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ESTUDO DO

MOVIMENTO I:
ANATOMIA E
FISIOLOGIA

André Osvaldo Furtado da Silva


Introdução ao estudo
da anatomia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever os aspectos históricos e a evolução da anatomia.


„„ Identificar as particularidades do estudo anatômico.
„„ Listar as principais cavidades do corpo a fim de compreender suas
funções.

Introdução
O início dos estudos de anatomia humana data de centenas de anos a.C.
e, com o passar do tempo, houve sua evolução juntamente ao desenvol-
vimento de melhores métodos para a dissecação de corpos e a migração
do estudo em animais para seres humanos. Por meio deles, pode-se
compreender melhor como o corpo humano é constituído e as células
que compõem os órgãos, os quais formam sistemas presentes no interior
das cavidades anatômicas. Assim, torna-se possível combater doenças
e melhorar não somente os níveis de saúde, como também preservar
e propiciar melhores condições para aumentar a expectativa de vida.
Neste capítulo, você estudará os aspectos históricos e a evolução da
anatomia, as particularidades do seu estudo e as principais cavidades
do corpo para compreender suas funções.

Anatomia humana
A anatomia é o estudo micro e macroscópico da estrutura física dos seres
orgânicos, no qual se considera seu formato e sua disposição. Tal palavra se
originou do latim anátomo, que tem sua definição criada pelos gregos, de
modo que ana significa por meio de; e tomos, corte. Portanto, pode-se afirmar
2 Introdução ao estudo da anatomia

que ela é a ciência que, por meio de corte e dissecação do corpo, seja humano,
animal ou vegetal, busca conhecer sua estrutura interna. A anatomia também
se trata de um ramo da medicina que estuda a forma e a estrutura dos diferentes
elementos que constituem o corpo humano.
Os primeiros estudos sobre anatomia datam de centenas de anos a.C.,
quando se iniciaram as primeiras dissecações em animais, mas com o passar do
tempo e a necessidade de se identificar a causa da morte de alguns indivíduos,
seja por uma questão criminal ou pela posição que ocupava na sociedade, foi
necessária a evolução nas dissecações e na análise das causas de morte. Nesse
sentido, houve a evolução nos estudos anatômicos e nos modos de dissecar
organismos vivos.

História dos estudos em anatomia


A história dos estudos em anatomia humana pode ser dividida em três partes.
A primeira é na Antiguidade, com os primeiros estudos sobre o corpo e as
dissecações realizadas por Alcméon de Crotona há centenas de anos a.C.. A
segunda se refere aos estudos de Andreas Vesalius, responsável pela evolução
das análises de anatomia de modo que seus conceitos contribuíram para que
houvesse uma separação sobre o que seriam estudos em anatomia e em fisio-
logia. A terceira fase ocorreu em meados do século XVI, quando o médico
inglês William Harvey realizou estudos de aprofundamento em anatomia,
mais especificamente ao formular e publicar o livro Estudo anatômico da
movimentação do coração e do sangue em animais, que aborda como o sangue
é bombeado e descreve seu caminho no corpo humano.

Primeiros estudos em anatomia


Ao estudar a anatomia humana, pode-se pensar que o conhecimento sobre o
corpo teve os primeiros indícios há mais de 500 anos a.C. por meio de Alcméon
de Crotona e, ao que tudo indica, ele realizou as primeiras dissecações em
animais. Ao longo da história, Aristóteles mencionou as ilustrações anatômi-
cas quando fez referência aos paradigmas que, provavelmente, eram figuras
baseadas na dissecação de animais, sendo que nessa época utilizava-se muitas
ilustrações desse tipo para identificar elementos do corpo.
Há 300 anos a.C., houve um avanço considerável nos estudos de anatomia,
mais especificamente na cidade de Alexandria, ao se considerar que as grandes
descobertas realizadas nessa área foram atribuídas a Herófilo e Erasístrato, os
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primeiros a fazerem dissecações humanas sistematicamente. Já em 150 a.C.,


a dissecação humana foi proibida por razões éticas e religiosas.
No século II d.C., por sua vez, tem-se as dissecações de Galeano, princi-
palmente em macacos e porcos, que aplicou os resultados obtidos na anatomia
humana, porém, alguns erros ocorreram devido à dificuldade de confirmar
os achados das pesquisas em cadáveres de seres humanos. Portanto, Galeano
desenvolveu a doutrina da causa final no sistema teológico, o qual requeria
que todos os achados confirmassem a fisiologia tal e qual ele a compreendia.
É possível pensar que o estudo da anatomia humana se reiniciou por razões
práticas e intelectuais. Como neste período eram constantes as guerras e
batalhas, havia a necessidade de deslocar os corpos dos mortos em combates
para seu local de origem. Assim, o embalsamento era suficiente para os trajetos
mais curtos.
No ano de 1300 d.C., a dissecação humana ganhou maior importância
devido ao desejo de se conhecer a causa da morte de indivíduos por razões
médico-legais, entender como ocorreu uma morte, averiguar o que havia
causado a morte de pessoas importantes e/ou resolver a natureza de uma peste
ou de uma enfermidade infecciosa. O verbo dissecar era usado também para
descrever a operação cesariana, que ocorria cada vez com maior frequência.
A anatomia no século XIII não se tratava de uma disciplina independente,
mas de um auxiliar da cirurgia. Nessa época, a medicina era relativamente
arcaica e reunia todo o conhecimento de pontos apropriados para a sangria,
como não se podia estudar os corpos, as figuras não realistas e esquemáticas
foram suficientes.

As primeiras ilustrações anatômicas impressas se baseavam na tradição manuscrita


medieval, surgindo o Fasciculus medicinae, uma coleção de textos de autores contem-
porâneos destinada aos médicos práticos, que alcançou muitas edições.
Sua primeira edição data de 1491, em que se utilizou a xilografia para figuras anatô-
micas pela primeira vez. As imagens representavam corpos humanos e mostravam
os pontos de sangria e as linhas que uniam cada figura às explicações impressas nas
margens. Já as dissecações foram desenhadas de forma arcaica e pouco realista.
Na segunda edição lançada em 1493, as posições das figuras eram mais naturais, e os
textos continuaram utilizando imagens mais descritivas. O capítulo final continha uma
obra de Johannes Peyligk, que trazia uma breve anatomia do corpo humano de forma
geral, porém, as 11 gravuras de madeira inclusas eram algo além das representações
esquemáticas.
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Além de textos anatômicos destinados especificamente aos estudantes de


medicina e aos médicos, foram impressas muitas páginas com figuras anatô-
micas em outras enciclopédias. Neste período, houve um grande interesse na
concepção e formação do feto humano, bem como consideravam os elementos
com a utilização sistemática da frase “conhece-te a ti mesmo” como orientação
filosófica e essencialmente não médica. Já a “Dança da Morte” se tornou uma
temática popular, sobretudo nos países de língua germânica, após a peste negra.
É possível pensar que as representações dos esqueletos e da anatomia humana
desenhadas por artistas são melhores que as dos anatomistas.
Nesta época, ao se considerar imagens, esculturas e desenhos para conhe-
cimentos anatômicos, pode-se indicar uma série de artistas que contribuíram
para a evolução histórica desses estudos. Leonardo da Vinci, por exemplo, foi o
primeiro artista que considerou a anatomia além do ponto de vista meramente
pictórico, desenhando mais de 750 imagens que retratavam o esqueleto, os
músculos, os nervos e os vasos sanguíneos, bem como foram completadas
muitas vezes com anotações fisiológicas. Ele fazia desenhos que valorizavam
de forma correta a curvatura da coluna vertebral, sendo responsável por
representar corretamente a posição do fetus in utero e o primeiro a desenhar
algumas estruturas anatômicas conhecidas.
Durante pelo menos 20 anos, o artista Michelangelo Buonarroti adquiriu
conhecimentos anatômicos por meio das dissecações que praticava pessoal-
mente, sobretudo no convento de Santo Espírito de Florença, na Itália. Anos
depois, ele expôs a evolução que presenciou ao entender que a anatomia era
pouco útil para um artista.
Já o intelectual Albrecht Dürer escreveu obras de matemática, destilação,
hidráulica e anatomia, porém, ele se preocupava com a anatomia humana
apenas pela estética. Seu tratado sobre as proporções do corpo foi publicado
somente após sua morte.
Alguns artistas do Renascimento, por sua vez, eram anatomistas somente
de maneira secundária. Houve importantes contribuições para a representação
realista da forma humana, com o uso do sombreado para sugerir profundidade
e tridimensionalidade, mas os verdadeiros avanços científicos exigiam a
colaboração de anatomistas profissionais e artistas.
Quando os anatomistas conseguiram retratar de modo realista e correto
seus conhecimentos anatômicos, se iniciou em toda a Europa um período de
intensa investigação, principalmente no norte da Itália e no sul da Alemanha.
Cabe a Jacob Berengario da Capri a autoria da obra Commentaria super
anatomica mundini, datada de 1521, que foi publicada e conhecida por conter
as primeiras ilustrações anatômicas identificadas como naturais.
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Tais ilustrações e estudos em anatomia despertaram interesse em diversos


estudiosos ao redor do mundo, e um deles foi Andreas Vesalius, um médico
belga considerado o pai da anatomia moderna.

Anatomia por Andreas Vesalius


No século XV, a partir dos estudos do médico belga Andreas Vesalius e da
sua obra De Humani Corporis Fabrica Libri Septem, foi possível refutar as
diversas teorias sobre o corpo humano que foram realizadas anteriormente.
Esse fato teve extrema importância para os avanços dos estudos sobre anatomia
e provocou uma mudança em relação à crença de que as mulheres possuíam
menos costelas que os homens, pois esse era o senso comum da época.
Nessa obra, as ilustrações estavam relacionadas ao sistema muscular e às
ações de cada músculo, assim, foi possível obter um maior conhecimento sobre
a mecânica do corpo humano. Andreas Vesalius criou uma teoria contrária à
ideia de que o coração era o centro das emoções e da mente, compreendeu que
as emoções eram advindas do cérebro e defendeu que os estímulos nervosos
se iniciavam deste, e não do coração. Ele também auxiliou na mudança de
perspectiva em relação aos rins, pois a teoria que circulava dizia que eles
filtravam a urina e Vesalius sustentou que filtravam o sangue e formavam a
urina, que era excreta e retirada dos rins.
Os estudos realizados por Vesalius foram revolucionários na época, pois
ele afirmou cientificamente que muitos conceitos já divulgados estavam
ultrapassados ou não iam ao encontro do que se descobria por meio de análi-
ses. Ele foi responsável pelo avanço da ciência, mesmo que algumas de suas
descobertas não fossem reconhecidas nesse período. Seus estudos eram cal-
cados em experimentação e prática, a partir deles, vários estudiosos passaram
a desenvolver teorias e explorar os conhecimentos sobre anatomia humana.

Anatomia moderna
Em meados de 1600, iniciou-se um terceiro período na história da anatomia
humana no momento em que o médico inglês William Harvey conseguiu
realizar uma combinação da anatomia italiana com a ciência experimental
característica da Inglaterra.
No ano de 1628, William publicou o Exercitatio Anatomica de Motu Cordis
et Sanguinis em Animalibus, cuja tradução é estudo anatômico da movimenta-
ção do coração e do sangue em animais. Pode-se dizer que esse livro explorou
o sistema circulatório, porque demonstrou como o sangue é bombeado em
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um circuito endovascular, de modo que inicia e termina no mesmo ponto no


coração.
Portanto, os estudos de Vesalius e Harvey, cada um no seu tempo, fo-
ram responsáveis por um avanço muito significativo na história da anatomia
humana. As pesquisas e a evolução propiciadas por Harvey, por exemplo,
contribuíram para formar um conhecimento específico em fisiologia humana,
o que possibilitou a separação entre anatomia e fisiologia. A partir disso, a
fisiologia ficou caracterizada por avaliar e estudar a análise de estruturas e
moldes; e a anatomia, pelo estudo das estruturas duras.
Por meio da invenção do microscópio e da instituição da histologia por
Marcello Malpighi, bem como da descrição da célula por Robert Hooke, a
exploração do corpo se desviou para pequenas partes. O século que sucedeu aos
estudos de Harvey se tornou o mais importante da anatomia microscópica e da
embriologia, caracterizado pela fundação de sociedades científicas, publicações
de textos, atlas, construção de museus e escolas de anatomia. Já a exploração
macroscópica do corpo humano foi concluída ao longo do século XIX.
No século XVII, percebe-se que os estudiosos realizaram notáveis des-
cobertas no campo da anatomia e fisiologia. Já durante os séculos XVIII e
XIX, com mais estudos, a evolução da teoria sobre anatomia e das técnicas
para as operações, ocorreu sua divisão com um crescimento considerável da
anatomia topográfica.
Por sua vez, a teoria evolucionista de Charles Darwin para a origem das
espécies, em que ele defendeu a suposta origem do ser humano a partir dos
mamíferos inferiores, se tornou uma das maiores generalizações da história
da biologia. Nessa época, ela foi acusada de ser imoral por religiosos, mas
devido à sua densidade acabou sendo aceita, unindo a anatomia humana,
animal e vegetal. A partir da sua teorização, os mamíferos passaram a ser
um campo fértil de estudos para pensar o funcionamento e as reações do
organismo humano. No entanto, com o passar dos anos, houve uma evolução
considerável nos estudos em anatomia.
O estudo anatômico-clínico do cadáver, como meio mais seguro de avaliar
as alterações provocadas pela doença, foi introduzido por Giovanni Battista
Morgagni. A partir disso, surgiu a anatomia patológica, que possibilitou
grandes descobertas no campo da patologia celular (por Rudolf Virchow) e
acerca dos agentes responsáveis por doenças infecciosas (por Pasteur e Koch).
Já a anatomia microscópica foi deixada de lado durante os anos de 1960
e 1970, ganhando importância somente na realização de cirurgias. Recente-
mente, a anatomia tornou-se submicroscópica; e a fisiologia, a bioquímica, as
microscopias eletrônica e positrônica, bem como as técnicas de difração com
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raios X, que são aplicadas ao estudo das células, descrevem suas estruturas
íntimas em nível molecular.
A evolução da ciência veio com a evolução tecnológica e, atualmente, existe
a possibilidade de estudar anatomia em pessoas vivas por meio de técnicas
de imagem, como a radiografia, endoscopia, angiografia, tomografia axial
computadorizada, tomografia por emissão de positrões, imagem de ressonância
magnética nuclear, ecografia, termografia, entre outras. Portanto, estudar
anatomia significa analisar as estruturas do corpo humano. Segundo Marieb
e Hoehn (2009, p. 2), “[...] a anatomia estuda a estrutura das partes do corpo
e suas relações. Ela tem um certo atrativo, pois é mais concreta. As estruturas
do corpo podem ser vistas, sentidas e examinadas de perto; não é necessário
imaginar o que elas parecem”.

Anatomia dos órgãos e sistemas


O organismo é formado pelos órgãos que compõem os sistemas responsáveis
por seu funcionamento e sua manutenção, assim, pode-se realizar um estudo
por meio da anatomia sistêmica. “Na anatomia sistêmica, o corpo é estudado
sistema por sistema. Um sistema é um grupo de estruturas que têm uma ou
mais funções comuns, como o sistema circulatório, o nervoso, o respiratório,
o esquelético ou o muscular” (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016, p. 2).
Portanto, o corpo é formado pelos sistemas sensorial, nervoso, digestório,
respiratório, cardiovascular, endócrino, esquelético, excretor, tegumentar,
urinário, reprodutor, muscular, imunológico e linfático. Nesse sentido, você
precisa compreender a constituição de cada um e como eles funcionam.
O sistema cardiovascular, também conhecido como circulatório, se compõe
de diversos vasos sanguíneos chamados de artérias, veias e vasos capilares,
sendo responsável por movimentar o sangue no organismo humano durante o
transporte de oxigênio e nutrientes para todas as suas partes. Nesse sistema,
o coração é o órgão mais importante pelo fato de bombear o sangue por todo
o corpo, conforme você pode ver na Figura 1.
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Figura 1. Representação do sistema cardiovascular ou circulatório.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 548).

Assim, o sangue percorre todos os sistemas do organismo humano, por


meio dos capilares presentes na maioria deles. Um sistema semelhante ao
cardiovascular é o nervoso, que se origina no encéfalo, se expande pela medula
espinhal e se propaga por meio das suas ramificações para todo o corpo, rea-
lizando o comando de algumas funções e ações por intermédio dos impulsos
nervosos. Você pode visualizar o sistema nervoso na Figura 2.
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Figura 2. Representação do sistema nervoso.


Fonte: Martini, Timmon e Tallitsch (2009, p. 371).
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O sistema nervoso se divide em central, composto de encéfalo e medula


espinhal; e periférico, formado por nervos cranianos e raquidianos, responsá-
veis por captação, interpretação e respostas às mensagens que foram recebidas
do organismo. Uma das ações dos neurônios, que são as células que compõem
esse sistema, é enviar e receber informações advindas do corpo, estimulando
ou inibindo a ação dos órgãos dos sentidos do organismo humano. Portanto,
a ação neural ocorre em outros sistemas, como o sensorial.
O sistema sensorial é composto de cinco sentidos do corpo (visão, paladar,
olfato, audição e tato), sendo responsável por enviar informações recebidas
pelo sistema nervoso, que as decodifica e envia as respostas para todo o
organismo. Assim, todas as ações relacionadas aos sentidos estão ligadas ao
sistema sensorial. Para auxiliar na ação desses órgãos dos sentidos, precisa-se
não somente de uma ação neural, como também uma ação mecânica realizada
pelo sistema muscular.
O sistema muscular tem a responsabilidade de estabilizar e auxiliar na
sustentação do organismo humano, sendo responsável por coordenar a movi-
mentação do corpo, bem como das substâncias que estão nele, por exemplo,
a contração do esfíncter que está localizado no sistema renal e realiza a ação
de expelir a urina do organismo. Veja uma representação do sistema muscular
na Figura 3.
O principal órgão do sistema muscular são os músculos, porém, ele inclui
os tendões que fazem a ligação dos músculos com os ossos do corpo. Portanto,
outro sistema de suma importância do organismo humano é o ósseo.
O sistema ósseo, também conhecido como esquelético, tem a função de
dar forma e sustentar o organismo humano, sendo responsável por proteger os
órgãos internos e auxiliar nos movimentos coordenados pelo sistema muscular.
O esqueleto é dividido em axial, composto de coluna vertebral, ossos do crânio
e costelas; e apendicular, formado pelos ossos presentes em braços e pernas.
Na Figura 4, você pode conferir o sistema ósseo.
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Figura 3. Representação do sistema muscular.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 262).
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Figura 4. Representação do sistema ósseo ou esquelético.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 175).

Nesta composição, o sistema esquelético tem a função de produzir células


sanguíneas na medula óssea e armazenar sais minerais, como o cálcio. Por
isso, pode-se afirmar que os ossos são uma estrutura viva que possui grande
resistência e a capacidade de se regenerar quando há fratura, sendo respon-
sáveis por sustentar o organismo humano, que é preenchido pelos músculos
e revestido pela pele, assim como alguns órgãos.
O sistema tegumentar é formado pelo maior órgão do corpo humano (a pele)
e possui a função de revesti-lo. Ele ainda auxilia na regulação da temperatura
do organismo, se responsabiliza pela sua sensibilidade e o protege formando
uma barreira às agressões externas e evitando que perca líquidos. A pele que
reveste o corpo se divide em derme e epiderme, que agem conjuntamente
cooperando as relações dos meios externos com os internos.
A pele ainda pode ser eudérmica, responsável por realizar o equilíbrio entre
o conteúdo hídrico e o graxo; graxa, que cuida da secreção sebácea; alípica,
cuja maior responsabilidade é a secreção hídrica; desidratada, caracterizada
pela diminuição hídrica e manutenção da secreção sebácea; hidratada, que
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possui uma grande densidade hídrica; e mista, em que se tem pele graxa na
zona central do rosto e alípica nas bochechas.
Em relação à perda de líquidos e sua excreção, há outro sistema muito
importante para o funcionamento do corpo, o linfático, que possui uma com-
posição semelhante ao circulatório, porém, em vez de transportar e atuar com
o sangue, ele age com a linfa. Portanto, o sistema linfático é uma rede de
vasos que transporta a linfa pelo organismo, atuando juntamente ao sistema
imunológico e na proteção das células imunes.
Esse sistema é composto de baço, linfonodos (nódulos linfáticos), tonsilas
palatinas (amídalas), tonsila faríngea (adenoides) e timo. Pelo fato de produzir
linfócitos, alguns autores consideram a medula óssea um órgão pertencente
ao sistema linfático. Seus órgãos possuem uma organização responsável por
suportar a circulação dos linfócitos A e B entre outras células imunológicas,
como macrófagos e células dendríticas, por isso, em algumas situações, esse
sistema atua no combate aos organismos estranhos, como o pólen.
O sistema linfático ainda atua na absorção dos ácidos graxos, realizando o
equilíbrio dos fluidos presentes nos tecidos. Porém, você deve estar atento ao
fato de que ele não é o único responsável por regular os líquidos do organismo,
pois essa função também cabe ao sistema renal.
O sistema renal, ou urinário, é constituído de rins e vias urinárias, como
os ureteres, a bexiga e a uretra. Com essa composição, uma de suas funções
se trata da produção e eliminação da urina, em que realiza uma filtração de
impurezas do sangue no organismo — os líquidos expelidos pelo sistema lin-
fático são diferentes dos expelidos por ele. Portanto, os rins fazem a regulação
do volume e da composição química do sangue, mantendo o equilíbrio dos
sais minerais, da água, dos ácidos e das bases do corpo.
Esse sistema ainda é responsável pela gliconeogênese no período de jejum;
pela produção dos hormônios renina, que atua nos rins como uma enzima que
auxilia na regulação da pressão sanguínea e na função renal, e eritropoietina, a
qual estimula a produção dos eritrócitos; e por metabolizar a vitamina D para
o seu modo mais ativo no organismo. Além da sua relação com o linfático, ele
também está próximo e se relaciona com o sistema reprodutor.
O sistema reprodutor também é conhecido como genital e, diferentemente
dos demais sistemas (que logo quando a pessoa nasce, são responsáveis por
realizar ações para o seu desenvolvimento e sua manutenção), fica em stand by
até o indivíduo chegar à puberdade. Ele pode ser constituído de duas formas, o
masculino e o feminino, definindo o sexo e sendo responsável pela reprodução
dos seres vivos. Na sua composição, o sistema reprodutor masculino se constitui
de testículos, que podem ser chamados de gônadas (as sementes), epidídimos,
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canais deferentes, vesículas seminais, próstata, uretra e pênis; já o sistema


feminino é formado por ovários (as sementes), útero, tubas uterinas e vagina.

Os sistemas reprodutores masculino e feminino possuem órgãos diferentes, porém, o


único que se parece nos dois é a uretra. Contudo, no homem, ela possui uma constitui-
ção anatômica com cerca de 20 cm e a função de excretar urina e expelir o esperma;
e na mulher, fica em torno de 5 cm e tem a função exclusiva de excretar urina.

As gônadas nos organismos feminino e masculino são responsáveis pela


produção das células sexuais, chamadas de gametas, e têm a função de secretar
os hormônios sexuais, como progesterona e testosterona. Nos homens, o sistema
reprodutor é responsável por produzir os gametas masculinos, os esperma-
tozoides, que realizam a fertilização juntamente aos gametas femininos, que
se chamam ovários ou óvulos no sistema reprodutor feminino. Dessa forma,
durante a relação sexual, os dois gametas fazem um processo de fusão ou de
fertilização que dará origem a uma nova vida.
A partir desse sistema, pode-se compreender que nem tudo é igual no
homem e na mulher, pois eles têm órgãos, sistemas e hormônios diferentes.
Assim, para ter uma definição básica dos hormônios presentes no organismo,
você deve entender o funcionamento do sistema endócrino.
O sistema endócrino é formado por um conjunto de glândulas, como a
pineal, o hipotálamo, a hipófise, a tireoide, as paratireoides, o timo, as suprar-
renais, o pâncreas, os ovários (mulher) e os testículos (homem). Elas têm a
função de produzir substâncias reguladoras (hormônios), que são lançadas na
corrente sanguínea e percorrem o organismo até chegarem às células alvo que
compõem os órgãos em que devem atuar. Veja na Figura 5 uma representação
do sistema endócrino.
Como você já viu, o sistema nervoso é responsável por realizar as ações
neurais no organismo por meio dos neurônios, como a muscular, nesse sentido,
os hormônios fazem as ações químicas e atuam na maioria dos sistemas. Assim,
as glândulas produzem esses hormônios, que possuem a função de regular,
defender e desenvolver o organismo, bem como produzir gametas, ou seja, o
corpo mantém seu funcionamento pelos hormônios.
Introdução ao estudo da anatomia 15

Para realizar a ação hormonal, as glândulas possuem três formas: endó-


crinas, que realizam a secreção de hormônios para o seu interior; autócrinas,
que fazem a secreção para o seu exterior; e parácrinas, em que se tem as ações
endócrinas e exócrinas. Portanto, todas as funções e atividades químicas do
organismo são coordenadas e integradas pelo sistema endócrino.

Entre tantas ações no organismo, o sistema endócrino é responsável também pela


regulação do nível de açúcar (glicose). Dessa forma, a glândula endócrina, ou pâncreas,
recebe a informação de que a quantidade de glicose está alta e reage liberando
o hormônio insulina, cuja função inclui realizar reações químicas para diminuir a
quantidade de glicose no corpo — ela também faz o processo inverso. Quando o
sistema detecta que a quantidade de glicose está baixa, ele estimula a produção do
hormônio glucagon, que realizará uma série de reações químicas com a finalidade de
liberar mais glicose para o organismo fazer suas funções básicas.

Com a finalidade de fazer estas funções, o sistema endócrino é composto


de glândulas situadas em locais diferentes para produzirem substâncias (os
hormônios) que realizam determinadas funções no corpo. Entre eles, a maioria
está relacionada à digestão e atua no pâncreas, fígado, estômago e intestino,
sendo o sistema digestório responsável pelo funcionamento desses órgãos.
16 Introdução ao estudo da anatomia

Figura 5. Representação do sistema endócrino.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 508).

O sistema digestório ainda é composto de boca, vesícula biliar, esôfago,


faringe, laringe, reto, apêndice, duodeno, glândula parótida, cavidade oral
e cólons. A partir desses órgãos, ele forma um tubo, chamado de tubo di-
gestório, e os órgãos anexos. Ele também realiza a digestão dos alimentos
fazendo sua transformação em moléculas menores, que possibilitam sua
absorção pelo organismo, mas o que não lhe serve é excretado. Com isso,
esse sistema se torna responsável por absorver remédios e enviar mensagens
ao cérebro para que seja realizada uma possível resposta a uma ameaça,
como uma dor de cabeça.
Nesse sistema, há também um canal alimentar, chamado de trato gas-
trintestinal (TGI), um tubo digestório que possui a atividade de ingestão, as
digestões mecânica e química, a propulsão, a absorção e a defecação do que
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não será mais utilizado no organismo. Assim, pode-se dizer que os locais
de produção de enzimas, ou das demais secreções produzidas pelos órgãos
acessórios externos do TGI, são chamados de locais de digestão química. Na
Figura 6, você pode conferir como é o sistema digestório.

Figura 6. Representação do sistema digestório.


Fonte: Marieb e Hoehn (2009, p. 773).

No sistema digestório, mais especificamente no TGI, secreta-se uma


mucosa, cujo muco é responsável por protegê-la e lubrificá-la. Assim, ao
compreender esse caminho que os alimentos recebem no organismo hu-
mano, pode-se afirmar que o sistema excretor se trata de uma sequência
do digestório.
O sistema excretor ou excretório tem a função de eliminar os resíduos que
não são usados pelo organismo após a digestão e as substâncias que estão em
18 Introdução ao estudo da anatomia

excesso, buscando um processo denominado de equilíbrio dinâmico. Esse


equilíbrio e a excreção de substâncias colaboram para que o organismo não
fique vulnerável. Assim, ao tratar de uma possível vulnerabilidade do corpo,
deve-se compreender que ele possui um sistema responsável exclusivamente
por atuar na sua defesa, chamado de imunológico.
O sistema imunológico é composto de órgãos que fazem parte de outros
sistemas, como os linfonodos, o apêndice, a medula óssea, os vasos linfáticos,
as placas de Peyer, o baço, o timo, as tonsilas e a adenoide. Assim, ele se
constitui de um conjunto de elementos do organismo que realiza uma ação
conjunta, no intuito de defendê-lo de vírus, micróbios, bactérias e doenças,
como um tipo de barreira ou escudo contra corpos estranhos. Algumas
vezes, quando ele falha, provoca alguns sentimentos, como dor, porém,
o corpo possui um sistema que trata das sensações do que está ocorrendo
nele: o sistema sensorial.
Portanto, os sistemas do organismo atuam em conjunto para a sobrevi-
vência humana e, quando estão em harmonia, se organizam para o seu pleno
funcionamento, como uma máquina. No entanto, alguns deles se posicionam
em espaços, denominados cavidades, conforme você verá a seguir.

Cavidades do corpo humano


Na parte interna do corpo, existem alguns espaços que têm uma função maior
que separar os órgãos, pois protegem, isolam e auxiliam na sustentação,
recebendo o nome de cavidades, nas quais se localizam alguns órgãos que
formam os sistemas do organismo. Segundo Tortora e Derrickson (2017, p.
16), as “[...] cavidades do corpo são espaços do corpo que contêm, protegem,
separam e sustentam os órgãos internos”. Nesse sentido, elas se dividem em
dorsal e ventral (Figura 7).
Figura 7. Representação do corpo humano e de alguns órgãos nas suas cavidades.
Fonte: Marieb e Hoehn (2009, p. 17).
Introdução ao estudo da anatomia
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20 Introdução ao estudo da anatomia

Cavidade dorsal
A cavidade dorsal do corpo humano é formada pela cavidade craniana, cons-
tituída de ossos que compõem o crânio, o encéfalo e suas membranas, que
se chamam meninges. Ainda faz parte dela o canal vertebral, que contém a
coluna vertebral, a medula espinhal e a raiz dos nervos espinhais. Ela fica
localizada na parte superior e dorsal do organismo.

Para saber mais sobre a cavidade craniana, sua composição e os substratos energéticos,
assista ao vídeo no link a seguir.

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Cavidade ventral
A cavidade ventral do corpo humano é formada pelas cavidades torácica e
abdominopélvica. A primeira se compõe de cavidade pleural, pericárdica e
mediastino; já a segunda, de cavidade abdominal e pélvica, como você pode
conferir na Figura 8.
Na cavidade ventral, suas paredes, as superfícies externas e os órgãos são
recobertos por uma membrana muito fina, denominada serosa. Portanto, a
membrana que reveste essas paredes é conhecida como serosa parietal, que
dobra sobre si mesma formando a serosa visceral, a qual reveste os órgãos
que estão dentro da cavidade.
A cavidade torácica é separada pela cavidade abdominal e pelo diafragma,
nela, há as cavidades pleurais, que têm a função de receber e ter no seu interior
os pulmões. Ela fica entre as pleuras visceral e parietal, na qual existe um
líquido lubrificante. Além da pleural, tem-se a cavidade pericárdica, que se
localiza em torno do coração, cercando este e os grandes vasos, e apresenta
uma camada fina de tecido conectivo, composto de pericárdio parietal, formado
por fibras, e de pericárdio visceral, que tem a composição mais serosa e é
responsável por cobrir a superfície externa do coração.
Figura 8. Representação da cavidade abdominopélvica.
Fonte: Tortora, e Derrickson (2017, p. 18).
Introdução ao estudo da anatomia
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22 Introdução ao estudo da anatomia

Por fim, a cavidade mediastino é composta de uma estrutura de tecidos


que se localiza entre os pulmões até o osso esterno da coluna vertebral. Nela
estão localizadas todas as estruturas da cavidade torácica (com a exceção dos
pulmões), onde encontram-se os órgãos: coração, timo, esôfago, traqueia e
alguns vasos importantes para a nossa circulação como a artéria aorta.

O diafragma é uma estrutura do organismo humano em formato de abóboda. Entre


suas funções, está a separação da cavidade abdominopélvica da cavidade torácica,
portanto, além de auxiliar na respiração, ele tem essa ação no corpo.

Já a cavidade abdominopélvica é dividida em duas partes, mesmo que não


haja uma divisão estrutural: a cavidade abdominal e a pélvica. A abdominal
se responsabiliza por receber e ficar no entorno do estômago, baço, fígado,
vesícula biliar, pâncreas, intestino delgado e uma boa parte do intestino grosso;
já na pélvica, estão localizados os órgãos genitais internos, o restante da porção
do intestino grosso e a bexiga urinária.

MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 1072 p.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. 904 p.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 704 p.
VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO; A. Anatomia e fisiologia de Seeley. Porto Alegre: AMGH;
Artmed, 2016. 1264 p.

Leituras recomendadas
BECKER, R. O. et al. Anatomia humana. Porto Alegre: Sagah, 2018. 560 p.
BEHNKE, R. S. Anatomia do movimento. Porto Alegre: Artmed, 2014. 344 p.
TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre, Artmed, 2009. 448 p.

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