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FENÔMENOS DE INSTABILIDADE EM TALUDES URBANOS

Moreira, E.C.G.; Junior, F.F.A.


*Universidade Católica de Brasília – UCB (05/2004)
ambientalize@hotmail.com

Palavras Chaves: Encostas, Taludes, Escorregamentos e Geossintéticos.

Os primeiros estudos sobre escorregamentos de encostas remontam há mais de


2.000 anos, em países como China e Japão.
Os taludes ou as encostas naturais são superfícies inclinadas de maciços terrosos,
rochosos ou mistos (solo e rocha), originados de processos geológicos e
geomorfológicos diversos. Podem apresentar modificações antrópicas, tais como,
cortes, desmatamentos, introdução de cargas, etc. O termo encosta é mais
empregado em estudos de caráter regional. Talude de corte é entendido como um
talude originado de escavações antrópicas diversas. Talude artificial refere-se ao
declive de aterros construídos a partir de matérias de diferentes granulometrias e
origens, incluindo rejeitos industriais, urbanos ou de mineração.
A instabilidade dos taludes são fenômenos tanto naturais quanto antrópicos e
podem ocasionar danos à sociedade, que vão desde pequenos transtornos em
vias urbanas a elevados prejuízos materiais.
Este trabalho busca verificar se há problemas nos taludes construídos no DF.
Visando evitar e/ou minimizar a ocorrência dos fenômenos de instabilidade,
através de um modelo de análise baseado em informações visuais.
Na região do DF, muitos taludes apresentaram escorregamentos por não terem
sido bem prlanejados e/ou não ter sido executado um programa de manutenção
adequada àqueles taludes.
A partir dos estudos realizados, verificou-se que o uso de técnicas de processos
ecológicos e geotécnicos são de grande eficácia como medidas mitigadoras.
Proporcionando bons resultados aos taludes e evitando transtornos à sociedade .
Sendo assim, entende-se que um planejamento adequado, onde sejam
constituídas medidas de manutenção e prevenção de escorregamentos em taludes
urbanos é o mais viável. Pois o mais coerente é realizar corretamente todas as
técnicas a fim de se evitar gastos excessivos e danos à população.
Sendo assim, entende-se que um planejamento adequado, onde sejam
constituídas medidas de manutenção e prevenção de escorregamentos em taludes
urbanos é o mais viável, pois o mais coerente é realizar corretamente todas as
técnicas a fim de se evitar gastos e danos excessivos à sociedade.

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1. INTRODUÇÃO

Os taludes ou as encostas naturais são superfícies inclinadas de


maciços terrosos, rochosos ou mistos (solo e rocha), originados de processos
geológicos e geomorfológicos diversos. Podem apresentar modificações
antrópicas, tais como, cortes, desmatamentos, introdução de cargas, etc. O
termo encosta é mais empregado em estudos de caráter regional. Talude de
corte é entendido como um talude originado de escavações antrópicas
diversas. Talude artificial refere-se ao declive de aterros construídos a partir de
matérias de diferentes granulometrias e origens, incluindo rejeitos industriais,
urbanos ou de mineração.
Os primeiros estudos sobre escorregamentos de encostas remontam há
mais de 2.000 anos, em países como China e Japão. A análise e o controle de
instabilizações de taludes e encostas têm seu amplo desenvolvimento com as
grandes obras civis modernas, em paralelo à consolidação da Engenharia e da
Geologia de Engenharia. BRABB (1991) estima em milhares de mortes e
dezenas de bilhões de dólares de prejuízos por ano, relacionados à
deflagração de escorregamentos no mundo inteiro.
Em climas tropicais, os processos de laterização podem induzir
formação de macroestruturas e características particulares dos solos, quanto
aos parâmetros de resistência, índice de plasticidade, textura, etc., que
resultam em comportamentos diferenciados em relação aos solos de clima
temperado. A investigação do comportamento geotécnico dos solos lateríticos
e saprolíticos tropicais vem se intensificando dentro da Geologia de
Engenharia, inclusive no campo da estabilidade de taludes e encostas (WOLLE
1985)
A instabilidade de taludes se deve a diversos fatores tais como: ação
antrópica (cortes e aterros), perturbações causadas por atividade sísmica,
variações dos poro-pressões (elevação de poro-pressão positiva ou redução da
sucção), decréscimo progressivo da resistência do solo devido a ocorrência de
deformações, ação do intemperismo, presença de sistemas de juntas na rocha
subjacente, que podem estar ou não preenchidas por água (CHOWDHURY,
1978).

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1.1 – DELIMITAÇÃO DO TEMA

O presente trabalho se dedica ao estudo da aplicação de técnicas de


avaliação empírica, da contextualização dos taludes de Brasília (trevo do Lago
Norte, balão do Torto, ponte JK e balão do Aeroporto) e caracteriza a
importância da estabilidade destas obras para o conforto e comodidade dos
usuários destas vias.

1.2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Considere-se um talude de extensão ilimitada, de inclinação (i),


constituído por um solo homogêneo, de peso específico (nat) e submetido
apenas ao seu próprio peso. Do ponto de vista prático, qualquer talude de
grande extensão, e com perfis de solos essencialmente do mesmo tipo, pode
ser considerado como um talude de extensão ilimitada (DUNN, ANDERSON E
KEIFER, 1980).
Em algumas das obras de pavimentação de anéis viários do DF, como
os viadutos do Colorado e do Lago Norte, Ponte JK e Aeroporto, por vezes foi
necessária uma intervenção para se redefinir um rebaixamento e uma
drenagem adequada ao nível do lençol freático, o qual em alguns casos
precisou ter seu nível modificado, para que não viesse a interferir na condição
de estabilidade do talude.
A combinação do tamanho do bloco e resistência ao cisalhamento entre
blocos determina o comportamento mecânico rochoso sob dadas condições de
tensão. Maciços rochosos compostos de grandes blocos tendem a ser menos
deformáveis que aqueles compostos de pequenos blocos. Tamanhos
pequenos de blocos podem indicar um modo potencial de escorregamento
semelhante aqueles em solo (circular ou rotacional), em vez de translacional e
tombamento de blocos, usualmente associados com maciços de rochas
descontínuos.
O ângulo de atrito e a coesão, parâmetros determinantes da resistência
ao cisalhamento variam bastante, dependendo da gênese e das características
dos solos. A coesão possui uma parcela relacionada à capilaridade,
denominada coesão aparente, que varia com o grau de saturação do solo,

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comportamento que tem papel importante no mecanismo dos escorregamentos
em material terroso.
Uma série de outros parâmetros e propriedades dos solos influencia,
direta ou indiretamente, suas suscetibilidades aos movimentos de massa e ao
tipo de mecanismo da instabilização atuante. Entre eles destacam-se: peso
específico, porosidade, índice de vazios, mineralogia; granulometria;
plasticidade, atividade, permeabilidade, compressibilidade e história de
tensões.
Outro aspecto a ser destacado é que, apesar de vários modelos de
mecanismos de ruptura em solos os tratarem como meios relativamente
homogêneos, seus comportamentos podem ser controlados por feições
internas denominadas macroestruturas.
Estas feições podem estar associadas a estruturas reliquiares do
substrato rochoso, ou aos processos de intemperismo e de formação dos
solos.
TERZAGHI (1936) apresentou o mais conhecido conceito da mecânica
dos solos para solos saturados, o conceito de tensão efetiva:
“As tensões em qualquer ponto de uma secção através de uma massa
de solo podem ser computadas das tensões totais principais 1, 2, 3 que
atuam neste ponto. Se os vazios estão preenchidos com água sob uma tensão,
uw, as tensões totais principais consistem de duas partes. Uma parte, uw, atua
na água e no solo em todas as direções com igual intensidade. Esta é
chamada de pressão neutra ou poropressão de água. O saldo 1 =1 – uw, 2
= 2 – uw, e 3 = 3 – uw representa um excesso sobre a pressão neutra e
concentra-se exclusivamente na fase sólida do solo. Todos os efeitos
mensuráveis de uma mudança na tensão, como: compressão, distorção, e uma
mudança na resistência de cisalhamento, são exclusivamente devido a
mudanças na tensão efetiva 1’, 2’ e 3’ “. (FREDLUND & RAHARDJO,
1993). A tensão efetiva é a única variável de estado que controla o
comportamento de variação de volume e a resistência ao cisalhamento de um
solo saturado, e é expressa pela Eq. (1.3):

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’ =  - uw , (1.3)
Onde:
’, tensão normal efetiva;
, tensão normal total;
uw, poropressão de água.

Para um solo saturado, a resistência ao cisalhamento pode ser descrita


pelas diversas combinações críticas da tensão normal efetiva com a tensão de
cisalhamento. Essas combinações descrevem uma envoltória conhecida na
mecânica dos solos como envoltória de ruptura Mohr-Coulomb. A utilização do
princípio das tensões efetivas de TERZAGHI (1936) com o critério de ruptura
de mohr-Coulomb têm provado ser satisfatória na prática associada a solo
saturado.
Logo num solo não saturado é comumente reconhecido como tendo três
fases: fase sólida, fase água e fase ar. FREDLUND & RAHARDJO (1993)
reconhecem a existência de uma quarta fase: a interface ar-água, película
contráctil, que se comporta como uma membrana elástica, muito embora ela
possa ser desprezada se o seu volume for muito pequeno em relação ao
volume da fase água.
Solos não saturados podem experimentar colapso ou expansão quando
caminham em direção à saturação. A natureza expansiva do solo é melhor
observada nas camadas superficiais, as quais estão mais sujeitas às variações
sazonais. Tais variações provocam, de forma reversível, a mudança de volume
do mesmo (expansão e contração). Já os solos colapsíveis têm comportamento
oposto aos solos expansivos, havendo decréscimo de volume de forma
irreversível quando submetidos a um gradiente de tensão ou a trajetória de
umedecimento. Podem ocorrer tanto em maciços naturais como em solos
estruturados artificialmente durante o processo de compactação.
O conceito de tensão efetiva forma a base fundamental de estudo da
mecânica dos solos saturados. Em um solo não saturado a avaliação do
comportamento mecânico, em temos de tensão efetiva, é mais complexa
devido à existência das variáveis independentes de estado de tensão. Contudo
muitos autores citaram algumas tentativas de estender o princípio das tensões

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efetivas do solo saturado para o solo não saturado, como CRONEY 1952;
BISHOP, 1959; AITCHINSON, 1961; JENNINGS, 1961.
A análise do escoamento de um fluido requer uma lei para relacionar a
taxa de escoamento com o potencial de transporte, usando-se coeficientes
apropriados (FREDLUND & RAHARDJO, 1993). A água flui de um ponto de
maior carga total para um ponto de menor carga total, sem levar em conta se
as cargas de pressão são positivas ou negativas. O fluxo de ar, como uma fase
contínua, é governado pela concentração ou gradiente de pressão. O gradiente
de pressão é comumente o mais considerado como potencial de transporte
para a fase ar. O movimento relativo do ar e da água através de um meio
poroso não saturado é função da porosidade, grau de saturação, distribuição
de poros e propriedades específicas dos fluidos como densidade e viscosidade.
A análise do comportamento de taludes em rocha envolve um estudo do
maciço rochoso como um conjunto constituído por rocha intacta e por
descontinuidades, onde principalmente as descontinuidades determinam o
comportamento mecânico desses meios. A orientação, locação, persistência,
pressão d’água e resistência ao cisalhamento de descontinuidades críticas são
dados essenciais para o uso em análises de estabilidade de taludes. Feições
como rugosidade, resistência das paredes, grau de intemperismo, tipo de
material de preenchimento e sinais de percolação d’água são dados indiretos
para esse problema de engenharia.
A intensidade de fraturamento está relacionada com a integridade física
do maciço rochoso e o modo como este se deforma. Maciços rochosos com
blocos de pequeno tamanho em relação ao tamanho total do maciço tendem a
ser mais deformáveis do que aqueles com blocos grandes, bem como os
maciços com um número maior de famílias de fraturas tendem a ser mais
deformáveis que aqueles com um número menor de famílias de fraturas.
O tamanho dos blocos é estimado pelas dimensões dos blocos de rocha
que resultam da orientação das famílias de descontinuidades que se
interceptam e do espaçamento das famílias individuais. Descontinuidades
individuais podem também influenciar o tamanho e a forma dos blocos.
O número de famílias é aquele que compõem um sistema de
descontinuidades. O espaçamento entre as famílias pode mudar o modo

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potencial de escorregamento do talude, de translacional ou tombamento para
rotacional ou circular.
A orientação de uma descontinuidade é a atitude da mesma no espaço.
Descrita pela direção do mergulho, e pelo mergulho da linha de maior
inclinação sobre o plano da descontinuidade. O mergulho é representado
segundo a perpendicular à direção no plano da descontinuidade em relação a
um plano horizontal.
A orientação das descontinuidades determina a forma dos blocos
individuais, acamamento ou mosaicos que formam o maciço rochoso, além de
controlar os possíveis modos de instabilidade e o desenvolvimento de
deformações excessivas.
O espaçamento é a distância perpendicular entre descontinuidades
adjacentes. Refere-se normalmente ao espaçamento médio ou modal de uma
família de descontinuidades. O espaçamento das descontinuidades condiciona
o tamanho dos blocos individuais de rocha intacta. Este também apresenta
grande influência na permeabilidade do maciço e nas características de
percolação.
A persistência de determinada como a extensão do traço de uma
descontinuidade conforme observado em um afloramento. Pode ser uma
medida aproximada de sua extensão em área ou comprimento de penetração
da descontinuidade. Se a descontinuidade acaba em rocha sã ou em outra
descontinuidade a persistência diminui. No caso de taludes de rocha é de
grande importância a tentativa de se estimar o grau de persistência das
descontinuidades, principalmente aquelas orientadas desfavoravelmente em
relação à estabilidade do maciço. Pode ser classificada de acordo com o seu
comprimento em metros, variando de muito pequena a muito grande.
A rugosidade é a combinação da aspereza (também chamada de
ondulação de segunda ordem) e ondulação (primeira ordem) da superfície,
relativas ao plano médio de uma descontinuidade. A aspereza e ondulação
contribuem para a resistência ao cisalhamento. A ondulação em grande escala
pode também modificar o mergulho local. A rugosidade das paredes de uma
descontinuidade é uma característica potencialmente importante na sua
resistência ao cisalhamento, especialmente nos casos de descontinuidades

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não preenchidas. A importância da rugosidade diminui a medida que a
abertura, ou material de preenchimento, aumenta.

Tabela 1 - Descrição da persistência das descontinuidades (modificado –


ABGE/CBMR 1983).
Descrição Persistência (m)
Muito pequena Menor que 1
Pequena De 1 a 3
Média De 3 a 10
Grande De 10 a 20
Muito grande Maior que 20

Resistência das paredes é a resistência à compressão uniaxial das


paredes adjacentes de uma descontinuidade, a qual deve ser menor que a da
rocha intacta devido ao intemperismo ou alteração das paredes. O
intemperismo afeta as paredes das descontinuidades mais do que o interior do
maciço, de modo que a resistência da superfície de uma descontinuidade é
sempre menor do que a obtida em testemunhos de sondagem. Se as paredes
estão em contato, têm uma importante componente de resistência ao
cisalhamento.
A abertura é a distância que separa as paredes de rocha de uma
descontinuidade aberta onde o espaço é preenchido por ar ou água. A abertura
é, desta forma, diferente da largura de uma descontinuidade preenchida.
Descontinuidades que foram preenchidas mas, que tiveram estes materiais
lavados localmente, também estão incluídos nesta categoria. Grandes
aberturas podem ser resultantes de deslocamento cisalhantes de
descontinuidades com apreciável rugosidade e ondulação; de abertura por
tração; de carreamento de materiais pela água, e por dissolução.
Descontinuidades verticais ou subverticais que foram abertas por tração como
resultado da erosão d’água ou degelo, podem apresentar-se com grandes
dimensões.

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Preenchimento é o material que separa as paredes adjacentes de uma
descontinuidade e que usualmente é mais fraco que a rocha que lhe deu
origem. Os materiais típicos de preenchimento são: areia, silte, argila, brecha e
milonito. Também inclui filmes de minerais secundários e descontinuidades
seladas, por exemplo, quartzo e veios de calcita. A distância perpendicular
entre as paredes é chamada de espessura da descontinuidade preenchida,
distinguindo-se da abertura de uma feição falhada ou aberta.

Tabela 1.1 – Método sugerido para descrição qualitativa de descontinuidades


(modificado – ABGE/CBMR, 1983).
TERMO DESCRIÇÃO GRAU
Fresca Nenhum sinal visível de material rochoso alterado: talvez I
leve descoloração nas principais superfícies das
descontinuidades.
Levemente Alterada Descoloração indica alteração do material rochoso e das II
superfícies de descontinuidades. Todo o material pode estar
descolorido pelo intemperismo e mais fraco externamente
do que em sua condição original.
Moderadamente alterada Menos da metade do material rochoso está decomposto III
e/ou desintegrado em solo. Rocha fresca ou descolorida
estão presentes em uma estrutura contínua ou em pedaços.
Altamente alterada Todo material está decomposto e/ou desintegrado em solo. IV
A estrutura original do maciço está intacta.
Completamente alterada Todo o material rochoso foi convertido em solo e estrutura V
original destruída. Houve uma grande mudança no volume,
mas o solo não foi significativamente transformado.
Solo residual Todo o material rochoso foi convertido em solo e estrutura VI
original destruída. Houve uma grande mudança no volume,
mas o solo não foi significativamente transformado.

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Tabela 1.2 – Descrição da abertura das descontinuidades (modificado –
ABGE/CBMR, 1983).
ABERTURA DESCRIÇÃO FEIÇÕES
< 0,1mm Bem fechada
0,1 – 0,25mm Fechada Feições fechadas
0,25 – 0,5mm Parcialmente fechada
0,5 – 2,5mm Aberta
2,5 – 10mm Moderadamente larga Feições falhadas
>10mm Larga
1 – 10cm Muito larga
10 – 100cm Extremamente larga Feições abertas
1m Cavernosa

As características mecânicas dos diferentes matérias que formam o


preenchimento afetam o comportamento das descontinuidades, particularmente
quando se considera sua resistência ao cisalhamento, deformabilidade e
permeabilidade.
Percolação é o fluxo de água e umidade livre, visíveis em
descontinuidades individuais ou no maciço rochoso como um todo. A
percolação d’água nos maciços rochosos ocorre principalmente através de
descontinuidades (permeabilidade secundária), mas em certas rochas
sedimentares a permeabilidade primária do material pode ser significante.
Problemas de estabilidade ou dificuldades na construção podem ser
previstos com a determinação do nível do lençol freático, do caminho
preferencial de percolação e pressão d’água. A presença de feições
impermeáveis, tais com diques, descontinuidades preenchidas com argila ou
horizontes permeáveis, podem criar níveis irregulares do lençol freático e
horizontes de perda d’água.

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1.3 – JUSTIFICATIVA

O espaço urbano, disputado por diversos interesses de uso requer a


adoção de obras de corte ou aterro, conformando taludes artificiais que exigem
tratamento especial. Tendo em conta a prevenção e contenção de
escorregamentos que causam transtornos à sociedade.
Estudo e avaliação de técnicas mitigadoras.

1.4 – HIPÓTESES

Aplicação de métodos empíricos de análises de estabilidade de taludes


urbanos devem ser adotados como alternativas espedita e barata de se evitar
acidentes que causam prejuízos materiais e perdas de vidas humanas em
áreas urbanas brasileiras?

1.5 - OBJETIVOS

1.5.1 – Objetivo Geral


Consiste um modelo de análise, baseado em informações visuais
visando evitar a ocorrência de fenômenos de instabilidade em taludes em vias
urbanas do DF. no intuito de minimizar danos sócio-ambientais.

1.5.2 – Objetivo Específico


Identificação espedita de análises de estabilidade de taludes, tais como
ausência ou presença de drenagem, aplicação de geossintéticos, mecanismos
de sucessão ecológica e outros métodos associados.

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2. – CONHECIMENTO DO PROBLEMA

2.1 – IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS DE INSTABILIZAÇÃO

Os processos de dinâmica ambiental de superfície são o resultado da


interação de diversos fatores químicos, biológicos e, recentemente, quando o
homem passou a interferir nos processos naturais, também de fatores
antrópicos (socioeconômicos, culturais ou tecnológicos).
Partindo do meio físico, com a ótica da Geologia de Engenharia,
FORNASARI, FILHO et al. (1992) abordam os processos que, com alguma
freqüência, são afetadas por atividades humanas individualizadas ou não e
modificadoras do meio ambiente. Trata-se de uma organização artificial,
apenas para efeito de classificação, tendo-se em conta a interação entre as
esferas (físicas, bióticas e antrópicas).
Define-se por erosão o processo de desagregação e remoção de
partículas do solo ou de fragmentos e partículas de rochas, pela ação
combinada da gravidade com a água, vento, gelo e organismos (plantas e
animais) (SALOMÃO e IWASA, 1995).
Em geral, distinguem-se duas formas de abordagem para os processos
erosivos: erosão natural ou geológica, erosão que se desenvolve em condições
de equilíbrio com a formação de solo, e erosão acelerada ou antrópica, cuja
intensidade superior à da formação do solo, não permitindo a sua recuperação
natural.
O processo erosivo do solo é deflagrado pelas chuvas e compreende
basicamente os seguintes mecanismos: impacto das chuvas, que provoca a
desagregação das partículas; remoção e transporte pelo escoamento
superficial, e deposição dos sedimentos produzidos, formando depósitos de
assoreamento.
Dependendo da forma como se processa o escoamento superficial, ao
longo de uma encosta, podem-se desenvolver dois tipos de erosão: erosão
laminar, ou em lençol, causada pelo escoamento difuso das águas das chuvas,
resultando na remoção progressiva e uniforme dos horizontes superficiais do
solo, e a erosão linear, causada pela concentração das linhas de fluxo das

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águas de escoamento superficial, resultando em pequenas incisões na
superfície do terreno, forma de sulcos que pode evoluir, por aprofundamento,
para ravinas.
Caso a erosão se desenvolva por influência não somente das águas
superficiais, mas também dos fluxos d’água subsuperficias, em que se inclui o
lençol freático, configura-se o processo mais conhecido por voçoroca ou
boçoroca. O termo boçoroca provém do tupi mboso’roka, gerúndio de
mboso’roz, romper ou rasgar.
A boçoroca é palco de diversos fenômenos: erosão superficial, erosão
interna, solapamentos, desabamentos e escorregamentos, que se conjugam e
conferem a esse tipo de erosão característica de rápida evolução e elevado
poder destrutivo (SALOMÃO e IWASA, 1995).
A água da chuva provoca erosão pelo impacto das gotas de água sobre
a superfície do solo com velocidade e energia variáveis, e através do fluxo
concentrado das águas de escoamento superficial. Sua ação erosiva depende
da distribuição pluviométrica do evento chuvoso (chuva acumulada e
intensidade da chuva).
Chuvas torrenciais de grande intensidade, precedidas por período
chuvoso anterior, que provoca a saturação dos solos, determinam eventos
erosivos de grande velocidade de propagação, nos locais onde o regime de
escoamento das águas é concentrado, com altos valores de vazão. O índice
que expressa a capacidade da chuva provocar erosão é conhecido como
erosividade, sendo um importante parâmetro para a quantificação de perdas de
solo (BERTONI e LOMABARDE NETO, 1985).
A cobertura vegetal é o fator mais importante de defesa natural do solo
contra a erosão. O papel da cobertura vegetal na dinâmica da água é fator de
significativa influência na estabilidade de diversos ambientes.
As raízes e rizomas da vegetação integram o solo para produzir um
material composto, onde as raízes atuam como fibras de resistência
relativamente alta, embebidas em uma matriz de menor resistência à tensão. A
resistência ao cisalhamento do solo é, assim, aumentada pela resistência das
raízes.

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GRAY e LEISER (1982) atribuem os efeitos favoráveis como sendo a
redistribuição da água proveniente das chuvas e o acréscimo da resistência do
solo devido às raízes e os efeitos desfavoráveis sendo os efeitos de alavanca
(cisalhamento transferido pelos troncos das árvores), efeitos de cunha (pressão
lateral) e sobrecarga vertical (causada pelo peso das árvores).
Os processos de instabilização de taludes tendem a se acelerar algum
tempo após o desmatamento. Logo em seguida à retirada das árvores, existe
um acréscimo na estabilidade das encostas devido à eliminação dos efeitos
negativos como sobrecarga, efeito alavanca, etc. Contudo, este acréscimo de
estabilidade tende a se perder com o tempo, com o apodrecimento das raízes e
a eliminação do efeito de redistribuição de água de chuva.
Entre as principais propriedades do solo, que conferem maior ou menor
resistência à ação erosiva das águas, ou seja, a erodibilidade; destacam-se a
textura, a estrutura e a permeabilidade (BERTONI e LOMBARDI NETO, 1985).
A textura, ou seja, o tamanho das partículas, influi na capacidade de
infiltração e absorção da água da chuva, interferindo no potencial de
enxurradas no solo e também na maior ou menor coesão entre as partículas.

2.2 – FENÔMENOS CORRENTES DE INSTABILIZAÇÃO

Os escorregamentos consistem no movimento rápido de massas de solo


ou rocha, geralmente bem definido quanto ao seu volume, cujo centro de
gravidade se desloca para baixo e para fora de um talude (natural, de corte ou
aterro).
O mecanismo de deformação envolvido nestes processos apresenta um
regime diferente do rastejo, ocorrendo por aumento das tensões atuantes ou
queda da resistência, em períodos relativamente curtos, ou combinações
destes mecanismos, que levam os terrenos, que constituem os taludes e
encostas naturais, a rupturas por cisalhamento.
Diferentes tipos de escorregamentos são identificados em função de sua
geometria e da natureza do material que instabilizam.
Os escorregamentos translacionais ou planares de solo são processos
muitos freqüentes nas encostas serranas brasileiras, envolvendo solos
superficiais, freqüentemente até o contato com a rocha subjacente, alterada ou

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não. Também ocorrem em taludes, mobilizando solo saprolítico, saprólitos e
rochas, sendo condicionados por estruturas planares desfavoráveis à
estabilidade, relacionados a feições geológicas diversas (foliação, xistosidade,
fraturas, falhas, etc.).
Os escorregamentos circulares ou rotacionais possuem superfícies de
deslizamentos curvas, sendo comum a ocorrência de uma série de rupturas
combinadas e sucessivas. Estão associadas a aterros, pacotes de solo ou
depósitos mais espessos, rochas sedimentares ou cristalinas intensamente
fraturadas.
Os escorregamentos em cunha estão associados a saprólitos e maciços
rochosos, nos quais a existência de duas estruturas planares, desfavoráveis à
estabilidade, condiciona o deslocamento de um prisma ao longo do eixo de
intersecção destes planos. Estes processos são mais comuns em taludes de
corte ou sem encostas que sofreram algum tipo de desconfinamento, natural ou
antrópico.
As corridas são movimentos gravitacionais de massas de grandes
dimensões, que se deslocam na forma de escoamento rápido. Caracterizam-se
por uma dinâmica híbrida, regida pela mecânica dos sólidos e dos fluidos, pelo
grande volume de material que mobilizam e pelo extenso raio de alcance que
possuem (até alguns quilômetros), resultando num grande potencial destrutivo.
De forma genérica, pode-se afirmar que a deflagração das
instabilizações de taludes e encostas é controlada por uma cadeia de eventos,
muitas vezes de caráter cíclico, que tem a sua origem com a formação de
própria rocha e toda a sua história geológica e geomorfológica subseqüente,
como movimentos tectônicos, intemperismo e erosão, a ação antrópica
intensifica o processo.
Apesar disso, é quase sempre possível estabelecer um conjunto de
condicionantes que atuam de forma mais direta e imediata na deflagração
destes processos.
GUIDICINI e NEBLE (1979) utilizam a terminologia de agentes e causas
de instabilização para discutir esses condicionantes, entendendo como causa o
modo de atuação de um determinado agente na instabilização de um talude ou
encosta. Os agentes deflagradores são subdivididos em predisponentes e
efetivos. Os agentes predisponentes referem-se a um conjunto de

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características naturais intrínsecas dos terrenos, nos quais os movimentos vão
ocorrer. Os agentes efetivos são diretamente responsáveis pelo
desencadeamento das instabilizações do talude ou da encosta, incluindo-se a
ação antrópica. Eles ainda são subdivididos em preparatórios e imediatos,
considerando-se sua forma de atuação no período que antecede à ruptura. As
causas são definidas internas, externas e intermediárias, com relação ao
talude.

Figura 1.0 - Geometria dos escorregamentos ou deslizamentos

VARNES (1978) discute os principais condicionantes e mecanismos de


deflagração dos escorregamentos, reconhecendo os fatores que aumentam as
solicitações e os que diminuem a resistência dos terrenos, com os respectivos
fenômenos naturais e antrópicos a que estão associados.
Tendo em conta essas e outras abordagens da questão, podem-se
apontar, resumidamente, os seguintes principais condicionantes dos
escorregamentos e processos correlatos na dinâmica ambiental brasileira:
- Características climáticas, com destaque para o regime pluviométrico;
- Características e distribuição dos materiais que compõem o substrato
das encostas/taludes, abrangendo solos, rochas, depósitos e estruturas
geológicas (xistosidade, fraturas, etc.);

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- Características geomorfológicas, com destaque para inclinação,
amplitude e forma do perfil das encostas (retilíneo, convexo e côncavo);
- Regime das águas de superfície e subsuperfície;
- Características do uso e ocupação, incluindo cobertura vegetal e as
diferentes formas de intervenção antrópica das encostas, como cortes,
aterros, concentração de água pluvial e servida, etc.
Deve-se ter claro que, na maioria dos processos de instabilização de
encostas e taludes, atuam mais de um condicionante, agente, causa ou fator,
concomitantemente.

Figura 1.1 – Escorregamento de talude

2.3 – MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO

TERZAGHI (1950), considerado um dos principais pesquisadores dos


mecanismos de instabilização em taludes de terra, salienta que o
conhecimento geológico é um requisito essencial para a formação de um
conceito claro sobre os processos que podem levar ao colapso do talude. A
realização de uma boa caracterização geológico-geotécnica é fundamental
quando se objetiva a elaboração do projeto de contenção, ou mesmo, a
recomendação de medidas emergenciais para se evitar a ampliação de
acidentes associados a escorregamentos. O objetivo básico da caracterização

17
é identificar os agentes, causas e condicionantes atuantes no processo de
instabilização existente ou potencial, através da obtenção dos seguintes dados:
- Geometria da instabilização;
- Mecanismo da movimentação;
- Natureza e o estado do material mobilizado;
- Comportamento no tempo;
- Identificação, caracterização e mapeamento espacial das unidades
geológico-geotécnicas;
- Estabelecimento de correlações entre as unidades mapeadas e o
processo de instabilização;
- E, finalmente, previsão dos comportamentos das unidades, ante as
solicitações impostas por alguns tipos de obras de contenção.

Os profissionais que atuam na prevenção e no controle de movimentos


de taludes, se defrontam, constantemente, com questões relativas ao tipo, ao
número, á distribuição espacial e à profundidade das investigações a serem
realizadas, bem como à utilização de outros métodos de caracterização
geológico-geotécnica, como instrumentação e ensaios in situ e de laboratórios.
Essas questões requerem uma metodologia, que resulte na otimização dos
trabalhos de investigação e caracterização geológico-geotécnica e, ao mesmo
tempo, na obtenção de dados com qualidade e quantidade compatíveis com a
melhor medida de estabilização para o caso estudado.

2.4 – OBRAS DE ESTABILIZAÇÃO

Com relação às obras de estabilização de taludes, deve-se ter


conhecimento dos seus principais tipos de intervenção planejada, da sua forma
de atuação e das solicitações que impõem ao terreno, a fim de se escolher a
melhor solução técnico-econômica para o problema de instabilização estudado.
Algumas das técnicas de estabilização mais simples, como
retaludamentos, drenagem, estruturas de contenção envolvendo proteção
superficial e muros de arrimo, são técnicas antigas e muito estudadas hoje.
A adoção de um determinado tipo de obra de estabilização deve ser o
resultado final do estudo de caracterização geológico-geotécnica e

18
fenomenológica do talude. Esta deverá atuar diretamente nos agentes e
causas, e deverão sempre partir das soluções mais simples e baratas.
O uso de materiais geossintéticos pela engenharia geotécnica é
relativamente novo, porém vem crescendo continuamente. KOERNER (1994)
define geossintético como sendo um produto planar fabricado a partir de um
material polimérico usado em combinação com o solo, rocha, terra ou outro
material pela engenharia geotécnica, como parte integrante de um projeto,
estrutura ou sistema elaborado pelo homem.
Alguns fatores citados por KOERNER (1994), contribuem para este
crescimento, tais como:
 Os geossintéticos são manufaturados com controle de qualidade no
ambiente de fábrica;
 Podem ser instalados rapidamente;
 Geralmente materiais danificados podem ser substituídos;
 Podem substituir materiais naturais em projeto, caso haja necessidade
ou dificuldade de obtenção destes;
 Seu uso é requerido por lei em alguns casos;
 Possui custo geralmente competitivo em relação a outros tipos de
soluções convencionais.
Existe uma grande variedade de geossintéticos disponíveis no mercado que
são utilizados pela engenharia geotécnica, todos desempenhando funções
particulares. Entre eles, pode-se destacar os geotêxteis (tecidos e não-tecidos),
geogrelhas, geocélulas, tiras, geomembranas, geodrenos e geocompostos.
Cada um destes materiais apresenta propriedades particulares, podendo ser
usado com as mais diversas finalidades.

19
Figura 1.2 – Geogrelha

Figura 1.3 – Geodreno

Figura 1.4 – Geocélula

20
Figura 1.5 – Geomanta

Figura 1.6 – Geomembrana

As principais propriedades básicas dos geossintéticos são:


 Propriedades Mecânicas: Resistência à ração; rigidez à tração;
comportamento à fluência; relaxação de tensões.
 Propriedades Hidráulicas: Condutividade hidráulica.
 Propriedades de Durabilidade: Resistência à degradação química,
biológica e oxidação; resistência à abrasão.
 Propriedades de Interação: Resistência de interface solo – geossintético;
resistência de interface geossintético – geossintético.
PALMEIRA (1993) apresenta as funções possíveis de um geossintético em
uma obra:
Função Reforço: o uso do geossintético visa o aumento da resistência do
material composto e diminuição da sua compressibilidade;

21
Função Filtração: o uso do geossintético visa utilizá-lo como um filtro para
evitar a migração de partículas sólidas;
Função Drenagem: o geossintético é usado para drenar líquidos ou gases;
Função Barreira: o uso do geossintético visa barrar o fluxo de líquidos ou
gases;
Função Proteção: o uso do geossintético visa proteger um maciço ou
material.
Técnicas de reforço de solos com uso de geossintéticos consiste na
inclusão de materiais geossintéticos no interior da massa de solo, com a
finalidade de aumentar a sua resistência e diminuir sua compressibilidade.
Essa técnica é altamente dependente das propriedades do solo, do reforço e
da interação solo-geossintético.
No caso de taludes de áreas de disposição de resíduos, os solos de
cobertura são necessários, segundo KOERNER (1994), pelos seguintes
fatores:
- Proteção dos geossintéticos contra a oxidação;
- Proteção dos geossintéticos contra raios ultravioletas;
- Minimização de temperaturas extremas;
- Eliminação de influência de ventos;
- Proteção dos geossintéticos contra danos acidentais;
- Proteção dos geossintéticos contra danos intencionais.
Em taludes de áreas de disposição de resíduos é comum o uso de
várias camadas de geossintéticos, com diversas funções, associadas ao solo
de cobertura. Por efeito de gravidade, surgem tensões que podem tornar a
massa de solo de cobertura instável, dependendo do nível de tensões
provocadas pela inclinação do talude e dos parâmetros de interface entre solo-
geossintético. Surge, então, a necessidade da obtenção dos parâmetros de
interface para dimensionamento através de ensaios, tais como os de plano
inclinado, cisalhamento direto e arrancamento. Esses parâmetros são utilizados
para o estudo da estabilidade e otimização dos taludes de forma a se ter
segurança em termos de estabilidade e se ter economia em termos de
capacidade de estocagem de resíduo.
Tabela 1.3 – Tipos de geossintéticos e suas principais funções (PALMEIRA,
1999)

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Tipo de Função Característica
Geossintético
Reforço Separação Drenagem Filtração Proteção Barreiras
Geotêxtil Tecido X X X
Geotêxtil Não- X X X X X
tecido
Geogrelha X
Tiras X
Fios, Fibras, X
Microtelas.
Georrede X
Geodrenos X X
Geomembranas X X
Geocélulas X X
Geocompostos X X X X

Os solos resistem pouco às tensões de tração. Assim sendo, é


importante o uso do geossintético como reforço em regiões do solo onde
ocorram deformações de tração, de forma que sua orientação coincida com a
direção destas deformações, maximizando o benefício da sua presença.
Quando um reforço é colocado no solo, ele interage com este através do
contato friccional entre as partículas de solo e a área da superfície plana do
reforço e (ou) das tensões de carregamento nos membros transversais
existentes (caso de geogrelhas). As deformações no solo causam o
desenvolvimento de forças de tração ou compressão no reforço, dependendo
da sua posição no maciço. Assim, a idéia de reforçar o maciço consiste em
associar as características mecânicas do solo, que resiste bem à compressão e
ao cisalhamento, com as do reforço, que resiste bem à tração. Desse modo,
associando materiais distintos com funções complementares, pode-se obter
uma estrutura mecanicamente resistente e estável.
PALMEIRA (1987) cita três fatores muito importantes para um bom
desempenho de uma estrutura de solo reforçado: a natureza e características
mecânicas do solo, a natureza e características do reforço, a interação entre
solo e reforço e como isso afeta a resposta de cada material.

23
Sete tipos de geogrelhas, um geotêxtil, um geocomposto argiloso (GCL),
uma geomembrana lisa e dois tipos de geomembrana texturizada foram
utilizados em ensaios. No caso das geogrelhas, variou-se propriedades
relevantes (dimensões aberturas, rigidez à tração, J, e número total de
membros de ancoragem, N da gerogrelha GG-A (geogrelha de referência, com
J – Jo = 200kN/m, N = No = 96) através da remoção selecionada de seus
membros longitudinais e de ancoragem, resultando nas geogrelhas em
aumentar a estabilidade do talude ou reduzir as cargas de tração transferidas
para outras camadas. As geogrelhas são feitas de poliéster, com espaçamento
entre membros transversais (ancoragem) ou longitudinais variando entre 20 a
160 mm e valores de rigidez à tração entre 25 a 200 kN/m. O geotêxtil utilizado
é um produto não-tecido, feito de polipropileno, com gramatura de 200g/m2. O
GCL ensaiado é composto por uma camada inferior de geotêxtil tecido, com
uma camada superior de geotêxtil tecido, com uma camada superior de
geotêxtil de bentonita ente eles, os geotêxteis componentes do GCL são unidos
por uma frágil costura. As geomembranas ensaiadas são de polietileno de alta
densidade com 1 e 2mm de espessura, onde GM-A lisa e GM-A texturizada
possuem as mesmas propriedades básicas, exceto no que diz respeito a
texturização. A textura de GM-A texturizada e GM-B, ocorrem nas duas faces e
são bem diferentes entre si. As características dos geossintéticos são
apresentadas na tabela abaixo.

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Tabela 1.4 – Características dos geossintéticos
Geossintético Cógigo MA(2) Tg(3) Tmax(4) max(5) J(6) N(7) Abertura
2 (8)
(g/m ) (mm) (kN/m) (%) (kN/m) (und) (mm)
Geotêxtil não GNT 200 2,2 12 60 22 --- ---
(1)
tecido/PP
Geomembrana GM-A lisa 950 1,0 20/33(9) 12/700(9) 260 --- ---
(1)
PAD e text.
(9) (9)
Geomembrana GM-B > 940 2,0 29/21 12/100 300 --- ---
(1)
PAD
Geocomposto GCL 5000 5,0 --- --- --- --- ---
Argilos
GG-A 250 1,1 20 12,5 200 96 20 x 20
GG-B 233 1,1 10 12,5 100 96 20 x 40
GG-C 227 1,1 5 12,5 50 96 20 x 80
(1)
Geogrelha PET GG-D 168 1,1 2,5 12,5 25 96 20 x 160
GG-E 228 1,1 20 12,5 200 48 40 x 20
GG-F 213 1,1 20 12,5 200 24 80 x 20
GG-G 205 1,1 20 12,5 200 12 160 x 20

Notas: (1) PP = polipropileno, PAD = polietileno de alta densidade, PET = poliéster; (2)

resistência à tração em ensaios de tração de faixa larga; (5) max = deformação na


MA = Massa por unidade de área; (3) tG = espessura do geossintético; (4) Tmax =

ruptura em ensaios de faixa larga; (6) J = rigidez secante em ensaios de faixa larga;
(7) Dimensão da esquerda é paralela aos membros longitudinais e a da direita é
paralela aos membros solicitados; (8) a s = disponível para solicitação em cada
membro de ancoragem; (9) valor da esquerda é o de escoamento e o direita é o
ruptura, respectivamente.

25
3. – ANÁLISE EMPÍRICA DE TALUDES URBANOS

3.1 – MATERIAL E MÉTODOS

O projeto de análise empírica dos taludes urbanos de Brasília deverá


envolver as seguintes etapas:

- Levantamento de dados preexistentes: Envolve o levantamento e tratamento


dos dados que formam o conjunto de agentes predisponentes, ou o conjunto de
condições geológicas, geométricas, etc. da área a ser estudada quando à
estabilidade de taludes. Esses dados são obtidos a partir de mapas geológicos,
geomorfológicos, topográficos e outros relatórios disponíveis. As cartas ou os
mapas geotécnicos, se existentes, também podem ser bastante úteis, pois
possibilitam a compartimentação preliminar em unidades de terreno com
características geológico-geotécnicas semelhantes e problemas de
instabilização mais esperados para cada unidade, dentro de escalas regionais
de trabalho. Os índices pluviométricos, e sua relação com a ocorrência de
instabilizações na área estudada, são outra fonte importante para a delimitação
das condições de contorno do local investigado;

– Investigação de superfície: a caracterização geológico-geotécnica voltada


para o estudo de taludes inicia-se, em geral, pelas investigações de superfície,
que servem de base para todos os demais trabalhos. As investigações foram
divididas em três grupos de técnicas: levantamentos de campo, topográficos e
fotogramétricos que, durante as investigações são aplicados em intensidades
diferentes e de forma interativa;
Os levantamentos de campo objetivam o mapeamento geológico de
superfície, a identificação de feições de instabilidade, além de outros aspectos
de interesse. Especial atenção deve ser dada às áreas de topo e à base de
região instabilizada ou potencialmente instabilizável. Esses locais fornecem os
melhores indícios de superfície a respeito do processo de instabilização
investigado.
Os dados levantados nas vistorias de campo deverão ser apresentados
em plantas preexistentes, ou croquis elaborados especificamente para isto. A

26
laboração de fichas de cadastro facilitam o levantamento e a sistematização
desses dados, principalmente quando existem vários locais a serem
vistoriados. A documentação fotográfica das áreas investigadas também é um
importante meio de apresentação e armazenamento de dados sobre o
processo de instabilização investigado.
A documentação fotográfica utilizada na investigação de instabilização
de taludes pode ser dividida em dois tipos principais: levantamentos
aerofotogramétricos oblíquos de baixa altitude e levantamentos fotográficos
terrestres. A interpretação de fotografias aéreas representa um poderoso
instrumento no estudo de escorregamentos, permitindo uma visão
tridimensional do terreno, e a identificação das inter-relações entre topografia,
drenagem, cobertura superficial, feições geológicas e atividades humanas.

– Instrumentação/observação de casos: o estudo de encostas e taludes pode


ser utilizado na investigação e na elaboração do projeto de estabilização,
permitindo a obtenção de dados quantitativos sobre a geometria da superfície
de ruptura, deslocamentos horizontais e recalques de áreas instáveis,
comportamento hidrogeotécnico do maciço e avaliação da resistência,
deformabilidade e estado de tensões do talude. Sua instalação em obras de
contenção possibilita a confirmação das hipóteses de projeto, controle de
segurança durante a fase construtiva e subsidia a manutenção das mesmas.

As medidas de deformações, deslocamentos e pressões neutras,


obtidas com a instrumentação, traduzem indiretamente as condições de
estabilidade, devendo ser analisadas e tratadas através de modelos
matemáticos, correlações e experiência anterior acumulada.
A instrumentação pode ser utilizada nas atividades de pesquisa voltadas
ao aprimoramento técnico-científico a respeito dos mecanismos dos processos
de instabilização e comportamentos específicos de taludes.

27
3.2 – MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE

A escolha do método de estabilidade de taludes a ser empregado


depende do tipo de maciço que compõe o talude em estudo, sendo esta
escolha influenciada principalmente pelos seguintes aspectos:
 Tipo de superfície de ruptura – são adotadas tradicionalmente em solos
superficiais de ruptura circular, o que dificilmente ocorre em rochas,
exceto em maciços muito fraturados. Em rochas as superfícies de
ruptura são dominadas pelas descontinuidades, podendo ser planares,
bi-planares, múltiplos planos ou compostas;
 Inclinação das lamelas – em solos são adotadas lamelas verticais, o que
dificilmente ocorre em rochas, exceto em maciços rochosos muito
fraturados, onde a inclinação das lamelas é determinada pela geometria
dos blocos, ou seja, pelas descontinuidades.
 Critérios de resistência – em solos é normalmente empregado o critério
de Mohr-Coulomb, (parâmetros de resistência c e ). Já em rochas
depende das características das descontinuidades podendo se
empregar os critérios de ruptura de ruptura de Mohr-Coulomb, Barton-
Bandis ou Hoek & Brown.
A análise de estabilidade envolve um conjunto de procedimentos
visando a determinação de um índice ou de uma grandeza que permita
quantificar o quão próximo da ruptura um determinado talude se encontra, num
determinado conjunto de condicionantes atuantes.
Os métodos de análise de estabilidade podem ser divididos em dois
grandes grupos:
- Métodos observacionais: calcados na experiência acumulada com a análise
de rupturas anteriores (retroanálise, ábacos de projetos, opinião de
especialistas, etc.);
- Métodos analíticos: envolvendo os baseados na teoria do equilíbrio-limite e
nos modelos matemáticos de tensão e deformação.

28
3.3 – MÉTODOS DETERMINÍSTICOS

Segundo CAMPOS (1985) os métodos de equilíbrio limite, considerados


como convencionais, assumem na análise de estabilidade de taludes a ruptura
de uma massa de solo ou rocha, dividida em lamelas ou blocos, ao longo de
uma superfície potencial de ruptura. O fator de segurança é assumido como
sendo constante ao longo desta superfície, sendo resolvido a partir de
equações que satisfaçam o equilíbrio estático de forças em duas direções
ortogonais e/ou de momentos. Entretanto, esses métodos ignoram o
comportamento tensão deformação do solo, assumindo que a ruptura ocorre
simultaneamente em todos os pontos da superfície crítica de deslizamento.
Assim, o mecanismo de ruptura não é completamente entendido e, portanto,
apesar de amplamente aceitos na prática geotécnica, são inadequados para
situações envolvendo complexo históricos de tensões.
Uma das deficiências dos métodos do Equilíbrio Limite está na incerteza
quanto à distribuição das forças normais na base da superfície. Essa
deficiência é superada pelo envolvimento do método dos elementos finitos na
avaliação do estado de tensão do maciço, tendo sido classificada por NAYLOR
(1982) como método melhorado.
Como estes elementos de estática juntamente com o critério de ruptura
adotado, não são suficientes para tornar a análise determinada, existindo um
número maior de incógnitas que equações para a solução do problema.

Figura 1.6 - Teoria do equilíbrio limite.

29
4. – RESULTADOS E DISCUSSÃO

No estudo de taludes na região do DF, muitos destes apresentaram


escorregamentos decorrentes de uma falha no planejamento de construção ou
à problemas advindos de falhas na ação sistemática de prevenção e
manutenção do talude. Tais escorregamentos podem ser evitados desde que
haja uma correta aplicação das técnicas de construção e manutenção do
talude, visando evitar qualquer transtorno à população.
Com relação à região do viaduto do Lago norte e viaduto do Colorado,
por uma falha no planejamento, houve a queda dos taludes , atingindo parte
da pista. Esta será interditada por um período para a manutenção, implicando
em mais gastos e transtornos à sociedade. Logo com um planejamento
adequado e uma ação sistemática de manutenção, é possível se evitar tais
problemas.
Assim pode ser observado no talude do Balão do Aeroporto, que
demonstrou um melhor planejamento impedindo a ocorrência de
deslizamentos. Entretanto é importante que paralelamente haja um sistema de
manutenção para sanar eventuais problemas.
Nos taludes do viaduto da Ponte JK, por serem de construção recente é
preciso uma maior manutenção, inicialmente, até que seja comprovado sua
estabilidade ao decorrer das chuvas. O uso de mecanismos de sucessão
ecológica é eficaz no reforço e estabilização do talude, e acrescentam mais
uma importante ferramenta no plano de manutenção sistemática.

Figura 1.7 – Viaduto do Lago Norte

30
Figura 1.8 – Viaduto do Colorado

Figura 1.9 – Viaduto do Aeroporto

Figura 2.0 – Viaduto da Ponte JK

31
5. – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

De acordo com os estudos realizados à aplicação de técnicas de


contenção e prevenção em taludes urbanos, constatou-se que os processos
ecológicos e geotécnicos são eficientes como medidas mitigadoras, trazendo
bons resultados aos taludes e conseqüentemente evitando transtornos à
sociedade.
Desta forma denota-se que um planejamento adequado, onde sejam
constituídos medidas de manutenção e prevenção de escorregamentos em
taludes urbanos, claramente, são mais viáveis. Visto que na construção de um
talude, torna-se mais coerente realizar corretamente todas as técnicas, e
posteriormente efetivar medidas preventivas e de manutenção, ao invés de
realizar a sua construção e não efetivar a assistência sistemática adequada, o
que pode ocasionar uma instabilização em sua estrutura e conseqüentemente
podendo causar transtornos à sociedade, além de gerar gastos excessivos e
desnecessários.

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6. – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brito, C. C. (2003). Programação dinâmica aplicada à análise de estabilidade


de taludes não saturados. Dissertação de Mestrado, Publicação G.D.M. –
109/03, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 139p.

Caputo, H. P. (1983) – Mecânica dos solos e suas aplicações, Editora S.A., Rio
de Janeiro, RJ, Brasil.

Fiori, A. P. e Carmignani, L. (2001) – Fundamentos de mecânica dos solos e


das rochas: aplicações na estabilidade de taludes, Editora UFPR, (2001),
Curitiba, Pr, Brasil.

Cavalcante, R.F. (1997). Análise de estabilidade de taludes de mineração por


métodos de Equilíbrio Limite e Tensão e Deformação. Dissertação de
Mestrado, Publicação G.D.M. – 046A/97, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 139p.

Gerscovich, D. M. S. (1994) – Fluxo em meios porosos saturados-não


saturados: Modelagem Numérica com Aplicações ao Estudo da Estabilidade de
Encostas do Rio de Janeiro, Tese de Doutorado, Departamento de Engenharia
Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.
243p.

Oliveira, A. M. S. e Brito, S. N. A. (1998) – Geologia de Engenharia, Editora


ABGE, São Paulo, SP, Brasil.

Viana, H.N.L. (2003). Estabilidade de taludes de áreas de disposição de


Resíduos Revestidos com geossintéticos: Influência da presença de
geogrelhas. Dissertação de Mestrado, Publicação G.D.M. – 103A/03,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, 139p.

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