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RAFAELA LOPES DE ALMEIDA SILVA

PORTFÓLIO - PRÁTICAS ESCOLARES DE LÍNGUA


PORTUGUESA

Portfólio - Práticas Escolares de Língua Portuguesa no


curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal de Juiz
de Fora – Juiz de Fora - MG como método avaliativo da
disciplina Prática de Saberes Escolares da Língua Portuguesa.

Docente: Alexandre Cadilhe.

JUIZ DE FORA- MG

2022

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...............................................................................................................4

1. MEMORIAL.................................................................................................................5

2. RESENHA.....................................................................................................................7
2.1. Artigo: Ensino de Língua Portuguesa: reflexões sobre a necessidade de análise
crítica de
textos............................................................................................................................7
2.2. Artigo: Letramento e suas implicações para o ensino de língua
materna........................................................................................................................................8
2.3. Artigo: Todos nós semos de frontera: ideologias linguísticas e a construção de
uma pedagogia
translíngue..................................................................................................................9

3. ENSAIO.......................................................................................................................10

4. ATIVIDADES..............................................................................................................14

5. PROTÓTIPO...............................................................................................................15

6. REFLEXÕES..............................................................................................................21

7. ANEXOS......................................................................................................................22

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................31

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APRESENTAÇÃO

O presente documento tem como objetivo reunir um conjunto de trabalhos agrupados


a partir de um objetivo comum e acompanhado por reflexões acerca de sua realização. Neste
portfólio proposto pelo professor Dr. Alexandre Cadilhe em sua disciplina de Prática de
Saberes Escolares da Língua Portuguesa serão apresentadas: minhas memórias de sala de aula
durante minha educação básica (Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio), três resenhas a
partir de textos discutidos em nossas aulas, um ensaio baseado em uma entrevista feita com
alunos do Ensino Médio de um colégio privado do município de Três Rios, um protótipo
sobre uma aula expositiva, reflexões sobre a educação e cenas de sala de aula que vão além do
ensino convencional e algumas reflexões sobre minhas experiências com esta disciplina.

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1. MEMORIAL
Há alguns anos, eu estava no Ensino Fundamental I, em uma aula de Língua
Portuguesa em uma escola privada na cidade de Itaperuna, interior do Rio de Janeiro, uma
escola considerada referência. Não sei dizer com precisão o ano escolar, mas me lembro que
eu estava em torno dos 7/8 anos de idade. Nessa época eu já sabia muito bem o que eram as
aulas de Língua Portuguesa e eu amava, sempre me identifiquei desde muito nova. Desde
muito pequena, sempre tive o hábito de ler e escrever muito, rapidamente identificava erros
gramaticais e ajudava meus colegas no que eles estavam com dificuldade, sempre terminava
minhas tarefas primeiro.
Certo dia, estava em uma aula de Interpretação Textual, onde o objetivo da aula era
tratar sobre acentuação, ponto final, vírgulas e travessões. Lembro que a professora nos pediu
para abrir o livro e rapidamente vi um pequeno texto sem pontuação alguma, nem vírgulas,
nem acentos, nada, apenas aquele conjunto de palavras sem sinalização. Passei o olho pelo
texto e logo identifiquei o problema.
A professora começou a aula falando que era impossível lermos aquele texto, já que
estava sem as sinalizações adequadas. Então ela começou a lê-lo, mas com as pontuações no
lugar certo, já que no livro do professor têm as respostas. Eu já havia, como dito
anteriormente, passado o olho e identificado algumas coisas e disse a ela que eu poderia fazer
a leitura, ela disse que não e eu disse que sim, então ela, como forma de desafio disse para eu
ler em voz alta para os meus colegas, já que eu estava muito esperta (ela usou um tom bem
debochado, nunca me esqueci).
Comecei a leitura do texto, sem pontos, sem nada, e li perfeitamente, a professora
simplesmente disse que se ela não tivesse lido a primeira vez, eu não conseguiria ler também.
Hoje eu entendo que aquele era o objetivo da aula, mostrar para os alunos que um texto
necessita de sinalizações, mas penso que ela agiu mal comigo, já que desafiou uma aluna de 8
anos e ainda por cima me colocou como incapaz, penso que ela poderia ter me parabenizado e
depois com calma ter explicado o objetivo da aula e o que ele tinha a ver com o texto, sem
precisar do espetáculo por ela formado.
Eu estava acostumada a ter aula de Língua Portuguesa baseadas em livros didáticos,
seguindo somente aquilo que o livro didático mandava, nem a mais nem a menos. Minha vida
toda eu estudei em escola privada e no meu Ensino Médio houve uma revolução na minha
escola. Meu colégio era referência em educação inclusiva, então tínhamos muito contato com
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portadores de Síndrome de Down, Transtorno do Espectro Autista, deficientes visuais,
deficientes auditivos e toda sala tinha pelo menos um aluno atípico.
Como citado anteriormente, houve uma revolução, e com isso, muitos professores
novos foram contratados. Um desses professores foi a minha professora, que me ensinou que
estudar Língua Portuguesa vai muito além do que os livros didáticos nos mostravam, ela me
mostrou que podemos alcançar e ir muito mais longe. Com ela nós literalmente nos
desprendemos do livro, nos desprendemos do ambiente sala de aula e tudo foi fluindo da
melhor forma possível. Com ela eu aprendi que eu aprendo Língua Portuguesa em um diálogo
com meus colegas após ler uma notícia do jornal, aprendi que a aula pode ser onde a gente
quiser, íamos ao parque que era do lado da escola, sentávamos na grama e ali era a nossa sala
de aula. Isso foi maravilhoso tanto para nós, mas principalmente para os alunos atípicos, já
que muitas vezes eles se distraiam ou simplesmente não conseguiam fazer as mesmas
atividades que nós, talvez por uma dificuldade em se concentrar tantas horas em um assunto
específico, mas com as nossas conversas produtivas eles ficavam muito à vontade, prestando
atenção e vez ou outra participavam ativamente conosco.
Outro acontecimento dessa mudança que foi essencial para o aprendizado, foi a
criação de oficinas. Na época nós chamávamos de projeto, e o projeto da aula de Língua
Portuguesa era justamente esse, nós líamos algo, sentávamos todos juntos, discutíamos e logo
em seguida produzíamos um texto, e foi incrível toda essa experiência pois foram produções e
produções e fomos nos aperfeiçoando e sem perceber, de forma leve, já estávamos produzindo
mais de cinco redações por semana, o que nos ajudou muito também durante a prova do
ENEM, não somente na redação, mas nas interpretações de texto, já que os textos do ENEM
são relativamente grandes.
A docência como um todo é um desafio, a vida toda e a todo momento teremos
situações desafiadoras, seja com um aluno, seja com a escola, seja com os pais. Mas é fato
que mais do que dar aula e ensinar, o professor precisa se permitir ser ensinado, se permitir
deixar ser influenciado. Vivemos numa era onde a tecnologia está em um nível altíssimo, já
chegou a um nível que é impossível fingir que ela não nos “controla”, já somos 100%
dependentes, e na sala de aula é a mesma coisa. O aluno não copia mais o exercício do
quadro, não quer saber de livros físicos, apenas os virtuais, e já vemos que no cenário pós
pandemia, nem se faz mais provas no papel e caneta. O docente precisa entender que esse é o
cenário real e precisa criar novas metodologias para “caber” neste espaço. É preciso ouvir
mais os alunos e saber respeitá-los, entender que a minha geração não é a mesma da deles,

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agora nós precisamos nos reinventar para entender o mundo deles, e essa tarefa não é da noite
pro dia, demanda tempo, demanda esforço e demanda muita dedicação. Já dizia Jean Piaget
(1978): “O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é
antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se
desenvolver depois da escola.”.

2. RESENHA
2.1 Artigo: Ensino de Língua Portuguesa: reflexões sobre a necessidade de análise
crítica de textos.
O artigo tem como objetivo principal analisar aulas de Língua Portuguesa nos anos de
2013 e 2014, em escolas públicas de Belo Horizonte. Os professores e alunos foram
analisados sob a forma como trabalham textos que circulam na sociedade. A pesquisa
trabalhada contou com o apoio de um docente de ensino superior, professores de língua
portuguesa da educação básica e alunos da graduação da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), que se encontraram semanalmente nas escolas para analisar trabalhos de
alunos de ensino médio, com o objetivo de construir soluções para possíveis problemas
encontrados.
Atualmente, tem sido pauta de discussão, a necessidade de implantar novos objetos de
ensino nas aulas de Língua Portuguesa, há pouco tempo a discussão se baseava em
ministrações de aulas de gramática, hoje a discussão se volta para os gêneros textuais. Geraldi
(1984, 1997), busca afastar o ensino de língua portuguesa da redação e da gramática,
defendendo que o ponto de partida e de chegada deva ser a produção de texto, e a análise
linguística como um instrumento para auxiliar na melhor escrita e leitura, fazendo com que o
aluno atinja seus objetivos, tanto para si como para o leitor de seu texto.
É a partir disso que será definido o letramento crítico, não apenas leitura e análise do
texto, mas o poder de criticidade, dar ao aluno ferramentas para que juntamente com seu
conhecimento de mundo possa ter a capacidade de fazer um letramento crítico, não apenas de
assuntos problematizados, mas de todo texto.
Posso me recordar do meu ensino médio, minha professora de língua portuguesa
trabalhou muito nosso senso crítico, todas as aulas eram voltadas a leituras de textos e ela
sempre nos estimulava e perguntava nossa opinião a respeito de determinado tema, foi muito
importante para o nosso desenvolvimento e nos auxiliou na produção de redações para
possíveis vestibulares.

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Portanto, penso que seja de extrema importância que o letramento e o letramento
crítico sejam postos em prática na sala de aula, principalmente nas aulas de língua portuguesa.
O conteúdo das aulas não deve de forma alguma ser considerado neutro, visto que deve
permanecer em constante confronto com ideias, pensamentos, conceitos e teorias. Estimular o
senso de criticidade do aluno, é estimular seu desenvolvimento pessoal e intelectual, portanto,
faz-se necessária a produção de atividades e conversas, as quais eles possam exercer o papel
de sujeitos agentes e protagonistas de seu ensino.

2.2 Artigo: Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna.


O artigo tem como objetivo principal discutir a relevância do letramento no ensino e
aprendizagem de língua materna em todos os níveis escolares, não apenas na alfabetização da
criança, mas também ao longo de seu ensino fundamental e médio, inserindo o estudo dos
gêneros textuais.
Professores alfabetizadores se preocupam em melhorar as formas de letrar seus alunos,
já professores de língua materna tem como objetivo inserir os diferentes gêneros textuais,
visto que o aluno ao longo de sua vida se deparará com incontáveis gêneros que ele pode ter
conhecimento ou não, e precisará saber lidar com ele, saber o que fazer e como escrever para
ter um trabalho de excelência.
Os estudos do letramento fazem da leitura e da escrita práticas discursivas, a facilidade
ou dificuldade de aprendizagem não depende única e exclusivamente das dificuldades
ortográficas, mas sim do conhecimento e familiaridade que o aluno tem com o texto, quanto
mais familiarizado com o gênero, melhor ele compreende e aprende a se comunicar.
Na experiência citada por Guimarães (1999), os alunos foram submetidos a fazer um
comentário a respeito de um livro, se eles recomendavam ou não aquele livro, e ao final das
atividades foi possível identificar o gênero resenha. O que mais me chamou atenção foi como
eles chegaram a essa conclusão, a professora não deu uma aula sobre resenhas, não explicou o
que era e nem como fazia, os próprios alunos testando textos e testando gêneros chegaram a
esse ponto sozinhos, até entenderem que se tratava de uma resenha, e assim puderam
conhecer o gênero.
Muitos alunos detestam aulas de produção textual, dizem que não querem escrever,
que tem preguiça de produzir, mas muitas vezes falta um pouco de sensibilidade do professor.
Todos passamos por essa fase, infância, adolescência e juventude, e todos compreendemos o
quão chato e desgastante pode ser produzir um texto no qual o aluno recebeu uma aula ou

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duas e nunca teve um contato realmente com aquele gênero. Nós como futuros professores,
futuros docentes, precisamos nos colocar no lugar do aluno e assim como na experiência de
Guimarães, elaborar uma forma de “dar o conteúdo” de forma leve, prática, didática e
divertida, onde o aluno consegue se ver escrevendo aquilo, não por uma obrigação das tarefas
da escola, mas como uma atividade que ele realmente gostaria de participar. É fato que nem
sempre conseguiremos agir dessa forma, mas é crucial que o professor seja o facilitador da
aprendizagem, um mediador para se alcançar o conhecimento.

2.3 Artigo: Todos nós semos de frontera: ideologias linguísticas e a construção de


uma pedagogia translíngue.
O ensino da língua materna dentro das escolas brasileiras jamais será uma discussão
politicamente neutra. A necessidade de ensino da língua portuguesa começa sua história
durante o período imperial de Dom Pedro II, em que civilizar povos originários e banir a
língua de povos africanos como uma forma de construir um país monolíngue se tornou o
principal objetivo para a popularização do idioma. Idioma este que persistiu durante inúmeros
séculos, depois de passar por repúblicas, ideais iluministas e ideologias de que há uma língua
comum, única e homogênea. No artigo de Adriana Carvalho Lopes e Daniel Nascimento e
Silva, é instaurado um debate sobre a politização do ensino da língua portuguesa que visa
problematizar a ideologia linguística vidente. Normalmente visto como um ensinamento
natural de uma língua materna, o objetivo desse artigo é transportá-lo para campo da política,
dando um fim à visão natural.
Foi no início da década de 1980, que o movimento pelo direito do acesso à escola
tornou possível a transformação social, afastando o ensino da língua materna de um
paradigma mecanista e utilitário. Por meio dessa virada pragmática, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) se fundamentaram, a fim de compreender a língua como um
conteúdo ideológico e transformador. Além disso, Paulo Freire, através de seu livro “A
Pedagogia do Oprimido”, impactou na formação dos docentes, que passou a ser encarada
como prática no desenvolvimento de indivíduos intelectuais, com poder social.
Dentre as ideologias que acercam a língua portuguesa, se faz presente a ideologia
monoglota, com a tranquilidade de manter o ensino dentro de um padrão único, desejável e
meramente bom. É assim, então, que somos apresentados a uma pedagogia translíngue no
terceiro tópico do artigo e, por fim, a elaboração de um curso de língua materna multilíngue
por Adriana Lopes por meio da UFRRJ.

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Com o objetivo de ter uma abordagem voltada para a diferença, a proposta translíngue
visa estudar as línguas e seus signos em prol da produção de significados. É preciso que o
diferencial entre línguas pare de ser visto com inferioridade dentro do sistema de ensino
brasileiro. Debater sobre multilinguismos é uma solução para que a riqueza e diversidade,
com seus elementos ordinários e singulares, sejam vistas com uma perspectiva diferente da de
língua padrão que desde cedo estamos acostumados a ouvir. Sabemos como a língua
portuguesa funciona, entendemos que nossa herança vem de tempos em que a língua do
príncipe era essencial para criar vassalos úteis a Coroa. Homens e mulheres que tiveram seus
dialetos e idiomas rebaixados durante a história até chegarmos aos dias atuais, em que grupos
periféricos ainda são oprimidos e excluídos, mesmo dentro de um mesmo idioma comum.
É preciso que o conhecimento de mundo venha para o aluno por meio do ensino
escolar, e estudar as funcionalidades multilíngue, como descrito no curso universitário citado
no artigo, “[...] é sobretudo assumir uma cultura, suportar o peso de uma civilização [...]”
(Franz Fanon, 2008). É trabalhando as diferenças que resistimos à padronização e exclusão
daqueles considerados irregulares.

3. ENSAIO
O ensino de língua portuguesa e o futuro: como a linguagem na educação básica
influencia nas escolhas do futuro dos estudantes?
Entendemos que para a realização da entrevista com os estudantes, seria necessário
compreender até qual ponto o ensino de língua portuguesa, que tiveram ao longo da vida na
escola, refletia nas escolhas do futuro de alunos do ensino médio. Sabendo que a educação,
acessada por nós e por eles, pode ter embasamento na colonialidade, como as aulas de língua
portuguesa podem e contribuem para dizimar o desafio que influencia na aquisição do saber
dos estudantes? Como trabalhar uma educação decolonial efetiva de acordo com a base
comum curricular? De qual forma o pensamento crítico vindo da decolonialidade educacional
atua na autonomia das escolhas dos acadêmicos?

[...] os efeitos do extermínio através da colonialidade, sem reduzi-los ao processo


de legitimação do poder de fazer morrer. Compreende o genocídio em suas
dimensões epistemológicas, representativas, estéticas, materiais e simbólicas,
percebendo como o dispositivo de racial idade justifica a morte e se fortalece com
a multiplicação de mecanismos de produção de morte em vida para os que
encarnam a zona do não ser (PIRES, 2018, p. 10-11)

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E, ainda: os letramentos utilizados por todo o processo de formação educacional
básica foram marcantes e desenvolveram senso crítico para romper com os epistemicídios?
Hoje, ao apagar das luzes desses estudantes na educação básica, considerando o esperado
criticismo formado na escola durante tantos anos, os alunos estão saindo, realmente, aptos a
criticar?
Com tantos questionamentos, identificamos que até mesmo as perguntas que tinham
intenção de quebrar o gelo entre o entrevistador e o entrevistado, eram parte, também, do que
foi construído no ensino de língua portuguesa na escola. Dessa forma, é perceptível que o
hábito de leitura, ou a falta dele, estão ligados às práticas conservadoras ou inovadoras na
educação de linguagem e a condução do profissional de Letras nesse percurso.

“Ah, porque assim, eu sempre fui… Sempre gostei de ler, né, 2019 comecei a ler.
Aí… E eu gosto muito de português também. Eu sou... bom, um pouco, assim, em
português. Aí… A (nome da professora) falando comigo, né, a professora, começou
a falar comigo e eu comecei a gostar de português, gostar, e eu falei “ah, vou fazer
letras!” (estudante, 18 anos)

Percebe-se, então, o ponto central da discussão, não sendo somente sobre o hábito de
leitura ser ou não cotidiano para o aluno, mas sim o que absorvem do que leem. O conteúdo é
capaz de promover as rupturas do pensamento “moderno-colonial” ao mesmo tempo? Existe
capacitação nesse material para atribuição das escolhas de futuro dos alunos?
Definitivamente, a leitura é a ferramenta em que o professor extrai o suco do saber, porque os
estudantes já possuem conhecimento de mundo ao entrar na sala de aula, mas qual o
letramento essencial para o aprimoramento dessa habilidade? É necessário fazer com que as
aulas de língua portuguesa possam contribuir para a construção do pensamento decolonial.
Nessa perspectiva, para Walter Mignolo (2003), o pensamento-outro descrito como
decolonialidade exprime-se na diferença colonial. Então, uma possível interpretação para a
fala de Mignolo, seria considerar a geopolítica como fator divisor de águas para o ensino.
Portanto, ao decorrer da entrevista, fica notório como a cultura ocidental, fruto da nossa
colonização, é presente nos gostos e escolhas dos estudantes no nosso caso. E como se
desprender dessa lógica de um único mundo possível da modernidade capitalista?

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“Eu gosto de ler porque assim, dependendo do livro que eu leio, ele me transporta
da minha realidade. Principalmente os romances que a gente fica assim “caraca!”.
(estudante, 17 anos).

A entrevistada afirma e expressa o gosto pela leitura e, mais tarde, completa dizendo
que sua leitura atual é “Uma noite na Itália”. Podemos notar e tornar evidente como o acesso
às leituras, mesmo quando não obrigatórias nas escolas, são voltadas para cenários que não
totalizam a pluralidade da sociedade, sendo um claro reflexo das mazelas, da falta de
mobilização para fazer valer uma educação decolonial. Se o letramento das escolas não
estimula e problematiza temáticas graves, por que leituras livres valorizariam a cultura
daqueles que são esquecidos? Percebemos, então, um grande movimento da massa para
apreciação da arte originária do lado bonito do globo.
Assim, em uma sociedade racista, excludente de povos originários, que ainda hoje
valoriza a branquitude e a cultura primitiva colonizadora, traceja sob o olhar dos alunos e qual
seria o papel dos professores para despertar uma visão que ultrapasse essa fronteira.

“Ah, a educação, ela é atrativa, né, no sentido de que trabalhar com a linguagem
na educação é muito bom. Você tem, é… Falta de base, muitas vezes, você percebe
que os alunos não tem tanta base, mas é a nossa língua, né, no caso a língua
portuguesa que eu trabalho. Então é muito mais fácil você trabalhar a língua
portuguesa, eu acho, do que a matemática ou outras matérias que às vezes o aluno
não tem tanta base, entendeu? E a educação é fundamental, né? A educação você
vê que é a formadora de tudo, né, então tem que ter um trabalho muito grande em
torno disso.” (mulher, professora, 35 anos).

Essa foi a resposta da professora entrevistada quando perguntada do porquê escolher a


educação para atuar profissionalmente. Em destaque para aquilo que é classificado como falta
de base por ela: por que enfrentamos lacunas gigantescas na educação e justificamos com o
enfraquecimento da base qual o aluno vivenciou? Ainda que o ensino de matemática seja
lecionado por educadores com formação adequada, é também papel do professor de língua
portuguesa contribuir no desenvolvimento nas diversas situações de uso, inclusive, para
compreensão de uma aula de matemática.
A entrevista ocorreu numa escola particular em Três Rios, cidade no interior do estado
do Rio de Janeiro. Apesar de tratar-se de um colégio particular, é também uma das escolas
mais acessíveis no município, com valor de mensalidade popular e contendo a proposta de

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levar ensino de qualidade para aqueles com menor poder aquisitivo. Então, ainda que
estejamos em uma instituição privada, nos damos conta de uma realidade humilde no
cotidiano dos alunos.

“Então, eu gosto… Eu gostei das viagens que teve, mas eu também gostei de
quando a gente começou a estudar redação porque era aquele processo de criar,
né? Escrevia uma história e eu sempre gostei muito de escrever.” (estudante, 17
anos).

A estudante surpreende ao responder que uma boa memória da escola seria as aulas de
redação e abre espaço para que valorizemos ainda mais o ensino de língua portuguesa. Além
das viagens escolares, dos passeios e de todas as atividades que ocorreram dentro da escola
durante a vida acadêmica dessa estudante, a criação de um texto como escolha daquilo mais
marcante na trajetória dessa estudante, desperta uma reflexão sobre qual seria a melhor
maneira de fazer com que outros alunos sintam o mesmo. Claro, considerando o gosto
individual dessa aluna pela escrita e suas possibilidades como algo não comum entre todos os
estudantes, uma vez que, geralmente, escrever pode ser visto como tedioso, complicado e até
desnecessário. Qual o nosso papel para mudar essa concepção?
Sob essa análise, conclui-se que o posicionamento político-social adotado pelo
professor domina o resultado do processo de aprendizagem do aluno, uma vez que o material
selecionado para uso nas aulas é selecionado por aquele que leciona. E, para além disso, a
relação professor-aluno também possui responsabilidade para conduzir e educação decolonial
e extinguir ao máximo os percalços do processo.

“[...] Sim. E mais assim, na verdade quando eu fiz Letras eu não pretendia a
princípio seguir a área de educação, não. Mas quando eu entrei, eu fui atraída por
isso. [...] Sim, aí eu acabei sendo chamada para trabalhar na área de educação,
gostei de trabalhar com as pessoas, né? A vivência com a educação, o poder que
você tem de ajudar o aluno a pensar no futuro dele.” (mulher, professora, 35 anos).

O não interesse pela licenciatura não é novidade na sociedade brasileira que


desvaloriza a educação, os professores e os estudantes. Na verdade, tudo que ronda a
caminhada educacional sofre desmonte não somente por parte governamental, mas também
social. Entretanto, de fato torna-se inviável que haja valorização da sociedade quando o meio
profissional da licenciatura é mundialmente minimizado e rebaixado diante de outras

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ocupações julgadas e prescritas como ainda mais essenciais. Portanto, tem-se por fim a baixa
remuneração dos profissionais da área, a falta de manutenção dos direitos e o miserável
respaldo para a classe.
Não obstante, respostas como “não sei” e “talvez futuramente” foram dadas durante a
entrevista e são as respostas que cercam o futuro dos estudantes quando perguntados sobre um
possível interesse na classe dos trabalhadores da educação. Porém, em sintonia com a fala da
maioria dos alunos entrevistados, é interessante observar o posicionamento da professora
sendo o mesmo antes da oportunidade para lecionar. Então, o que e como nós, futuros
profissionais da educação, mobilizaremos um movimento contrário à negativa de nossa
ocupação? Nos questionemos: já negamos nossa futura profissão? Caso sim, a negativa tem a
ver com a visão em massa equivocada da sociedade sobre a licenciatura?

“Então, eu acho que é um material bom, né, se comparado em alguns lugares. E, eu


acho que ajuda muito, né? Porque se você não tiver um conhecimento da literatura,
da linguagem, acho que... Sei lá, te ajuda a você conseguir cargos melhores.”
(estudante, 17 anos)

Diante do exposto, concluímos a experiência da entrevista, com observações


importantes e percepções sobre a condução e recebimento das aulas de língua portuguesa em
uma escola de rede particular. Em síntese, os estudantes entrevistados são um experimento de
um grande grupo que partilha das mesmas questões e incertezas, grupo que trabalharemos em
um futuro não tão distante. Assim, acima de qualquer outra dúvida, encerramos nos
questionando: como mudaremos e inovaremos o ensino colonial para modificar o futuro de
nossos alunos?

4. ATIVIDADES
Como promover uma educação linguística comprometida com a cidadania?
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos, afirma o direito de todos os
cidadãos a uma educação necessária para o ser humano sobreviver, se desenvolver e poder
trabalhar com dignidade. Os estudos de Língua Portuguesa vão muito além de estudos de
gramáticas e interpretação de textos. A área do Português está diretamente relacionada com
este tipo de educação comprometida com a cidadania. Na perspectiva de Steven Ten Brinke, e
a sua relevância na promoção de uma cidadania consciente e participativa, os alunos chegam à
escola com níveis linguísticos e cultural díspares, e que a aula de Português, cumpre alargar as

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experiências culturais e de linguagem dos alunos, de forma a favorecer a apropriação de
competências de comunicação nos domínios oral e escrito reconhecidas como fundamentais
ao desenvolvimento social.

5. PROTÓTIPO

TEXTO I

QUINO. Mafalda. 22 set. 2014. Disponível em:


https://raquelcardeiravarela.wordpress.com/2014/09/22/mafalda/.

TEXTO II

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as
janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.

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A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.


E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da
guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.


E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em
que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.


A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.


As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.

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À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos
cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.


Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento
ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito
porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.


Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para
poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto
acostumar, se perde de si mesma.

COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia, Jornal do Brasil, 1972. [Acesso em 10 jan. 2023]. Disponível em:
https://www.escritas.org/pt/t/13438/eu-sei-mas-nao-devia

TEXTO III

Rap do Silva
(MC Bob Rum)

Todo mundo devia nessa história se ligar


Porque tem muito amigo que vai pro baile dançar
Esquecer os atritos, deixar a briga pra lá
E entender o sentido quando o Dj detonar
(E essa é uma homenagem a todos os Silvas do Brasil)

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Era só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família
É só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família

Era um domingo de Sol, ele saiu de manhã


Pra jogar seu futebol, deu uma rosa pra irmã
Deu o beijo das crianças, prometeu não demorar
Falou pra sua esposa que ia vir pra almoçar

Mas era só mais um Silva que a estrela não brilha


Ele era funkeiro, mas era pai de família
É só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família

Era trabalhador, pegava o trem lotado


Tinha boa vizinhança, era considerado
E todo mundo dizia que era um cara maneiro
Outros o criticavam porque ele era funkeiro
O funk não é modismo, é uma necessidade
É pra calar os gemidos que existem nessa cidade

Todo mundo devia nessa história se ligar


Porque tem muito amigo que vai pro baile dançar
Esquecer os atritos, deixar a briga pra lá
E entender o sentido quando o Dj detonar

E era só mais um Silva que a estrela não brilha


Ele era funkeiro, mas era pai de família
É só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família

E anoitecia, ele se preparava


É pra curtir o seu baile que, em suas veias, rolava
Foi com a melhor camisa, tênis que comprou, suado
E, bem antes da hora, ele já estava arrumado
Se reuniu com a galera, pegou o bonde lotado
Os seus olhos brilhavam, ele estava animado
Sua alegria era tanta ao ver que tinha chegado
Foi o primeiro a descer e, por alguns, foi saudado

Mas, naquela triste esquina, um sujeito apareceu


Com a cara amarrada, suando, estava um breu
Carregava um ferro em uma de suas mãos
Apertou o gatilho, sem dar qualquer explicação
E o pobre do nosso amigo, que foi pro baile curtir
Hoje, com sua família, ele não irá dormir

Porque era só mais um Silva que a estrela não brilha


Ele era funkeiro, mas era pai de família
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É só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família
Era só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família
Só mais um Silva que a estrela não brilha
Ele era funkeiro, mas era pai de família

Era só mais um Silva

MC BOB RUM. Rap do Silva. Rio de Janeiro: 1996. Disponível em:


https://www.vagalume.com.br/bob-rum/rap-do-silva.html. Acesso em 10 jan. 2023.

O tema da aula, com base no documento de competência três da BNCC para


linguagem e suas tecnologias, objetiva tratar sobre os direitos humanos e as injustiças
presentes no Brasil. Desse modo, pretende-se instigar os alunos a refletirem sobre seus
direitos e como esses direitos têm sido violados. Por que vivemos em uma sociedade que não
se preocupa com a fome, falta de moradia, baixo poder aquisitivo, saúde precária e tantos
outros temas primordiais para sobrevivência íntegra? Por que banalizamos questões cotidianas
problemáticas que influenciam negativamente a vida da sociedade? Pretendemos, então,
mobilizar a competência da BNCC, com textos que para além de remeterem os alunos às
mazelas, também fortalecem o pensamento crítico desses estudantes.
Escritas e desenhadas pelo cartunista argentino Quino, as tirinhas da Mafalda são
sempre representadas por uma menina que é defensora dos direitos humanos, que visa a paz
mundial e se revolta com a situação política e social do mundo. Não obstante às diversas
outras obras do autor, a tirinha acima utiliza do humor para polemizar assuntos como a
desigualdade social e violência. 
Nos dois primeiros quadrinhos, observamos Mafalda levantar da cama, possivelmente
de uma noite de sono, perguntando sobre a fome, a miséria e as armas nucleares: teriam sido
elas enfim exterminadas do planeta? Ao receber a resposta de que nenhuma dessas questões
tiveram um fim, ela então se pergunta “Então para que foi que a gente mudou de ano?!”. O
humor da charge se encontra aqui. A ideia de que a mudança de ano – como nos bordões de
“ano novo, vida nova” – traria um mundo novo, sem pobreza, fome e hostilidades, faz com
que reflitamos. Como pode, ao passar dos anos, entendermos o problema e continuarmos
tratando como algo normal? Hoje, cerca de 33 milhões de brasileiros não têm garantia do que
comer, e continuamos a normatizar essa situação sem que ações sejam feitas para revertê-la.
Caímos, enfim, no comodismo.

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Dentro das salas de aula, a charge de Quino pode ser usada como uma forma de criar
uma consciência social coletiva. Uma forma de introduzir seria, em uma sala de informática
ou como dever de casa, pedir aos alunos que pesquisem mais sobre o Quirino, sobre a
Mafalda e sobre as questões sociais e políticas que são destacadas em seus textos. É
importante compreender o autor e entender sua obra antes de que se possa, de fato, interpretar
a mensagem que ele está tentando passar para seus leitores. Caso se sintam interessados, é
afável que também procurem textos complementares que visam abordar de forma clara e
compreensiva temas que são comumente expostos pela Mafalda
Após fazerem suas pesquisas e lerem algumas tirinhas de Quirino e/ou textos
complementares, está na hora de se reunir. Em duplas, trios ou grupos, a tirinha do Texto 1
será distribuída para toda a sala e cada grupo deve escrever suas interpretações acerca da
charge. Em seguida, quando cada grupo tiver terminado de reunir suas análises, a turma deve
se reunir em círculo e cada grupo deve debater sobre suas opiniões, críticas e esclarecimento
de suas observações. 
O educador irá acompanhar a turma o tempo todo, debatendo, estimulando o seu senso
de criticidade junto com os alunos e expondo os seus conhecimentos acerca dos direitos
humanos, da desigualdade, violência, discriminação, negligência e tanto outros males que
adoecem o mundo diariamente. A consciência deve ser construída de modo expositivo, de
maneira didática, mantendo sempre um diálogo entre alunos e professor. 
Já na segunda proposta de letramento podemos trabalhar o texto “Eu sei, mas não
devia” da autora Marina Colasanti que foi publicado em 1972 e circula até os dias atuais.
Podemos dizer que há textos, músicas e poemas em nosso mundo que são atemporais,
independente da época em que foram lançados, sempre estarão em constante processo de
ensinamento, nunca deixam de perder o seu valor apesar do tempo passado. 
O texto de Marina Colasanti é um excelente exemplo de um conteúdo atemporal. Ele
relata a respeito de tudo aquilo que vivemos constantemente todos os dias e muitas das vezes
não percebemos que nos acostumamos. Sejam situações boas, sejam situações ruins, tudo
aquilo que se repete diversas e diversas vezes vira algo cômodo e vai se normalizando até não
percebermos quando há um equívoco em nossas vidas. A problemática falada no texto é a
respeito deste comodismo que aos poucos se tornam injustiças ignoradas, justamente por
estarmos acostumados. Este é um texto que deve ser lido não somente na escola, mas
estimular os alunos a levar este texto para casa, sentar com os pais na hora de alguma refeição
e lerem todos juntos. 

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É possível trabalhar este texto em sala de aula com todas as turmas do ensino básico,
desde o Fundamental I até o Ensino Médio. Este texto é um texto muito especial e com uma
mensagem muito forte. Pode ser feita uma grande roda na sala de aula e pedir para cada aluno
fazer a sua leitura individualmente, após alguns minutinhos eles podem combinar entre si qual
trecho do texto mais fez sentido para cada um, conversar sobre ele e depois, junto com a
turma ler em voz alta. Após esse momento de leitura individual, diálogo em grupo com os
colegas e escolha do trecho, pode ser feita a leitura integral na sala de aula para todos, cada
um lendo o seu trecho escolhido e ao final dizer para os colegas e para o professor o porquê
escolheu aquele trecho. Assim, é uma forma do professor trabalhar o conteúdo do texto de
forma didática, clara e ainda ter a oportunidade de conhecer um pouquinho mais seus alunos. 
Por fim, para finalizar a reflexão sobre a competência três da BNCC, propomos a
utilização da música lançada em 1996 pelo carioca MC Bob Rum. A letra da canção narra a
história de um “Silva”: jovem homem da periferia que morre no caminho de um baile funk.
Nessa ótica, a música tornou-se um hino brasileiro que marca para além de atemporalidade, a
ilustração da realidade de tantos outros jovens periféricos que são dizimados por motivo
algum no caminho do baile, trabalho, escola e qualquer outro trajeto.
Ademais, a escolha do nome da música não é proposital: no Brasil, hoje, há cerca de
quase sete milhões de brasileiros que partilham do sobrenome Silva. Então, o sobrenome
comum marca a história, que não deveria, mas é comum entre os brasileiros: pais, maridos,
irmãos, filhos, netos e “Silvas” inocentes pagando pelo preconceito daqueles intolerantes à
cultura da própria nação. Desse modo, com a grande representatividade da composição, a letra
foi selecionada como letramento capaz de fazer com que o estudante reflita sobre os direitos
humanos.
Assim, a possível atividade com os estudantes fazendo uso da música para, finalmente,
respeitar e atender à proposta da competência requerida da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), seria utilizar de aparelhos de som para reprodução da canção em sala de aula. A
partir disso, após a escuta da composição, é papel do professor instigar discussões sobre as
problemáticas apresentadas na letra. Espera-se, dessa maneira, contribuir para o criticismo dos
estudantes através de uma aula não tão comum de língua portuguesa.
Portanto, nota-se que a escolha dos textos do protótipo foi realizada com necessidade
que conversassem entre si. Todos os textos falam sobre atemporalidade de problemas graves,
banalização de mazelas da sociedade brasileira e, também, procuram aclamar a cultura e
mobilizar o pensamento crítico dos alunos.

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6. REFLEXÕES
Com a disciplina de Prática de Saberes Escolares da Língua Portuguesa, pude ter o
contato com diversos textos importantíssimos para minha caminhada à docência. Tivemos
diálogos valiosos que com certeza levarei para minha sala de aula. Fui uma aluna mais
ouvinte do que participativa, o dia em que falei fiquei roxa de vergonha e quase passei mal,
lembro que o professor Alexandre Cadilhe falou comigo que esse seria um medo que eu
deveria perder, já que durante toda a minha vida eu passaria por esses momentos.
A disciplina para mim foi muito importante pois tivemos a oportunidade de ter
diálogos como se já fôssemos docentes. Tivemos a oportunidade de encarar a sala de aula
com outros olhos, deixar o aluno que habita em nós e levantarmos e seguir em direção para o
professor que nos espera. Foi maravilhoso poder compartilhar desses momentos com meus
colegas, com o professor, e acredito que eu tenha tido um crescimento individual
significativo.
Através das aulas, pude ter a oportunidade de saber um pouquinho mais a respeito do
PIBID e garanti uma bolsa para iniciar meus primeiros contatos com os alunos em uma sala
de aula. Estou muito feliz e ansiosa com essa oportunidade, será um longo caminho pela
frente, mas que estou disposta a percorrer, seguindo os ensinamentos das aulas e lembrando
sempre dos nossos diálogos.
Além dos ensinamentos em aula, produzir este portfólio também foi muito valioso. No
começo a gente se assusta com a quantidade de atividades, a quantidade de páginas, nos
assustamos com o conteúdo, eu super me assustei com a ideia de fazer um protótipo. Eu?
Aluna de graduação preparar uma aula? Como assim? Não, não é possível que o professor
acha que eu tenho capacidade para fazer isso... Sim eu pensei isso incontáveis vezes enquanto
eu lia o planejamento do portfólio. Péssimo pensar que não acreditei em mim mesma e na
minha capacidade. Não sei dizer se o professor vai gostar, mas posso dizer que me superei
muito e foi maravilhoso ter essa sensação.
Não podemos mais pensar “Não posso fazer isso, ainda sou aluno”, o pensamento
agora é outro, “Posso sim e estudei para isso, sou um futuro professor”. Por mais desafiador
que pareça, se houve esforço da sua parte, haverá recompensas, e é nesse pensamento que me
agarrei para fazer este portfólio. Nunca havia feito um e gostei muito da experiência, vou
levar os ensinamentos desta disciplina durante todo o meu trajeto na docência.

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7. ANEXOS

ENTREVISTA 1
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Alfredo Xavier Henrique Costa - 17 anos

Ana Luisa: Tudo bem? Então Alfredo, queria saber de você se você tem hábito de
leitura.
Alfredo: Tenho.
Ana Luisa: Você gosta?
Alfredo: Uhum, gosto.
Ana Luisa: E, se você tá lendo algum livro no momento, qual o tipo de leitura que te
desperta interesse? Se é fantasia…
Alfredo: É fantasia, e no momento eu tô lendo “É assim que começa”.
Ana Luisa: “É assim que começa”? Já li, é muito bom! Então você gosta de ler, é um
hábito seu?
Alfredo: Aham.
Ana Luisa: Beleza. Você já teve alguma leitura que foi pedida na escola?
Alfredo: Já.
Ana Luisa: Qual livro foi? Foi mais de uma?
Alfredo: Não, eu li um que era “De Mãos Atadas”, eu acho. Se eu não me engano.
Ana Luisa: Foi pedido dentro da escola para você?
Alfredo: Dentro da escola.
Ana Luisa: Entendi. O que você achou dessa experiência? Achou que foi uma leitura
fácil, você entendeu fácil ou não?
Alfredo: Foi o primeiro livro que eu li, na verdade.
Ana Luisa: Entendi.
Alfredo: Aí foi por ele que eu comecei a ler os outros.
Ana Luisa: Ah, entendi, dentro da escola. Você lembra em qual ano, mais ou menos?
Alfredo: Foi no nono (ano).
Ana Luisa: No nono ano. Legal. Tá. Qual é a sua melhor memória da atividade dentro
da escola? Uma feira, um passeio, uma aula dentro da sala de aula ou fora da sala de aula…
Alfredo: Ah, foi… Deixa eu pensar. Eu acho que foi a… As feiras que tem no colégio.

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Ana Luisa: As feiras?
Alfredo: Sim. De linguagens.
Ana Luisa: De nações, de linguagens, saraus? Já tiveram sarau?
Alfredo: Sim.
Ana Luisa: Beleza. Você pretende fazer faculdade?
Alfredo: Sim.
Ana Luisa: Qual curso?
Alfredo: Letras.
Ana Luisa: Muito bom, letras! Quando que te despertou esse interesse na letras?
Alfredo: Ah, porque assim, eu sempre fui… Sempre gostei de ler, né, 2019 comecei a
ler.
Ana Luisa: Uhum.
Alfredo: Aí… E eu gosto muito de português também. Eu sou... bom, um pouco,
assim, em português.
Ana Luisa: Entendi. Gramática…
Alfredo: Sim, gramática. Eu… é, no geral, gramática.
Ana Luisa: Uhum.
Alfredo: Aí… A Lidiane falando comigo, né, a professora, começou a falar comigo e
eu comecei a gostar de português, gostar, e eu falei “ah, vou fazer letras!”
Ana Luisa: Entendi. Então foi a sua vivência na escola que te inspirou a área de
educação ou foi algum outro motivo?
Alfredo: Não, foi a vivência na escola.
Ana Luisa: Isso aqui para você, você idealiza, você acha interessante?
Alfredo: Aham.
Ana Luisa: Beleza, vamos lá. O que você acha – apesar de você querer fazer Letras,
então a sua opinião vai ser um pouco particular – o que você acha das aulas de língua
portuguesa? Para você, dentro da escola, você gosta?
Alfredo: Acho muito bom.
Ana Luisa: Você acredita que elas te ajudam a desenvolver o seu senso crítico de
alguma forma? Talvez nas aulas de redação?
Alfredo: Sim.
Ana Luisa: Você tá no terceiro ano, não é? Então tá acostumado a escrever redação
para o ENEM.

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Alfredo: E ajuda a interpretar também outras situações, né? Que você consegue ter
outro olhar para as coisas.
Ana Luisa: Exatamente. Entendi, Alfredo, muito obrigada!

ENTREVISTA 2
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Ane Rayssa Diniz Brasilino - 17 anos

Ana Luisa: Então vamos lá, Ane. Você tem hábito de leitura?
Ane: Tenho.
Ana Luisa: Mas você gosta de ler, você lê porque é necessário…?
Ane: Eu gosto de ler porque assim, dependendo do livro que eu leio, ele me transporta
da minha realidade. Principalmente os romances que a gente fica assim “caraca!”.
Ana Luisa: Então você gosta muito de romance?
Ane: Sim.
Ana Luisa: Você tá lendo um agora?
Ane: Tem um que era para eu estar lendo, mas como tá período de prova eu dei uma
parada. É “Uma Noite na Itália”.
Ana Luisa: Hm, legal!
Ane: Eu vou ler ele ainda.
Ana Luisa: Aí você vai lendo ele? Mas tá bom, é a sua leitura do momento, “Uma
Noite na Itália”. Beleza. E teve alguma leitura que foi pedida para você fazer na escola? Pra
alguma atividade?
Ane: Já, que foi o da coleção série Vaga-Lume, que geralmente eles usam nas escolas
mesmo porque são temas mais infanto-juvenil.
Ana Luisa: Ah, entendi.
Ane: Eu li foi “O Supertênis”, também teve… “De Mãos Atadas” também.
Ana Luisa: Entendi. Você teve várias leituras.
Ane: É, eu gostei de ler eles porque eles têm uma leitura assim, sabe? Uma linguagem
mais jovial e você entende, é mais fácil de entender. Eu acho que, assim, a gente entende
mais, principalmente quando é adolescente, né.

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Ana Luisa: Ah, entendi! Então você já adiantou a minha próxima pergunta que eu ia te
perguntar o que você tinha achado desses livros, se foi uma leitura fácil ou uma leitura difícil.
Então você considerou uma leitura fácil, deu para entender numa boa?
Ane: Fácil, aham.
Ana Luisa: Tudo bem. E assim, qual é a sua melhor memória dentro da escola de
atividade? Uma feira, um passeio, uma aula dentro da sala de aula ou fora da sala de aula…
Ane: Então, eu gosto… Eu gostei das viagens que teve, mas eu também gostei de
quando a gente começou a estudar redação porque era aquele processo de criar, né? Escrevia
uma história e eu sempre gostei muito de escrever.
Ana Luisa: Entendi. E foi a partir de qual ano da escola, você lembra?
Ane: Acho que a partir do sexto ano que a gente tinha.
Ana Luisa: Do sexto ano que vocês começaram a trabalhar com criação de texto,
gêneros literários e tudo mais?
Ane: Uhum.
Ana Luisa: Beleza. Você pretende fazer faculdade?
Ane: Sim.
Ana Luisa: Qual curso que você quer?
Ane: Publicidade.
Ana Luisa: Publicidade, legal! Você acha que a sua vivência na escola em algum
momento vai te fazer voltar para a área da educação? Porque publicidade a gente sabe que
não... Talvez não mexeria tanto, a não ser que você faria uma publicidade dentro de uma
escola, mas você acha que em algum momento você teria essa vontade pela sua vivência
dentro da escola durante esses anos?
Ane: Acho que sim porque... Pelos textos, né? Que a gente tem um conhecimento, a
gente aprende, então eu acho que na publicidade a gente tem que ter esse contato.
Ana Luisa: Entendi. Mas aí não te despertaria uma vontade de ser professora ou
diretora, orientadora?
Ane: Não sei. Talvez futuramente.
Ana Luisa: Talvez futuramente, mas até então…
Ane: Até então não.
Ana Luisa: Não? Beleza. E o que você acha das aulas de língua portuguesa? Elas
funcionam bem para você?
Ane: Eu acho que sim, né. É o essencial.

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Ana Luisa: Entendi. Você acredita que elas ajudam no seu desenvolvimento, te ajudam
a pensar de alguma forma diferente? Quando você tem contato com os textos na aula, você
acha que isso te faz refletir durante a construção da redação? Como que é para você, assim, o
material que trabalham com você em sala de aula?
Ane: Então, eu acho que é um material bom, né, se comparado em alguns lugares. E,
eu acho que ajuda muito, né? Porque se você não tiver um conhecimento da literatura, da
linguagem, acho que... Sei lá, te ajuda a você conseguir cargos melhores.
Ana Luisa: É, com certeza, né? Então tá bom, Ane, muito obrigada!

ENTREVISTA 3
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Gabriel Antônio Bastos Pinto - 17 anos

Ana Luisa: Beleza, Gabriel, então você tem o hábito de leitura?


Gabriel: Não.
Ana Luisa: Não tem hábito de leitura. Mas você gosta? Tipo assim, alguma vez que
você já tenha lido você gostou, apesar de não ter hábito? Ou não é muito chegado? Também
tem esse direito.
Gabriel: É… Eu não gosto muito de ler. Eu não tenho costume e não gosto de ler.
Ana Luisa: Ah, entendi, então beleza.
Gabriel: É…
Ana Luisa: É isso, mais nada a dizer, não tem costume e não gosta muito. Tudo bem,
seu direito. Você já teve alguma leitura que foi pedida na escola?
Gabriel: Já, várias vezes.
Ana Luisa: Várias, é? Quais livros que te pediam? Você lembra do primeiro?
Gabriel: Foi... Acho que “Miguel…” e não sei o nome. É, algum nome assim.
Ana Luisa: E foi no sexto ano ou não?
Gabriel: Foi no sexto ano.
Ana Luisa: Foi no sexto ano, legal. O que que você achou da experiência dessa leitura?
Foi fácil de entender?
Gabriel: Foi uma leitura bem fácil, tipo assim, o nível da idade então era bem fácil. Era
legal.

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Ana Luisa: Você achou legal, então foi uma boa leitura para você, na época agregou
bastante e tudo mais.
Gabriel: Sim.
Ana Luisa: Beleza. Qual é a sua melhor memória de atividade dentro da escola? Você
consegue me dizer assim se foi uma feira, um passeio, uma aula fora ou dentro da sala de
aula?
Gabriel: Acho que... Acho que as feiras, os passeios…
Ana Luisa: Entendi, mas aí você considera as feiras de nações, de linguagens, sarau…
Gabriel: Acho que o sarau e a feira das nações são as que mais eu gosto.
Ana Luisa: São as que você mais gosta, então seriam suas melhores experiências na
escola. Você tá no terceiro ano, não é?
Gabriel: Sim.
Ana Luisa: Você vai sair com uma boa lembrança desses momentos?
Gabriel: Sim.
Ana Luisa: Beleza, então foram suas melhores aulas. Vamos lá, você pretende fazer
faculdade?
Gabriel: Sim.
Ana Luisa: Qual?
Gabriel: Psicologia.
Ana Luisa: Psicologia? Que legal! Então você é da área de humanas. Você gosta dessa
área?
Gabriel: Sim.
Ana Luisa: Beleza, e por que que você escolheu a psicologia?
Gabriel: É porque tipo assim, eu fazia psicólogo, aí eu gostei da experiência e vi que
ajudava as pessoas, e eu tenho um lado que sempre gosta de ajudar o próximo, então a
psicologia, eu percebi, é algo que pode ajudar muito as pessoas em várias situações da vida
dela.
Ana Luisa: Entendi, então seu momento que você precisou ser ajudado você descobriu
que você também gosta muito de ajudar os outros. Legal. Você acha que a sua vivência na
escola em algum momento vai te fazer ir para a área de educação? Seja como professor,
orientador... Talvez a psicologia tenha a ver com orientação também. Ou você não quer entrar
nesse meio da educação?
Gabriel: Não.

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Ana Luisa: Não, não gosta muito?
Gabriel: Não.
Ana Luisa: Tá bem, então. E o que você acha, assim, das aulas de língua portuguesa?
Você acha que elas te ajudaram a chegar, até mesmo nesse… Nesse ponto que a psicologia
para você era uma boa escola, você acha que te ajudou a desenvolver um senso crítico a partir
disso, a partir dos textos que você tem em sala de aula? O que você acha disso?
Gabriel: Acho que sim.
Ana Luisa: Acha que sim, mas você gostava? O que você achou das aulas de língua
portuguesa?
Gabriel: Ah, eu gosto. Eu gosto das aulas de língua portuguesa.
Ana Luisa: Tá. Como elas são trabalhadas com você, assim, com livro didático ou tem
momentos de pauta, de reflexão… Como que são?
Gabriel: São mais os livros, livros didáticos.
Ana Luisa: Entendi. Beleza. Muito obrigada, Gabriel!

ENTREVISTA 4
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Letícia Lourdes Carvalho Araújo de Moraes - 17 anos

Ana Luisa: Beleza, Letícia, então você tem o hábito de leitura?


Letícia: Hábito não, mas…
Ana Luisa: Você gosta?
Letícia: É, eu gosto. Quando eu quero ler eu pego lá o livro e leio direitinho. Às vezes
eu demoro duas ou três semanas para voltar a ler o livro, mas vai.
Ana Luisa: Tudo bem, mas você pega e lê?
Letícia: Uhum.
Ana Luisa: Você tá lendo algum no momento, então?
Letícia: Eu tô lendo da série “Bridgerton” que tem na Netflix.
Ana Luisa: Qual que você tá lendo?
Letícia: Eu tô lendo o (livro) um ainda. Eu comprei os quatro…
Ana Luisa: Ah, entendi. Tá gostando?
Letícia: Tô.

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Ana Luisa: Ah, que bom, tá muito bom. Maravilhoso! Você comprou os quatro
primeiros? Acho que são sete (livros), se eu não me engano.
Letícia: É, sete.
Ana Luisa: Isso aí! Vamos lá. Então você já teve alguma leitura pedida na escola?
Qual que foi, ou você não lembra?
Letícia: Já tive um que teve que fazer até maquete, essa maquete deu um trabalho do
cacete. É “A Rua É Meu Quintal”, acho que no sexto ano.
Ana Luisa: Aham, “A Rua É Meu Quintal” no sexto ano. Você gostou? O que que
você achou dessa leitura?
Letícia: Ah, gostei. É mais pra criança, né?
Ana Luisa: Então foi fácil, você conseguiu desenrolar… Você acha que pra Letícia
daquela época foi... Foi fácil da Letícia entender? Você lembra de trechos da história ou não
lembra de muita coisa?
Letícia: Não lembro, não, mas…
Ana Luisa: Lembra que a maquete deu trabalho.
Letícia: Uhum.
Ana Luisa: Então tá bom. Qual é a sua melhor memória assim, apesar de ter tido essa
memória ruim de ter que fazer uma maquete que deu trabalho, qual que é a sua melhor
memória dentro da escola? Uma feira, uma apresentação, um sarau…
Letícia: Eu sempre lembro dos ensaios de dança que tem aqui na escola. Eu gostava de
ensaiar, mas só que chegava na hora da apresentação e sempre tinha algo de errado.
Ana Luisa: Aí você não curtia muito, mas o ensaio…
Letícia: É, eu gostava dos ensaios, das feiras que tinha que decorar e eu gosto de
decorar as coisas.
Ana Luisa: Entendi, legal. Você pretende fazer faculdade?
Letícia: Sim.
Ana Luisa: Pretende fazer o que?
Letícia: Pretendo fazer arquitetura.
Ana Luisa: Arquitetura? Legal, muito bom!
Letícia: Eu tinha pensado primeiro em design de interiores, mas aí eu pensei “ah, vou
fazer só uma coisa” porque aí eu faço uma coisa grande, sabe? Teto…
Ana Luisa: Ah, entendi.
Letícia: Não só decorar as casinhas lá.

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Ana Luisa: Entendi, legal. E você acha que a vivência na escola te ajudou a chegar
nesse ponto de que você querer fazer uma faculdade, ou você teve algum outro motivo que te
fez querer continuar estudando?
Letícia: Acho que não.
Ana Luisa: Não foi a escola exatamente?
Letícia: Não.
Ana Luisa: Que te ajudou, que fez você querer continuar estudando?
Letícia: Não.
Ana Luisa: Mas você acha que a sua vivência na escola te ajudaria então… Te ajudaria
não, te faria então querer continuar na área de educação? Ser professora, orientadora, diretora
ou nada disso?
Letícia: Talvez. Alguns trabalhos que eu faço aqui na escola para ajudar a diretora,
substituir professor, me faz pensar até que não seria uma má ideia me tornar professora… Já
que minha mãe é diretora também então eu vivo…
Ana Luisa: Essa área da educação já é comum, já é um ambiente que você tá
acostumada? Legal. E o que você acha das aulas de língua portuguesa? Você acha que elas te
ajudam de alguma forma? O que você acha dos textos que são trabalhados com você?
Letícia: Eu acho interessante.
Ana Luisa: Você gosta?
Letícia: É, eu… eu gosto, sabe? Eu gosto mais da parte de literatura porque redação eu
não me dou bem, não. Não sei argumentar quase nada.
Ana Luisa: Então a escrita para você é uma das áreas da língua portuguesa que você
tem mais um pezinho atrás?
Letícia: É.
Ana Luisa: Mas você acredita que o que é trabalhado, os textos, eles te ajudam de
alguma forma? Pelo menos um pouco a escrever?
Letícia: Ajuda, porque se eu ler um texto de apoio antes eu consigo argumentar melhor
na redação. Tem texto, assim, que é bem curtinho, não fala quase nada, e eu fico meio com
dificuldade para saber, mas tem uns textos (inaudível).
Ana Luisa: Então tem alguns letramentos que são um pouco mais enxugados e eles te
trazem uma dificuldade?
Letícia: Sim.
Ana Luisa: Tá bom, Letícia. Muito obrigada!

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ENTREVISTA PROFESSORA
Entrevistadora: Ana Luisa
Entrevistado: Lidiane

Ana Luisa: Tá bom, Lidi. Por que você escolheu atuar na área de educação?
Lidi: Ah, a educação, ela é atrativa, né, no sentido de que trabalhar com a linguagem
na educação é muito bom.
Ana Luisa: Uhum.
Lidi: Você tem, é… Falta de base, muitas vezes, você percebe que os alunos não tem
tanta base, mas é a nossa língua, né, no caso a língua portuguesa que eu trabalho. Então é
muito mais fácil você trabalhar a língua portuguesa, eu acho, do que a matemática ou outras
matérias que às vezes o aluno não tem tanta base, entendeu?
Ana Luisa: Entendi.
Lidi: E a educação é fundamental, né? A educação você vê que é a formadora de tudo,
né, então tem que ter um trabalho muito grande em torno disso.
Ana Luisa: Então foi o que te atraiu a... Entendi.
Lidi: Sim. E mais assim, na verdade quando eu fiz letras eu não pretendia a princípio
seguir a área de educação, não. Mas quando eu entrei, eu fui atraída por isso.
Ana Luisa: Entendi, foi durante o processo.
Lidi: Sim, aí eu acabei sendo chamada para trabalhar na área de educação, gostei de
trabalhar com as pessoas, né? A vivência com a educação, o poder que você tem de ajudar o
aluno a pensar no futuro dele.
Ana Luisa: Entendi.
Lidi: A incentivar a trabalhar ali a linguagem para ele conseguir alcançar o que ele
quer.
Ana Luisa: Entendi. Beleza, e como você seleciona os letramentos que você usa nas
aulas?
Lidi: Normalmente?
Ana Luisa: Aham. Provas…?
Lidi: Então, a minha seleção também vai muito pelo meu gosto. Assim, eu gosto de
trabalhar música, poemas em geral, crônicas... Então assim eu tento variar o currículo mínimo

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que se exige, né, para cada série, e escolho ali os que eu mais gosto para trabalhar com eles.
Gosto muito de crônicas reflexivas, né, para incentivar.
Ana Luisa: Entendi. Incentivar o pensamento crítico também, né, do aluno.
Lidi: Com certeza, tem muita coisa boa.
Ana Luisa: Você acredita que as atividades extra sala de aulas, né, que não são feitas
dentro da sala de aula, são importantes para o desenvolvimento dos alunos? Você acha que
talvez até um pouco mais importante do que... Uma coisa não vai anular a outra, mas você
acha que é um bom complemento, ou você acredita que a sala de aula já dá conta de tudo?
Lidi: Não, são essenciais, né? Porque assim, na escola sempre tem atividades viáveis,
o professor tá ali, tem o colega, mas em casa ele se encontra mais autônomo, né? Fora, em
casa, ou fora de casa mesmo, o que ele for fazer da escola eu acho que ele começa a se
perceber como um construtor da aprendizagem dele muito mais fora do que quando ele é
guiado, né?
Ana Luisa: Quando ele tem alguém guiando, né?
Lidi: Quando ele tem alguém guiando, isso.
Ana Luisa: Entendi.
Lidi: Mesmo a gente orientando, né, é ali que ele vai pensar e desenvolver.
Ana Luisa: Entendi, e você acredita também que propostas que nem sarau… Esses
tipos de trabalho, você acha que eles vão combinar bastante para o desenvolvimento do aluno
ou tem como dar uma aula só com o que tem no livro didático?
Lidi: Não, não. O sarau, assim, ele é muito rico porque ele começa a ver também a
beleza de tudo que ele estuda, né? Porque eu vejo assim, tem muito aluno que estuda por
obrigação, né, ele pega um poema e ele lê por obrigação. Um poema é pra ler, pra interpretar,
responder. Agora, quando ele declama o poema, quando ele leva isso para um sarau, né, de
uma forma mais lúdica, mais... Interagindo ali com os outros colegas, aí ele começa a ver
beleza naquilo. A maioria deles vai conseguir ver essa beleza.
Ana Luisa: É, essa era a minha próxima pergunta, você acha que eles engajam bem
com esse tipo de atividade? Talvez mais do que dentro de sala de aula… Como que funciona,
assim, com os seus alunos, com as turmas que você teve até hoje?
Lidi: Aqui na escola, né, eles engajam muito. São muito, assim, é... Responsáveis,
desenvolvem muito isso sem precisar ficar cobrando.
Ana Luisa: Entendi.

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Lidi: Diferentemente de uma atividade da escola, eu acho que isso traz uma riqueza
muito grande em todos os sentidos pra eles, né?
Ana Luisa: Entendi, e eles conseguem, assim, pegar os textos e fazer uma boa leitura
daquilo… Texto que eu digo é qualquer letramento que eles tiverem, assim, música, alguma
coisa do tipo, e desenvolver bem em cima daquilo? Ou você sente que tem uma… Alguém
trava por algum motivo, ou você acha que boa parte tem um aproveitamento bom?
Lidi: Eu acho que boa parte tem um bom aproveitamento, eles conseguem entender
bem, né. E quem tem mais dificuldade acaba sendo envolvido ali pelos que…
Ana Luisa: Pelo que tá acontecendo, né, no geral.
Lidi: É, justamente.
Ana Luisa: É uma forma também de eles aprenderem mais sobre.
Lidi: Muito, e verem coisas que estão bem além da época deles, né? Que aconteceu
antes.
Ana Luisa: Entendi.
Lidi: Música… A cultura toda, né?
Ana Luisa: Que também tem tudo a ver com a linguagem, né?
Lidi: Tudo a ver com a linguagem.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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