixa especificidade parasitária podendo parasitar
indivíduos de diversas espécies (homem, cão, equino, bovino etc), sendo de intensa
actividade e conhecidas como micuins.

Nos equinos também são observadas infestações frequentes por outro carrapato, o Anocentor
nitens, o qual é um carrapato de um hospedeiro como o Boophilus microplus e tem como
preferência de local para o seu desenvolvimento o pavilhão auricular.

Devido às lesões ocasionadas pela picada deste carrapato, clinicamente observasse alteração
na estrutura da cartilagem, provocando a “quebra” da orelha.

Além da espoliação sanguínea, os carrapatos ocasionam prejuízos consideráveis para a


produção animal, com perda do couro, produção de carne e leite, gastos com medicamentos e
assistência médico-veterinária e perda de animais principalmente pelos hemoparasitos
transmitidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO DE ENTOMOLOGIA FORENSE

 OLIVEIRA-COSTA, J. 2003. Entomologia Forense, Editora Millennium, Campinas,


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 OLIVEIRA-COSTA, J. Introdução. In: Entomologia Forense-Quando os insetos


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