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CAMPINAS
2013
SUZANE ACQUAVIVA CARRANO
Scaramucci
CAMPINAS
2013
i
Agradecimentos
colegas por sua colaboração para a realização deste trabalho, pelas entrevistas realizadas
e ideias apresentadas.
me auxiliaram na elaboração desta monografia, seja por meio de ideias ou por meio de
citadas.
ii
Resumo
enquanto alguns professores reprovam qualquer tipo de uso da língua materna, outros,
em contrapartida, acham que ela deve ser empregada nos níveis iniciais para que o
aluno não se sinta desnorteado, pelo fato de ter um conhecimento muito restrito da
língua que está aprendendo. Através de uma revisão da literatura, buscamos entender
como a questão tem sido vista por especialistas. Além disso, foram realizadas
coordenadora da escola. Os dados, assim como nossas incursões pela literatura, nos
mostraram que parece ser impossível o afastamento da língua materna pelo aluno, uma
vez que ela é estruturante do sujeito e é por meio dela que ele tem acesso ao
iii
Abstract
This work aims to investigate the role of the mother language in English as
focusing English teaching to Portuguese speakers. I observe that while some teachers
reprove any specie of use of mother language, other ones, in contrast, think it must be
employed in initial levels for the student not to feel confuse, because of having a very
restrict knowledge about the language they are learning. By means of a review of the
literature, we search to understand how specialists have seen the question. In addition,
interviews were done about the use of the mother language in classroom, interrogating
five teachers of a language schools net, their respective students and the coordinator of
the school. The dates, as well as our incursion in the literature, showed us that the
separation from the mother language by the student seems to be impossible, once it
structures the subject and that is how he accesses the knowledge about the world, what
iv
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................1
1.3. METODOLOGIA.......................................................................................................3
1.3.1. Cenário.....................................................................................................................3
1.3.2. Sujeitos....................................................................................................................5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................7
2.1. OS MÉTODOS...........................................................................................................7
2.3. A TRADUÇÃO........................................................................................................20
3.1. OS SUJEITOS..........................................................................................................22
v
3.2. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................................................41
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................46
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................48
APÊNDICES..................................................................................................................51
vi
1. Introdução
muito importante, uma verdadeira língua franca. Sua proficiência torna-se um requisito
mercado de trabalho, o que faz com que haja uma procura massiva por seu aprendizado.
oferecem cursos de inglês para que os estudantes adquiram as habilidades que servirão
muitos desses contextos é a utilização ou não da língua materna (LM) em sala de aula,
O uso da língua materna na sala de aula de língua estrangeira (LE) sempre foi
uma questão controversa. Em muitas escolas, a orientação é que o português deve ser
evitado a todo custo, literalmente banido da sala de aula. Em outras, ele é aceito e até
mesmo valorizado.
Dessa forma, este trabalho objetiva realizar uma pequena investigação sobre as
1
Os dados foram coletados numa renomada rede de escolas de idiomas,
estudantes de nível básico, uma vez que partimos do pressuposto de que alunos de nível
estrangeira sempre foi uma ampla fonte de discussão. Alguns afirmam que a língua-alvo
deve ser utilizada assim que o aluno inicia a aprendizagem, e, portanto, qualquer
manifestação da língua materna deve ser suprimida desse contexto, uma vez que ela
Outros professores, por outro lado, afirmam que é necessário recorrer, pelo
menos nos níveis iniciais, à língua materna para que o aluno possa compreender a
língua que está aprendendo, alegando que o uso exclusivo da língua estrangeira pode
fazer com que o aluno se sinta desnorteado, por ter conhecimentos limitados de
cadeia de sons sem sentido para o estudante. Logo, os docentes utilizam a língua
materna nas explicações e também por meio de traduções para que o aluno possa se
situar.
2
Desse modo, este trabalho tem como objetivo responder às seguintes perguntas
de pesquisa:
Em que situações ela pode ser útil e em que momentos ela pode ser prejudicial?
1.3. Metodologia
usados para sua seleção. Em seguida, falarei sobre o instrumento de coleta dos dados, a
1.3.1. Cenário
grande renome no mercado, localizada num bairro de classe média no sul da cidade de
Campinas. A escola conta com aproximadamente 600 alunos, entre classes B e C, e visa
como público-alvo, assim como outras instituições do ramo em geral, atender a todos
aqueles que desejam aprender a língua inglesa para ingressar no mercado de trabalho.
estrangeiros e informática.
3
O curso se estrutura na modalidade Personalizado, isto é, diferentemente de um
curso regular tradicional oferecido pela maior parte das escolas de idiomas, o professor
monitor e atividades de DVD, com as quais o aluno se ocupa no restante das duas horas
de aula semanais. Após concluir a explicação, o professor reinicia o ciclo com outro
aluno. O objetivo de tal modalidade é que o curso seja cumprido no ritmo individual do
estudante. Assim, o tempo de uso de um livro pode variar de acordo com o rendimento
de reforço. Muitas vezes, os monitores vêm a ser professores posteriormente, sendo que
O material, na série adulta, por fim, é constituído por sete livros, sendo dois de
livros se dividem em doze lições cada um, e as lições devem ser trabalhadas entre 2 e 3
horas cada uma, sendo que o curso é realizado em 2 horas semanais, que podem ser
7 meses. O material inclui, além do livro, também uma apostila que, por sua vez, é
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1.3.2. Sujeitos
A.D.F., e seus respectivos alunos, J.I., T.D.S., F.R.O., A.B.T.A. e V.F.C., todos de nível
básico.
escolheram os alunos menos tímidos que, pudessem, portanto, ter uma maior
estruturadas, para termos acesso, de acordo com Laville & Dionne (1999), às suas
5
e foram gravadas e, posteriormente, transcritas para a análise dos dados. As cópias das
Foram utilizados três diferentes roteiros de perguntas para cada uma das
coordenadora sobre o uso da língua materna. Já nas entrevistas com os professores, foi
que momentos eles precisavam, em caso afirmativo, recorrer a ela. Além disso, foi
semelhanças e diferenças entre ambas. Por fim, as entrevistas com os alunos incluíram
que momentos, se faziam comparações entre as línguas e se, em sua opinião, essas
roteiros, foram também incluídas perguntas sobre os perfis dos sujeitos. No caso da
pode determinar se ela teve ou não contato com teorias de aprendizagem, seu tempo de
aprimoramento, uma vez que tais fatores podem ser responsáveis por alterações nas
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aprimoramento. Além de tais aspectos, foram também considerados o tempo de
inglês na escola e também antes de se matricularem nela, bem como o contato que
tinham com ela no cotidiano, pois se entende que tais fatores podem contribuir para
2. Fundamentação teórica
Nesta seção, apresentarei a fundamentação teórica para este estudo. Para isso,
que foram utilizados entre os séculos XIX e XX, baseando-me em Brown (2001),
procurando salientar o papel que a língua materna tinha em cada um, buscando
Por fim, na última subseção, será abordada a tradução como uma das maneiras de
utilizar a língua materna na sala de aula. Trata-se de uma maneira que apresenta muitas
2.1. Os métodos
Desde o século XIX, quando os estudos sobre sua função se iniciaram, a língua
7
passou a ser vista como um obstáculo para a aquisição da LE, passando a ser suprimida
objetivos linguísticos condizentes com uma abordagem, que por sua vez corresponde,
materna desempenhou no ensino por meio de cada um, para que observemos as
Physical Response e The Natural Approach. Por fim, na última subseção, apresentarei a
Clássico, foi muito utilizado nos séculos XVIII e XIX para a aprendizagem de Latim e
Grego, línguas estrangeiras ensinadas nas escolas. O enfoque era dado a regras
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declinações e conjugações, baseando-se em traduções de textos escritos e uma extensa
Havia, nesse método, uma forte presença da língua materna, que, além de se
manifestar por meio da tradução, era utilizada para ministrar as aulas. Assim, havia
pouco uso ativo da língua estrangeira, pois o método procurava fazer com que os alunos
dando poucas oportunidades para que eles tivessem contato com a oralidade e os fatores
aproximadamente, embora ainda seja utilizado nos dias de hoje, quando se busca
priorizar o ensino de habilidades escritas, uma vez que o principal objetivo desse
oralidade. Com o advento desse método, a língua materna começa a ser restringida na
sala de aula, pois ele procura, como salienta Brown (2001), simular o modo “natural” da
forma, passou a ser ensinada, de acordo com Camargo (2012), através dela própria, e
não mais através da língua materna dos aprendizes. O método era aplicado em escolas
serviriam de modelo aos alunos sobre como a língua deveria ser falada.
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De acordo com Brown, o MD se popularizou no começo do século XX e
escolas públicas, que tinham como restrições o grande número de alunos por turma e o
demandou o uso da tradução, fazendo com que exercícios de tradução passassem a ser
Segunda Guerra Mundial. Assim como no Método Direto, as aulas se davam na língua-
alvo e seu ensino, segundo Rivers (1975), partia da oralidade, que era vista como a via
pela qual o indivíduo aprende sua primeira língua. Seu principal instrumento, de acordo
com Rivers, seria a repetição, buscando que cada estrutura fosse aprendida pela
A língua materna, por ser considerada perigosa nos níveis iniciantes, só teria
presença nos estágios mais avançados, quando a tradução passaria a ser utilizada como
finalidade comparar ambas as línguas, sendo considerada uma quinta habilidade, após
fala, compreensão oral, leitura e escrita. Desse modo, observamos que, no nível básico,
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sobre o qual se dá a investigação deste trabalho, a língua materna era considerada um
ensino e aprendizagem de segunda língua cresceram, e tal área deixou de ser apenas um
ramo da Linguística para se tornar uma disciplina autônoma. Os métodos passaram a ser
processos eram muito mais complexos e que um simples método não daria conta dessa
comunicativa, que levou ao surgimento de outros métodos. Tal abordagem prioriza que
a língua seja aprendida por meio de seu uso, em detrimento de explicações gramaticais.
1980, que, de acordo com Brown (2001), são englobados pela abordagem comunicativa:
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Community Language Learning (CLL) foi idealizado por Charles Curran. O
método valoriza dinâmicas sociais que busquem interação que não só entre os alunos,
mas também com o professor, por meio de uma relação interpessoal. A turma é vista
colaborador que centra sua atenção nos alunos em suas necessidades. Os alunos tornam-
As aulas ocorrem por meio de conversação livre conduzida pelas intenções dos
outro, primeiramente, na língua materna, o professor traduz e o aluno repete o que acaba
de ser dito pelo professor na língua-alvo. O interlocutor, por sua vez, responde também
na língua materna, e novamente o professor traduz para que ele repita em seguida,
reiniciando o ciclo a cada novo discurso. O objetivo de tais técnicas é que os alunos
aprendam indutivamente por meio da tradução, que deve ser abandonada gradualmente,
aprendizagem, o que não funcionaria para alunos de nível básico. Além disso, outra
12
Suggestiopedia
Desse modo, durante as aulas, a música barroca começa a ser reproduzida logo
no início. A partir de então, as aulas são divididas em duas partes: na primeira, quando o
texto, o qual os alunos acompanham em seu livro. Entre ambas as partes, há minutos de
e outras variedades. As lições presentes no livro dos alunos são divididas em unidades,
apenas na modalidade escrita, sendo suprimida do uso oral. No entanto, não tardaram as
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No método Silent Way, idealizado por Caleb Gattegno, a aquisição da língua é
vista como um meio em que os alunos formulam e testam hipóteses sobre a língua que
bastões coloridos, que servem para introduzir vocabulário e sintaxe, e quadros, que
visuais, substituindo qualquer uso da língua materna, que passa a ser suspensa de sala
de aula. As desvantagens do método apontadas por críticos são a distância entre o aluno
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O ensino se dá por meio de estruturas que são praticadas através de comandos
também dados pelo professor, que mostram uma ação através de gestos, e os alunos
devem repetir tal ação, buscando atividades divertidas e engraçadas para que a
alunos como atores, com amplo uso do imperativo para que os alunos executassem
ações físicas. Após repeti-los, os alunos mostram ao resto da turma e, depois de ter
gestos, assim como as pistas visuais em Silent Way, também rejeitam o uso de LM, que
continua ausente. Os críticos, entretanto, diziam que o método parecia efetivo nos níveis
iniciais, mas não nos avançados, e não permitia o uso espontâneo da língua.
Desenvolvido por Stephen Krashen nos anos 1980, em The Natural Approach, a
língua é aprendida por meio de seu uso natural e espontâneo, sem que sejam dadas
explicações sobre a gramática, que passa a ser aprendida intuitivamente, e com emprego
de materiais autênticos, ou seja, vindos da realidade. A língua passa a ser vista como um
qualquer tipo de recurso para que os alunos possam compreender o significado das
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palavras que não seja a tradução entre duas línguas distintas. No entanto, de acordo com
Checchia (2002), um pouco mais tarde, alguns exercícios de tradução passaram a ser
nas aulas condizentes com cada método. Até o Método Audiolingual, vemos os métodos
Comunicativa.
escritos
tradução
pistas visuais
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Total Physical LM ausente, substituída por gestos
Response
Observando a tabela acima, nota-se que houve, com o advento de cada método,
várias tentativas de suspensão total da LM de sala de aula, mas que ela sempre
uma vez que a ausência da língua materna, de acordo com o que foi apresentado nas
língua-alvo.
ser estudada, de acordo com Hakan Ringbom (1987), entre o final do século XIX e
início do século XX, com Henry Sweet e Harold Palmer. Nesse momento, a LM, que
sempre havia sido muito presente em sala de aula de LE até então, foi abolida desse
contexto, com o advento do Método Direto, e foi apontada logo nos estudos iniciais por
Sweet e Palmer como um obstáculo para a aquisição da língua estrangeira. Diante de tal
sobre o ensino de inglês para falantes de tcheco, em que usava, para se referir às
“interferência”, sobre o qual houve uma ampla discussão nas décadas de 30 e 40. No
entanto, o papel da língua materna assumiu uma nova importância a partir dos anos 50,
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em que já vigorava o Método Audiolingual. Desde então, o tema tem sido estudado nos
de hábitos, e velhos hábitos são difíceis de quebrar enquanto novos são difíceis de
adquirir, o que faz com que a língua materna afete o aprendizado da língua estrangeira e
as diferenças entre ambas levem a erros. Lado propôs, assim, a Hipótese da Análise
entre o final dos anos 1960 e começo dos 1970. Tal hipótese corresponde a um estudo
dos contrastes entre duas línguas que diz que a principal barreira para a aquisição de
que o aprendizado de línguas é como qualquer outro aprendizado humano, que por sua
adulta, mas que, muitas vezes, são lógicos dentro do sistema limitado no qual as
crianças operam. Dessa forma, a falta de erros poderia até mesmo impedir o
aprendizado, pois os erros levariam a cuidadosas correções que fazem com que as
Logo, no final dos anos 1960, os aprendizes de LE passariam a ser vistos não como
produtores de uma língua malformada, imperfeita e repleta de erros, mas como seres
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Já Corder (1967) afirma que o adulto teria uma forte tendência em repetir e
expandir o discurso de uma criança que está aprendendo a primeira língua, testando um
aprendiz de língua estrangeira, por sua vez, também testaria hipóteses, porém mais
esforços humanos, e podem ser cometidos até por nativos na língua, pois vivemos num
num sistema, originado de uma estrutura psicológica latente no cérebro que é ativada
apenas quando tentamos aprender uma língua estrangeira/segunda língua, que resulta da
são comuns em todas as línguas. Logo, como o aluno já tem conhecimento desses
através dela que ele adquire conhecimento e tem contato com o mundo. Para Celce-
Murcia & Hawkins (1985), uma vez que o aluno já possui uma língua, o mesmo já tem
muitas ideias formadas sobre ela baseadas em suas experiências com o idioma materno.
estrangeira, o aluno retomaria o que ele já sabe sobre a língua materna e a língua-alvo.
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Quanto aos estágios iniciais da língua estrangeira, segundo Ringbom (1987), o
estudante tem várias lacunas de conhecimento na LE que são preenchidas com base na
LM, pois a ativação de elementos linguísticos seria facilitada pelas similaridades entre
sintaxe), uma vez que, para compreensão, o aprendiz deve ativar esquemas cognitivos
gerais aos quais ele está acostumado na primeira língua, enquanto a falta de similaridade
implica que os falantes devem recorrer a pistas extralinguísticas para inferências. Tal
mobilizados teriam como ponto de partida a LM, fazendo com que falantes de línguas
de LE.
2.3. A tradução
que o aluno deve esquecer a língua materna para aprender a língua estrangeira, banindo-
Costa (1988), entre parênteses durante o processo. Dessa forma, a tradução foi levada ao
descrédito, já que trazia à tona o que deveria ser abolido: a língua materna. No entanto,
linguística e seu uso em sala de aula se dá de maneira automática assim que o aluno
No caso deste trabalho, falaremos da tradução interlingual, que seria considerada uma
identificados.
obstáculo para que ele adquira proficiência na língua-alvo. Entretanto, para Costa
(1988), a tradução é necessária porque sua recusa pode criar situações tensas e
embaraçosas em sala de aula que podem ser evitadas e também porque pode revelar
universais de linguagem, que não estão nas gramáticas particulares de cada língua, mas
em certos tipos de discurso, como por exemplo o discurso científico, que tem as
aprendizagem de uma língua estrangeira deveria ser apresentada não como uma
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aquisição de novo conhecimento e experiência, mas como uma extensão ou uma
alunos. Para a análise, serão utilizadas as respostas dadas pelos sujeitos às perguntas
referentes aos depoimentos dos professores e de seus respectivos alunos aos pares, já
3.1. Os sujeitos
A Coordenadora
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editora FPS e pela Cultura Inglesa, além de cursos online, já que exerce a função de
a ministrar um curso preparatório para vestibular para alunos da própria escola. Ela
coordenadora.
língua inglesa, A. diz que o inglês deve ser usado desde o primeiro momento. No
entanto, ela concorda apenas parcialmente com a política da escola, já que afirma que,
Sobre sua opinião quanto ao uso da língua materna e relações entre inglês e
português, A. diz:
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É necessário no sentido de deixar o aluno confortável em termos de
entendimento, porque, por exemplo, a nossa metodologia prega que o
aluno aprenda a pensar em inglês, só que tem algumas estruturas na
nossa língua portuguesa que o aluno precisa ter essa comparação, ter
essa base de comparação para compreender e efetivar essa lógica na
língua inglesa, então é muito mais fácil, é um caminho mais rápido no
sentido de assimilação, então, justamente, a gente faz essa orientação
quando a gente está aplicando e ensinando a base da língua, porque aí
ele vai poder ‘montar’ a lógica nesse pensamento, e depois desse
embasamento feito, como se fosse o alicerce de uma casa, muito bem
organizado, e o aluno atento para isso, as estruturas seguintes vão vir
naturalmente, e aluno então vai conseguir essa independência para
conseguir moldar esse pensamento e agilizar, no caso, a sua
comunicação na língua inglesa, então a língua materna não tem que ser
usada a todo momento, mesmo porque como um método comunicativo,
uma maior parte da aula que a gente conseguir se comunicar com o
aluno em inglês, usando expressões, então o aluno assimila isso muito
mais rápido, só que algumas estruturas precisam do suporte da língua
materna para compreender e elaborar as estruturas da língua inglesa, e
aí então, ele efetiva, consolida, no caso, o entendimento da língua
inglesa, que é o que ele está aprendendo. Acho que, nesse sentido, a
importância se faz nesse momento, para consolidar esse aprendizado.
Dessa forma, a coordenadora diz que o inglês deve, sim, ser usado desde o
primeiro momento, mas que o aluno ainda não tem conhecimento da língua, então, para
português. Este, por sua vez, deve resumir o que, anteriormente, foi explicado em
inglês, ou seja, deve haver uma tradução do que foi falado em inglês com o aluno,
De acordo com A., o inglês deve ser utilizado e cobrado do aluno, isto é,
demandado em sua produção da língua, através do chamado day by day language, que
em que o aluno já aprendeu uma determinada estrutura da língua e já sabe, logo, utilizá-
la. Ainda assim, ela afirma que o português tem um importante papel de suporte para a
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compreensão e elaboração de estruturas da língua inglesa, comparando-o ao alicerce de
uma casa, já que, muitas vezes, são encontradas estruturas equivalentes na língua
O professor PFF
na PUCC e é professor de inglês desde 2011. Estudou inglês por três anos na mesma
escola e, após dois anos como aluno, tornou-se monitor, função que exerceu por mais
três anos até se tornar professor. Embora não tenha realizado cursos de atualização,
língua apenas em momentos que ele julga estritamente necessários. P. afirma estar de
acordo com a política da escola sobre restringir o máximo possível o uso de português
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que ser uma coisa nova para eles pensarem em inglês o tempo inteiro e
não ficar traduzindo, porque a pior coisa é ficar traduzindo.
Logo, segundo P., há um uso predominante do inglês em sua aula, mesmo com
alunos de nível básico, pois ele pretende ensinar a língua como um novo código,
momentos por meio de traduções simultâneas, ainda que de forma rápida, de pontos não
português, proporcionando um contato direto com a língua-alvo para que o aluno não
aluno dispõe no início de sua aprendizagem dificulta que eles pensem diretamente em
inglês. Assim, ainda que o professor procure banir o uso do português, ele reconhece
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que o aluno tem momentos de dúvidas e dificuldades em relação à língua-alvo e que,
semelhanças e diferenças entre estruturas de ambas as línguas, ele diz que há momentos
que há semelhanças com o português. Da mesma forma, ele utiliza comparações quando
se trata de falsos cognatos, isto é, palavras que são fonologicamente semelhantes entre
ambas as línguas, mas que dispõem de significados totalmente diferentes. Assim, uma
pode levar a confusões, P. ressalta que elas têm diferentes significados. Logo, nota-se
que, embora P. seja contra as comparações, ele não consegue evitá-las, o que mostra,
A aluna JI
o segundo livro da série, correspondente ao nível Básico II. Antes de iniciar os estudos
Fundamental, mas já havia tido contato com a língua por meio de músicas e filmes em
inglês.
J. diz, como já relatado por seu professor P., que, apesar da aula ser ministrada
27
(...) vamos supor, quando eu tenho dificuldades em falar alguma frase
em inglês, eu falo em português e ele repete em inglês e assim eu vou
aprendendo melhor.
inglês na produção de seus alunos, apesar de permitir que eles primeiramente utilizem o
produção pouco desenvolvidas dos alunos de nível básico. No caso de J., ela nunca
havia estudando inglês anteriormente, tendo contatos com a língua apenas por meio da
mídia, como filmes e músicas. Assim, nota-se uma ainda grande dependência da aluna
inglês, o que faz com que ela recorra à LM em sala de aula, passando a usar a LE
Para que os alunos possam utilizar o inglês, P. traduz o que o aluno falou
anteriormente do português para o inglês, para que seus alunos o repitam. J. afirma que
língua inglesa, pois lhe permite relacioná-la com o português, língua que domina. Já em
resposta à pergunta sobre a compreensão, J. diz que o uso escasso do português traz
algumas dificuldades, apesar de ver vantagens no uso predominante do inglês, já que ele
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3.1.2. Professora D.M.S. e aluno T.D.S.
A professora DMS
D.M.S., de 20 anos, leciona inglês desde 2009, tendo iniciado seus estudos nessa
que, como já citado pela coordenadora, apesar de afirmar que o inglês deve ser utilizado
o tempo todo, permite que, alunos com mais dificuldade, o português seja utilizado no
(...) para aqueles alunos que estão começando, que não têm noção ainda
de inglês, eu costumo usar (o português). E às vezes, em algumas
explicações, outro uso em que o aluno precisa ter um pouco mais de
atenção, também, mas sempre misturando inglês e português para o
aluno também não se acostumar com o professor falando só português.
momento:
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que é ‘mais ou menos’ eu ainda misturo um pouco do inglês, um pouco
do português, porque tem coisas que ele não tem noção.
da língua, ou seja, a partir do momento que o aluno torna-se ciente de uma determinada
necessário que a língua seja utilizada com base em um conhecimento linguístico que, no
caso de alunos iniciantes que têm, portanto, poucos recursos na língua-alvo, pode ser
acessado por meio da língua materna. A professora diz, no entanto, que ela utiliza o
português nas explicações gramaticais, por julgar que o aluno de nível básico se sente
mais confortável em termos de entendimento, já que ela está introduzindo uma nova
informação, sobre a qual o aluno está tomando conhecimento apenas naquele momento.
que eles têm sobre a língua, uma vez que há estruturas na língua inglesa que são
podendo acessá-la por meio da associação com o que ele sabe na LM. Ela citou também
que ele tem da língua e também, para D., à personalidade do aluno, já que há alunos
com maior dificuldade e que, portanto, levam um tempo maior para adquirir confiança.
30
O aluno TDS
utilizava o segundo livro, isto é, estava no nível Básico II. Dez anos antes de iniciar o
curso na escola em questão, T. chegou a estudar dois ou três livros em outra escola
realizado. Devido ao tempo em que permaneceu sem estudar a língua, T. afirma não se
lembrar do que aprendeu nos cursos passados e que, por essa razão, precisou ingressar
no curso atual no nível mais básico, voltando alguns níveis. O contato que estabelecia
com a língua era por meio de filmes legendados que costumava assistir e também de
algumas leituras em inglês, mas diz que, devido à falta de conhecimento da língua, não
T. afirma que D. utiliza pouco o português, mas que sempre procura relacionar a
inglês mas que, devido ao estágio em que se encontra e ao pouco domínio que tem da
língua, ela traduz e reformula a explicação em português sobre o que ele não conseguiu
Apesar de apresentar tal opinião sobre a língua materna em sala de aula, T. diz
que ela tem uma importância no estágio atual em que ele se encontra:
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Ele (o português) acaba sendo (importante) nesse momento, nesse
estágio em que eu estou, senão teria coisa que eu acabaria não
entendendo da aula. Então no momento ele acaba sendo sim. Mas a
partir do momento que eu dominar mais o inglês eu acho que o
português na sala de aula é totalmente desnecessário.
gramaticais em português. Tal fato pode se dar uma vez que T. já havia tido um contato
significativo com o inglês antes de iniciar os estudos na escola presente, apesar de ter
começado o curso no primeiro livro, o que pode ter contribuído para uma maior
Logo, de acordo com T., D. faz uso da tradução, a qual o aluno crê que deveria
ser diminuída por retardar a aprendizagem do inglês. Entretanto, ele reconhece que, uma
vez que ele tem ainda um conhecimento restrito do inglês, o português acaba sendo
relação à comparação, já que ela retoma o conhecimento prévio que o aluno já possui
sobre a língua portuguesa, idioma do qual ele possui um domínio bem maior, e pode
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3.1.3. Professora A.P.S.T. e aluna F.R.O.
A professora APST
2013), sendo que leciona na escola em questão desde 2010. É a professora com mais
experiência anterior antes de começar a ensinar em tal escola. Desse modo, não estudou
inglês nela e nunca foi monitora. A. estuda inglês desde os 6 anos, com algumas
interrupções, e sempre teve um vínculo afetivo com a língua. É formada em Letras pela
presente no cotidiano, e também como secretária bilíngue. A. alega nunca ter parado de
estudar inglês, pois afirma que uma boa parte de seu conhecimento da língua vem de
estudos por conta própria, já que sempre buscou saber mais sobre a língua devido a seu
interesse por ela. Além disso, A. também teve bastante contato por meio de sua
graduação e de seus empregos anteriores e tem como hobby escutar música clássica, o
que lhe demanda também o inglês para o conhecimento de sua história e de seus
grandes músicos.
A. já afirma que a política da escola determina que o português não deve ser
como aluna, afirma usar, sim, o português em sala de aula com alunos de básico para
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Às vezes sim, quando é necessário (usar o português), porque eu acho
que, antes de mais nada, o ensino do inglês passa por um caminho, por
uma trajetória, e eu não gosto de nada radical, porque eu acho que
quando você radicaliza uma situação, você acaba marginalizando o
aprendizado de uma maneira, até mesmo... radical demais cega. Então
eu tenho certeza que se eu entrasse na minha sala e priorizasse cem por
cento o uso do inglês, eu teria vários alunos que já estariam
desmotivados e teriam desistido de estudar. Então, claro que a gente
busca sempre o uso da língua estrangeira, e cobra deles isso, mas eu
acho que o fundamental é você perceber que o aluno está aprendendo,
que ele está conseguindo acompanhar aquilo que você fala porque, já me
aconteceu de fazer aulas de outros idiomas, já tive aulas de espanhol e
também estudei um pouco de italiano e aí assim, eu entrava numa sala
de aula onde eu não conseguia acompanhar nada, não conseguia
perceber nada do que acontecia em volta de mim, e foi muito frustrante.
Então eu acho que precisa ser usado numa certa parcimônia, não dá
para a gente radicalizar e falar: ‘não, vai ter que ser assim e acabou!’.
necessário para que o aluno se situe na aula, para que ele entenda o que está
acontecendo ao redor dele, buscando, assim, passar uma maior segurança ao aluno. Ela
diz que utiliza comparações com alunos não apenas de nível básico, mas também de
34
outros níveis, para também estimulá-lo a buscar saber mais sobre a língua. Mais
A aluna FRO
F.R.O. tem 16 anos e estuda inglês na escola desde 2012, tendo iniciado já no
segundo livro (Básico II). Antes de começar as aulas na escola, já havia estudado a
Às vezes sim porque é um pouco difícil ainda para mim, porque eu estou
no começo. Mas, ‘tranquilo’.
Eu acho que (a comparação) ajuda, porque fica mais fácil para você
conseguir chegar à língua.
língua, F. afirma que o uso do inglês auxilia, pois lhe proporciona um maior contato
com o idioma, mas que às vezes carece do português, apesar de ter uma boa
compreensão da língua. Sobre tradução, no entanto, não foram encontradas em sua fala,
35
3.1.4. Professor T.O.A. e aluna A.B.T.A.
O professor TOA
docentes nessa escola. Antes de começar a lecionar, T. estudou inglês durante 5 anos na
T. diz que a política da escola determina que o professor deve utilizar somente o
inglês em sala de aula, discordando da mesma, já que afirma que, na prática, não é
quanto as diferenças entre ambas as línguas, que por sua vez podem levar a confusões,
alegando que:
(...) eu acho que deixa as coisas mais claras para os alunos saber que
uma coisa é parecida ou é diferente. O aluno tem menos chance de
confundir depois.
36
Para T., o aluno deve ter conhecimento prévio sobre a informação que o
professor lhes transmite na língua-alvo para que possa compreendê-lo. É o que ocorre,
início do curso e, uma vez que são utilizadas sempre, tornam o aluno apto a
português porque, segundo o professor, a maior parte dos alunos ainda não teve um
contato amplo e ativo com a língua anteriormente, ainda que através da mídia. Com
alunos que dispõem desse contato anterior, portanto, entende-se que ele utilize já a
língua-alvo.
alunos saibam distinguir as semelhanças e as diferenças entre ambas as línguas para ter
maior clareza sobre a língua que está aprendendo e não gerar confusões futuras. O
professor não mencionou, no entanto, o uso ou não da tradução. Vejamos, por ora, os
A aluna ABTA
estudava o segundo livro (Básico II). A. estudou inglês em, aproximadamente, 2001,
num curso que durou um ano e meio, tendo-o interrompido e retornando no curso atual.
Retornou no nível mais básico devido ao grande intervalo de tempo em que ficou
inativa. A. diz que, antes de iniciar o curso, só tinha contato com a língua por meio de
atividades lúdicas, como músicas e filmes, e que, depois que iniciou o curso, passou a se
37
A. afirma que T. utiliza muito o inglês em sala de aula, recorrendo ao português
quando necessário, e também costuma fazer muitas comparações. De acordo com A., o
De acordo com A., tanto o uso do português quanto as comparações são úteis em
muitas ocasiões, havendo momentos, inclusive, em que a língua materna faz falta:
como ponte, sem especificar, no entanto, quais são esses momentos. Sobre as
acordo com A.B., é necessário uma língua base como referência. A.B. também não cita
A professora ADF
leciona inglês desde 2005, tendo iniciado suas atividades docentes na escola. Dentre os
foi aluna da escola por 5 anos, tornou-se monitora em 2004 e, após um ano, começou a
explicações em inglês primeiramente e, em seguida, traduz o que acaba de ser dito para
o português. O uso da tradução se dá para dar mais segurança ao aluno, até que ele se
torne apto a compreender somente em inglês. Segundo A., a política da escola diz que
deve ser falado em inglês com alunos iniciantes e os professores devem traduzir quando
Logo, A. também introduz o inglês desde o início do curso dos alunos, ainda que
eles estejam no nível básico. Ela afirma que sempre utiliza o inglês, em todos os
aula. Quando ela percebe que o aluno já compreende o inglês, ela suspende o uso do
português. Logo, a tradução corresponde a um meio pelo qual ela localiza dificuldades
no idioma alvo. Quanto às comparações, ela afirma evitar, por crer que elas possam
levar a erros e confusões devido às diferenças que possam existir entre ambas as
línguas.
A aluna VFC
mais básico, tendo iniciado o curso apenas um mês antes da entrevista. Ela é a única
aluna que estuda o primeiro livro, o Básico I. Antes de iniciar o curso na escola, havia
estudado inglês somente na escola de Ensino Fundamental, com aulas muito básicas e
40
focadas na gramática. No entanto, tinha bastante contato com a língua por meio de
músicas.
português.
(As comparações) Ajuda, porque dá para você ver que tem uma
diferença entre uma coisa e outra. Se você pensar em inglês, como numa
prova, você poderia lembrar que no português a palavra é de tal jeito, aí
você lembra que em inglês é um pouquinho diferente. Aí fica mais fácil.
afirma que ela as realiza em sala de aula e que elas favorecem a aprendizagem e, em
oposição ao que crê a professora, reforçam as diferenças entre as línguas. Pela mesma
razão, a aluna diz que a tradução é bem favorável, pois ela é o meio pelo qual ela
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1. Quais as percepções de professores e alunos do contexto investigado sobre o uso
2. Em que situações ela pode ser útil e em que momentos ela pode ser prejudicial?
Sobre a primeira questão, apresento, a seguir, uma retomada dos dados a partir
da Tabela 2:
Tabela 2 – Utilização da língua materna e realização de comparações pelos professores, segundo seus
próprios depoimentos e de seus respectivos alunos.
PROFESSOR UTILIZAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DA REALIZAÇÃO DE REALIZAÇÃO DE
ALUNO SEGUNDO O
ALUNO
política que diz que a comunicação em inglês deve ser realizada desde o primeiro
Comunicativa, em que a língua deve ser aprendida não apenas através de explicações
gramaticais, mas também por meio de seu uso espontâneo e natural, no caso, por
já conhecidas pelos alunos, para que eles aprendam também por meio de seu emprego.
42
No entanto, para que uma determinada estrutura da língua inglesa possa ser utilizada
com o aluno em sala de aula, este precisa ter já conhecimento dela, ou seja, ela deve ser
utilizada apenas depois que os alunos as aprendem. Assim, quando são inseridas
O uso do português para explicações gramaticais foi citado nos depoimentos dos
professores D.M.S., A.P.S.T e T.O.A., que afirmaram utilizar a língua com alunos que
têm conhecimento restrito do inglês, defendendo uma inserção mais gradual da língua.
significativamente o inglês com eles, uma vez que eles já dispõem um certo
produção, os alunos devem ter conhecimentos prévios como referência no inglês para
que possam utilizá-lo e, quando eles ainda não têm tais conhecimentos na língua, devem
da língua materna para facilitar a ativação de elementos linguísticos por meio das
Tais lacunas podem ser também compensadas por meio de comparações, isto é,
cujo uso também se encontra recorrente nos depoimentos dos professores, incluindo
P.F.F., que afirma que, ainda que procure evitar o português, realiza algumas
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evitar o uso de comparações, por acreditar que elas podem conduzir o aluno a erros, ou
acordo com a Hipótese da Análise Contrastiva, proposta por Lado (1957). No entanto,
sua aluna V.F.C. afirma o contrário, ou seja, que ela utiliza sim comparações. Já os
amplo do português. Assim, uma vez que eles são psiquicamente estruturados pela
língua materna, é por meio dela que eles podem acessar qualquer tipo de conhecimento
com Celce-Murcia & Hawkins (1985), sobre as quais eles podem construir outras ideias
P.F.F., por sua vez, foi um caso singular dentre os professores entrevistados,
pois ele afirmou evitar ao máximo o uso da língua materna. Nota-se, assim, uma
aulas, já que ele procura simular uma situação de imersão, em que o aluno deve
aprender a língua diretamente por meio do uso, como ocorre com a língua materna. No
entanto, P. admite, assim como afirma sua aluna J.I., utilizar o português em momentos
de dúvidas e dificuldades. A língua materna também aparece nas aulas de P., de acordo
com o depoimento de sua aluna, por meio da fala dos alunos, que posteriormente são
traduzidas, que ainda não têm um conhecimento tão profundo do inglês. T.D.S., aluno
de D.M.S., também alega a importância do uso direto do inglês, mas também admite a
materna torna-se muito difícil quando o conhecimento sobre a língua-alvo ainda é muito
escasso.
44
Outro procedimento que traz a língua materna que também mostrou-se
recorrente nas aulas, de acordo com os depoimentos dos professores e dos alunos, foi a
tradução. A.D.F., outro caso singular entre os professores, afirma utilizá-la com alunos
de nível básico, pois consiste no meio pelo qual ela observa se o aluno já compreende as
explicações em inglês. Assim, a tradução termina por servir como um instrumento para
localizar dificuldades dos alunos, como defende Costa (1988). No momento das
entrevistas, sua aluna V.F.C. utilizava ainda o primeiro livro, tendo estudado na escola
há menos tempo que os outros alunos. Logo, A. ainda utilizava a tradução com ela. V. e
outros alunos que afirmam que seus professores utilizam a tradução atribuem muitos
benefícios a ela, devido ao trabalho comparativo, citado por Costa (1988), realizado por
meio das associações entre as palavras utilizadas pelo professor nas duas línguas,
aprendizado.
Sobre a segunda questão, observo que a LM, uma vez que ela estrutura o aluno
psiquicamente, permite que ele tenha contato com o mundo e acesso ao conhecimento,
que ainda se encontra muito restrito na LE, no caso de alunos de nível básico. As
LM pelo aluno torna-se impossível. Seu uso deve, entretanto, ser abolido quando o
aluno adquire alguma espécie de familiaridade com a LE, quando ele já toma
que o conhecimento sobre ela seja construído. Nesse caso, a utilização do português,
língua seja construído, não contribuem para uma independência da língua materna, o
45
4. Considerações finais
proporcionados pela língua materna na sala de aula de inglês como língua estrangeira e
as percepções sobre ela dos professores, dos alunos e da coordenadora da escola onde se
deu a pesquisa. Para fundamentar o trabalho, fiz uma revisão da literatura que constou
de duas partes. Na primeira, fiz uma incursão pelos métodos de ensino utilizados até o
século passado para que pudéssemos depreender como o uso da língua materna era visto
ser eliminada de sala de aula, mas que ocasionalmente ela voltava, pois ela era
processo bem complexo, e que um simples método não dá conta de tal complexidade.
Assim, um professor deve seguir não apenas um método, mas também uma abordagem.
Foi observado, por meio dos dados, que todos os professores utilizam a LM, em
maior ou em menor grau, apesar de alguns se manifestarem contra seu uso. Dois
professores afirmaram ser contra a comparação, por crer que ela pode conduzir o aluno
depoimento de seus alunos, nota-se que, ainda assim, tanto a comparação quanto a
tradução estão presentes nas aulas de ambos. Quanto aos alunos, todos se posicionaram
a favor do uso da LM, bem como a coordenadora. Logo, no geral, o uso da LM com
46
Portanto, nota-se que é sim importante que o inglês seja introduzido ao aluno
desde o início do curso, uma vez que quanto mais breve se inicia o contato com o
idioma, mais facilidade o aluno tem posteriormente para sua aquisição, mas que, devido
ao conhecimento restrito da língua, o português tem uma importante função nos níveis
iniciais, já que o uso exclusivo imediato da língua-alvo pode ser prejudicial para o
Há, no entanto, outros aspectos neles observados que não foram aprofundados
neste estudo. Os alunos mencionaram, por exemplo, que o uso escasso da língua
materna traz-lhes dificuldades em alguns momentos, porém não foi perguntado sobre
perguntado aos alunos apenas sobre sua compreensão em relação ao uso ou não da LE
durante a aula, mas não sua produção, cuja menção apareceu em apenas um depoimento
dos alunos, não sendo aprofundado na análise. Também não foram aprofundados, na
análise, os aspectos psicológicos dos alunos, que podem contribuir para sua facilidade
na aquisição da LE, já que alguns, por serem mais inseguros, levam tempo maior para
D.M.S. Por fim, observou-se que a maior parte dos alunos entrevistados tinha facilidade
com a língua, uma vez que já haviam tido um amplo contato prévio com ela por meio de
mídias como filmes e músicas ou até mesmo por meio de cursos em outras escolas.
Assim, foi visto nos dados que os professores utilizavam mais o inglês com tais alunos
do que eles afirmavam em seus depoimentos. Logo, nota-se que poderiam ser realizadas
também entrevistas com alunos com mais dificuldade, com os quais os professores não
Além dos aspectos citados, foram encontradas muitas contradições nos dados
que dizem mais do que as limitações deste trabalho permitem mostrar. Dessa forma,
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diante de vastas informações que podem ser extraídas dos dados utilizados, espera-se
5. Referências bibliográficas
BROWN, H.D. Contrastive Analysis, Interlanguage and Error Analysis. In: Principles
COSTA, W.C. Tradução e ensino de línguas. In: BOHN, H.I. & VANDRESSEN, P.
HATCH, E., GOUGH, J.W. & PECK, S. What case studies reveal about system,
Beyond basics: issues and research in TESOL. Cambridge: Newbury House Publishers,
1985. p. 37-59
48
LADO, R. Linguistics across cultures: applied linguistics for language teachers.
RINGBOM, H. Cross-linguistic influence. In: The role of the first language in foreign
language acquisition. In: The role of the first language in foreign language learning.
RINGBOM, H. The importance of similarity. In: The role of the first language in
33-43
Bibliografia:
2009.
49
REVUZ, C. A língua estrangeira entre o desejo de um outro lugar e o risco de exílio.
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APÊNDICE I
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APÊNDICE II
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APÊNDICE III
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direto e indireto, sabe? Então, é isso aí mais ou menos que o inglês está querendo dizer
aqui nessa colocação.”
E você acha que isso atrapalha ou ajuda?
Eu acho que ajuda. Como domino, claro e óbvio, bem mais o português, eu acho que
acaba ajudando você comparar um com o outro para você saber o que o inglês está
falando ali.
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APÊNDICE IV
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Às vezes, dependendo do ponto gramatical que eu estou usando, porque eu acho que
esse “link” dá segurança para o aluno, em várias situações, ele fica mais adaptado
porque ele sabe com que regra ele está lidando. Eu acho de fundamental importância
quando eu estou explicando qualquer coisa que seja, para qualquer nível de inglês
passar para eles o termo gramatical porque eles podem consultar uma gramática, um
livro, eles vão ter essa autonomia, porque eu acho que ser professora é muito mais que
você explicar o que está no papel, é você fazer o aluno mesmo olhar adiante, ter uma
visão maior, querer ir em busca de outras coisas, então eu tento instigar isso neles, por
isso que eu deixo muito registrado o nome gramatical daquilo que a gente está
conversando, se existe um “link” com a língua portuguesa, e eu acho que vale a pena ser
usado, tudo para deixar nosso aluno mais confortável, mais seguro, mais a fim de
pesquisar mais, de construir melhor o idioma.
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APÊNDICE VI
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