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História da anatomia veterinária

Anatomia é o ramo da morfologia voltado para forma, estrutura,


topografia e interação funcional dos tecidos e órgãos que compõem o corpo.
Aristóteles foi fundador da anatomia comparativa e acredita-se que ele tenha
conduzido pesquisas anatômicas por meio de dissecações. Referências
encontradas em sua obra Historia Animalium indicam que ele publicou outro
tratado, Partes de Animais.
Essa obra abordava principalmente os sistemas digestório e reprodutivo
com informações registradas por Aristóteles por meio de ilustrações
esquemáticas. Muitas de suas observações eram incompletas, o que o levou a
falsas conclusões. Na Itália, entre os séculos XV e XVI, o estudo de corpos
humanos e de animais levou a diversas novas descobertas na área, registradas
de uma forma artística refinada.
Desde a virada do século XX, a área de pesquisa zoológica foi sujeita a
um redirecionamento constante, o que levou ao desenvolvimento de novas
disciplinas que abandonaram as intenções originais dos fundadores da
anatomia comparada. Desde a antiguidade, a dissecação humana foi restrita
ou mesmo proibida por motivos religiosos ou éticos.
Como as dissecações animais eram a única possibilidade de estudo dos
princípios de forma e função, essas descobertas eram generalizadas e
aplicadas à anatomia humana. As pesquisas de Claudio Galeno, na época do
governo dos imperadores Marco Aurélio e Cômodo, estabeleceram a fundação
do conhecimento anatômico que perdurou durante os 1.500 anos seguintes.
Apesar de Galeno apresentar conclusões sólidas sobre anatomia, alguns
sistemas, como o do coração e grandes vasos, receberam interpretações
errôneas. Devido à ausência de autópsias, as extrapolações de Galeno dos
resultados da dissecação de animais costumavam ser equivocadas. Ele
suspeitava, por exemplo, que a rede admirável epidural também seria
encontrada em humanos, apesar de atualmente saber-se que se trata de uma
estrutura típica de ruminantes.
Há apenas alguns séculos a anatomia dos animais se tornou pré-
requisito para a prática veterinária, na forma de ensino independente e objeto
de pesquisa. Textos da Antiguidade e da Idade Média destinados a tratadores
de animais deixam evidente que o conhecimento de anatomia, especialmente
de cavalos, era razoavelmente preciso.
No entanto, não existia descrição sistemática das associações
morfológicas básicas. Considerado o pai da anatomia dos animais, Philippe
Etienne Lafosse fundou uma escola veterinária particular em Paris, em 1767. O
empreendimento não foi bem-sucedido, e a escola fechou em 1770, mas dois
anos mais tarde ele publicou sua obra de maior sucesso, Cours d’Hippiatrique
(Um Curso sobre Hipiatria ou Um Tratado Completo sobre a Medicina de
Cavalos).
A obra foi organizada de acordo com os sistemas de órgãos. A
relevância clínica de uma abordagem topográfica logo foi integrada ao ensino
de anatomia. O progresso da anatomia como uma disciplina independente nas
escolas veterinárias europeias recém-formadas foi lento, portanto, apenas em
1822 publicou-se o primeiro livro-texto ou manual mais abrangente sobre
anatomia.
Uma decisão histórica na era moderna da anatomia dos animais foi o
estabelecimento do Comitê Internacional para Nomenclatura em Anatomia
Veterinária. Nos moldes da publicação sobre a anatomia humana, Nomina
Anatomica, a primeira edição da Nomina Anatomica Veterinaria foi publicada
em 1968. Essa obra padroniza mundialmente a terminologia na medicina
veterinária, propiciando, assim, uma ferramenta útil para conservar a
importância da anatomia em um cenário médico em constante mutação.
A dissecação de animais mortos ainda é o método mais importante e
eficiente para estudar e entender anatomia. Com o avanço da anatomia
clássica, a histologia, incluindo a anatomia microscópica e a embriologia, se
tornaram disciplinas distintas.

Manuais para cavalariços, no estilo de Jordanus Ruffus, do final da


Idade Média e início da era moderna, não eram sistemáticos. Eles continham
informações sobre a anatomia equina, que costumava vir acompanhada por
ilustrações inúteis.
Em 1598, Carlo Ruini publicou Dell’Anatomia e dell’Infirmitá del Cavallo.
Sua obra inicial, ainda que incompleta e, por vezes, imprecisa, foi o primeiro
retrato abrangente e sistemático da anatomia equina. A segunda metade do
livro, voltada para doenças equinas, era basicamente um apanhado não
criterioso de escritos muito mais antigos. A suntuosidade dessa obra se deve à
qualidade das ilustrações, que chegam a rivalizar com as de Leonardo da Vinci
e de Vesálio.

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