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História do estudo da anatomia

humana
Por  Saulo Castilho
Mestre em História Comparada (UFRJ, 2020)
Bacharel em História (UFRJ, 2018)

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O princípio dos estudos da anatomia humana deu-se no Egito, documentos


comprovam que algumas das primeiras descrições anatômicas foram registradas em
papiros aproximadamente entre 3000 e 2500 a.C. Desde esta época já havia no Egito o
domínio de técnicas de mumificação, e havia no território Chinês o desenvolvimento de
técnicas de acupuntura.

Considera-se que formalmente os estudos de anatomia iniciaram-se em 500 a.C por


conta dos trabalhos de Aristóteles e Hipócrates. Ambos trouxeram contribuições
importantes para o desenvolvimento da medicina, tendo sido Aristóteles o primeiro a
utilizar a palavra Anatome, que significa cortar em pedaços ou separar, remetendo à
ideia de se estudar separadamente cada parte do corpo humano. Hipócrates foi o
responsável pelo ensino de medicina na escola grega. Tendo escrito diversos livros
sobre anatomia, é considerado o fundador da ciência anatômica e pai da medicina.

Por volta de 300 a.C, na região do Egito passou-se a praticar a técnica de vivissecção,
que consistia na realização de corte de alguns órgãos com o indivíduo ainda vivo. Mais
ou menos nesta mesma época houve a proibição, por parte da Igreja Católica, da
dissecação de cadáveres, com o argumento de que tal prática feriria princípios éticos e
religiosos.

Na Grécia, em 200 d.C, o médico e filósofo Claudius Galeno dedicava-se a ensinar


anatomia nas escolas de medicina grega. Por conta da proibição ocorrida também na
Grécia, ele dissecava animais em vez de humanos, e estabelecia comparações entre estes
organismos. Sabe-se que evidentemente equívocos foram vinculados na produção de
conhecimento médico deste contexto, dada a diferenciação das anatomias humana e
animal.

Houve uma longa pausa de 12 séculos no desenvolvimento da anatomia humana, muito


por conta das proibições e perseguições religiosas. Até que nos séculos XV e XVI a
Europa passou pelo contexto da invenção da prensa móvel, que fez circular diversos
saberes artísticos, culturais e científicos. Muitas obras de escritores antigos voltaram à
cena.
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi uma figura importante no avanço científico da época
renascentista. Realizou pesquisas e escreveu estudos sobre anatomia humana, dentre
eles os Cadernos anatômicos. O famoso esboço do Homem vitruviano apresenta
estudos realizados por Da Vinci acerca das proporções do corpo humano.

Homem vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, 1490.

Outro expoente no desenvolvimento da ciência anatômica foi Andrea Vesalius (1514-


1564), médico e anatomista que realizou diversas dissecações no corpo humano, e
reproduziu perfeitamente desenhos dos órgãos em seu livro. Vesalius foi o responsável
por escrever e publicar o primeiro Atlas de Anatomia Humana, em 1543,
denominado De humanos corpoli fábrica. William Harvey (1578-1657) foi outro nome
importante na história da anatomia, por ter sido aquele que descobriu a circulação do
sangue nas artérias e veias.

Entre fins do século XVI e início do século XVII, viu-se, na Europa, a popularização da
prática de dissecação; nesta época, passou a ser disseminada noção de preservação e
reunião de peças anatômicas em locais próprios. Foram criados verdadeiros museus de
anatomia. Já os séculos XVIII e XIX viram o surgimento de muitas obras, atlas e
compêndios voltadas para o estudo da anatomia.

Nos séculos XVIII e XIX também houve o problema da escassez de cadáveres para
estudo de anatomia. Sabe-se que desde o início do desenvolvimento da ciência médica,
os cadáveres utilizados para dissecação tendiam a ser cadáveres de indigentes. Por conta
da ausência de materiais humanos para estudo, surgiram ladrões profissionais de
cemitérios; estes roubavam corpos para serem vendidos para escolas de medicina. Nesta
época, diversos estudantes e professores envolveram-se em casos ilícitos. A comoção
pública em relação à violação de túmulos fez com que leis fossem criadas a fim de
delimitar quais corpos e em quais condições seriam submetidos para estudos em escolas
de anatomia e medicina.

Referências:

KRUSE, Maria Henriqueta Luce. Anatomia: a ordem do corpo. Rev Bras Enferm,


Brasília (DF) 2004 jan/fev;57(1):79-84.

LACERDA, Carlos Alberto Mandarim de. Breve história da Anatomia. Universidade


do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.

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