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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – LATO-SENSU


ESPECIALIZAÇÃO NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

LUIZA OLIVEIRA DE MENEZES

A MOTIVAÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO MEDIANTE


INTRODUÇÃO DE MÚSICAS NAS AULAS DA DISCIPLINA ELETIVA DE
INGLÊS COM MÚSICA

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ


2018
LUIZA OLIVEIRA DE MENEZES

A MOTIVAÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO MEDIANTE


INTRODUÇÃO DE MÚSICAS NAS AULAS DA DISCIPLINA ELETIVA DE
INGLÊS COM MÚSICA

Trabalho de Conclusão do Curso


apresentado ao Curso de Especialização em
Ensino de Língua Inglesa, da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial a
obtenção do título de especialista em Ensino
de Língua Inglesa.
Orientador(a): Prof.ª Me. Fernanda Kécia de
Almeida

LIMOEIRO DO NORTE – CEARÁ


2018
RESUMO

O presente estudo busca verificar se a música, ferramenta que pode ser inserida nas
aulas de Língua Estrangeira, especificamente o Inglês, funciona como fator que age no
desenvolvimento da motivação dos alunos em relação à disciplina em questão. O estudo
de língua estrangeira apresenta muita dificuldade em se desenvolver, fato que se deve a
diversos fatores que vão desde o pouco acúmulo de conhecimento dos alunos durante a
vida escolar com relação à disciplina, o que ocasiona a falta de interesse por aquilo que
é ministrado até a falta de recursos para execução das aulas, utilizando-se de
metodologias que proporcionem momentos dinâmicos de interação. Há, então, a busca,
por parte dos professores de Língua Estrangeira, em tornar prazeroso o momento da
aula, superando as dificuldades com as quais tem que lidar. Esse estudo que teve como
objetivo geral verificar se o uso de canções como norteadoras nas aulas de Inglês,
resultam em maior envolvimento dos alunos com a aula e se é, ainda, possível por meio
do uso desta ferramenta, adquirir vocabulário e melhorar a compreensão auditiva dos
alunos. Para construção desse estudo utilizou-se, primeiramente, a pesquisa
bibliográfica que traz como fontes autores como: Kawachi (2008) e Natividade (2005),
bem como outros citados no estudo. Posteriormente, realizou-se a pesquisa de campo,
objetivando coletar informações a respeito do que os alunos esperavam ao escolher a
disciplina, primeiramente para, então, verificar se as expectativas foram atendidas e se a
música auxiliou no processo de aquisição de conhecimento.
Palavras-chave: Língua Inglesa. Música. Motivação. Ensino
ABSTRACT

The present study aims to verify if a song, the tool can be inserted in the classes of a
Foreign Language, specifically English, works as a factor in the development of student
learning in relation to the subject in question. English language teaching is the language
of many tasks in which it is developed, the fact to be identified is the student who has a
little knowledge of the students during a school life with the purpose of causing a lack
of interest in what is taught to the lack of resources for the execution of classes, using
methodologies that provide dynamic moments of interaction. There is, then, a search by
the foreign language teachers for the pleasure of class, overcoming the difficulties with
which he has to deal. This is a study that has as general objective the use of English
classes in English classes, with the largest number of students with classes and still,
being possible, also, the use of this machine, vocabulary and listening from the students.
For the construction of study was used, first, a bibliographic research that brings as
sources authors such as: Kawachi (2008) and Natividade (2005), as well as others cited
in the study. Subsequently, a field research was carried out, aiming to collect
information so that the students were served by the selection method, resulting,
therefore, to be met and met the music in the process of knowledge acquisition.

Keywords: English Language. Music. Motivation. Teaching


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 8
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 10
2.1 Panorama da educação brasileira: perspectiva conteudista e inovações ........ 10
2.2 Panorama do ensino de Língua Inglesa: desafios para o professor ................ 12
3. TEORIA DE APOIO, CORPUS E CAMPUS ............................................ 20
3.1 A influência da música e seus efeitos ............................................................. 20
3.2 A música enquanto ferramenta pedagógica .................................................... 22
3.3 A música nas aulas de Inglês .......................................................................... 25
3.4 Corpus da Pesquisa ......................................................................................... 27
3.5 Campus da Pesquisa ....................................................................................... 28
4. METODOLOGIA ......................................................................................... 32
4.1 Introdução ....................................................................................................... 32
4.2 População e amostra da pesquisa .................................................................... 32
4.3 Procedimentos metodológicos ........................................................................ 33
5. ANÁLISE DOS DADOS............................................................................... 37
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 43
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 45
7

1. INTRODUÇÃO

A educação no Brasil tem sido alvo de discussão devido a diversos aspectos que
se apresentam como importantes e exigem uma maior atenção. A necessidade de
inovação nos métodos de ensino-aprendizagem em sala de aula é um assunto que tem se
mostrado alvo de preocupação e objeto de intensas análise e reflexão, bem como tem
ensejado a proposição de diversas alternativas às práticas mais tradicionais. Cada vez
mais estudiosos e professores se propõem a discutir o tema e a procurar meios que
possibilitem o uso de ferramentas metodológicas variadas no ambiente escolar, bem
como a inserção das metodologias ativas nas aulas de diversas disciplinas.
Nesse estado de coisas, tem importância crucial a figura do professor, pois é dele
que se espera, em primeiro lugar, um espírito aberto às práticas inovadoras, capaz de
apropriar-se dos desdobramentos recentes em sua área do saber, bem como das
reflexões pedagógicas críticas que possam afetar seu fazer docente, de forma que
contemple o desenvolvimento de habilidades que envolvam a utilização de novas
tecnologias e que tenham como proposta dinamizar as aulas, visto que são os
professores os principais envolvidos no processo, e é por meio de suas decisões teórico-
metodológicas que o processo de ensino aprendizagem pode ter desdobramentos
satisfatórios.
O desafio de transmitir ensinamentos já é visível nas mais diversas áreas do
ensino, e para o professor de Língua Estrangeira, especificamente o de Inglês, a
problemática é ainda mais sensível, pois, muitas vezes, notam-se diversos percalços no
caminho a ser percorrido por essa disciplina, dificuldades essas que envolvem múltiplos
fatores, dentre os quais se pode mencionar, por exemplo, a precariedade, no ambiente
escolar, de recursos que possibilitem o desenvolvimento pleno das aula; também cabe
mencionar a carga horária, que se apresenta reduzida em relação aos outros
componentes curriculares. Outro aspecto relevante nessa discussão é a formação dos
professores, que ainda pode ser inadequada para exercer tal função. Destaca-se ainda a
pobreza no que diz respeito aos conhecimentos prévios dos alunos adquiridos durante o
período de formação escolar com relação à disciplina, o que implica desinteresse pelo
objeto de estudo. Desse modo, torna-se essencial buscar meios que facilitem o processo
e o tornem prazeroso, buscando a efetivação do procedimento de aquisição de
conhecimento.
8

A utilização da música em sala de aula, de acordo com experiência vivenciada


no citado ambiente, possibilita um maior envolvimento dos alunos com aquele assunto
que é transmitido. Sob diversos aspectos, seu uso pode ser inserido e traz aquisição de
conhecimento relacionada a várias vertentes da aprendizagem. A música em sala de aula
e, especificamente, nas aulas de Inglês, pode ter como finalidade expandir vocabulário,
contribuindo para melhorar a compreensão auditiva, possibilitar a discussão a respeito
da diversidade cultural por meio dela expressa, além de proporcionar a aproximação
com aquilo que é transmitido para o aluno, que enxerga na disciplina vista a aplicação
do que foi aprendido e o uso efetivo da língua, conferindo ao estudo e à disciplina a
possibilidade de ver naquilo importância significativa.

Foi por meio da associação desses diversos fatores e sob a visão de que é
possível amenizar os efeitos das dificuldades encontradas no percurso em direção à
aprendizagem e de que é possível, também, tornar as aulas de Inglês um momento
atrativo por meio da inserção de canções diversas no plano de aula, que se pensou no
presente estudo, procurando entender as razões que levam os alunos a optarem por uma
disciplina em que há forte presença de músicas e os efeitos que isso pode neles causar.
9

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Panorama da educação brasileira: perspectiva conteudista e inovações

A educação na atualidade é vista sob aspectos que ultrapassam o caráter


meramente conteudista, metódico e mecânico da aprendizagem. Preocupa-se, assim,
com a formação integral do aluno, considerando características de formação não apenas
cognitiva, mas também social, afetiva, corporal e cultural do educando. Não se descura,
naturalmente, da garantia de acesso ao conhecimento formal, tecnológico e científico,
de forma plena, mas tal processo deve abranger o âmbito pessoal e humano tanto do
aluno quanto do professor, gerando mentes críticas e interessadas em assuntos diversos
e capazes de reconhecer situações adversas e solucioná-las.

No texto da Base Nacional Comum Curricular relativa ao ensino fundamental,


afirma-se que:

[...] a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano


global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse
desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a
dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda,
assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do
jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e
promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e
desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. (BRASIL,
2017, p. 14)

Corroborando essa visão de escola como espaço de formação plena, afirma Koch
(2013):

No âmbito escolar a educação do século XXI deve ser encarada pelos


educadores e educandos como um direito ao acesso ao conhecimento, a novas
tecnologias, à troca de experiências e linguagens. Enfim, a um novo mundo
diferente do universo familiar, que os complementa, para desta forma,
prepara-los para o efetivo crescimento pessoal e profissional, a fim de que
possam se inserir num mundo cheio de possibilidades, mas necessitando de
indivíduos críticos, criativos, solidários e preocupados com a vida de todo
planeta. (2013, pág. 12)

Dada a complexidade do mundo contemporâneo, o desafio de prover uma


educação integral que propicie a construção de conhecimentos socialmente relevantes
deve pressupor que os processos de ensino invistam em constante inovação. Boa parte
das discussões em torno dessa questão têm centrado sua atenção no importante papel do
professor frente ao recorrente e rápido avanço tecnológico que nos rodeia. Deparamo-
nos, assim, com uma percepção que tangencia o unânime: quase não há como eximir-se
10

da adesão a um modo mais dinâmico de dividir e compartilhar conhecimento em sala de


aula e do uso dos mais diversos recursos, o que se tornou, então, algo imprescindível.

Para nossos propósitos, podemos conceber a inovação, de modo geral, como

a criação de respostas novas aos desafios oferecidos por um dado contexto, a


partir da análise crítica do mesmo e das contribuições efetivas que tais
respostas podem oferecer para enfrentar os desafios e produzir melhorias no
objeto que é alvo de inovação. (FERRETTI, 1980, p.76).

Por essa concepção, é evidente que a inovação não necessariamente está atrelada
ao uso de equipamentos tecnológicos e de processos sofisticados e dispendiosos. Antes
de tudo, no contexto da sala de aula, a inovação é de mentalidades e de metodologias.
Assim, a preocupação central é averiguar de que forma pode se dar a inserção de
tecnologias ou métodos que apresentem maior dinamismo em sala de aula e levantar
questões que dizem respeito ao professor e a sua adaptação ou formação seguindo a
linha de utilização das ferramentas pedagógicas. Reconhece-se, então, que o professor é
unidade indispensável no processo de introdução de novas técnicas que tenham por
objetivo a aprendizagem efetiva, como bem discorreu Moran (2000):

As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos


educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas,
entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais
valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos.

Nesse sentido, o professor deixa de ser mero transmissor de conhecimentos, em


aulas expositivas, e atua essencialmente como mediador no processo de interação dos
alunos consigo mesmos e com os objetos de conhecimento, por meio de instrumentais,
atividades e métodos diversificados.

Outro aspecto relevante a ser levado em consideração no que diz respeito a essa
questão é o público, pois este será diretamente beneficiado com essa discussão sobre
necessidade de mudança e inovação, bem como pela execução das técnicas. No que
concerne ao aluno, portanto, é necessário haver o sentimento afetuoso com o professor e
colegas, com o assunto ministrado e os métodos utilizados.

Para Moran:

As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos,


motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores
qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de
caminhada do professor-educador. Alunos motivados aprendem e ensinam,
avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de
famílias abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam afetivamente os
filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais
11

rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas.


(2000, p. 17-18)

Cabe, portanto, pensar também a questão da afetividade e das relações


interpessoais no ensino. Conforme as palavras de Aragão, é preciso
entender que é o aluno, e não o meio, que especifica em suas interações o que
pode ser ensinado/ aprendido/compreendido: cognição e comunicação não
dependem “daquilo que se entrega”, mas do que ocorre com aquele ou aquela
que comumente se diz que “recebe” (ARAGÃO, 2005, p. 104-105)

Mudanças relacionadas às tecnologias e ao uso de diversos artifícios contribuem


com a evolução tanto do aluno quanto do professor, desenvolvendo habilidades
importantes nestes e naqueles de modo a ocorrer a construção plena de ambos os lados.

Alguns pontos positivos: ao ter acesso as tecnologias da informação e sua


transformação em conhecimento durante todo o período escolar, os alunos
serão posteriormente agentes de mudança no setor produtivo e de serviços ao
influir naturalmente no uso destas. O uso adequado destas tecnologias
estimula a capacidade de desenvolver estratégias de buscas; critérios de
seleção e habilidades de processamento de informação, não só a programação
de atividades. Em relação a comunicação, estimula o desenvolvimento de
habilidades sociais, a capacidade de comunicar efetiva e coerentemente, a
qualidade da apresentação escrita das ideias, permitindo a autonomia e a
criatividade. (MERCADO, 1998)

Conforme Wallon (1975, p. 228), “A educação é necessariamente um ato


social.”, e, por ser ato social, está diretamente relacionada à criação de interação entre
pessoas, que pode ter como consequência a construção de afeto. A inovação de técnicas
de aprendizagem, então, tende a ultrapassar os limites dos aspectos físicos e, mediante
disposição de professor e alunos, poderá refletir em uma convivência melhor e laços
afetivos construídos, acarretando, ainda, como consequência, um maior interesse em
sala de aula por parte dos alunos. Com a possiblidade de acesso a recursos
diferenciados, então, eles podem demonstrar maior interesse pelo que é ensinado e
compartilhado, gerando aprendizado significativo e efetivo.

2.2 Panorama do ensino de Língua Inglesa: desafios para o professor

Na Educação Básica regular, o ensino de Língua Inglesa tem por finalidade

a criação de novas formas de engajamento e participação dos alunos em um


mundo social cada vez mais globalizado e plural, em que as fronteiras entre
países e interesses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais estão
cada vez mais difusas e contraditórias. (BRASIL, 2017, p. 239)

Entende-se que o domínio da língua, em seus variados recursos expressivos,


associados a múltiplos contextos comunicativos, dota o cidadão de um instrumento de
interação social indispensável para a plena garantia de seus direitos e para a participação
12

ativa nos processos sociais. Dado que a cidadania atualmente não é mais nacional, e sim
global, é natural que as pessoas se interessem pelo aprendizado de línguas que tenham
prestígio social e difusão mundo afora. Esse é o caso do inglês, língua onipresente na
cultura de massa global, no mundo da informática, no mundo dos negócios, na vida
acadêmica.

Assim, as aulas de Língua Inglesa são uma oportunidade para que os sujeitos em
formação travem contato com todo um universo sociocultural, mais do que meramente
com um sistema semiótico. Entretanto, essa nobre e legítima função das aulas de inglês
no currículo da educação básica acaba por encontrar obstáculos para que os objetivos da
disciplina sejam cumpridos.

De modo geral, tem-se já bem claro que as aulas de língua inglesa precisam ser
vistas de formas diversas, consoante a reconhecida necessidade da inserção de recursos
variados na sala de aula. A visão recorrente é de que as aulas da referida disciplina,
quase que obrigatoriamente, devem apresentar caráter mais dinâmico e envolver
práticas de linguagem as mais diversificadas possíveis. Assim, as habilidades
linguísticas básicas – falar, compreender, ler e escrever – precisam ser trabalhadas a
partir da perspectiva dos multiletramentos, uma vez que

saber a língua inglesa potencializa as possibilidades de participação e


circulação – que aproximam e entrelaçam diferentes semioses e linguagens
(verbal, visual, corporal, audiovisual), em um contínuo processo de
significação contextualizado, dialógico e ideológico. (BRASIL, 2017, p. 240)

Como existe a explícita necessidade de trabalhar-se habilidades linguísticas


variadas, em uma gama de situações de interação, não se concebe uma aula de língua
inglesa em que toda as atividades girem em torno das aulas expositivas com matéria e
atividades copiadas no quadro e posterior resolução de exercícios no livro didático ou
caderno. É imprescindível que a aula de língua estrangeira se abra à multimodalidade
dos textos, à diversidade de suportes textuais e de práticas linguageiras.

Cabe frisar, de todo modo, que o ensino de Língua Inglesa na Educação Básica
não necessariamente visa à proficiência plena no idioma (PONTES; DAVEL, 2016, p.
103). Essa é a posição firmada na Base Nacional Comum Curricular, segundo a qual é
preciso relativizar crenças como a de que existe “um „nível de proficiência‟ específico a
ser alcançado pelo aluno” (BRASIL, 2017, p. 240). Quais seriam, então, os reais
objetivos do ensino da disciplina e como esses objetivos podem ser atingidos?
13

Por décadas, o ensino da língua inglesa no Brasil tem sido justificado pela
relevância geopolítica dos países de língua inglesa no cenário econômico e cultural
internacional. Conforme Assis-Peterson; Cox (2007, p. 5), “Em nenhum outro tempo da
história da humanidade, os homens precisaram tanto de uma língua comum como agora,
ao serem reunidos pelo/no ciberespaço”. Ainda que não haja a perspectiva concreta de
contato com falantes nativos do inglês, em ambientes profissionais, por exemplo, é fato
que há grande expectativa por parte dos estudantes com relação ao estudo da língua
inglesa, para que tenham vivências mais significativas com a música, o cinema, os
videogames, dentre outros produtos culturais. Dentre as visões que atualmente
sustentam o ensino de inglês como língua estrangeira, talvez a que mais se destaque seja
a que concebe o inglês como língua franca. Dessa forma, vê-se que o ensino dessa
língua tem importante papel na formação sociocultural do cidadão.

Apesar disso, sabe-se que ainda são muitos os desafios encontrados pelo
professor de língua estrangeira, em especial o de inglês: um deles é o fato de que nem
todos os profissionais que lecionam a disciplina são formados na área. Por se tratar de
disciplina com carga horária reduzida na grade curricular, é possível encontrar
professores de outros componentes curriculares que têm aulas de Língua Inglesa como
um modo de complementar seu horário de aulas. Além desses fatores, alguns
professores e estudiosos sentem haver um desprestígio da disciplina tanto entre a
sociedade em geral quanto na própria comunidade escolar (ASSIS-PETERSON; COX,
2007; OLIVEIRA, 2017). Para esses estudiosos, a disciplina de inglês, sobretudo na
escola pública, é vista como ineficiente. É comum a visão, entre os estudantes e suas
famílias, de que não se aprende inglês na escola, de que quem deseja mesmo apropriar-
se da língua deve recorrer a cursos de escolas de idiomas, “lugar projetado como ideal
para a aquisição do inglês” (ASSIS-PETERSON; COX, 2007, p. 6), projeção que
esconde disparidade de qualidade entre os cursos e que oblitera a potencialidade do
trabalho com a língua na escola regular. Como sabemos, em geral esses cursos são bem
pouco acessíveis à maioria da população. Assim, firma-se uma concepção de que só
aprende inglês quem pode pagar por um curso livre, o que apenas perpetua um perverso
quadro de exclusão socioeconômica. Não se consolida ainda entre a sociedade a
concepção de que o inglês ensinado na escola atende a objetivos de formação humana e
cidadã, mais do que à dotação de um arsenal vocabular e linguístico para funções
técnicas e utilitárias de comunicação no meio profissional.
14

Em se tratando ainda de empecilhos ou fatores que dificultam o andamento do


trabalho do professor de Língua Inglesa, pode-se citar a falta de apoio para dinamizar as
aulas. É necessário reconhecer que escolas, principalmente públicas, esbarram em
dificuldades que vão desde a disponibilidade mínima de dicionários para que os alunos
aprendam a localizar informações nesse tipo de material e ainda terem a oportunidade
de ampliar seu vocabulário em Língua estrangeira, até o acesso à internet, que se
caracteriza como uma ferramenta que pode amplamente auxiliar no processo de
aquisição de uma nova língua, levando em consideração as vastas informações das quais
dispõe. A carga da horária da disciplina não é extensa e o professor deve procurar
trabalhar de forma plena todas as habilidades exigidas. Frise-se que a execução de aulas
com um mínimo de inovação e dinamismo requer tempo de planejamento e preparação
de material didático. Como o professor de língua estrangeira normalmente atende a
numerosas turmas, de séries distintas, torna-se particularmente difícil para ele produzir
materiais de qualidade na quantidade necessária.

Por esses e outros fatores é que se firma uma visão pessimista de que o ensino de
inglês na escola regular, sobretudo pública, é ineficiente:

O discurso da ineficiência do ensino do inglês na escola pública é


incessantemente entoado por um conjunto de vozes: falam
professores, falam alunos, falam pais, falam diretores e
coordenadores, atores sociais continuamente assediados pela mídia
mediante propagandas de escolas de idiomas, que reivindicam para si
os métodos mais modernos, os professores mais capacitados e a
garantia de domínio do inglês perfeito no menor tempo possível.
(ASSIS-PETERSON; COX, 2007, p. 11)
Para a superação desse quadro, faz-se imprescindível investir em uma
revalorização da disciplina e na modernização dos métodos de ensino. Conforme
Fetterman:

De fato, a comunicação tomou novos rumos diante das interações mediadas


por computador e, agora, também pelos aparelhos móveis. Com isso, ensinar
tornou-se um desafio ainda maior. E ensinar uma língua estrangeira, sem
dúvidas, passou a exigir dos professores novas práticas, visto que seu
objetivo é levar os alunos a compreender a língua e se comunicar no mundo
globalizado. Entretanto, o que se observa é que há barreiras, como os
métodos tradicionais ainda utilizados em alguns contextos, que dificultam a
aprendizagem de idiomas estrangeiros na escola regular - especialmente, na
escola pública. Assim, tanto sua compreensão como a comunicação se
tornam mais difíceis. (FETTERMAN, 2017)

Com base na convivência com os alunos e a experiência em sala de aula, pode-se


perceber que, por se tratar de uma língua estrangeira, os alunos variam de sentimentos
15

em relação a tal componente curricular: há estudantes que admiram e demonstram-se


interessados no que lhes é repassado. Outros, porém, sentem algo similar a aversão à
disciplina. Este último anseio pode ser explicado por acreditarem que não conseguirão
assimilar de forma plena o conteúdo ministrado ou não apresentam curiosidade em
aprender uma nova língua, o que ocorre com menor frequência. O Ensino de Língua
Inglesa pode estar voltado para amenizar a visão que há por parte dos alunos a respeito
do componente curricular em questão. Há uma série de preconceitos linguísticos e
socioculturais que precisam ser desfeitos, a começar pela visão comum, quase
anedótica, porém muitas vezes levada a sério, de que se o aluno não sabe sequer
português, não tem nem os meios nem a necessidade de aprender uma língua
estrangeira.

É preciso solidificar nas comunidades escolares e na sociedade em gera a


concepção de que o aprendizado de uma língua estrangeira pode atuar para desenvolver
a reflexão e compreensão a respeito do mundo no qual o aluno está inserido. Nessa
perspectiva, o processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira não
pretende, como aludimos acima, que o aluno aprenda um código apenas (BRASIL,
1998). Aprender uma língua estrangeira é um processo que propõe não apenas a
memorização de regras gramaticais e apreensão de vocabulário, mas pretende propor a
compreensão de estruturas da língua e seu uso social, considerando os contextos
interacionais e objetivos de utilização.

O método tradicional de lecionar é citado como aquele modelo que se deve


evitar, por desconsiderar a multiplicidade de estímulos e demandas do mundo
contemporâneo.. Sua adoção pode tornar mais difícil a criação de apreço pela disciplina
citada, o que resultará em um menor interesse naquilo que é visto e repassado aos
alunos. A preferência pela memorização de regras gramaticais em primeira instância,
desconsiderando outros aspectos da língua, é algo que vem a colaborar com a
dificuldade relacionada ao Inglês.

Atualmente, no processo de ensino-aprendizagem de inglês na escola pública,


ainda prevalece o uso do método tradicional. Professores privilegiam a
memorização de estruturas e regras gramaticais, atendo-se ao
desenvolvimento da competência linguística e não ao uso comunicativo da
língua alvo. Não há espaço para o desenvolvimento da criatividade dos
alunos, comumente tratados como seres passivos, restritos à reprodução de
conhecimentos, distantes da criação dos mesmos. (KAWACHI, 2008)
16

É notório que o professor de Inglês não dispõe de tempo, como os de outras


disciplinas, conforme já foi citado. Torna-se necessário procurar, a todo momento, o
equilíbrio entre as diversas formas pelas quais há uso da língua, seja escrevendo,
falando, ouvindo ou lendo, considerando aspectos interacionais.

A metodologia escolhida pelo professor apresenta-se, então, como a ferramenta


que auxiliará no processo de ensino-aprendizagem ou dificultará o alcance dos
resultados qualitativos esperados e funcionará como um dos fatores determinantes no
fluir do processo.

Entende-se, portanto, que a necessidade de inovação em sala de aula é uma


realidade fortemente presente em se tratando da disciplina em questão, embora se
reconheçam os desafios a serem encontrados pelo caminho.

Diversas iniciativas dão prova de que há uma forte tendência à superação do


quadro de ineficiência no ensino de inglês de que tratamos acima. Em uma primeira
aproximação, podemos destacar a posição predominante de que o ensino de língua deve
levar em consideração os gêneros textuais situados em circunstâncias interacionais
determinadas. Paralelamente a isso, cumpre ter sempre presente a questão da
interculturalidade.

Relativamente à interculturalidade, Walesko define tal abordagem da seguinte


forma:

Tal orientação pressupõe, em primeiro lugar, que, para ensinar e aprender


línguas comunicativamente, é preciso perceber comunicação como um
processo complexo que envolve interação entre realidades diferentes por
meio do contato entre falantes, “sujeitos culturais específicos”, pertencentes a
uma mesma cultura ou a culturas diferentes. (WALESKO, p. 29)

Segundo essa visão, cumpre superar a visão de que o aprendizado de uma língua
estrangeira deve necessariamente atrelar-se à introjeção de repertório sociocultural
comum aos falantes nativos. Uma vez que o inglês é uma língua franca, os artefatos
culturais empregados no ensino da língua devem visar à construção de uma visão de
mundo intercultural, que leve em conta a cultura do aprendiz e rechace qualquer viés de
submissão cultural.

É nessa perspectiva, portanto que faz sentido incorporar às aulas de língua


estrangeira uma gama diversificada de gêneros textuais, de esferas discursivas também
variadas. Numerosas iniciativas têm enfrentado essa questão, dentre as quais podemos
17

destacar a inserção, nas aulas de inglês, de gêneros digitais, da canção, das histórias em
quadrinhos, de gêneros multimidiáticos, dentre outras possibilidades.

Aragão (2009) descreve um projeto de ensino de inglês por meio de letramentos


na web com professores da rede pública da Bahia, com o objetivo de promover
“autoconsciência sobre a prática, engrandecimento profissional, desenvolvimento de
letramentos digitais e produção colaborativa de materiais de ensino apropriadas a seus
contextos de atuação” (ARAGÃO, 2009, p. 58). A efetiva integração das possibilidades
do mundo digital à sala de aula é vista como uma das maneiras de garantir aos
educandos os necessários letramentos de que precisará para sua atuação cidadã: “o
ensino de uma língua mediado pela Web oferece oportunidades de interação
comunicativa, de reflexão sobre o uso da linguagem no mundo contemporâneo e de
construção de conhecimentos colaborativos” (ARAGÃO, 2009, p. 69).

Cristóvão et al. (2010) sumarizam a experiência de elaboração de material


didático para o ensino de inglês por meio de sequências didáticas com foco em gêneros
textuais, numa perspectiva dialógica sociointeracionista. Os gêneros trabalhados são
também variados e afeitos ao mundo contemporâneo. A título de exemplo, assim se
expressam os autores a respeito de uma das atividades:

ao explorar o gênero carta para pen pal [...] não trabalhamos apenas com os
aspectos que o constituem formalmente e com a língua utilizada, mas
tentamos levar o aluno a perceber a possibilidade de se corresponder com
alguém que não conhece e o quanto isso pode ser enriquecedor e gratificante
(CRISTÓVÃO ET AL., 2010, p. 197).

Na mesma linha teórica nos quadros do interacionismo sociodoscursivo, podemos citar


trabalhos como o de Gonçalves (2009), que apresenta uma sequência didática para o ensino de
inglês a partir do gênero história em quadrinhos. Já Luiz (2011), por exemplo, descreve uma
experiência de adaptação de um jogo comercial de RPG (role-playing game) no ensino da
língua inglesa. Como pressuposto fundamental da pesquisa, Gonçalves defende que o
entretenimento e emergência de estados emocionais propiciados pelo jogo, bem como sua
atratividade favorecem a imersão do estudante na língua estrangeira.

Vê-se, portanto, que são diversas as possibilidades de dinamização e inovação nas aulas
de língua inglesa. Dentre essas possibilidades, também a música e a canção aparecem como
esfera discursiva e gênero capazes de enriquecer a prática de sala de aula com a
disciplina. Gobbi (2001) traz interessante sumário histórico do uso da música na
18

educação e nas aulas de inglês até o início do século XXI. Segundo seu levantamento, o
uso da música no aprendizado de línguas remonta à Idade Média. Uma das conclusões
da autora é que “um ponto favorável à música é que ela geralmente tem mais chance de ser
ouvida, pela sua maior incidência em nossas vidas, o que resulta em uma maior armazenagem
da informação” (GOBBI, 2001, p. 31).

Kawachi (2008), por sua vez, salienta que por meio da música, estabelece-se
uma maior interação entre professores e alunos, além de ser possível abordar
inspirações, visões de mundo, história e significados culturais contidos nas canções
como fonte para se ensinar língua, sociedade e cultura (KAWACHI, 2008, p. 33).
Assim, a autora aposta no poder motivacional da música como estratégia de ensino.

É válido, portanto, investigar de que maneira a música pode contribuir com o


aprendizado de inglês na escola pública brasileira, pois, embora a intuição nos diga que
esse é um recurso largamente utilizado nas salas de aula, há relativamente poucos
estudos sistemáticos recentes acerca do tema.
19

3. TEORIA DE APOIO, CORPUS E CAMPUS

3.1 A influência da música e seus efeitos

A música acompanha a humanidade desde muito tempo. Servindo como forma


de manifestação de sentimentos, ela está presente para celebrar os momentos felizes:
aniversários têm sua música tradicional, casamentos apresentam sua canção
característica, pessoas passeiam ao redor do mundo com fones de ouvido e suas diversas
variações. Do mesmo modo, em momentos tristes a música também é vista: há aquelas
que nos marcam fortemente por sua execução em um determinado momento de perda
ou por sua melodia e letra, explicitamente entristecedora. Em momentos de indignações
populares diante de situações injustas e opressoras, a produção musical funciona como
meio de denúncia de tais insatisfações. Desde tempos remotos a música está
intimamente ligada às sensações, estimulando a memória e as emoções.

Nos tempos antigos, no Egito, as composições musicais eram amplamente


utilizadas em rituais de caráter religioso e serviam para homenagear os deuses e também
funcionava como forma de exaltar os líderes. Na Grécia, as canções foram utilizadas
como tentativa de reprodução dos sons da natureza. Épocas como o Trovadorismo ou o
Barroco apresentam criações que vão do literário ao, obviamente, musical. Em qualquer
que seja a época, pois, é possível eleger para exemplificação algo relacionado à
produção musical.

A música configura-se, ainda, como um dos assuntos recorrentemente abordados


no que diz respeito a sua influência no cérebro e mesmo a sua função medicinal. A
utilização em ambientes diversos, em que há pessoas que necessitam de atenção
especial, tem se tornado recorrente, sendo assim objeto de estudo na tentativa de
entender os efeitos de seu uso. Há também pesquisas relacionadas aos seus efeitos
positivos em pessoas em situação de recuperação de cirurgias, por exemplo, em
hospitais e até mesmo em pacientes que sofrem com o câncer.

Na agricultura, há relatos de cultivadores que optaram por utilizar alto falantes


como música clássica nas plantações (VIDIGAL, 2014) e foi perceptível um maior
crescimento das plantas com qualidade do produto ampliada, o que pode ser explicado
pelas ondas sonoras causadas pelas melodias a que são expostas.
20

Em entidades educacionais, onde há uma grande concentração de crianças e


jovens, “As atividades relacionadas à música também servem de estímulo para crianças
com dificuldades de aprendizagem e contribuem para a inclusão de crianças portadoras
de necessidades especiais” (CHIARELLI; BARRETO, 2005, paginação irregular).

Outro fator que faz com que a música seja considerada um valioso instrumento
pedagógico é a sua constante presença na vida de inúmeros alunos, levando em
consideração que é altamente comum presenciar jovens com fones de ouvidos durante
os intervalos das aulas, com o celular em mãos, expondo também, de forma audível,
seus gostos musicais, os quais se assemelham, muitas vezes, aos de seus amigos e dos
seus grupos de convivência, além da capacidade de ajudar a equilibrar as energias,
desenvolver a criatividade, a memória, a concentração, autodisciplina, socialização,
além de contribuir para a higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos
(BARRETO; SILVA, 2004).

Sobre tal assunto, discorreu Freire (2011):

Sendo a adolescência um período caracterizado por grande inquietação,


dúvidas existenciais essenciais, emoções cambiantes e momentos ora de
desequilíbrio, ora de equilíbrio – num caminho repleto de descobertas,
sentimentos pulsantes e intensos, animados ao som da música – e dada a
relação tão íntima verificada entre as emoções e a música (Sloboda e O‟
Neill, 2001), pode portanto depreender-se que exista uma estreita ligação
entre a adolescência e a música. (FREIRE, 2011, p. 15)

As produções musicais estão entre as ferramentas que funcionam até mesmo


como forte influenciadora e auxiliadora, de forma expressiva, no processo de construção
de identidade, principalmente no que diz respeito à fase denominada adolescência e
resulta em efeitos que podem ser vistos até mesmo a nível mental.

São perceptíveis e, por serem objeto de estudo, comprovadas suas propriedades


medicinais, relaxantes e benéficas, de modo geral. Atesta-se, de forma bastante visível,
a sua marcante e notável presença perpassando as épocas e os lugares diversos.
Contribui, por meio de sua inserção, com a criação ou lapidação da identidade do ser. A
música pode ser, então, utilizada como instrumento nas escolas para aprimoração de um
assunto tão importante que é a educação, bem como a construção de conhecimento e a
formação dos alunos de forma plena.

Portanto, conduzindo para assuntos de cunho educacional, é impensável excluir


tal ferramenta do dia a dia em sala de aula.
21

3.2 A música enquanto ferramenta pedagógica

A inserção de música nas aulas é uma ferramenta vastamente citada,


principalmente quando se menciona a Língua Estrangeira. Por se tratar de um
instrumento que faz parte do cotidiano e por estar presente de forma expressiva na vida
dos alunos, como já citado, a sua utilização mostra-se inovadora, e os momentos de
aprendizagem em que elas estão inseridas diferenciam-se fortemente do ensino
tradicional que é possível encontrar em alguns contextos. Durante o processo de ensino-
aprendizagem, de qualquer língua, há indícios de que seu emprego age de forma eficaz,
como se percebe no discurso de Kawachi (2008):

Stansell (2000) afirma já ter sido provado que a música, durante esse
processo, diminui a ansiedade, aumenta a motivação, promove o interesse e
contribui para a diversão dos envolvidos. Stansell afirma ainda que ela possui
um papel fundamental em todas as áreas de aquisição de uma língua, ou seja,
auxilia no aprendizado de vocabulário, de pronúncia e de gramática, assim
como na fluência. (KAWACHI, 2008, p. 15)

Ao utilizar-se de um recurso pelo qual os alunos apresentam apreço, a


possibilidade de a aprendizagem ocorrer de forma mais efetiva é maior. A partir de
alguns anos de experiencia em sala de aula procurando mediar conhecimento, sob
diversos aspectos, a respeito da Língua Inglesa, pode-se perceber o interesse dos alunos
por atividades que envolvem a utilização de produções musicais, seja por meio de
vídeos, episódios de séries que contenham música, bem como as canções propriamente
ditas. Nessas ocasiões, em regra, há maior interação com o conteúdo ministrado. Tal
fator pode ser explicado por haver indiscutível aproximação dos alunos com a
ferramenta utilizada. A aprendizagem, então, torna-se significativa e reconhece-se o uso
efetivo da linguagem.

A música pode ser utilizada para fins pedagógicos visando a diversos objetivos:
proporcionar a comparação de produções, estimular o interesse por um determinado
eixo do conhecimento ou conteúdo, propor a maior interação entre os alunos, incentivar
a leitura e a aquisição de novo vocabulário. Dependendo do contexto em que está
inserido, possibilita a análise e o estudo de fatos históricos, o reconhecimento de
problemas e denúncias sociais, além de permitir o conhecimento a respeito das diversas
culturas ao redor do mundo e o reconhecimento de variações que a língua apresenta.
Todos esses fatores devem-se ao fato de a música apresentar caráter intrinsecamente
interdisciplinar, podendo abordar os mais diversos temas. É perfeitamente possível,
22

portanto, perceber o seu diálogo com qualquer um dos componentes curriculares, o que
se confirma no discurso de Natividade:

o educador pode trabalhar a música em todas as áreas da educação,


facilitando a aprendizagem, fixando assuntos relevantes, unindo o útil ao
agradável, utilizando músicas, que envolvem temas específicos como
números, datas comemorativas, poesias, folclore, gramática, história e
geografia, análise, síntese, discriminação visual e auditiva, coordenação
visomotora. (NATIVIDADE, 2005, p. 26)

Um aspecto relevante a se comentar é que o uso de música, em qualquer que seja


o momento, evento ou celebração, apresenta uma finalidade bem destacada; logo, em
sala de aula, tal utilização não deve ser diferente, não se admitindo, assim, seu uso
desatrelado de objetivos pedagógicos suficientemente claros e relevantes. A música,
assim, pode funcionar na sala de aula como meio de abordagem e apreensão
pedagógica, servindo como auxílio na aquisição do conteúdo que foi escolhido para
discussão, funcionando como meio de enriquecer o momento da aula e permitindo que o
aluno visualize na ferramenta em questão uma oportunidade de adquirir conhecimento
de forma lúdica e diferenciada.

O uso da música sem objetivo específico e seus malefícios são vistos no discurso
de Natividade (2005), que se baseia em conclusões de Ferreira (2001): “a principal
desvantagem do uso da música é o seu emprego sem objetivo e sem planejamento ou
propósito, ou pelo Profissional que a domine ou que assim o pense.”. O autor menciona
ainda o fato de poucos professores fazerem uso da música de forma que contribua
verdadeiramente com a produção notável de resultados qualitativos.

É necessário ao professor, portanto, assenhorear-se de estratégias pelas quais a


inserção de canções nas aulas possam gerar a obtenção de resultados satisfatórios,
executando o melhor método ou aquele que mais se encaixe na proposta inicial do
objetivo da aula que o professor se propôs atingir. Desse modo, para inserir músicas nas
aulas, pode-se e deve-se realizar leituras dos mecanismos mais utilizados e vastamente
executados que mais podem ser utilizados em cada ocasião e situação de aprendizado.

Esse uso, portanto, deve ser feito de forma consciente, como, aliás, deve ocorrer
em todo procedimento pedagógico. É mais proveitoso que as produções musicais
escolhidas para execução em sala de aula sejam capazes de prender a atenção dos
alunos, bem como apresentar, em sua estruturação linguística e sua temática, e
elementos relevantes para a análise pretendida, permitindo seu estudo e análise de forma
23

significativa, levando em consideração todos os seus componentes que poderão ser


abordados, como, por exemplo, letra, contexto em que foi produzida a canção, origem
da composição, etc., integrando o planejamento destinado para execução na aula,
levando em consideração que o plano de aula é um dos instrumentos mais relevantes
para organização do professor e, sendo parte fundamental da aula, deve ser previsto no
plano de aula como será feita tal abordagem. Tal uso, seja com o objetivo de assimilar
algum conteúdo, seja para promoção do relaxamento e organização do pensamento,
deve ser registrado nos instrumentais apropriados.

Reconhecendo que a sala de aula pode ser definida como um ambiente em que
diversas opiniões, estilos e comportamentos são encontrados, é possível fazer tal
associação a qual produção musical está presente no dia a dia dos que frequentam tal
espaço.

Segundo uma pesquisa da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, o gosto


musical de uma determinada pessoa pode ajudar a indicar o seu tipo de personalidade e
comportamento. Segundo a pesquisa,

pessoas empáticas, com maior capacidade de se identificar com outra pessoa,


preferiram músicas mais suaves, de baixa energia. Já aquelas classificadas
como "sistemáticas" – pessoas que procuram analisar padrões no mundo –
optaram por punk, heavy metal e músicas em geral mais complexas
(GOSTO, 2015, paginação irregular).

Em seu estudo, Gobbi (2001 apud Miragaya, 1992) apresentou o rock‟n‟roll


como um gênero que pode ser utilizado com facilidade, pois, segundo a autora,
apresenta canções que “são familiares a um grande número de pessoas especialmente
aos jovens que estão frequentemente em contato com músicas, em diferentes
ambientes.”. No entanto, a preferência musical pode variar por múltiplas razões,
inclusive no pequeno grupo de alunos. Tal variação pode ser explicada por meio de
fatores diversos, como o contexto no qual os jovens se encontram inseridos, o que pode
vir a influenciá-los de forma mais direta. Há também a questão de influência no que diz
respeito ao gosto musical dos indivíduos com os quais o jovem tem mais contato, ou
ainda a época em que o jovem vive. Ressalta-se novamente a importância de análise do
que é mais próximo à realidade dos componentes do público em questão.

Provavelmente, apresentar ritmos conhecidos dos alunos ou os gêneros musicais


de sua preferência pode facilitar a identificação da turma com o que é ministrado na
24

aula e com o momento da aula em si. Entretanto, com base em experiências vivenciadas
em sala de aula, o gênero talvez seja o fator de maior importância em determinar se o
público sentirá apreço pelo que for utilizado ou não, pois também é interessante levar
para apreciação canções que não façam parte do cotidiano dos alunos. Tal visão também
é positiva, pois resultará por aumentar o leque de possibilidades e alargar o repertório
musical, proporcionando um momento de aprendizado significativo. Oferecer tal
sentimento de reconhecer-se naquilo que é visto, bem como o sentimento de
pertencimento ao que se tem na aula, tende a tornar o momento de aprendizagem mais
rico, seja com relação ao gênero, seja com relação à letra, ao ritmo, ao intérprete... O
crucial e indispensável é possibilitar um momento prazeroso de construção de
conhecimento.

3.3 A música nas aulas de Inglês

Segundo as Orientações Curriculares do Ensino Médio (2006), é interessante que


o aluno de uma nova língua possa aprendê-la de forma que tenha acesso ao uso em
situações significativas e notavelmente relevantes. Obtém-se, assim, conhecimento no
qual há sentido e significado para aquele que o aprende, o que pode colaborar com a
construção de agentes da sociedade e cidadãos que têm percepção de mundo, que
conseguem analisar e refletir a respeito do seu meio. Relacionar a utilização de canções,
que, como já foi citado, não apresenta apenas o aspecto lúdico, mas também é capaz de
trazer e apresentar contextos e objetivos diversos, com a apreensão de uma nova língua,
que, por sua vez, destaca-se como viva, dinâmica e expressiva, possibilita o
reconhecimento da importância do que é visto, aprendido e fixado em sala de aula.

A forma como a aula de Língua Inglesa é vista pelos alunos já foi citada no
presente trabalho, e percebe-se que há ainda uma relação entre disciplina e aluno.
Dentre as vantagens com que pode contar o professor de Língua Inglesa, e que pode ser
utilizada a seu favor, encontra-se o vasto aglomerado de material disponível para uso
em sala de aula. Há sites que disponibilizam a organização dos planos de aulas para
utilização imediata; vídeos em Língua Inglesa podem ser encontrados facilmente
disponíveis no imenso mundo que é a internet; é, ainda, inúmera a quantidade de
episódios de séries na língua em questão, dos mais variados níveis e regiões falantes
desse idioma. A música caracteriza-se como, talvez, o recurso mais acessível para esse
público. Não é mais necessário ouvir a música algumas vezes para transcrevê-la e, por
25

fim, ter acesso a sua letra, visto que tanto os recursos de áudio quanto escritos podem
ser encontrados facilmente na rede.

Desse modo, tem-se acesso a um conteúdo autêntico com o qual há diversas


possibilidades de utilização e abordagens, como a gramática, a construção de
vocabulário em língua inglesa, pronúncia ou aspectos socioculturais bem específicos.

Acredita-se que a utilização de músicas em salas de aula resulta em uma maior


motivação e desenvolvimento de habilidades, em se tratando da aquisição de uma nova
língua. Gobbi (2001) confirma a ideia de que, considerando aspectos pedagógicos, a
música é um dos melhores meios de auxílio de aquisição da nova língua:

Para Murphey (1990), por exemplo, a música pode ser útil como recurso de
aprendizagem de línguas por, pelo menos, duas razões: primeiro, ela pode ser
motivadora; segundo, o insumo da linguagem da música pode estar de acordo
com algumas razões existentes para aquisição das línguas, tais como a
simplicidade e semelhança que apresenta, frequentemente, com o discurso do
aprendiz. (GOBBI, 2001, p. 12)

Há, ainda, um diálogo, por meio da música, entre a escola e o mundo exterior, o
que possibilita que o professor traga sua identidade, percepção e sentimentos para os
momentos das aulas.

Gobbi (2001), ao citar diversos autores, ressalta a importância da música, no que


diz respeito à criação da oportunidade de fixação e memorização de termos em língua
estrangeira, especificamente, na disciplina em questão:

Em 1965, Osman, citado por Murphey (1990a, p. 143), reforça p conceito de


Gravenall (1949) quanto a memorabilidade das letras de músicas, fazendo
alusão ao fenômeno chamado SSIMH (song-stuck-in-my-head), ou seja, a
música fixa em minha mente. A autora observou que os aluno, muitas vezes,
conseguiam lembrar músicas completas em língua que haviam estudado,
sem, talvez, serem capazes de falar mais do que poucas palavras livremente
nessa mesma língua. (GOBBI, 2001, p. 24)

Isso, de algum modo, pode contribuir para a aprendizagem dos alunos que têm
contato com a língua por meio da música.

Ao discorrer a respeito do uso de métodos inovadores em sala de aula, sobre a


forma como são vistas as aulas de inglês e como a música pode auxiliar no processo de
aprendizagem eficaz, atinge-se o ponto mais relevante no presente estudo, que é a
utilização da música nas aulas de Língua Estrangeira, cabe apresentá-la como recurso
metodológico que pode auxiliar de forma enriquecedora o professor de Língua Inglesa,
bem como citou Gobbi (2001):
26

A música representa um grande elo comunicativo. É a linguagem do som e


letra que chegam ao ouvinte em forma de comunicação. Julgamos, portanto,
que o uso da música em sala de aula é uma estratégia que pode ajudar o
professor nas tarefas de ensino e de aprendizagem, Além de ser um
instrumento afetivo. (GOBBI, 2001, p. 40)

A música vem agir, então, de modo a proporcionar ludicamente e de forma


indiscutivelmente mais prazerosa a assimilação de diversos conteúdos e componentes da
língua, com destaque para a aquisição e aprimoramento de vocabulário, pronúncia de
termos integrantes da língua e reconhecimento até mesmo de variações linguísticas
existentes, o que, em se tratando de língua inglesa, ou qualquer outra língua estrangeira
a ser estudada por meio do uso de tal ferramenta, configura como um processo
enriquecedor. É possível que alunos expostos à metodologia, que utilizem as
composições musicais de modo mais frequente, tenham desenvolvidas mais
rapidamente habilidades que são necessárias ao estudar uma língua, mediante estímulo
específico do uso da língua.

É com a visão de experiência enriquecedora para as aulas de língua inglesa que


se pensou no presente trabalho. Anteriormente à verificação a respeito do impacto que a
utilização da inserção de atividades que utilizem música, no plano de aula a serem
aplicados com os alunos, faz-se necessário investigar de modo mais profundo a como se
deu a aceitação por parte dos alunos de tal metodologia, como o uso de tal meio auxilia
efetivamente no aprendizado e de que modo tal recurso serve como motivação,
melhorando o envolvimento com a aula e a disciplina em questão? O trabalho se
propõe ainda verificar, por meio da análise e da interpretação de relatórios
institucionais, como é vista a disciplina pelos alunos, analisar suas expectativas e
proporcionar uma visão prévia de como os alunos se veem ao cursá-la, bem como
oferecer uma visão a respeito do desenvolvimento de habilidades relacionadas ao uso
efetivo de Língua Inglesa.

3.4 Corpus da Pesquisa

De modo a propor a verificação da motivação dos alunos em aulas que utilizem


a música associadas ao ensino de Língua Estrangeira, especificamente o Inglês, a
presente pesquisa traz sua organização que visa a atingir tal objetivo. Ao considerar a
possibilidade de pesquisar a respeito do assunto em questão, foi necessário considerar
diversos aspectos para obtenção de um resultado mais preciso.
27

Inicialmente, procedeu-se à leitura de autores que trouxessem a temática


proposta, bem como aqueles que discorriam a respeito dos temas relacionados à
temática principal. Fez-se necessário realizar um levantamento do estado da arte para,
então, discorrer a respeito das novas visões que apostam no uso de metodologias ativas
e inovadoras em sala de aula, as formas como as tecnologias e metodologias
diferenciadas agem e de que modo contribuem com o alcance de resultados satisfatórios
na aprendizagem.

Interessar-se por ler, analisar e refletir sobre a forma como a disciplina de língua
inglesa é vista e qual papel exerce o professor de tal componente curricular,
considerando seus desafios e limitações, que são inúmeros e diários, foi também um
exercício necessário para a elaboração do trabalho. Tais partes encontram-se no presente
estudo de forma detalhada, apresentando, as opiniões, visões e conclusões da autora.

É possível deparar-se com a discussão a respeito da música, sua utilização no


decorrer nos tempos, suas funções medicinais e, principalmente, pedagógicas, para
então adentrar na parte prática da pesquisa, que traz o locus em que se deu a prática para
verificação de resultados. Há outros itens e passos importantes que fazem parte do
processo e estão inseridas no trabalho em questão como, por exemplo, a metodologia
utilizada para verificação dos resultados, para então, coletar os dados e chegar a um
resultado aproximado ou não do que se espera com a pesquisa.

3.5 Campus da Pesquisa

A educação brasileira tem passado por diversas mudanças e avanços


consideráveis com o decorrer dos anos, em que se verificou um processo de
universalização do ensino fundamental, a partir de robusta expansão da rede pública de
ensino. Como decorrência natural desse processo, verificou-se um considerável
aumento na procura por escolas públicas de ensino médio. Mais ainda, como resultado
de diversas demandas sociais, busca-se não só o acesso à escola, mas também uma luta
por qualidade de ensino. Entende-se por vencida a batalha pela vaga na escola, espera-
se agora que o tempo do aluno na escola seja bem aproveitado, espera-se que o
investimento de recursos públicos nas redes de ensino revertam-se na formação de
cidadãos plenamente inseridos no mundo letrado, informatizado e globalizado.
28

Assim é que a escola de ensino médio em tempo integral surge como um novo
modelo pedagógico e de gestão, que propõe o alcance do aprendizado em diversas
esferas, não se valendo somente de disciplinas comuns e conteúdos convencionais.

É nesse contexto que se insere o campo de pesquisa escolhido para o


desenvolvimento do presente trabalho, associando, portanto, a proposta da instituição,
conhecimentos adquiridos na experiência em sala de aula e na formação docente da área
de Língua Inglesa, as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio e a importância do Inglês como campo de estudo interdisciplinar que funciona
como ferramenta de expressão social.

O documento1 que institui a política de ensino integral na rede estadual do


estado do Ceará cita, dentre as finalidades de uma escola nessa modalidade, aspectos
como a ampliação de oportunidades para formação integral dos jovens cearenses,
respeitando seus projetos de vida, a promoção da educação para a paz e a convivência
com as diferenças, a garantia do aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico, entre outros objetivos, os quais possibilitam a percepção de que
esse tipo de instituição possibilita ao aluno o desenvolvimento ou o despertar de
diversas competências, com ênfase na formação crítica e no protagonismo juvenil.

Tal processo e visão são implementados a partir de uma base comum, que
constitui o quadro de disciplinas da organização, e por meio das disciplinas eletivas, que
são o grande diferencial e ponto forte nas escolas em tempo integral e necessitam
“dialogar com as necessidades múltiplas dos sujeitos expressas em seus projetos de
vida2.”, bem como reconhecer a importâncias dos eixos de Formação Cidadã e NTPPS
(Núcleo de Trabalho, Pesquisas e Práticas Sociais), disciplinas que integram o currículo
das escolas de ensino em tempo integral, “uma vez que ambos os componentes ajudam
aos estudantes na afirmação de sua identidade composição das expectativas quanto ao
futuro acadêmico e profissional.3”.

As disciplinas eletivas apresentam eixos para execução do trabalho e são


escolhidas pelos alunos que as querem cursar. Estão associadas, portanto, ao conceito de

1 Disponível em: <https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-


tematica/educacao/item/5883-lei-n-16-287-de-20-07-17-d-o-21-07-17> Acesso em: 25 jan. 2018
2 Nota Técnica para Escolas de Tempo Integral. n. 01/2017
3 Nota Técnica para Escolas de Tempo Integral. n. 01/2017
29

Núcleos de Interesse, o que confere caráter democrático e possibilita que o aluno se


sinta mais à vontade e confortável, procurando atender aos seus interesses diversos:
“Esses novos ciclos de estudo, ao se constituírem, fortalecem o processo de
aprendizagem e manifestação do protagonismo estudantil4.”

São oferecidas disciplinas eletivas dos mais diversos eixos e temáticas, em uma
quantidade que vá contemplar todos os alunos igualmente, com os planos de aula
pensados e elaborados pelos professores da instituição da modalidade em tempo
integral. A partir desse catálogo, os alunos optam por cinco das disciplinas que são
ofertadas no semestre em questão. Esse processo de escolha é feito a partir de eventos
em que os professores apresentam ao corpo discente da escola as disciplinas que
pretendem ofertar na etapa letiva que terá início.

O principal intuito desse tipo de componente curricular é focar na dinamicidade


e tornar o momento de aprendizagem prazeroso, utilizando-se de recursos diversificados
e apresentando como avaliação um produto final a ser confeccionado pelos próprios
alunos. Assim, por exemplo, em uma disciplina que envolva o ensino de história por
meio de fanzines, por exemplo, o aluno deve apresentar uma produção final que articule
os saberes mobilizados durante a disciplina, consubstanciado em um artefato específico,
no caso, o fanzine.

Dessa forma, disciplinas eletivas podem estabelecer diálogos entre aspectos do


currículo tradicional e práticas sociais de interesse da habilidade discente. Uma das
possibilidades dessa organização curricular é de ensejar abordagens diferenciadas de
conteúdos clássicos, em intersecção com o universo cultural dos alunos. O ensino de
uma disciplina como a de Língua Inglesa, portanto, pode ser ressignificado, a partir de
enfoque interdisciplinar e investimento no aspecto lúdico.

A Língua Inglesa é uma disciplina que traz muito mais do que simples
memorização de termos, regras gramaticais, ou reconhecimentos de mecanismos,
apenas. Muito mais do que isso, o Inglês, como qualquer outra língua, pode se
apresentar como forma de manifestação cultural, como ferramenta de uso social, como
manifestação histórica ou como instrumento de interdisciplinaridade.

Tomam-se por base as quatro habilidades a serem desenvolvidas por um


estudante de tal idioma: o listening, que diz respeito à capacidade de compreender

4 Nota Técnica para Escolas de Tempo Integral nº 01/2017


30

oralmente a Língua e a forma como ela é executada; o writing, que se refere a formas de
expressão nessa língua por meio da escrita; o reading, habilidade pela qual se consegue
compreender o que é escrito por meio da leitura; e, por último, o speaking, competência
que está relacionada à capacidade falar em dado idioma. Verifica-se que, segundo a
proposta da disciplina eletiva em questão, algumas habilidades receberão maior atenção
e serão trabalhadas em primeira instância.

Vê-se, então, que o Inglês, que exibe características dinâmicas por ser tratar de
uma língua viva em claro processo de expansão mundo afora, apresenta-se como uma
grande possibilidade de utilização em disciplinas eletivas, visto que suas ideias e seus
propósitos se complementam e conduzem a um caminho em comum.

Reconhece-se, assim, que o campus de pesquisa escolhido se apresenta como


propício para o estudo em questão, levando-se em consideração as características das
disciplinas eletivas que têm lugar nas escolas públicas de tempo integral do Estado do
Ceará e o Ensino de Língua Inglesa.

Baseado no relatório diagnóstico de eletivas, emitido pela instituição EEMTI.


Adelino Cunha Alcântara, pode-se delimitar que o universo em que se dá a presente
pesquisa compreende uma turma constituída por cerca de vinte alunos com idade entre
14 e 15 anos que frequentam a primeira série do Ensino Médio e que optaram, por
motivos que serão posteriormente analisados, por cursar, entre as cinco disciplinas
eletivas propostas pela escola que são obrigatórias segundo o currículo para o semestre
em que estão, a disciplina denominada “Inglês Básico através da Música”, que compõe
o catálogo de eletivas disponíveis para as escolas de ensino em tempo integral.
31

4. METODOLOGIA

4.1 Introdução

Como vimos, esta pesquisa requer um levantamento inicial dos motivos que
levaram os alunos a optarem pela disciplina de Inglês Básico através da Música e, uma
posterior verificação acerca do modo pelo qual a utilização de canções nas aulas da
citada disciplina eletiva desenvolve a motivação e apreço pelo que é repassado. Dessa
forma, propondo-se a atingir tal objetivo, fez-se necessário seguir alguns passos que
deram forma e funcionaram de modo a caracterizar o presente estudo.

Optou-se por realizar uma pesquisa de caráter qualitativo e descritivo a partir da


investigação de relatórios diagnósticos, emitidos pela instituição de interesse, que têm
como propósito verificar a intencionalidade dos alunos que frequentam as aulas da
supracitada disciplina eletiva.

É sob essa visão que se desenvolveu a seguinte pesquisa, utilizando-se dos


seguintes procedimentos metodológicos:

1. Levantamento bibliográfico acerca do tema discutido;


2. Análise do relatório disponibilizado pela EEMTI. Adelino Cunha Alcântara
objetivando compreender os motivos que levaram os alunos a optarem pela
disciplina e se suas expectativas foram alcançadas;
3. Execução de sequências de atividades, conforme planejamento pedagógico
intencionalmente direcionado à utilização da canção como recurso para o
ensino da língua inglesa ao longo de um semestre letivo.

4.2 População e amostra da pesquisa

A pesquisa foi inspirada na Escola Estadual de Ensino Médio em Tempo


Integral Adelino Cunha Alcântara, localizada no município de São Gonçalo do
Amarante, distante cerca de 60 quilômetros da capital do estado. A instituição teve seu
trabalho iniciado no corrente ano e apresenta apenas três turmas da primeira série do
Ensino médio, contemplando alunos que residem tanto na sede do município citado
como em localidades mais distantes que precisam de transportes escolares para seu
deslocamento.
32

De acordo com a descrição encontrada no documento norteador, disponibilizado


pela escola, os alunos que optaram por frequentar a disciplina de Inglês Básico através
da Música formam uma turma de 20 componentes que se reúnem às sextas-feiras para a
aula da disciplina em questão. São meninos e meninas da faixa etária entre 14 e 15 anos
e que iniciam, assim como muitos outros, sua experiência com as disciplinas eletivas e a
escola em tempo integral no município.

Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório, pois, como define Gerhardt


(2009), pesquisas desse tipo “buscam uma abordagem do fenômeno pelo levantamento
de informações que poderão levar o pesquisador a conhecer mais a seu respeito”. Tal
definição encontra-se claramente no trabalho em questão, ao se propor o
reconhecimento de questões que podem levar a entender como o processo de
assimilação de uma nova língua com o auxílio de canções decorre ou se inexiste. Por se
tratar de um tipo específico de trabalho e encaixar-se em um determinado grupo, tal
estudo é mais propício a encaixar-se nesse padrão.

É preciso esclarecer que a exploração do fenômeno tem como objetivos


desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias. Esse tipo de pesquisa
é realizado especialmente quando se há poucas informações disponíveis
sobre o tema ao qual se relaciona o objeto de estudo. Justamente devido ao
escasso conhecimento do assunto, o planejamento é flexível, de forma que os
vários aspectos relativos ao fato possam ser considerados. (GERHARDT,
2009, p. 67)

4.3 Procedimentos Metodológicos

Para atingir os objetivos da pesquisa, é fundamental associar e aglomerar as


informações necessárias para verificação daquilo se propôs a entender e conhecer de
modo profundo. Para tanto, faz-se uso de métodos que possibilitem a investigação da
pesquisa. Dentre os métodos experimentais, que podem ser os mais diversos, como
pesquisa bibliográfica, estudo de caso ou o levantamento de dados, escolheu-se o
primeiro citado.

Ao longo da realização da pesquisa bibliográfica, obteve-se acesso ao relatório


diagnóstico das disciplinas eletivas, documento que norteia a presente pesquisa e
apresenta em sua estrutura as seguintes informações: caracterização da turma; ementa
da disciplina e avaliação das aspirações dos alunos com relação à eletiva por meio de
dois questionários.
33

O uso de questionários, método escolhido pela instituição para elaboração do


relatório diagnóstico das disciplinas eletivas, é uma ferramenta que se configura como
interessante e eficaz. Gerhardt (2009) define o questionário como “um instrumento de
coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser
respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do pesquisador” e que
“objetiva levantar opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas. A linguagem utilizada no questionário deve ser simples e direta, para que
quem vá responder compreenda com clareza o que está sendo perguntado”.

Dentre as vantagens desse tipo de método, a mesma autora cita como seus
aspectos satisfatórios a economia de tempo, o fato de atingir um maior número de
pessoas de forma simultânea, bem como obter respostas de forma mais rápida e precisa,
como já foi citado, e ainda oferecer mais segurança e liberdade, o que se deve ao fato de
se preservar a identidade de quem o preenche o instrumental.

O primeiro questionário tem como função verificar inicialmente quais os


motivos que levaram os alunos a selecionar o componente curricular em questão para
compor o quadro de suas disciplinas eletivas do semestre. O questionário que foi
utilizado pela escola, como objeto de verificação de dados, foi elaborado por meio da
ferramenta online denominada Google Forms, que consiste em uma plataforma
designada para a finalidade de construir formulários e questionários para ocasiões
diversas e apresenta variados layouts para utilização por pessoas com interesses
múltiplos, considerando aspectos já apresentados anteriormente, na escolha e
elaboração.

Tal item de obtenção de dados apresentou três questionamentos de múltipla


escolha, cada um trazendo três opções de possíveis respostas dos alunos, considerando
seus interesses em relação à disciplina. O primeiro questionamento comtemplava a
seguinte questão: “Por qual motivo você optou pela disciplina de Inglês básico através
da Música?”, apresentando possíveis respostas a serem escolhidas: “Por gostar de ouvir
músicas em Inglês.” era o texto presente na primeira opção que poderia ser escolhida; já
a segunda opção trazia a resposta “Por imaginar que poderei melhorar meu nível de
Inglês.”; e, por último, apresentava-se a opção “Por algum amigo meu ter optado por ela
também.”.
34

No segundo questionamento, procurava-se obter a autoavaliação dos alunos com


relação ao seu nível de Inglês. Apresentaram-se como possíveis respostas as opções:
“Apresento pouco conhecimento, com muitas dificuldades”, “Apresento um bom nível
de conhecimento, mas ainda tenho muitas dúvidas.”, e “Apresento muito conhecimento
a respeito da disciplina e quase não tenho dificuldades”.

A terceira e última indagação objetivava apropriar-se a respeito das expectativas


que os alunos apresentavam em relação à disciplina que escolheram, e era possível, ao
responder, optar por uma das três respostas: “Aprender mais palavras em inglês”,
“Desenvolver a habilidade em ouvir com mais clareza em Inglês” ou “Ouvir músicas
em Inglês, somente.”.

O segundo questionário, dessa vez de caráter subjetivo, foi pensado e elaborado


com o intuito de ser aplicado no final do semestre e da disciplina em questão. Teve
como proposta verificar se a disciplina, por utilizar canções como recurso de apoio às
aulas, resultou em um maior aprendizado, se os alunos conseguiram assimilar termos e
expressões novas e tiveram seu vocabulário em Língua Inglesa ampliado. Pretendeu-se
averiguar, ainda, se o público conseguiu perceber que a sua compreensão auditiva, ao
ser exposto repetidas vezes às canções e com o uso de atividades que trabalhavam a
escuta de formas diferentes, apresentou melhora.

Observando o relatório citado, subentende-se que no primeiro questionário,


foram considerados diversos aspectos com relação à intenção dos alunos no que diz
respeito à disciplina, procurando levantar questões e apresentar opções que se
demonstram realistas e que trouxessem as possibilidades reais que possivelmente
levaram os alunos por fazer as suas escolhas. Já no segundo, possibilitando uma análise
mais profunda da opinião dos estudantes a respeito do que puderam aprender com a
disciplina, utilizou-se de questões subjetivas, mas que também se apresentam de caráter
claro, sucinto e objetivo, proporcionando o entendimento rápido acerca do que foi lido.
35

5. ANÁLISE DOS DADOS

Para a realização desta pesquisa, foi necessário utilizar-se do levantamento


bibliográfico sobre o assunto proposto para discussão e análise, com o objetivo de
reconhecer os fenômenos a ele relacionados, delimitando de maneira precisa o objeto de
estudo, e apropriar-se da temática, situando os fenômenos estudados em relação a outros
que pudessem se apresentar relacionados. Segundos os dados expostos no relatório
referente às disciplinas eletivas, tais etapas, para compreensão da problemática, estão
associadas à utilização de questionários: por meio do primeiro, de caráter quantitativo e
aplicado no início do semestre letivo, quando se deu início às aulas da disciplina eletiva,
foi possível verificar quais motivações levaram os alunos a optar pela disciplina e o que
esperavam dela. Já o segundo, aplicado com os alunos ao final da disciplina, apresentou
características qualitativas e destinou-se a reconhecer a forma como os alunos
finalizavam a disciplina em questão, no intuito de perceber em quais aspectos a
metodologia utilizada e o recurso específico presente em todas as aulas, a música, foi
fator que tornou a aula mais atrativa e auxiliou no desenvolvimento de habilidades dos
alunos como aprendizes de Língua Inglesa.

Como resultado, obteve-se os dados que podem ser conferidos nos gráficos a
seguir.

Figura 01

No primeiro questionamento, objetivou-se investigar qual motivo mais


influenciou na escolha pela disciplina em questão. Pode-se perceber que metade do
número de alunos que responderam às perguntas afirma ter escolhido a disciplina por
supor que, com ela, poderia melhorar o seu nível de Inglês. Será interessante,
correlacionar esse dado com o percentual de alunos que acreditam ter sido a música
fator facilitador no aprendizado, a fim de estimar em que medida a metodologia
aplicada impactou na relação dos alunos com as disciplinas.
36

Já 40% dos informantes, quantidade que corresponde a oito alunos, afirmam ter
selecionado a disciplina porque gostam de ouvir músicas em Inglês; por fim, 10%
asseguram que a motivação principal foi o fato de algum amigo ter escolhido a
disciplina. Por essas respostas, vê-se que metade da turma escolheu a disciplina sem um
claro interesse no estudo da língua inglesa. Já nessa altura, porém, pode-se ver que a
música constitui atrativo suficiente para parcela expressiva dos informantes, já que
manifestam claro interesse na audição de músicas.

O segundo questionamento procura fazer um levantamento da autopercepção dos


alunos com relação aos conhecimentos prévios que eventualmente apresentavam em
Língua Inglesa. De forma geral, não se optou por delimitar a qual área está relacionada
o conhecimento citado, ou seja, busca-se uma percepção geral e leiga do aluno com
relação a seu conhecimento, sem se fazer distinção com relação às habilidades
linguísticas (falar, ler, ouvir, escrever) e aos componentes da língua (gramática,
vocabulário, pronúncia).

O resultado fornecido pelo questionário indica que nenhum dos alunos


selecionou a opção “Apresento muito conhecimento a respeito da disciplina e quase não
tenho dificuldade”. Isso mostra que a maioria da turma reconhece não possuir
expressivo conhecimento prévio da língua, situando-se entre os níveis elementar e
intermediário, ainda segundo uma autopercepção leiga. Obtivemos, portanto, uma
divisão da turma entre duas respostas. O primeiro resultado relaciona-se à afirmação
sobre apresentar um bom nível de conhecimento, embora com algumas dúvidas,
correspondendo a 55% da turma. Já o segundo resultado, que corresponde a 45% dos
informantes, indica o percentual de alunos que afirma apresentar pouco conhecimento,
com muita dificuldade, no que diz respeito à disciplina. O resultado é visto a seguir:

Figura 02
37

A última indagação questionou a respeito das expectativas dos alunos com


relação ao que a disciplina lhes possibilitaria. Como maior resultado, obteve-se a
assertiva relativa a desenvolver a habilidade de ouvir com mais clareza em inglês. Tal
alternativa apresentou 65% de escolha por parte dos alunos, o que corresponde ao
montante de 13 alunos do total. Já a segunda opção mais escolhida foi a que alternativa
que apresentava a afirmação sobre desejar, com as aulas da eletiva, aprender mais
palavras em Inglês. Nenhum aluno afirmou que esperava com a disciplina ouvir músicas
em Inglês, somente, como se pode verificar na figura 03.

Figura 03

Nota-se, pois, que, embora apenas metade da turma tenha declarado como
motivação para a escolha da disciplina a expectativa de melhorar seu nível de inglês
(figura 1), a totalidade dos informantes afirma que espera adquirir vocabulário e
aperfeiçoar a pronúncia. Ou seja, a turma como um todo espera concluir a disciplina

Ao final da disciplina, decorridas quarenta horas/aula, que é o correspondente à


carga horária das disciplinas eletivas durante o semestre, realizou-se o segundo
questionário, com organização diferente daquele realizado anteriormente, visto que
apresentou cinco questionamentos subjetivos. As indagações a serem respondidas pelos
alunos buscavam analisar se os anseios e expectativas com relação à disciplina tiveram
retorno esperado e de forma satisfatória, questionando-os, ainda, acerca dos efeitos da
música na metodologia da aula, visando a obter uma apreciação sobre o tipo de
metodologia com mais apelo junto ao alunado e com mais possibilidade de engajar os
alunos na construção de conhecimento. Questionou-se, primeiramente, a respeito do que
os alunos mais gostaram na disciplina. Como se tratava de questionário aberto,
múltiplas respostas podiam ser esperadas. De todo modo, algumas se mostraram mais
frequentes:
38

 a tradução das músicas;


 palavras novas e sua pronúncia,
 as músicas propriamente,
 as atividades com aspecto mais interativo
 a percepção de poder escrever um dado termo só por ouvi-lo sendo
pronunciado.

Nota-se, por essas respostas, que os alunos associam a disciplina à aquisição de


diversas habilidades, algumas relativamente sofisticadas, como as auditivas, por
exemplo. Também importa verificar que a habilidade de traduzir canções é valorizada
pela turma. Dessa forma, a disciplina contribui para cumprir importante papel associado
à escola, qual seja, o de propiciar ao educando o acesso a bens culturais. Mais ainda, ao
demonstrar que ele próprio pode desenvolver habilidades de compreensão em torno da
canção estrangeira, investe-se na autonomia desse cidadão em formação. Por fim, nota-
se que a metodologia da aula é explicitamente reconhecida como aspecto facilitador da
aprendizagem.

Na segunda pergunta do formulário, encontrava-se o interesse por entender se os


alunos consideraram uma disciplina com uma música diferente a cada aula mais
interessante que a aula convencional, que eles também têm. É importante ressaltar que,
nas aulas “convencionais” de Inglês citadas, há também interesse por utilizar-se de
tecnologias que possam enriquecer o momento da aula, procurando-se apresentar vídeos
com episódios de séries que proporcionem discussões e análises dos mais diversos
aspectos da língua ou recursos similares a fim de proporcionar a fixação de conteúdo,
exemplificação, bem como proporcionar a apropriação dos alunos no que diz respeito à
aspectos culturais dos países falantes de Língua Inglesa. Dessa forma, uma eventual
atratividade a mais da disciplina eletiva não pode ser creditada apenas ao recurso
midiático em si. Cabe investigar com maior profundidade as variáveis envolvidas nesse
processo. Os dados obtidos com este estudo, nesse sentido, sinalizam que a canção em
si é fator de interesse dos alunos na disciplina.

De modo geral, foram afirmativas as respostas ao questionamento acerca da


maior atratividade das aulas com música em relação às estratégias mais convencionais.
Na percepção dos informantes, as aulas que tomam a canção como recurso para a
aprendizagem são mais envolventes e fluidas. Alguns alunos justificaram como sendo
39

uma forma mais atrativa de aprendizagem para os jovens. Apenas um componente da


turma afirmou que aula apresenta aspecto “normal”, se comparada à outra.

O terceiro questionamento trouxe uma questão levantada no primeiro formulário


aplicado com os alunos, pois, grande parte deles afirmou que, com as aulas de Inglês
básico através da música, que eles chamam afetuosamente apenas de Inglês com
Música, esperavam melhorar a compreensão auditiva em Inglês. Logo, procurou-se
resgatar tal assunto pretendendo reconhecer os resultados obtidos. Dentre os alunos que
responderam, três afirmaram que não conseguiram evoluir com relação à compreensão
auditiva em Inglês e todos os outros alunos declararam ter percebido uma melhora nesse
aspecto; um deles afirmou, inclusive, conseguir cantar algumas músicas nessa língua.

Nesse contexto, percebe-se o que se encontra no discurso de Bonato (2014):

Silva (2011) explica que atribuindo foco às dificuldades com as quais se


depararam nos alunos no processo de ensino de língua inglesa,
principalmente em relação ao entendimento do listening, é possível observar
a urgência em uma apresentação dos conteúdos de forma mais interessante,
comunicativa, e que favoreça a compreensão por parte dos alunos,
sobrepondo-se aos métodos entediantes e desgastantes com os quais eles já se
depararam, buscando a oferta de novas experiências, mais adequadas,
motivadoras e que façam com que os alunos sintam vontade de aprender.
Nesse cenário, a música se mostraria como um instrumento de estratégias
para o desenvolvimento de habilidades na utilização de compreensão
auditiva, uma vez que a música se mostra presente na vida das pessoas e traz
uma linguagem usada frequentemente para comunicar-se, com resultados
satisfatórios. (BONATO, 2014, p. 21)

A penúltima pergunta do formulário em questão pretendeu verificar se as aulas


de Inglês possibilitaram que os alunos expandissem seu vocabulário por meio da
aprendizagem de novos termos. Tal questão está associada a expectativa dos alunos com
relação a disciplina, pois apresentou como segunda resposta mais escolhida, quando
questionados sobre o que esperavam aprender com a disciplina.

De modo geral, os alunos se pronunciaram de modo afirmativo em relação ao


questionamento, e a maioria respondeu que sim, dois disseram que “talvez” ou “mais ou
menos” e um aluno respondeu de forma negativa, e acrescentou ainda apresentar muitas
dificuldades.

A última questão objetivou verificar se o fato de as músicas escolhidas a cada


aula da disciplina serem canções que se imaginou que os alunos não conheciam
dificultou ou atrapalhou o aprendizado dos alunos. E como resultado obteve-se: quase
metade do quantitativo geral de alunos afirmou que, sim, tal questão dificultou a
40

aprendizagem dos alunos, e mais da metade afirmou que tal fator não alterou a
aprendizagem. Alguns complementam e afirmam que desenvolveram até mesmo um
apreço pelas canções, e outro aluno reconheceu todas as canções levadas para sala de
aula. Nesse sentido, cabe argumentar que, dentre as funções da escola, está a de inserir o
aluno em um universo sociocultural progressivamente diferenciado em relação a seus
horizontes imediatos. Como a maior parte da turma não rejeita de pronto a opção pelo
trabalho com canções menos conhecidas, pode-se concluir que as aulas cumprem com
esse papel da escola de proporcionar vivências culturais diversificadas aos educandos.
41

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de Língua Inglesa, como já foi discutido no presente trabalho, tem


passado por dificuldades que se devem a diversos fatores. Estar em exercício na sala de
aula ministrando tal disciplina apresenta-se como uma função desafiadora ao mesmo
tempo que se mostra engrandecedora, pois, mesmo em meio à carga horária reduzida,
uma base precária no que diz respeito a conhecimentos previamente adquiridos por
parte dos alunos, dificuldade de ferramentas disponíveis para dinamizar as aulas e tornar
o processo de aprendizagem efetivo verdadeiramente e, por vezes, a falta de apreço por
tudo que é ministrado por parte dos alunos, quando os resultados aparecem percebe-se o
quanto é valorosa a função exercida.

A disciplina de Inglês básico através da Música funciona como ferramenta que


age procurando solucionar, mesmo que minimamente, os problemas que os alunos têm
com relação à língua. Além de ser possível perceber que eles demonstram-se mais
animados quando é o horário de tal aula, nota-se um maior empenho na realização das
atividades propostas. Conclui-se, ainda, que tal disciplina colaborou, segundo o
levantamento de dados apresentados pela escola, com o enriquecimento do vocabulário
que os alunos possuíam. Resultou, ainda, no aprimoramento da compreensão auditiva
dos alunos, diferenciando-se do momento tradicional da aula de Inglês, mesmo que a
aula regular aposte em recursos diferenciados.

Durante as aulas, foi possível perceber que os alunos comentavam entre si sobre
o nível de dificuldade de compreensão entre as pronúncias apresentadas, visto que
músicas de bandas e cantores advindos de países diversos estavam presentes nas aulas.
Composições de artistas como U2, Michael Bublé, Bryan Adams, Travis, Robbie
Williams, entre outros, fizeram-se presentes nas aulas, e os alunos apresentavam-se
capazes de comentar as diferenças que percebiam entre as pronúncias, definindo-as a
seu modo.

A disciplina eletiva, por seu caráter dinâmico, tem duração de apenas um


semestre. Ao seu término, ela pode ser ofertada novamente, e o esperado é que ela seja
escolhida apenas por alunos que não a frequentaram ainda. Notou-se que alguns dos
componentes que integravam solicitaram continuar frequentando e, então, alguns a
cursarão novamente. Tal interesse pode ser entendido como uma resposta positiva ao
42

que foi repassado, percebendo-se que a componente curricular não passa despercebida
pelos que a cursam.

Desse modo, o presente trabalho confirmou a hipótese de que a música funciona


como fator que auxilia na motivação dos alunos em aprender uma nova língua,
especificamente o Inglês, e pode ajudar a desenvolver habilidades a ela relacionadas.
43

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