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GOIÂNIA
2022
SEI/UFG - 2689793 - Termo de Ciência e de Autorização (TECA)
JAILDES AMANDA GONÇALVES DE DEUS
GOIÂNIA
2022
SEI/UFG - 1970455 - Ata de Defesa de Dissertação
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por seu infinito amor a mim. Meus passos se tornaram
mais leves, porque meu refúgio esteve sempre naquele que tudo pode.
Agradeço à minha Orientadora Professora Dra. Célia Sebastiana Silva. Desprovida de
palavras que possam fielmente retratar minha gratidão, desejo retribuir a competência, a
sensibilidade e a disponibilidade com que me orientou. Obrigada pelo seu amor fiel à poesia,
esse amor me motivou ainda mais na execução deste trabalho.
Estendendo meus agradecimentos acadêmicos a todos os professores que atravessaram
meu caminho nesta jornada educacional e que, por meio de sua singularidade pessoal de
transmitir o conhecimento, marcaram a minha vida acadêmica, uma vez que não foram apenas
professores, mais sim, grandes mestres e amigos.
À minha família, pela paciência com minha ausência, estrelas que compõem minha
constelação: Mamuska Maria Gonçalves, meu mano Gilberto, minha cunhada Lorenna e meu
sobrinho César.
Ao meu grande amigo e noivo que me apoiou desde o início como ninguém e que me
incentivou em todo momento a realizar esse sonho, Dercy Júnior.
Aos meus melhores amigos de vida e de trabalho, que não mediram esforços para me
apoiarem com muito zelo e carinho nesta trajetória árdua e vencedora, Vandemy, Lucas, Silene,
Rosangela, Danilo, Hiram e Dina.
À Escola Estadual Professor Vítor José de Araújo, desde a gestora Iris Dantas, a
coordenadora pedagógica Luci Lilian e a professora de língua portuguesa Edilza, por
acreditarem nesta pesquisa e durante a trajetória me apoiarem em tudo que foi necessário e por
serem exemplos na educação do ensino público.
Aos alunos participantes da pesquisa e seus familiares da comunidade escolar Vítor José
de Araújo, por confiarem em meu trabalho e contribuírem para a formação de leitores literários.
Devo amar a Escola, como se fosse o meu lar. Entrei na
escola pequenino e ignorante: mas hei de estudar com amor,
para vir a ser um homem instruído e um homem de bem. A
escola abrigou-me tão cuidadosamente como se fosse a casa
de meus pais. A escola deu-me horas de alegria, sempre que
me esforcei trabalhando. A escola conhece o meu coração,
conhece os meus sonhos, conhece os meus desejos. E só
quero ter desejos e sonhos bons, nesta casa que respeito
como um lugar sagrado, em que a gente fica em meditação,
para se tornar melhor
Cecília Meireles
DEUS, Jaildes Amanda Gonçalves de. Isso e aquilo: poesia, performance oral e formação
de leitor em sala de aula. 2021. 155f. Dissertação (Mestrado em Ensino na Educação Básica)
– Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica, Centro de Ensino e Pesquisa
Aplicada à Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO.
RESUMO
A presente pesquisa centra-se na leitura de poesia, gênero quase sempre pouco frequentado nas
salas de aula, em muitos casos, por uma resistência do mediador da leitura, que também leu
pouca poesia em seu processo de formação e por isso não dispõe de um suporte para
desenvolver aulas que despertem a curiosidade do aluno para a leitura literária. Tem o objetivo
de despertar o gosto pela leitura de poesia e formar leitores críticos e criativos por meio da
vocalização de poemas. Sabe-se que a poesia possui a capacidade de humanizar, criar e recriar
o leitor através da sua imaginação, observação, criatividade e interpretação. Diante isso, propõe-
se também refletir sobre o discurso poético em sala de aula para o conhecimento da poesia por
meio da performance poética. O corpus de análise deste trabalho serão os poemas da obra Ou
isto ou Aquilo, de Cecília Meireles, integrada com alguns poemas de Vinícius de Moraes. Sob
a perspectiva das aulas de literatura, o desafio foi mostrar que, para desenvolver nos alunos a
apreciação literária e promover uma educação do leitor de poesia, algumas contribuições de
como potencializar a apreensão dos sentidos do texto poético devem ser por meio da
performance oral do texto. A sustentação teórica dessa pesquisa dá-se por meio da reflexão da
própria Meireles (1931, 1932, 1979, 2001 e 2012), e de autores como: Lajolo (2002), Todorov
(2009), Libâneo (2008), Freire (1996), Saviani (1994), Bakhtin (2003), Candido (1995), Pilatti
(2017), Zilberman (1985) e Zumthor (1993, 2007, 2010). A proposta metodológica ampara-se
em uma pesquisa-ação, com aplicação de oficinas e aulas de cunho formativo para a experiência
de leitura dos referidos autores com alunos de 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola
pública e periférica de Goiânia. A pesquisa-ação, por meio das oficinas, culminou no produto
educacional Corpo, Voz e Poesia, desenvolvido durante o Mestrado Profissional Stricto Sensu
do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa
Aplicada à Educação (CEPAE) da Universidade Federal de Goiás (UFG ), cuja origem principal
se deu, a partir das apresentações realizadas no Sarau Literário “Ou isso ou Aquilo”, no qual
foram vocalizados poemas escolhidos pelos alunos nas performances de teatro, danças, músicas
e recitações. O produto está disponível no website intitulado: Corpo, Voz e Poesia, de caráter
instrucional e expositivo, contendo resultados obtidos durante e após a aplicação das oficinas
de performances realizadas. Os resultados apontaram e confirmaram o aguçamento do encanto
pela poesia, a efetividade da apreensão dos sentidos do texto e a consequente potencialização
da capacidade leitora por meio das leituras, criações e apresentações que os alunos realizaram.
Dessa forma, o trabalho foi significativo para o processo e desenvolvimento de formação do
leitor de poesia dos sujeitos envolvidos.
ABSTRACT
The present research foccuses on Reading poetry, a genre which is almost always little
frequented in classrooms in many cases due to the resistance from the reading mediator who
also read little poetry during his training process, therefore does not have any support to develop
classes which arouse student’s curiosities for literary Reading. It aims to awake a taste for
reading poetry and to train critical and creative readers through the vocalization of poems. It is
known that poetry is able to humanize, raise and recreate the reader through his imagination,
observation creativity and comprehension. For this reason it also proposes to reflect on the
poetic discourse in the classroom for the knowledge of poetry through its poetic performance.
The corpus of analysis of this work will be the poems from the book Ou isto ou Aquilo, by
Cecília Meireles, integrated to some poems from Vinicius de Moraes. From the point of view
of literary clasess, the challenge was to show that, to develop literary appreciation on students
and promote na education of the poetry reader some contributions on how to enhance the
aprehension of the senses in a poetic text must be through oral performance of the text. The
theoretical support for this research is through reflection by Meireles (1931, 1932, 1979, 2001
and 2012), and by authors such as: Lajolo (2002), Todorov (2009), Libâneo (2008), Freire
(1996), Saviani (1994), Bakhtin (2003), Candido (1995), Pilatti (2017), Zilberman (1985) and
Zumthor (1993, 2007, 2010). The methodological proposal is supported by an action research,
with the application of workshops and formative classes for the reading experience of the
referred authors with 6th grade students from a public and peripheral school in Goiânia. The
action research, through the workshops, culminated in the educational product Corpo, Voz e
Poesia, developed during the Stricto Sensu Professional Master's Degree of the Graduate
Program in Teaching in Basic Education of the Center for Teaching and Research Applied to
Education (CEPAE) of the Federal University of Goiás (UFG ), whose main origin was based
on the presentations made in the Literary Soiree “Ou Isso ou Aquilo”, in which poems chosen
by students were vocalized in theater performances, dances, songs and recitations. The product
is available on the website entitled: Body, Voice and Poetry, of an instructional and expository
nature, containing results obtained during and after the application of the performance
workshops held. The results showed and confirmed the sharpening of the enchantment for
poetry, the effectiveness of the apprehension of the meanings of the text and the consequent
potentiation of the reading capacity through the readings, creations and presentations that the
students performed. In this way, the work was significant for the process and development of
the formation of the poetry reader of the subjects involved.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................13
REFERÊNCIAS....................................................................................................................112
INTRODUÇÃO
processo que envolva uma compreensão crítica do ato de ler que não esgota na
decodificação pura da palavra escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência
do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura
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Conforme exposto pelo autor, o processo de aprendizagem da leitura deve ser um ato de
educação fundamentalmente ético, político, social e humanitário e não uma regra de
aprendizagem obrigatória e momentânea para aquisição de notas. Esse objetivo não é o que a
leitura de poesia propõe, pois leva a um ensino superficial de conhecimentos de língua que não
são eficientes para a formação de um leitor questionador e protagonista. Desta forma, a leitura
de hoje deve levar em conta a história das pessoas e das sociedades: seus hábitos, costumes,
modos de viver e de pensar. Deve colocar o homem como agente da história e não como mero
sujeito dela, em outras palavras, a leitura deve ser inserida na vida do leitor de forma prazerosa
e espontânea, pois ao realizá-la, estabelecerá uma relação com suas vivências e compreenderá
a visão do outro.
A partir destes questionamentos, foram levantadas as perguntas de pesquisa norteadas
deste estudo:
1. Qual é o papel da poesia na formação do leitor na escola?
2. Como a vocalização de poemas em sala de aula, por meio de performances poéticas,
pode potencializar a apreensão dos sentidos do texto poético e a formação do leitor?
3. O papel da escola/professor é relevante na escolha dos autores e obras para o
incentivo das leituras literárias e para o processo de formação do leitor?
Não há dúvidas que há diferentes respostas para estas inquietações, sejam elas por parte
de uma pesquisa, um professor e até mesmo das instituições de ensino, e cada uma possui suas
dissoluções de acordo com sua realidade e singularidade. É considerável dizer que, essas
perguntas se fazem importantes para pensar novas possibilidades para a construção do leitor de
poesia em sala de aula. Dessa maneira, entendemos que o professor e a escola possuem um
importante papel: o de proporcionar aos educandos oportunidades para observar e analisar o
contexto no qual estão inseridos e, mais do que isso, oferecer-lhes condições para que tenham
vontade pessoal para propor alternativas pertinentes que visem à melhoria da qualidade de vida
dentro deste aspecto da leitura literária. Agindo assim, os indivíduos deixarão de ser apenas um
número a mais nas pesquisas e estatísticas de vestibulares para serem cidadãos capazes de
respeitar direitos, cumprir deveres, reivindicar melhorias, preservar, difundir cultura e construir
sua história. Dessa forma, a proposta da pesquisa é de incentivar e procurar formar um leitor
que questione, que esteja conectado com o mundo e que tenha gosto frequente pela leitura
literária através da metodologia apresentada a ele. Mas, como resgatar o prazer da prática da
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leitura literária como um exercício crítico e reflexivo? Sabe-se que os alunos de hoje, por vários
motivos, não têm contato sistemático com a leitura de qualidade e com adultos leitores
principalmente no que tange às series finais do ensino fundamental.
A escola torna-se então o único veículo de interação desses alunos com textos, cabendo
a ela oferecer leituras diversificadas e práticas de leituras eficazes para formar leitores
competentes. Diante do trabalho educacional, o PCN (BRASIL, 2001, p. 54) atesta que
Um leitor competente é aquele que, por iniciativa própria, seleciona, de acordo com
as suas necessidades e interesses, o que ler entre os vários tipos de textos que circulam
socialmente. Para que isto se efetue, a escola deve promover uma prática constante de
leitura organizada em torno de uma diversidade de textos. O ideal é que o professor
seja um bom leitor e que esteja sempre atualizado em relação a novas publicações e
crie com seus alunos uma interação capaz de estimulá-los a falar sobre o assunto.
A relevância do trabalho se atesta por ser o poema um gênero literário que orienta,
educa, ensina e forma o leitor de maneira ampla, pois é completo em forma, conceitos e
significações. Os textos artísticos evocam vivências, trazem informações que recriam a
realidade, permitem a imaginação tão necessária à vida humana. Desta maneira, os leitores se
retratam ou se espelham e se constituem por efeitos de semelhanças, analogias e comparações
boas ou ruins, por relações e associações, pela imaginação e fantasia que podem idealizar
através das leituras. (MEIRELES, 1979 p. 30).
Assim, de forma a atingir a sensibilização e humanização do ser humano, mexer com
seus sentimentos, os diferentes textos poéticos, com suas marcas linguísticas, virtudes
escondidas por cada construção de versos, imagens, e com a riqueza sinestésica, pode-se dizer
que são estes os textos que mais aproximam o ser humano de sua essência, de sua própria
realidade e existência, por tratarem de temas humanos, metaforicamente, conforme nos aponta
Candido (1972, p. 53):
A arte, e portanto, a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de
uma estilização formal da linguagem, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as
coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à
realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à
sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade.
A literatura é fundamental na educação, porque pode fazer com que o leitor se torne
mais crítico, para não ser uma pessoa ingênua, imatura e sem opiniões, que acredita nos
pensamentos impostos pela sociedade de hoje, a qual está tomada de diversos valores e crenças
sociais e, além disso, pela força assoladora das ideologias do mundo do consumismo. À vista
disso, é preciso insistir com o trabalho de leitura literária, voltada para o texto poético, e pensar
sobre como instruir e exercitar, pois, sabemos que há muita dificuldade em fazer com que os
alunos leiam poema e sintam prazer em ler.
Zilberman (1985) destaca que, se a leitura está em crise, é porque o ensino diante das
aulas de leitura não está sendo eficaz, há algo errado. Salienta, ainda, a preocupação sobre como
a leitura literária está sendo exercida, pois, em alguns casos, a ação didática centra-se
eminentemente nos livros didáticos, os quais, comumente, trazem somente trechos de textos
literários, sem que se possa explorar o texto nas obras por inteiro. Porém, é imprescindível
destacar que essa crise da leitura literária não se dá apenas pelas aulas ineficazes de leitura, uma
leitura de mundo anterior, por exemplo, conforme ressaltado por Freire (2011), pode, também,
ser a contribuição do fracasso desta leitura, visto que está (primeira leitura) antecede a leitura
da palavra (segunda leitura). Comumente, não somente o ensino de maneira única e geral pode
ser o motivador do problema da literatura, mas diversas situações podem contribuir para o
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presente cenário. Assim sendo, a leitura de poesia deve ser reconsiderada em relação aos
estudos de literatura e, também, levar em consideração toda leitura de mundo provocada
anterior aos estudos, que pode ser contrária às pretendidas em associação à leitura literária.
A poesia, por se constituir texto carregado de linguagem cifrada, comporta sensações e
emoções, manifesta os entendimentos humanos para sentidos e interpretações mais próximas
dos sentimentos, seja da alegria ou da aflição. As crianças, por meio deste gênero literário, se
descobrem, vivenciam situações do mundo, reconhecem seus heróis, constroem suas aventuras,
sua linguagem e seus hábitos, propondo a si mesmas uma maneira de sonhar.
Para Cândido (1972) a literatura, e aí inclui-se a poesia, que tem a eficiência de oferecer
a inteligibilidade também pode proporcionar o desinteresse, por trazer ideologias que, apesar
de possuir autonomia, não se separa da realidade e a altera sua competência de atuar sobre ela.
outros alunos afirmando sua autonomia em estabelecer limites aos exercícios da liberdade e
contribuir para uma convivência democrática.
Observa-se que os Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pela secretaria de
Educação Fundamental do Ministério da Educação (MEC), em 1997, ressaltam tudo isso de
acordo com a proposta do trabalho de poesias, quando revela que a escola deve “utilizar as
diferentes linguagens - verbais, musical, matemática, gráfica, literária, plástica e corporal -
como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das
produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e
situações de comunicação” (p. 8), corroborando com a presente pesquisa que se atesta no
trabalho com as performances e leituras de poesias para o desenvolvimento do aluno leitor e
reforça que o trabalho do professor em sala de aula é, também, o de orientar, instigar e promover
através das suas aulas um interesse pautado em sua formação como docente.
A poesia, de modo geral, é importante por vários motivos, dentre eles, para adquirir
novos conhecimentos, aprender sobre a cultura de outros povos e sobre a cultura de outras
épocas. É um dos maiores atrativos que a leitura literária exerce sobre os seres humanos que
são fascinados por essa prática. Mas esse assunto apresenta muitos desafios e exige dos alunos,
pais e educadores, não apenas boa vontade, mas também esforço e dedicação constantes, pois
fazer com que o interesse pela leitura de poesia seja natural não é uma das tarefas mais fáceis.
Pilati (2018, p. 12), em reflexão sobre a poesia em sala de aula, diz que os professores,
devem considerar a importância da leitura deste gênero literário nos contextos escolares.
Ressalta que em um país como o nosso, em que acesso à literatura é quase sempre um privilégio,
é preciso acreditar que, diante da educação humanista e emancipadora, o trabalho com poesias
em sala de aula faz-se imprescindível, pois
Para que a leitura aconteça de forma satisfatória é preciso perceber e distinguir os vários
obstáculos que a defrontam, e principalmente, buscar mecanismos que possibilitem auxiliá-la
na sua compreensão. Tentar superá-la é a meta prioritária para qualquer um que queira enfrentar
essa barreira e, com isso, ajudar a mudar o rumo da história de cada educando, fazendo-o
entender que quem lê transcende o tempo e se permite uma viagem de prazer indescritível, visto
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que a leitura é uma experiência pessoal ímpar. A autora Marisa Lajolo (1993), salienta que
ninguém nasce sabendo ler, aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros geralmente se
aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem pelo mundo, na chamada escola da
vida, por todas as significações que a mesma trás.
Segundo Silva (1991), a leitura é um ato de conhecimento, pois ler significa perceber
e conhecer as relações existentes no mundo. Neste sentido, podemos definir a leitura como um
ato individual, voluntário e interior. Essa prática se inicia com a decodificação dos signos
linguísticos que compõem a linguagem escrita convencional que exige do sujeito leitor a
capacidade de interação com o mundo a sua volta.
processo que envolva uma compreensão crítica do ato de ler que não esgota na
decodificação pura da palavra escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência
do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura
desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade
se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 2011,
p.11).
A leitura nos dá o poder de emersão, nos confere o poder de enxergar e perceber o que
nos circunda, a fim de, como cidadãos, assumirmos nossos diferentes papéis na
construção de uma sociedade que respeite a lógica do bem coletivo e dos valores
humanos. (ANTUNES, 2009, p. 193).
textos literários, ou seja, recomendam, mas têm medo desta recomendação de leitura em sala,
por receio ao que esta leitura poderá atingir na história do leitor. De acordo com ele,
A definição de humanização retratada pelo autor nos alerta para percebermos que esse
processo acontece diariamente ou que, pelo menos, deveria acontecer. Ele é contínuo e
duradouro e deve ser desenvolvido nos grupos sociais, familiares e escolares. Cabe, portanto,
de forma quase exclusiva, pelas próprias circunstâncias sociais da maioria dos jovens em nossa
sociedade, ao professor, apresentar a poesia ao aluno no ambiente escolar. E este é um espaço
de formação e de mediação por excelência para desenvolver o lado humanizador do ser humano
por meio da leitura literária.
Ainda para Candido (1995, p. 180) “a literatura desenvolve em nós a quota de
humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a
sociedade, o semelhante”. O conjunto social conjectura, para ser assertiva, que haja o respeito
pelos direitos humanos, infere-se, então, que todos possam ter acesso aos diferentes níveis de
cultura, não devendo assim, ter uma separação injusta do ponto de vista cultural e social. O
desfrute ou ensejo de acesso à leitura de poesia deve acontecer em todas as modalidades e em
todos os padrões sociais mediante uma organização que garanta a distribuição justa do acervo.
Quanto à satisfação que a literatura proporciona, mais especificamente a poesia,
podemos ressaltar que ela vai ao encontro das necessidades emocionais, afetivas e intelectuais
de cada ser, corroborando com autossuficiência, liberdade e construção de sua própria história.
Sendo assim, a poesia deixa vivo o ser humano por dentro, pois mexe com seus sentimentos e
emoções, sendo o leitor e autor da sua vivência. Pode-se afirmar que a leitura de poesia favorece
a descoberta de si próprio e a importância da interação com outras pessoas. Vygotsky alega que
se pode fazer uma comparação entre a leitura e o brinquedo, pois ambas as ações são
agradáveis para o ser humano. [...] a imaginação, nos adolescentes e nas crianças em
idade pré-escolar, é o brinquedo sem ação. [...] o brincar da criança é imaginação em
ação. (1991, p. 106).
Ler textos literários possibilita-nos o contato com a arte da palavra, com o prazer
estético da criação artística, com a beleza gratuita da ficção, da fantasia e do sonho
[...] leitura que deve acontecer simplesmente pelo prazer de fazê-la. Pelo prazer da
apreciação, e nada mais. (2009, p. 200).
Além de todo esse processo humanizador provocado pela leitura de poesias, há outras
funções significativas e consideráveis, como a de formar leitores críticos. Um leitor crítico é
aquele que questiona, compara e indaga o que lê. É o indivíduo que consegue, por meio de uma
leitura, emitir uma opinião e argumentar sobre ela com fatos. Sabe-se que a poesia é um
instrumento essencial na vida do homem, sendo que sua aprendizagem e a prática da leitura
possibilita a ampliação do conhecimento de mundo e o acesso às formas de comunicação
necessárias da vida em sociedade, por esta razão, por meio conhecimentos entendidos, o sujeito
pode se tornar analítico e crítico.
A inquietação é: como as pessoas se comportam sendo leitores e conhecendo o ambiente
da literatura? Será que são apenas leitores comuns ou questionadores? São perguntas
inquietantes que nos levam a pensar e repensar em que tipo de leitores estamos formando ou
queremos formar.
Virginia Woolf cita em seu livro “O Leitor Comum”, que o leitor comum é aquele que
lê muito mais pelo simples prazer do que pelo conhecimento ou para corrigir opiniões alheias.
Um leitor comum não é só aquele que se apaixona pelo que lê, mas aquele que lê apaixonado
por aquilo que o completa, o deixa inteiro. Como se pauta mais pelo gosto de ler, o leitor comum
não se importa com protocolos, regulamentos ou formalidades. É uma leitura desarmada.
Se ele tem alguma palavra final do legado das reputações poéticas, então, talvez,
poderá valer a pena prosseguir escrevendo algumas ideias e opiniões que,
insignificantes em si mesmas, irão contribuir muitíssimo para um resultado.
(WOOLF, 2007, p. 12).
O termo “insignificante” não está diretamente ligado à forma pejorativa, mas nos leva a
pensar que, por muitas vezes ao tratarmos o leitor comum, não o consideramos como um bom
leitor. Virgínia também defende e motiva, em seu livro, o leitor a ler de tudo, sobre qualquer
coisa, pois isso não é empecilho para que o indivíduo se ache melhor ou pior leitor.
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No livro A Literatura, o pesquisador e escritor Vincent Jouve (2002, p.13) discorre sobre
o que seria um leitor ideal. Para ele é aquele que entende que “uma obra não se limita a destacar
a estrutura ou relacioná-la com seu autor. É a relação mútua entre escritor e leitor que é
necessário analisar.”
Assim, neste universo literário, o autor, o leitor, o revisor e o editor têm a figura do
crítico literário como atividade, mas, é importante nos questionarmos que, até que ponto essa
criticidade é colocada em prática? Nas pesquisas em relação à leitura, evidenciam-se muitos
autores de todas as linhas que contemplam a leitura como um processo cognitivo; outros a
consideram como algo simbólico; outros vão mais além e a consideram como meio de
aprendizagem, e diante disso, a melhor forma de analisarmos é fazermos a junção de todas as
vertentes e não fragmentarmos em apenas uma direção.
O texto literário traz na sua própria construção o processo da escrita e da leitura,
demonstrando uma experiência de reflexão na qual o leitor também é agente, na medida em que
vive e que pode levá-lo a uma transformação, no embate com suas vivências individuais. No
processo de recepção, o leitor assume sua postura de coautor da obra lida, atribuindo sentido
aos textos, colocando-se numa condição de criticidade em relação à leitura, enfim, assumindo
um papel de leitor-sujeito.
Neste trabalho, é pertinente destacar o quanto os alunos são sedentos por criticidade nas
leituras literárias. Formar leitores que dominam a habilidade de ler oralmente e fazê-los capazes
de se posicionar diante do texto lido ou ouvido não é muito fácil, mas a possibilidade do
processo em construir essa habilidade é inacreditável. Utilizando como referência a poesia de
Cecília Meireles trabalhada nessa pesquisa, no início, os alunos não sabiam se posicionar sobre
nenhuma poesia lida e ouvida em sala de aula, mas com a mediação, as inferências e indagações
conduzidas, aos poucos as associações foram se formando. E logo após algumas leituras, os
alunos sozinhos já se questionavam e questionavam também o eu lírico sobre situações com as
quais eles não concordavam.
Dessa forma, pode-se perceber que não se trata apenas de uma leitura qualquer em sala
de aula, mas de formar um pensamento também crítico nos leitores e trazê-los à sua condição
humana, incluindo o processo de leitura como um gosto para sua vida social. Expor uma
transformação social para a construção de uma leitura moderna, cultural e construtiva. Um
aluno que por meio da leitura literária consegue julgar o que lê, considerando vivências próprias
e singulares, sabe muito bem apreciar as palavras e deduções que a leitura lhe proporciona. E,
indo mais além, quando esse mesmo aluno sabe opinar, criticar, comentar e repreender fatos,
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ele se torna um leitor por completo. Completo porque ele goza de autonomia ao se colocar
diante do texto.
A atividade com leitura de poesia no ensino de língua portuguesa, além de auxiliar a
prática pedagógica, torna-se mais prazerosa e é um elemento que auxilia a formação de leitores
competentes e capazes de produzir sentidos.
Segundo Martins,
Postula-se que o trabalho com poesia no ensino possibilita aos alunos e professores
desenvolver as capacidades mencionadas por Martins. Sendo assim, confirmamos que leitura
literária estabelece funções significativas na vida de um aluno, pois, além de humanizá-lo,
compreende as contradições e conflitos da realidade de si mesmo, tornando-o competente à
função de opinar em assuntos do texto explorado.
Diante das afirmações, a orientação da escola, bem como do professor, é salutar. Formar
leitores que dominam a habilidade de ler oralmente e capazes de posicionar-se criticamente
diante do texto, utilizando como referência a leitura de poesia, torna-se uma atividade árdua
visto que não compete apenas uma leitura simples em sala de aula, mas sim do processo em
trazê-los à sua condição humana e assim incluir, através da mediação, o gosto da leitura
interpretativa para sua vida social.
Expor uma transformação coletiva para a construção de uma leitura moderna, cultural e
construtiva, a primeira ação do professor, da escolha das obras até a manifestação do texto
interpretado, requer um olhar educacional muito preciso e atento às realidades sociais e, para
isso, a escola precisa ter as ferramentas necessárias para que este trabalho aconteça.
Portanto, diante das informações citadas, a leitura de poesia torna o leitor mais crítico
sim. As leituras realizadas em sala de aula, coloca o aluno como protagonista da sua história e
não um coadjuvante dela. Leva a pensar, interagir e socializar. A poesia oferece ao leitor a
condição de cumprir deveres, respeitar direitos, reivindicar melhorarias, preservar, difundir a
cultura e consequentemente, construir sua própria história e a história da sociedade.
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A rima, ritmo, métrica, sonoridade e musicalidade são alguns dos recursos inerentes à
linguagem poética. Não há como negar: um poema pode perfeitamente ser constituído de tais
aspectos, a depender da época em que foi construído, mas o que ele não pode deixar de ter
chama-se ritmo – a grande especificidade desta modalidade textual. Ele, por sua vez, é
determinado pela alternação uniforme de sílabas tônicas (fortes) e não tônicas (fracas),
dispostas em cada verso de uma composição poética, bem como pelos recursos utilizados pelo
poeta e pela forma como ele os organiza dentro de seu texto, com vistas a produzir o efeito
desejado com a mensagem. Assim, podemos dizer que cada poema possui um ritmo próprio,
tendo em vista as intenções a que se deseja obter com a mensagem. Dessa forma, além de
despertar no aluno o gosto pela leitura, é preciso despertar nele a sensibilidade, a capacidade de
situar frente ao texto/poema lido e para isso, o professor precisa deixar claro as especificidades
do poema.
Por estes e outros fatores, percebe-se hoje em todo o território nacional uma crise da
leitura literária na escola e fora dela. Todorov (2010) assinala que a literatura tem tomado
diferentes rumos no espaço escolar e social. Ressalta que o texto literário nos oferece uma
experiência edificante, sensível e intelectual muito pessoal, porém vem sendo substituída pelo
teoricismo e categorizações fechadas da narrativa, direcionando separações entre o mundo
literário e o mundo empírico, e redirecionando o sentido da literatura.
Estes questionamentos surgem quando pensamos em qual é o espaço da literatura na
sala de aula, pois sabemos que, assim como Todorov ressalta, o ensino está pautado em “o
estudo da disciplina” e não “no estudo do objeto (obra)”, “Ensinamos nossas próprias teorias
acerca de uma obra em vez de abordar a própria obra em si mesma.” (TODOROV, 2010, p.31),
ou seja, se as aulas de literatura fossem direcionadas para o estudo das obras as compreensões
do homem e do mundo teriam mais sentido, pois engrandeceriam ainda mais sua existência,
sendo está uma das suas principais singularidades.
Compete, portanto, aos ensinos desta disciplina, não ignorar a função humanizadora e
crítica da poesia, pois seu ensino não está vinculado aos métodos de análises, teorias, resumos
e funções internas sem o próprio contato com a obra. Os textos não podem ser utilizados como
exemplos para análises e métodos, o leitor precisa vivenciar a emoção da leitura literária e
explorar o verdadeiro sentido da obra. Seus estudos metodológicos podem ser adicionais, mas
antes de tudo, o leitor precisa atingir seu objetivo crítico sentido que a poesia provoca, unindo-
o com as concepções do eu lírico, buscando sua função humana e conhecedora das emoções
dos seres humanos e não apenas em um número a mais em análises literárias escritas.
31
Em grande parte, a falta de contato do aluno com as obras literárias propriamente ditas,
impede que ele conheça histórias fascinantes que podem acrescentar, ou, associar com a sua
vivência, humanizando, assim, a sua própria existência. As questões literárias da educação estão
diretamente ligadas a uma percepção crítica do ato de ler, que não sucumbe na decodificação
pura da palavra escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. É bom
salientar que a leitura de mundo particular do leitor é importante para despertar-lhe o interesse
pela leitura da palavra. Ademais, a prática da leitura deve ser um ato de educação
fundamentalmente ético e político e, o contato com a poesia intermediado pela escola deve ser
bem inserido na vida do leitor, pois, uma vez assimilado o gosto e a fruição pelo gênero e a sua
consequente prática, essa ação, estabelecerá uma relação com o tempo da tradição e da cultura
do leitor, posto que as leituras de poesia hoje devem dar prioridade à trajetória das pessoas e
das sociedades.
Todorov, em sua obra citada acima, retrata bem esta questão trazendo como ponto de
partida a poesia como uma necessidade universal experimentada em todas as sociedades
(primitivas e avançadas), e sendo ela existente em todo corpo social e existindo como uma
utilidade fundamental ela é sim, um direito a todos.
Quanto melhor a obra literária, mais discussão ela provocará sobre o tema, isso é outro
aspecto importante, pois quem estiver lendo, seja criança ou adulto terá a oportunidade de
respeitar o ponto de vista do outro, percebendo que existem outras formas de pensar além da
própria. A função educativa está neste aspecto do respeito com a opinião do outro, afirmando
ainda mais uma particularidade que o gênero poesia possui. Desta forma, o indivíduo se torna
mais tolerante, indulgente e compreensivo conduzindo-o a ser mais humano. Por essa questão,
nas escolas é de fundamental importância que o educador goste de ler para transmitir o prazer
que a leitura de um livro literário proporciona. O aluno deve perceber nele que o livro é uma
forma de prazer.
Refletindo sobre a proposta do nome “prazer” neste sentido, tomando como ponto de
partida a afirmativa de que leitura literária é algo ligado ao prazer, uma vez que essa leitura tem
poderes de enriquecer e humanizar, isto é, dever ser tomada na sua inteira acepção, como arte.
Passando por uma abordagem mais científica da leitura, importante salientar que os prazeres da
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leitura são muitos ou múltiplos, pois lemos para saber, para compreender e para refletir. Lemos,
ainda, pela beleza da linguagem, para a nossa emoção e até para a nossa perturbação e próprio
conhecimento. Ao ler uma poesia estamos sonhando e aprender a sonhar. Assim sendo,
precisamos compreender a leitura de poesia como uma arte por estes motivos para,
pragmaticamente, despertar em nós, e consequentemente nos alunos, o prazer da leitura em
meio à crise da palavra escrita.
O prazer da leitura de poesia passa pela capacidade de dar ao leitor a possibilidade de se
identificar, reconhecer e de aproximar de si mesmo. Essa capacidade tem a possibilidade de
fazer o leitor ser um conhecedor de uma necessidade dentro de si desconhecia, e que após uma
leitura de poesia, fazê-lo conhecedor desse desconhecimento, de colocá-lo em um outro lugar
(lugar do reconhecimento da necessidade). Esse reconhecimento de estar diferente após ter lido
a poesia e estar aberto a algo que não comungava antes.
Andruetto (2017, p. 16) em seu texto “elogio da dificuldade: formar um leitor de
literatura” deixa evidente que as sensações de desafio, dificuldade e conquista, no âmbito da
leitura literária, normalmente caminham juntas e bem próximas. Isto quer dizer que é possível
identificar certo prazer no desvendamento de livros de difícil compreensão, como se logo após
o momento de aflição e dúvida viesse também o ímpeto de decifrar o sentido ali exposto.
Sabemos ainda que os prazeres da leitura são muitos ou múltiplos, pois lemos para saber,
para compreender e para refletir. Lemos, ainda, pela beleza da linguagem, para a nossa emoção
e até para a nossa perturbação. Ao lermos estamos compartilhando, sonhando e aprendendo a
sonhar. Assim sendo, precisamos compreender a leitura como uma arte para, depois,
pragmaticamente, despertar o prazer da leitura em meio à crise da palavra escrita. Precisamos
compreender, ainda, como se aprende a ler e o que há de fantástico na leitura para reeducar
leitores fracassados e chegar a um nível de leitura eficaz.
Sabemos que é papel da escola dar ao aluno condições para a competência da escrita e
da leitura, mas só aos poucos os alunos se tornam leitores, bem como passam a dominar a
competência textual. Os alunos necessitam aprender a ler sobre diferentes maneiras, tendo o
direito a ler sem que o gênero literário esteja contemplado (apenas por um gênero específico),
uma vez que, mais que o fato de o material da literatura ser a linguagem, é o gênero poético que
afirma a identidade de uma língua, que pode dar ao aluno, sobretudo os de escolas públicas, o
acesso a bens culturais do patrimônio literário nacional e universal.
Quanto à poesia, a especificidade de sua linguagem faz com que esse gênero careça de
uma condução pedagógica que aponte para duas particularidades. A primeira está na
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participação ativa dos professores em ser leitores aptos a interpretar e compreender o objetivo
do poeta com o texto. Além de propor aos alunos o encanto que nele exista.
Sabemos que atualmente a poesia, em muitas escolas, não está sendo trabalhada de
forma devida e em outros casos está esquecida, isso acontece devido ao processo de formação
do professor ou à falta de recursos que, possivelmente a escola tenha. Entendemos que a poesia
não é um gênero literário comum trabalhado somente dentro da sala de aula, ela é uma forma
de expressão que ultrapassa os muros da escola e se estende para a vida social do aluno. Por
essa razão, é necessário conceber formas de aproximar os alunos da poesia. E essa aproximação
deve ser feita, primeiramente, pelo professor com costumes de leituras deste gênero, pois exige-
se do orientador um bom conhecimento do texto literário que irá trabalhar, bem como seu
conhecimento de mundo dando referências aos alunos e instigando-os ao prazer em ler poesias.
A segunda particularidade está nas estratégias de apresentação do texto aos alunos.
Como fazer o aluno se interessar em ler poesia? Já foi dito que o professor precisa ter o hábito
da leitura e que convém ter uma leitura poética do mundo, ou seja, o professor precisa estar
aberto à todas as leituras vinculadas ao mundo poético. A partir disso, levar a poesia para a sala
de aula de forma lúdica motivando os educandos a não só ler por simples ler, mas divertir com
as palavras do texto literário e aguçar a sensibilidade para sua formação humana. Em
concordância com Elias José (2003, p. 101) “ser poeta é um dom que exige talento especial.
Brincar de poesia é uma possibilidade aberta a todos”, todos podem “brincar” com a poesia,
sendo assim, a forma lúdica é uma das estratégias que a poesia propõe de convencer o aluno a
se apaixonar por essa prática. Exercícios de imaginação, oficinas de leituras, brincadeiras
criativas de oralidade são técnicas que envolvem os participantes e mostra a liberdade de se
aprender e construir seu conhecimento emancipatório.
A educação deve ter como prioridade formar o cidadão e, para isso, precisa estar afinada
com as novas tendências manifestadas na sociedade e estas indicam a necessidade de “uma
formação geral sólida, a capacidade de manejar conceitos, o desenvolvimento do pensamento
abstrato.” (SAVIANI, 1994, p.103) e, de uma aprendizagem contínua através de processos de
formação competente. Desse modo, um leitor de poesia competente é aquele que, por iniciativa
própria, seleciona, de acordo com as suas necessidades, expressões, interesse e sensibilidade, o
que gostar de ler entre os vários tipos de textos que circulam socialmente, sendo que a poesia é
a forma natural de expressão dos homens, desse modo, a poesia tem a possibilidade de formar
o leitor que esteja conectado com o mundo, que tenha gosto frequente pela leitura e que saiba
questionar o lido e quem se lê.
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Entender que a leitura não pode se basear em qualquer texto literário, mas que o texto a ser
trabalhado precisa ser escolhido e conhecido pelo professor com propriedade.
Estas ações são direcionadas para preparar o aluno antes, durante e após as leituras.
Apresentar a poesia, as características deste gênero, suas especificidades, seus benefícios,
modos de interpretá-la e conhecer suas funções e, fundamentalmente, ler, e mediar bem essa
leitura exige do professor habilidade, gosto e boa disposição para com o gênero.
Desta maneira, a poesia proporciona ao aluno um mundo divertido, utópico, fantasioso
que desperta a criatividade e, ao mesmo tempo, a liberdade para o autoconhecimento. Ler a
poesia e entender seus sentidos é uma possibilidade disponível a todos, sendo uma experiência
vital, neste caso, ela (poesia) dá acesso às sensações e experiências próprias, como tristezas,
amor, alegrias, mágoas, associadas ao poder de encantamento emocional. Ora, então podemos
dizer que a poesia é única, pois desperta, pela emoção do eu lírico, a emoção humana
movimentadas pelo imaginário. E tem uma significação completa e singular.
Importante relembrar que um leitor, para se tornar apto, precisa, por iniciativa própria,
selecionar, de acordo com as suas necessidades e interesses, o que gosta ler entre os vários tipos
de textos que circulam socialmente. Para que isto se efetue, a escola deve promover uma prática
constante de leitura organizada em torno de uma pluralidade de textos. A leitura de poesia, por
seu caráter sugestivo, cifrado, é fundamental para desenvolver habilidades que favoreçam a
competência leitora do aluno e o impulsione a se tornar um ledor presente em qualquer gênero.
É propício, como já ressaltado neste trabalho, que o professor seja um leitor em potencial
e que goste de poesia, uma vez que as experiências de sala de aula revelam que não há
necessariamente uma resistência à poesia, mas, quase sempre uma dificuldade do próprio
professor que deve fazer a mediação desta leitura. Cabe também ao professor proporcionar ao
aluno um convívio satisfatório com o gênero, assim como permitir que ele cumpra o seu papel,
ou seja, o de ampliar, pela leitura da palavra, a leitura do mundo.
O professor de literatura precisa ir além, pois promover o interesse pela leitura literária
não é uma tarefa fácil em meio as tantas adversidades na atualidade. Apresentar a literatura aos
alunos hoje, se torna, por direito, o papel da escola e do professor. Todorov (2009) reflete acerca
dos perigos de a literatura, o texto literário em si, desaparecer da escola por meio de ações de
mediação que se voltem para aspectos marginais dos estudos literários e tirem a ênfase do texto:
O conhecimento da literatura não é um fim em si, mas uma das vias régias que
conduzem a realização pessoal de cada um. O caminho tomado atualmente pelo ensino
literário, que dá as costas a esse horizonte, arrisca-se a nos conduzir a um impasse –
sem falar que dificilmente poderá ter como consequência o amor pela literatura.
(TODOROV, 2009, p. 32-33).
para a reparação de conteúdos e métodos. Sendo assim, o professor precisa estar preparado e
seguro em relação aos poemas que irá trabalhar, ciente de que essa preparação e segurança
podem ser o ponto de partida para o interesse do aluno pelo texto literário.
Embora sabedores da importância da poesia na vida dos alunos, muitas escolas e até
professores esquecem de praticar esta leitura, dando prioridade a outros conceitos e gêneros
cobrados em avaliações, privando os alunos dessa “experiência inigualável” conforme
caracteriza Maria Helena Zancan (1998, p. 80). Neste sentido designamos que os professores
desta área de conhecimento possam trabalhar desde as primeiras aulas com a poesia em sala de
aula ou fora dela. Não se busca aqui fazer nem dos professores nem dos alunos autores de
poemas, mas sim leitores aptos para trabalhar com este gênero em sala de aula, levando os
alunos, interpretar e compreender o que o poeta quis transmitir, além de instigar os leitores a
sentir a poesia existente neles.
Sabe-se que o contato com a poesia está cada vez menor nas salas de aulas. Isso ocorre
devido a vários fatores, um deles é a formação do docente e o pouco contato que ele tem com
o poema.
Diante a afirmação do autor, evidencia-se que se o professor não tiver a prática de ler
poemas e se não se sensibiliza ao lê-los, não conseguirá atingir seus alunos, muito menos
transmitirá seu conhecimento acerca do gênero. Porém, se o professor é um bom leitor e
transmite sua paixão e conhecimento aos alunos, facilmente, despertará a curiosidade dos
indivíduos a conhecer esse gênero também. Para isso, é preciso descobrir meios de aproximar
o aluno da poesia.
Essa aproximação precisa ser pensada e planejada pelo próprio mediador, de forma que
o aluno não pense que seja um texto de difícil leitura e interpretação. Pinheiro (2002, p.23) diz
que “a leitura do texto poético tem peculiaridades e carece, portanto, de mais cuidados do que
o texto em prosa”, assim sendo, o professor necessita de toda atenção diante dos planejamentos
para o trabalho com a poesia em sala.
Uma das estratégias e metodologias que podem ser utilizadas pelo mediador é o uso do
conhecimento prévio. Este conhecimento prévio envolve o conhecimento linguístico, indo
muito além do pronunciamento da língua materna, perpassando pelo conhecimento do
vocabulário, bem como entendendo as regras da língua e linguagem. Cabe ao leitor, antes de
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tudo, ter este conhecimento do texto, referindo-se a estas concepções e noções sobre o escrito.
E, consequentemente, ter o conhecimento de mundo embasados na sua história e vivências em
sociedade, as quais são fundamentais para o entendimento do poema. Entende-se que se o
professor não estiver atento a estas percepções nas suas aulas, jamais atingirá leitores de poemas
com entendimento do que está sendo lido e não atingirá o aguçamento da prática de leitura
literária.
Como exemplo do parágrafo anterior, o poema “A um passarinho” de Vinícius de
Moraes (2012, p. 63).
A um passarinho
Deixa-te de histórias
Some-te daqui!
A compreensão do leitor diante desse poema pode se comprometer e não ser atingida
caso o leitor não tenha o conhecimento extrínseco ao texto, por exemplo, de que ao dizer “Nem
venho de Assis”, o poeta se refere à procedência de São Francisco, santo muito conhecido por
ser amigo dos animais e que nasceu na cidade de Assis, Itália. Ou também pode ser reconhecido
pelo autor Machado de Assis. Um pouco da chave de seu sentido exige esse prévio
conhecimento do leitor, que, sendo criança, precisa de uma mediação adequada. Para que a
percepção do poema aconteça, o professor não deve se posicionar às leituras de poesia
restringindo-se à forma, tampouco somente ao seu conteúdo. Deve-se sim explorar o sentido
nas disposições de cada palavra, dos versos, dos conceitos, imagens, enfim, de todo o conjunto
estilístico e linguístico que compõe o todo do poema. Deste modo, enfatiza-se mais uma vez a
importância do professor, ao mediar a leitura de poemas em sala. É importante ressaltar que o
professor deve entrar para a aula preparado com uma leitura prévia dos poemas que serão
trabalhados, para estar seguro de uma leitura produtiva com os seus alunos.
De acordo com Elias José (2003, p. 101) “brincar de poesia é uma possibilidade aberta
a todos.” Nesse sentido, se todos podemos brincar com este gênero literário, também podemos
trabalhá-lo de forma lúdica. As atividades lúdicas são importantes ferramentas para aguçar a
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participação dos alunos nas aulas. Dessa forma, trabalhar a leitura de poema por meio de
performances orais, levando em consideração a ludicidade do texto, a marcação rítmica, a
relação som/sentido pode ativar ainda mais a imaginação, a criatividade, a fantasia e o gosto
dos poemas. Vale ressaltar que todas as estratégias para estimular o interesse da criança pela
poesia são válidas, principalmente, quando essas estratégias sejam de forma aberta e natural. A
leitura de poemas em forma de expressão corporal é rica para estes recursos.
Necessário, porém, que o mediador faça uma sondagem para conhecer o aluno, seu nível
de conhecimento linguístico e seu interesse por poesia. A leitura em grupos pode ser uma grande
ferramenta para a apreensão dos poemas e participação dos alunos. Visto que quando se
misturam diferentes interpretações há uma troca de experiência como também uma reflexão da
construção social. Essa construção é fundamental para o desenvolvimento dos leitores literários,
sendo que uma das suas características é formar o caráter pessoal e social do leitor, permitindo
através das trocas a transformação da realidade de cada sujeito.
Indo além da mediação do professor, ao se trabalhar a poesia em sala de aula, expor
poemas em um lugar da escola, ou dentro da própria sala como desenhos de poemas lidos,
interpretações, escritas de versos que mais gostam, torna as atividades realizadas mais eficazes,
visto que quanto mais se lê, mais se aprende e cria o hábito da leitura de poema. Nesta
perspectiva, Pinheiro (2002) afirma que:
Improvisar um mural, onde os alunos, durante uma semana, um mês, ou o ano todo
colocam os versos de que mais gostam (...) de qualquer época ou autor, são
procedimentos que vão criando um ambiente (...) em que o prazer de lê-la passa a
tomar forma. (p. 26).
Desse modo, diferentes técnicas metodológicas podem ser aproveitadas pelo professor
em sala de aula e é importante salientar o papel de influência que o docente possui. A escolha
dos textos usados em sala pode definir o interesse dos alunos. E como fazer as escolhas corretas
dos poemas a serem trabalhados nas aulas? Como saber se o texto irá atrair o aluno para a
prática de leitura diária?
Ah! Tu, livro despretensioso, que na sombra de uma prateleira, uma criança
livremente descobriu, pelo qual se encantou, e, sem figuras, sem extravagâncias,
esqueceu as horas, os companheiros, a merenda... tu, sim, és um livro infantil, e o teu
prestígio será, na verdade, imortal. (MEIRELES, 1984, p. 31).
irá fazer a leitura destes poemas com o aluno para que ele vivencie a sua descoberta, as suas
emoções, a sua sensibilidade e possa perceber o som, o ritmo, a cadência, a estrutura
organizacional, a sugestividade do texto, caso contrário, tendo o professor o desinteresse pela
obra, consequentemente o aluno também perderá o interesse por ela. Essas questões
educacionais ressaltadas por Cecília resultam que, além da importância no processo da
formação do leitor, expressa o poder que o professor tem em influenciar o alunado através da
leitura, uma vez que faz ressurgir, no campo da linguagem, o que há de individualidade e
singularidade em cada aluno:
por trás de cada texto está o sistema da linguagem. [...] cada texto (como enunciado)
é algo individual, único e singular, e nisso reside todo o seu sentido (a sua intenção
em prol da qual ele foi criado). É aquilo que nele tem relação com a verdade, com a
bondade, com a beleza, com a história. (BAKHTIN, 2016, p. 108).
Bem instruídos, é possível notar que os alunos podem se motivar e se envolver com as
diferentes propostas que forem apresentadas com o trabalho de poesias, tendo como base as
leituras incentivadas pelo professor, os leitores valorizarão a linguagem literária e poderão até
estabelecer algumas relações formais, mesmo que em nível bastante simplificado.
Os educadores, neste contexto, têm por lema o ditado “faça como eu faço”, ou seja,
são pessoas que demonstram entusiasmo pela leitura; conhecem as características do
processo de leitura a fim de encaminhar a prática pedagógica; selecionam textos
potencialmente significativos para os seus alunos, apontando outras fontes
particulares de que dispõem os assuntos estudados, incentivando o uso da biblioteca;
são abertos a outras interpretações de uma determinada obra e aprendem com elas;
preparam a estrutura cognitiva dos alunos a fim de que estes possam confrontar-se
com os diferentes textos propostos para leitura. (SILVA, 1985, p. 59).
É preciso, antes de mais nada, que o professor seja ele mesmo sensível ao texto
poético, permeável à condição do artista, para que se torne um porta voz dessa
comunicação. A descarga emocional provocada pela sensibilização a um texto poético
tem seu circuito interrompido antes de chegar no aluno, se ele passar por um processo
indiferente e fechado ao apelo da arte. (AVERBUCK, 1988, p. 69).
Em várias situações, o poema faz com que abstraiamos tudo que está a nossa volta e
façamos uma imersão em nossa subjetividade. Leves, doces, simples e encantadoras, não é à
toa que os versos e rimas cativam adultos e crianças, embora suas percepções sejam diferentes.
Acerca disso, neste trabalho, o professor precisa ser o “iluminador de caminhos,” como destaca
AVERBUCK (1988), pois, por meio das suas próprias percepções e conhecimentos, o aluno
também se aventura a ler.
Além disso, para um trabalho com poesia, além do conhecimento linguístico, a leitura
profunda com as crianças com ênfase na interpretação, vai variar de acordo com o contexto em
que cada aluno leitor estiver inserido. Sem dispensar o olhar e a competência linguística de cada
um, o professor, como mediador, deve fazer com que os alunos troquem suas visões de mundo
acerca do conhecimento adquirido, e assim associem suas experiências vividas compreendendo
a leitura da poesia e se sinta instigado a ler outros gêneros textuais.
Desse modo, é papel do professor mediador desta prática tentar harmonizar, em sala de
aula, os fragmentos apresentados pelo livro didático, preocupando-se em instruir os alunos a
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formarem uma visão de mundo coerente, crítica e humanizada, a partir do mundo literário. O
professor de literatura tem a importante responsabilidade de abrir discussões intertextuais e até
interdisciplinares, constituindo pontes entre os alunos e os textos, entre a escrita e a leitura. A
dúvida, a busca, a troca e o diálogo, bem como as discussões devem ser presentes, viabilizando
a profunda interação durante o processo de contato com a obra literária, despertando nos leitores
o gosto pela leitura e o anseio por sua ampliação.
A metodologia de leitura vocalizada, conforme dito acima, pode ser uma importante e
potencial saída para que o professor aproveite sua aula e para que o aluno sinta prazer em
participar dela também. As performances de leituras que, neste trabalho, são apresentadas como
possíveis influenciadoras para a formação de leitores literários, apoiam-se nas metodologias
destacadas na utilização do corpo, da voz, dos gestos e faz o leitor se sentir como parte da obra,
a aula não fica resumida apenas em se sentar numa cadeira escolar e ler a poesia em voz baixa.
O professor, como moderador e o aluno como protagonista se fazem pertencentes da obra,
carregando nas leituras performáticas e experimentação do meio social.
O próximo capítulo ressalta um conhecimento sobre o que é performance e suas
especificidades nos trabalhos com a poesia. A inserção da voz, do corpo e dos sentidos dos
textos como auxílio para as interpretações poéticas contemplando suas diferenças e magnitudes.
Objetiva-se em um instrumento para auxiliar o professor a trabalhar melhor e com mais clareza
a leitura de poesia e, principalmente a compreensão do mundo que cerca o aluno, envolvendo
e esclarecendo alguns pressupostos teóricos de formação do leitor literário, não só no aspecto
cognitivo como também no aspecto psicológico.
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O trabalho com as performances vem sendo admirado cada vez mais nas escolas,
principalmente no que tange aos trabalhos artísticos como teatros, danças, recitais, batalha de
rimas, entre outros, quase sempre usados pelos professores de Língua Portuguesa e Arte. Porém,
mais importante do que trabalhar com este recurso é saber o que cada um promove.
É considerável ressaltar que a leitura poética, foco importante da pesquisa em questão,
tem sido alvo de grandes discussões, no que tange ao ensino e à responsabilidade por parte da
família e do aluno. Sabemos que a escola tem sim um papel importante no desenvolvimento
dessa prática, porém não devemos deixar a responsabilidade somente em cargo da escola e do
professor essa façanha.
As oportunidades de acesso a poesia é função principal da escola, porém a participação
é do aluno que se permite a conhecer esse mundo literário que a poesia oferece. Nesse viés, o
trabalho com a vocalização de poesias é um aprendizado dentro e fora dos limites da instituição
escolar, e isso para o aluno é muito mais motivador, pois a linguagem da escola nem sempre é
a do aluno e vice-versa.
Quando o professor se desafia a trabalhar poesias com a música, o teatro e com a dança
ele propicia caminhos para que os alunos aprendam, de forma consciente e consistente dentro
da escola, mas que ocasionará uma atividade fora da sala de aula, como por exemplo, em uma
leitura de poema no sofá de casa, em um exercício com outro colega que mora perto ou com
alguém da família, em um pensamento reflexivo em motivo de decorar os passos da música, ou
seja, mecanismo de apropriação de conhecimento, assim como também de possibilitar que os
mesmo atuem, criticamente em seu espaço social.
Dessa forma, nas sessões a seguir, mostramos as singularidades das performances e seus
recursos de voz e corpo para a apropriação da leitura poética, validando o que se propõe nesta
pesquisa: o desenvolvimento do aluno leitor de poesia através do teatro (utilização do corpo,
voz, expressão e sentidos), da música (voz e ritmo) e da leitura (recepção, interpretação,
sentidos do texto, sentidos do corpo).
A palavra “performance” vem do verbo em inglês "to perform" que significa realizar,
completar, executar ou efetivar. Está relacionada a várias diretrizes, como no esporte, na arte
cênica, na música etc. No contexto esportivo, por exemplo, a performance de um atleta ou de
uma equipe está relacionada com a sua prestação, fornecimento ou com uma proeza esportiva.
A palavra associa-se diretamente, portanto, a atuação. Em muitas ocasiões é usada no contexto
de exibições em público ou quando alguém desempenha algum papel no âmbito artístico, como,
por exemplo, um ator. Também conhecida por ser o conjunto dos resultados obtidos em um
determinado teste por uma pessoa.
A performance a que nos referimos, contudo, é a relacionada à arte (conhecida como
performance artística). Poesia é arte, portanto, aqui se trata, em específico, da performance
poética. Baseia-se numa forma de expressão artística híbrida, ou seja, composta por diferentes
ramos das visualidades. É possível, por meio dela, explorar o som, a música, o vídeo, a dança,
teatro, expressões que vão além do texto poético. Este tipo de evento, antigamente poderia ser
improvisado pelos artistas, e podia ter ou não um público. Hoje, essas representações são
exploradas nos modos de falar, oralizar o poema e, muitas vezes, expressá-lo no corpo,
dançando e colocando-o no espaço.
A poesia performática é uma proposta de experiência sensível e admirável para despertar
o gosto pela leitura literária no aluno. Como diria Gilles Deleuze, em Diferença e Repetição
(1968), “que o sentido seja o que se cala na palavra”, assim sendo, na palavra falada e
interpretada, o sentido faz toda diferença ao meio de quem lê.
A literatura não ocorre sem a escrita. Nesse sentido epistêmico, o conteúdo literário é
por definição, a arte de letras. Entretanto, a narrativa oral se distingue da narrativa escrita quanto
à sua forma; mas, culturalmente, sua diferença não é significativa. Millman Parry (1975)
escreveu: “A literatura subdivide-se em duas grandes partes; não tanto por haver duas espécies
de cultura, mas por haver duas espécies de forma: uma parte da literatura é oral, outra é escrita.”
(PARRY, 1975, p. 13 apud KELLOGS; SCHOLLES, 1977, p. 43).
A poesia tem um caráter de oralidade muito importante: ela é feita para ser falada,
recitada. Desse modo, torna-se mútua a relação da poesia escrita e falada. Mesmo que estejamos
lendo um poema sem a utilização da voz, silenciosamente, identificamos o seu lado musical e
sonoro, pois nossa audição capta a articulação (modo de pronunciar) das palavras do texto.
(GOLDSTEIN, 1999, p. 22).
A ideia de performance para Zumthor (2005) em Performance, recepção e leitura, a voz,
é a de que o corpo e a presença exercem um grande papel. Sua representação sobre performance
sempre esteve no centro da teoria do texto poético. Resulta daí, um interesse particular por
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oralidades diversas em diferentes espaços e tempos de que vem se ocupando, por sua vez, os
novos pesquisadores da chamada literatura oral. Vista desse modo, a performance tornou-se, ao
longo dos tempos, importante fenômeno de comunicação em toda e qualquer manifestação de
linguagem, seja ela oral ou escrita.
Zumthor busca uma conexão entre performance e a poesia, fornecendo uma
contribuição decisiva aos estudos da performance ao enxergá-la como linguagem. Sua teoria
serve de guia tanto a estudantes quanto a artistas do corpo, da palavra e do som e dialoga com
a antropologia, a sociologia, a história, a filosofia, a linguística e a teoria literária.
A performance está para narrador da mesma forma que a voz está para o “ouvinte
cúmplice”, ao mesmo tempo, a narrativa oral em presença, não se desvencilha do corpo no ato
de sua transmissão. A voz está no corpo e o corpo está na voz, assim, diz Zumthor (2005, p. 89)
que “a voz emana do corpo, mas sem corpo a voz não é nada”. Nessa trama, voz e corpo vivem
acompanhados e juntos.
Quanto à presença, não somente a voz, mas o corpo inteiro está lá, na performance. O
corpo, por sua própria materialidade, socializa a performance, de forma fundamental
[...] A performance é uma realização poética plena: as palavras nela são tomadas num
único conjunto gestual, sonoro, circunstancial tão coerente (em princípio) que, mesmo
se distinguem mal palavras e frases, esse conjunto como tal sentido. (ZUMTHOR,
2005, p. 86-87).
Ou seja, a prosódia, emissão dos sons da fala, cumpre um papel fundamental no contexto
da propagação do texto poético oral. Ao ser narrada, a matéria do simbólico, acerca-se do
desafio de ser “materializada” nos gestos, e assim segue o seu percurso diante de sensações e
desenhos do contador em sua audiência.
Em outras palavras, ocorrerá um reconhecimento por parte do ouvinte para o que está
sendo enviado pelo sujeito transmissor. A forma como essa mensagem chega ao ouvinte é o
fato de que podemos indicar o nível de sensibilidade que essa mesma mensagem transmitiu.
Outro fator importante é a interpretação, que sempre será do ouvinte, visto que a intenção de
quem vocaliza o poema torna o ouvinte sensível e perceptível a inúmeras vertentes. Como uma
janela aberta proporcionando a visão para várias direções.
Em “Problemas da Literatura Infantil” de Meireles (1984) descreve a trajetória da
literatura oral à escrita. A autora expõe que a literatura era existente através do ofício remoto
de contar histórias, comunicadas entre povos, de indivíduo a indivíduo, relatando através dos
tempos as principais experiências que são indispensáveis à vida.
A princípio, utiliza a própria palavra como instrumento mágico. Serve-se dela como
elemento do ritual, compelindo a Natureza, por ordens ou súplicas, louvores ou
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À vista disso, estes narradores anônimos, que até hoje nos deixaram grande admiração,
foram os responsáveis em nos transmitir a literatura oral. O talento para representação, a voz, a
mímica, a boa memória, e toda uma arte de representar, até hoje, são significativos para nós,
assim sendo, as leituras performáticas foram baseadas nesses historiadores contistas.
Não há quem não possua, entre suas aquisições da infância, a riqueza das tradições,
recebidas por via oral. Elas precederam os livros, e muitas vezes o substituíram. Em
certos casos, elas mesmas foram o conteúdo desses livros. (MEIRELES, 1984, p. 48).
Portanto, os primeiros narradores são nossos antepassados, que trouxeram, as vezes até
sem saber, a performance através das contações de histórias, causos e anedotas. E a partir desta
tradição, muitas foram para livros, aguçadas pela imaginação dos ouvintes e escritores “o gosto
de ouvir é como o gosto de ler.” (MEIRELES, 1984, p.49), sendo assim, as bibliotecas eram
pessoas vivas, com gestos, encenações, canções, danças, rumorosas e vivas.
Para discutir sobre poesia e voz, e todo esse parâmetro de performances, não podemos
esquecer das sonoridades, que está literalmente relacionada às duas informações. A sonoridade
é o ritmo, cadência, compasso e o movimento do poema. Sabedores de que a criança é
agudamente sensível aos sons, aos ritmos diferentes, as palavras ditas e cantadas com
representações, um importante método para atraí-las (criança/aluno) ao universo literário é a
vocalização dos poemas escolhidos. Para que possamos desenvolver alunos competentes e
apreciadores de leituras literárias através dos sons, devemos apresentar estes textos nos
primeiros anos de vida do indivíduo. Como seu contato com a literatura talvez seja só no
ambiente escolar, cabe então à escola apresentar estas obras nos anos iniciais.
Com a leitura do poema em voz alta, o indivíduo terá uma melhor percepção do que está
sendo lido, escutando a música e sons das palavras, levando-os a explorarem várias sensações
que só a vocalização permite. Já a leitura silenciosa não permite a aproximação encantadora e
audível das palavras.
É nestas marcas encantatórias dos primeiros versos repetidos por sua sonoridade que
se estabelecem os primeiros passos para uma ligação emocional da criança com o
texto [...] neste mesmo fundamento, de caráter psicológico a estrutura das cantigas de
roda (e de ninar) de tradição em todas as literaturas orais conhecidas.” (AVERBUCK,
1988, p. 74).
contato com a poesia, sendo a mais marcante, dará abertura para que se interesse por outras
mais.
Importante dizer, que mesmo não entendendo o poema em seu real significado, através
da língua associada e as atividades práticas de leituras orais, estas atividades irão desenvolver
a linguagem da criança estendendo seu vocabulário, suas associações, formações das palavras
e dos seus sons com sentidos.
Na poesia infantil brasileira, um exemplo de texto narrativo direcionado às rimas,
sonoridades e aos ritmos, embasados na vontade da criança em ouvir histórias e se encantar
com a musicalidade dos textos são os poemas da autora Cecília Meireles do livro “Ou isso ou
aquilo”, onde se lê:
Jogo de bola
A bela bola
rola:
a bela bola do Raul.
Bola amarela,
a da Arabela.
A do Raul,
azul.
Rola a amarela
e pula a azul.
A bola é mole,
é mole e rola.
A bola é bela,
é bela e pula.
A de Raul é de Arabela,
e a de Arabela é de Raul.
Nesse poema, a criança é envolvida e levada pelo jogo das palavras e não só pelo sentido
que elas têm. A sonoridade e o ritmo tornam-se atrativos a ela, chamando atenção da imaginação
e aumentando o prazer pelo texto poético. Nesse primeiro contato, a criança se sensibiliza pela
descoberta do jogo destas palavras de forma lúdica, visto que essa experiência resgata suas
origens naturais, construindo e reconstruindo significados importante para sua criação.
Levando em consideração a análise do texto, é extremamente importante apreciar a
rítmica que o poema traz, visto que sua razão principal é essa, a dinâmica do jogo de bola. É
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evidente nos versos do poema o quanto há um processo de estimulação imaginária através das
palavras sincronizadas, por exemplo, nos versos 9, 10, 11, 12 e 13, onde se lê.
As Meninas
Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina,
a mais sábia menina.
49
E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!
Levando em consideração a oralidade para a leitura de poemas, cabe uma reflexão sobre
a importância do corpo diante do texto lido. Buscando entender a linguagem corporal na
50
Zumthor (2000) afirma que a performance é o único modo vivo de comunicação poética,
visto que “a performance modifica o conhecimento.” (p.32), sendo assim, os relatos, as
comunicações, contações de histórias, as interpretações de poemas não são apenas uma forma
aleatória de interação ou ligação entre as pessoas. Ela se torna uma marca viva, forte e presente,
e por isso, essa marca se distingue de todas as outras.
A comunicação poética, além de estar relacionada a área da comunicação, acrescenta
alguns conceitos a mais que são confirmados por Zumthor (2000, p.33), pois, “para que um
texto seja certificado e reconhecido como poético ou literário, irá depender unicamente das
emoções que nosso corpo tem.” Ou seja, os sentimentos expressos pelo nosso corpo no ato da
leitura, precisa irradiar prazer, gozo, satisfação.
Nessa perspectiva, quando se trata de performance, podemos entender que o corpo é que
interpreta, dá sentido e expressa a obra, sendo assim, é ele que percebe e expõe o ritmo, a
linguagem, a melodia, os gestos como características fortes na percepção do espaço e tempo em
que está incluso. Como o corpo está ligado à performance e, com ele; o espaço, a teatralidade
se faz pertinente nas representações físicas obrigatórias.
De outro modo, trabalhar com leituras de poemas por meio da performance corporal é
instigar o aluno a conhecer a si mesmo. Rompendo as barreiras do fenômeno linguístico, ele
tende a organizar a ordem das combinações das palavras no ato da fala, uma vez ocupadas pelos
movimentos do corpo, especialmente da voz, perfaz por combinar corpo e sonoridade
ocasionando o entendimento do texto e toda sua significação.
Desse modo, entende-se que “a performance é uma realização poética plena: as palavras
são tomadas num conjunto gestual, sonoro circunstancial, tão coerente (em princípio) que,
mesmo se distinguem nas palavras e frases, esse conjunto como tal faz sentido.” (ZUMTHOR,
2005, p. 87). Texto e corpo não se dissociam, assim como palavra de gesto também não. A
partir do momento em que o leitor começa a sua vocalização, o corpo, presente ali, interage
com a voz. Ele vibra, sente, se arrepia, estremece diante do som que se propaga. As leituras de
poemas silenciosas, demarcadas com alunos sentados, sem movimentos propícios ao texto,
parecem ser metodologias menos atrativas na conquista do aluno para o poema. Acredita-se
que, com a leitura em voz alta, o aluno tenha um olhar mais encantador pelo poema, de tal
forma que, a experimentação de sentir o poema na voz e no corpo, torna esse momento
favorável para o gosto da leitura de poesia. Ainda sobre Meireles (1990), visto que seus poemas
são propensos para o uso das performances, trabalhamos o texto “Ou isso ou Aquilo” diante de
uma possível atuação performática.
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Ou isto ou aquilo
Esse poema da autora é considerado um dos mais importantes, tanto que é o nome do
livro. O poema “Ou isso ou aquilo” é um clássico. Considera-se um clássico porque traz as
características da população, remetendo a história, cultura, linguagem, e que mesmo após anos
de sua publicação, essa poesia nos remete, desde o século XXI, uma leitura atual. O livro de
poemas "Ou Isto ou Aquilo" é desses clássicos que não sai de moda. Nele, Meireles brinca com
as palavras de maneira natural e lúdica, ciente e familiarizada com o universo literário infantil.
Nos versos, mostram-se anseios, dúvidas, incertezas que, muitas vezes, encontramos em
nossa vida adulta, mas mostra a condição hesitante e indecisa da criança. Com o objetivo de
instruir o leitor às escolhas, podendo ganhar e perder, ter e não ter. Por meio de exemplos e
ilustrações, a autora brinca ensinando uma das mais belas lições da vida: para se ter algo,
precisamos muitas vezes sacrificar outra.
Ao trabalhar este poema em sala de aula através da música, gravada por Lena d’Agua –
musicados por Luís Fonseca em 1978, para a peça teatral Ou isso ou aquilo, registrada em
1992 no álbum Homónio –, os alunos, no primeiro contato, ouviram a poesia e se encantaram
com a melodia. Tanto que já na terceira estrofe, estavam movimentando a cabeça, outros
batendo os pés e outros ainda sorrindo e balanceando o corpo, sentindo o ritmo e analisando o
que as palavras estavam dizendo. Pela experiência em lhes apresentar a poesia desta forma, é
evidente o quanto a voz, o corpo e o sentido do texto poético são dependentes, visto que o ouvir,
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falar, sentir e entender o texto remete a sensações únicas e distintas que oportunizam o gosto
literário.
Diante disso, percebe-se que a voz e o corpo são identidades marcantes na construção
da formação de leitores, visto que a linguagem expressa pela voz está totalmente presente na
linguagem corpórea. Conforme a reflexão, podemos considerar que o corpo e a voz são
presentes, “a performance não pode ser outra coisa senão presente.” (ZUMTHOR, 2005, p. 83).
Desta maneira, ao trabalhamos a poesia de forma presente, o aluno sentirá maior afinidade e
interesse em participar das aulas propostas pelo professor. Cabe a ele, então, proporcionar
leituras “presentes” no campo da literatura oral e escrita, pensando em três fatores: obra, leitor
e ouvinte, sendo que o ato performático se dá no corpo e no ato de cada leitura. Dessa forma, o
entendimento do texto explorado, tanto o leitor quanto o ouvinte gozam da liberdade de
interpretação do imaginário.
Ao argumentar sobre corpo e poesia Ferreira (2017) em “Corpo e Poesia”, salienta que,
é preciso se atentar a estas experiências, pois são nelas que encontramos condições de propor
aos alunos a fidelidade nos modos das leituras poéticas, pois
a poesia não se faz sem o corpo que a gera e sem o corpo que nela encontra um alento
ou um furor. Antes, durante e depois de ser palavra ela se alimenta e confunde-se com
um estado do corpo do qual emergem recentes reconfigurações do mundo, modos de
escrever o que já foi escrito, especulações e imaginários de um mundo porvir
intensidades existenciais. (FERREIRA, 2017, p. 3).
Dessa forma a poesia atribui-se dos corpos e os corpos da poesia, não é possível pensar
em textos e versos poéticos, sem a infiltração estética das pessoas, dos gostos, dos lugares, das
vivências. O reconhecimento desse trânsito existencial e estético é considerável para se pensar
uma educação humana e sensível que não se fixe nos padrões adotados pelos “livros didáticos”
com ordenamento e modelos de improdutividade.
Desta forma, o professor como principal responsável por escolher as obras e as
metodologias a serem trabalhadas em sala, precisa ter o entendimento de que é pelo uso do
corpo que o aluno poderá se transformar, crescer, se humanizar e produzir. Ele é a base para
que a leitura se consolide e se faça presente com seus sentidos. Para isso, os conceitos e atuações
de performances na leitura de poemas são profundamente significativos, na utilização de voz e
corpo, resultando o sentido do corpo sob o sentido do texto literário. Nessa sequência, a voz
pulsa junto com o corpo e dele não se despreza a interação com o texto, ou seja, ambos se
completam e são correspondentes, sendo voz dependente do corpo e o corpo dependente da voz,
participantes da sonorização ecoada e sentida (pelo corpo e texto), preenchendo todos os
espaços e tempos.
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Para se discutir sobre as diferenças das poéticas orais, hoje, de início, é necessário um
entendimento sobre o que direciona cada uma. Neste caso, sabemos que a performance é
encarregada de proporcionar essas amplas opções para oralizar a poesia. A oralidade é a grande
responsável por implicar tudo o que em nós se endereça ao outro, seja, um gesto mudo, um
olhar. Para Zumthor (2010, p. 203) “o gesto não transcreve nada, mas produz significativamente
as mensagens do corpo.” E, “o gesto denuncia o não-dito.” (p. 206). Também, “a gestualidade,
quase sempre, assegura um serviço ao silêncio.” (p. 205), mas o que é relevante saber é que
“Oral-visual” não é “oral-vocal”, mas, diante o olhar, explana a materialidade da voz pela boca.
Diante das informações, há uma diferença predominante entre boca e voz, e qual é a
relação das duas para leitura de um texto. A voz é ligada ao corpo por vibrações, já a boca é
um dos fatores que podem auxiliar e prejudicar a formação dessa voz, sendo assim, a voz é
seguida por movimentos corporais, se não vocais, que podem interferir no sentido final da
mensagem, diante disso, ao estabelecer diferenças na utilização de propagação do texto, é
necessário atentar como essa reprodução foi feita e quais são suas particularidades.
A poesia vocalizada está diretamente ligada à leitura em voz alta. A vocalização é um
processo repleto de aspectos sociocognitivos, tomada por estratégias capazes de nomear a
memória global das palavras e a memória fonológica. Pela via visual, essas memórias são
ativadas a partir do encadeamento das leituras, conhecido como grafofônica. As combinações
de sons entre palavras já conhecidas pelo falante, o conhecimento de como as letras podem ser
transformadas e o conhecimento entre as letras e os sons são exercícios que o conhecimento
grafo fônico (relação entre letras e sons) envolve.
Desse modo, para que a vocalização de poesia aconteça, essa vocalização passa pela via
direta, acionando o significado das palavras e, logo após, liga a memória de pronunciação.
cultura com garra e zelo. Este clássico foi baseado no poema do autor inglês Arthur Brooke,
publicado em 1562, sendo que, ao chegar aos palcos, outros personagens foram criados, além
dos que já existiam no poema. Em língua portuguesa, um dos poemas mais encantadores da
matéria que também ganhou versões teatrais foi Os Lusíadas, de Luís de Camões, ganhando
prêmios em Portugal e no Brasil. Dessa forma, percebe-se o quanto os poemas são
influenciadores no campo artístico teatral.
O teatro é um importante recurso didático-pedagógico para o desenvolvimento da
criança dando suporte para sua trajetória na vida social, proporcionando experiências novas que
contribui para o crescimento integral. Nesta mesma conjuntura “a dramatização acompanha o
desenvolvimento da criança como uma manifestação espontânea, assumindo feições e funções
diversas, sem perder jamais o caráter de integração e de promoção de equilíbrio entre ela e o
meio ambiente” (PCN, 1997). É neste sentido que a contribuição do teatro como recurso para o
incentivo da leitura de poesias proporcionará para o aluno um crescimento único.
O professor utilizando na sua prática o teatro estimulará a criança ao desejo da leitura
poética e assim, Reverbel (1997) fala da importância do uso do teatro para ensino:
Por isso é fundamental aliar a leitura de poesia no uso do teatro em sala de aula para que
assim possa contribuir para o desenvolvimento dos alunos proporcionado novas experiências e
descobertas. E sendo usado como instrumento de ensino é de efetiva validade para que sejam
atingidos os objetivos no campo da leitura de poesias através das atuações.
A poesia, por si só, já tem o poder de disparar sentimentos e sensações, despertando as
emoções pelas palavras com a interpretação dessa poesia, esses sentimentos duplicam, pela
entonação que a encenação oferece. Essa ligação do teatro e da poesia faz com que as
interpretações dos textos literários sejam compreendidas. Tais formas de expressão caminharam
juntas ao longo dos tempos, celebraram e celebram obras que até hoje são encenadas e recitadas.
Um texto poético encenado no palco de um teatro encanta e integra a plateia em simples olhar,
num gesto, um instante e esse encantamento parte da seguinte palavra: atuação. Ligando o texto
poético ao ator e este ao expectador captando a interpretação do assistido.
Uma das mais importantes funções da poesia encenada é ser arte da palavra oral.
Antigamente, a poesia era tratada como palavra e música. Inseparável e pertencentes uma da
outra. Com os avanços, consolidou-se no papel, passando a ser vista, lida e ouvida com os olhos.
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Trabalhar em sala de aula a poesia, desta forma, não só reforça os benefícios da oralidade, como
também, do corpo, incorporando-o e fazendo-o se apropriar da música, da coreografia, da
mímica, da cenografia. Dos efeitos benéficos, a criança se revela, se solta, imagina, cria, se
liberta do corpo e se transporta para outro, visto que o “personagem” lhe dá a oportunidade de
ser como quiser, visto que a sua imaginação lhe dá asas para tal.
Poesias recitadas são aquelas cuja oralidade está totalmente presente. Ela se baseia na
união das poesias vocalizadas e encenadas, pois quando o aluno recita em voz alta, ele usa a
vocalização (uso da voz) e a encenação (uso do corpo). A palavra recitar no dicionário nos
apresenta como: 1. Dizer em voz alta e clara, lendo ou não. 2. Texto poético ou retórico (Dizer
em voz alta, usando ou não gestos, expressões faciais e modulação de voz; declamar). Neste
sentido, entendemos que é um verbo que expressa a voz (recitando) de um texto.
Recitar não é ler, logo inferimos que para que a recitação seja contemplada, o texto
deverá ter sido analisado e memorizado anteriormente. A recitação é realizada após a
aprendizagem. Muitas crianças são condicionadas a realizar a recitação logo cedo, pois a criança
coloca em prática sua memória, sua voz, seu medo de falar e ganha confiança, ao se posicionar
diante do texto já lido e após recitado.
Dessa maneira, a poesia recitada é uma ação associada à linguagem e à comunicação,
em que a expressão, através do seu controle, será fundamental para convencer ou emocionar o
público. Ao falar de comunicação, é importante ressaltar que um sujeito não se comunica apenas
pelo que diz, mas também pela “forma” como diz. As expressões, geralmente utilizadas
quando oscilamos o tom de voz, ou quando fazemos o processo da imitação de algum
personagem, é conhecida como um apoio para as palavras procedidas e ajudam a trazer a
emoção ao que é dito.
Em concordância, entende-se que as formas de leituras, sejam elas vocalizadas,
recitadas ou encenadas são embasadas em metodologias diferentes e não muito utilizadas, mas
são totalmente interdependentes. Diante isso, o professor conforme já salientado, deve
intermediar os processos de conhecimentos e leituras direcionadas, a partir de uma leitura
poética do mundo. De forma que, ao usar o lúdico, o interesse do aluno irá aumentar,
motivando-o a brincar com as palavras. Todavia, a diferença entre essas formas de expressão
oral da poesia está em como trabalhá-las em sala para que possam oportunizar momentos
lúdicos e prazerosos para os alunos. Momentos em que o aluno possa se apropriar do seu corpo
por inteiro, físico e intelectual, a ponto de se mexer e imaginar, dançar e gesticular, ler e mostrar
através desta leitura uma liberdade única para construção do seu conhecimento.
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No próximo capítulo abordaremos sobre a escolha dos autores para compor o corpus de
análise desta pesquisa. Cecília Meireles e Vinícius de Moraes vão à escola com suas obras
dando contribuição ao processo de formação do leitor de poesia por entre as performances.
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Nas próximas sessões demostramos a trajetória dos autores para o corpus da pesquisa e
como estes autores podem contribuir para o trabalho com a vocalização de poesia.
A pesquisa-ação aqui apresentada tem como corpus as obras dos autores Cecília
Meireles e Vinícius de Moraes, dentro do aspecto da literatura, o desafio é mostrar que, para
desenvolver alunos no âmbito da leitura de poesia e pensar a formação do leitor infantil,
algumas contribuições de como potencializar a apreensão dos sentidos do texto poético através
das performances dos estudantes.
A escolha da obra de Cecília Meireles como corpus principal desta pesquisa vai muito
além do seu papel como poeta. Ela se estabelece pela sensibilidade e paixão que carrega em
toda sua trajetória na literatura, além de ser uma voz feminina em nossa poesia moderna. Cecília
Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) não teve filiação a nenhum movimento literário,
embora algumas das suas obras iniciais evidencia-se em uma participação do Simbolismo e
posteriormente no Modernismo. Formou-se como professora, em 1917, na Escola Normal do
Rio de Janeiro, exercendo o Magistério por muitos anos, tempo em que também se estreava
como poeta com os livros Espectro (1917) e Nunca Mais (1923). Ensinou Literatura Luso-
Brasileira e Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal, lecionou Literatura
60
e Cultura fora do Brasil. Foi jornalista, tendo posição responsável na seção “Problemas no
ensino”, no Diário de Notícias.
Mais experiente, em 1951, a fim de integrar a Coleção Pedagógica da Secretaria de
Educação do Estado de Minas Gerais, a autora publicou o livro Problemas da Educação
Infantil, originadas de três conferências pronunciadas pela autora. Neste livro, a autora
favorece e protege a literatura infantil no Brasil, fazendo uma análise dos problemas que
envolvem o ensino desta atividade. Segundo ela, “tudo é uma literatura só. A dificuldade está
em se delimitar o que se considera como tal especialmente no âmbito infantil (1930, p. 19). A
sensibilidade, a linguagem, o olhar vivo para a obra nos completa por inteiros, pois não é voltada
apenas para os poetas, mas para todos aqueles que se interessam por educação.
A partir disso, ao ler a obra da poeta e entendendo toda atividade da autora voltada para
o ensino, fez-se necessário, durante a pesquisa, participar de sua concepção pedagógica e trazer
para a nossa realidade uma visão da verdadeira função da leitura de poesia em sala de aula,
respeitando primeiramente a criança, que é a principal parte nesse processo. Assim sendo,
Cecília traz, para nos atender neste projeto humanizador e provedor para um ensino de literatura
em sala de aula, a grande contribuição no cenário literário. Mesmo se dedicando à educação,
exercia sua função no trabalho com a poesia, construindo parâmetros nunca alcançados até hoje,
fazendo-nos pensar em seus próprios versos da obra Ou Isso Ou Aquilo (2002), “quem sobe
nos ares não fica no chão, que fica no chão não sobe nos ares”.
A obra poética “Ou Isso ou Aquilo” é composta por 56 poemas em que se evidenciam
o jogo lúdico da linguagem, o ritmo, as onomatopeias, a sonoridade e temas voltados para o
universo infantil revelam a preocupação da autora com o desenvolvimento do leitor de
literatura. A autora brinca com as palavras, explora a sonoridade, a musicalidade, as rimas, os
ritmos e convida as crianças a se aproximarem da poesia, misturando lucidez com objetividade,
beleza e integrando harmoniosamente seu trabalho por meio da apreciação estética. Publicado
em 1964 pela primeira vez, este livro é um clássico da literatura infantil brasileira, justamente
por tratar um universo encantador e resgatar o mundo infantil diante das inquietações e
questionamentos imprevisíveis da criança, sendo elas por comparações, fantasias e
imaginações. Desta forma, Cecília Meireles renomeada uma das mais importantes vozes líricas
da literatura em língua portuguesa e a primeira voz feminina de grande expressão da literatura
brasileira apresenta em sua trajetória poemas significativos que passam a fazer parte da vida de
quem lê,
pensando bem, existem certos escritores que usam uma cola muito fraca e aí, quando
o leitor vira uma página, as palavras vão se soltando e caindo em cima dele. O leitor
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fica todo cheio de palavras nas mãos, no colo, no corpo todo. Ou isso ou aquilo é
assim. É um livro de poesias que grudam na gente. (SANDRONI, 2002, p. 9).
Dessa forma, a poetisa alia os recursos dentro do poema que dialogam com a vida
cotidiana da criança, interagindo com ela diretamente. Com muita sutileza, transporta a criança
para o texto, permitindo uma entrada no mundo de fantasia que existe em cada um. Ao passo
que amplia o imaginário da criança, não a deixa dispersar na leitura apreendendo todos os
sentimentos e emoções, tornando-as propensas a querer ler mais.
Vale realçar que o livro Ou isso ou aquilo, a princípio, pode parecer infantil para a fase
de idade dos alunos que participaram desta pesquisa, porém, é interessante dizer que não se
deve fazer a distinção (no âmbito da leitura) de uma criança para um adolescente, ou até mesmo
um adulto. Todos são seres humanos e carregam consigo experiências e situações vividas que
só elas podem ter, independente de idade.
É preciso lembrar o óbvio: uma criança é um ser humano e não uma categoria abstrata
e lógica. Logo, está exposta a inúmeros fatores: contextos sociais e familiares, seu
próprio temperamento, acasos e acidentes, sentimentos, experiências concretas de
vida, traumas, concepções culturais, entre outros fatores. (AZEVEDO, 2003, p. 5).
Este poema dialoga com o leitor não somente pela feição da menina citada na obra, de
“cara” feia, emburrada, chateada, revelando à criança que, muitas vezes, quando não aceitamos
algo ou nos deparamos com alguma perda, aceitação, a tendência é ficarmos mudos, trombudos
e cheios de modos, dando medo às pessoas que nos cercam e revelando o que muitas vezes
chamamos de “menina (o) mimada”. Nesse aspecto, até mesmo o vocabulário mais difícil torna-
se fácil diante das imagens, logo o leitor associa e compreende seu significado. É um poema
que faz refletir em nossas atitudes, tanto que a menina passa por dois momentos diferentes,
sendo o primeiro o da mimada e o segundo o da amada. Por assim dizer, quando mudamos os
nossos modos, já não somos mimados e sim amados. Sentimentos que são reproduzidos em nós
espontaneamente em qualquer idade.
As imagens expressivas que se tornam significantes diante da palavra no poema são
abundantes para a concentração e entendimento do poema, os jogos das palavras “muda”,
“medo”, “modos” retratam a sonoridade e o ritmo do texto, deixando assim o leitor envolvido
com o que está lendo. Desse modo, Silva (2012), ao tratar de Meireles ressalta do seu livro Ou
isso ou aquilo a inteligência da poeta, em revelar a
De forma muito sensível e concreta, este e outros poemas da obra escolhida revelam à
criança as opções de escolhas da vida, as possibilidades de serem seres humanos sensíveis e
críticos, o autoconhecimento, as reações diante das perdas e falhas, os sentimentos em suas
diversas formas, fazendo e apostando no que é correto fazer. Eis aí o motivo pelo qual a poesia
é tão importante na vida de qualquer ser.
Foram também escolhidos como corpus desta pesquisa alguns poemas da obra Poemas,
Sonetos e Baladas, de Vinícius de Moraes, com o intuito de revelar aos alunos a diversidade
dos poemas, como a poesia reflexiva e lúdica de Cecília e a idealizada e amorosa de Vinícius.
Vinícius, situado na segunda fase do Modernismo e Cecília, que perpassa em algumas de suas
obras também pelo Modernismo são destacados pelas habilidades da escrita na poesia brasileira
e pela forte inclinação à musicalidade nos versos. Vinícius nasceu em 1913 no Rio de Janeiro.
Em 1929 tornou-se bacharel em Letras pelo Colégio Santo Inácio, e no ano seguinte, ingressou
na faculdade de Direito.
Trabalhou no jornal, realizou palestras no Brasil e no mundo expandindo seus
conhecimentos nas áreas da literatura, teatro, cinema e música. A essência de seus poemas,
surgiu da paixão pela bossa nova. Além de poeta, Vinícius de Moraes era um grande apreciador
e escritor das músicas deste movimento, destacando assim, a musicalidade nas palavras dentro
das obras já escritas. O poema “Soneto de Fidelidade”, um dos escolhidos para o presente
trabalho, foi escrito 1939, em Lisboa.
Ressalvadas as diferenças, os poemas de Vinícius possuem a mesma característica de
musicalidade que os da poetisa Cecília Meireles, porém, os poemas do autor possuem uma
forma clássica misturada ao lirismo e simplicidade formando o soneto (estrutura que o autor
mais trabalhou em sua carreira). Pode-se entender a poesia de Vinícius de Moraes por dois
aspectos: pelo do lado sublime e o lado da indagação social. O sublime é o período em que o
autor recorre ao misticismo cristão, à espiritualidade, ao dicotômico. Em suas primeiras
publicações, o poeta direcionava seus poemas ao amor carnal e ao amor espiritual, levando para
a sensualidade, do físico ao metafísico. Pelo aspecto da indagação social, o autor tratava seus
poemas de acordo com os horrores da guerra e, também relata problemas apresentados pela
humanidade (políticos, econômicos, sociais).
De maneira geral, a poesia de Vinícius trata-se de um amadurecimento literário, marcada
pela musicalidade nos versos, o que, de certa forma, direciona-os à apreciação e ao gosto pela
leitura de poesias “para crianças”. Cabe salientar que Vinícius, em seu gosto por sonetos,
transformou a roupagem da linguagem dos seus poemas de forma clara, pura e direta, fazendo
o uso de vocabulários do cotidiano e atingindo a consciência daqueles que leem e ouvem seus
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poemas. Desta forma, ao trabalhar com seus poemas em sala de aula, os alunos se interessaram
por algumas obras, também souberam perceber o quanto a musicalidade está presente nas obras
dos dois autores escolhidos.
Na pesquisa-ação deste projeto, os alunos se interessaram mais pela poesia de Cecília
Meireles que a de Vinícius de Morais, muito provavelmente pela edição da obra lida com cor
mais viva da ilustração, pelos desenhos, vibrações, com formato de letras diferentes, porque o
aluno, antes de qualquer outro tipo de leitura, primeiramente lê o texto com os sentidos. As
nossas sensações são captadas pelo que os nossos olhos veem. Nesse sentido, os alunos
comentaram, sobre as imagens, fizeram associações pessoais com o livro, enquanto a poesia de
Vinícius de Morais foi lida, mas pouco comentada, embora os dois tenham sido apresentados
de maneira uniforme, e a criança teve o livre arbítrio em escolher o que mais lhe chamasse a
atenção. Os poemas apresentados a princípio foram:
Observa-se que, ao apresentar os dois poemas (figuras 2 e 3) aos alunos, eles foram lidos
e apreciados juntos, de forma que, como dito acima, o de Cecília mostrou-se mais envolvente e
por isso foi mais comentado, enquanto o de Vinícius obteve uma apreciação conceitual e leitura
diferente, com vozes firmes e sérias, explorando as diversas faces das performances em
diferentes textos literários, concluindo um dos objetivos do presente trabalho, a utilização da
performance oral na leitura de poemas.
Portanto, ressalta-se que para a escolha dos poetas neste trabalho convém reconhecer o
objetivo defendido nesse projeto, o de promover, por meio da performance oral de leitura de
poesia, a construção do leitor literário, visto que, para acontecer, é necessário que o aluno se
sinta participante do contexto. Cecília Meireles é uma poeta que se revela muito insistente
dentro da literatura infantil até os dias de hoje, e assim, Vinícius de Moraes também não fica
atrás trazendo a importância de se trabalhar poesias com crianças para estimular a oralidade, a
criatividade e a reflexão a respeito da vida do ser humano, todas carregadas de musicalidade
nos versos. A leitura de poesia em sala de aula deve ser uma leitura satisfatória e imanente,
tornando os alunos capazes de argumentar, interagir e progredir dentro da aprendizagem e
tornar-se passível de diversas interpretações.
Indo além, ao se tratar da escolha das obras em sala, o professor deve primeiramente ter
um entendimento do gênero, como já dito, e isso implica diretamente em conhecer os autores
que irão fazer parte do processo de incentivo à leitura de poesia em suas aulas. Logo, a escolha
dos autores trabalhados enfatiza o quanto suas diversas possibilidades de comunicação são
significativas para o gosto da leitura deste gênero literário.
Na sala de aula, esse estudo permite que o pesquisador seja antes de tudo um observador,
pois ele fará a utilização de várias fontes de informações como a observação da interação entre
os alunos(as), as entrevistas, aplicação de questionários, gravação das aulas, coleta de
documentos institucionais e as gravações de execução das atividades propostas. Assim sendo,
para a presente pesquisa, estive atenta às diferentes etapas, porque o processo da pesquisa
designou a entrevistar diferentes participantes envolvidos nesse contexto: os alunos(as),
professores(as), pais e equipe escolar.
Seguindo a ideia de Ludke e André (1986) para a otimização do estudo de caso é
necessário seu desenvolvimento em três fases. A primeira consiste em duas partes paralelas: a
leitura e a coleta de informações por meio das entrevistas, documentos e observações. As
leituras relacionadas ao projeto nos auxiliam para obtermos contribuições e informações para a
pesquisa. Graças a essas leituras escolhidas e organizadas, como pesquisadora, evidenciei a
perspectiva que me pareceu mais pertinente para o trabalho. A parte exploratória consiste nas
observações, entrevistas e na preparação do campo da pesquisa, da qual houve a primeira
interação com os participantes, fazendo-se necessário delimitar melhor o problema a ser
investigado, bem como selecionar as fontes para a coleta de dados. Assim sendo, as entrevistas
e observações completam as leituras, pois o objetivo da pesquisa não é considerar as minhas
ideias como pesquisadora, mas sim, encontrar outras e desenvolver o projeto com os
envolvidos. Desse modo, descrita por Ludke e André (1986, p. 25):
Dentro da própria concepção de estudo de caso que pretende não partir de uma visão
predeterminada da realidade, mas apreender os aspectos ricos e imprevistos que
envolvem determinada situação, a fase exploratória se coloca como fundamental para
uma definição mais precisa do objeto de estudo. É o momento de especificar as
questões ou pontos críticos, de estabelecer os contatos iniciais para entrada em campo,
de localizar os informantes e as fontes de dados necessárias para o estudo.
Esta é uma etapa importante da pesquisa, pois, uma boa exploração das leituras
relacionadas ao tema a ser pesquisado conduz quase que naturalmente o pesquisador à
elaboração do problema.
A segunda fase do estudo de caso trata da coleta sistemática de informações, utilizando
instrumentos e técnicas variadas. Nesta fase, fez-se uma seleção dos aspectos mais importantes,
bem como o recorte do objeto que foi investigado: o de pesquisar como se dá a apreensão de
67
sentido do texto poético através das performances para a formação do leitor. Uma entrevista
com o intuito de obter informações/dados dos alunos participantes e com a professora regente,
e por final desta etapa um questionário com todos envolvidos. De acordo com Quivi &
Campenhoudt (1995, p. 210):
Na coleta de dados, o importante não é somente coletar informações que deem conta
dos conceitos (através dos indicadores), mas também obter essas informações de
forma que se possa aplicar posteriormente o tratamento necessário para testar as
hipóteses. Portanto, é necessário antecipar, ou seja, preocupar-se, desde a concepção
do instrumento, com o tipo de informação que ele permitirá fornecer e com o tipo de
análise que deverá e poderá ser feito posteriormente.
A partir disso, relata-se que este questionário se deu de forma simples e clara, em
observações nas aulas e conversas com alunos após as aulas.
Os relatos do estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do
que outros relatórios de pesquisa. Os dados do estudo podem ser apresentados numa
variedade de formas, tais como dramatizações, desenhos, fotografias, colagens, slides,
discussões, mesas-redondas etc. (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 23-24).
Diante das informações, essas características nos remetem à concepção do que distingue
outras pesquisas de um estudo de caso, sendo que o ponto principal da pesquisa, como escrito
acima, é de investigar o trabalho com a poesia em sala de aula no envolvimento para algo
singular: leitura de poesia performática para a formação de leitores literários. Ludke e André
(1995, p. 24) reafirmam, “isso significa que o objeto estudado é tratado como único, uma
representação singular da realidade que é multidimensional e historicamente situada”, ou seja,
que leva em consideração a interação social que os sujeitos participantes possuem.
Para Bortoni (2008, p. 32) “as escolas, e especialmente as salas de aula, provaram ser
espaços privilegiados para a condução de pesquisa qualitativa, que se constrói com base no
interpretativismo.” A vista disso, para a execução do projeto do trabalho com as leituras
performáticas de poesia, é necessário observar o mundo dos envolvidos e considerar suas
práticas sociais, bem como seus significados.
No início do ano de 1980, começa-se a manifestar o professor pesquisador, analisando
e avaliando sua prática pedagógica, buscando a interação entre o próprio discente e o docente e
a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, tendo assim, uma maior apreciação, servindo-
se da finalidade de uma pesquisa científica, escrita de monografias e estudos de caso:
Diante disso, a presente pesquisa consiste em um método relevante, por conceder uma
compreensão dos impasses no âmbito educacional, principalmente nos dilemas para formação
de leitores de poesia, buscando contribuir ao máximo para o papel do docente nesta construção.
Sendo assim, o presente estudo teve por objetivo principal investigar as práticas de
leitura performática da poesia de Cecília Meireles e Vinícius de Moraes em uma turma de 6º
ano do Ensino Fundamental, em uma escola estadual da rede pública de ensino, localizada no
bairro Curitiba III, na região Noroeste de Goiânia. Como o projeto se embasa em uma
investigação e contribuição da resolução do problema, cabe também uma análise do contexto.
“O fenômeno não é isolado do seu contexto e o interesse do pesquisador é importante em
relação entre um e outro.” (OLIVEIRA, 2012, p.72). Diante isso, torna-se pertinente conhecer
a história da escola, e o perfil dos alunos participantes da pesquisa, seus conhecimentos em
relação a leitura de poemas, expectativas sobre performances de leituras e as dificuldades
vividas no dia a dia da aula. Esse foi o ponto de partida nesse trabalho, sendo essa uma fase
muito importante para o processo de coleta de dados.
O Colégio Estadual Professor Vitor José de Araújo foi fundado e autorizado a funcionar
pela Lei 11.114/1990 no governo Henrique Santillo. Nessa época, no posto de Secretária de
Educação estava a Sra. Terezinha Vieira dos Santos. O Colégio foi construído em um terreno
doado pela prefeitura de Goiânia ao Estado, assinado na época pelo Superintendente de
Assentamento Urbano, Sr. Euler Ivo Vieira, com a data de 14/09/1995. O Colégio atende aos
dispositivos contidos no Regimento Escolar, funciona em três turnos, matutino, vespertino e
noturno, distribuídos assim em 18 turmas, sendo 07 no turno matutino, 05 no turno vespertino
e 06 no turno noturno, atendendo assim alunos a partir de 8 anos de idade, tendo um total de
546 alunos matriculados. O quadro de servidores conta com 49 funcionários, sendo 25
professores e 24 agentes administrativos distribuídos nos três turnos. A instituição é
administrada por uma gestora atual, indicada pela Secretaria Estadual de Educação do Estado
de Goiás (SEDUC), pelo fato que o ex-diretor foi removido para outra unidade de ensino.
Possui um espaço físico em bom estado de conservação. Esta edificação dispõe de 9
salas de aula, 1 sala de leitura, 1 sala de direção, 1 sala de secretaria, 1 quadra de esportes
coberta, 3 pátios descobertos, entre outras dependências. De acordo com o foco na pesquisa,
dentre os ambientes mencionados, destacamos a sala de leitura (biblioteca), sendo este um
importante instrumento de informações para a análise da coleta de dados. Neste espaço, os
livros estão em uma prateleira, sem organização, pois não há bibliotecária na escola. Possui
duas mesas grandes e cadeiras ao redor, armários e outros mobiliários que não são de uso em
69
uma biblioteca comum. A sala também é usada pelos professores no horário do recreio, sendo
um espaço para descanso. Há um computador na sala com impressora para os professores e
alunos.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola mostra que, a unidade recebe todos os
anos os livros didáticos do Programa Federal Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) e, nem
sempre vem a quantidade suficiente de livros para atender o alunado. Neste documento não há
mencionada nenhuma informação sobre livros literários, especificadamente, de poesia. Em uma
conversa com a gestora atual, foi lhe perguntado se na unidade escolar havia livros de poesia
para que os alunos pudessem continuar e exercer a atividade proposta. A gestora informou que
sim, que a escola tem livros doados de outras escolas e alguns doados por antigos e atuais
professores.
Em sua Proposta Política e Pedagógica, em relação à leitura literária, não houve nada
especificado no documento da instituição. A leitura aparece de forma muito superficial,
conforme expõe o trecho de Objetivos dos Cursos da unidade escolar:
Portuguesa uma proposta pautada na construção das vivências dos alunos, para seu
conhecimento no intuito de viver socialmente, porém, não mostra com clareza a formação do
aluno por meio da leitura literária, o que torna um dado muito importante para a análise do
projeto, visto que dentro da proposta pedagógica deveria ser levado em consideração o
Currículo Referências do Estado de Goiás, respeitando as leituras literárias e culturais de acordo
com cada série, no que tange:
1
O Currículo Referência é um documento usado pelas escolas estaduais e tem como objetivo contribuir com as
Unidades Educacionais apresentando propostas de bimestralização dos conteúdos para melhor compreensão dos
componentes do currículo e sua utilização na sala de aula. Disponível em:
https://pt.slideshare.net/rosilan/currculo-referncia-da-rede-estadual-de-educao-de-gois-
59606009#:~:text=O%20Curr%C3%ADculo%20Refer%C3%AAncia%20tem%20como,utiliza%C3%A7%C3%A3o%2
0na%20sala%20de%20aula. Acesso em: 12 fev. 2021
71
do gênero, vale ressaltar que o eixo temático do ensino é dividido em cindo tópicos, os mais
relevantes para o presente projeto são as práticas da oralidade e prática de leituras, cuja
relevância está em:
Assim sendo seguido e colocado em prática, muito poderia contribuir para o acesso
à literatura, porém, como evidenciado, pela imagem do próprio Currículo Referência que
deveria ser seguido como orientação, não é colocado em prática e, no documento principal da
escola, também não. Essas situações reforçam a importância de levar projetos como o proposto
nesta pesquisa para a sala de aula, despertando não só o interesse do aluno por poemas, mas
também lhe dando o que se tem por direito. Diante desta análise do PPP da instituição,
entrevistei (oralmente) (Apêndice G) a professora de língua portuguesa da turma sobre as aulas
de leitura literária em diferentes gêneros e sobre o uso da biblioteca:
levar e ler em casa. Grande parte dos entrevistados disse que tinham tido contato com a poesia,
mas não sabiam dizer o que era, outros conheciam a poesia, mas não tinham aula para leituras
oralizadas, outros, por sua vez, tinham contato, mas não sabiam definir o que era poesia, e ainda
disseram que a poesia não fazia parte do seu cotidiano e muito menos dentro da sala de aula.
Responderam que a escola não fazia empréstimo de livros e que nunca tinham ido à sala de
leitura para participar de aulas por lá, como consta nas respostas abaixo:
Diante das entrevistas, fica evidente o quanto a organização dos conteúdos precisa ser
repensada. Na fala da professora de que “sempre conversamos sobre as leituras e possivelmente
coloco questões no quadro para que eles respondam de acordo com a leitura” nos revela bem o
ensino de literatura voltado para a gramática que não valoriza, na leitura de poesia, a
criatividade do aluno e seus interesses. Tomando como base a gramática, importante e
imprescindível a muitas aprendizagens, neste viés de incentivo à leitura de poesia, ainda
precisam ser revistas suas abordagens. Na opinião de Solé (1998, p.33):
espontânea, sem obrigações e muitos esforços no projeto. Vale ressaltar que alguns alunos
tiveram bastante dificuldade em responder os documentos, e em muitos casos desses, respondi
juntamente com eles. A partir disso, podemos evidenciar a dificuldade de leitura dos alunos,
algo também preocupante devido à série.
Passando para a análise mais detalhada da entrevista com os alunos, é possível revelar
que possuem pouco acesso à leitura de poemas. Não sabem definir o que é poesia e não
conseguem saber se já tiveram acesso à poesia na própria escola. Além de não frequentarem a
biblioteca da escola, também não levam livros para a leitura em casa. Talvez esse interesse e
entusiasmo pelo projeto partisse justamente da carência e vontade de conhecimento ao saber o
que de fato é uma leitura literária. Em uma entrevista oral com a professora, ela me relatou que
não era a professora dos alunos desde o início do ano letivo. É uma professora contratada que
está acostumada a trabalhar com alunos da EJA (Ensino para Jovens e Adolescentes), e que a
professora anterior havia lhe mostrado os planejamentos, porém, nenhum englobava a leitura
literária em sala de aula, a não ser o que já estava orientado pelo Currículo da série.
Eu estou há dois meses com os alunos... a professora anterior não trabalhava a leitura
de forma separada, então só dei continuidade. Mas procuro trabalhar o que está
proposto no Currículo Referência e tem dado certo.... ainda não trabalhamos o gênero
poemas em sala, mas vamos trabalhar... seu projeto irá nos auxiliar bastante”.
Professora regente. (Depoimento da professora da turma pesquisada).
Sobre estas percepções, fica claro o quanto a proposta deste projeto é interessante para
outras unidades, pois cada uma compartilha de uma realidade única e particular. Fica evidente
que devemos nos atentar ao objetivo do projeto, que é auxiliar e despertar no aluno o gosto pela
leitura de poesia por meio das performances, tendo ele o direito à literatura em sua própria
escola. Em suma, Candido exalta muito bem sobre o direito à literatura como uma luta pelos
direitos humanos, sendo ela a responsável por “corresponder a uma necessidade universal que
deve ser satisfeita, sob a pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos
sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza.”
(CANDIDO, 1989, p. 122). Sendo assim, a leitura literária atua em nós como uma espécie de
conhecimento porque resulta de um aprendizado. Evidente que um dos lugares mais
direcionados para esse acesso, ou pelo menos deveria ser, é a própria sala de aula.
De uma turma de 30 alunos, não tivemos a autorização imediata dos responsáveis, o que
atrasou o desenvolvimento do projeto. Tivemos situações de ligar para os responsáveis e
lembrá-los de assinarem, uma vez que os alunos nos afirmaram que os pais autorizaram a
participação, mas não tinham assinado a documentação. Diante desta estratégia, conseguimos
76
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Na primeira aula com os alunos, foi feita uma introdução sobre poesia e suas
especificidades, ciente de que muitos alunos na sala de aula não sabiam distinguir e não haviam
tido contato com poesia até o momento, como consta no questionário inicial. Nessa perspectiva,
78
Dando continuidade ao contato com os alunos nas aulas, utilizando como suporte as
observações, questionários e a participação dos alunos ao relembrar ou conhecer o conceito
79
sobre performances poéticas, é perceptível que, para formar bons leitores, antes de tudo
precisamos ser bons leitores. Azevedo (2004) destaca que precisamos, como professores, ter
uma postura politicamente correta, indicando boas leituras, ressaltando a importância das
leituras, sendo necessário, dentro das aulas, um espaço para as leituras literárias planejadas.
Partindo da expectativa da aula anterior, apresentei o corpus de análises (os livros de
Cecília Meireles e de Vinícius de Morais) que trabalharíamos em sala de aula. A escolha dos
livros foi da pesquisadora, porém, a escolha dos poemas se originou das observações e das
entrevistas com os participantes. Nesta apresentação, relatei um breve histórico sobre a vida
dos autores, visto que alguns alunos não os conheciam no meio poético. No intuito de fazer uma
aproximação do livro com os alunos, entreguei-os a eles e disse para que observassem qual dos
livros era o mais atraente, que verificassem e fizessem observações sobre os dois livros e, se,
porventura, algum lhes chamasse a atenção, que pudessem expor na roda de conversa que
faríamos.
Ao passar os livros de mão em mão, os alunos foram tendo o contato com as obras,
alguns se encantaram com as imagens da obra de Cecília, outros já conheciam os sonetos de
Vinícius de Morais e, entre um aluno e outro, alguns não aproveitaram o momento para explorar
a primeira leitura do livro: da observação, visualização e da apreciação das características
distintas de cada um. Neste momento, aproveitei para aguçar os alunos sobre o contato com o
livro literário. Qual sensação? O que acharam dos autores que iremos trabalhar? Quais são as
expectativas em meio aos poemas? As respostas foram convincentes, ao perceber a animação
de um aluno chamado Kaio Diniz: “Professora, sempre gostei de poesia, mas só que a gente usa
pouco aqui na escola. Lá em casa eu faço poesia com meus sentimentos. Eu estou bem animado
pra gente começar a ler logo igual a senhora fez na última vez”.
Conforme Aguiar e Bordini (1993, p.18) “o primeiro passo para a formação do hábito
da leitura é a oferta dos livros próximos à realidade do leitor, que levante questões significativas
para ele”. Diante isso, a escolha das obras de Cecília e Vinícius que compuseram essa proposta
de trabalho se deu devido ao perfil dos autores em suas escritas poéticas e trajetórias como
poetas. Também pelo perfil da turma percebido na entrevista, evidenciou-se uma carência de
leitura de poesia como norteadora de sua formação social e cultural.
Dessa maneira, preparei para a aula seguinte a primeira oficina de leitura. No projeto,
como já dito anteriormente, optei por oferecer oficinas de leitura de poesia diante das
dificuldades enfrentadas nas observações e do difícil acesso à leitura de poesia como destacado
no início da metodologia. A organização das oficinas foi resumida em 2 encontros, visto que os
alunos entrariam em semana de avaliação nos decorrentes dias.
80
Portanto, as atividades realizadas das oficinas foram otimizadas para que pudéssemos
finalizar em dois encontros, ou seja, em duas aulas de 50 minutos cada e dar continuidade às
outras demandas da proposta. Vale ressaltar que, no segundo dia de oficina, a professora
ofereceu uma aula a mais para a finalização do trabalho, justamente pelo envolvimento e
participação dos alunos. De maneira dinâmica e interativa ficaram divididas assim:
a) Objetivo:
• Despertar a curiosidade da leitura do gênero poesia;
• Usar o corpo como ferramenta de conhecimento prévio;
• Identificar as funções e finalidades utilizadas da leitura através da brincadeira
mímica, contextualizando o texto poético;
• Realizar leituras performáticas utilizando o corpo.
b) Metodologia:
Dividida em 3 partes:
É importante ressaltar que o envolvimento dos alunos nesta aula foi praticamente em
100% e, logo após as apresentações, os alunos se encontraram curiosos para saber do que cada
poema falava. Sendo assim, utilizamos os últimos 10 minutos para a leitura em voz alta.
Após a oficina aplicada, apresentamos algumas imagens para relatar a vivência dos
alunos nesta oficina que traz a experiência do brincar com o corpo, com a criatividade e
expressões pessoais. Zilberman (1985) pontua que a poesia para crianças se encontra ligada a
temas que se encaixam no perfil das mesmas, pois abordam temas que incluem brincadeiras,
jogos, o faz de conta, amigos imaginários, a possibilidade de ver o mundo de forma poética,
sensível e criativa, de tal modo que essa primeira oficina trouxe aos alunos um modo diferente
e divertido de ler poema.
Conforme mostra a figura 5, os alunos brincaram com o corpo interpretando o poema
“A língua do Nhém” de Cecília Meireles, que apresenta a personagem de uma velhinha que
andava aborrecida. Nessa ideia de representar a idosa, o aluno usa uma vassoura simbolizando
uma bengala e encurva seu corpo, faz gestos e anda conforme as pessoas mais velhas andam.
Com calma, sem muita segurança e firmando a mão na cintura, representando cansaço ou fadiga
de anos de vivências. Vejamos na figura 5:
2
Arquivos de fotografias registradas pela pesquisadora durante a oficina: Poesia e Corpo.
82
A figura 6 reforça o que Zilberman apresenta; o aluno brinca usando a criatividade e seu
corpo, apresentando seu perfil musical e rítmico. Na leitura do poema “A moda da Menina
Trombuda”, de Cecília Meireles, o aluno expõe a poesia em dança de hip-hop, gênero musical
que o próprio aluno gosta de dançar. Brincando com seu corpo e com o seu ritmo acompanhados
pelo ritmo e palavras do poema, a sala toda interage, bate palmas e a mensagem da escrita
poética é transmitida não só para o aluno que a representa, mas também para os demais alunos
que o assistem.
a) Objetivo:
• Despertar a curiosidade da leitura do gênero poesia;
• Desenvolver habilidade de leitura por meio e conhecimento da voz;
• Levar o aluno a perceber algumas estratégias de produção de sentidos,
interpretações e conhecimentos pela leitura em voz alta;
• Desenvolver a reflexão sobre quão é importante a utilização da voz nas
performances poéticas.
b) Metodologia:
Dividida em 4 partes
1ª parte: Iniciei a oficina com a organização da roda no pátio da escola. Após esta
organização, levei duas2 cópias dos poemas abaixo na intenção de cada aluno, de forma
aleatória, ficar com um poema igual do outro colega:
Depois da entrega dos poemas, ciente de que dois participantes estariam com os mesmos
poemas, pedi para que fizessem uma leitura silenciosa, antes de iniciarmos a leitura em voz alta.
Nesta leitura, o aluno poderia ler várias vezes até se acostumar com o texto e ficar à vontade
para a leitura para todos. Este momento durou aproximadamente 15/20 minutos.
2ª parte: Nesta etapa, os alunos sem saber que existiam poemas iguais, começaram a
ler os poemas. Vale ressaltar que alguns comentaram o título do poema com outros, mas não
atrapalhou a metodologia da oficina. Por fim, começamos a ler em voz alta os poemas dos
autores escolhidos para a pesquisa. A primeira leitura, evidentemente auxiliou muito na leitura
em voz alta. Alguns alunos foram resistentes, talvez por vergonha da leitura, pelo tom de voz e
claro, vergonha dos próprios colegas. Mas, grande parte participou tranquilamente, dando apoio
aos outros que não realizaram a tarefa. As leituras foram lentas e cautelosas tendo a duração de
30 minutos. Algumas sem entonação, expressão e sem respeito a pontuação adequada, porém
este não era o objetivo da atividade proposta no primeiro momento. A dinâmica deixou os
alunos bem felizes, devido à interação e dinamismo da aula. Com a leitura, muitos alunos
começaram a comparar a sua leitura com a do outro que tinham o mesmo texto, partindo para a
próxima etapa.
3ª parte: Este momento foi destinado a unir os poemas iguais, ou seja, os dois
participantes com o mesmo poema se juntaram para realizar a atividade proposta. Neste aspecto,
a pesquisadora solicitou que as duplas escolhessem a melhor forma de representar o poema que
estavam. Através da Vocalização, Recitação ou Encenação. Após dada as opções, a
pesquisadora explicou o que cada representação significava associando-as às performances
literárias e relembrando o aluno sobre o objetivo da pesquisa. Depois deste momento, surgiram
algumas dúvidas, que foram esclarecidas e os alunos tiverem um tempo de 20 minutos para se
prepararem. A pesquisadora deu suporte para todos, orientando-os e deixando-os à vontade para
a realização da atividade.
4ª parte: Nesta etapa, iniciamos as apresentações. Os alunos escolheram de forma
variada os poemas e iniciaram as apresentações. As apresentações foram tímidas e alguns se
recusaram a realizar. Mas boa parte do grupo representou o poema para os colegas na roda de
acordo com o poema escolhido. Foi um momento muito descontraído entre a turma. A interação
e participação dos alunos, até mesmo daqueles que não foram à frente representar foi de suma
importância. Esta modalidade durou exatamente 30 minutos, tendo a conclusão da pesquisadora
ao final, perguntando o que acharam da experiência em representar a poesia vocalizada, recitada
ou encenada.
87
Ao final, deixei que os alunos falassem da sua experiência sobre a oficina, mencionando
o interesse que boa parte da turma teve pelas leituras orais. Falas como: “Eu achei tão legal”,
“Achei que não ia conseguir, nunca fiz teatro e fazer agora foi massa”, “Nunca li nada em voz
alta, sempre que a professoras pede para eu ler eu não aceito. Mas aqui eu fiquei com vontade
de ler porque minha poesia era muito bonita e se parecia comigo a história”. Através destes
depoimentos reafirmamos o objetivo proposto neste trabalho, a leitura de poesia e as
performances poéticas potencializam a apreensão dos sentidos do texto poético. As figuras 10,
11 e 12 ressaltam a participação dos alunos nas apresentações das oficinas e atestam que a
metodologia adotada pelo professor, bem como a escolha das poesias e suas apresentações aos
alunos, assim, aguça ainda mais o interesse em conhecer e participar da aula.
A figura 10, testemunha o grupo de alunos discutindo a forma de representar a poesia
através da voz. Neste momento, percebemos que além da participação do aluno, seu
posicionamento, sua criticidade e criatividade são explanadas em um trabalho em equipe,
respeitando a opinião do outro e chegando a uma ideia comum, estimulando o processo de
humanização do leitor.
Figura 10 – Oficina 2, Poesia e Voz
3
Arquivos de fotografias registradas pela autora durante a oficina: Poesia e Voz.
88
baixa, grossa, aguda, rápida, devagar) e, a partir disso, os alunos representaram de maneira
bastante criativa o poema. Dessa forma, confere a proposta da pesquisa, que parte do interesse
do aluno pela leitura literária depende do professor no ato da mediação e participação nas aulas
preparadas. O professor precisa ser ativo e gostar de trabalhar com o gênero para incentivar
seus alunos.
Diante das figuras 11 e 12 apresentadas, Zumthor (2010) reafirma essa questão quando
diz “a performance permite uma recepção coletiva e nisso difere-se da leitura individual e
silenciosa” (p. 89), sendo assim, uma leitura silenciosa e individual não tem o mesmo efeito
que uma leitura em voz alta, coletiva. E para o aluno, essas percepções precisam ficar claras,
pois o tempo todo estamos em atos de performances e não percebemos.
Nas figuras 13 e 14 constam as falas dos alunos do questionário final, relatando o “novo
jeito” de trabalhar com a poesia. O aluno M. revela que canta a poesia em forma de rap, e diz
gostar de trabalhar assim, pois as rimas são apreciadas de forma inovadora. A vocalização de
poemas aguça essa compreensão, pois trabalha com a linguagem, com as percepções, os sons e
os ritmos. As aulas de hoje em dia, como já relatado, geralmente são através de leituras
silenciosas e expressadas por uma atividade ou avaliação do que foi lido, justamente por ser
uma metodologia diferente, quando o aluno se depara em expressar a leitura de poesia de outra
forma, sem ser por aprovações escritas, o aluno é despertado a conhecer a poesia por esse “novo
jeito”, atestando a relevância em se tornar um leitor de poesia.
É importante ressaltar que era esperado que alguns alunos se recusassem a participar da
oficina como proposto, devido à dificuldade de leitura e interpretação. Essas constatações se
deram nas observações das aulas e na conversa com a professora e durante as entrevistas com
eles. Levados em consideração a participação em todo o processo, não somente nas leituras, as
metodologias propostas nessas oficinas são pertinentes para validação dos aspectos qualitativos
proporcionados pelo presente trabalho: a atenção dos alunos, as falas, a participação em ouvir
o outro, a colaboração, observação e a criatividade nas leituras são conteúdos importantes para
o produto final da pesquisa.
Os encontros posteriores aos das oficinas se desenvolveram com maior frequência e
tranquilidade. A experiência das oficinas deixou os alunos mais participativos e com vontade
de ter momentos semelhantes. Torna-se relevante falar da aula em que levei a música “Ou Isso
ou Aquilo – gravado pela Cia Lena d’água, mesmo texto que li com eles na primeira aula do
projeto. Com o objetivo de despertar a criatividade dos alunos, a interpretação, a associação e
instigar o interesse pela poesia por meio da musicalidade. O ritmo, segundo Abramovich
(1997), é outra marca da poesia, é o que possibilita o acompanhamento musical ao que é lido
ou ouvido. O que vale é a boa escolha para serem lidos. Se o professor for ler um poema para a
turma, ele deve conhecê-lo bem, que o tenha lido várias vezes antes, que o tenha sentido,
percebido, para que passe a emoção verdadeira, o ritmo, que faça pausas para que cada criança
possa descobrir cada estrofe, cada mudança.
91
Neste sentido, o professor tem um importante papel nas escolhas dos poemas antes de
os levarem para a sala de aula e, quando os escolher, precisa estar familiarizado com o texto
literário a ponto de direcionar os alunos ao real sentido do texto, despertando neles
possibilidades de interpretações e até de associação com a vida. Antunes (2009) nos mostra que
ler textos literários possibilita-nos o contato com a arte da palavra, com o prazer
estético da criação artística, com a beleza gratuita da ficção, da fantasia e do sonho
[...] leitura que deve acontecer simplesmente pelo prazer de fazê-lo. Pelo prazer da
apreciação, e nada mais. (p. 200).
Em prova disso, todo planejamento dessa aula com o poema musicado “Ou isso ou
aquilo”, foi direcionado de acordo com o conhecimento metodológico da pesquisadora, visto
que o objetivo era despertar a compreensão do poema. Percebi o quanto os alunos acharam
interessante utilizarmos a música para o entendimento do poema. Nesta perspectiva os alunos
interagiram com o texto, atentos à musicalidade das palavras. Após ouvirmos a música três
vezes, solicitei aos alunos que expusessem a sua compreensão da música, dando sequência ao
projeto diante da metodologia.
Objetivos:
Metodologia:
Em sala, ouvir a música “Ou isso ou aquilo” (Lena D’Agua), inserir as informações
sobre a musicalidade nos poemas, ligando-a as aulas de Oficina, mostrando mais uma
ferramenta de performances que podem ser utilizadas para a leitura de poesia na sala de
aula.
Após a escuta, interagir com os alunos após a leitura da música. Questioná-los sobre o
entendimento da música, instigá-los com a própria vida, vivências.
92
Nesta aula evidenciamos que a imaginação da criança e a relação que a poesia remete
ao associar com suas próprias vivências são únicas e verdadeiras, extraindo da criança o mais
profundo sentimento, de acordo com as figuras 15, 16 e 17, reforçamos que ao se tratar de
interpretações das suas vivências os alunos refletem sobre suas existências, seus gostos, suas
angústias, alegrias, suas dúvidas. Na figura 15 mostra o aluno B. pensando e refletindo sobre a
poesia cantada. Nota-se que o aluno teve bastante dificuldade em interpretar suas dúvidas
pessoais, assim como a poesia “Ou isso ou Aquilo” de Cecília Meireles apresenta dúvidas de
escolhas.
Na figura 16, nota-se que o aluno interpretou a poesia por música através de desenhos.
O aluno P. colocou no papel duas coisas que dizia gostar muito e as vezes pela manhã ficava
confuso em qual escolher. Sendo uma um copo de leite e a outra um ovo frito. O aluno ainda
completou dizendo que os dois ao mesmo tempo não tinha um “gosto legal”, e que concorda
quando a poesia trás que “não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo”, nem tão pouco,
comer dois alimentos que não deixa satisfeitos. Este posicionamento nos afirma que a
criticidade e opinião diante algumas situações da vida são através das escolhas, e que o aluno
ao ouvir a música, refletiu não só sobre suas indecisões nos dias de hoje, mas o fez pensar nas
decisões que terá pelo decorrer da vida.
93
Já o aluno M, conforme a figura 17, preferiu a escrita para colocar suas interpretações
do poema. O aluno relatou que tem dúvidas em muitas coisas, uma delas é a de jogar vídeo
game ou estudar. Ressaltou também que pode fazer os dois, dando prioridade ao mais
importante, os estudos. O aluno disse que lembrou da fala da mãe: “M. primeiro o estudo, depois
a diversão”. Mais uma confirmação de que nossas raízes estão inseridas em nossas
interpretações. O aluno diz ter lembrado da voz mãe no verso: “Não sei se brinco, não sei se
estudo”, e completou dizendo que escolherá o que a mãe achar melhor para ele como criança.
E que quando ele crescer, e souber fazer as escolhas certas para ele, fará suas escolhas próprias.
94
Para o sarau literário, dividi a turma em grupos para as apresentações dos poemas. Ao
primeiro grupo foi proposto trabalhar os poemas com performances de dança, com o intuito de
explorar o corpo para a representação poética. Levando em consideração as abordagens e
estudos da oficina 1 - Poesia e Corpo escolhemos as poesias: Ou isso ou aquilo; Canção; A
um passarinho; A bailarina para as apresentações no dia do Sarau. O segundo foi por meio
do teatro, utilizando a mímica, as expressões faciais, a voz e entonação vocal. Para estas
representações, nos embasamos na oficina 2 – Poesia e Voz. Regidos e cientes da importância
da voz na leitura de poesia, os alunos também incorporaram as performances com as poesias:
Bolhas; A língua do Nhem; O cavalinho branco; O vestido de Laura. O terceiro grupo ficou
com as recitações, levando em consideração a oralidade na leitura dos poemas, trabalhada nas
oficinas e no decorrer do projeto, levando em consideração as intenções e sentimentos que os
poemas carregam. Os poemas vocalizados por este grupo foram: O último andar; O colar de
Carolina; Mar; A partida; Ou isso ou aquilo; Soneto de amor maior; O eco; As meninas;
Os carneirinhos; A lua é do Raul. O último grupo, ficou destinado à música. Esse grupo ficou
responsável por expor o ritmo, a melodia, as batidas e dar vida musical às poesias escritas: A
bola é azul; Moda da menina trombuda;
As aulas, após as escolhas das poesias, foram para o ensaio das representações. Foram
utilizadas 5 aulas para estes ensaios e para produção dos cartazes das poesias autorais que foram
expostos no sarau. Nessas aulas, procurei atender cada grupo, dando sugestões, dicas,
orientando as performances em suas particularidades de voz, corpo, emoção. Ressalto que a
escolha dos poemas que representaram partiu dos próprios alunos, e, também das performances
que iriam apresentar (dança, teatro, recitações, músicas) na tentativa de autonomia e incentivo
a representarem o que gostaram
Sabemos que o Sarau é um evento cultural marcado pelo encontro de diversas ações
artísticas, que a partir de um tema central as performances se desenvolvem (LACERDA, 2015),
e a experiência de participar do projeto foi bastante positiva e satisfatória. Todos os alunos da
escola prestigiaram o Sarau literário promovido pelo projeto e apresentado pelos alunos
participantes. Segundo Almeida e Soares (2006):
Estes (os alunos), em muitas dessas atividades (eventos escolares), parecem se tornar
clientes e/ou consumidores de eventos, na medida em que não participam da
construção dessas atividades. Os alunos deveriam, ao invés de meros consumidores,
serem transformados em co-participantes do planejamento, da execução e da
avaliação de tais eventos. (p. 223).
Nesse ponto, firma-se que um evento como o Sarau literário é importante no âmbito
escolar pois promove além de momentos prazerosos, também o aprendizado e o gosto pela
99
leitura de poesias, uma vez que para sua realização os alunos são estimulados a realizar
pesquisas, a ler os poemas, compartilhar ideias de como apresentá-los, realizar o trabalho
cooperativo, registro de discussões e confecção dos materiais a serem expostos, que contribuem
para o desenvolvimento do aprendizado dos alunos acrescentando-lhes novos conhecimentos.
O Sarau literário foi realizado dentro de uma sala de aula, devido a escola não ter um
espaço específico para apresentações. A escola também não tinha equipamentos de som com
microfones, sendo difícil a compressão das performances na quadra. Nessa perspectiva, a
Figura 22 exibe a sala de aula que preparamos, conforme a realidade da escola, montamos um
espaço com cadeiras para as pessoas que iriam assistir e outro espaço para as apresentações.
O Sarau Literário – Ou Isso ou Aquilo foi bastante elogiado por todos da escola.
Professores, funcionários, alunos e comunidade escolar apreciaram o evento e elogiaram a
pesquisa desenvolvida e a participação dos alunos do 6º ano, conforme mostra as figuras 32 e
33. É importante ressaltar que o envolvimento da comunidade escolar na participação é
importante pois alunos se sentem mais motivados e interessados ao perceberem que as leituras
ultrapassam a sala de aula, reforçando mais uma vez que o trabalho com as poesias pode ser
diversificado e não se basear apenas em uma tarefa estipulada, dessa forma criativa e lúdica, o
desejo em praticar as leituras performáticas é aflorado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na pesquisa realizada nota-se o quanto não é desenvolvido nos alunos o gosto e a prática
da leitura de forma lúdica e musical, sobretudo, a leitura poética; constatamos que a maioria
dos alunos não gosta ou apresentam muita dificuldade ao ler, principalmente em público,
porém, ao desenvolver atividades dinâmicas e criativas com o gênero poesia foi notável o
envolvimento e participação dos alunos nas aulas de leitura, conforme citado nas oficinas. A
concepção destas oficinas e aulas reforça o importante papel do professor na sala de aula e
também da grande influência que o mesmo carrega para a formação do leitor de poesia, desde
as escolhas dos autores, dos poemas, da metodologia e do desenvolvimento das leituras
vocalizadas.
Acerca dos autores, optei por Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, uma combinação
de sutilezas e levezas nas poesias expressadas ao mundo da criança, o cotidiano e interesses
infantis, além da musicalidade, linguagem acessível, temas do cotidiano, versos livres, humor.
Jogos com as palavras e rimas. Cecília foi, além de uma célebre autora, uma pioneira da poesia
infantil no Brasil, inovando temas populares, como é tangível no poema “Ou isto ou aquilo”,
nome do livro e desta pesquisa, onde a autora expressa às insatisfações com os limites e desejos,
permitindo diferentes níveis de leitura que encantam e estimulam os alunos. Já Vinícius de
Moraes traz em seus poemas o jogo sonoro do humor, e recursos típicos da poesia popular como
a quadra e rimas nos versos pares e da clássica como o soneto, fazendo com que os alunos criem
hipóteses e possibilidades de interpretações. Os alunos percebem que ler é imprescindível e
significativo, entretanto, leem muito pouco devido à falta do hábito. A poesia é um excelente
recurso para o desenvolvimento desta prática, pois trata temas que atendem ao gosto do público
não só infantil, mas de todos os outros, sendo capaz de transmitir inúmeras emoções.
No desenvolver das aulas e oficinas do projeto que incluíram elementos das
performances que se fizeram presentes nas representações dos poemas, abraçando assuntos de
interesse dos alunos, desenvolveu-se o prazer, da mesma forma que despertou a imaginação, a
fantasia, recriando sons, escritas, personagens, cenas e movimento dos poemas, levando-os ao
encantamento, à motivação, à alegria e, consequentemente, ao interesse pela leitura. A
performance poética é uma proposta sensível e essencial na leitura de poesia na sala de aula,
justamente por desmitificar o conceito de leituras tradicionais, limitadas somente ao leitor em
silêncio. Ela abarca diferentes ramos das visualizações. Neste sentido, o trabalho com
performances, no campo escolhido, explorou não só a voz, mas também o corpo como
instrumento e o espaço como plataforma de expressão e interpretação ao que foi lido. Percebi
que os alunos nunca tiveram uma aula ou leitura incluindo essa proposta de performance, e o
entusiasmo em participar das aulas certificou a relevância das performances literárias,
110
favorecendo o desejo curioso em explorar o som, corpo, movimento e os gestos que ultrapassam
o texto escrito.
Foi notório que os alunos se envolviam com os poemas e colocavam suas emoções nas
representações, ampliando assim seus conhecimentos de mundo, pois, pela leitura, parecerem,
na interação da turma, se sensibilizar mais com o mundo do outro colega. Observei ainda que,
nas apresentações e diálogos em sala de aula, que a oralidade dos alunos também foi
desenvolvida. Portanto posso dizer que a performance poética é um meio eficaz para
desenvolvimento das capacidades e sentidos dos alunos, pois, uma vez bem trabalhadas, de
forma dinâmica e atraente, os alunos ficam entusiasmados, admirados, fascinados e
interessados, aspectos essenciais na formação de alunos leitores.
Assim, o contato do aluno com a poesia, via performance oral, é considerado essencial
para a sua formação leitora e, sendo ela apresentada e inserida aos currículos escolares como
um método para a leitura de poesia, maiores serão as chances do desenvolvimento do gosto e
do prazer pela leitura. Cabe às instituições escolares promover projetos, aulas e oficinas para
estimular a leitura e organizar espaços educativos com a finalidade de criar condições para que
as crianças compreendam, desde cedo, à importância da leitura.
A leitura de poesia, como já ressaltado, favorece a humanização do indivíduo e, quando
é feita pela mediação do professor em sala, contribui para o processo de humanizar, transformar
e fazer o aluno se conhecer e se reconhecer melhor no mundo. Compreendendo isso, o ensino
de literatura diante das performances poéticas cumpre seu principal objetivo que é incentivar a
leitura sensível e crítica, que transforme o leitor para que ele entenda o sentido, jogo das
palavras e compreenda as histórias, a forma, a estrutura organizacional do texto, os temas
poéticos e familiarize-se com a linguagem literária, desenvolvendo e aprimorando o gosto pela
leitura de poesia.
Portanto, a prática de leitura literária não é uma questão de exigência, mas de
necessidade para todas as escolas, pois ainda encontramos muitos leitores que não conseguem
ler além da superfície do objeto de leitura e há a necessidade de formar leitores de poesias, de
literatura, de outros gêneros textuais, para que ler deixe de ser somente o simples ato de
decodificar e compreender. A leitura deve levar o leitor ao exercício da prática social. Deve
preparar o leitor para refletir e agir sobre a realidade da sociedade em que vive e, também, fazê-
lo pensar em sua construção humanitária como ser social. Assim, a construção de sentidos se
faz necessária para o leitor. Sendo assim, o caminho para a formação de leitor de poesia pode
estar nas metodologias apresentadas pelos professores e, fundamentalmente, na leitura, no
contato corpo a corpo com a materialidade do texto. Sabemos que a performance poética se
111
apresenta como um dos mecanismos que levam o leitor a fazer uma leitura vivenciada, emotiva,
sensitiva e movimentada. Logo, esses meios fazem que o leitor ultrapasse os limites da
decodificação, compreensão, levando-o a um nível maior de interpretação e de sensibilização
para o objeto texto e contribuindo para a potencialização e apreensão dos sentidos dos textos
poéticos e da formação do leitor. Por tudo isso, é possível afirmar que, não há muita dúvida em
formas de leitura do texto literário: poesia combina com performance, como combina com
outros modos de ser lida, para chegar ao leitor, para formar o leitor. Não se trata, portanto, de
“ou isto ou aquilo”, trata-se de “isto e aquilo”. Todos os métodos, técnicas, jeitos, trejeitos são,
em potencial, bem-vindos e justificáveis para ensinar o aluno a “sentir a poesia”, como diria
Jorge Luis Borges (1980).
112
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ZUMTHOR, Paul. Performance, Recepção, Leitura. Tradução de: Jerusa Pires Ferreira e
Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000.
118
APÊNDICE A
GOIÂNIA
2022
119
GOIÂNIA
2022
120
CDU 8+7
121
DIVULGAÇÃO
( ) Filme
( ) Hipertexto
( ) Impresso
(X) Meio digital
( ) Meio Magnético
( ) Outros. Especificar:
Para Estudantes de Ensino Fundamental, podendo ser estendido aos estudantes de Ensino
Médio. Aos Professores de Língua Portuguesa e de Literatura da Educação Básica e
Comunidade escolar.
(X) Alto impacto – Produto gerado no Programa, aplicado e transferido para um sistema, no
qual seus resultados, consequências ou benefícios são percebidos pela sociedade.
( ) Médio impacto – Produto gerado no Programa, aplicado no sistema, mas não foi
transferido para algum segmento da sociedade.
( ) Baixo impacto – Produto gerado apenas no âmbito do Programa e não foi aplicado nem
transferido para algum segmento da sociedade
124
(X) Real - efeito ou benefício que pode ser medido a partir de uma produção que se encontra
em uso efetivo pela sociedade ou que foi aplicado no sistema (instituição, escola, rede, etc).
Isso é, serão avaliadas as mudanças diretamente atribuíveis à aplicação do produto com o
público-alvo.
FOMENTO
Houve fomento para elaboração ou desenvolvimento do Produto Educacional?
(X) Sim ( ) Não
CORPO, VOZ E POESIA de JAILDS AMANDA GONÇALVES DE DEUS está licenciado com uma
Licença Creative Commons - Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://corpovozepoesia.com.br.
DEUS, Jaildes Amanda Gonçalves. Corpo, Voz e Poesia. 2020. 19f. Produto Educacional
relativo à Dissertação (Mestrado em Ensino na Educação Básica) – Programa de Pós
Graduação em Ensino na Educação Básica, Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à
Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO.
RESUMO
Este Produto Educacional em forma de Website apresenta, por meio das performances literárias,
os resultados de uma pesquisa-ação sobre minha própria prática aplicada No Ensino
Fundamental, desenvolvido durante o Mestrado Profissional Stricto Sensu do Programa de Pós-
Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação
(CEPAE) da Universidade Federal de Goiás (UFG ), entre os anos de 2018 a 2021, cujo produto
final é a dissertação “Isso e Aquilo: Poesia, Performance Oral e Formação do Leitor em Sala
de aula”. Dessa forma, leio, narro, analiso e compartilho minhas práticas e experiências, ao usar
a estratégia didática da prática. As leituras e performances de aulas foram inspiradas,
principalmente, nos estudos de Meireles (1931, 2001 e 2012), Lajolo (1993), Bakhtin (1995) e
Freitas (1996). A coleta de dados ocorreu por meio da observação participante, de questionários
escritos e reflexões do diário de campo, das produções escritas dos alunos em relação às
atividades aplicadas e recolhidas durante a intervenção e das fotos e vídeos das leituras
performáticas de todas as aulas, no decorrer de um trimestre. Para a intervenção pedagógica,
elaborei 10 planos de aulas, 2 oficinas, 3 atividades e um Sarau Literário a serem trabalhados
em 22 horas/aula, abordando os seguintes conceitos literários: poesia e voz, poesia e corpo,
humanização do leitor de poesias, o leitor crítico, poesia vocalizada, poesia encenada, poesia
recitada. Tornando público todos os trabalhos realizados durante o processo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................131
O Website ............................................................................................................................. 132
INTRODUÇÃO
AS OFICINAS
d) Metodologia:
Dividida em 3 partes:
• 1ª parte: No primeiro momento, a pesquisadora relembrou a primeira aula com os
alunos sobre leitura de poemas utilizando as performances. Foram indagados sobre
a importância da leitura literária com as performances, levando-os a participarem
com voz ativa na introdução da oficina. Esse primeiro passo teve a duração de
aproximadamente 5 minutos, dependendo da participação dos alunos.
• 2ª parte: Neste momento dividi aleatoriamente a turma em 3 grupos, com 10 alunos
em cada grupo (aproximadamente). Cada grupo deveria escolher dois participantes
para escolherem os poemas sorteados. Assim sendo, distribuí 2 poemas diferentes
para cada grupo. Sendo 1 da Cecília e 1 do Vinícius. A partir da entrega, os alunos
deveriam ler entre si (deixando os outros dois de fora) e pensar em uma
representação sem utilizar a voz. Somente o corpo, os gestos e mímicas. Os
participantes que desvendariam os poemas conforme as representações ficaram do
lado de fora da sala até a preparação ficar pronta. Essa atividade equivale a 15
minutos.
• 3ª parte: Nesta parte, os alunos são orientados a realizarem as representações. Antes
disso, escrevi vários nomes dos poemas que constam nos livros escolhidos para
facilitar a dinâmica. As apresentações das produções são realizadas e o grupo que
descobrisse os poemas pelo gesto, ganharia a brincadeira. Esta parte durou em torno
de 20 min, divididos em tempos iguais para todos os grupos.
135
Dividida em 4 partes:
1ª parte: Iniciei a oficina com a organização da roda no pátio da escola. Após esta
organização, levei 2 cópias dos seguintes poemas na intenção de cada um, de forma aleatória
na entrega ficasse com um igual o poema de outro.
Depois da entrega dos poemas, ciente de que dois participantes estariam com os mesmos
poemas, pedi para que fizessem uma leitura silenciosa, antes de iniciarmos a leitura em voz
alta. Nesta leitura, o aluno poderia ler várias vezes até se acostumar com o texto e ficar à vontade
para a leitura para todos. Este momento durou aproximadamente 15/20 minutos.
2ª parte: Nesta etapa, os alunos sem saber que existiam poemas iguais, começaram a
ler os poemas. Vale ressaltar que alguns comentaram o título do poema com outros, mas não
atrapalhou a metodologia da oficina. Por fim, começamos a ler em voz alta os poemas dos
autores escolhidos para a pesquisa. A primeira leitura, evidentemente auxiliou muito na leitura
em voz alta. Alguns alunos foram resistentes, talvez por vergonha da leitura, pelo tom de voz e
claro, vergonha dos próprios colegas. Mas, grande parte participou tranquilamente, dando apoio
aos outros que não realizaram a tarefa. As leituras foram lentas e cautelosas tendo a duração de
136
30 minutos. Algumas sem entonação, expressão e sem respeito a pontuação adequada, porém
este não era o objetivo da atividade proposta no primeiro momento. A dinâmica deixou os
alunos bem felizes, devido à interação e dinamismo da aula. Com a leitura, muitos alunos
começaram a comparar a sua leitura com a do outro que tinham o mesmo texto, partindo para
a próxima etapa.
3ª parte: Este momento foi destinado a unir os poemas iguais, ou seja, os dois
participantes com o mesmo poema se juntaram para realizar a atividade proposta. Neste aspecto,
a pesquisadora solicitou que as duplas escolhessem a melhor forma de representar o poema que
estavam. Através da Vocalização, Recitação ou Encenação. Após dada as opções, a
pesquisadora explicou o que cada representação significava associando-as às performances
literárias e trazendo o aluno novamente o objetivo da pesquisa. Depois dente momento,
surgiram algumas dúvidas, que foram esclarecidas e os alunos tiverem um tempo de 20 minutos
para se prepararem. A pesquisadora deu suporte para todos, orientando-os e deixando-os à
vontade para a realização da atividade.
4ª parte: Nesta etapa, iniciamos as apresentações. Os alunos escolheram de forma
variada, de modo que não teve uma opção mais escolhida. As apresentações foram tímidas e
alguns se recusaram a realizar. Mas boa parte do grupo representara a poesia para os colegas na
roda de acordo com que tinham escolhido. Foi um momento muito bacana e descontraído. A
interação e participação dos alunos, até mesmo daqueles que não foram a frente representar foi
de suma importância. Esta modalidade durou exatamente 30 minutos, tendo a conclusão da
pesquisadora ao final, perguntando o que acharam da experiência em representar a poesia
vocalizada, recitada ou encenada.
137
APÊNDICE B
levá-lo para casa e responde-lo com familiares e amigos, pois um dos intuitos é falar de poesias
com outras pessoas que compõem o ambiente escolar e não somente com os alunos.
No quarto momento, após os relatos dos alunos a pesquisadora fará intervenções,
provocando os alunos para que eles relembrem seus primeiros contatos com a leitura nos mais
diversos ambientes, seja familiar, escolar ou outro meio que possibilitaram o contato deles com
a leitura. Você participará de todos os momentos ora como observadora ora como participante
da pesquisa, pois também poderá relatar suas memórias de leituras.
No quinto momento, será proposto a leitura dos poemas de Cecília Meireles, Vinícius
de Moraes e Eucanaã Ferraz. Diante das leituras, os alunos com a participação da professora,
irão redigir poema semelhantes ao tema dos poemas lidos e estudados em sala, entregará à
pesquisadora para ser analisados com intuito de construir uma exposição com os poemas e
organização para um sarau literário, um “zine” que será distribuído para a comunidade bem
como a construção do Blog Interativo para a visualização deste projeto aos professores.
Na última etapa, será feito a preparação para o sarau cultural (apresentações das escritas
das leituras dos poemas) e também construiremos um “zine” (Caderno de poemas e poesias
independentes, feitas manualmente com colagens, e outros recursos manuais) em que os alunos
e o professor, irão expor através de performance tudo que foi trabalhado neste processo, este
será realizado juntamente com todos da escola, para que os demais integrantes da escola
conheçam o trabalho realizado pela pesquisadora, os alunos do 6º ano e você professora de
língua portuguesa. O evento será aberto à comunidade, visto que este trabalho faz muito mais
sentido quando rompe as barreiras da escola e amplia a discussão para outros espaços.
Faz-se necessário a autorização da senhora para que todos os momentos desta pesquisa
sejam: observados, fotografados e filmados, mas lhe asseguro que seu nome não será divulgado,
sendo mantido o mais rigoroso sigilo, os dados provenientes de sua participação, tais como as
observações, as fotos e as gravações ficarão sob a guarda da pesquisadora responsável pela
pesquisa. Consequentemente nenhuma dessas informações descritas aparecerá na pesquisa, seu
nome será fictício e as fotos e gravações serão utilizadas somente para análise de dados.
Espera-se com essa pesquisa, que a mesma possa trazer benefícios para a escola campo
e para a comunidade escolar, pois por meio da investigação das memórias de leitura dos
participantes e da compreensão adquirida, será possível transmitir este conhecimento para
outros professores que poderão, eles mesmos, trabalhar com a leitura do livro Isso ou Aquilo e
Poesias com seus alunos. E deste modo, a escola possa desenvolver seu verdadeiro papel de
formação de leitores competentes, incluindo a comunidade que se faz presente. Assim, os
139
alunos terão condições de refletirem sobre seus próprios trajetos de leitura, e conseguirem ter
uma sensibilidade sobre sua formação e até mesmo do futuro profissional que vierem a ser.
Se você tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, pode contatar-me por meio do
telefone (62) 99124-3316 as ligações poderão ser feitas a cobrar em horário comercial ou pelo
e-mail: profamandag@gmail.com.
Se as dúvidas sobre direitos de participante desta pesquisa não forem totalmente
esclarecidas por mim, você também poderá fazer contato com o Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal de Goiás, pelo telefone (62) 3521-1215.
A pesquisadora garante que os resultados dos estudos serão devolvidos por meio da
publicação de um zine em um blog com contendo o resultado das oficinas trabalhadas, e estes
serão realizados na própria escola.
Esse documento foi elaborado em duas vias, sendo a primeira e segundo página
rubricado e a terceira assinada por mim (pesquisadora) e por você. Uma das vias ficará com a
pesquisadora responsável pela pesquisa e a outra com a senhora.
A criança envolvida receberá o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido, para que
possa ter ciência da pesquisa e decidir se tem interesse ou não em participar a decisão será via
oral o qual será gravado (áudio).
Sendo o que se apresenta o (a) senhor (a) ____________________________________
inscrito (a) sob a assinatura, concorda e autoriza sua participação no projeto de pesquisa acima
descrito.
Goiânia-Goiás, ____/_____/______.
Programa de Pós-Graduação em Ensino em Educação Básica. Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação
Básica. Universidade Federal de Goiás. Campus II – Cx P. 131, Bairro Samambaia, Goiânia, Goiás. CEP. 74001-
970. Fone: (62) 3521-1063. Email institucional: reitoria@reitoria.ufg.br.
140
APÊNDICE C
Prezado (a) Sr./Sra. Professor (a), você está sendo convidado (a) a participar, como
voluntário (a), da pesquisa intitulada “Isto e Aquilo: Poesia, Performance Oral e Formação
do Leitor em Sala de Aula”. Meu nome é Jaildes Amanda Gonçalves de Deus, sou a
pesquisadora responsável e minha área de atuação é Ensino na Educação Básica. Após receber
os esclarecimentos e as informações a seguir, se você aceitar fazer parte do estudo, assine ao
final deste documento, que está impresso em duas vias, sendo que uma delas é sua e a outra
pertence à pesquisadora responsável. Esclareço que em caso de recusa na participação você não
será penalizado (a) de forma alguma. Mas se aceitar participar, as dúvidas sobre a pesquisa
poderão ser esclarecidas pela pesquisadora responsável, via e-mail (profamandag@gmail.com)
e, inclusive, sob forma de ligação a cobrar, através do seguinte contato telefônico:
(62)991243316. Ao persistirem as dúvidas sobre os seus direitos como participante desta
pesquisa, você também poderá fazer contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Goiás, pelo telefone (62)3521-1215.
O título da pesquisa é “Isto e Aquilo: Poesia, performance oral e formação do leitor em sala
de aula” que será desenvolvida como dissertação de mestrado, na modalidade profissional.
Tem o objetivo de investigar como a vocalização de poemas em sala de aula, por meio de
performances poéticas, pode potencializar a apreensão dos sentidos do texto poético e auxiliar
na formação do leitor. Desta forma, o ato de ler poemas, refletir, analisar verso a verso, sentir
a poesia, a beleza estética, a sonoridade, a ironia e exposição desta leitura, possibilita
compreender como os elementos linguísticos e estilísticos favorecem a produção de sentido da
leitura feita pelo leitor. A indicação de leitura e apreciação de poemas dos livros Ou isso Ou
Aquilo, de Cecília Meireles, Poemas, Sonetos e Baladas, de Vinícius de Moraes e Cada Coisa
do autor Eucanaã Ferraz.
A pesquisa irá resguardar o sigilo, ou seja, em nenhum momento você será
identificado (a) pela pesquisadora. Isso garante o seu anonimato e sua privacidade, pois
ninguém saberá que aquelas respostas são suas e ninguém além da pesquisadora terá
acesso aos vídeos, resguardando sua imagem. A pesquisa visa proporcionar benefícios
relacionados ao aprimoramento dos processos de ensino na educação básica por meio de
leitura de poesias e realização de performances poéticas na perspectiva de alcançar a
potencialização e a apreensão dos sentidos do texto poético bem como e a formação do
leitor no contexto escolar. Ao participar da pesquisa você estará contribuindo para a
construção da interdisciplinaridade e melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem. Caso
você se sinta desconfortável, por algum motivo que lhe cause constrangimento, você poderá
recusar-se a participar da entrevista. Você também tem o direito de pleitear indenização, por
141
Eu, _ ____,
conforme abaixo assinado concordo em participar do estudo intitulado Leitura de poesia e de
canção: lúdico e musicalidade na formação do leitor em sala de aula. Destaco que minha
participação nesta pesquisa é de caráter voluntário e meu responsável também está de acordo com
minha participação. Fui devidamente informado(a) pela pesquisadora responsável, Jaildes
Amanda Gonçalves de Deus, sobre a pesquisa, os procedimentos e métodos nela envolvidos,
assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação no estudo. Estou
ciente de que a qualquer momento poderei solicitar novas informações. Foi-me garantido que
posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.
Declaro, portanto, que concordo com a minha participação no projeto acima descrito.
Eu, __________________________________________________________________,
inscrito (a) sob o abaixo assinado, concordo em participar do estudo “Isto e Aquilo: Poesia,
Performance Oral e Formação do Leitor em Sala de Aula”. Destaco que minha participação
nesta pesquisa é de caráter voluntário. Fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) pela
pesquisadora responsável Jaildes Amanda Gonçalves de Deus sobre a pesquisa, os
procedimentos e métodos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios
decorrentes de minha participação no estudo. Estou ciente de que a aceitação desta participação
me isenta de todo e qualquer gasto financeiro, e que não há remuneração aos participantes da
pesquisa e/ou responsáveis. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer
momento, sem que isto leve a qualquer penalidade e que tenho a possibilidade de não responder
as perguntas se me causarem constrangimento. Declaro, portanto, que concordo em participar
do projeto de pesquisa acima descrito.
______________________________________________________________
Assinatura por extenso do (a) participante
__________________________________________________________________
Eu, __________________________________________________________________,
inscrito (a) sob o abaixo assinado, concordo em participar do estudo “Isto e Aquilo: Poesia,
Performance Oral e Formação do Leitor em Sala de Aula”. Destaco que minha participação
nesta pesquisa é de caráter voluntário. Fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) pela
pesquisadora responsável Jaildes Amanda Gonçalves de Deus sobre a pesquisa, os
procedimentos e métodos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios
decorrentes de minha participação no estudo. Estou ciente de que a aceitação desta participação
me isenta de todo e qualquer gasto financeiro, e que não há remuneração aos participantes da
pesquisa e/ou responsáveis. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer
momento, sem que isto leve a qualquer penalidade e que tenho a possibilidade de não responder
as perguntas se me causarem constrangimento. Declaro, portanto, que concordo em participar
do projeto de pesquisa acima descrito.
Goiânia,____ de _________________ de 2019.
______________________________________________________________
Assinatura por extenso do (a) participante
__________________________________________________________________
APÊNDICE D
Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), da pesquisa "Isso e
Aquilo: Poesias, Performance Oral e Formação do Leitor em Sala de Aula”. A
“possibilidade de desenvolver um estudo na Rede Estadual de Ensino de Goiânia-GO”.
Meu nome é JAILDES AMANDA GONÇALVES DE DEUS, sou a pesquisadora
responsável por essa pesquisa. Abaixo vou lhe dar alguns esclarecimentos sobre a
pesquisa.
Se você quiser participar vai ser muito legal , pois pode ajudar a pensar nas
questões relacionadas às memórias e formação de leitores.
Você não vai receber nenhum dinheiro para participar dessa pesquisa.
Se você quiser participar da pesquisa, mas tiver qualquer dúvida pode ligar para a
pesquisadora (62) a cobrar no telefone (62) 99124 - 3316.
Se tiver dúvidas sobre seus direitos você pode ligar no Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal de Goiás, pelo telefone (62) 3521-1215.
146
Nessa pesquisa ninguém vai ouvir a sua voz, ninguém vai saber o seu nome
e ninguém vai ver sua foto ou imagem.
Se você achar que a pesquisa não foi legal, que alguém não respeitou o seu direito, você
pode pedir indenização e isso está garantido em lei.
1.2 Assentimento da Participação na Pesquisa:
Eu, _____________________________________________________________
Eu entendi tudo o que vai acontecer na pesquisa, às coisas boas e ruins que vão acontecer
se eu participar.
Sim ( ) Não ( )
Eu entendi que posso desistir de participar da pesquisa em qualquer momento e que não
vou sofrer qualquer castigo por isso.
Sim ( ) Não ( )
_______________________________________________
Assinatura por extenso do (a) participante
Registro de nascimento:
___________________________________________________________
Pesquisadora responsável
Programa de Pós-Graduação em Ensino em Educação Básica. Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à ducação
Básica. Universidade Federal de Goiás. Campus II – Cx P. 131, Bairro Samambaia, Goiânia, Goiás. CEP.
74001-970. Fone: (62) 3521-1063. Email institucional: reitoria@reitoria.ufg.br.
147
APÊNDICE E
APÊNDICE F
APÊNDICE G
Roteiro:
1. Concepções sobre poema e poesia, performance oral, autores que serão abordados;
2. Percepção sobre a organização por meio de projetos;
3. Adesão aos projetos integradores (se já participou);
4. Compreensão sobre a importância da leitura e literatura para formação de leitores;
5. Entendimento da importância das práticas que promovam vivências de interpretação da
poesia trabalhada no processo ensino-aprendizagem;
6. Percepção sobre o papel do professor, do aluno, da comunidade e do conhecimento na
proposta da formação do leitor de literário;
7. Identificação dos principais desafios (insuficiências) na prática para construção do leitor
crítico e participativo para formação do indivíduo leitor.
8. Sugestões de melhorias;
APÊNDICE H
Roteiro:
ANEXO A
153
154
155