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BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 46
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HISTÓRA DA ANATOMIA
Fonte: www.obiologo.eco.br
Fonte: marceloaviz.blogspot.com.br
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Fonte: cultura.culturamix.com
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Fonte: www.obiologo.eco.br
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E, enquanto a autorização não chegava, eles insistiam em dissecar os
cadáveres às escondidas, normalmente em calabouços ou subterrâneos devidamente
escolhidos para este fim.
Fonte: www.ibamendes.com
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Durante todo o tempo que a anatomia ostentou essa qualidade oposta à prática,
as figuras não-realistas e esquemáticas foram suficientes.
O primeiro livro ilustrado com imagens impressas mais do que pintadas foi a
obra de Ulrich Boner Der Edelstein.
Fonte: projetomedicina.com.br
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O segundo fator que influiu no desenvolvimento da ilustração científica para o
ensino foi a lenta instauração de melhores técnicas.
No começo os editores, com um critério puramente quantitativo, pensaram que
com a imprensa poderiam fazer grande quantidade de reproduções de modo fácil e
barato. Só mais tarde reconheceram a importância que cada ilustração fosse idêntica
ao original.
A capacidade para repetir exatamente reproduções pictóricas, daquilo que se
observava, constituiu a característica distinta de várias disciplinas científicas, que
descartaram seu apoio anterior à tradição e aceitação de uma metodologia, que foi
descritiva no princípio e experimental mais tarde.
Os primeiros registros de estudo e de ensino da anatomia remontam à Escola
de Alexandria em que, segundo os registros de Galeno, teriam sido realizadas as
primeiras dissecações públicas de animais e corpos humanos.
No entanto, as dissecações para fins de estudo sempre geraram polêmicas, e
pode-se afirmar que foi apenas a partir do século XIV que, na Europa, mais
especificamente na Universidade de Bolonha, elas se tornaram parte do ensino
médico sob os auspícios de Mondino de Luzzi (1270-1326).
Nesse período, por influência do movimento escolástico, os estudos e
investigações em anatomia baseavam-se, sobretudo, na tradução de obras e tratados
anatômicos, sendo a dissecação um método de averiguação de dados preexistentes.
(Singer;1996).
As primeiras ilustrações anatômicas impressas baseiam-se na tradição
manuscrita medieval. O Fasciculus medicinae era uma coleção de textos de autores
contemporâneos destinada aos médicos práticos, que alcançou muitas edições. Na
primeira (1491) utilizou-se a xilografia pela primeira vez, para figuras anatômicas. As
ilustrações representam corpos humanos mostrando os pontos de sangria, e linhas
que unem a figura às explicações impressas nas margens.
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Fonte: www.auladeanatomia.com
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Fonte: www.ibamendes.com
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Fonte: projetomedicina.com.br
A ANATOMIA ARTÍSTICA2
Fonte: gustavotdiaz.com
O termo Anatomia nasceu do latim, porém o seu estudo se inicia bem antes da
formação do Lácio e dos antigos romanos.
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https://gustavotdiaz.com/2016/04/09/pequeno-historico-da-anatomia-artistica/
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Data do ano 3.000 a.C. na China o aparecimento da dissecação explorativa e
já em papiros egípcios de 3000-2500 a.C. notificam-se dados sobre a anatomia da
cabeça e do cérebro humanos (“Papiro de Edwin Smith”).
Consta que no antigo Egito tenha-se mumificado cerca de 70 milhões de
cadáveres, o que sem dúvida alguma gerou um acúmulo de conhecimentos
anatômicos, embora pouca coisa nos tenha sido transmitida.
No período grego, embora dissecações já fossem realizadas, grande parte teria
se limitado à abertura de corpos de animais; o próprio Aristóteles o teria feito.
Embora registros mencionem em geral o contrário, é de se imaginar que a
Grécia houvesse aglutinado um vasto repertório de Anatomia Humana, dado o
domínio técnico de suas produções, sobretudo no período helenístico, aliado a um
raro nível de elegância formal. Mas esses conhecimentos não teriam, em sua maioria,
chegado até nós.
O primeiro grande momento da história da Anatomia parece ter se dado, de
fato, na Escola Médica do Museu de Alexandria, fundada em 290 a.C. durante a
dinastia Tolemaica. Quando Tolomeo Sóter (conhecido como o “Salvador” e um dos
principais generais de Alexandre, o Grande) assume o reinado do Egito entre 305 e
284 a.C., funda junto à Biblioteca de Alexandria, o Museion – ou “Templo das Musas”,
sediado na Escola Médica, onde se empreenderam diversas dissecações, dando um
importante passo ao estudo da Anatomia Humana.
Ainda por volta de 300 a.C., na Grécia, aparece a figura de Herófilo (nascido
na região onde se situa atualmente a Turquia, 335 a.C.? 280 a.C.), um dos maiores
anatomistas gregos, pioneiro na dissecação de corpos humanos.
Conferindo pela primeira vez no Ocidente uma base concreta à Anatomia,
Herófilo deixou contribuições aos estudos do cérebro, identificando-o como centro do
sistema nervoso e sede da inteligência, e compreendeu a distinção entre nervos
motores e sensitivos.
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Fonte: gustavotdiaz.com
Também deste período data Erasístrato de Chio (310 a.C. 250 a.C.), o primeiro
a afirmar que as veias, à semelhança das artérias, tinham o coração como destino, e
a descrever as válvulas cardíacas.
Após um período de relativa estagnação, aparecem Marino, vivendo em Roma
no tempo de Nero, e Rufo, oriundo da colônia grega de Éfeso, Marino não deixou
escritos, mas seus ensinamentos foram preservados pelo discípulo Claudius
Galeno (Pérgamo, 129 d.C. Roma, 199).
Galeno, além de haver traduzido as obras de Herófilo (boa parte delas
destruídas no incêndio da biblioteca de Alexandria), fora um importante médico grego,
cirurgião oficial dos gladiadores de Marco Aurélio e destacado seguidor da medicina
de Hipócrates (Cós, Grécia, 460 a.C. Larissa, Tessália, 377). Precursor da fisiologia
experimental, legou-nos investigações bastante completas como a organização dos
nervos, veias e artérias, tendo realizado inclusive a vivissecção.
A maioria de suas dissecações, contudo, limitava-se a corpos de animais, em
especial do macaco africano, uma vez que a abertura de cadáveres humanos era
considerada profanação religiosa, rigorosamente proibida por lei.
Mesmo incorrendo em inúmeros equívocos – seja pela profusão de seus
apontamentos, seja pela importância associada à sua figura na corte de Marco
Aurélio, seus escritos transformaram-se em paradigma durante o período histórico
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posterior, constituindo-se efetivamente em dogma para a medicina durante a Idade
Média, juntamente ao Corpus hippocraticum (tratado que a tradição atribui
a Hipócrates), e aos Tópicos de Aristóteles.
Essa cristalização paradigmática medieval paralisou o estudo anatômico por
alguns séculos.
A ditatorial tutela que a igreja Católica exerceu sobre o conhecimento no
período escolástico fomentou explicações divinas à origem das doenças, sendo uma
das maiores causas adversas ao desenvolvimento consciente e sistemático dos
estudos médicos (e das ciências em geral).
À quase total retração no período medieval – quando as dissecações
foram sumariamente proibidas – segue-se o surgimento do estudo anatômico na
Europa renascentista, cujos avanços, entretanto demandaram desconstruções e
reinvenções.
Até então, a concepção clássica (filosófico-religiosa pagã) e a mediação mística
entre o homem e o mundo (está pressuposta pela escolástica) ofereciam todas
coordenadas de interpretação acerca do homem e de sua relação com a morte; e com
o próprio corpo morto.
Apenas no início de 1400 as dissecações voltam a aparecer, tendo alguns
eventos atuado sobremaneira neste retorno: o crescente fortalecimento das
corporações de ofício (ou guildas) medievais – em especial a dos cirurgiões-barbeiros;
as grandes navegações que entraram em contato com novos métodos no tratamento
de doenças; a disponibilidade de recursos para investimentos em técnicas de cura e
a descoberta de terapêuticas originadas a partir da apreensão da organização interna
do corpo – o que estimulou, por fim, estudos mais completos e o início da
especialização da medicina como disciplina autônoma do conhecimento.
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Fonte: gustavotdiaz.com
Fonte: gustavotdiaz.com/2016/04/09
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O ensino anteriormente desenvolvido nas cátedras e teatros anatômicos (cujo
símbolo máximo fora o Teatro Anatômico de Pádua), baseava-se no distanciamento
entre doutores e discípulos, ancorado por uma divisão mais profunda: entre trabalho
manual e intelectual.
O ensino anteriormente desenvolvido nas cátedras e teatros anatômicos (cujo
símbolo máximo fora o Teatro Anatômico de Pádua), baseava-se no distanciamento
entre doutores e discípulos, ancorado por uma divisão mais profunda: entre trabalho
manual e intelectual.
Essa separação manteve a “letra” clássica intacta, perpetuando uma escala
rígida e tradicional de poder. As gravuras realizadas neste período demonstram
claramente esse distanciamento físico entre o orador doutor (ou professor catedrático)
e o cadáver.
Enquanto o primeiro lia em voz alta o tratado de Galeno no púlpito, um cirurgião-
barbeiro dissecava o corpo, e um assistente apontava com um bastão as supostas
estruturas orgânicas recitadas (os cirurgiões eram também barbeiros, ou vice-versa,
pois naquele tempo os profissionais organizavam-se a partir de seus instrumentos de
trabalho – como as ferramentas para ambos os ofícios eram praticamente as mesmas,
o mesmo profissional exercia ambas as funções).
Fonte: gustavotdiaz.com
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Nesse sistema das cátedras, as incoerências eram enormes, porém caladas,
uma vez que o mistério do dogma determinava a “verdade” do livro em relação à
realidade da dissecação.
A revolução impetrada por Andreas Vesalius foi a de eliminar a distância entre
o orador e o corpo, assumindo o papel do cirurgião-barbeiro e realizando ele mesmo
a dissecação enquanto ministrava suas aulas e registrava suas observações.
Uma tela de Michiel Janszen Mierevelt de 1617 é particularmente sintomática
da contradição enunciada. Embora ilustre manifestamente as novas diretrizes
vesalianas indicadas pelo fórceps (ou pinça) na mão do próprio orador catedrático,
mais do que isso, ela apresenta uma noção profunda da incomunicabilidade ainda
presente entre o mundo antigo e uma nova era emergente – a realidade moderna.
Na tela, todas as figuras (à exceção de uma, aparentemente distraída) olham
diretamente para o espectador, ou para o pintor, como se posassem para um retrato
– o que de resto fazem – ao passo que o cadáver, aberto e exposto em primeiro plano,
tem os olhos vendados com um pano.
Estão ali, o cadáver – que se entrega ao cutelo e à ciência do orador, os
estudantes e doutores que um segundo antes deviam estar entretidos na dissecação.
Mas eles interrompem sua atividade; em verdade não estão ali presentes; nada
se comunica na tela.
Esses personagens, incluindo o cadáver, não se comunicam de forma alguma,
como se não quisessem, diante do olhar de um terceiro, demonstrar que estiveram
envolvidos numa atividade ainda carregada da “ignomínia do trabalho manual”.
Fôssemos dar crédito aos olhares de todos (em especial daquele que se
distrai), diríamos que há um “constrangimento” geral com a situação diante de um
espectador intruso. Só não sabemos quem se mostra mais constrangido – se os
viventes, ou o cadáver, com a venda nos olhos.
Outra tela de ordem semelhante, pintada poucos anos depois, manifesta
claramente uma atitude já amadurecida em relação a esse “constrangimento” – que é
o contrangimento da inadequação entre o passado e o presente, entre uma tradição
de distanciamento da morte, de relações prefixadas no exercício do poder; um
desconforto em relação a um novo que não se pode compreender totalmente,
tampouco aceitar.
Esta tela é a famosa Lição de Anatomia do Dr. Tulp (1632) de Rembrandt Van
Rijn (Leyden, Holanda, 1606. Hendrickje, 1669).
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Nela, assim como na tela de Mierevelt, nenhum dos oito personagens
representados miram diretamente o cadáver; mas a atitude deles é a de cirurgiões à
vontade diante de um estudo que lhes parece sobremodo sério e coerente.
Estão compenetrados no que fazem e não se preocupam em olhar para o
observador, ou pintor, que se imiscuiu em sua sessão de estudos (a não ser dois
deles, nos últimos planos, que de fato olham diretamente para o observador; um deles
aparentemente interroga com o cenho aquela entrada inoportuna, segurando um
papel onde se pode ver um desenho esquemático da região do cadáver naquele
momento dissecada – sintomaticamente um braço, junto da nominata dos presentes).
A sombra da cabeça de um dos cavalheiros que assistem a sessão projeta-se
sobre os olhos do cadáver – uma alternativa sofisticada à “venda de pano” nos olhos
do cadáver de Mierevelt. Mas os olhos fechados do cadáver na tela Rembrandt,
mesmo na sombra, permanecem visíveis: aparecem.
O que se apresenta ali são homens à vontade em seu ofício e em seu tempo,
mas inconscientes ainda da vanidade das suas ações e da sua ciência (está só se
dará alguns séculos depois, talvez no vigésimo século, quando os cientistas
perceberem, como ainda o fazem, que a ciência só pode estudar o que já é passado
e morto, que necessita exterminar o presente momento da coisa para torná-la um seu
objeto de estudo – este é um conteúdo subjacente importantíssimo que se pode
depreender da tela de Rembrandt).
Se Rembrandt assimila esta nova postura dos médicos ante seu objeto de
estudo, um sentido de retrocesso, porém, pode ser avaliado na mesma tela.
Durante séculos de fuligem antes da restauração da obra, num canto obscuro
à direita, algo permaneceu oculto: um livro aberto.
Um livro que não está na mão de nenhum dos personagens, um livro que indica
e instrui o estudo em questão, mas que está abandonado para um canto, e não no
centro da composição.
Esta inversão revolucionária em relação às gravuras e à concepção medieval
(cuja tutela se devia aos livros, em especial o Tratado de Galeno) não é, entretanto,
total.
O absolutismo da cultura livresca que perpetuou o dogma nos estudos
anatômicos na Idade Média é aqui indiretamente reafirmado por Rembrandt como o
espectro de um período anterior.
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Numa época em que Vesalius triunfava gloriosamente, estabelecendo sua
hegemonia nas ciências naturais e nas artes livres, período onde qualquer
constrangimento, inclusive oriundo da esfera oficial, fora superado, a cultura do livro
e da teoria ainda prevalece.
Três dos personagens que estudam o cadáver olham atentamente para aquele
livro no canto inferior da tela, mais preocupados com a teoria do que com o corpo que
se desvenda e se abre a sua frente.
O impressionante é o fato de tratar-se justamente do tratado de Vesalius – este
cientista revolucionário que substituiu a cultura livresca e tutelar da Idade Média pelo
empirismo e pela observação direta, in vivo, da Anatomia.
Fonte: filosofiadodesign.com
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Desta maneira, Rembrandt nos põe diante dos olhos a cavidade abdominal do
cadáver aberta, o crânio recém dissecado que o anatomista Deyman investiga, e a
face inteira do cadáver exposta.
São sintomáticas a exposição deste corpo e a maneira como Rembrandt
compõe e organiza os elementos na tela.
Ao lado do corpo há um cavalheiro que assiste à dissecação segurando com
displicência e visível abandono o que parece ser uma tigela de instrumentos
cirúrgicos, mas que a um olhar mais atento revela-se o osso parietal, quer dizer, o
tampo do crânio do cadáver, que foi serrado.
Fonte: www.sabercultural.com
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tensão anterior entre a Idade Média e o Renascimento), fora instaurada, carregada
das sombras do chiaroscuro característico do período Barroco. Volta-se à imprecisão
do desenho e da anatomia, recorre-se à cor e aos contrastes para criação de cenas
de largo alcance emocional imbuídas de subjetividade, e isolamento, à medida da
catarse (cf. M. M. Caravaggio).
Tudo isso, porém, agrega uma nova atitude em seu âmago, move-se com
naturalidade na aproximação com o cadáver e com o mistério, antes isolado numa
esfera imponderável. (O tom que completa está paleta é a opção de Rembrandt, e de
muitos ouros barrocos, de sempre utilizar em sua produção a indumentária e os
ambientes de seu próprio tempo nas obras em que figuram personagens e cenas do
mundo bíblico – outro sinal de convergência e informalidade diante do mistério).
A sensibilidade de Rembrandt em identificar (talvez não de todo
conscientemente) o distanciamento incômodo, mas, liberal, na atitude dos
anatomistas ante seu objeto de estudo na tela de 1632, expressa-se renovada na tela
de 1656. Nesta última Rembrandt manifesta a percepção de uma nova atitude: a
superação do constrangimento da transição, onde o establishment da revolução
operada por Vesalius (mesmo que abafada pela Contrarreforma) era já completa.
Isso se comprova à evidência quando se percebe que o personagem que
Rembrandt coloca impudentemente diante do cadáver é o próprio espectador – ou,
sob outra perspectiva, o pintor Rembrandt Van Rijn, agora acostumado a frequentar e
participar de uma sessão de dissecação com desembaraço; desembaraço de uma
nova época que o artista sentiu no curso dos seus próprios estudos: uma época fatal
em que o corpo morto, de tabu, transforma-se em objeto de estudo, e cujo próximo
passo, iminente (e quase um prenúncio) é a banalização da morte.
Mas gostaríamos de abrir um paralelo entre Vesalius e Rembrandt e a obra de
dois outros artistas anteriores: os estudos anatômicos de Leonardo da Vinci realizados
entre 1489 e 1510; e o teto da Capela Sistina, de Michelangelo Buonarroti (1508-12).
A obra e a disposição moral destes últimos puderam estabelecer um elo de
possibilidades entre Vesalius e Rembrandt, impulsionando a ciência do primeiro e
possibilitando a arte do segundo.
Aventa-se que a Michelangelo teriam sido originalmente encomendadas as
ilustrações do De Humani Corporis Fabrica; e chegou-se a sugerir também que as
gravuras fossem um plágio de desenhos de da Vinci. Ambas as afirmações, mesmo
que desmentidas, não são, contudo, completamente absurdas. Esses dois artistas
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estavam por demais engajados no estudo da Anatomia, eram contemporâneos de
Vesalius e foram, talvez, tanto mais longe que ele neste assunto. Dois eventos
barraram às gerações ulteriores essa consciência. Michelangelo fez questão de
destruir seus esboços e estudos preparatórios e ocultou cuidadosamente seus
conhecimentos num sistema codificado.
Fonte: filosofiadodesign.com
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Fonte: filosofiadodesign.com
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Fonte: artemazeh.blogspot.com.br
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Sigmund Freud, acerca da composição e da função das personagens da Sistina, que
só agora possuem um sentido coerente.
O que daí nos interessa assinalar são as mesmas características apontadas
em relação aos estudos de da Vinci: a mesma ousadia prática e teórica, embora que
a seu modo, de ir ao fundo e encontrar-lhe a origem, a mesma intenção de síntese
entre um passado clássico (inclusive de resgate técnico e estético do ofício escultórico
greco-romano) e a nova ciência empírica da dissecação anatômica, possibilitada por
uma atitude objetiva e revolucionária ante o conhecimento.
É curioso notar a inversão que Michelangelo faz – Deus se espelha na imagem
do homem, e não o inverso, onde o homem é feito segundo a “imagem e semelhança
de Deus”. A inversão parece redundante; mas a redundância se cala quando
entendemos o complexo sistema de referências no qual está codificada a obra do
escultor.
Os versos acima podem ser entendidos como um correlato da Criação do
Homem, um dos nichos centrais da Capela Sistina. Nele, um indolente Adão recém-
criado estende majestosamente a mão esquerda a que um Deus se esforça,
distendido e pressuroso, para alcançar… O quê? Talvez seu filho, humano e real, para
dele receber a vida; não o contrário.
O indício anatômico subliminar nesta imagem, levantado há alguns anos por
um neurologista norte-americano, é que a imagem oculta um corte sagital do crânio,
com minúcias como sulcus singuli (que separa os lobos parietal e temporal), e cuja
silhueta é entrevista de forma extraordinariamente nítida na concha esvoaçante
cercada de querubins onde a figura alegórica de Deus encontra-se.
Fonte: www.quo.es
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Não é arbitrária esta correlação, onde Deus é associado ao cérebro humano:
representação da inteligência, causa primeira de tudo… Estará o artista inferindo uma
sofisticada relação especular entre imagem e semelhança – Deus é a origem do
Universo assim como a inteligência do homem a origem de sua própria criação? Ou,
numa visão mais cética, estará ele inferindo que Deus é produto da imaginação da
criatura?
As obras abordadas neste pretenso ensaio dizem respeito a artistas
profundamente engajados numa revolução que se operava em suas devidas épocas.
Nenhum deles fora conivente com a atitude geral de seus contemporâneos,
tanto na arte quanto na ciência e souberam buscar no passado o fundamento da
atitude revolucionária, compreendendo que a dialética dos movimentos artísticos se
opera entre avanços e resgates, rupturas e contiguidades.
Michelangelo e Leonardo da Vinci beberam das lições históricas da Grécia e
da Roma antigas, tendo de se confrontar com a Idade Média para desconstruir o que
nela havia de retrógrado e conservador.
Fonte: pt.wikipedia.org
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Esses artistas não se eximiram dos obstáculos criados pelo senso comum de
sua época; não tiveram receio de buscar no passado as soluções que faltavam ao
engenho presente, e assim deflagraram uma revolução cultural em seu tempo.
Profundamente afinados com seu meio, no entanto atentos ao passado e ao
progresso possível – porém longe das modas, e dogmas; e concentrados
profundamente em suas pesquisas.
Nem é preciso dizer que a revolução operada na Arte desse período era o
triunfo da burguesia moderna, cujos agentes haviam se apropriado do manancial de
cultura disponível. Indicam-nos, porém, hoje, um caminho para uma nova apropriação
e uma nova atitude revolucionária a serviço de uma cultura emancipatória que não se
furte ao engajamento e à ruptura; bem além dos limites do senso comum
contemporâneo, mas corajosamente atenta às posturas revolucionárias, e também
aos seus limites.
Daí até então o estudo da Anatomia progrediu imensamente, tendo em Charles
Darwin (Shropshire, Reino Unido,1809. Down, 1882) um marco deflagrador de sua
importância ao estudo das ciências, uma vez que Darwin baseou a teoria da evolução
das espécies em constatações anatômicas. Isso descortinou um imenso campo de
investigação às Ciências Biológicas fundamentadas na Anatomia.
Hoje, avançadas técnicas facilitam a apreensão da Anatomia como softwares
3D, e a “plastinação”, criada pelo alemão Gunter von Hagens; outras colocam a
possibilidade desse estudo também em corpos vivos, tais como os Raios-X, ultra-som,
ressonância magnética, tomografia computadorizada, cinerradiografia, drogas
radioativas, aparelhos elétricos registradores e a endoscopia para exame de órgãos
cavitários.
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A ANATOMIA NO BRASIL34
Fonte: www.obiologo.eco.br
Fonte: www5.usp.br
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A tradição aristotélico-tomista herdada da Idade Média tinha como opositores
os intelectuais lusitanos classificados como “estrangeirados”, isto é, que buscavam
renovar o conhecimento a partir do empirismo e do experimentalismo que vigorava na
prática e no ensino científico na França e na Inglaterra.
Fruto do empenho desse grupo em “modernizar” a cultura portuguesa segundo
as propostas da filosofia iluminista, em 1772, com o apoio do rei dom José I, foram
aprovados os Estatutos da Universidade de Coimbra, que, no referente à formação e
prática da “medicina empírico-racional”, buscou estabelecer pontes entre a “arte de
curar” e o “ofício do cirurgião”, cobrando de todos os médicos conhecimentos
aprofundados da anatomia humana, permitindo, aliás, a dissecação de cadáveres,
estratégia vista como fundamental para o melhor entendimento das doenças e da
realização de cirurgias.
Mesmo contando com oposições que entendiam o ensino de anatomia como
“inútil e desnecessário”, construiu-se um teatro anatômico em substituição às
diminutas salas nas quais se dissecavam mais animais do que cadáveres humanos,
refletindo uma nova postura de relação entre a teoria e a prática no processo de
conhecimento do corpo humano e também do ensino de medicina (Abreu, 2007,
p.150).
Fonte: de.123rf.com
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metropolitano, mais minucioso, burlavam com certa liberdade a legislação vigente,
servindo como possíveis centros de pesquisa e ensino de anatomia. Nos primeiros
anos do século XVIII, Luís Gomes Ferreira, um dos lusitanos que se transferiu para o
Brasil para atuar como cirurgião da capitania das Minas, “realizou dissecação em um
escravo com o intuito de descobrir a causa da morte do cativo” (Abreu, 2007, p.152).
Apesar disso, a carioca Academia de Seletos tem sido indicada como o local
onde foram realizados os primeiros estudos de anatomia, cabendo a primazia ao
cirurgião Maurício da Costa que, em 1752, publicou as primeiras memórias relativas
às questões anatômicas.
No plano do ensino, exemplar mostra-se a trajetória de João Álvares Carneiro
que, emblematizando um novo tempo no ensino de medicina antes de se tornar um
dos mais renomados cirurgiões do seu período, em 1790, quando contava com 14
anos de vida, ingressou como aprendiz na Santa Casa do Rio de Janeiro.
Lá, foi aluno do cirurgião Antônio José Pinto, a quem se atribui o pioneirismo
de lecionar o primeiro curso de anatomia na corte e, provavelmente, em todo o Brasil
(Santos Filho, 1977, p.294). Ainda no final do século XVIII, há notícias de que a
anatomia humana era ensinada no Hospital Militar de Vila Rica. A necessidade de
assistir os soldados impunha a premência do conhecimento dos segredos internos
dos corpos para a proteção da própria Coroa e, por isso, Antonio José Vieira de
Carvalho, cirurgião do Regimento de Cavalaria das Minas Gerais foi convocado para
ministrar “aulas de anatomia” (Aires Neto, 1948, p.78-79).
Fonte: www.revistamilitar
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A transferência forçada da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, ensejou
que, em fevereiro daquele ano, fosse criada a escola médica da Bahia.
Fundada como Escola de Cirurgia do Hospital Militar, a instituição foi
organizada sob a liderança do pernambucano José Ferreira Picanço, o qual fora
discípulo do anatomista Manuel Pereira Teixeira, tendo-se especializado
posteriormente em métodos de ensino de anatomia na Universidade de Montpellier
(Aires Neto, 1948, p.79).
Fonte: www.wreducacional.com.br
Nessa escola, que mais tarde foi renomeada como Faculdade de Medicina da
Bahia, a primeira lente de anatomia foi o português Soares de Castro que, em 1812,
publicou uma série de quatro fascículos sobre osteologia, miologia, angiologia e
nevralgia, os quais contavam com descrições anatômicas. Soares de Castro foi
sucedido no cargo de professor de anatomia pelo inglês Johannes Abbot; ao longo de
trinta anos de docência, Abbot introduziu de vez a prática de dissecação de cadáveres
humanos no ensino médico nacional e fundou o primeiro museu anatômico brasileiro
(Aires Neto, 1948, p.84).
No mês seguinte à fundação da escola médica baiana, dom João VI criou a
escola médica do Hospital Militar do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, indicando
para lente de anatomia Joaquim da Rocha Mazarém, que mais tarde traduziu para o
português vários textos assinados por Bichat e por Antelmo Richeraud. Alguns anos
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depois, Mazarém foi substituído por Joaquim José Marques, que ocupou a cátedra de
“anatomia teórica e prática” e de “fisiologia, segundo as partes e sistemas da máquina
humana” (Aires Neto, 1948, p.85; Santos Filho, 1991, p.44-45).
Com isso, favoreceu-se o ensino sistemático de anatomia como condição para
a prática médica em geral e a cirurgia em especial. Nesse âmbito, é preciso notar que
as duas escolas médicas brasileiras criadas pela corte portuguesa foram orientadas
pela vertente francesa da medicina, que então priorizava o atendimento do paciente
“à beira do leito”, dando impulso Ana Carolina Biscalquini Talamoni, Claudio Bertolli
Filho 1306 História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro a uma formação
de médicos destinados ao exercício da clínica e auxiliando também na resolução dos
desafios propostos pela saúde pública (Araújo, 1979, p.32).
Em âmbito global, a tendência francesa contrapunha-se à abordagem
anatomoclínica emblematizada pela medicina germânica, fortemente influenciada
pelas pesquisas laboratoriais, e cuja ascendência no Brasil terá como símbolo maior
a Faculdade de Medicina de São Paulo, inaugurada na segunda década do século
XX.
Fonte: www.keyword
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anatomia patológica dos cursos, proposta criticada pela “ala jovem” dos médicos
cariocas (Torres Homem, 1862, p.51).
O próprio Torres Homem buscou introduzir na Gazeta Médica do Rio de
Janeiro, periódico do qual era um dos redatores, notícias sobre a carência de
equipamentos, materiais e funcionários na cadeira de anatomia da escola médica
carioca, além de assinar um artigo no qual o autor se contrapunha a “certos homens,
aliás, ilustrados” que criticavam a continuidade das aulas de anatomia, enfatizando a
importância do ensino de anatomia geral e patológica para os alunos de medicina
(Torres Homem, 1862, p.51-52).
Fonte: www.anm.org.br
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No introito de uma de suas obras, Torres Homem confidenciou estar sendo
caluniado por alguns dos seus pares pelo fato de ser favorável à prática da
necroscopia, que havia sido regulamentada na França nesse mesmo período.
Em seguida, explicou por que se mostrava defensor da realização de autópsias
como estratégia para o ensino de medicina: A quarta parte [do livro] reservei para o
estudo das autópsias, debaixo do ponto de vista clínico, isto é, como fonte de instrução
em medicina prática.
Fonte: www.acidadeon.com
Esforcei-me por dar ao meu livro todo o cunho prático, fugindo, tanto quanto
possível, das abstrações teóricas e das discussões especulativas estranhas à clínica,
e que nada de útil a ela fornecessem (Torres Homem, 1870, p.IX).
Enfim, não havia, no cenário brasileiro, maiores empreendimentos que
visassem à consagração da anatomia enquanto campo disciplinar autônomo, situação
que se iria reproduzir no século XX, especialmente entre os especialistas formados
no Rio de Janeiro e na Bahia, mesmo após terem surgido outros cursos universitários
que faziam uso do conhecimento anatômico.
A nossa realidade aqui no Brasil é bastante distinta, contudo. A ausência de
legislação efetiva a respeito da doação de corpos somada com os obstáculos culturais
e religiosos da nossa população nos põe em paridade com os EUA de dois séculos
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atrás, no qual somente os corpos não reclamados podiam ser utilizados para
dissecação.
Isso demonstra a nossa dificuldade para obter material cadavérico para o
ensino da Anatomia.
Fonte: nathaliamoncao.wordpress.com
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sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. Por certo amou e foi amado,
esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudades dos outros que partiram.
Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer,
sem que tivesse uma só prece. Seu nome, só Deus sabe. Mas o destino inexorável
deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. A humanidade que por ele
passou indiferente”. (Rokitansky, 1876).
Fonte: www.medicospace.com
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Fonte: www.wreducacional.com.br
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Fonte: estudenamelhor.loja2.com.br
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Nos dias atuais o ensino da anatomia é realizado nas universidades tanto por
processos de dissecação de cadáveres como de peças cadavéricas formolizadas,
sendo essas práticas consideradas fundamentalmente o alicerce para a construção
do conhecimento em aulas de anatomia humana, pois fixam os conhecimentos
teóricos adquiridos em sala de aula presentes em cursos dentro da área das ciências
da saúde.
Fonte: www.acreaovivo.com
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