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UNIVERSIDADE ESTACIO DE SÁ

ANA CAROLINA DIAS CAMPOS


201201841038

O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DE ALUNOS


PROTAGONISTAS – AUTÔNOMOS, CONSCIENTES E
PROFICIENTES EM LÍNGUA INGLESA

BARBACENA
2015
ANA CAROLINA DIAS CAMPOS

O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DE ALUNOS PROTAGONISTAS –


AUTÔNOMOS, CONSCIENTES E PROFICIENTES EM LÍNGUA INGLESA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Coordenadoria do
Curso em Graduação em Letras:
Língua Inglesa Faculdade Estácio de
Sá, como pré-requisito à obtenção
do título de Licenciada em Letras.
Ênfase: Estudos linguísticos e
prática docente em Inglês.
Orientadora: Profa. Claudia de
Freitas Lopes S. M. da Silva

BARBACENA
2015
AGRADECIMENTOS

A Deus por todas as providências.


A meus familiares, amigos e colegas envolvidos direta e indiretamente com
meus estudos e trabalhos.
A meu futuro marido pela presença e apoio.
Aos professores e servidores das escolas onde foram cumpridos os estágios,
pela abertura e colaboração.
Aos alunos que tanto demonstraram carinho nessa jornada.
A todos os professores que me disseram para desistir e que, assim, me
deram ainda mais vontade de provar que é possível ser feliz como professora no
século XXI.
A docência é um caminho sem volta.
Árduo, todavia doce.
Traz certo gosto pra vida!
SUMÁRIO

Agradecimentos. ....................................................................................................3

1. Introdução..........................................................................................................6
2. Referencial Teórico............................................................................................7
3. Metodologia da pesquisa ..................................................................................8
4. Multiplicando Inteligências.................................................................................9
4.1. Inteligências múltiplas - conceitos e aspectos psicológicos....................9
4.2. Interdisciplinaridade e uso da música...................................................10
5. Protagonizando o Próprio aprendizado..........................................................12
5.1. Importância da autonomia e protagonismo do aluno.................................13
5.2. Abordagem comunicativa e método indutivo.............................................13
5.3. Ensinar efetivo e afetivo.............................................................................15
6. Considerações finais.......................................................................................17
Referências bibliográficas.....................................................................................18
1. INTRODUÇÃO

É inegável que a aprendizagem de uma língua, materna ou não, vai além de


seu vocabulário e suas estruturas gramaticais. Trata-se da vivência e da cultura, dos
aspectos sociais e de diferentes competências. Com vistas a desenvolver mais do
que o aprendizado - a aquisição natural da Língua Inglesa - as metodologias
utilizadas no ensino de línguas estrangeiras têm sido aprimoradas com base nas
quatro habilidades linguísticas e nas diversas competências e inteligências. Como o
professor pode atuar valorizando as múltiplas inteligências de seus alunos e
otimizando assim seu processo de aquisição da língua? Como ensinar e ao mesmo
tempo conduzir os alunos a adquirirem conhecimento através de suas próprias
"mãos"? Em que fundamentar uma prática docente que seja duplamente prazerosa,
para os professores e alunos, e ao mesmo tempo efetiva? Este trabalho trará
experiências e orientações para tal.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

A obra de referência inicial deste trabalho de conclusão de curso é a "Teoria


das Inteligências Múltiplas", Multiple Intelligences, em Língua Inglesa (MI), de
Howard Gardner - psicólogo autor de pesquisas renomadas na área da pedagogia e
das inteligências múltiplas desmistificadas de forma prática. Também foram
utilizados conceitos de Augusto Cury, principalmente de sua obra "Filhos brilhantes,
alunos fascinantes". Como se trata de um autor contemporâneo, foi muito
interessante utilizar suas obras como um referencial para acompanhar a evolução
das vertentes da pedagogia construtivista ao longo do tempo. Também focado no
protagonismo do aluno, Paulo Freire é uma das grandes referências, principalmente
na sua obra "Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa".
Outros modelos teóricos que serviram de base para as pesquisas e
conclusões foram as disciplinas estudadas ao longo do curso de Letras - Inglês, com
ênfase nas disciplinas: "Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem” (2º
período); “Didática” (3º período); “Ensino e aprendizagem de Inglês como língua
estrangeira” (5º período); além de dados coletados durante os Estágios de
Observação I, II e III (respectivamente Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II
e Ensino Médio.) Destas disciplinas, os conceitos mais recorrentes foram: ZPD -
Zone of Proximal Development (Área de Desenvolvimento Proximal); Métodos de
Ensino Indutivo e Dedutivo; Abordagem Comunicativa no Ensino de Língua Inglesa.
O motivo pelo qual estes temas fazem parte do referencial teórico em
questão, além da afinidade encontrada desde as primeiras aulas nas disciplinas
citadas, foi a intenção de confrontar toda a teoria estudada ao longo do curso com
uma análise prática de uma das possíveis atuações do profissional de letras - a
docência.

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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa aplicada neste Trabalho de Conclusão de Curso é


predominantemente explicativa, partindo de procedimentos de pesquisa bibliográfica
(consulta e exploração das obras de referência e do material didático fornecido pelo
curso de Letras), experimental/empírica (através da prática profissional em uma
escola de Língua Inglesa), estudo de caso (de forma indireta, também ligada à
atuação como professora, é possível observar os perfis mais recorrentes de alunos e
também suas maiores dificuldades, relacionadas à área da pesquisa escolhida).
A coleta de dados foi sendo feita ao longo do curso, e depois de restringir o
tópico central da pesquisa, a pesquisa bibliográfica foi, ao mesmo tempo, delimitada
e expandida. Delimitada quanto ao tema, e expandida quanto à possibilidade de
outras obras que abordassem os temas centrais do trabalho, para que eles
pudessem ser confrontados. Depois de feito o embasamento teórico, através de uma
atuação docente altamente reflexiva, foi possível notar nas salas de aula (nos
estágios em escolas regulares nas turmas na escola de Língua Inglesa) as
manifestações concretas dos conceitos em questão: os alunos que respondem mais
fortemente a uma ou outra abordagem (dedutiva; indutiva); a predisposição de
alguns e a oposição de outros alunos às atividades que lhes demandassem maior
autonomia e responsabilidade; as múltiplas inteligências se destacando através do
desenvolvimento dos alunos e também de seu comportamento, não restrito às
atividades dos cursos. A pesquisa feita desta maneira foi adequada aos objetos de
investigação - alunos e professores no contexto do ensino de Língua Inglesa.
A pesquisa qualitativa também envolveu coleta de dados e conteúdos
estudados nas disciplinas "Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem” (2º
período); “Didática” (3º período); “Ensino e Aprendizagem de Inglês como Língua
Estrangeira” (5º período).

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4. MULTIPLICANDO INTELIGÊNCIAS

Como otimizar e multiplicar as aptidões de uma classe diversa? Como


promover a interação e a integralização de alunos com gostos e habilidades
diversificados? Diante da cobrança capitalista por resultados e apoiado pelos novos
estudos da Linguística, o professor de idiomas é desafiado a conquistar em seus
alunos o máximo de aproveitamento, e, muitas vezes, seu papel de educador tem as
funções confundidas com as que caberiam às dos pais. O conhecimento das
Inteligências Múltiplas proposto pelo psicólogo Howard Gardner e sua equipe quebra
o estigma de que inteligência era sinônimo de aptidão matemática e propõe a
valorização das demais manifestações da inteligência humana.

4.1. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS - CONCEITOS E ASPECTOS PSICOLÓGICOS

O conceito de inteligências múltiplas desenvolvido por Gardner vem contribuir


para a modificação do antigo e restrito conceito de inteligência, mesurado por testes
de QI e estagnado à aptidão lógico-matemática. No que tange a educação
atualmente, a diversidade vem sendo valorizada nas suas mais diversas formas:
diversidade étnica e cultural, diversidade das inteligências, entre tantas outras. Mas
como isso pode afetar o ensino de Língua Inglesa?
Segundo Gardner, há oito representações de inteligências, que são:
 Linguística - comunicação (escrita e oral;
 Lógica e Matemática - raciocínio lógico e abstração;
 Visual e Espacial - visualização do mundo em três dimensões;
 Musical - sentidos aptos à percepção e produção musical;
 Cinestésica (corporal) - uso do corpo e dinâmica, movimento;
 Interpessoal, que define as boas relações entre as pessoas;
 Intrapessoal - autoconhecimento e equilíbrio emocional;
 Naturalista - percepção e bom uso da natureza.
Notamos que a Inteligência Linguística é apenas uma das várias exploradas
por Howard Gardner. É natural concluir que, no que diz respeito ao ensino de
Línguas, ela seja a principal das inteligências supracitadas. Entretanto, seu
aprendizado e uso se dão de forma integralizada às demais formas.

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Os estudos da área da neurolinguística hoje dizem de forma clara que,
quando se ativam diversos espectros da inteligência ao desenvolver uma mesma
atividade, multiplicam-se as possibilidades de absorção e entendimento do
conteúdo. Ou seja, se ativamos vários sentidos ao mesmo tempo, nossa
memorização será mais efetiva, logo, o aprendizado também será. Trata-se da
mnemônica1. Além promoverem uma memorização mais concreta, os sentidos
sendo utilizados de forma mista também tornam a aula mais dinâmica e interessante
para professores e alunos.

4.2. INTERDISCIPLINARIDADE E USO DA MÚSICA

Já é senso comum dizer que o uso de música auxilia no aprendizado de


idiomas. Algumas músicas se tornaram verdadeiros "clássicos" de cursos de língua
inglesa, e até mesmo adultos as utilizam como ferramenta quando se esquecem de
determinada palavra ou da pronúncia de alguma letra do alfabeto. Mas quais são os
benefícios de associar as músicas ao ensino de Línguas?
Através de seu uso, acionamos diversos sentidos. Por consequência,
utilizamos e valorizamos diversas inteligências:
A visão pode ser aguçada pela leitura da letra da música a ser trabalhada, e
também através de ilustrações e outros recursos visuais propícios. Vale lembrar que
as novas gerações tem o raciocínio cada vez mais acelerado e são geralmente mais
abertas a textos não verbais e ilustrações mais complexas do que as gerações mais
antigas (que geralmente se identificam mais com textos verbais).
Outro sentido que é ativado é a audição. Com o uso de faixas de áudio os
alunos são expostos (muito provavelmente) ao idioma legítimo e muitas vezes
nativo. Ao ouvir o professor e os colegas, o aluno usa sua inteligência linguística
através da habilidade de listening e ao tentar reproduzir os vocábulos na língua
estrangeira na cadência e na melodia da música, o que pode lhe proporcionar um
sentimento de desafio e uma satisfação muito maiores do que em outras atividades
de speaking.
De acordo com o perfil da turma, o professor pode também explorar a
inteligência cinestésica e espacial, pois há a possibilidade de criar uma coreografia
ou utilizar gestos mais simples agregados ao conteúdo da música. Uma outra

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possibilidade, principalmente em classes de crianças menores, é usar o recurso da
ciranda: depois que os alunos tenham aprendido a cantar a música e tenham
compreendido seu significado, é muito interessante cantá-la em roda, fazendo
movimentos circulares. Assim, aguça-se o sentido de ritmo e cadência, trabalham-
se: a inteligência cinestésica, pelo ato de se movimentarem; a visual espacial, por
terem que se adequar ao espaço disponível em sala; e também a interpessoal, já
que os alunos promovem uma interação entre si através do movimento e de um
possível diálogo com a música.
Quanto aos adultos, estes podem ser beneficiados com a inserção de
músicas ao longo de seus cursos, de modo a muitas vezes quebrar a tensão em
determinados momentos nas aulas e de também proporcionar-lhes uma experiência
com a língua tal como ela é falada, seja pelos nativos ou demais falantes. De acordo
com a prévia e coerente escolha do professor, as músicas também podem servir
como instrumento para consolidação dos tópicos de gramática, pronúncia e
vocabulário sendo estudados.
Outro benefício é que, por se tratar de um produto da cultura, muitas músicas
são em si carregadas de assuntos interessantes e passíveis de serem discutidos em
sala de aula, gerando uma oportunidade de ativar os conhecimentos dos alunos ao
passo que eles exprimam e discutam suas opiniões e promovam uma interação
saudável, protagonizada pelos próprios alunos, e que produza frutos nas mais
diversas áreas do conhecimento.
Sendo assim, tanto para crianças quanto para adultos, a música se conclui
ser um instrumento acessível, produtivo e prazeroso que agrega e concilia diversas
inteligências e sentidos, proporcionando uma experiência de aprendizado muito
positiva.

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5. PROTAGONIZANDO O PRÓPRIO APRENDIZADO

É um desafio para o professor ensinar além da transmissão do


conhecimento, mas desenvolvendo os alunos de forma que eles possam fazer as
próprias críticas, criarem e atentarem-se para os seus próprios questionamentos e
tentar saná-los. Muitos alunos criam um vínculo de dependência atrelado à imagem
do professor, o que pode ser maléfico ao seu processo de aprendizagem. Como
interferir neste processo, de forma implícita e explícita, de modo a fazer os alunos
construírem sua própria gama de conhecimento?

5.1. IMPORTÂNCIA DA AUTONOMIA E PROTAGONISMO DO ALUNO

Conforme a pedagogia da autonomia de Paulo Freire, “não existe docência


sem discência”, “ensinar não é transferir conhecimento” e “ensinar é uma
capacidade humana”. Hoje sabemos que o ensinar efetivo não somente se dá de
uma maneira construtivista, em oposição à antiga ideia de transferência linear de
conhecimentos, mas se centra na imagem do aluno, suas necessidades e
capacidades.
"[...] Pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o
dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, [...] mas
também discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes
em relação com o ensino dos conteúdos. [...] Porque não estabelecer uma
necessária "intimidade" entre os saberes curriculares fundamentais aos
alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? [A escola] tem
que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes
operam por si mesmos.

Operando por si mesmo, tornam-se autônomos.


Os conhecimentos oriundos da experiência e história de vida de cada aluno
são de suma importância, pois é a partir deles que os alunos constroem sua
identidade como cidadãos, como seres humanos. É imprescindível, pois, que o
educador respeite a autonomia do educando, não privando-o de suas
particularidades questões pessoais. Do contrário, não estaria respeitando sua
autonomia:

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto


estético, a sua inquietude, a sua linguagem [...]; o professor que ironiza o
aluno, que minimiza, que manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais
tênue sinal de sua rebeldia legitima, tanto quanto o professor que se exige
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do cumprimento de seu dever de ensinar, de estar respeitosamente
presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios
fundamentalmente éticos de nossa existência.

As facilidades que a maioria dos alunos encontra hoje em dia, acostumados


e acomodados às facilidades da vida informatizada e o ritmo de vida baseado na
velocidade da luz tornam-se uma densa barreira que o professor precisa quebrar.
Como convencê-los de que o processo é, muitas vezes, muito mais produtivo ao
aprendizado do que a própria resposta a que se procura chegar? Por mais que
sejam
Ainda assim, o professor deve encorajá-los a serem independentes, por
mais que tenha que usar o argumento tão clichê de que o mais importante, no caso
de ter dificuldade, é tentar.

5.2. ABORDAGEM COMUNICATIVA E MÉTODO INDUTIVO

O método de ensino indutivo consiste em levar o aluno a construir o próprio


conhecimento através de um processo protagonizado por ele mesmo. Original das
ciências naturais (observação da natureza e seus fenômenos), e aplicado ao ensino
de ciências exatas (através da contagem e observação com raciocínio lógico), o
método indutivo percorre um caminho peculiar de análise de exemplos discursivos
para o posterior desenvolvimento das regras.
A sequência de eventos em um processo indutivo geralmente consiste em:
 Observação dos exemplos;
 Descoberta da relação entre eles;
 Generalização da relação e formação da hipótese;
 Confirmação ou modificação da hipótese - identificação da regra;
 Aplicação da regra.
A figura do professor, nesse caso, é a de um guia, um facilitador, aquele que,
como a denominação já diz, induz o pupilo a formar suas próprias hipóteses,
confirmá-las ou modificá-las, sintetizar e tomar conclusões, através da observação e
análise de determinado fenômeno. Trata-se de um método controverso, tanto no
ensino de idiomas quanto de outras habilidades, pois nem todos os alunos se
adaptam ou respondem produtivamente à indução – tampouco lhes agrada a ideia
de ter que fazer esforço para realizar as atividades assim propostas, logo, aprender.
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Todo este processo deve levar em consideração o potencial dos alunos
individualmente e como um todo. Segundo o conceito de ZPD, o aluno deve ser
desafiado A desenvolver tarefas que o façam ir além do que ele possa fazer sozinho
(do contrário, ele não estaria aprendendo nada novo, mas apenas consolidando ou
colocando em uso conteúdos já absorvidos). No entanto, não se deve incumbi-lo de
algo que lhe seja impossível de ser feito. Assim sendo, o ideal é que a tarefa se
encontre em um limite de dificuldade que possibilite o aluno de desenvolvê-la
através de seus próprios esforços e com a orientação do professor.
Eis o papel do professor em um contexto de aprendizagem indutiva, tal como
o de Sócrates no seu conceito da Maiêutica1: o de quem não gera, mas dá à luz as
ideias. Trabalha como um guia: dá-lhes a rede e ensina-os a pescar, sem entregar-
lhes o “peixe” do conhecimento com a facilidade que muitos esperariam.
Outro artifício e benefício do uso do método indutivo é a possibilidade que os
alunos têm de, através da tentativa de descobrir por si só as regras gramaticais, por
exemplo, desafiarem seus próprios limites e de defenderem seus pontos de vista. O
professor pode solicitar-lhes, ao desenvolver suas atividades, que expliquem a seus
colegas de classe por que e como chegaram a uma determinada conclusão,
defendendo-a e confrontando-a com a dos colegas. "A boniteza de ser gente se
acha, entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar" (FREIRE,
2011). É uma operação ímpar de construção do pensamento e da identidade dos
alunos, pois o professor pode, através deste tipo de atividade, entender mais sobre o
processo do pensamento de cada um de seus pupilos.
Como mostrar que o tempo que se leva ao desenvolver uma atividade,
aparentemente sem o suporte do professor e os esforços empreendidos em tal
tarefa podem ser uma grande experiência que lhes trará benefícios em todas as
esferas de suas vidas? Este é, sim, mais um grande desafio de todo professor. Mas
tendo sido expostos ao método indutivo de forma gradativa, certamente começarão
a sentir os resultados e a satisfação de aprenderem por seus próprios esforços.

1
Maiêutica: Princípio da filosofia socrática que significa dar à luz o conhecimento.
Pressupõe que a verdade está presente em cada pessoa humana, podendo aflorar aos
poucos na medida em que se responde a uma série de perguntas simples e objetivas.

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Aprendendo a se comunicar através da própria comunicação, veem-se
recompensados.

5.3. ENSINAR EFETIVO E AFETIVO

Como dito anteriormente, muitos pais de alunos e até mesmo professores,


na tentativa de promover uma prática de ensino mais humanizada, personalizada e
próxima do aluno, confundem os papéis de educadores na escola com o papel dos
educadores em casa. Em cada caso, em cada questionamento diante das situações
adversas em sala de aula ou fora dela, o professor deve se questionar qual seria o
limite em que a afetividade deve estar presente em sua atuação, principalmente em
tempos em que a própria satisfação e a felicidade do professor são postas em xeque
diante das dificuldades da sociedade e da falta de reconhecimento dos seus méritos.
Ainda assim, segundo Freire, "é falso também tomar como inconciliáveis a
seriedade docente e alegria” (2011). Por mais árdua que seja a tarefa de ensinar e
de educar, trata-se de uma experiência ímpar e alegre em suas dores, se possível
usar esta antítese. Trata-se de uma atividade essencialmente humana, que, como
tal, não pode ser exercida de maneira fria ou estritamente racional.
Ainda no intuito de estimular esta estima e afetividade por parte do
professor, ele diz, conforme sua própria experiência:

Preciso estar aberto ao gosto de querer bem, à coragem de querer bem aos
educadores e à própria prática educativa de que participo. [...] A minha
abertura ao querer bem significa a minha disponibilidade à alegria de viver.
A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica,
domínio técnico a serviço da mudança.
*Grifo nosso

É nítido que o professor não deve ceder totalmente às questões afetivas.


Não se devem admitir interferências no exercício da autoridade e do dever
profissional, pois antes de qualquer coisa, este estaria descumprindo com sua
postura ética. A avaliação deve acontecer de forma imparcial, sem tendências a
favor ou contra determinados alunos devido às relações entre eles e o professor.
Outro apelo do autor é que o docente “não deixe de lutar politicamente, por
seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua tarefa, assim como pelo zelo devido
ao espaço pedagógico em que atua com seus alunos”.

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Freire admite que há empecilhos para essa dita disponibilidade à alegria
docente, como os salários baixos e o desrespeito à educação e seus agentes. Toda
e qualquer dificuldade acaba por afetar a abertura do profissional, pois, uma vez
quebrado seu estímulo, torna-se mais difícil desempenhar as funções pertinentes à
carreira com o devido afeto e amor. No entanto, deve-se apelar à dita força
misteriosa – vocação, “que explica a quase devoção com que a grande maioria do
magistério nele permanece”.
Todo este processo de conciliar razão e emoção torna o processo de ensino
aprendizagem e a própria rotina em sala de aula muito mais prazerosa, o que, por
consequência, trará mais resultados na aquisição da língua e dos diversos
conhecimentos. Para o professor também haverá benefícios: além do senso de
dever cumprido e a ciência de que seus pupilos de fato progridem em estatura e
sabedoria, colherão os frutos diários de uma relação saudável, harmoniosa e
produtiva com seus alunos. Tudo como uma via de mão-dupla.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pesquisas realizadas estreitaram o caminho entre a teoria estudada


nestes seis períodos da graduação, a observação durante os estágios e a prática
exercitada profissionalmente. Foi aguçado o senso de que o professor é responsável
pelo desenvolvimento de seus pupilos, não somente no que tange seu
aproveitamento de "zero" a "dez", ou de "A" a "E". Assim sendo, não basta elevar o
aproveitamento da turma em testes padronizados, mas deve-se levar em conta o
contexto socioeducativo, as capacidades e as dificuldades de cada aluno e de cada
grupo. Muito além disso, é desafio do professor trazer suas aulas para o mais
próximo possível da realidade da comunicação - geral e de seus alunos. Afinal, de
que adianta saber de cor todos os verbos irregulares em seu passado simples e
particípio, mas não ter auto confiança para se comunicar em uma situação do dia a
dia?
O professor deve estar sensível às peculiaridades de seus alunos
individualmente e na classe em que estão alocados, para valorizar as inteligências
de cada um, não menosprezando nenhuma e não se restringindo apenas a algumas,
para não favorecer apenas a uma fatia da turma. Para isso, as atividades devem
envolver recursos visuais, sonoros, cinestésicos (que envolvam movimento, se
possível, de acordo com a idade e o perfil do grupo de alunos), além de trabalhar,
também, a inteligência crítica e emocional dos alunos. Para isso, basta sair das
páginas frias do material didático e, através da abordagem comunicativa, a língua
utilizando-a, conversando sobre os assuntos do dia a dia, (os conflitos mundiais, a
economia, questões emocionais e religiosas, por que não?). Também é de grande
valia alternar entre as abordagens dedutiva e indutiva, já que nem todos os alunos
respondem bem a uma delas usada isoladamente. Deve-se, porém, incentivar o
aluno a aprender indutivamente, pois é um grande passo para o desenvolvimento de
sua autonomia como falante e como pessoa.
Língua é cultura. Língua e vida!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências. Porto


Alegre: Artes Médicas, c1994. Publicado originalmente em inglês com o título: The
frams of the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


São Paulo: Paz e Terra, 2011. 143 p.

CURY, Augusto. Filhos brilhantes, alunos fascinantes. 74. ed. Colina/SP: Academia
de Inteligência, 2006. 143 p.

http://conceito.de/maieutica - Último acesso em: 09/04/2015 às 17:46

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