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Educação Inclusiva
Dinéia Urbanek
Paulo Ross
Curitiba
2010
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424
Urbanek, Dinéia
U73e Educação Inclusiva / Dinéia Urbanek, Paulo Ross. – Curitiba:
Editora Fael, 2010.
182 p.: il.
Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
1. Educação inclusival I. Titulo.
CDD 371.9
FAEL
Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos
Diretor Administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro
Coordenadora do Núcleo de Vívian de Camargo Bastos
Educação a Distância
Coordenadora do Curso de Ana Cristina Gipiela Pienta
Pedagogia EaD
Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro
Editora fael
Coordenador Editorial William Marlos da Costa
Edição Jaqueline Nascimento
Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin
Ilustração da Capa Cristian Crescencio
Diagramação Ana Lúcia Ehler Rodrigues
O maior agradecimento é reservado ao grande e maravilhoso Deus, que
me permitiu trabalhar nesta obra com o gentil parceiro Professor Dr.
Paulo Ricardo Ross, oferecendo a minha contribuição a todos que dela
precisarem.
Também desejo fazer alguns agradecimentos especiais.
À minha mãe, Alda Maria Urbanek, que, com seus valores de vida, sem-
pre me mobilizou a ir em frente e nunca desistir.
Ao meu querido marido, Sebastião Rusche Jorge, que acreditou e me
impulsionou a realizar esta obra.
À minha sogra, Elisabete Maria Rusche, que, com seu olhar positivo acer-
ca da vida, me impulsionou a lutar e concretizar este trabalho.
À amiga Marli Marton, que sempre incentivou o estudo científico e acredita
na educação como elemento realmente transformador.
À fantástica defensora da educação, Professora e Mestre Ana Cristina
Pienta, que me convidou para o trabalho e acreditou em minhas experi-
ências e capacidade de pesquisa nesta área.
Ao amigo Professor Doutor Paulo Ricardo Ross, que, muito mais que pro-
fessor, pesquisador, Mestre e Doutor, é um homem capaz de captar a es-
sência da alma humana. Ele próprio é o exemplo da verdadeira humildade,
acolhimento e valorização humana.
Dinéia Urbanek
Agradeço aos que, pacientemente, produziram e produzem material em
braille, aos valorosos seres que oralizam textos, àqueles que transfor-
mam em linguagem as imagens, os ambientes, as ações e parte do co-
nhecimento sistematizado, permitindo que as pessoas com deficiência
compreendam a complexidade da produção e da ciência humana.
Obrigado aos que trilharam antes de mim caminhos áridos. Obrigado aos
que me ensinaram o valor da tolerância, permitindo enxergar a pedago-
gia dos conflitos e das diferenças.
Benditos todos os que desbravam os canais para livre manifestação
das pessoas com deficiência. Benditas as pessoas que se modificam
e democratizam os instrumentos, sustentam os apoios aos pequenos
passos para sua autonomia e liberdade.
Se elas inundarem de amor suas conexões e seus vínculos, se constitui-
rão mais humanizadas, sem deixar lugar para a ignorância. A luz de suas
escolhas não ofuscará sua sabedoria. O valor de suas conquistas será
expresso mais naquilo que comunicam e simbolizam, menos em materia-
lidade observável e medida.
Agradeço, ainda, à professora Dinéia pela oportunidade de compartilhar
não apenas a escrita de um livro, mas parte de uma história profissional
de compromentimento com centenas de alunos com deficiência intelec-
tual e seus familiares.
Prefácio.............................................................................................. 11
Unidade 1
Fundamentos legais e filosóficos da educação inclusiva
1. Compreendendo a educação especial no cenário brasileiro..... 17
2. Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade................... 51
Unidade 2
A organização pedagógica para favorecer a inclusão
1. Criando comunidades de ensino inclusivo................................. 85
2. Educação inclusiva e suas implicações
na prática pedagógica.............................................................. 115
. Referências.............................................................................. 173
prefácio Capítulo
prefácio
A educação tem sido, historicamente, alvo de todos os discur-
sos enquanto um campo fértil a ser investido para conquistas de novas
condições de existência dos seres humanos. Ao mesmo tempo, a esco-
la e sua organização são denunciadas por apresentarem estruturas de
disciplinas, currículo, prática de ensino e avaliação rígidos, imutáveis,
relembrando os primórdios da Modernidade e da própria escola.
Podemos observar que a prática pedagógica dominante ainda é 13
centralizadora, pautada na exposição uniforme e linear do professor.
Constatamos, ainda, a lógica do silenciamento dos alunos como con-
dição para se obter não a aprendizagem singular de cada um, mas a
homogeneização da turma, a idealização de respostas iguais entre os
alunos e ao que lhes é ensinado, transmitido.
A lógica da repetição, mesmo que mecanicista, é tomada como
critério de conservação de um padrão de pensamento, um modo de
perceber a realidade e uma estrutura para agir e reagir diante dos
desafios, o outro, o novo, a diversidade, o inesperado, o imprevisto.
Aliás, a realidade é apresentada não em sua complexidade, em sua
diversidade e em seus conflitos, mas como uniforme e linear. A reali-
dade seria tomada sempre como previsível. As pessoas seriam sempre
iguais. O outro sempre corresponderia à minha expectativa.
A repetição atua para produzir um mínimo de uniformização
dos desempenhos e dos comportamentos de cada um. Ela automa-
tiza nossas crenças, percepções e comportamentos. Aceitamos que o
professor se mostre como lecionador, visto que se apresenta como
único detentor do saber. Se as práticas de ensino e de aprendizagem
prefácio
prefácio
se mantêm semelhantes ao período do advento da escola, a outra
parte – os alunos –, já não possui a mesma configuração.
Os educandos não são mais classificados em “fracos e fortes”,
capazes e incapazes, merecedores e não merecedores do direito ao
espaço e à oportunidade de aprender. Nem as condições sociais e eco-
nômicas, nem as condições físicas, sensoriais, intelectuais, psíquicas,
neurológicas e motoras podem determinar o direito de acesso ou a
exclusão escolar e educacional.
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A educação mudou: é direito de todos; é direito de cada um; é
um direito público subjetivo, podendo ser reivindicada por vias po-
líticas e judiciais caso o direito seja negado ou dificultado, em razão
de barreiras de natureza físico-arquitetônica, de comunicação, dos
recursos, métodos, instrumentos e programas pedagógicos, ou por
razões ideológicas ou crenças discriminatórias da deficiência, das cir-
cunstâncias e consequências da deficiência.
Assim, a educação elitista e segregadora deu lugar à educação
acessível a todos, a educação universal. A educação classificada como
geral e especial deu lugar à educação inclusiva.
A função de separar e classificar os alunos, rotulando-os como
menos e mais capazes, dá lugar à de acolher cada um, valorizando
suas potencialidades, sua linguagem, suas diferenças, bem como os
instrumentos que ampliam suas possibilidades de aprender, de comu-
nicar e de interagir socialmente.
O professor deixa de ser concebido como um profissional que
apenas transmite ou expõe o conhecimento e passa a ser valorizado
por sua capacidade de organizar práticas pedagógicas desafiadoras
prefácio Capítulo
prefácio
para cada um dos alunos. Espera-se que o lecionador e o formador
de uma turma pretensamente homogênea passe a ser o mediador da
aprendizagem, das diferenças, instigando aspectos específicos da sen-
sorialidade e da inteligência.
Assumindo-se como mediador, o professor pode intervir nas lin-
guagens, nos métodos, identificar as necessidades do aluno cego, sur-
do e outros, assim como identificar as operações cognitivas, os estilos
de raciocínio e de aprendizagem, o sentimento de competência de 15
cada um, a capacidade de se planejar, de se organizar e de se autorre-
gular, as habilidades de compartilhar aprendizagens e de confrontar
pontos de vista e a busca por alternativas diferentes. A qualidade do
trabalho do professor não é medida pela quantidade de conteúdo
transmitido, mas pelas múltiplas interpretações e significações pro-
duzidas pelo aluno singular.
O professor inclusivo é aquele que promove mudanças na orga-
nização das interações dos alunos. Se ele não os concebe enquanto
uma turma homogênea, mas como pessoas singulares, então, articula
o compartilhar dos aprendizados em duplas. Passa a privilegiar as
trocas, as perguntas, as hipóteses levantadas, o processo e não apenas
os resultados, o trabalho final.
Cabe ao professor inclusivo avaliar as condições de aprendizagem,
as circunstâncias, as linguagens, as formas de comunicação de cada alu-
no, identificando principalmente os canais, as janelas, as pistas senso-
riais, os instrumentos que ampliam as capacidades de cada pessoa.
O princípio da flexibilização significa a identificação de aspectos,
do conhecimento, canais, dimensões, ângulos, linguagens e recursos
a serem utilizados pelo aluno, de acordo com suas possibilidades. O
Educação Inclusiva
prefácio
prefácio
tempo da aprendizagem é redimensionado, observando-se o ritmo, as
formas de interpretação, as habilidades cognitivas, a capacidade de con-
centração e os recursos de articulação e de manifestação de cada pessoa.
Ter como desafio a educação inclusiva nos permite vislumbrar
um mundo novo no qual todos estes aspectos estão presentes. Assim,
esperamos que o leitor aproveite este livro e que possa transformar
suas práticas sociais e educacionais.
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FAEL
unidade 1
FAEL
Capítulo 1
Era Pré-Cristã
Na Idade Primitiva os homens produziam sua existência em co-
mum, a vida se dava a partir das suas relações com a natureza, eles aten-
diam a suas necessidades e produziam habilidades no limite da aridez e
da dureza dessa existência. A concepção de atraso ou desvio, ou, ainda
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Era Cristã
Na Idade Média, as pessoas com deficiência passaram a ser iden-
tificadas, no entanto, não podiam ser atendidas em razão de limites
estruturais e submissão a crenças de caráter sobrenatural. Por influên-
cia da Igreja, esses indivíduos eram considerados produtos do pecado
e do demônio.
Com a hegemonia da noção de pecado, a teologia da culpa e as
correntes do cristianismo ortodoxo, as pessoas com deficiência
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Reflita
Reflita
Não conseguir caçar ou manter a própria sobrevivência era conside-
rado motivo para eliminar um homem do grupo social. Atualmente,
como são consideradas as pessoas que não podem promover a pró-
pria sobrevivência?
Reflita
Reflita
A produção da existência centrava-se na atividade agrícola, exerci-
da, então, pelos servos. O corpo orgânico e as atividades físicas conti-
nuaram sendo à base dos instrumentos de que dispunham os homens
para o trabalho. Os indivíduos se educavam na realização do próprio
trabalho, portanto, de maneira difusa, espontânea e assistemática. Em
contrapartida, a educação dos nobres, forma de ocupação do ócio, per-
manecia secundária, apesar da existência das escolas paroquiais, cate-
dralícias e monacais.
26 A conquista da escrita representou a superação do predomínio da
oralidade. O direito positivo significava a garantia da generalização das
normas e a possibilidade de velar pela sua aplicação e cumprimento. A
Idade Moderna foi caracterizada pelas grandes conquistas da burguesia.
Sua ascensão foi produto do domínio e usufruto dos instrumentos que
se produziam naquele momento histórico. O novo – a burguesia –,
devia se opor ao velho, a aristocracia da Idade Média.
Dados contemporâneos
A evolução da história levou a humanidade a criar acordos hu-
manitários de respeito e compreensão de todas as raças e credos, as-
sim também o paradigma inclusivo está alicerçado na concepção dos
direitos humanos, combatendo de frente todas as armadilhas de uma
sociedade excludente. Quando a frequência à escola de ensino regular
passa a ser tratada como um direito insubstituível de todos, efetiva-se a
garantia de matrícula e permanência do indivíduo na instituição, em-
bora não seja garantida também a qualidade no atendimento.
Foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de de-
zembro de 1948, que uniu os povos do mundo todo, percorrendo e
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Reflita
Reflita
Você já abandonou a responsabilidade de buscar outras alternativas para
a solução de problemas acreditando que não havia nada mais a fazer?
Reflita
Reflita
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Dica de Filme
Assista ao filme A história de Brooke Ellison. Brooke é atropelada e, após
passar dias inconsciente, desperta aos poucos para sua nova realidade: está
tetraplégica. Com o apoio da família e amigos, ela tentará romper barreiras
consideradas intransponíveis para as pessoas na sua condição. Sob a dire-
ção de Christopher Reeve e com roteiro elaborado por Camille Thomasson,
o longa é baseado no livro de Brooke Ellison e Jean Ellison.
A HISTÓRIA de Brooke Ellison. Direção de Christopher Reeve. Estados
Unidos: L.I.F.T. Production/Jaffe/Braunstein Films Ltd.: Dist. A&E Television
Networks/Sony Pictures Home Entertainment, 2004. 1 filme (90 min.),
sonoro, legenda, color.
Dica de Filme
A ideia da normalização passou a ser o foco dessas instituições, as-
sim, surgiram as contribuições das áreas clínicas, que apareceram na edu-
34 cação com o intuito de ajudar a normalizar as pessoas com deficiência,
como forma de integrá-las à sociedade. Os currículos escolares eram
subsidiados por conteúdos reabilitacionistas, reservando ao professor
a tarefa de auxiliar a área clínica em seus serviços, uma vez que não se
entendia que o sujeito pudesse aprender independente de sua condi-
ção, mas que era necessário primeiro prepará-lo por meio de treinos e
depois educá-lo.
Quanto às pessoas com deficiência intelectual, considerava-se que
somente com as infinitas repetições de exercícios poderiam superar suas
dificuldades e vir a aprender, o que lhes tolhia a condição de indivíduos
pensantes. Ao receber um diagnóstico de deficiência intelectual a pes-
soa estava fadada a não mais ser considerada como alguém que pudesse
existir enquanto sujeito, com desejos, vontades e opiniões próprias.
O que atualmente é considerado um movimento excludente, na
época era visto como um grande avanço, afinal, se a sociedade não tives-
se evoluído para o modelo normalizador e integracionista, atualmente
estaríamos ainda discutindo a organização e elaboração de leis para ga-
rantir os direitos humanos. Um exemplo disso foi a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacioal (LDBEN) n. 4.024/61, que assegurava a
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Aspectos legais
No Brasil, a educação como um direito de todos e a igualdade de
condições de acesso e permanência na escola, ofertando atendimento
educacional especial preferencialmente na rede regular de ensino, é um
mérito conquistado com a reformulação da Constituição Federal, em
1988, explicitado nos Artigos 205, 206 e 208. Historicamente, tam-
bém neste momento a defesa dos direitos das crianças e dos adolescen-
tes passa a ser o foco das discussões nacionais, dando início ao Estatuto
da criança e do adolescente, Lei n. 8.069/90, que em seu Artigo 55 de-
termina que os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus
filhos no ensino regular (BRASIL, 1990).
A Lei n. 7.853/89 garante a educação especial na escola pública e
determina, no item c, a sua oferta obrigatória e gratuita em estabele-
cimentos públicos de ensino, prevendo pena de reclusão de 1 a 4 anos
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Reflita
Reflita
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Pensando no papel do docente, procure responder as questões a seguir,
anotando suas ideias.
• Como seria ter um aluno com deficiência em sala de aula?
• Que reação, enquanto professor, você teria hoje se recebesse um alu-
no com graves comprometimentos?
• Quais os primeiros obstáculos que enfrentaria para possibilitar sua
inclusão?
Reflita
Reflita
A primeira grande questão constatada na história da ressignificação
da educação especial, neste período, foi descobrir qual o seu papel, uma
vez que a rede regular de ensino entra com sua importante contribuição.
Árdua tarefa coletiva foi essa, na década de 90 do século XX, que envol-
veu valores, formação pessoal, concepções teóricas e posicionamentos
políticos dos diversos personagens da Educação. Evidenciou-se que so-
mente após estas grandes discussões junto à Secretaria de Educação foi
possível a reorganização efetiva do trabalho pedagógico. No decorrer
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Síntese
A legislação brasileira convoca toda a sociedade a adotar atitudes e
providências necessárias e urgentes, capazes de tornar aptos os cidadãos
para realizar a inclusão de pessoas com e sem deficiência. Determina
que sejam adotadas medidas para efetivação da política de inclusão com
a realização da matrícula dos alunos nas escolas regulares e o desenvol-
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Capítulo 1
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Educação Inclusiva
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Inclusão: ensinando
e aprendendo na
diversidade
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Educação Inclusiva
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Reflita
Reflita
“Não são as espécies mais fortes e nem as mais inteligentes que sobre-
vivem, mas sim aquelas que melhor respondem às mudanças.”
Charles Darwin
Reflita
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Identificação das necessidades educativas especiais
Para Vygostsky (1989), o desenvolvimento humano é visto como
uma atividade social em que as crianças participam de ações de nature-
za cultural mediante ações dos colegas ou adultos com mais experiên-
cia. Assim, compreendemos que a aprendizagem é fruto da interação
com outras pessoas significativas nos diversos contextos da vida, ideia
completamente contrária ao parecer de diagnóstico que leva em consi-
deração somente o sujeito biológico sem analisar a sua história pessoal
e o contexto em que está inserido. Dessa forma, o autor convoca o
professor a levantar as soluções para as mudanças das condições do
ambiente de maneira a favorecer a aprendizagem do aluno.
A avaliação psicopedagógica não é um ato pontual. Devemos consi-
derar o desenvolvimento de natureza interativa e contextual, o que gera
mudanças importantes nas práticas de avaliação e nas tomadas de deci-
sões frente ao contexto em que o aluno está inserido. Passa a ser um pro-
cesso de coleta de informações das variáveis que intervêm no ensino e na
aprendizagem, que levará a identificar quais as N.E.E. do aluno e as di-
versas decisões com relação às adaptações curriculares e ao tipo de suporte
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
3 O empoderamento diz respeito ao processo pelo qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas,
usa o seu poder pessoal inerente à sua condição. Por exemplo: deficiência, gênero, idade, cor,
para fazer escolhas e tomar decisões. O poder pessoal está em cada ser humano. A sociedade
não tem consciência de que a pessoa com deficiência também tem esse poder pessoal.
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Dica de Filme
O milagre de Anne Sullivan é um filme de 1962, dirigido por Arthur Penn.
Baseado na vida real de Helen Keller, o filme conta a comovente história de
Anne Sullivan, uma persistente professora cuja maior luta foi a de ajudar
uma menina cega e surda a adaptar-se ao mundo que a rodeava.
O MILAGRE de Anne Sullivan. Direção de Arthur Penn. EUA: Classic Line,
1962. 1 filme (106 min.), sonoro legenda, color.
Dica de Filme
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Reflita
Reflita
A inclusão diz respeito à mudança de valores e atitudes que só aconte-
cem mediante a conscientização individual de cada pessoa e de geração
a geração. Quem está comprometido com a sua concepção está “arando
a terra da inclusão”, da qual nossos filhos semearão, nossos netos culti-
varão e nossos bisnetos colherão o fruto.
Reflita
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Síntese
Vimos neste capítulo que a diversidade tem se configurado um ele-
mento essencial para o novo milênio, provocando mudanças significa-
tivas na sociedade, embora ainda encontremos pessoas com deficiência
sofrendo com atitudes discriminatórias, evidenciando-se, assim, a falta
de acesso à educação, ao trabalho, saúde e lazer. A educação inclusiva
apresenta, como uma de suas alternativas, articular um mundo diferen-
te que possibilite mudanças significativas. A figura do professor assume
maior responsabilidade nesse processo, ainda que muitas vezes seja ví-
tima de uma história excludente. Vimos, ainda, que devem ser levados
em conta os interesses, habilidades, potencialidades e necessidades de
cada aluno, criando condições para que possam usufruir da comunida-
de da qual fazem parte.
Educação Inclusiva
unidade 2
A Organização Pedagógica
para Favorecer a Inclusão
Criando
comunidades de
ensino inclusivo 1
C om o surgimento da sociedade inclusiva temos o retorno da
apologia da comunidade, que difunde o restabelecimento de laços, até
então esquecidos, entre as pessoas. No mundo moderno, a comunidade
vem sendo confrontada pelo individualismo, pela competição, pelo con-
sumismo, pela concorrência, pela primazia da forma sobre o conteúdo,
pela violência contra a vida, contra as tradições e as minorias, os menos
favorecidos social e economicamente.
87
Uma das formas antidemocráticas que nega a ideia da comunida-
de, é impedir que um sujeito tenha o direito à produção da cultura, o
direito de acesso a todas as formas de educação e de interação social.
Com o surgimento do homem especializado e fragmentado, não
há mais lugar para a harmonia, logo temos de forjar comunidades mar-
cadas pelos confrontos, pelas diferenças, pelo compartilhar do vivido
e simbolizado, pelo intercâmbio das compreensões e possibilidades de
cada um, pelas indagações e questionamentos ao que não se conhece
e ao que é ocultado, combatendo toda lógica de seleção produtora de
exclusão e toda competição promotora de vencedores e de perdedores,
todo conhecimento que não possa ser compartilhado nem significativo
na vida das pessoas.
Formar o cidadão para viver em uma comunidade requer novos
desafios, novas situações de apoio e interdependência. As novas funções
a serem exigidas da educação especial necessitam ser pensadas à luz da
reformulação do papel do Estado, reestruturações dos processos produ-
tivos, revisão ética do processo de globalização econômica, financeira
e cultural.
Educação Inclusiva
Comunidades inclusivas
Fazer parte de uma comunidade é unir seus valores e ideias aos
do outro, saindo da compreensão da ação individual para a coletiva,
entendendo que a partir do momento que estabelecem compromissos
juntos passam a ser responsáveis pela ação de todos. Dessa forma, os
participantes são levados a amadurecer e abrir mão de suas vaidades
para contemplar as necessidades e possibilidades do outro. Essas atitu-
des conduzem o grupo ao autoconhecimento, ao maior desempenho
em suas tarefas e a um sentimento de pertencer a um grupo com uma
identidade própria, deixando para trás os sentimentos solitários e com-
petitivos de uma escola tradicional.
A ideia de inclusão total está respaldada no modelo de comunidade,
segundo o qual as pessoas resolvem seus problemas juntas, dando prazer
88 umas às outras, tornando as condições das outras suas próprias condi-
ções, ficando alegres juntas, trabalhando e sofrendo juntas, tendo sempre
diante dos olhos o outro como parte do que são e parte do que não são.
Não se trata, no entanto, de um conto de fadas, em que as pessoas
deixam de ter problemas, mas, sim, de enfrentar as dificuldades iniciais
em conjunto e com responsabilidade, assumindo o que lhe compete.
Isso não torna os problemas mais doces ou amenos, mas a tendência é
que não se repitam e, quando acontecerem novamente, será em propor-
ção bem menor. Refletindo sobre esta constituição de comunidade de
ensino inclusivo, vemos que:
[...] Orientar o desenvolvimento de uma escola não é inovar a
comunidade como uma panaceia mágica; é a coragem e a luta
criteriosa em busca de relacionamentos respeitosos, de igual
oportunidade para as iniciativas individuais, de apoio mútuo
nos problemas da vida, de compartilhamento e de celebração
dos dotes únicos de cada membro, de resolução juntos dos
conflitos e de integridade na confrontação de ameaças [...]
(STAINBACK; STAINBACK, 1999. p. 52).
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
FAEL
Capítulo 1
Reflita
Reflita
Cabe a nós a indagação sobre como educar-se na diversidade, sobre
como desenvolver capacidades para compreender a tecetura de com-
ponentes, como o econômico, o político, o sociológico, o mitológico, o
afetivo, o emocional, que sempre se encontram interdependentes, inte-
93
rativos e inter-retroativos?
Reflita
Reflita
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Reflita
Reflita
Educar-se na diversidade, em comunidades inclusivas, exige mais do
que relações biunívocas, de A para B, de direita para esquerda ou do
professor para o aluno, do antecedente para o consequente, da causa
para o efeito. Educar-se na diversidade propõe um desafio da associa-
ção, do mapeamento das subjetividades, do diálogo com a desigualda-
de e da sensibilidade com as diferenças.
Reflita
Reflita
FAEL
Capítulo 1
Trabalho cooperativo
A meta da equipe torna-se trabalhar de maneira cooperativa e com-
partilhar seus saberes, a fim de desenvolver um programa em progresso
contínuo. O desenvolvimento da equipe proporciona a oportunidade de
identificar lideranças, o que encoraja a ajuda mútua entre os professores
e, assim, reforça comportamentos cooperativos. Para a consolidação da
proposta, é necessário o envolvimento de todos os membros da equipe
escolar no planejamento dos programas a serem implementados. Do-
centes, diretores e funcionários possuem papéis específicos, mas preci-
sam agir coletivamente para que a inclusão seja efetivada nas escolas.
Prieto (2002) analisa que a troca de informações profissionais é
imprescindível à melhoria da qualidade educacional, assim, a ação pe-
dagógica refletida individual ou coletivamente possibilita a articulação
e a construção de uma nova prática.
Na Lei n. 9.394/96, que trata das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, o Artigo 14 estabelece os princípios da gestão democrática,
pois garante “a participação dos profissionais da educação na elaboração
do projeto pedagógico da escola” (BRASIL, 1996). Com o estabeleci- 99
mento da Lei, é expressa a participação de todos na elaboração do pro-
jeto político-pedagógico da escola. Quando todos participam e se sen-
tem responsáveis, bem como compromissados com aquilo que fazem, é
concretizada a construção coletiva do projeto. O primeiro passo efetivo
é garantir a gestão democrática e participativa como um dos possíveis
caminhos à construção da escola inclusiva.
Ao incentivar o trabalho coletivo, a equipe precisa preocupar-se,
também, com o cuidado e clareza nas relações com os profissionais.
Usar de franqueza e honestidade nas relações é o caminho mais adequa-
do para uma convivência coletiva que prime pelo bem comum, ainda
que, por vezes, pareça difícil falar tudo que se pense ou ouvir o que
não se deseje. O importante é que os agentes desse processo tenham
um gestor capaz de administrar as situações de conflito de forma a
permitir que todos possam sair confortáveis de situações conflituosas.
Uma diretriz inclusiva estabelece verdadeiras relações pessoais e sociais,
sustentadas por atitudes de respeito mútuo.
A escola ensina aos membros mais novos da sociedade atitudes,
valores e habilidades que serão usados durante toda a vida, assim, pode
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Pedagogia familiar
Os pais representam o primeiro elo da criança com o mundo. São
as figuras centrais na construção de sua afetividade. Preocupam-se com
a sua satisfação e a cercam de cuidados, na tentativa de assegurar seu
desenvolvimento adequado, uma vez que a família é o primeiro grupo
social ao qual ela pertence.
Com a família a criança conhece o funcionamento das regras da so-
ciedade na qual está inserida, além de seus direitos e deveres. A criança
recebe dos pais características genéticas, psicológicas, culturais e sociais.
Assim, a sociedade compreende que a família deve receber a proteção
e assistência necessárias a fim de assumir plenamente suas responsabi-
lidades dentro da comunidade. A criança, para o pleno e harmonioso
desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família,
em um ambiente de felicidade, amor e compreensão para a vida.
Inicialmente, no processo de socialização, a família modela o com-
portamento e a identidade da criança. Além do fornecimento de abrigo,
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Dica de Filme
Assista ao filme As Chaves de Casa, que conta a história de Paolo, com
15 anos, que tem deficiências físicas e psicológicas. Criado na Itália pelos
tios, precisa viajar até Berlim para realizar terapia de reabilitação. Faz sua
primeira viagem com o pai e suas vidas se transformam nesse grande
episódio.
AS CHAVES de casa. Direção de Gianni Amelio. França; Alemanha; Itália:
Pola Pandora Film; Arte France Cinéma; ACHAB Film; Arena Films; Bavaria
Film; Jean Vigo Italia S.r.l.; Pandora Filmproduktion GmbH; Eurimages:
Dist. Lions Gate Films, 2004. 1 filme (105 min), sonoro, legenda, color.
Dica de Filme 107
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Os apoios devem ser usados até que a pessoa possa vir a desempenhar
suas atividades de forma autônoma, cuidando para que não se torne
dependente da ajuda que receberá.
Os componentes não devem ser baseados em uma lista única,
que não pode ser mudada, entretanto existem alguns membros com
papéis definidos que não podem ser esquecidos, como os que apre-
sentaremos a seguir.
O aluno: configurando-se como o elemento mais importante do
processo, deve estar a par de todos os encaminhamentos. A ele deve ser
explicado porque acontecerá a diferenciação na forma de ensiná-lo, assim
como ele deve ser questionado se deseja que isso aconteça. Para que em-
podere-se de seu próprio destino acadêmico e responsabilize-se por ele, é
preciso que assuma de forma consciente todos os arranjos organizacionais
para o seu sucesso escolar. Esse aluno deve ser entendido como um sujei-
to ativo do processo, com desejos, opiniões e também com soluções.
Se o pequeno se engrandece, as pessoas com deficiência, do mesmo
modo, tornam-se mais fortes. Mas isso só será possível se ocuparem seu
108 lugar, como atores, não como vítimas nem como heróis ou vilãos.
As transformações do mundo atual requerem a afirmação da ci-
dadania como direito fundamental manifestado no respeito à liberda-
de, iniciativa, participação, criatividade, inovação, abertura espiritual,
autoafirmação, autoestima e reconhecimento da singularidade de cada
ser. As pessoas com deficiência precisam de oportunidades e não de
piedade, isolamento. Elas esperam o atendimento a suas necessidades
de acordo com suas diferenças, mas não tratamento igualitário, descon-
siderando sua condição de existência. Para isso, é preciso que elas se
tornem visíveis, provocando questionamentos aos limites, às lacunas,
às culpas, ao silenciamento das diversidades humanas. Essas pessoas
necessitam de oportunidades para ampliar suas aspirações, suas forças,
a consciência do seu poder e do que lhes falta.
Tais indivíduos não aceitam os comportamentos autoritários, em
relação à sua identidade, que julguem a sua capacidade profissional,
os considerem pessoas doentes ou duvidem de sua capacidade de ler o
mundo por meio dos sentidos remanescentes, dos instrumentos e do
conhecimento acumulado. Eles também não aceitam que desconside-
rem seus sentimentos, pensamentos, crenças, e ignorem os recursos, as
FAEL
Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
FAEL
Capítulo 1
Normatização e registro
O regimento escolar organiza, estrutura e normatiza as ações co-
letivas da equipe pedagógica da comunidade de ensino e deve regular,
no seu âmbito, a concepção de educação, os princípios constitucionais,
a legislação educacional e as normas específicas estabelecidas pelo siste-
ma de ensino. A garantia do direito de participação democrática deve
acontecer no processo de construção do regimento interno do estabele-
cimento de ensino ao qual todos estão vinculados.
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 1
Síntese
Vimos nesse capítulo que a compreensão do benefício de trans-
formar as escolas em comunidades de ensino inclusivas determina a
promoção de práticas cooperativas, o protagonismo de cada pessoa,
exercitando sua cidadania como defensores dos direitos, da ética,
como leitores, escritores, educadores, artistas de suas próprias obras e
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
116
FAEL
Educação inclusiva
e suas implicações
na prática
pedagógica
2
A s práticas pedagógicas configuram-se como um dos elementos
fundamentais para o sucesso da aprendizagem em uma comunidade
inclusiva de ensino. No decorrer da história, várias teorias contribuí-
ram para compreender o complexo processo da aprendizagem. Dessa
forma, várias delas precisam ser resgatadas para repensar a organização
e flexibilização curricular e eleger as concepções que podem nortear
a prática do professor para encontrar estratégias mais adequadas para
potencializar a aprendizagem humana. 117
Neste capítulo, realizamos uma análise sobre teorias e estratégias de
aprendizagem da pessoa com necessidades especiais, com o objetivo de
conhecer o desenvolvimento da inteligência humana à luz da contribui-
ção de diversas teorias, assim como clarificar aspectos importantes para
o seu sucesso na escola, retirando os estereótipos, os mitos, esclarecendo
os principais passos para realizar uma adaptação curricular adequada.
Aprendizagem
Os ideais são janelas pelas quais olhamos o infinito. É possível
apontar a lanterna para trás, iluminando o passado, ou apontar para
onde estamos, iluminando o presente. Com um pensamento profundo,
podemos nos capacitar para entender todas as circunstâncias, todas as
dificuldades, todas as diferenças.
Quando pensamos em algo, o resultado é a concentração que
pode nos levar à compreensão. Compreender é identificar as causas
de uma situação, os erros que repetimos. Isso é ponderar, refletir, usar
a mente, meditar. Sujeitos em plena transformação, os homens, desde
Educação Inclusiva
FAEL
Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Reflita
Reflita
Considerando a importância da autoexpressão, do uso da linguagem,
das interações e da valorização de cada produção da criança, visto que
“sua produção é ela mesma”, a linguagem, além de organizadora do pen-
122
samento, cumpre a função de formar a individualidade e contribui para o
autoconhecimento. Relate estratégias nas quais você pode estimular diá-
logos, interações e levar a criança a compreender o próprio pensamento.
Reflita
Reflita
No decorrer da história da educação existiram e coexistiram diver-
sas concepções a respeito de como o desenvolvimento e a aprendizagem
humana ocorriam. Descreveremos três importantes concepções: inatista,
ambientalista e interacionista. Cada uma, a seu tempo e a seu modo, con-
tribuiu e ainda contribui para uma maior compreensão do ser humano.
Inatismo
Esta concepção parte do pressuposto de que os eventos que ocor-
rem após o nascimento não são essenciais, ou seja, as qualidades e
potencialidades básicas do ser humano já estariam acabadas logo ao
nascimento, pouco sofrendo modificação no decorrer de seu desenvol-
vimento. O ambiente (a educação é incluída aqui) não deve interferir
no desenvolver espontâneo do sujeito.
FAEL
Capítulo 2
Ambientalismo
A concepção ambientalista afirma que o ambiente exerce grande
poder no desenvolvimento humano. O ser humano é entendido como
um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em
função das condições presentes no meio em que se encontra. Essa con-
cepção deriva da corrente filosófica denominada Empirismo, que enfa-
tiza o sensorial como fonte do conhecimento, na psicologia ela encon-
tra apoio no behaviorismo, tendo como maior defensor Skinner, que
propõe o comportamentalismo. Segundo essa visão, é possível moldar o
comportamento humano com uma intervenção em seu ambiente.
Segundo os behavioristas, é possível modificar o comportamen-
to humano manipulando os elementos presentes em seu ambiente,
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
fazendo com que ele aumente ou diminua sua frequência, com que
desapareça ou só apareça em situações adequadas, com que ele se apri-
more. Essas mudanças podem ser provocadas de modos diversos, um
deles requer a análise das consequências ou resultados que produz no
ambiente. As consequências positivas são denominadas reforçamento e
provocam um aumento na incidência de determinados comportamen-
tos, enquanto as consequências negativas provocam uma diminuição
em sua incidência, sendo denominadas. No caso de comportamentos
considerados extremamente inadequados é possível utilizar o procedi-
mento nomeado extinção.
Há outro fenômeno intitulado generalização, ocorre quando um
comportamento é associado a um determinado estímulo. A aprendiza-
gem, na visão ambientalista, pode ser entendida como o processo pelo
qual o comportamento é modificado como resultado da experiência.
Interacionismo
Para os interacionistas, o ser humano é influenciado e alterado pelo
124 meio, e, reciprocamente, tem a possibilidade de interagir com o meio e
transformá-lo. Nessa concepção, os elementos ser humano e meio são
analisados em conjunto, em função da interação entre eles. O ser humano
é tomado como um “sistema aberto”, em transformação permanente. O
mundo é o espaço das desequilibrações, dos enfrentamentos, das adversi-
dades, dos conflitos, das problematizações, o que exige do indivíduo inte-
rações para que ele satisfaça necessidades e supere dificuldades.
O interacionismo busca a democracia, a superação do egocentrismo
pela deliberação coletiva, a negação da homogeneização, acolhendo as di-
ferenças culturais, as trajetórias de vida, as necessidades de cada pessoa, o
gênero, a origem social e econômica, etc. A liberdade resulta das adequa-
ções produzidas socialmente, das condições de acessibilidade que possibi-
litam a participação de cada pessoa. O sujeito epistêmico constitui-se em
processos contínuos e descontínuos, ativos e em constantes interações.
A educação é considerada uma situação desequilibrante, um pro-
cesso indissociável entre o intelectual e o moral, elemento socializante
que possibilita novos modos de perceber a realidade e a si mesmo. Prevê
as adequações e os desafios para o aluno alcançar a autonomia para a
reelaboração do conhecimento.
FAEL
Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Jean Piaget
Piaget concebeu que a criança possui uma lógica de funciona-
mento mental que difere – qualitativamente – da lógica do adulto.
Nessa investigação, ele partiu de uma concepção de desenvolvimento
envolvendo um processo contínuo de trocas entre o organismo vivo e
o ambiente. “O desenvolvimento mental é uma construção contínua,
comparável à edificação de um grande prédio que, à medida que se
acrescenta algo, ficará mais sólido [...]”. (PIAGET, p. 12, 1972).
Segundo Wadsworth (1996), Piaget considera que o desenvolvi-
mento cognitivo é dividido em quatro estágios, apresentados a seguir.
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
4 É um ponto de união entre duas células que fazem contato. Sinapse é a conexão entre dois
neurônios vizinhos, da qual há mais de um tipo, segundo as formações que fazem o contato
entre essas células para que se propague o impulso nervoso de uma para a outra.
5 Também chamado de neurônio, que é uma célula extremamente estimulável; é capaz de
perceber as mínimas variações que ocorrem em torno de si, reagindo com uma alteração
elétrica que percorre sua membrana. Essa alteração elétrica é o impulso nervoso. As célu-
las nervosas estabelecem conexões entre si de tal maneira que um neurônio pode transmitir
a outros os estímulos recebidos do ambiente, gerando uma reação em cadeia.
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Reflita
Reflita
A partir do estudo sobre as concepções de desenvolvimento citadas,
elabore um texto reflexivo posicionando-se em relação a elas, procu-
rando demonstrar suas contribuições para o desenvolvimento do pro-
cesso educacional.
Reflita
Reflita
Miranda [2007] ressalta, em seus estudos acerca do processo de de-
senvolvimento, relatados na revista Mente&Cérebro, as contribuições de
Alexandre Luria, famoso neuropsicólogo soviético, especialista em psico-
logia do desenvolvimento e um dos fundadores de psicologia cultural-his-
tórica. Para ele, a compreensão do intelecto ganha espaços nas discussões
acadêmicas, transcendendo os métodos tecnicistas e psicométricos para
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Dica de Filme
Assista ao filme O óleo de Lorenzo, lançado em 1992, sob a direção George
Miller.
Um garoto com vida normal é diagnosticado, aos seis anos de idade, com
uma doença extremamente rara, que provoca uma incurável degeneração
no cérebro, o que pode levar o paciente à morte em dois anos. Os pais reali-
zam estudos e pesquisas com o objetivo de impeder o avanço da doença.
O ÓLEO de Lorenzo. Direção de George Miller. Estados Unidos: Universal
Pictures: Dist. UIP, 1992. 1 filme (135 min), sonoro, legenda, color.
Dica de Filme
Para Vygotsky, o maior defeito da psicologia tradicional é a separa-
ção entre os aspectos intelectuais e os afetivos. Ele afirma que o pensa-
mento tem sua origem na esfera da motivação, que inclui inclinações,
142 necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Para um completo
entendimento do pensamento humano seria necessário, então, com-
preender sua base volitivo-afetiva.
No decorrer do desenvolvimento nem sempre poderemos prever
as particularidades que os sujeitos demonstrarão ou pelas quais pas-
sarão. Algumas singularidades somente ficam claras com o passar das
fases, dos anos, na convivência, na aprendizagem. Entendê-las possibi-
lita, além de uma visão mais abrangente do ser humano, uma melhor
estruturação do trabalho pedagógico, um maior entendimento dos
talentos que, muitas vezes, nos parecem embotados por diagnósticos
e preconceitos. Dessa forma, verificamos que antes de estigmatizar, de-
vemos conhecer e compreender. Elaboramos no próximo item algumas
considerações importantes.
Ser analfabeto emocional implica sentir a emoção e não percebê-la,
não reconhecê-la, nem ter ideia da sua intensidade, desconhecer o que
cada emoção causa em nós e nos outros, não ser capaz de saber como,
quando, onde e em que intensidade expressá-la, não ter controle emo-
cional, deixando que tais emoções dominem a mente racional ao invés
de dominá-las, ter pouca ou nenhuma empatia para avaliar o efeito das
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
As múltiplas inteligências
Entender que o homem desenvolve uma única forma de aprender
tem sido o alvo das pesquisas do psicólogo Howard Gardener, que de-
senvolveu a Teoria das Inteligências Múltiplas ao redefinir a inteligência
à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas.
Inteligência é um potencial biopsicológico, uma capacidade para
resolver problemas e criar ideias. E capacidade é o poder humano de re-
ceber, aceitar e apossar-se das demandas externas e internas (ANTUNES,
2002). A partir desse pensamento, podemos entender que a inteligência
não é algo definitivo, unitário e imutável. Dentro das concepções mais
recentes sobre a significação de inteligência, encontramos a de que o ser
humano possui um número considerável de inteligências, que são esti-
muláveis e apresentam possibilidade de verificar suas modificações den-
tro de um ambiente estimulador e por meio de um grupo de pessoas
preocupadas em trabalhá-las.
De acordo com Gardner, todos têm potencial diferente, mas nas-
144
cem com capacidade para desenvolver todas as inteligências, pois o ho-
mem é dotado da capacidade de ser estimulado e desenvolvido.
O psicólogo afirma que cada área ou domínio do cérebro tem seu
sistema simbólico próprio, em um plano sociológico de estudo, cada
domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de competências valoriza-
das em culturas específicas. Para ele, não existe faculdade mental geral,
como a memória. Talvez existam formas independentes de percepção,
memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis seme-
lhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta.
Essa teoria defende que as competências intelectuais são relativa-
mente independentes, têm, originalmente, suas marcas genéticas consti-
tuídas e dispõem de processos cognitivos próprios. Gardner ressalta que,
embora as inteligências sejam, até certo ponto, independentes umas das
outras, elas raramente funcionam isoladamente. Parafraseando Gama
(1998), descreveremos a seguir cada uma dessas inteligências.
Inteligência linguística: nessa inteligência a característica central
é o fato de que a pessoa tem uma sensibilidade para os sons, ritmos e
significados das palavras, além de uma especial percepção das diferen-
tes funções da linguagem. Pode se manifestar por meio da capacidade
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
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Capítulo 2
Reflita
Reflita
Analise sua experiência teórica e prática e elabore fundamentos, forne-
cendo exemplos sobre a importância de se trabalhar o cérebro motor,
afetivo e racional. Em que sentido os estudos a respeito das funções
cerebrais podem contribuir para a transformação das práticas pedagó-
gicas e da vida das pessoas? Lembre-se de pessoas que, frente a grandes
dificuldades em determinadas áreas, tornaram-se excelentes profissio-
nais, graças aos apoios e às estimulações que permitiram a modificabi-
lidade cerebral.
Reflita
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Educação Inclusiva
Educação Inclusiva
Adaptações curriculares
148
O currículo adaptado é entendido como o elemento facilitador e
possibilitador de atendimentos dentro da lógica da heterogeneidade.
Tratar das adaptações curriculares é tomar consciência de que a inclu-
são é possível e real. Diz respeito, portanto, à flexibilidade curricular,
legalizada pelas Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação
Básica, que a instituição de ensino possui para incluir todos os alu-
nos com N.E.E. Poucas pessoas têm clareza e conhecimento acerca do
quanto esse documento pode transformar o que, até então, ainda é
considerado uma utopia: a inserção de alunos com necessidades educa-
cionais especiais na rede regular de ensino.
Inicialmente a escola deve ter clara a concepção de currículo que
fará parte das discussões, o documento deverá ser entendido de forma
ampla e não reducionista, voltada apenas aos conteúdos programáti-
cos. Para elaborar as adaptações curriculares, é necessário pensar na
personificação do currículo de acordo com a demanda de cada aluno,
incluindo as suas necessidades específicas e as condições da escola e da
equipe. O aspecto de maior significado no momento da elaboração é a
disponibilidade pessoal da equipe; é preciso ter um elemento mobiliza-
dor calcado no compromisso ético para executá-lo.
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Educação Inclusiva
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Outubro 2010
Outubro 2010
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Capítulo 2
Educação Inclusiva
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10. O aluno precisa saber qual a função do que está sendo subme-
tido a aprender, para sentir-se corresponsável por sua aprendi-
zagem, tendo como forma eficaz o envolvimento na concep-
ção, realização e avaliação de projetos.
11. É necessário que sejam articulados os saberes das diversas áre-
as ou disciplinas em torno de problemas e temas de pesquisa
e de intervenção. Assim, o aluno estará progressivamente am-
pliando o significado de conceitos e adquirindo, também, a
noção de responsabilidade perante o ambiente, a sociedade e
a cultura em que se insere.
12. Devemos lembrar sempre que o planejamento estará centra-
do nas potencializações e não nas lesões, é isto que garante
avanços na aprendizagem formal de conteúdos e possibilita a
plasticidade cerebral, analisando as conjunturas sociais, emo-
cionais e educacionais.
13. Quando as turmas forem muito grandes ou tiverem vários
professores, é interessante pensar na tutoria, pessoas que fi-
162 cam responsáveis por grupos menores de alunos, a fim de fa-
zer acompanhamento personalizado.
14. É importante desenvolver semanalmente uma técnica de re-
lação e colocar no planejamento bimestral conteúdos sobre as
diferenças, pois alunos com maior condição de aprendizagem
podem não ser solidários e não respeitar o processo individual
dos colegas, isso previne problemas graves de comportamen-
to, advindos da não compreensão da sua identidade, da iden-
tidade do outro e das regras e limites das relações.
15. Devem ser repreendidas as attitudes de não fazer nada ou rea-
lizar atividades isoladas, tediosas ou frustrantes, pois isso pode
levar qualquer aluno a não gostar do ambiente.
16. É importante lembrar sempre que as aulas são planejadas para
todos, mantendo o direito da diversidade quanto à expressão
das ideias, gráficas ou verbais, e às metodologias para cada
deficiência.
17. Ter clareza das competências que todos devem atingir ao che-
gar ao final de sua escolaridade: autonomia, independência e
empoderamento sobre todos os objetivos dispostos.
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Capítulo 2
Para que uma pessoa possa fazer uso destas tecnologias, são ne-
cessários apoios, orientações e treinamentos durante algum tempo, até
que consiga usá-lo de forma independente, caso contrario tais equipa-
mentos poderão frustrá-la e torná-la mais dependente de outros para
ajudá-la. Este trabalho geralmente envolve uma equipe multiprofissio-
nal, envolvendo diversas áreas, como: fisioterapia, terapia ocupacional,
fonoaudiologia, educação, psicologia, enfermagem, medicina, enge-
nharia, arquitetura, design e técnicos de muitas outras especialidades
Concepção de avaliação
A avaliação da aprendizagem resulta das manifestações, do compar-
tilhar, das respostas com ajuda e individuais, das conquistas de novos
elementos de comunicação com outras pessoas, novas compreensões so-
bre a realidade local em que está situado o aluno. Todo processo avalia-
tivo leva em consideração as condições de participação dos membros da
família no acompanhamento dos objetivos planejados para o aluno.
Do mesmo modo, avaliamos a mediação do professor, o qual ma- 169
nifesta suas possibilidades, seus recursos e estratégias, o quanto conhece
as necessidades e as possibilidades do aluno, o quanto estimula e orga-
niza as trocas dos saberes, que têm sido a coerência, consistência e seu
rigor no cumprimento do papel de desafiar e de valorizar as capacidades
já percebidas no aluno.
O progresso da aprendizagem do educando, assim como depende
do trabalho do professor, das interações com seus colegas, do compro-
metimento dos membros da família, relaciona-se com a estrutura de
apoio oferecida pela escola ao docente e aos estudantes em geral. Esses
lementos são interdependentes, ninguém pode ser julgado individual-
mente apenas ao final de um processo. Cada pessoa, cada estrutura
só pode ser avaliada em relação à maneira como a outra for capaz de
cooperar e de apoiar. Em uma avaliação inclusiva elaboramos menos o
julgamento e mais a compreensão, a retomada dos apoios, a busca de
novos instrumentos, novos canais de comunicação.
A avaliação deve acontecer dentro de um processo de atividades
didático-pedagógicas que proporcionem apoio e contribuam para a ob-
tenção de resultados de forma participativa com o próprio aluno.
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Colar a foto
Nome do aluno:
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Data da atividade:
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Nome da atividade:
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Síntese
Neste capítulo, vimos que a organização da proposta pedagógica
é a base para o sucesso da aprendizagem e deve ser feita com respon-
sabilidade, conhecimento e comprometimento. O bom planejamento
auxilia o professor a ver a inclusão como algo possível e fácil de ser
administrado no dia a dia, assim todos os seus benefícios são estendi-
dos aos educandos. É preciso promover as mudanças, as adequações, a
acessibilidade à comunicação, o usufruto das conquistas humanas: os
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Referências
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Referências
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