Introdução à

Morfologia
Humana
Paulo Rafael Cardoso de Sousa
Mestre em Patologia – UFC
 Conceito de Anatomia

Em seu sentido mais amplo, a Anatomia é a ciência que estuda, macro e

microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres
organizados.
Do grego anatome (Ana = através de; tome = corte)
Do latim dissecação (dis = separar; secare = cortar)

O estudo da Anatomia compreende desde o estudo das mudanças ao

longo do tempo até ao tamanho e outras características estruturais dos
diferentes sistemas biológicos.

A anatomia pode ser dividida em 3 grupos:

- Macroscópica;
- Microscópica;
- Anatomia do desenvolvimento.
 Histórico da Anatomia – Os Primeiros Anatomistas

A estratégia de estudo da Anatomia Humana foi progredindo ao logo

de vários séculos:
• Egípcios e Mesopotâmios com o exercício da medicina animal: os
primeiros anatomistas citados, inclusive, no “Código de Hamurabi”;
• Egito Antigo (XXVII a.c): estudo da anatomia das mumificações do
corpo;
• Hipócrates (400 a.c): escrita das obras sobre tratados de anatomia,
De Anatomia (IV a.c) e Do Coração (340 a.c).
• Aristóteles (384-322 a.c): fundador da anatomia comparativa, com a
ideia equivocada do coração como centro das emoções.
• Século III a.c., iniciou-se os estudos massivos de anatomia por
Herófilo e Ersístrato = primeiros a dissecarem corpos humanos;
• Fundação da Escola de Alexandria de 300-290 a.c.;
• 150 a.c: proibição da dissecação humana por razões éticas e
religiosas.
 Histórico da Anatomia – Desaceleração
O conhecimento anatômico sobre o corpo humano continuou no mundo helenístico.

Galeno (séc. II d.c): considerado o primeiro anatomista do mundo. Com

a publicação de um recente Tratado de Anatomia Humano, mas com
dados de dissecação de porcos, macacos e outros animais.
Galeno desenvolver a
doutrina da “causa final”,
um sistema teológico que
requeria que todos os
achados confirmassem a
fisiologia tal qual ele a
compreendia.
Os “ladrões” de corpos
 Leonardo da Vinci (1452 – 1519)
O contato com esses corpos tornou possível o desenho
anatômico de mais de 1200 peças produzidas.
Leonardo da Vinci foi o primeiro artista que considerou a
anatomia além do ponto de vista meramente pictórico.

É um estudo das proporções do corpo

humano, ligando arte e ciência numa
obra singular que representa o
Humanismo Renascentista.
Os desenhos de Da Vinci evidenciam, não só a arte, mas
também um profundo conhecimento anatômico.

Ele acreditava que a verdade anatômica na arte só

poderia ser atingida na mesa de dissecação.

Leonardo acertou com exatidão

espantosa, por exemplo, detalhes sobre
a posição do feto no interior do útero
antes de imagens modernas.

Segundo Freud, “Leonardo da Vinci

acordou do sono da Idade Média antes
dos outros homens”.
 Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564)
A força e o dinamismo desmedidos do corpo humano
atingiram seu ápice com Michelangelo Buonarotti.
Ele passou pelo menos vinte anos adquirindo conhecimentos
anatômicos através das dissecações que praticava
pessoalmente.
 Histórico da Anatomia – A dissecação como desrespeito (séc. 16 e 17)

Por séculos, as escolas de anatomia utilizavam em suas aulas corpos de criminosos

condenados à forca.

Aos criminosos era negado o funeral

religioso e seus esqueletos eram
mantidos em universidades e
expostos ao público.

Isso não ajudou a melhorar a

imagem do estudo de
cadáveres!
Andreas Vesalius (1515 – 1564)
Vesalius realizada um grande número de dissecações com
corpos humanos.

Insistia que o conhecimento derivava da confiança nos exames

de cadáveres e não apenas nos textos antigos.

Ele submeteu os antigos tratados anatômicos a rigorosos testes:

com comparação direta com o corpo dissecado.
(Correção de erros)

Vesalius investiu na contratação dos melhores artistas da época

e xilógrafos para a preparação das gravuras dos novos
componentes observados e das alterações com as devidas
correções.

A produção de imagens baseada na dissecção tornou-se um

componente central da anatomia científica.
De Humanis Corporis Fabrica (1543)
 Histórico da Anatomia – O Reconhecimento
Até o início do século XX, os anatomistas começaram a visualizar
elementos imaginativos da ilustração científica.

A anatomia passou a ganhar mais precisão e técnica com o

surgimento e aperfeiçoamento das tecnologias de impressão.

Nos anos de 1700, foram fundados museus anatômicos com

peças de dissecações anatômicas humanas.

Com isso, houve o surgimento de dois estilos de realismos

anatômico:

1- Objetivo de mostrar a realidade da dissecação de um órgão,

com todas as estruturas e “feiuras” das mutilações anatômicas;
2- Realidade elevada de embelezamento, com corpos
idealizados, sem referência a qualquer dissecção.
Histórico da Anatomia – Nos dias de hoje...
 O que diz a legislação brasileira?
O Código Civil brasileiro autoriza a doação voluntária do
próprio corpo em vida de acordo com o Artigo 14 da Lei
010.406.2002 que diz que “é válida, com objetivo científico, ou
altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou
em parte para depois da morte. O ato de disposição pode ser
livremente revogado a qualquer tempo”.

Ainda, a lei 8.501/92, em seu Artigo 2º, regulamenta o

recebimento de corpos não reclamados: “o cadáver não
reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de trinta
dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de
ensino e de pesquisa de caráter científico”.
 Oração ao Cadáver Desconhecido
“Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que
este corpo nasceu do amor de duas almas, cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela
que em seu seio o agasalhou.

Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens.

Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudades dos outros
que partiram.

Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que
tivesse uma só prece.

Seu nome, só Deus sabe.

Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. A humanidade

que por ele passou indiferente”
- Carl Rokitansky
 Nomenclatura anatômica

A anatomia segue a linguagem P.N.A (Paris Nomina Anatomica).

Ao designar uma estrutura do organismo, a nomenclatura deve:

- Utilizar termos que tragam informação em seu escopo;
- Descreva características;
- Termos que indiquem forma, posição, trajeto, conexões etc.

Nervo mediano
Músculo trapézio
Artéria circunflexa da escápula
Músculo levantador da escápula
Ósteo faríngeo da tuba auditiva

Porém há algumas exceções.

 Métodos de estudo da anatomia

1. Inspeção: analisar através da visualização das

estruturas, seja ectoscópica ou endoscopicamente.
2. Palpação: analisar através do tato para verificação
de pulsação, tendões musculares, saliências ósseas
etc.
3. Percussão: através de batimentos digitais na
superfície corporal para produção de sons audíveis,
que ajudam a determinar certas estruturas e
composição de órgãos (gases, líquidos, sólidos etc);
4. Ausculta: ouvir órgãos em funcionamento (coração,
pulmão, intestino).
5. Mensuração: avaliar a simetria corporal e eventuais
megalias.
6. Dissecação: separar minuciosamente as diferentes
estruturas.
7. Estudo por imagem: raios-x, ecografia, ressonância
nuclear magnética e tomografia computadorizada.
 Normalidade e variação anatômica
“Normal”, para a anatomia, é o mais comum, estatisticamente.
Variação anatômica é qualquer fuga do padrão sem prejuízo da função.
Caso ocorra prejuízo funcional trata-
se de uma anomalia e não variação.
Caso a anomalia deforme
profundamente a construção do
corpo sendo, em geral, incompatível
com a vida, é uma monstruosidade.
 Normalidade e variação anatômica

Existem algumas circunstâncias que

determinam variações anatômicas
normais e que devem ser descritas:

- Idade
- Sexo
- Etnia
- Tipo morfológico constitucional
(biotipo)
 Divisão do corpo humano

O corpo humano divide-se em cabeça,

tronco e membros:

1. Cabeça: dividida em crânio e face.

2. Tronco: dividido em pescoço, tórax,

abdome e pelve.

3. Membros: superiores e inferiores.

 Planos e delimitações do corpo humano

Para evitar termos diferentes nas Na posição anatômica, o corpo

descrições anatômicas, optou-se por
uma posição padrão, denominada
posição de descrição anatômica.
“Posição ereta, em pé, bípede, com
face voltada para frente, olhar dirigido
ao horizonte, membros superiores
estendidos com palmas voltadas para
frente e membros inferiores unidos,
com as pontas dos pés para frente.”
humano pode ser delimitado por
planos tangentes à sua superfície.
Desta forma, temos os seguintes
planos:
- Ventral ou anterior;
- Dorsal ou posterior;
- Lateral direito;
- Lateral esquerdo;
- Cranial ou superior;
- Podal ou inferior.
Secções do corpo humano

 Plano sagital mediano

 Plano parassagital
 Plano frontal
 Plano transversal
 Termos Anatômicos
Posição
- Inferior ou caudal
- Superior ou cranial
- Anterior ou ventral
- Posterior ou dorsal
- Medial
- Lateral

Direção
- Longitudinal ou crânio-caudal
- Ântero-posterior ou dorso-ventral
- Látero-lateral

Situação
- Mediano
- Médio
- Lateral
 Termos Anatômicos
Comparação
- Proximal e distal
- Palmar e plantar
- Oral e aboral
- Aferente e eferente
- Superficial e profundo
- Holotopia e sintopia
- Esqueletopia
- Idiotopia

Movimentação
- Flexão e extensão
- Adução e abdução
- Retrusão e protrusão
- Oclusão e abertura
- Elevação e abaixamento
 Organização geral do corpo humano
Átomo

Molécula

Macromoléculas

Organela

Célula

Tecido

Órgão

Sistema

Organismo
 Princípios de Construção do Corpo Humano
Antimeria
O corpo está dividido em duas metades homólogas, chamadas de antímeros.
 Princípios de Construção do Corpo Humano
Metameria
O corpo é dividido em segmentos superpostos, através de planos
transversos sucessivos no sentido crânio-caudal, chamados de
metâmeros.
 Princípios de Construção do Corpo Humano

Paquimetria

O corpo é dividido em duas

metades heterólogas, chamadas de
paquímeros.

Dois tubos
 Princípios de Construção do Corpo Humano

Estratificação

O corpo possui estruturas dispostas

em estratos ou camadas.