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Laurann Dohner - Novas Espécies 01 - Fury - (Oficial)
Laurann Dohner - Novas Espécies 01 - Fury - (Oficial)
NOVAS ESPÉCIES
F URY
Fury / New Species
Copyright © 2011 by Laurann Dohner
D677f
Dohner, Laurann
Fury / Laurann Dohner ; tradução de Flora
Manzione. – São Paulo : Universo dos
Livros, 2015.
368 p. (Novas espécies, v. 1)
ISBN: 978-85-7930-778-2
Título original: Fury
1. Literatura americana 2. Romance
Erótico I. Título II. Manzione, Flora
– Eles o quê?
A voz profunda atrás de Ellie a assustou. Ela se virou e
derrubou a bolsa. Fury havia chegado atrás dela sem ela
notar. Ele se mexera de um jeito tão furtivo, que não
fizera nenhum som para que ela soubesse que estava se
aproximando. Ela apertou o peito ao encará-lo.
– Não se aproxime de mansinho assim de alguém. Eu
não tinha ideia de que você estava aí, quase me fez ter
um ataque cardíaco. – ela derrubou os braços ao lado do
corpo.
Fury se aproximou.
– Tentaram sequestrá-la? – ele se abaixou, pegou a
bolsa do asfalto e a segurou com suas mãos enormes
enquanto se esticava novamente. – Como?
O coração acelerado de Ellie começou a se acalmar.
– Acho que um dos manifestantes me seguiu até o
motel, e então alugaram o quarto ao lado do meu. Eles
fizeram uma emboscada para me pegar quando voltei
para o quarto depois de buscar comida. Gritei quando
um dos três homens me agarrou. Havia pessoas em volta
que começaram a gritar, e com isso, eles fugiram.
O olhar no rosto de Fury fez jus ao seu nome. O nome
realmente combina com ele, decidiu Ellie. Ele ficou em
silêncio enquanto continuava a fitá-la e então deu um
rosnado baixo. Seus caninos apareceram pela pequena
abertura que se fez em seus lábios. Ela se afastou,
desconfiada de sua raiva. O que eu fiz? Não foi minha
culpa. Ele parecia querer, novamente, rasgar sua
garganta.
– Você não está a salvo lá fora – ele concluiu num tom
rude – De agora em diante, você fica aqui. Não discuta
comigo.
Dean Hoskins pigarreou e apanhou o celular.
– Vou ligar para o prédio das visitas para ter certeza de
que há um quarto para ela.
– Desligue – Fury exigiu – Ela vai ficar comigo.
Ellie o olhou pasma, tentando entender a oferta dele.
– Com você? – ela arfou.
Ele deu um passo para se aproximar.
– Você parece saber como se meter em encrenca,
querida. Ou talvez a encrenca saiba como encontrá-la.
Tenho um quarto de visitas e você ficará comigo. Assim
posso ficar de olho em você.
Essa não. Ela observou Fury tirar os olhos dela e
focar a atenção em seu carro. Ele andou em volta dele,
examinou cada parte do dano e só parou ao ficar
novamente de frente para Ellie. Ele apanhou sua mão e a
segurou firme com sua pegada quente, mas delicada.
– Vamos. Minha casa não é muito longe, então vamos
andando. Vou pedir a alguém que tire suas coisas de
dentro daquilo e dizer para consertar o que fizeram.
– Mas minha mala… – Ellie tentou diminuir o passo.
– Agora não – ele rugiu, puxando-a com força pela
mão, forçando-a a se mover quando ela não queria.
Ele puxou Ellie para seu lado, não lhe deixando escolha
a não ser acompanhá-lo. Ela notou a expressão alarmada
de Dean Hoskins. Não queria armar confusão, nem
causar problemas a Fury. Ela sabia que ele a estava
protegendo por algum motivo, e ela odiava mais a ideia
de deixar Homeland do que a de morar na casa dele.
– Obrigada por vir me buscar – ela gritou.
– Sem problemas – murmurou Hoskins.
Ellie olhava para o perfil belo, porém sombrio, de
Fury, enquanto tudo o que conseguia fazer era correr ao
lado dele para acompanhá-lo, pois as pernas dele
devoravam o chão com suas passadas largas. Sua mão
ainda mantinha a bolsa dela agarrada. Ela olhou
preocupada para a bolsa, esperando não haver nada
dentro que quebrasse com aquela pegada tensa e forte.
Ellie não fez nenhum protesto enquanto Fury andava, até
chegarem à casa dele. Ele a soltou quando alcançaram a
porta de entrada, pôs a mão no bolso de trás e usou a
chave para abri-la. Seu olhar negro se fixou nela.
– Para dentro, agora.
Ellie hesitou.
– Por que você está tão bravo comigo?
– Não estou. – rosnou ele – Entre.
Ellie adentrou o local mal iluminado, lançando olhares
em volta para reconhecer a sala. A porta bateu com força
atrás dela. Ela se virou para encará-lo. Fury estava
encostado na porta, apenas jogou a bolsa no chão, e ela
se encolheu, esperando que o celular que ela havia
enfiado lá dentro tivesse sobrevivido à dura queda no
ladrilho da entrada. Sua atenção retornou a Fury e o
encontrou olhando para ela com seu olhar negro e
intenso. Seus dentes afiados apareceram de novo entre
os lábios partidos.
– Para alguém que não está bravo comigo – declarou
ela, delicadamente –, você passa muito a impressão de
que está. Poderia pelo menos – ela apontou para a
própria boca – esconder as presas?
Ele rosnou.
Ela se afastou alguns centímetros.
– Tudo bem. Não esconda. É que quando você mostra
as presas e está com esse olhar zangado, tende a passar
às pessoas a impressão, bem, pelo menos para mim, de
que está puto com elas. – ela inspirou – E o rosnado… –
Ela balançou os ombros – Meio que deixa implícito que
você está bravo.
– Estou furioso – ele rugiu.
– O que eu fiz? – ela deu mais um passo para atrás.
– Nada. Não é diretamente com você. Você foi
demitida por me proteger, foi jogada no seu mundo e,
por causa de nós, virou um alvo como se fosse uma de
nós.
– Bem – ela relaxou, secretamente alegre por não ser a
responsável por deixá-lo zangado – eu trabalhava em
Homeland e sabia que não faria amizade com gente
babaca quando aceitei o emprego. Se eu concordasse
com aqueles idiotas, não teria vindo para cá, e eles
sabem que sou pró-Novas Espécies. Eles serem uns
imbecis é apenas um fato. Há grupos de ódio para tudo.
– Ninguém a odeia por causa do lugar de onde você
veio.
Ela sorriu.
– Originalmente sou da Califórnia, depois minha
família se mudou para Ohio. Metade do país tem certeza
de que todos os doidos e esquisitões dos Estados Unidos
vivem ou nasceram aqui no sul da Califórnia.
Fury piscou.
– O quão pró-Novas Espécies você é?
Ela se perguntou se ele questionava se ela não odiava
seu povo em segredo.
– Se está perguntando se sou preconceituosa, não
sou. Quando ouvi os rumores sobre as Indústrias
Mercile e o tipo de testes e as cobaias que usavam, fiquei
ultrajada. Concordei imediatamente em ajudar a
desmascará-los. Eu ficava horrorizada de saber que
talvez eu fosse parte de qualquer coisa que tivesse a ver
com uma empresa tão cruel. – ela pausou – Para mim,
Novas Espécies são gente, ponto final. Assim como todo
mundo. Vocês têm o direito de fazer qualquer coisa que
os humanos fazem. É isso o que você quer dizer? Odeio
até mesmo fazer essa distinção.
Ele desencostou da porta e deu um passo na direção
de Ellie, e parou.
– Já ouviu falar sobre o mais novo protesto contra
nós? Eles têm medo de que comecemos a namorar
humanos. O que você acha disso?
– Você não me ouviu quando eu disse que acho que
vocês são apenas pessoas? Vocês têm tanto direito
quanto eu de namorar ou estar com quem quiserem.
Ele balançou a cabeça.
– Você ficaria com um de meus homens? Slade está
bem interessado em você.
Slade? Ellie piscou, lembrando do cara que salvara sua
pele no portão. Foi uma surpresa saber que talvez ele se
sentisse atraído por ela.
– Não o conheço. – ela não conseguia pensar em mais
nada para dizer.
– Você o conheceu hoje de manhã.
– Bem, sei quem ele é, mas não o conheço
pessoalmente. Não sei se gostaria ou não de passar um
tempo com ele.
– Mas se você gostasse dele, iria namorá-lo? Mesmo
sabendo o que ele é?
Ela observou Fury com atenção o suficiente para
identificar sua raiva. Ela não conseguia entender o
homem.
– Claro. Acho. Não entendo por que não. Nunca
pensei muito nisso.
– Nossas espécies não são totalmente compatíveis. –
Fury deu mais um passo a ela.
Ellie deu um passo na direção contrária. Ele avançava
enquanto ela se afastava. Ela se sentia perseguida. A
raiva irradiava dele, assegurando-a de que ir até a casa
dele fora um erro. Ele ainda está bravo com o que
aconteceu no centro de testes? Ele ainda quer me punir
por aquilo? Ela o perdoara e ele havia feito pior. Ela não
o aterrorizara, deixara-o sem ar ou o sequestrara no
parque para amarrá-lo a uma cama.
– Por que está me encurralando na parede? – ela olhou
por cima do próprio ombro. Ela tinha apenas mais alguns
metros de espaço, e daí não teria para onde ir. Ela virou a
cabeça e fitou Fury – Pode parar, por favor? Você está
começando a me assustar.
– Você teria medo de mim, se eu fosse o Darren
Artino ou um homem como ele? Humano?
Ela franziu o cenho.
– Se fosse alguém bravo vindo na minha direção, sim.
Quer parar?
– Notei que você não negou que nossas espécies não
são compatíveis. – ele avançou.
Ellie deu mais um passo para trás e bateu na parede.
Ela ficara sem espaço para colocar entre eles.
– O que você quer que eu diga? Nem sei o que falar.
Sei que você tem mais DNA humano e não entendo seu
argumento. Somos ambos gente.
– Passei minha vida inteira num centro de testes. –
suas mãos se apoiaram na parede, uma de cada lado de
Ellie. Ele a prendeu ali, entre seu peito e seus ombros,
sem tocá-la.
– Eu imaginei. – ela não conseguia tirar os olhos
daquele belo rosto, pairando tão perto dela. Ela inalou
aquele perfume masculino maravilhoso e ficou imóvel
para evitar roçar em seu corpo.
– Passávamos constantemente por experimentos,
modificações e testes – ele rosnou – Ainda estamos
aprendendo coisas novas sobre nossos corpos e o que
foi feito a nós, e não somos humanos o bastante para
nos enganarmos acreditando que podemos ser. Há
muitos traços animais presentes. Você pode ver algumas
das mudanças se olhar para nós, mas elas estão também
dentro de nossos corpos, em nosso DNA. Me preocupa
você ficar apavorada em saber o quanto dentro de mim
não é humano. – ele pausou – Muitos humanos ficariam
assustados se soubessem o que escondemos na
esperança de nos adaptarmos a eles. Queremos viver
juntos em paz, esperamos ser aceitos e ficarmos livres
dos grupos de ódio.
Ellie o examinou com curiosidade.
– Que tipo de traços animais você esconde?
Com certeza não é o rosnado. Ele faz isso com
frequência e talvez apenas para mim.
Ele hesitou.
– Apenas não sou completamente humano. Não
entrarei em detalhes. Mas somos muito diferentes do seu
povo. Não temos nem mesmo pais e, se tivéssemos,
nunca os conheceríamos. Aquelas gravações não foram
recuperadas, nos levando a acreditar que foram
destruídas. Nossas infâncias foram completamente
diferentes, tanto que temos pouquíssimo em comum.
– Como foi sua infância?
Ele cerrou a mandíbula.
– Lembro de ter medo e ficar trancado. Lembro da
escuridão que me apavorava e da dor em seguida. Eles
me amarravam e me davam injeções com aquelas merdas
de agulhas. Eu lembro – ele chiou – que a dor e o terror
eram minhas únicas companhias na infância.
Lágrimas encheram os olhos de Ellie. Ela levantou a
mão sem pensar e a colocou no braço dele.
– Sinto muito. – ela queria confortá-lo.
Ele fechou os olhos, respirou longa e profundamente,
e depois os abriu.
– Eles me modificaram. Lembro-me de como fiquei
chocado quando meus dentes de leite caíram e no lugar
havia dentes maiores e afiados. Eu não tinha um espelho,
mas podia sentir a diferença. Podia sentir meu rosto,
saber que não me parecia com os técnicos ou os
médicos. Quando atingi a puberdade, fiquei musculoso
porque eles me enchiam de drogas para alterar meu
corpo. Eu sabia que não estava bem, meu corpo estava
mudado, e eles me faziam ficar diferente com as drogas,
e não pararam de dá-las a mim.
– Sinto muito mesmo, Fury. – ela colocou as mãos
mais acima e depois abaixo, acariciando-o – Eles
estavam muito errados em fazer isso.
– Eu sei. É um pequeno conforto saber que algumas
pesquisas que eles fizeram criaram drogas para ajudar
humanos doentes, quando uma vida cheia de memórias
dolorosas me assombra. Agora há grupos de pessoas,
milhares delas, que querem que eu morra só porque me
jogaram no inferno quando eu era criança e me forçaram
a aguentar aquele pesadelo. Nós sofremos pelo benefício
dos humanos e para a Mercile ganhar dinheiro. – ele
limpou a garganta – Estou cansado de sempre me sentir
como se estivesse do lado de fora da vida, espiando-a.
De ser diferente. – ele falou num tom áspero – Eu sabia
que algo me fazia único, até onde me lembro. Eu olhava
para eles, sentia meus dentes e minha face, notava as
diferenças em meu corpo e, então, comecei a prestar
atenção ao que falavam. Aprendi a entender o que fora
feito conosco e o porquê. Eu me sentia muito sozinho e
só via humanos até… – ele fechou a boca.
– Não o culpo por odiar todo mundo da Mercile. Mas
não ajuda nenhum pouco saber que algo bom saiu disso?
– Não – ele rugiu suavemente – Talvez. Não sei. Odeio
o que foi feito com a gente.
– Eu também. O que você ia dizer sobre só ver
humanos até…? Você parou.
Os olhos negros dele se estreitaram, observaram-na, e
ele pigarreou.
– Até que eles levaram uma mulher à minha cela. Ela
era uma Nova Espécie e foi a primeira vez que vi alguém
parecido comigo. Eles queriam ver se podíamos procriar.
– ele olhou para a parede próxima ao rosto de Ellie, e
fixou os olhos ali – Eles nos forçaram a ficarmos juntos
algumas vezes, mas nunca funcionou. Não
conseguíamos procriar. – seu maxilar ficou tenso antes
de ele voltar os olhos a ela – Fico feliz. Não queríamos
que eles tivessem sucesso e levassem novas vidas para
aquele inferno.
Ellie mordeu o lábio e parou de mexer a mão.
– Ouvi algo sobre isso das mulheres – ela admitiu –
Não é justo o que fizeram com vocês. Eles estavam
errados e foram maus ao fazerem isso, Fury. Chamo
pessoas assim de imbecis sem um pingo de inteligência
ou compaixão.
Fury examinou seus olhos, olhando fundo neles.
– Você tem medo de mim, Ellie?
Ela hesitou.
– Tenho quando você está zangado mas, para ser
honesta, você me assustaria com ou sem DNA animal.
Você é grande.
Ele deixou o corpo inteiro cair, sua tensão começando
a se desfazer.
– Eu não quis machucá-la na minha cama, fazendo-a
sangrar.
Ela não esperava que ele fosse dizer aquilo. Ela soltou
o ar que havia tomado. Seu coração estava acelerado e
ela o forçou a se acalmar. Fury a observava em silêncio.
– Acredito em você.
– Acho que não teria te machucado se não fosse pelo
que fizeram comigo. Eu não teria dentes afiados.
Ellie não sabia o que dizer. Engoliu o nó que se
formara em sua garganta. A atração que sentia por Fury
era forte, ela admitia, sempre fora, desde o dia em que
colocara os olhos nele. Ela pensara muitas noites sobre o
que ele fizera com ela em sua cama, com sua mente
cheia de memórias eróticas enquanto sonhava. Tudo fora
fantástico até aquele momento em que ele se afastara
repentinamente dela e Justice chegara.
– Eu apenas agradeço ao seu Deus por não ter feito as
coisas que queria fazer com você.
O corpo todo de Ellie se esquentou de repente.
– O quê…? – ela precisou engolir seco. Sua voz havia
sumido – O que você queria fazer? – a pergunta saiu em
um sussurro.
Os olhos dele mostraram rapidamente uma emoção
que ela não conseguiu identificar com clareza.
– Eu realmente a teria assustado. Não somos
compatíveis sexualmente de todas as formas.
Ellie o fitou. Abriu a boca para perguntar o que ele
queria dizer com aquilo. Fury desencostou da parede e
virou as costas para ela. Ele saiu andando até que uns
bons metros os separassem.
– Seu quarto é na primeira porta à direita no fim do
corredor. Sinta-se em casa. Vou até o departamento de
segurança solicitar para que façam um passe temporário
para você e, no momento, você deve ficar aqui dentro.
Vou me certificar de que as coisas do seu carro estão a
caminho. Há bastante comida na cozinha se estiver com
fome. – ele saiu da casa com passos duros e bateu a
porta.
Ellie ficou encostada na parede por um bom tempo,
olhando para a porta pela qual ele havia desaparecido. O
que ele queria fazer comigo naquela noite? Ela fechou
os olhos, abraçando o corpo. E por que de repente eu
quero tanto, tanto saber? Droga!
Fury deixou a casa antes de agir como um tolo
completo e agarrar Ellie, afundar o nariz no pescoço dela
e inalar aquele perfume maravilhoso. A vontade de pegá-
la, colocar os braços em volta dela e ficar com ela no
colo era tão forte, que chegava a doer.
Ele se arrependia de ter dito que não eram sexualmente
compatíveis. Dissera apenas para chocá-la. Ela estava
perto demais, eles estavam sozinhos, e ele queria fazer
um monte de coisas. Foi preciso dar passos rápidos para
distanciá-los.
Ele procurou se focar em sua raiva. Ela poderia ter
sido sequestrada, levada apenas por ter uma ligação com
as Novas Espécies, e aquilo o deixava furioso. Ela se
importava com o povo dele, arriscara a vida para salvar
sua espécie, primeiro trabalhando disfarçada no centro
de testes, depois protegendo as mulheres quando o
alojamento foi invadido. Ela ficara sozinha para encarar
aqueles invasores violentos e ativar as portas de aço para
manter as mulheres a salvo.
Aquela fora a primeira coisa que ele mandara mudar.
Os humanos tinham ferrado aquele projeto ao não
colocarem paredes reforçadas para fechar o primeiro
andar e os demais. Além disso, o painel principal de
controle devia ter sido instalado onde ela também teria
ficado protegida.
Os olhos dela o perseguiam, tão azuis e lindos, ele
podia olhar neles o dia todo e nunca se cansar. Seus
dedos doíam do desejo de tocar sua pele macia e pálida,
e correr por seus cachos sedosos e loiros. Sua voz era
doce como mel para ele, suave e levemente rouca. Se ele
soubesse que podia lidar com o desejo de tocá-la, teria
ficado e interrogado-a sobre mais informações pessoais.
Precisava saber tudo sobre ela, mas o desejo de ficar
mais perto se tornara forte demais.
Agora que ela havia retornado e viveria sob seu teto,
ele não deixaria que ela fosse embora.
Fury podia ficar com ela e cuidar de seu povo ao
mesmo tempo. Ele não desapontaria Justice por não
fazer seu trabalho, mas Ellie estaria lá quando ele
voltasse para casa. Um pequeno sorriso curvou seus
lábios.
Ela estava dentro da casa dele. Fury aumentou a
velocidade. Quanto mais rápido fizesse tudo o que
precisava, mais rápido poderia vê-la de novo. Ele só
precisava ir com calma e evitar que ela se assustasse e
fosse embora. Ele podia ser paciente. Não era sua
melhor característica, mas ele a aprenderia por ela.
CAPÍTULO DEZ
Ellie sorriu para Breeze.
– Estou tão feliz que tenha vindo me visitar. Senti
muita falta de todas vocês. Eu queria visitar o
alojamento, mas Fury me disse que não era uma boa
ideia. – ela olhou em volta da sala – Estou meio que
presa aqui dentro. – sua atenção voltou para Breeze –
Você está me salvando de enlouquecer por ficar
trancada. Estou aqui há três dias e Fury se recusa a me
deixar sair.
Breeze sorriu de volta.
– Pense em como foi difícil convencê-lo a me deixar
vê-la. Queria trazer mais mulheres comigo, mas ele se
recusou a dar permissão para mais gente vir. – ela
estudou Ellie e inclinou a cabeça – Ele deve estar mesmo
preocupado com sua segurança.
Ellie deu de ombros.
– Por quê? Aqueles idiotas loucos segurando cartazes
do lado de fora não podem me ferir, enquanto eu estiver
segura dentro de Homeland.
Um olhar estranho passou pelo rosto de Breeze, mas
Ellie o entendeu. Ela se sentou de volta no sofá e cruzou
os braços.
– O que não estou sabendo?
Breeze hesitou.
– Há rumores.
– De que tipo?
– Sei que não é verdade. Não sinto o cheiro de Fury
vindo de você, a não ser aquele perfume leve e
persistente que fica quando moramos na mesma casa de
alguém. É que desde que ele a trouxe para a casa dele,
algumas pessoas acham que vocês estão acasalando.
– Acasalando? – as sobrancelhas de Ellie pularam –
Você quer dizer que os fofoqueiros acham que estamos
transando?
Um risinho escapou de Breeze.
– Sim. Esse é o termo. Transando.
– Mas não estamos. Quer dizer, nós conversamos, e
depois ele me evita como se eu fosse uma praga.
– Uma praga? Isso é algum membro de um grupo
religioso fanático?
Ellie deu risada.
– É uma doença mortal.
– Ah… – Breeze deu um sorrisinho – Ainda estamos
aprendendo o português ao qual não fomos expostos no
centro de testes. Eu ainda não tinha ouvido essa palavra.
– o sorriso de Breeze se desfez – Há uma… fofoca… de
que você e Fury estão acasalando. Transando – ela
corrigiu – Nem todos estão felizes com isso. Houve
alguns problemas sobre isso com os humanos que
trabalham em Homeland. Acho que Fury teme por você.
– Ele ouviu essa merda sobre nós por aí?
Breeze fez que sim com a cabeça,
– Todos ouviram. – seu olhar moveu-se rapidamente
pela sala e pousou na TV – Sua televisão está quebrada?
– Televisão? – Ellie engasgou – Está no noticiário?
– Sim. Alguns dos funcionários devem ter ouvido e
contaram para alguns… Como vocês os chamam?
Urubus da mídia? Eles não sabem os nomes de vocês,
mas há urubus da mídia dizendo que um Nova Espécie e
uma humana estão morando juntos.
Ai, merda! Os ombros de Ellie desmoronaram.
– Por isso que ele recusou a me deixar sair de casa,
quando mencionei sair de Homeland para ir procurar um
emprego. Quer dizer, por quanto tempo vou ficar
parasitando no quarto de hóspedes dele?
– Parasitando? O que significa essa palavra?
Ellie sorriu.
– É um termo usado para quando você mora com
alguém e usa de graça as coisas pelas quais ela precisa
trabalhar para ter. Não é uma coisa boa. Essa é difícil de
explicar. Acho que para descrevê-la posso dizer que sou
um peso para ele.
– Como? Ele já tinha um quarto para você ficar.
Ellie lutou com seu pensamento. Algumas palavras
eram difíceis de explicar.
– Sim, ele tinha, mas normalmente não se mora com
alguém a não ser que vocês sejam um casal, então é
aceitável que dividam a comida e uma casa. Se não são,
os dois devem trabalhar, algo parecido com uma
parceria, serem iguais. Não sou a namorada ou a esposa
dele. Ele me dá casa e comida, enquanto eu não lhe dou
nada em troca. Sou uma parasita.
– Acho que entendo. – Breeze sorriu – E você não é
uma parasita. Ele não sabe o que é isso, portanto você
não pode ser o que ele não sabe que existe.
Ellie gargalhou.
– Acho que você me pegou.
– Você devia transar com ele, e aí vai se sentir melhor.
Você vai dar a ele algo em troca para evitar ser uma
parasita.
Ellie ficou feliz por não ter dado um gole no
refrigerante que segurava, pois teria se engasgado. Ela
olhou boquiaberta para Breeze.
– Ahn, você não devia transar com alguém a não ser
que esteja em um relacionamento e tenha um carinho
especial por ele. Se você transa com alguém por comida,
dinheiro ou para ter onde ficar, isso se chama
prostituição. Isso é ruim.
– Seu mundo é complicado demais.
– É. – Ellie concordou, dando um gole no refrigerante
– É mesmo.
– Mesmo assim você devia transar com ele. Ele gosta
de você e acho que você gosta dele. Ele é bem macho e
tem bastante sex appeal. Todos nós achamos que
devemos transar se nos sentimos mutuamente atraídos.
Tivemos reuniões sobre isso.
Ellie pousou a bebida.
– Vocês tiveram reuniões sobre sexo?
– Claro. Antes não tínhamos escolhas. Tínhamos que
transar com quem nos forçavam. Nós fazemos todos os
tipos de reunião em que discutimos coisas. Transar foi
um desses temas. Podemos transar com qualquer um
com quem desejamos transar, se a pessoa quiser
também.
Ellie esfregou a boca com a mão, tentando esconder
um sorriso.
– Isso também é aceitável.
– Foi o que pensamos. Nós até mesmo discutimos
sobre transar com você depois que os boatos
começaram.
– Fury e eu fomos o assunto de uma reunião? –
chocada, Ellie sabia que o volume de sua voz havia
aumentado. Um rubor esquentou suas bochechas. A ONE
discutiu sobre eu e Fury fazermos sexo? Deus do céu! –
Não exatamente você e Fury, mas falou-se sobre transar
com seu povo e com o nosso.
– Ah. – ela relaxou enquanto o alívio a percorria.
Graças a Deus – Como foi?
Breeze deu de ombros.
– Não sabemos se vai funcionar. Vimos seu povo
transando em DVDs e fazemos diferente.
Ellie tentou não rir. Ela precisou arrumar as feições
para esconder seu divertimento.
– Vocês assistiram pornôs? É isso que você está
dizendo? Pornôs são vídeos do meu povo fazendo sexo.
– Sim. – Breeze sorriu – Assistimos a isso.
– Ahn… – Ellie olhou para Breeze – Esses vídeos são
meio… – ela não sabia o que dizer – Bem, eles não, bem,
não são muito… – ela suspirou – Eu não faço sexo
daquele jeito.
– Não? O que é diferente?
Por onde eu começo? Isso pode ser constrangedor,
mas estou aqui para ajudar essas mulheres. Ellie tirou os
sapatos para cruzar as pernas no sofá.
– O jeito que eles conversam durante as preliminares.
Eu nunca falo daquele jeito, e se um homem falasse
comigo da maneira que falam naqueles filmes, eu
provavelmente ficaria bem magoada.
– Chamar as mulheres com palavrões ofensivos e
exigir delas ações sexuais, mesmo que não pareçam
prazerosas a elas?
– Sim. Exatamente.
– Achamos aquilo meio chocante. Alguns acham
completamente rude.
– É, bem, se um cara dissesse algumas daquelas falas
do filme para uma mulher na vida real, bem, ele
provavelmente acabaria levando um tapa na cara, ou
coisa pior.
– Entendi. O que mais é diferente?
Ellie balançou os ombros.
– Não sei o que vocês viram. Pra começar, a maioria
das pessoas não faz sexo com vários parceiros. No
geral, somos monogâmicos.
– Então, não preciso convidar uma amiga mulher para
a cama se eu quiser transar com um homem totalmente
humano, ou dormir com dois deles ao mesmo tempo? Eu
tinha decidido nunca tocar num humano por causa disso.
Não somos bons em partilhar, e acho que um homem
deveria ser capaz de conseguir dar prazer a uma mulher
sem precisar da ajuda de um amigo.
– Não! – Ellie levantou o queixo, que havia caído –
Parem de assistir àquilo. Assistam a histórias de amor.
Filmes pornôs são… bem, eles só… – ela xingou
baixinho – Diga a eles para pararem de assisti-los e
esquecerem o que viram. Por favor. Aqueles atores e
atrizes são pagos para fazerem sexo no filme. Eles
seguem um roteiro que alguém escreveu. Entende? Eles
são feitos para entretenimento, mas não para serem guias
de como fazer sexo, a não ser que você queira ver como
algo é feito sem realmente fazê-lo.
– Ok.
– Qual é a sua versão de sexo? Talvez possamos
começar por aí. Pode ser a mesma coisa.
– Bem, nós gostamos de beijos. Adoramos beijar. Isso
é novo para nós, mas pegamos isso depois de sermos
libertados. Adoramos nos tocar. Dizemos palavras
delicadas, atraentes, e rosnamos para mostrar nosso
nível de excitação. Tudo bem com isso?
– Perfeito – Ellie admitiu. O rosnado… Ela deixou a
conversa seguir.
– Lutamos por dominância e quem for mais forte pode
decidir a posição para fazermos sexo. Normalmente o
homem ganha, a não ser que esteja cansado ou fraco por
causa de ferimentos.
– Ahn… – a mente de Ellie se esvaziou com aquela
novidade chocante.
Breeze parou de falar.
– Isso é diferente de vocês?
– Explique “lutar por dominância”.
Ela piscou.
– É exatamente o que parece ser.
– Como uma luta?
Ela fez que sim com a cabeça.
– Bem parecido.
Ellie deu de ombros.
– Não teria problema, mas normalmente não gostamos
de dor durante o sexo. Você sabe disso, certo?
– Ok. Vou compartilhar isso. Então nada de luta?
– Eu pularia essa parte. Tenho certeza de que algumas
pessoas gostariam disso, mas não é algo que você
consideraria como normal de se fazer, em geral.
– Então quem decide a posição?
Ela abriu a boca e depois a fechou. É mesmo. Quem?
Ellie sorriu.
– Nós conversamos e tentamos concordar
mutuamente sobre isso. Às vezes misturamos tudo.
– Misturam tudo? Explique.
Ellie hesitou.
– Bem, vamos dizer que estou por cima, montada em
um homem, e depois de um tempo ele poderia me virar
para ficar por cima de mim. Misturando. Está claro o
bastante assim?
Breeze fez que sim.
– Sim. Não fazemos isso. Ficamos em uma posição e
a mantemos até o final. – ela hesitou – Por que você
ficaria por cima? Que homem ficaria deitado para isso?
O orgulho dele não fica ferido por ser dominado desse
jeito?
Ellie soube que seus olhos se arregalavam.
– É… – Droga. Fico muito feliz por não ter filhos se
esse é o tipo de discussão que eu teria que encarar. Ela
estava sem palavras de novo, mas Breeze esperava por
uma resposta – Para nós, isso não tem a ver com
dominância. Tem a ver com prazer. Você já ficou por
cima durante o sexo?
Breeze pareceu horrorizada com a pergunta.
– Não. Eu me recusava a montar em um homem
quando ele estava amarrado e indefeso. Mesmo quando
os técnicos ameaçavam me castigar, eu não fazia isso.
Eu preferia apanhar do que ferir o orgulho de um macho.
– Ai, cara. Humanos não pensam assim. Eles
adorariam que uma mulher fizesse isso.
– Ah. Nossos homens, não, eles ficariam muito
bravos. Fury se sentiria ofendido só de você pedir para
ele ficar debaixo de você, submisso. Nossos homens são
dominadores.
Ela não tinha o que dizer. Ellie apenas balançou a
cabeça.
– Eu não pediria isso a ele – ela finalmente deixou sair.
– Que bom. Ele ficaria bem ofendido. Nossos homens
preferem morrer a serem submissos. É por isso que, no
centro de testes, eu apanharia antes de fazer o que eles
queriam quando amarravam um de nossos homens.
Uma imagem de Fury preso ao chão enquanto Jacob o
machucava passou rapidamente pela memória de Ellie.
Ela jamais esqueceria aquela visão ou o pavor que sentiu
ao saber em que tipo de pesadelo infernal ela entrara.
Meu Deus, ela pensou, abraçando o peito firme, com
dois braços.
– Ellie? Você está com frio?
– Estou bem. Então, que posições você gosta para o
sexo?
– Gostamos de ficar de frente para os homens para
manter contato visual, mas nossos homens preferem nos
pegar por trás. É por isso que lutamos. – ela hesitou –
Fico bem chocada por Fury ter ficado cara a cara com
você. Ele devia estar com pressa, senão a teria soltado
para montar em você por trás. É isso que nossos
homens fazem.
Uma imagem daquilo correu pela mente de Ellie. Fury
nu, aprisionando-a sob seu corpo grande e sexy, e talvez
com seu braço em volta da cintura dela ao entrar nela
por trás. Montando. Uau. Ela mordeu o lábio.
– E se uma mulher não quiser ser montada?
– Nossos homens não nos tocam a não ser que
tenhamos vontade de transar com eles.
– O que eu quis dizer foi: o que acontece se vocês
quiserem fazer sexo, mas não nessa posição?
Breeze deu um sorriso largo, revelando dentes afiados.
– Melhor sexo possível.
Ellie não perguntou, apenas balançou a cabeça.
– Bem, isso clareou um pouco as coisas, não?
Breeze concordou.
– Sim. Vou compartilhar essas informações na
próxima reunião. Obrigada, Ellie. Você me contou muitas
coisas que vou passar adiante.
– Você poderia deixar meu nome fora disso?
Breeze deu risada.
– Sim, eu entendo. Seu rosto está vermelho. Você tem
vergonha do seu sexo. – Breeze se levantou – Preciso ir.
A nova governanta – ela cuspiu essa palavra como se
fosse uma ofensa – exigiu que estejamos lá para ter aulas
quatro vezes ao dia. Ela é uma idiota.
– Sinto muito.
– Se ela não ganhar nossa simpatia em breve, e posso
dizer que não ganhará, irá embora. Temos uma reunião
daqui a uns dias sobre ela. – Breeze sorriu – Nós temos a
palavra final sobre se ela fica ou não, e podemos colocar
outra no lugar dela se não estiver dando certo.
Ellie acompanhou Breeze até a porta de entrada e
abraçou aquela mulher mais alta. Breeze ria ao ir embora.
Ellie suspirou alto quando ficou sozinha. Boatos estavam
sendo espalhados sobre um casal dormindo junto.
Droga. Se dessem o nome de Ellie para a imprensa, ela
jamais poderia deixar Homeland sem medo de que algum
imbecil a incomodasse, ou pior, a tornasse alvo de
violência.
Ela foi para a cozinha depois de olhar rapidamente
para o relógio. Notara que Fury costumava ir para casa
trocar o uniforme por volta das seis da tarde. Ele
colocava roupas confortáveis, fazia a ela perguntas sobre
seu dia e desaparecia pela porta o mais rápido possível.
Ela não fazia ideia de onde ele passava a noite depois.
Simplesmente não ficava em casa com ela. Ela abriu a
geladeira para pegar o pacote de peito de frango que
descongelara. Cantarolava baixinho enquanto começava a
cozinhar.
O cheiro de comida fez o estômago de Fury roncar,
enquanto ele se aproximava da porta. Ele perdia o almoço
quando as reuniões duravam muito tempo. Ellie sabia
cozinhar, obviamente, e ele seguiu o cheiro provocante
até a pequena sala de jantar, onde encontrou um belo
jantar para dois posto na mesa. Ele se virou e congelou
na frente do arco enquanto ela saía da cozinha.
Ele quis gemer ao ver o sorriso dela direcionado a ele.
Ela parecia genuinamente feliz em vê-lo. Sua fome por
comida instantaneamente se transformou em desejo de
tocá-la. O cheiro dela o tentava mais que o cheiro da
comida, despertava seu lado animal, e a necessidade de
pegá-la nos braços quase o dominou, enfraquecendo sua
determinação em resistir. A luxúria rugiu com vida por
todo seu corpo.
Todo sorriso que ela dava derretia seu coração, e toda
palavra que dizia o fascinava. Na noite anterior, ela se
sentara com ele no sofá, a apenas alguns centímetros, e
ele lhe fizera perguntas sobre sua família. A expressão
triste em seu rosto o deixou feliz por não ter pais pela
primeira vez na vida.
Ela contara sobre o divórcio amargo dos pais e como
ela ficou no meio, com apenas dez anos. Ele já não
gostava dos pais dela e jamais os conheceria. Ele não
queria Ellie por perto deles depois de ela dizer que
tentavam repetidamente convencê-la a se reconciliar com
o ex-marido.
Se algum dia ele conhecesse Jeff, bateria naquele
humano estúpido. Ellie evitava o olhar dele quando ele
fez perguntas sobre seu casamento. A ideia de outro
homem tocando nela quase o deixara furioso, mas ele se
manteve calmo. A conversa permanecera em seus
pensamentos.
Ellie sorriu para Fury. Ele não queria que ela tivesse
ido trabalhar, mas brigara com ele pela manhã. Agora ele
estava fazendo de tudo para fazer as pazes com ela.
Sexo de reconciliação não era possível, já que Fury tinha
medo de machucá-la de algum jeito. O sorriso de Ellie
morreu. Ela desejava que Fury percebesse que ela não
era tão frágil quanto ele achava.
– Sinto-me tão mal por elas – ela admitiu.
– Você tem um bom coração. – Fury acariciou o rosto
dela com o dedão – Agora elas estão livres. Vamos
encontrar outras em breve.
– Eu queria poder fazer algo legal para elas.
– O que você tem em mente? – Fury a puxou para ela
se sentar ao lado dele no sofá.
Ellie se curvou contra ele, adorando ficar agarrada
com ele.
– Não sei. Breeze mencionou que elas eram mantidas
longe de todos, menos de seus abusadores.
– Sim. Eles nos chamam de animais, mas aqueles
homens eram verdadeiras bestas. Algumas daquelas
mulheres foram encontradas trancadas em porões. Eram
mantidas longe de qualquer outra pessoa para evitar que
fossem descobertas. Nunca foram levadas a lugar
nenhum e, em alguns casos, não tinham nem mesmo
roupas.
Ellie estremeceu com as imagens horríveis que aquele
relato criou em sua mente.
– Elas acharam que eu tentaria ensiná-las como usar a
cozinha para que aprendessem novas habilidades e as
usassem com seus antigos donos.
Fury se encolheu.
– Ouvi dizer que era horrível. Justice as mantém bem
longe de todos os homens. Ele quer que elas se
fortaleçam emocionalmente antes de serem apresentadas
a nós.
– Mas vocês protegem as mulheres de vocês, já os vi
fazendo isso.
– Protegemos, mas elas nunca tiveram isso, Ellie.
Foram feridas e abusadas por homens. É só o que elas
conhecem.
– Onde elas foram mantidas depois de serem
resgatadas, se não estiveram perto de homens? Elas
foram descobertas todas de uma vez e trazidas
diretamente até aqui?
– Não. Justice entrou em contato com uma igreja.
Eles têm alguns retiros onde não há homens. Aceitaram
as mulheres de braços abertos para dar-lhes tempo e paz
para se recuperarem do que passaram. Vão ser enviadas
para cá quando os terapeutas acharem que estão fortes o
suficiente. A primeira leva é um teste para ver como se
saem. Esperamos que consigam superar o passado e
encontrar um futuro.
– E se não estiverem?
– Justice pensou em fazermos uma comunidade só de
mulheres para protegê-las.
– Pobres mulheres. – Ellie se aninhou mais em Fury e
olhou para a televisão. Fury gostava de assistir baseball e
o jogo começaria em breve – Queria poder fazer alguma
coisa para ajudá-las.
– Você vai pensar em algo.
– É, espero que sim.
O noticiário passou antes do jogo. Ellie se esticou e
olhou em choque para o repórter que abria o jornal com
a manchete da noite sobre as Novas Espécies.
Mostravam uma imagem de Fury carregando Ellie para
um carro. Ele parecia furioso na foto e Ellie parecia
sentir dor.
– Filho da puta – Fury rosnou. Ele se mexeu, se
esticando até o telefone.
– Fique quieto – Ellie ordenou – Quero ouvir isso.
– Como eles conseguiram uma foto daquilo?
– Não sei.
Os dois ouviram a história. Fury finalmente desligou a
televisão e se pôs em pé. Discava o telefone enquanto ia
a passos duros até a cozinha. Ellie o ouvia do outro
cômodo. Ela ficou sentada lá, tremendo.
Agora o público sabia sobre ela e Fury. O repórter
afirmara que ela e Fury eram o primeiro casal entre uma
Nova Espécie e um humano. Sugeriram que Ellie – os
nomes dos dois foram mencionados – fora ferida de
algum jeito. O repórter alegou que Fury devia tê-la
machucado.
Ela fechou os olhos e lutou contra lágrimas de raiva.
Pior, ela se sentia péssima por Fury. Por que as pessoas
achavam que ele a machucaria automaticamente apenas
por ser uma Nova Espécie? Eles sabiam até mesmo que
ele fora misturado a DNA canino; fora mencionado na
reportagem. Era óbvio que alguém dentro de Homeland
vazara aquela informação para a imprensa.
Ellie ainda tremia ao se levantar. Encontrou Fury
andando de um lado para o outro na cozinha, falando ao
telefone. Seus olhares se encontraram. Fury pausou,
furioso e pálido. Ellie foi direto até ele. Um dos braços
dele envolveu sua cintura e ele repousou o queixo em sua
cabeça.
Ellie apenas abraçava Fury até que ele terminasse a
ligação. Ele desligou o telefone e o bateu no balcão. O
outro braço dele passou em volta de sua cintura,
abraçando-a, enquanto esfregava suas costas.
– Justice entrou nisso. Ele precisa chamar uma
coletiva de imprensa, Ellie. Ele não tem escolha. Estavam
sugerindo que você estava sendo ferida. Precisamos do
apoio do público.
Ela balançou a cabeça contra o peito dele.
– Eu sei.
– Com certeza há um vazamento em algum lugar. Eles
sabiam que eu sou canino. Isso não é de conhecimento
público. Citaram nossos primeiros nomes.
Ellie se retraiu.
– Acha que foi a doutora Norbit? Odiaria pensar que
ela fez isso.
– Não sei, mas vamos descobrir. Odeio dizer isso,
mas aposto que foi ela ou alguém da força de segurança
humana. Eles também têm acesso aos nossos arquivos.
Alguém me informou de que o Tom apareceu na casa da
doutora. Os seguranças humanos o alertaram, e isso
significa que eles sabiam que algo acontecera.
Ellie se afastou dele para olhar para seu rosto.
– Sinto muito por eles terem deixado implícito que
você me feriu. São uns idiotas.
Um pouco da ira em seu rosto se suavizou.
– Não é sua culpa. As pessoas sempre acham o pior.
Caramba, meu próprio povo achou que eu fosse capaz
disso.
– O que fazemos agora?
Os lábios dele se contorceram e ele deu um sorriso
leve para ela.
– Veja pelo lado bom. Não temos mais que esconder
nosso relacionamento.
Ela deu um riso debochado.
– Pois é. Saiu no jornal. Acho que eu devia ligar para
minha família antes que eles fiquem sabendo e
enlouqueçam.
O sorriso dele se esvaeceu.
– E se eles não gostarem de você estar comigo? – os
olhos dele procuraram os dela – Você vai me deixar?
Ellie o abraçou mais forte.
– Nunca. Eu juro. Não ligo para o que eles pensam.
Ele não conseguia esconder o alívio.
– Eu verifiquei uma coisa.
– O quê?
Ele hesitou.
– Já disse que te amo?
O coração de Ellie se elevou.
– Não, não falou. Está me falando agora?
Os lábios dele se contorceram antes de falar e a alegria
piscou em seus olhos.
– Depende. Você me ama?
Ellie riu e fez que sim com a cabeça.
– Amo.
– Eu te amo, querida.
– Eu também te amo. – lágrimas a cegaram e ela
piscou para se livrar delas – Te amo há um tempo, mas
me segurei para não falar.
– Por quê?
Ela deu de ombros.
– Acho que estava sendo idiota. Caras humanos
tendem a se retrair um pouco quando uma mulher
declara que se apaixonou rapidamente.
As sobrancelhas dele se arquearam.
– Não sou um deles, não totalmente, e estou cheio de
alegria por você me amar. Nunca mais diga que você é
idiota. Você tem cautela porque já foi muito machucada
no passado. Isso nunca vai acontecer conosco porque
dessa vez você escolheu direito. – um sorriso curvou os
lábios dele, com uma faísca provocativa em seus lindos
olhos.
Ellie precisou combater as emoções para que não
tomassem conta. Ela riu com a piada dele. Ele me ama!
Mais lágrimas a cegaram e ela precisou contê-las. Para
ele não era apenas sexo, ele partilhava dos mesmos
sentimentos que ela. De repente, os problemas deles
pareciam irrelevantes. Ele me ama!
– Que bom. Te amo mais do que as palavras podem
expressar, e estou muito feliz por você me amar
também.
Fury riu.
– Verifiquei sobre casamento. – o sorriso dele sumiu –
Não há uma cláusula especial para nós, mas não é
exatamente contra a lei, já que não há nada que fale
sobre as Novas Espécies.
Casamento? Ellie o olhou em choque. Ela jamais
esperaria que Fury pensasse sobre aquele tipo de
compromisso, porém obviamente ele pensara. Ela queria
se casar com ele? Ela o fitou nos olhos. Ele se tornara
uma grande parte de sua alma desde aquele dia que a
assombrara, o dia em que o vira naquela cela estéril.
– Você quer falar sobre se casar? Mesmo?
– Você se importaria em casar comigo? Eu te amo e
quero ter um compromisso com você, Ellie. Esse é o
compromisso mais profundo que os humanos têm.
– Eu te amo ainda mais por isso.
Ele a levantou e carregou-a até a sala. Sentou-se no
sofá com ela no colo. Ela pôs os braços em volta dele e
os dois sorriram um para o outro.
– Você consideraria seriamente me dizer sim se eu a
pedisse em casamento num futuro próximo?
Ellie riu.
– Sim, mas você não deve me perguntar se eu
consideraria. Apenas peça.
– Eu pediria, mas ainda não pude comprar uma
aliança. – ele pegou na mão de Ellie em sua nuca. Levou-
a a seus lábios e pressionou um beijo na palma. Depois a
virou para estudar seus dedos – Não sei qual é o
tamanho do seu dedo, a não ser que as alianças sejam
todas pequenas.
– Meu tamanho é quatorze.
– Quatorze. – o olhar dele encontrou o dela enquanto
segurava sua mão – Vou pedir para o departamento legal
ver se podemos nos casar. Até agora tudo o que eles
descobriram é que não há nada nas leis, mas também
não há nada que seja contra nos casarmos. Somos o que
eles chamam de marco de referência. Parece até que
somos um imóvel.
Rindo, Ellie concordou com a cabeça.
– Sim, é meio que isso.
– Eles acham que isso não deve ser um problema.
Esperavam que ninguém descobrisse que você aceitou
ser minha esposa até depois de nos casarmos. Agora
tenho medo de que alguém pense nisso e proteste contra
nosso direito de fazê-lo.
– Acho que eles não podem. Você tem direitos, Fury.
Não podem dar às Novas Espécies o direito de viver
como cidadãos e depois dizer que vocês não têm os
mesmos direitos que outras pessoas. Seria errado
demais.
O telefone tocou, então Fury tirou Ellie do colo e
gentilmente colocou-a ao lado dele no sofá. Ele se
levantou e pegou o telefone. Ellie se encostou e tentou
relaxar. Podia ouvir a voz de Fury, mas não as palavras.
Ele quer casar comigo. Ela deu um sorrisinho.
– As ligações já começaram, Fury. – Justice xingou
em voz baixa – Acabei de falar com o presidente. Ele nos
apoia totalmente, mas senti uma preocupação em sua
voz. Assegurei-o de que as coisas estão bem e de que a
reportagem foi propositadamente cruel.
– Bom. Avisei nossas equipes e eles estão a postos
para ajudar as forças humanas nos portões, caso haja um
influxo de manifestantes. Estou esperando que isso
aconteça. Isso vai deixar aqueles doentes malucos,
achando que seu pior medo se tornou realidade: o de que
uma Nova Espécie vive oficialmente com uma mulher
humana. – Fury fez uma pausa – Me desculpe por esse
problema, mas eu não mudaria nada. Ela vale a pena para
mim, Justice.
– Você deixou isso claro e, como eu disse, estamos
felizes por vocês. Apoiamos vocês. – Justice pausou –
Sei que precisamos comunicar esse assunto à imprensa.
Eles estão imaginando o pior: que ela foi ferida por
abusos de um dos nossos. Precisamos esclarecer esse
assunto.
– Concordo, mas me recuso a colocar Ellie na frente
deles para responder a perguntas. Eles a atacarão
verbalmente e vão dizer-lhe coisas más que ferirão seus
sentimentos. Não permitirei. É meu trabalho protegê-la.
Precisamos deixar que os humanos lidem com sua
própria espécie. Estão recebendo para lidarem com a
imprensa. Deixe que façam isso.
– Também é seu trabalho proteger as Espécies e nossa
imagem. Pode ser que tenhamos que permitir que eles
vejam Ellie para que assegurem aos humanos de que ela
está bem. Precisamos do público ao nosso lado, Fury. A
última coisa de que precisamos é de mais humanos nos
odiando e aparecendo do lado de fora dos portões. O
presidente não poderá nos dar apoio se for apanhar de
todos por fazer isso.
– Posso fazer meu trabalho e Ellie é uma Nova
Espécie. Também devo protegê-la. Não arriscarei uma
coisa pela outra porque não será isso.
– Ótimo. Vou convocar uma reunião com Tom em
seguida e ele é o melhor relações públicas que temos. Ele
tem muito interesse na política e tem bastante
experiência em lidar com o público, nos dirá o melhor
jeito de lidarmos com isso. – Justice suspirou – Queria
que esses AntiNovas Espécies apenas fossem embora.
– Eu também, mas somos livres. Esse parece ser o
preço. Sabíamos desde o começo que não seria fácil.
Vamos superar isso. Nossas equipes de segurança estão
preparadas para o pior e você vai lidar com os humanos.
Você faz isso muito melhor do que eu. – Fury deixou
escapar uma risada – Hoje não tenho inveja do seu
trabalho.
– Tem algum jeito de você permitir que a imprensa
tenha acesso à Ellie?
– Não. Ela está esperando que eu termine essa ligação
para que eu vá até ela. Está preocupada, preciso acalmá-
la.
– Por acaso você acabou de dizer que precisa acalmá-
la? – Justice gargalhou.
Um lampejo de irritação percorreu Fury.
– O quê? Ela fica chateada e não aguento vê-la daquele
jeito.
– Acalmar?
– Passo minhas mãos por ela. – Fury riu – Eu a
distraio e, como seu parceiro, é meu dever ocupar a
cabeça dela com coisas mais agradáveis. Você vai
mesmo debochar de mim por isso? Se houvesse uma
mulher esperando por você, iria querer acalmá-la
também.
– Vá lá. Agora estou com inveja de você. Não tenho
ninguém esperando por mim. – Justice desligou.
– Justice vai dar uma coletiva de imprensa amanhã.
Ele decidiu que não temos que falar com eles a não ser
que a gente queira. Disse a ele que não vamos. – Fury
disse isso ao sair da cozinha sem o telefone.
Ellie ergueu uma sobrancelha.
– Você podia ter me perguntado.
Os olhos negros se estreitaram.
– Não vou expor você e deixar que humanos digam
coisas que irão magoá-la.
– Não fique bravo. Eu mesma estou tentando não ficar
zangada. Mas você precisa me perguntar as coisas. É a
coisa certa a se fazer.
Fury rosnou.
– Eu tenho que protegê-la
Ellie suspirou. Ela o amava. Ele era naturalmente
dominador, era algo de sua natureza, e queria protegê-la.
Ela podia ou combater tudo o que ele fizesse ou apenas
aceitar que ele tendia a esse comportamento. Sabia que
ele a amava tão profundamente quanto ela o amava. Ela
fez que sim com a cabeça e a ira dele se suavizou.
– Só quero dar proteção a você.
– Eu sei, Fury. Eu apenas gosto de ser consultada,
está bem?
– Vou tentar. Quer que eu ligue de volta para Justice e
diga a ele que estaremos lá para os repórteres nos
fazerem perguntas?
– Você faria isso por mim? Iria comigo se eu
quisesse?
Ele se sentou ao lado dela.
– Se você for, eu vou.
Ela o amava ainda mais por dizer aquilo.
– Não ligue de volta para ele. Não quero estar lá de
jeito nenhum.
– Mulheres… – Fury rosnou, mas sorriu.
Ellie se inclinou na direção dele e delicadamente roçou
um beijo em seus lábios antes de se afastar.
– Acostume-se se quer casar com uma.
– Eu quero.
O telefone tocou outra vez. Fury xingou.
– Droga, isso não vai parar.
Ellie concordou em silêncio.
– Acho que devia ligar para a minha família do meu
celular, enquanto você atende. Seria grosseiro não alertá-
los antes de eles verem isso no noticiário.
O olhar de Fury se enegreceu.
– Não ligo se eles não estão felizes sobre nós. Você é
minha vida agora, Fury. Você é tudo que importa. Mas
devo ligar para eles para que escutem isso de mim.
– Talvez eu deva apenas arrancar os telefones das
paredes.
Ellie ficou tentada a deixá-lo fazer aquilo, mas a
realidade se colocou.
– Então eles viriam até a porta.
– Bem pensado.
CAPÍTULO DEZESSEIS
– Mil perdões por fazer vocês virem até aqui. – o
diretor Tom Quish parecia sincero ao olhar para Ellie e
Fury. – Justice está furioso comigo, mas tenho mais
experiência em lidar com a imprensa e o público do que
ele. A maioria das pessoas adora um bom romance, e
precisamos delas do nosso lado. Eles querem vê-los
juntos, o que vai detonar os boatos malvados que andam
circulando pelos tabloides.
– Queremos saber, que boatos são esses? – Fury
arqueou a sobrancelha.
Tom negou.
– Não exatamente, a não ser que você esteja mesmo
mantendo Ellie presa em uma casinha de cachorro e em
uma coleira para se vingar pelo que os humanos fizeram
com você. É uma merda desse tipo.
Ellie virou a cabeça para sorrir para Fury.
– Isso parece meio depravado.
Ele riu.
– Talvez eu construa uma casinha de cachorro.
– É disso que preciso – Tom os encorajou – Vocês
estão lidando muito bem com isso.
Fury balançou os ombros.
– Fiquei bravo, mas Ellie me disse que isso só piora
tudo. Ela chorou quando jurei que mataria todos eles.
O sorriso de Tom sumiu na mesma hora. Seus olhos
se arregalaram de pavor.
Ellie deu uma risadinha.
– Ele está brincando.
– Graças a Deus. – Tom sorriu de novo.
– Eu não chorei quando ele disse isso. Eu disse que
não gosto de ver sangue.
Fury riu. Ellie piscou para ele. Tom resmungou.
– Vocês vão me matar lá se agirem assim. As pessoas
não saberão o que pensar de vocês. Espero que tenha
sido uma piada.
– Eles acham que sou um animal selvagem que está
forçando Ellie a ser escrava sexual. – Fury cerrou os
dentes – Estou errado?
– Acalme-se. – Ellie chegou mais perto dele e tocou
em seu peito para acariciá-lo com a mão – A raiva não é
nossa amiga. Lembra da nossa conversa hoje de manhã?
Sei como você está bravo, mas é isso o que eles querem
ver. Você precisa manter o controle. Ria deles. Se for
acusado de alguma merda dessas por um repórter,
apenas pense nisso. – ela se aproximou mais – Eu
adoraria ser sua escrava sexual qualquer dia.
Fury deu um sorriso largo que mostrou seus dentes
caninos.
– Isso não vai me impedir de ficar bravo. Vai me fazer
querer levar você para casa.
– Uma hora, Fury. É só durante esse tempo que você
terá que ficar frio. Você consegue se controlar, precisa
fazer isso! – Ellie o assegurou – Você pode berrar mais
tarde e ficar zangado, se as coisas ficarem feias lá.
Ele segurou o rosto dela.
– Prometo que vou tentar, Ellie. Faria qualquer coisa
por você.
– Obrigada.
– Mas se eles a insultarem, posso ficar bravo. Você
sabe que meu pavio é curto quando alguém te faz mal ou
diz coisas ruins sobre você.
Ellie deu um gemido.
– Eles vão me insultar, tenho certeza. Posso lidar com
isso, portanto fique calmo.
– Que tipo de homem eu seria se ficasse lá sentado
enquanto falam coisas ruins sobre você?
– Um homem esperto – Tom exclamou – O mundo
estará vendo isso, Fury. Vocês dois são uma notícia e
tanto no mundo todo. Vocês não têm ideia da cobertura
que haverá lá. Se vocês encantarem a imprensa, vão
adorar vocês. Vão apoiá-los totalmente sobre seu
relacionamento. Se as coisas não forem bem, problemas
surgirão. Precisamos muito do dinheiro que recebemos,
Fury. Pense em todas as Novas Espécies e mesmo na
Ellie. O que aconteceria se o apoio pulasse fora e os
fundos que mantêm Homeland funcionando parassem de
entrar? Ela fecharia, e então para onde iriam todos?
Nossa equipe jurídica está trabalhando duro naquelas
ações judiciais para manter o dinheiro entrando, mas me
asseguraram de que não vai durar muito antes de as
Indústrias Mercile pagarem pelo que fizeram.
– Está bem – Fury suspirou – Eu entendo. Vou me
sentar lá e ficar calmo, não importa o quanto eu queira
machucar alguém.
– Obrigado. – Tom suspirou. Ele lançou um olhar
sinistro a Ellie e cruzou os dedos. O homem andou em
volta da mesa e colocou o casaco – Vamos lá.
Fury pegou a mão de Ellie. Ela tentava lutar contra o
nervosismo. Nunca tivera que falar na frente de um
monte de câmeras e repórteres. Por razões de segurança,
a coletiva de imprensa seria realizada na frente do portão
principal, pois assim todos ficariam fora de Homeland,
mas perto dos muros de segurança para ajudar a
controlar a área.
– Estou aqui – Fury a confortou – Não vou deixar que
ninguém faça mal a você.
Ellie esboçou um sorriso fraco.
– Simplesmente odeio estar no meio de um monte de
gente, mas vou ficar bem com você ao meu lado.
Fury apertou sua mão e a puxou mais para perto
quando saíram pelos portões. Ellie percebeu na mesma
hora que aquilo se tornara um circo midiático das piores
proporções. Flashes de câmeras os cegavam enquanto se
aproximavam da área destinada a eles.
Justice e Tom andavam à frente de Ellie e Fury. Ele
soltou a mão dela e passou o braço em volta de sua
cintura. O corpo dele a protegia daquele monte de
câmeras. A imprensa gritava perguntas que eles
ignoravam de propósito, já que Tom os havia preparado
bem.
Ellie se sentou entre Fury e Trisha Norbit. Ellie ficou
grata por estar ao lado da mulher. Trisha apertou sua
mão debaixo da mesa e lançou-lhe um sorriso corajoso.
Ellie apertou a mão de Fury. A outra mão dele cobriu a
dela, segurando-as com as duas. Ele esfregou a pele dela
delicadamente para confortá-la. Tom se levantou e tentou
silenciar a imprensa. Boa sorte, pensou Ellie. Uma
gritaria de louco irrompeu.
Tom conseguiu silenciar a multidão depois de alguns
minutos. Ellie ouvia enquanto Tom falava à imprensa.
– Os boatos que circulam sobre Fury ferir Ellie
Brower não são verdadeiros. – sua voz soava de forma
clara – Eles são um casal vivendo junto dentro de
Homeland. O vídeo que vocês viram na televisão era de
algo que aconteceu depois de Ellie sofrer um pequeno
acidente. Ela foi tratada por nossa médica. Esta é a
doutora Trisha Norbit, que irá confirmar isso a vocês.
Trisha se inclinou em direção ao microfone, se
apresentou e imediatamente os repórteres gritaram uma
enxurrada de perguntas. Ela precisou esperar todos se
calarem para poder falar.
– É claro que os boatos não são verdadeiros. – Trisha
balançou a cabeça e parecia zangada ao olhar para os
repórteres – Foi um pequeno acidente enquanto Ellie
limpava a cozinha. – mentiu ela – Ela bateu a cabeça na
quina da ilha da cozinha quando se levantou depois de
varrer o chão. Ela deu uma pancada na cabeça. O senhor
Fury nem estava em casa na hora do incidente, ele
chegou e encontrou Ellie. Tudo o que vocês viram foi ele
carregando Ellie para o carro depois de eu ter tratado
dela. Foi simples assim.
– Senhorita Brower – um dos repórteres se levantou –
Isso é verdade?
Ellie forçou um sorriso e tentou acalmar os
inconstantes batimentos cardíacos, provocados por ela
ser o centro das atenções.
– Infelizmente. Acredite em mim. – Apenas sorria e
minta, ela disse a si mesma. Eu posso fazer isso. –
Imagine como estou envergonhada. Bati minha cabeça e
isso está no noticiário das onze.
– Você e o senhor Fury estão fazendo sexo? – mais
alguém se levantou e perguntou.
Ellie hesitou. – Você está fazendo sexo? Essa é uma
pergunta meio pessoal, não? – Não estou. – o repórter
sorriu – Mas faria se estivesse namorando alguém.
Vamos lá, senhorita Brower. Você e o senhor Fury estão
fazendo sexo?
Ellie apertou a mão de Fury para assegurá-lo de que
estava bem quando ele ficou tenso.
– Minha vida sexual não é objeto de discussão pública,
mas digo que eu e Fury estamos morando juntos, como
Tom informou, e estamos envolvidos em um
relacionamento sério.
O homem balançou a cabeça e se sentou. Outro
homem surgiu.
– Senhor Fury, o senhor morde a senhorita Brower?
Ouvimos rumores de que há mordidas durante o sexo.
A pegada de Fury na mão dela ficou tão intensa, que
ela precisou se conter para não se encolher. Ellie usou o
dedão para esfregar as costas da mão dele. Fury relaxou
e negou.
– Eu jamais machucaria Ellie. – de repente ele elevou o
lábio superior para mostrar rapidamente seus dentes – Eu
a machucaria se a mordesse.
Perguntas começaram a chover. Ellie se segurava para
não gargalhar do absurdo que algumas delas eram. Tom
gritou, pedindo ordem. Ele repetiu as instruções sobre
uma pergunta de cada vez, ou então a entrevista
terminaria. O silêncio reinou novamente e outra pessoa
se levantou.
– Como vocês se beijam com os dentes afiados dele?
Fury abriu a boca. Ellie o cutucou com o ombro e
respondeu.
– Como se beija alguém que tem os dentes para a
frente? Ou alguém dentuço? Ou alguém que não tem um
dente? Você simplesmente beija. Essa é uma pergunta
tola.
– Então vocês realmente se beijam?
– É claro que eu o beijo. Olhe para ele. – Ellie virou a
cabeça e sorriu para Fury. Ela olhou de volta para o
repórter – Dentes não são um problema.
Em seguida, uma outra repórter se levantou.
– Como você se sente sabendo que está com um
homem com quem não poderá ter filhos?
– Doutora Norbit – gritou um repórter sem esperar a
vez –, você está fazendo pesquisas com eles?
– Não – Trisha negou – Eles são pessoas, não ratos de
laboratório.
– Como se sente em estar com alguém com quem
talvez nunca possa ter filhos, Ellie?
Ellie fitou a repórter que perguntara novamente sobre
filhos. Ela hesitou.
– Nunca há uma garantia, não importa com quem
você esteja, de que possa ter filhos. Há vários casais que
estão juntos e descobrem que, por sei lá que motivo, não
podem tê-los. É por isso que há barrigas de aluguel,
bancos de esperma e adoções disponíveis para esses
casais. Não acho que uma pessoa conheça alguém e
decida se gosta dela ou não com base no quão bem o
sistema reprodutivo dela funciona e em quantas crianças
pode conseguir daquela pessoa. Isso é insensato e
estúpido. Não estou nem um pouco preocupada com
isso, nem mesmo penso a respeito.
A repórter se sentou. O próximo apareceu, e assim
foi. Ellie tentava se manter calma. A maioria fazia
perguntas idiotas. Queria saber se Fury ajudava nas
tarefas domésticas e se Ellie o tratava como se ele fosse
uma pessoa normal. Fury manteve a cabeça fria, riu de
várias perguntas e nenhuma vez perdeu o controle. Ellie
o observava, muito orgulhosa de como ele estava lidando
com tudo. Ele sabia ser charmoso quando queria. Ele
encontrou o olhar dela e sorriu de volta.
– Ellie? – um homem lá atrás gritou de repente.
Ellie virou a cabeça, tentando ver onde ele estava.
– Sim?
– Como é trair sua própria raça deixando que um
animal a coma?
O choque percorreu Ellie com aquele repentino ataque
verbal. Ela encontrou o cretino que fizera aquela
pergunta, um homem magro, alto e vestindo um terno de
negócios que, de repente, empurrou as pessoas na frente
dele, exibindo uma arma nas mãos. Gritos irromperam e
tiros explodiram. Ellie congelou, apavorada, antes de
alguém jogá-la no chão, e algo pesado se estatelou em
cima dela.
Os olhos de Ellie se abriram. Fury estava esparramado
em cima dela, cobrindo o corpo dela com o dele. Tiros
continuavam a soar junto de gritos de pânico e berros da
multidão. Fury engatinhou para cobri-la melhor,
contorcendo o corpo para se colocar entre ela e a fonte
do ataque.
Os braços dele se enfiaram debaixo dela e ele a
levantou, empurrou os joelhos dela para junto do peito,
forçando-a a se fechar nos braços dele, e se levantou,
cambaleando. Ele correu para os portões com Ellie firme
em seus braços, curvando-se sobre ela, ainda protegendo
o corpo dela com o dele.
Fury estremeceu fortemente, sua pegada se afrouxou,
e então ficou firme de novo. Ele continuava se movendo
e gritando palavras que ela não entendia. Ellie estava
chocada demais para entendê-lo e não conseguia
respirar. Ele a esmagava em seus braços e os joelhos e as
pernas dela estavam empurrados contra o próprio peito,
comprimindo os pulmões. O impacto que o corpo dele
fazia enquanto corria também não ajudava. Ellie não
conseguia enxergar muito com ele a cobrindo e com a
força com que ele a segurava.
Ela sabia que o portão estava livre, viu uma parte do
muro passar por eles no mesmo momento em que Fury
caiu de joelhos. Ele gemeu alto, mas de alguma forma
ainda a mantinha segura em seus braços. E, então, sua
pegada se soltou. Ellie se mexeu nos braços dele,
levantou a cabeça e viu a dor desfigurar as lindas feições
dele.
– Fury?
Ele a moveu e colocou-a no chão, na frente dele. Ela o
olhou e viu seus olhos rolarem para dentro. Ele apenas se
contorcia, esmagando a grama ao lado dela. Ellie
ignorava os berros, os gritos e todos os outros sons em
volta. Ela engatinhou agitadamente para se aninhar na
figura imóvel dele. Foi então que ela viu o sangue.
– FURY! – ela gritava. Suas mãos se esticaram
freneticamente à lateral dele, por onde a viscosidade
vermelha se espalhava. Sua mente apavorada e em
pânico entendeu que ele fora atingido. Ela pressionou as
duas mãos contra o ferimento, tentando estancar o
sangramento. Seu olhar horrorizado se fixou no rosto de
Fury. Ele respirava, mas estava inconsciente.
– Alguém me ajude! – Ellie gritou.
Trisha Norbit de repente se ajoelhou do outro lado do
corpo de Fury. A médica empurrou as mãos de Ellie para
longe e arrancou a camisa de Fury para ver o ferimento.
Ellie ignorava as mãos, cobertas com o sangue de Fury.
Ela se aproximou do rosto dele enquanto a médica e
algumas outras pessoas começavam a trabalhar por ele.
Ellie estremeceu.
– Fury? – ela tocou a face dele, sem se importar se os
dedos que esfregavam a pele dele estavam
ensanguentados. Lágrimas se derramavam em seu rosto
– Fury? Por favor, acorde. – sua voz sumiu com um
soluço.
– Tragam um kit de primeiros socorros – Trisha
exigiu, num tom bem alto – Agora!
Ele não se mexeu. Ellie olhava de forma agitada para a
médica.
– Trisha? Ele vai ficar bem?
A médica encontrou os olhos de Ellie e depois virou a
cabeça.
– Precisamos levá-lo ao hospital imediatamente. Ligue
para o centro de traumas e diga que precisamos que uma
sala de operações seja preparada e… – ela soltou um
palavrão – Justice? Preciso que alguns caninos do seu
povo venham comigo. Ele vai precisar de sangue e
espero que um deles seja compatível.
Justice estava atrás de Ellie e pegou o celular.
– Vou chamar todos.
– Trisha? – Ellie ainda tremia.
Trisha a encarou, com uma expressão soturna.
– Ele levou dois tiros, Ellie. É muito grave. Prometo
que vou fazer tudo o que puder para salvá-lo.
Ellie desmoronou totalmente naquele instante. Ela sabia
que ele não sobreviveria. Ela vira todo o sangue
ensopando suas mãos, as roupas dele e as mãos de
Trisha. Ela acariciou o rosto dele e sussurrou seu nome.
Alguém a pegou por trás e jogou-a para longe do homem
que amava. Ela lutou contra quem a segurava, gritando o
nome de Fury, mas ele não se moveu. O homem que a
segurava a pegou com mais força e se virou.
– Precisam cuidar dele, Ellie. Vou te encaminhar para
onde ele será levado. Você precisa se acalmar – o
homem gritou na orelha dela – Isso não vai ajudá-lo.
Ellie soluçou. Ela parou de gritar e de lutar, admitindo
a inutilidade daquilo. Slade a segurava, e era tão grande
quanto Fury. Os pés dela não estavam nem mesmo
tocando o chão. Ele continuou segurando-a, dizendo
coisas tranquilizantes em seu ouvido, enquanto Ellie
observava a médica e a equipe da emergência cuidando
de Fury, tentando estabilizá-lo. Alguém trouxe uma maca
e eles rapidamente o colocaram nela. Ela olhou para cima
ao ouvir um helicóptero circulando.
Slade se virou com ela. Continuava segurando-a firme,
caso ela ainda quisesse sair correndo atrás de Fury, e
deu passos largos em direção ao estacionamento. Ele
colocou-a gentilmente no banco de trás de uma das
SUVs ao chegar lá e pegou o rádio.
– Caninos, me encontrem no estacionamento.
Estamos prontos para ir. Ellie está segura comigo.
Slade se pôs atrás do volante, se virou no assento e
estudou Ellie. Ela chorava, enrolada como uma bola no
banco de trás, mas ouvira o suficiente pelo rádio do
carro para montar as peças do que acontecera. Slade
também estava atordoado com tudo aquilo, o que era
óbvio pela sua expressão sombria e pelo olhar dolorido
que ele tinha enquanto se olhavam.
– Eu estava patrulhando os muros quando aconteceu.
Havia três atiradores. Apaguei um deles, mas não
conseguiria fazer o mesmo com os outros dois sem
correr o risco de atingir inocentes. Me desculpe por não
ter conseguido apagar todos antes de atirarem nele. – sua
voz áspera pausou – Fury vai ficar bem. – Slade
prometeu com uma voz firme – Somos mais fortes que
os humanos e nos curamos mais rápido. Aguentamos
mais coisas.
Ellie enxugou as lágrimas.
– Não posso perdê-lo.
Slade balançou a cabeça.
– Você não vai.
Homens abriram as portas e entraram na SUV. Ellie
notou que estavam armados até os dentes, com armas
presas dos calcanhares ao peito em seus enormes
corpos. Eles também eram caninos, a julgar pelo formato
de seus olhos solenes. Slade ligou o motor e saiu da
vaga. Ele acelerou e dirigiu-se ao portão. Aumentou o
volume do rádio para ouvir melhor sem o barulho do
motor.
– Liberem o caminho. Estamos chegando lá.
Ele nem mesmo desacelerou ao chegarem aos portões
abertos. A área fora evacuada da multidão, que
normalmente estava presente ali. Tiros e derramamento
de sangue haviam dispersado os manifestantes e os
repórteres.