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BLUMENAU/SC
2022
LINARA MAFESSOLLI XAVIÉR FURLAN
BLUMENAU/SC
2022
LINARA MAFESSOLLI XAVIÉR FURLAN
Esta dissertação tem como tema a ocorrência dos letramentos críticos em aulas de língua
inglesa. Este tema se manifesta com a análise de artigos de alto impacto que apresentam
em seu conteúdo desafios enfrentados por professores da Educação Básica, bem como
processos de ensino e de aprendizagem de professores com a língua inglesa. A pesquisa
se integra à Linha de pesquisa Linguagens, Arte e Educação, do Programa de Pós-
Graduação em Educação/FURB e ao grupo de pesquisa (CNPQ) Linguagens e
Letramentos na Educação. O objetivo geral do presente trabalho é compreender práticas
de letramentos em língua inglesa, a partir de produções científicas, em contextos
educativos, com apoio de perspectiva dos letramentos críticos, em torno do ensino de
língua inglesa na Educação Básica. Este objetivo é acompanhado pelos seguintes
objetivos específicos: a) analisar manifestações dos letramentos críticos em artigos
científicos de alto impacto e b) compreender quais os principais desafios de professores
de língua inglesa na Educação Básica sob enfoque dos letramentos críticos. A escolha
pelo estudo sobre os letramentos críticos é derivada da necessidade de compreender como
este letramento é encaminhado e quais os possíveis desafios que os professores encontram
durante os processos de ensino e de aprendizagem. Dessa maneira, define-se como
pergunta norteadora para este trabalho: quais desafios professores de Educação Básica
encontram durante o percurso educacional, no encaminhamento de práticas de
letramentos críticos? A metodologia utilizada para a obtenção de dados é de caráter
bibliográfico, com abordagem qualitativa, pois mapeia artigos científicos de alto impacto
publicados em bases de dados, em específico Scielo e Web of Science, publicados nos
últimos dez anos, em diferentes áreas do conhecimento. Quanto ao aporte teórico
utilizado para fundamentar esta pesquisa, recorreu-se aos Novos Estudos dos Letramentos
(LEA; STREET, 2006), os quais compreendem os letramentos como práticas flexíveis de
oralidade, escrita e leitura, à perspectiva sobre os letramentos críticos (MONTE MOR,
2013), às interpretações sobre a perspectiva crítica no processo de ensino e de
aprendizagem (FREIRE, 1989), e ao ensino de língua inglesa (OKAZAKI, 2005). Além
disso, a análise de dados tem como base os estudos de Cervetti, Perdales e Damico (2001)
que organizam os letramentos críticos em três importantes vertentes: letramentos críticos,
professor crítico e leitura crítica, explicando como podem ser encontrados com base em
diferentes estudos. Os resultados indicam que os letramentos críticos não são
interpretados apenas de uma única maneira, tendo como norteador o contexto social dos
alunos e quais práticas são mais bem desenvolvidas pelo professor em cada nível de
ensino. Com base no segundo capítulo de análise, os resultados encontrados apontam para
três desafios enfrentados pelos professores: a) planejamento: do livro didático ao nível de
proficiência; b) uso dos letramentos críticos e leitura crítica em sala de aula; e c) interação
professor e aluno. A partir dos resultados obtidos é possível concluir que, com base na
ocorrência dos letramentos críticos, os professores se deparam com certos desafios ao
longo do processo de ensino e aprendizagem, necessitando de suporte em sua formação
continuada, que possa indicar reestruturações em sua organização de planejamento e
encaminhamento de práticas de letramentos com língua inglesa.
This master’s thesis has as its theme the occurrence of critical literacy in English language
classes. This theme manifests itself with the analysis of high impact articles that present
in their content challenges faced by Basic Education teachers, as well as teaching and
learning processes of teachers with the English language. The research study is part of
the Linguagens, Arte e Educação line of research, of the Graduate Program in Education
of the Universidade Regional de Blumenau (FURB) and the research group (CNPQ)
Linguagens e Letramentos na Educação. The main aim of this study is to understand
literacy practices in English, based on scientific productions, in educational contexts, with
the support of the critical literacy perspective about English language teaching in Basic
Education. This objective is accompanied by the following specific objectives: a) to
analyze manifestations of critical literacies in high-impact scientific articles and b) to
understand the main challenges of English language teachers in Basic Education from a
critical literacy perspective. The choice of studying critical literacy is derived from the
need to understand how this type of literacy is addressed and the possible challenges that
teachers encounter during the teaching and learning processes. Therefore, the following
guiding question was set for this study: what challenges do Basic Education teachers
encounter during their educational journey, when addressing critical literacy practices?
The method, of qualitative nature, involves bibliographical analysis, as it maps high-
impact scientific articles published in databases, specifically Scielo and Web of Science,
published in the last ten years, in different areas of knowledge. The theoretical perspective
used to support this research study consists of the following theories and authors: the New
Literacies Studies (LEA; STREET, 2006), which consider literacies as flexible practices
of orality, writing and reading, the perspective on critical literacies (MONTE MOR,
2013), the interpretations of the critical perspective in the teaching and learning process
(FREIRE, 1989), and the English language teaching (OKAZAKI, 2005). In addition, data
analysis is based on studies by Cervetti, Perdales and Damico (2001), that organize
critical literacies into three important approaches: critical literacies, critical teacher, and
critical reading, explaining how they can be found based on different studies. The results
indicate that critical literacies are not interpreted in only one way but are guided by the
students’ social context and the practices that will be best developed by the teacher at
each level of education. Furthermore, based on the second chapter of analysis, the results
indicate three challenges faced by teachers: a) planning: from the textbook to the level of
proficiency; b) the use of critical literacies and critical reading in the classroom; and c)
teacher-student interaction. From the results obtained, it is possible to conclude that,
based on the occurrence of critical literacies, teachers are faced with certain challenges
throughout the teaching and learning process, requiring support in their continuing
education, in the direction of restructuring their way of organizing their lesson plans and
of addressing literacy practices in English.
Keywords: critical literacies; critical reading; critical teacher; english language classes;
basic education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
1
Epígrafe compartilha um dos pensamentos de Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido por
Mahatma Ghandi (1869-1948), durante sua vida religiosa. Não há uma obra datada para esta epígrafe.
2
O título de cada capítulo desta dissertação apresenta uma frase de estudiosos que se relacionam com o
assunto que será tratado em cada capítulo.
16
3
O termo “letramentos críticos” é utilizado nesta dissertação no plural, pois entende-se que não há uma
única forma de compreender este termo, havendo diferentes interpretações, como será observado ao longo
das análises. Ao traduzir as publicações internacionais, observou-se que o termo é utilizado no singular,
porém, realizo uma unificação dos termos, já que trabalho com este no plural.
18
do British Council podem dialogar, de modo mais imediato, com os anos anteriores à data
da pesquisa, conectando-se com a pandemia de COVID-19, a qual pode ser considerada
um dos fatores que auxiliou nas porcentagens apresentadas pelo estudo citado no
parágrafo acima. A pandemia impossibilitou muitos alunos de assistirem aulas, mesmo
de forma online, conseguindo realizar suas atividades apenas de forma impressa, deste
modo, iam em determinados períodos à escola e recebiam as atividades de modo
impresso, devolvendo-as assim que retornassem no próximo período. Ainda, há a
necessidade de romper com o ensino focado em estruturas e traduções, visualizando a
importância de um ensino pautado nos interesses dos estudantes em sala de aula e para
além dela nos enfrentamentos de desafios na sociedade contemporânea, levando em
consideração suas dificuldades de aprendizagem.
Ao ter em vista motivos até aqui citados, estabeleço como objetivo geral:
compreender práticas de letramentos em língua inglesa, a partir de produção científica da
área, em contextos educativos com apoio de perspectivas dos letramentos críticos em
torno do ensino em Educação Básica. Este objetivo é conduzido pelos seguintes objetivos
específicos, a) analisar manifestações dos letramentos críticos em artigos científicos de
alto impacto; e b) compreender os principais desafios de professores de Língua Inglesa
na Educação Básica sob enfoque dos letramentos críticos4.
Diante dos muitos questionamentos referentes à pesquisa aqui citada, ao levar em
consideração o processo de ensino e aprendizagem em língua inglesa, sob a perspectiva
dos letramentos críticos, a pergunta norteadora que orienta o trabalho é: quais desafios
professores de Educação Básica encontram durante o percurso educacional, no
encaminhamento de práticas de letramentos?
A metodologia utilizada para a obtenção de dados é de caráter bibliográfico com
abordagem qualitativa, já que se mapeiam artigos científicos presentes em bases de dados
reconhecidas e valorizadas no meio acadêmico, que trabalham com os letramentos
críticos. Godoy (1995, p. 21) explica que na pesquisa de abordagem qualitativa “o
pesquisador vai a campo buscando ‘captar’ o fenômeno em estudo a partir da perspectiva
das pessoas nela envolvidas”, ou seja, não ocorre a obtenção de um número específico de
percentuais para se analisar, mas são analisados os fenômenos presentes em determinados
4
Ao analisar as produções, não foi possível identificar as formações (iniciais e continuadas) dos professores
participantes das pesquisas, desta maneira, não se pode considerar sua formação e sim, somente as
atividades que eles desenvolvem em sala de aula, não podendo julgar o emprego dos letramentos críticos
nas aulas destes professores.
19
contextos, como é o caso da minha pesquisa, em que serão analisadas, com base nos
letramentos críticos, o processo de ensino e aprendizagem das aulas dos professores de
língua inglesa. Marconi e Lakatos (2011, p. 43), explicam que a pesquisa do tipo
bibliográfica “trata do levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita”, assim, estabelecendo uma
conexão com tudo que já tem sido publicado e escrito sobre a temática desta pesquisa.
Em adição, a escolha do objeto de pesquisa – análise e discussão do emprego dos
letramentos críticos em aulas de Língua Inglesa – acontece devido à necessidade de
buscar entender como este letramento é empregado nesta perspectiva e de que forma
poderão ser propostos princípios e práticas de letramentos que auxiliem os professores no
trabalho de ensino de língua inglesa. Ao levar em consideração o objeto de pesquisa
apresentado, encontraram-se trabalhos desenvolvidos sobre o tema de letramentos
críticos, porém, com diferentes objetos de estudo. Com base no estudo dos trabalhos, foi
possível analisar a necessidade de desenvolvimento do presente objeto de estudo nesta
dissertação.
Na busca de trabalhos já realizados sobre o tema, a partir de palavras-chave como
letramentos, letramentos críticos em língua inglesa e atividades de língua inglesa, na
plataforma da Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)5, pode-se observar
a publicação de trabalhos recentes desenvolvidos na área dos letramentos críticos em
língua inglesa. Evidencio, na sequência, aqueles que conversam com minha pesquisa.
Na dissertação intitulada O letramento crítico no ensino de língua inglesa:
identidades, práticas e percepções na formação do aluno-cidadão6 (2014), a
pesquisadora Érika Amâncio Caetano tem como objeto de estudo “uma investigação
sobre as possibilidades e limitações de se promover os letramentos críticos nas aulas de
língua estrangeira em uma escola de ensino médio” (CAETANO, 2014, p. 15). A autora
se questiona de que forma se dá a promoção dos letramentos críticos em língua inglesa e
quais são os papeis atribuídos aos educadores e aprendizes.
Além desse trabalho, a autora citada acima apresenta sua tese sobre Letramentos
críticos e o uso da língua alvo no ensino de língua inglesa: um olhar auto etnográfico7,
tese defendida em 2017. O estudo teve por objetivo “observar, analisar e compreender
5
Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/. Acesso em: 02 de maio de 2021.
6
Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
7
Tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
20
8
Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal
Fluminense (UFF).
9
Beyond the lines: Além das linhas (tradução minha).
21
plataformas como Scielo e Web of Science. Pode-se notar, com base nos últimos anos,
que ocorreu grande crescimento no desenvolvimento de trabalhos e artigos sobre os
letramentos críticos em Língua Inglesa. Desta forma, para a obtenção de dados, foram
levadas em consideração as produções realizadas no período compreendido entre 2011 e
2021. Com base nos critérios apresentados, foram realizados dois filtros: o primeiro
separou os artigos que discorriam sobre letramentos críticos em língua inglesa dos
demais, já o segundo aconteceu com o intuito de separar os artigos utilizados para a
análise. Além disso, foram selecionados vinte artigos entre os anos citados que abordam
os letramentos críticos em língua inglesa.
Para análise das produções selecionadas, tomou-se como base o conceito de
letramentos críticos que envolvem uma análise crítica e reflexiva sobre assuntos e práticas
pedagógicas utilizadas pelos pesquisadores Cervetti, Perdales e Damico (2001). Por se
tratar do ensino e aprendizagem em outro idioma, surge a necessidade de aprimoramento
no que diz respeito ao ensino de língua inglesa (LEFFA, 2016, OKAZAKI, 2005).
Com base na introdução do tema apresentado, o trabalho divide-se em
fundamentação teórica “A teoria sem a prática de nada vale, a prática sem a teoria é cega”
- Lênin: visão teórica sobre os estudos dos letramentos, com conceitos e estudos que
solidificam esta dissertação; metodologia da pesquisa intitulada “Muita metodologia pode
engessar o processo, mas isso só acontece quando não existe um método” – Fagner
Gouveia: procedimentos metodológicos. A análise dos dados está dividida em dois
capítulos: 1º capítulo referente ao uso dos letramentos críticos com o título “Observações
seguidas de análises criteriosas nos são necessárias diariamente, ainda que sob pequeninas
coisas ou fatos” – Marco Masini: análise de dados e o 2º capítulo com observações sobre
o emprego da língua inglesa em sala de aula, com o título “Feliz aquele que transfere o
que sabe e aprende o que ensina” – Cora Coralina: principais desafios encontrados. Por
fim, para concluir o trabalho, apresento “Arrisque mais do que a maioria; sempre mais do
que os outros” – Howard Schultz – Considerações finais, além das referências, referências
em análise: corpus da pesquisa e anexos.
22
10
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 1-672.
23
Segundo Dionísio (2007, p. 211), “o sentido plural localiza as práticas na vida das
pessoas, práticas que são realizadas com finalidades para atingir os seus fins específicos
de vida, e não um conjunto de competências que estão apenas armazenadas”. A autora
compreende que o conceito dos letramentos não é apenas uma forma de armazenamento
na cabeça dos indivíduos, atingindo um nível mais além com práticas na vida das pessoas,
entendendo os seus contextos e como estes se desenvolvem no seu processo de
aprendizagem.
Além disso, em relação ao estudo dos letramentos, é necessário pensar na
definição de práticas de letramentos e, também, de eventos de letramentos (BARTON;
HAMILTON, 2000). Em relação às práticas, é possível refletir sobre os diferentes
letramentos que se relacionam a diferentes domínios de vida (BARTON; HAMILTON,
2000). Assim, podem ser moldadas por normas sociais que controlam a distribuição de
textos, definindo quem pode ter acesso a eles.
Barton e Hamilton (2000) compreendem que as práticas de letramentos se dividem
em dois mundos: individuais e sociais, sendo mais bem compreendidos na relação com
grupos e comunidades, já definindo a sua existência. Ao mesmo tempo, há os eventos de
letramentos que são vistos como o uso concreto da linguagem escrita, como apresentado
abaixo:
[...] eventos de letramentos são atividades em que os letramentos
desempenham um. Geralmente existe um texto escrito, ou textos, centrais para
a atividade, podendo haver conversas em torno do texto. Eventos são episódios
observáveis que emergem das práticas e são por elas moldadas (BARTON;
HAMILTON, 2000, p. 8, tradução minha)11.
11
Versão original: “[…] literacy events are activities where literacy has a role. Usually there is a written
text, or texts, central to the activity and there may be talk around the text. Events are observable episodes
which arise from practice and are shaped by them” (BARTON; HAMILTON, 2000, p. 8).
24
12
Versão original: “The idea that literacy practices are constitutive of identities provides us with a different
basis – and I would argue the letter? more constructive – for understanding and comparing as literacy
practice in different cultures, alternatives to the emphasis on a simple dichotomy literacy/illiteracy”
(STREET, 2006, p. 470).
13
Versão original: “Literacy is best understood as a set of social practices, these can be inferred from events
which are mediated by written texts; There are different literacies associated with different domains of life;
Literacy practices are patterned by social institutions and power relationships, and some literacies are more
dominant, visible and influential than others; Literacy practices are purposeful and embedded in broader
social goals and cultural practices; Literacy is historically situated; Literacy practices change and new ones
are frequently acquired through processes of informal learning and sense making” (BARTON;
HAMILTON, 2000, p. 8).
25
14
Versão original: “Conceiving writing and literacy as social and cognitive skills” (LEA; STREET, 2014,
p. 479).
15
Versão original: “Assumes students need to be acculturated into the discourses and genres of particular
disciplines” (STREET, 2009, p. 545).
26
o contexto em que o material está sendo produzido, dentro e fora da academia e como
está ocorrendo o desenvolvimento da escrita acadêmico-científica dos alunos. Lillis
(2008) também explica que apenas o estudo do texto não é suficiente para a compreensão
do porquê de alguns modelos de escrita serem ou não aceitos em determinados contextos,
logo, é observada a importância de compreender o texto em todas as suas interpretações
e entender o contexto em que se está inserido.
A escrita acadêmico-científica está em um diálogo constante com a comunidade
discursiva e as relações de poder, além disso, o autor precisa assumir uma identidade de
acordo com as práticas em que está se inserindo.
Ao pensar em meu objeto de estudo, emprego dos letramentos críticos em aulas
de Língua Inglesa, reflito sobre a necessidade de entender como os letramentos críticos
estão apresentados e como será possível propor princípios que possam auxiliar o professor
no desenvolvimento do ensino e aprendizagem em sala de aula. Como já foi visto sobre
os letramentos acadêmicos, os alunos, ao chegarem à universidade, podem apresentar
dificuldades com a utilização dos gêneros textuais acadêmicos que lhes são solicitados.
Desta maneira, é importante refletir sobre como o aluno, ainda na Educação Básica, no
processo do seu desenvolvimento crítico e reflexivo, pode se preparar para os próximos
anos em que irá se encontrar em contexto universitário.
16
Disponível em: https://lattes.cnpq.br/. Acesso em: 03 de nov. 2022;
17
Disponível em:
https://dados.fflch.usp.br/programas/docente/5539890496701947?tipo=tudo&ano=&ano_ini=&ano_fim=
§ion=artigos. Acesso em: 03 de nov. 2022.
29
18
Versão original: “Critical literacy is the use of texts to analyze and transform relations of cultural, social
and political power. It is part of a longstanding normative educational project to address social, economic
and cultural injustice and inequality” (LUKE; DOOLEY, 2001, p. 1).
30
19
Versão original: “The term critical literacy refers to use of the technologies of print and other media of
communication to analyze, critique and transform the norms, rule systems and practices governing the
social fields of everyday life” (LUKE, 2004, p. 5).
20
Participante do grupo de pesquisa Transnational Network on Critical Literacies, ativo desde 2019. Tendo
como colega de pesquisa a Profª Drª Walkyria Monte Mor.
21
Teoria pós-colonial contempla as questões que se referem ao próprio país que compartilham o domínio
colonial como na relação com a problemática dos países que e anteriormente com seus colonizadores, criada
por Edward Said por volta do final de 1980 e início de 1990.
22
Teoria pós-estruturalista questiona a sociedade sobre diferentes formas de dominação que podem ter
como resultado a exclusão das minorias, classes menos representadas. Encontram-se muitos autores que
foram precursores do início deste estudo, como Michael Foucault e Jacques Derrida.
23
Linguística, teoria criada por Ferdinand de Saussure, em seu desenvolvimento busca separar a Língua
(langue) e Fala (parole). Segundo o autor, a língua pode ser compreendida como um sistema de valores que
se opõem uns aos outros.
31
24
Versão original: “the nature of literacy itself – particularly the ways that current conceptions of literacy
create and preserve certain social, economic, and political interests” (CERVETTI; PERDALES; DAMICO,
2001, p. 7).
25
Para Freire (1989), a ‘educação bancária’ é entendida como um sistema mecanizado de ensino. Os alunos
recebem as informações de seus professores, memorizam-nas e fazem uma repetição sempre que são
solicitados.
32
educacional “em que os homens, submetidos à dominação, lutem por sua emancipação”,
que a emancipação pode ser desenvolvida dentro da sala de aula com a criação de
contextos e práticas que façam os alunos pensarem de forma crítica e reflexiva,
compartilhando, de forma autônoma, suas concepções e aprendizados sobre o tema em
estudo.
A segunda contribuição apresentada por Freire (1989) se refere à impossibilidade
de pensar em educação sem pensar na questão de poder, deve-se observar a realidade
vivenciada pelos educandos e, também, pelos professores:
Na medida em que compreendemos a educação, de um lado, reproduzindo a
ideologia dominante, mas, de outro, proporcionando, independentemente da
intenção de quem tem o poder, a negação daquela ideologia pela confrontação
entre ela e a realidade (como de fato está sendo e não como o discurso oficial
diz que ela é), realidade vivida pelos educandos e pelos educadores,
percebemos a inviabilidade de uma educação neutra (FREIRE, 1989, p. 16).
A terceira e última contribuição apresentada pelo autor se refere ao ato da ler, pois
a leitura deve ir além do que simples decodificações de textos.
Os alunos precisam compreender e estabelecer o seu posicionamento sobre o que
eles entendem, concordam e discordam de forma crítica, refletindo sobre o que está sendo
lido e interpretado. Segundo Freire (1989, p. 13), “podemos ir mais longe e dizer que a
leitura da palavra não é apenas procedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma
de escrevê-lo”, a reescrita da leitura pode ser compreendida como a forma que o aluno
expressa seu entendimento, apresentando autonomia no desenvolvimento do seu próprio
posicionamento. Assim, a leitura de mundo desenvolvida como uma compreensão do seu
entorno, de normas, tradições sociais, costumes, entre outros.
Ao se embasar na contextualização dos letramentos críticos, é importante pensar
no momento de realização de uma leitura reflexiva e crítica, deste modo, Lankshear e
McLaren (1993) apresentam dois importantes conceitos: leitura tradicional e leitura
crítica. No que diz respeito à leitura tradicional, o aluno irá considerar o professor e os
textos que recebe como uma fonte exclusiva e confiável de informações, desta forma, no
momento de leitura não se realiza uma reflexão ou nem mesmo um questionamento sobre
o que está sendo lido e estudado. Em adição, a leitura tradicional enfatiza o conteúdo e a
legitimidade dos textos que se está trabalhando, ainda assim, entende como realidade
imutáveis questões relacionadas a valores, normas sociais e estereótipos (LANKSHEAR;
MCLAREN, 1993).
Os autores apresentam também o termo leitura crítica, que consiste na busca para
que os alunos desenvolvam seu senso crítico e reflexivo nos momentos de leitura, não
33
sendo somente uma leitura em que o aluno apenas lê o que lhe é dado e não reflete sobre
as informações apresentadas (CERVETTI; PERDALES; DAMICO, 2001). É muito
importante que os nossos alunos consigam refletir sobre o que estão lendo e se questionem
sobre o que está sendo apresentado.
Ao abordar os letramentos críticos, nós estamos preocupados com a extensão
em que as maneiras pelas quais as práticas e concepções sociais de leitura e
escrita permitem que os seres humanos compreendam e se engajem nas
políticas da vida cotidiana na busca de uma ordem social verdadeiramente
democrática... referindo-se aos letramentos críticos apenas onde esforços
conjuntos estão sendo feitos para compreender e praticar a leitura e a escrita
de maneiras que aprimorem a busca pela emancipação democrática
(LANKSHEAR; MCLAREN, 1993, p. 19, tradução minha)26.
Com base no trecho acima, é possível compreender que tanto a leitura quanto a
escrita criam momentos em que o sujeito começa a entender assuntos e situações que
permeiam a sociedade em que ele está inserido. As reflexões apresentadas se baseiam no
conceito de leitura crítica e começam a criar um novo olhar sobre esta interpretação,
observando as relações de poder presentes no texto que está sendo trabalhado
(LANKSHEAR; MCLAREN, 1993).
Por estar sendo apresentado sobre a perspectiva dos letramentos críticos, as
práticas de leitura, na mesma linha, seguem pressupostos teóricos semelhantes. Desta
forma, ambos os conceitos vêm sendo discutidos com o passar dos anos e se modificando
de acordo com as necessidades do contexto em que se inserem. Além disso, a significação
textual é reformulada com base na leitura crítica.
26
Versão original: “In addressing critical literacy we are concerned with the extent to which, and the ways
in which, actual and possible social practices and conceptions of reading and writing enable human subjects
to understand and engage the politics of daily life in the quest for a more truly democratic social
order…referring to critical literacy only where concerted efforts are being made to understand and practice
reading and writing in ways that enhance the quest for democratic emancipation” (LANKSHEAR;
MCLAREN, 1993, p. 19).
34
obrigatório em todas as escolas regulares no Brasil, decreto criado por D. João VI para a
criação de ensino de francês e inglês. Com o passar dos anos, o estudo deste idioma
passou a tomar proporções maiores, considerando a importância e espaço que foi
adquirindo. No início da década de 1970 começaram a aparecer traços do que se pode
chamar de “abordagem comunicativa”, surgindo no Brasil apenas a partir da década de
1990 (BROWN, 1994).
Leffa (2016, p. 35) explica que “a língua era analisada não como um conjunto de
frases, mas como um conjunto de eventos comunicativos”, assim, com a abordagem
comunicativa a língua inglesa passou seu enfoque para a comunicação na língua-alvo,
não somente no ensino de regras gramaticais. Desta forma, esta abordagem defende a
aprendizagem do aluno não focada somente em termos de conteúdo, levando em conta as
técnicas de ensino utilizadas em sala de aula (LEFFA, 2016).
Além disso, é possível compreender a dificuldade de conexão entre os alunos e o
idioma que está sendo ensinado, sendo que não se pode focar somente em passar o
conteúdo, deve haver uma conexão e comunicação direta com os alunos. Leffa (2011) em
sua obra Criação de bodes, carnavalização e cumplicidade: Considerações sobre o
fracasso da LE na escola pública aborda questões envolvendo o ensino de Língua
Estrangeira (LE) e as dificuldades encontradas neste processo, ressaltando a necessidade
de uma reformulação das práticas de ensino. Desta forma, Leffa (2011, p. 128) apresenta
o termo “discurso includente que exclui” fazendo referências às próprias políticas
públicas. Tendo como objetivo a introdução a língua estrangeira, mas a excluindo devido
aos enfrentamentos dos alunos em sala de aula.
Leffa (2011, p. 20) conclui que se o brasileiro passar a pensar que desconhece sua
própria língua, do seu próprio país, será preciso ensiná-lo “um conhecimento que ele já
tem, negando-lhe o acesso ao conhecimento que ele não tem”, observo que aquilo que ele
já possui passa a ser entendido como a língua nativa e aquele que ele não tem será,
respectivamente, a língua estrangeira.
É possível observar que toda essa descrença apresentada pelos brasileiros,
principalmente pelos alunos, deriva dos próprios ensinamentos repassados pela escola. O
estudante, ao ser motivado desta forma dentro do ambiente escolar, passa a pensar que a
língua estrangeira não tem importância para ele, principalmente se ele for de uma classe
social menos privilegiada. É compreensível que muitos, em seus contextos, pensam que
nunca irão ter uma oportunidade ou momento para fazer uso da língua inglesa. Essa
compreensão é vista principalmente nas redes sociais, quando os alunos se deparam com
35
o “padrão de vida ideal”, desta forma, voltam a pensar “Para que o pobre precisa estudar
inglês se nunca vai viajar para o exterior?” (LEFFA, 2011, p. 20).
Além disso, a desmotivação dos alunos em relação à aprendizagem de um novo
idioma acontece, muitas vezes, por causa do ensino baseado em aulas tradicionais de
repetição de exercícios, em que os alunos observam a não realização do avanço perante a
língua. Okazaki (2005, p. 6, tradução minha) 27 explica que “instituições e professores
fornecem indícios da forma como os alunos aprendem, até porque não existe uma única
forma de aprender”, isto é, cada estudante apresenta um diferente modo de aprendizagem,
cada qual com suas singularidades. Cabe ao professor a compreensão de diferentes
métodos de planejamento de suas aulas. Ademais, ao identificar as individualidades de
cada sujeito, é possível refletir sobre o seu desenvolvimento cognitivo, contudo, os alunos
passam por mudanças e suas formas de aprendizagem por alterações, sendo necessária
uma avaliação sempre que o professor achar necessário. (OKAZAKI, 2005).
Como explicado, é sentido a necessidade de desenvolvimento dos letramentos
críticos em nossos alunos e este processo acontece por intermédio dos professores, sendo
eles os participantes mais importantes nesse seguimento (MORRELL, 2005). É possível
compreender que a partir deles é que se dá início a todo esse crescimento. Okazaki (2005)
entende a língua inglesa como uma prática que tanto constrói como é construída no seu
momento de desenvolvimento.
[a] pedagogia crítica em inglês como segunda língua mantém que tanto o
aprendizado de línguas quanto o ensino de línguas são processos políticos, e
vê a língua não como simplesmente um meio de expressão ou comunicação,
mas como uma prática que constrói e é construída pelas formas com que
aprendizes de línguas se compreendem, compreendem seu ambiente social,
suas histórias e suas possibilidades para o futuro (OKAZAKI, 2005, p. 175,
tradução minha)28.
27
Versão original: “Institutions and teachers provide a clue to how students learn, even because there is no
single way to learn” (OKAZAKI, 2005, p. 6).
28
Versão original: “Critical pedagogy in ESL maintains that both language learning and language teaching
are political processes, and it sees language as not simply a means of expression or communication but as
a practice that constructs and is constructed by the ways language learners understand themselves, their
social surroundings, their histories, and their possibilities for the future” (OKAZAKI, 2005, p. 175).
36
errados sobre o assunto. Pennycook, em sua obra The cultural politics of English as an
international lamguage, publicada em 1994, propõe nove objetivos para a pedagogia
crítica, entre estes, é possível citar como principais: a) formar cidadãos políticos; b)
compreender as diferenças na formação das identidades de professores e alunos; c)
observar como essas diferenças estão sendo mantidas, d) procurar formas críticas de
conhecimento; e) trabalhar com a noção de voz que valoriza a natureza política do sujeito
(PENNYCOOK, 1994). Neste mesmo viés, pode-se citar a importância dos estudos de
Paulo Freire (1987) sobre a pedagogia crítica, que retrata a valorização da concepção do
papel do professor como conscientizador do ensino e, também, a valorização do contexto
em que o aluno está inserido.
Por outro lado, os letramentos críticos estão direcionados para o engajamento do
sujeito, neste caso o aluno, em atividades críticas e reflexivas que se concretizam por
meio da linguagem como prática social. Segundo Lankshear (1997), os letramentos
críticos se tornaram uma teoria concreta por meio de duas abordagens principais: a prática
social crítica e o engajamento crítico através da leitura e escrita por meio dos textos, como
explicado anteriormente nesta fundamentação teórica.
Okazaki (2005, p. 177, tradução minha)29 explica que “no entanto, vale a pena
considerar como a abordagem crítica compreende a aprendizagem como algo localmente
situado, pessoal, histórico-social e politicamente, portanto, permite o ensino de
abordagens adequadas a situações particulares”, a criticidade está em pontos cruciais do
desenvolvimento intelectual de nossos alunos, esse é o ponto que o professor, muitas
vezes, não percebe e acaba não abordando em suas aulas.
É necessário visualizar o campo crítico como um fluxo contínuo que abarca
preocupações culturais, sociais e pedagógicas, não se deixando limitar em algo já pronto
e acabado. Pennycook (1999, p. 341, tradução minha) 30 reflete sobre esta perspectiva e
estabelece sua visão sobre a abordagem crítica como “uma maneira de mudar as relações
pedagógicas para dar aos alunos mais controle curricular e maneiras de se envolver com
diferenças não apenas em termos de inclusões e problemáticas, mas também no nível de
29
Versão original “Yet it is worth considering how a critical approach understands learning as locally
situated, personal, socio-historical, and political, and thus allows for teaching approaches which are
appropriate to particular situations” (OKAZAKI, 2005, p. 177).
30
Versão original: “A way of shifting pedagogical relations to give students more curricular control, and
ways of engaging with difference not merely in terms of inclusivity and issues but also at the level of desire”
(PENNYCOOK, 1999, p. 341).
37
31
Versão original “on a critical approach to the larger context in which students find themselves”
(PENNYCOOK, 1999, p. 337).
38
Contudo, Hawkins (2011) também compartilha que as práticas citadas acabam não
sendo suficientes para uma transformação mais ampla do próprio professor e de seu aluno,
faz-se necessário pensar em diferentes processos de aprendizagem dentro do modo de
ensino do idioma.
Professores críticos podem trabalhar para alcançar uma compreensão explícita
sobre raça, classe, (in)capacidade e assim por diante – marcadores de diferença
– e seu impacto na equidade e na realização educacional, geralmente
resultando na inclusão e representação desses assuntos no currículo e em
materiais, e com foco na formação de professores. Esse trabalho precisa ser
feito em sala de aula, mas também para tornar a parede das salas de aula
permeáveis, uma vez que os alunos, professores, administradores, famílias
membros da comunidade e instituições colaborem para a mudança
(HAWKINS, 2011, p. 106, tradução minha)33.
32
Versão original: “While critical education certainly encompasses and even implies a need for work on
personal justice, it has come to mean teacher training practices that give explicit attention to issues of power
as they relate to race, culture and language, and the need to make such matters visible in practice”
(HAWKINS, 2011, p. 105).
33
Versão original: “Critical educators can work to achieve explicit understanding of race, class, (in)ability
and so on – makers of difference – and their impact on equity and educational achievement, often resulting
in the inclusion and representation of these issues in curriculum and materials, and focused on teacher
training. This work needs to be done in the classroom, but also to make the classroom wall permeable as
students, faculty, administrators, families, community members, and institutions collaborate for change”
(HAWKINS, 2011, p. 106).
39
atos políticos, percebe que “o letramento está ligado a relações de poder na sociedade, e
reconhece educadores como agentes políticos capazes de desenvolver habilidades que
oportunizem transformação acadêmica e mudança social”, observa-se que a autora
compreende a língua inglesa como sendo uma língua adicional, já que menciona como
um estudo político.
Ao falar das necessidades dos professores em relação às propostas de ensino, se
pode refletir sobre a sua dificuldade com a reformulação de seus planejamentos. Pode-se
pensar então que a formação que esse professor recebeu não englobou as necessidades
que ele poderia vir a encontrar em sala de aula e de que forma ele conseguiria solucioná-
las, criando, assim, um sistema de aprendizagem baseado em enfoques tradicionais de
ensino.
[...] essa é uma das tensões encontradas na formação de professores para a
justiça social quando professores estão focados em suas salas de aulas e escolas
conforme foram preparados, e necessitam (como medidas crescentes de
‘responsabilidade’) fazê-lo; eles podem ser persistentes a assumir maiores
responsabilidades, reconfigurando sua compreensão acerca de seus papeis e
trabalhos e vendo a eles mesmos e a seu trabalho como ‘político’ (HAWKINS,
2011, p. 106, tradução minha)34.
34
Versão original: “[...] this is one of the tensions encountered in teacher education for social justice when
teachers are focused on their classrooms and schools as they have been prepared, and need (as increasing
measures of ‘responsibility’) to do; they may be resistant to taking on greater responsibilities, reconfiguring
their understanding of their roles and jobs and seeing themselves and their work as political” (HAWKINS,
2011, p. 106).
40
35
GOUVEIA, Fagner. 1000 pensamentos inspiracionais para viver em equilíbrio. São Paulo: Editora Laços,
2012.
42
professor de Educação Básica trabalha com o idioma e quais práticas podem estar
funcionando ou não.
Portanto, estabeleço como base para minha pesquisa, ao levar em consideração o
processo de ensino e aprendizagem em língua inglesa, sob a perspectiva dos letramentos
críticos, a seguinte pergunta norteadora deste estudo: quais desafios professores de
Educação Básica encontram durante o percurso educacional, no encaminhamento de
práticas de letramentos?
A partir desta problemática, estabeleço como objetivo geral desta pesquisa:
compreender práticas de letramentos em língua inglesa, a partir de produção científica da
área, em contextos educativos com apoio de perspectivas dos letramentos críticos em
torno do ensino em Educação Básica. Este objetivo é conduzido pelos seguintes objetivos
específicos, a) analisar manifestações dos letramentos críticos em artigos científicos de
alto impacto; b) compreender quais os principais desafios de professores de língua inglesa
na Educação Básica sob enfoque dos letramentos críticos.
significado para os fenômenos”, a concepção vista pela autora estabelece uma relação
entre o pesquisador e o objeto que se pretende investigar.
Ao entender o amplo caminho que a pesquisa qualitativa pode percorrer, Denzin
e Lincoln (2006) constroem uma definição do que vem a ser este estudo em um modo
geral da compreensão:
A pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no
mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que
dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série
de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas,
as fotografias, as gravações e os lembretes. Neste nível, a pesquisa qualitativa
envolve uma abordagem naturalística, interpretativa [...] (DENZIN;
LINCOLN, 2006, p. 17).
De acordo com Flick (2009), o termo ‘campo’ pode ser compreendido como uma
determinada instituição, uma família, ou até um grupo de pessoas com uma biografia
especial. Entende-se que o presente estudo não analisa diretamente os sujeitos da
pesquisa, no sentido do desenvolvimento de entrevistas e questionários, mas são
abordadas as produções científicas acerca dos letramentos críticos em língua inglesa.
Por caracterizar-se como uma pesquisa qualitativa de perspectiva bibliográfica,
não há participação de sujeitos neste estudo, sendo assim, a pesquisa consiste na análise
de artigos retirados de base de dados e na proposta de princípios que possam auxiliar os
professores no seu processo de planejamento escolar. Desta forma, a próxima seção
apresenta os procedimentos realizados na coleta de dados para a pesquisa. As buscas
foram realizadas nas plataformas Scielo e Web of Science. Ao apresentar essas duas
grandes plataformas de busca, pode-se questionar o porquê da seleção desses em
específicos. Por que não realizar a escolha de outros bancos de dados? O que nos prende
a esses buscadores?
46
36
Os países identificados fazem parte dos periódicos da Plataforma Scielo: https://scielo.org/pt. Entre eles
estão: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha,
México, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela.
48
A seguir apresento os dados obtidos na plataforma Scielo, com filtro em três datas
específicas: no dia 02/10/2021 buscou-se por artigos que se relacionassem com as
palavras-chave definidas. Com base nas produções obtidas, no dia 12/10/2021 foram
filtrados aqueles que se conectavam com o objeto de estudo de minha pesquisa, seleção
realizada por meio da leitura dos resumos de cada uma das produções e quando necessário
a leitura da introdução dos trabalhos. No dia 01/11/2021 foi realizada a última filtragem
dos artigos, selecionando aqueles que apresentassem os letramentos críticos em aulas de
língua inglesa, em específico, em contextos da Educação Básica.
Antes de apresentar os dados obtidos, é interessante mencionar que se pesquisou
por artigos publicados nos últimos 10 anos (2011-2021) e que fossem desenvolvidos em
um contexto de Educação Básica, incluindo ensino técnico, pois se busca observar como
os professores, no contexto básico de ensino, fazem o uso dos letramentos críticos no
componente curricular de Língua Inglesa. Foram pesquisados artigos nos idiomas
português, inglês e espanhol. O Quadro 1 retrata o processo de seleção dos dados na
plataforma Scielo, fazendo uso dos filtros explicados anteriormente. Vale ressaltar que
nas plataformas Scielo e Web of Science não se utilizou a palavra-chave (expressão)
“aulas de língua inglesa”, pois, ao realizar a busca, somente foram encontrados artigos
relacionados a atividades comuns em língua inglesa e não explicavam sobre práticas
pedagógicas envolvendo os letramentos críticos com este idioma.
37
Como foram pesquisadas palavras-chave em Português e Inglês, o primeiro número apresentado se refere
à pesquisa pela palavra em português e o segundo número à pesquisa em inglês.
49
Figura 2 – Captura de tela referente a procura na base de dados Scielo com a palavra-
chave “letramentos”
letramentos críticos em língua inglesa, além de englobar práticas pedagógicas com o uso
das tecnologias digitais.
Como forma de descrever melhor os dados selecionados para análise, apresento o
título do artigo, juntamente com os autores, área de conhecimento, índice ou fator de
impacto e ano de publicação.
Quadro 3 – Artigos selecionados para análise de acordo com o índice de impacto e ano
38
Os artigos numerados de 1 até 10 referem-se a plataforma Scielo. Organizados pelo índice de impacto e
ano de publicação. Os artigos numerados de 11 até 20 correspondem a plataforma Web of Science. Levando
em consideração o fator de impacto para organização dos dados.
52
Qualis: A1
Reflexões teóricas sobre a aula de
Área do conhecimento:
língua estrangeira: organizando Cibele Cecilio de Faria Rozenfeld
Linguística Aplicada
materiais, analisando contextos, e Nelson Viana
Revista: DELTA
definindo percursos (7)
Ano de publicação: 2019
Qualis: A1
“But when I do critical literacy?” Área do conhecimento:
Perspectives for designing critical Linguística Aplicada
Érika Amâncio Caetano
literacy activities in EFL Revista: Revista Brasileira de
classrooms (8) Linguística Aplicada
Ano de publicação: 2020
Qualis: A1
Crítico “Pero no mucho”:
Área do conhecimento:
Problematizando a abordagem de
Patrícia Helena da Silva Costa e Linguística Aplicada
questões identitárias em uma
Raquel de Almeida Rodrigues Revista: Trabalhos em Linguística
unidade de um livro didático de
Aplicada
inglês para o ensino médio (9)
Ano de publicação: 2021
Qualis: A1
Re(thinking) critical language Área do conhecimento:
education with children and Claudia Jotto Kawachi Furlan e Linguística Aplicada
teacher education during (and Juliana Reichert Assunção Tonelli Revista: Revista Brasileira de
after) pandemic times (10) Linguística Aplicada
Ano de publicação: 2021
Developing information literacy Fator de impacto: 11.182
and critical thinking skills through Qualis: A1
domain knowledge learning in Área de conhecimento: Educação
Siu Cheng Kong
digital classrooms: An experience Revista: Computers & Education
of practicing flipped classroom Ano de publicação: 2014
strategy (11) Número de citações: 225
Fator de impacto: 5268
An online adaptive learning Área do conhecimento: Educação
Tzu-Yun Lin, Yu-Man Hung,
environment for critical-thinking- Revista: British Journal of
Jeffrey Hugh Gamble e Ya-Ting
infused English literacy Educational Technology
Carolyn Yang
instruction (12) Ano de pulicação: 2014
Número de citações: 42
Fator de impacto: 4694
Área de conhecimento:
Teaching critical, ethical and safe Linguística e Educação
use of ICT in pre-service teacher Sang-Keun Shin Revista: Language Learning &
education (13) Technology
Ano de publicação: 2015
Número de citações: 38
Fator de impacto: 3.899
Área do conhecimento: Educação
Critical literacy strategy and
Raden Aulia Utami Hidayat e Sri Revista: Jurnal Penelitian
challenges: Voice from a High
Setyarini Pendidikan
School EFL Teacher (14)
Ano de publicação: 2020
Número de citações: 36
Fator de impacto: 3538
Área do conhecimento: Educação
Resistance by L2 writers: The role
e Linguagem
of racial and language ideology in Dan J. Tannacito e Pei-Hsun
Revista: Journal of Second
imagined community and identity Emma Liu
Language Writing
investment (15)
Ano de publicação: 2014
Número de citações: 21
53
As referências dos artigos em análise estão presentes ao final desta dissertação por
meio do título “referências em análise: corpus da pesquisa”, após indicação das obras que
deram sustentação a este trabalho de mestrado.
A organização dos artigos apresentados no quadro acima aconteceu por meio do
índice de impacto das revistas classificadas pela Plataforma Sucupira no quadriênio de
2013-2016, também, por meio do ano de publicação dos artigos nos respectivos
periódicos e o número de citações referente a estas mesmas publicações.
Ademais, ao olhar para os artigos selecionados para a análise de dados, foi
necessário a realização de um processo de triagem dos excertos de cada artigo para
constituir o capítulo de análises. Deste modo, realizou-se a leitura de todos os artigos (1º
passo) e criou-se um fichamento, anotações particulares da pesquisadora, com os teóricos
utilizados pelos autores dos artigos (2º passo). A seguir, são selecionadas quais as
definições compartilhadas sobre os letramentos críticos dos quais as pesquisas são
baseadas (3º passo). Segue-se com a análise dos excertos e seleção dos quais apresentam
54
fundamentos teóricos que embasam a pesquisa (4º passo), selecionando aqueles que
apresentavam diferentes interpretações sobre os letramentos críticos. Cada passo da
pesquisa presente na Figura 4, apresenta os meses destinados para tal trabalho. Vale
lembrar que antes da filtragem dos artigos já havia sido discutido sobre os objetivos e
objeto de pesquisa, além da escrita da primeira versão da introdução e fundamentação
teórica. Abaixo, apresento a Figura 4 que representa visualmente o processo de escolha
dos excertos para a pesquisa.
Em meio a tantas informações e dados que nos chegam diariamente por meio de
novas pesquisas que estão sendo realizadas no âmbito científico, podemos compreender
que é nossa função analisar de forma criteriosa as produções que remetem a nossa área
de estudos/pesquisas, isto é, com o número expressivo de novos trabalhos, penso na
maneira como cada um dos estudos se diferenciará dos outros, destacando-se de forma
positiva ou negativa.
Os dados que analiso, a partir deste momento, foram resultado de uma busca
detalhada em diversos momentos da pesquisa nas plataformas Scielo e Web of Science,
selecionando para o corpus de análise, 20 artigos que se relacionam com o meu objeto de
pesquisa. Ao longo dessa primeira seção será possível observar as evidências dos
letramentos críticos por meio do encaminhamento de práticas com a linguagem no
processo de ensino e aprendizagem dos alunos, tomando como foco três pontos centrais
de observação: professor crítico, letramentos críticos e leituras críticas, presentes nos
estudos de Cervetti, Perdales e Damico (2001), analisando como os autores dos artigos
trabalham com estes conceitos e a afiliação dos autores citados com o tema.
Os enfoques defendidos por Cervetti, Perdales e Damico (2001) foram escolhidos
para fundamentar este capítulo de análise pela importância do seu estudo A tale of
differences: Comparing the traditions, perspectives, and educational goals of critical
reading and critical literacy, publicado em 2001 pela revista Reading Online. Este estudo
é representante da criação dos letramentos críticos e sua divisão em três pontos centrais,
sendo utilizados como base para minha compreensão como pesquisadora e professora
sobre esses termos.
Anteriormente, no capítulo metodológico, apresentei a organização dos artigos por
meio dos periódicos, ano e índice de impacto. Desta maneira, a análise seguirá a mesma
ordem dos artigos apresentados nos quadros 1 e 2. No que diz respeito ao termo “professor
crítico”, levando em consideração a teoria de Cervetti, Perdales e Damico (2001), estes
professores promovem um novo modelo de prática pedagógica, que se conectam com a
própria natureza dos letramentos, “particularmente, os modos pelos quais as concepções
56
39
Versão original: “Particularly the ways that current conceptions of literacy create and preserve certain
social, economic, and political interests” (CERVETTI; PARDALES; DAMICO, 2001, p. 8).
40
Versão original: “This aspect of critical social theory has influenced critical literacy’s focus on the
ideological assumptions that underwrite texts. Therefore, teachers of critical literacy investigate issues of
representation” (CERVETTI; PERDALES; DAMICO, 2001, p. 7).
57
sobre letramentos críticos, professor crítico e leitura crítica. Sendo assim, muitos dos
autores apresentam os mesmos teóricos para fundamentar suas produções ou com
compreensões semelhantes, assim, é pertinente apresentar somente os excertos que não
apresentam embasamento teórico semelhante ou, se apresentado, possuem interpretações
que se diferem em algum ponto.
A seguir apresento a análise dos artigos selecionados e, com isso, minhas
interpretações sobre os excertos e conexões com o estudo de Cervetti, Perdales e Damico
(2001). Tendo em vista a organização dos dados, os termos letramentos críticos, leitura
crítica e professor crítico dividem-se em três subseções, que se intitulam letramentos
críticos: diferentes olhares que permeiam a teoria, leitura crítica: o que se pode
interpretar com este processo? e professor crítico: interações nas práticas em sala de
aula.
As subseções foram desenvolvidas para que se possa visualizar melhor a análise
de cada um dos termos, assim, é uma forma de compartilhar as interpretações de forma
organizada. A seguir apresento a primeira subseção, intitulada letramentos críticos:
diferentes olhares que permeiam a teoria.
ARTIGO 1 – Excerto 1
This educational approach is generally known as critical literacy41. It is based on a
discursive view of the world, which attributes to language a fundamental role in the
process of understanding or interpreting our experience. (JORDÃO; FOGAÇA,
2012, p. 75, grifos meus) - [O artigo selecionado para análise encontra-se publicado na revista
DELTA: Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), com Qualis A1 em Linguística Aplicada].
ARTIGO 1 – Excerto 2
One of the most important tasks of critical educational practice is to make possible
the conditions in which the learners, in their interaction with one another and with their
teachers, engage in the experience of assuming themselves as social, historical,
thinking, communicating, transformative, creative persons (FREIRE, 1998, p. 45).
(JORDÃO; FOGAÇA, 2012, p. 74, grifos meus).
41
Ao longo da análise de dados, palavras que são fundamentais para nossa compreensão ou para
entendimento da teoria utilizada pelos autores dos artigos estão identificadas em negrito, tanto nos excertos
como no processo de análise.
59
como ele reflete sobre determinados assuntos, consegue organizar melhor os seus
planejamentos, a fim de enriquecer ainda mais as suas aulas.
No excerto 2 do mesmo artigo em análise, os autores apresentam a visão de Freire
(1998), ao se referirem às práticas educativas críticas. Compreendem que o educando,
em relação com seus professores e colegas, pode se conectar em pontos cruciais da
sociedade, sendo possível compartilhar os seus próprios conhecimentos já existentes e
como forma de engajamento em suas próprias experiências.
Refletindo sobre os estudos de Paulo Freire, apresentados em minha
fundamentação teórica e relacionando com os excertos selecionados, é evidenciado a
relevância de o professor poder trabalhar com os letramentos críticos conectando com as
experiências do próprio estudante, concepção em que o aluno não é visto como uma tabula
rasa (FREIRE, 2000). Freire (2000, p. 101) compreende que a educação bancária não
busca a conscientização dos seus educandos caracterizando-a como “é puro treino, é pura
transferência de conteúdo, é quase adestramento, é puro exercício de adaptação ao
mundo”, não apresentando um olhar sobre o que passa ou já passou na vida de seus
alunos. Os autores do Excerto 1 levam em consideração os apontamentos apresentados
acima e envolvem os letramentos críticos como sendo um posicionamento em relação à
linguagem.
Assim, o professor precisa fornecer ao estudante oportunidades para que ele possa
negociar e construir os seus significados, revisando sempre que possível suas suposições.
Dooley e Luke (2011) entendem que a criticidade está relacionada ao domínio da
compreensão do que e como as ações solicitadas pelo professor podem ser desenvolvidas.
Vale ressaltar que o artigo 1 compartilha as experiências com desenvolvimento de
materiais didáticos para um dos estados do Brasil, motivo pelo qual não faz o uso de
diversas teorias para exemplificar a definição dos letramentos críticos.
ARTIGO 2 – Excerto 3
Linguística Teórica e Aplicada da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com
Qualis A1 em Linguística Aplicada].
ARTIGO 2 – Excerto 4
42
Os autores do artigo 2 citam as teorias de Vygotsky (1934), Leontiev (1977) e Bakhtin (1953), desta
forma não será referenciado a obra destes autores, pois o que se analisa é o artigo em si e não os estudos
destes teóricos.
61
retrata sobre a contextualização dos letramentos críticos, não somente isto, mas entender
que o indivíduo é portador de algum conhecimento adquirido ao longo de suas
aprendizagens, e é muito importante o olhar sobre suas experiências.
Ao apresentar os apontamentos de Kleiman e Moraes (2001), Lessa e Liberali
(2012), em seu artigo, retomam a compreensão sobre a definição dos letramentos críticos
em somente dois momentos de seu texto, apresentando a importância do desenvolvimento
dos letramentos críticos nas escolas, por meio de práticas escolares, que possibilitem aos
alunos defender e refletir sobre suas ideias em sala de aula. Lessa e Liberali (2012) nos
excertos 3 e 4 compartilham, em específico sobre os letramentos críticos, poucos teóricos
para definir este conceito, mas aqueles que compartilham são de extrema importância
para a compreensão do leitor, como Cook Gumperz (1991), Kleiman e Moraes (2001) e
em relação à compreensão sobre os letramentos com os estudos de Freire (1990).
Nos excertos 3 e 4, identifico o quão necessários são os estudos de Paulo Freire
em relação ao emprego dos letramentos críticos. Freire (1990) destaca que os estudantes
se tornam sujeitos, com capacidade para transformar o mundo, desta forma, para
transformar o seu contexto social, a partir da compreensão e tomada de posicionamento
sobre seus enfrentamentos diários. O professor, como mediador, pode desenvolver e
coordenar práticas em que o aluno passe a ser um sujeito participante, na sala de aula, no
momento de diálogo, e na escola, com apoio do currículo de cultura. Segundo os
entendimentos de Freire (1990), a educação crítica é o exercício da prática de uma
responsabilidade política e social, assim, a comunicação entre o professor e o seu aluno
abre vertentes para uma comunicação responsável.
Além disso, Freire (1989) explica que não se pode pensar em educação sem pensar
nas relações de poder, sendo importante observar a realidade dos alunos para que se possa
entender e organizar os materiais para sua aprendizagem. No que diz respeito aos
letramentos críticos, faz-se necessário saber em que contexto social os alunos estão
inseridos.
Segundo Freire (1989, p. 13), “podemos ir mais longe e dizer que a leitura da
palavra não é apenas procedida pela leitura do mundo, mas por certa forma de escrevê-
lo”, ao falar de leitura não se refere diretamente ao processo de ler um texto, mas da
compreensão das informações que estão sendo apresentadas. “Leitura de mundo”, deste
modo, seria assimilar os assuntos que estão presentes no mundo.
62
ARTIGO 5 – Excerto 5
43
Níveis de proficiência de acordo com o QCER: Iniciação – A1, Elementar – A2, Limiar – B1, Vantagem
– B2, Autonomia – C1 e Maestria – C2. Fonte: Conselho da Europa 2020.
63
ARTIGO 6 – Excerto 6
44
Versão original: “Readers as active participant in the reading process and invite them to go beyond
passive acceptance of the message of the text in the question, and o examine or contest the power relations
that exist” (MCLAUGHLIN, DEVOOGD, 2004, p.14).
64
ARTIGO 14 – Excerto 7
Critical literacy act as one of the strategies to help develop students’ social awareness,
tolerances, and motivation to read and share their ideas (McLaughlin & DeVoogd,
2004) (HIDAYAT; GUSTINE; SETYARINI, 2020, p. 315, grifos meus). - [O artigo
selecionado para análise encontra-se publicado no Journal Penelitian Pendidikan, com Qualis A1 em
Educação].
Os letramentos críticos atuam como uma das estratégias para ajudar a desenvolver a
consciência social, tolerância e motivação dos alunos para ler e compartilhar suas ideias
(MCLAUGHLIN; DEVOOGD, 2004) (HIDAYAT; GUSTINE; SETYARINI, 2020,
p. 315, tradução minha, grifos meus).
ARTIGO 14 – Excerto 8
The study conducted by Ko (2013) showed that the implementation of critical literacy
in could transform the teacher’s teaching strategy from a traditional didactic classroom
to a critical dialogic approach or from banking pedagogy to empowering pedagogy
(FREIRE, 1987). (HIDAYAT; GUSTINE; SETYARINI, 2020, p. 316, grifos meus).
– [O artigo selecionado para análise encontra-se publicado no Journal Penelitian Pendidikan, com
Qualis A1 em Educação].
45
Versão original: “Critical literacy involves an understanding of the way ideology and textual practices
shape the representation of realities in texts” (CERVETTI, PERDALES e DAMICO, 2001, p. 19).
67
Figura 5 apenas aqueles que foram apresentados nos excertos em análise. Ao decorrer das
explicações até o momento, é possível identificar que os escritores compartilham de
diferentes visões sobre o mesmo assunto, letramentos críticos.
Figura 5 - Teóricos citados nos artigos analisados em relação aos letramentos críticos
46
Disponível em: https://blog.even3.com.br/tudo-sobre-o-qualis-capes/. Acesso em: 17 de nov. 2022.
47
Disponível em: https://www.abcd.usp.br/noticias/fator-de-impacto-revistas-2022-clarivate. Acesso em:
17 de nov. 2022.
69
Clarivate Reports. Além disso, outro ponto que chamou a atenção no momento de análise
dos dados é de que boa parte das produções retiradas da Web of Science é de autores do
Ocidente e do Oriente. Pode-se pensar que a justificativa para este resultado poderia ser
do uso dos letramentos críticos ter sido desenvolvido primeiramente no Ocidente e no
Oriente, porém, o processo não foi realizado desta forma. Monte Mor (2015) compartilha
as três gerações dos letramentos, representando em que período aconteceu o seu
surgimento e de que forma foi se atualizando, sendo a primeira geração dos letramentos
desenvolvida no Brasil.
Segundo Monte Mor (2015, p. 2, tradução minha), “se as teorias de Freire
tivessem inaugurado a primeira geração de um movimento em direção a uma nova visão
de letramentos no Brasil, as teorias debatidas cerca de vinte anos depois eram vistas como
pertencentes a uma segunda geração renovada”, neste momento entende-se como a
segunda geração dos letramentos. É possível observar que o Brasil iniciou seu contato
com os letramentos muito antes das outras partes do mundo, iniciando com os estudos de
Paulo Freire e tomando uma proporção ainda maior. Além disso, na terceira geração dos
letramentos, os modelos educacionais convencionais passaram a não ser mais suficientes,
embora adotados em muitos países ocidentais, não eram mais suficientes em contextos
brasileiros (MONTE MOR, 2015). Mesmo países do Ocidente e do Oriente terem suas
produções com maior impacto, não significa dizer que estes tiveram contato primeiro com
os letramentos críticos, mas que apresentam importantes produções na área, as quais são
significativas para o contexto educacional.
Com todas as definições apresentadas em relação aos letramentos críticos, segue-
se esta análise trabalhando com o termo critical reading. A leitura crítica trazida pelos
autores não retrata sobre o processo de ler um determinado assunto, mas no que diz
respeito à leitura sobre o que está em volta do estudante, compreendendo o contexto que
o cerca, como poderá ser observado na próxima subseção.
Cervetti, Perdales e Damico (2001) explicam que a leitura crítica envolve práticas
distintas que nem sempre são desenvolvidas sozinhas, sendo necessário o auxílio do
professor durante esse processo. Segundo os autores, “as práticas necessárias devem ser
ensinadas explicitamente (ou pelo menos ativamente promovidas pelos professores), essa
70
ARTIGO 17 – EXCERTO 9
Vaseghi, Gholami and Barjestech (2012, p. 406) explain that critical reading is
about thinking, that is, cogitating. Similarly, Bobkina and Stefanova (2016, p. 681)
expound that critical reading refers to the ability to interpret a text and make various
inferences about it, in a manner that can elicit different conclusions (RAUTENBACH;
CEKISO; OLIFANT, 2020, p. 4, grifos meus). - [O artigo selecionado para análise encontra-
se publicado na Revista Reading & Writing, com Qualis A1 em Práticas interdisciplinares].
Vaseghi, Gholami e Barjestech (2012, p. 406) explicam que a leitura crítica é pensar,
ou seja, cogitar. Da mesma forma, Bobkina e Stefanova (2016, p. 681) expõem que a
leitura crítica se refere à capacidade de interpretar um texto e fazer várias inferências
sobre ele, de modo que se possa extrair diferentes conclusões (RAUTENBACH;
CEKISO; OLIFANT, 2020, p. 4, tradução minha, grifos meus).
48
Versão original “The necessary skills must be taught explicitly (or at least actively promoted by teachers,
this training can begin in elementary school”. (CERVETTI, PERDALES e DAMICO, 2001, p. 3).
71
mas cogitar o que está sendo apresentado, refletir sobre as palavras e, também, sobre os
contextos, ideias que condizem com os estudos de Bobkina e Stefanova (2016, p. 681).
Bobkina e Stefanova (2016) visualizam a leitura crítica como a forma de
interpretar um texto, ou seja, ver as possíveis interpretações que a leitura pode gerar, não
apenas focar em somente uma compreensão do que foi lido.
Desta maneira, é possível relacionar estas interpretações com a visão de Cervetti,
Perdales e Damico (2001), teóricos utilizados para fundamentar esta análise,
compreendendo que a leitura crítica necessita do entendimento de vários contextos, para
que se possa ter uma interpretação mais ampla sobre as compreensões em relação ao texto
crítico e reflexivo. Vale lembrar que “leitura crítica” não é apenas o processo de ler algo
e sim levar em conta todo o processo que está em volta da situação.
Assim, os letramentos críticos não podem ser classificados somente como uma
leitura em que o aluno não pode pensar de formas mais reflexivas e em diferentes
contextos (CERVENTTI; PERDALES; DAMICO, 2001). É muito importante que os
nossos alunos consigam refletir sobre o que estão lendo e se questionem sobre o que está
sendo apresentado.
ARTIGO 17 – EXCERTO 10
Critical reading practices are of critical importance in school, because they allow the
learners to think, read and write critically about themselves, their situations and their
environment within the classroom space (Norris, Lucas & Prudhoe, 2012, p. 2)
(RAUTENBACH; CEKISO; OLIFANT, 2020, p. 2, grifos meus). - [O artigo selecionado
para análise encontra-se publicado na Revista Reading & Writing, com Qualis A1 em Práticas
interdisciplinares].
pode somente focar nos letramentos críticos neste quesito, e sim, levar em conta tudo que
está por trás do processo do desenvolvimento dos letramentos críticos na vida do aluno.
Ao apresentar os teóricos Norris, Lucas e Prudhloe (2012), é possível
compreender que os autores do artigo deixam clara a importância da leitura crítica.
Segundo eles, a leitura crítica é o pilar da estrutura dos alunos, sendo assim, ela é
responsável para que os alunos leiam e escrevam de forma crítica e reflexiva.
Segundo Monte Mor (2013, p. 3), os letramentos críticos são a “capacidade de
percepção crítica que cidadãos têm sobre a sociedade em que vivem, capacidade esta que
não se atrela aos altos níveis de escolarização”, esta prática visualiza a percepção crítica
como uma forma mais ampla de desenvolvimento do modo crítico e reflexivo dos alunos,
não tomando foco somente em um único entendimento.
Rautenbach, Cekiso e Olifant (2020) entendem que todo este processo de
aprendizagem da leitura crítica auxilia no desenvolvimento de situações e ambientes de
seus alunos dentro da sala de aula. Contudo, é necessário desenvolver o senso crítico e
reflexivo com o contexto em que este aluno está inserido fora da sala de aula também.
Cervetti, Perdales e Damico (2001), autores em que este capítulo se baseia, compreendem
que o processo dos letramentos críticos não se trata somente do ato de leitura, mas muitos
outros pontos, como a interpretação dos fatos, que precisam ser desenvolvidos com os
alunos.
No excerto 11 do mesmo artigo, apresentado abaixo, compartilha-se a concepção
de leitura crítica (critical reading) por meio de McLaughlin e DeVoogd (2004), além de
Molden (2007).
ARTIGO 17 – EXCERTO 11
Researchers such as McLaughlin and DeVoogd (2004) and Molden (2007) assert that
critical reading, a constituent of critical literacy, thus involves asking questions to
analyse the terminology, concepts and purpose of the text, identifying elements of
argument introduced by the author, evaluating the evidence and credibility of the
content of the text and positioning the reader in relation to the text (RAUTENBACH;
CEKISO; OLIFANT, 2020, p. 3, grifos meus). – [O artigo selecionado para análise encontra-
se publicado na Revista Reading & Writing, com Qualis Q1 em Práticas interdisciplinares].
Anteriormente com os excertos 09 e 10, foi possível observar que a leitura crítica
é compreendida somente como o processo de leitura, evidenciado como ponto principal
dos letramentos críticos e não observando todo o contexto que pode estar por trás do
processo de leitura desses alunos. Para os autores focalizados nos excertos, as
interpretações de McLaughlin e DeVoogd (2004), já citados anteriormente nesta análise,
e as interpretações de Molden (2007) sobre o mesmo assunto explicam que a leitura
precisa estar relacionada com o seu leitor, definindo uma relação com o próprio texto.
De acordo com os autores citados no excerto, a leitura é percebida como parte
“constituinte” dos letramentos críticos. Esta concepção é vista como forma voltada
diretamente para a interpretação e compreensão de um texto. Lankshear e McLaren (1993,
p. 19) explicam que ao abordar os letramentos críticos e suas práticas “estamos
preocupados com a extensão e as formas de quais, práticas sociais reais e possíveis
concepções de leitura e escrita permitem aos sujeitos compreender e engajar a política de
vida cotidiana na busca de uma ordem social”. É possível compreender que os letramentos
críticos são uma extensão de diferentes práticas que possam envolver a escrita e a leitura,
sendo assim, englobam diversas formas de interpretação com a leitura e a escrita.
Além disso, por se tratar de diferentes entendimentos, a organização do artigo,
principalmente nos momentos iniciais da leitura, apresenta o que será encontrado no
decorrer da produção, já preparando o leitor para as possíveis concepções que serão
compartilhadas e explicadas.
ARTIGO 16 – EXCERTO 12
The pedagogy for critical reading requires delicate scaffolding in which the teacher
sets up a challenging environment which encourages students to participate in making
meaning independently, using texts that provoke engagement, and tasks which
prompt the students to take responsibility rather than relying on their teacher
(WILSON, 2017, p. 258, grifos meus). – [O artigo selecionado para análise encontra-se
publicado na Revista Thinking Skills and Creativity, com Qualis A1 em Práticas interdisciplinares].
ARTIGO 13 – EXCERTO 13
When a teacher selects materials to use in class, the materials should undergo a critical
review process. Such review skills should also be fostered in students (Warschauer,
Shetzer, & Meloni, 2000). Although it is important for students to be equipped with
critical reading skills for conventional printed texts (Graff, 1989; Wallace, 1992,
2003), these skills become even more important when reading content on websites or
SNSs (social network services) (Jonassen, 2000; Kamil & Chou, 2009; Luke, 2002)
(SHIN, 2015, p. 183, grifos meus). – [O artigo selecionado para análise encontra-se publicado
na Revista Language Learning & Technology, com Qualis A1 em Linguística e Educação].
Quando um professor seleciona materiais para usar em aula, os materiais devem passar
por um processo de revisão crítica. Tais habilidades de revisão também devem ser
fomentadas nos alunos (WARSCHAUER, SHETZER e MELONI, 2000). Embora
seja importante que os alunos estejam munidos de habilidades de leitura crítica para
textos impressos convencionais (GRAFF, 1989; WALLACE, 1992, 2003), essas
habilidades tornam-se ainda mais importantes na leitura de conteúdo em sites ou SRSs
(serviços de redes sociais) (JONASSEN, 2000; KAMIL; CHOU, 2009; LUKE,
2002) (SHIN, 2015, p. 183, tradução minha, grifos meus).
75
Ao longo desta análise tem-se observado que grande parte das publicações
internacionais tendem a entender os letramentos críticos como voltado diretamente para
as práticas de leitura. Deste modo, é plausível a compreensão de que os autores de origens
estrangeiras visualizam o desenvolvimento dos letramentos críticos pautado na leitura
crítica.
Além disso, no excerto 13, do artigo 13, o autor apresenta alguns estudiosos que
trabalham com a temática dos letramentos críticos. Ao compartilhar os estudos de
Warschauer, Shetzer e Meloni (2000), estes entendem que o professor necessita revisar
o que vai passar para os seus alunos, levar em consideração as necessidades de sua turma
e, desta forma, refletir criticamente sobre as atividades que está organizando. Ivanic
(1998, p. 67) entende que “práticas de letramentos de todos os tipos são tanto construídas
como constroem a identidade das pessoas”, assim, o professor precisa pensar em como
suas práticas se conectam com a realidade de seus alunos e como elas trabalham com os
objetivos desenvolvidos por eles.
Vale ressaltar que a compreensão de leitura crítica apresentada no artigo 13 se
relaciona com o processo de revisão crítica, não sendo apenas a leitura de um texto, mas
revisar todo o processo de escrita, possíveis interpretações, qual o contexto em que se está
sendo desenvolvido, sendo pontos cruciais no processo da leitura crítica.
No excerto 13, são apresentados os teóricos Graff (1989) e Wallace (1992, 2003)
com estudos sobre leitura crítica em diferentes contextos, isto é, ir além do que os alunos
já estão acostumados diariamente. De acordo com Cervetti, Perdales e Damico (2001),
teóricos que fundamentam este capítulo de análise, as práticas que estão envolvidas no
processo de aprendizagem dos alunos, mais especificamente com os letramentos críticos,
não se desenvolvem tão facilmente quanto pode parecer, desta forma, o professor sente a
necessidade de trabalhar explicitamente com seus alunos de forma ativa para que possa
ser implantada a leitura crítica em suas vidas.
Por se tratar de teóricos que não são vistos com tanta frequência em produções
brasileiras, ao analisar a introdução do artigo 13, observa-se que não é apresentado
nenhum indício de quais estudos utilizarão em sua pesquisa para solidificar suas
interpretações, porém, ao tratar da revisão de literatura, ou como estamos acostumados a
ver ‘fundamentação teórica’, o autor do artigo compartilha brevemente as compreensões
sobre esses autores.
76
ARTIGO 6 – EXCERTO 14
Now why cannot we make readers? Because unfortunately many times we teachers
are not readers, let alone critical readers. [...] As for political issues, problems are
intertwined with those of reading, because we teachers often do not know much about
our unions or how our pensions and career plans will remain (TAGATA, 2018, p. 273,
grifos meus). – [O artigo selecionado para análise encontra-se publicado na Revista Brasileira de
Linguística Aplicada, com Qualis A1 em Linguística Aplicada].
Agora, por que não podemos criar/formar leitores? Porque infelizmente muitas vezes
nós professores não somos leitores, muito menos leitores críticos. [...] Quanto às
questões políticas, os problemas se confundem como os de leitura, porque nós
professores muitas vezes não sabemos muito sobre nossos sindicatos ou como ficarão
nossas aposentadorias e planos de carreira (TAGATA, 2018, p. 273, tradução minha,
grifos meus).
Além disso, o professor precisa desenvolver o seu próprio letramento crítico, pois
ele terá dificuldades no desenvolvimento de suas práticas, sendo que os alunos passam
por constantes mudanças em suas formas de aprendizagem, surgindo novas necessidades
de compreensão (OKAZAKI, 2005).
Durante este segundo momento do capítulo de análise, observo que a maioria dos
excertos apresentados visualizam a leitura crítica como o pilar dos letramentos críticos,
compreendido de maneira que este estudo está diretamente ligado ao processo da leitura,
contudo, muitos outros pontos estão envolvidos nesse processo, como compreender o
contexto em que os letramentos críticos estão sendo produzidos ou qual a situação em
que este se insere.
Autores como Cervetti, Perdales e Damico (2001), fundamentais para esta análise,
compreendem que a leitura crítica não é suficiente para o desenvolvimento do senso
crítico e reflexivo dos alunos, sendo necessário trabalhar com a compreensão, escrita e
reflexão.
Abaixo apresento um organograma, Figura 6, com os teóricos utilizados pelos
autores dos artigos selecionados para análise nesta parte da dissertação e que estão
presentes nos excertos analisados.
ARTIGO 1 – EXCERTO 15
Thus, before becoming critical teachers, we must start reflecting critically on the
failings of our own education. Teacher education, according to Daniel, should
prepare teachers to teach language in its “concreteness” and actual use,
considering its political and cultural aspects (JORDÃO; FOGAÇA, 2012, p. 80, grifos
meus). – [O artigo selecionado para análise encontra-se publicado na Revista DELTA (Documentação
e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, com Qualis A1 em Linguística Aplicada].
Assim, antes de nos tornarmos professores críticos, nós devemos começar a refletir
criticamente sobre as falhas de nossa própria educação. A formação de professores,
segundo Daniel, deve preparar os professores para ensinar a língua em sua
“concretude” e uso real, considerando seus aspectos políticos e culturais (JORDÃO;
FOGAÇA, 2012, p. 80, tradução minha, grifos meus).
Vale lembrar que não significa dizer que o professor precisa dominar todos os
assuntos que serão trabalhados em suas aulas, que se caracterizem pelos letramentos
críticos, porém, entender de que maneira esses letramentos serão empregados e de que
forma poderão ser desenvolvidos. Dessa maneira, é preciso pensar na formação dos
professores, como suas interpretações estão sendo compreendidas, pois como a
aprendizagem, no caso desta dissertação, está relacionada com a aprendizagem de
línguas, é importante que o professor seja preparado para ensinar o idioma e que
revele posicionamentos que tenham sentido para o estudante, não apenas a conteúdos,
de enfoque estrutural da língua. Ao refletir sobre o que propõe o artigo 1, excerto 15,
acerca do preparo do professor para ensinar um novo idioma, entende-se que ao longo
das vivências do próprio professor vai se desenvolvendo o seu senso crítico dentro e fora
da sala de aula com base em práticas pedagógicas do seu interesse, análise do modo de
aprendizagem de seus alunos, assim, integra a constituição do professor crítico.
Além disso, é possível refletir que a idade não é relevante para a compreensão do
aluno sobre um determinado tema, mas a maneira como ele é estimulado a buscar o saber.
[...] a necessidade de reflexão sobre a prática a partir da apropriação de teorias
como marco para as melhorias na prática de ensino, em que o professor é
ajudado a compreender seu próprio pensamento e a refletir de modo crítico
sobre a sua prática e, também, a aprimorar o seu modo de agir, seu saber-fazer,
internalizando novos instrumentos de ação (LIBÂNEO, 2002, p. 70).
ARTIGO 7 – EXCERTO 16
81
49
André Augusto Gazola é formado em Letras, professor de Literatura e História da Arte, pós-graduado
em Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura e fundador do blog Lendo.org. Disponível
em: https://www.lendo.org/como-fazer-um-plano-de-aula/. Acesso em: 19 de jun. 2022.
82
ARTIGO 7 – EXCERTO 17
O excerto 17 nos faz compreender que muitas vezes o professor precisa seguir o
material e o método que são adotados pela instituição de ensino onde ele leciona, não
havendo muito espaço para que ele trabalhe com práticas pedagógicas de seu interesse.
Além de que, em certos momentos, não consegue abordar os letramentos críticos do modo
como ele entende que se encaixaria melhor com a turma, sendo assim, acaba ficando de
certa forma ‘preso’ em um material já estabelecido pela própria instituição de ensino.
Ao tentar compreender sobre o professor crítico e, também, reflexivo, pode-se
pensar nos estudos de Kubota e Miller (2013, p. 103) que apontam para “formar um
professor crítico-reflexivo e ético, bem como investigar sua formação. O formador se
insere na pesquisa, buscando atuar e entender sua própria postura crítica, reflexiva e ética”
atualmente, assim dizendo, é necessário que o professor, citado por Kubota e Miller
(2013) como formador, reflita sobre suas práticas e planejamentos a fim de garantir uma
organização metodológica que trabalhe com as necessidades de seus alunos.
ARTIGO 9 – EXCERTO 18
50
Em diálogo com a Profª Drª Walkyria Monte Mor, no percurso da escrita desta dissertação, a professora
acenou para a indicação da autora que prefere a citação do seu nome escrita em letra minúscula.
84
Figura 7 - Interpretações sobre os letramentos críticos com base nos artigos de impacto
em análise
51
CORALINA, Cora. Vintém de cobre: Meias confissões de Aninha. São Paulo: Global Editora, 1997.
85
52
Os excertos em que apresento a versão traduzida estão presentes no Anexo A desta dissertação com a sua
versão original.
88
como a escrita realizada no dia a dia, não fazendo uso de modelos diferenciados. É
possível visualizar a sua importância como apresentado pelos autores, porém, é
interessante ver que novas produções escritas em língua inglesa podem ser desenvolvidas.
Cani e Santiago (2018) citam a produção de escrita criativa, prática de produção
que não tem como foco a escrita técnica e nem copiada, como bulas de remédios e livros
científicos, mas o desenvolvimento de poemas e crônicas com temas de interesse de seus
alunos, assim, eles podem criar uma história ou um poema fazendo uso da criatividade e
ainda utilizar um novo idioma para a escrita.
As interpretações realizadas a partir do artigo 2 se conectam com o artigo 1, pois
destacam a necessidade de trabalhar a língua inglesa com produções centradas para o
contexto de nossos alunos e nossas salas de aula, não direcionando apenas o foco para a
aprendizagem baseada na cultura americana. Kumaradivelu (1994), em seu livro The
Postmethod Condition: (E)merging strategies for second/foreign language teaching,
observou uma sala de aula com ensino direcionado para a aprendizagem de língua inglesa
e percebeu que os ensinamentos da professora eram direcionados para a cultura
americana, porém, nesta sala havia diferentes culturas presentes e isso não era levado em
consideração pelo professor, fazendo com que somente uma cultura em específico fosse
o centro de aprendizagem. Jordão (2014) compartilha em seus estudos diversos conceitos
para tratar a língua inglesa, entre eles o conceito de língua estrangeira representado como
“instrumento de imperialismo” (JORDÃO, 2014, p.27), focando na aprendizagem
baseada na cultura de países como Estados Unidos ou Inglaterra, interpretação que se
relaciona diretamente com os estudos de Kumaradivelu (1994).
Ao levar em consideração o que é apresentado por Kumaradivelu (2003), é
possível identificar que, em muitos momentos, não é considerado o contexto dos alunos
e outros assuntos que poderiam ser trabalhados dentro da sala de aula, resultando em aulas
descontextualizadas. Vale ressaltar que as interpretações apresentadas não direcionam
todas as aulas dos professores de Língua Inglesa para esses acontecimentos, apenas é
compreendido como um possível resultado.
Ademais, ao comparar as interpretações realizadas neste arquivo com o artigo 1,
observa-se que o uso de diferentes formas de escrita podem se conectar diretamente com
o planejamento do professor, pois assim os alunos conseguem expressar suas reflexões
de diferentes formas, sendo então possível o uso do livro didático de forma
contextualizada, fazendo uso dos textos ou informações presentes no material e
relacionando com produções dos alunos.
91
tecnológico. Esse trabalho foi publicado pela área do conhecimento em Letramentos com
fator de impacto em 1.523.
Seltzer (2019, p. 5, tradução minha, grifos meus) desenvolveu uma atividade de
encenação dos alunos “antes de criar uma encenação específica, os alunos assistiram
a vídeos de uma estrela canadense do Youtube, Lilly Singh”53. A comediante
canadense traz vídeos demonstrando outras culturas de forma interativa, assim, os alunos
podem observar o seu sotaque e suas performances com a língua inglesa.
Junior (2010, p. 748) explica que “alunos de inglês podem lançar descrédito às
tarefas de pronúncia oriundas de (seus) livros didáticos, muitas vezes optando por ignorar
essas atividades”. Ao apresentar o canal de Lilly Singh, os alunos podem analisar a
pronúncia de um modo mais atrativo, saindo de uma possível repetição de exercícios do
livro didático.
Além disso, segundo Seltzer (2019, p. 5, tradução minha, grifos meus), “os alunos
discutiram as maneiras pelas quais Singh navegou em suas diferentes práticas
linguísticas e culturais e, em seguida, foram solicitados a criar uma dramatização”.
O objetivo desta atividade era mostrar para os alunos como eles poderiam se posicionar
perante outras pessoas e observar as práticas linguísticas, com o intuito de compreender
os diferentes modos de pronúncia de uma língua e a aceitação dessas variações.
Ao trabalhar com uma figura pública que desperte o interesse dos alunos pelas
produções visuais publicadas, é possível atrair a atenção da sala de aula, tornando o
ambiente mais interativo. Trata-se de uma possibilidade de desenvolvimento de
momentos em que os alunos compartilham suas interpretações, observações sobre
diferentes sotaques e costumes, fazendo o uso da língua inglesa e dos letramentos críticos,
pois podem expressar suas opiniões sobre o tema.
No decorrer da análise dos excertos retirados dos artigos sobre as práticas
observadas ou empregadas com a língua inglesa, é possível observar diversas
interpretações encontradas nas produções. Um dos pontos identificado é de que o livro
didático é presente nas aulas de alguns professores, porém, em certos momentos não é
realizado uma contextualização do assunto que está sendo trabalhado. Os alunos recebem
exercícios do livro e resolvem, sem entender o momento que poderá utilizar aquele
assunto em sua vida cotidiana. Não se quer dizer aqui que estas formas não são válidas
53
Lilly Singh é uma comediante canadense que em seu canal do Youtube apresenta encenações de uma
família de cultura indiana. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3K86DzCT7eg. Acesso em:
02 de jul. 2022.
93
para a aprendizagem, porém, é importante refletir de que forma irão chamar a atenção do
aluno e de que maneira poderá ser trabalhado com os letramentos críticos em sala de aula.
Pode-se pensar, no momento de utilizar o livro didático ou textos que já estejam
prontos, que o professor traga aqueles que se conectem mais diretamente com a realidade
e o contexto social dos alunos, fazendo com que eles possam refletir sobre estes assuntos
em língua inglesa. Leffa (2011, p. 20) compartilha de questionamentos que observou
durante seus estudos, como “para que o pobre precisa estudar inglês se nunca vai viajar
para o exterior?”, assim, relaciona com atividades do livro didático sem uma importante
contextualização para os seus alunos. Desta forma, os alunos entendem que não estão
incluídos no “padrão de vida ideal” (LEFFA, 2011). É observada a possibilidade de uso
do livro didático nas aulas de língua inglesa, mas que esse uso revele sentidos para a
aprendizagem dos alunos.
A seguir apresenta-se o uso dos letramentos críticos e a leitura crítica em sala de
aula como segundo desafio que compõe este capítulo de análise.
Ao tratar dos desafios aqui encontrados com base na análise dos artigos, o uso dos
letramentos críticos e da leitura crítica é a base para estes desafios, pois todas as práticas
estão envolvendo os letramentos críticos, mesmo que seja de forma direta ou indireta.
Deste modo, acredito que a atenção deva ser dada para este estudo no modo geral,
trabalhar com os professores para que eles entendam modos de ensino com base nos
letramentos críticos. Abaixo apresento os excertos que se relacionam com a explicação
compartilhada acima.
Quadro 5 – Excertos sobre o uso dos letramentos críticos e leitura crítica em sala de aula
Título do artigo Excertos retirados para análise
O(a) professor(a) deverá, na Fase 1, selecionar o
conteúdo e o material a serem apresentados
Crítico “Pero no mucho”: Problematizando a aos alunos. O material pode ser, por exemplo, um
abordagem de questões identitárias em uma texto, um vídeo, um áudio, diálogo, de acordo
unidade de um livro didático de inglês para o com as habilidades que deseja desenvolver, seus
ensino médio (5) objetivos linguísticos e comunicativos e o quadro
contextual que subjaz a sua aula, perfi l dos
alunos, tempo de aula, relação do conteúdo com
94
língua inglesa. As autoras apresentam essas definições como forma de chamar a atenção
para as mudanças que vem acontecendo desde as últimas décadas com a educação.
De acordo com Costa e Rodrigues (2021), ao iniciar a fase 1, o professor deverá
selecionar qual o material e conteúdo serão trabalhados com os alunos. Na palavra
das autoras (2021, p. 18), “o material pode ser, por exemplo, um texto, um vídeo, um
áudio, diálogo”, levando em consideração os objetivos que gostaria de desenvolver.
Deste modo, as atividades serão definidas quando o conteúdo já for identificado, assim o
professor pode refletir sobre quais dinâmicas podem se encaixar com cada assunto em
específico.
Kumaradivelu (2003, p. 2) explica que “os professores precisam tornar-se
pensadores estratégicos, eles precisam refletir sobre necessidades, desejos, situações e
processos de aprendizado e ensino específico”, estudo que condiz diretamente com a fase
1 do processo de aprendizagem. Portanto, não é apenas definir um conteúdo e pensar em
qualquer atividade, ainda mais se tratando do ensino de uma nova língua, e sim definir o
que poderá ser passado e o que será importante para a aprendizagem de nossos alunos.
Assim, na fase 2 será o momento de aquecimento e introdução do tema
selecionado, desenvolvido pelo professor em sala de aula. É também neste período que
será aplicado em sala de aula o planejamento desenvolvido, sendo assim, neste momento
é importante a observação dos alunos, para ver suas atitudes e seu interesse em relação à
atividade. Se não reagirem de forma positiva ou não se interessarem pelo planejamento,
pode ser pensado em alterações na próxima etapa.
Na fase 3, é o ponto central para atingir o objetivo pedagógico estabelecido pelo
professor. Se durante a fase 2 houve complicações ou reformulações do planejamento,
deve ser refletido sobre a necessidade para alcance dos objetivos. Caso não tenha sido
possível alcançar estes objetivos, o professor pode indicar nesta etapa formas de
reformulação para os próximos planejamentos. Outro ponto a ser ressaltado é de que o
professor pode indicar sim que as atividades podem não ter dado certo, essa fase não é
para críticas, mas para entender e rever o que foi criado.
Por último, a fase 4 é definida como o fechamento destas fases, tendo como
objetivo o uso da língua-alvo, neste caso a língua inglesa, em situações de comunicação.
É possível pensar no conceito de sequência didática (DOLZ; NOVERRAZ;
SCHNEUWLY, 2004), basicamente sendo a definição de passos no processo de ensino e
aprendizagem com o intuito de auxiliar o aluno na compreensão de um gênero textual
específico.
96
Ainda na fase 4, o professor pode avaliar o que precisa melhorar ou caso não tenha
nenhuma alteração, dar continuidade com suas aulas, finalizando as etapas para um
determinado planejamento e já refletindo no desenvolvimento do próximo, para que
consiga fazer uso das quatro fases da aprendizagem.
Ao se tratar do ensino de um novo idioma, acredito que seja muito importante e
efetivo a organização apresentada pelas autoras por meio de fases em relação ao
planejamento do conteúdo, já que o professor pode iniciar sua organização seguindo as
fases já definidas, fazendo alterações quando achar necessário.
O artigo 6 intitulado Critical reading, critical thinking: Delicate scaffolding in
English for Academic Purposes (EAP), de Kate Wilson na área de Práticas
Interdisciplinares, com fator de impacto 3.325, compartilha as interpretações entre a
leitura crítica e o pensamento crítico em aulas de Língua Inglesa. O objetivo da autora
com o desenvolvimento da língua inglesa para fins acadêmicos (EAP) é a evolução da
leitura crítica pelos estudantes.
Wilson (2017, p.257, grifos meus) explica que, ao tratar da necessidade de ler
criticamente, “este é um aspecto do EAP que muitas vezes é negligenciado, pois a
maioria dos cursos se concentra fortemente na produção observável do pensamento
crítico – a escrita”. Ao analisar esta citação, é compreensível que o foco é dado para a
escrita, porém, a leitura não é desenvolvida criticamente, sendo muito importante que
ambos trabalhem juntos nesse processo.
Dooley e Luke (2011) entendem que a criticidade, na maioria das vezes, se refere
ao domínio da leitura e da escrita no sentido de compreender o que está sendo solicitado
pelo professor e de que forma as atividades podem ser desenvolvidas ao trabalharem com
ambos os processos.
Wilson (2017, p. 259), ao tratar das atividades em sala de aula apresentadas em
seu artigo, “muitos desses exercícios usaram textos curtos e fáceis sobre uma diversidade
de tópicos com exercícios de acompanhamento”. Ao indicar as atividades de fácil
resolução com os nossos alunos, é compreendido que não refletem de forma crítica ou
reflexiva, pois ao resolverem rapidamente, não sentirão a necessidade de refletir sobre o
que está sendo apresentado.
Assim, ao organizar o planejamento, o professor pode pensar em práticas que não
demonstrem ser fáceis e rápidas aos alunos, mas que façam com que eles reflitam sobre
suas respostas, leiam e escrevam de forma crítica. Luke (2004) entende que os letramentos
críticos se referem ao uso de tecnologias de impressão e outros meios de comunicação
97
para poder analisar e criticar os campos sociais da vida cotidiana, assim, o aluno pode
aprender o idioma com práticas que demonstrem sentido no campo social em que este se
insere.
Por outro lado, no artigo de número 7, os autores trabalham com interpretações
sobre a leitura crítica em prática de língua inglesa como língua adicional com o trabalho
intitulado Critical reading perceptions and practices of English First Additional
Language learners in Gauteng, Thswane South district, classificado na área de
conhecimento de Práticas Interdisciplinares, com fator de impacto em 3.325. Os autores
apresentam suas percepções se baseando em uma escola localizada na África do Sul, deste
modo, é possível observar que os contextos de aprendizagem podem ser diferentes
daqueles que estamos acostumados a visualizar nos artigos. Os autores focam em seis
estratégias para auxiliar o professor no desenvolvimento da leitura crítica em sala de aula.
De acordo com Rautenbach, Cekiso e Olifant (2020, p. 6, tradução minha) as
estratégias são classificadas como “(1) conhecimento, (2) compreensão, (3) aplicação,
(4) análise, (5) síntese e (6) avaliação”. Assim, os pontos de seguimento apresentados
seguem para que o aluno consiga desenvolver a leitura crítica da melhor forma.
O conhecimento (1) é a compreensão do aluno sobre o assunto e/ou quais
conteúdos que serão trabalhados. Nesta estratégia é importante rever o conhecimento dos
alunos, entender até qual nível de aprendizagem do idioma eles já saibam, assim, o
professor avança um passo à frente na criação de suas atividades. A Compreensão (2) é
no sentido de entender a importância do que está sendo aprendido e as interpretações
iniciais sobre o que será proposto. A aplicação (3) é o período mais longo para ser
desenvolvido em sala de aula, pois é necessário refletir sobre quais atividades serão
utilizadas do planejamento. Além da importância de observar como os alunos estão
reagindo durante as aulas, como está o diálogo por meio do idioma e análise do uso dos
letramentos críticos durante as atividades.
Em relação à análise (4), trata-se de como o professor e os alunos analisam o
conteúdo e a forma como está sendo aplicado em sala de aula, se a aplicação foi suficiente
para que iniciassem o desenvolvimento de sua leitura crítica, ou algo poderia ter sido mais
bem desenvolvido. Neste momento é importante refletir sobre o processo estabelecido
para que não haja dúvidas no seu desenvolvimento. Ao seguir para a estratégia de síntese
(5), o professor se depara com o apanhado geral de seu trabalho, sendo necessário resumir
todas as etapas que realizou para a aprendizagem dos alunos até o momento, avaliando se
estão preparados para continuarem o conteúdo e seguirem para o processo avaliativo. Não
98
significa dizer que é fundamental a escrita de um resumo pelo professor, mas sim refletir
se o que foi passado foi suficiente ou não.
Ademais, ao seguir para a avaliação (6), Rautenbach, Cekiso e Olifant (2020) não
explicam como este processo pode ser desenvolvido, deixando a critério do professor
decidir como vai avaliar o seu aluno, deste modo, não se remete a algo pronto, tendo a
possibilidade de usar sua autonomia na decisão. Segundo Gatti (2003, p. 99), “pensemos
a avaliação em sala de aula com uma atividade contínua e integrada às atividades de
ensino, algo que é decorrente destas atividades, inerentes a elas e a seu serviço”. Desta
maneira, o professor ao longo do seu processo em sala de aula, constata as principais
necessidades que precisam ser trabalhadas e identifica o processo avaliativo que melhor
irá se encaixar com sua turma.
Rautenbach, Cekiso e Olifant (2020, p. 6, tradução minha, grifos meus) ao
abordarem as estratégias, destacam: “ficou claro que os alunos souberam aplicar as
estratégias de leitura crítica de conhecimento e compreensão, o que significa o tipo
mais básico de extração de significado de leitura”. Como a atividade desenvolvida pelo
professor tinha como foco a leitura crítica, os seis modos explicados nos parágrafos
anteriores se relacionam para contribuir diretamente com o desenvolvimento dos alunos
neste processo, neste caso em língua inglesa, porém, podem ser perfeitamente utilizados
para o emprego e avaliação de outras práticas de ensino.
Ao olhar para o termo ‘extração de significado’, apresentado por Rautenbach,
Cekiso e Olifant (2020), compreende-se que durante o processo de leitura, dentro das
estratégias de significado, os alunos conseguiram entender as interpretações presentes no
texto, mesmo aquelas que não estavam em evidência. Deste modo, é visualizado o
desenvolvimento de uma leitura crítica em que é analisado o que está sendo lido, não
apenas uma leitura entregue pelo professor.
Acredito que ao trabalhar com a língua inglesa e ter como objetivo definir a leitura
crítica dos alunos, os processos compartilhados pelos autores mostram-se eficazes e até
mesmo podem ser implementados em outras Unidades Curriculares com outras
atividades. Outro ponto interessante a ser ressaltado é a importância do desenvolvimento
do senso crítico dos alunos na unidade curricular de Língua Inglesa. Ao visualizar os
assuntos aprendidos durante o ano escolar, o professor pode ir trabalhando com práticas
que façam a reflexão de posicionamentos críticos e reflexivos com o uso do idioma, sendo
utilizado de forma que os alunos adquiram o conhecimento para o seu próprio dia a dia.
Dooley e Luke (2011) compartilham em seus estudos a necessidade de os alunos na sala
99
Além disso, é compreensível que muitos, em seus contextos atuais, pensam que
nunca terão oportunidade ou momento para poder fazer uso da língua inglesa (LEFFA,
2011), assim, o professor pode lhe mostrar possibilidades em seu contexto atual em
conexão com o idioma e trabalhando com o que está a sua volta. Observando as
interpretações apresentadas acima, entende-se com base nessa desmotivação dos alunos
pelo seu idioma que atividades que mostrem outras culturas com diferentes sotaques é
importante para que o aluno entenda o real significado do idioma. O professor, quando
não apresenta essas diferentes formas, não compartilha com os alunos outras
possibilidades de aprendizagem, resulta em uma falta de interação em sala de aula.
Outra importante produção que aborda uma perspectiva interessante de
aprendizagem é o artigo de número 9 de Tagata (2017), também autor do artigo 8 desta
análise, que intitula sua produção como Post-critique in contemporary ELT praxis, ambos
publicados na área de Linguística Aplicada. O autor compartilha uma prática
desenvolvida com um grupo de alunos, não apresentando o número específico de
participantes, mas todos em aulas de Língua Inglesa.
As práticas compartilhadas não apresentam diretamente o foco em processos de
leitura, mas direcionam para atividades envolvendo os ambientes digitais. Os alunos eram
direcionados a assistir vídeos e lerem artigos disponibilizados em pequenos cursos online
pela plataforma Moodle54.
De acordo com Tagata (2018, p. 264, tradução minha, grifos meus) “os
participantes deveriam participar de um chat online no Moodle, a fim de compartilhar
seus comentários sobre os conceitos apresentados por vídeos e artigos”, é possível
compreender que a participação dos alunos por meio de comentários de vídeos e artigos
fez com que eles tivessem contato direto com a língua inglesa, interagindo com outras
pessoas sobre um assunto que possa ser interessante e que chame a atenção dos alunos.
Trabalhar com atividades que envolvam a conversação dos alunos, seja por meio
de comentários com os colegas sobre vídeos que assistiram ou artigos que leram pode
resultar na motivação do aluno para a aprendizagem do idioma. Marzari e Gehres (2015,
p.130) explicam que, em muitos momentos, “objetivos que são comuns aos alunos, isto
é, exploram o que eles estão habituados a resolver, o que pode resultar em falta de
motivação para a realização das atividades”, assim ao passar algo que pode não resultar
54
Moodle – Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment. Sistema de código aberto para a
criação de cursos online, de apoio à aprendizagem (IFPA, 2019).
103
possível analisar diferentes formas de aprendizagem dos alunos, apenas adaptando algo
que já estava pronto.
Em muitas escolas, o ensino de língua inglesa ainda é pautado em resolução de
exercícios, porém, é importante que ao ensinar o idioma, os alunos possam refletir sobre
o conteúdo apresentado e consigam relacionar com o seu cotidiano, entender a relação da
língua inglesa com a sua vida (LEFFA, 2011).
No que diz respeito aos desafios encontrados com base na análise dos artigos,
pode-se citar neste momento da análise a interação entre professor e aluno, não no sentido
de terem ou não uma boa relação em sala de aula, mas no momento de trabalhar com
práticas que envolvam os letramentos críticos nas aulas de língua inglesa. É
compartilhado como desafio, pois o professor precisa compreender as necessidades de
aprendizagem dos alunos e o próprio contexto social em que estão inseridos para entender
de que maneira poderá iniciar seu trabalho com os letramentos críticos.
Deste modo, pode-se pensar na possibilidade de o professor, em um primeiro
momento, observar os alunos, suas necessidades e o que pode ou não chamar a atenção
deles para a aula, para deste modo conseguir desenvolver práticas com os letramentos
críticos para serem utilizadas nas aulas de língua inglesa. O desafio seguinte trata da
relação com o planejamento das aulas, compartilhando observações sobre o livro didático
e, também, sobre níveis de proficiência (OKAZAKI, 2005).
Ademais, um importante ponto a ser discutido é que a seleção dos artigos
representa as práticas em sala de aula, seja pelo próprio professor de Língua Inglesa ou
pela observação dessas aulas. Deste modo, entende-se a grande importância e relevância
dos estudos envolvendo o contexto educativo da educação básica. É possível refletir que
mesmo sendo artigos de alto impacto, retratam a sala de aula e seus desafios que são
vivenciados diariamente pelos professores e, em muitas vezes, não recebem a sua devida
atenção.
106
55
SCHULTZ, Howard. From the Ground Up: A journey to reimagine the promise of America. Estados
Unidos: Random House, 2019.
107
textuais de micro nível feitas por autores locais em seus artigos” 56. É compreendido que
nem todas as revistas recebem o prestígio merecido, sendo considerado, por exemplo, o
número de citação ou se é classificada como internacional ou nacional. Deste modo, é
compreensível que há ótimos artigos publicados sobre os letramentos críticos, porém,
levando em conta o Qualis e o fator de impacto, nem sempre recebem o devido
reconhecimento.
A presente pesquisa surgiu de minha necessidade, enquanto professora de inglês
da educação básica, de compreender melhor o uso dos letramentos críticos em sala de
aula por meio de uma investigação que relacionasse a teoria com a prática e que o
conteúdo apresentado fosse de interpretação acessível para que outros professores
pudessem ler o meu material produzido e compreendessem as análises apresentadas.
Outro importante ponto a ser levado em consideração são os estudos envolvendo
o idioma, como o ensino bilíngue, que veio como forma de imersão dos alunos na língua
inglesa. Um grande estudo que representa o processo de aprendizagem de um novo
idioma por meio de trabalhos e materiais é o Observatório de internacionalização da
educação básica: políticas públicas de ensino bilíngue e tecnologias digitais57,
coordenado pela Profª Drª Marcia Regina Selpa Heinzle, da qual faço parte, juntamente
com minha orientadora Profª Drª Adriana Fischer e outros pesquisadores e acadêmicos
da Universidade Regional de Blumenau (FURB). O projeto tem como objetivo apresentar
as políticas de ensino bilíngue, que estão sendo utilizadas nas escolas públicas das redes
municipais do Médio Vale do Itajaí em Santa Catarina.
Neste projeto se observa a falta de definições e esclarecimentos sobre as políticas
públicas de internacionalização da educação básica, sendo fundamental para o
desenvolvimento do ensino bilíngue para todos os estudantes. O projeto nasceu dos
desafios em torno deste ensino, principalmente da falta de informações específicas para
consolidar políticas e práticas que possam auxiliar na ampliação do ensino bilíngue. Tanto
o observatório quanto a minha pesquisa trabalham em torno dos desafios no processo de
aprendizagem, compartilhando a importância do aprendizado do idioma e enfrentamentos
que podem ser encontrados no processo.
56
Versão original: “To begin with, the preference for international journals with a high impact factor defines
the micro-level rhetorical and textual decisions made by local authors in their articles.” (CANAGARAJAH,
2014, pg. 14).
57
Devido ao projeto estar nas etapas iniciais do desenvolvimento, o link de acesso ao site não está
disponível para acesso no momento desta pesquisa.
108
Perdales e Damico (2001) com sua obra A tale of diferences: comparing the traditions,
perspectives and educational goals of critical reading and critical literacy que retrata os
letramentos críticos em três divisões: professor crítico, leitura crítica e letramentos
críticos.
Muitos questionamentos foram realizados a partir da escolha dos estudos de
Cervetti, Perdales e Damico (2001), que embora seja uma obra seminal dos letramentos,
foi publicada há mais de vinte anos, havendo outras obras mais atuais que estudam os
letramentos críticos. Ao realizar uma primeira análise dos artigos selecionados, observou-
se que havia três grandes seções para análise: os letramentos críticos, professor crítico e
leitura crítica, seções estas que são bem explicadas pelos autores citados acima. Além
disso, apresentam compreensões sobre os letramentos críticos que são semelhantes com
as que eu utilizo em minha pesquisa.
Deste modo, conceitos que se relacionam com os letramentos, atividades em
língua inglesa e interpretações sobre o idioma, assim como, explicações sobre a
pedagogia crítica e a leitura crítica foram revisitados em meu segundo capítulo,
fundamentais para amparar os meus procedimentos metodológicos e fundamentar a
análise de dados. Com base no objetivo geral, estabeleci dois objetivos específicos: a)
analisar manifestações dos letramentos críticos em artigos científicos de alto impacto; b)
compreender os principais enfrentamentos de professores de Língua Inglesa na Educação
Básica sob enfoque dos letramentos críticos. É valido reforçar que os objetivos foram
desenvolvidos com o olhar para o professor da Educação Básica, em específico aquele
que leciona Língua Inglesa, a fim de estabelecer a compreensão de como lidam com os
letramentos críticos e o que é necessário para auxiliá-los em seus planejamentos e
metodologias utilizadas em sala de aula.
As plataformas de busca foram caracterizadas, com base nos estudos de
Canagarajah (2015), como representativas do contexto local e do contexto global. O
intuito desta seleção aconteceu pela importância de analisar revistas de alto impacto do
contexto brasileiro e, também, mundial. Além disso, optei por selecionar produções que
se encaixassem no objeto de estudo, letramentos críticos em aulas de língua inglesa. Outro
ponto que é imprescindível de ressaltar é de que o Qualis, para revistas brasileiras, e o
índice de impacto, para revistas internacionais, não foram objeto de análise neste estudo,
sendo considerado apenas para a seleção dos artigos. Contudo, poderão ser revisitados
em posteriores estudos, como forma de continuidade da pesquisa em conexão com o
objeto de estudo.
110
É importante destacar que nas buscas iniciais não foi considerado a palavra
‘desafios’ para a seleção dos artigos, pois o intuito era analisar as práticas dos professores
do idioma e a partir disso identificar os desafios. Além disso, este termo traz consigo
diversas implicações, nos exigindo certa atenção com o seu uso. A partir do fichamento
dos artigos e seleção dos excertos que iriam compor os capítulos de análise foi concluído
que a palavra desafios se encaixava nas interpretações encontradas, pois os professores
compartilhavam as suas práticas e planejamentos e explicavam o que estava dando certo
ou não, além de representar os maiores desafios que estavam enfrentando.
A fonte de dados da dissertação foi caracterizada como bibliográfica, não por não
haver interesse em contato com os autores dos artigos ou por não querer ir a escolas e
conversar com professores, mas devido às condições de pesquisa do período de
desenvolvimento desta dissertação, além do cumprimento de prazos estabelecidos e do
cronograma, visto que as novas condições de trabalho ocasionadas pela pandemia de
COVID-19 mostravam um ambiente incerto para a pesquisa presencial com sujeitos, não
sendo possível determinar quando poderia haver contato com estes profissionais.
Ressalta-se que a pesquisa alcançou o seu objetivo de análise realizando-se de forma
bibliográfica, gerando um importante material para os professores de Língua Inglesa ou
de outras Unidades Curriculares.
Como apresentado nesta dissertação, este estudo se filia ao grupo de pesquisa
Linguagens e letramentos na educação, apresentado por outros integrantes do grupo
produções de caráter bibliográfico e que tomam como foco a análise de artigos e
dissertação, deste modo, mesmo não estando na pandemia, já estava sendo realizado
importantes pesquisas desde 2018 com este viés. Apresento uma breve introdução sobre
os estudos de alguns integrantes do grupo, para que seja possível observar o
fortalecimento deste modo de pesquisa.
Artigo Padrões de autocitação em artigos de alto impacto da revista Nature,
publicado na revista Ibero-Americana de Estudos em Educação em 2021, pelas
autoras Drª Adriana Fischer, Camila Grimes, Elis Regina Kolsoski e Mariana
Aparecida Vicentini;
Artigo Práticas de letramentos com escrita científica em artigos de alto impacto
na área de ciências da vida e biomedicina, publicado pelo Caderno Cespuc de
pesquisa em 2021, pelas autoras Drª Adriana Fischer e Mariana Aparecida
Vicentini;
111
entre o professor e o aluno, falta de interesse dos alunos pela sua aprendizagem e falta de
material necessário para as aulas. Sabe-se que não é fácil o processo de ensino e
aprendizagem envolvendo uma nova língua. A educação, por sua vez, vem se atualizando
a todo momento, deste modo, os estudos com a língua inglesa precisam continuar,
apresentar aos leitores e professores as atualizações que vão acontecendo com o passar
do ano. No nosso contexto educacional atual os desafios encontrados podem não ser os
mesmos daqui alguns anos, sendo necessário a atualização constante dos estudos.
116
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fev. 2022.
127
ANEXO 1: Quadro referente à versão original dos excertos dos artigos que se
referem às práticas em Língua Inglesa.
A – BÁSICO
A1- INICIANTE É capaz de compreender e usar expressões
familiares e cotidianas, assim como enunciados
muito simples, que visam satisfazer necessidades
concretas. Pode apresentar-se e apresentar os
outros e é capaz de fazer perguntas e dar respostas
sobre aspectos pessoais como, por exemplo, o local
onde vive, as pessoas que conhece e as coisas que
tem. Pode comunicar de modo simples, se o
interlocutor falar lenta e distintamente e se mostrar
cooperante.
A2 – BÁSICO É capaz de compreender frases isoladas e
expressões frequentes relacionadas com áreas de
prioridade imediata (informações pessoas e
familiares simples, compras, meio circundante). É
capaz de se comunicar em tarefas simples e em
rotinas que exigem apenas uma troca de
informação simples e direta sobre assuntos que lhe
são familiares e habituais. Pode descrever de modo
simples e sua formação, o meio circundante e,
ainda, referir assuntos relacionados com
necessidades imediatas.
B - INDEPENDENTE
B1 – INTERMEDIÁRIO É capaz de compreender as questões principais,
quando é usada uma linguagem clara e
estandardizada e os assuntos lhe são familiares
(temas abordados no trabalho, na escola e nos
momentos de lazer, etc). É capaz de lidar com a
maioria das situações encontradas na região onde
se fala a língua-alvo. É capaz de produzir um
discurso simples e coerente sobre assuntos que lhe
são familiares ou de interesse pessoal. Pode
descrever experiências e eventos, sonhos,
esperanças e ambições, bem como expor
brevemente razões e justificações para uma
opinião ou um projeto.
B2 – USUÁRIO É capaz de compreender as ideias principais em
textos complexos sobre assuntos concretos e
abstratos, incluindo discussões técnicas na sua
área de especialidade. É capaz de se comunciar
com certo grau de espontaneidade com falantes
nativos, sem que haja tensão de parte a parte. É
capaz de exprimir-se de modo claro e
pormenorizado sobre uma grande variedade de
temas e explicar um ponto de vista sobre um tema
da atualidade, expondo as vantagens e os
inconvenientes de várias possibilidades.
58
Dados disponíveis no site: https://www.britishcouncil.org.br/quadro-comum-europeu-de-referencia-
para-linguas-cefr. Acesso em 27 de out. 2022.
129
C - PROFICIENTE
C1 – PROFICIÊNCIA OPERATIVA EFICAZ É capaz de compreender um vasto número de
textos longos e exigentes, reconhecendo os seus
significados implícitos. É capaz de se exprimir de
forma fluente e espontânea sem precisar procurar
muito as palavras. É capaz de usar a língua de
modo flexívele e eficaz para fins sociais,
acadêmicos e profissionais. Pode exprimir-se
sobre temas complexos, de forma clara e bem
estruturada, manifestando o domínio de
mecanismos de organização, de articulação e de
coesão do discurso.
C2 – DOMÍNIO PLENO É capaz de compreender, sem esforço,
praticamente tudo o que ouve e lê. É capaz de
resumir as informações recolhidas em diversas
fontes orais e escritas, reconstruindo argumentos e
fatos de um modo coerente. É capaz de se exprimir
espontaneamente, de modo fluente e com exatidão,
sendo capaz de distinguir finas variações de
significado em situações complexas.