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O ENSINO DINÂMICO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM SALA DE

AULA
Autor: Eduardo Brunes1
Tutor externo: Maria Aline Barros Rodrigues2
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura em Letras – Português (FLC19591LED) – Estágio Curricular
Obrigatório I
17/11/2023

RESUMO

O ensino da língua portuguesa pode ser um grande desafio para o professor. Isso
porque, além de lidar com os estigmas sociais fortemente presentes na rede de
ensino, principalmente a pública, é preciso manter a aprendizagem dinâmica e
continuamente atrelada à realidade dos educandos. Para verificar este estudo
dinâmico, foram realizadas atividades de observação e entrevista em escola pública
da rede estadual de Santa Catarina, a fim de verificar como se dá, na prática, o ensino
do português na sala de aula. Com esta observação, pode-se realizar um trabalho de
pesquisa para dinamizar o ensino da língua materna, tornando-o mais amplo,
acessível e diversificado para, de fato, letrar os indivíduos na sociedade em que
vivem.

Palavras-chave: Observação. Dinamização. Ensino.

1 INTRODUÇÃO

Este relatório apresenta as observações verificadas durante o Estágio


Curricular Obrigatório I do curso de licenciatura em Letras – Português,
realizado no segundo semestre de 2023, com base nas diretrizes estabelecidas
pela instituição Uniasselvi.

O intuito do estágio é criar laços entre a teoria acadêmica e a prática


docente. A observação ocorreu de maneira presencial durante os meses de
setembro, outubro e novembro, na Escola de Educação Básica Francisco
Altamir Wagner, integrante da rede estadual de ensino de Santa Catarina, na
cidade de Rio do Sul.

1
Acadêmico do Curso de Licenciatura em Letras - Português; E-mail:
eduardo.brunes@gmail.com
2
Tutor Externo do Curso de Licenciatura em Letras – Polo Rio do Sul; E-mail:
mabrodrigues2@gmail.com
A atividade de observação também rendeu uma entrevista com a
administração escolar, além do professor regente da disciplina de Língua
Portuguesa e Literatura responsável pelas aulas noturnas da instituição.

2 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA

O tema escolhido para a vivência de estágio foi o Ensino de Língua


Portuguesa. O profissional docente que trabalha no ensino da língua
portuguesa, tanto no Ensino Médio quanto no Ensino Fundamental, enfrenta
paradigmas diariamente no processo de ensino-aprendizagem de seus
educandos. Isto porque, historicamente, a linguagem sofre um grande estigma,
impulsionado pelo ensino de uma “norma correta”, conhecida como “norma
culta”, o que acaba por menosprezar outras variedades do idioma,
especialmente os periféricos.
O linguista Marcos Bagno (1999) estudou como esse procedimento é
danoso ao ensino da língua. Não há uma maneira correta de se falar ou
escrever, mas sim há maneiras diferentes. Não devemos propor, no entanto,
que a norma culta seja extinta da sala de aula, mas sim que divida espaço
também com a variedade que está na boca dos alunos diariamente.
Este processo torna o ensino da língua mais dinâmico, pois o aproxima
da realidade do aluno. Não devemos impor regras, mas sim ensinando
variedades – a diversidade precisa ser celebrada também em sala de aula.
Atualmente, há um empobrecimento da imagem da língua portuguesa
em sala de aula, porque a metodologia aplicada tende a focar apenas na
análise sintática e morfológica, o que pode ser desagradável quando repetido
muitas vezes.
Bagno (2017) explicita que as práticas frequentemente utilizadas já se
provaram ineficientes por anos. Pouco se estuda sobre intepretação textual, e
menos ainda sobre produção – esta prática é vista como enfadonha, uma vez
que, de novo, traz à tona as tais regras da gramática normativa, o que pode
acabar por aterrorizar os alunos.
Nesse contexto, podemos problematizar o ensino de português como ele
é atualmente, para buscar soluções que permitam um contato mais direto e
amigável da língua e sua estrutura com os estudantes do ensino fundamental e
médio do Brasil. Bagno (2017) diz que parte da culpa é do Estado brasileiro,
que remunera mal os profissionais de ensino, mas também muita da culpa
advém do método aplicado no ensino da língua, que é que focaremos neste
relatório.

Para dinamizar o processo de ensino-aprendizagem, é necessário


revolucionar a didática. Deixar de lado a visão ultraconservadora em virtude de
uma visão abrangente e diversificada, que entende e adapta o ensino às
necessidades de cada turma, de forma criativa e crítica.

3 VIVÊNCIA DO ESTÁGIO

Durante o período de estágio, a observação foi realizada nas aulas de


português das turmas do 2º e 3º ano do Ensino Médio, no período noturno. O
professor regente, Ilson José Furtado, também leciona língua inglesa no
mesmo estabelecimento, mas apenas as aulas de língua portuguesa foram
observadas.

A Escola de Educação Básica Francisco Altamir Wagner é mantida pelo


Governo do Estado de Santa Catarina, e por isso o prédio segue o padrão
estilístico dos demais estabelecimentos conveniados com o governo estadual:
alvenaria, pintura clara e lajotas em bege, vermelho e verde. Os espaços da
escola são amplos e acomodam cerca de 569 alunos, nos três turnos do dia:
matutino, vespertino e noturno. Na etapa do Ensino Médio, o atendimento
ocorre apenas no turno da noite, atendendo 119 alunos.

No que se trata de infraestrutura, a escola conta com ginásio de


esportes coberto, área de lazer (playground para crianças menores), refeitório
coberto, palco para apresentações, quadra de esportes a céu aberto, sala de
professores, sala de apoio, informática e biblioteca. Todas as salas de aula
contam com Datashow (projetor de imagens, exceto as cinco salas dedicadas à
primeira fase da educação fundamental, do 1º ao 5º ano), condicionamento de
ar e computadores com internet para os professores.

Apesar de ser uma escola pública, nota-se uma organização excepcional


na estrutura escolar, construída não só com os recursos advindos do estado de
SC, mas também com o dinheiro em caixa administrado pela Associação de
Pais e Professores (APP) e a direção escolar. Este dinheiro é levantado
através de eventos escolares, onde geralmente a comunidade escolar angaria
a venda de salgados, bebidas e outras comidas.

Ao iniciar a observação da escola, o professor regente Ilson foi quem me


apresentou as dependências, e em seguida também entrevistei o diretor
assistente Anderson, que me concedeu a entrevista deste estágio. Como o
foco da observação se voltou à didática aplicada pelo professor de Português
na sala de aula, comecei a frequentar as aulas de Língua Portuguesa e
Literatura a partir do segundo dia de estágio.

Apesar de a observação ter ocorrido em duas turmas distintas, pude


notar que a didática empregada pelo professor foi praticamente a mesma. Logo
nos primeiros dias, os alunos do 3º ano foram induzidos a realizar a leitura de
um texto dissertativo-argumentativo com o tema “Setembro Amarelo”. A leitura
ocorreu da seguinte maneira: o professor pedia que algum aluno se habilitasse,
e se ninguém levantasse a mão, ele mesmo escolhia alguém para ler o texto.

Nesta ocasião em específico, muitos dos alunos não tinham feito essa
tarefa, que a princípio deveria ter sido realizada em casa. Percebi que, pelo
menos quatro alunos, buscaram referências na internet em seus celulares e
fizeram o texto ali, durante a aula, enquanto os colegas liam os textos trazidos
de casa.

Algo que me chamou a atenção foi a discrepância na qualidade textual


dos alunos. Poucos tinham coerência na leitura, e a grande maioria leu cópias
tiradas de matérias da internet. No final da dinâmica, o professor chamou a
atenção para a responsabilidade dos alunos, e cobrou que as tarefas viessem
prontas de casa. Corrigiu alguns erros pontuais de gramática e, principalmente,
de pronúncia de palavras lidas no texto, em que os alunos tiveram dificuldade.

Ficou evidente uma certa ineficácia do professor Ilson nesse sentido,


uma vez que os alunos não buscaram aprender realmente as etapas de uma
produção textual, fazendo-a apenas por obrigação. As dúvidas ficaram restritas
à gramática normativa e à fonética das palavras.
Situação parecida ocorreu na observação do 2º ano do Ensino Médio.
Em uma das aulas, o professor iniciou a leitura do livro didático com os alunos.
Cada um deveria ler um trecho do texto. A leitura dos alunos, no entanto, foi
muito insuficiente, e não vi nenhum esforço do professor para melhorar esta
habilidade nos alunos. Muitas vezes, eles pronunciavam uma palavra de forma
totalmente incorreta, mudando todo o sentido do texto, ignorando sinais de
pontuação e acentuação. A dinâmica de leitura, neste caso, foi pouco eficiente.

4 IMPRESSÕES DO ESTÁGIO (CONSIDERAÇÕES FINAIS)

Infelizmente, a vivência de estágio proporcionou uma série de eventos


ineficazes, que já se provaram ultrapassados e que não foram capazes de
prender a atenção dos alunos. Na realidade, os alunos pareciam mais sendo
“obrigados” a fazer as atividades.

Percebe-se que, para aumentar a dinâmica do ensino na sala de aula, o


professor precisa chamar a atenção do aluno, prendê-lo ao conteúdo e levá-lo
ao conhecimento. Não é aceitável, neste caso, que o professor se isente de
mostrar o caminho ao aluno.

O primeiro ponto a se levar em consideração é a forma como as


atividades impactam no cotidiano dos alunos, principalmente no Ensino Médio
noturno, em que muitos chegam na escola após o trabalho. O processo de
ensino precisa se conectar à realidade e trazer o conhecimento de maneira
relevante, sem que fique parecendo uma “imposição” de informações para o
aluno.

Esta forma de imposição pode ser equiparada ao ensino exclusivo da


gramática normativa na sala de aula. Nesse quesito, Marcos Bagno ressalta
que

[...] tentar impor um modelo de língua altamente idealizado e elitizado


para todo o resto da população [que não compõem a elite] é tentar,
ao mesmo tempo, impor um modo de vida, uma visão de mundo, uma
concepção de sociedade extremamente elitista e excludente [...] Por
isso, é preciso libertar o ensino dessa ideologia e levar as pessoas a
se apoderar de sua língua sob todos os seus aspectos e usos, e não
somente visando ao domínio de um padrão irrealista, anacrônico e
excludente. (BAGNO, 2017).

Vê-se, nesse sentido, a necessidade de adaptar o ensino à realidade


dos alunos, e não fazê-los se adaptarem à vivência do ensino. Para tanto,
várias atividades dinâmicas poderiam ter sido aplicadas pelo professor Ilson,
para buscar prender a atenção dos alunos.

De forma lúdica e mais envolvente, o professor poderia propor um jogo


de produção textual aos alunos do 3º ano, onde o tema da atividade foi
“Setembro Amarelo”. Na ocasião da observação, a atividade não buscou
instigar os alunos ao conhecimento acerca do gênero textual proposto, apenas
impondo um tema e esperando que os alunos pesquisassem a respeito.

Um jogo se apresenta como uma atividade mais voluntária, em que não


é esperada uma obrigação por parte do aluno, mas sim uma participação ativa
e envolvente. Nesse sentido, o objetivo fixado pode oferecer recompensas aos
alunos que o alcançarem, instigando-os a entrar de cabeça na atividade, e
dinamizando o aprendizado da língua portuguesa.

O mesmo poderia ter acontecido na atividade de leitura observada no 2º


ano, utilizando uma atividade mais criativa, que evidenciasse as habilidades de
leitura ao mesmo tempo em que oferecesse prazer aos alunos.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Repensar o objeto de ensino de uma aula de português.


Blog da Parábola Editorial: 2017. Disponível em:
<https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/repensar-o-objeto-de-
ensino-de-uma-aula-de-portugues>. Acesso em: 30/09/2023.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo:


Edições Loyola, 1999.

SIGILIANO, Natália Sathler; BERNO, Lais Rios. Ensinar português de forma


divertida: atividades lúdicas para os anos finais do ensino fundamental e
para o ensino médio. Juiz de Fora: UFJF, 2021.
SANTA CATARINA. Secretaria Estadual de Educação. Educação na Palma
da Mão: dados da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino. Disponível
em:
<https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTUzZDNkMGMtNzI5Ni00MThjLTlkZ
WMtY2NiOGZhOWM1ZGRmIiwidCI6ImExN2QwM2ZjLTRiYWMtNGI2OC1iZDY
4LWUzOTYzYTJlYzRlNiJ9>. Acesso em: 19/11/2023.
ANEXO I
Registro de Frequência

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