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F URY

Universo dos Livros Editora Ltda.


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LAURANN DOHNER

NOVAS ESPÉCIES
F URY
Fury / New Species
Copyright © 2011 by Laurann Dohner

© 2014 by Universo dos Livros


Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610
de 19/02/1998.
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sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos,
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Diretor editorial: Luis Matos


Editora-chefe: Marcia Batista
Assistentes editoriais: Aline Graça, Letícia Nakamura
e Rodolfo Santana
Tradução: Flora Manzione
Preparação: Cecília Berlim
Revisão: Geisa Oliveira e Viviane Zeppelini
Arte: Francine C. Silva e Valdinei Gomes
Capa: Rebecca Barboza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
(CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057

D677f
Dohner, Laurann
Fury / Laurann Dohner ; tradução de Flora
Manzione. – São Paulo : Universo dos
Livros, 2015.
368 p. (Novas espécies, v. 1)
ISBN: 978-85-7930-778-2
Título original: Fury
1. Literatura americana 2. Romance
Erótico I. Título II. Manzione, Flora

15-0106 CDD 813.6

Este livro contém cenas de sexo, violência e


linguagem adulta.
PRÓLOGO
– Merda – murmurou Ellie, observando o homem
preso contra a parede na sala ao lado. Aquilo a deprimia
toda vez que ela se esgueirava para dentro da sala de
observação, mas não conseguia se manter longe.
Ela sabia que o homem não podia vê-la através do
espelho falso, mas ainda assim ele parecia estar olhando-
a diretamente. O olhar de Ellie deslizava por seu peito nu
e pelos músculos tensionados de seu físico bem
construído. Seus grandes bíceps inchavam quando ele
puxava as correntes, a raiva evidente em suas feições ao
lutar contra elas.
Piedade e compaixão faziam-na lamentar por ele, cuja
determinação se mostrava mesmo que sua liberdade e
dignidade lhe tivessem sido tiradas. O preso sabia da
inutilidade de suas ações, mas ainda assim lutava. A mão
dela se moveu para tocar a moldura de madeira abaixo
do espelho. Ela desejava poder acalmá-lo, mostrando a
ele que havia alguém que se importava. Acima de tudo,
queria tirá-lo daquela prisão infernal que o continha. Ele
merecia ser livre.
Um movimento no canto da sala desviou sua atenção
para longe do homem que assombrava seus pensamentos
dia e noite. O medo acelerou seu coração quando um
técnico adentrou a sala. Jacob Alter certamente era um
dos monstros mais frios e insensíveis que trabalhava
para as Indústrias Mercile. Na verdade, aquele filho da
mãe sentia prazer em infligir dor nas cobaias, e ele se
dirigia àquela com especial crueldade. Um mês antes, o
grande homem acorrentado contra a parede havia
quebrado o nariz de Jacob quando este chegara
demasiadamente perto de seu cotovelo. Ellie sabia que
aquilo havia sido merecido. O hematoma ainda
sombreava o rosto de Jacob quando ele deu um sorriso
maléfico para sua vítima. Ele pretendia aplicar mais
testes dolorosos nela.
– Olá, 416 – Jacob deu uma risadinha, um som
desagradável – Soube que você irritou o doutor Trent.
Você sabe o que isso significa, não sabe? – Jacob
colocou uma mala marrom, do tamanho de uma sacola
de boliche, em cima da mesa de exames que havia no
canto, provocando um baque alto – Significa que eu vou
poder fazer uma coisa que quero há muito tempo. Hoje
você vai sofrer. – ele olhou para a câmera de segurança
no canto e, com a mão, fez um gesto de quem cortava o
pescoço.
– Merda, merda, merda – entoava Ellie suavemente,
enquanto o pânico tomava conta. Ela havia ouvido falar
sobre detentos que eram torturados quando deixavam
um dos médicos bravo. Jacob obviamente não queria
registrar o que quer que fosse de horrível que havia
planejado para o 416. Certamente era algo muito ruim.
Jacob inclinou a cabeça, continuou olhando para o
canto e, então, sorriu antes de se virar e encarar o 416.
– Agora a câmera está desligada, nada disso está
sendo registrado. O que o doutor Trent não sabe é que
você vai sofrer um terrível acidente, sua aberração. Você
não devia ter me sacaneado. Avisei que ia acabar com
você. – ele pegou a mala que havia levado para a sala –
Ninguém quebra meu nariz e continua vivo. Eu sabia que
era só uma questão de tempo até você ser castigado. Só
estava esperando por uma oportunidade. – ele pegou
uma seringa dentro da mala – Você vai morrer, seu
desgraçado!
Isso não pode estar acontecendo, pensou Ellie. Ela não
havia passado por todo aquele pesadelo que sua vida se
tornara nos últimos dois meses para perder o 416 agora.
Vivera com medo constante de descobrirem que era uma
espiã, mas testemunhar a contínua resistência de 416 lhe
dera forças para continuar. Por ele, Ellie correra riscos
para coletar evidências suficientes para libertar a ele e a
outros prisioneiros.
Na verdade, ela esperava que os seguranças fossem
atrás dela a qualquer momento. Ellie havia entrado em
um estado tão frenético para colher provas do que
acontecera no local de pesquisa, que chegou a fazer uma
artimanha insana meia hora antes: roubara um dos
distintivos de médico para conseguir entrar em seu
escritório e baixar arquivos do computador. Se a
segurança visse as fitas de vigilância, ela seria pega. Eles
a prenderiam imediatamente e seu Destiny seria tão
sinistro quanto o do 416. Ambos estariam mortos no fim
do dia.
Ela oscilava entre fazer algo incrivelmente estúpido
para salvá-lo ou seguir as ordens de seu verdadeiro chefe
para que nunca interferisse. Ellie enfim obtivera
evidências danosas para possivelmente libertar as
cobaias. Tinha a oportunidade de contrabandear algo no
fim de seu turno se apenas mantivesse a cabeça baixa, a
boca fechada e não chamasse a atenção de ninguém.
Isso significava nada fazer enquanto Jacob assassinava o
homem preso à parede.
Seu olhar se fixou no 416. De todos os prisioneiros,
era ele quem mais desejava libertar. Aquele prisioneiro a
havia mantido acordada por noites desde que ela fora
transferida para as Indústrias Mercile, um centro de
pesquisas de drogas ilegais. 416 se tornara a última
imagem que ela via toda noite antes de cair no sono.
Admitia que, às vezes, ele era até mesmo a figura central
em seus sonhos. Sua decisão se fez rapidamente. Seria
inaceitável apenas assistir a tudo aquilo, seu coração
ficaria destroçado. Ela não conseguiria viver se nem ao
menos tentasse salvá-lo.
– Dessa vez você não vai poder me enfrentar. Você
estará indefeso. Quero que saiba que você vai morrer. –
a voz de Jacob se tornava áspera – Mas não antes de eu
te ferir, seu animal.
Ellie se virou, sem plano nenhum em mente, mas
desesperada para salvar o 416. Deixou a sala, forçou-se
a desacelerar quando pisou no corredor, ciente de que ali
havia câmeras de segurança, e parou na sala de
suprimentos para pegar um kit de testes. Seria suspeito
se ela entrasse na cela sem um motivo válido. Puxou de
um armário um recipiente plástico do tamanho de uma
caixa e tentou não parecer tão agitada quando voltou
para o corredor, porém sabia que precisava se apressar
em direção à cela do 416 antes que Jacob fizesse algo
horrível.
– Ellie!
Ela congelou, seus olhos se arregalaram, e então
virou-se lentamente. Doutor Brennor, um homem alto e
ruivo, saiu de uma das salas, segurando uma tabela.
– Sim?
– Você pegou a amostra da boca do 321?
– Peguei. – ela continuou parada apesar de querer se
virar e sair correndo.
– Bom. Deixou-a no laboratório?
– Claro.
Com a mão que estava livre, esfregou a nuca.
– Dia longo, não? Já não queria que fosse o fim de
semana? Eu queria.
Cale a boca, ela ordenou silenciosamente, para que eu
possa ir. Ela balançou os ombros.
– Gosto do trabalho. Por falar nisso, preciso retirar
uma amostra de sangue. É uma ordem imediata.
– Sim, claro. – seu olhar deslizou pelo corpo dela –
Quer jantar comigo amanhã?
Por um momento, ela ficou pasma com o convite.
– Tenho namorado. – ela mentiu facilmente. A ideia de
sair com alguém que trabalhava para Mercile a enojava –
Mas obrigada por convidar.
Ele apertou os lábios e o olhar amigável esfriou em
seus olhos verdes.
– Entendo. Tudo bem. Pode ir. Preciso atualizar uns
relatórios. – ele se virou na direção oposta e saiu a
passos largos – Faço muita papelada. – ele resmungou,
antes de fazer uma curva e desaparecer.
Há câmeras me observando, lembrou Ellie, resistindo à
urgência de sair correndo. Ela foi caminhando
calmamente até a cela do 416, como se não estivesse
preocupada. Pelo menos, era a impressão que esperava
passar.
Deus, orou silenciosamente, deixe-me alcançá-lo a
tempo! Seus dedos tremiam enquanto ela batia nas teclas
da fechadura eletrônica. A porta fez um barulho ao
reconhecer os números e as barras de aço emitiram um
som característico ao se abrirem, permitindo que ela
abrisse a porta. Ellie rapidamente adentrou a sala.
Forçou um sorriso.
– Estou aqui para colher uma amostra de sangue.
A porta se fechou automaticamente atrás dela, os
pinos da tranca se cerraram, deixando-a trancada na
cela, e um barulhinho rápido e agudo fez-se para
enfatizar o fato. Ela olhou para aquela cena e se espantou
com o puro horror que testemunhou.
416 não estava mais acorrentado à parede mas,
esticado sobre o chão gelado de concreto, de bruços. As
correntes nos seus pulsos haviam sido presas ao pinos
cimentados no chão, forçando seus braços acima da
cabeça, enquanto suas pernas se encontravam algemadas
à parede. Jacob havia tirado a calça do preso, e ela agora
formava um emaranhado branco no chão. Ele estava de
joelhos entre as coxas do 416 que, pela forma como fora
amarrado, haviam sido afastadas à força.
Em segundos, ela entendeu a coisa horrível que havia
interrompido. Jacob se sentou nos calcanhares, imóvel,
também chocado com a aparição repentina de Ellie, mas
se recobrou mais rápido do que ela. O homem largou no
chão de concreto o instrumento de tortura, que parecia
ser o cassetete de um dos guardas, e tentou se levantar.
Pegou em sua calça aberta, tentando fechá-la e xingou.
Ellie reagiu.
– Seu doente desgraçado!
A mulher se pôs em ação sem pensar, com a caixa de
plástico duro tão firme em sua mão que até machucava,
e a balançou com toda a força que conseguiu juntar. A
caixa afundou no rosto de Jacob. Ele cambaleou, deu um
grito, e Ellie não parou quando o homem caiu no chão.
Jogou-se em cima dele, montou sobre sua barriga, seu
corpo segurando o dele, e pegou a caixa com as duas
mãos. Raiva pura a levou a espancá-lo com o objeto.
Jacob tentou proteger o rosto após alguns golpes, mas
suas mãos caíram no chão.
– Seu monstro – ela ofegava. Bateu nele de novo, e
daí percebeu como o rosto dele estava ensanguentado.
Ela parou, com o corpo inteiro tremendo, e olhou com
horror para o técnico.
O olhar de Ellie se distanciou do nariz e da boca
esmagados e pousou no kit. O lado que ela havia usado
para golpeá-lo repetidamente estava ensopado de sangue.
Em choque, ela o largou no chão e saiu de cima do
homem abatido. O peito dele não se mexia.
– Meu Deus – ela arfava. Pôs a mão na garganta dele,
um gemido rasgou seus lábios, e ela tentou encontrar
pulso. Não havia – Meu Deus, meu Deus, meu Deus –
entoava, certa de que o havia matado.
Ela se virou e olhou para o 416, ao lembrar-se dele. O
prisioneiro a encarava com os olhos abertos, seu rosto
contra o concreto, e piscou. Ele vira o que Ellie havia
feito. Ela olhou rapidamente para as próprias mãos, que
tremiam.
Acabei de matar Jacob. Seu olhar se voltou à visão
terrível do monstro que ela atacara em um acesso de
pura raiva. Ele mereceu. Ela tentava aliviar sua mente
apavorada. Pense. Eles virão aqui e o encontrarão. Vão
saber que o matei. Vão me arrastar daqui, me torturar
para descobrir por que interferi e vão me matar. A
evidência jamais chegará ao meu chefe. Droga, Ellie,
pense!
Ela olhou para a câmera à procura de algo.
Normalmente havia uma luz vermelha que piscava, mas
não naquela. Não estava ligada. O guarda havia seguido
as instruções de Jacob. Ninguém, a não ser o 416,
testemunhara o acontecido. Ela não fazia ideia de quanto
tempo aquelas câmeras permaneceriam desligadas, mas
presumia que ficariam assim até que Jacob ordenasse
que voltassem a monitorar o prisioneiro. Ela engoliu seco
e se pôs de joelhos. Toda a sua atenção se voltou ao
homem que a observava atentamente, desamparado no
chão.
– Vai ficar tudo bem – ela murmurou para ele.
As cobaias eram perigosas. Ela fora avisada de que, às
vezes, as correntes que as prendiam quebravam. De
alguma forma, as Indústrias Mercile haviam, ilegalmente,
modificado seres humanos com genética animal,
deixando-os mais fortes que humanos normais, e até
mesmo suas aparências haviam mudado. Assistentes do
centro de testes e alguns médicos foram mortos por
pessoas que eles ajudaram a criar. Ellie havia
comemorado esses fatos silenciosamente; ela odiava
todos que trabalhavam naquele centro secreto fazendo
testes ilegais. As Indústrias Mercile eram uma empresa
de pesquisa e desenvolvimento de drogas que faria
qualquer coisa por dinheiro.
Ellie observava o 416 com cautela, enquanto permitia
que seu olhar deslizasse pelo corpo nu. A respiração dele
fazia as costas se elevarem e descerem mas, além de
piscar, ele não se mexia. Ela notou uma marca vermelha
em seu lado. Como os braços dele estavam esticados
acima da cabeça, ela podia vê-la com nitidez. Ellie
hesitou. Ele poderia matá-la se quebrasse uma corrente.
Vale a pena salvá-lo. Ela repetiu aquela entoação
silenciosa algumas vezes enquanto se preparava para se
aproximar de seu corpo abatido. Ela já havia decidido
arriscar a vida quando aceitou trabalhar disfarçada,
entendendo a real possibilidade de que poderia não
sobreviver. Muitas vidas se perderam em nome da
ciência. Essa empresa só se importava com o dinheiro e
precisava ser detida.
– Não vou machucar você – ela prometeu a ele. Sua
mão roçou próxima à marca e a raiva se agitou. Jacob
havia espetado-o com uma agulha com força suficiente
para deixar uma lesão do tamanho de uma moeda. Seu
olhar se voltou ao rosto dele – Ele o drogou?
O homem não respondeu, mas ela não esperava que
ele o fizesse. Ela sabia que a cobaia podia falar, já ouvira
alguns deles xingarem e ameaçarem a equipe enquanto
colhia sangue, mas 416 nunca havia falado com ela. Nas
vezes em que entrara em sua cela, ele nem mesmo
rosnara. Silenciosamente, o prisioneiro a observava se
aproximar, de vez em quando a fungava, mas seus olhos
castanho-escuros sempre se fixavam nos movimentos
dela. Ellie engoliu de novo, percebendo sua pele quente, e
se perguntou se ele não estaria doente. Ela o sentia febril.
– Vai ficar tudo bem. Ele está morto, não pode mais
machucá-lo.
Sua mão o abandonou e ela chegou mais para baixo de
seu corpo. Ela se contraiu ao ver o que Jacob havia feito
a ele. Seu traseiro estava vermelho em razão dos golpes
de cassetete. Jacob o usara para bater em suas nádegas,
na parte de dentro das coxas e de trás das pernas. Ela
cerrou os dentes. Não chegara a tempo de impedir
também outro horror. O sangue perto do reto lhe dava
certeza de que Jacob fez exatamente o que ela imaginou.
Ele usara o cassetete para abusar sexualmente de 416.
A raiva tomou conta dela de novo, enquanto lançava
um olhar assassino na direção do homem morto. Suas
calças ainda estavam abertas e seu pênis mole estava
para fora, coberto com um preservativo. Ela não viu
sangue nele. O pequeno alívio de que ela havia chegado
antes de ele estuprar a vítima ajudava um pouco. 416
emitiu um rosnado.
– Calma – murmurou ela – Você está sangrando.
Deixe-me ver, sou enfermeira.
Ela nem pegou luvas no armário do canto. Não estava
certa de quanto tempo tinha. Com apenas uma leve
hesitação, passou a perna por cima da coxa grossa e
musculosa do preso para ter uma visão melhor, e
examinou seu traseiro redondo e carnudo. Suas mãos o
tocaram suavemente, afastando as nádegas o bastante
para conferir o dano, que era mínimo, levando tudo em
conta.
– Sinto muito pelo que ele fez. Aparentemente ele
não… – sua voz sumiu. Dizer que Jacob não o havia
estuprado muito ou que ele não havia penetrado tão
fundo era horrível demais. Isso simplesmente não
deveria ter acontecido. – Você vai ficar bem, “pelo
menos fisicamente” – ela emendou. Suas mãos soltaram
o traseiro dele.
Ela saiu do meio de suas coxas, se pôs próxima ao seu
corpo e se inclinou para examinar suas feições. Ele a
observava e ela não perdia de vista seu olhar de raiva.
Seus lábios semiabertos revelavam afiadas presas. Ele
rosnou, um pouco mais alto que antes. Seu corpo,
porém, não se mexia.
Meu Deus, ele tem caninos. Ela podia ver os dentes
mais afiados bem de perto. Como os de um cachorro, ou
talvez de um vampiro. Ela imaginou que provavelmente
se tratava de alguma espécie de criação canina. Isso
explicava o terrível rosnado que irrompia de sua garganta
e de forma sinistra lembrava um cão selvagem. Ela
hesitou, com medo de que ele pudesse abocanhá-la com
aqueles dentes afiados, caso ela se aproximasse demais.
– Calma – exclamou novamente – Não vou machucá-
lo.
Ao examinar seus olhos, ela descobriu algumas coisas.
As pupilas estavam anormalmente grandes e ele parecia
um pouco confuso. Jacob obviamente o havia drogado,
mas ela não fazia ideia do que usara. O poderoso homem
esparramado no chão provavelmente não conseguia se
mexer, senão ele teria lutado quando Jacob o atacou. Ele
se encontrava submisso ao lado dela, mas seus olhos
estavam cheios de vida e outro rosnado irrompeu de
seus lábios semicerrados. Ela tentou não estremecer ao
ver suas presas afiadas.
– Ele fez mais alguma coisa com você? Mencionou
que droga usou?
416 parou de rosnar, mas nada disse. Ela se perguntou
se ele podia falar. Talvez a droga estivesse impedindo-o
de fazer qualquer coisa além de emitir sons guturais. Ellie
sabia que precisava examiná-lo com rapidez e pensar em
um jeito de sair daquele caos que ela criara ao correr até
a cela dele. As câmeras de segurança deviam tê-la
gravado entrando na sala.
Ela abriu a tranca de metal cimentada no chão para
libertá-lo das correntes que o prendiam ao solo, e deu
um grunhido ao virar aquele homem enorme para deixá-
lo de costas. Ele era muito alto e devia pesar uns 120
quilos. Ela se esforçou para não pasmar olhando para seu
peito ou com o fato de que ele não vestia nenhuma
roupa.
Ellie notou como ele parecia bronzeado, e chegou à
conclusão de que era a cor natural de sua pele, já que o
mantinham no subsolo. Sua coloração nunca mudava.
Devido ao seu cabelo castanho-escuro e aos seus olhos
cor de chocolate, ela achou que uma boa parte dele vinha
de nativos norte-americanos. Ele era bem maior do que
qualquer nativo que já havia visto e imaginou que teria
também alguma ascendência germânica ou qualquer
outra alta e robusta.
416 não era bonito de um jeito convencional. As
maçãs de seu rosto eram tão salientes, que lhe davam um
ar rude. Talvez alguns não o considerassem bonito, mas
ele tinha uma grande beleza exótica. Ela imaginou que
aquela estrutura óssea viera de alguma modificação
genética. Ele parecia humano, mas não inteiramente. O
olhar cheio de ódio e a mandíbula tensa faziam parecer
que ele rosnava, e foi exatamente o que fez no momento
em que Ellie chegou um pouco mais perto. O rosnado
profundo a fez parar, o coração batendo forte, e o medo
tomou conta dela. Ele parecia intensamente masculino e
bruto, mostrando o quão perigoso poderia ser. O fato de
ela o achar extremamente atraente a incomodava. Ela não
podia negar que seu corpo musculoso e o intenso
magnetismo masculino a atraíam.
Se ele recobrasse os movimentos, ela morreria. Ela
sabia disso e ele provavelmente desejava pôr as mãos
nela. Ellie olhou de relance para o outro lado da sala e
fixou os olhos na tinta descascada no chão, perto da
porta, que atravessava a sala. A equipe a chamava de
linha da morte. Cada membro das cobaias era algemado
e, apesar de elas serem fortes o bastante para, de vez em
quando, quebrarem correntes, nenhuma havia quebrado
as quatro de uma vez. Elas só precisavam de um
membro livre para matar. Ellie se sentou dentro da zona
de morte com um macho enorme e raivoso, cujos braços
estavam acorrentados, mas não mais conectados a nada.
Ao perceber aquilo ela quis sair de perto dele, mas
resistiu.
Vale a pena salvá-lo. Ela balançou a cabeça. Ele
precisa de ajuda. Examine-o, faça o que puder por ele e
reze para que ninguém entre aqui. Isso. Ela esperava que
o efeito das drogas não passasse de imediato. Ele
provavelmente abocanharia seu pescoço antes que ela
pudesse implorar por sua vida. Ele devia odiar todos que
trabalhavam para a Mercile, e ele tinha uma boa razão. O
olhar dela pousou no corpo morto de Jacob, ela cerrou
os dentes e forçou-se a olhar de volta para o 416. Veja
como ele está ferido.
Marcas vermelhas manchavam a barriga. Os dedos
dela procuravam provas de que Jacob o havia socado.
Ela sentiu suas costelas, nas quais havia mais marcas.
Não notou nenhum osso quebrado. O abdômen tinha
músculos duros e firmes mesmo enquanto ele estava
solto ali, mas ela não sentiu nada que sugerisse um
sangramento interno. Tentou manter-se profissional, mas
as pontas de seus dedos demoravam um pouco demais
enquanto ela as passava por um intrincado padrão de
grupos musculares. Era inegável que tocá-lo a afetava
como mulher. Ele era proibido, perigoso e sexy.
Seus olhos desceram até a região pélvica, não
conseguindo deixar de olhar para o macho que ela
achava tão atraente, e suspirou. Ela se mexeu sem
pensar, agarrou o pênis dele levemente inchado e
começou a mexer nas dolorosas ataduras na base. Ela
tentou ser delicada, mas Jacob havia amarrado um
grosso pedaço de elástico e dado algumas voltas. Ela
conseguiu soltá-lo e jogou aquela coisa ofensiva para
longe assim que a tirou. Seus dedos massagearam
delicadamente a pele avermelhada, e ela logo notou como
aquilo era inapropriado. Seu olhar se demorou ali e
percebeu que, mesmo mole, era impressionante. O fluxo
de sangue havia sido dolorosamente obstruído e
impedido de chegar.
– Aquele filho da puta – ela murmurou, xingando
Jacob por ter feito algo tão horrível e selvagem. Sua face
se aqueceu ao perceber o que havia feito. Mais vergonha
a atingiu ao notar que seu corpo respondia ao tocá-lo, até
mesmo para remover o ofensivo instrumento de tortura.
Ela estava mexendo em seu pau.
416 rosnou. O olhar dela se dirigiu rapidamente ao
rosto dele. Ele a observava com olhos escuros e
furiosos. Ela percebeu que ainda o aconchegava na
palma de sua mão e rapidamente o soltou.
– Desculpe-me! Eu precisava remover aquilo.
Ela olhou para o membro e viu que a marca deixada
pelo elástico ainda estava vermelha e dolorosa.
– Tenho certeza de que ficará bem.
Era o que ela esperava. Obviamente, Jacob havia feito
aquilo para machucar 416. Se fosse mantido por muito
tempo, a obstrução do fluxo de sangue teria causado
sérios danos, mas é claro que aquele cretino planejara
matá-lo. Seria um crime horrível desfigurar um cara tão
atraente. Esse pensamento a fez querer gemer, e deixou-
a mais ciente de que seu corpo respondia ao homem nu
esparramado na frente dela. Ela afastou tal pensamento;
não poderia ir até lá e precisava parar de olhar para o
corpo nu.
Ela mordeu os lábios, pensando em como tirá-los da
confusão em que estavam metidos. Ela precisava estar
livre para sair do trabalho após seu turno e pegar os
dados que havia roubado para o chefe. Ela dirigiu o olhar
rapidamente para o cara morto mais uma vez. Ele estava
caído ali, ensanguentado, onde ela o havia deixado,
sendo a causa da morte, o traumatismo provocado pelos
golpes com o kit. Ela havia sentido muita raiva para fazer
aquele estrago. Aquilo podia ser confundido com um
dano causado por um punho. Suas entranhas se
contorceram.
– Merda. Só consigo pensar em uma solução para
isso. – ela encontrou o olhar zangado de 416 –
Desculpe-me por isso. Não tenho escolha.
Hesitou, quis dizer a ele quem realmente era, por que
precisava fazer algo tão horrível a ele, mas não ousou. E
se ele contar a eles? Ele poderia. Não tem motivo algum
para confiar em qualquer um que trabalhe aqui. Corro
menos risco se eu apenas fizer com que ele assuma o
pior.
416 estava seguro de que Ellie não lhe faria mal. O
pânico correu pelo seu corpo quando ela se desculpou
pela intenção. Ele tentou se mexer, porém seu corpo se
recusava. Ele podia mover os olhos, piscar e engolir.
Alguns rosnados surgiram, mas ele não conseguia falar.
Agora ela está planejando me matar? Então por que ela
apagou o técnico que me atacou?
Qualquer um, menos ela, pensava 416 freneticamente,
preocupado em morrer indefeso ali, no chão de sua cela.
Ele inalou o perfume limpo da mulher que nunca falhava
em excitar seu corpo. Ellie sempre ia até ele de forma
doce, seu toque era delicado e seu olhar era gentil
quando ela recolhia amostras dele. Ela era o único
humano que ele conhecera que lhe dava sorrisos
calorosos e honestos, e ele até mesmo ansiava pelos
momentos em que ela entrava em seu local. Confiava
que não o machucaria. Ela era a única pessoa que
entrava em sua cela sem deixá-lo tenso por antecipação
por conta do sofrimento, da dor ou da humilhação.
Ele via o medo oculto em seu lindo olhar azul,
enquanto ela o observava, o que fazia seu coração se
torcer de leve. Ele propositadamente nunca a ameaçara
ou rosnara para ela, como fazia quando outros técnicos
se aproximavam.
Até hoje. A ideia de assustá-la o fez se arrepender.
Isso teria acabado com os sorrisos que ele aprendera a
apreciar quando ela começou a trabalhar lá. Não fazia
muito tempo. Ele não tinha ideia de tempo, mas ela não
fazia parte de sua vida até recentemente.
Seu corpo começou a responder à presença dela
quando seu pênis se contraiu. Isso fez com que sofresse
de dor, latejando por conta do que quer que o homem lhe
havia feito, mas o movimento que sentia lhe dava
esperanças de que o resto de seu corpo se recuperaria
em breve. Ellie fez coisas a ele, deixou-o com vontade de
tocar seus cabelos loiros e afundar o nariz em seu
pescoço para inalar aquele perfume maravilhoso. Às
vezes ele sonhava com ela debaixo dele, nua, com ele
livre das correntes. Ele desejava tocá-la e sentir o gosto
de cada centímetro de seu corpo, ouvir sua voz e saber
de tudo sobre a mulher que o fascinava de todas as
maneiras.
O som da voz dela sempre soava como música para
seus ouvidos. Ele queria vê-la sorrir, conhecer sua risada
e sua cabeça estava cheia de perguntas que ele gostaria
de fazer à mulher que havia capturado sua alma. Sua pele
parecia inacreditavelmente macia e tinha um cheiro bom,
bom demais. Entretanto, ela havia determinado que
planejava feri-lo.
O pior tipo de crueldade e de traição bradava dentro
dele. Ele também sentia vergonha pelo que ela havia
testemunhado. Ela o salvara de ser estuprado pelo
homem morto, mas sabia do sofrimento pelo qual ele
havia passado, a indignidade da crueldade humana. Doía
saber que ela nunca mais o olharia sem ter aquela
imagem em algum lugar de sua memória. Isso o
machucava em todos os sentidos e deixava-o com raiva.
Eles haviam acabado até mesmo com a fantasia que tinha
de que ela poderia vê-lo como um macho sexual.
Ele rosnou de novo numa tentativa de assustá-la, de
impedi-la de fazer o que quer que estivesse planejando.
Seu corpo se recusava a funcionar, seus membros não
respondiam, mas ele sabia que não a mataria mesmo que
conseguisse se libertar. Ele apenas a empurraria para
uma distância segura, além da linha, para prevenir a
tentação de fazer o que seus instintos mandavam. Ele a
desejava de maneiras que sabia serem impossíveis para
um prisioneiro e seu captor.
Ele a viu se levantar e sair de seu campo de visão.
Quando ela o virou de costas no chão, sua visão do
morto foi bloqueada. Tentou virar a cabeça, mas não
conseguiu. No entanto, ele a ouvia, sentia o cheiro de
seu cabelo e ouvia barulhos estranhos. O que ela está
fazendo?
Ele não fazia ideia, mas temeu. Todos os humanos
eram cruéis, eles não tinham piedade. Contudo, ainda
estava impressionado com o fato de ela ter matado seu
agressor, por duas razões. A primeira era porque ela
fizera aquilo para interromper o ataque, e a segunda era
porque ela não era uma mulher grande. Ela havia abatido
um homem. Talvez ele a tivesse julgado mal. Acreditava
que fosse gentil e delicada, mas ela havia atacado um
enorme homem de uma forma selvagem e brutal. Seu
coração disparou. Ele tentou desesperadamente mover
seus membros, mas eles continuaram sem responder.
– Você é um cretino imprestável. Odeio você e quero
que você saiba disso – Ellie chiou.
A mente dele aceitou aquelas palavras, a dor o tomou,
mas ele não estava surpreso. Ele sabia que todos que
trabalhavam no centro de testes o consideravam nada
mais do que um pedaço de carne a ser abusado e que
respirava. Achar que ela era diferente fora um erro.
Estúpida e imperdoável. A fúria o tomou e seu dedo
se contraiu. Ele mexeu a boca, um rosnado silencioso
preso em sua garganta, e jurou que ficaria quite com a
mulher que o enganou e o fez acreditar que ela era
diferente.

– Você é um cretino imprestável. Odeio você e quero


que você saiba disso. – Ellie esperava que, aonde quer
que Jacob tivesse ido após sua morte, ele ainda poderia
ouvi-la. Ela queria que ele soubesse o que achava dele.
Ela não se sentia mal por tê-lo matado. Aquilo mexera
com sua cabeça, mas compreendeu que logo superaria.
Ele não merecia seus sentimentos de culpa.
Ellie limpou o kit, examinou-o e não encontrou
nenhum sinal do sangue de Jacob. A caixa estava
amassada, mas ela duvidava que alguém notasse logo.
Escondeu os lenços ensanguentados que usara para
limpar na parte de dentro do kit. E fez caretas ao puxar
sua calça mais para baixo para expor totalmente a
camisinha que ele havia colocado, para não deixar
dúvidas sobre sua intenção.
Ellie tentou apaziguar o pânico que crescia dentro de
si. Seu olhar rolou até o 416 no chão. Felizmente ele não
havia se movido um centímetro sequer, e ela ainda estava
viva por tal fato. Ela só podia rezar para que seu plano
funcionasse e para que o que haviam lhe dito fosse
verdade. Ele era valioso demais para matar. Os médicos
e a equipe abusavam dele, mas Jacob havia planejado
matá-lo, contrariando as ordens do doutor Trent.
Ele vai ficar bem. Tenho que acreditar nisso.
Ela retirou outro lenço do kit e limpou um pouco de
sangue que havia no chão. Virou-se e olhou para 416.
Ele vai me odiar por fazer isso. Provavelmente. Mas ela
não tinha escolha. Jamais deixariam que saísse do
subsolo se suspeitassem que era a responsável pela
morte de Jacob. Ela nem mesmo ousou contar ao 416 o
que planejava fazer. Se ele contasse a alguém, eles a
prenderiam, exigiriam respostas e ela nunca chegaria à
superfície. Ela precisava evitar todas as suspeitas e
salvar 416 e todas as outras cobaias.
Ela encontrou a agulha que Jacob usara. Por sorte, ele
a havia tampado de novo depois de usá-la em 416. Ela
odiava arriscar que 416 fosse infectado, mas não havia
outra escolha a não ser reusar a agulha. Ela esperava que
Jacob não a tivesse deixado encostar em nada antes de
tampá-la novamente. Ellie hesitou. Uma vez feito, não
haveria como voltar atrás.
Ela se mexeu antes que mudasse de ideia. Agachou-se
ao lado de 416 e passou o lenço ensanguentado em suas
juntas e mãos, sujando-as com o sangue de Jacob. Ela se
recusava a encará-lo enquanto o incriminava por
assassinato. Ela simplesmente não conseguia.
Eles não o matariam. Aqueles homens às vezes
matavam técnicos. Ela ouvira falar muito a respeito, e
ainda assim eles estavam vivos. Eles não matam
cobaias. Elas são valiosas demais. Ele vai ficar bem,
entoava Ellie em sua cabeça.
Ela se levantou, jogou o que restava de evidência do
sangue, tirou a seringa de onde a havia colocado dentro
da caixa e se virou. Ela odiava machucá-lo. Seus olhos
se encheram de lágrimas. Ele estava ali, indefeso. Ela
queria abraçá-lo, mesmo que ele desejasse sua morte.
Alguém devia demonstrar-lhe compaixão, mas aquele
não era o momento. Alguém tinha que levar a culpa pela
morte de Jacob para garantir que ela pudesse entregar
aqueles dados ao chefe sem ser incomodada. Assim que
houvessem provas suficientes, um juiz expediria
mandados de busca. O centro de testes seria vasculhado,
as cobaias seriam descobertas e as Indústrias Mercile
teriam seus segredos imundos expostos ao mundo.
Ela se agachou sobre 416. Seus lindos, porém,
raivosos olhos se fixaram nela. A raiva queimava em seu
olhar intenso. Ela engoliu a bílis que lhe subiu pelo que
ela teria que fazer com ele em seguida.
– Sinto muito. De verdade. Preciso fazer isso com
você.
– Eu vou matar você – esganiçou ele. Sua mão caiu no
chão perto dela. – Eu juro! – sua garganta funcionava –
Vou matá-la com minhas próprias mãos.
Ela foi tomada pelo medo. Ele, obviamente, começava
a retomar o controle do corpo. Ela olhou para baixo,
procurando o local em que Jacob havia aplicado a
injeção. Ela socou a agulha nele, o êmbolo já pressionado
da injeção anterior, e então se levantou rapidamente, sem
olhar para 416, mesmo enquanto ele rosnava por conta
da dor que ela acabara de lhe infligir.
Ela pegou o kit, correu em direção à parede ao lado da
porta e virou o rosto no último segundo antes de batê-lo
nela. A dor explodiu em sua face. Suas pernas se
enfraqueceram e sua boca se encheu de gosto de
sangue. Ela não tinha um espelho, mas se lembrou da
sala de observação. E se alguém tivesse entrado lá e visto
tudo o que havia acontecido? Ela pensou que, se fosse o
caso, os seguranças já teriam corrido até a cela para
prendê-la.
Ela esperava que seu rosto estivesse o mais horrível
possível. Seus dedos tremiam enquanto ela socava o
código na tranca. Ouviu-se o ruído, as barras de aço
dentro da porta correram, e a porta se abriu enquanto ela
a empurrava desesperadamente. Ellie cambaleou para
fora da sala, a porta se fechou automaticamente atrás
dela, e o barulho confirmou que fora trancada. Ela caiu
de joelhos no corredor, virou a cabeça para localizar a
câmera de segurança e gritou.
– Socorro! Meu Deus, socorro!
Alguns segundos se passaram, e já fazia mais de um
minuto quando o som de botas correndo chegou aos
seus ouvidos. Quatro seguranças apareceram no
corredor, vindo o mais rápido possível. Os homens
ofegavam quando diminuíram o passo e olharam
confusos para ela.
– Eu entrei na sala para colher uma amostra de sangue
– ela soluçou – Jacob estava estuprando a cobaia. Ele me
atacou. – ela levou a mão à área ferida de seu rosto –
Acho que desmaiei e, quando acordei, vi o 416 soltar as
correntes de seu braço. Jacob o golpeou com uma
agulha, mas o que ele lhe deu não fez efeito rápido o
suficiente. Acho que ele está morto! Acho que aquela
coisa o matou antes de ele cair no chão.
Deus me perdoe, orou ela silenciosamente ao terminar
de falar. Os seguranças pegaram suas armas de choque,
um deles se atrapalhou digitando o código para abrir a
porta, e então correram para dentro da cela do 416. A
porta se fechou atrás deles. Outra equipe de segurança
chegou, junto de alguns médicos. O doutor Brennor
cuidou dela na sala de um dos funcionários. Ele tinha
algo de sinistro ao limpar a boca dela.
– Você vai ficar bem.
Ela balançou a cabeça.
– O que eles vão fazer com o 416? Não acredito que
Jacob estava fazendo aquilo. É errado.
A raiva fez o médico de cabelos ruivos apertar a boca
ao franzir a testa.
– Eu sei. Nós fizemos essas coisas para encontrar
curas para doenças às quais os animais são naturalmente
imunes ou resistentes, e para impedir que doenças nunca
mais sejam passadas de animais para humanos. Você
sabe quanto dinheiro nos custou criá-los? A equipe devia
usar prostitutas para transar, e não cobaias caras.
Ellie precisou segurar a boca e baixar o olhar para não
mostrar como ficava enojada, horrorizada e possessa
com sua fria insensibilidade com pessoas de carne e
osso.
– Agora estamos ganhando uma grana preta testando
neles drogas que inventamos para bombar os militares e
os malucos por fitness. – ele se virou para tirar as luvas
– Você viu como eles ficaram grandes e fortes? Nós os
treinamos para lutar só para mostrar o que é possível
fazer com humanos e quanto estrago eles aguentam com
o novo lote de remédios que curam rápido. Sabe quantos
bilhões em contrato estamos esperando? Quanto dinheiro
já ganhamos? Eles são nossos protótipos. Mostrar o que
podemos fazer com eles, o quão rápidos, fortes e letais
eles são, será a pesquisa que fará a Mercile acabar com
os concorrentes. Todo mundo vai querer comprar o que
fizermos. Aquele idiota do Jacob podia ter acabado com
um dos nossos melhores. Ele é valioso demais para
correr riscos.
Ela fechou os olhos para conter as lágrimas. Eles não
matariam o 416. Ela havia feito a coisa certa. Ele podia
odiá-la por incriminá-lo por homicídio, mas ele
continuaria vivo. Agora ela só precisava ir embora no
fim do turno, entregar a evidência que havia roubado e
salvá-lo da única maneira que podia. Ela ajudaria a levar
as Indústrias Mercile à justiça.
– Escute – doutor Brennor suspirou –, desculpe.
Estou aqui falando de dinheiro e você acabou de
sobreviver a uma experiência traumática. Por que não vai
para casa? Você devia tirar o resto do dia para descansar.
Ligue amanhã e diga que não está bem, que se dane.
Ela abriu os olhos e encarou-o, escondendo o quanto
ela o odiava.
– Obrigada. – sua voz tremeu – Eu estava com medo.
Ele agarrou seu braço, acariciou-o e sorriu.
– Eu posso passar na sua casa mais tarde para ver
como você está. – seus olhos se dirigiram aos peitos dela
– Você não devia ficar sozinha.
– Tenho namorado – mentiu novamente.
Ele a soltou.
– Tudo bem. Pode ir. Vou falar aos seguranças que
liberei você mais cedo.
Ele se virou e foi até o telefone. Ellie o observava. Ela
esperava que ele passasse o resto da vida na cadeia. Era
o que ele merecia.
CAPÍTULO UM
Sul da Califórnia. Onze meses depois.
Ellie suspirou e ajustou seus fones de ouvidos para
ficarem mais confortáveis. Uma música heavy metal era
despejada do aparelho de MP3 que ela havia colocado no
bolso da frente de sua calça capri. A temperatura quente
a fazia suar mesmo às onze da noite, apesar da leve brisa
que ventilava sua pele. Ela olhou para a janela aberta. O
ar-condicionado do dormitório tinha quebrado de novo.
O pessoal da manutenção ainda estava tentando
consertar as falhas técnicas do prédio recém-construído.
Ela se aproximou da porta do terraço, abriu-a e saiu
para aproveitar a brisa gostosa e refrescar seu corpo
quente. Deu um gole na água gelada da garrafinha que
pegou do frigobar quando entrara no apartamento.
Apoiou-se na balaustrada para observar Homeland do
terceiro andar. Havia acabado de fazer seus exercícios
noturnos. A brisa em sua pele era maravilhosa. Sua
atenção se voltou aos muros de segurança a cerca de
quarenta e cinco metros dali.
Eles tinham nove metros de altura, e guardas
patrulhavam o perímetro nas passarelas acima. Abaixo
dela havia grama e algumas árvores cuja disposição
lembrava um parque, entre o prédio de apartamentos e o
muro externo. A nova Homeland de cinco mil acres
acabara de ser completada e Ellie passara seu segundo
dia ali. Ninguém passava pela calçada que se torcia entre
a grama e as árvores.
O prédio excessivamente silencioso a incomodava um
pouco, porém haviam lhe alertado sobre isso. A maioria
das mulheres ainda não havia mudado para os
apartamentos mas, assim que acontecesse, Ellie esperava
que tudo corresse calmamente. Ela queria muito ter
certeza de que Homeland funcionava de acordo com o
planejado. Aquele lugar acolheria os sobreviventes das
Indústrias Mercile, um oásis à parte do mundo, onde
poderiam viver e se ajustar à liberdade em uma
comunidade segura. Eles precisavam de um porto
seguro.
Ela conheceu apenas um centro ilegal de testes das
Indústrias Mercile, porém, depois de invadido, outros
três foram descobertos. Ela fechou os olhos, ainda mal
por conta do número de vítimas envolvidas noticiado nos
meses anteriores. Aqueles centros de testes tinham sido
invadidos pelo governo e por órgãos de segurança
pública. As vítimas foram libertadas, mas nem todas
sobreviveram a tempo do resgate. Houve centenas de
cobaias mortas e esses números partiam seu coração.
Ellie abriu os olhos. Dois anos antes, ela trabalhava no
prédio administrativo da Mercile, quando o oficial Victor
Helio a procurou. Ele explicara que havia rumores sobre
um centro de pesquisas secreto que forçava humanos a
serem cobaias para testes de drogas ilegais. A polícia
havia tentado mandar agentes infiltrados para dentro da
Mercile, mas a indústria se recusava a contratar qualquer
um de fora. Por já ser uma funcionária da empresa, ela
não levantou suspeitas quando pediu para ser transferida
para um dos centros de testes de pesquisa e
desenvolvimento. Ela ficara tão horrorizada com a ideia
de haver humanos sofrendo, que aceitou trabalhar como
espiã. Foram necessários seis meses para que o pedido
fosse aceito, e ainda outros para que ela ganhasse acesso
aos andares do subsolo do prédio de pesquisas, e então
ela conheceu 416 e outros que viviam no inferno. Ela
ficara orgulhosa por acabar com o centro original de
testes. Havia arriscado a vida para roubar aqueles
arquivos, mas eram provas suficientes para que um juiz
expedisse mandados de busca que resultaram em um
ataque ao centro.
Ela suspirou. “Informação sigilosa” e “políticas de
proteção à vítima” eram os termos que ela ouvia sempre
que perguntava sobre ele. Ela sabia que algumas cobaias
não haviam sobrevivido ao resgate no centro de testes.
Elas haviam sido mortas antes que a segurança pública
chegasse às áreas subterrâneas mais seguras, nas quais
muitas das vítimas eram mantidas. Pelo que ela supunha,
416 havia morrido nos andares abaixo da superfície,
trancado em sua cela, sem nunca saber que o socorro
tentou chegar até ele. Considerar essa possibilidade
deixava seu coração em pedaços.
Ellie arrancou os fones, desligou o MP3 e o deixou na
escrivaninha, lutando contra a angústia que sentia
sempre que pensava em 416. Ela queria ter estado lá
quando os mandados foram expedidos, para ficar de
guarda em sua porta para protegê-lo. Ela devia a ele
aquilo e muito mais. Havia implorado para que o oficial
Helio permitisse, mas ele recusou. Ela não era da
segurança pública e havia sido claramente avisada de que
eles não arriscariam uma informante de cujos
testemunhos eles precisavam para acusar a Mercile.
– Merda – reclamou ela.
Ellie não conseguia esquecer aqueles olhos escuros, o
olhar de 416 quando ela o abandonou aquele dia na cela,
ou quando ele rosnara para ela. Ela só queria salvar a
vida dele, mas ele não tinha como saber por que o havia
feito levar a culpa pela morte daquele técnico. 416 deve
tê-la achado monstruosa e cruel. Lágrimas quentes a
cegaram, mas ela piscou rapidamente para contê-las. Já
havia chorado muitas delas desde aquele dia terrível em
que ela o deixou no chão.
O telefone de Homeland tocou, assustando-a. Seu
celular era o único meio de contato com o mundo lá
fora, mas ninguém ligava para ela. Ellie havia se
distanciado dos amigos e da família. Tudo em sua vida
mudara enquanto trabalhava para o centro de testes
durante aqueles meses. Não tolerava mais seus pais
divorciados usando-a como uma arma um contra o
outro, ou atacando-a por causa de seu próprio divórcio.
Havia problemas reais no mundo e seu tempo podia ser
gasto fazendo alguma diferença. Agora ela se
concentrava em ajudar as Novas Espécies e, para ela,
fazer algo para consertar uma injustiça valia a pena.
– Ellie Brower.
– Senhorita Brower, aqui é Cody Parks, da segurança.
Estou ligando para informá-la de que um transporte
tardio está chegando com quatro mulheres. Elas estavam
expostas no hotel e acabamos de ser notificados de que
estão aqui.
– Estou indo até a porta agora – ela desligou.
Droga. A mídia deve ter descoberto que quatro das
mulheres resgatadas estão na área. O protocolo
determinava que, se um voo chegasse à noite, as vítimas
deveriam ser abrigadas com guardas em um hotel, para
depois serem transferidas até Homeland à luz do dia. A
segurança julgara ser mais fácil protegê-las durante o
trânsito àquela hora, mas esconder os sobreviventes em
um hotel não havia sido tão inteligente como pensavam.
Ela só podia esperar que as mulheres não estivessem
muito traumatizadas com o que quer que tivesse
ocorrido. Para aqueles pobres sobreviventes, o mundo
real já podia ser amedrontador o bastante sem aqueles
urubus da mídia em volta deles, gritando perguntas e
disparando flashes.
Ela só precisou de alguns segundos para calçar os
sapatos e pegar o cartão de segurança. Ellie saiu de seu
quarto e propositadamente evitou o elevador, que era
lento demais para sua paciência. Correu escada abaixo
até a entrada. Era possível enxergar através das janelas,
mas elas eram feitas de um vidro forte o suficiente para
resistirem aos piores abusos. Do lado de fora, ela viu
quatro mulheres se aproximando da entrada com dois
guardas atrás, carregando quatro malas. Ela apertou o
passo.
Cody Parks, o homem da segurança a quem se dirigir,
a saudou com um sorriso.
– Boa noite, senhorita Brower. Desculpe pela chegada
tardia das nossas novas residentes.
Ellie sorriu. Ela dirigiu sua atenção às mulheres com
jeito de amazonas. A mais baixa delas tinha pelo menos
1,80 metro de altura. Já havia dez mulheres morando nos
dormitórios e todas eram daquele tipo, altas e
musculosas. Ellie se sentiu baixinha perto delas. Seu
sorriso crescia conforme olhava para cada uma delas,
mas nenhuma retribuiu o gesto. Pareciam cansadas,
bravas e mal-humoradas. Compaixão jorrou dentro de
Ellie.
– Bem-vindas à sua nova casa – disse Ellie gentilmente
– Sei que vocês passaram por muita coisa, mas aqui
estão a salvo. Sou Ellie, sua governanta.
Duas das mulheres franziram a testa. Uma delas, a
maior e que parecia ser a mais durona do pequeno
grupo, fixou os olhos nela. A quarta, uma loira, falou.
– Nossa o quê?
– Sua governanta. É apenas um título – explicou Ellie
rapidamente – Não estou tentando de fato ser isso. É a
mim que vocês devem vir se tiverem problemas,
dúvidas, ou se precisarem de algo. Estou aqui para
ajudar de qualquer forma possível. Vocês podem falar
comigo sobre qualquer coisa, que vou ouvir.
– Uma médica de cabeça – rosnou a mais baixa, de
cabelos escuros. Ela mostrou seus dentes afiados a Ellie.
– Não – corrigiu Ellie – Sei um pouco de enfermagem,
mas não sou médica. Sei que vocês tiveram que passar
por terapeutas. Eu mesma precisei passar por alguns e
odiei. – ela lhes deu um sorriso piedoso – Vou mostrar os
quartos de vocês, rapidamente o entorno dos dormitórios
e vocês irão se instalar. Eu…
– Senhorita Brower – interrompeu Cody Parks. Ellie
se virou para ele enquanto as mulheres passavam pelas
portas. Elas olhavam em volta da grande entrada à frente
da área dos quartos. Ela sabia que precisavam de alguns
minutos para se localizarem.
– Sim?
– Uma reunião foi convocada para daqui a vinte
minutos. Eles querem que a senhorita participe, já que
está responsável pelo alojamento feminino. O diretor do
novo conselho exigiu ser informado de tudo sobre
Homeland. Ele quer ter certeza de que seu povo não está
sendo maltratado. Ele acabou de assumir a posição e
precisa ser tranquilizado.
Ellie ficou consternada.
– Mas está muito tarde. Eu queria ajudá-las a se
instalarem e vai demorar.
– Eu entendo, mas ele apareceu com elas e afirmou
que era importante. – o olhar do homem segurou o de
Ellie – É imperativo que eles saibam que estamos com
eles para tornar tudo mais fácil, para que a transferência
ocorra com normalidade. Ele está preocupado.
Ela hesitou. As Novas Espécies haviam sido separadas
e enviadas a diferentes locais seguros depois de serem
libertadas, até que Homeland finalmente ficou pronta
para recebê-las. Aquele seria seu lar permanente para o
futuro previsível. Ele tinha motivos válidos para se
preocupar com a segurança e o bem-estar de seu povo.
– É claro. Deixe-me tomar conta delas e já vou. A
reunião será na sala de conferências do escritório
principal?
Ele fez que sim com a cabeça. Ellie fechou a porta
atrás deles. O alarme soou instantaneamente,
assegurando-a de que as travas automáticas estavam
funcionando. Apesar de forte, a segurança nunca era
rigorosa o suficiente, não depois do jeito que a mídia
havia se voltado para os sobreviventes daqueles centros
de testes. Estavam constantemente tentando romper o
perímetro para obter fotos das vítimas, agora que havia
um local fixo para algumas delas.
O governo havia começado o processo para
implementar leis que proibiam a mídia de revelar
fotografias, para que as Novas Espécies ficassem
protegidas. Elas eram vítimas que tinham o direito de
ficar protegidas da imprensa. Havia também grupos de
ódio que achavam que as Novas Espécies não deveriam
ser consideradas humanos com direitos iguais,
opunham-se a elas ficarem em Homeland e se juntavam
em frente aos portões para protestar.
Ela se apressou, movimentando-se automaticamente,
enquanto fazia um pequeno tour no andar de baixo do
dormitório. Ele abrigava uma sala de conferências para
reuniões, duas grandes salas de estar, uma cozinha
aconchegante, uma sala de jantar com capacidade para
cinquenta pessoas, um grande banheiro com quatro
cabines e uma biblioteca completa. O segundo e o
terceiro andares abrigavam miniapartamentos, e cada um
tinha um pequeno quarto, uma sala, um banheiro
privativo e uma copa.
Ellie levou as mulheres aos seus quartos, um ao lado
do outro e à frente um do outro, no segundo andar. Ela
havia aprendido a fazer aquilo nos dois dias em que
estivera cuidando das mulheres que chegavam. Elas
estavam com medo. Não que admitissem, mas queriam
ficar perto umas das outras. Ellie sabia que algumas
delas haviam passado por horrores indescritíveis, e agora
havia outro muito diferente lançado a elas, algo
totalmente estranho. A liberdade podia ser uma
experiência amedrontadora depois de uma vida inteira
sendo espécime para testes.
– Se sentirem fome, há bebidas geladas e comida nas
caixas metálicas perto da pia. – ela não as chamou de
refrigeradores. Aprendera logo que eles não sabiam o
que era – Há outras dez mulheres no segundo andar,
então, se ouvirem barulhos, não se assustem. Elas são de
lugares diferentes.
Centro de testes, ela pensou. – Mas são o seu povo. O
prédio está seguro, então ninguém que não deva estar
aqui pode entrar. Vocês estão totalmente a salvo.
As mulheres que estavam no corredor a examinavam
como se ela fosse um inseto. Ellie suspirou, infelizmente
acostumada a tal situação. Eles não confiavam em
outros, e os outros eram qualquer um que não tivesse
sido criado como um experimento.
– Estarei no terceiro andar quando voltar da reunião a
que preciso ir. O número do meu quarto está na parede
perto do elevador. Podem me procurar para qualquer
coisa que precisarem ou se tiverem dúvidas. Estou aqui
para ajudá-las e quero fazê-lo. Vocês têm alguma
pergunta antes de eu ir?
Nenhuma das quatro mulheres falou. A mais alta
seguiu para um dos quartos que Ellie acabara de mostrar.
As outras três fizeram o mesmo, e a porta bateu com
força, com Ellie do outro lado. Nenhuma delas parecia
querer algo com ela, e ela esperava que isso mudasse
com o tempo.
Ellie olhou para sua roupa: tênis de corrida, a calça
capri preta e uma regata azul-claro. Seu cabelo estava
preso em um rabo de cavalo. Ela sabia que
provavelmente deveria vestir algo mais profissional, mas
uma conferida no relógio disse que não havia tempo. Ela
precisava correr para a reunião. Ellie se lançou à escada.
Os escritórios principais ficavam perto da entrada de
Homeland. Cada dormitório e prédio tinha um carrinho
de golfe. Ellie dirigiu o seu até as vagas e desligou o
motor. Olhou novamente para o relógio com uma leve
irritação, certa de que estaria atrasada. Cody não havia
lhe dado uma hora exata, mas vinte minutos havia se
passado. Ela correu até a porta da frente, e desacelerou
quando viu um segurança armado a postos no prédio. Ela
ainda não o conhecia.
– Olá, sou Ellie Brower, governanta do alojamento
feminino. Cody Parks disse que está tendo uma reunião
da qual preciso participar.
O homem ficou tenso e sua mão pegou na arma em
sua cintura, enquanto mantinha os olhos fixos nela. Ellie
pôs devagar a mão no bolso da calça para pegar seu
cartão de segurança. Ele não só abria portas, como
também tinha sua foto para identificá-la como
funcionária. Ela se aproximou para ele poder conferi-lo.
O guarda pegou o cartão, examinou-o com cuidado e
o devolveu.
– Vá até a sala de conferências à esquerda. Sabe onde
fica, senhorita Brower?
– Sim, obrigada.
Ellie passou devagar pelo homem e entrou no
escritório principal. Apressou-se pelo corredor em
direção à porta dupla, em que não havia guardas a
postos. Agarrou a maçaneta, virou-a para abrir a pesada
porta e entrou.
A escuridão da sala a surpreendeu. As luzes de cima
estavam apagadas, apenas candeeiros iluminavam
fracamente as paredes. Ela não enxergava direito, porém
o rumor suave de várias vozes a assegurou de que a sala
estava cheia de gente.
Dois seguranças se viraram instantaneamente e
pegaram suas armas. Ela sorriu para seus rostos
alarmados. Suas mãos se afastaram do corpo para
mostrar a eles que não carregava nada ameaçador,
apenas o cartão de segurança. A sala ficou
completamente em silêncio. Ela não ousou desviar a
atenção para longe dos dois homens com as mãos em
volta de suas armas.
– Sou Ellie Brower, governanta do alojamento
feminino, e venho em paz.
Nenhum dos guardas riu da piada. Um deles continuou
com a mão na arma na cintura, enquanto o outro chegou
à frente e arrancou o cartão da mão dela. Ela não se
mexeu enquanto ele o examinava e, então, ele balançou a
cabeça.
– Sente-se. Você está atrasada. – ele devolveu o
cartão.
Ellie pegou seu cartão e o pôs de volta no bolso.
Precisava dar a volta no guarda, já que ele decidira ficar
ali, bloqueando seu caminho. Ela deu alguns passos além
dele e olhou para as pessoas que estavam na sala.
Darren Artino, chefe da segurança de Homeland, e o
diretor Boris também estavam presentes. O diretor
franziu a testa ao diminuir a distância entre eles. Ela se
encolheu quando ele olhou para sua vestimenta,
comunicando sua desaprovação ao que ela vestia.
– Não tive tempo de me trocar – ela explicou – Eu
precisava instalar quatro mulheres e tinha menos de vinte
minutos para o fazer antes de vir para cá. Só me
avisaram da chegada delas quando já estavam na porta.
As linhas tensas em volta da boca do diretor Boris se
desfizeram.
– Tudo bem, Ellie. Da próxima vez, vista-se
adequadamente. Parece que você acabou de sair da
academia.
– Quase isso – ela admitiu – Quer que eu acenda as
luzes? Está escuro aqui.
– Não – o diretor Boris suspirou – Alguns membros
do conselho preferem assim.
Ellie entendeu imediatamente. Ela fora avisada de que
alguns sobreviventes haviam passado anos trancados em
celas escuras, o que resultou em hipersensibilidade à luz.
Ela arrumara alguns dos apartamentos pensando nas
mulheres sobreviventes, havia até mesmo comprado
óculos escuros para deixá-los nos quartos, para que elas
os usassem nas áreas comuns, e colocara em alguns
quartos interruptores que regulam a luz. Ela passara
muito tempo levando em conta os sentimentos e as
necessidades das Novas Espécies para fazer seu
trabalho, algo que se tornara quase uma obsessão.
Ela reconheceu mais alguns rostos ao olhar em volta.
Sorriu para Mike Torres, do alojamento masculino,
quando ele acenou para ela. Ele parecia ser um cara legal
de uns trinta e poucos anos, e havia flertado com ela
durante a primeira reunião, no dia em que chegara. O
funcionário que passara a Ellie a lista de suas obrigações
como governanta estava ao lado dele. Dominic Zort
balançou de leve a cabeça. Em geral, seu trabalho parecia
ser o de fazer os departamentos cooperarem, e ele fazia
a maioria das contratações.
Um movimento no canto de seu olho chamou sua
atenção. Ela se virou. Alguém se moveu em sua direção,
vindo do outro lado da sala, mas ser a menor pessoa no
meio de um grupo de homens altos impediu que
identificasse quem se aproximava.
– Ellie? – o diretor Boris a chamou de volta – Vamos
nos sentar ali.
– Claro.
Ela o seguiu.
– Você – rosnou asperamente uma voz masculina atrás
dela.
Ellie tentou se virar para ver de quem era aquela voz
assustadora, mas alguém pegou sua mão. Ela emitiu um
som, uma mistura de grunhido e arquejo, e então seu
corpo se levantou do chão. Braços fortes a giraram no
ar. A dor atravessou suas costas e o ar foi arrancado de
seus pulmões. Seus olhos se arregalaram ao olhar para o
rosto de um raivoso… 416.
CAPÍTULO DOIS
416 rosnou para Ellie, revelando seus caninos afiados,
e ela notou que seus braços doíam onde ele havia
pegado, acima dos cotovelos. Ele bateu suas costas com
força em uma das mesas de conferência. Inclinou-se
sobre ela, seus olhos raivosos a poucos centímetros dos
dela, e ódio despejou de seu olhar escuro. Ellie foi
inundada por puro terror. Sua boca se abriu, mas nada
saiu. Ela tomava ar. Ele rosnou mais alto e a segurou
com mais força.
– O que diabos é isso? Largue-a! – exclamou o diretor
Boris.
A visão periférica de Ellie via movimento em volta,
mas ela não ousou desviar a atenção do olhar negro e
furioso de 416. Ele parecia pronto para estraçalhar sua
garganta com os dentes afiados, que pairavam a
centímetros dela. O coração dela batia tão forte que ela
se perguntou se explodiria por suas costelas. Ele havia
sobrevivido e iria matá-la, como havia prometido, caso
um dia tivesse a chance.
– Solte-a – exigiu firmemente uma voz masculina,
num tom duro.
– Que diabos está acontecendo? – isso veio de outro
homem, que parecia estar chocado e irritado.
– Fury, solte-a – ordenou outro homem, com uma voz
extraordinariamente profunda.
Os olhos cheios de raiva de Fury se moveram para
longe dos olhos horrorizados de Ellie quando ele virou a
cabeça para o lado. Ele rosnou para alguém atrás dele.
– Não. Isso é entre mim e ela. Afastem-se.
Ellie passou a língua pelos lábios secos, aliviada por
poder respirar novamente. As mãos em seus braços a
machucavam tanto que seus olhos se inundaram de
lágrimas. Fury encarou furiosamente alguém atrás dele,
que desviava sua atenção. Apesar de a sala estar cheia de
homens, ela sabia que morreria na frente de todos
quando a atenção dele voltasse para ela.
– Largue-a, Fury. – a voz masculina ficava mais e
mais profunda, chegando a um rosnado ameaçador – Por
favor.
– Ela é uma deles. – gritou Fury – Ela trabalhava
como técnica no centro de testes. Agora se afastem, eu
tenho o direito de me vingar.
Um som distinto cortou a sala e os olhos de Ellie se
arregalaram. Ela reconheceu o som de uma arma sendo
engatilhada. Engoliu o nó que se formou em sua
garganta, com medo de que atirassem nele para salvá-la.
Droga. Ela não deixaria aquilo acontecer. Todo o terror
se dissipara para dar lugar à preocupação com a vida
dele. Ela o havia salvo uma vez e o faria de novo.
– Está tudo bem – ela falou o mais alto que podia. Sua
voz tremeu, mas as palavras saíram – Não o
machuquem. Não atirem, por favor.
– Ellie? – o diretor Boris se aproximou – Do que ele
está falando?
Ellie ofegou quando seu algoz virou a cabeça para
encará-la novamente. Um arrepio desceu por sua espinha
com o olhar frio e intenso dele, e com a certeza de que
ele definitivamente cumpriria sua ameaça. Ela não tinha
dúvidas de que a mataria em cima da mesa, na frente de
todos.
– Fury – rosnou outra voz masculina – Solte a mulher.
Vamos resolver isso adequadamente.
– Ela é minha – rosnou Fury, obviamente tão bravo
que não conseguia falar com o tom de voz normal. Seus
dedos apertaram ainda mais.
Lágrimas correram pelo seu rosto, mas ela não emitiu
um som sequer. Tinha medo de aborrecer a todos em
volta, especialmente à pessoa que tinha engatilhado a
arma.
– Ellie – Dominic Zort parecia estar mais perto – você
era uma informante, não era?
Ela engoliu um gemido de dor – Fury rosnou
suavemente e suas mãos faziam uma força brutal nos
braços dela.
– Sim – ela arquejou. – Eu o conheço.
O rugido na garganta de Fury virou um rosnado
selvagem.
– Fury! – um homem esganiçou – Solte a mulher
agora!
O aperto das mãos de Fury aliviou, mas ele não
abandonou o controle. Ele se afastou alguns centímetros,
porém. Não ficou sobre todo o corpo dela e seus lábios
se apertaram para esconder os caninos. Respirou fundo
algumas vezes pelo nariz, mas não tirou os olhos de Ellie.
Fury. Sim, o novo nome combina com seu olhar.
– Ela já fazia parte da equipe médica da Mercile. Foi
enviada como espiã quando surgiram rumores sobre o
verdadeiro centro de testes. Tentamos infiltrar agentes,
mas a Mercile nunca os contratava. Acho que era a
enfermeira no escritório corporativo. Ela teve muito
trabalho para conseguir ser transferida àquele lugar
infernal para descobrir se os boatos eram verdadeiros.
Ela roubou provas suficientes para conseguirmos os
mandados que foram usados no primeiro centro de
testes. – Dominic Zort falava rapidamente.
– Eu não sabia que ela havia conhecido alguém do seu
povo, Justice. Eu não era o chefe dela, mas Victor Helio
não escreveu nada no arquivo que indicasse que ela
tenha feito mal a algum Nova Espécie ou que interagiu
com um deles. Eu nunca a teria contratado para trabalhar
com seu povo se soubesse que um deles a conhecia
pessoalmente. – a voz de Dominic Zort continuava calma
– O nome dela é Ellie Brower e é quem administra o
alojamento das mulheres. Ela arriscou a vida por dias
para espiar a Mercile para nós, Justice. Ela sabia que eles
iriam matá-la se percebessem que ela havia ido trabalhar
lá para coletar provas do que eles estavam fazendo.
– Solte-a. – o tom de voz de Justice ficou mais suave,
mas ainda continha a autoridade de uma ordem – Relaxe,
Fury. Eu entendo. Ouviu o que o homem disse? Ela
trabalhava lá para ajudá-los a juntar provas de nossa
existência. Ela ajudou a salvar nosso povo.
Fury não soltou Ellie e continuou a olhar furiosamente
para ela. Ela o encarou de volta, certa de que ele não se
importava com o motivo de ela ter estado lá.
Ela sabia que ele a odiava por tê-lo incriminado pela
morte de Jacob, e não o culpava por aquilo. Ela tinha
feito para salvar a vida dele, mas tal fato não a aliviava da
culpa pelo crime cometido contra ele.
– Ellie? – o diretor Boris falou – Qual era exatamente
seu trabalho no centro de pesquisas e o que você fez a
esse homem?
Merda. Ellie engoliu seco. Ela observava os olhos de
Fury enegrecerem ainda mais, indo de chocolate-escuro
a quase preto.
– Eu só ajudava quando era preciso – ela explicou
suavemente.
– Eu cuidava de várias tabelas com os resultados dos
testes das amostras de sangue e saliva que eles me
faziam colher.
– Por que ele a odeia tanto? Você o machucou
pessoalmente de algum jeito? – a voz do diretor Boris se
elevou afrontada. – Você fez mal a eles?
Ellie encarou o rosto tenso e cheio de linhas de Fury.
Se ela tivesse sido sexualmente abusada, não gostaria
que o assunto fosse espalhado por aí. Ele era um macho
orgulhoso, e aquilo provavelmente não era algo que ele
quisesse compartilhar com o resto da sala. Ela teria que
contar a todos por que havia matado o técnico se
admitisse o que havia feito, para deixar Fury com tanta
raiva. Ela hesitou. Os olhos dele viraram fendas estreitas
conforme o rugido que rumorava em seu peito ficava
mais alto.
– Não – ordenou Fury.
– Fury? – disse Justice. Aquele homem tinha uma voz
extraordinariamente profunda – O que ela fez para deixá-
lo com tanta vontade de machucá-la? Ela o forçou a
tomar as drogas deles?
– Ellie, diga-nos agora – exigiu o diretor Boris.
– Eu precisava fazer testes – ela mentiu – Tive que
infligir dor nele.
Essa parte era verdadeira. Ela sabia que o que fizera
havia lhe causado estresse, junto ao que Jacob havia
feito, enquanto ele estava indefeso no chão de sua cela.
– Ele também não gostava que eu colhesse suas
amostras.
Como resposta, ele rosnou para ela.
Ellie não tirou os olhos de Fury, seu olhar se fixou no
dele.
– Desculpe, mas não tive escolha. Eu sabia que o
socorro chegaria apenas se eu conseguisse levar as
evidências. Fiz o que precisava para salvá-lo. Você
estava perto de ganhar uma chance de ser livre. – mais
lágrimas rolaram pelo seu rosto – Sinto muito. Eu só
queria salvar você.
Fury tinha em seu domínio a mulher que o traíra. Ele
não podia acreditar que encontrara Ellie novamente. Ela
trabalhava em Homeland e suas mãos estavam mesmo
nela. Ele tinha liberdade agora, não estava mais indefeso
e lutava contra si mesmo sobre o que deveria fazer com
ela. Uma pequena parte dele queria abocanhar seu
pescoço, enquanto o resto queria puxá-la contra seu
corpo e abraçá-la. De qualquer jeito, ele não queria soltá-
la. Um nojo de si mesmo jorrava por causa de suas
emoções conflitantes depois do que ela havia feito a ele
dentro da cela. Ele jamais esqueceria aquele dia ou o
outro que se seguiu.
Novamente, Justice exigiu que ele soltasse Ellie, mas
suas mãos se recusavam a largá-la. O fato de ela ousar
estar onde as Novas Espécies deviam estar a salvo de
seus atormentadores o enraivecia. Ela fora a pior, com
seus lindos olhos azuis que o haviam induzido a acreditar
que nunca faria mal a ele. Seus dedos repousaram em
sua pele macia enquanto ele inalava aquele perfume que o
perseguira por tantas noites.
Seu olhar azul-claro parecia mais belo do que se
lembrava e, por dentro, ele se encolheu ao ver as
lágrimas inundarem seus olhos e rolarem por seu rosto,
sabendo que a machucava. Ele lutava sabendo que tinha
o direito de se vingar, mas ao mesmo tempo odiava
causar-lhe dor. Quando ela pediu para não o ferirem, ele
ficou ainda mais confuso. Ellie era sua inimiga, então por
que tentou protegê-lo?
– Fury – sussurrou Justice – Ela é uma mulher.
Ninguém precisava dizer a ele o sexo de Ellie. Seu
doce perfume de morango e baunilha o deixava com
vontade de gemer, de afundar o nariz em sua pele e
investigar de onde exatamente ele vinha. Ele se
perguntava se o cheiro emanava de seus produtos para
cabelo ou da loção de banho. Querer descobrir aquilo o
deixava com ainda mais raiva.
Saber que ela estava trabalhando contra o inimigo o
surpreendeu. Para ele, era importante saber por que ela
estivera no centro de testes, mas ele não conseguia se
desfazer do sentimento de traição que surgiu quando ela
o deixou na cela para encarar as consequências das
ações dela.
Será que ela não percebeu o que fez ou como aquilo
fez mal a ele? Mas não queria que ela dissesse a verdade
sobre o que havia feito para deixá-lo com tanta raiva.
Muitas perguntas seriam feitas. Ele sentia vergonha o
bastante. Não queria que ninguém soubesse como sua
humilhação se intensificava quando se lembrava de como
se sentiu indefeso por todos aqueles anos que ficou
preso e do abuso que sofreu durante a vida.
Ele era uma Nova Espécie, com controle sobre sua
mente e seu corpo, apesar de ter sido um prisioneiro. Ele
não poderia ter impedido o técnico de atacá-lo quando
estava no chão, mas quando ele estava ali, indefeso,
ainda traumatizado com o que havia sofrido, seu corpo
respondeu ao fato de Ellie estar tão perto dele. Ela o
havia excitado, apesar daquela situação horrível. Ele não
queria reagir a ela daquela maneira, aquilo só fazia sua
traição ser ainda mais imperdoável. Ele baixara a guarda
e ela lhe fizera mal. Reconhecia que perdera novamente o
controle quando, sem pensar, agarrou-a e agora se
recusava a soltá-la.
A dor que suas feições revelavam fizeram-no
compreender o quão forte segurava os braços dela e isso
o horrorizou, percebendo que machucara sua delicada
pele. Ele devia querer matá-la mas, em vez disso,
desejava massageá-la para aliviar a dor, até mesmo pedir
desculpas, o que o enojou. Ele recebera o honroso
trabalho de ser o segundo no comando de seu povo, um
exemplo para as Espécies, de como elas podiam viver
em paz com os humanos e, mesmo assim, ele se
encontrava em cima de uma mulher pequena e
amedrontada, que o havia assombrado desde que fora
libertado.
Ele sempre se perguntara o que havia acontecido com
ela. Até mesmo usara sua nova autoridade para ver a lista
dos empregados da Mercile que haviam sido presos. Ele
fantasiara sobre entrar na cela dela e… observá-la,
apenas para revê-la. Um rosnado rasgou sua garganta e
ele sabia que precisava sair de perto dela antes que
perdesse o pouco controle que havia retomado.
Ele precisava pensar, ter alguma noção do que havia
dado errado em sua mente quando o assunto era Ellie.
Normalmente, ele era racional, mantinha-se calmo,
independente das circunstâncias, e os outros o
consideravam de boa índole. Seu povo dependia dele
para continuar daquele jeito. Ele escolhera aquele nome
pelo que mantinha em seu coração mas, por fora, ele
escondia muito bem. Normalmente.
Olhou para Ellie e mentalmente ordenou que suas
mãos se abrissem, apesar de seus instintos gritarem para
continuar segurando-a.
A pressão das mãos de Fury diminuiu e ele libertou
Ellie como se tocar nela o queimasse, e então ele se virou
e empurrou as pessoas para fora de seu caminho.
Ellie ficou imóvel em cima da mesa até que alguém
tocou sua perna. Ela estava chocada com o fato de Fury
tê-la deixado viver. Darren Artino se aproximou,
tocando-a suavemente enquanto a ajudava a se sentar.
Ellie olhou para o rosto em choque daqueles homens à
volta dela. Rapidamente enxugou as lágrimas,
impressionada por ainda estar viva. Procurou por Fury,
mas ele desaparecera.
– Senhorita Brower?
O homem que falava era quase tão alto quanto Fury.
Ele tinha ombros largos e seu longo cabelo estava preso
em um rabo de cavalo. Seus olhos eram de um atraente
negro azulado e tinham um formato diferente, similar aos
de um gato. Ele vestia um terno de alfaiataria, mas nada
escondia as vibrações perigosas que projetava enquanto
se mantinha a alguns metros dela.
– Peço desculpas por Fury… – ele pausou – tê-la
atacado. Sou o Justice North e garanto que Fury será
castigado pelo que fez aqui. Ele a machucou? – seu olhar
exótico e inquietante deslizou sobre o corpo dela.
– Estou bem – mentiu Ellie, com delicadeza.
Seu coração se partiu com o fato de o homem por
quem estava obcecada simplesmente ter ido embora. Ela
resistiu ao desejo de correr atrás de Fury, implorar para
que ele a ouvisse e pedir desculpas novamente pelo que
lhe havia feito. Ela queria tanto se acertar com ele, que
até sentia dor. Percebeu que aquilo seria impossível ao
olhar para o grande homem que bloqueava seu caminho.
No momento, ele era uma ameaça a Fury e ela precisava
controlar a situação antes que ficasse mais séria.
Ellie tentou não mostrar como estava pasma com
aquele homem atraente com olhos fascinantes.
– Por favor, não o castigue. – ela imploraria se fosse
necessário. Era o mínimo que poderia fazer para garantir
que Fury não tivesse nenhum tipo de problema – A raiva
dele é justificada, acredite em mim. Eu não o teria
culpado se ele tivesse me matado.
O choque empalideceu as feições do homem enquanto
ele piscou algumas vezes na direção dela. Seus largos
ombros pareceram relaxar.
– Talvez você devesse ser dispensada dessa reunião.
Você teve um trauma e tenho certeza de que alguém aqui
poderá deixá-la informada do que será discutido,
amanhã, quando lhe for conveniente, depois de ter se
recuperado.
O diretor Boris se moveu à frente.
– Devemos tirá-la de Homeland imediatamente, senhor
North. Por favor, aceite nossas desculpas.
Ellie ficou atemorizada. Ela se mudara para um novo
Estado para ser parte do projeto para assimilar as Novas
Espécies a uma forma normal de vida, mas agora ela
perderia o emprego. Ela não culpava o diretor Boris por
demiti-la, levando em conta as circunstâncias. Homeland
havia sido dada às Novas Espécies para servir como um
porto seguro dos abusos que haviam sofrido. Ter alguém
que trazia lembranças andando pela propriedade violaria o
conceito.
Justice franziu a testa ao olhar para o diretor Boris.
– Não é necessário demiti-la. Ela salvou nosso povo
do centro de testes, e não estaremos agradecendo seu
altruísmo se a afastarmos de algo que ajudou a ser
possível. Não fazemos as coisas desse jeito. Essa é a
nossa Homeland, não é?
O diretor Boris abriu a boca em choque.
– Mas o Fury a odeia e ele é o segundo no comando.
– Fury lidará com sua raiva. – Justice então olhou
para Ellie. A expressão rude em seu rosto suavizou-se –
Vá descansar, senhorita Brower. Seu emprego está
seguro, pode continuar administrando o alojamento
feminino. Sua sinceridade foi revigorante e agradeço sua
compreensão sobre o comportamento do Fury.
Ellie sabia escapar quando tinha oportunidade. Ela
desceu da mesa, seus joelhos enfraqueceram, mas ela se
segurou ao ficar em pé. Continuou com a cabeça baixa,
com os olhos no chão, e caminhou rapidamente em
direção ao corredor vazio. Ela parou do lado de fora da
sala de conferência, inclinou-se contra a parede e cobriu
o rosto. Seu corpo inteiro tremia. Ela precisou de um
minuto para recompor suas emoções desgastadas.
Ellie finalmente se mexeu, deixou as mãos caírem ao
lado do corpo e saiu pela porta. 416 sobrevivera e agora
se chamava Fury. Pior, ele era o segundo no comando,
depois de Justice North. Ela tremeu ao pisar do lado de
fora. O guarda armado franziu a testa ao vê-la, mas não
disse nada enquanto ela caminhava em direção ao seu
carrinho de golfe.
Justice comandava a Organização das Novas
Espécies. Seu povo o escolhera para comandá-lo, para
ser o rosto e a voz das Novas Espécies, mas eles
também indicaram membros do conselho para
representar grupos de sobreviventes, ajudando-o a fazer
seu trabalho. A ONE, como eles se intitularam,
proclamaram seu próprio governo quando lhes foi
garantido que os EUA os apoiariam para terem o controle
e estruturar sua independência.
O fato de o governo ter financiado aqueles centros de
testes sem saber, dando-lhes grandes concessões, havia
feito o “Tio Sam” se esforçar muito para acomodá-los
com qualquer coisa que pedissem. Eles haviam usado o
dinheiro dos contribuintes para ajudar a criar as Novas
Espécies e continuar com a horrenda pesquisa que fora
feita por décadas em nome do aperfeiçoamento de
drogas prescritas e vacinas. Muito dinheiro havia
circulado a custo do sofrimento das Novas Espécies. A
nova base militar recém-construída fora dada a eles de
presente como sua pátria, o que criou boatos de que
aquele era o grande gesto do governo para livrar-se e
manter-se favorável à opinião pública.
Ellie estacionou o carrinho de golfe na frente do
alojamento e saiu. Esfregou os braços doloridos e correu
em direção à porta. Ela estava quase alcançando-a
quando os pelos de sua nuca se arrepiaram. Ela parou
depois que pegou seu cartão de identidade e lentamente
espiou por cima do ombro.
Um homem se espreitava sob a sombra de uma árvore
do outro lado da rua, só se via um fraco vulto de uma
figura, mas Ellie sentia que ele a observava. Ela sabia que
só podia ser Fury e ficou ali, encarando-o. Ela ficou
onde estava e ele também, nenhum dos dois se mexia.
Ellie mordeu o lábio, refletindo se deveria se aproximar
dele. Ela podia pedir desculpas novamente pelo que havia
feito, e talvez explicar com mais detalhes até que ele
compreendesse suas ações naquele dia dentro da cela. A
indecisão a mantinha em seu lugar enquanto lutava com
a necessidade de falar com ele e com o medo de que ele
não tivesse se acalmado.
Ele não se movia e ela não conseguia fazer com que
suas pernas fossem até ele. A lembrança de sua raiva e
de suas mãos esmagando sua carne a fez mudar de ideia
sobre falar com ele naquele momento. O medo a
motivou a olhar para a porta, passar o cartão para abri-la
e correr para dentro do alojamento. Ela se assegurou de
que as travas se fecharam antes de sair em disparada em
direção ao elevador.
Um silêncio sinistro se estabelecia no alojamento à
noite. Ela entrou no elevador com a sensação de estar
sendo observada. Com paredes de vidro, ela sabia que
ele podia vê-la. As portas se fecharam com firmeza para
deixá-la fora da visão da rua e Ellie se curvou contra a
parede. Ele deixaria isso para lá? Ela não sabia, mas
agora ele sabia onde ela morava. Ele trabalhava em
Homeland e provavelmente morava em uma das unidades
residenciais construídas a algumas quadras para o
conselho e os membros do alto escalão das Novas
Espécies.
Droga.
O elevador fez um barulho ao abrir no terceiro andar,
onde, por enquanto, ela era a única residente. Quando
mais mulheres fossem transferidas ao alojamento, os
quartos seriam preenchidos e o prédio estaria cheio de
vida em todos os andares. De repente, ela se preocupou
muito sobre estar sozinha ali.
O prédio era seguro, lembrou a si mesma. As únicas
pessoas com acesso a ele eram as mulheres morando lá
e os guardas responsáveis por vigiá-lo. Nem mesmo os
membros do conselho tinham acesso. Fury não
conseguiria entrar. Ela abriu sua porta.
Deixara as luzes acesas em seu pequeno apartamento
e a porta da sacada estava totalmente aberta. Foi em
direção a ela para fechá-la bem e a trancou pela primeira
vez. Ninguém podia alcançar a sacada, mas ela não se
importava com lógica. Olhou para os braços ao se
despir, vendo que estavam vermelhos e machucados das
mãos de Fury, e entrou no banheiro para tomar um
banho.
Fury sobreviveu! Aquele pensamento circulava por sua
mente. Lágrimas quentes se derramaram em sua face. Se
aquele dia nunca tivesse existido, ela teria tido a chance
de conhecê-lo. Talvez ele tenha… Seu olhos se fecharam
de dor. O quê? Se apaixonado por mim do jeito que me
apaixonei por ele? Era insano até mesmo considerar tal
possibilidade. Eles não se conheciam de fato, mas ela
queria mudar aquilo. Ele me odeia. Isso havia ficado
claro quando ele a jogou em cima da mesa e a raiva
jorrou de dentro dele.
Ellie enxugou as lágrimas. O que ela fizera com ele
não poderia ter sido evitado. Só podia esperar que um dia
ele a perdoasse por deixá-lo na cela e levar a culpa pelo
crime que cometeu. Então talvez…
– Droga, não faça isso com você mesma – ela
sussurrou, balançando a cabeça.
CAPÍTULO TRÊS
Ellie observava as mulheres das Novas Espécies com
frustração. Sabia que se tornar amiga delas seria uma
tarefa difícil, mas não fazia ideia de como elas
planejavam infernizar sua vida. Nenhuma delas havia se
mostrado amigável. Elas eram muito unidas, mas não
com Ellie. Ela esperava conseguir esconder sua mágoa.
Ajudá-las havia se tornado sua missão de vida, seu único
propósito, e até então elas não haviam permitido.
– Alguma de vocês gostaria de aprender a cozinhar?
Posso ensinar, ou mostrar uma tonelada de DVDs sobre
cozinha que consegui. – ela olhava de um rosto para o
outro – Tenho certeza de que vocês estão fartas das
refeições oferecidas no refeitório da ONE. Eu gosto de
cozinhar, aprender é bom e todos adoram comida.
Ninguém respondeu e todos aqueles pares de olhos
ficaram observando-a. Ellie suspirou.
– Eu juro que não sou sua inimiga. Estou aqui para
ajudá-las a aprender a viver e a se integrarem à
sociedade. Quero ajudá-las de qualquer forma que
precisem. Quero muito que me deixem fazer isso.
O silêncio delas se alongava por um tempo
desagradavelmente longo. Os ombros de Ellie
desmoronaram em uma derrota momentânea.
– Está bem. Talvez vocês precisem de mais tempo
para me conhecer. Se precisarem de algo, falem comigo,
por favor, é para isso que estou aqui. Ah, e fiz alguns
bolos e coloquei-os na geladeira, então tratem de comê-
los.
Ellie deixou a sala antes que elas pudessem ver como
estava deprimida. Assim que saiu da vista delas, ouviu
vozes femininas, o que lhe deu ainda mais vontade de
chorar. Todas ficavam caladas quando ela adentrava,
mas a conversa voltava assim que ela saía. Ela não
conseguia ignorar a possibilidade de que a odiassem.
Recusavam-se a falar com ela, a não ser quando
precisavam, e não pareciam querer sua ajuda. Ela
precisara dar-lhes aulas obrigatórias apenas para ensiná-
las coisas básicas, como usar os utensílios da casa. As
perguntas eram poucas mas, de novo, ela notara que
algumas possuíam uma memória extraordinária. Elas
guardavam as informações e depois ajudavam as outras
mulheres que estavam com dificuldades.
Ellie havia considerado se demitir, mas fora
assegurada por um dos membros do conselho de que as
mulheres evitariam qualquer um que estivesse naquele
cargo. Ela não era uma delas, apenas isso, e ser uma
humana pura fazia com que as Novas Espécies não
confiassem nela. Ellie fora avisada para dar-lhes tempo e
lembrada de que só haviam se passado duas semanas.
Duas semanas infernais, resmungou baixinho, e foi
para seu apartamento. Se ela fosse embora, porém, não
teria para onde ir, nem uma vida para a qual regressar,
depois de ter cortado todos os laços com seu passado. A
simples ideia de pedir para morar com um dos pais até se
restabelecer podia lhe deixar com enxaqueca.
Seus pais discutiam por tudo, mesmo morando
separados, e depois pediam a ela que fosse a juíza de
suas brigas estúpidas. Os dois haviam se oposto
veementemente ao divórcio da própria Ellie, a única coisa
sobre a qual concordavam, e mantinham contato com
seu ex-marido. Eles a faziam passar tempo com ele com
suas atrapalhadas e irritantes tentativas de fazê-los
reatarem. Ela preferia pular em um ninho de cobras do
que voltar à vida que tinha. Não ligava para casa por uma
razão e certamente não queria voltar para lá. Tanto seu
pai quanto sua mãe estavam bravos com ela, o que
significava que finalmente lhe dariam paz, algo que ela
não tinha deles desde que se divorciaram, quando ela
tinha dez anos.
Sua nova vida consistia em ir adiante e ajudar pessoas
com problemas de verdade e queria fazê-lo com as
Novas Espécies. Elas lhe eram valiosas e precisavam da
companhia de quem se importava com elas e ela,
definitivamente, se importava.
Ellie se trocou rapidamente, vestiu calças de ginástica,
uma regata e tênis de corrida. Precisava de ar fresco e
de um tempo longe do alojamento, certa de que não
sentiriam sua falta. Tentou não ficar com dó de si
mesma. Presumia que o trabalho a teria deixado mais
ocupada e que talvez fosse recompensador, porém, em
vez disso, sofria com solidão e depressão. Ela enfiou o
tocador de MP3 e o cartão de identidade no bojo do
sutiã, já que não tinha bolsos, saiu do quarto e começou
a se aquecer enquanto esperava o elevador.
Ellie deu uma olhada no relógio ao sair do alojamento e
observou o céu escuro lá fora, com apenas algumas
estrelas brilhando. Ela se virou e ficou de frente para as
janelas para espiar as mulheres sentadas no sofá, rindo
juntas na área da sala de estar. Não conseguia ouvir o
que diziam, mas as várias mulheres que ela espiava
pareciam felizes.
Felizes por eu não estar lá, pensou, emburrada.
Murmurou um palavrão ao virar as costas. Ela não era
de correr até se mudar para Homeland, mas a atividade
física a ajudava a lidar com o tédio. Ela começou uma
corrida suave pela calçada. A área parecida com um
parque se estendia por uma boa distância ao longo dos
muros policiados.
Colocou a mão no sutiã para aumentar o volume do
MP3 até a música martelar seus ouvidos. Ela tinha fases
com tipos de música e, ultimamente, ouvia heavy metal
para se ajustar ao seu humor. Ela se deslocava de forma
regular pelo caminho, que se curvou para longe dos
muros e em direção ao parque, no qual havia uma grande
lagoa. Gostava de correr perto da água.
Ellie desacelerou para uma caminhada rápida quando
começou a se cansar, até chegar à lagoa. Parou para se
alongar, se curvou para tocar os dedos dos pés, e depois
se levantou. Com o canto do olho, percebeu um
movimento. Ela se virou, esperando mais alguém se
exercitando aparecer, mas não viu ninguém. Franziu a
testa. Podia jurar que vira alguém.
Balançou a cabeça e deixou para lá. Imaginou que fora
o vento que balançava os topos das árvores que lhe
chamara a atenção.
Ela esticou os braços para cima e virou o corpo em
várias posições para relaxar a musculatura. Seu corpo
doía ao correr, mas ela queria entrar em forma, parecia
ser bom fazê-lo aos 29 anos.
Ela deu um sorrisinho jocoso, sabendo que seu ex-
marido teria um ataque do coração se a visse agora. Ela
já fora mais do que gordinha. Tinha se tornado uma
pessoa totalmente diferente depois de se divorciar de um
babaca que a traía, era verbalmente abusivo e acreditava
que ela era patética o bastante para aceitar qualquer coisa
que ele repartisse. Ele estava errado. Ela não era seu
capacho, jamais ficaria com alguém que não sabia amar
e terminara o casamento apesar dos protestos de Jeff.
Ela mudara sua vida completamente depois de ver o
sofrimento com os próprios olhos enquanto trabalhava
no centro de testes. Dezoito quilos mais magra e livre de
seu ex, ela parecia bem mais feliz. Ela deu uma risadinha.
Na verdade havia perdido 118 quilos indesejados, pois
100 deles eram do peso de Jeff. Seu último rompimento
com o passado fora escapar de seus pais depois de eles
tentarem persuadi-la a voltar com Jeff. É mais fácil
chover canivete, pensou ela com um sorriso zombateiro.
Os pelos de sua nuca se arrepiaram de repente. Seus
membros congelaram enquanto seus olhos se lançavam
pelo parque. Os paisagistas haviam plantado muitas
árvores, tornando a área uma minifloresta em volta da
lagoa. Alguns bancos tinham sido dispostos
estrategicamente e os prédios ficavam nos limites
exteriores do parque. Ela só conseguia ver o topo deles
de onde estava. Estudou a escuridão mais uma vez, e a
sensação de estar sendo observada crescia.
Ellie pôs a mão dentro da regata para pegar o MP3 e
apertou o botão de desligar enquanto o removia. Ela
ouvia atentamente, mas nada escutou de estranho.
Começou a ligar a música novamente, mas um rosnado
suave a fez pular. Um cachorro? Ela olhou por cima dos
ombros para verificar os arredores.
Havia alguns cães de guarda patrulhando Homeland,
mas estavam sempre presos às coleiras de seus
treinadores. Ela veria seguranças se uma das unidades
caninas estivesse nas redondezas. Um repentino desejo
de voltar ao dormitório a dominou.
Ellie deu alguns passos, mas ouviu outro rosnado,
dessa vez mais perto. Seu corpo ficou tenso. Ela
verificou a área novamente para procurar de onde o
barulho vinha, enquanto tirava os fones de ouvido e
segurava firme o MP3 em suas mãos. Ela esperava que
nenhum cachorro tivesse se soltado. Eles eram animais
grandes, ferozes e bem treinados para defender a
propriedade, e a tratariam como uma intrusa.
– Olá? – sua voz saiu. Ela esperava que um segurança
respondesse – Tem alguém aí?
Fury havia observado o alojamento feminino em que
Ellie morava e a tinha visto algumas vezes pelas janelas
de vidro do primeiro andar. Ela trabalhava com as suas
mulheres e ele ficara orgulhoso com a frieza delas, até
ver a tristeza no rosto de Ellie. Vê-la sofrer deixava-o
arrasado. Ele não devia, mas se importava.
Ele ficara perplexo ao vê-la sair do prédio sozinha,
correndo para longe da segurança. Ela não percebia o
perigo que ele representava? Que andara observando-a?
Seus instintos de sobrevivência não lhe gritavam que ele
estaria por perto?
Era óbvio que não, já que facilmente a seguira e a
observara correndo devagar para dentro do parque, e
aquela área isolada quase implorava para que ele se
aproximasse dela. Depois ela parou como se estivesse o
esperando. Ele inalou seu perfume no ar e gemeu quando
seu corpo reagiu. Desejava demais estar perto dela, o
que o deixava com muita raiva, pois era sua inimiga.
Ele rosnava ao combater a fera que se emboscava
dentro de si por controle. Seu lado humano sabia que ela
era inacessível. Ela era um informante e havia ajudado
seu povo, eis a razão por que estivera no centro de
testes. Mas seu lado animal queria chegar mais perto
para tocá-la e arrebatá-la. Tal verdade o assustava.
Ele freou seus instintos. Ela o traíra depois de tê-lo
feito acreditar que ela jamais faria algo para lhe
prejudicar. Quaisquer que fossem suas razões para
trabalhar para a Mercile, não serviam como desculpa
para o que ela lhe fizera, ou para a raiva com que ele
convivia, sabendo o preço que suas ações lhe custaram.
Ele treinou seus homens para manterem seus instintos
animais presos na coleira e precisava fazer o mesmo, dar
o exemplo, ficar sob controle. Ele tinha a
responsabilidade de mostrar às Espécies que havia vida
fora do centro de testes e que eles não eram apenas
animais criados pela Mercile, que perfurara suas cabeças
com insultos durante suas vidas. Mas Ellie era a prova
viva de que ele tinha uma fraqueza: ela.
Ela espiou em torno da escuridão, como se pudesse
senti-lo. Seu lado animal urrava dentro de sua alma para
ir até ela, pegá-la e tocá-la. Ele lutava contra a forte
vontade, mas se moveu até ela apesar do que tencionava.
Mais uma vez ele perdera o controle quando o assunto
era ela. Ele simplesmente não conseguia resistir àquele
perfume, ao intenso desejo de olhar em seus olhos e
ouvir sua voz.
A ira fervia em seu lado humano, enquanto seu lado
animal se deliciava com o puro desejo ao ouvir sua voz
doce e sedutora. Ele lutou contra si mesmo novamente
ao inalar o medo dela, quis protegê-la, porém também
precisava aterrorizá-la para mandá-la para o mais longe
possível dele.
Um movimento chamou novamente a atenção de Ellie.
Ela engasgou quando Fury saiu de trás de uma árvore a
alguns metros dali. Todo seu corpo reagiu à visão
daquele homem alto e atraente, e à sensação de perigo
que irradiava dele. Ela engoliu em seco, sua respiração
aumentou e o medo a agitou quando o choque diminuiu.
O que ela ouvira não era um cachorro; o rosnado viera
dele. Fury havia feito aquele som amedrontador.
Seus cabelos longos e sedosos caíam sobre seus
ombros e peito como uma cascata, tão livre e
desimpedida como ele parecia estar naquele momento. A
vestimenta preta que ele usava abraçava seus ombros,
seus impressionantes braços musculosos e delineava sua
elegante cintura. Um ar de perigo emanava dele quando
seu olhar sombrio pareceu se prender ao dela, deslizou
por todo seu corpo lentamente e um rugido suave soou
no fundo de sua garganta. Sua mandíbula se enrijeceu e
seus músculos ficaram tensos, aparentes mesmo sob a
luz fraca.
Ele deu um passo à frente, mais de uma forma
predatória do que do jeito que um homem se moveria,
avançando lentamente em sua direção. Os olhos dela
desceram às suas coxas musculosas, marcadas em sua
apertada calça preta, e foram até seus sapatos pretos. Ele
irradiava força e sex appeal, e ela engoliu seco. Seu
coração acelerou, sua respiração aumentou e seu corpo o
reconheceu como um puro macho.
Ninguém jamais a afetara como ele. Ele avançou em
mais um passo perseguidor, o movimento fluido era
quase sedutor, e ela percebeu que ele se vestira de forma
a se fundir à escuridão, como se pretendera se esconder,
mas permitira que ela o visse quando saiu à luz
minimamente necessária para revelar sua presença.
Agora, Fury a observava em silêncio, seus olhos
focados em seu rosto e, enquanto ela o observava, jurou
ter visto um olhar faminto em suas belas feições. Sua
língua se lançou para fora para umedecer o lábio inferior,
aquela ponta rosada tinha um quê de proibida, mas
também de tentadora, e seus olhos escuros se
estreitavam, fazendo parecer que ele lia sua mente. Ela
queria beijá-lo, desejava saber qual era a sensação de ser
tocada por ele de novo, mas sem raiva. É claro que isso
não aconteceria. Ele a odiava.
– Ai, merda – cochichou ela, mas depois falou mais
alto – Olá… ahn… Fury. Está uma boa noite para correr,
não?
Ele não disse nada, e deu mais um passo à frente antes
de parar. O terror que ela sentia cresceu. Eles estavam
sozinhos e ele jurara matá-la. Ela não podia pedir socorro
aos guardas da patrulha, não havia nenhum deles à vista.
Um leve rosnado passou pelos lábios semiabertos dele,
enquanto dava mais um passo na direção da mulher. A
necessidade de sair correndo crescia em Ellie, mas ela
ficou firme lá, pois havia lido relatórios falando sobre
como as Novas Espécies eram rápidas. Seu DNA
alterado, dependendo do animal com o qual fora
combinado, explicava o fato. Fury obviamente havia sido
misturado com algo canino e podia seguramente alcançá-
la, caso ela fugisse. Ela não sabia se deveria gritar, tentar
sair por meio de uma conversa daquela situação
assustadora, ou esperar que ele não a machucasse. Ele
chegou mais perto.
– Sabe para que eles nos treinaram para nos exibirem
aos investidores? – sua voz saía com um tom rude, frio
e amedrontador.
Ela precisou limpar a garganta, que queria se fechar de
medo.
– Não muito. A maioria dos arquivos foi destruída
quando os centros de testes nas Indústrias Mercile
foram invadidos, e eu não tinha acesso a essas
informações quando trabalhava lá.
– Caçar – rosnou ele – Eu me aperfeiçoei nisso, era o
melhor dos protótipos. Eles nos ensinaram como fazer
coisas para vender suas drogas, para mostrar exemplos
vivos do que humanos poderiam virar se comprassem
suas injeções e pílulas idiotas.
Ellie percebeu que, naquele momento, seu futuro
parecia ser questionável. Fury a odiava e falava de um
modo que ela sabia poder tornar-se letal. Ela não
conseguia encontrar as palavras certas, não sabia como
atenuar aquela situação. Ele deu outro passo em sua
direção. Merda, merda, que merda, pensava ela
agitadamente. Ele a alcançaria com só mais alguns
passos.
– Naquele dia eu não tive outra escolha – ela falou
abruptamente – Matei Jacob para proteger você, mas se
eles soubessem que fui eu, não teriam me deixado sair.
Eu só queria salvá-lo, eu nem mesmo tive a intenção de
matá-lo.
– Você contou a alguém o que ele fez comigo ou
como você me fez sofrer pelo que fez?
– Não. – ela balançou a cabeça. Ela tivera muito medo
de contar ao chefe que havia interferido; ele certamente
teria ficado bravo, já que ela agira contra as ordens do
diretor para que nada fizesse com que alguém fosse
suspeito na Mercile. Matar um técnico para proteger
uma Nova Espécie fora exatamente aquilo. As palavras
dele a pegaram. Sofrer?
– Ficou cheia de vergonha do que fez?
Ela hesitou.
– Você não tem ideia do quanto. Eu…
– Você disse aos guardas que eu o matei – ele rugiu,
interrompendo-a – Você espalhou o sangue dele nas
minhas mãos. Nem tente negar.
Lágrimas quentes de arrependimento ameaçaram rolar,
mas ela rapidamente as segurou.
– Eu… – ela engoliu seco – Eu não tive escolha. Não
achei que eles fossem matá-lo, senão jamais teria deixado
implícito que você matou Jacob. Você tem que acredi…
– Acreditar em você? – seus olhos escuros se
estreitaram e um som perigoso emanou do fundo de sua
garganta – Você ficou excitada em me ver sofrendo, em
saber que tipo de crueldade você faria comigo.
Como ele sabe que fiquei excitada? Ela não ousou
perguntar, mas não mentiria para ele, considerando que
devia demais a ele para fazer algo assim. Seus lábios
cerraram. Ela estava insegura sobre como explicar por
que ela respondera tão fortemente a ele, pois não
conseguia justificar. A reação de seu corpo a ele naquelas
circunstâncias fora simplesmente errada.
– Não foi por que você estava sofrendo ou por
planejar enfiar aquela agulha em você. Eu precisei fingir
que ele havia morrido enquanto tentava injetar aquilo para
deixar a história crível. Sinto muito.
– Me surpreende que você não esteja tentando mentir.
Ellie levantou o queixo e se deparou com seu olhar
zangado.
– Você está certo. Meu corpo realmente reagiu ao
ficar tão perto de você, não tenho desculpa. Tudo que
posso fazer é pedir perdão. Sei que foi imoral e me sinto
muito culpada. Você é… – ela hesitou, quase dizendo a
ele como o achava atraente – Você estava nu e eu não
pude deixar de notar, mesmo sob aquelas terríveis
circunstâncias. Desculpe-me.
O maxilar de Fury ficou tenso. Ela podia ver suas
feições claramente agora que apenas alguns passos os
separavam.
– Você trabalhava para as Indústrias Mercile. Você
ficou se arrastando para encontrar evidências
incriminatórias? Gostou do que aquele técnico fez
comigo? – ele rosnou para ela, mostrando rapidamente
seus dentes afiados, agora um pouco mais perto – Ficou
excitada por ele me machucar e planejar me estuprar?
Você ganhava a confiança de outros Espécies machos
também quando entrava em suas celas sem que eles
rosnassem? Enganou-os passando a impressão de não
ser perigosa? Permitiu que levassem a culpa por algo que
você fez? – suas narinas se abriram e ele rosnou mais
forte – Quem mais você traiu?
Suas selvagens acusações fizeram Ellie cambalear,
como se ele a tivesse atingido fisicamente.
– Não! Você foi o único a quem tive que fazer isso.
Tentei encontrar provas suficientes para um juiz expedir
um mandado. Como ousa? Eu colhia amostras, escrevia
relatórios, mas não tinha acesso a nenhum dos arquivos
antigos que mostrassem qualquer coisa que provasse sua
existência lá embaixo. Todos os dias eles nos revistavam
antes de irmos embora, eu não podia levar até lá
nenhuma câmera para provar que diabos estavam
fazendo com vocês ou que vocês eram apenas boatos.
Você não tem ideia de como era aterrorizante para mim
ter que passar pela porta principal e tomar aquele
elevador em todos os meus turnos. Sempre me perguntei
se eu voltaria a ver a luz do dia se eles descobrissem que
eu estava fazendo espionagem para a polícia. Eles teriam
me matado. Os outros funcionários falavam e me
alertavam sobre o que aconteceria se a Mercile apenas
suspeitasse de que alguém estava contra eles. Eles
cuidariam para que eu desaparecesse e meu corpo nunca
fosse encontrado.
– Se eles a revistavam, então como você conseguiu
contrabandear evidências?
O calor fez sua face corar.
– Quer mesmo saber?
– Quero – rugiu ele.
– Eu as engoli.
Por um segundo, ele empalideceu, depois franziu a
sobrancelha.
– Não entendo…
– Precisei fazer amizade com alguns médicos, e isso
demorou. Eu não tinha acesso a nada vital, mas eles,
sim. Cuidadosamente, fui ganhando a confiança deles,
fiquei muito próxima de uma médica que se parecia
comigo, e troquei meu avental com o dela durante o
almoço. Roubei seu cartão de segurança, arrumei meu
cabelo como ela, inclinei a cabeça ao passar pelas
câmeras de segurança e ao entrar no escritório dela. Eu
já a havia visto digitar o código algumas vezes e me
lembrei dele para conseguir entrar lá. Eu tinha um
pequeno drive para guardar dados, que meu chefe havia
me dado para copiar arquivos. Eu o engoli. Tanta coisa
podia ter dado errado…
Ele a fitou, franzindo a testa.
– Eu tinha certeza de que seria pega e de que os
guardas tomariam o escritório e me matariam. Você não
sabe como estava apavorada ao sair de lá, rezando para
conseguir destrocar os aventais sem que ela percebesse.
Isso também foi naquele dia, você sabe. – ela pausou –
A última coisa que eu queria fazer era chamar atenção
com aquela porcaria dentro do meu estômago, sabendo
como era importante entregá-la ao meu chefe, mas ainda
assim tentei salvar você, mesmo arriscando a mim ou a
evidência. Quer ouvir sobre como é doloroso vomitar
algo do tamanho de um pen drive? Parecia fácil de
engolir. Eu estava disposta até mesmo a deixar que me
operassem para consegui-lo de volta, caso o vômito não
funcionasse. Eles temiam que os ácidos estomacais o
danificassem se passasse muito tempo.
Ele continuou a franzir a testa durante os segundos
que passaram.
– Você me enganou também. É isso o que você faz. –
ele apertou os lábios – Você mente para as pessoas e
depois as trai, você não é melhor do que aqueles
monstros que criaram e escravizaram meu povo.
A dor perfurou seu peito com aquelas palavras rudes,
sendo rapidamente seguida por uma raiva que a
consumia. Ela havia matado uma pessoa por ele e
arriscado a própria vida para salvar seu povo. Ele que se
dane.
– Eu não quis lhe fazer mal de nenhum jeito. – ela
pausou – Mas vou dizer uma coisa. Eu salvei sua pele,
Fury. Você só está vivo por causa do que fiz, você
estaria morto se eu não tivesse entrado na sua cela e
parado aquele cretino. Você teria morrido acorrentado ao
chão, sendo abusado por aquele filho da puta, a apenas
alguns dias de ser libertado. Se isso é imperdoável para
você, então, que pena. Manter você vivo se tornou
minha maior prioridade.
– Você disse que me odiava. Me chamou de cretino
imprestável e quis que eu soubesse disso. Nunca me
esqueci do que você disse.
Ellie ficou boquiaberta.
– Não.
– Eu estava lá, deitado no chão, indefeso, e você se
afastou de mim para pegar o sangue do técnico e
espalhá-lo nas minhas juntas. Você cuspiu aquelas
palavras de ódio para mim.
Por fim, ela entendeu e sentiu a cor sumir de seu
rosto.
– Eu não estava falando com você, estava dizendo
aquilo para o Jacob! Eu o odiava e ele era um filho da
puta pelo que fez com você.
– O homem estava morto. Não minta, você disse
aquelas palavras para mim.
– Não. – ela balançou a cabeça freneticamente, com
os olhos fixos nos dele – Eu juro, estava falando com
ele. Esperava que ele me ouvisse no inferno; tenho
certeza de que é para lá que ele foi por suas ações.
Esperava que ele soubesse o que achava dele.
Fury franziu a testa, estudou as feições dela e ficou
em silêncio.
– Essa é a verdade.
– Quer saber qual foi a pior parte quando você entrou
na minha cela? – sua voz profunda ficou fria como gelo
e seu corpo todo ficou visivelmente tenso.
Ela apenas balançou a cabeça e seu medo voltou. Ódio
emanava dos olhos dele. Eles pareciam mais escuros do
que ela se lembrava, porém no parque havia menos luz
do que na sala de conferência, semanas antes.
– Eu ainda posso sentir seu toque em mim. Primeiro
você me acalmou, me salvou e eu acreditei que você não
fosse me fazer nenhum mal. Na verdade, eu recebi suas
mãos no meu corpo com alegria. Fecho os olhos e sua
memória está marcada ali. – ele deu mais um passo –
Lembro de você fugindo depois do que fez, me deixando
confuso e sofrendo. A agulha que você enterrou na
minha pele doeu menos do que a dor que perfurou meu
coração.
– Eu sinto muito. Não se passa um dia sequer sem que
isso não me assombre. – ela pausou – Fiz isso para
salvar sua vida. Você sabe o que Jacob planejava fazer
com você, mas eu o impedi. Precisava encontrar um
jeito de roubar evidências. Me desculpe. A última coisa
que quis foi machucá-lo ainda mais. Não queria
incriminá-lo pelo assassinato dele, ou enfiar aquela
agulha em você, mas eu tive que fazer tudo parecer
convincente o bastante para eles me deixarem sair de lá.
Ele deu mais um passo.
– Nada disso importa – rosnou ele – Só me lembro do
que você fez, só disso. Jurei que se a visse outra vez a
mataria com minhas próprias mãos. – ele quase a tocou
quando parou a alguns centímetros dela – Você devia
correr se tem cérebro. Estou lutando para me controlar,
e não faço ideia de qual lado meu irá ganhar. Nunca se
esqueça de que uma parte de mim é animal.
Fury esperava que ela seguisse seu conselho. Ele
podia ver o medo no rosto expressivo e delicado de Ellie.
Notou as pequenas linhas perto da boca dela, o que
revelava que ela sorria com frequência. Se perguntou
como seria ouvir sua risada. Ele nunca tivera um motivo
para sorrir até ganhar a liberdade. Com o lábio inferior,
ela fez um beicinho de preocupação, e a vontade de
chupá-lo o golpeou.
Depois foi aos cabelos dela que ele se atentou. Eram
tão diferentes dos dele, com sua aparência muito clara e
cachos desobedientes. Pareciam ter uma textura macia,
cheiravam a morangos, e emolduravam seu rosto,
fazendo sua estrutura óssea parecer frágil.
As mulheres das Novas Espécies são drasticamente
diferentes da minha pequena humana. Ele congelou,
percebendo que acabara de chamá-la de sua. A
indignação o engolfou. Ele sabia que não deveria confiar
em humanos, eles infligiam dor a cada chance que
tivessem. Em especial, ela. Ela acabara de admitir ser
uma boa mentirosa. Até onde ele sabia, tudo o que ela
acabara de dizer podia ser mentira, dito apenas para
ganhar a compaixão dele.
Ele estaria perdido se lhe desse uma chance para traí-
lo de novo. Ainda assim, a ideia de ela pertencer a ele o
deixava confuso. Suas vísceras se apertaram, seus
dedos coçavam para tocá-la e ele sentia a vontade louca
de dizer algo que aliviasse o medo que ela sentia dele.
Merda, ele percebeu com repulsa, quero fazê-la rir só
para vê-la sorrir. Era insano e errado. Seus pensamentos
e suas emoções conflitantes faziam seu ódio queimar
ainda mais. Ellie, ao que parecia, se tornara uma grande
manipuladora e ele não queria ser a vítima, nunca mais.
Fury tentou se focar no presente. O inimigo estava na
sua vista e ele tinha a oportunidade de enfim se vingar de
pelo menos uma pessoa que lhe fizera mal. Até então não
tivera uma ocasião sequer para ficar quite. Os piores
criminosos não tinham sido presos para encararem o
castigo pelo que haviam feito, enquanto outros
conseguiram se esconder. Isso fazia daquela mulher à
sua frente sua única saída.
Seu coração martelava de forma errática e a imagem
da última vez em que ela saiu correndo, depois de o ter
traído, encheu sua mente. Essa memória voltou com
tanta força, que ele cambaleou para trás com aquela
rajada de emoções que passava por ele. Ela saíra com
tanta urgência que errou a porta e deu de cara na parede,
em sua pressa para vê-lo ser punido pelo que ela havia
feito.
O animal dentro dele uivava para que ele a pegasse.
Não havia mais correntes prendendo-o, nem drogas para
manter seu corpo imóvel. Ele ficou tenso, com todos os
músculos rígidos, e a viu dar um passo para trás. Ele
inspirou agudamente; o medo dela era tão forte que ele
podia até sentir o gosto. Isso fez com que seus instintos
gritassem para cobri-la, para protegê-la, mesmo que
ficasse enfurecido com o efeito que ela tinha sobre ele.
Ele rugiu enquanto suas emoções conflitantes se
combatiam.
Ela era o inimigo, e ainda assim ele queria
desesperadamente tocá-la. No segundo em que ela se
virou e saiu correndo, ele deu um pulo para a frente,
perseguindo a mulher que ele queria mais do que
qualquer outra coisa que já desejara na vida. Não havia o
que o fizesse impedir seu animal de assumir o controle.
Mais uma vez, ele tinha perdido totalmente o controle.
Ellie sentia o sangue abandonar seu rosto ao observar
as emoções se evidenciarem nas feições de Fury. As
boas intenções que a mantinham no lugar se dispersaram
quando ela viu seu olhar feroz e ouviu seu rugido
doloroso e animalesco. Ela se virou e saiu correndo em
pânico.
Fury diminuiu a distância entre eles. O terror a fazia
correr mais rápido. Seu MP3 escorregou de seus dedos
e se espatifou na calçada, um segundo antes de ele
agarrá-la por trás.
Ellie abriu a boca para gritar, mas caiu na grama antes
de sua voz sair. O corpo pesado dele travou o ar em seus
pulmões. Ele arrancou seus fones de ouvido. O peso em
cima dela se movimentava. Ellie respirou antes que ele a
agarrasse de novo, e o peso dele voltou quando a deixou
de costas no chão.
Seu enorme corpo prendia o dela firmemente contra a
grama úmida. Ela tentava tirá-lo de cima, mas ele não se
moveu. Suas palmas empurravam seu peitoral de aço em
vão. Ela gemeu de medo ao se deparar com sua fúria
raivosa e sombria. Sob a luz fraca, dentes caninos se
mostraram logo acima de seu rosto.
As mãos dele ficaram mais leves ao pegarem em seus
braços e os puxaram para cima da cabeça dela. Depois
ele envolveu seus pulsos com apenas uma mão. Ele
apertou os dentes, ainda mostrando suas presas, e
rosnou do fundo de seu peito. Ele vibrava contra o corpo
dela ao fazer aquele som aterrorizante.
– Por favor, não me machuque – ela arfou.
Ele levantou um pouco o peito, o suficiente para que
ela pudesse respirar.
Ellie arquejou. Os olhos dele procuravam algo nos
dela, e ela se perguntou o que ele queria ver. O que quer
que ele tenha descoberto o fez sussurrar um xingamento.
Ele soltou seus pulsos e, de repente, rolou e se levantou.
Ellie continuava esparramada na grama, olhando-o,
chocada por ele tê-la soltado. Ela sentia dores por conta
do que ele fizera e seu coração estava acelerado.
– Levante – ele ordenou rudemente.
Ellie precisou lutar para ficar em pé. Não era nada
gracioso, mas ela se levantou. Queria fugir de novo, mas
não tinha forças.
– Já pedi desculpas. O que mais você quer de mim? –
ela se aproximou mais e olhou fundo em seus olhos
estreitos – Seja lá o que for preciso, apenas diga, que o
farei. Vou fazer qualquer coisa para deixar tudo bem
entre nós. Fale.
Fury a observava enquanto ela se aproximava, mas
continuou em silêncio e cauteloso. De repente, ele lançou
a mão e lentamente enrolou-a em volta do pescoço dela.
A confusão de Ellie virou pânico ao perceber que, apesar
de não sentir dor, algo estranho estava acontecendo.
Suas duas mãos pegaram no pulso dele, e ele usou sua
mão livre para soltar as pontas daqueles dedos de sua
pele.
As pernas de Ellie se enfraqueceram, contudo Fury
não a deixou cair, segurando-a pelo pescoço. Ela tentou
gritar, e nada saía. Olhou nos olhos dele, implorando
silenciosamente para que ele parasse. Algo no olhar dele
cintilou e, de repente, ele soltou os dedos dela e passou o
braço em volta de sua cintura. Ele a puxou com força
contra seu corpo e a segurou no colo, enquanto baixava
a cabeça até sua orelha.
– Não lute – ele murmurou com aspereza.
Não lute? gritou sua mente apavorada. Ela sabia que
devia estar ficando azul.
Sua visão foi ficando turva e a voz dele parecia estar
longe. Ellie se debatia em suas mãos, mas Fury não
desviava o olhar de seus olhos amedrontados. A
escuridão ameaçou tomá-la, mas ela a combatia,
querendo viver.
Ele jurou que ia me matar e é o que está fazendo. Eu
realmente não acreditava que ele pudesse fazer isso.
Fury soltou seu pescoço no momento em que o corpo
dela desmoronou contra ele, e a segurou com mais força
contra seu corpo. Agora que ele parara de restringir o
fluxo de sangue ao cérebro dela, ela relaxou contra ele,
inconsciente mas respirando. Ele escolhera o método
mais seguro e rápido para dominá-la. Ela teria lutado
mais e com mais força se ele não tivesse feito nada.
Daquela forma, ela não estava ferida, apenas dormia em
paz contra ele. Ele inspirou profundamente, esfregou o
nariz no pescoço dela, e gemeu. Ela cheirava tão bem,
que o deixava com vontade de arrancar as roupas de
ambos e roçar sua pele na dela.
Um cachorro latiu ao longe e Fury levantou a cabeça.
Lançou o olhar em volta do parque, com seus instintos
em alerta máximo. Os guardas da patrulha chegariam
logo. Ele conhecia sua rotina desde que começara a ficar
de olho nos humanos que achavam controlar Homeland
por completo. Eles não faziam ideia de que Fury e
Justice haviam tramado secretamente para acelerar o
processo que os faria ter o comando das próprias vidas:
treinar seu povo para fazer o trabalho dos humanos. Os
humanos pensavam que eles precisariam de muito mais
tempo para aprenderem a ser independentes, mas
estavam errados.
Ele olhou para baixo e viu a cabeça de Ellie, o rosto
dela pressionado contra seu peito e, então, a levantou
delicadamente e a segurou no colo, indo em direção à
escuridão para se esconder. Seria um desafio levá-la à
sua casa sem ninguém notar, mas ele era furtivo o
bastante para conseguir.
Ele também era um assassino. As Indústrias Mercile
os havia treinado para lutar, mas nunca conseguiram
controlá-los. As Espécies se recusaram a fazer mal a
outras Espécies machos, não importava a ordem que
recebessem. A Mercile queria gravar provas de suas…
Queria gravar provas de suas habilidades ampliadas, para
mostrar o que suas drogas poderiam fazer. Dada a
oportunidade de atacar seus captores do sexo masculino,
eles os matariam, embora não devessem. Os guardas
haviam sido perversos e brutais e Fury atingiu alguns
sempre que foram descuidados o suficiente para cometer
algum erro.
As Indústrias Mercile haviam unido DNA animal aos
seus genes e lhe dado incontáveis drogas, mudando mais
do que sua aparência. Seu olfato ficava mais apurado
conforme envelhecia, e ele ficara mais forte, com
reflexos mais rápidos do que um homem comum e, às
vezes, o instinto que comandava sua mente.
Era difícil controlar a raiva que sentia, mas aprendera
a ter paciência com o passar dos anos. Ainda mais,
aprendera a ter controle. Olhou para Ellie e franziu a
testa. Ele observara e ouvira todas as palavras ditas entre
os médicos e a equipe, quando eles faziam testes nele.
Tudo o que ele ouvira lhe ensinara as diferenças entre os
humanos e as Novas Espécies.
Os humanos não tinham os mesmos sentidos que as
Espécies. Eles não podiam enxergar no escuro ou sentir
seu cheiro se ele estivesse contra o vento, e eles também
não possuíam uma audição excepcional. Os humanos
não tinham nem sua velocidade, nem sua força, a não ser
que tomassem drogas.
As alterações nas Espécies eram permanentes, mas as
drogas da Mercile não mantinham o mesmo efeito nos
humanos, a longo prazo. Às vezes, as drogas matavam
os humanos voluntários. Acidentalmente, eles haviam
feito com que as Novas Espécies fossem superiores,
mas as tratavam como inferiores.
Fury moveu o corpo inconsciente de Ellie em seus
braços e a carregou delicadamente enquanto seguia pelas
sombras. Ele não tinha ideia do que fazer com ela
quando chegasse em casa, mas seu animal parecia
contente agora que a possuía. O homem dentro dele
tramava uma vingança. Ela oferecera fazer as pazes com
ele, e algumas possibilidades passaram por seus
pensamentos. Ele não a machucaria realmente, não seria
capaz disso, mas ela poderia pelo menos aprender uma
ou duas lições sobre o que ele sofrera com o crime dela.
Uma pequena parte dele esperava que um tempo a sós
com Ellie o curaria da obsessão que ela havia se tornado.

Ellie acordou confusa, e as memórias voltaram


rapidamente. Sua garganta doía um pouco. Tentou
colocar as mãos nela, mas seus braços estavam presos a
algo. Seus olhos se abriram e viram um teto branco em
uma sala mal iluminada e estranha. Levantou a cabeça
para olhar em volta.
O grande quarto tinha mobília escura e fogo queimava
em uma lareira no canto, sendo uma fonte de luz. Um
barulho de descarga se fez, alarmando-a. Com alguns
puxões, ela descobriu que seus braços estavam esticados
e bem abertos acima de sua cabeça, amarrados pelo
pulso com um material macio e preto que os ligava aos
lados da cabeceira.
Houve um barulho alto e rápido de água correndo, e
depois uma porta se abriu de um lado do quarto. Fury
saiu do banheiro. Ela olhou para seu peito nu e a calça
preta de ginástica que ele vestia. O medo de Ellie cresceu
ao vê-lo seminu. Ela estudou seu porte muscular
cautelosamente. Ele apagou a luz, deixando o quarto
escuro novamente, escondendo todos os minúsculos
detalhes de seu corpo.
– Você acordou. – seu tom de voz suavizou-se. Sua
calma parecia enganosa, dadas as circunstâncias. Ele foi
em direção à cama – Que bom.
Ele havia coberto Ellie com um lençol espesso e
macio. Ela olhou para baixo e notou que a parte de cima
de seu peito estava despida e exposta. Mexeu a perna,
sentindo os lençóis de novo… corpo despido. Seu olhar
espantado retornou a Fury.
Ele parou na ponta da cama.
– Tirei suas roupas. – ele pausou – Todas.
– Por quê? – sua voz saiu estridente, devido à sua
garganta seca. Seu nível de medo subiu. Por que ele a
levaria até a casa dele e a amarraria nua à sua cama? Ela
estava com um péssimo pressentimento e não queria
saber a resposta, certa de que a deixaria ainda mais
apavorada.
– Você sabe por quê. – ele foi em direção ao criado-
mudo – Está com sede?
Ela fez que sim com a cabeça. A cama afundou
quando ele se sentou na extremidade, pegou a garrafa de
água, obviamente posta ali para ela, e se virou para
encará-la. Ele dirigiu uma das mãos a ela para,
gentilmente, passá-la por seu pescoço e levantá-lo,
enquanto levava a boca da garrafa aos lábios dela. Ela
engoliu o máximo que conseguiu sem engasgar. Ele se
afastou e seu toque a abandonou, enquanto colocava a
água de volta no criado-mudo.
– Pensei muito e por muito tempo sobre o que fazer
com você – ele a informou suavemente – Já quis matá-la
instantaneamente, mas isso foi antes de eu saber que
você era uma espiã. Eu não entendia que você estava
naquele lugar infernal para salvar meu povo. – ele pausou
enquanto ajustava sua posição para se sentar de lado e
olhar para Ellie – Agora decidi que você pode viver.
Sua frequência cardíaca diminuiu e um pouco do
terror passou.
– Por que estou aqui? Por que me trouxe do parque?
Os olhos de Fury se estreitaram.
– Você disse que faria qualquer coisa para ficar bem
comigo. Decidi que você merece um castigo. – ele
pausou – Também não sei se acredito no que diz. Você é
uma espiã, acostumada a mentir e a dizer às pessoas o
que elas querem ouvir para evitar perigos. Você feriu
meu orgulho, traiu minha confiança e tem que pagar por
isso. Sabe como eles me fizeram sofrer por matar o
técnico?
Ela ficou boquiaberta.
– O quê?
Sua mente cambaleou ao ouvir as palavras dele. Ah
não. A dor apertou seu coração.
– Eles ficaram muito bravos por eu ter matado aquele
homem. Me castigaram pelo o que você fez.
CAPÍTULO QUATRO
Ellie viu a verdade em sua expressão sinistra. Ela
tivera esperanças de que Fury não fosse punido pela
morte de Jacob. O técnico o havia atacado, planejara
estuprá-lo e o teria matado. Ela precisou conter as
lágrimas que encheram seus olhos.
– Eu não sabia. – ela odiava ter que perguntar, mas
precisava saber – O que eles fizeram com você?
Um rugido leve atravessou os lábios dele.
– Quer saber dos detalhes para sentir prazer com o
sofrimento que você me causou?
– Não! – a acusação a deixou horrorizada – Não achei
que eles fossem realmente lhe fazer mal. Eu juro, Fury.
Eles achavam que você era valioso demais para ser
morto, colocaram muito dinheiro em você, e,
honestamente, nunca passou pela minha cabeça que
alguém se importaria com a morte de Jacob depois do
que aquele filho da puta tentou fazer com você.
– Mas eles se importaram. – ele se inclinou um pouco
para a frente, encarando-a – Eles me torturaram em
retaliação à morte desse homem. Me causaram enorme
dor. Você com certeza sabia disso. Era uma espiã
habilidosa e evitou a punição pela morte dele.
– Eu só queria salvar você. Meu chefe prometeu que
seria só uma questão de dias até resgatarem você se eu
conseguisse roubar aqueles arquivos. Arrisquei tudo para
entrar naquela sala e impedir Jacob de matá-lo. Menti
para todo mundo naquele centro de testes, mas não
estou mentindo para você. Também não sou exatamente
uma espiã. Sou uma enfermeira, Fury. – ela fez uma
pausa – Eu trabalhei nos escritórios das Indústrias
Mercile distribuindo aspirinas, até que me falaram sobre
trabalhar disfarçada. Um agente contou sobre os boatos
a respeito de um centro secreto de testes com cobaias
humanas, e fiquei ultrajada em saber que uma empresa
pudesse fazer aquilo.
– Por quê? – seu tom de voz ficou áspero.
– Uma coisa é alguém se oferecer voluntariamente
para que uma empresa de pesquisas teste drogas
experimentais nele. Ele sabe ao que está se submetendo
e, para mim, essa pessoa não tem nada a perder se é
doente o bastante para correr os riscos. Mas é algo
completamente diferente quando pessoas são forçadas a
tomar algo contra a vontade delas. Os boatos diziam que
elas eram trancadas em celas. Eu trabalhava para eles, e
isso queria dizer que eu acidentalmente me tornara parte
daquilo. Eu só queria fazer justiça.
– Por que você se importaria com o que aconteceu
comigo ou com meu povo? Por que arriscaria sua vida
para me salvar?
Ellie escolheu suas palavras com cuidado.
– Eu o via por uma sala de observação que descobri
sem querer alguns dias depois de ter começado a
trabalhar lá. As portas eram tão parecidas, que achei que
fosse uma sala de suprimentos. O espelho na sua sala era
falso. Às vezes eu entrava de fininho para ver você. – ela
não mencionou que o fazia diariamente, não queria que
ele soubesse como ela ficara quase obcecada por saber
se ele estava bem – Respeitava sua coragem, e você não
deixaria que eles destruíssem sua força de vontade. O
que eles fizeram foi um crime. Por acaso eu estava lá,
fazendo uma pausa, quando Jacob entrou em sua cela, e
eu o ouvi dizendo que queria matá-lo. Não aguentei ficar
ali sem fazer alguma coisa.
Fury parecia ponderar sobre sua explicação.
– Você nunca impediu nada das outras coisas que
faziam comigo. Você ficava assistindo quando eles
levavam mulheres à força até minha cela e batiam nelas
para que fizessem sexo comigo? Você gostava de
observar aquilo?
O horror manteve Ellie em silêncio. Ela não sabia que
os médicos faziam tal tipo de coisa; talvez eles a
deixaram por fora de propósito, porque ela fora
transferida há não muito tempo. Jacob fora o único a
atacar Fury sexualmente.
Aquilo a enojava. Ela se perguntou se eles a teriam
forçado a fazer sexo com alguma das Espécies machos,
se ela não tivesse ajudado a acabar com o centro de
testes.
– Eles faziam você ter relações sexuais com outras
mulheres? Eu não sabia, nunca vi mulheres na sua cela.
Eram as outras enfermeiras e técnicas? Nunca ouvi nada
sobre isso, Fury, eu juro.
– Eram Novas Espécies fêmeas. Por anos, eles
tentaram fazer com que nos reproduzíssemos.
Precisavam fazer mais de nós, mas não conseguiam
refazer os procedimentos que usaram para nos criar. Eu
ouvi o suficiente para saber que a médica que conseguira
unir nossos genes aos de animais os deixou quando
éramos novos, levou sua pesquisa, destruiu o que
tinham, e eles queriam mais exemplares de nós.
Estávamos envelhecendo e eles tinham medo de que
morrêssemos. – a raiva fez sua voz virar um rugido –
Uma criança ou um cachorrinho? Era a piada que um
daqueles médicos contava. Ele ria sobre descobrir se
nossas mulheres estavam grávidas. – a voz de Fury se
intensificou para um rosnado – Você alguma vez tentou
salvar alguma delas de ser forçada a fazer sexo?
Ele tinha muitas razões para odiar. Sua raiva,
direcionada a ela, era ainda mais compreensível.
– Eu não sabia de nada disso, nunca nem mesmo vi
uma de suas mulheres. Eu era uma técnica do grau mais
baixo, com movimentação limitada no centro. Mais
tarde, quando ouvi sobre mulheres resgatadas, foi um
choque. Eu só vira homens, Fury.
– Você não perguntava. Às vezes, as mulheres eram
estupradas pelos técnicos. Fico muito bravo em saber
que você interviu por mim, mas não por elas.
– Eu fazia muitas perguntas, mas eles me diziam que
não era da minha conta. Eu havia recebido ordens de não
insistir muito por respostas, por medo de que a Mercile
me achasse suspeita. Meu chefe pensava que me
matariam se tivessem a menor suspeita do porquê de eu
querer saber exatamente o que eles faziam lá embaixo, e
ele tinha razão.
Ellie piscou para conter as lágrimas. Ela sabia que
horrores haviam sido cometidos em nome da ciência,
mas o que fora feito a Fury e sua espécie a deixava
atordoada. Eles foram tratados como meras cobaias,
ferramentas, nada além disso. Colher amostras de
sangue, enchê-los de drogas e mantê-los trancados havia
sido horrível, mas ouvir que eram forçados a fazer sexo
e usados como procriadores a deixava doente.
– Acreditei que você não fosse me fazer mal. Você
tinha noção disso? Quando eu não rosnava sempre que
você entrava na minha cela, ficava feliz? Eu não queria
lhe causar medo. Você tinha sorrisos gentis e era
delicada com as agulhas. Quando matou aquele técnico,
no começo acreditei que você queria impedir que eu
sofresse. – suas feições ficaram tensas e sua voz ficou
mais profunda, pronunciando cada palavra
cuidadosamente – Você me deixou lá para ser torturado
pelos guardas pelo seu crime. Eles me chicotearam e se
revezavam para me machucar. Alguns deles eram amigos
do técnico. Eles não podiam me matar, mas me fizeram
muito mal.
Lágrimas rolaram pelo rosto de Ellie.
– Me desculpe. Eu… – ela sabia que nada do que
dissesse acabaria com o ódio que ele sentia dela, mas
precisava tentar – Eu sinto muito. Não sabia que fariam
isso. Eu achava que apenas Jacob queria alguma coisa
com você, por você ter quebrado o nariz dele. Eu sabia
que o valorizavam demais para matá-lo. Também nunca
achei que estivessem fazendo experimentos de
procriação. Achei que você ficaria a salvo até eu pegar
as evidências e a ajuda chegar. Eu não teria dito a eles
que você o matou se soubesse que pagaria por isso.
Seus caninos apareceram quando ele abriu a boca.
– “Obrigado”. É isso que você espera ouvir? Você o
impediu de me estuprar e me matar. Devo ficar grato
pelas horas em que apenas me torturaram?
– Não. – Talvez. A confusão a deixou em silêncio –
Você está vivo e ele não o estuprou. Isso não conta
nada? Não assisti a tudo sem fazer nada, arrisquei minha
vida entrando naquela cela para tentar salvá-lo. Eu tinha
que fazê-los pensar que você o matara em defesa
própria, e nunca quis que algo de mal acontecesse.
Precisava fazer aquilo, Fury. Por favor, tente entender. A
evidência que roubei acabou sendo o elemento-chave
para influenciar um juiz a expedir os mandados de busca
que encontraram seu povo. Se eu tivesse dito àqueles
seguranças que eu matara Jacob, eles jamais teriam me
deixado sair. Eu teria morrido e você ainda estaria preso
naquela cela, junto de seu povo. Isso não importa
nenhum pouco?
Ele respirou profundamente. Ao falar, era claro que
havia se acalmado um pouco, já que não rugia mais.
– Desculpas não mudam o que aconteceu comigo,
mudam? Não mudam o que você fez a mim ou o quão
traído eu me senti. Eu confiava em você e, mesmo
assim, paguei pelos seus atos. Não vou matá-la, mas
quero ter certeza de que você entenda a humilhação e a
impotência.
Fury agonizava sobre como tinha sido idiota em
confiar em Ellie. Os guardas haviam até mesmo o
provocado antes do incidente, sobre ele não rosnar
quando ela entrava em sua cela.
Ele aguentara aquelas palavras rudes e as acusações de
que ele queria montar naquela fêmea humana, seus
cruéis deboches de que ela jamais desejaria ter relações
sexuais com um animal, contudo ela havia sido sua
fraqueza. O sentimento de traição era profundo depois
daquele dia. Ele passara meses odiando-a, relembrando-
se das torturas que sofreu e culpando-a. Ela o
abandonara no chão, mandara guardas para chutá-lo e
depois prendê-lo de volta à parede na qual o abuso
continuou.
Humanos eram criaturas enganadoras e cruéis. Ele já
havia julgado Ellie erroneamente uma vez. A memória
dolorosa de suas ações rasgava seu coração. Ele não
permitiria que ela o enganasse de novo passando uma
falsa sensação de confiança.
Todo humano com quem ele se importara o traíra.
Memórias de sua infância vieram à tona. Ele considerava
a doutora Vela quase como uma mãe. Ela lhe dava
biscoitos, um mimo raro pelo qual ele aguardava com
ansiedade. Ele teria feito qualquer coisa por ela. A
doutora prometera que ele podia ser livre caso se
tornasse um habilidoso lutador. Eles até mesmo o
filmaram para exibir como as drogas funcionavam em
seu corpo.
Era tudo uma mentira para manipulá-lo a consentir.
Quando vieram para levá-lo a outro centro, ela riu de
como ele fora incrivelmente ingênuo e estúpido. O
inferno começou depois daquilo, quando o ensinaram a
suportar dores físicas.
A tortura continuou até sua vida adulta. Os
espancamentos que aguentava enquanto tentavam criar
drogas que curariam os humanos mais rápido, os males
e as dores que sofria com as que falhavam e quase o
mataram… todas essas lembranças voltaram.
Houve também a guarda que prometera ajudá-lo a
escapar. Ele era jovem, dominado pela luxúria, e ainda
sentia vergonha por morrer de vontade de montar
naquela mulher. Seu nome deixou um gosto amargo em
sua boca. Mary o desacorrentara e ele a seguira para
fora da cela, por um longo corredor, direto para a
armadilha que fizeram para que treinasse suas habilidades
de luta contra uma dúzia de lutadores fortemente
armados.
Bateram nele com tacos e atiraram nele com arma de
choques, e Mary comemorava ao lado com os outros
guardas, enquanto ele lutava para sobreviver. Depois ela
se agachou ao lado de seu corpo ensanguentado,
balançando a cabeça. Suas palavras mataram algo vital
dentro dele.
– Você não achou mesmo que eu queria que você me
tocasse, achou? Você não passa de um animal, 416. – ela
sorriu para os homens em volta dela e se levantou – Que
pena que não podemos matá-lo. Levem-no de volta à
cela. Gravou tudo, Mike? Isso deve impressionar o
doutor Trent, com o tanto que ele aguentou antes de cair.
Um dos médicos tem um novo lote de drogas que
querem testar nele, para ver se conseguem acelerar o
processo de cura. Bom trabalho, rapazes.
Ele ficara inconsciente mas, se não estivesse, teria
tentado matá-la. Ele queria se vingar de todos que já o
haviam ferido, mentido para ele e o traído.
Ellie olhou para ele com seus lindos olhos grandes e
cheios de medo. Se ela não estivesse cara a cara com
ele, daria risada de como ele fora estúpido ao confiar
nela? Fora ele uma fonte de diversão e deboche quando
ele a deixava chegar perto sem rosnar ou tentar se soltar
das correntes? Teria feito piadas com a equipe sobre 416
parecer não odiá-la?
– Vou ficar longe de você se me soltar. É o que você
quer, certo? Vou me demitir e deixar Homeland. – a
esperança se acendeu em seus olhos azuis – Você nunca
mais terá que me ver de novo.
A raiva explodiu, quente e violenta, pelo corpo de
Fury. Se ela estivesse de fato arrependida de suas ações,
aceitaria qualquer punição pela qual ele passara para
ficarem quites. Isso era o que pessoas honrosas faziam.
Ela dissera que faria qualquer coisa para ficarem bem,
mas agora ela pedia por misericórdia. Um rosnado
rasgou sua garganta.
Ellie observava a expressão de Fury se torcer com a
raiva que queimava em seu olhar. Ela percebeu que pedir
para libertá-la desencadeara algo nele. Ela ficou tensa.
Fury se mexeu, pegou no lençol e o puxou com força.
Em uma fração de segundos, ele o jogou longe da cama,
expondo a nudez de Ellie. Ele se levantou e encarou-a
com uma expressão dura.
– Você deve entender como é estar nu, sem poder se
mexer, enquanto alguém controla o que é feito com
você. É parte do que você fez comigo. Você viu exposto
cada centímetro de mim. Como é se sentir indefesa,
Ellie?
O embaraço esquentou seu rosto e ela tentou se virar
para ficar de lado, mas ele a amarrara muito firme. Ela
só conseguia dobrar as pernas de forma a protegê-la,
enquanto tentava usá-las para cobrir os seios. Ela
entendia o que era ser submissa sem que ele fizesse
aquilo, mas não o disse em voz alta.
– Toques estavam envolvidos, portanto vou fazer isso
com você também. É justo, não? Sabe como é ter
alguém escorregando as mãos pelo seu corpo? Tocando
seu sexo? Entendo que você precisava remover aquela
coisa restritiva dolorosa que ele pôs em mim, mas seu
toque foi demorado, não pense que não notei.
O corpo de Ellie se endureceu com o choque e o
temor, e ela respirou rapidamente. Não era fácil, mas
lutou contra o pânico que tentava tomar conta dela.
Entendeu que ele precisava de vingança. Ele não podia ir
até Jacob porque ela o havia matado e deixado Fury para
sofrer. Ela o tocara, ficara pasma com seu corpo,
observara cada centímetro nu. Ela supôs merecer aquilo.
Ele disse que não iria matá-la, ela podia aguentar se
humilhação era o que ele havia planejado de pior. Ele fora
espancado e torturado. Embaraço parecia inofensivo, se
comparado àquilo.
– Vá em frente e olhe. Eu entendo. – ela relaxou as
pernas, esticou-as no colchão e ficou parada – Apenas
não me machuque, por favor.
Um olhar confuso desfigurou o rosto dele enquanto
seus olhos se fixavam um no outro. Ele a olhava
enquanto subia na cama para ficar de quatro sobre o
corpo dela.
– O quê? – ele parecia mesmo estar chocado.
– Eu entendo – ela sussurrou – Faça.
Ele cerrou os dentes, mas então desceu o corpo sobre
o dela até deixá-la aprisionada debaixo dele. Se deixá-la
aterrorizada fora seu plano, ele tinha conseguido. O
silêncio entre os dois se alongou. A frequência cardíaca
dela baixou.
– Psicologia reversa não funciona comigo, mas quero
que saiba que não vou machucá-la – ele sussurrou –
Jamais a faria sofrer o que sofri. Eu nunca a socaria ou a
faria sangrar. Acho que consegui pensar em algo
adequado: vou tocá-la. Sabe o que é pior do que ser
torturado com dor?
Ela não queria saber a resposta. Até então, todas as
respostas que Fury dera não prenunciavam algo bom.
Ele esperou por uma resposta, porém, ela não queria que
sua raiva voltasse. Ela precisava dizer algo.
– Não. Acho que dor é a pior coisa possível.
– É quando seu próprio corpo lhe trai, querendo algo
que você sabe que não deve querer. Você aprende a ser
derrubado por outros, mas nunca por você mesmo. É
uma grande e humilde lição a aprender. Também vai nos
dar a resposta à pergunta que tenho em mente neste
momento.
O que isso significa? Ela franziu a testa. Ele deu um
sorriso voraz. O coração dela acelerou quando os olhos
dele desceram em direção aos seus seios. Uma mão
esfregava sua barriga tão levemente que chegava a fazer
cócegas. A palma dele deslizou até envolver um de seus
seios com sua mão quente e grande. O alarme disparou
dentro de Ellie quando ele o apertou delicadamente.
– Macios. Para uma mulher do seu tamanho, são
maiores do que eu esperava. – ele abaixou a cabeça ao
soltá-lo.
Ellie arfou quando sua respiração quente roçou seus
seios um segundo antes da boca quente de Fury agarrar
seu mamilo. Seus dentes arranhavam sua pele sensível
enquanto ele movia rapidamente sua língua áspera sobre
ele. Ellie estremeceu e fechou os olhos com força.
O prazer disparou de seu mamilo direto para seu
abdômen, que estremeceu. Ela mordeu o lábio para
silenciar um gemido, chocada por reagir tão fortemente a
ele. Ele chupava com mais força, os puxões fortes de
sua boca davam choques no corpo inteiro de Ellie. Ele
não a machucava, mas ela sabia que ele podia. Um calor
líquido umedeceu suas coxas e ela as juntou com força
sob o corpo dele, prova de como ficara excitada.
Isso é pior, decidiu ela, enquanto seu corpo respondia
à sedução de Fury. A excitação que ele a forçava a sentir
lhe dava um aperto na barriga, e ela jurava que podia
sentir no clitóris os puxões que sua boca dava. Os lábios
implacáveis dele se recusavam a soltar seu peito, o
prazer quase se tornava doloroso, e seu corpo queimava.
O que ele fazia com seu seio era certamente a coisa mais
incrivelmente erótica que ela já experimentara. Ela
mordeu o lábio, mas não conseguiu impedir o suave
gemido que escapou.
A boca dele começou a se afastar, deixando seu
mamilo duro até soltá-lo. Ellie engoliu seco ao olhar para
aquele par de olhos intensamente castanhos. Um rugido
suave saiu de sua garganta. Ele afastou seu olhar do dela
e focou sua atenção em seu corpo novamente.
– Está vendo, Ellie? – ele falava com uma voz áspera e
sexy – Tenho controle sobre seu corpo. Você não pode
me impedir de fazê-la reagir dessa vez. – ele olhou para
cima, para fixar o olhar no dela de novo – Apesar do que
Jacob me fez naquele dia, eu queria você, e essa é a
vingança perfeita. Você fez meu pau ficar duro depois de
me tocar, e seu perfume excitante encheu minha cela.
Machucou mais do que seu abandono. Agora você sabe
o gosto do desejo não realizado, despertado por alguém a
quem tentou resistir.
Ela olhou em seus olhos enquanto suas palavras se
faziam entender. A mortificação de sua reação
esmagadora à sedução dele a deixou sem palavras. A
dignidade de Ellie definitivamente estava ferida. Ela fora
traída por um corpo que formigava ao toque de um
homem que a odiava. Ela esperava que ele estivesse se
sentindo melhor, que pensasse que agora estavam quites,
e a soltasse. Ela relaxou debaixo dele. Sim, esse é
definitivamente o melhor jeito de se vingar, ela
concordou. Segurou as lágrimas e esperou ficar calma o
bastante para falar de novo.
– Estamos quites agora? – ela odiou o jeito que falou,
num sussurro sem fôlego.
Olhos escuros se elevaram e encontraram os dela.
– Quites? Ainda não. Eu disse a vingança perfeita.
– Mas você…
Ele rugiu suavemente.
– Eles me feriram por horas. Eu poderia atormentá-la
por horas com minha boca e minhas mãos. Há tantas
maneiras de causar dor a alguém…
Ellie ficou boquiaberta. Ele se apressou para baixo,
suas mãos envolveram as coxas dela e as afastaram
bem. Seus braços escorregaram por baixo das pernas
dela e se enrolaram nelas para prendê-las abertas, com
seus ombros pressionados contra a parte de dentro das
coxas.
Ellie tentou fechar os joelhos após o choque inicial,
mas o corpo dele estava no caminho. Ele desviou a
atenção de seu rosto e a levou até sua boceta,
abertamente exposta sob o queixo dele; pareceu estudá-
la, e então abaixou a cabeça. Choque, consternação e
surpresa a tomaram. Ela podia sentir a respiração quente
dele tocando suas dobras internas e seu clitóris.
– Espere!
Ellie se debateu, balançou o quadril e tentou se soltar
dele, quando ele virou o rosto para lamber a parte de
dentro de sua coxa. Ela se sacudiu na cama, tentou se
virar, mas ele se recusava a soltá-la. Ele exibia sua força
ao prendê-la mais firmemente, até ela não conseguir se
mexer. Seu maxilar roçava sua pele, se esfregava mais
alto na parte de dentro da coxa, para cima e para baixo,
acariciando-a com delicadeza.
– Pode deixar as pernas abertas para eu a tocar com
as mãos? Vou soltar seus pulsos da cabeceira se fizer o
que digo.
– Eu não faço isso no primeiro encontro, nem mesmo
no quinto. Não me sinto confortável com alguém
fazendo sexo oral em mim. – ela puxava freneticamente
o material que amarrava seus pulsos. Sacudia o quadril,
mas por mais que se contorcesse não conseguia se soltar
do cerco dele – Me castigue de outro jeito, mas não
assim. Deixei você com raiva, mas não o envergonhei de
propósito, não é? Você quer que fiquemos quites, mas eu
não pus minha boca abaixo da sua cintura.
– Não achei que você fosse concordar. Vou usar
minhas mãos para mantê-la parada.
Fury inclinou a cabeça.
– Assim?
– Não me toque só para se vingar.
– Ah, Ellie – disse ele numa voz áspera – Eu quero
você. Você não sabe? Isso está muito além do que algo
simples como vingança. Me diga sim, para que eu possa
dar a nós dois o que precisamos.
Ellie viu a paixão queimando em seus lindos olhos
castanhos. Ele parecia incrivelmente sexy e seu corpo
doía do desejo de ver aquele lindo rosto entre suas
coxas, tão perto de onde ela mais sentia dor, e relaxou.
Ela fez que sim com a cabeça, provavelmente perdera a
noção, mas a expressão de alívio em Fury validou seu
acordo.
Ellie arfou quando a língua dele tremulou sobre o
ponto mais sensível de seu corpo. Os lábios dele se
fecharam na pequena pilha de nervos e sua língua
aplicou pressão, se movendo em seu clitóris para cima e
para baixo, provocando-o. Ela congelou, ficou tensa, e
as sensações causadas por aquela boca que chupava se
espalhavam por seu corpo todo.
Ele está mesmo fazendo isso. Ele… Meu Deus, é tão
bom. A língua dele tinha uma textura incomum, e a
reação que causava com cada lambida, cada chupada,
quase doía, mas do melhor jeito possível. Ele mantinha a
pressão e sua língua se movia contra o clitóris sem
parar, sem hesitar. Ela não podia evitar os gemidos altos
que encheram a sala enquanto jogava a cabeça para trás,
seus dedos pegando no material em volta dos pulsos,
apenas para se segurar em algo.
Ele vai me matar, afinal, ela pensou. Não seria por
enforcá-la ou quebrar seu pescoço. Ele planejava lambê-
la até a morte, fazer seu corpo doer de maneiras
deliciosas, e ansiar dolorosamente por gozar. Ela tentou
raciocinar, tentou se lembrar de que odiava quando
homens faziam oral nela, nunca tinha gostado daquilo,
mas um rosnado de Fury mandou vibrações contra seu
clitóris inchado. Ela perdeu a linha de raciocínio,
conseguindo apenas sentir a ele, Fury, e sua boca que a
fazia tremer e queimar de desejo.
O clímax a atingiu brutalmente, uma explosão de
êxtase que a fez gritar ao ondular por seu corpo, que
sacudia. Seus músculos tremiam e sua mente se
desligou. Ela perdeu toda a capacidade de pensar e de
formar palavras, conseguindo apenas experienciar a
névoa quente e branca de prazer, até que a boca dele a
soltou.
Ellie precisou recuperar o fôlego. Seu corpo, sensível
demais, tremeu quando as mãos dele soltaram suas
pernas e a pele quente roçou em seu monte, em sua
barriga e depois em seus seios quando ele se moveu para
cima, até ficarem cara a cara.
Se ele a matasse agora, ela nem se importaria. Ela era
como um marshmallow que respirava. Sem ossos.
Caramba, ela pensou, nunca me senti tão bem na vida.
Abriu os olhos e fixou-os nos dele, lindos e castanhos.
– Eu devia sair do quarto, deixando-a aqui sem nem
mesmo olhar para trás. É o que você fez comigo.
Não ligo mais se ela está mentindo para mim, pensou
Fury, lambendo os lábios. O gosto de mel da paixão dela
levava seu desejo de possuir Ellie completamente a uma
dor insuportável. Ela era tão doce, tão receptiva, e ele
não queria mais pensar no pior dela enquanto olhava para
aqueles lindos olhos azuis. Ele queria acreditar, mesmo
que só por aquele tempo com ela, que cada palavra que
ela pronunciasse fosse verdade.
Patético, ele repreendeu silenciosamente sua linha de
pensamento. Ele havia perdido a cabeça por uma humana
pequena e frágil. Jurara nunca mais permitir que uma
chegasse tão perto dele, mas ali estava ele, numa cama
com uma: sua Ellie.
Ele não só perdera a cabeça, como também as rédeas
curtas sobre seus desejos animalescos e sua consciência.
Ele também havia perdido seu coração para ela. Ela era
uma humana, alguém em quem não confiar, mas ainda
assim ele a desejava. Quando foi que virei um
masoquista?
CAPÍTULO CINCO
Ellie abriu a boca para falar, mas não havia palavras
que desfizessem a expressão amarga no lindo rosto dele.
Ela havia ajudado a colocá-la ali e nenhuma desculpa
podia mudar o passado. Ela olhou para ele e fechou a
boca. Fury dirigiu o foco ao seu peito. Apenas uma
pequena hesitação até ele levantar a mão para agarrar seu
seio de novo, segurá-lo delicadamente, e ela arqueou as
costas para se pressionar contra a palma dele. O olhar
dele retornou ao dela.
– Eu quero você. Odeio isso, mas desejo muito estar
dentro de você, saber como seria ter você envolta de
mim, e o prazer que acho que encontraria com você.
Nunca quis tanto uma mulher. Me diga que posso ter
você, ou me ajude a lembrar que nunca devo perdoar o
que fez comigo. Diga alguma coisa, qualquer coisa, para
me lembrar do porquê eu não deveria desejar tanto estar
com você, tanto que chega a ser difícil respirar.
O olhar dele quando se observavam quase parou o
coração de Ellie. Ela viu tantas emoções ali: desejo,
vontade, um pouco de medo, e paixão crua. Sua língua
saiu para umedecer os lábios. Um rosnado leve saiu de
Fury, mas não era um som bravo, e sim mais um
pequeno gemido. Ela entendia. Ele a queria.
Lentamente, ela fez que sim com a cabeça. Ela o
queria tanto quanto ele a queria, desde o primeiro
momento em que o vira trancado em uma cela. Ele fora
tão orgulhoso apesar das circunstâncias, a pura beleza
masculina de seu corpo malhado havia tentado sua
paixão, e sua poderosa presença a atraíra fortemente.
– Diga! – ele exclamou.
– Sim – ela sussurrou.
Os olhos dele se fecharam por longos segundos antes
de olharem de novo para ela.
– Se enrole em mim.
Ela hesitou por apenas um segundo antes de mover as
pernas, e seus calcanhares roçaram a pele nua e quente
detrás das coxas dele. Ele se levantou mais, se
posicionando até pressionar a boceta dela com a ponta
grossa de seu pau. O corpo dela já estava molhado de
desejo quando ele cutucou sua entrada para penetrá-la.
Ele deslizou facilmente por suas dobras sedosas, mas
errou o ponto.
A frustração fez suas feições se contorcerem. Ele
apoiou um braço na cama, suspendeu o peso da parte de
cima do seu corpo, passou o outro braço entre seus
abdômens, pegou seu pau para segurá-lo firme e deixá-
los perfeitamente alinhados. Ele pausou ali, pairando
sobre ela.
– Você é muito menor que nossas mulheres. Vou
tentar não machucá-la.
Me machucar? Ela tinha noção da diferença entre eles,
nunca se considerara pequena, mas naquele momento
percebeu que era, comparada a ele. Ela abriu a boca para
perguntar o que ele queria dizer, mas ele soltou o peso
para deixar que a gravidade trabalhasse em seu favor
antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Os olhos de
Ellie se arregalaram em choque quando a obtusa e grossa
cabeça de seu pau a pressionou forte, rompeu seu canal
e forçou o corpo dela a se esticar para recebê-lo. Pânico
foi a próxima emoção a saltar quando ele empurrou
fundo em sua boceta.
– Você é grande demais – ela arfou.
Ele congelou quando seus olhares se encontraram.
Seus olhos se estreitaram até ficarem quase como fendas
e sua respiração ficou dura.
– Você consegue me receber – ele rosnou – Eu a
quero demais. Vou ser delicado.
Ele se abaixou mais sobre o corpo dela, afundando
ainda mais. Os músculos dela se esticaram para
acomodar seu pau grosso enquanto ele continuava a
penetrá-la, não dando a seu corpo outra chance a não ser
recebê-lo. Ele não parou até ficar totalmente assentado
dentro de seu canal apertado. Ele parou para deixá-la se
ajustar ao seu tamanho. Ellie respirou fundo, mas tinha
que admitir que a sensação de estar tão preenchida era
incrivelmente boa. Ele se moveu, recuou alguns
centímetros lentamente, e então empurrou de volta.
Um gemido rasgou seus lábios. Ele era grande e largo
o bastante para se esfregar em cada sensível terminação
nervosa que explodia em vida. Ela não tinha nada o que
temer de Fury. Seu corpo desfrutava do encaixe
apertado que os mantinha juntos. Ele ficou tenso e um
leve gemido passou por seus lábios, enquanto seus
olhares se mantinham um no outro.
– Eu sabia que seria incrível assim – ele declarou com
uma voz áspera – Bom demais. – a raiva contraiu suas
feições por alguns segundos – Que merda você me
afetar tão fortemente, Ellie.
Um rugido rasgou seus lábios e ele se mexeu de novo,
se afastando um pouco antes de deslizar novamente para
o fundo da boceta dela. Ela gritou outra vez de prazer, o
pau incrivelmente duro criando um êxtase puro que a
tomava. Ela nunca experimentara aquele nível de
magnificência sexual. Ele se mexeu de novo, repetindo o
leve golpe, mas enfiando nela com mais força. Ellie
gritou de prazer com aquele movimento e a forma com
que o pau deslizava contra seu clitóris inchado, o quadril
dele em um ângulo que o impedia de esmagá-la debaixo
de seu corpo maior. O corpo dela ficou tão excitado
sexualmente, sua boceta tão molhada, e o prazer tão
intenso que ela percebeu que não duraria muito. Ela se
impressionava com sua reação tão forte a um homem.
Nunca havia considerado possível gozar apenas com um
homem a penetrando sem vários outros estímulos, mas
Fury não era apenas um homem qualquer, afinal.
Fury se mexia mais rápido, o prazer intenso crescendo
até que Ellie soube que não aguentaria mais. As paredes
de sua vagina se apertaram fortemente em volta daquele
pau em movimento, ela jurava que o pau dele ficara ainda
mais duro dentro dela, e deu um grito, seu corpo
convulsionando enquanto o clímax a tomava em
lampejos quentes de prazer. Seus músculos se contraíam
e o sugavam enquanto ele continuava a se mexer dentro
dela.
Ele gozou fora dela e virou o quadril para o lado,
enquanto se movia uma boa distância para baixo. Com
um berro alto, ele se libertou e seu rosto caiu no peito
dela. Dentes afiados a arranharam suavemente. Fury
tremia quando jatos quentes de seu sêmen umedeceram
as coxas dela enquanto gozava. Ele havia
propositadamente se afastado dela no final.
Ellie admitiu ficar um pouco desapontada quando
conseguiu pensar de novo depois de passada aquela
deliciosa névoa. O fato de Fury não ter gozado dentro
dela a deixara se sentindo vazia e com a impressão de
que ele não queria compartilhar aquele tipo de intimidade.
Ela abriu os olhos para espiar o topo da cabeça escura
dele, o rosto ainda pressionado contra seu peito, e sua
respiração quente e pesada acariciando sua pele. Ela
queria poder passar seus braços em volta dos ombros
dele e abraçá-lo forte.
Fury saíra de dentro dela antes que pudesse lhe fazer
mal ou deixá-la horrorizada com as mudanças feitas em
seu corpo no centro de testes. Ele duvidava que ela
soubesse das diferenças sexuais entre suas espécies e
ficara impressionado por ter se controlado o bastante
para lembrar que não podia gozar dentro dela, já que no
segundo em que penetrou o corpo de Ellie, ele conheceu
o paraíso pela primeira vez na vida. Não gozar dentro
dela fora difícil e quase impossível, ele queria preenchê-
la com sua essência e marcá-la com seu perfume.
Tocá-la, fazer amor com ela e sentir seu gosto fora
muito melhor do que ele podia imaginar. Merda, ele podia
se viciar nela. Talvez eu já esteja, uma pequena parte de
sua mente avisou.
Ela era humana, não era realmente dele, e ele precisava
se lembrar daquilo. Por mais que desejasse mantê-la
amarrada à sua cama, fazer amor com ela até que ficasse
cansada demais para tentar fugir, ele sabia que não podia.
Em algum momento, alguém a procuraria quando
notassem que estava desaparecida.
Ela ficaria ressentida por ter sido feita prisioneira, não
importava o prazer que ele lhe desse. Ele sabia como era
ficar trancado e preso. Ele pode ter feito aquilo para
levá-la à sua cama uma vez, mas forçá-la a ficar por
mais tempo seria imperdoável. Ela o odiaria e ele não
suportava tal pensamento.
A frustração ressurgiu em seu peito quando ele
estremeceu de outra contração de prazer. Ele a marcara
com seu líquido na coxa e, droga, ele já pensava nela
como sendo dele. Ela o pertencera desde o momento em
que entrou em sua cela, o tocou e matou Jacob para
protegê-lo. Ele simplesmente não podia mantê-la ali. Um
ódio ofuscante o enfureceu agora que acreditara que ela
não tivera a intenção de ser cruel por fazê-lo levar a
culpa pelo assassinato.
Ele lutava contra aquilo e mantinha a face contra a
pele dela para esconder sua expressão. A raiva começou
a passar e, então, ele sentiu o cheiro do sangue dela.
Seus olhos se abriram e ele passou a língua pelos lábios,
sentindo o gosto dele. Aterrorizado, ele percebeu o que
fizera.
– Merda – ele rosnou de forma selvagem.
É exatamente o que ele acha que acabamos de fazer,
Ellie pensou. Mas para mim foi mais do que apenas
sexo. A cabeça dele se levantou de seu peito, sendo mais
fácil para ela respirar. Seu pênis, que ainda estava duro,
bateu nas partes íntimas de Ellie, deixando-a ciente de
que ela estava muito sensível naquela área. Fazia muito
tempo desde a última vez que transara.
Fury se apoiou nas mãos para tirar o peso de cima
dela e se agachou sobre ela, deixando o corpo dela preso
entre seus braços e pernas, enquanto ele pairava.
– Droga – ele suspirou – Me desculpe. Nunca quis
machucá-la, Ellie.
Me machucar? Aquilo a deixou confusa. O que eles
tiveram juntos fora muito incrível. Fantástico, clímax
extremo, o orgasmo mais forte que ela já tivera. Ela
seguiu a trilha do olhar dele e encontrou sua atenção fixa
no seu seio direito. Ela precisou levantar a cabeça para
ver melhor, e ficou surpresa quando viu uma pequena
quantidade de sangue espalhado do lado do seio e
correndo em direção ao espaço entre ele e o outro. O
olhar dela flutuou até o dele e viu arrependimento em seu
lindo rosto. Ela tentou pensar no que causara o
sangramento e de quem ele viera.
Ele abriu a boca, mas nada saiu. Cerrou os lábios, uma
expressão furiosa entalhada no rosto, e então saltou da
cama e correu até o banheiro. Ela ficou
momentaneamente cega com a claridade quando ele
apertou o interruptor, mas o viu desaparecer lá dentro.
Ela fechou as pernas com cuidado. É, vou ficar frágil
por um tempo, admitiu silenciosamente, seu sexo
levemente inchado e sensível a qualquer movimento. Ele
era maior do que a média e ela não transava desde o
divórcio, tendo renunciado a homens depois daquele
pesadelo.
Ellie sentiu uma leve vergonha com o fato de ter se
excitado tão facilmente por causa de Fury, mas ela o
queria desde a primeira vez que pusera os olhos nele
dentro daquele frio centro de testes. Ela jamais imaginara
a possibilidade de estar com ele, amarrada a uma cama,
em um lugar diferente. Não é o tipo de final depois de
uma boa transa que eu esperava, se ficássemos. Que
desastre. O som de água corrente veio do outro cômodo,
tirando-a de seus pensamentos.
Fury reapareceu em segundos e ela ficou orgulhosa de
se manter calma sob as estranhas e estressantes
circunstâncias. Ele se recusara a olhar para seu rosto e
ficou com os olhos fixos em seu peito. Ele segurava uma
toalha de rosto úmida ao se empoleirar na beira da cama.
– Me deixe cuidar de você. Eu realmente não quis
causar dor.
– Não estou sentindo dor. – ela falava baixo, mas sabia
que ele a ouvia – Apenas me solte.
– Vou limpá-la. – ele suspirou – Você está sangrando.
Cortei com meus dentes, mas não mordi. É só um
arranhão, mas profundo o suficiente para sangrar.
Ótimo. Meu sangue. Pelo menos não doeu.
– Apenas me solte e eu cuido disso.
– Não. – ele cuidadosamente limpou a pele abaixo do
seio direito, tocando-a de leve. Hesitou e, então, passou a
toalha na coxa dela, onde ele deixara sua marca sexual,
limpando seu sêmen.
Uma boa transa se tornara uma calamidade. Sua
paixão esfriou e a deixou com um gosto amargo na
boca. Fury não a abraçara depois do sexo, nenhuma
palavra afetuosa viera dele, a não ser um pedido de
desculpas por tê-la feito sangrar. E ele limpou a evidência
da paixão que deixara nela, frio como a toalha úmida que
usara. De repente, ela sentiu vontade de ir embora da
pior forma possível e esquecer o que acontecera entre
ambos.
Ela tentou esconder a vergonha que sentia por ter se
desfeito com tanta facilidade sob Fury, sendo que ele
provavelmente ainda a odiava. Tudo aquilo fora um ato
de vingança, independentemente do que ele declarara,
apesar de tudo ter significado muito mais para ela. Ellie
queria sair de perto dele antes que desmoronasse, o que
aconteceria logo. Esperava que ele tivesse encontrado o
tipo de justiça pelo qual procurava.
– Estamos quites agora, certo?
Ela lutou contra as lágrimas que ameaçavam rolar.
Droga, não chore. Ficou repetindo para si mesma
algumas vezes. Suas emoções estavam muito próximas
da superfície e ela se sentia vulnerável. Também não
queria que ele se sentisse mal pelo arranhão que fizera, e
poderia confundir aquelas lágrimas com lágrimas de dor
física. Uma expressão cheia de remorso desfigurou suas
feições soturnas. Eles já tinham mal-entendidos
suficientes para uma vida inteira, e ela não queria
acrescentar mais um.
O olhar escuro dele se levantou até o dela. Ele a
estudou por um longo momento e uma emoção que ela
não conseguia ler cintilou naqueles olhos negros. Ele
abriu a boca para dizer algo, mas não disse as palavras.
Batidas fortes fraturaram de repente o silêncio.
– Droga – rosnou Fury.
Ele se levantou da cama e correu em direção à porta
do banheiro. Ellie ficou impressionada com a rapidez
com que se movia. Ele jogou a toalha molhada para
dentro do banheiro, se virou, voltou até a cama e se
abaixou para pegar o lençol que tirara de cima dela.
Esticou-o sobre ela novamente, cobrindo-a do peito até
os pés. No segundo seguinte, se enfiou na calça de
ginástica e deixou o cômodo. A porta do quarto bateu
atrás dele.
Ellie ficou deitada ali, pensando se deveria gritar por
socorro. Se ela chamasse atenção, seria encontrada
amarrada à cama e com a ferida causada pelos dentes
dele. Pareceria algo de muito ruim, e provavelmente
concluiriam que ele abusara sexualmente dela. Ela não
queria que ele fosse preso por um crime que não
cometera.
Ele já pagara caro por um outro crime que não
cometera. Ela não sofrera em nenhum momento por ter
matado Jacob. Ficou em silêncio para que a pessoa que
fora à casa dele não a ouvisse. Preferia se arriscar a
encarar outro castigo que Fury quisesse dar por causar
qualquer tipo de problema. Temos que estar quites agora,
ela raciocinou. Ele vai me soltar depois que a pessoa for
embora.
De repente, a porta se abriu com violência. O sangue
se escoou do rosto de Ellie e ela se encheu de temor
quando Justice pisou forte dentro do quarto. Ele vestia
uma camiseta amarela e jeans, e seu longo cabelo estava
amarrado em um rabo de cavalo, deixando seu rosto
visível. Ela não pode deixar de notar a expressão de
choque e horror que se fez nele. Ellie se encolheu, certa
de que ele fazia todo tipo de suposição errada. Depois de
um momento em choque, ele se moveu para frente,
rugiu e parou ao lado da cama. Fury ocupava a porta do
quarto, pálido e em silêncio. Ele não olhava para ela; seu
queixo apontava para o chão e ele tinha o olhar fixo no
carpete.
Justice pegou o lençol e o arrancou. Ellie emitiu um
som apavorado, boquiaberta por seu corpo estar
totalmente exposto a um estranho. Outro rugido
irrompeu da garganta de Justice. Ele jogou o lençol de
volta em Ellie para esconder sua nudez, antes de se
sentar na beira da cama. Seu olhar ultrajado se fixou em
Fury, enquanto alcançava o braço dela. Puxou os nós em
seu pulso, livrando-o da cabeceira.
– Como pôde fazer isso? – Justice rosnou com uma
voz bem áspera.
Ele se levantou, andou em volta da cama e soltou o
outro braço. Se posicionou entre a mulher e Fury, com
as costas para ela. Ellie se sentou, esfregou os pulsos e
cuidadosamente manteve o lençol cobrindo o corpo. Ela
não conseguia ver Fury direito com aquele homem
enorme entre eles.
– Como pôde fazer isso, Fury? Como? Ela nos salvou.
Arriscou a vida para nos ajudar. Você está vivo,
independentemente do que ela fez com você. Você está
respirando! Estamos tentando provar aos humanos que
somos mais que animais, e você a pega à força? Você a
estuprou na sua cama como se fosse um cão raivoso?
Que merda! Vão prendê-lo por isso. Não acho que eu
possa protegê-lo e nem sei se quero, a essa altura. Como
pôde fazer isso? Você sabe o que está em jogo. Nosso
povo precisa de nossa orientação e proteção! Você é o
segundo no comando; se eu cair, você lidera. – a voz de
Justice ficou mais baixa e calma – Você está partindo
meu coração. Você machucou esta mulher. Sinto o
cheiro do sangue dela e, porque você a feriu, vai nos
causar problemas que nem imagino. Que diabos você
achou que estava fazendo? Ficou louco? Isso reforça a
crença de que somos animais irracionais, perigosos
demais para ficarmos à solta.
A vergonha queimava dentro de Fury enquanto ele
olhava fundo no olhos chocados de Justice. Ele sabia
que deixaria seu povo desapontado por ter sequestrado
Ellie. Tinha a responsabilidade de liderança, e mesmo
assim permitia que seus sentimentos por uma mulher o
levassem a fazer coisas que sabia serem erradas. Ele a
colocara acima de seu povo, algo que prometera nunca
fazer quando aceitou o trabalho de ser o segundo no
comando de Justice.
– Me desculpe – Fury sussurrou.
Justice deu uma leve rosnada.
– O que há de errado com você? Perdeu a cabeça?
Alguma coisa mexeu com você? Não posso e não vou
permitir que saia impune disso. Você tem que ser
severamente disciplinado para dar o exemplo.
– Não espero nada além disso. – Fury respirou
profundamente. Ele sabia que seria castigado antes
mesmo de encostar em Ellie, e aceitaria qualquer
consequência que tivesse que enfrentar. Ele queria Ellie
mais do que a coisa mais importante em sua vida: seu
povo.
Quando as Novas Espécies foram libertadas, muitas
quiseram travar uma guerra contra os humanos, mas
Justice fora a voz calma da razão. Para sobreviver,
teriam que trabalhar com os humanos que os libertaram.
Quando souberam que ganhariam Homeland, um lugar
para viverem em paz, um lugar no qual poderiam
reconstruir suas vidas, Justice procurara Fury e pedira
para que ele ajudasse a guiá-los a um novo estilo de vida.
Fury concordara rapidamente, disposto a carregar
qualquer fardo que pudesse.
Ele assumira o treinamento das equipes de segurança e
os ensinou a controlar seus animais interiores. A ironia
não se perdera nele. Ele não praticara o que pregava.
Fora atrás de algo que sabia que não podia ter: Ellie.
Levara-a até sua casa e a seduzira, independentemente
dos riscos.
Ele não conseguia se arrepender do que fizera. Mesmo
o pouco tempo que passara com ela valia a dor que
enfrentaria. Sentira seu gosto, a tocara e sabia o quão
maravilhoso era estar tão perto dela. Se fosse preso, a
imagem dela o faria companhia, a voz dela presa para
sempre em suas memórias, seus lindos olhos entalhados
em sua alma. Ele podia para sempre fechar os olhos e
ouvi-la, imaginá-la.
– Você está bem? – Justice olhou de volta para Ellie.
– Sim – ela pigarreou.
Justice direcionou a atenção de volta para ele. Fury
encarou seu olhar duro com uma determinação sombria.
Ele asseguraria que todos soubessem que a culpa recaía
unicamente sobre ele. Se distanciaria das Novas
Espécies, teria esperanças de que os humanos não
culpassem os outros por suas ações e receberia qualquer
punição que lhe aplicassem, sem reclamações ou
desculpas.
O desapontamento e o choque de Justice o
machucavam profundamente. Ele sabia o quanto daquilo
repousava em seu comportamento. Havia magoado seu
povo, seu melhor amigo e ele mesmo.
– Não posso fazer isso sozinho, Fury – Justice o
informou delicadamente, com uma expressão dolorosa
no rosto – Eu precisava que você mantivesse isso unido
por todos nós. O diretor Boris lutou contra todos os
passos que demos para controlar Homeland. Ele está
tentando dizer ao presidente que não somos capazes de
administrar nossas próprias vidas. Ele realmente acredita
que somos mais animais que humanos, apenas um pouco
mais treinados para falar e imitá-los. Ele não disse isso
com essas palavras, mas seu desprezo é tão forte que é
impossível ignorar.
– Me desculpe.
– Isso só vai justificar as acusações dele. Temos que
trabalhar ainda mais duro para mostrar que somos iguais
e que somos uma raça de pessoas inteligentes e
responsáveis. Não havia momento pior para você perder
a cabeça.
– Entendo que haverá uma má repercussão na ONE.
Vou assumir toda a responsabilidade, assegurá-los de que
sou o único que falhou, e vocês terão que pressioná-los
para que lidem severamente comigo.
Justice estudou o amigo.
– Você não está sendo você mesmo. Por quê?
A atenção de Fury flutuou em direção à cama, mas ele
não conseguia ver Ellie atrás do grande porte de Justice.
Ele encontrou o olhar curioso do amigo.
– Acho que você sabe o porquê. Há algo nela que não
consigo ignorar. Não é só raiva, há mais do que isso.
Algumas Espécies machos haviam experienciado uma
vontade esmagadora de acasalar com certas fêmeas, de
mantê-las bem próximas, fazê-las deles, mas nenhum se
rendera àqueles instintos. Não que tivessem tido a
chance enquanto eram prisioneiros; foram mantidos
separados das fêmeas a não ser nas vezes em que elas
eram levadas a eles para procriação.
No entanto, eles sabiam do problema. Acontecera
poucas vezes no centro de testes, mas eles haviam
discutido o problema potencial que haveria se mais
Espécies sofressem do que eles consideravam ser uma
necessidade de acasalamento. Tenho essa necessidade,
Fury admitiu. Ele tinha certeza de que uma parceira era
também para a vida, por conta do quão fortemente Ellie
o afetava. Ele não conseguia se imaginar querendo largá-
la.
Justice olhou para trás com preocupação, e a
compreensão se marcou em seu rosto.
– O quão forte é isso?
– Esmagador, obviamente. Tenho lutado contra isso
com unhas e dentes. – seus ombros desmoronaram –
Sinto muito pelos problemas que causei, mas… – ele
deixou o resto sem ser dito.
Ele ainda não se arrependia, mesmo sabendo como era
fundo o buraco que cavara. Deu uma olhada para cima
para tentar ver Ellie novamente, mas Justice continuava
bloqueando a visão. Ele a tivera uma vez. Nunca seria o
suficiente, mas pelo menos tinha a memória para
saborear.
Ellie viu suas roupas no chão, perto da cama. Fury
devia tê-la despido e jogado as roupas. Seu cartão de
identidade e seus sapatos também estavam ali. Ela se
mexeu devagar, muito sensível entre as pernas por conta
da rodada quente de sexo, e deslizou a bunda até a beira
da cama. Os homens pareciam estar em um concurso de
encaradas.
– Os seguranças humanos estão procurando pela
mulher em toda parte. – Justice fez uma pausa – Eles
encontraram o equipamento elétrico dela quebrado perto
da lagoa e suspeitam que algo tenha acontecido a ela.
Assim que soube de quem se tratava, vim para cá,
esperando que você não tivesse feito algo estúpido.
Precisamos dizer a eles que ela está aqui. Ela vai precisar
de cuidados médicos e você tem que encarar a pena por
seu crime. Ela não é uma de nós. Acho que vão aplicar
as leis de punição deles. Não sei o que são, mas você
tem que assumir isso pelo nosso bem. Não lute se o
prenderem. Sei que a vontade vai ser grande se o
acorrentarem, mas não piore as coisas.
– Não vou lutar – Fury prometeu delicadamente – Vou
chamá-los agora.
Ellie terminou de se vestir. Calçou os sapatos e se
levantou. O movimento a fez notar o desconforto
quando sua camisa encostou em seu seio ferido. Ela não
tivera tempo para checar a gravidade do arranhão,
prometendo fazê-lo mais tarde, quando chegasse em
casa. Tentou se dirigir à porta.
– Com licença. – ela pigarreou.
Justice virou a cabeça para encontrar seu olhar, um
franzido sinistro contorcia seus lábios.
Ellie não olhou para Fury.
– Vou retornar ao dormitório agora, então, por favor,
não chamem ninguém. Vou falar que estava visitando um
amigo. Não envolvam a segurança. Fury e eu estamos
quites agora, não vai mais haver problemas entre nós. –
ela então se forçou a olhar para Fury, vendo o choque
arrefecer em seu lindo rosto. – Estamos quites agora?
Ele fez que não com a cabeça, franzindo a testa.
Ela balançou com o choque. Suas pernas
enfraqueceram, mas Justice a pegou antes que caísse no
chão. Suas mãos fortes agarraram sua cintura para
mantê-la firme, até que ela recobrou o controle e se
esticou. Ele a soltou instantaneamente quando ela
empurrou suas mãos. Ela olhou para Fury, boquiaberta.
– Não? O que mais você quer de mim? – lágrimas
escorreram soltas por sua face, ela não conseguia mais
segurá-las – Me desculpe! Achei que você estaria a
salvo, caramba. Estou falando a verdade. Não tive outra
escolha. Fiz tudo o que podia por você. Não podia
contar o que tinha que fazer porque não achei que você
fosse confiar em mim. Eu não podia arriscar que você
repetisse tudo o que eu dissesse.
Fury piscou. Seu olhar definitivamente parecia
doloroso.
– Não estamos quites porque estou em dívida com
você. Não quis machucá-la com meus dentes.
Ellie usou as costas das mãos para enxugar as
lágrimas. Seu cartão estava apertado na palma da mão.
Fury nunca parava de surpreendê-la.
– Sei disso e acredito em você. Não há problema com
o arranhão. Então, estamos quites, Fury, você não me
deve nada. Preciso ir. – ela mordeu o lábio – Por favor,
saia do meu caminho.
Fury se afastou da porta. Ellie se lançou para fora
assim que percebeu que não encostaria nele. Quase
cambaleou ao sair do quarto, atravessou o hall e uma
grande sala. Viu a porta da entrada e foi correndo em
direção a ela. Manteve a cabeça levantada ao abri-la. A
brisa fresca da noite soprou em sua face úmida.
Olhou para baixo, para onde seu relógio deveria estar,
para ver quanto tempo havia se passado. Seu pulso nu a
fez retrair-se. Ela não voltaria até o quarto de Fury para
procurá-lo. De jeito nenhum. Guinou para a frente, olhou
em volta e identificou sua localização. Seus sapatos
escorregaram um pouco na grama úmida até chegar à
calçada que a levaria aos dormitórios.
De repente, uma mão agarrou seu ombro e a girou.
Ellie fitou Justice North cheio de medo. Ele a seguira
desde o apartamento.
– Por que não quer que ele seja preso? Que diabos há
entre vocês dois? – Justice a segurava com delicadeza,
mas sua confusão era evidente no jeito que se dirigia a
ela.
Ellie estudou seus olhos bonitos, que lembravam os de
um gato. A estrutura facial dele não era completamente
humana, os ossos de seu rosto eram muito salientes,
com maçãs musculosas, e seu nariz era mais largo e
achatado que o de um humano. Suas feições eram…
diferentes, como as de Fury, mas seus traços eram
felinos. Ela se afastou das mãos dele que apertavam
fortemente e elas caíram para os lados.
– Preciso voltar ao alojamento e avisar a segurança
que estou bem, para que interrompam as buscas. O que
aconteceu lá não foi o que você pensa. Ele não me
estuprou nem me machucou de qualquer outro jeito.
– O que aconteceu entre você e Fury no centro de
testes? Me diga agora – ele exigiu.
Ela espiou em volta e viu as janelas escuras de Fury e
a porta da entrada bem fechadas. Fury não estava à
vista. O olhar dela retornou a Justice.
– Por que – ele rosnou – você o deixaria machucá-la
daquele jeito e não gostaria que ele fosse punido? Me
diga, ou vou arrancar a resposta dele. Ele se recusou a
contar qualquer que seja a história de vocês. Você é a
única coisa sobre a qual ele não discute.
Ellie segurou as lágrimas, odiava a ideia de que Fury
sofreria se ela não admitisse o próprio crime.
– É uma história para ele contar, não eu.
– Ele não vai contar. Sou o melhor amigo dele. Ele
está agindo como um louco. Faça-me entender ou terei
que prendê-lo, mandar alguém para avaliá-lo e forçá-lo a
me contar o que aconteceu. Ele não vai lidar bem em ser
preso. Se você se importa mesmo, me conte o que ele
não conta.
Ela hesitou, odiava estar no meio daquilo, mas não
queria que Fury sofresse mais pelo que acontecera no
último dia em que ela o vira na cela. Ela fitou a camiseta
de Justice.
– Não vai usar isso contra ele, vai? – seu olhar seu
levantou – Prometa para mim.
– Eu o amo como um irmão. Família é tudo para mim.
Preferiria decepar minha mão do que fazer mal a ele.
Ela acreditou na sinceridade que viu naqueles olhos
exóticos.
– Havia um técnico horrível chamado Jacob. Ele
gostava de ferir as Novas Espécies e, um dia, Fury lhe
deu uma cotovelada na cara, quebrando o nariz dele. Ele
foi atrás de Fury no meu último dia de trabalho na
Mercile. Eu havia acabado de roubar alguns arquivos
baixados do computador de uma médica e os engoli para
conseguir passar pela segurança. Eu costumava ver
como Fury estava, havia uma sala de observação, e eu
ouvi Jacob dizendo que ia matá-lo. Ele havia feito com
que desligassem a câmera que ficava dentro da cela. Fui
para lá assim que pude. – ela hesitou.
– Continue.
Seus olhos se baixaram até a camiseta dele, incapaz de
olhá-lo enquanto contava o resto.
– Ele havia drogado Fury e o esticado no chão,
acorrentando-o de barriga para baixo. Jacob começou a
fazer coisas repugnantes a ele. Eu ataquei Jacob e ele
morreu. – sua voz se interrompeu.
– Fury devia ser grato por isso. – Justice pegou em
seu queixo, forçando-o para cima até que seus olhos se
encontrassem – O que você não está me contando? Por
que ele acha que você o prejudicou se o salvou daquele
Destiny ?
Ela pigarreou.
– Eu tinha evidência o bastante repousando em meu
estômago naquele pen drive para conseguir que um juiz
enfim expedisse um mandado de busca nas Indústrias
Mercile. Se alguém notasse que eu matara aquele
técnico, eles não me deixariam sair quando meu turno
acabasse. Eu incriminei Fury pelo assassinato do
técnico. Espalhei o sangue daquele cretino em suas mãos
enquanto ele estava lá, no chão, indefeso, sem conseguir
se mexer, espetei a agulha de volta nele para parecer que
acabara de ser drogado, para explicar como ele
conseguira se mexer a tempo de fazer aquilo, e fiquei
com muito medo de contar a ele por que fiz aquilo.
Ela esperou o homem ficar bravo enquanto ele a fitava
com seus olhos estreitos e inteligentes.
– Há mais coisa que você não está me contando. Nós
costumávamos levar a culpa pelos acontecimentos. Isso
é pessoal pra caramba para Fury.
Ela cerrou os dentes.
– Eu entrei lá e encontrei aquele filho da puta
espancando-o e se preparando para estuprá-lo, ok? – ela
piscou para conter as lágrimas e baixou os olhos
novamente até sua camiseta – Jacob já havia feito coisas
horríveis a Fury, começara a estuprá-lo com um
cassetete e foi traumático, ok? Fury achava que eu
jamais o machucaria, mas em vez disso eu o incriminei
por assassinato. Ele me contou que foi torturado depois
de eu ter jogado o homicídio para ele. Os funcionários o
espancaram e o feriram por causa do que eu fiz. Ele tem
razões para estar bravo comigo, só queria se vingar, e
conseguiu.
Justice não disse nada. A brisa se agitou. Ela não
ousou olhar para seu rosto, com medo de ver nojo ou,
pior, fúria. Ela acabara de admitir ter feito algo horrível a
seu amigo.
– Ele me levou do parque para me dar uma amostra do
que ele vivenciou: ficar presa, indefesa, enquanto alguém
fazia o que queria com meu corpo. Ele sofreu isso e
mais pela morte daquele técnico. – ela fez uma pausa –
Ele não me forçou a fazer sexo com ele. Não me bateu,
nem nada. Decidiu que me seduzir seria mais adequado
para se fazer entender. Eu consenti. Fury e eu estamos
quites agora, ele teve sua vingança, e eu preciso ir.
– E o cheiro de sangue que senti? Você concordou que
ele a machucasse?
– Ele me acertou sem querer com os dentes. Não é
nada, só um arranhão.
Justice deu um suspiro alto.
– Entendo. – ele soltou seu rosto e se afastou.
Ellie se virou e fugiu pela calçada. Não ousou olhar
por cima do ombro para ver se Justice viria atrás dela
novamente. Não parou até um segurança encontrá-la
algumas quadras depois. Ela inventou uma mentira, jurou
que estava visitando uma pessoa e o assegurou de que
não sofrera nenhum mal. Recusou-se a dar nomes a ele,
mas deixou a dica de que sua aparência desarrumada,
que ele não podia deixar de notar, tinha a ver com sexo.
Ela notou o sorrisinho que o guarda deu e o jeito
malicioso com que ele olhou para seus peitos ao fazer
uma ligação para avisar que ela fora encontrada e estava
a salvo. Quando ela entrou no alojamento, queria
desmoronar por causa do inferno emocional que havia
sofrido.
Quatro mulheres das Novas Espécies assistiam à
televisão quando Ellie passou pela sala para ir até o
elevador. Ela parou para esperá-lo abrir e as estudou, e
percebeu que elas a observavam de volta. A mulher
sentada próxima a ela se levantou de repente. Seu nariz
se alargou ao farejar o ar e ela franziu o cenho.
– Você está bem?
Ellie ficou surpresa que uma delas tivesse se
importado com seu estado emocional.
– Estou bem, obrigada por perguntar. Boa noite.
Ela encarou as portas do elevador para interromper o
contato visual.
O elevador demorou para chegar ao andar térreo. Ellie
fechou os olhos e abraçou o peito. Tentou ignorar a
sensibilidade onde sua calça esfregava, contra seu sexo,
e onde seu peito queimava levemente. Ela precisava de
um banho, de um drink forte, e talvez de um bom e
velho choro.
O elevador fez um barulho quando suas portas se
abriram. Ellie abriu os olhos quando entrou, se virou para
apertar o botão de seu andar e arfou. Quatro Novas
Espécies mulheres entraram naquele pequeno espaço
com ela, e todos os quatro pares de olhos se estreitaram
em direção a ela. Elas farejavam alto, seus olhares se
remexiam para cima e para baixo de seu corpo, e se
aproximaram. Ellie se chegou no canto.
O interesse repentino delas atingira a já bastante
alarmada Ellie. Elas eram fêmeas altas, musculosas e
mais fortes do que as mulheres medianas. Ela acabou
ficando sem saída enquanto as mulheres a encurralavam.
Uma delas virou sua cabeça ruiva e apertou o botão para
o terceiro andar. Ellie lutava para lembrar seus nomes. A
mulher ruiva parecia ser alterada com genes de gato, por
causa do formato de seus olhos. Ela virou seu olhar
quase negro calmamente em direção a Ellie.
– Sentimos seu cheiro. Sangue, medo e sexo. Tudo
tem um cheiro.
– E também sentimos o cheiro de um de nós em você
– declarou a mulher à esquerda de Ellie. Era uma mulher
de aparência estranha, que parecia um gato cálico por
causa de seu cabelo multicolorido e suas feições felinas.
Ela farejou de novo – Espécie de cachorro, acho. Mas
nosso olfato não é tão bom quanto o dos machos. Eles
podiam farejá-la e identificar instantaneamente quem a
feriu. Para nós é mais difícil identificar cheiros.
– Não nos chame assim – a ruiva redarguiu, seus
olhos amarelados mostrando braveza. – Não sou um
cachorro. Sou parte canina.
A mulher com jeito felino encolheu os ombros e
estreitou o olhar em Ellie.
– Você foi atacada. – ela farejou.
– Estou bem. – Ellie engoliu seco – Obrigada pela
preocupação.
As quatro mulheres a fitaram em silêncio. O sinal do
elevador soou ao chegar ao terceiro andar. Ellie tentou
passar por elas, mas as mulheres continuaram
bloqueando seu caminho. Ela mordeu o lábio com força
e olhou para cada uma delas.
– Eu gostaria de ir até meu quarto agora.
Elas se afastaram para deixá-la sair daquele espaço
pequeno. Ellie se espremeu entre as mulheres, com
cuidado para não encostar nelas, e sumiu no corredor.
Elas a amedrontaram. Não sabia que o olfato delas era
forte o bastante para perceber tanta coisa, nem que
podiam sentir o cheiro de emoções. Deu uma corridinha
quando estava quase chegando ao quarto e pegou o
cartão. A luz ficou verde e ela puxou a maçaneta com
força, escancarando a porta. Entrou e a fechou. Porém,
alguém a empurrou e as quatro mulheres entraram no
apartamento de Ellie. O medo jorrou dentro dela ao ver
suas expressões sinistras. Ela andou para trás devagar,
alarmada com aquela sucessão de eventos. A porta se
fechou firme atrás delas.
– Kit, por favor, vá preparar um banho. – a mulher
mais alta e de cabelos negros comandava.
Kit saiu em direção ao banheiro sem mencionar
nenhuma palavra.
– Sou a Breeze – informou delicadamente a mais alta –
Há muitas de nós e não sei se você sabe nossos nomes.
Kit está no banheiro. – ela então apontou com a cabeça
para a ruiva – Essa é Rusty, e a que está em silêncio é
Sunshine. Sunshine, vá procurar algo confortável para
ela vestir depois do banho.
Sunshine foi até o armário de Ellie. Ellie fitava Breeze
em choque, enquanto a mulher franzia o cenho em
direção a ela.
– Sinto cheiro de sangue, sexo, e seus pulsos estão
vermelhos por terem sido presos. Fomos forçadas
muitas vezes a ficar com machos em nossos anos de
cativeiro. – seus olhos enegreceram – Os machos
humanos sentiam prazer em nos machucar
ocasionalmente. Nossos machos eram sempre
cuidadosos para nunca nos ferir quando éramos forçadas
a procriar com eles. – ela pausou – Éramos castigadas
ou forçadas a vê-los punindo a outro se não
obedecêssemos quando queriam que fizéssemos sexo.
Nossos homens são incapazes de forçar dolorosamente
uma mulher, mas um deles a prendeu e a feriu. Por quê?
Muda, Ellie fitava Breeze, aterrorizada com a descrição
do que era feito a elas. Silenciosamente xingou as
pessoas que faziam daquilo um doloroso inferno.
– Estou bem – jurou ela – Ninguém me forçou.
Breeze rosnou, com seus traços caninos à mostra.
– Não minta. Quem fez isso com você? Vamos vê-lo
sofrer grandemente por isso. Não há razão para um
macho forçar a procriação com uma mulher. Somos
livres agora. Quem quer que tenha feito isso deve pagar.
Ele a feriu e isso é imperdoável.
Sunshine colocou roupas na cama e se moveu atrás de
Ellie, que girou a cabeça a tempo de ver a mulher se
inclinar para cheirar suas costas. Sunshine agarrou de
repente a camisa de Ellie e puxou-a para cima. Ellie se
manteve imóvel, num silêncio atordoado, enquanto o
nariz da mulher roçava por suas costas desnudas e
inalava profundamente. A camisa caiu quando a mulher
se esticou de volta a sua altura real, que era de cerca de
um metro e oitenta.
– Não reconheço o cheiro dele. Está fraco, então não
acredito que ele tenha montado nela. Deve a ter pegado
do jeito humano.
Ellie tentou se esgueirar por entre as duas mulheres, se
sentia presa no meio delas, mas Breeze a agarrou de
repente pela frente da camisa. Ela se agachou e puxou a
camisa de Ellie até a parte inferior de seus seios. Breeze
empurrou o rosto contra a barriga de Ellie para farejar
antes que ela pudesse protestar. A outra mulher levantou
sua cabeça com uma expressão sombria.
– Como um humano, ele suou nela durante o ataque.
Também não conheço o cheiro dele. – ela franziu a testa
para Ellie ao se pôr novamente em pé – Por que está
protegendo-o? Sabe o nome dele? Descreva-o para nós,
vamos encontrá-lo e fazê-lo pagar. Você é nossa e ele
devia saber que não deve tocá-la.
Ellie ficou boquiaberta. Forçou sua mente a funcionar.
No último minuto houvera um choque atrás do outro
entre os farejos e as palavras. Elas podiam sentir o
cheiro do suor de Fury nela só de sua barriga encostar
na dela? Ela fechou a boca e apertou as coxas. Não sabia
o que fariam se sentissem o cheiro do sêmen dele. E,
então, a última frase a fez se dar conta.
– Sou de vocês? Achei que me odiassem.
Kit saiu do banheiro.
– Não a odiamos. Você é nosso bichinho.
– Kit! – Rusty balançou a cabeça – Não diga isso, vai
ofendê-la.
Kit baixou os ombros.
– Mas ela é. É tão pequena e bonitinha. Fica
tagarelando em volta, tentando nos agradar como um…
Como se chama? Um Yorkie?
Rusty suspirou.
– Decidimos que ela se parece mais com um poodle
pequenino e fofinho, com seus longos cabelos loiros. –
ela lançou um sorriso a Ellie – Não se ofenda, por favor.
Gostamos de tê-la por perto e você nos diverte
infinitamente. Sabemos que se importa conosco com o
jeito que tenta nos agradar.
– Preciso me sentar – Ellie murmurou, atordoada, e
tentou envolver sua mente na ideia de que elas a
consideravam um bichinho de estimação. Ela se moveu e
se estatelou na beira da cama. Arfou quando se sentou
com força demais, lembrando estar sensível por causa
do sexo.
– Droga. – ela fechou os olhos. Elas me consideram
um bicho de estimação. A comparação a um poodle a fez
se retrair.
– Você a deixou mais triste – rosnou Breeze – Peça
desculpas, agora.
– Desculpe – disse Kit instantaneamente – É um
carinho. Gostamos de você. Mencionei isso, não? É uma
coisa ruim ser um bichinho de estimação? As pessoas os
adoram. Temos muito afeto por você.
Ellie abriu os olhos e forçou um sorriso.
– Bem, leva algum tempo para se acostumar a isso,
mas obrigada. Fico feliz que gostem de mim, essa é a
parte importante.
– Gostamos mesmo – assegurou Rusty – Agora nos
diga qual de nossos homens a machucou e vamos acabar
com ele. Podemos identificar a diferença entre machos e
fêmeas com nossos narizes, mesmo que sejam primatas,
felinos ou caninos, mas determinar a diferença entre
indivíduos é mais difícil. Você precisa nos contar tudo o
que puder sobre o macho que a feriu, para podermos
descobrir quem foi.
Breeze estalou as juntas.
– Vamos deixar você assistir. Vê-lo sangrar vai fazê-la
sentir melhor. – ela olhou para as outras – Mas não
podemos matá-lo. Vamos apenas bater severamente nele
para ter certeza de que ele sentirá dor por uma boa
semana.
Ellie lançou um olhar para cada uma das mulheres.
Não tinha certeza se devia ficar grata por elas fazerem
aquilo por justiça ou se ficava profundamente perturbada
pelo mesmo motivo.
– Agradeço muito pela preocupação. Vocês não têm
ideia do que isso significa para mim. Eu poderia até
chorar de tão emocionada, mas não é o que vocês
pensam. Ele não me forçou.
– Explique por que a segurança chegou aqui para
checar nossos quartos depois de nos informarem que
você estava desaparecida. Eles disseram que havia sinais
de luta no parque. – Breeze estudou Ellie com um olhar
calculado – Somos espertas, então, por favor, não nos
insulte. Você entrou cheirando a sexo, medo e sangue.
Seus pulsos estão vermelhos, o que nos diz que você foi
amarrada. Sabemos que se trata de uma perversão
humana sobre a qual lemos, mas você fez sexo com uma
Nova Espécie macho. Não curtimos esse tipo de jogo
sexual e jamais amarraríamos alguém, já que isso nos
lembra o centro de testes, mas ainda assim um de
nossos machos a prendeu. Diga o nome dele, ou diga
como ele é, se você não sabe seu nome. Vamos puni-lo e
assegurar que você fique a salvo. Você é nosso
animalzinho de estimação e não deixaremos que abusem
de você, nunca mais.
Essa tinha que ser a conversa mais esquisita que Ellie
já tivera. Elas a viam como um bichinho de estimação,
um poodle, e não como a governanta. Ela resistiu a se
encolher. Sempre odiara seu cabelo selvagem e
encaracolado, mas poodles tinham problemas horríveis
com frizz. Talvez algum shampoo antifrizz pudesse
entrar em sua lista de compras.
Elas estavam sendo protetoras e aquilo significava o
mundo para Ellie. Ela tinha certeza de que cada mulher
naquele alojamento a odiava. Aquele podia ser o primeiro
passo para conhecê-las e talvez ensiná-las o que ela
podia fazer. Tinha que ser algo bom, em sua opinião.
– Estou bem. Por favor, deixem isso pra lá, é um
assunto pessoal. Não fui ferida e o cheiro de sangue que
vocês sentem é de um arranhão acidental.
Kit chegou mais perto para inspecionar Ellie.
– Ela está com medo de falar o nome dele. – ela se
inclinou, agarrou a camisa de Ellie e enfiou o nariz em
sua barriga. Farejou-a e, em seguida, se afastou com um
salto. O horror se mostrou em suas feições e ela emitiu
um som leve.
– Fury – ela arfou e cambaleou para trás – O Fury
não. Ele… – ela se calou.
Rusty proferiu um xingamento. Foi para cima de Ellie,
agarrou-a e esticou-a em cima da cama. O medo atingiu
Ellie forte como um tijolo esbofeteando-a quando a
grande mulher puxou sua camisa para cima de forma
selvagem até seus seios e pressionou o nariz com força
contra sua pele. Sons de farejo foram seguidos por um
rugido. Rusty saltou para trás e se virou. Andou até o
canto e suas mãos bateram contra a parede, forte o
suficiente para fazer Ellie se encolher.
– Fury – confirmou Rusty com uma voz trêmula – Foi
ele, definitivamente.
Breeze parecia ser a única a se manter calma. Ela se
dirigiu a Rusty e Kit de um jeito sinistro.
– Vocês não disseram que ele era um protetor? Não
disseram que, de todos os seus homens, ele foi o mais
castigado para protegê-las da dor e do sofrimento? Têm
certeza de que é o cheiro dele?
Rusty fez que sim com a cabeça enquanto fungava.
Ela se virou de repente e revelou as lágrimas que corriam
por sua face enquanto fitava Ellie, confusa.
– Por que ele faria isso com você? Por quê?
– Não estamos culpando-a – acrescentou Kit
rapidamente. Ela parecia muito triste, como se também
fosse chorar – Estamos tentando entender por que ele
faria isso. Ele sempre foi o mais cuidadoso para que não
sofrêssemos dor quando nos mandavam fazer sexo.
Quando uma de nós se recusava totalmente a transar
com ele, ele era espancado e não encostava em nós. Ele
sofria para que não sofrêssemos. Ele morreria, mas não
nos sujaria com sangue ou nos machucaria de qualquer
jeito. Estamos tentando compreender.
Ellie se agarrou à cama e se pôs de pé.
– Por favor, não é o que estão pensando. Sei que ele
não quis me machucar, e é só um arranhão. É um
assunto pessoal. Nós, er… droga. Não sei como
explicar. Ele não quer que ninguém saiba e eu já contei
ao Justice North hoje, quando ele me encontrou na casa
do Fury. Eles faziam isso com vocês no centro de
testes? Meu Deus! – Ellie se sentou de novo, se
esqueceu da sensibilidade e se retraiu.
– Isso não vai sair desse quarto – Breeze jurou
delicadamente – Você tem nossa palavra, jamais vamos
repetir o que nos contar. Elas estão magoadas porque
aquele macho a feriu, e ele significa muito para elas.
Você precisa contar o que aconteceu. Vamos protegê-la
dele.
Ellie gemeu. Estudou cada mulher, notou que Breeze
olhava severamente para ela, com os braços cruzados,
esperando que ela despejasse toda a história. Kit e Rusty
estavam pálidas, tremiam e pareciam prontas para
chorar. Doloridas. Essa palavra era adequada. Sunshine
parecia apenas curiosa.
Ela não podia deixar que pensassem o pior sobre Fury.
Duas delas obviamente o conheciam bem. Ellie odiava o
ciúme que vinha à tona com a ideia de que ele
provavelmente transara com duas daquelas mulheres.
Talvez elas não tivessem tido escolha, isso ajudava um
pouco. Ela respirou fundo e começou do começo.
Acabou contando absolutamente tudo até o momento em
que a seguiram até o quarto. Ela enxugou as lágrimas
enquanto estudava cada mulher. Tinha medo de que elas
pudessem odiá-la, agora que confessara o que havia
feito.
Kit e Rusty haviam se sentado no chão enquanto Ellie
contava sua história. Breeze ficou na porta e Sunshine
estava sentada na cama, próxima a Ellie. Ellie encontrou
os olhos de Breeze.
– Só quero tomar um banho, ir pra cama e nunca mais
falar sobre isso, ok? Ele não me forçou e não teve a
intenção de me acertar com os dentes.
Breeze fez que sim com a cabeça, dando um sorriso
triste a Ellie.
– Você é uma mulher generosa, Ellie. A maioria das
mulheres não entenderia a necessidade de vingança dele
ao pegá-la essa noite. Elas teriam… – ela suspirou –
Teriam mentido, dizendo que ele as machucou sem
consentimento. Você não merecia a raiva dele. Sabe
disso, não sabe? Você salvou a vida dele. Querer
desforra é da macheza dele, ele estava errado. Sinto sua
vergonha pelo que teve que fazer, permitindo que a
Mercile acreditasse que ele matara o técnico, mas
entendo o motivo. Eu teria feito o mesmo. – ela respirou
profundamente – Ele não vai mais chegar perto de você.
Vamos nos revezar para protegê-la.
– Isso não é necessário. Estamos quites agora e ele
não vai mais se aproximar de mim. – Ellie se levantou –
Obrigada por se importarem e compreenderem. Tive
medo de que fossem me odiar pelo que precisei fazer. Eu
só queria salvá-lo de Jacob e precisava entregar a
evidência ao meu chefe. Nunca achei que fossem
espancá-lo por isso. Estou mesmo bem e vou me sentir
mil vezes melhor amanhã. Só quero deixar isso para trás.
– Vá tomar seu banho e jogue suas roupas para nós.
Vamos lavá-las para remover o cheiro dele. – Sunshine
ofereceu gentilmente – Você fez o que precisava. Coisas
horríveis foram feitas a nós; essa é a mais gentil que já
ouvi. Você poderia ter sido morta pelo técnico.
– Sei que não significa muito, mas Fury é um bom
homem. – Kit lhe deu um sorriso triste – Sei que ele não
quis machucá-la de jeito nenhum, ele sempre foi muito
cuidadoso conosco.
Ellie balançou a cabeça, sua suposição sobre as
histórias sexuais de Fury com as duas mulheres se
confirmou, e tentou não ser comida pelo ciúme. Entrou
no banheiro, mas deixou a porta aberta. A banheira
quente e cheia a esperava. Ela se despiu, entregou suas
roupas pela porta e relaxou no banho. Se encolheu
quando se posicionou e a água a deixou ciente da parte
inferior do seio. Ela o levantou, inclinou a cabeça e viu
dois arranhões feitos pelos dentes afiados. Droga.
Seus olhos fecharam, relaxados. Pelo menos ela não
precisava mais ter medo de Fury tramando para colocar
as mãos nela. É claro que ela agora tinha lembranças
eróticas deles juntos com as quais teria de conviver.
Duvidava de que conseguiria esquecê-lo.
Seu ex-marido a machucara o bastante para fazê-la
renunciar a amar novamente. Ela prometera nunca mais
deixar alguém ter tanta importância a ponto de encher
seus pensamentos por completo mas, então, viu Fury
pela primeira vez. Algo que pensava estar morto dentro
dela rugiu. Ele se tornara uma obsessão; primeiro para
salvá-lo, depois para fazer justiça ao que ela lhe havia
feito. Ela havia sido deixada para cuidar de seu povo, já
que não sabia o que acontecera a ele.
Fury importava para ela mais do que seu ex-marido já
tinha importado. Já tivera certeza uma vez de que
conhecera o amor, certa de que nada poderia machucá-la
como seu casamento destruído fizera, quando ela
entendeu que havia se casado com um traidor cretino,
mas estava errada. Seus sentimentos pelo ex não eram
nada comparados ao que Fury a fazia sentir.
Nada mesmo. O toque de Fury a assombraria pelo
resto da vida. Ela desejava que eles tivessem uma chance
verdadeira de ficarem juntos. Por ele, teria corrido o
risco de ter o coração partido de novo, mas…
– Droga – murmurou Ellie em voz alta – Deseje o
quanto quiser que as coisas fossem diferentes, mas
simplesmente não é para ser.
– Fury?
Ele ficou um pouco surpreso ao ouvir seu nome sendo
dito com suavidade, sem saber que alguém havia ido
sorrateiramente até ele, o que atestou o quão obcecado
se tornara por ficar observando Ellie em seu alojamento.
Ele virou a cabeça apenas o suficiente para fitar Slade.
– O quê?
– Sua obsessão com a humana está começando a me
assustar. Preciso reportar isso ao Justice?
– Não. – o olhar de Fury retornou ao alojamento
feminino e foi até Ellie sentada no sofá com algumas
mulheres. Ela sorriu para algo que disseram, e ele
desejou saber o que causara aquele divertimento. – Só
estou checando Ellie.
– Você precisa deixar pra lá. Foi dito que ela
trabalhava para a Mercile. Entendo sua necessidade de
vingança, mas ela não é nossa inimiga.
Fury segurou a língua. Era melhor que seu amigo
acreditasse que aquela era a razão pela qual ele se
escondia atrás de uma árvore do outro lado da rua,
observando a mulher que o fascinava e se recusava a
abandonar seus pensamentos. Ele só conseguia pensar
nela. Os sons de seus gemidos, o gosto doce do seu
desejo e a lembrança de seu corpo apertado e paradisíaco
enquanto ele a repassava em sua mente.
Seu pau endureceu dolorosamente com a lembrança
de como era possuí-la. Ele estragara tudo, a deixara
magoada e não tinha ideia de como consertar aquilo.
Recebera ordens de se manter longe dela, de não
interagir de forma alguma, porém não queria dizer que
não podia observá-la de longe. Ela não sabia e, portanto,
não podia se sentir ameaçada com sua presença.
– Você me ouviu? – Slade se aproximou mais.
– Sim. – seu foco permanecia em Ellie. A mão dela se
levantou para colocar os cabelos loiros para trás do rosto
e, ao invés daquilo, ele desejava poder sentir as pontas de
seus dedos arranhando seu rosto – Ouvi.
– Você é um perigo para ela? Seja honesto comigo,
somos amigos.
Aquilo desviou sua atenção dela.
– Não vou machucá-la.
Eles se fitaram por um longo momento e, então, Slade
suspirou, olhando rapidamente para o alojamento
feminino e quebrando o contato visual.
– Nossas mulheres parecem gostar dela.
Eu também gosto dela, Fury se conteve para não
admitir. Estou obcecado e não consigo parar de pensar
nela. Ela é tudo com que sonho quando tento pegar no
sono.
CAPÍTULO SEIS
Ellie deu uma gargalhada.
– Vamos lá, Monarch. Você consegue sim.
Monarch, uma mulher loira e com pouco menos de
um metro e oitenta de altura, examinou o aspirador com
nojo.
– Faz muito barulho e tenho medo que sugue meus
dedos do pé.
Ellie levantou a mão para cobrir a boca, tentando
esconder seu divertimento.
– Todas achamos isso. Confie em mim. Mas eu
prometo que, se você apontá-lo para longe, isso não
acontecerá. Você já dominou a máquina de lavar e suas
habilidades para cozinhar com o micro-ondas são
maravilhosas. Você pode com essa coisa.
Monarch suspirou.
– Tudo bem, mas machuca meus ouvidos.
Destiny, uma mulher de cabelos pretos, comemorou
por ela. Monarch ligou o aspirador e o empurrou pelo
carpete da sala de estar sem causar ferimentos. Ellie
sorriu. Qualquer que fosse o motivo, durante as últimas
três semanas, as mulheres a haviam aceitado. Permitiram
que conversasse com elas, que desse risadas com elas e
as ensinasse tarefas domésticas.
– Ellie?
Ellie se virou e encarou Breeze com um sorrisinho. As
Novas Espécies altas haviam ajudado muito a Ellie com
as outras mulheres. Breeze fora indicada a líder no
alojamento feminino. Ela e algumas outras mulheres
tinham aulas durante o dia para receber a educação
básica que lhes fora negada. Elas haviam acabado de
voltar ao alojamento.
– E aí?
Breeze parecia soturna.
– Precisamos conversar em particular.
– Ah… – Ellie teve um momento de confusão – Claro.
Ela sabia que algo estava errado. Breeze a levou em
direção ao banheiro, o que a intrigou ainda mais. Rusty e
Kit esperavam na porta. Breeze escancarou-a e Ellie a
seguiu para dentro. Sunshine verificou as cabines para
ter certeza de que não estavam sendo usadas.
– Tudo vazio – anunciou Sunshine – Estamos
sozinhas.
Ellie deu uma olhada por cima do ombro quando a
porta se fechou e encontrou Rusty e Kit bloqueando a
saída. Ellie direcionou a atenção a Breeze.
– O que está acontecendo?
Breeze suspirou.
– Você não pode sair desse alojamento sem que uma
de nós esteja com você. Quero que você durma no meu
quarto, ou uma de nós ficará no seu. Você nunca deve
ficar sem uma de nós ao seu lado.
– Ahn… Por quê? – Ellie levantou as sobrancelhas ao
olhar para cada uma delas.
Breeze prendeu sua atenção franzindo a testa.
– Fury está aí fora novamente. Não queríamos
assustá-la, mas o vimos examinando o prédio em várias
ocasiões. Ontem à noite, ele se aproximou mais e
suspeitamos de que esteja testando a segurança para
encontrar uma forma de entrar.
O choque percorreu Ellie.
– Por que ele faria isso?
Um alarme alto começou a tocar repentinamente com
avisos agudos, assustando todas as cinco mulheres. Ellie
sabia que não era o alarme de incêndio, o som era muito
alto. Aquele era o toque de recolher. Ela se moveu
rapidamente, correndo para fora do banheiro. Kit e Rusty
estavam à sua frente enquanto ela corria para a porta da
frente, mas ninguém estava ali tentando arrombá-la. O
alarme continuava a berrar. Ellie se virou e viu uma dúzia
de mulheres da Nova Espécie se apressarem em direção
a ela.
– Toque de recolher – berrou Ellie – Vão.
Ellie se mexeu e agarrou o telefone de emergência da
parede. Tocou uma vez antes de alguém do prédio da
segurança atendê-lo.
– Aqui é Ellie Brower, do alojamento feminino. O que
está acontecendo? – ela se assegurou de que a porta fora
trancada automaticamente dando uma batida nela.
– Temos uma violação – gritou o segurança do outro
lado da linha, deixando seu medo aparente – Um
daqueles grupos de ativistas abriu passagem pelo portão
principal. Há forças indo até vocês, mas garanta que as
mulheres fiquem seguras e que as portas estejam
fechadas.
– Filho da puta – Ellie xingou. Ela bateu o telefone e se
virou para descobrir que algumas das mulheres ainda
estavam ali.
– São aqueles cretinos loucos que andam protestando
do lado de fora dos portões sobre… – ela pressionou os
lábios, não encontrando um jeito mais educado de
terminar a frase. – Tranquem-se em seus quartos, por
favor. O portão principal foi violado, e a segurança está a
caminho. Ficaremos absolutamente seguras aqui dentro.
Breeze xingou.
– São os humanos que acham que devíamos ser
mortos, não é?
Ellie não podia negar, portanto, não tentou.
– Eles são idiotas. Deviam ir para suas casas e esperar
que suas naves alienígenas venham buscar seus traseiros
loucos, porque não os considero humanos. Deviam
voltar para seu próprio planeta e deixar o nosso em paz.
Sunshine bufou enquanto ia embora.
– Estarei em meu quarto, então.
Breeze mostrou sua raiva ao enrugar o nariz.
– Vamos esperar aqui com você.
Ellie balançou a cabeça.
– Vocês sabem que o protocolo diz para irem aos seus
quartos. Ficarei bem. Preciso ficar aqui para operar a
porta, caso algumas de nossas mulheres precisem entrar.
Algumas ainda estão lá fora, voltando da escola. Aqueles
babacas invadiram pelo portão principal e talvez tenham
armas. Quero que fiquem a salvo. Meu trabalho é ficar
aqui, e o de vocês é subir para os quartos.
Breeze hesitou.
– Por favor? Estou bem – jurou Ellie.
Breeze inclinou a cabeça em direção às mulheres que
ainda estavam ali, indicando que deveriam ir. Ellie soltou
a respiração que havia segurado, aliviada, enquanto as
observava irem até a escada. Elas evitaram os elevadores
que não funcionariam com os alarmes disparados. Ellie
se virou para a porta para olhar para fora, não vendo
nada de incomum.
Ela odiava os ativistas que tinham a Organização das
Novas Espécies como alvo. Desde que os noticiários
publicaram a história sobre os sobreviventes do centro
de pesquisa de testes, alguns grupos de ódio surgiram,
alegando que as vítimas não eram nada além de animais,
que não tinham direitos e deviam ser destruídas. Ellie
cerrou os dentes. Os únicos animais a serem
derrubados, em sua opinião, eram os que ameaçavam o
bem-estar das Novas Espécies.
Ellie ficou tensa ao ouvir um barulho de motor
subindo a rua. Ela viu um dos carros da segurança virar
uma esquina rápido demais, com outro veículo logo
atrás; uma grande picape que parecia ter sido convertida
em algo parecido com um tanque. No lado da picape, a
palavra “Caçadores” fora pichada infantilmente em
vermelho-claro. Ellie observava horrorizada enquanto a
picape golpeou o carro da segurança, que era bem
menor, fazendo-o derrapar. Os pneus do veículo menor
bateram no meio-fio, ele parou abruptamente na frente
do prédio e a picape parou logo atrás. Ellie ficou
boquiaberta ao ver armas quando dois homens vestindo
jeans saltaram do carro. Pior, ela viu a porta de trás do
carro da segurança se abrir e duas mulheres correram
em sua direção.
Os dois seguranças que saíram do carro puxaram suas
armas e tiros irromperam. O homem da picape
mergulhou para trás dela e revidou, dando às mulheres
tempo para correrem ao alojamento. As mãos de Ellie
tremiam demais enquanto ela agarrava a porta e rezava
muito para que as irmãs, Blue e Sky, chegassem até ela a
salvo. Ellie jogou o peso contra a porta que abrira e
pressionou firme o corpo contra o vidro para sair do
caminho das duas grandes mulheres que passaram em
alta velocidade pela porta aberta.
– Vão para seus quartos – Ellie ordenou. Ela bateu a
porta e a puxou para ter certeza de que as travas
automáticas funcionaram. Como a porta não se moveu,
ela a soltou e se lançou ao telefone na parede.
Estava mudo. Merda. Mais tiros do lado de fora
desviaram a atenção de Ellie. Horrorizada, viu um dos
seguranças ser atingido por uma bala. Ele voou para trás,
se esparramou no capô do carro da segurança e, então,
seu corpo desmoronou na rua. Ele não se levantou, nem
se moveu. O outro segurança continuou atirando, mas
ele estava em menor número. Um grito de angústia saiu
de Ellie, quando balas atravessaram o guarda que
sobrara. Seu corpo girou com os impactos, sangue
irrompeu em seu rosto e peito antes de cair fora de vista,
atrás do carro.
Ellie cambaleou, horrorizada. Os intrusos riam e dois
deles faziam um gesto de “toca aqui” um para o outro.
Eles se viraram de frente para o prédio e se
aproximaram, indo na direção dela. Merda. Ellie agarrou
a barra de emergência e a puxou para baixo. Ela fora
acrescentada como uma tranca adicional, caso cartões
de segurança fossem roubados ou alguém tentasse
conseguir o código torturando um guarda. Eles
precisariam das duas coisas para contornar as medidas
de segurança do toque de recolher e conseguirem entrar.
– Ela não parece um animal – disse um deles alto,
olhando para ela.
Outro homem, o maior dos quatro, apontou a arma
diretamente para Ellie e gritou.
– Abra!
Ellie sabia que o vidro aguentaria. O prédio fora
projetado para resistir a um ataque. Ela mostrou o dedo
do meio e, com a outra mão, apertou o botão de
comunicação para que eles a ouvissem claramente.
– Vão se ferrar. É à prova de balas.
– Sua animal de merda – gritou um deles. Ele puxou
uma arma, apontou-a para o rosto de Ellie e atirou.
Ela se retraiu, mas o vidro não quebrou. Ficara com
uma pequena marca, mas sequer trincara.
– Isso aqui é só um prédio de reuniões e vocês não
têm como entrar – ela explicou – Podem ficar
esmurrando o próprio peito, seus macacos idiotas.
Ela sabia que os provocava, mas contanto que
ficassem onde estavam, fazendo ameaças, não tinham
como ferir alguém do outro lado. Ela esperava que a
segurança aparecesse rápido para prendê-los, antes que
percebessem que ela só queria distrai-los.
– Também não sou um animal. Deviam se olhar no
espelho se quiserem ver um. – Ellie lançou aos quatro
um olhar sacana – Vocês são um zoológico ambulante.
O que estava com a arma se afastou e disparou. Ellie
cambaleava e se encolhia ao som de cada tiro. Ela soltou
o botão do comunicador, mas ele mal abafava o som
enquanto o homem continuava atirando. Algumas
marcas apareceram, mas o vidro se segurava. Ela estava
odiando presenciar tão de perto um teste de resistência a
balas. O imbecil com a arma parou de atirar.
Ellie se lembrou das câmeras sem fio de segurança e
deu alguns passos para trás. A câmera estava pendurada
no alto da parede e apontada para a entrada. Ela mantinha
sua atenção ali, enquanto acenava freneticamente para
chamar a atenção de alguém. Ela uniu os dedos das duas
mãos e começou a fazer uma mímica que sugeria que
segurava uma arma, movendo o dedão para fingir que
dava tiros. Ela apontava para o relógio para indicar que
estava acontecendo naquele momento. Esperava que
alguém na central de segurança que estivesse
observando-a pela câmera já tivesse brincado de mímica,
já que aquelas câmeras não tinham cabos de som. Ela
encostou na parte do braço em que as patentes dos
guardas ficavam e passou os dedos pelo pescoço para
dizer que havia dois guardas mortos, esperando que a
entendessem.
Os homens abriram fogo novamente contra as janelas,
dessa vez em uníssono, talvez pensando que um ataque
múltiplo as quebraria. Ellie tapou os ouvidos para
protegê-los do barulho alto. Afastou-se mais das janelas
e tentou novamente transmitir para a câmera o que os
intrusos estavam fazendo.
Os tiros cessaram de repente. Ellie virou a cabeça e
viu os homens se fechando em uma roda para conversar.
Um deles se separou e correu até os veículos. Ela se
perguntou por que ele fora até o carro dos seguranças e
sentou no banco do motorista. Se ele achasse que roubar
o cartão de identificação de um dos funcionários iria
ajudá-los a entrar, ele ficaria decepcionado.
Ellie teve um mal pressentimento, quando sorrisos
cortaram os rostos dos homens. Eles pareciam muito
alegres ao saírem do caminho. O homem atrás do
volante do carro da segurança o ligou e o posicionou na
rua de maneira a ficar apontado para o alojamento. Seu
estômago se revirou, uma sensação ruim atiçando-o.
Naquele momento, ela soube o que ele planejara. O
motorista pisou no acelerador. O carro deu um pulo para
a frente, passou por cima do meio-fio e acelerou pela
calçada que levava à porta dupla de vidro.
– Merda! – Ellie gritou ao tropeçar para trás.
O som feriu seus ouvidos, quando o carro bateu nas
portas e ela acabou esticada no chão. Observou a
fumaça sair da parte da frente, danificada, enquanto o
motor morria. As portas de vidro aguentaram, mas, ao
levantar os olhos, ela notou, para seu horror, que o
impacto criara um vão de uns bons dez centímetros na
parte de cima do batente.
– Ai, Deus – murmurou Ellie em choque.
As janelas não haviam quebrado, mas o que as
segurava no lugar, sim. Ela continuou sentada ali até que
os três homens puxaram o amigo de dentro do carro
amassado. Ele parecia atordoado, mas o airbag o salvara
de ferimentos mais graves. Os quatro homens estudaram
o dano causado na parte de cima do batente, sorriram e
começaram a empurrar aqueles destroços fumegantes
para longe do alojamento. Manobraram o carro para fora
da calçada e o colocaram na grama, deixando o caminho
livre para outro ataque.
Ellie lutou para ficar em pé e correu até o lugar em
que ficava o sistema de interfone. Ela sabia que aqueles
homens estavam prestes a usar a picape para empurrar
as portas totalmente e entrar. Ela apertou o botão de
comunicação. Seu coração ameaçava explodir de terror,
mas tentou manter a voz calma.
– Trancando as portas de emergência – ela declarou
claramente – Repito, trancando as portas de emergência.
Fiquem em segurança agora. – ordenou ela às mulheres
– Dirijam-se ao terceiro andar. Corram todas, caramba.
Eles estão invadindo o prédio. Só acionarei as portas
secundárias de emergência quando não der mais, mas
mexam-se.
Ela soltou o botão e com um puxão abriu o painel de
emergência abaixo do sistema de comunicação. Nos
segundo e terceiro andares havia portas de aço que
conduziam à escadaria, ao elevador, e também havia
venezianas de aço que cobririam as janelas. Era o último
recurso ao qual recorrer, caso o andar térreo fosse
violado após o toque de recolher. As portas de dentro,
que dividiam os andares, tinham 25 centímetros de
espessura, pesavam centenas de quilos e as venezianas
externas eram à prova de bombas. Elas também
fechariam o chão no fosso do elevador.
Ellie torceu o corpo o bastante para ver a parte
danificada da parede perto das portas, mas ainda
alcançava o painel. Um dos homens subiu na grande
picape, confirmando seu pior medo. Os homens riam
enquanto falavam, se divertindo ao tramar como a
matariam. Ela fez caretas e esperava que eles ficassem
falando bobagens por mais tempo, enquanto suas
mulheres iam para um andar mais alto. Ela soube que o
tempo acabara quando a porta do motorista se fechou, o
motor da picape rugiu e passou por cima do corpo de
um dos seguranças mortos. O motorista manobrou a
picape para alinhá-la com as portas. Droga.
– Ellie? – a voz de Breeze veio do alto-falante –
Estamos todas no terceiro andar. Suba aqui, agora.
– Elas estão aqui. – assegurou-lhe Breeze – Suba aqui
com a gente ou vou até aí pegar você.
O alívio correu por Ellie.
– Tem certeza de que estão todas aí? Positivo? Sky e
Blue foram as últimas a entrar.
– Protejam-se, eu estou bem – mentiu Ellie.
Ela queria poder subir até Breeze, mas alguém tinha
que ativar as portas de emergência no painel. Quem
projetara o prédio havia cometido aquela falha, em sua
opinião, ao ver como ficar em pé ali a deixava
vulnerável. Deviam ter instalado painéis de ativação das
portas em todos os andares.
Ela apertou o código de três dígitos no painel de
emergência e girou a chave. Uma sirene alta explodiu
pelo prédio em rebentos rápidos. Ela sabia que as portas
e venezianas de aço se fecharam nos andares mais altos
do prédio. As mulheres teriam ficado seguras no
segundo andar, mas ela queria que subissem mais para
ser mais difícil alcançá-las, caso os homens rompessem
uma porta interior. Ela não havia pensado que o
alojamento podia ser invadido, mas estava errada. Não ia
mais se arriscar fazendo suposições erradas.
Ellie bateu a porta do painel de emergência. Sabia que
o centro de segurança estaria recebendo o sinal sobre o
que ela fizera. O sistema trabalhava com as câmeras por
meio de uma conexão sem fio. Era um backup de
segurança, caso os telefones não estivessem
funcionando e a energia caísse, pois assim eles ainda
tinham como monitorar os sistemas de emergência. Ela
se tranquilizou, pensando que a segurança tinha que
saber que ela acabara de acionar o último protocolo de
proteção, o que significava que o alojamento fora
invadido. Eles viriam mais rápido para salvá-la.
Assim espero. Por favor, nos mandem ajuda agora.
A raiva tomou Justice. Ele se encontrava trancado na
sala principal do controle de segurança, observando as
telas cheias de imagens de Homeland. Quinze picapes
haviam se dirigido para dentro depois de explodirem o
portão principal com um carro-bomba. Tiros estavam
sendo disparados, pessoas estavam morrendo e ele
estava preso numa caixa de aço, vendo tudo desmoronar.
Seu povo em perigo e ele queria ajudá-los.
– Acalme-se – Darren Artino exigiu – A SWAT e a
segurança pública estão a caminho. Os prédios foram
lacrados, todos estão cientes de que há um problema e
seu conselho está seguro em um bunker. Você tem
observado a tudo exatamente como nós. É só a minha
força de segurança que está sendo morta lá fora. Seu
povo está a salvo.
– Senhor – gritou uma mulher – Ahn, há um grande
problema.
– O quê? – rosnou Darren Artino – Temos centenas
deles neste exato momento.
– É a mulher no alojamento feminino. Ela parou de
acenar para nós e acabou de colocar em ação o último
código do protocolo. Ela acionou as portas de Hail Mary.
– As o quê? – Justice rosnou as palavras. Ele se
perguntou se havia fumaça saindo de suas orelhas. Ele
não queria se sentir indefeso nunca mais depois de ter
começado sua nova vida, mas naquele momento, ele
estava. Isso o deixava furioso.
– Deixe-me ver as câmeras daquele prédio. – Darren
Artino berrou – Aquela mulher é muito imatura, aposto
que ela só está entrando em pânico. Vou mandá-la
embora quando isso acabar.
– Estou com a câmera da rua Leste na linha. – um
homem anunciou – Tela catorze.
Darren Artino apontou para a tela à direita e sentiu a
respiração de Justice em sua nuca. Os dois focaram a
atenção na tela. Viram uma picape acelerar em direção à
entrada do alojamento das mulheres.
– Filho da puta – disparou Darren.
– O que são portas de Hail Mary? – Justice agarrou
Darren pelo braço e o girou.
Darren inspirou profundamente ao se deparar com um
enraivecido par de olhos de gato.
– Hail Mary é uma oração. É um “ai, merda, é grave”.
Portas de reforço foram ativadas dentro do alojamento, e
elas interrompem seções inteiras do prédio. – ele puxou o
braço para se livrar da pegada de Justice – Ponha todas
as câmeras do alojamento na tela, e quero sinais de
emissão de calor sendo detectados em todo os andares,
já! Prioridade um para todas as telas frontais.
Justice pegou seu celular e fez uma ligação.
– O alojamento feminino está sobre grave ataque. –
desligou em seguida.
– Trinta e quatro sinais de emissão de calor no terceiro
andar. As portas de Hail Mary estão fechadas e seguras –
uma mulher gritou – Uma emissão de calor vem do
primeiro andar e se move rápido.
– Há 35 mulheres vivendo nos dormitórios, de acordo
com nossos registros. – um homem falou – Estão todas
lá.
Câmeras que normalmente ficavam desligadas no
alojamento ligaram. Uma tela mostrava as mulheres
sentadas ou apoiadas nas paredes do corredor do
terceiro andar.
– Aquelas são minhas mulheres. – Justice ficou tenso
– Elas estão a salvo ali?
Darren fez que sim com a cabeça.
– Muito. Nada pode alcançá-las. As portas de aço têm
quase meio metro de espessura, nem mesmo uma bomba
poderia amassá-las. Eu disse que elas estariam seguras.
– Temos as portas de entrada na tela dez – um homem
berrou.
Justice e Darren olharam para a tela e Darren xingou.
As portas de vidro estavam no chão. O dano no alto da
parede fora torcido para o lado de dentro.
– Filho da puta! O vidro aguentou, mas a construção
não. – alguém constatou o óbvio.
– Temos movimento com quatro novos sinais de
emissão de calor. – uma mulher anunciou – Estamos
rastreando a emissão de calor da pessoa que estava
sozinha. Está na cozinha. Estou com todas as câmeras
ligadas agora.

Ellie correu para a cozinha. Ela ouvira o barulho das


portas quebrando e sabia que estava presa. Ela podia se
esconder e rezar para que o socorro chegasse antes de
aqueles homens a encontrarem, ou podia lutar. As
chances de encarar os quatro homens armados e vencê-
los não eram boas. Sua maior preocupação fora com as
Novas Espécies mulheres, e saber que elas estavam a
salvo a confortava. Ela compreendera que aquele
emprego seria perigoso quando o aceitou, mas nunca
pensou que algo daquele tipo pudesse acontecer.
Com um puxão, ela abriu a gaveta de facas e pegou a
maior que encontrou, enquanto observava por cima do
ombro a entrada aberta. Tentou amainar o pânico,
sabendo que precisava manter a cabeça em ordem.
Preciso de um lugar para me esconder.
Seu foco imediatamente pousou na ilha e ela foi até lá,
se abaixou e sumiu de vista. Abriu um dos armários e
começou a afastar os utensílios que estavam dentro, o
mais silenciosamente possível.
– Aqui, gatinha, gatinha – uma voz masculina gritou.
É sério isso? Ellie chacoalhou a cabeça. Eles não
sabem nem diferenciar um humano de uma Nova
Espécie. Os idiotas não sabem nem em quem atirar.
Caçadores o caramba, enfureceu-se, lembrando-se da
palavra pintada na picape deles.
– Vem cá, gatinha. – A voz parecia estar mais perto. O
coração de Ellie acelerava enquanto ela entrava dentro do
pequeno armário. Não havia muito espaço, mas ela
conseguiu se enfiar e fechar a porta do armário. Seus
joelhos estavam pressionados contra o corpo e ela
inclinou a cabeça, ficando em uma posição fetal na
escuridão. Tentou controlar a respiração para que não
fosse ouvida. Seus ouvidos se esticavam ao menor
ruído. Tudo o que ela podia fazer àquela altura era rezar
para que eles não a encontrassem enquanto a ajuda não
chegasse.
– Não vou matá-la, só quero conversar.
Ellie cerrou os dentes. O homem obviamente achava
que ela era uma completa imbecil se julgava que ela
acreditaria nele. De jeito nenhum ela tentaria conversar
com aqueles babacas insanos sem que um vidro à prova
de balas os separasse. Deixar que eles se aproximassem
seria a forma mais rápida de morrer, e ela queria viver.

Justice continuava a olhar para diferentes telas, para


observar o que acontecia no alojamento feminino. Pegou
o telefone e apertou o botão de discagem rápida. Acabara
de ver Ellie Brower se esconder num armário embaixo da
ilha na cozinha. Seu olhar rastreava os quatro invasores,
que faziam buscas no andar térreo do prédio. Eles
haviam percebido que os elevadores não estavam
funcionando e que o acesso ao segundo andar estava
bloqueado por uma grande porta de aço que obstruía a
escada. Os homens se separaram e foram de sala em
sala no primeiro andar, procurando por Ellie.
– Nossas mulheres estão seguras no terceiro andar,
mas a humana está se escondendo na cozinha. É só uma
questão de tempo até a encontrarem, ela está presa. Há
quatro homens fortemente armados lá dentro e eles
conseguiram entrar quebrando as portas de entrada. – ele
desligou.
Darren Artino se virou e franziu a testa para Justice.
– Com quem você estava falando?
– Minha equipe de segurança está a caminho.
Darren escancarou a boca e, em seguida, fechou-a
com força.
– A segurança é trabalho meu. A comunicação ainda
está interrompida. Não posso chamar meus seguranças e
ordenar que eles deem permissão para alguém entrar em
Homeland. Eles bloquearam os portões de entrada,
fazendo uma barricada com carros de funcionários, para
impedir que mais alguém entre.
– Eles já estão aqui – rosnou Justice – São meus
homens, meu povo.
A raiva fez o rosto de Darren ruborizar.
– Meu trabalho é proteger as Novas Espécies, e não
deixar que saiam dos lugares de onde estão a salvo para
confrontar esses cretinos malucos. Já estamos quase
controlando a situação. Ligue de novo para eles e ordene
que voltem aonde estavam em segurança.
– “Quase” não vai salvar aquela mulher – Justice
apontou o queixo para a tela que mostrava a cozinha.
Falou discretamente um palavrão. Um dos invasores
acabara de entrar na cozinha.
CAPÍTULO SETE
– Gatinha, gatinha, gatinha – chamou uma voz
masculina, como se ela fosse uma gata. Ele começou a
puxar as portas dos armários no outro lado da cozinha.
O corpo inteiro de Ellie tremeu e sua mão agarrou a
faca com força, fazendo o cabo afundar em sua palma.
Ela fechou os olhos e ouviu alguém bater em coisas. De
repente, algo bateu no balcão acima dela. Ela conteve um
gemido de pavor. Talvez ele não pense em olhar dentro
dos armários de baixo, rezou ela fervorosamente.
Sua sorte acabou quando a porta do armário se
escancarou. Ele pôs a mão dentro e agarrou o braço
esquerdo dela. Uma pegada brutal a arrastou para fora do
esconderijo com um forte puxão.
– Peguei você, sua gatinha vadia.
– Não sou uma gata. – informou ela, com uma voz
trêmula – Sou tão humana quanto você.
Ele lhe deu um puxão dolorido para colocá-la em pé e
fixou os olhos nela. Ele parecia ter vinte e poucos anos,
tinha mais de um metro e setenta, de um porte grande. A
gola de sua camiseta revelava parte de uma tatuagem.
– Não me importa o que você é, vadia. Agora você vai
morrer. Esse país é nosso e vocês, merdas de animais de
duas pernas, têm que morrer. – ele pôs a mão na parte
de trás do jeans e sacou uma pistola.
Ellie viu a arma e compreendeu que ele planejava atirar
nela. O terror percorreu seu corpo ao mergulhar a faca
no peito dele. Ela fitou seus olhos quando a lâmina o
acertou, atravessou a camiseta e a pele, e observou seus
olhos verdes se arregalarem em choque. Ele cambaleou,
arrastou-a pelo braço, e ela largou o cabo da faca enfiada
fundo no peito dele. Sangue escorreu por ele e nela. A
mão que segurava a arma se levantou em sua última
tentativa de atirar. Ellie agarrou seu pulso com as duas
mãos e lutou para não deixá-lo apontar a arma para ela.
A pegada dele em seu braço ficou mais forte,
causando dor, mas foi se soltando conforme ele
enfraquecia. Suas pernas amoleceram e ele desmoronou
no chão de ladrilho da cozinha. Um gemido terrível saiu
de sua boca, junto de sangue vermelho e reluzente. Ellie
gemeu numa angústia horrível quando o olhar do homem
se fixou no dela, com sua dor, seu pavor e sua raiva
claramente expostos. Ele soltou o braço dela, e também a
arma, que se estatelou no chão um segundo antes de ele
cair para trás.
Ellie o fitou em silêncio. Ele estava esparramado com
as costas no chão e as panturrilhas torcidas sob as
coxas, em uma estranha posição curvada. Seus olhos
estavam bem abertos, uma poça de sangue se fazia no
ladrilho e ele arfou mais algumas vezes. Um barulho leve
de algo borbulhando chegou aos ouvidos dela. As mãos
dele estremeceram, espasmaram e ele piscou antes de
dar o último suspiro. O cabo da faca se sobressaía no
peito, perto do coração, onde ela o esfaqueara. Ela
engoliu a bílis que subiu ao mesmo tempo em que um
vidro se quebrou ali perto. O som viera de outro
cômodo, tirando sua atenção do homem morto a seus
pés.
O instinto assumiu o controle. Ela mergulhou para
pegar a arma no chão. Agarrou com as duas mãos a
pistola gelada e pesada e se ajoelhou atrás da ilha,
espiando por cima do balcão para ver as únicas entradas
da cozinha. A arcada aberta para uma das salas e a que
levava à área de jantar eram suas únicas rotas de fuga.
Ela usou a ilha para proteger o corpo e apontou a arma
para o espaço entre essas duas aberturas. Pretendia atirar
em qualquer coisa que se movesse.
Ela não precisou esperar muito até ouvir um barulho
vindo da área de jantar, de uma cadeira sendo derrubada.
Apontou a arma naquela direção, certificou-se de que seu
corpo permanecia atrás da ilha, e usou a parte de cima
do balcão para manter as mãos firmes enquanto
segurava a arma. Ela tremia, assustada, e acabara de
esfaquear um homem até a morte. Afastou tais
pensamentos, sabendo que perderia o controle se ficasse
se preocupando com aquilo. Não tinha tempo para
encarar as repercussões do que tivera que fazer para
sobreviver.
O cara com a pistola adentrou a cozinha, passeando
como se não tivesse preocupação alguma, o que mudou
instantaneamente ao vê-la com a arma apontada. Ele
abriu a boca, arregalou os olhos e, então, reagiu. Ele
parecia se mover em câmera lenta, quando começou a
baixar o cano da arma em direção a ela. Sua boca se
comprimiu em uma linha de determinação para atirar,
mas Ellie apertou o gatilho antes. O som a ensurdeceu
quando a arma disparou.
Ele se jogou de volta na sala de jantar e desapareceu
de vista. A pistola apareceu do outro lado da parede e ele
atirou, mas acabou acertando o teto em algum lugar
atrás de Ellie. Algo suave e que lembrava neve choveu
em sua cabeça. Como reação, ela gritou e atirou na
parede atrás da qual ele se escondia, perto do arco.
Ela não tinha certeza de que acertara o cretino, mas
esperava que sim. Ela percebeu que não devia tê-lo
ferido quando o cabo da pistola apareceu de novo. Ele
apontou para ela sem ver ao puxar o gatilho. O armário
perto de Ellie explodiu em pedaços. Ela se jogou no chão,
quase em cima do homem morto.
Escorregou no sangue espesso e molhado quando
tentou se levantar do chão. Seus joelhos escorregaram
na substância escorregadia, ela arfou, e suas mãos
saíram debaixo dela. Ela caiu de barriga para baixo e
grunhiu. Precisou rolar para ficar longe do sangue que
manchava o chão.
Viu movimento pelo canto dos olhos e se virou em
direção a ele. O homem com a pistola se apressou e
correu em direção à ilha. Ela apontou a arma e atirou,
deitada de lado. Ele se abaixou atrás do outro lado do
balcão e bateu nos armários, provocando um estalo alto
quando a madeira fina recebeu o impacto de seu corpo.
– Largue a arma, sua vadia – ele exigiu – E então não
vou torturá-la antes de explodir sua cabeça.
O olhar aterrorizado de Ellie se fixou no armário que
ele acertara com o último tiro, prova de sua força
destrutiva. A madeira tinha um buraco do tamanho de
um punho e partes dela explodiram com o impacto e se
espalharam pelo chão de ladrilho. Ela respirou fundo,
percebeu que tinha que sair dali e encontrar outro lugar
para se esconder. O que ela realmente precisava era que
o filho da puta com a pistola atirasse em si mesmo.
– Ellie? Estamos ouvindo tiros pelos alto-falantes.
Você está bem?
Merda. Ela esquecera de desligar o sistema de
comunicação. A voz de Breeze parecia preocupada, mas
Ellie não podia responder. Saber que Breeze e as outras
mulheres estavam seguramente trancadas dois andares
acima a confortava. Apenas o chefe da segurança e o
diretor sabiam os códigos para abrir aquelas portas de
aço quando elas fossem ativadas. Nem mesmo Ellie tinha
o acesso quando as portas de Hail Mary eram acionadas.
O homem podia torturá-la, mas ela não tinha a
informação de que precisavam para chegar às mulheres.
– Ellie? – ele riu entredentes atrás da ilha, entregando
sua localização – Que tipo de nome idiota para se colocar
numa animal?
Ellie abriu a porta do armário de leve. Ele devia estar
bem atrás dela, no outro lado. Ela espiou dentro e mirou.
– Vou matá-la lentamente pelo que você fez com o
Eddie.
Ellie puxou o gatilho e atirou naquela direção até a
arma não disparar mais, vazia depois das poucas balas
que arrebentaram a madeira. Ela se virou, caso ele
atirasse de volta, e rastejou para a esquerda. A arma não
serviria para nada, a não ser como algo para arremessar
na direção dele.
O silêncio se fazia enquanto ela esticava os ouvidos
para escutar alguma coisa. Ela hesitou no canto para
espiar em volta da ilha, seu coração martelando. Um
gemido veio do outro lado do móvel.
Ela o acertara? Não podia ter tido tanta sorte assim.
Ela rastejou para a frente, apoiada nas mãos e nos
joelhos. O sangue pegajoso do homem morto cobriu
suas mãos, deixando os movimentos escorregadios. Ela
se mexeu alguns centímetros para a frente, apavorada,
mas sabia que ainda havia dois outros homens que
apareceriam a qualquer momento, atraídos pelo barulho
dos tiros. Se ela continuasse ali, eles com certeza a
matariam.
O homem da pistola a estava enganando, talvez
fingindo que estava ferido para que ela esticasse a cabeça
para ver e ele atirasse. Ela ficou com um mau
pressentimento até ver sangue escorrendo pelo chão, ao
longo da linha de rejunte.
Ellie segurou a respiração e arriscou esticar a cabeça e
dar uma olhada no outro lado da ilha. O corpo dele
estava encostado nela, sentado. A pistola repousava no
chão, próxima às suas pernas, e ele olhava para a frente,
na direção da sala de jantar. Ele piscou. Sangue cobriu
seu peito e correu por seu braço esquerdo, revelando que
ela o acertara ao menos uma vez. Ela continuou a
observá-lo.
– Buck? – uma voz masculina chamou da sala –
Eddie?
Ela se levantou com um salto e correu para a sala de
jantar. Se Buck fosse o cara da pistola, ela rezou para
que ele não tivesse tempo ou condições, com seus
ferimentos, para pegar a arma e atirar nela enquanto ela
saía correndo. Conseguiu sair da cozinha sem levar um
tiro nas costas.
O lugar mais seguro seria a biblioteca. Se ela
conseguisse chegar lá sem ser pega, teria uma chance
para criar uma barricada lá dentro. Mobília pesada
preenchia a grande sala. Ela poderia arrastá-la para
bloquear a porta dupla. Com tal novo plano em mente,
ela correu como louca para colocá-lo em prática. Um
homem exclamou um palavrão, enquanto ela saía em
disparada por uma porta aberta em direção a um dos
cômodos. Ela sabia que ele a havia visto e correu mais
rápido. Todos os outros cômodos do andar de baixo
estavam abertos ou tinham formas limitadas para serem
isolados.
Ellie alcançou a biblioteca e bateu a porta. Inclinou-se
contra a madeira e ouviu o homem seguindo-a logo
atrás; ela não teria tempo de pegar a mobília. Ela arfou,
totalmente sem fôlego e fez uma careta ao ver que suas
mãos, seus braços e sua camisa estavam cobertos de
sangue.
– Por aqui – berrou um homem – Ela está aqui dentro.
– Buck e Eddie estão mortos – um deles gritou – Ela
os matou. Aquela vadia animal matou os dois.
Um dos homens tentou abrir a porta. Ellie gritou e a
empurrou com toda a força que tinha. Ouviu um
xingamento selvagem e daí alguém bateu com tanta
força, que o impacto a jogou alguns centímetros longe
da superfície que ela pressionava fortemente com as
costas. Ela procurou freneticamente por algo que
pudesse alcançar com os pés e arrastá-lo para ajudar a
bloquear a porta, contudo não teve tal sorte.
Preciso de uma arma. A grande sala tinha alguns
sofás, algumas mesas e cadeiras confortáveis. A lareira
ficava do outro lado do cômodo. Livros preenchiam
todas as prateleiras. Sua atenção desesperada voou de
volta até a lareira e à ferramenta repousada próximo a
ela. Seu foco se fixou no atiçador.
Os dois homens jogaram o peso do corpo contra a
porta. A força foi grande o bastante para fazer Ellie voar.
Ela bateu em um dos sofás, escorregou pela lateral dele e
caiu no chão atrás. Agarrou-se agitadamente no carpete
para se apoiar e se colocar novamente em pé.
– Pegue aquela vagabunda – berrou um dos homens.
Ellie agarrou o atiçador de fogo e se virou para encarar
os agressores. Golpeou o homem que estava mais perto,
usando a barra de metal como se fosse um taco de
baseball. A dor se lançou pela mão de Ellie com o
impacto agudo do contato com o corpo do homem. Ele
gritou de dor e saltou para trás, e fitou a camisa rasgada,
de onde o sangue saía e a sujava.
O homem olhou para Ellie.
– Você vai pagar por isso – ele chiou.
O outro homem desembainhou da cintura uma faca de
caça, enquanto os dois iam para lados diferentes. Ellie
ficou de costas para a lareira e agitou o atiçador entre
eles, tentando mantê-los longe. Eles se afastaram mais
um pouco um do outro para que ficasse mais difícil para
Ellie manter os olhos nos dois. Eles partiram para cima.
Ela girou. Ellie conseguiu atingir um deles segundos
antes de o outro derrubá-la. Ela caiu e bateu forte no
chão, e um grande peso a esmagava. Ela arfou, tentou
gritar, mas não conseguia sequer tomar fôlego.
– Sua vagabunda – rugiu o que a atingiu – Acho que
ela quebrou a merda da minha mão. Você a pegou, Roy?
O homem em cima dela a pegou pelo cabelo na base
do pescoço e bateu seu rosto contra o carpete. Ela
tentava lutar, mas não conseguia escapar. Ele a
empurrava com mais força contra o carpete e um joelho
se afundou dolorosamente na parte de trás de sua perna.
– Peguei a vadia raivosa, Chuck.
Ele se ajustou para que ela virasse a cabeça. Ellie
tomou fôlego e instantaneamente se arrependeu; o
homem tinha um bafo pútrido. Ele a manteve presa no
chão e segurava sua cabeça pelos cabelos. Ela não
conseguiria sair de baixo daquele homem pesado, ele
devia pesar em torno de cento e trinta quilos.
– Deixe-me retalhar essa vadia – resmungou Chuck –
Acho que ela quebrou mesmo minha mão, está doendo
pra caramba.
Roy grunhiu. Ele se moveu e Ellie gritou de dor
quando seu corpo pressionou o dela em cheio,
empurrando mais e mais, até suas costelas ameaçarem
quebrar. Algo a cutucou em uma nádega. O outro
homem arrancou o atiçador de fogo da mão dela.
– Me ajude a levantá-la – disse Roy rispidamente – Sei
como mostrar a essa vagabunda seu lugar na sociedade,
e depois deixo você cortar a merda da garganta dela
como se ela fosse um coelho. Vamos ficar observando-a
se contrair até o sangue todo escorrer.
Ellie só conseguia dar alguns espasmos e se contorcer
quando tentava lutar. O objeto pressionado contra sua
bunda não era mais um mistério. Roy estava com tesão.
Ela teve ideias horríveis do que ele planejava fazer com
ela para mostrar qual seria seu lugar em seu conceito
bagunçado de sociedade. Ovelhas, coelhos… Para ela,
qualquer coisa que respirasse devia atiçar aquele cretino.
Mãos agarraram seus calcanhares e logo depois Roy
tirou o peso de cima dela, soltou seu cabelo e pegou seu
outro pulso. Eles a seguraram pelos braços e pernas,
carregando-a entre eles, deixando-a com as costas a
centímetros do chão. Ellie gritava e lutava, tentava
chutar o homem que segurava suas pernas, mas eles não
a soltavam. Chuck parecia não ter problemas em segurar
seus calcanhares com uma pegada tão forte, forte
demais para um homem com uma mão supostamente
quebrada.
– Jogue-a no sofá. Depois vá para o outro lado e
agarre o cabelo dela. – Roy arfava, sem fôlego por tê-la
segurado enquanto ela lutava.
Eles balançaram o corpo de Ellie e ela bateu em uma
mesinha de café. Uma dor aguda explodiu na lateral de
seu corpo. Ela se perguntou se eles haviam quebrado
uma costela sua quando sentiu dor ao tomar fôlego. Os
homens a balançaram de novo e, daquela vez, ela atingiu
o sofá, e eles torceram seu corpo com mãos brutas. Roy
segurava seus braços e Chuck soltou suas pernas.
Ela tentou chutar Roy quando eles a inclinaram sobre
a parte de trás do sofá. Roy jogou seu corpo em cima
dela, esmagando-a debaixo dele, e a prendeu firme no
sofá. Ela gritou nas almofadas quando mãos pegaram
seus cabelos e pressionaram seu rosto mais fundo no
material. Pânico absoluto se espalhou por ela ao perceber
que não conseguia respirar. Eles a estavam sufocando.
– Me passa a faca. – Roy parecia excitado e sem
fôlego.
Uma das mãos soltou o cabelo de Ellie. Ela virou o
rosto, tomou ar para seus pulmões vazios e gritou ao
exalar. Roy agarrou a parte de trás da camisa dela, e a
faca deslizou por sua coluna. Paralisada de terror, ela não
sabia se ele a havia cortado também. Tentou chutá-lo,
mas não conseguia usar força nenhuma em seus
movimentos.
Sem ver, ela esticou as mãos, tentando agarrar Chuck.
Uma mão bruta pegou novamente em seus cabelos, mas
ela apanhou seu braço. Ela cravou as unhas na pele dele,
enquanto ele empurrava seu rosto de volta nas
almofadas, tentando sufocá-la de novo. Ela ouviu seu
xingamento selvagem e tomou bastante fôlego quando
ele soltou a mão dela para interromper a dor que ela lhe
aplicava.
Suas calças foram puxadas para baixo, não deixando
dúvidas de que eles planejavam estuprá-la. Ellie lutou
mais, gritou, e de repente o peso foi arrancado de cima
dela. Ela jogou o corpo para longe do sofá no momento
em que o corpo de Roy se moveu. Ela tropeçou e caiu
sentada no chão. Respirou o ar precioso enquanto olhava
boquiaberta para os homens à sua volta. Ela
instintivamente puxou as calças de volta para cima.
Roy estava deitado no chão, de barriga para baixo,
com uma arma apontada para sua nuca. Chuck estava
com as mãos para cima e parecia completamente
apavorado. Quatro homens vestindo roupas pretas
parecidas com as da SWAT e com a sigla ONE em branco
olhavam para ela. Seus rostos não eram totalmente
humanos e ela imediatamente soube que eram as Novas
Espécies. Eles portavam armas e facas grandes presas às
coxas. Ela ouviu um movimento vindo de trás e virou a
cabeça na direção do barulho. Fury estava ali, eriçado de
uma raiva muito mais negra que a roupa que ele e os
outros homens vestiam.
Algo feio se torcia dentro de Fury. Ele fizera seus
homens irem até o alojamento feminino, assim que
Justice ligou para a equipe e declarou que Ellie estava em
perigo.
Ele ficara apavorado com a ideia de que pudesse
chegar tarde demais, o que quase acontecera. Ao correr
para o cômodo e ver aquela cena diante dele, com
aqueles homens prontos para fazer coisas horríveis à sua
Ellie, um impulso assassino o atingiu. Fez um enorme
esforço para não rugir de cólera e matá-los. Seu animal
queria vê-los sangrar e morrer.
Ele lançou um olhar na direção das câmeras, cujas
presenças ajudavam-no a se conter. Ele sabia que, se elas
não estivessem ali, ele teria matado os humanos sem
nem mesmo pensar por ousarem tocar em sua Ellie.
Mesmo ali ele estava tentado, que se danem as
consequências. Eles haviam ido atrás de sua mulher e
feito mal a ela.
Ele deu um passo ameaçador na direção de um dos
homens, mas Ellie deu um gemido suave. O olhar dele se
virou para ela no mesmo momento, o que o forçou a
repensar sua decisão. Zelar por ela se tornara sua
principal prioridade. Ele podia matar aqueles cretinos
depois de assegurar-se de que ela não estava gravemente
ferida.
Ele respirou algumas vezes pela boca para ajudar a
diluir o cheiro de pavor que ela exalava e lutou para
deixar seu animal sob controle. Deu uma olhada para
cada um de seus homens, reconheceu também a raiva
deles e entendeu que esperavam que ele os guiasse e
mostrasse como lidar com aquela situação. Aquilo
também o ajudou a se acalmar, forçando-o a relaxar os
punhos. Com a mão, fez um sinal para que seus homens
prendessem os cretinos responsáveis pelo ataque. Ele
não estava confiando na própria voz.
Com muita dificuldade, Fury tentava parecer calmo,
algo que definitivamente não estava, ao se aproximar de
Ellie. Ele queria se soltar no chão, pegá-la no colo e
confortá-la. Ficara aliviado por chegar a ela a tempo,
mas os cheiros dos homens haviam se misturado com o
dela.
Senti-los nela o enfureceu. Ela era dele e ele lutara
para ficar longe dela depois do aviso de Justice. Ele
ficara, a não ser por algumas saídas noturnas para vê-la
de longe, e ali ela quase morrera. As ordens que se
danassem, ele iria tocá-la. Ele se mexeu com cuidado
para não assustá-la. Precisava ter certeza de que ela
estava bem, mesmo que precisasse despi-la e inspecionar
cada milímetro de seu corpo. Ele não deixaria por
menos.
Fury sabia que devia manter a cabeça fria. Ellie devia
ter ficado desconfiada dele depois do incidente em sua
casa, e ele não queria demonstrar o quanto ela era
importante para ele. A última coisa de que precisava era
que Ellie compreendesse o quanto ela podia machucá-lo.
Fique calmo, ele ordenou a si mesmo. Aja como se
pudesse manter o controle na presença dela. Ele esperava
que conseguisse, mesmo. Ela estaria a salvo e ele ficaria
com ela, já que estava traumatizada. Preocupar-se sobre
jogá-la por cima do ombro, carregá-la de volta à sua
casa e amarrá-la em sua cama de novo não era algo de
que ela precisasse naquele momento, não importava o
quanto ele quisesse fazê-lo. Ele a manteria segura mesmo
que significasse ficar de guarda 24 horas por dia. Sabia
que não podia fazer aquilo, mas seu animal se acalmava
em pelo menos considerar a possibilidade.
Ele precisava estar com ela, falar com ela, ficar bem
perto até que não tivesse dúvidas de que ela estava bem;
caso contrário, romperia o limite da insanidade sabendo
como ela esteve perto da morte e que ele poderia tê-la
perdido para sempre.
Ellie fitou o olhar intenso e negro de Fury, quando ele
se agachou na frente dela. Ele hesitou um segundo antes
de seu dedo se curvar sob o queixo dela. Ele vestia luvas
pretas, que ela soube serem de couro pela textura, e
tocou-a delicadamente enquanto a examinava. Ele virou a
cabeça dela para estudar seu pescoço e rosto e soltou o
queixo dela. Sem nenhum aviso ou nenhuma palavra,
agarrou os braços dela abaixo dos cotovelos e
gentilmente a levantou.
Ela percebeu que a parte de trás de sua camisa estava
partida e expunha sua pele.
O aperto das mãos de Fury se intensificou quando ela
quase caiu, com as pernas bambas. Um rugido leve saiu
do fundo da garganta dele e mais uma vez a raiva
deformou seu rosto. Ellie ficou com medo, se
perguntando por que ele faria aquele barulho assustador
para ela. As mãos dele relaxaram e, em um segundo, ele
se abaixou e agarrou a parte de trás de suas pernas e as
costas. Carregou-a no colo, segurando-a firme contra
seu peito. Ele não olhava para ela.
– Vou limpá-la e ver se está ferida. Fiquem firmes com
eles lá fora. – Fury rosnava as palavras – Ninguém entra
no alojamento.
Um homem com um ar feroz e longos cabelos negros
fez que sim com a cabeça.
– Entendido.
Fury começou a andar com passos largos. Ellie
hesitou por um momento antes de passar o braço em
volta do pescoço dele. Ela estava cansada, sentia dores e
traumatizada demais para se importar com aonde ele a
levava. Descansou o rosto no ombro dele e fechou os
olhos. Por alguma razão, ele e seus homens foram salvá-
la de uma morte horrível nas mãos de dois agressores.
Mais alguns minutos e… Ela tremeu de medo ao pensar
no que teria acontecido. Afundou-se mais em Fury e não
deixou de notar quando o corpo dele ficou tenso. Ele, no
entanto, continuou andando.
Ellie abriu os olhos quando ele parou e chutou algo.
Ele empurrou a porta e a carregou para dentro do
banheiro feminino. Ele franziu as sobrancelhas, olhou em
volta, e se dirigiu ao longo balcão de pias. Ele a desceu
gentilmente e ela se posicionou na beirada, encarando-o.
Ela precisou soltá-lo quando ele se afastou lentamente.
Fury se virou e olhou em volta do cômodo. Ela seguia
seu olhar e notou que ele olhava para os cantos, e
imediatamente entendeu o que ele procurava.
– Não há câmeras aqui – Ellie informou-o
delicadamente – A segurança queria instalá-las, mas fui
contra por causa da privacidade das mulheres.
Fury balançou a cabeça e se atentou à pia ao lado dela.
Tirou as luvas e as jogou no balcão. Abanou as mãos
abaixo da torneira, ativando-a. Quando a água começou a
correr, ele lavou as mãos e se dirigiu a um porta-papel
toalha. Ellie o observou com as sobrancelhas arqueadas
enquanto ele puxava montes de papel e os empilhava ao
lado dela no balcão. Ele o esvaziou completamente e foi
até o outro.
– Acho que é o bastante.
Fury franziu a testa. Colocou o resto dos papéis na
pilha e andou até ela de um jeito gracioso, parecendo um
gato prestes a saltar.
– Agora tire a roupa.
Um arquejo rasgou os lábios de Ellie e ela precisou
fechar a boca que se abrira com o choque ao ouvir a
exigência dele.
– Não.
Ele rosnou levemente para ela.
– Você está coberta com o cheiro e o sangue deles,
não consigo dizer o que é seu e o que é deles. Vou lavá-la
e encontrar seus ferimentos. Se você não consegue tirar
a roupa, deixe comigo.
Ellie relaxou, entendendo por que ele estava fazendo
exigências malucas.
– Você quer me limpar e tratar dos meus ferimentos?
Só isso?
Os olhos dele se estreitaram.
– Prefere que eu mande um dos meus homens vir aqui
para despi-la? Sua segurança ainda está tentando manter
a ordem. – ele bufou – Já devemos estar aqui há um
tempo. Um de nós vai remover suas roupas e limpá-la
para ver se você está ferida e o quanto. Decida agora se
quem fará será eu ou um de meus homens. Não quero
desperdiçar meu tempo e é o que você está fazendo.
Ellie cerrou os dentes. Às vezes, ele realmente
conseguia ser um babaca grosseiro. Ela acabara de
passar pelo pior trauma de sua vida; ele não precisava
ser tão bruto.
– Acho que eu mesma consigo.
– Eu a segurei para não cair. Você não consegue nem
andar.
– Acabei de matar dois homens, podia ter sido
brutalmente estuprada e eles iam me matar. Mil perdões
se minhas pernas estão meio bambas.
Ele se aproximou dela.
– Você matou dois? Eu não vasculhei o lugar, já que a
ouvi lutando e sabia onde a encontrar. Apenas corri para
onde você estava.
– Eles não tropeçaram e se mataram. – ela tremia. A
ficha do que fizera para sobreviver caiu. O sangue
escoou de seu rosto e uma onda de tontura a fez
balançar.
– Eu os matei. Matei mesmo os dois.
Fury rosnou um pequeno xingamento.
– Foi autodefesa. Não fique assim, querida. Você não
tinha escolha e eles estavam indo para cima. Você fez um
favor ao mundo em tirá-los daqui. Eles a teriam matado
sem pensar duas vezes. – ele encurtou a distância até
ficarem a apenas alguns centímetros um do outro.
Agarrou a parte da frente da camisa dela e a puxou até
tirá-la do corpo, o que foi fácil, já que a parte de trás
estava partida – Entende? Eles não valem esse assombro
nos seus olhos. Brigue comigo, converse comigo, mas
pense em qualquer outra coisa. Não fique mal, porque
não aguento ver suas lágrimas. Em vez disso, me xingue
e fique brava.
Ela segurou as lágrimas. Ele estava sendo gentil, e
aquilo só servia para levar suas emoções para ainda mais
perto da superfície. Ele tinha os olhos mais bonitos do
mundo. O desejo de se jogar nos braços dele e se
prender a ele se tornou quase irresistível. Antes que ela
pudesse fazê-lo, ele desviou os olhos dos dela.
– Agora preciso limpá-la. Realmente não aguento o
fedor deles em você. É uma coisa das Novas Espécies,
que me faz ter que controlar minha raiva. – ele pausou,
olhando para ela – Tenho a impressão de que é um efeito
colateral do que fizeram comigo, e às vezes preciso
combater essas necessidades. É pior do que quando fico
bravo, agitado ou com medo. Se esse cheiro horrível não
sair de você logo, serei obrigado a ir até lá e arrancar as
cabeças deles.
– Ok. – ela fez que sim com a cabeça – Por mais que
eu também não me opusesse a alguém fazer isso com
aqueles imbecis, não quero que seja você. Você arranjaria
problemas.
Ellie notou que seu sutiã fora cortado junto com a
parte de trás da camisa, e tentou segurar e cobrir seus
seios nus. Antes que ela pudesse escondê-los, Fury
pegou seus pulsos e puxou seus braços. Ele não olhou
para o peito dela, apenas examinou suas mãos
ensanguentadas.
– Não se toque com o sangue deles. Desça e fique de
frente para a pia. Vou limpá-la.
O tom de voz macio e rouco de Fury a fez relaxar e
não brigar com ele, quando seus olhares se encontraram
novamente. Ela se chegou mais à beirada do balcão, não
querendo brigar com ele. Ele tentou distraí-la da dor da
realidade, e ela percebeu que aquilo era quase doce. Ela
também não tinha deixado passar o fato de que ele fora
afetuoso ao chamá-la de “querida”. Aquilo a fez sentir-se
um pouco melhor do choque que sofrera.
Seus pés tocaram o chão e suas pernas oscilaram.
Fury a virou, ficou pairando em suas costas e soltou os
braços dela. Pôs os braços em volta da cintura dela e
balançou as mãos sob a torneira, ativando-a novamente.
Pegou seus pulsos delicadamente e os enfiou debaixo da
água fria. Ellie olhou para baixo e viu a água se colorir
com o sangue que era lavado de seus pulsos e suas
mãos. Ela fechou os olhos com força para suportar a
sensação ruim que a atingiu ao ver a água ficando
vermelha.
– Por que diabos não há chuveiros aqui? – Fury
rosnou.
– Temos nossos próprios banheiros com chuveiro nos
apartamentos. Ninguém nunca achou que o alojamento
pudesse ser invadido.
Ele suspirou.
– Bem, agora você precisa de um e tudo que temos
são essas pias.
Ellie continuou com os olhos fechados, grata por ele
mantê-la distraída fazendo perguntas. Fury se inclinou
contra suas costas nuas, suas roupas a arranharam um
pouco, e seus braços roçaram a lateral de suas costelas
enquanto ele esfregava o sangue de sua pele. Ordenou
que ela se curvasse para a frente e ela não hesitou. Ele
continuou limpando-a, espalhando água ao longo de seus
braços, até os ombros. A água pingava pelo seu corpo e
molhou suas calças. Não havia o que fazer em relação
àquilo, e também não havia importância, pois suas
roupas já estavam encharcadas de sangue.
– Tire os sapatos. – a voz dele cochichou próxima à
orelha dela.
Ellie obedeceu, tirando com auxílio dos próprios pés
os sapatos iate que já haviam sido brancos, mas que
agora estavam manchados de sangue. Ela escorregara
em sangue na cozinha, engatinhando sobre ele, e sabia
que os sapatos estavam destruídos. Ela empurrou tais
pensamentos para longe. As mãos de Fury se moveram
alguns centímetros por sua calça de algodão, mas
hesitaram.
– Só estou limpando você. Aguente mais um pouco.
Você está segura e ninguém vai machucá-la, Ellie, eu não
vou permitir. Teriam que passar por cima de mim para
alcançá-la, e isso não aconteceria.
Ela acreditou nele.
– Ok.
Ela manteve os olhos fechados para não ver se Fury
fitava seu corpo. As mãos dele foram delicadas quando
ele terminou de tirar sua calça e enganchou os dedões
em sua calcinha para removê-la também. Ela levantou
uma perna e depois a outra, para ajudá-lo quando
percebeu que ele queria tirá-las totalmente até que ela
ficasse nua. Fury ligou novamente a torneira e, com as
mãos em forma de concha, jogou água pelo corpo dela.
Quando todo seu corpo, do pescoço aos pés, pingava,
ele usou toalhas de papel úmidas para esfregar
suavemente sua pele, e ela permanecia imóvel de um jeito
nada natural.
– É o melhor que posso fazer – disse Fury com uma
voz profunda e firme – Vai precisar de um banho, mas
não vejo mais sangue. Você conseguiu que ele não
pegasse em seu cabelo, pelo que posso ver e sentir.
Ellie finalmente abriu os olhos quando ele não
encostava mais nela. Seu olhar imediatamente encontrou
a imagem dele refletida no espelho, e ela abriu a boca em
choque. Fury estava de costas para ela enquanto tirava o
colete e desabotoava a camisa para descobrir seus largos
ombros.
– O que está fazendo? – sua voz pareceu surpresa, o
que ela detestou.
– Você precisa vestir algo seco e limpo. Pensei em lhe
dar minha camisa e minha cueca. – ele olhou por cima
do ombro e encontrou o olhar dela no espelho – Quer
sair do banheiro pelada? – os olhos negros se estreitaram
– Não vou deixar, então nem pense nisso. Se você
tivesse me falado para mandar outro homem ajudá-la a
se despir, isso também não teria acontecido.
Ela balançou a cabeça e cruzou os braços sobre os
seios para escondê-los da vista dele.
– Por favor, me empreste a camisa e a cueca. Eu
agradeço.
Ele virou a cabeça.
– Não precisa me ver tirando a roupa.
Ellie percebeu que o fitava enquanto ele desabotoava a
camisa e a tirava, revelando costas bronzeadas e
musculosas. Ela fechou os olhos e os apertou. Era sua
única escolha, já que estava de frente para um espelho e
virar-se apenas faria com que ela o visse em carne e
osso. Ela o ouviu se despir e parecia que ele não
terminaria nunca, até que ele falou.
– Pronto. Pode olhar.
Ellie abriu os olhos e encontrou Fury mais perto dela,
quase tocando suas costas. Ele virou o rosto e segurou a
camisa e a cueca boxer azul por cima do ombro, na
direção dela. Ellie se virou e esticou os braços para pegá-
los. De novo ele notou como era mais alto que ela.
– Obrigada.
– Eu devia uma. – ele rosnou as palavras.
A raiva explodiu com aquela provocação sobre a
relação tensa dos dois. Ela cerrou os dentes para evitar
soltar uma resposta rude. Não precisava ser lembrada
daquilo naquele momento. Em vez daquilo, se vestiu
rapidamente. A cueca boxer era de algodão macio, ainda
quente do corpo dele, e ficou folgada em seu quadril.
Agora tenho uma cueca. O pensamento a fez dar um
sorrisinho enquanto vestia a camisa. Tinha o cheiro dele,
carregava o calor dele, e ela estava feliz em estar coberta
de novo.
– Pode se virar agora. – ela terminou de abotoar a
camisa emprestada.
Ele a encarou lentamente. Ele estava sexy vestindo
apenas o colete e as calças que contornavam suas
formas. Seus braços estavam totalmente expostos,
músculos grandes e grossos eram ostentados pelo colete
apertado, que parecia pequeno demais para seu porte
impressionante. Ela tirou os olhos daqueles bíceps e
começou a enrolar as mangas da camisa para que não
cobrissem suas mãos. Fury deu um passo à frente para
ajudá-la, afastando seus dedos para se encarregar da
tarefa. Ela fitou seu colete, no qual a sigla ONE fora
estampada com letras grandes.
– Não sabia que vocês tinham a própria equipe de
segurança.
Ele respirou fundo.
– É, bem, não podemos confiar nos humanos para
nos protegerem totalmente. Temos treinado em segredo
e ninguém do seu povo sabia, até agora. Veja que
trabalho incompetente eles fizeram hoje. A Mercile nos
deu força, reflexos e a capacidade de aguentar um
espancamento e continuar lutando abaixo da resistência
normal. Os que têm qualquer habilidade ensinam os
outros. Aprendemos rápido.
– Por que fazem isso em segredo? Homeland é de
vocês, podem fazer o que quiserem.
– Diga isso ao seu povo. – ele hesitou – Eles negaram
nossas solicitações quando pedimos um espaço para
treinar ou para que seus instrutores treinassem as
habilidades de lutas de nossos homens. Agora fazemos
isso sozinhos no alojamento masculino, longe das vistas
deles. Tiramos todas as câmeras lá de dentro.
Arrancamos quando a segurança se recusou a obedecer.
Ela franziu a testa.
– Mike não o dedura para o diretor?
– O que cuida do alojamento? – Fury chacoalhou a
cabeça – Ele bebe um álcool fedorento toda noite. Depois
das nove, uma bomba pode explodir em seu apartamento
e ele não vai se mexer. Ele não tem ideia do que fazemos
à noite.
– Sinto muito por terem que fazer isso. – ela não sabia
o que mais poderia dizer – Se suas mulheres quiserem
treinar aqui, não vou dedurá-las. Elas não vão precisar se
esconder de mim.
Ele balançou os ombros.
– Trabalhamos apesar dos obstáculos que eles
colocam em nosso caminho, mas obrigado pela oferta às
mulheres. Passarei isso à frente. De um jeito ou de
outro, vamos nos tornar autossuficientes.
– Sei que vão.
Ele levantou a mão, mas congelou-a no ar, seus dedos
a milímetros do rosto dela.
Ellie não resistiu e se aproximou ainda mais, até que as
pontas dos dedos dele roçassem em sua bochecha.
Dedos se curvaram ao longo de sua face, deslizaram por
seu cabelo, e ela pressionou o rosto contra a palma da
mão dele. O toque dele a acalmou. Ela não diria em voz
alta, mas estava feliz em vê-lo de novo, mesmo sob
circunstâncias terríveis.
Ellie elevou o olhar até o dele.
– Obrigada por me salvar.
Os olhos negros dele eram lindos, e alguma emoção
desconhecida cintilou neles por um segundo.
– Já disse que não quero mais que você morra. – ele
acariciou o rosto dela – Fiquei preocupado com você.
Ela hesitou.
– Algumas de suas mulheres me contaram que já o
viram do lado de fora observando o alojamento. Por que
você faz isso?
A face dele ruborizou como se estivesse
envergonhado, mas em seguida suas feições se tornaram
inexpressivas. Suas mãos se soltaram dela e caíram ao
lado de seu corpo.
– Gosto de saber onde meus inimigos estão. Venha –
ele rosnou – O sangue não era seu. Você tem alguns
ferimentos e arranhões, mas ficará bem. Tenho um
trabalho a fazer. Preciso ver o que está acontecendo.
Foi como se ele a tivesse golpeado com suas palavras
repentinamente ásperas, deixando-a ciente de que não
eram sequer amigos. Ela afastou o olhar dele.
– Vou calçar os sapatos.
– Não. Eles estão sujos de sangue e eu acabei de lavá-
la. Não posso fazer isso de novo. Não sou tão forte
assim – ele murmurou.
O que isso quer dizer? Ellie não tinha certeza ao andar
em direção à porta do banheiro. Fury ficou ao seu lado,
mas não tocou nela enquanto cruzavam o cômodo e ele
vestia as luvas novamente. Ele abriu a porta do banheiro
para ela e depois saiu andando, deixando que ela o
seguisse. Ela olhou para a parte de trás de sua cabeça,
tentando imaginar o que ele pensava. Ele havia sido gentil
com ela até o comentário sobre inimigos.
Os quatro policiais da ONE guardavam a entrada
danificada. Darren Artino e uma dúzia de seguranças
aguardavam. Ele olhou para Fury.
– Seus homens não me deixaram entrar.
Fury deu um sorriso que não chegou aos olhos dele, e
mostrou seus caninos afiados.
– Agora você pode entrar.
Artino pronunciou um palavrão feio e acenou para que
seus homens entrassem no alojamento. Seu olhar raivoso
passou pelo corpo de Ellie e ele ficou visivelmente tenso.
Seu foco se fechou na cueca que ela vestia, da qual um
ou dois centímetros se mostravam abaixo da camisa, e
ele ficou boquiaberto. Virou-se para olhar para Fury.
Fury deu de ombros.
– Ela precisava de roupas. Vocês deviam colocar
chuveiros e toalhas nos banheiros do térreo, se sua
segurança é uma merda. Quando as pessoas que vocês
falham em proteger precisam se limpar do sangue que
espirrou, podem fazê-lo confortavelmente depois de
salvarem a pele. Toalhas de papel não iriam cobri-la,
assim era preferível que ela usasse minhas roupas de
baixo do que ficasse andando nua por aí.
Ellie cobriu a boca com a mão para esconder o
sorriso. A cara de Artino foi ficando vermelha, conforme
as palavras iam entrando em seus ouvidos. Às vezes, o
chefe da segurança era um moralista idiota, e ela gostava
quando ele ouvia umas boas. Ela deixou a mão cair
enquanto observava Fury balançando a cabeça para seus
homens. Eles saíram do alojamento feminino sem olhar
para trás.
Artino encarou-a.
– Acredita que ele me disse aquilo? – ele olhou para
Ellie, ultrajado.
Ela hesitou, escolhendo as palavras cuidadosamente.
Ela não estava em posição de falar que a segurança dele
havia falhado e muito.
– Vocês deviam mesmo colocar pelo menos um
chuveiro e toalhas de verdade no banheiro do primeiro
andar. Teria sido útil.
Ela afastou os olhos de sua expressão surpresa, foi em
direção a um dos sofás e desmoronou em seu tecido
macio. A exaustão e a necessidade de um bom choro se
instalaram. Ou talvez uma bebida forte. Talvez todos os
anteriores.

Fury parou na calçada do lado de fora para encarar


seus homens e olhar Ellie por cima do ombro. Ela sentou
no sofá, parecendo cansada e pálida de seu suplício
traumático. Ele usara cada gota de sua força de vontade
para deixá-la, quando o que realmente queria era passar
os braços em volta dela e confortá-la. Se ela se
debulhasse em lágrimas, ele sabia que voltaria para
dentro, não importava o quão estúpido seria segurá-la no
colo até que o medo dela passasse.
Seu telefone tocou e ele o agarrou.
– Sim, Justice?
– O que você fez com a mulher humana enquanto
estavam no banheiro? As câmeras o seguiram quando
você a carregou para lá, mas não há gravações do
interior dele. As coisas estão bem?
– Sim. – Fury ficou tenso.
– Você devia ter mandado um de nossos homens
acompanhá-la, se ela precisava de ajuda. Já tivemos
longas conversas sobre ela, meu amigo. Você está bem?
Ele baixou o tom de voz.
– Eles a tocaram e a feriram, mas não esquentei a
cabeça.
– Bom. – Justice fez uma pausa – Você fez um
trabalho bom pra caramba, Fury. Estou orgulhoso de
você. Os humanos estão meio chateados porque nossa
equipe salvou a mulher. Eles não ficaram felizes ao
saberem que agora temos nossa própria segurança.
– É a nossa Homeland. O presidente dos Estados
Unidos nos disse que esta é nossa casa e que, quando
formos capazes, podemos administrá-la sozinhos.
– Eu sei. Eles se sentem culpados por financiarem as
Indústrias Mercile sem saber exatamente pelo que
pagavam. Eles querem se acertar conosco e pegaria
muito mal no mundo todo se os acusássemos de alguma
coisa. Mas ainda estamos pisando em ovos até que
estejamos em posição de nos governarmos. A conversa
com Darren Artino não pareceu amigável. O que foi
dito?
– Ele não gostou do fato de que tivemos êxito onde
sua segurança falhou, e ficou contrariado por eu ter
ordenado a equipe a não deixar ninguém entrar no
alojamento até que eu tivesse certeza da segurança e do
bem-estar de Ellie.
Justice hesitou.
– Você está controlado? Preciso que esteja. Tudo de
que nosso povo mais precisa agora é liderança e
orientação, enquanto aprendemos a prosperar no mundo
fora do cativeiro. Escolhi você para ser o segundo no
comando porque você é respeitado, costuma controlar
as emoções com rédeas curtas e quer o melhor para seu
povo, tanto quanto eu.
– Você não tem com o que se preocupar – Fury jurou,
com os olhos ainda fixos em Ellie – Eu sei que não posso
tê-la.
– Eu queria que você pudesse. – Justice suspirou
delicadamente – Você merece a felicidade. Retorne ao
alojamento masculino, estarei lá em breve para falar com
nossos homens.
CAPÍTULO OITO
O diretor Boris olhava com raiva para Ellie.
– Quero uma explicação sobre sua recusa agora
mesmo.
Ela o olhou de volta, furiosa, mais do que pronta para
responder a ele de um jeito grosseiro.
– Explicar o quê? Não me faça entrar nesse assunto de
novo, já entrei uma centena de vezes e nada vai mudar
só porque para você é um problema eles terem os
próprios seguranças. O oficial Fury ajudou a me lavar
naquele banheiro. Eu tremia demais para andar, de tão
transtornada que estava. Tive que matar dois homens,
não sou militar, e não tenho esse tipo de vivência.
– Eu sei – ele redarguiu.
– Eu estava atordoada no dia em que aqueles pirados
invadiram Homeland e não conseguia nem andar. Se
você viu os vídeos do que aconteceu, sabe que o oficial
Fury precisou me carregar. Minhas roupas estavam sujas
de sangue e ele apenas me emprestou sua cueca e sua
camisa. Ele fez algo decente e gentil. Qual é o problema?
– ela se levantou e resistiu à vontade de dar uma
bofetada naquele cretino ofensivo.
– Ele a tocou inapropriadamente e eu quero uma
reclamação formal até às seis da tarde de hoje.
Precisamos mostrar que eles não podem fazer o que
quiserem, não tiveram autorização para realizar o que
fizeram.
Inacreditável. Elllie ficou boquiaberta.
– Não vou fazer isso. Ele não me tocou
inapropriadamente. Se você quer fazer com alguém um
concurso de irritação para ver quem está no comando,
não me ponha nele. Nem tenho o equipamento
apropriado.
Ele ignorou seu comentário sarcástico.
– Aquele homem a carregou para dentro de um
banheiro, onde você se despiu na frente dele e ele na sua,
obviamente para lhe dar a droga da cueca. Isso é
totalmente inaceitável. Escreva esse relatório agora. Isso
é uma ordem.
– Não há câmeras dentro do banheiro, você não sabe
o que aconteceu lá! – Ellie gritou, para lá de furiosa.
– Mas posso imaginar. É isso, senhorita Brower? Você
sente tesão pelo oficial Fury? Vocês fizeram mais do que
trocar roupas? Ele te comeu?
Ela deu um passo para trás e seus punhos se
fecharam. Tinha tanta vontade de derrubá-lo, que
precisou lutar para não perder a cabeça. Ela não podia.
Ele havia ido longe demais.
– Você é um cretino com uma mente suja, diretor
Boris. O homem e a equipe dele me salvaram. Onde
diabos estava a sua segurança quando aqueles caras
estavam usando veículos para derrubar as portas de
entrada do alojamento? Onde eles estavam quando eu
estava sendo perseguida pelo primeiro andar e fui
forçada a matar dois homens? Onde eles estavam
enquanto aqueles dois babacas me violentavam e
planejavam me estuprar brutalmente na frente de suas
câmeras antes de me matar? Deixe-me dizer onde
estavam. Eles estavam observando tudo de dentro
daquela segura sala de controle. Os seguranças da ONE
salvaram minha vida e o oficial Fury, para sua
informação, entrou em uma cabine enquanto eu me
limpava, ficando de costas para mim o tempo inteiro, de
olhos fechados. Ele nunca me viu nua. – ela mentiu – E
eu nunca vi mais que alguns milímetros de sua pele, a
não ser seus braços – mentiu ela de novo – Não me faça
cometer perjúrio em um relatório falso só porque você
está puto por eles terem salvado o dia, enquanto suas
medidas de segurança de merda foram uma piada.
O diretor Boris se levantou.
– Você está demitida. Pegue suas tralhas e saia de
Homeland imediatamente. Eu mesmo vou mandar
prender você se depois de uma hora ainda estiver aqui, e
vou fazer minha segurança de merda jogar seu traseiro
para fora dos portões. A polícia local estará esperando
para lhe dar um novo lar na cadeia municipal.
Ela balançou a cabeça.
– Você é um covarde imbecil. – ela se virou e saiu da
sala pisando duro.
Ellie se engasgava com as lágrimas, enquanto se
dirigia à porta de saída. Ela tinha apenas uma hora para
juntar tudo o que tinha e deixar seu único lar. Teria que
ligar para a segurança e pedir que levassem seu carro ao
alojamento para colocar suas coisas nele. Todos os
veículos privados ficavam guardados em um
estacionamento seguro na parte de trás de Homeland.
Era uma medida padrão da segurança para impedir que
os carros fossem vandalizados. Ela não tinha mais casa,
tinha pouco mais de mil dólares na poupança e estava
desempregada. O que mais doía era o fato de que sentiria
falta das mulheres de quem se aproximara. Ela alcançou
o guarda que ficava na porta que levava para a saída,
mas ele se mexeu repentinamente para bloquear o
caminho, fazendo-o de modo desagradável.
– O diretor Boris ordenou que eu pegasse seu cartão
de segurança e a acompanhasse diretamente para fora de
Homeland. Ele declarou que seus pertences seriam
encaixotados, colocados em seu veículo e levados até
você no portão de entrada, em uma hora.
O choque por não poder nem mesmo dizer adeus às
mulheres ou empacotar os próprios pertences rasgou seu
corpo. Meu comentário sobre o diretor Boris ser um
imbecil deve tê-lo levado a um outro nível de cretinice.
Merda. Seu próximo pensamento se concentrou em
Fury. Nunca mais vou vê-lo. A dor se espalhou por ela.
Talvez ela não fosse a pessoa favorita dele, mas a ideia
de nunca mais colocar os olhos nele a deixou arrasada.
Emburrada, ela fez que sim com a cabeça, enquanto o
segurança colocava a mão na arma, caso ela resolvesse
discutir. Tal fato só deixaria aquela situação surreal ainda
pior. Ela desprendeu o cartão de segurança da roupa e
entregou-o. Ele soltou a arma, mas agarrou seu braço.
– Posso andar sozinha, obrigada. – ela puxou o braço,
mas ele não a soltou.
– Recebi ordens de prendê-la e pedir que seja
transferida aos policiais civis ao chegarmos ao portão,
caso você apresente qualquer resistência.
Ela não lutou, apesar de querer. Em vez daquilo,
levantou o queixo. Conteve mais lágrimas enquanto o
homem a segurava com força e a empurrava em direção
à luz do sol. Outros dois guardas a esperavam lá fora, e
um deles agarrou o cartão de segurança de sua mão.
Aparentemente, o diretor Boris havia mesmo lhe
estendido o tapete vermelho da raiva, já que três guardas
foram encarregados de cuidar dela. Babaca. Os dois
homens novos tomaram posições à frente e atrás,
enquanto o guarda que ainda segurava seu braço se
apressou até um dos carros de segurança. Ele
praticamente a jogou no banco de trás. Ela fechou os
olhos quando o carro se moveu, sabendo que a levavam
até o portão e embora da vida de Fury para sempre.
Ellie foi empurrada para fora do portão, na direção de
um grupo de manifestantes. O nervosismo a devorava
enquanto ela esperava por seu carro. Ela olhou para o
grupo AntiNovas Espécies, mas desviou o olhar ao notar
que lhe lançavam olhares furiosos e suspeitos. Os
manifestantes não sabiam qual era sua relação com as
Novas Espécies, mas haviam visto a segurança levá-la
até ali. Ela andou alguns centímetros na direção dos
portões, quando alguns manifestantes se aproximaram.
– Para trás – mandou um dos guardas, colocando a
mão na arma.
Ellie congelou.
– Estou esperando por meu carro. Eles não gostam de
mim. – ela inclinou a cabeça na direção das pessoas atrás
dela – Não posso esperar aqui em segurança até meu
carro chegar? Isso é pedir muito?
O segurança deu um sorrisinho afetado.
– Vá agora para trás da linha antes que eu o faça.
Ele parecia estar mesmo falando a verdade. Ela se
virou e andou por três metros até a linha pintada no
chão. Alguns dos manifestantes estavam a um metro
dela. Um dos homens a olhou e se aproximou. Ele era do
tipo robusto e brutamontes e parecia ser um rejeitado da
prisão, com tatuagens desbotadas em seus braços à
mostra.
– Quem é você? Você veio lá de dentro. É uma
daquelas adoradoras cheias de dó dos animais?
Ela engoliu seco.
– Por favor, me deixe em paz.
Uma manifestante a olhou e se virou para encarar um
dos guardas.
– Quem é essa mulher?
O guarda nem olhou para Ellie.
– Ela trabalhava aí dentro, mas acabaram de mandá-la
pro olho da rua.
Ellie olhou boquiaberta para o guarda por ele tê-la
dedurado e, no mesmo instante, sentiu a hostilidade
vindo das pessoas à volta dela. De novo, ela se
aproximou do portão, com medo. Alguns deles
pertenciam ao mesmo grupo que invadira Homeland. O
guarda com a pistola chacoalhou a cabeça.
– Mandei ir para trás.
– Isso aí – berrou um dos manifestantes para Ellie –
Por que não vem até aqui, vagabunda? Vamos adorar ter
uma conversinha com você.
Ellie estudou a multidão. Eles não estavam mais
andando e carregando placas com mensagens de ódio.
Eles a observavam e se aproximavam juntos, se
aglomerando. Seguravam as placas como tacos de
baseball, e Ellie se encheu de pavor. Ela se virou
novamente para os portões e segurou nas barras.
– Vou processar cada um de vocês se permitirem que
eu seja ferida, e aí vocês vão pro olho da rua comigo.
– Então vá embora – bufou um dos guardas – Eles
não podem atacá-la se você não estiver aqui.
– Não posso. Meu carro e meus pertences estão
sendo trazidos até o portão, nem mesmo minha bolsa
está aqui.
Ele deu de ombros e sorriu friamente.
– Protegê-la não é mais nosso trabalho. Você é uma
ex-funcionária, então se defenda e afaste-se antes que a
forcemos. – ele pausou – E seria um prazer dar uns
safanões em você. Ouvimos dizer que você quer que nos
demitam para que aquelas Novas Espécies fiquem com
nossos empregos.
– O que está acontecendo aqui? – uma zangada voz
masculina se fez ouvir de cima, da passarela.
Ellie olhou para cima. Ela não sabia o nome e não
conhecia o rosto da Nova Espécie, mas as feições
revelavam que ele era uma delas. Ele também vestia uma
roupa parecida com a da SWAT , com as letras ONE no
peito.
– Nada – gritou o guarda.
A Nova Espécie franziu a testa ao se deparar com o
olhar de Ellie.
– Sou um oficial da ONE e estou no comando. Por que
você está aí fora?
– Fui demitida. – Ellie olhou por cima do ombro para a
multidão atrás dela – Preciso esperar que tragam meu
carro para que eu possa ir embora. A segurança se
recusa a deixar que eu espere do lado de dentro, e agora
estou num aperto aqui. – ela olhou de volta para ele – Eu
realmente gostaria de ficar em segurança enquanto
espero.
Alguém arremessou algo no braço de Ellie. Ela se
encolheu e virou para ver o que a acertou. Uma lata de
refrigerante estava caída no chão e um líquido negro
espirrava do ponto em que ela havia rachado. Ellie se
afastou dos manifestantes, se aproximou dos portões e
alguém jogou mais alguma coisa. Ela se abaixou a tempo
de desviar de uma garrafa de água que bateu na barra de
metal próxima à sua cabeça.
– Traga-a para dentro – ordenou o oficial da ONE –
Agora!
– Ela foi demitida – explicou o segurança – Ela não é
problema nosso.
– Estou mandando que faça isso agora – rosnou o
oficial da ONE – Garanta que ela fique segura. Não me
faça dizer isso de novo.
Ellie se encheu de alívio quando um dos seguranças
olhou para ela e apontou para a área de entrada. Mais
alguma coisa voou e a atingiu no ombro. Ela não viu o
objeto, mas doeu. O portão se abriu ao mesmo tempo
em que a multidão arremessou outro objeto que quase a
acertou, enquanto ela se lançava para dentro da cerca.
Ela esfregou o ombro no ponto em que fora atingida e
olhou para cima, querendo agradecer ao guarda, mas ele
havia desaparecido.
– Fique perto do portão – ordenou o segurança mais
próximo a ela.
Ela balançou a cabeça. Esperaria pelo seu carro ali
com alegria, enquanto observava os manifestantes em
segurança. Eles a olhavam e continuavam com o
protesto. Imbecis, pensou ela, e virou as costas para
eles. Ela queria poder sentar, mas o chão não era
convidativo. Fechou os olhos, abraçou o corpo e
esperou não ter que aguardar muito.
– Senhorita Brower?
Ellie abriu os olhos, surpresa ao ver Fury com o
oficial da ONE que ordenara aos seguranças que a
deixassem voltar para dentro. Fury vestia jeans, uma
camisa preta de manga comprida e botas. Seu cabelo
estava preso em um rabo de cavalo e ele parecia furioso.
O coração dela acelerou imediatamente só de vê-lo.
Apesar de sua expressão zangada e firme, ele estava
sexy com aquelas roupas casuais que ostentavam seus
ombros e sua cintura definida. Ele parou a cerca de um
metro dela, com os oficiais da ONE à sua direita.
– O que está acontecendo? O Slade aqui me informou
o que houve lá fora. – ele a olhou de cima a baixo,
examinando-a – Foi ferida por algo que jogaram em
você?
Ela chacoalhou a cabeça, decidindo não mencionar o
ombro latejante. Forçou-se a tirar os olhos de Fury e
dirigi-los a Slade. O oficial da ONE que a salvara a olhava
com curiosidade.
– Obrigada por deixar que eu espere aqui pelo meu
carro. As coisas estavam ficando feias lá fora.
Ele fez que sim com a cabeça. A atenção de Ellie
retornou a Fury. Ela mordeu os lábios, indecisa por
alguns segundos e, então, se decidiu. Ele precisava ser
alertado e ela queria que ele soubesse o que se passara
no escritório do diretor. Ela também queria dizer adeus.
– Podemos falar em particular? – Ela olhou para o
guarda que estava bem perto deles e que obviamente
ouvira todas as palavras.
Fury franziu a testa, mas consentiu com a cabeça.
– É um assunto particular entre nós dois ou o Slade
pode participar?
Ellie sorriu para Slade.
– Ele é mais que bem-vindo a fazer parte da conversa.
Fury se virou.
– Siga-me.
O segurança que estava perto de Ellie a segurou pelo
braço.
– Ela fica aqui. Recebi ordens do diretor Boris para
mantê-la do lado de fora, e já estou violando as
instruções ao deixá-la desse lado do perímetro. Para mais
longe, ela não vai.
Fury se virou de volta.
– Tire a mão dela. – Fury rosnou essas palavras,
mostrando sua irritação – Eu dou ordens acima do seu
diretor. A mulher vai andar com a gente e você vai ficar
na sua. Entendeu? Não toque nela de novo.
O segurança pareceu surpreso, mas soltou Ellie e deu
um passo atrás. Fury fez um sinal para que ela andasse à
frente dele e de Slade. Ela deu uns vinte passos e se
virou para encarar os dois homens que vinham logo atrás
dela. Lançou um olhar em volta para se certificar de que
não havia nenhum guarda perto o suficiente para ficar
ouvindo.
– O que você quer falar em particular? – Fury olhou
para ela com delicadeza e suas feições tensas e zangadas
relaxaram.
– Queria avisá-lo que o diretor Boris quer acabar com
suas novas equipes de segurança. Hoje ele tentou fazer
com que eu redigisse uma falsa queixa contra você e
seus homens. Tenho certeza de que se ele fez isso
comigo, tentará fazer com outras pessoas. Ele está muito
bravo por vocês estarem controlando sua própria
comunidade. Só queria que vocês soubessem. – ela
pausou – Vocês me salvaram outro dia e acho que são
melhores do que a segurança atual. Acredito que vocês
estão mais do que certos quando dizem que ele quer
ficar no controle de Homeland. Só queria alertá-los.
Fury a estudou, mas balançou a cabeça depois de um
longo momento. A expressão de Slade ficou pétrea. Ele
não revelou o que pensava. Foi como se ela estivesse
falando sobre o tempo. Fury respirou profundamente.
– Que tipo de relatório ele queria que você fizesse
contra minha equipe?
De repente, o chão se tornou muito interessante para
Ellie. Ela não conseguia encará-lo.
– Ele tentou fazer parecer grave o fato de você ter me
ajudado a me lavar no banheiro do alojamento. Deixou
implícitas algumas coisas absurdas. – ela levantou os
olhos para ele antes de se focar novamente no chão – Eu
me recusei a redigir a queixa e disse que ele não podia
me fazer cometer perjúrio. Só queria avisar vocês sobre
o que ele tentou fazer.
Ela podia sentir Fury observando-a enquanto o silêncio
se alongava. Ela finalmente olhou para ele e viu linhas
franzidas em torno de sua boca.
– É por isso que você foi demitida? Acabaram de me
informar sobre isso.
As palavras realmente correm rápido.
– Foi por isso, e talvez também tenha a ver com o ter
chamado de algumas coisas não muito legais, quando ele
se zangou por causa da minha recusa. – ela deu um
sorriso triste – Ele provavelmente teria deixado eu
mesma empacotar meus pertences antes de eu insultá-lo.
Fury contraiu os lábios, mas não sorriu.
– Entendo. – ele fez uma pausa – Preciso do seu
endereço e telefone para caso o Justice queira falar com
você. Apenas me diga, que vou memorizá-los.
Os ombros de Ellie caíram. Ela odiava ter que admitir
a ele sua situação.
– Vou arranjar um quarto num motel da cidade e ir
atrás de um emprego. Eu mudei de estado quando me
realocaram para trabalhar aqui. No momento, não tenho
uma casa. Mas posso dar o número do meu celular, se
eles o trouxerem com minhas coisas. Senão, posso ligar
para o departamento para deixar o número do quarto do
motel para Justice, se você acha mesmo que ele vai
querer falar comigo. Ainda não tenho ideia de em qual
motel ficarei.
Os olhos negros piscaram e a boca de Fury se
apertou, formando uma linha firme. Ele a fitou, parecia
estar estudando-a por algum motivo que ela não
conseguia compreender. Ela se forçou a tirar os olhos
dele quando Slade falou.
– Tenho certeza de que vai ficar bem, senhorita
Brower. Por favor, não se esqueça de ligar para o
departamento para deixar seu contato.
Ellie consentiu com a cabeça.
– Bem, mais uma vez, obrigada por fazer com que me
deixassem voltar para dentro. – seu olhar voltou a Fury.
Ela percebeu que seria a última vez que falaria com ele, e
o fato a encheu de tristeza. Ele a fitou em silêncio. Ela
queria dizer tantas coisas a ele, mas só conseguiu pensar
em uma que resumia tudo.
– Por favor, fique feliz, e obrigada por decidir que eu
não devia morrer. – ela deu a ele um sorriso triste antes
de voltar até o segurança que a aguardava perto do
portão. Durante todo o trajeto, ela sentiu que seus olhos
a acompanhavam, mas continuou com as costas viradas.
Não queria vê-lo ir embora pela última vez. Ele tinha sua
liberdade e eles estavam quites.
Meia hora depois um carro chegou no portão. Ela
apanhou as chaves, notou que haviam deixado sua bolsa
no banco da frente, e entrou. A depressão a atingiu
fortemente. Ela nunca voltaria para Homeland ou para
Fury. Não tinha ideia de aonde ir ou do que fazer com
sua vida naquele momento.
Os guardas abriram os portões e empurraram para
trás os manifestantes para dá-la acesso à rua. Alguém
arremessou algo que atingiu a lateral do carro. Ela se
encolheu, mas continuou dirigindo sem parar para ver se
haviam causado algum dano. Aquele era o menor de seus
problemas.
– Você fez a coisa certa. – Justice pôs a mão no
ombro de Fury. Ele olhou para o portão que seu amigo
observava há quase quarenta minutos – Sei que para
você foi difícil deixá-la ir.
Fury lutava contra suas emoções, algo complexo de se
fazer, e encontrou o olhar preocupado do amigo, quando
se virou para acabar com a vigília. – Fiz o que você
pediu quando me informou que ela fora demitida. Deixei-
a ir embora. Ela vai ficar mais segura agora que não está
em Homeland, caso mais imbecis nos ataquem.
– Nossos inimigos poderiam tê-la matado – Justice o
lembrou – Sei que isso é difícil para você.
– Não consigo imaginar como será nunca mais vê-la –
Fury admitiu – Sinto dor.
O arrependimento endureceu o rosto de Justice e ele
apertou mais uma vez o ombro que segurava.
– Não sabia que era tão forte assim.
– Mas é.
– Sinto muito.
– Entendo que ela estará melhor em seu mundo, mas
ela diz que não tem um lar. O que Ellie vai fazer? Talvez
eu devesse ter pedido a ela que ficasse. Poderíamos ter
forçado o diretor a mantê-la no alojamento.
– Não podemos arranjar encrenca agora, Fury. Há
hora e lugar certos para tudo. Você fez o melhor para
nosso povo, sinto muito que custe tanto, já que ela
significa muito para você. A única coisa que posso dizer
é que você pode oferecer a ela um emprego novamente
quando estivermos prontos para assumir o controle de
Homeland.
A dor aliviou um pouco no peito de Fury.
– Quero que ela volte. – ele precisava dela. A ideia de
nunca mais vê-la ou ouvir sua voz deixara um gosto
amargo em sua boca. Um futuro sombrio se formava em
sua cabeça – Acredito que ela tenha sido demitida por
nos defender. Não fazer o mesmo por ela não parece
certo.
– Então, definitivamente, ofereça a ela o emprego que
tinha assim que puder. Não vai demorar muito, apenas
temos que aprender a fazer as coisas do jeito certo, mas
ainda há muito que não sabemos. Todos os dias nos
aproximamos mais do controle sobre nosso próprio
Destiny .
– E se ela não quiser o emprego? E se ela nunca mais
quiser voltar? Ela pode encontrar outro emprego lá no
mundo dela. – um rasgo de pesar atravessou Fury –
Talvez eu nunca a veja de novo.
– Então deixe-a ir, Fury. Tente superar seus
sentimentos.
Fury não disse nada, mas a dor que queimava em seu
peito se espalhou. Ele não queria deixar Ellie ir embora, e
certamente não acreditava que conseguiria superar as
emoções que sentia quando se tratava dela. Ela estava em
seu sangue, era parte dele, mas já não era mais parte de
sua vida.
– Venha – Justice pediu gentilmente – Vamos andar
juntos, você não deve ficar sozinho nesse momento.
Fury hesitou, olhou para o portão, mas sabia que ela
não voltaria. Ele fez que sim com a cabeça.
– Obrigado.

Ellie xingou ferozmente ao ver a pichação em seu


carro, entendendo que um dos manifestantes devia tê-la
seguido até o motel. Ela observara se alguém a estava
seguindo, mas não vira nada desde que deixara
Homeland quatro horas antes. Merda, aqueles cretinos
são sorrateiros. E babacas obcecados. Eles sabiam em
que motel ela se hospedara e haviam vandalizado seu
carro por causa de sua associação com a ONE. Ela
realmente odiava aqueles idiotas fanáticos.
Ellie foi pisando duro até seu quarto, brava por ter que
chamar a polícia, fazer um boletim de ocorrência e ligar
para o seguro do carro. Não poderia dirigir pela cidade
com aquelas palavras feias pichadas com letras grandes
na lateral, passaria uma péssima impressão quando
chegasse para uma entrevista de emprego. Ela bufou e
apertou a sacola de fast food, enquanto procurava pela
chave do quarto no bolso traseiro do jeans.
Ellie pegou a chave e tentou enfiá-la na fechadura,
mas algo a impediu de entrar. Ela se inclinou para espiar
pelo pequeno buraco da fechadura e seus olhos se
estreitaram enquanto examinava o que parecia ser um
chiclete mascado grudado no buraco, e se perguntou que
tipo de delinquente sairia ferrando com as portas daquele
jeito. A porta do quarto ao lado se abriu de repente com
um estrondo.
Ela virou a cabeça a tempo de ver três homens
grandes e com caras de poucos amigos saindo para o
corredor para olhá-la. O medo a atingiu ao perceber que
eles estavam totalmente focados nela. Ellie soltou a
maçaneta da porta e cambaleou para trás. Três metros
separavam seu quarto do outro, o que, em sua opinião,
não estava nem perto de ser longe o suficiente daqueles
caras, o que se confirmou quando o que estava à frente
se lançou rapidamente a ela.
– Pegamos você – ele arfou e agarrou Ellie, quando ela
tentou correr.
– Arraste-a pra cá, Bernie – resmungou um deles com
urgência.
– Qual é seu problema, diabo? – Ellie se prendeu ao
corrimão com as duas mãos, enquanto o pânico a
agarrava tão fortemente quanto as mãos cruéis em seu
quadril – Me solta!
– Meu problema – chiou o homem em seu ouvido
enquanto passava os braços em volta de sua cintura e a
puxava, tentando soltá-la do corrimão – é que ficamos
sabendo que você anda trepando com um daqueles
animais e vamos salvá-la. Você sofreu lavagem cerebral.
Me salvar? Pelo menos, eles não estavam tentando
matá-la. Isso é algo, ela pensou. Os idiotas achavam que
ela fora forçada a mudar sua forma de pensar. Ela gritava
e chutava com força contra aquele homem grande. Seus
olhos se moviam agitadamente pelo entorno, procurando
por ajuda. Viu algumas pessoas no estacionamento
embaixo, que a olhavam boquiabertas. Alguém gritou de
longe para que o homem a soltasse.
– Droga – um homem berrou do outro quarto – As
pessoas estão vendo! – ele parecia apavorado – Corram.
O braço em volta de Ellie soltou sua cintura de
repente. Os três saíram em disparada para o outro lado.
Ela estava ofegante, com dores por causa da luta, e
inclinada contra o corrimão. Aquele grande e maluco
idiota que a atacara era forte. Ela girou a cabeça e
observou os três homens alcançarem o final do corredor,
quase rolarem pela escada de tanta pressa e fugirem do
estacionamento, desaparecendo atrás do prédio. Ela
quase caiu ao se levantar, mas conseguiu travar os
joelhos para se manter esticada. Seu corpo inteiro tremia.
Uma porta se abriu e ela se virou na direção do barulho,
esperando outra ameaça. Uma mulher segurando um
bebê apareceu, pálida.
– Eram ladrões?
Ellie relaxou.
– Não.
– A polícia está a caminho – gritou um homem do
estacionamento – Você está bem?
Ellie precisou limpar a garganta.
– Estou bem, obrigada!
Ela viu a sacola de fast food no chão, onde havia
derrubado-a quando agarrou o corrimão. Abaixou-se
para pegá-la e se contraiu com a dor que o movimento
causou em sua cintura dolorida. Sem fôlego, ela xingou,
torceu para que o imbecil não tivesse deixado
hematomas com o cabo de guerra que fizera com seu
corpo e cambaleou até a escada. Ela se sentou, lançou
olhares às pessoas que tinham os olhos cravados nela e
notou que uma multidão pasma havia se juntado. Seu
coração ainda martelava do susto, mas ela estava segura
e com fome. Colocou a mão dentro da sacola. Iria
comer enquanto esperava pela polícia.
Ellie comia seu hambúrguer com vontade e abria a
garrafa de água flavorizada, feliz por não ter comprado
um refrigerante, pois ele não teria sobrevivido à queda.
Ela enfiou os dedos no bolso de trás para pegar o celular.
Uma hora antes havia ligado para Homeland, para deixar
seu número para Justice, mas a secretária dele insistira
para que ela deixasse também um endereço. Ela não
podia mais ficar no motel agora que os doidões sabiam
onde ela estava se hospedando. Ela apertou o redial para
se conectar ao escritório de Justice. Queria falar com
alguém antes que o turno deles acabasse, e seu relógio
anunciava que ela tinha apenas alguns minutos até às
cinco da tarde.
– Oi – disse Ellie depois de finalmente ser transferida
para uma mulher que declarara ser a secretária de
Justice. – Acho que nos falamos antes. Sou Ellie Brower.
Deixei as informações do motel onde estou, caso o
senhor North quisesse me contatar, mas creio que elas
não sirvam mais. Tenho que ir para outro motel. Tentarei
ligar amanhã para deixar as novas informações. Você tem
meu celular, então pode me ligar, certo?
A mulher do outro lado da linha ficou em silêncio por
um momento.
– Por que você vai para outro motel?
– Ahn… – Ellie viu um carro de polícia entrar no
estacionamento – Tive alguns problemas. Prometo que
ligo amanhã cedo e passo meu novo endereço. Preciso
desligar agora, a polícia chegou e preciso fazer as malas
rapidamente para ser escoltada em segurança de onde
estou saindo. Falo com você amanhã. – Ellie desligou.

Fury andava pelo seu escritório. Ellie não voltaria


nunca, ele nunca mais a veria, e precisava se ater àquela
dolorosa parte da realidade. Uma batida soou em sua
porta. Ele respirou fundo, ajeitou a expressão e limpou a
garganta.
– Entre.
Brass, seu amigo e homem que ele havia encarregado
de agendar aulas para as Espécies aprenderem diferentes
habilidades, entrou. Fechou a porta atrás dele e se
encostou na madeira.
– Temos um problema.
– O que mais? O que é agora?
– Alguns dos guardas humanos andam flertando com
nossas mulheres. Nossos homens estão sendo muito
protetores com elas.
Um sorrisinho curvou a boca de Fury.
– Nossas mulheres conseguem lidar com um humano.
Estou para conhecer um humano que possa derrubar
uma Espécie, seja ela homem ou mulher, quando estão
bravas. – o sorriso morreu – É assédio ou apenas aquele
flerte típico?
– O flerte típico, mas é possível que nossos homens
arranjem brigas por isso. Nenhuma das mulheres se
sentiu ameaçada ou deu queixa. Gostaria de evitar
conflitos entre os humanos e nós. Se nossos homens
começarem a estourar as cabeças dos humanos que
ficam piscando para nossas mulheres, haverá muita
tensão.
– Vou falar com eles. Chame-os para uma reunião. –
ele olhou para o relógio – Daqui umas duas horas?
– Parece bom. – Brass deu um sorrisinho – Você
percebeu que virou uma figura paterna para todo mundo.
Você dá conselhos e faz ameaças duras quando nos
comportamos mal. Justice é nossa figura materna; nos
protege, educa e prepara o ninho de nossa nova
Homeland como um lar.
Fury levantou a mão e estendeu o dedo do meio.
– Aqui está sua lição de hoje, filho.
A sala se encheu de gargalhadas.
– Se isso é uma oferta, eu recuso. Você não é meu
tipo.
– Ninguém é – Fury riu – Nossas mulheres são
espertas demais para escolherem acasalar com você.
Brass se desencostou da parede e se aproximou alguns
passos, seu sorriso se esvaecendo. Seus olhos se
estreitaram enquanto estudava Fury.
– Por falar em mulheres, ouvi dizer que a pequena
humana que você salvou deixou Homeland.
Todo o humor de antes fugiu. Fury fez que sim com a
cabeça.
– O diretor a demitiu e Justice pediu para eu não me
envolver. Eu queria passar por cima da autoridade do
diretor, devolver o emprego a ela e mantê-la aqui. Vi o
perigo que se formou para ela por ser associada a nós
depois do ataque que sofremos. Justice me fez entender
que ela teria uma vida melhor sem mim.
– Se você tivesse mandado naquele cretino pomposo,
ele perceberia que temos noção do poder que
produzimos.
– Isso é o que Justice falou. Fiquei em conflito, Brass.
Não queria que ela fosse embora, mas tenho
responsabilidades com nosso povo. Estou dividido. O
único jeito de fazê-la ficar seria enfrentar o diretor, mas
essa atitude teria acabado com o plano para nossa
comunidade.
– Você realmente se importa com essa mulher? – suas
sobrancelhas se elevaram – Eu a vi várias vezes e ela é
muito diferente de nossas mulheres. Ela é pequena.
– Sei da nossa diferença de tamanho.
– E ela é humana. – Brass franziu o cenho – Ela
também trabalhava para a Mercile, sei o porquê, todos
foram informados de que ela trabalhava disfarçada para
juntar evidências, mas também ouvi dizer que você tinha
um problema pessoal com ela. Eu estava naquela sala de
conferências, Fury. Temi que você fosse matá-la em
uma sala cheia de humanos.
Fury se sentou na beirada da mesa, cruzou os braços
sobre o peito e suspirou alto.
– Algo aconteceu entre nós e me senti traído por ela.
Perdi totalmente o controle.
– Não brinca. Nunca o vi ser tão feroz. O que ela fez?
Ele pausou.
– Ela é a mulher sobre quem lhe contei quando fomos
libertados e mantidos naqueles motéis, enquanto
esperávamos para sermos trazidos para cá. Ela é a
humana que entrou na minha cela e matou Jacob.
– Merda – murmurou Brass, sem ter mais o que falar.
– Nunca reagi tão fortemente a alguém quanto a ela.
Eu… – ele procurou uma forma de expressar suas
emoções – Eu estou obcecado por ela. Ela sorri e eu
derreto. Quero ouvir sua voz e apenas estar perto dela.
– Merda – Brass repetiu.
– Quero-a de volta. Eu não podia ficar com ela, mas
todas as noites dirigia até o alojamento para, pelo menos,
observá-la de longe interagindo com nossas mulheres.
Agora não tenho nem isso. Isso… dói.
O silêncio se alongou. Brass finalmente falou.
– Quando assumirmos Homeland, você poderia
convidá-la de volta. Você vai estar no comando da
segurança, não teremos que nos preocupar com a reação
dos humanos. Você pode aguentar só até lá?
– Não sei – ele admitiu – Só a quero de volta. Quero-a
perto de mim. – ele pausou – Preciso dela por perto
mesmo que não possa realmente estar junto. Só consigo
pensar no que ela está fazendo agora, para onde irá e… –
sua voz se intensificou para um rosnado – se homens
humanos vão tentar tocar o que é meu.
Brass elevou a sobrancelha.
– Sua?
– Minha. – Fury balançou a cabeça – É como me sinto
quando penso nela.
– Calma. Nosso povo aprende rápido e logo vamos
poder controlar Homeland completamente. Poderá
convidá-la de volta. Por você, espero muito que ela
aceite sua oferta.
– Eu também. – Fury se levantou – Faça aquelas
ligações e combine a reunião. Conversarei com nossos
homens e agendarei sessões extras de treinamento para
controlarem a raiva. Os humanos do lado de dentro de
nossos muros não são nossos inimigos, em geral.
CAPÍTULO NOVE
Ellie terminou de arrumar a bolsa após o funcionário
do motel fazer uma artimanha para abrir a porta e deixar
que ela pegasse suas coisas. Deu graças por ainda não
ter desfeito a mala. Ela estudou o policial que estava à
porta e observava cada movimento seu.
– Obrigada, já terminei e estou pronta para ir.
Agradeço por ficar de babá.
O policial deu de ombros.
– É meu trabalho.
Ellie apanhou a bolsa e a mala. O policial saiu do
caminho e fechou a porta do quarto para ela. Ela desceu
a escada, tentando não notar que alguns dos hóspedes do
motel ainda estavam do lado de fora, pasmos, como se
ela fosse o entretenimento da noite. Ela suspirou. Não
gostava de ser a principal fonte de diversão mórbida para
estranhos.
Ela se encolheu ao ver as palavras pichadas no carro.
O policial fizera um boletim de ocorrência sobre o dano,
tirara fotografias e lhe dera um cartão com o número do
B. O. O policial abriu o porta-malas do carro enquanto
ela levantava a mala. Ela o fechou e forçou um sorriso
quando ele entregou as chaves.
– Quer um conselho?
Ela balançou a cabeça.
– Claro.
Ele olhou para o carro e depois para ela.
– Alugue um carro e deixe esse no estacionamento da
empresa de que alugar. Essa é uma cidade pequena. Se
aqueles imbecis quiserem incomodá-la, só precisam ficar
passando em todos os motéis e hotéis, procurando por
este carro. Seria bem fácil achá-la enquanto o seguro
não refaz a pintura.
Ótimo, pensou Ellie. Seu dinheiro estava apertado até
que encontrasse outro emprego. Ela quase podia ver o
dinheiro queimando, mas a observação dele era válida.
– Obrigada. Acho que é um ótimo plano, vou fazer
isso.
– Não vejo a hora de esses imbecis saírem daqui. Tem
sido assim desde que os manifestantes apareceram. Os
moradores locais, em geral, estavam felizes em aceitar
Homeland, e nós demos àquelas pobres pessoas as boas-
vindas à nossa comunidade. Era um saco ter uma base
militar na vizinhança. Eu morava perto de uma quando
era criança e eles sempre detonavam a cidade quando
estavam de folga. As Novas Espécies não fazem isso.
Mas aí esses babacas dos Humanos por Humanos Puros
chegaram. Eu achava que eles tinham mais o que fazer.
Ellie lhe deu um sorriso de gratidão e seu corpo tenso
começou a relaxar. Era bom ouvir alguém que
concordava com sua opinião depois do suplício pelo qual
passara.
– Sim. As Novas Espécies já tiveram o bastante
desses idiotas racistas.
– Vou dirigindo atrás de você por alguns quarteirões
para ter certeza de que ninguém a está seguindo.
– Obrigada.
Ellie se aproximou da porta do carro, mas parou
quando uma grande SUV preta entrou no
estacionamento. Ela congelou, fitando-a. Parecia-se
muito com as usadas em Homeland, com todas as
janelas com insulfilme. Estacionaram-na logo atrás do
carro de Ellie, e ela ficou tensa quando o policial ao lado
dela pôs uma mão na arma e a outra no rádio.
A porta do motorista se abriu e Ellie fitou com cautela
o homem que andava em círculos à frente da SUV. Ele
vestia um terno de negócios e óculos escuros. Ele parou,
virou-se para o policial e depois parecia olhar para Ellie,
pois abaixou a cabeça na direção dela. Suas mãos
estavam ao lado do corpo, abertas, e ele separou os
dedos e afastou as mãos do corpo, para mostrar ao
policial que não estava armado.
– Senhorita Brower? Sou Dean Hoskins. O senhor
Fury me mandou aqui. Você ligou para o escritório do
senhor North e ele ficou ciente de que estava com algum
tipo de problema.
Fury? Ellie relaxou.
– Está tudo bem – ela certificou o policial.
Dean Hoskins abaixou os braços assim que o policial
soltou o cabo da arma. Ele ergueu as mãos, tirou os
óculos de sol e revelou os olhos verdes que seu bonito
rosto carregava.
– O senhor Fury me pediu para pegar você e suas
coisas. Me pediram para lhe passar um recado. Não
tenho certeza do que significa, mas o senhor Fury me
assegurou de que você iria entendê-lo. Ele me disse que,
depois que ele salvou sua vida, você deve uma a ele. Ele
pede que você me siga até Homeland para conversarem
pessoalmente. Ele mesmo teria vindo mas, infelizmente,
por conta da situação do lado de fora de Homeland, não
era recomendável que ele saísse.
É brincadeira, pensou Ellie. Fury queria conversar
com ela. Tentou imaginar o que ele queria discutir.
Talvez tivesse se arrependido por não ter se despedido
direito. Talvez até mesmo quisesse dizer que a perdoava
pelo que ela havia feito a ele. É claro que talvez ele só
quisesse saber o que acontecera. Ela não queria criar
esperanças de que Fury apenas queria vê-la de novo. Ela
nunca saberia se não fosse lá falar com ele, e ficar
apenas se perguntando a deixaria incomodada.
Ela consentiu com a cabeça para Hoskins. Não tinha
dúvidas de que ele estava falando sério. Apenas Fury
para falar sobre alguém dever algo a alguém.
– Tudo bem.
Ele colocou os óculos escuros de volta no rosto. Ellie
se virou para o policial.
– Muito obrigada por tudo. Vou até a empresa de
aluguéis de carro assim que minha reunião com o senhor
Fury tiver terminado.
Ellie entrou no carro e esperou enquanto Hoskins
manobrava a grande SUV no estacionamento. Ellie deu
uma ré para seguir a SUV de volta para Homeland. Ela
odiava os olhares que recebia dos outros motoristas e
temeu, quando os manifestantes viram a pichação em
seu carro.
As palavras de ódio a humilhavam e a deixavam
envergonhada. O guarda que abriu o portão para ela
levantou as sobrancelhas, boquiaberto. Ela xingou
baixinho e se segurou para não mostrar o dedo do meio
para ele. Ela não tinha outra escolha a não ser dirigir seu
carro vandalizado. Seguiu a SUV preta até o escritório
principal e estacionou ao lado dele na área de visitantes.
Ellie apanhou a bolsa e saiu do carro. Não deixaria a
carteira fora de vista depois de ter sido enxotada de
Homeland. Ela precisava ter opções, caso a chutassem
para fora de novo sem o carro. Dean Hoskins examinava
seu veículo, franzindo a testa.
– Essa foi a encrenca que você arranjou?
– Parte dela. Parece que alguns idiotas acham que
sofri lavagem cerebral, e três imbecis foram atrás de
mim para supostamente me salvar. Só Deus sabe o que
eles pensavam em fazer se tivessem conseguido me
sequestrar. – ela balançou a cabeça – Alguns deles são
apenas loucos.

Fury andava de um lado para o outro, enquanto


Justice o observava de perto, estudava tudo nele, o que o
irritava. Ele parou e lançou um olhar a Justice.
– O quê? Ela estava em apuros, mencionou a polícia
para sua secretária e precisava de escolta para sair de lá.
Há algum problema sobre eu mandar o Dean buscá-la?
Ele trabalha para nós. De que adianta ter humanos nos
ajudando se eles não fizerem nada?
– Não estou questionando seu raciocínio. Acreditei
que ela estaria mais segura no mundo dela, mas admito
que estou errado se ela já teve problemas. Só estou me
perguntando se você vai explodir quando ela chegar.
Você parece estar prestes a perder totalmente o controle
de novo.
Fury rosnou, combateu a raiva e mirou nos olhos
preocupados do amigo.
– Todos os instintos protetores dentro de mim estão
numa batalha. Meu primeiro impulso foi pular dentro de
um jipe e sair por aí tentando encontrá-la. Estou
controlado desde que mandei o Dean.
– Bom saber. – Justice se aproximou – Se significa
tanto para você, pode mantê-la aqui. Amenizarei as
coisas de algum jeito com o diretor e, se não der certo,
ordenarei categoricamente que ele permita que ela fique.
Sob as atuais circunstâncias, talvez ele não suspeite de
que eu passaria por cima dele. Ele está muito paranoico
sobre todo o poder que exibimos e está tentando ficar
com o controle absoluto de Homeland. Ele está sendo
um imbecil nos tratando como crianças, mas o ponto
principal é: ele trabalha para nós. Tenho certeza de que
há alguma vaga na seção de humanos visitantes. Farei
umas ligações.
Os olhos de Fury se estreitaram.
– E deixar o diretor agir pelas nossas costas de novo?
Você me colocou no comando da segurança. Não a
deixarei fora da minha vista.
O queixo de Justice caiu.
– Você vai encarregá-la do quê, então?
– Tenho dois quartos. Ela vai ficar segura na minha
casa. Ninguém seria estúpido o suficiente para ir até lá
atrás dela, e posso vigiá-la.
– Você quer dizer “protegê-la”.
– É a mesma coisa.
– Não é uma boa ideia. – Justice deu de ombros –
Mas você está no comando. Já tenho dores de cabeça o
bastante tentando entender a parte de negócios de
Homeland, como pagar por tudo e onde encontrar mais
fundos para usarmos depois que começarmos a nos
administrar. Como o presidente é generoso, estamos
torrando dinheiro com os custos de construção de todas
as medidas preventivas que precisamos ter depois do
ataque. Não se esqueça de que você tem uma reunião
amanhã de manhã com o arquiteto. Quero que você
estude os planos com cuidado e é você quem diz se o
que eles planejaram vai nos prevenir de outra invasão
pelos portões de entrada.
– Estarei lá.
Justice deu alguns passos à frente, apertou o ombro
de Fury e olhou fundo nos olhos dele.
– Sei que você vai fazer seu trabalho. Fico mais
preocupado com seu estado emocional quando o assunto
é essa mulher. Ela é o único ponto fraco que já vi em
você. As emoções podem ser um inferno para a nossa
espécie.
– Posso separar minha responsabilidade com nosso
povo, dos meus problemas.
– Sei que pode. – Justice o soltou – Boa sorte com
sua humana. – um sorriso se fez em seus lábios – Não
invejo você. Claro, elas, com certeza, são mais fáceis de
lidar do que nossas mulheres.
Fury bufou.
– Não muito. É muito difícil entendê-la, já que viemos
de mundos diferentes. – ele hesitou – Sinto raiva por ela
poder estar ferida.
– Tente deixar isso em segredo. Eles se assustam com
facilidade, quando rugimos e mostramos os dentes. –
Justice deu uma risadinha e foi embora.
Fury deu um rosnado leve. Ele tentaria ouvir o que
acontecera com Ellie sem demonstrar sua raiva. Dean
havia ligado para informá-lo de que ela o estava seguindo
até Homeland, mas se recusou a contar a ele o que se
passara. Ellie não estava ferida se podia dirigir, e era só
isso que importava. Ele saiu apressado do escritório e foi
até o estacionamento, aonde ela chegaria. Ele queria estar
lá esperando, mas Justice o atrasara.

– Eles o quê?
A voz profunda atrás de Ellie a assustou. Ela se virou e
derrubou a bolsa. Fury havia chegado atrás dela sem ela
notar. Ele se mexera de um jeito tão furtivo, que não
fizera nenhum som para que ela soubesse que estava se
aproximando. Ela apertou o peito ao encará-lo.
– Não se aproxime de mansinho assim de alguém. Eu
não tinha ideia de que você estava aí, quase me fez ter
um ataque cardíaco. – ela derrubou os braços ao lado do
corpo.
Fury se aproximou.
– Tentaram sequestrá-la? – ele se abaixou, pegou a
bolsa do asfalto e a segurou com suas mãos enormes
enquanto se esticava novamente. – Como?
O coração acelerado de Ellie começou a se acalmar.
– Acho que um dos manifestantes me seguiu até o
motel, e então alugaram o quarto ao lado do meu. Eles
fizeram uma emboscada para me pegar quando voltei
para o quarto depois de buscar comida. Gritei quando
um dos três homens me agarrou. Havia pessoas em volta
que começaram a gritar, e com isso, eles fugiram.
O olhar no rosto de Fury fez jus ao seu nome. O nome
realmente combina com ele, decidiu Ellie. Ele ficou em
silêncio enquanto continuava a fitá-la e então deu um
rosnado baixo. Seus caninos apareceram pela pequena
abertura que se fez em seus lábios. Ela se afastou,
desconfiada de sua raiva. O que eu fiz? Não foi minha
culpa. Ele parecia querer, novamente, rasgar sua
garganta.
– Você não está a salvo lá fora – ele concluiu num tom
rude – De agora em diante, você fica aqui. Não discuta
comigo.
Dean Hoskins pigarreou e apanhou o celular.
– Vou ligar para o prédio das visitas para ter certeza de
que há um quarto para ela.
– Desligue – Fury exigiu – Ela vai ficar comigo.
Ellie o olhou pasma, tentando entender a oferta dele.
– Com você? – ela arfou.
Ele deu um passo para se aproximar.
– Você parece saber como se meter em encrenca,
querida. Ou talvez a encrenca saiba como encontrá-la.
Tenho um quarto de visitas e você ficará comigo. Assim
posso ficar de olho em você.
Essa não. Ela observou Fury tirar os olhos dela e
focar a atenção em seu carro. Ele andou em volta dele,
examinou cada parte do dano e só parou ao ficar
novamente de frente para Ellie. Ele apanhou sua mão e a
segurou firme com sua pegada quente, mas delicada.
– Vamos. Minha casa não é muito longe, então vamos
andando. Vou pedir a alguém que tire suas coisas de
dentro daquilo e dizer para consertar o que fizeram.
– Mas minha mala… – Ellie tentou diminuir o passo.
– Agora não – ele rugiu, puxando-a com força pela
mão, forçando-a a se mover quando ela não queria.
Ele puxou Ellie para seu lado, não lhe deixando escolha
a não ser acompanhá-lo. Ela notou a expressão alarmada
de Dean Hoskins. Não queria armar confusão, nem
causar problemas a Fury. Ela sabia que ele a estava
protegendo por algum motivo, e ela odiava mais a ideia
de deixar Homeland do que a de morar na casa dele.
– Obrigada por vir me buscar – ela gritou.
– Sem problemas – murmurou Hoskins.
Ellie olhava para o perfil belo, porém sombrio, de
Fury, enquanto tudo o que conseguia fazer era correr ao
lado dele para acompanhá-lo, pois as pernas dele
devoravam o chão com suas passadas largas. Sua mão
ainda mantinha a bolsa dela agarrada. Ela olhou
preocupada para a bolsa, esperando não haver nada
dentro que quebrasse com aquela pegada tensa e forte.
Ellie não fez nenhum protesto enquanto Fury andava, até
chegarem à casa dele. Ele a soltou quando alcançaram a
porta de entrada, pôs a mão no bolso de trás e usou a
chave para abri-la. Seu olhar negro se fixou nela.
– Para dentro, agora.
Ellie hesitou.
– Por que você está tão bravo comigo?
– Não estou. – rosnou ele – Entre.
Ellie adentrou o local mal iluminado, lançando olhares
em volta para reconhecer a sala. A porta bateu com força
atrás dela. Ela se virou para encará-lo. Fury estava
encostado na porta, apenas jogou a bolsa no chão, e ela
se encolheu, esperando que o celular que ela havia
enfiado lá dentro tivesse sobrevivido à dura queda no
ladrilho da entrada. Sua atenção retornou a Fury e o
encontrou olhando para ela com seu olhar negro e
intenso. Seus dentes afiados apareceram de novo entre
os lábios partidos.
– Para alguém que não está bravo comigo – declarou
ela, delicadamente –, você passa muito a impressão de
que está. Poderia pelo menos – ela apontou para a
própria boca – esconder as presas?
Ele rosnou.
Ela se afastou alguns centímetros.
– Tudo bem. Não esconda. É que quando você mostra
as presas e está com esse olhar zangado, tende a passar
às pessoas a impressão, bem, pelo menos para mim, de
que está puto com elas. – ela inspirou – E o rosnado… –
Ela balançou os ombros – Meio que deixa implícito que
você está bravo.
– Estou furioso – ele rugiu.
– O que eu fiz? – ela deu mais um passo para atrás.
– Nada. Não é diretamente com você. Você foi
demitida por me proteger, foi jogada no seu mundo e,
por causa de nós, virou um alvo como se fosse uma de
nós.
– Bem – ela relaxou, secretamente alegre por não ser a
responsável por deixá-lo zangado – eu trabalhava em
Homeland e sabia que não faria amizade com gente
babaca quando aceitei o emprego. Se eu concordasse
com aqueles idiotas, não teria vindo para cá, e eles
sabem que sou pró-Novas Espécies. Eles serem uns
imbecis é apenas um fato. Há grupos de ódio para tudo.
– Ninguém a odeia por causa do lugar de onde você
veio.
Ela sorriu.
– Originalmente sou da Califórnia, depois minha
família se mudou para Ohio. Metade do país tem certeza
de que todos os doidos e esquisitões dos Estados Unidos
vivem ou nasceram aqui no sul da Califórnia.
Fury piscou.
– O quão pró-Novas Espécies você é?
Ela se perguntou se ele questionava se ela não odiava
seu povo em segredo.
– Se está perguntando se sou preconceituosa, não
sou. Quando ouvi os rumores sobre as Indústrias
Mercile e o tipo de testes e as cobaias que usavam, fiquei
ultrajada. Concordei imediatamente em ajudar a
desmascará-los. Eu ficava horrorizada de saber que
talvez eu fosse parte de qualquer coisa que tivesse a ver
com uma empresa tão cruel. – ela pausou – Para mim,
Novas Espécies são gente, ponto final. Assim como todo
mundo. Vocês têm o direito de fazer qualquer coisa que
os humanos fazem. É isso o que você quer dizer? Odeio
até mesmo fazer essa distinção.
Ele desencostou da porta e deu um passo na direção
de Ellie, e parou.
– Já ouviu falar sobre o mais novo protesto contra
nós? Eles têm medo de que comecemos a namorar
humanos. O que você acha disso?
– Você não me ouviu quando eu disse que acho que
vocês são apenas pessoas? Vocês têm tanto direito
quanto eu de namorar ou estar com quem quiserem.
Ele balançou a cabeça.
– Você ficaria com um de meus homens? Slade está
bem interessado em você.
Slade? Ellie piscou, lembrando do cara que salvara sua
pele no portão. Foi uma surpresa saber que talvez ele se
sentisse atraído por ela.
– Não o conheço. – ela não conseguia pensar em mais
nada para dizer.
– Você o conheceu hoje de manhã.
– Bem, sei quem ele é, mas não o conheço
pessoalmente. Não sei se gostaria ou não de passar um
tempo com ele.
– Mas se você gostasse dele, iria namorá-lo? Mesmo
sabendo o que ele é?
Ela observou Fury com atenção o suficiente para
identificar sua raiva. Ela não conseguia entender o
homem.
– Claro. Acho. Não entendo por que não. Nunca
pensei muito nisso.
– Nossas espécies não são totalmente compatíveis. –
Fury deu mais um passo a ela.
Ellie deu um passo na direção contrária. Ele avançava
enquanto ela se afastava. Ela se sentia perseguida. A
raiva irradiava dele, assegurando-a de que ir até a casa
dele fora um erro. Ele ainda está bravo com o que
aconteceu no centro de testes? Ele ainda quer me punir
por aquilo? Ela o perdoara e ele havia feito pior. Ela não
o aterrorizara, deixara-o sem ar ou o sequestrara no
parque para amarrá-lo a uma cama.
– Por que está me encurralando na parede? – ela olhou
por cima do próprio ombro. Ela tinha apenas mais alguns
metros de espaço, e daí não teria para onde ir. Ela virou a
cabeça e fitou Fury – Pode parar, por favor? Você está
começando a me assustar.
– Você teria medo de mim, se eu fosse o Darren
Artino ou um homem como ele? Humano?
Ela franziu o cenho.
– Se fosse alguém bravo vindo na minha direção, sim.
Quer parar?
– Notei que você não negou que nossas espécies não
são compatíveis. – ele avançou.
Ellie deu mais um passo para trás e bateu na parede.
Ela ficara sem espaço para colocar entre eles.
– O que você quer que eu diga? Nem sei o que falar.
Sei que você tem mais DNA humano e não entendo seu
argumento. Somos ambos gente.
– Passei minha vida inteira num centro de testes. –
suas mãos se apoiaram na parede, uma de cada lado de
Ellie. Ele a prendeu ali, entre seu peito e seus ombros,
sem tocá-la.
– Eu imaginei. – ela não conseguia tirar os olhos
daquele belo rosto, pairando tão perto dela. Ela inalou
aquele perfume masculino maravilhoso e ficou imóvel
para evitar roçar em seu corpo.
– Passávamos constantemente por experimentos,
modificações e testes – ele rosnou – Ainda estamos
aprendendo coisas novas sobre nossos corpos e o que
foi feito a nós, e não somos humanos o bastante para
nos enganarmos acreditando que podemos ser. Há
muitos traços animais presentes. Você pode ver algumas
das mudanças se olhar para nós, mas elas estão também
dentro de nossos corpos, em nosso DNA. Me preocupa
você ficar apavorada em saber o quanto dentro de mim
não é humano. – ele pausou – Muitos humanos ficariam
assustados se soubessem o que escondemos na
esperança de nos adaptarmos a eles. Queremos viver
juntos em paz, esperamos ser aceitos e ficarmos livres
dos grupos de ódio.
Ellie o examinou com curiosidade.
– Que tipo de traços animais você esconde?
Com certeza não é o rosnado. Ele faz isso com
frequência e talvez apenas para mim.
Ele hesitou.
– Apenas não sou completamente humano. Não
entrarei em detalhes. Mas somos muito diferentes do seu
povo. Não temos nem mesmo pais e, se tivéssemos,
nunca os conheceríamos. Aquelas gravações não foram
recuperadas, nos levando a acreditar que foram
destruídas. Nossas infâncias foram completamente
diferentes, tanto que temos pouquíssimo em comum.
– Como foi sua infância?
Ele cerrou a mandíbula.
– Lembro de ter medo e ficar trancado. Lembro da
escuridão que me apavorava e da dor em seguida. Eles
me amarravam e me davam injeções com aquelas merdas
de agulhas. Eu lembro – ele chiou – que a dor e o terror
eram minhas únicas companhias na infância.
Lágrimas encheram os olhos de Ellie. Ela levantou a
mão sem pensar e a colocou no braço dele.
– Sinto muito. – ela queria confortá-lo.
Ele fechou os olhos, respirou longa e profundamente,
e depois os abriu.
– Eles me modificaram. Lembro-me de como fiquei
chocado quando meus dentes de leite caíram e no lugar
havia dentes maiores e afiados. Eu não tinha um espelho,
mas podia sentir a diferença. Podia sentir meu rosto,
saber que não me parecia com os técnicos ou os
médicos. Quando atingi a puberdade, fiquei musculoso
porque eles me enchiam de drogas para alterar meu
corpo. Eu sabia que não estava bem, meu corpo estava
mudado, e eles me faziam ficar diferente com as drogas,
e não pararam de dá-las a mim.
– Sinto muito mesmo, Fury. – ela colocou as mãos
mais acima e depois abaixo, acariciando-o – Eles
estavam muito errados em fazer isso.
– Eu sei. É um pequeno conforto saber que algumas
pesquisas que eles fizeram criaram drogas para ajudar
humanos doentes, quando uma vida cheia de memórias
dolorosas me assombra. Agora há grupos de pessoas,
milhares delas, que querem que eu morra só porque me
jogaram no inferno quando eu era criança e me forçaram
a aguentar aquele pesadelo. Nós sofremos pelo benefício
dos humanos e para a Mercile ganhar dinheiro. – ele
limpou a garganta – Estou cansado de sempre me sentir
como se estivesse do lado de fora da vida, espiando-a.
De ser diferente. – ele falou num tom áspero – Eu sabia
que algo me fazia único, até onde me lembro. Eu olhava
para eles, sentia meus dentes e minha face, notava as
diferenças em meu corpo e, então, comecei a prestar
atenção ao que falavam. Aprendi a entender o que fora
feito conosco e o porquê. Eu me sentia muito sozinho e
só via humanos até… – ele fechou a boca.
– Não o culpo por odiar todo mundo da Mercile. Mas
não ajuda nenhum pouco saber que algo bom saiu disso?
– Não – ele rugiu suavemente – Talvez. Não sei. Odeio
o que foi feito com a gente.
– Eu também. O que você ia dizer sobre só ver
humanos até…? Você parou.
Os olhos negros dele se estreitaram, observaram-na, e
ele pigarreou.
– Até que eles levaram uma mulher à minha cela. Ela
era uma Nova Espécie e foi a primeira vez que vi alguém
parecido comigo. Eles queriam ver se podíamos procriar.
– ele olhou para a parede próxima ao rosto de Ellie, e
fixou os olhos ali – Eles nos forçaram a ficarmos juntos
algumas vezes, mas nunca funcionou. Não
conseguíamos procriar. – seu maxilar ficou tenso antes
de ele voltar os olhos a ela – Fico feliz. Não queríamos
que eles tivessem sucesso e levassem novas vidas para
aquele inferno.
Ellie mordeu o lábio e parou de mexer a mão.
– Ouvi algo sobre isso das mulheres – ela admitiu –
Não é justo o que fizeram com vocês. Eles estavam
errados e foram maus ao fazerem isso, Fury. Chamo
pessoas assim de imbecis sem um pingo de inteligência
ou compaixão.
Fury examinou seus olhos, olhando fundo neles.
– Você tem medo de mim, Ellie?
Ela hesitou.
– Tenho quando você está zangado mas, para ser
honesta, você me assustaria com ou sem DNA animal.
Você é grande.
Ele deixou o corpo inteiro cair, sua tensão começando
a se desfazer.
– Eu não quis machucá-la na minha cama, fazendo-a
sangrar.
Ela não esperava que ele fosse dizer aquilo. Ela soltou
o ar que havia tomado. Seu coração estava acelerado e
ela o forçou a se acalmar. Fury a observava em silêncio.
– Acredito em você.
– Acho que não teria te machucado se não fosse pelo
que fizeram comigo. Eu não teria dentes afiados.
Ellie não sabia o que dizer. Engoliu o nó que se
formara em sua garganta. A atração que sentia por Fury
era forte, ela admitia, sempre fora, desde o dia em que
colocara os olhos nele. Ela pensara muitas noites sobre o
que ele fizera com ela em sua cama, com sua mente
cheia de memórias eróticas enquanto sonhava. Tudo fora
fantástico até aquele momento em que ele se afastara
repentinamente dela e Justice chegara.
– Eu apenas agradeço ao seu Deus por não ter feito as
coisas que queria fazer com você.
O corpo todo de Ellie se esquentou de repente.
– O quê…? – ela precisou engolir seco. Sua voz havia
sumido – O que você queria fazer? – a pergunta saiu em
um sussurro.
Os olhos dele mostraram rapidamente uma emoção
que ela não conseguiu identificar com clareza.
– Eu realmente a teria assustado. Não somos
compatíveis sexualmente de todas as formas.
Ellie o fitou. Abriu a boca para perguntar o que ele
queria dizer com aquilo. Fury desencostou da parede e
virou as costas para ela. Ele saiu andando até que uns
bons metros os separassem.
– Seu quarto é na primeira porta à direita no fim do
corredor. Sinta-se em casa. Vou até o departamento de
segurança solicitar para que façam um passe temporário
para você e, no momento, você deve ficar aqui dentro.
Vou me certificar de que as coisas do seu carro estão a
caminho. Há bastante comida na cozinha se estiver com
fome. – ele saiu da casa com passos duros e bateu a
porta.
Ellie ficou encostada na parede por um bom tempo,
olhando para a porta pela qual ele havia desaparecido. O
que ele queria fazer comigo naquela noite? Ela fechou
os olhos, abraçando o corpo. E por que de repente eu
quero tanto, tanto saber? Droga!
Fury deixou a casa antes de agir como um tolo
completo e agarrar Ellie, afundar o nariz no pescoço dela
e inalar aquele perfume maravilhoso. A vontade de pegá-
la, colocar os braços em volta dela e ficar com ela no
colo era tão forte, que chegava a doer.
Ele se arrependia de ter dito que não eram sexualmente
compatíveis. Dissera apenas para chocá-la. Ela estava
perto demais, eles estavam sozinhos, e ele queria fazer
um monte de coisas. Foi preciso dar passos rápidos para
distanciá-los.
Ele procurou se focar em sua raiva. Ela poderia ter
sido sequestrada, levada apenas por ter uma ligação com
as Novas Espécies, e aquilo o deixava furioso. Ela se
importava com o povo dele, arriscara a vida para salvar
sua espécie, primeiro trabalhando disfarçada no centro
de testes, depois protegendo as mulheres quando o
alojamento foi invadido. Ela ficara sozinha para encarar
aqueles invasores violentos e ativar as portas de aço para
manter as mulheres a salvo.
Aquela fora a primeira coisa que ele mandara mudar.
Os humanos tinham ferrado aquele projeto ao não
colocarem paredes reforçadas para fechar o primeiro
andar e os demais. Além disso, o painel principal de
controle devia ter sido instalado onde ela também teria
ficado protegida.
Os olhos dela o perseguiam, tão azuis e lindos, ele
podia olhar neles o dia todo e nunca se cansar. Seus
dedos doíam do desejo de tocar sua pele macia e pálida,
e correr por seus cachos sedosos e loiros. Sua voz era
doce como mel para ele, suave e levemente rouca. Se ele
soubesse que podia lidar com o desejo de tocá-la, teria
ficado e interrogado-a sobre mais informações pessoais.
Precisava saber tudo sobre ela, mas o desejo de ficar
mais perto se tornara forte demais.
Agora que ela havia retornado e viveria sob seu teto,
ele não deixaria que ela fosse embora.
Fury podia ficar com ela e cuidar de seu povo ao
mesmo tempo. Ele não desapontaria Justice por não
fazer seu trabalho, mas Ellie estaria lá quando ele
voltasse para casa. Um pequeno sorriso curvou seus
lábios.
Ela estava dentro da casa dele. Fury aumentou a
velocidade. Quanto mais rápido fizesse tudo o que
precisava, mais rápido poderia vê-la de novo. Ele só
precisava ir com calma e evitar que ela se assustasse e
fosse embora. Ele podia ser paciente. Não era sua
melhor característica, mas ele a aprenderia por ela.
CAPÍTULO DEZ
Ellie sorriu para Breeze.
– Estou tão feliz que tenha vindo me visitar. Senti
muita falta de todas vocês. Eu queria visitar o
alojamento, mas Fury me disse que não era uma boa
ideia. – ela olhou em volta da sala – Estou meio que
presa aqui dentro. – sua atenção voltou para Breeze –
Você está me salvando de enlouquecer por ficar
trancada. Estou aqui há três dias e Fury se recusa a me
deixar sair.
Breeze sorriu de volta.
– Pense em como foi difícil convencê-lo a me deixar
vê-la. Queria trazer mais mulheres comigo, mas ele se
recusou a dar permissão para mais gente vir. – ela
estudou Ellie e inclinou a cabeça – Ele deve estar mesmo
preocupado com sua segurança.
Ellie deu de ombros.
– Por quê? Aqueles idiotas loucos segurando cartazes
do lado de fora não podem me ferir, enquanto eu estiver
segura dentro de Homeland.
Um olhar estranho passou pelo rosto de Breeze, mas
Ellie o entendeu. Ela se sentou de volta no sofá e cruzou
os braços.
– O que não estou sabendo?
Breeze hesitou.
– Há rumores.
– De que tipo?
– Sei que não é verdade. Não sinto o cheiro de Fury
vindo de você, a não ser aquele perfume leve e
persistente que fica quando moramos na mesma casa de
alguém. É que desde que ele a trouxe para a casa dele,
algumas pessoas acham que vocês estão acasalando.
– Acasalando? – as sobrancelhas de Ellie pularam –
Você quer dizer que os fofoqueiros acham que estamos
transando?
Um risinho escapou de Breeze.
– Sim. Esse é o termo. Transando.
– Mas não estamos. Quer dizer, nós conversamos, e
depois ele me evita como se eu fosse uma praga.
– Uma praga? Isso é algum membro de um grupo
religioso fanático?
Ellie deu risada.
– É uma doença mortal.
– Ah… – Breeze deu um sorrisinho – Ainda estamos
aprendendo o português ao qual não fomos expostos no
centro de testes. Eu ainda não tinha ouvido essa palavra.
– o sorriso de Breeze se desfez – Há uma… fofoca… de
que você e Fury estão acasalando. Transando – ela
corrigiu – Nem todos estão felizes com isso. Houve
alguns problemas sobre isso com os humanos que
trabalham em Homeland. Acho que Fury teme por você.
– Ele ouviu essa merda sobre nós por aí?
Breeze fez que sim com a cabeça,
– Todos ouviram. – seu olhar moveu-se rapidamente
pela sala e pousou na TV – Sua televisão está quebrada?
– Televisão? – Ellie engasgou – Está no noticiário?
– Sim. Alguns dos funcionários devem ter ouvido e
contaram para alguns… Como vocês os chamam?
Urubus da mídia? Eles não sabem os nomes de vocês,
mas há urubus da mídia dizendo que um Nova Espécie e
uma humana estão morando juntos.
Ai, merda! Os ombros de Ellie desmoronaram.
– Por isso que ele recusou a me deixar sair de casa,
quando mencionei sair de Homeland para ir procurar um
emprego. Quer dizer, por quanto tempo vou ficar
parasitando no quarto de hóspedes dele?
– Parasitando? O que significa essa palavra?
Ellie sorriu.
– É um termo usado para quando você mora com
alguém e usa de graça as coisas pelas quais ela precisa
trabalhar para ter. Não é uma coisa boa. Essa é difícil de
explicar. Acho que para descrevê-la posso dizer que sou
um peso para ele.
– Como? Ele já tinha um quarto para você ficar.
Ellie lutou com seu pensamento. Algumas palavras
eram difíceis de explicar.
– Sim, ele tinha, mas normalmente não se mora com
alguém a não ser que vocês sejam um casal, então é
aceitável que dividam a comida e uma casa. Se não são,
os dois devem trabalhar, algo parecido com uma
parceria, serem iguais. Não sou a namorada ou a esposa
dele. Ele me dá casa e comida, enquanto eu não lhe dou
nada em troca. Sou uma parasita.
– Acho que entendo. – Breeze sorriu – E você não é
uma parasita. Ele não sabe o que é isso, portanto você
não pode ser o que ele não sabe que existe.
Ellie gargalhou.
– Acho que você me pegou.
– Você devia transar com ele, e aí vai se sentir melhor.
Você vai dar a ele algo em troca para evitar ser uma
parasita.
Ellie ficou feliz por não ter dado um gole no
refrigerante que segurava, pois teria se engasgado. Ela
olhou boquiaberta para Breeze.
– Ahn, você não devia transar com alguém a não ser
que esteja em um relacionamento e tenha um carinho
especial por ele. Se você transa com alguém por comida,
dinheiro ou para ter onde ficar, isso se chama
prostituição. Isso é ruim.
– Seu mundo é complicado demais.
– É. – Ellie concordou, dando um gole no refrigerante
– É mesmo.
– Mesmo assim você devia transar com ele. Ele gosta
de você e acho que você gosta dele. Ele é bem macho e
tem bastante sex appeal. Todos nós achamos que
devemos transar se nos sentimos mutuamente atraídos.
Tivemos reuniões sobre isso.
Ellie pousou a bebida.
– Vocês tiveram reuniões sobre sexo?
– Claro. Antes não tínhamos escolhas. Tínhamos que
transar com quem nos forçavam. Nós fazemos todos os
tipos de reunião em que discutimos coisas. Transar foi
um desses temas. Podemos transar com qualquer um
com quem desejamos transar, se a pessoa quiser
também.
Ellie esfregou a boca com a mão, tentando esconder
um sorriso.
– Isso também é aceitável.
– Foi o que pensamos. Nós até mesmo discutimos
sobre transar com você depois que os boatos
começaram.
– Fury e eu fomos o assunto de uma reunião? –
chocada, Ellie sabia que o volume de sua voz havia
aumentado. Um rubor esquentou suas bochechas. A ONE
discutiu sobre eu e Fury fazermos sexo? Deus do céu! –
Não exatamente você e Fury, mas falou-se sobre transar
com seu povo e com o nosso.
– Ah. – ela relaxou enquanto o alívio a percorria.
Graças a Deus – Como foi?
Breeze deu de ombros.
– Não sabemos se vai funcionar. Vimos seu povo
transando em DVDs e fazemos diferente.
Ellie tentou não rir. Ela precisou arrumar as feições
para esconder seu divertimento.
– Vocês assistiram pornôs? É isso que você está
dizendo? Pornôs são vídeos do meu povo fazendo sexo.
– Sim. – Breeze sorriu – Assistimos a isso.
– Ahn… – Ellie olhou para Breeze – Esses vídeos são
meio… – ela não sabia o que dizer – Bem, eles não, bem,
não são muito… – ela suspirou – Eu não faço sexo
daquele jeito.
– Não? O que é diferente?
Por onde eu começo? Isso pode ser constrangedor,
mas estou aqui para ajudar essas mulheres. Ellie tirou os
sapatos para cruzar as pernas no sofá.
– O jeito que eles conversam durante as preliminares.
Eu nunca falo daquele jeito, e se um homem falasse
comigo da maneira que falam naqueles filmes, eu
provavelmente ficaria bem magoada.
– Chamar as mulheres com palavrões ofensivos e
exigir delas ações sexuais, mesmo que não pareçam
prazerosas a elas?
– Sim. Exatamente.
– Achamos aquilo meio chocante. Alguns acham
completamente rude.
– É, bem, se um cara dissesse algumas daquelas falas
do filme para uma mulher na vida real, bem, ele
provavelmente acabaria levando um tapa na cara, ou
coisa pior.
– Entendi. O que mais é diferente?
Ellie balançou os ombros.
– Não sei o que vocês viram. Pra começar, a maioria
das pessoas não faz sexo com vários parceiros. No
geral, somos monogâmicos.
– Então, não preciso convidar uma amiga mulher para
a cama se eu quiser transar com um homem totalmente
humano, ou dormir com dois deles ao mesmo tempo? Eu
tinha decidido nunca tocar num humano por causa disso.
Não somos bons em partilhar, e acho que um homem
deveria ser capaz de conseguir dar prazer a uma mulher
sem precisar da ajuda de um amigo.
– Não! – Ellie levantou o queixo, que havia caído –
Parem de assistir àquilo. Assistam a histórias de amor.
Filmes pornôs são… bem, eles só… – ela xingou
baixinho – Diga a eles para pararem de assisti-los e
esquecerem o que viram. Por favor. Aqueles atores e
atrizes são pagos para fazerem sexo no filme. Eles
seguem um roteiro que alguém escreveu. Entende? Eles
são feitos para entretenimento, mas não para serem guias
de como fazer sexo, a não ser que você queira ver como
algo é feito sem realmente fazê-lo.
– Ok.
– Qual é a sua versão de sexo? Talvez possamos
começar por aí. Pode ser a mesma coisa.
– Bem, nós gostamos de beijos. Adoramos beijar. Isso
é novo para nós, mas pegamos isso depois de sermos
libertados. Adoramos nos tocar. Dizemos palavras
delicadas, atraentes, e rosnamos para mostrar nosso
nível de excitação. Tudo bem com isso?
– Perfeito – Ellie admitiu. O rosnado… Ela deixou a
conversa seguir.
– Lutamos por dominância e quem for mais forte pode
decidir a posição para fazermos sexo. Normalmente o
homem ganha, a não ser que esteja cansado ou fraco por
causa de ferimentos.
– Ahn… – a mente de Ellie se esvaziou com aquela
novidade chocante.
Breeze parou de falar.
– Isso é diferente de vocês?
– Explique “lutar por dominância”.
Ela piscou.
– É exatamente o que parece ser.
– Como uma luta?
Ela fez que sim com a cabeça.
– Bem parecido.
Ellie deu de ombros.
– Não teria problema, mas normalmente não gostamos
de dor durante o sexo. Você sabe disso, certo?
– Ok. Vou compartilhar isso. Então nada de luta?
– Eu pularia essa parte. Tenho certeza de que algumas
pessoas gostariam disso, mas não é algo que você
consideraria como normal de se fazer, em geral.
– Então quem decide a posição?
Ela abriu a boca e depois a fechou. É mesmo. Quem?
Ellie sorriu.
– Nós conversamos e tentamos concordar
mutuamente sobre isso. Às vezes misturamos tudo.
– Misturam tudo? Explique.
Ellie hesitou.
– Bem, vamos dizer que estou por cima, montada em
um homem, e depois de um tempo ele poderia me virar
para ficar por cima de mim. Misturando. Está claro o
bastante assim?
Breeze fez que sim.
– Sim. Não fazemos isso. Ficamos em uma posição e
a mantemos até o final. – ela hesitou – Por que você
ficaria por cima? Que homem ficaria deitado para isso?
O orgulho dele não fica ferido por ser dominado desse
jeito?
Ellie soube que seus olhos se arregalavam.
– É… – Droga. Fico muito feliz por não ter filhos se
esse é o tipo de discussão que eu teria que encarar. Ela
estava sem palavras de novo, mas Breeze esperava por
uma resposta – Para nós, isso não tem a ver com
dominância. Tem a ver com prazer. Você já ficou por
cima durante o sexo?
Breeze pareceu horrorizada com a pergunta.
– Não. Eu me recusava a montar em um homem
quando ele estava amarrado e indefeso. Mesmo quando
os técnicos ameaçavam me castigar, eu não fazia isso.
Eu preferia apanhar do que ferir o orgulho de um macho.
– Ai, cara. Humanos não pensam assim. Eles
adorariam que uma mulher fizesse isso.
– Ah. Nossos homens, não, eles ficariam muito
bravos. Fury se sentiria ofendido só de você pedir para
ele ficar debaixo de você, submisso. Nossos homens são
dominadores.
Ela não tinha o que dizer. Ellie apenas balançou a
cabeça.
– Eu não pediria isso a ele – ela finalmente deixou sair.
– Que bom. Ele ficaria bem ofendido. Nossos homens
preferem morrer a serem submissos. É por isso que, no
centro de testes, eu apanharia antes de fazer o que eles
queriam quando amarravam um de nossos homens.
Uma imagem de Fury preso ao chão enquanto Jacob o
machucava passou rapidamente pela memória de Ellie.
Ela jamais esqueceria aquela visão ou o pavor que sentiu
ao saber em que tipo de pesadelo infernal ela entrara.
Meu Deus, ela pensou, abraçando o peito firme, com
dois braços.
– Ellie? Você está com frio?
– Estou bem. Então, que posições você gosta para o
sexo?
– Gostamos de ficar de frente para os homens para
manter contato visual, mas nossos homens preferem nos
pegar por trás. É por isso que lutamos. – ela hesitou –
Fico bem chocada por Fury ter ficado cara a cara com
você. Ele devia estar com pressa, senão a teria soltado
para montar em você por trás. É isso que nossos
homens fazem.
Uma imagem daquilo correu pela mente de Ellie. Fury
nu, aprisionando-a sob seu corpo grande e sexy, e talvez
com seu braço em volta da cintura dela ao entrar nela
por trás. Montando. Uau. Ela mordeu o lábio.
– E se uma mulher não quiser ser montada?
– Nossos homens não nos tocam a não ser que
tenhamos vontade de transar com eles.
– O que eu quis dizer foi: o que acontece se vocês
quiserem fazer sexo, mas não nessa posição?
Breeze deu um sorriso largo, revelando dentes afiados.
– Melhor sexo possível.
Ellie não perguntou, apenas balançou a cabeça.
– Bem, isso clareou um pouco as coisas, não?
Breeze concordou.
– Sim. Vou compartilhar essas informações na
próxima reunião. Obrigada, Ellie. Você me contou muitas
coisas que vou passar adiante.
– Você poderia deixar meu nome fora disso?
Breeze deu risada.
– Sim, eu entendo. Seu rosto está vermelho. Você tem
vergonha do seu sexo. – Breeze se levantou – Preciso ir.
A nova governanta – ela cuspiu essa palavra como se
fosse uma ofensa – exigiu que estejamos lá para ter aulas
quatro vezes ao dia. Ela é uma idiota.
– Sinto muito.
– Se ela não ganhar nossa simpatia em breve, e posso
dizer que não ganhará, irá embora. Temos uma reunião
daqui a uns dias sobre ela. – Breeze sorriu – Nós temos a
palavra final sobre se ela fica ou não, e podemos colocar
outra no lugar dela se não estiver dando certo.
Ellie acompanhou Breeze até a porta de entrada e
abraçou aquela mulher mais alta. Breeze ria ao ir embora.
Ellie suspirou alto quando ficou sozinha. Boatos estavam
sendo espalhados sobre um casal dormindo junto.
Droga. Se dessem o nome de Ellie para a imprensa, ela
jamais poderia deixar Homeland sem medo de que algum
imbecil a incomodasse, ou pior, a tornasse alvo de
violência.
Ela foi para a cozinha depois de olhar rapidamente
para o relógio. Notara que Fury costumava ir para casa
trocar o uniforme por volta das seis da tarde. Ele
colocava roupas confortáveis, fazia a ela perguntas sobre
seu dia e desaparecia pela porta o mais rápido possível.
Ela não fazia ideia de onde ele passava a noite depois.
Simplesmente não ficava em casa com ela. Ela abriu a
geladeira para pegar o pacote de peito de frango que
descongelara. Cantarolava baixinho enquanto começava a
cozinhar.
O cheiro de comida fez o estômago de Fury roncar,
enquanto ele se aproximava da porta. Ele perdia o almoço
quando as reuniões duravam muito tempo. Ellie sabia
cozinhar, obviamente, e ele seguiu o cheiro provocante
até a pequena sala de jantar, onde encontrou um belo
jantar para dois posto na mesa. Ele se virou e congelou
na frente do arco enquanto ela saía da cozinha.
Ele quis gemer ao ver o sorriso dela direcionado a ele.
Ela parecia genuinamente feliz em vê-lo. Sua fome por
comida instantaneamente se transformou em desejo de
tocá-la. O cheiro dela o tentava mais que o cheiro da
comida, despertava seu lado animal, e a necessidade de
pegá-la nos braços quase o dominou, enfraquecendo sua
determinação em resistir. A luxúria rugiu com vida por
todo seu corpo.
Todo sorriso que ela dava derretia seu coração, e toda
palavra que dizia o fascinava. Na noite anterior, ela se
sentara com ele no sofá, a apenas alguns centímetros, e
ele lhe fizera perguntas sobre sua família. A expressão
triste em seu rosto o deixou feliz por não ter pais pela
primeira vez na vida.
Ela contara sobre o divórcio amargo dos pais e como
ela ficou no meio, com apenas dez anos. Ele já não
gostava dos pais dela e jamais os conheceria. Ele não
queria Ellie por perto deles depois de ela dizer que
tentavam repetidamente convencê-la a se reconciliar com
o ex-marido.
Se algum dia ele conhecesse Jeff, bateria naquele
humano estúpido. Ellie evitava o olhar dele quando ele
fez perguntas sobre seu casamento. A ideia de outro
homem tocando nela quase o deixara furioso, mas ele se
manteve calmo. A conversa permanecera em seus
pensamentos.

– Por quanto tempo ficou com ele?


– Não importa. Cometemos um erro ao nos casarmos.
Ele tinha casos e eu não sabia.
– Casos? – Fury franziu a testa, sem entender – Ele ia
a eventos? De que tipo?
Um sorriso se espalhou pelos lindos e tentadores
lábios, quando ela se virou para encará-lo no sofá.
– O evento a que ele ia era passar tempo com outras
mulheres. – o sorriso dela se esvaeceu e a raiva cintilou,
mudando seus olhos para um azul mais escuro – Ele
disse que era minha culpa quando descobri que me traía
com outras mulheres. – ela levantou o queixo,
mostrando o traço teimoso que ele admirava – Que
merda. Eu podia estar acima do peso, mas ele também
não era magro.
O olhar de Fury passeou lentamente pelo corpo dela,
observando cada pedacinho que ele achava deleitoso.
– Você não está acima do peso. Acho suas curvas
perfeitas.
Ela esticou a mão para colocá-la sobre a dele,
recompensando-o com um sorriso.
– Obrigada. Eu perdi peso.
– Mesmo se você ganhasse peso, eu a acharia
perfeita.
Ela o fitou por um longo momento, e ele se perguntou
se dissera algo de errado. Ela era a Ellie. Ele a queria
independentemente de seu tamanho. Na verdade, ele
desejava que ela fosse maior. Talvez se eu colocar mais
comida na casa, ela consiga ganhar de volta o peso que
perdeu, ele pensou. Ela era muito pequena, em sua
opinião, e ele sempre se preocupava que pudesse
machucá-la de novo acidentalmente, se ela permitisse
que ele a tocasse de novo.
– Sei que você não quer dizer exatamente isso, mas
foi ótimo ouvir.
– Quero sim. – ele rosnou suavemente, levemente
ofendido por ela ter questionado sua palavra. Os olhos
dela se arregalaram como reação. Ele limpou a garganta
– Eu não minto.
– Há mentiras e há coisas que dizemos para sermos
educados.
Ele riu.
– Você ainda não aprendeu que não digo coisas apenas
para acalmar alguém?
Sua linda Ellie riu com ele.
– Isso é bem verdade. Você é duro. Todas as Novas
Espécies são.
– Isso é ruim?
Ela balançou a cabeça.
– Não, é uma qualidade maravilhosa.
– Fico feliz. Então, ele passava tempo com outras
mulheres?
– Ele fazia sexo com elas.
O choque percorreu Fury.
– Por quê? O que há de errado com ele? Ele tinha
você e não precisava de mais ninguém.
Pequenos dedos delicados passaram em volta da curva
das costas de sua mão.
– Acredito que você queira mesmo dizer isso.
Obrigada, Fury.
– Não gosto do seu ex-marido. – ele rosnou – Vou
fazê-lo mudar de ideia rapidinho, se algum dia ele vier
aqui e tentar fazer com que você se case de novo com
ele. Não me importaria de usar meus punhos algumas
vezes para ter certeza de que ele a deixaria em paz.
Ele instantaneamente se preocupou sobre se sua
ameaça ao homem com quem ela fora casada a
magoaria, mas ele não censurara os pensamentos antes
de saírem de sua boca. Pelo contrário, ela reagiu com
uma gargalhada.
– Você me chama antes se ele aparecer aqui? Quero
ver você socá-lo. – Ellie então o soltou, se pôs em pé e
lhe um sorriso caloroso – Boa noite, Fury. Tenha bons
sonhos.
O quadril dela balançou quando ela saiu da sala, e ele
esperou até ouvir a porta do quarto dela fechar antes de
liberar um gemido reprimido e frustrado. Ficara mais
difícil para ele resistir aos impulsos de levá-la para a
cama dele em vez de deixá-la ir sozinha a dela. Ele não
queria deixá-la com medo. Ela precisava de tempo para
entender que ele nunca a machucaria de jeito nenhum, e
tinha certeza de que conseguiria tal feito antes de tentar
levá-la novamente para a cama.
Ele sentia o cheiro do desejo nela, o que lhe dava
esperanças de que a memória deles juntos permanecia na
mente dela do jeito que permanecia na dele. Ele queria
levá-la de volta para seu quarto, deitá-la nua sobre seus
lençóis e tocar cada milímetro de sua pele. Ele só
precisava de um sinal quando ela chegasse ao ponto de
querer que o relacionamento deles fosse mais longe…

Ele trouxe os pensamentos de volta para o presente,


quando ela colocou mais comida na mesa. Seus dedos
coçavam com vontade de tocá-la. Ele inalou quando ela
se aproximou e precisou segurar o corpo para não se
mexer, ou acabaria com a distância e faria exatamente
aquilo.
Apenas me dê uma dica de que está pronta, ele
implorou silenciosamente. Ele conversara com alguns
seguranças humanos com quem fizera amizade. Eles lhe
disseram que algumas mulheres precisavam que o
homem desse o primeiro passo. Algumas gostavam de
um macho forte que ficasse no comando, e se Ellie fosse
assim, Fury seria esse homem para ela.
Ele olhou para os dois pratos cheios, pensando que
preparar uma refeição para eles dois pudesse ser seu jeito
sutil de indicar que poderia estar pronta para
aprofundarem a relação. Claro, ele havia dado permissão
a Breeze para visitá-la. Talvez o segundo prato de comida
não fosse para ele. Ele tentou não ficar esperançoso. Se
ela planejasse dividir o jantar com ele, ele entenderia
como um sinal.
Se ele conseguisse levar Ellie para a cama, talvez
conseguisse seduzi-la a ficar lá. As mulheres da Nova
Espécie eram de forte determinação, preferindo manter
os homens a uma certa distância a não ser durante o
sexo. Ele precisava encontrar uma forma de desarmar as
defesas de Ellie e tentar algo mais, algo mais profundo
do que apenas sexo. Ele mostraria a ela que tudo podia
ser ótimo entre eles, e poderiam ter aquilo fora da cama
também.
CAPÍTULO ONZE
Fury estudou a mesa.
– Isso é para mim?
Ellie sorriu.
– Sim. Juro que sou uma boa cozinheira, é seguro
comer.
O olhar escuro dele se fixou nela.
– Isso foi legal. Qual é o motivo?
– Não tem motivo. Eu só queria fazer uma coisa legal
para você. Adoro cozinhar. Ontem, entregaram as
compras, eu cozinhei ontem à noite, mas você voltou
tarde. Hoje, chegou na hora.
Ele a estudou mais de perto.
– Você quis fazer algo legal para mim?
– Sim.
– Por quê?
– Eu queria fazer algo especial para você. Você me
trouxe para sua casa e eu…
Fury se moveu tão repentinamente que Ellie não teve
tempo de reagir antes de ele a agarrar. Braços fortes a
levantaram até o colo dele e a carregaram em direção ao
corredor antes de ela perceber para onde estavam indo.
– Fury? – A inquietação a agitava e ela se agarrou a
ele.
Ele entrou no quarto e a colocou em sua cama com
delicadeza. Ellie o olhava pasma enquanto ele pegava na
parte da frente da camisa e a arrancava. Botões voaram.
Ela desceu seu olhar chocado até o peitoral nu dele. A
pele bronzeada e musculosa era iluminada pela luz fraca
do sol poente que entrava através das cortinas finas das
janelas.
– O que está fazendo? – a voz dela estava trêmula.
Ele pôs as mãos no cinto enquanto tirava as botas
com o auxílio dos próprios pés.
– Dessa vez não vou machucá-la, já sei como fazer.
Fury deu um puxão na frente da calça para abri-la e
jogou o cinto que arrancara do passante. O som do
objeto caindo no carpete desviou a atenção dela daquele
abdominal definido e da cueca preta e sexy, que aparecia
pela abertura da calça que abraçava uma cintura definida.
Os olhos dela se dirigiram aos dele, viram-no se curvar
para abaixar a calça e o coração dela disparou. Com um
puxão, Fury terminou de tirar a roupa e se ergueu
novamente na frente de Ellie, vestindo apenas a cueca.
Ela baixou o olhar para ver aquilo, mas de repente ele
investiu.
Ellie arfou de novo quando ele se abaixou sobre ela,
pegou os dois lados de sua camisa com as mãos e
rasgou. O ar se encontrou com a pele. A surpresa a
mantinha imóvel enquanto ela o fitava nos olhos. Ele
rosnou suavemente, enquanto seus olhos absorviam a
visão do que ele desnudara: a barriga e o sutiã dela.
– Fury?
Ele rasgou ainda mais a camisa dela e depois soltou-a
para agarrar a saia. Ele não perdeu tempo puxando-a
para baixo; pegou no cós, seus bíceps cresceram, e mais
tecido se rasgou. Ele o retalhou até embaixo para abri-lo
completamente. Ellie não conseguia se mexer, nem
mesmo respirava, até que ela arfou quando os dedos dele
deslizaram para dentro de sua calcinha. As costas da
mão dele se faziam sentir quentes em seu abdômen. Um
belo puxão, e então ele jogou o tecido sedoso por cima
do ombro.
– Fury! – ela tentou rolar para longe dele. Ele quase a
despira completamente, só o sutiã dela sobrara – O
quê…
As mãos dele agarraram o quadril dela e a jogaram de
costas na cama. Ele se ajoelhou próximo à cama, com o
corpo entre as coxas dela, e a puxou em sua direção.
– Não vou machucá-la dessa vez, vou tomar mais
cuidado com meus dentes.
– Pare – disse Ellie ofegante. Seu coração martelava,
mas ela não estava com medo, apenas chocada e
confusa. Sua respiração estava como a de alguém que
acabara de correr um quilômetro.
O olhar negro dele se prendeu no dela.
– Você gostou dessa parte – suas palmas ásperas
acariciavam a parte de dentro das coxas dela, as
afastaram mais, e ele lambeu os lábios – Eu dei prazer a
você com a minha boca.
Ela engoliu com dificuldade. Os olhos dele se dirigiram
às suas mãos, que mantinham as coxas dela afastadas
com firmeza. Ellie se lembrou. Ela se arrepiou. Sim, ela
adorara a primeira parte na última vez, depois de passado
o choque do que ele estava fazendo com ela. A tentação
a tomou, mas ela tentou ser razoável.
– Me solte. Não podemos fazer isso de novo.
Os olhos dele se levantaram e se estreitaram sobre ela.
– Por que não? Eu desejo o seu gosto, os sons que
você faz enquanto minha língua provoca seu clitóris e ele
incha de prazer.
Ela olhou nos olhos deles. É, Ellie, ela se perguntou,
por que não? Sua barriga tremia. Ela não queria pensar
de que outros jeitos seu corpo reagia ao que ele queria
fazer, mas imaginou que ele não teria que persuadi-la
com a boca para deixá-la molhada. Isso acontecia apenas
ao olhá-lo. Ela abriu a boca.
– Ahn… – sua mente se esvaziou.
– Não vou machucá-la. Dou minha palavra. Vou fazê-
la gritar, mas não será de dor.
Ela mordeu o lábio com força. Fury a excitava, ela não
podia negar. Só de ele estar tão perto de repetir o que
fizera da última vez, deixara sua barriga tensa e uma dor
começou logo acima de onde as mãos dele brincavam
em suas coxas. Seus mamilos se enrugaram.
– Eu sei que você me quer, querida.
Ela adorava quando ele usava nomes carinhosos com
aquele tom suave de rosnado.
– Você espera que eu queira – ela corrigiu.
Ele mostrou os dentes.
– Olfato. Sei que você me quer. Seu perfume é tão
doce quando você fica excitada… Quero lambê-la e me
deliciar no seu desejo. Faz dias que você me tortura.
Ela sabia que a cor tinha sumido do seu rosto. Olhar
para ele e estar tão perto sempre a afetara, mas ela
achava que ele não tinha noção disso.
– Isso é verdade?
Ele rosnou.
– Sim. Tenho convivido com isso me provocando. Só
estive esperando você parar de esconder e me dar um
sinal de que estava pronta para ficar comigo.
– Mas…
– Não vou ter um caso com outra. Não sou o macho
idiota que você escolheu mal para dar a honra de estar
com você.
Ellie sorriu, se divertindo apesar do momento tenso.
– “Escolheu mal” é pouco.
Ele deu de ombros.
– Você é a única que quero ou de que preciso, Ellie.
Dou minha palavra, não vou tocar em nenhuma outra
mulher. Você é a mulher para mim. Isso não é algo de
momento.
A sinceridade brilhou em seu olhar intenso. Ellie
hesitou e então fez que sim com a cabeça.
– Eu quero você, Fury. Quero você desde o dia em
que o vi pela primeira vez, isso nunca mudou. É que as
coisas entre nós são tão complicadas…
– Só é complicado se você deixar ser. – um lampejo
de determinação brilhou em seus olhos escuros – Apenas
sinta. – suas mãos soltaram as coxas dela e se moveram
para o quadril.
Ele rosnou de novo, suavemente, enquanto puxava a
bunda dela para a beirada da cama. Ellie arfou quando ele
deixou a mão escorregar de seu quadril de volta para
suas coxas. Ele as afastou bem. Sua cabeça se abaixou
e, no segundo seguinte, ele a lambeu. Sua língua quente
e molhada foi direto para o clitóris dela. Ela ficou tensa
enquanto pegava na colcha. Seus dedos agarraram o
tecido.
Ele rosnou de novo ao pressionar a boca com mais
força contra a boceta dela. Ele lambia aquele ponto
sensível com rapidez, quase num frenesi. O prazer se
lançou diretamente ao cérebro dela e a fez abrir mais as
pernas para dar a ele um melhor acesso.
– Caramba – ela ofegava. – Você parece um vibrador
com língua.
Ele deu um risadinha e então rosnou mais alto contra
ela, prolongando as vibrações enquanto sua língua
aplicava pressão e corria ao longo do sensível monte de
nervos. Ele provocava sem dó. Ela gemia e sacodia a
cabeça. Fury moveu as pernas dela para se engancharem
frouxamente em volta de seus ombros e, em seguida,
mudou de posição, tirando os joelhos do chão e pairando
sobre a boceta dela, empurrando os joelhos dela mais
alto, segurando-a totalmente aberta.
Ellie se preocupava achando que ele a mataria de
prazer puro. Ela não conseguia aguentar as sensações
intensas que ele criava, eram fortes demais para resistir.
Aquele homem sabia tão bem como acionar seu botão de
“ligar”, que ela achava que nada poderia desligá-la. Ela
sabia que seus dedos rasgavam a colcha, com suas
unhas se enterrando no tecido. Precisou reunir todas as
forças que tinha para não se agarrar a ele, com medo de
arranhar sua pele.
– Fury! – ela gritou. Seu corpo espasmava sob a boca
dele, enquanto o êxtase percorria seu corpo com ondas
atrás de ondas. O clímax a atingiu tão fortemente, que
ela gritou de novo.
Fury a soltou com a boca. Ele esfregou a bochecha na
parte interna de suas coxas enquanto afastava o rosto do
meio das pernas e as tirava dos ombros para colocar
seus calcanhares na cama.
Ela ficou deitada ali, ofegante, enquanto tentava reunir
de volta os pensamentos, mas não conseguia. Ele a fizera
se sentir como se sua mente tivesse sido feita em
pedaços. A cama se mexeu. Os olhos dela se abriram e
viram Fury subindo pela beirada da cama para se
agachar sobre ela, se apoiando nas mãos e nos joelhos.
Quando ficaram cara a cara, ele parou e ficou pairando
sobre ela. Seus olhares se encontraram.
– Desta vez não vou perder o controle e vou garantir
que não sangre com meus beijos. Vá mais para cima.
A atenção dela passeou por aquele peitoral belamente
esculpido enquanto ela se mexia para chegar ao meio da
grande cama, como ele havia instruído. Ele ainda estava
de cueca, mas não conseguia esconder a prova do quão
excitado ficara. Ela esticou o braço até a grossa ereção
que formava uma barraca com o tecido. Ela sentiu o
algodão macio em sua palma quando a deslizou pela dura
extensão de seu pau preso, e então sua mão se fechou
delicadamente, se curvando em volta da largura do
membro.
As lembranças da última vez que ela o vira nu foram
instantâneas. Ele não era uma aberração de tão grande
mas, com certeza, era impressionante, e dera a ela muito
prazer com seu tamanho. Os olhos dela se dirigiram até
os dele enquanto ela engolia. Suas mãos empurraram a
cueca pelas coxas, e ele fez uma manobra para chutá-la
para longe.
– Você é maior que todos… – ela fechou os lábios ao
notar a raiva instantânea dele.
– Não quero saber sobre outros que a tenham tocado
– ele rosnou.
Ela balançou a cabeça. Podia dizer com sinceridade
que também não gostaria de ouvir sobre outras mulheres
com quem Fury estivera. Sua intenção fora elogiá-lo,
mas ele não era humano, não totalmente, e ela precisava
se lembrar daquilo. Ela lambeu os lábios secos. Ele
rosnou delicadamente.
– Vire-se para mim. Mãos e joelhos. Como eu.
Ela hesitou, mas rolou sob ele, ficando de bruços. Ele
a ajudou a jogar o que sobrara de sua saia destruída de
baixo dela e a tirar seu sutiã. Ela não queria nada entre
eles. Ele se agachou sobre ela. Uma das mãos dele
deslizou sob seu quadril para erguê-lo. Ela pôs as duas
mãos para baixo para apoiar o peso da parte de cima do
corpo. Tinha uma boa ideia de que ele queria montá-la.
Aquele termo era o adequado. Ela se lembrou de tudo o
que Breeze contara sobre os homens das Novas
Espécies. Ao posicionar as mãos e os joelhos, deixando
seu corpo pressionado contra o dele, ela notou a
temperatura quente do corpo de Fury. Ela inalou aquele
perfume suave e maravilhoso que ele carregava.
– Com medo? – a boca dele roçou na orelha dela. Fez
cócegas e ela se arrepiou em resposta, excitada demais
para rir. A voz dele se aprofundou em um tom bem sexy
– Não fique. Estou me matando para ser delicado com
você. Não é um jeito ruim de morrer.
Ela virou a cabeça para espiar aqueles incríveis olhos.
A boca dele se moveu na direção da boca dela, ficando a
apenas um respiro de distância. A vontade de beijá-lo
ficou mais forte. Ela empurrou as costas contra o
peitoral dele. Ele hesitou e depois se mexeu. Deixou que
ela se movesse lentamente contra ele, e ele ia para trás,
até que se sentou e ela se inclinou sobre o peito dele,
quase sentando em seu colo.
– Me beije – pediu ela delicadamente.
Uma das mãos dele se esticou na barriga dela. Ele a
abriu bem e escorregou a palma pelo local, e depois mais
para baixo, entre as coxas ligeiramente separadas. Seus
dedos provocaram o clitóris, esfregando-o, e ela gemeu.
A boca dela abriu e os lábios de Fury cobriram os dela.
Sua outra mão agarrou firme um dos seios. Suas línguas
se encontraram delicadamente e se entrelaçaram.
Ellie gemeu dentro de sua boca enquanto as pontas de
seus dedos traçavam a linha do sexo dela, provocando-a
quando seus dedos chegaram perto de entrar na boceta.
Ela se empurrou mais contra o corpo dele, ajustando o
quadril num pedido para que ele fizesse exatamente
aquilo. Fury rosnou dentro da boca dela como resposta.
Seus caninos deslizaram delicadamente pela língua dela,
mas Fury interrompeu o beijo. Ele respirou com mais
força quando seus olhares se encontraram.
– Estou prestes a perder o controle. – ele levantou o
quadril contra o dela. Ele estava tão duro, que sua ereção
roçava contra Ellie, no ponto em que seus dedos
traçavam a linhas dela. Ele rosnou mais fundo, de forma
quase selvagem – Estou fazendo certo, do jeito que você
quer?
Ela fez que sim com a cabeça.
– Eu acho você tão linda.
– Você também é – ela suspirou. Ela o considerava a
perfeição.
Ele rugiu, fazendo um som amedrontador.
Ela o olhou e o viu franzindo a testa.
– O que foi?
– Não sou lindo.
Ela sorriu.
– Eu acho que é. É uma coisa boa.
– Mulheres são lindas.
– Homens também, quando são como você.
Ele franziu o cenho mais ainda. Ellie sorriu.
– Falha de comunicação?
Ele suspirou suavemente.
– Positivo.
Ela deu uma risada suave.
– Você está rindo durante o sexo?
– Isso é ótimo. Estou me divertindo.
– Eu não. Quero tanto entrar em você, que até dói.
Ela mordeu os lábios para não rir de novo.
– Breeze e eu conversamos. Ela mencionou algo sobre
montar. – se apoiando nas mãos, ela se jogou para a
frente para se curvar na frente dele, e virou a cabeça
para lançar-lhe um olhar sexy por cima do ombro. Suas
pernas se abriram, suas costas se curvaram, e ela elevou
a bunda – É assim?
Em um segundo, ele se curvou sobre ela,
aprisionando-a em seus braços, e pressionou firmemente
o peito contra as costas dela.
– Sim.
– Vá em frente. – o olhar dela segurou o dele – Monte
em mim, Fury. Quero que monte.
– Vou ser delicado.
– Espero que sim, você é bem grande. Vá devagar
para que eu possa me ajustar a você.
Ele pôs a mão entre eles. Ellie fechou os olhos para se
concentrar na maravilhosa sensação da cabeça do pau
dele deslizando, provocando toda a extensão de suas
dobras escorregadias. Ele se esfregou no clitóris
inchado, arrancou um gemido dela e, então, pressionou
contra a entrada da boceta. Ela estava molhada e pronta
para ele, encharcada de desejo. Ele rosnou
profundamente, o que produziu um ruído em seu peito
enquanto começava a pressionar para dentro.
– Relaxe.
Ela engoliu.
– Estou relaxada.
O pau dele parecia ser bem grosso, e a lembrança da
primeira vez deles só confirmou.
Quando ele começou a invadir sua boceta, ela resistiu
à ponta larga, não querendo aceitar algo daquele
tamanho. Outro rosnado saiu da garganta de Fury. Ele
empurrou mais para dentro dela, fez o corpo dela se
alargar para se ajustar a ele, e Ellie lutou contra um
gemido à imediata satisfação que era tê-lo preenchendo a
dor ali. Ela temeu que, se fizesse algum som, ele pudesse
achar que era de dor. Fury parou e se afastou um pouco.
Empurrou de novo, foi mais fundo em sua boceta. Ele
gemeu.
– Fale comigo – pediu ele de repente, num tom
agitado.
Os olhos de Ellie se abriram rápido, ela virou a cabeça
e viu uma expressão dolorosa no rosto dele.
– O que quer que eu diga? Não consigo pensar
enquanto você faz isso. Não pare. É muito bom. Eu
consigo aguentar.
Ele mordeu o lábio.
– Me diga para não machucar você. Me diga para não
perder o controle e não entrar em você com tanta força e
tão fundo que irá fazê-la gritar. Você é tão apertada que
tenho medo de te rasgar ao meio se for muito bruto.
Quero foder você com força e rápido.
Aquilo surpreendeu Ellie.
– Isso é o que você quer fazer?
Ele rosnou.
– Sente-se.
O corpo inteiro dele ficou tenso.
– Por quê?
– Por favor.
Ele xingou e se afastou totalmente. Ellie se esticou
quando Fury caiu para se sentar sobre as pernas. Ele
segurou as coxas com tanta força, que suas juntas
ficaram brancas. Seus olhos estavam quase pretos e
cheios de um olhar de paixão frustrada.
Ellie relaxou de novo e passou os dedos em volta do
pau dele. Ele fechou os olhos, gemeu e seu grande porte
tremeu. Ela ficou impressionada com o fato de que
criava uma reação tão grande no corpo dele apenas com
seu toque. Ela se moveu para mais perto, posicionou o
quadril sobre o pau dele e curvou as pernas entre as dele,
de costas para ele, quase sentando em seu colo. Seus
olhares se prenderam quando ele abriu os olhos num
estalo.
– Consegue ficar bem parado?
– Se me matar – ele jurou.
– Não vá tão longe.
Ellie abaixou o quadril até que a cabeça do pau se
pressionou de novo contra sua entrada. Ela ficou se
mexendo até o pau deslizar para dentro de sua boceta
com menos resistência, porém ele ainda era grande
demais, e ela, muito apertada. A sensação era quase
dolorosa, mas prazerosa também. Ela se levantava e se
abaixava. Continuou fazendo aquilo e, a cada vez que
descia, o pau de Fury a preenchia mais. Barulhos suaves
vinham dele enquanto um brilho fino de suor irrompia
em sua pele, de tanto que lutava para controlar seu
enorme corpo.
Ele manteve as mãos presas nas coxas. Ellie gemia e
se movia contra ele um pouco mais rápido, se ajustava a
ele, até que se sentou totalmente em seu colo, com ele
inteiro dentro dela. A sensação era incrivelmente boa
com ele enfiado ali, sendo parte dela, e ela adorou o
sentimento de ligação que experimentava. Cada
centímetro duro dele dentro de sua boceta acariciava
seus nervos sensíveis.
– Ellie – ele grunhiu.
Ellie teve um momento de choque, quando Fury se
moveu repentinamente. Ele empurrou os dois para a
frente, até posicioná-la sob as mãos e os joelhos debaixo
dele. Ele ficou no controle, enfiando nela mais rápido, e
ela gemia toda vez que o quadril dele batia em sua bunda.
Ele era incrível, poderoso, e um êxtase puro florescia a
cada enfiada. Os lábios dele roçaram seus ombros com
um beijo. Ele levantou uma mão da cama, passou-a firme
em volta da cintura dela para segurá-la, e pareceu se
livrar do pouco controle que mantinha.
Gemidos se rasgavam de Ellie. Ele golpeava sua
bunda, se agitando contra ela com estocadas poderosas,
e seu pau parecia ficar maior. O corpo dela ficou tenso e
ela gritou o nome de Fury. O calor percorreu seu corpo
quando ela atingiu o clímax, e ela podia jurar que o sentia
ficando mais grosso dentro dela, até que a pressão se
tornou quase insuportável. O corpo de Fury ficou tenso,
curvando o dela sob ele, e um som que ela nunca tinha
ouvido encheu o cômodo enquanto Fury produzia um
barulho alto e animalesco, que parecia ser metade grito,
metade uivo. Ele ficou completamente em silêncio, mas
os dois estavam com a respiração pesada. A pressão
contra as paredes da vagina dela aliviou, mas ela podia
sentir o pau dele tremendo fundo em sua boceta,
pequenos tremores que a provocavam.
– Machuquei você? – ele ofegava – Dessa vez não
tentei mordê-la.
– Você definitivamente não me machucou – disse ela
com uma risadinha – Foi incrível.
Ele também riu enquanto forçava o corpo dela para
baixo, até deixá-lo de barriga para baixo. Seu pau
continuava dentro dela, seu peito e seu quadril ainda
estavam pressionados contra as costas dela, e suas
pernas repousavam uma de cada lado dela. Ele usou os
braços para envolver o peito e impedir que seu peso a
esmagasse.
– Ahn… Fury?
Ele roçou um beijo delicado no rosto dela.
– Sim?
Ela abriu os olhos e virou a cabeça para olhá-lo.
– O que acabou de acontecer?
Ele arqueou a sobrancelha.
– Tivemos uma transa ótima.
Ellie concordou com a cabeça.
– A melhor. Mas eu estava falando sobre a pressão no
final. Foi como se… – ela não tinha palavras para
descrever.
– Ah… isso. – o sorriso dele se esvaeceu – Seus
médicos achavam interessante quando nos examinavam.
Nossos paus incham quando ejaculamos. É o jeito com
que a natureza prende um macho dentro de uma fêmea
no final do sexo, em algumas espécies. Os médicos nos
garantiram que não machucaria as mulheres, porque não
podemos inchar para além de onde estamos colocados.
Na última vez, eu tirei de você antes que acontecesse,
mas dessa vez quis gozar dentro de você.
Ela absorveu aquela informação, tentando
compreender o conceito.
– Onde está colocado? Você quer dizer eu?
– Sim. Você é tão apertada que quase me causou dor.
Eu poderia ter inchado mais, mas seu corpo não
permitiria. É também por isso que não tirei logo depois
de gozar. Adoro ficar onde estou, mas acho que te
machucaria se tentasse deixar seu corpo. Me dê um
minuto ou dois antes de eu tentar sair de você.
Ela piscou para ele.
– Você está maior agora do que no começo?
A expressão dele ficou soturna e ele balançou a cabeça
de um jeito bruto.
– Sinto como se houvesse um punho fechado em
volta de mim, e isso é quase doloroso. É por isso que
não estou me mexendo. É só na base do meu pau.
Ellie mexeu o quadril e parou na hora. Ela se sentia
fundida a ele da melhor maneira. Ela se mexeu de novo
sob ele e Fury gemeu.
– Pare.
Ela o estudou.
– Tire um pouquinho.
– Estou machucando?
– Não. Estou curiosa.
Ele a observava atentamente enquanto usava os braços
para se empurrar para trás, tentando se afastar devagar.
– Pare!
Ele congelou.
Ellie olhou para ele.
– Não vamos mais fazer isso. A pressão…
– Dói quando tento tirar?
Ela hesitou.
– É estranho, mas não dói.
Ele suspirou.
– Isso tira sua excitação?
Ela hesitou, mas sorriu.
– Acho que significa que, se fizermos de novo, posso
transformá-lo em um “abraçador”.
– Um o quê? – uma expressão confusa transformou
seu lindo rosto.
Ela riu.
– Você sabe. Abraço. Me segure. Você vai ter que
conversar comigo depois do sexo.
Seus dentes apareceram quando ele deu um
sorrisinho.
– Você definitivamente pode me transformar num
“abraçador”. E vamos fazer isso de novo. Muitas, muitas
vezes.
– Caramba – Ellie riu – Sorte a minha!
O divertimento de Fury se esvaeceu.
– Eu sou o sortudo, Ellie. Obrigado por confiar em
mim. Isso significa mais para mim do que o prazer
sexual que acabamos de compartilhar.
Ela fitou dentro daqueles lindos olhos e lutou contra a
vontade de chorar. Ele realmente estava sendo sincero.
Ela decidiu mudar de assunto antes que virasse uma
chorona. Nenhum cara gostava que a mulher ficasse
emotiva depois de uma boa transa. Faria com que ele se
arrependesse do que fizeram, e ela não estava disposta a
correr o risco.
– Por que não me contou que isso do inchaço
aconteceria?
– Não sabia como você reagiria.
Outra coisa não mencionada sobre eles fazerem sexo
chegou de repente ao pensamento dela.
– Não usamos camisinha. Não tenho nenhuma doença,
mas não estou usando nada, nem pílulas ou outro
contraceptivo – ela explicou – Preciso ir a um médico se
vamos começar a transar. Corremos um grande risco.
– Não uso camisinha e tenho certeza de que não posso
engravidá-la.
Ela examinou os olhos dele. Sua voz tinha um tom
triste, mas aquela emoção não se mostrava em seu rosto.
– Por que não?
Ele se afastou devagar de seu corpo e procurou sinais
de desconforto em suas feições. Ellie não sentiu dor. Ele
rolou para o lado para se esticar. Ellie virou a cabeça e
ficou de barriga para baixo. Seus olhares se
encontraram.
– Ellie, naquele centro de testes, passaram-se anos
com experimentos de procriação para fazerem mais de
nós, mas nunca deu certo. Eles surgiam com novas
drogas para nos deixarem férteis, contudo, sempre
falhavam. Quando acreditaram ter encontrado um jeito
para contornar todas as mudanças que fizeram em
nossos corpos com o DNA que acrescentaram, fomos
resgatados antes que pudessem fazer os testes. As
drogas que nos deram perderam o efeito. Nossa raça
será extinta quando a velhice reclamar a última Nova
Espécie que a Mercile criou.
O lembrete do que fora feito a ele a assombrou. Ela
não tinha palavras de conforto para oferecer.
Fury se sentou de repente.
– Vamos tomar um banho. Estou faminto, e o cheiro
do que você fez para o jantar está delicioso. Fico feliz
que o tenha tirado do forno quando entrei. O cheiro é
bom demais para desperdiçar se tivesse queimado. – ele
se recusou a olhar para Ellie.
Fury entrou no banheiro e deixou a porta aberta. Ellie
xingou baixinho. Ela o lembrara de sua época no centro
de testes. Talvez ele tivesse se lembrado do que ela fizera
a ele e de como devia odiá-la, e talvez tivesse se
arrependido do que acabavam de ter juntos. Aquilo a
deixou fria por dentro. A água foi ligada no banheiro.
– Ellie? Estou esperando você.
Ela desceu da cama para ir até o banheiro. Fury estava
em pé, segurando a porta do chuveiro aberta. Seus olhos
negros encontraram os dela e ele sorriu.
– Me deixe lavar seu cabelo.
Surpresa e aliviada por ele querer sua companhia, ela
sorriu de volta.
– Ninguém nunca fez isso para mim. Pelo menos, não
desde que eu era criança.
O sorriso dele se alargou.
– Então é hora de ganhar um agrado.

Ellie terminou de colocar a louça na máquina.


Escutava o silêncio da casa. Fury lhe informou que
precisava fazer umas ligações depois do jantar, quando
ela começou a enxaguar os pratos. Ela se perguntou para
quem ele teria que telefonar depois das oito da noite, mas
não quis ser invasiva.
Ellie saltou para fora da cozinha e foi andando devagar
até a sala. Fury estava em frente à porta de entrada
escancarada e suaves vozes masculinas a saudaram. Ela
se virou para ir até o quarto de hóspedes, não querendo
bisbilhotar a conversa dele com quem quer que fora vê-
lo.
Ela ligou a televisão e se sentou na cama. Não foi
difícil encontrar o canal de notícias locais. Queria saber
o que estavam dizendo sobre a Nova Espécie e a humana
que estavam transando. Aquilo certamente a preocupava.
Fury entrou no quarto alguns minutos depois. Ela
virou a cabeça para dar a ele um sorriso. Ele não sorriu
de volta, e tinha uma expressão soturna.
– Preciso sair. Há uns problemas que meu povo
precisa que eu resolva.
Ellie fez que sim com a cabeça, curiosa, mas não fez
perguntas, já que ele não oferecera a informação
prontamente.
– Tudo bem.
Ele hesitou.
– Não quero que esteja aqui quando eu chegar.
O choque percorreu Ellie enquanto ela olhava calada
para ele. Eles haviam transado, tomado banho juntos,
gargalhado durante o jantar, e então ele queria colocá-la
para fora de casa? Ela não conseguia nem formar as
palavras. Foi como se tivesse levado um soco no
estômago, física e emocionalmente.
Fury se mexeu de repente, se lançou até ela, agarrou-a
pelos braços e, com um puxão, colocou-a em pé.
– Você está com cara de chocada. Eu quis dizer que
não quero que você fique nesse cômodo. Seu lugar é no
meu quarto, onde quero que você fique daqui em diante.
Achou mesmo que eu iria pedir para você sair da nossa
casa? Eu quis dizer que não quero você dormindo longe
de mim. Seu lugar é na minha cama, dormindo no meu
quarto, comigo.
Ela podia respirar outra vez. Sabia que aquilo beirava o
patético, ficando tão intensamente aliviada com o mal-
entendido.
Fury rosnou para ela.
– Traga suas coisas para o meu quarto. Vou caçá-la e
amarrá-la à minha cama se você sair da minha casa. Vou
montar em você até ficar cansada demais mesmo para
pensar em se arrastar para longe de mim. Fui claro o
bastante?
Ela fez que sim com a cabeça, em silêncio. A imagem
dele montando nela até que ela não pudesse nem se
arrastar a excitava. Aquilo significava muito sexo. Ela
mordeu o lábio e deu um sorrisinho para ele.
Fury balançou a cabeça.
– Mulheres…
– Falha de comunicação.
A pegada de Fury em seus braços relaxou e o olhar
dele se suavizou.
– Você acha que sou lindo.
– Acho.
– Entenda que falo sério sobre amarrá-la na minha
cama. Não me deixe. Não quero perdê-la. Não vou.
– Eu quero ficar com você.
CAPÍTULO DOZE
– Não – Fury rugiu.
Ellie ouviu uma agitação depois que a campainha
tocou. Eles haviam planejado passar o sábado juntos,
assistindo a uns filmes. Ellie acabara de tirar algumas
roupas da máquina de lavar e Fury estourava pipocas.
Ao ouvi-lo explodir de raiva, Ellie saiu correndo do
quarto, onde estava dobrando roupas.
Justice, dois oficiais da ONE e Fury se enfrentavam na
sala. Ellie se deteve abruptamente, quando percebeu o
quão tensa a situação parecia ser. Com medo de que uma
briga pudesse estourar entre eles, ficou imóvel na porta.
Justice cruzou os braços sobre o peito. Ele vestia
jeans e uma camiseta. Seu olhar negro deslizou até Ellie.
A expressão raivosa no rosto dele a surpreendeu. Suas
feições estavam tensas e seus lábios pressionados,
formando uma linha sombria.
– Eu disse não. – Fury rosnou profundamente. Se
voltou para Ellie, mas não olhou na direção dela – Ellie,
venha aqui agora e fique atrás de mim.
O tom de voz de Fury fez o medo subir pela espinha
de Ellie imediatamente. Sem pensar, ela fez o que ele
mandou. Um dos braços dele se curvou para trás e a
aninhou contra suas costas, até que ela quase o
abraçasse por trás. O corpo dele estava rígido. Ellie não
sabia o que o deixara zangado, mas quando mexeu a
cabeça para espiar em volta do corpo de Fury, o medo
cresceu. Os oficiais da ONE estavam com arma de
choques nas mãos.
– Fury – rosnou Justice – O povo dela está
preocupado. Só estou dizendo que eles precisam vê-la e
falar com ela. Vamos trazê-la de volta. Ninguém vai
machucá-la.
– Eu vou com ela, ou então ela não vai. – Fury rugiu
do fundo do peito.
Justice rugiu de volta.
– Os humanos não estão sendo razoáveis mas, assim
que a virem, vão ter certeza de que você não a
machucou. Vão deixar o assunto pra lá.
– Não!
Ellie pigarreou.
– O que está havendo? – ela olhou para Justice,
esperando pela resposta.
– Você não vai com eles – ordenou Fury rudemente,
enquanto olhava para ela por cima do ombro. – Eles não
querem me deixar ir com você para protegê-la, e não
vou deixar que eles a levem de mim – seus olhos negros
se arrancaram dela, e ele olhou para os homens na sala.
Fury deu outro passo para trás, encurralando Ellie com
seu corpo na frente dela.
O coração de Ellie se acelerou com a adrenalina. Ela
notou que Fury a protegia fechando-a num canto, para
impedir que alguém chegasse a ela sem passar por ele
antes. Esfregou as costas dele com as mãos, tentando
acalmá-lo silenciosamente. Precisou se mexer para olhar
em volta, e sua atenção se voltou para Justice.
– Quem quer me ver, e por quê? O que está havendo?
Justice mostrou rapidamente seus dentes afiados ao
curvar o lábio superior numa expressão de nojo e, em
seguida, seus ombros se esticaram. Ele respirou
profundamente quando encontrou o olhar questionador
de Ellie.
– Alguns do seu povo acham que Fury está forçando-
a a ficar aqui, como uma espécie de… – ele deu de
ombros – Eles estão com medo de que ele esteja
estuprando-a, espancando-a e fazendo qualquer outra
coisa de monstruosa que consigam imaginar.
– Isso não é verdade. – Ellie bufou com raiva – Quem
está dizendo essa merda?
Justice rosnou.
– Seu chefe fez essas acusações. O diretor Boris
deixou todos alvoroçados com os supostos maus-tratos
que você estaria recebendo.
– Ei, ele não é mais meu chefe. Caramba, ele é um
cretino. – Ellie parou de esfregar as costas de Fury. No
entanto, manteve seu corpo encostado no dele, e passou
uma das mãos em volta da cintura dele – Fury, está tudo
bem. Ninguém vai me machucar.
– Eles não vão tirar você de mim – Fury rugiu. Deu
outro passo para trás, apertando Ellie ainda mais no
canto.
– Ela precisa vir conosco – Justice rugiu – Olha como
você está agindo. O que há de errado com você? Ela não
é um brinquedinho de morder, Fury. Você está se
comportando do jeito que estão nos acusando. Acalme-
se.
– Ninguém vai machucar a minha Ellie.
As sobrancelhas de Justice se elevaram quando a
surpresa transformou suas feições.
– Sua Ellie? Você está procriando com ela, não está? –
a voz dele se suavizou – Você não vai nos deixar chegar
perto dela para cheirá-la. É por isso?
– Ela é minha – rugiu Fury.
Lentamente, o tom bronzeado da pele de Justice foi
ficando pálido. Seu olhar foi até Ellie.
– Ele a forçou? Você está bem?
A lembrança de Justice descobrindo-a amarrada na
cama de Fury fez Ellie se encolher.
– Estou bem, tirando o fato de estar sendo apertada
num canto. Fury, você está me esmagando. Pode parar
de me empurrar para trás, por favor? Não é um bom
jeito de me prender na parede. – ela relaxou quando ele
lhe deu alguns centímetros de folga. Ela prendeu o olhar
nos olhos surpresos de Justice – Fury não me forçou a
nada, nunca forçou. Estamos ótimos. Estamos bem.
– Ele não apenas copulou com você. Ele fez amor
com você. – a conclusão de Justice tinha um tom
sombrio.
Ellie hesitou.
– Estamos dormindo juntos, se é o que você quer
dizer. Sim. Estamos ótimos. Está tudo bem e eu quero
ficar aqui. Fury não me machucaria. Você o conhece,
então devia saber disso.
Os olhos de Justice se estreitaram.
– E na última vez? O que ele fez não foi racional.
Um rubor esquentou o rosto de Ellie.
– Estávamos acertando as coisas. Ele não quis me
machucar, me arranhou acidentalmente com os dentes.
Sobrancelhas se ergueram.
– Como alguém acidentalmente sequestra uma mulher
em um parque e a amarra nua na cama?
– Essa parte não foi um acidente e você sabe disso.
Eu contei a você por que ele me levou embora do
parque.
Fury se enrijeceu contra ela e virou a cabeça para
olhá-la, em choque. Ela olhou para ele, se encolhendo
por dentro, e voltou toda a atenção a Justice. Ela teve a
certeza de que muito em breve ela e Fury teriam uma
conversa tensa.
Ellie se recusava a admitir os dois oficiais da ONE.
Queria que um buraco se abrisse sob ela. Não queria
discutir aquilo, mas sabia que Justice estava preocupado
com sua segurança. Ele trouxera homens que pareciam
prontos a possivelmente ferir Fury para tirá-la de perto
dele.
– Você sabe que tivemos alguns problemas. Ele pode
ter me levado para a cama sem meu consentimento mas,
uma vez lá, tudo foi consensual. Eu já disse que ele não
me estuprou, e não estava sendo desonesta ou mentindo
por ele, caramba. Ele pediu minha permissão antes de me
penetrar.
Justice a observou de perto, estudando-a por um
longo momento. Finalmente, ele balançou a cabeça.
– Entendo. Você foi seduzida até não conseguir resistir
a ele.
Ela inspirou profundamente.
– Sempre me senti muito atraída por Fury. Ele não
precisou se esforçar muito. Podemos deixar isso pra lá
agora? Estou aqui com Fury porque quero muito.
Justice se virou para os dois oficiais da ONE.
– Saiam e fiquem de guarda na porta.
Os dois homens fecharam a porta atrás deles quando
saíram. Justice passou os dedos pelo cabelo e deixou as
mãos caírem ao lado do corpo. Seu dedão estava
enganchado no bolso da frente do jeans. Seu foco se
voltou para Fury.
Fury odiava sentir medo, mas era o que vivenciava
naquele momento. Sabia que alarmara Justice com seu
comportamento rude e a possessão sobre Ellie. O pânico
de que algum humano iria espantá-la de algum jeito de
Homeland, para longe dele, o percorreu. Ele não confiava
no diretor Boris. O humano tinha olhos pequenos e não
conseguia esconder sua antipatia pelas Novas Espécies.
Alguns dos funcionários humanos não estavam felizes
com o fato de Ellie estar morando com ele, e ficavam
ressentidos por uma humana estar com alguém da
espécie dele. Ellie se tornara dele, fazendo dela uma
Nova Espécie e, em sua opinião, os humanos não
podiam mais reclamá-la. Era simples assim. Se ele
tivesse permissão para ir ver o diretor Boris com ela,
teria mais segurança de que nada aconteceria com ela,
mas eles se recusavam a deixá-lo estar presente. Aquilo
acionava todos os alarmes dentro dele.
Ele havia designado um guarda das Novas Espécies
para ficar do lado de fora, protegendo Ellie de ser levada
enquanto ele trabalhava. Ele iria a qualquer lugar para
mantê-la segura. Fury encontrou os olhos de Justice e
não desviou deles. Seu amigo sabia como seus
sentimentos por Ellie eram profundos.
Justice o observava com curiosidade.
– Fico preocupado por você agir tão diferente quando
o assunto é ela.
– Sei disso, mas eu jamais a machucaria. Confie em
mim.
Os olhos de gato de Justice se estreitaram.
– Eu confio. Me desculpe por dar a entender outra
coisa, mas você tem que admitir que nem sempre é você
mesmo quando se trata da sua fêmea.
– Sei disso também.
Os dois homens se estudavam. Justice falou primeiro.
– Eles estão me pressionando para levá-la até eles,
para se certificarem de que ela está bem. Não tenho
escolha e você sabe que precisamos apaziguar os
ânimos.
Era difícil ser razoável quando se tratava de Ellie, mas
ele sabia que Justice tinha um bom argumento. Os
humanos ainda estavam cautelosos com relação às
Novas Espécies e certamente se preocupavam com o
bem-estar dela. Para ser honesto, se aquilo fosse com
outra Nova Espécie homem e uma humana mulher, ele
estaria monitorando a situação de perto. Fury suspirou,
se acalmou, e sabia que Ellie não o deixaria por vontade
própria. Ele tinha que permitir que os humanos a vissem.
– Eles querem que um médico a examine. Estão
preocupados. Caramba, eu estou preocupado. Temos
falado sobre ultrapassar a linha, mas não sei de ninguém
que tenha ido tão longe, exceto você e ela. – Justice fez
uma pausa – Então, somos sexualmente compatíveis?
Fury fez que sim com a cabeça.
– Um pouco diferente, como suspeitávamos, mas
funciona extremamente bem. Ela não precisa de um
médico. Eu não a machucaria.
Justice franziu o cenho.
– E morder? – o olhar dele passeou pela pele exposta
em volta do pescoço e dos ombros dela. Seus olhos
voltaram para Fury – Elas são mais frágeis que nossas
mulheres e não se curam tão rápido.
– Eu não a mordo.
– Vocês realmente mordem durante o sexo? – aquilo
surpreendeu Ellie. A discussão sobre a vida sexual dela
com Fury a deixara envergonhada, mas a curiosidade
venceu – Eu não sabia disso.
Fury olhou para ela e mostrou suas presas
rapidamente quando levantou o lábio superior.
– Não acho que você iria gostar.
Ela estudou os caninos dele.
– Provavelmente não.
Fury bufou, um certo divertimento cintilou em seus
olhos castanhos antes de se virar para Justice.
– Vou deixá-la ir, mas vou ficar ao lado dela. Aqueles
grupos de ódio já a atacaram por trabalhar aqui. Não vou
arriscar a vida dela, agora que dizem que ela mora
comigo. Isso fez dela um alvo maior.
– Compreendo, mas o diretor Boris insiste para que
você não esteja presente. Ele teme que você tenha
abusado dela o suficiente para deixá-la com medo de
dizer a verdade na sua presença.
– Não estou nem aí para o que Boris quer – rosnou
Fury – Ela é minha, não dele. Ele não tem mais que se
preocupar com ela.
Ellie moveu o próprio peso, desencostou o corpo do
canto e se mexeu em volta de Fury. Ele a deixou se
mover, até que ela tentou se afastar. Um braço
embrulhou a cintura dela para impedir que saísse de seu
alcance. Ele a encostou em sua frente, até que ela se
inclinou contra seu corpo. Ellie relaxou. Ela adorava que
ele a segurasse, não importava em quais circunstâncias.
Ela dobrou os dedos no braço dele, para assegurá-lo de
que não planejava se mexer.
Justice os observava com interesse.
– Você fez amor com ela assim que a trouxe para sua
casa?
– Fizemos ontem à noite. – o corpo de Fury relaxou –
Não confio no Boris. Não confio a vida dela a ninguém.
Ela é minha, Justice, não vou deixar que ninguém a
machuque. Nem mesmo você com suas preocupações.
– Eu jamais a machucaria – Justice jurou
delicadamente – Dou minha palavra de que nada vai
acontecer com ela e de que vou defendê-la com a minha
vida. Preciso levá-la comigo para ver o diretor. Estamos
perto de assumir o controle e ele vai embora em breve
mas, por ora, temos que trabalhar com ele. Vou trazê-la
logo de volta. Eles querem que um médico a examine
primeiro, mas não sairei do lado dela. Precisamos
acalmar as cabeças deles, Fury. Eles têm preocupações
quanto à combinação dos nossos hábitos de
acasalamento com os deles. Eles têm certeza de que
você copulou com ela e não vão deixar isso para lá.
– Eles não têm certeza de que eu e Fury temos
intimidades, certo? – perguntou Ellie.
Justice fez que sim com a cabeça.
– Só vai precisar de uma fungada para eles saberem a
verdade. Agora que você está perto de mim, sinto o
cheiro de Fury. Você está coberta dele.
Ellie hesitou.
– Adivinha só? Não sentimos cheiros tão bem quanto
vocês. Tudo o que podemos fazer é estudar as coisas
com nossos olhos e fazer especulações.
Justice sorriu lentamente.
– Eu me esqueço disso. Para nós, isso é óbvio.
Ela balançou a cabeça.
– Eles só podem supor o que eu e Fury fizemos
juntos.
O sorriso sumiu do rosto de Justice.
– Você está morando com ele.
– Ela é minha – declarou Fury delicadamente, mas
com um tom ameaçador – Ela vai continuar morando
comigo. Isso não está em jogo.
Justice estudou Fury bem de perto.
– Você está bem? Está muito possessivo.
– Estou bem. Admito que me sinto possessivo. Ela é
minha, simples assim.
Justice hesitou.
– Você definitivamente acasalou com ela. Isso é muito
mais do que procriar com uma fêmea. Vou levá-la para
ver o Boris e depois trazê-la de volta. Não sairei do lado
dela.
– Você vai protegê-la como se ela fosse uma dos seus
– exigiu Fury.
Justice fez que sim com a cabeça.
– Ela é sua e isso significa que é uma de nós.
O braço de Fury em volta da cintura dela relaxou, e
suas mãos seguraram o quadril dela. Ele a virou de
frente, até que seus olhos se encontraram.
– Vou pegá-la de volta se eles tentarem fazer com que
você saia de Homeland. Ninguém vai deixar você longe
de mim.
Ellie ficou alarmada com o tom feroz dele, mas
consentiu com a cabeça.
– Estarei em casa logo mais. Eu… – ela queria dizer
que o amava, mas resistiu. O nível de emoção que ela
sentia em relação a ele não a surpreendeu – Eu vou sentir
sua falta – ela finalmente conseguiu dizer.
Fury segurou seu rosto com as duas mãos e se
abaixou até seus narizes quase se encostarem.
– Também vou sentir sua falta. – o olhar apaixonado
dele se levantou para lançar um olhar penetrante por
cima da cabeça dela – Traga-a de volta logo e faça de
tudo para protegê-la.
– Farei isso – prometeu Justice – Mesmo que eu
precise arriscar minha própria vida. Vamos, Ellie. É
melhor você calçar os sapatos.

Ellie lançava olhares aos homens intimidadores e


grandes que a cercavam, e lutava contra uma sensação
claustrofóbica causada por todos aqueles corpos
pressionados uns contra os outros. Ninguém a tocava,
mas ela sabia que se levantasse um braço, roçaria em um
oficial da ONE. Justice agia como se a vida dela estivesse
em perigo extremo. Aquilo a deixava mais do que apenas
um pouco apavorada, até que eles entraram na sala de
conferências. O choque ao ver a sala totalmente cheia
soterrou o medo. Ela cerrou os dentes para impedir que
o queixo caísse, quando olhou em volta da sala
preenchida com mais de sessenta pessoas. Aquilo
certamente batia o recorde de comparecimentos a uma
reunião.
O diretor Boris estava em pé, atrás de uma mesa no
fundo.
– Senhorita Brower.
O olhar de Ellie encontrou o dele, e a raiva surgiu. Ela
olhou para Darren Artino, que estava ao lado do diretor.
Outros rostos familiares estavam presentes, entretanto
ela não reconheceu a maioria das pessoas. Todos
pareciam focados unicamente nela, o que a deixou se
sentindo como se fosse um inseto num microscópio.
Justice fez um gesto para que os oficiais da ONE se
afastassem, mas ele ficou ao lado dela para se dirigir ao
diretor Boris.
– Aqui está Ellie Brower e ela está bem, como podem
ver. – a irritação de Justice se mostrava em sua voz.
Darren Artino pigarreou enquanto estudava Ellie.
– Chegou ao nosso conhecimento que você deseja
deixar a casa do senhor Fury. Estamos preocupados
com você.
Ellie cruzou os braços e forçou o queixo para fora,
muito desconfortável com todos olhando para ela.
– Eu estou bem. O senhor Fury foi gentil o bastante
para me deixar ficar no quarto de hóspedes dele. – ela
pausou, olhando abertamente para o diretor Boris, sem
se importar em esconder a antipatia por ele – Quando saí
de Homeland, quase fui sequestrada por alguns membros
dos grupos de ódio que fazem piquete lá fora. O senhor
Fury está preocupado com a minha segurança. Estou
muito melhor aqui do que fora dos portões.
Uma mulher loira, com os cabelos presos em um
coque, se levantou. Ela vestia um terninho social,
alinhado e preto.
– Sou a doutora Trisha Norbit.
A mulher parecia jovem demais para ser uma médica,
mas Ellie não expressou sua opinião em voz alta.
– Muito prazer. – ela não sabia bem o que dizer.
– Soubemos que você e o senhor Fury ficaram bem
íntimos. Gostaria de examiná-la para termos certeza de
que sua saúde está boa, e poderíamos discutir algumas
coisas. – a mulher olhou em volta da sala e lançou a Ellie
um olhar significativo – Em particular, é claro.
– Não há nada sobre o que conversar e não preciso de
um exame médico. – Ellie suspirou alto, não querendo
passar o dia todo lá – Olha, deixe-me explicar. Eu ouvi as
notícias no jornal. Sei que vocês acreditam que o senhor
Fury me machucou ou qualquer outra merda, mas não é
verdade. – Ela jogou outro olhar ousado na direção do
diretor Boris e depois voltou a atenção para a médica. –
Sou hóspede dele e durmo em outro quarto. Eu mal o
vejo e não há nenhuma safadeza acontecendo. Nem sei
por que estou aqui, mas o senhor North disse que eu
precisava aparecer para que todos pudessem ver que
estou bem. Meu dia estava ótimo até eu ter que vir aqui
para todos ficarem me olhando embasbacados,
imaginando o pior.
– Você e o senhor Fury estão envolvidos num
relacionamento físico? – um estranho perguntou.
Ellie olhou para ele.
– É algo grosseiro para se perguntar a alguém, bem
desnecessário, mas a resposta é não. Eu não acabei de
falar isso? O senhor Fury é um perfeito cavalheiro. Eu
durmo no quarto de hóspedes dele.
– Mas você está morando com ele. – o homem olhou
para Ellie, sua hostilidade era visível – Sabemos que
vocês são sexualmente ativos juntos.
Ellie perdeu a calma. Deu um passo na direção daquele
homem rude, mas parou.
– Somos colegas de quarto. Você não ouviu essa
parte? Você é uma daquelas pessoas idiotas que acham
que um homem e uma mulher não podem dividir uma
casa sem pularem juntos na cama?
Um homem mais velho suspirou.
– Não queremos ser desrespeitosos, senhorita Brower.
É que precisamos saber se você e o senhor Fury estão
tendo relações sexuais. Vocês seriam o primeiro casal de
nosso conhecimento entre as duas espécies que estariam
fazendo isso. Precisamos fazer testes e estudar isso. –
ele empurrou os óculos mais acima do nariz – Poderia
haver efeitos colaterais perigosos. Queremos o melhor
para você e o senhor Fury. Você não gostaria de
machucá-lo de nenhuma forma, gostaria?
Ellie franziu a testa.
– Compreendo o que está dizendo, mas entenda: não
estou com o senhor Fury da maneira que você está
sugerindo. Não estamos tendo relações, como você
colocou. Ele é apenas um homem muito gentil que me
deixa morar com ele, enquanto não arrumo outro
emprego. Saí dos portões e minha associação com as
Novas Espécies quase fez com que eu fosse sequestrada
por doentes fanáticos. Estou mais segura vivendo aqui
em Homeland.
– Está bem. – o diretor Boris suspirou alto – Você
pode ter seu emprego no alojamento feminino de volta
imediatamente. Vamos mandar a segurança com você até
a casa do senhor Fury para pegar seus pertences.
O chão poderia também ter se aberto abaixo de Ellie.
Ela olhou boquiaberta para o diretor Boris. Esse filho da
puta dos infernos. Ela precisou se acalmar antes de
responder, negando com a cabeça, se recusando a deixar
que ele a deixasse longe de Fury à força. Todos os olhos
na sala escrutinavam-na, esperando uma reação, e ela
sabia disso. Droga. Ela forçou a mente a funcionar
enquanto inclinava a cabeça para olhar para aquele
imbecil.
– Adoraria ter meu antigo emprego de volta, acredite,
mas, antes de mais nada, a razão para eu tê-lo perdido
foi por que você tentou fazer com que eu cometesse
perjúrio. Você não gostou da nova equipe de segurança
da ONE que me salvou, quando os guardas de Homeland
não conseguiram lidar com o ataque. Você ordenou que
eu redigisse uma falsa queixa dizendo coisas horríveis
contra eles, que não eram verdade. Eles salvaram minha
vida, enquanto seus guardas não conseguiram nem
chegar até mim.
Ela viu o rosto dele ficar sem cor e muitos dos olhares
deixaram de fitá-la para se fixarem no diretor Boris. Ele
parecia chocado demais para fazer alguma coisa, exceto
lançar o olhar pela sala.
– Não trabalho para gente que me faz inventar falsas e
safadas acusações e depois me manda embora porque
me recuso. Eu teria me demitido se você não tivesse me
colocado no olho da rua. Me recuso a trabalhar para
você, diretor Boris. Vou encontrar um emprego em que
não me obriguem a mentir.
– Isso não é verdade – cuspiu finalmente o diretor
Boris. Ele apontou um dedo para Ellie – Escoltem-na
daqui agora e quero que seja removida de Homeland
permanentemente!
Justice olhou para um dos seguranças, que deu um
passo na direção de Ellie. Ela quase tropeçou em um
oficial da ONE que se aproximou dela. Notou que todos
os oficiais da ONE a haviam cercado novamente de
forma protetora. Ellie congelou no lugar, assim como a
intenção do guarda de retirá-la da sala.
– Esse é um bom ponto – declarou Justice, friamente
– Você tem algum problema com as minhas equipes,
diretor? A não ser que alguém tenha mentido para mim,
este lugar foi estabelecido para que pudéssemos
estruturar nossa própria comunidade, criar um lar
verdadeiro para as Novas Espécies, e isso inclui treinar
nossas próprias equipes de segurança. A senhorita
Brower me informou sobre a conversa que se deu entre
vocês dois no dia em que você a mandou embora. Por
falar nisso, você nem tinha o direito de fazer isso sem o
meu consentimento. Você realmente ultrapassou os
limites, e está repetindo essa ofensa aqui. Essa mulher
está sob a proteção das Novas Espécies e ainda assim
você ousa ordenar para que a removam à força?
Um homem mais velho, vestindo um terno, levantou-
se de repente e se moveu em volta de uma mesa. Ele
andou até o diretor Boris, com um profundo franzido
enrugando seu rosto.
– Jerry? – ele obviamente conhecia bem o diretor, a
ponto de chamá-lo pelo primeiro nome.
– Não é verdade – o diretor Boris cuspiu – Um desses
homens, aquele Fury com quem ela está morando agora,
carregou a senhorita Brower para dentro de um banheiro
e a despiu. Ele deu a ela suas roupas de baixo para vestir.
Ela se lavou nas pias e ele certamente a viu se despir e se
banhar. Eu só tentei proteger a mulher fazendo com que
ela contasse a verdade e confessasse o abuso que
sofreu. Não podemos deixar que a segurança force
mulheres para dentro do banheiro para se aproveitar
delas.
O homem mais velho arqueou a sobrancelha para Ellie.
– Isso é verdade?
– Não – respondeu ela de forma mecânica – Sim,
Fury me levou até o banheiro, pois eu estava coberta de
sangue. Ele entrou em uma cabine e removeu as roupas
de baixo para me emprestar algo para vestir, enquanto eu
me lavava com privacidade. Havia uma crosta de sangue
na minha pele. A única outra opção envolveria andar por
aí nua ou colocar de novo minhas roupas molhadas e
ensanguentadas. Estávamos em toque de recolher e não
havia outras roupas disponíveis. Eu disse isso claramente
ao diretor mas, ao contrário, ele fez acusações horríveis
de que eu fora molestada sexualmente ou de que era uma
tremenda vadia, que transaria com um cara dentro de um
banheiro depois da experiência mais traumática da minha
vida. O diretor Boris ordenou que eu escrevesse um
relatório acusando o senhor Fury de coisas horríveis,
mas não foi o que aconteceu. Me recusei a inventar
coisas doentias como essa só por que ele estava muito
bravo pelo fato da equipe de segurança da ONE salvar
minha vida.
O homem mais velho estudou Ellie silenciosamente
com seus gélidos olhos azuis. Ele por fim balançou a
cabeça e se virou para encarar o diretor Boris.
– Jerry, odeio fazer isso, mas estou realocando-o
imediatamente. Parece que há um conflito e esse é um
projeto importante demais para permitirmos qualquer tipo
de mal-entendido. – o homem se dirigem a Justice –
Peço desculpas. Obviamente nos deram informações
incorretas. Sou o novo diretor. – ele fez uma pausa –
Apenas, é claro, se for aceitável para você.
Justice concordou com a cabeça.
– Tudo bem, Tom. Tenho uma conferência por
telefone com o presidente em dez minutos, estou de
saída. – Justice balançou a cabeça para seus homens. Ele
deu o braço para Ellie – Podemos ir, senhorita Brower?
Ellie lançou um último olhar ao diretor Boris. Ex-
diretor, ela se lembrou, e passou o braço em volta do
braço de Justice. A equipe de segurança da ONE os
cercou ao deixarem o prédio.
– Me lembre de nunca deixá-la irritada, senhorita
Brower – Justice deu uma risadinha leve enquanto
caminhavam para fora.
Ela olhou para ele.
– Aquilo não foi de irritação. Admito que ando meio
brava, mas eu estava mais assustada.
Ele parou e a examinou com curiosidade.
– Com o quê? Não teríamos deixado você sofrer mal
algum. Eles não iriam jogá-la para fora dos portões outra
vez.
Ela não disse uma palavra. Não tinha certeza de que
podia confiar nele.
Ele a observou por um longo momento.
– Achou que fossem tirar você de Fury? Essa era a
fonte do seu medo?
Diabos, ela pensou. Sou tão transparente assim? Ela
tirou os olhos dele, para olhar em volta do
estacionamento. Carros se amontoavam pela rua em que
normalmente era proibido estacionar. Ela fez que sim
com a cabeça.
Fury era uma parte muito importante de sua vida
desde que ela colocara os olhos nele pela primeira vez.
Ela teria feito qualquer coisa por aquele homem. Sonhara
com ele, continuara trabalhando disfarçada na Mercile
apesar do pavor de ser morta e, até mesmo, aceitara o
emprego para trabalhar com as Novas Espécies, numa
tentativa de corrigir o erro que cometera com ele. Ver
Fury fora algo que mudara sua vida, e ela deixara a
família e os amigos depois daquilo. Seu mundo se
centrava nele e no povo dele. Estavam juntos, eram um
casal, e não queria perdê-lo. Aquilo acabaria com ela por
dentro.
– Então, vamos levá-la de volta para ele – Justice
declarou delicadamente.
Ellie olhou nos olhos dele.
– Obrigada.
Haviam dado alguns passos, quando um rugido de
alerta se fez atrás deles. Justice se virou, pegou Ellie e
deixou-a fora de perigo. Ela fitou as costas largas de
Justice quando ele a protegeu com seu corpo. Ela
espiou.
Ellie reconheceu Slade, o oficial da ONE, que
bloqueava a médica que estava lá dentro, esticando os
braços para deixá-la encurralada e impedi-la de se
aproximar mais. A médica tinha uma expressão
amedrontada em seu rosto pálido, pois o rugido fora
feito para ela. Slade parecia tenso e um rosnado mais
suave veio de seus lábios. Justice relaxou a postura.
– O que você quer, doutora Norbit?
Slade olhou para Justice.
– Você a conhece? Ela veio correndo até nós.
Justice fez que sim com a cabeça.
– Slade, está tudo bem. Deixe-a passar, ela não é uma
ameaça.
Trisha Norbit se esgueirou em volta de Slade, quando
os braços dele caíram. O olhar dela cravou em Ellie.
– Eu só queria falar rapidamente com a senhorita
Brower, em particular.
Justice enfiou os dedões nos bolsos da frente do
jeans.
– O que você quer dizer a ela, doutora?
A médica ainda parecia amedrontada.
– Quero dar meu cartão a ela. – ela puxou um do
bolso da saia e o ofereceu com a mão trêmula.
Ellie hesitou para pegá-lo.
– Por que eu precisaria disso?
– Caso você precise de mim. Você tem que saber
como isso é importante. Eu seria a sua médica e nossas
conversas seriam estritamente privadas. Se você e o
senhor Fury estão tendo intimidades, por favor, pense no
que poderia significar se você permitisse que eu a
examinasse e ficasse encarregada dos seus cuidados
médicos.
– Que você é xereta? É isso que significaria. – Slade
bufou – Deixe-a em paz, doutora. Ela teria dito lá dentro
se quisesse sua ajuda.
Trisha Norbit ignorou Slade, mantendo seu foco em
Ellie.
– Vi os relatórios médicos sobre a fisiologia deles, e
eles são levemente diferentes de nós. Há muita coisa que
desconhecemos.
– O que é diferente? – Slade franziu o cenho, mas
então um sorriso debochado dividiu seu lábios – Você
quer dizer que somos maiores que seus homens.
A doutora Norbit lançou um olhar irritado a Slade,
porém sua atenção se focou novamente em Ellie.
– Não quer saber se poderia engravidar? Não gostaria
de saber se isso é possível caso os tratamentos corretos
forem aplicados?
Justice franziu a testa.
– Já tive muitas conversas com médicos e eles
chegaram à conclusão de que não é. Somos incapazes de
conceber crianças.
A doutora Norbit inclinou a cabeça para Justice.
– Não temos certeza de nada, apenas de que nunca
tivemos um casal de espécies diferentes para fazermos
um estudo. Se essa mulher e um de seus homens estão
tendo relações, não acha que seria uma boa ideia ver o
que poderia resultar? Não é só a gravidez que me
interessa. Pense nisso, senhor North. Talvez outros do
seu povo queiram se envolver com os do meu. Não
gostaria de saber se há efeitos adversos? Seus homens
não conseguiam engravidar suas mulheres, mas ela é
totalmente humana.
– Que tipo de efeitos adversos? Inveja de pênis? –
Slade riu – Já estive no banheiro masculino com
humanos, doutora. A única coisa que suas mulheres
devem temer é perceber como os paus dos seus homens
são pequenos em comparação aos nossos.
Trisha Norbit lançou um olhar provocador para Slade.
– Você é um porco.
O sorriso de Slade se desfez e um rosnado baixo saiu
de sua garganta.
– Sou canino, não porco.
– Isso é uma gíria, não uma denominação de espécie –
Ellie conseguiu dizer sem rir – Ela acha que o que você
falou é sujo e ofensivo.
Slade balançou a cabeça para Ellie antes de dar um
sorriso debochado para a médica.
– Mas sincero.
– Chega. – Justice riu – Por mais divertida que essa
conversa esteja ficando, preciso atender uma ligação do
presidente. Isso não é apenas uma desculpa para nos
tirar daqui.
– Por favor – a doutora Norbit implorou
delicadamente – Senhorita Brower, Ellie, por favor,
pegue meu cartão. Sou a médica das Novas Espécies.
Entendo a necessidade de discrição e eu posso visitar a
casa do senhor Fury de forma privada, ninguém precisa
saber. Apenas considere me deixar entrar nisso. Você
não faz ideia de como é importante para nós
entendermos como nos relacionamos sexualmente.
Ellie ponderou, mas pegou o cartão e o enfiou no
bolso do jeans.
– Não estou fazendo sexo com o senhor Fury.
Declarei isso lá dentro e sei que, se estivesse, isso viraria
um circo.
As narinas de Slade se alargaram e ele moveu o olhar
para Ellie. Ela o olhou rapidamente. Ele inalou
suavemente e sorriu. Ela desviou os olhos dele. Slade
sabia que ela estava mentindo, podia sentir o perfume de
Fury nela, mas ficou aliviada por ele não falar nada.
– É imperativo que eu saiba como nossas espécies
interagem durante o sexo – explicou a doutora Norbit
delicadamente – Estou encarregada da saúde e do bem-
estar não apenas das Novas Espécies, mas também dos
humanos. Entre as Novas Espécies e os funcionários
humanos, realmente preciso saber com o que estou
lidando. É apenas uma questão de tempo até isso se
tornar um assunto importante.
– Vou dizer uma coisa – Ellie começava a mentir – Se
algum dia eu considerar fazer sexo com o senhor Fury,
vou deixá-lo ciente e, na remota possibilidade de ele
aceitar, você será a segunda pessoa a quem vou contar.
Ellie se virou e começou a andar. Justice
imediatamente igualou seu passo ao dela e se dirigiram à
casa de Fury. Ele riu.
– Você lidou bem com isso. – ele hesitou – Talvez
devesse ligar para ela amanhã. De acordo com as
informações que li, ela é uma das melhores médicas do
país. Eu mesmo a escolhi. Ela é nova, mas brilhante, e é
simpática às Novas Espécies. Se ela diz que vai manter
em segredo, eu tenderia a acreditar nela.
Ellie fez que sim com a cabeça.
– Não vou hesitar, se vier a precisar de um médico.
CAPÍTULO TREZE
Fury ficou andando de um lado para o outro durante
todo o tempo em que Ellie esteve ausente, certo de que
algo daria errado. Ele havia se contido para não ir
correndo até a sala de controle e espionar a reunião por
meio das câmeras espalhadas por Homeland. Como
chefe da segurança e o segundo no comando, ele tinha
acesso a elas. No entanto, não saiu, preferindo ficar em
casa e esperar pelo retorno dela.
Ele confiava em Justice e seus homens para
protegerem Ellie. Treinara pessoalmente todos os oficias
de segurança, cada um deles, e seu povo sabia o quanto
ela era importante. Ele sentia falta de seu perfume, de
ouvir sua voz musical e, quando fechava os olhos, o
rosto dela surgia, marcado a ferro e fogo na memória
dele.
Dormir com Ellie, sentindo a pele dela na dele
enquanto conversavam até tarde da noite antes de
pegarem no sono, fora maravilhoso. Ele queria fazer
aquilo todas as noites e ouvir todos os detalhes sobre a
vida dela – exceto qualquer menção a homens que ela
conhecera. Não queria imaginar ninguém tocando sua
Ellie. Teria que ir atrás deles e fazê-los sumir. Se algum
dia o ex-marido dela aparecesse em Homeland querendo
Ellie de volta como esposa, ele não estava brincando
sobre espancá-lo até que ele mudasse de ideia. Ela era
dele, agora e para sempre.
Pensar sobre o ex-marido dela o fazia lembrar de seus
pais problemáticos. Fury parou de se movimentar e fitou
a porta. Ela nunca mais ficaria sozinha de novo. Ela tinha
a ele e a todo o povo dele como família. Ele a asseguraria
daquilo e faria todos saberem que ela pertencia a ele.
Lutaria com unhas e dentes com Justice se fosse
necessário para que se criasse uma lei das Novas
Espécies dizendo que qualquer humano que estivesse
com uma Nova Espécie deveria ser considerado uma
delas. Queria que ela tivesse os mesmos direitos que ele.
Sabendo que Ellie não fazia nenhuma distinção entre eles,
então, nenhuma deveria ser feita contra ela em relação às
Novas Espécies. Ela deveria ser considerada uma Nova
Espécie.
Ele balançou a cabeça, decidido a empurrar aquela lei a
Justice enquanto fizessem novas para governar seu
povo. Logo, eles administrariam sua própria Homeland e
convenceria Ellie a terem um relacionamento
permanente. Já era, para ele.
Ela só precisava chegar em casa.
Parecia que se passava uma eternidade, até que a viu
pela janela. Ele combateu seus instintos para se apressar
para fora, correr até ela e abraçá-la, mas ele se manteve
calmo o máximo que podia. Ninguém tentara pegar Ellie,
já que ela não parecia estar com medo. Justice e os
membros da equipe pareciam completamente tranquilos.
Ele escancarou a porta de entrada.
Fury saiu e foi pisando firme na direção de Ellie, com
o alívio evidente em seu rosto.
– Estamos sendo observados – alertou Justice
delicadamente – Ellie, entre na casa como se não
déssemos a mínima. Fury, não pareça tão feliz em vê-la.
Ela acabou de mentir para uma sala cheia de gente. Não
faça o esforço dela ser inútil beijando-a onde qualquer
um pode ver. Vamos conversar por um minuto para
parecer que você veio correndo da porta para interagir
comigo.
Ellie continuou andando. Quis tocar Fury quando
passaram um pelo outro, mas não o fez, se recusando
até mesmo a olhar na direção dele até entrar em casa.
Ela fechou a porta, chutou os sapatos e ficou andando
pela sala. Um minuto depois, Fury entrou na sala e
trancou a porta atrás dele. Seus olhares se encontraram
por um breve segundo, antes de ela se lançar a ele.
Braços fortes a levantaram e a abraçaram com força.
Os pés de Ellie não tocavam o chão, quando ela se
encontrava com seu rosto enterrado no pescoço de Fury.
Ele a agarrava com tanta força que quase doía.
– Não consigo respirar – ela arfou.
O aperto das mãos de Fury ficou mais suave.
– Você voltou.
– Voltei.
Fury ajeitou-a no colo e andou com passos largos pela
casa, carregando-a até o quarto e colocando-a na beirada
da cama. Ele pegou a camisa e tirou-a por cima da
cabeça. Ellie sorriu para ele.
– Quando você chegou em casa ontem à noite, achou
que eu estaria frágil demais para fazer qualquer coisa,
exceto dormir abraçada com você. Hoje de manhã,
quando acordou, se recusou a tomar banho comigo,
dizendo que eu precisava de mais alguns dias para me
ajustar a você. Por que está tirando a roupa?
Fury tirou os sapatos e abaixou as calças. Seu olhar
negro e sexy se fixava no dela.
– Isso foi antes de tirarem você de mim. Preciso
possuí-la agora.
Ellie se levantou e começou a se despir. Um Fury nu
esperava e a observava silenciosamente, até que ela
terminou de tirar as roupas. Ela deu um passo na direção
dele.
Ellie arfou quando Fury se lançou, agarrou-a e virou-a
de costas. Ela se viu curvada sobre a cama, de joelhos,
antes que pudesse tomar fôlego. O corpo dele se curvou
sobre o dela, prendendo-a sob ele.
– Fury?
Ele rosnou e, em seguida, enterrou o nariz no pescoço
dela. Inalou profundamente e rugiu com suavidade.
– Você vai só montar em mim? – aquilo a deixou
alarmada – Sem preliminares? Nada?
– Você é minha.
Um pequeno medo se fez sentir em Ellie.
– Você está me assustando. Meu corpo não está
pronto para você.
– Não é minha intenção assustá-la. – ele mordiscou o
lóbulo da orelha dela – Apenas quero você. Fiquei
inquieto o tempo todo em que esteve fora, imaginando o
pior. Só quero ficar dentro de você. Quero você gritando
meu nome e o seu perfume enchendo minha cabeça.
Preciso sentir seu calor úmido, me enfiar fundo em você
e ficar assim pelo máximo de tempo que conseguir nos
manter conectados.
– Esqueça as preliminares – disse Ellie com uma voz
trêmula, excitada com suas palavras.
As mãos dele agarraram o quadril de Ellie, mas se
moveram para deslizarem pelas costelas dela até que ele
pegasse em seus seios e a pressionasse mais forte contra
o peito dele. Sua boca se abriu no ombro dela para
permitir que sua língua se movimentasse na pele dela.
Suas mãos firmes apertaram os seios, seus dedões
brincavam com os mamilos até que estes, em reação,
ficaram duros.
Ellie pôs as mãos entre os corpos deles e pousou as
palmas nas coxas dele. Hesitou por apenas alguns
segundos antes de movê-las e pegar na bunda dele. Ela o
empurrou com mais força contra seu corpo e mexia
freneticamente a bunda contra o pau duro.
Ellie soltou a bunda dele e torceu a mão entre os
corpos até seus dedos se curvarem em volta da carne
quente e dura da grossa ereção.
Fury se movia contra os dedos dela, permitindo que
ela o alisasse. Ellie elevou o quadril e apoiou o peito no
colchão. Ela se posicionou até que a cabeça do pau
estivesse exatamente onde ela queria, e então ele foi para
frente. Ela estava molhada e pronta quando ele começou
a fazer pressão em sua boceta. Um gemido alto deu as
boas-vindas a ele. Ele preenchia a necessidade dolorosa
que ela sentia. O corpo dela se alargou para acomodar
aquela grande ereção. Era maravilhoso. Ela gemia,
mexendo o quadril contra ele.
Fury se afastou um pouco, e depois suas mãos
soltaram os seios dela e deslizaram pela pele, até o
quadril. Mãos firmes a envolveram, agarraram-na bem e
ele enfiou mais rápido e mais fundo. Ellie gemia mais alto
de prazer com aquele pau que a golpeava.
– Você é tão apertada e quente. Tão molhada pra mim
– ele rosnou – Mas não quero machucá-la.
– Você não vai. – ela arfou – Caramba. É como se só
houvesse você. Quando você se mexe dentro de mim,
nada mais existe.
Fury se afastou e depois meteu com força e rapidez.
Ellie choramingou. Fury congelou, mantendo seu quadril
imóvel, com seu pau enterrado fundo dentro de Ellie.
– Não pare – ela implorou.
– Estou machucando você.
– Não. Caramba, não. Você é tão bom. Não pare,
Fury.
Ele rosnou e mordiscou o pescoço dela. Sua língua
trabalhava na carne sensível da lateral do pescoço,
dentes arranhavam a pele, fazendo com que ela ficasse
ciente deles, o que aumentou a paixão dela. Ellie tentou
empurrar o quadril contra ele, mas Fury segurou-o firme
no lugar, mantendo-a parada.
Ele começou a se mexer novamente, indo para dentro
e para fora do canal escorregadio dela, cada vez mais
rápido. O corpo de Ellie ficou tenso, em antecipação ao
clímax iminente, e seus dedos agarraram a beirada da
cama. Os dentes de Fury se afundaram no ombro dela
com firmeza, mas não feriram a pele. Naquele ponto, ela
pouco ligava se acontecesse. Somente o prazer que se
fazia dentro dela existia, enquanto ele rosnava e
penetrava com firmeza, roçando contra suas terminações
nervosas que doíam para serem libertadas.
Fury se mexeu e se enfiou nela outra vez, e depois
outra, em um novo ângulo, atingindo o ponto que a levou
a um jato irracional de delírio e prazer. O corpo dela se
agarrou no de Fury. Ela tremia ao atingir o clímax. O
corpo de Fury quase a esmagou contra a cama, quando
ele soltou os dentes do ombro dela. Ele jogou a cabeça
para trás e um som alto rasgou seus lábios, enquanto ele
começava a inchar dentro dela.
Ellie jogou a cabeça para trás, contra o ombro dele,
quando mais ondas de prazer a atingiram. Ela gritou o
nome de Fury outra vez.
Ambos estavam sem fôlego, deitados na cama, com
Ellie presa sob ele, quando a calma se instalou sobre eles
como consequência do sexo.
Eu amo Fury. Nunca soube que algo forte desse jeito
podia existir entre duas pessoas. Nunca quero deixá-lo e
nunca quero ficar sem ele. Era por aquilo que ela
abandonara a vida que possuía antes. Ela tinha certeza,
de uma vez por todas, de que fizera a coisa certa.
Fury se recuperou antes de Ellie. Tirou um pouco do
peso das costas dela e deu uma risadinha.
– Senti muito sua falta.
Ela abriu os olhos e girou o pescoço para fitá-lo por
cima do ombro.
– Estive fora só por uma hora.
– Foi uma hora longa.
Ellie riu.
– Me lembre de sair mais de casa se isso é o que vou
ganhar quando voltar.
Ele deu risada.
– Esqueça. Acho que devia logo amarrar você na
minha cama e deixá-la aqui. Não preciso que você saia
para querer que esteja exatamente onde está.
Seus corpos estavam relaxados e pareciam ter
derretido juntos. Para Ellie, era uma sensação divina.
Fury a tocou, acariciando-a onde suas mãos alcançavam.
Delicadamente, removeu o pau de dentro dela depois que
a pressão criada pelo inchaço aliviou.
– O quão flexível você é?
Ellie balançou os ombros.
– Não sei.
Fury se levantou. Ellie se mexeu para se pôr em pé,
mas Fury se curvou repentinamente e a colocou nos
braços. Ele sorria enquanto contornava a cama para,
gentilmente, deitar a cabeça dela no travesseiro na parte
de cima da cama, e depois ajustou-a confortavelmente
até que ela estivesse com as costas esticadas.
– Você ainda vai quebrar alguma coisa se continuar me
carregando por aí – provocou Ellie. – Eu podia ter
engatinhado até aqui se você tivesse me dito que queria
que eu ficasse aqui.
– Você não é pesada o bastante para me machucar.
Sou muito, muito mais forte que você. Poderia carregá-
la por horas e nem mesmo suar.
Ele agarrou sua panturrilha e a levantou. Ellie
observava em silêncio enquanto Fury subia na cama com
ela, empurrava sua perna para dobrá-la e colocava o
quadril no meio de suas coxas. Ellie esticou os braços
para tocar o peito dele, deixando as pontas de seus dedos
explorarem todos os músculos rígidos dali, encontrando
muitos deles naquele corpo malhado. Seu olhar passeou
pelos ombros dele, sentindo prazer em olhá-lo. Ele era
lindo. Seus dedos roçaram nos mamilos e ele respirou
profundamente quando eles responderam
instantaneamente e se arrepiaram. Ellie se sentou e sua
boca se fechou em uma daquelas tensas protuberâncias.
Sua língua traçava um círculo em volta do monte
enrijecido e o corpo dele se retesou sobre o dela. Fury
gemeu. Ellie sorriu, a boca encostada na pele dele, e
então chupou o mamilo. Seus dentes mordiscaram
levemente a ponta. O corpo de Fury tremeu e ele rosnou.
Seu pau reagiu na mesma hora contra o colo dela,
crescendo, aprisionado entre seus corpos. Ela não
esperava que ele fosse se recuperar tão rápido do sexo.
A maioria dos homens precisava de tempo. Fury, ela
pensou, não é nada como a maioria dos homens. Amo
isso nele também.
Ellie soltou o mamilo dele e deixou as mãos
escorregarem pelas costelas dele, indo até as costas.
Suas unhas arranhavam a pele, começando nos ombros e
descendo pela coluna. Fury se curvou contra seu peito,
parecendo um gato grande. Ela sorriu e lambeu a pele
entre os mamilos dele. Ela queria ter mel por perto. Teria
adorado derramá-lo sobre a pele de Fury e tirá-lo com a
língua. Suas unhas se movimentavam para cima e para
baixo, dos ombros até as curvas da bunda bem
esculpida, adorando o jeito que ele se arqueava e tremia.
– Você está suando.
Fury sorriu.
– Eu disse que você não era pesada o suficiente para
me fazer suar, mas com certeza é gostosa o bastante
para me fazer suar de desejo.
Ela riu.
– Entendi.
Fury abaixou a boca e Ellie levantou a sua para fazê-la
encontrar com a dele. Ellie adorava o jeito que ele a
beijava. Não havia nada de incerto. Ele dominava a boca
dela, com lábios fortes e seguros. A língua provocava,
explorando a boca dela com lambidas e golpes, uma
promessa silenciosa do que seu corpo faria com ela. Ela
só lembrou dos dentes afiados quando sua língua raspou
neles. Ela gemeu na boca dele, arqueando o corpo contra
o dele, desejando-o. Seu corpo queimava de vontade de
fazer amor novamente.
A mão de Fury escorregou pela coxa dela. Ele a pegou
por trás dos joelhos e levantou as pernas dela para passá-
las em volta de sua cintura, enquanto se abaixava sobre
ela, pressionando-a contra o colchão. Ellie tentou se
livrar do beijo, mas a outra mão de Fury envolveu seu
rosto e seu queixo para mantê-la parada. Ele continuou
beijando-a, se recusando a parar, e gemeu em sua boca
enquanto mexia o quadril. Seu pau alargava as paredes
vaginais dela enquanto deslizava para o fundo, por
inteiro, enterrando seu sexo no dela. Ellie gemeu na
língua dele.
Fury finalmente interrompeu o beijo. Abriu os olhos e
Ellie olhou dentro deles.
– Não tire os olhos de mim, querida. Seus olhos são
para mim a coisa mais incrível, e ver como você reage
quando a toco é a coisa mais linda que já vi.
Ellie sentiu vontade de chorar ao ouvir palavras tão
maravilhosas e ternas. Nunca um homem havia dito a ela
coisas tão notáveis como aquelas. Ele estava mesmo
sendo sincero, e ela acreditava de coração.
– É a coisa mais linda que já me disseram.
Seus olhares se prenderam e Fury entrou nela. Ela
agarrou os ombros dele, se prendendo a ele conforme ele
penetrava lentamente, profundamente, criando êxtase a
cada movimento. Ela sentia vontade de jogar a cabeça
para trás e seus olhos quase se fecharam de prazer. A
mão de Fury que segurava seu rosto apertou, mantendo-
a no lugar.
– Fique olhando para mim – ele ordenou – Quero ver
seus olhos quando você gozar.
Ellie parou de pensar, e só o que conseguia era sentir e
fazer o que ele mandava. Os movimentos que Fury fazia
para dentro e fora dela eram quase uma tortura. A
sensação se intensificava, mas ela queria que ele se
mexesse mais rápido. Seus olhos quase se fecharam de
novo, mas Fury rosnou, enquanto seu quadril batia com
força no dela.
– Olhe para mim.
– Mais rápido – ela pediu – Não aguento isso. É tão
bom. Sinto dor. Preciso…
Fury meteu mais rápido, mantendo contato visual o
tempo todo, e Ellie o agarrava com mais força conforme
ele dava estocadas. Ela ficou tensa, sentindo algo
parecido com dor deslizar por seu abdômen antes de o
êxtase explodir quando o clímax a atingiu. Ela não
desviava o olhar daqueles lindos olhos.
Ellie viu os olhos dele se estreitarem e sua face se
contorcer numa satisfação selvagem. O castanho dos
olhos dele pareceu escurecer enquanto ele abria a boca
para gritar o nome dela. Ela podia sentir o pau inchando
e o sêmen jorrando dentro dela enquanto ele gozava.
Fury sorriu.
– Me diga que não foi melhor.
Ela notou que suas unhas haviam se enterrado nos
ombros dele. Horrorizada, ela o soltou. No mesmo
instante, sangue começou a surgir dentro das marcas
que ela deixara.
– Me desculpe!
Fury riu. Ele virou a cabeça para conferir o ferimento
em seu ombro. Seu olhar encontrou o dela.
– Estou feliz.
– Você gosta de marcas de arranhões?
– Espere até ver os seus ombros. Agora não me sinto
mais tão culpado.
Ela tentou olhar para os ombros, mas Fury
desmoronou em cima dela. Não a esmagou, mas
definitivamente a deixou presa. Beijou-a rapidamente e
depois levantou a cabeça para sorrir para ela.
– Eu mordi você, Ellie. – ele piscou – Meio que
perfurei um pouco a pele. Pronta para um banho?
Ele realmente me mordeu? Ellie sabia que
provavelmente devia ficar magoada, talvez horrorizada,
mas não se sentia assim de jeito nenhum. Não sentira dor
quando ele a agarrara com os dentes, achando que ele
fizera só aquilo, então não tinha por que reclamar se
estava sangrando. Ao contrário, sorriu. Sem danos, sem
problemas, ela decidiu. Não pode ser pior do que as
marcas das minhas unhas.
– Sim. E também estou com fome, não almoçamos.
CAPÍTULO QUATORZE
Ellie estudava o diretor Tom Quish com suspeita. O
homem de olhos azuis tinha um belo rosto para alguém
da sua idade. Ela imaginava que ele teria uns 60 anos, e
estava em notável boa forma. Podia ver aquilo com
clareza, pois ele vestia uma regata e calças de ginástica.
Antes de passar na casa de Fury, estava fazendo uma
corrida. Fora uma surpresa encontrá-lo na entrada
quando a campainha tocou. Ela o reconheceu daquele dia
na sala de conferências, jamais se esqueceria do homem
que demitira o diretor Boris. Vê-lo era algo gratificante.
– Posso entrar?
Ellie saiu da casa e pisou na varanda, parando próxima
a ele. Viu dois oficiais da ONE do outro lado da rua, sabia
que observavam a casa para Fury mas, ao encontrar
seus olhares, não notou alarme. Obviamente, eles não
achavam que o diretor era uma ameaça à segurança dela,
senão o teriam impedido de chegar à porta. Ela relaxou
um pouco.
– Como você sabe, não é bem minha casa, e não me
sentiria confortável em convidá-lo a entrar. – ela respirou
fundo – Posso ajudá-lo?
– Espero que sim. Estou aqui para oferecer a você de
volta o emprego no alojamento feminino. As mulheres a
respeitam muito, senhorita Brower. Decidiram substituir
a governanta atual e seu nome surgiu.
Ellie tentou esconder a consternação que a declaração
dele causou. Os olhos do homem eram azuis e frios,
lembrando cubos de gelo. Ele, porém, tinha linhas de
sorrisos em volta da boca, que desviavam a atenção de
seu olhar gelado e desconcertante. Ele parecia bem
simpático e ela acreditava que suas intenções eram
honestas, mas não sabia como responder. Se aceitasse o
emprego, teria que sair da casa de Fury, e ela não queria
aquilo.
– Posso pensar a respeito? – Dê uma enrolada,
ordenou a si mesma – Foi muito traumático quando fui
demitida. Fiquei ao mesmo tempo sem casa e sem
emprego.
Ele olhou-a de cima a baixo. Seus olhos eram
inteligentes, talvez até demais.
– É claro que pode pensar. Se quiser, o emprego é
seu. Só peço que decida logo, precisamos de uma nova
governanta no alojamento o quanto antes. Como você
sabe, há mais mulheres chegando nas próximas
semanas.
– Eu não sabia disso. – Ellie admitiu – Achei que
primeiro eles fossem mandar só algumas mulheres para
ter certeza de que seria um bom ambiente.
– Elas decidiram que é. – ele sorriu – Você ajudou-as a
tomar essa decisão. Todas as mulheres no alojamento
indicaram você como um modelo positivo a ser seguido.
Ouvi dizer que suas aulas de culinária eram as preferidas.
Ellie sorriu de volta.
– Tentei fazer com que fossem divertidas.
– E conseguiu. Elas gostam muito de você.
– Sinto mesmo falta delas – admitiu – E também gosto
muito dessas mulheres.
– Ouvi dizer que precisaram de ajuda para aprender a
fazer quase tudo.
Ellie balançou os ombros.
– Elas ficavam trancadas em celas estéreis dentro dos
centros de testes. Tirar poeira, fazer café e cozinhar
panquecas não são bem coisas que elas tiveram a
oportunidade de aprender enquanto cresciam. Lembro de
como uma máquina de lavar podia ser aterrorizante
quando virei adolescente e minha mãe disse que eu teria
que lavar minhas próprias roupas. Quando você cresce
com todas essas coisas, aprende um pouco de cada vez.
Toda a tecnologia foi empurrada a elas de repente, mas
são coisas naturais para nós. Imagine se deparar com
uma secretária eletrônica sendo que um ano antes você
não sabia nem o que era um telefone.
Um interesse faiscou no olhar dele.
– Elas conversaram com você sobre como era a vida
delas antes de serem libertadas?
Ellie estudou o homem com cautela. Se recusava a
compartilhar detalhes pessoais que soubera ao fazer
amizades.
– Algumas. Por quê?
A expressão dele se suavizou.
– Li relatórios e conversei com muitos deles. As
coisas com as quais tiveram que lidar durante suas vidas
são horríveis. Prometi a Justice North que daria tudo de
mim para assegurar que o resto de suas vidas não seja
nada parecido com o passado. Para mim é muito
importante que as Novas Espécies estejam felizes e
seguras. Quero o melhor para elas e acho que, para as
mulheres, isso significa você.
Aquilo a tocou. Ellie teria aceitado o emprego de volta
no mesmo segundo se não tivesse que deixar Fury. Ela
notou um lampejo de satisfação nos olhos de Tom Quish
e abriu a boca.
– Você é muito bom em manipular. Sabe disso, certo?
Um sorriso curvou os lábios dele.
– É o meu trabalho. Como acha que consegui tão
rápido os fundos para Homeland e fiz com que militares
abrissem mão dela? A razão pela qual ela está quase
totalmente construída e pudemos nos mudar tão rápido é
que ela era candidata a ser uma nova base para o
exército. Charme e bons amigos em cargos altos têm
suas vantagens. Aceita o emprego, senhorita Brower?
Ela queria, mas não podia.
– Ainda preciso pensar.
– Você faz parecer que ofereci um doce que você quer
muito, mas tem medo de aceitá-lo porque aprendeu a
nunca confiar em estranhos.
Ela deu um sorrisinho.
– Eu não podia ter dito melhor.
– Sou bom com palavras também.
– O que está acontecendo? – Fury se apressou pela
calçada, olhando para o novo diretor de Homeland. Ele
chegou até o lado de Ellie, tenso e zangado.
Ellie olhou para ele e quis se encolher. Parecia um
namorado ciumento, e ela imaginava que ele era mesmo.
Se ele não colocasse rédeas em suas emoções, o diretor
seria idiota de não perceber que eles estavam envolvidos.
Ela olhou para cima e lançou-lhe um olhar de aviso, mas
ele se recusou a olhar para ela. Estava ocupado demais
encarando o diretor de forma ameaçadora.
Tom Quish deu alguns passos para trás.
– Só estava conversando com a senhorita Brower. É
bom vê-lo de novo, senhor Fury.
– O que você quer com ela? Ela fica aqui. Você não
tem poder para fazer com que ela saia.
O olhar de Quish se movia de um para o outro. Ellie
quase podia ver a mente do homem absorvendo a cena,
seus pensamentos indo aonde ela temia, o que só se
confirmou quando ele deu mais um passo atrás. Uma
expressão cautelosa de “ai, merda”, empalideceu as
feições bronzeadas dele.
– Vim oferecer à senhorita Brower o emprego dela de
volta. Suas mulheres sentem muito a falta dela e
mandaram embora a mulher que estava ocupando o
cargo da senhorita Brower. Elas declararam que desejam
que Ellie retorne ao alojamento. Vim aqui para deixá-la
ciente de que o emprego está aberto e disponível para
ela, caso haja interesse.
– Ela não quer – Fury afirmou com um rugido
zangado.
Merda, pensou Ellie. Fury não está mantendo a calma
nenhum pouco. O olhar dela voou até Tom Quish. Ele a
estudou e depois olhou novamente para Fury.
– Ellie pode continuar morando na sua casa, se está
preocupado com a segurança dela. Ela poderia trabalhar
no alojamento durante as suas horas de trabalho. Não é
exatamente o que as horas de trabalho requerem, mas
tenho certeza de que todos vão conseguir trabalhar em
um horário que você ache adequado.
Fury finalmente olhou para Ellie.
– O que você acha?
Ela ficou impressionada por ele ter pedido sua opinião
depois de ter reagido daquela maneira, recusando a
oferta de emprego dela. Ela fez que sim com a cabeça.
Tom Quish observava os dois com fascínio. Fury
concordou com a cabeça de volta. Seu foco retornou a
Tom Quish.
– Ela vai aceitar o emprego, sob a condição de morar
comigo.
De repente, Tom pareceu feliz.
– Ótimo, senhorita Brower. Pode começar amanhã às
nove?
– Sim – respondeu, antes que Fury pudesse abrir a
boca para falar por ela outra vez.
O diretor parecia satisfeito.
– Maravilha. Vou fazer umas ligações e arrumar tudo.
Alguém da segurança vai passar aqui mais tarde com o
seu novo distintivo.
– Obrigada. – Ellie gritou enquanto observava o novo
diretor se afastar e sumir de vista, antes de ousar olhar
para Fury. Ela lançou a ele um olhar irritado – Droga.
Você devia ter ficado frio. Ele sabe que somos um casal.
Você agiu como se fosse meu namorado.
O olhar de Fury se escureceu e sua boca se firmou
em uma linha.
– Eu sou.
– Bem, não é para ninguém saber disso, lembra? E
obrigada por deixar que eu tomasse a decisão final. – ela
entrou na casa com passos duros.
– Por que você está brava? – Fury a seguiu e fechou a
porta.
Ellie se virou e colocou as mãos no quadril.
– Temos que esconder nosso relacionamento, lembra?
Quer que aqueles médicos fiquem nos enchendo para
que a gente faça testes e que pessoas fiquem exigindo
saber como fazemos sexo? Eu não. Já pensou se eles
quiserem nos filmar? E você falou para ele que eu não
queria o emprego sem nem me perguntar antes. Sinto
falta do alojamento, mas também quero morar com você
aqui.
Fury sabia que tinha feito besteira. Ficara
instantaneamente alarmado quando seus homens lhe
disseram que Tom Quish, o novo diretor, fora até a porta
dele. Não havia razão para um humano estar naquela
seção de Homeland, exceto Ellie. Ele apressara o passo,
sabendo que todos do lado humano preferiam que Ellie
não vivesse com ele. Ouvira aquelas preocupações e
ignorara cada uma delas.
Ellie adorava trabalhar com as mulheres das Novas
Espécies; ele sabia o tanto que elas significavam para ela.
Então, quando ouviu Tom oferecer o emprego de volta,
no mesmo instante disse não, sem pensar. Certamente
era uma isca para fazer com que ela o abandonasse, mas
um olhar no rosto de Ellie disse-lhe que tinha feito errado
em responder por ela. Mulheres humanas podiam ser tão
teimosas quanto as das Novas Espécies. Elas exigiam o
direito de tomar as próprias decisões e, enquanto
gostavam de uma certa proteção, não eram de forma
alguma fracas para se cuidar, se fosse necessário.
Ele recuara quando foi assegurado de que Ellie poderia
morar com ele e de que o emprego não era um suborno
para que ela deixasse a casa. Relaxara quando o novo
diretor se afastou, mas a raiva de Ellie permaneceu. Ele
estudou as feições dela e soube que ainda estava irritada.
Ele reagira com exagero, mas só queria protegê-la e
mantê-la perto dele.
Ele estava cansado de esconder o relacionamento.
Tinha orgulho de estar com Ellie, mesmo que alguns do
seu povo não entendessem. Alguns deles ainda eram um
pouco amargos em relação aos humanos. Aquilo era
problema deles e, contanto que não descontassem em
Ellie, poderiam lentamente se desfazer de tais
preconceitos em seu próprio tempo.
Ele sabia que precisava amainar a raiva de Ellie. Ela era
rápida para fazer piadas, tinha um ótimo senso de humor
e não ficava ressentida por muito tempo. Eram as coisas
que ele aprendera sobre ela. Sexo também funcionava
para amaciá-la e fazer com que ela o perdoasse.
Um sorriso curvou os lábios de Fury.
– Sabe como você fica atraente quando está brava?
Vídeos, hein? Eu poderia comprar uma câmera e filmar a
gente transando.
– Não! – Ellie olhou para ele – É bom que você esteja
brincando sobre essa última parte.
Ele riu.
– Estou sim. Não quero filmar nosso sexo. Só quero
fazê-lo. – andou em direção a ela – Você fica sexy
quando está zangada comigo, querida. Não estou
brincando sobre isso. Estou com tesão.
Ellie se afastou e deixou as mãos caírem do quadril.
– Eu estou brava com você. Não me venha com essa
de “querida”, Fury. Estou com vontade de gritar com
você. Você não escondeu o fato de que estamos juntos e
falou para aquele cara que eu não pegaria o emprego de
volta. Essa escolha é minha.
– Você tem razão, estou errado, me desculpe. – ele
sorria ao se aproximar dela.
Ellie se afastou mais.
– Está me amaciando, não está?
– Sim. – ele piscou – Agora vamos transar. – ele se
lançou a ela, abrindo os braços, e tentou agarrá-la.
Ellie se virou em direção à cozinha, se divertindo com
o comportamento dele. Era ótimo ver aquele homem
costumeiramente sério ser tão alegre. Droga, como posso
ficar brava quando ele age assim? Ela não conseguia.
Entrou na cozinha e se esquivou atrás da pequena ilha.
Agarrou-se nela e seu olhar se estreitou quando Fury
parou do outro lado.
– Estamos conversando. Pare com isso.
– Vamos conversar durante o sexo. – ele foi até o lado
esquerdo.
Ellie sacudiu a cabeça e se moveu para que
continuassem em lados opostos da ilha.
– Que droga, Fury. Estou tentando ficar brava com
você. Tire esse sorriso da cara.
Ele parou e o sorriso sumiu.
– Não vou sorrir.
Ela apertou os olhos e viu os lábios dele se
contorcerem. Uma fagulha de divertimento se acendeu e
ela quase riu. Precisou lutar para se lembrar do motivo
de ele tê-la deixado zangada. Ah, sim.
– Você não pode sair por aí tomando decisões por
mim, e sabe que devemos esconder que somos um
casal.
– Você está mesmo me excitando agora. Está
respirando forte e, se não cuidar, seus peitos vão
estourar os botões dessa camisa. – ele cravou os olhos
no peito dela – Respire mais forte. Por favor!
Ellie olhou para baixo para ver a camisa, mas também
percebeu um movimento no canto de seu olho. Inclinou
a cabeça tarde demais; Fury a agarrou. Os braços dele se
enrolaram em volta de sua cintura, levantou-a e sentou-a
na ilha, deixando seus rostos quase na mesma altura.
Fury abriu as pernas dela e se colocou entre suas coxas.
Os braços dele se apertaram em sua cintura, puxando-a
contra seu corpo em um abraço forte.
– Desculpe por tê-la deixado brava. – ele deu a ela um
olhar sincero – Agora vamos fazer sexo de reconciliação.
Ouvi dizer que é o melhor.
Ellie pegou o rosto dele com as duas mãos e sorriu.
– Você é mau, sabia?
– Sou bom. Sabe disso ou devo lembrá-la? – abaixou a
cabeça e empurrou o rosto dela até que seus lábios
roçaram o pescoço dela. Sua língua se lançou para fora e
lambeu o ponto sensível abaixo da orelha dela. O quente
arfar de sua respiração fazia cócegas nela – Eu poderia
comer você aqui mesmo.
Ellie riu.
– Quarto.
Fury levantou a cabeça e sua voz ficou mais grave.
– Aqui.
– Quarto. Preparamos comida na ilha, Fury.
As sobrancelhas dele se elevaram e ele a soltou
quando deu um passo para trás. Pôs as mãos na camisa
dela e desabotoou. Ellie segurava a respiração enquanto
Fury a abria e a arrancava. Depois abriu as calças dela e
se afastou. Puxou-a de cima da ilha até que os pés
estivessem de novo no chão e se curvou na frente dela,
se ajoelhando, e ajudou-a a tirar as calças.
– Acho que na cozinha está bom – Ellie sussurrou,
ficando totalmente excitada.
O coração dela acelerou quando chutou as calças para
longe e colocou as mãos nos botões da calça de Fury
quando ele se levantou. Ele tirou a camisa por cima da
cabeça, jogando-a para o lado.
– Muito bom – Ellie murmurou ao se esfregar no
corpo dele. Sua língua tracejou o mamilo dele.
Fury gemeu e abaixou as calças, chutando-as para
baixo. As mãos de Ellie corriam por sua barriga lisa e
deslizavam para baixo, escorregando os dedos até o
elástico de sua cueca. Ela arranhou seu quadril com as
unhas. Fury empurrou o quadril contra o corpo de Ellie.
Sua excitação, presa entre seus corpos, se pressionava
contra a barriga dela.
– Doce – Ellie sussurrou enquanto movia a boca até o
outro mamilo dele.
– Querida – ele rosnou.
Ellie sorriu e se afastou do peito dele.
– Quero o mel que está no armário atrás de você. Na
parte de cima, à esquerda, minha esquerda.
Sobrancelhas escuras se elevaram ligeiramente.
– Mel? Você quer comer mel agora?
Ela deu um sorrisinho.
– Quero lambê-lo de você.
As presas dele morderam o lábio inferior quando ele
rosnou suavemente. Ele torceu o corpo e se esticou para
pegar o mel do armário para entregá-lo a ela. Ellie girou a
tampa. Olhou para ele uma vez, se certificou de que ele
estava a fim, e virou o pote de plástico sobre um dos
mamilos dele. Deixou o agrado dourado se derramar
sobre o peitoral dele e o outro mamilo. Ouviu Fury
respirar fundo, mas ele não disse uma palavra. Ela
colocou o pote em cima da ilha ao lado deles.
Ellie ficou na ponta dos pés e começou a lamber a pele
dele onde as gotinhas de mel grudavam, seguindo cada
uma delas com a língua. Fury deu um rosnado profundo.
Ellie se moveu para baixo, até o mamilo dele, e sorveu o
mel que estava ali, provocando o monte enrijecido.
Cobriu o mamilo com a boca e começou a chupá-lo. As
mãos de Fury se emaranharam em seu cabelo, mas ele
não tentou interromper a tarefa dela.
– Isso é incrível – ele rosnou.
Ellie o mordiscou com os dentes. O corpo dele deu
um puxão com o choque do solavanco que aquilo criara.
O pau dele golpeava a barriga dela e ficara mais rígido
quando ele encostou o quadril na barriga macia. Ela
soltou o mamilo dele e lentamente se moveu por seu
peito. Sua boca e seus dentes limpavam as doces gotas
lentamente, de forma provocante. Em seguida, ela o
empurrou contra o balcão. Fury se mexeu para se
inclinar contra ele.
Seu olhar negro e cheio de paixão encontrou o de Ellie
quando ela olhou para cima. Notara quando ele ficara
realmente excitado, com os olhos mais escuros.
Amava aquilo nele. Ela se moveu para a frente e
começou a lamber os pingos de mel que haviam caído
sobre a barriga dele. Lambeu um a um. Parou no elástico
da cueca quando percebeu que não havia mais gotas.
Sorriu para ele e então escorregou os dedos para dentro
do elástico para puxá-lo para baixo. O pau de Fury
estava tão duro, que ela precisou esticar ao máximo o
elástico da cueca para libertá-lo.
Fury deu um gemido quando ela beijou seu quadril e
virou o rosto, estudando de perto aquela ereção
impressionante. Ela não conseguia evitar um Fury
excitado. Sorriu e correu a língua ao longo daquela carne
dura e quente que estava em pé para ela, da base até a
cabeça.
Fury rugiu e agarrou a parte de cima dos braços dela,
puxando-a para deixá-la em pé. O choque percorreu Ellie
enquanto fitava o rosto dele. Ele parecia bravo. Ela
franziu a testa.
– Não quer que eu continue? Eu estava chegando na
melhor parte.
Ele levantou-a até que a bunda dela estivesse plantada
novamente em cima da ilha. Fury se virou e abriu os
armários, procurando por algo.
– Fury? Deixei você bravo? O quê…
– Não posso deixar você fazer isso. Estou frustrado
pra caramba, mas não bravo.
– Por que não? Eu quero.
Fury se virou, revelando ter um rolo de fita adesiva
nas mãos. Ele se aproximou e delicadamente abriu a mão
no peito dela. Empurrou-a até que ela ficasse deitada na
superfície gelada. Ele se inclinou sobre ela.
– Meu pau incha, lembra? Estou tão pronto para gozar
agora que não duraria um minuto. Já imaginou se eu
inchasse dentro da sua boca?
Ela o fitou, compreendendo o que Fury dissera.
– Ah. Isso provavelmente não seria bom, levando em
conta que você já é bem grande. Acho que não teria
problema desde que eu ficasse só na parte de cima. Você
incha perto da base.
As feições dele se relaxaram e um pouco de tensão se
desfez.
– Sim. Eu adoraria que você fizesse isso, mas não me
excite tanto da próxima vez, quando fizermos algo pela
primeira vez. Sou um atirador, Ellie. Você consegue me
sentir dentro de você quando meu sêmen sai, não é? Eu
atiraria com tanta força e tanto, que a afogaria. Você
pode fazer isso mais tarde se estiver a fim de um
segundo round. Agora preciso me acalmar, ou não vai
ser bom para você.
Ela olhou confusa para o rolo de fita adesiva.
– Pra que isso?
Ele sorriu.
– Me dê seus pulsos.
– Por quê?
Ele pegou um pano de prato.
– Agora.
Ela hesitou, mas confiou nele o suficiente para
levantar os braços. Fury sorriu e enrolou o pano de prato
em volta deles, e depois usou os dentes para cortar um
pedaço de fita adesiva do rolo. Ellie ficou surpresa
quando ele passou a fita sobre o pano de prato e uniu os
pulsos dela. Ela ficou lá e o observou puxar mais fita,
deixando-a conectada ao rolo e aos seus pulsos.
Ele circundou a ilha e pôs perto da cabeça dela. Ela
olhava para ele, até que ele se agachou e sumiu da vista
dela. Ela ouviu mais fita sendo puxada, e então ele puxou
seus pulsos lentamente para cima de sua cabeça, até que
seus braços estivessem esticados. Ela o escutou fazendo
algo do lado da ilha antes de ele se levantar. Ele se livrara
do rolo.
Ellie puxou os pulsos, mas não conseguia abaixá-los.
Seus olhos voaram até Fury. Ele parecia estar se
divertindo muito.
– O que você está fazendo?
Ele levantou o pote de mel, moveu as pernas dela e se
curvou contra a ilha até que seu quadril se encaixou
entre as coxas dela.
– Também quero um pouco de mel.
Ellie mordeu o lábio e estremeceu. Fury virou o pote e
derramou mel sobre a barriga dela e mais para baixo, até
que gotas caíram na parte de dentro das coxas. Fury
mexeu o quadril, abrindo mais as pernas dela, e Ellie
fechou os olhos quando mais gotas pousaram em sua
boceta aberta.
Ele colocou o pote de mel na beirada e se inclinou
sobre ela. Sua boca quente e sua língua a lambiam,
enquanto sorvia cada uma das doces gotas. Ellie queria
tocá-lo, mas suas mãos estavam presas acima da cabeça.
Quando ele chegou na parte de dentro de suas coxas, ela
estava queimando de puro desejo.
– Fury – ela pediu.
– Calma. Estou chegando lá.
– Agora, Fury. Por favor? Faça isso depois, mas
preciso de você. Por favor? Me coma.
Ele rosnou. Ellie abriu os olhos e encontrou os dele.
Ele se levantou e pegou na parte de dentro de suas
coxas, movendo o quadril para mais perto do dela. Ellie
passou as pernas em volta da cintura dele e ele a puxou
um pouco para a beirada da ilha um segundo antes de
entrar no corpo dela. Ellie jogou a cabeça para trás e
gritou de prazer.
– Me solte – ela gemia – Quero tocar você. – ela
puxava os braços, mas a fita adesiva e o pano de prato
não se soltavam. Ele prendera o pano com a fita com
muita força.
As mãos de Fury agarraram o quadril dela quando ele
começou a enfiar, num ritmo regular e profundo. Ellie se
debatia no balcão. Ela gemia, choramingava e se
perguntava se sobreviveria às sensações maravilhosas de
ter seu corpo despertado por ele, levando-a à beira do
êxtase. Ele se mexia mais rápido, deixando ainda melhor.
Ellie apertou as pernas na cintura dele, elevando-as para
que ele tivesse livre acesso com seu quadril que a
penetrava.
Ela o ouviu rosnar e então uma pressão se fez sentir
contra suas paredes vaginais, quando ele começou a
inchar dentro. A pressão aumentava enquanto ele
continuava fodendo. Uma de suas mãos se abriu onde ele
a segurava, e seu dedão roçou no clitóris dela,
esfregando. Ellie gritou, atingiu o clímax fortemente, e
Fury gritava seu nome ao enterrar seu pau mais fundo,
com seu corpo tremendo enquanto o sêmen quente
jorrava dentro dela e ele gozava forte.
– Fury! – uma voz masculina rugiu.
Ellie abriu os olhos rápido. Ficou atordoada, chocada e
horrorizada, quando Justice correu para dentro da
cozinha com dois oficiais da ONE logo atrás. Justice se
atirou contra Fury, derrubou-o e jogou-o para longe de
Ellie.
Ellie gritou de medo e choque com o que acontecia,
enquanto Justice e Fury travavam uma batalha no canto
da cozinha. Justice socava Fury e Fury tentava tirá-lo do
caminho para chegar até ela. Os dois oficiais da ONE se
apressaram para ajudar Justice a prender Fury, pegaram
seus braços e jogaram-no no balcão. Fury rugiu e jogou
um dos homens no balcão próximo com força. Vidro se
quebrou.
Ellie se virou com força para o lado, tentando rolar de
cima do balcão, onde ela estava deitada e nua, com os
pulsos ainda presos acima da cabeça, mas
demasiadamente magoada, chocada e cheia de adrenalina
para ser graciosa.
Seu movimento foi violento demais e ela acabou
errando a beirada. Caiu e um pânico completo a atingiu
quando ela não conseguiu agarrar em algo para impedir a
queda. A dor explodiu em sua cabeça quando ela bateu
contra a lateral da ilha e a beirada de azulejo se chocou
com sua têmpora. Uma escuridão percorreu-a junto de
uma dor intensa. Ela ouviu algo antes de perder a
consciência.
– Ellie! – Fury berrou.

Fury odiou estar preso em uma cela, quando acordou


no departamento de segurança. Justice andava de um
lado para o outro. Sua memória voltou naquele ponto.
– Onde está Ellie? Ela está bem? – ele pulou para se
pôr em pé e segurou as barras que o prendiam.
– Ela está na médica. – Justice se virou para as barras,
com um olhar sombrio – Você a forçou?
– Não – Fury rugiu – Eu teria explicado isso se você
não tivesse me atacado e me nocauteado.
– Você a prendeu e ela estava gritando. – o rosto
bronzeado de Justice parecia anormalmente pálido –
Agora que sei como é intenso o que você sente por ela,
jamais teria acreditado que você a machucaria se não
tivesse visto com meus próprios olhos.
– Eu não a forcei.
Justice rosnou.
– É esse tipo de merda que temíamos quando alguns
de nós começaram a mostrar fortes traços animais com
nossos instintos apurados. Mas você estava cientes
deles, discutimos bastante sobre isso, porém você não se
controlou.
A ira percorreu Fury.
– Sei que não sou razoável quando se trata da Ellie e
que acasalei com ela. Isso vai além de sexo. Eu afirmei
que ela é minha, mas jamais a machucaria, Justice. Você
entendeu tudo errado.
– Você está descontrolado! – Justice se mexeu rápido,
agarrou as barras a centímetros dos dedos de Fury e
mostrou os dentes com um rosnado selvagem –
Sabemos tudo sobre força, não é? Você a ama? Então
não devia tê-la amarrado e enfiado seu pau nela.
– Eu não fiz isso – Fury rugiu.
Justice soltou as barras e se afastou.
– Quero confiar em você, mas… – ele sacudiu a
cabeça – Você é o primeiro de nós a acasalar. Permitiu
que seus instintos animais o controlassem a ponto de
chegar a esse nível. Não somos totalmente humanos,
não importa o quanto fingimos ser para que tenhamos
paz entre nós e eles, e não há câmeras aqui. É tão grande
assim, Fury? A necessidade de possuí-la é tão grande
que você a forçaria?
– Eu não forcei! – Fury tentou se acalmar soltando as
barras da cela de sua pegada mortal e se afastando
alguns passos – Não vou mentir. Estou obcecado por
ela. Respiro e vivo Ellie. Meu coração bate por ela,
Justice, ela é tudo para mim. Acho que estou viciado no
perfume dela. É só no que consigo pensar quando ela
não está por perto. Apesar de tudo isso, eu jamais faria
qualquer coisa para causar dor a ela. Você está
entendendo tudo errado.
– Preciso ouvir isso dela. Até vermos como esse
acasalamento acontece e que efeitos colaterais você
sofre com isso, sinto muito, mas não posso deixar que
você fale com ela.
Fury se moveu rapidamente para frente, agarrou a
porta da cela, puxou-a, mas ela estava trancada.
– Deixe-me sair. Ela está ferida? Preciso ir até ela.
– Você não vai a lugar nenhum até que eu fale com
ela. Prender uma mulher e amarrá-la é forçar. Você ficou
louco? – Justice rosnou suavemente – Você fica insano
quando se trata dessa humana, droga. Estou chocado
e… – ele pigarreou – Como pôde fazer isso?
– Eu não estava machucando Ellie. Você me conhece,
sabe que ela é tudo para mim. Eu nunca a machucaria.
Estávamos fazendo amor.
– Os anos dentro do centro de testes o levaram à
loucura se acredita que forçar uma mulher, amarrando-a
e fazendo-a gritar de dor, é fazer amor. Você ficou com a
mente deturpada, Fury. Preciso ir. Meu coração está se
partindo.
Justice se virou, se movendo rapidamente em direção
à porta.
– Justice? Volte! Me solte. Não é o que você pensa.
Não sou louco e nunca machucaria minha Ellie. – ele
balançou as barras da cela violentamente, mas elas se
seguraram.
Ele se virou e uivou de raiva. Ellie estava ferida e ele
não podia ir até ela. Seu melhor amigo achava que ele
ficara louco por acasalar.
CAPÍTULO QUINZE
Ellie sabia que algo estava errado mesmo antes de
acordar por completo. Sua cabeça latejava com uma dor
chata. Abriu os olhos e viu apenas uma luz, e estudou
um teto que não reconhecia. A confusão a atingiu. Onde
estou? O que aconteceu? Alguém se inclinou sobre ela,
se colocando entre ela e a fonte de luz acima.
Ellie reconheceu a doutora Trisha Norbit e, na mesma
hora, franziu o cenho. Por que essa mulher está sobre
mim? O cabelo da médica fora preso num rabo de cavalo
desgrenhado e não se via mais sua aparência arrumada.
Ela parecia preocupada ao piscar os olhos azuis na
direção de Ellie.
– Você está bem. Dei a você alguns analgésicos.
Gostaria de um gole de água?
Ellie franziu a testa.
– O que houve?
Trisha franziu a testa de volta.
– Você não se lembra?
Se lembra do quê? A última coisa de que me lembro
é… a memória retornava lentamente. Ellie lutou para se
sentar. Procurou agitadamente por Fury pela sala. De
algum jeito, ela fora parar num pequeno quarto, mas ele
não estava lá com ela.
– Onde está o Fury?
– Eles o prenderam.
– Por quê?
Trisha se sentou na ponta da cama.
– Alguém informou ao Justice que o novo diretor foi
até sua casa. – ela respirou fundo – Justice foi ver você
e Fury e perguntar o que Tom Quish queria. Ele bateu na
porta mas, como ninguém respondeu, ele e os
seguranças resolveram entrar depois de ouvirem você
gritar, e Fury berrar. Correram para a cozinha e o viram
te machucando. Eles acreditam que ele a amarrou para
impedir que lutasse contra ele.
– Me machucando? – o queixo de Ellie caiu. Ela estava
tão pasma, que levou alguns segundos para responder –
Estávamos transando.
Trisha mordeu o lábio.
– Você bateu forte a cabeça na beirada da ilha a que
você estava presa. Precisei dar alguns pontos na sua
têmpora. – ela pausou – Posso trazer uma pessoa em
uma hora para falar sobre estupro, se você quiser
conversar com alguém. Sua cabeça vai ficar boa. Talvez
você tenha uma pequena concussão, mas tenho certeza
de que ficará bem fisicamente. Emocionalmente… –
Trisha esticou os braços e pegou a mão de Ellie – Estou
aqui para você. Acho que deveria falar com um terapeuta
especialista em lidar com estupros. Ninguém vai saber.
Justice North está esperando na outra sala para
conversar com você, quando estiver pronta. Ele
prometeu que vão punir Fury severamente pelo que ele
fez, mas se você quiser entrar em contato com a polícia
de fora, ele fará isso. Você é quem sabe.
Ellie puxou a mão que a médica segurava.
– Justice! – ela berrou o nome dele.
A porta se escancarou em alguns segundos. Justice
parecia o demônio. Sua camisa estava rasgada, seu lábio
estava inchado e havia um ferimento em sua testa. Ele
adentrou o quarto e congelou.
– Solte-o agora. – a voz de Ellie tremia de raiva e
terror – Ele não me machucou. Você me machucou.
Solte o Fury agora mesmo, droga! – ela começou a
gritar, mas não se importou – Que diabos há de errado
com todo mundo? Fury não estava me estuprando!
O choque empalideceu o rosto de Justice. Ele abriu a
boca, mas nada saiu.
Ellie pegou os cobertores que a cobriam, jogou-os
longe e ficou grata por não estar nua. Ela não tinha
certeza até que balançou as pernas na beirada da cama.
Alguém a vestira com um pijama rosa-claro e largo. Pôs
os pés no chão. Sua cabeça doeu tanto, que ela quase se
arrependeu de se apoiar na cama para se levantar.
– Não se levante – exigiu a médica enquanto a
segurava – Você está sob efeito de drogas, precisa ficar
deitada.
Ellie deu um tapa nas mãos da mulher e direcionou a
ira a Justice. Conseguiu dar um passo antes de suas
pernas dobrarem. A médica a pegou, mas ambas iam se
estatelar no chão, quando Justice de repente se lançou
para a frente e passou os braços em volta das duas
mulheres. A força dele se mostrou quando ele as
posicionou delicadamente para que caíssem na cama.
Ellie a atingiu e a médica veio logo em seguida, caindo ao
lado dela no colchão macio. Ellie ficou deitada ali,
olhando para ele e lutando contra as lágrimas.
– Ele não estava me machucando. Como você pôde
achar isso?
Ele hesitou.
– Você estava amarrada e gritando. Ele é a razão por
você estar ferida.
Lágrimas rolaram pelo rosto dela.
– Estávamos transando e estava ótimo até você
derrubá-lo e jogá-lo para longe de mim, seu filho da puta.
Estávamos nos divertindo, rindo e então… – a voz dela
sumiu enquanto olhava para ele – Você me machucou,
não ele. Você me feriu. Tudo estaria bem se você não
tivesse entrado lá e atacado Fury, e eu não teria
despencado de cima da ilha.
Justice deu um passo para trás e ficou mais pálido.
– Mas eu ouvi você gritar quando passamos pela porta
de entrada. Você estava amarrada quando corremos para
lá.
Ellie olhou para a médica.
– As mulheres deles às vezes não fazem barulho no
final do sexo?
A médica deu de ombros.
– Não sei. Algumas de nossas fêmeas são barulhentas
no sexo. Isso é verdade.
– Ele a amarrou – Justice a lembrou delicadamente –
Isso é forçar.
– Não foi isso. Você é surdo? Estávamos brincando e
nos divertindo. Você não notou que ele colocou um pano
de prato em volta dos meus pulsos para que a fita
adesiva não entrasse em contato com minha pele? Acha
que se ele quisesse me machucar se importaria de eu
ficar com marcas vermelhas da fita adesiva? – mais
lágrimas quentes escorregaram pelo rosto de Ellie –
Onde ele está? Você o machucou? Solte-o. Quero Fury,
agora mesmo.
Justice se virou.
– Vou buscá-lo. – ele saiu do quarto e bateu a porta.
Ellie se virou de lado na cama e cobriu o rosto. Não
conseguia parar de chorar. Uma mão esfregou suas
costas. Era a médica tentando confortá-la. Ellie suspirou.
– Eles machucaram Fury?
– Não sei. – Trisha admitiu – Tratei um oficial que
chegou com você. Fury fez alguns danos antes de ser
contido.
O alarme causado pela notícia disparou em Ellie,
motivando-a a se sentar e enxugar as lágrimas. Ela fitou
a médica.
– Mas você não teve que tratar Fury? Isso significa
que ele está bem, certo?
A médica hesitou.
– Não sei. Sinto muito. Se ele estivesse mesmo ferido,
imagino que o teriam trazido aqui também ou chamado
uma ambulância para cuidar dele.
– Caramba! – Ellie exclamou – Por que diabos isso
aconteceu? Estávamos rindo e fazendo amor. E então
isso. – ela sacudiu a cabeça e instantaneamente se
arrependeu quando o movimento lhe causou tonturas –
Por que ninguém nos deixa em paz?
O olhar de Trisha parecia ter se suavizado.
– Ninguém sabe o que esperar. Tenho certeza de que o
senhor North e os dois oficiais acharam que a estavam
salvando.
– Do Fury? – Ellie ignorou as outras lágrimas que
rolaram por seu rosto – Ele não me machucaria.
Trisha esticou o braço e pegou na mão de Ellie.
– Sinto muito.
A porta do quarto quase explodiu para dentro e Ellie e
Trisha pularam quando Tom Quish adentrou o quarto. O
olhar dele pulou de Ellie para a médica.
– Que diabos aconteceu? Acabei de ser informado de
que há um enorme problema aqui. A segurança me
informou que uma Espécie está presa e que a senhorita
Brower teve que ser carregada até sua casa,
inconsciente, por dois Espécies homens que pareciam ter
se envolvido numa briga.
Ótimo, pensou Ellie. Que ótimo. Ela não conseguia
nem falar. Agora o novo diretor também estava
envolvido em seu pior pesadelo.
Trisha soltou a mão de Ellie.
– Como ousa entrar desse jeito na minha casa? Esse é
o meu quarto, diretor Quish. Quanto ao que você ouviu,
um acidente infeliz aconteceu, e isso é tudo.
Ela se moveu para a frente, colocando o corpo entre
Ellie e o diretor. Ele parecia confuso.
– O que houve? – ele pareceu mais calmo.
Trisha esticou os ombros e olhou para o diretor.
– O que houve é que alguém passou pela sua
segurança e assustou a senhorita Brower. Ela gritou. O
senhor Fury, o senhor North e os guardas estavam na
casa – mentiu a médica – Eu disse que vi algum idiota
com uma câmera bisbilhotando em volta da clínica hoje.
Pode ter sido o mesmo cara. – ela virou a cabeça para
olhar para Ellie com os olhos arregalados – O cara que
você viu espiando pela janela era baixinho, loiro e vestia
jeans e uma camiseta verde?
Ellie fitou a médica, tentando esconder o choque da
surpresa de que aquela estranha contaria mentiras para
proteger seus segredos, mas conseguiu fazer que sim
com a cabeça. – Parece o cara que me assustou.
Um franzido desfigurou o rosto do diretor.
– Então é por isso que o senhor Fury está preso?
O alívio passou rapidamente pela face da médica,
antes de ela encarar o diretor novamente.
– Porque ele queria ir atrás do filho da puta e matá-lo.
A senhorita Brower estava alarmada, caiu para trás e
bateu a cabeça. Ela apagou ao se chocar contra a beirada
do balcão. Você sabe como esses homens são protetores
com as mulheres. Ela é uma hóspede na casa dele e um
imbecil com uma câmera a assustou, ela se feriu e ele
perdeu a cabeça. Você sabe que eles podem caçar e
matar com aqueles instintos animais. O senhor North
achou que seria uma má ideia deixar que o senhor Fury
matasse o homem, já que é um humano. No calor do
momento, eles não se entenderam. O senhor Fury está
detido até que consiga se acalmar.
– É verdade – concordou Slade, encostado na porta.
Dessa vez, ele não vestia o uniforme da ONE, mas sim
jeans e uma regata preta – Vim aqui ouvir o depoimento
da senhorita Brower sobre o homem que ela viu na
janela. Perdão, diretor, não estou no meu horário de
trabalho mas gostaria de pegar a declaração dela o mais
rápido possível. Será que o senhor poderia pedir aos
seus guardas que procurem por esse cara antes que ele
cause mais problemas?
Ellie observava o rosto de Tom Quish e via raiva nele.
– Está bem. Se é essa a história que você quer contar,
vou aceitar. – ele olhou de um jeito sombrio para Ellie –
Você está bem, senhorita Brower? Há algo que eu possa
fazer por você?
– Estou bem agora – ela disse delicadamente – Mas
obrigada por se importar.
Ele se virou e marchou para fora do cômodo. Ellie
fitou a médica, ainda surpresa com o fato de ela a ajudar
contando mentiras. A médica deu de ombros.
– Falei que você pode confiar em mim.
Slade exalou o ar com força.
– Acho que vou me sentar na sala para impedir que
alguém mais entre sem pedir licença. – seu olhar deslizou
até Ellie – Estão trazendo Fury até você e ele deve
chegar logo. Ele está muito puto, mas bem. – seus olhos
foram até a médica e ele deu um sorrisinho zombateiro –
Você mente bem, doutora. – Slade piscou para ela e
fechou a porta delicadamente atrás dele.
Os ombros de Trisha caíram. Ela se sentou ao lado de
Ellie na cama.
– Não sou a melhor das mentirosas. Aquilo foi pelo
menos aceitável?
– Muito. Ele foi embora, não foi?
Trisha estudou Ellie.
– Você precisa pegar leve nas próximas semanas. Você
deu mesmo uma pancada naquele balcão. Se tiver dores
de cabeça, tonturas, ou se apenas não se sentir bem,
precisa me ligar imediatamente. Quero que você pegue
leve e que tente não fazer sexo por pelo menos uma
semana. Precisa ficar calma e sem atividade física.
Mantenha a área em que dei os pontos o mais seca
possível. Usei pontos que se dissolvem, então não vou
ter que removê-los. Duvido que fique uma cicatriz
aparente.
– Ótimo. – Ellie não conseguia esconder a raiva que
ardeu em seu rosto nem o sarcasmo em relação àquela
novidade.
– Posso só fazer algumas perguntas?
– Tipo o quê?
– Bem – Trisha se apressou para encará-la, ajustando
o corpo na beirada do colchão – Li alguns dos relatórios
médicos sobre as Novas Espécies e descobri que Fury é
canino. Lá diz que o pênis deles incham durante o sexo.
– ela fez uma pausa – Esse inchaço a machuca?
– Não – Ellie sacudiu a cabeça – Não acredito que isso
tenha acontecido.
– Por quanto tempo você tem que esperar,
normalmente, até que o inchaço pare?
Ellie franziu a testa para a médica.
– Por favor? Quero saber.
– Para que você possa ajudar outras pessoas, caso
uma mulher decida dormir com um deles?
Trisha hesitou.
– É para o meu próprio bem. Sinto-me atraída por um
deles.
Ellie relaxou.
– Ah… Bem, nesse caso, não é doloroso. O inchaço
dura só alguns minutos, talvez uns três.
– Obrigada. Alguma surpresa?
– Eu o amo mais do que minha própria vida.
Trisha se levantou.
– Pode ir para casa com ele hoje. Apenas lembre-se do
que avisei sobre sua cabeça, e o senhor Fury terá que
acordá-la em alguns momentos para ter certeza de que
você está bem. Se ele tiver algum problema para te
acordar, deve me ligar imediatamente. Vou te dar
analgésicos para ajudar com a dor de cabeça que vai ter
depois que passar o efeito da medicação.
– Obrigada, doutora Norbit.
– Pode me chamar de Trisha. – ela saiu do quarto.
Ellie ouviu vozes alguns minutos depois. A porta do
quarto se abriu e Fury entrou. Ellie arfou. Hematomas
desfiguravam o rosto dele e alguém lhe dera uma camisa
que parecia ter sido rasgada em alguns pontos. Ele
cruzou o quarto com apenas alguns passos, deixando a
porta entreaberta. Ele a pegou e cuidadosamente levou-a
até o colo, abraçando-a forte contra o peito.
– Você está bem?
Ela pendurou o braço no pescoço dele. Ele estava com
um olho roxo, mas não estava inchado. Estudou os
ferimentos dele. Uma de suas mãos tremia ao tocar o
rosto dele, pressionando a palma na única parte da pele
que parecia não estar ferida.
– Precisei levar alguns pontos na cabeça. Você está
bem? O que aconteceu?
Ele rosnou.
– Tentaram me impedir de vir até você. – o olhar dele
passou pela testa dela – Há pontos debaixo da atadura?
– Só alguns. Mas estou bem. – sua mão abandonou o
rosto dele e se dirigiu à camisa que ele vestia. Ela afastou
a gola e espiou dentro, vendo marcas vermelhas no peito
dele. O olhar apavorado correu para fitar dentro dos
olhos dele.
– Estou bem. Enorme falha de comunicação.
Ellie conteve um soluço.
– Foi mais do que isso.
Fury a abraçou com um pouco mais de força.
– Sim, mas agora está resolvido. Aprendi uma lição
importante com isso.
– Qual?
– Da próxima vez, vamos fazer barricadas nas portas.
Um sorriso se arrancou dos lábios de Ellie por amor a
ele, apreciando a tentativa de humor.
– Quero ir para casa. Trisha disse que posso ir
embora. Ela está me dando analgésicos agora. Estamos
proibidos de fazer sexo por uma semana e você tem que
me acordar algumas vezes à noite para ter certeza de que
estou bem.
Fury se encolheu.
– Uma semana, é? – seus olhos castanhos se
suavizaram – Estou feliz por você estar bem. Ouvi você
gritar. Fiquei apavorado quando você caiu, você não se
mexia e eu senti o cheiro do seu sangue.
– Estou bem.
Fury se levantou, carregando Ellie no colo.
– Vamos para casa.
Ellie descansou o rosto no ombro dele e passou o
outro braço em volta do pescoço dele. Ela estava saindo
com um pijama emprestado, mas não se importava com
quem a via. Fury andou até a porta do quarto, usando o
pé para abri-la totalmente. Justice, Slade e Trisha
esperavam-nos na sala.
– Desculpe-me – disse Justice delicadamente – Eu não
sabia, senão jamais teria corrido até aquela cozinha. – ele
encontrou o olhar de Fury – Não achei que você a
machucaria mas, depois daquela última vez, não tinha
certeza.
Trisha franziu a testa.
– Que última vez? O que aconteceu antes?
Ellie suspirou.
– É outra confusão, Trisha. Conto para você em outra
hora.
Trisha esticou um frasco de comprimidos na direção
de Ellie e Fury.
– Eu fico com isso – ofereceu Slade, pegando-o da
mão dela – Vou levá-los para casa. Seria estranho se
alguém visse Fury carregando uma mulher de pijama.
– Tome só um comprimido se tiver dor – Trisha
instruiu.
Slade hesitou à porta.
– Quer que eu a leve para você, Fury? Aquelas arma
de choques doem pra burro.
– Eu a seguro – Fury rosnou.
Slade abriu a porta e saiu do caminho. Fury carregou
Ellie para fora da casa e foi até o carro que aguardava no
meio-fio. Slade abriu a porta de trás para eles. Fury
mexeu Ellie nos braços e entrou no carro com ela no
colo. Ele se sentou com força o bastante para chacoalhá-
la e a dor atravessou a cabeça dela. Ela gemeu
suavemente.
Fury rosnou.
Ellie o esfregou onde suas mãos o tocavam.
– Estou bem. É só uma dor de cabeça.
Fury a abraçou mais forte, obviamente chateado. Ellie
estava chocada com o quão terrível a noite deles tinha se
tornado. Precisou conter as lágrimas por medo de que
Fury ficasse ainda mais chateado se ele as visse.
Ellie sorriu para as mulheres que estavam na cozinha
do alojamento com ela. As oito mulheres eram novas,
haviam chegado cedo naquela manhã. Ellie ficara pasma
quando elas foram levadas até a porta com as malas.
Breeze estava ao lado dela para dar as boas-vindas às
novas companheiras de alojamento.
– Elas são tão pequenas – disse Ellie.
– Sim – Breeze concordou soturnamente – São
mesmo.
Ellie olhou para ela.
– Eu achava que vocês eram todas altas, já que até
então era tudo o que eu vira.
Breeze hesitou.
– Nós éramos os protótipos experimentais, Ellie.
Fomos modificadas para termos força e resistência para
testarmos drogas que deixariam os humanos mais fortes.
Justice nos mandou para cá primeiro porque somos mais
resistentes. Somos fortes. Aquelas – a atenção de Breeze
se focou nas mulheres que adentravam a casa – Aquelas
são as realmente infelizes.
– O que isso quer dizer?
Breeze deu um olhar de advertência a Ellie.
– Depois.
Ellie havia designado quartos para elas e naquele
momento estavam todas reunidas na cozinha para as
primeiras lições. Depois de se acostumar com mulheres
das Novas Espécies bem maiores que ela, fora estranho
estar no meio de mulheres de seu tamanho ou até
menores. As novas mulheres tinham entre um metro e
cinquenta e um metro e sessenta. O porte físico delas
era menor, similar a um humano frágil, mas suas feições
revelavam que eram Novas Espécies. Elas também
pareciam tímidas e acanhadas, diferentemente das Novas
Espécies maiores. Ellie sorriu numa tentativa de deixá-las
à vontade.
– Sei que tudo isso parece ser demais, mas acreditem
em mim, até o fim da semana vocês estarão cozinhando
e saberão lidar com tudo nesta cozinha.
Uma loira com grandes olhos cinzas levantou a mão.
Ellie manteve o sorriso.
– Sim?
A loira mordeu o lábio.
– Você é uma de nós?
Ellie negou com a cabeça.
– Não sou uma Nova Espécie. – Ellie olhou para
Breeze. Ela permanecera perto do grupo de mulheres
como se fosse a sombra delas desde que haviam entrado
no alojamento algumas horas antes.
– Ela é uma humana pura, mas é boa – Breeze
assegurou delicadamente – Ela é nosso bichinho de
estimação. – Breeze piscou para Ellie – Nós a chamamos
de poodle. É aquele cachorrinho bonitinho, pequeno e
com pelo fofo.
A loira parecia chocada ao olhar para Ellie.
– Você não fica brava por ser chamada de bicho de
estimação?
Ellie riu.
– Sei que elas dizem isso com amor. Qual é seu nome?
A loira hesitou.
– Elas me chamam de Halfpint.
Ellie olhou para Breeze, que deu de ombros. Ellie tinha
uma tonelada de perguntas sem resposta, mas deixou a
que mais queria perguntar para mais tarde.
– Bem, vocês têm alguma outra pergunta?
Halfpint se dirigiu a Breeze.
– Posso?
Breeze suspirou.
– Você não precisa mais de permissão. Você é livre.
Não há medo aqui, Halfpint, pode perguntar o que quiser.
Halfpint esticou os ombros. Parecia com medo
quando encarou Ellie.
– Você está nos treinando para voltarmos a ser
melhores no que devemos ser?
– Não – exclamou Breeze – Isso acabou. Você é livre.
Entende isso? Está aqui para aprender a administrar sua
casa como qualquer outro humano. Todos aprendem a
cozinhar as refeições e usar utensílios. – Breeze se
levantou de repente da cadeira – Preciso de um pouco de
ar. – ela abandonou a cozinha.
Confusa, Ellie ficou ali. Não sabia o que estava
acontecendo. Os olhos cinza de Halfpint se encheram de
lágrimas. Ellie se moveu e parou na frente dela.
– Está tudo bem, tudo isso é novo para vocês. Você
está bem?
Halfpint enxugou as lágrimas.
– Eu a deixei brava.
Ellie olhou para a porta, sabendo que não tinha como
discordar.
– O que você quis dizer com voltar a ser o que era
antes?
Halfpint pareceu ainda mais apavorada. Ela se virou de
repente e se jogou nos braços de outra mulher,
abraçando-a forte. Ellie notou que de repente todas
estavam amedrontadas por algum motivo. Nunca uma
mulher das Novas Espécies tivera medo dela. Ellie andou
para trás, esperando que aquilo aliviasse o medo delas.
– Por que não vão desfazer as malas? Iremos bem
devagar hoje e vocês podem conhecer as outras
mulheres. Coloquei avisos atrás das portas de vocês para
que saibam os horários das refeições. Se tiverem
perguntas, estarei aqui até às cinco. As outras mulheres
ajudarão vocês se eu não estiver.
Ellie viu as mulheres saírem e, depois, foi procurar
Breeze. Ela a viu através da janela da sala e saiu do
prédio. Breeze estava sentada em um banco debaixo de
uma árvore, no jardim na frente do alojamento. Ellie se
sentou ao lado.
– O que foi aquilo?
Breeze esfregou a grama com o pé.
– O que foi feito a elas me deixa indignada. Os
médicos as fizeram fracas de propósito. Aquelas
mulheres têm medo até de fazer uma pergunta, e você
ouviu o comentário sobre antes? Não importa quantas
vezes digam a elas que acabou, ainda ficam apavoradas
que mintam para elas e as mandem de volta.
– Não entendo.
Breeze levantou a cabeça e as lágrimas em seus olhos
se revelaram.
– Eles uniram o DNA delas ao de animais domésticos
para fazê-las fracas e pequenas. Não foram criadas para
testes, não foram combinadas com espécies diferentes
para pesquisas médicas… Foram feitas para serem
usadas e abusadas.
Ellie cruzou os braços.
– Para quê?
Breeze enxugou uma lágrima que correu por seu rosto
e deixou a cabeça cair.
– Presentes. Os médicos as fizeram ser escravas
sexuais dos filhos da puta que financiaram os centros de
testes. Eram entregues a qualquer babaca que tivesse
dinheiro e fosse pervertido o suficiente para querer
comer uma animal que se parecesse humana o bastante
para ser atraente. Eles as fizeram pequenas o suficiente
para serem impotentes e incapazes de se defender.
– Meu Deus. – Ellie sabia que o sangue havia sumido
de seu rosto – Por favor, me diga que está brincando.
Breeze sacudiu a cabeça.
– Encontramos algumas delas, mas Justice ainda está
fazendo buscas com a ajuda do seu governo. Chegamos
tarde demais para salvar a maioria delas que
encontramos rastreando as transações financeiras. Os
homens que foram presos confessaram que abusaram
delas até a morte. Essas são as maiores e mais fortes,
que sobreviveram ao pior.
– Acho que vou vomitar.
Breeze olhou-a nos olhos.
– Eu também. Aqueles cretinos não só as deram como
presentes para doentes com fetiches animais, como
também as deram para o que há de pior na humanidade:
assassinos que admitiram terem as espancado até lhes
tirarem a vida, ou feito com que passassem fome até
morrer.
Ellie ficou grata por não ter tomado café da manhã,
pois teria vomitado na grama.
– Então, quando elas disseram “antes”, quiseram dizer
isso? Elas acham que as estou treinando para serem
melhores… – ela fechou a boca quando a bílis subiu.
– Presentes – Breeze rosnou.
– Aqueles filhos da puta.
Breeze concordou com a cabeça.
– Eu não devia ter perdido a cabeça, mas fiquei irada.
Me fez mal, Ellie. Acredite em mim. Todas tínhamos
vidas infernais, mas as delas eram muito piores. Alguns
guardas tentaram me atacar sexualmente, revidei e até
matei um deles. Grande parte da equipe dentro do centro
de testes queria nos proteger daquilo, então não
acontecia com frequência. Diziam que éramos muito
caras para estragar. O centro de testes só nos fazia
transar com nosso próprio povo, mas não nos
machucávamos. Partilhávamos dignidade, respeito e
gentileza. Elas não tinham isso quando eram tocadas por
homens.
Ellie se levantou, com as pernas fracas.
– Acho que precisarei mesmo ajudá-las muito, e
tomara que aprendam a confiar em nós.
Breeze se levantou e deu um sorriso triste para Ellie.
– Você é pequena como elas e talvez isso as ajude.
Halfpint achou que você fosse uma delas.
Ela e Breeze voltaram ao alojamento. A depressão se
alastrou por Ellie. Sempre que pensava ter superado o
tipo de horror que as Novas Espécies haviam sofrido,
surgia um novo.

Ellie sorriu para Fury. Ele não queria que ela tivesse
ido trabalhar, mas brigara com ele pela manhã. Agora ele
estava fazendo de tudo para fazer as pazes com ela.
Sexo de reconciliação não era possível, já que Fury tinha
medo de machucá-la de algum jeito. O sorriso de Ellie
morreu. Ela desejava que Fury percebesse que ela não
era tão frágil quanto ele achava.
– Sinto-me tão mal por elas – ela admitiu.
– Você tem um bom coração. – Fury acariciou o rosto
dela com o dedão – Agora elas estão livres. Vamos
encontrar outras em breve.
– Eu queria poder fazer algo legal para elas.
– O que você tem em mente? – Fury a puxou para ela
se sentar ao lado dele no sofá.
Ellie se curvou contra ele, adorando ficar agarrada
com ele.
– Não sei. Breeze mencionou que elas eram mantidas
longe de todos, menos de seus abusadores.
– Sim. Eles nos chamam de animais, mas aqueles
homens eram verdadeiras bestas. Algumas daquelas
mulheres foram encontradas trancadas em porões. Eram
mantidas longe de qualquer outra pessoa para evitar que
fossem descobertas. Nunca foram levadas a lugar
nenhum e, em alguns casos, não tinham nem mesmo
roupas.
Ellie estremeceu com as imagens horríveis que aquele
relato criou em sua mente.
– Elas acharam que eu tentaria ensiná-las como usar a
cozinha para que aprendessem novas habilidades e as
usassem com seus antigos donos.
Fury se encolheu.
– Ouvi dizer que era horrível. Justice as mantém bem
longe de todos os homens. Ele quer que elas se
fortaleçam emocionalmente antes de serem apresentadas
a nós.
– Mas vocês protegem as mulheres de vocês, já os vi
fazendo isso.
– Protegemos, mas elas nunca tiveram isso, Ellie.
Foram feridas e abusadas por homens. É só o que elas
conhecem.
– Onde elas foram mantidas depois de serem
resgatadas, se não estiveram perto de homens? Elas
foram descobertas todas de uma vez e trazidas
diretamente até aqui?
– Não. Justice entrou em contato com uma igreja.
Eles têm alguns retiros onde não há homens. Aceitaram
as mulheres de braços abertos para dar-lhes tempo e paz
para se recuperarem do que passaram. Vão ser enviadas
para cá quando os terapeutas acharem que estão fortes o
suficiente. A primeira leva é um teste para ver como se
saem. Esperamos que consigam superar o passado e
encontrar um futuro.
– E se não estiverem?
– Justice pensou em fazermos uma comunidade só de
mulheres para protegê-las.
– Pobres mulheres. – Ellie se aninhou mais em Fury e
olhou para a televisão. Fury gostava de assistir baseball e
o jogo começaria em breve – Queria poder fazer alguma
coisa para ajudá-las.
– Você vai pensar em algo.
– É, espero que sim.
O noticiário passou antes do jogo. Ellie se esticou e
olhou em choque para o repórter que abria o jornal com
a manchete da noite sobre as Novas Espécies.
Mostravam uma imagem de Fury carregando Ellie para
um carro. Ele parecia furioso na foto e Ellie parecia
sentir dor.
– Filho da puta – Fury rosnou. Ele se mexeu, se
esticando até o telefone.
– Fique quieto – Ellie ordenou – Quero ouvir isso.
– Como eles conseguiram uma foto daquilo?
– Não sei.
Os dois ouviram a história. Fury finalmente desligou a
televisão e se pôs em pé. Discava o telefone enquanto ia
a passos duros até a cozinha. Ellie o ouvia do outro
cômodo. Ela ficou sentada lá, tremendo.
Agora o público sabia sobre ela e Fury. O repórter
afirmara que ela e Fury eram o primeiro casal entre uma
Nova Espécie e um humano. Sugeriram que Ellie – os
nomes dos dois foram mencionados – fora ferida de
algum jeito. O repórter alegou que Fury devia tê-la
machucado.
Ela fechou os olhos e lutou contra lágrimas de raiva.
Pior, ela se sentia péssima por Fury. Por que as pessoas
achavam que ele a machucaria automaticamente apenas
por ser uma Nova Espécie? Eles sabiam até mesmo que
ele fora misturado a DNA canino; fora mencionado na
reportagem. Era óbvio que alguém dentro de Homeland
vazara aquela informação para a imprensa.
Ellie ainda tremia ao se levantar. Encontrou Fury
andando de um lado para o outro na cozinha, falando ao
telefone. Seus olhares se encontraram. Fury pausou,
furioso e pálido. Ellie foi direto até ele. Um dos braços
dele envolveu sua cintura e ele repousou o queixo em sua
cabeça.
Ellie apenas abraçava Fury até que ele terminasse a
ligação. Ele desligou o telefone e o bateu no balcão. O
outro braço dele passou em volta de sua cintura,
abraçando-a, enquanto esfregava suas costas.
– Justice entrou nisso. Ele precisa chamar uma
coletiva de imprensa, Ellie. Ele não tem escolha. Estavam
sugerindo que você estava sendo ferida. Precisamos do
apoio do público.
Ela balançou a cabeça contra o peito dele.
– Eu sei.
– Com certeza há um vazamento em algum lugar. Eles
sabiam que eu sou canino. Isso não é de conhecimento
público. Citaram nossos primeiros nomes.
Ellie se retraiu.
– Acha que foi a doutora Norbit? Odiaria pensar que
ela fez isso.
– Não sei, mas vamos descobrir. Odeio dizer isso,
mas aposto que foi ela ou alguém da força de segurança
humana. Eles também têm acesso aos nossos arquivos.
Alguém me informou de que o Tom apareceu na casa da
doutora. Os seguranças humanos o alertaram, e isso
significa que eles sabiam que algo acontecera.
Ellie se afastou dele para olhar para seu rosto.
– Sinto muito por eles terem deixado implícito que
você me feriu. São uns idiotas.
Um pouco da ira em seu rosto se suavizou.
– Não é sua culpa. As pessoas sempre acham o pior.
Caramba, meu próprio povo achou que eu fosse capaz
disso.
– O que fazemos agora?
Os lábios dele se contorceram e ele deu um sorriso
leve para ela.
– Veja pelo lado bom. Não temos mais que esconder
nosso relacionamento.
Ela deu um riso debochado.
– Pois é. Saiu no jornal. Acho que eu devia ligar para
minha família antes que eles fiquem sabendo e
enlouqueçam.
O sorriso dele se esvaeceu.
– E se eles não gostarem de você estar comigo? – os
olhos dele procuraram os dela – Você vai me deixar?
Ellie o abraçou mais forte.
– Nunca. Eu juro. Não ligo para o que eles pensam.
Ele não conseguia esconder o alívio.
– Eu verifiquei uma coisa.
– O quê?
Ele hesitou.
– Já disse que te amo?
O coração de Ellie se elevou.
– Não, não falou. Está me falando agora?
Os lábios dele se contorceram antes de falar e a alegria
piscou em seus olhos.
– Depende. Você me ama?
Ellie riu e fez que sim com a cabeça.
– Amo.
– Eu te amo, querida.
– Eu também te amo. – lágrimas a cegaram e ela
piscou para se livrar delas – Te amo há um tempo, mas
me segurei para não falar.
– Por quê?
Ela deu de ombros.
– Acho que estava sendo idiota. Caras humanos
tendem a se retrair um pouco quando uma mulher
declara que se apaixonou rapidamente.
As sobrancelhas dele se arquearam.
– Não sou um deles, não totalmente, e estou cheio de
alegria por você me amar. Nunca mais diga que você é
idiota. Você tem cautela porque já foi muito machucada
no passado. Isso nunca vai acontecer conosco porque
dessa vez você escolheu direito. – um sorriso curvou os
lábios dele, com uma faísca provocativa em seus lindos
olhos.
Ellie precisou combater as emoções para que não
tomassem conta. Ela riu com a piada dele. Ele me ama!
Mais lágrimas a cegaram e ela precisou contê-las. Para
ele não era apenas sexo, ele partilhava dos mesmos
sentimentos que ela. De repente, os problemas deles
pareciam irrelevantes. Ele me ama!
– Que bom. Te amo mais do que as palavras podem
expressar, e estou muito feliz por você me amar
também.
Fury riu.
– Verifiquei sobre casamento. – o sorriso dele sumiu –
Não há uma cláusula especial para nós, mas não é
exatamente contra a lei, já que não há nada que fale
sobre as Novas Espécies.
Casamento? Ellie o olhou em choque. Ela jamais
esperaria que Fury pensasse sobre aquele tipo de
compromisso, porém obviamente ele pensara. Ela queria
se casar com ele? Ela o fitou nos olhos. Ele se tornara
uma grande parte de sua alma desde aquele dia que a
assombrara, o dia em que o vira naquela cela estéril.
– Você quer falar sobre se casar? Mesmo?
– Você se importaria em casar comigo? Eu te amo e
quero ter um compromisso com você, Ellie. Esse é o
compromisso mais profundo que os humanos têm.
– Eu te amo ainda mais por isso.
Ele a levantou e carregou-a até a sala. Sentou-se no
sofá com ela no colo. Ela pôs os braços em volta dele e
os dois sorriram um para o outro.
– Você consideraria seriamente me dizer sim se eu a
pedisse em casamento num futuro próximo?
Ellie riu.
– Sim, mas você não deve me perguntar se eu
consideraria. Apenas peça.
– Eu pediria, mas ainda não pude comprar uma
aliança. – ele pegou na mão de Ellie em sua nuca. Levou-
a a seus lábios e pressionou um beijo na palma. Depois a
virou para estudar seus dedos – Não sei qual é o
tamanho do seu dedo, a não ser que as alianças sejam
todas pequenas.
– Meu tamanho é quatorze.
– Quatorze. – o olhar dele encontrou o dela enquanto
segurava sua mão – Vou pedir para o departamento legal
ver se podemos nos casar. Até agora tudo o que eles
descobriram é que não há nada nas leis, mas também
não há nada que seja contra nos casarmos. Somos o que
eles chamam de marco de referência. Parece até que
somos um imóvel.
Rindo, Ellie concordou com a cabeça.
– Sim, é meio que isso.
– Eles acham que isso não deve ser um problema.
Esperavam que ninguém descobrisse que você aceitou
ser minha esposa até depois de nos casarmos. Agora
tenho medo de que alguém pense nisso e proteste contra
nosso direito de fazê-lo.
– Acho que eles não podem. Você tem direitos, Fury.
Não podem dar às Novas Espécies o direito de viver
como cidadãos e depois dizer que vocês não têm os
mesmos direitos que outras pessoas. Seria errado
demais.
O telefone tocou, então Fury tirou Ellie do colo e
gentilmente colocou-a ao lado dele no sofá. Ele se
levantou e pegou o telefone. Ellie se encostou e tentou
relaxar. Podia ouvir a voz de Fury, mas não as palavras.
Ele quer casar comigo. Ela deu um sorrisinho.
– As ligações já começaram, Fury. – Justice xingou
em voz baixa – Acabei de falar com o presidente. Ele nos
apoia totalmente, mas senti uma preocupação em sua
voz. Assegurei-o de que as coisas estão bem e de que a
reportagem foi propositadamente cruel.
– Bom. Avisei nossas equipes e eles estão a postos
para ajudar as forças humanas nos portões, caso haja um
influxo de manifestantes. Estou esperando que isso
aconteça. Isso vai deixar aqueles doentes malucos,
achando que seu pior medo se tornou realidade: o de que
uma Nova Espécie vive oficialmente com uma mulher
humana. – Fury fez uma pausa – Me desculpe por esse
problema, mas eu não mudaria nada. Ela vale a pena para
mim, Justice.
– Você deixou isso claro e, como eu disse, estamos
felizes por vocês. Apoiamos vocês. – Justice pausou –
Sei que precisamos comunicar esse assunto à imprensa.
Eles estão imaginando o pior: que ela foi ferida por
abusos de um dos nossos. Precisamos esclarecer esse
assunto.
– Concordo, mas me recuso a colocar Ellie na frente
deles para responder a perguntas. Eles a atacarão
verbalmente e vão dizer-lhe coisas más que ferirão seus
sentimentos. Não permitirei. É meu trabalho protegê-la.
Precisamos deixar que os humanos lidem com sua
própria espécie. Estão recebendo para lidarem com a
imprensa. Deixe que façam isso.
– Também é seu trabalho proteger as Espécies e nossa
imagem. Pode ser que tenhamos que permitir que eles
vejam Ellie para que assegurem aos humanos de que ela
está bem. Precisamos do público ao nosso lado, Fury. A
última coisa de que precisamos é de mais humanos nos
odiando e aparecendo do lado de fora dos portões. O
presidente não poderá nos dar apoio se for apanhar de
todos por fazer isso.
– Posso fazer meu trabalho e Ellie é uma Nova
Espécie. Também devo protegê-la. Não arriscarei uma
coisa pela outra porque não será isso.
– Ótimo. Vou convocar uma reunião com Tom em
seguida e ele é o melhor relações públicas que temos. Ele
tem muito interesse na política e tem bastante
experiência em lidar com o público, nos dirá o melhor
jeito de lidarmos com isso. – Justice suspirou – Queria
que esses AntiNovas Espécies apenas fossem embora.
– Eu também, mas somos livres. Esse parece ser o
preço. Sabíamos desde o começo que não seria fácil.
Vamos superar isso. Nossas equipes de segurança estão
preparadas para o pior e você vai lidar com os humanos.
Você faz isso muito melhor do que eu. – Fury deixou
escapar uma risada – Hoje não tenho inveja do seu
trabalho.
– Tem algum jeito de você permitir que a imprensa
tenha acesso à Ellie?
– Não. Ela está esperando que eu termine essa ligação
para que eu vá até ela. Está preocupada, preciso acalmá-
la.
– Por acaso você acabou de dizer que precisa acalmá-
la? – Justice gargalhou.
Um lampejo de irritação percorreu Fury.
– O quê? Ela fica chateada e não aguento vê-la daquele
jeito.
– Acalmar?
– Passo minhas mãos por ela. – Fury riu – Eu a
distraio e, como seu parceiro, é meu dever ocupar a
cabeça dela com coisas mais agradáveis. Você vai
mesmo debochar de mim por isso? Se houvesse uma
mulher esperando por você, iria querer acalmá-la
também.
– Vá lá. Agora estou com inveja de você. Não tenho
ninguém esperando por mim. – Justice desligou.
– Justice vai dar uma coletiva de imprensa amanhã.
Ele decidiu que não temos que falar com eles a não ser
que a gente queira. Disse a ele que não vamos. – Fury
disse isso ao sair da cozinha sem o telefone.
Ellie ergueu uma sobrancelha.
– Você podia ter me perguntado.
Os olhos negros se estreitaram.
– Não vou expor você e deixar que humanos digam
coisas que irão magoá-la.
– Não fique bravo. Eu mesma estou tentando não ficar
zangada. Mas você precisa me perguntar as coisas. É a
coisa certa a se fazer.
Fury rosnou.
– Eu tenho que protegê-la
Ellie suspirou. Ela o amava. Ele era naturalmente
dominador, era algo de sua natureza, e queria protegê-la.
Ela podia ou combater tudo o que ele fizesse ou apenas
aceitar que ele tendia a esse comportamento. Sabia que
ele a amava tão profundamente quanto ela o amava. Ela
fez que sim com a cabeça e a ira dele se suavizou.
– Só quero dar proteção a você.
– Eu sei, Fury. Eu apenas gosto de ser consultada,
está bem?
– Vou tentar. Quer que eu ligue de volta para Justice e
diga a ele que estaremos lá para os repórteres nos
fazerem perguntas?
– Você faria isso por mim? Iria comigo se eu
quisesse?
Ele se sentou ao lado dela.
– Se você for, eu vou.
Ela o amava ainda mais por dizer aquilo.
– Não ligue de volta para ele. Não quero estar lá de
jeito nenhum.
– Mulheres… – Fury rosnou, mas sorriu.
Ellie se inclinou na direção dele e delicadamente roçou
um beijo em seus lábios antes de se afastar.
– Acostume-se se quer casar com uma.
– Eu quero.
O telefone tocou outra vez. Fury xingou.
– Droga, isso não vai parar.
Ellie concordou em silêncio.
– Acho que devia ligar para a minha família do meu
celular, enquanto você atende. Seria grosseiro não alertá-
los antes de eles verem isso no noticiário.
O olhar de Fury se enegreceu.
– Não ligo se eles não estão felizes sobre nós. Você é
minha vida agora, Fury. Você é tudo que importa. Mas
devo ligar para eles para que escutem isso de mim.
– Talvez eu deva apenas arrancar os telefones das
paredes.
Ellie ficou tentada a deixá-lo fazer aquilo, mas a
realidade se colocou.
– Então eles viriam até a porta.
– Bem pensado.
CAPÍTULO DEZESSEIS
– Mil perdões por fazer vocês virem até aqui. – o
diretor Tom Quish parecia sincero ao olhar para Ellie e
Fury. – Justice está furioso comigo, mas tenho mais
experiência em lidar com a imprensa e o público do que
ele. A maioria das pessoas adora um bom romance, e
precisamos delas do nosso lado. Eles querem vê-los
juntos, o que vai detonar os boatos malvados que andam
circulando pelos tabloides.
– Queremos saber, que boatos são esses? – Fury
arqueou a sobrancelha.
Tom negou.
– Não exatamente, a não ser que você esteja mesmo
mantendo Ellie presa em uma casinha de cachorro e em
uma coleira para se vingar pelo que os humanos fizeram
com você. É uma merda desse tipo.
Ellie virou a cabeça para sorrir para Fury.
– Isso parece meio depravado.
Ele riu.
– Talvez eu construa uma casinha de cachorro.
– É disso que preciso – Tom os encorajou – Vocês
estão lidando muito bem com isso.
Fury balançou os ombros.
– Fiquei bravo, mas Ellie me disse que isso só piora
tudo. Ela chorou quando jurei que mataria todos eles.
O sorriso de Tom sumiu na mesma hora. Seus olhos
se arregalaram de pavor.
Ellie deu uma risadinha.
– Ele está brincando.
– Graças a Deus. – Tom sorriu de novo.
– Eu não chorei quando ele disse isso. Eu disse que
não gosto de ver sangue.
Fury riu. Ellie piscou para ele. Tom resmungou.
– Vocês vão me matar lá se agirem assim. As pessoas
não saberão o que pensar de vocês. Espero que tenha
sido uma piada.
– Eles acham que sou um animal selvagem que está
forçando Ellie a ser escrava sexual. – Fury cerrou os
dentes – Estou errado?
– Acalme-se. – Ellie chegou mais perto dele e tocou
em seu peito para acariciá-lo com a mão – A raiva não é
nossa amiga. Lembra da nossa conversa hoje de manhã?
Sei como você está bravo, mas é isso o que eles querem
ver. Você precisa manter o controle. Ria deles. Se for
acusado de alguma merda dessas por um repórter,
apenas pense nisso. – ela se aproximou mais – Eu
adoraria ser sua escrava sexual qualquer dia.
Fury deu um sorriso largo que mostrou seus dentes
caninos.
– Isso não vai me impedir de ficar bravo. Vai me fazer
querer levar você para casa.
– Uma hora, Fury. É só durante esse tempo que você
terá que ficar frio. Você consegue se controlar, precisa
fazer isso! – Ellie o assegurou – Você pode berrar mais
tarde e ficar zangado, se as coisas ficarem feias lá.
Ele segurou o rosto dela.
– Prometo que vou tentar, Ellie. Faria qualquer coisa
por você.
– Obrigada.
– Mas se eles a insultarem, posso ficar bravo. Você
sabe que meu pavio é curto quando alguém te faz mal ou
diz coisas ruins sobre você.
Ellie deu um gemido.
– Eles vão me insultar, tenho certeza. Posso lidar com
isso, portanto fique calmo.
– Que tipo de homem eu seria se ficasse lá sentado
enquanto falam coisas ruins sobre você?
– Um homem esperto – Tom exclamou – O mundo
estará vendo isso, Fury. Vocês dois são uma notícia e
tanto no mundo todo. Vocês não têm ideia da cobertura
que haverá lá. Se vocês encantarem a imprensa, vão
adorar vocês. Vão apoiá-los totalmente sobre seu
relacionamento. Se as coisas não forem bem, problemas
surgirão. Precisamos muito do dinheiro que recebemos,
Fury. Pense em todas as Novas Espécies e mesmo na
Ellie. O que aconteceria se o apoio pulasse fora e os
fundos que mantêm Homeland funcionando parassem de
entrar? Ela fecharia, e então para onde iriam todos?
Nossa equipe jurídica está trabalhando duro naquelas
ações judiciais para manter o dinheiro entrando, mas me
asseguraram de que não vai durar muito antes de as
Indústrias Mercile pagarem pelo que fizeram.
– Está bem – Fury suspirou – Eu entendo. Vou me
sentar lá e ficar calmo, não importa o quanto eu queira
machucar alguém.
– Obrigado. – Tom suspirou. Ele lançou um olhar
sinistro a Ellie e cruzou os dedos. O homem andou em
volta da mesa e colocou o casaco – Vamos lá.
Fury pegou a mão de Ellie. Ela tentava lutar contra o
nervosismo. Nunca tivera que falar na frente de um
monte de câmeras e repórteres. Por razões de segurança,
a coletiva de imprensa seria realizada na frente do portão
principal, pois assim todos ficariam fora de Homeland,
mas perto dos muros de segurança para ajudar a
controlar a área.
– Estou aqui – Fury a confortou – Não vou deixar que
ninguém faça mal a você.
Ellie esboçou um sorriso fraco.
– Simplesmente odeio estar no meio de um monte de
gente, mas vou ficar bem com você ao meu lado.
Fury apertou sua mão e a puxou mais para perto
quando saíram pelos portões. Ellie percebeu na mesma
hora que aquilo se tornara um circo midiático das piores
proporções. Flashes de câmeras os cegavam enquanto se
aproximavam da área destinada a eles.
Justice e Tom andavam à frente de Ellie e Fury. Ele
soltou a mão dela e passou o braço em volta de sua
cintura. O corpo dele a protegia daquele monte de
câmeras. A imprensa gritava perguntas que eles
ignoravam de propósito, já que Tom os havia preparado
bem.
Ellie se sentou entre Fury e Trisha Norbit. Ellie ficou
grata por estar ao lado da mulher. Trisha apertou sua
mão debaixo da mesa e lançou-lhe um sorriso corajoso.
Ellie apertou a mão de Fury. A outra mão dele cobriu a
dela, segurando-as com as duas. Ele esfregou a pele dela
delicadamente para confortá-la. Tom se levantou e tentou
silenciar a imprensa. Boa sorte, pensou Ellie. Uma
gritaria de louco irrompeu.
Tom conseguiu silenciar a multidão depois de alguns
minutos. Ellie ouvia enquanto Tom falava à imprensa.
– Os boatos que circulam sobre Fury ferir Ellie
Brower não são verdadeiros. – sua voz soava de forma
clara – Eles são um casal vivendo junto dentro de
Homeland. O vídeo que vocês viram na televisão era de
algo que aconteceu depois de Ellie sofrer um pequeno
acidente. Ela foi tratada por nossa médica. Esta é a
doutora Trisha Norbit, que irá confirmar isso a vocês.
Trisha se inclinou em direção ao microfone, se
apresentou e imediatamente os repórteres gritaram uma
enxurrada de perguntas. Ela precisou esperar todos se
calarem para poder falar.
– É claro que os boatos não são verdadeiros. – Trisha
balançou a cabeça e parecia zangada ao olhar para os
repórteres – Foi um pequeno acidente enquanto Ellie
limpava a cozinha. – mentiu ela – Ela bateu a cabeça na
quina da ilha da cozinha quando se levantou depois de
varrer o chão. Ela deu uma pancada na cabeça. O senhor
Fury nem estava em casa na hora do incidente, ele
chegou e encontrou Ellie. Tudo o que vocês viram foi ele
carregando Ellie para o carro depois de eu ter tratado
dela. Foi simples assim.
– Senhorita Brower – um dos repórteres se levantou –
Isso é verdade?
Ellie forçou um sorriso e tentou acalmar os
inconstantes batimentos cardíacos, provocados por ela
ser o centro das atenções.
– Infelizmente. Acredite em mim. – Apenas sorria e
minta, ela disse a si mesma. Eu posso fazer isso. –
Imagine como estou envergonhada. Bati minha cabeça e
isso está no noticiário das onze.
– Você e o senhor Fury estão fazendo sexo? – mais
alguém se levantou e perguntou.
Ellie hesitou. – Você está fazendo sexo? Essa é uma
pergunta meio pessoal, não? – Não estou. – o repórter
sorriu – Mas faria se estivesse namorando alguém.
Vamos lá, senhorita Brower. Você e o senhor Fury estão
fazendo sexo?
Ellie apertou a mão de Fury para assegurá-lo de que
estava bem quando ele ficou tenso.
– Minha vida sexual não é objeto de discussão pública,
mas digo que eu e Fury estamos morando juntos, como
Tom informou, e estamos envolvidos em um
relacionamento sério.
O homem balançou a cabeça e se sentou. Outro
homem surgiu.
– Senhor Fury, o senhor morde a senhorita Brower?
Ouvimos rumores de que há mordidas durante o sexo.
A pegada de Fury na mão dela ficou tão intensa, que
ela precisou se conter para não se encolher. Ellie usou o
dedão para esfregar as costas da mão dele. Fury relaxou
e negou.
– Eu jamais machucaria Ellie. – de repente ele elevou o
lábio superior para mostrar rapidamente seus dentes – Eu
a machucaria se a mordesse.
Perguntas começaram a chover. Ellie se segurava para
não gargalhar do absurdo que algumas delas eram. Tom
gritou, pedindo ordem. Ele repetiu as instruções sobre
uma pergunta de cada vez, ou então a entrevista
terminaria. O silêncio reinou novamente e outra pessoa
se levantou.
– Como vocês se beijam com os dentes afiados dele?
Fury abriu a boca. Ellie o cutucou com o ombro e
respondeu.
– Como se beija alguém que tem os dentes para a
frente? Ou alguém dentuço? Ou alguém que não tem um
dente? Você simplesmente beija. Essa é uma pergunta
tola.
– Então vocês realmente se beijam?
– É claro que eu o beijo. Olhe para ele. – Ellie virou a
cabeça e sorriu para Fury. Ela olhou de volta para o
repórter – Dentes não são um problema.
Em seguida, uma outra repórter se levantou.
– Como você se sente sabendo que está com um
homem com quem não poderá ter filhos?
– Doutora Norbit – gritou um repórter sem esperar a
vez –, você está fazendo pesquisas com eles?
– Não – Trisha negou – Eles são pessoas, não ratos de
laboratório.
– Como se sente em estar com alguém com quem
talvez nunca possa ter filhos, Ellie?
Ellie fitou a repórter que perguntara novamente sobre
filhos. Ela hesitou.
– Nunca há uma garantia, não importa com quem
você esteja, de que possa ter filhos. Há vários casais que
estão juntos e descobrem que, por sei lá que motivo, não
podem tê-los. É por isso que há barrigas de aluguel,
bancos de esperma e adoções disponíveis para esses
casais. Não acho que uma pessoa conheça alguém e
decida se gosta dela ou não com base no quão bem o
sistema reprodutivo dela funciona e em quantas crianças
pode conseguir daquela pessoa. Isso é insensato e
estúpido. Não estou nem um pouco preocupada com
isso, nem mesmo penso a respeito.
A repórter se sentou. O próximo apareceu, e assim
foi. Ellie tentava se manter calma. A maioria fazia
perguntas idiotas. Queria saber se Fury ajudava nas
tarefas domésticas e se Ellie o tratava como se ele fosse
uma pessoa normal. Fury manteve a cabeça fria, riu de
várias perguntas e nenhuma vez perdeu o controle. Ellie
o observava, muito orgulhosa de como ele estava lidando
com tudo. Ele sabia ser charmoso quando queria. Ele
encontrou o olhar dela e sorriu de volta.
– Ellie? – um homem lá atrás gritou de repente.
Ellie virou a cabeça, tentando ver onde ele estava.
– Sim?
– Como é trair sua própria raça deixando que um
animal a coma?
O choque percorreu Ellie com aquele repentino ataque
verbal. Ela encontrou o cretino que fizera aquela
pergunta, um homem magro, alto e vestindo um terno de
negócios que, de repente, empurrou as pessoas na frente
dele, exibindo uma arma nas mãos. Gritos irromperam e
tiros explodiram. Ellie congelou, apavorada, antes de
alguém jogá-la no chão, e algo pesado se estatelou em
cima dela.
Os olhos de Ellie se abriram. Fury estava esparramado
em cima dela, cobrindo o corpo dela com o dele. Tiros
continuavam a soar junto de gritos de pânico e berros da
multidão. Fury engatinhou para cobri-la melhor,
contorcendo o corpo para se colocar entre ela e a fonte
do ataque.
Os braços dele se enfiaram debaixo dela e ele a
levantou, empurrou os joelhos dela para junto do peito,
forçando-a a se fechar nos braços dele, e se levantou,
cambaleando. Ele correu para os portões com Ellie firme
em seus braços, curvando-se sobre ela, ainda protegendo
o corpo dela com o dele.
Fury estremeceu fortemente, sua pegada se afrouxou,
e então ficou firme de novo. Ele continuava se movendo
e gritando palavras que ela não entendia. Ellie estava
chocada demais para entendê-lo e não conseguia
respirar. Ele a esmagava em seus braços e os joelhos e as
pernas dela estavam empurrados contra o próprio peito,
comprimindo os pulmões. O impacto que o corpo dele
fazia enquanto corria também não ajudava. Ellie não
conseguia enxergar muito com ele a cobrindo e com a
força com que ele a segurava.
Ela sabia que o portão estava livre, viu uma parte do
muro passar por eles no mesmo momento em que Fury
caiu de joelhos. Ele gemeu alto, mas de alguma forma
ainda a mantinha segura em seus braços. E, então, sua
pegada se soltou. Ellie se mexeu nos braços dele,
levantou a cabeça e viu a dor desfigurar as lindas feições
dele.
– Fury?
Ele a moveu e colocou-a no chão, na frente dele. Ela o
olhou e viu seus olhos rolarem para dentro. Ele apenas se
contorcia, esmagando a grama ao lado dela. Ellie
ignorava os berros, os gritos e todos os outros sons em
volta. Ela engatinhou agitadamente para se aninhar na
figura imóvel dele. Foi então que ela viu o sangue.
– FURY! – ela gritava. Suas mãos se esticaram
freneticamente à lateral dele, por onde a viscosidade
vermelha se espalhava. Sua mente apavorada e em
pânico entendeu que ele fora atingido. Ela pressionou as
duas mãos contra o ferimento, tentando estancar o
sangramento. Seu olhar horrorizado se fixou no rosto de
Fury. Ele respirava, mas estava inconsciente.
– Alguém me ajude! – Ellie gritou.
Trisha Norbit de repente se ajoelhou do outro lado do
corpo de Fury. A médica empurrou as mãos de Ellie para
longe e arrancou a camisa de Fury para ver o ferimento.
Ellie ignorava as mãos, cobertas com o sangue de Fury.
Ela se aproximou do rosto dele enquanto a médica e
algumas outras pessoas começavam a trabalhar por ele.
Ellie estremeceu.
– Fury? – ela tocou a face dele, sem se importar se os
dedos que esfregavam a pele dele estavam
ensanguentados. Lágrimas se derramavam em seu rosto
– Fury? Por favor, acorde. – sua voz sumiu com um
soluço.
– Tragam um kit de primeiros socorros – Trisha
exigiu, num tom bem alto – Agora!
Ele não se mexeu. Ellie olhava de forma agitada para a
médica.
– Trisha? Ele vai ficar bem?
A médica encontrou os olhos de Ellie e depois virou a
cabeça.
– Precisamos levá-lo ao hospital imediatamente. Ligue
para o centro de traumas e diga que precisamos que uma
sala de operações seja preparada e… – ela soltou um
palavrão – Justice? Preciso que alguns caninos do seu
povo venham comigo. Ele vai precisar de sangue e
espero que um deles seja compatível.
Justice estava atrás de Ellie e pegou o celular.
– Vou chamar todos.
– Trisha? – Ellie ainda tremia.
Trisha a encarou, com uma expressão soturna.
– Ele levou dois tiros, Ellie. É muito grave. Prometo
que vou fazer tudo o que puder para salvá-lo.
Ellie desmoronou totalmente naquele instante. Ela sabia
que ele não sobreviveria. Ela vira todo o sangue
ensopando suas mãos, as roupas dele e as mãos de
Trisha. Ela acariciou o rosto dele e sussurrou seu nome.
Alguém a pegou por trás e jogou-a para longe do homem
que amava. Ela lutou contra quem a segurava, gritando o
nome de Fury, mas ele não se moveu. O homem que a
segurava a pegou com mais força e se virou.
– Precisam cuidar dele, Ellie. Vou te encaminhar para
onde ele será levado. Você precisa se acalmar – o
homem gritou na orelha dela – Isso não vai ajudá-lo.
Ellie soluçou. Ela parou de gritar e de lutar, admitindo
a inutilidade daquilo. Slade a segurava, e era tão grande
quanto Fury. Os pés dela não estavam nem mesmo
tocando o chão. Ele continuou segurando-a, dizendo
coisas tranquilizantes em seu ouvido, enquanto Ellie
observava a médica e a equipe da emergência cuidando
de Fury, tentando estabilizá-lo. Alguém trouxe uma maca
e eles rapidamente o colocaram nela. Ela olhou para cima
ao ouvir um helicóptero circulando.
Slade se virou com ela. Continuava segurando-a firme,
caso ela ainda quisesse sair correndo atrás de Fury, e
deu passos largos em direção ao estacionamento. Ele
colocou-a gentilmente no banco de trás de uma das
SUVs ao chegar lá e pegou o rádio.
– Caninos, me encontrem no estacionamento.
Estamos prontos para ir. Ellie está segura comigo.
Slade se pôs atrás do volante, se virou no assento e
estudou Ellie. Ela chorava, enrolada como uma bola no
banco de trás, mas ouvira o suficiente pelo rádio do
carro para montar as peças do que acontecera. Slade
também estava atordoado com tudo aquilo, o que era
óbvio pela sua expressão sombria e pelo olhar dolorido
que ele tinha enquanto se olhavam.
– Eu estava patrulhando os muros quando aconteceu.
Havia três atiradores. Apaguei um deles, mas não
conseguiria fazer o mesmo com os outros dois sem
correr o risco de atingir inocentes. Me desculpe por não
ter conseguido apagar todos antes de atirarem nele. – sua
voz áspera pausou – Fury vai ficar bem. – Slade
prometeu com uma voz firme – Somos mais fortes que
os humanos e nos curamos mais rápido. Aguentamos
mais coisas.
Ellie enxugou as lágrimas.
– Não posso perdê-lo.
Slade balançou a cabeça.
– Você não vai.
Homens abriram as portas e entraram na SUV. Ellie
notou que estavam armados até os dentes, com armas
presas dos calcanhares ao peito em seus enormes
corpos. Eles também eram caninos, a julgar pelo formato
de seus olhos solenes. Slade ligou o motor e saiu da
vaga. Ele acelerou e dirigiu-se ao portão. Aumentou o
volume do rádio para ouvir melhor sem o barulho do
motor.
– Liberem o caminho. Estamos chegando lá.
Ele nem mesmo desacelerou ao chegarem aos portões
abertos. A área fora evacuada da multidão, que
normalmente estava presente ali. Tiros e derramamento
de sangue haviam dispersado os manifestantes e os
repórteres.

Ellie andava de um lado para o outro e ficava olhando


para os homens que a cercavam. Havia, pelo menos, sete
oficiais da ONE de guarda na sala de espera particular. O
hospital oferecera uma a eles assim que perceberam que
os oficiais da ONE estavam armados e determinados a
cuidar de Ellie. Mais oficiais estavam do lado de fora da
sala de operação, em que Fury lutava por sua vida.
– Ele ainda está vivo – Justice assegurou a Ellie.
Ela fez que sim com a cabeça, sabendo que Justice
falara ao telefone com um dos oficiais da ONE que estava
de guarda na sala de operação. O oficial podia ver dentro
dela para dar informações detalhadas. Ellie estava grata
pelo sistema de transmissão de informações que Justice
planejava para monitorar como Fury estava se saindo.
Ellie não sabia como as pessoas aguentavam ficar
esperando, sem nenhum tipo de palavra, quando um ente
querido estava em cirurgia.
Slade adentrou a sala, foi direto até Ellie e ofereceu um
copo de isopor grande, branco e coberto. Um canudo
saía dele. Ellie forçou um sorriso.
– Café não vem com canudo, mas obrigada.
– É café gelado. – Slade sorriu – Você está tremendo.
Não queria dar algo quente que poderia espirrar em você.
Fury me daria umas porradas se eu deixasse que você se
queimasse.
Lágrimas encheram os olhos de Ellie e ela sorriu de
verdade para ele.
– Obrigada.
Ele balançou a cabeça antes de se virar para se
aproximar de Justice, que mantinha o celular contra a
orelha, mas o moveu para longe da boca.
– Relatório.
Slade suspirou.
– Todos os três atiradores foram pegos. Um
sobreviveu, infelizmente. A polícia me informou que o
cara é um idiota que não para de falar. Ele afirma ser
membro do grupo terrorista Humanos Puros.
Justice bufou.
– Não podemos chamá-los de terroristas, mas
prossiga.
– Eles ouviram sobre a coletiva e se infiltraram usando
credenciais de fotógrafos. Não cobrimos a segurança. –
Slade rosnava as palavras – Parece que não revistaram
quem tinha passe de imprensa.
– De agora em diante vamos fazer toda a segurança
onde qualquer um do nosso povo esteja no centro.
Slade concordou com a cabeça.
– Alguma notícia sobre Fury?
– Ele está lutando e sobreviveu até agora. Temos dois
com sangue compatível. Searcher e Darkness estão
dentro da sala doando sangue, como é necessário.
Ellie dava goles no café enquanto os escutava.
Precisava admitir que todos foram muito bons para ela.
Eles protegiam a ela e a Fury. As Novas Espécies haviam
garantido que vários de seus homens fossem ao hospital
para doar sangue para Fury. O sangue humano comum
poderia ter funcionado, mas o que era compatível à
química alterada deles funcionava melhor. Justice
precisou explicar isso a ela.
Ellie se lembrou de quando chegaram ao hospital.
Justice a levara para um dos banheiros, conversou
calmamente e prometera que tudo seria feito por Fury.
Ele a levara até uma pia enquanto conversavam. Ela
ainda estava em choque enquanto ele lavava as mãos
ensanguentadas dela como se ela fosse uma criança, e
depois deu a ela roupas que alguém levara, ainda com
etiquetas. Ele a deixara dentro do banheiro para que ela
trocasse aquelas roupas manchadas e ensanguentadas.
Ele não saíra do lado dela depois que ela deixara o
banheiro. A atenção dela se voltou a ele.
Ele moveu o telefone de volta para perto da boca.
– Sim, ainda estou aqui. O que está havendo?
O coração de Ellie palpitou ao ver Justice fechar os
olhos. O medo a atingiu fortemente quando Justice
fechou o telefone com um golpe. Ellie continuou olhando
para ele até que os olhos dele se abriram. O olhar dele se
virou em direção a ela.
– Ele está vivo, Ellie. Removeram as duas balas e o
suturaram. Estancaram o sangramento e os sinais vitais
estão bons. Trisha está certa de que, a não ser por
circunstâncias imprevistas, ele vai ficar bem.
Lágrimas deslizaram pelo rosto de Ellie, quando ela
entendeu que Fury viveria. Balançou a cabeça, contudo
tinha medo de acreditar naquilo até que o visse. Horas se
passaram até que Fury foi levado da sala de recuperação
para uma sala privada na UT I. Permitiram que a ONE
ficasse de guarda, vendo-o pela sala de observação ao
lado.
Ellie esfregou a nuca, cansada, mas não queria dormir.
Observava Fury por meio de uma parede de vidro, da
mesma sala em que os oficiais estavam. Eles permitiram
que ela se sentasse ao lado dele na cama apenas por
alguns minutos a cada vez. A médica, não Trisha,
monitorava Fury.
Aquilo trouxe lembranças de outras vezes que o vira
através do vidro, quando ele ainda estava preso no
centro de testes, o que a fez chorar de novo. Ver um
homem tão forte e vital desamparado partia seu coração.
Justice estava sentado no canto. Alguém levara para
ele um laptop, e o fone de ouvido de seu celular estava
preso à orelha. Ele falava delicadamente com alguém de
vez em quando. Ellie olhou para ele. O homem parecia
nunca parar de trabalhar. O foco de Ellie voltou ao vidro.
Fury dormia. A médica checou seus sinais vitais e então
saiu por outra porta.
– Ellie? – Justice disse suavemente.
Ellie se virou.
– Sim?
Justice deu um pequeno sorriso.
– Ele vai ficar bem. Eu disse que Trisha ordenou que
ele fique sedado. As Novas Espécies não lidam bem em
ficar esticadas numa cama, porque gostamos de nos
movimentar. É melhor deixá-lo longe disso enquanto se
recupera mais, senão vai querer se levantar, não importa
a dor que sinta. Somos irritantemente teimosos,
infelizmente.
– Eu sei. Só não acho que me sentirei melhor até ouvir
sua voz e olhar em seus olhos.
– Eu entendo. Sei que Fury pediu por informações
sobre casamento. Você sabia disso? Ele me contou que
planejava pedir você em casamento.
– Sim. – ela se sentou – Na verdade falamos sobre
isso ontem à noite.
– Ele ama você. Sabe disso?
– Eu também o amo. Ele é tudo para mim.
– Você não precisa me dizer. Vejo isso sempre que
olha para ele. – ele pausou – Nunca tivemos nada que
pertencesse a nós enquanto crescíamos. Ele contou
isso? Também nunca ousávamos nos importar muito. A
equipe e os médicos sempre nos tiravam tudo ou usavam
contra nós qualquer fraqueza que percebiam como
castigo. Casamento significa segurança para ele, que
pode ter você até morrer. Significa que você pertence a
ele e que nunca vai ser tirada dele. Eu quero que você
entenda bem isso. Se você se casar com ele, ele vai
esperar que isso signifique para sempre. Não concorde a
não ser que tenha certeza.
– Eu tenho.
Os olhos dele se estreitaram.
– Ele não vai permitir que você se divorcie. É o que
estou falando. Isso o mataria. Casamento é algo
permanente para ele. É jurar que ele nunca precisará ter
medo de perder você. Ele vai morrer ou matar para
protegê-la, e vai amá-la com tudo o que tem para dar. Já
ouvi falar sobre casamentos humanos. Não somos nada
parecidos com os humanos nesse assunto. Ele seria fiel e
mataria outro homem se você deixasse que um deles a
tocasse. Somos possessivos como o diabo. Isso nos foi
forçado, com o DNA que colocaram em nossas células.
Isso não só nos mudou fisicamente, como também
carregamos algumas das características. Somos
protetores e agressivos. Somos possessivos com o que é
nosso. Não sei se Fury explicou isso, mas eu queria.
Chamamos isso de acasalar, e isso é para a vida. Ele já
acasalou com você, mas parte dele o segurou porque ele
tinha que aceitar que você poderia deixá-lo. Ele já está
comprometido com você.
– Obrigada, mas pode deixar isso pra lá se quer me
assustar. Eu o amo. Não planejo me divorciar e com
certeza jamais o trairia. – Ellie não estava ofendida. Sabia
que Justice queria ter certeza de que ela entendia o que
teria de encarar como esposa de Fury – Estou ansiosa
para passar minha vida com ele. Cada segundo dela.
– Ele vai assustá-la às vezes. Rugimos, rosnamos e
dominamos. Tentamos segurar isso, mas piorou desde
que encontramos nossa liberdade. Lutamos com o
animal e com a humanidade dentro de nós, Ellie. Sei
como as mulheres são independentes. Nossas próprias
mulheres são assim, até certo ponto, mas também
entendem nossos homens. Elas conseguem se virar
melhor conosco. Eu só queria que você ficasse ciente
disso. Ele não terá a intenção de insultar você ou seu
orgulho. É de nossa natureza sermos agressivos e
assumirmos o controle das situações.
– Como quando ele recusou um emprego por mim
sem me consultar? – Ellie sorriu àquela lembrança.
– Ele fez isso? Você conseguiu o emprego mesmo
assim.
– Ele finalmente me perguntou se eu queria. Aquilo me
irritou num primeiro momento.
Um sorriso passou pela boca de Justice.
– Tenho certeza que sim. Mas ele queria proteger
você.
– Eu sei.
– Então você já sabe das diferenças.
– Sim.
Justice hesitou.
– Posso fazer uma pergunta bem pessoal?
– Claro, vá em frente.
– Por que ele a amarrou?
Me amarrou? A mente dela parou por um segundo, e
daí ela entendeu o que ele quis dizer. Ah. Ellie ficou
vermelha.
– Você se refere ao pano de prato e à fita adesiva?
– Sim.
– Ele ficou um pouco excitado demais e queria se
acalmar. Amarrou minhas mãos para que eu não o
tocasse.
– Ele estava bravo?
Ellie sacudiu a cabeça, ficando mais ruborizada.
– Ele ficou muito excitado sexualmente. Queria que
fosse bom para nós dois e queria me tocar até que eu
ficasse tão excitada quanto ele. Eu adoro tocá-lo, então
ele amarrou minhas mãos.
Os olhos de Justice brilharam com divertimento.
– Agora entendi. Você não se importa em ser
amarrada? Nosso povo odeia ficar preso. Temos medo.
– Nunca me feriram do jeito que seu povo foi ferido.
Não tenho pesadelos com gente fazendo testes em mim
ou me cutucando. Tenho certeza de que algumas
pessoas teriam medo de ser amarradas, mas eu não
tenho. Confio em Fury e sei que ele não me machucaria,
e também não acho um problema ser dominada. Gosto
quando Fury faz isso. É um jeito bom de explicar?
– Perfeito. Obrigado, Ellie. Me desculpe pela minha
reação e pelo consequente dano que causei a vocês.
Achei que ele tivesse perdido a cabeça e te machucado.
Desde o dia em que ele a agarrou naquela sala de
conferências, ele não tem sido razoável quando o
assunto é você. Achei que ele quisesse mesmo feri-la.
– Na verdade, ele quis, sim, me matar aquele dia. –
Ellie deu uma risadinha – Fico feliz que ele tenha mudado
de ideia.
– Tenho boas notícias.
– O quê? – Ellie se encostou de volta na cadeira,
relaxando – Eu preciso mesmo de uma.
– Algo de bom saiu de tudo isso. – Justice fez um
gesto na direção de Fury – Acabei de sair de uma reunião
com a nossa diretora de relações públicas. Ela me
informou que a imprensa nos apoiou cem por cento.
Estão chovendo telefonemas e e-mails de apoio a nós.
Seu povo está horrorizado com o que aconteceu. As
câmeras ainda estavam ligadas e muitas estações de TV
transmitiram tudo ao vivo. Sabia disso?
Ellie foi tomada pelo horror.
– Eles estavam transmitindo ao vivo quando Fury
levou os tiros?
– Está tudo bem – disse Justice para confortá-la – Na
verdade é algo bom, pelo jeito. As opiniões favoráveis às
Novas Espécies deram um salto fenomenal. Quanto você
se lembra do que houve? Sei que vocês não são
treinados como nós para guardar detalhes ou reagir
calmamente a condições extremas.
– Não muito. O inferno se instalou e então Fury me
carregou para um lugar seguro dentro dos portões, onde
não seríamos atingidos pelos disparos. Depois ele caiu
no chão.
– Quando os homens abriram fogo – Justice informou
calmamente –, Fury reagiu. Ele chutou a mesa para virá-
la e fazer dela um escudo para proteger todos que
estavam sentados ali. Ele se jogou sobre seu corpo para
assegurar que as balas atingissem ele e não você. Ele
levou um tiro e deve ter percebido que a mesa não era
espessa o bastante para pará-las. Nesse momento, ele a
levantou e correu para levá-la a um local seguro. Ele foi
atingido por outra bala enquanto corria. – Justice fez
uma pausa – Você era o alvo. Eles queriam matar vocês.
Antes que conseguissem, ele a colocou em segurança.
Lágrimas cegaram Ellie e ela teve que enxugá-las.
Fury a salvara. Ela sabia disso, mas ouvir o que ele fizera
exatamente para protegê-la despedaçara seu coração. Ele
levara dois tiros por ela.
– Eles me feriram, sim. Atiraram em Fury.
– Eu sei. A boa notícia é que nossa diretora de
relações públicas acredita que há um consenso geral de
que todos os pais querem, nesse momento, que suas
filhas cresçam e se casem com uma Nova Espécie, já
que Fury arriscou a própria vida para salvar a sua. As
mulheres acham que somos heróis por natureza. – ele
deu de ombros e olhou para ela parecendo confuso – Me
asseguraram de que é algo bom que os pais se sintam
assim.
Ellie não se aguentou e deu uma gargalhada.
– É bom que as mulheres tenham a tendência a se
sentir muito atraídas por homens assim.
– Entendo. Obrigado. – ele piscou para ela – Preciso
saber dessas coisas, mas a verdade é que ainda estou
aprendendo sobre os humanos.
– Estou feliz que as reações tenham sido favoráveis às
Novas Espécies.
Ele concordou com a cabeça.
– A verdade é que isso acabou sendo algo positivo
para nós. Fury arriscou a vida para salvá-la e isso parece
ter causado uma ótima impressão para o público geral.
Soubemos até que muitos do seu povo estão
pressionando o governo e as autoridades públicas locais
para fazer algo contra os grupos extremistas que nos
têm como alvos. Estão pressionando qualquer um que
tenha apoiado os manifestantes para que eles parem.
Pode mesmo ter sido a melhor coisa que aconteceu, por
mais horrível que pareça. Deu ao mundo uma visão real
de nossa situação e nos fez um pouco mais humanos
para eles.
O olhar de Ellie voltou para o vidro, para observar o
rosto de Fury, que dormia.
– Fico feliz que algo de bom tenha saído disso.
– Eu também. Ele vai ficar bem, Ellie.
Ela concordou com a cabeça.
– Eu sei.

A dor percorreu Fury quando ele acordou, mas


pensou em Ellie primeiro. Ele lutou para se sentar e achá-
la. Mãos fortes o seguraram.
– Fury? – a voz doce e suave de Ellie o chamou.
Os olhos dele se abriram e ali estava ela, pálida,
cansada e pairando a milímetros acima do rosto dele. Ele
inalou o perfume dela para ter certeza de que ela não era
uma aparição. O cheiro de remédio, produtos de limpeza
e algo estranho quase se sobrepunha ao dela, porém.
– Não se mexa, Fury – ela ordenou – Você levou tiros.
– grandes lágrimas surgiram em seus lindos olhos azuis
– Você me salvou e vai ficar bem. Precisa ficar quieto
para se recuperar.
Ele estudou o rosto dela cuidadosamente.
– Você não está ferida? – choques de medo o
percorreram ao pensar no que poderia ter acontecido a
sua Ellie – Só queria tirá-la da linha de fogo, não podia
deixar que algo acontecesse com você.
– Você me deixou em segurança.
Ele relaxou e as mãos fortes que o seguravam o
soltaram.
– Onde está Justice?
– Estou aqui.
Fury virou a cabeça para fitar seu melhor amigo.
– Proteja minha Ellie enquanto eu não puder. Quero
uma equipe inteira tomando conta dela. Apenas Novas
Espécies. Só confio no nosso povo para ter certeza de
que ninguém vai feri-la. Ela é prioridade, Justice.
Prometa para mim.
– Você sabe que isso está sendo feito sem que você
precise pedir. Recupere-se e não pense em nada, apenas
em melhorar. Haverá oficiais das Novas Espécies
protegendo-a vinte e quatro horas por dia e ninguém
chegará perto dela. Dou minha palavra.
O olhar de Fury flutuou de volta até Ellie e ele mexeu
o braço, esticando-o para acariciar o rosto dela. Seu
dedão roçou as lágrimas que escorriam pelo rosto dela.
– Eu te amo.
– Eu também te amo, Fury. Tive tanto medo de que
você fosse morrer por mim.
– Você não se livraria de mim tão fácil. Está presa a
mim para sempre.
Ele adorava vê-la sorrir entre as lágrimas. Ela estava a
salvo, ele levara os tiros em vez de eles a atingirem e era
só isso que importava.
– Que bom. Eles deram uma medicação forte para
ajudá-lo a dormir, mas estou bem aqui, ok?
– Eu te amo. Já falei isso? – a voz dele saía com
dificuldade e ele lutava para manter os olhos abertos.
– Eu também te amo e você me disse isso. Apenas
melhore. Eu estou bem.
Ele relaxou, deixou a dor tomá-lo, e a escuridão veio
rapidamente.
CAPÍTULO DEZESSETE
Ellie observava Tiny, a pequena de cabelos morenos,
esfregar o chão do corredor enquanto ria. Ellie precisou
esconder o próprio sorriso. Ela olhou para Breeze.
– Ela faz parecer que lavar o chão é legal.
Breeze deu uma risadinha.
– Você devia ver a alegria de algumas delas ao esfregar
uma privada. É meio maluco. Eu odeio limpá-las, os
produtos têm um cheiro ruim.
– Vocês têm mesmo narizes muito sensíveis.
– Temos mesmo. Como está Fury?
– Ótimo. Ele está bravo por manterem-no tão
drogado, mas foi preciso. Ele ficava tentando sair da
cama, exigindo suas roupas. Você devia ter visto a pobre
enfermeira que entrou quando ele estava fazendo isso.
Imagine o Fury com a bunda de fora, rosnando por suas
roupas. Ela gritou ao ver aquilo. Acho que só a fizeram
parar de correr quando ela chegou ao estacionamento.
– Por que isso faria uma mulher gritar? – Breeze
parecia confusa.
Ellie riu.
– Ele é um cara grande, Breeze. Estava bravo e seu
sangue bombeava para todos os lados. Todos mesmo.
Agora imagine ser uma mulher tímida que entra num
lugar com um cara grande e musculoso, com uma
ereção enorme, e ele rosna para você.
Um sorriso se espalhou pelo rosto de Breeze. –
Nossos homens são impressionantes assim.
– Sim, são – concordou Ellie com um sorriso igual ao
dela.
– Ela não ficou excitada?
– Ela ficou morrendo de medo pela vida dela.
– Que tonta.
Ellie deu risada.
– Onde você ouviu isso?
– Tenho assistido mais à televisão. Estou meio para
baixo esses dias. Que tonta. Palerma. Piranha sem
cérebro.
Rindo mais ainda, Ellie balançou a cabeça.
– Você ainda precisa treinar. Estava indo bem até
chamá-la de piranha sem cérebro. Uma piranha é uma
mulher que dorme com vários homens. Essa mulher viu
um homem pelado e disparou de pavor.
– Saquei. – Breeze piscou – Vou ver mais TV.
– Ai, cara. Tenho uma pergunta.
– Manda ver – Breeze sorriu – Isso é uma gíria. – O
sorriso morreu – Mas não me bata. Você não poderia me
machucar, mas talvez eu bata em você de volta e isso a
deixaria ferida.
– Eu entendi. – Ellie tentou esconder seu divertimento
– Tenho certeza de que você poderia me machucar.
Minha pergunta é: de onde vocês tiram os nomes de
vocês? Eles são ótimos, mas o que vocês têm contra
nomes normais, como Mary ou Tina?
– É simples. Não somos pessoas normais. Alguns de
nós têm nomes de acordo com suas melhores
habilidades, e alguns têm o nome de suas coisas
favoritas. Outros escolhem o nome de acordo com o que
os descreve melhor. Eu escolhi Breeze porque gostei da
brisa em meu rosto mais do que tudo quando conheci a
liberdade.
– Escolheram o meu nome – Halfpint disse enquanto
ia até o sofá e se sentava ao lado de Ellie. – quando me
levaram ao hospital onde estavam cuidando das Novas
Espécies, um dos médicos olhou direto para mim e disse
que as outras mulheres davam duas de mim. Começaram
a me chamar de Halfpint enquanto eu me recuperava, e
então pegou.
Ellie segurou uma risada, mas conseguiu sorrir.
– Os médicos que cuidaram de nós só haviam visto os
protótipos experimentais de nossas mulheres. Halfpint foi
uma das primeiras de seu tipo a ser tratada – explicou
Breeze.
– Tiny é menor que eu, então, quando a trouxeram, os
médicos a chamaram assim. – Halfpint deu um sorriso
radiante.
– Justice escolheu esse nome porque era o que ele
queria para o nosso povo – Breeze disse a Ellie – Ele era
de um centro de testes ao norte, e escolheu isso para ser
seu sobrenome.
– Achei que a maioria de vocês não tivesse
sobrenomes. – Ellie olhou para Breeze, esperando uma
resposta.
– Não, não temos. Vamos trabalhar isso um dia.
Quando precisarmos de um, vamos escolher alguma
coisa. Justice ofereceu dividir seu sobrenome com quem
quisesse. O que você acha de Breeze North?
– Soa bem – Ellie admitiu.
– Eu também gosto. Tem significado e sou do mesmo
centro de testes do Justice.
– Não sabia disso.
– Sim. Eles costumavam tentar com que eu e Justice
procriássemos. Ele é um bom homem.
– Sei que é. – Ellie concordou. A imagem de Justice e
Breeze juntos a chocou. Não conseguia imaginá-los
fazendo sexo.
– Quando há mulheres e homens do mesmo centro de
testes, é provável que nos forcem a ficar juntos. Os
cientistas queriam ver se podíamos ter crias. Pensavam
que, se um homem e uma mulher não reproduziam,
talvez conseguíssemos conceber com outro homem se
nos trocassem.
– Nunca fomos dadas a nenhum de nossos homens –
Halfpint sussurrou com uma voz suave e triste – Eu
queria ter sido.
Breeze se esticou para dar um tapinha no braço de
Halfpint.
– Sinto muito. Eles sempre foram bons e gentis
conosco. Compartilhávamos respeito e dignidade. Queria
que você tivesse conhecido isso também mas, se um dia
estiver pronta, vai conhecer.
Ellie quis fazer uma pergunta, mas se deteve. Halfpint
olhou para Ellie.
– Fui uma das mais sortudas. Só me entregaram a um
homem velho que não me dividia com ninguém. Tiny…
– Halfpint segurou as lágrimas – O homem a quem foi
entregue era novo, forte e a machucava mais. Ele
também a disponibilizava para alguns de seus amigos. O
que me tinha era mais frágil e suas estocadas não eram
muito dolorosas. Nos últimos anos, ele não conseguia
mais usar sua parte masculina, ela foi falhando com a
idade. Ele ficava zangado quando tentava e me batia, mas
não me machucava muito. Perto do fim, ele mais gritava
do que outra coisa.
– Sinto muitíssimo. – Ellie resistiu à vontade de tentar
abraçar a outra mulher para confortá-la – Sabe como
você foi encontrada?
– Os registros financeiros foram rastreados. – Breeze
respondeu – Quando entendemos que algumas de nossas
mulheres haviam sido dadas, qualquer um que tivesse
depositado quantias enormes nas contas das Indústrias
Mercile recebeu mandados de busca. Encontraram a
Halfpint. Foi assim que a maioria das Mulheres de
Presente foram resgatadas.
– Foi apavorante – Halfpint sussurrou, quase
parecendo que estava com medo de que alguém ouvisse
– Ouvi barulhos altos, e então aqueles homens com
armas derrubaram a porta. Achei que eles tivessem ido
me matar. Foi quando vi uma mulher atrás deles; ela
disse para os homens nos deixarem a sós. Ela conversou
comigo enquanto removia minhas correntes e me levava
a um lugar seguro, fora de onde eu estava sendo
mantida. Ela prometeu que me levaria a um lugar no qual
não me machucariam mais.
– Uma mulher das Novas Espécies? – Ellie se encheu
de curiosidade.
– Não – Breeze negou – Ela é totalmente humana.
Esqueci seu nome, mas ela vai a todas as buscas quando
um novo mandado é expedido. É ela que cuida de nossas
mulheres quando são encontradas e as traz até nós para
cuidados e tratamentos.
– O nome dela é Jessie. – Halfpint sorriu – Ela tem
cabelos vermelho-fogo e olhos bem azuis. É pequena
como nós e tem a voz mais suave do mundo.
– Ellie? – uma das mulheres das Novas Espécies
chamou sua atenção.
– Sim? – Ellie se levantou.
– Talvez você queira ir para casa. Acabei de receber
uma ligação no telefone do alojamento dizendo que Fury
deixou o hospital. Ele está indo para lá.
– Mas ele não devia fazer isso antes de amanhã.
Breeze deu uma risadinha zombateira atrás de Ellie.
– Nossos homens nem sempre fazem o que devem.
– Ai, que inferno – Ellie suspirou – Vejo vocês
amanhã. Espero que ele não tenha machucado ninguém –
ela murmurou baixinho.
Ellie puxava e empurrava Fury na direção da cama,
apesar de ele não querer ir até lá. Ela lançou uma olhar
zangado a Tiger, o oficial da ONE que sorria, se
divertindo imensamente com a situação. Ele cruzou os
braços sobre o peito e se recusava a ajudar Ellie fazer
Fury ir até a cama. Ele recuou, deixando sua intenção
bem clara.
– Não quero deitar, fiz isso por uma semana inteira. –
Fury rosnou.
Ellie assentiu.
– Você vai descansar, ou juro que vou pegar uma arma
de choque emprestada, atirar no seu traseiro e amarrar
você na cama.
Fury rosnou de forma selvagem para ela e seus olhos
escuros se apertaram. Ellie rosnou de volta e o puxou
com mais força.
– Não rosne para mim, porque vou revidar
imediatamente. Agora vamos despi-lo. – ela olhou para o
rosto dele – Você ainda devia estar no hospital. Não me
tire do sério, Fury. Amo você demais, mas se não deitar,
vou pegar a arma de choque dele. Estou falando sério.
Fury parou de lutar. De repente, deu um sorrisinho e
mostrou os dentes afiados.
– Se eu for para a cama pelado, você também tira
suas roupas?
Ellie arfou.
– Não vai ter nada disso. Você passou por cirurgia há
uma semana, esteve com um pé na cova e ainda não está
pronto. Agora, comporte-se.
– Estarei na sala ao lado. – Tiger gargalhou.
Ellie se virou e viu o segurança sair. Seu olhar voou de
novo até Fury.
– Você sabia que ele não tinha saído e disse aquilo de
propósito.
Ele riu.
– Ele foi embora. Tire suas roupas e tiro as minhas
também. Vamos os dois para a cama. Pelo menos posso
olhar e tocar. – ele se virou e passou o braço em volta
dela – Quero sentir você na minha pele. Isso vai fazer
com que me recupere mais rápido.
– Não sabia que encostar um corpo no outro ajudava
no seu processo de recuperação.
– Não ajuda, mas eu me sentiria melhor.
Ellie riu.
– Vou fazer um trato com você. Você tira a roupa de
bom grado, sobe na cama e eu farei o almoço. Depois
que você comer, eu me deito com você.
– Pelada?
– Não. Você tem que descansar, mas talvez eu coce
suas costas e brinque com seu cabelo. Você vai gostar.
Ele deu um rosnado suave.
– Querida, eu deitaria numa cama de pregos se você
quisesse me tocar e brincar comigo, mas não é nas
minhas costas ou no meu cabelo que quero que você
ponha as mãos.
Ellie lambeu os lábios, pensando, e decidiu que talvez
não fizesse mal a ele se apenas o esfregasse com loção
caso ele ficasse bem imóvel. Fury rosnou, apertando o
corpo contra o dela. Ela fez que sim com a cabeça.
– Vou fazer o almoço. Vá para a cama. Volto em
alguns minutos.
Ele a soltou. Ellie foi em direção à porta. Ela ouviu o
barulho de tecido rasgando, virou a cabeça para olhar
por cima do ombro e viu que Fury olhava para ela. Ele
rasgara a camisa em vez de tirá-la cuidadosamente por
cima da cabeça e da atadura. Ela riu.
– Com pressa?
– Corra até a cozinha e volte.
Ellie abriu a porta do quarto com uma risada e quase
trombou em Tiger. O homem se afastou, com um
sorriso zombateiro. Ele parecia estar se divertindo muito.
– Não me diga. Ótimo olfato e boa audição?
– Vou ficar de guarda na sala. Assim há cômodos o
suficiente entre nós para que eu não ouça sobre com o
que ele quer que você brinque.
Ellie preparou para Fury um sanduíche de peito de
peru e pegou um refrigerante. Ela também levou para ele
um saco de batatas chips quando foi para o quarto.
Mesmo que ele tivesse ido para casa com dias de
antecedência, Ellie estava animada por tê-lo com ela. Ela
queria ter ficado o tempo todo no hospital, mas os
funcionários não a queriam lá. A mídia armara um circo
e ficava pior quando ela estava com ele.
Ela fechou firme a porta do quarto. Não havia tranca,
mas ela não estava preocupada com isso, já que Tiger
sabia que não devia entrar. Fury estava na cama,
obviamente nu debaixo dos lençóis, com um sorriso feliz
em seu lindo rosto, e ele colocara travesseiros em suas
costas para ficar mais confortável enquanto esperava. O
lençol estava erguido acima do colo dele. Ellie viu aquilo
e deu risada.
– Um pouco excitado de me ver com o almoço? – ela
provocou – Sei que você gosta de peito de peru, mas…
Minha nossa, Fury.
Os olhos dele cintilaram.
– Vai mesmo me fazer comer isso antes?
Ela se empoleirou na beirada do colchão e deu o prato
a ele. Sua atenção desceu até a impressionante estaca
que mantinha a “barraca” armada.
– Eu o colocaria no seu colo, mas não há espaço. – ela
riu – Coma, querido.
Com um gemido, Fury agarrou o sanduíche e deu
uma enorme mordida. Ele mal mastigava. Ellie riu e abriu
o refrigerante para dá-lo a ele. Ele deu um gole, mas
mantinha o olhar fixo em Ellie. Ela se levantou e foi em
direção ao banheiro.
– Aonde você vai? – Fury rosnou e seu sorriso se
esvaeceu.
– Já volto. Tenha paciência.
– Não tenho nenhuma.
Ellie abriu o armário do banheiro e encontrou a loção.
Pegou uma toalha de mão. Voltou ao quarto exibindo os
itens para que ele os visse.
– O que acha de uma massagem?
– Não me provoque. Foi uma semana longa e solitária.
Ellie se sentou na beira da cama e abriu a garrafa.
Derramou loção nas mãos e usou o cotovelo para afastar
o lençol do colo dele. Fury gemeu e se arqueou contra as
palmas dela no instante em que ela tocou em seu pau
duro e excitado. Ellie se inclinou para a frente, lambendo
o peito dele. Precisou evitar o esparadrapo que mantinha
a atadura no lugar. Ele levara um tiro nas costas, perto
da lateral, e outro, perto do ombro. Ele tivera sorte por
sua omoplata não ter sido estilhaçada pela bala.
– Eu te amo – ele gemeu.
Ellie acariciava lentamente, adorando cada segundo
que passava tocando a pele aveludada que envolvia o
membro dele, duro como aço. Ela o provocava com a
boca, indo de um mamilo a outro enquanto suas mãos o
massageavam, da cabeça até a base do pau. Fury rosnou
e inchou até ficar de um tamanho considerável. Ela olhou
para baixo. Dessa vez queria vê-lo gozar.
Fury rugia o nome de Ellie conforme se tensionava
contra ela. Seu corpo todo tremeu quando ele começou a
gozar. Um calombo se formou na parte debaixo do pau,
acima das bolas, na base do membro. Era aquilo que ela
sentia quando ele estava enterrado fundo em sua boceta
no final do sexo. A visão a fascinava enquanto ele
continuava inchando.
Ela se lembrou do que ele afirmara sobre ser um forte
atirador. Ela curvou uma das mãos sobre a cabeça do
pau enquanto o estimulava com mais vigor, apertando
com um pouco mais de força. Jatos quentes de sêmen
branco explodiram em suas mãos e ela entendeu que ele
não estava brincando sobre fazê-la engasgar se ficasse
muito excitado. Ela levantou os olhos para observar o
rosto dele.
Ele jogou a cabeça para trás e gritou o nome dela,
enquanto ela continuava a ordenhar cada gota. Ellie
sorriu e continuou tocando o membro que estava
extremamente sensível até que Fury agarrou suas mãos
para fazê-la parar.
Ellie beijou os lábios de Fury. Sua língua provocou o
lábio inferior dele. Ele gemia o nome dela enquanto suas
mãos se esticavam até os seios dela.
– Se sente melhor? Mais relaxado?
Ele respondeu com um rosnado.
Ellie se afastou das mãos exploradoras dele para
limpá-lo com a toalha, e jogou-a na direção do banheiro.
Colocou uma distância entre os dois. O olhar de Fury se
prendeu no dela.
– Quero você – ele rosnou.
Ela deu um grunhido de surpresa, quando Fury se
lançou de repente, agarrou seu braço e puxou-a com
força, fazendo-a se esparramar na cama. Suas costas
bateram no colchão e Fury desceu sobre ela para
aprisioná-la debaixo dele. Ellie encarou-o.
– Você vai abrir suas feridas, Fury.
– Não vou. – ele esticou o braço para pegar na saia de
Ellie, agarrando-a. Deu um puxão forte para levantar o
tecido até a cintura de Ellie.
– Fury, pare.
Os olhos negros dele encontraram os dela.
– Ainda estou almoçando e você está no menu.
O desejo se infiltrou nos ossos de Ellie.
– Mas os seus pontos…
– Vou tomar cuidado para não estourá-los. – ele sorriu
– Vou ficar mais acima para não me mexer muito. Como
é que vocês chamam? Umbigo? Estou a fim de lamber
um umbigo, Ellie.
– Eu devia falar não, mas não consigo – Ellie arfou,
com seu corpo inteiro despertando com a promessa do
que ele queria fazer. Ela se pressionou contra a mão de
Fury enquanto ele remexia os dedos para dentro da
calcinha dela. Ele enganchou o dedo no meio dela e
puxou-a com força, depois jogou o tecido rasgado para
longe da cama.
– Você sabe que deve parar de vestir essas coisas – ele
rosnou – Elas só me irritam.
– Tudo bem.
Ele riu.
– Sem argumentos?
Ela chacoalhou a cabeça. Os dedos de Fury
massageavam seu clitóris, provocando-a e aumentando
sua paixão. Ele se moveu mais para baixo de seu corpo.
Ela abriu mais as coxas para que se colocasse no meio
delas.
– Vou queimá-la se isso o deixa feliz, desde que você
não pare de me tocar.
– Queime-as – ele pediu delicadamente, deslizando
ainda mais para baixo da cama, sobre Ellie. Ele usou a
mão livre e puxou a camisa dela para cima dos seios.
Sua boca roçou a barriga dela e sua língua circulou o
umbigo – Queime os sutiãs também.
– Qualquer coisa – Ellie gemeu, queimando de paixão.
Ela sentira tanta falta do toque dele, que já ansiava por
gozar, apesar de ele mal ter começado. Ela gemeu – Amo
seu dedo e o jeito que você me atormenta.
Fury se moveu um pouco mais para baixo, com sua
boca passando por cima do tecido amontoado sobre a
cintura dela, e encontrou mais pele. Ele afastou ainda
mais as coxas. Rosnou e então abaixou o rosto. Ellie se
agarrou ao lençol e gemeu o nome dele, se arqueando na
boca dele quando ele lambeu sua boceta.
– Estava com saudade do seu gosto – ele arfou –
Estou viciado em você.
A língua dele se remexeu, encontrou o ponto exato
que a deixava louca, e ela gemeu para que ele soubesse
como aquilo era incrível. Ele se apertou mais contra ela,
mantendo a superfície da língua ali para roçar em seu
clitóris para cima e para baixo.
– Fury – ela gemeu.
– Eu disse “pare”, droga! – Tiger berrou.
A porta do quarto se escancarou. A cabeça de Fury se
levantou, mas seu punho agarrou a saia amontoada na
cintura dela e puxou-a para baixo o suficiente para
preencher o espaço entre seu queixo e o corpo dela, para
esconder a boceta exposta. Confusa e atordoada, Ellie
virou a cabeça. Uma mulher e Tiger se detiveram em um
pulo à porta. A mulher estava de boca aberta, em
choque. Tiger gargalhou antes de se virar e ficar de
costas.
– Tentei impedi-la. – Tiger riu – Desculpe, Fury,
desculpe, Ellie. Essa é a enfermeira domiciliar.
Fury rosnou. Ellie agitadamente empurrou a saia mais
para baixo das pernas, mas o corpo de Fury impediu-a
de fazê-lo. Ela se mexeu toda para se soltar dos ombros
de Fury, até que se sentou. Seu olhar desceu pelo corpo
de Fury, que estava esparramado de bruços na cama. O
lençol se emaranhara no quadril dele, mal cobrindo o
traseiro. Em seguida, Ellie olhou para a enfermeira
morena, de vinte e poucos anos, que olhava boquiaberta
para eles. A enfermeira fechou a boca, mas abriu-a de
novo rapidamente.
– Vocês não deviam estar fazendo isso – a mulher
afirmou – Senhor Fury, você vai abrir as feridas.
Senhorita Brower, você devia se envergonhar!
– Saia daqui – Fury rosnou. Ele agarrou os
calcanhares de Ellie quando ela tentou sair da cama –
Agora.
A enfermeira tinha um rosto bonito, mas sua
expressão era séria no momento.
– Não vou. Ainda bem que cheguei aqui agora.
– Acho que eles não concordam com você. – Tiger
bufou com uma risada – Acho que você tem um timing
péssimo. Certo, Fury e Ellie?
– Tire-a daqui – exigiu Fury.
– Não posso. – Tiger se virou de novo e deu de
ombros – Ela é sua enfermeira e ficará aqui durante a
próxima semana. Foi a condição que Justice estabeleceu,
já que Ellie sai todo dia para trabalhar. Você concordou
para que pudesse vir antes para casa para se recuperar
com Ellie. Sinto muito, Fury, isso não está nas minhas
mãos.
A enfermeira balançou a cabeça em desaprovação.
– Você sabe que ele levou dois tiros para protegê-la.
Não foi o bastante para você, senhorita Brower? Ele
precisa dormir, não ficar se movimentando por aí. – a
mulher se agachou, depois se levantou segurando a
calcinha rasgada de Ellie com o dedo indicador e o
dedão. Ela olhou para Ellie – Esse tipo de coisa é
inaceitável.
Tiger se encostou na parede, pôs as mãos na barriga e
começou a rir de novo. Ellie sabia que seu rosto devia
estar vermelho, e Fury parecia prestes a matar alguém. A
enfermeira jogou a calcinha rasgada na cesta de lixo ao
lado da porta.
– Todos, com exceção do senhor Fury, devem sair
desse quarto agora mesmo. Preciso ver se ele não
estourou os pontos e ele precisa tomar os remédios para
dor.
Ellie puxou os calcanhares, que Fury ainda segurava.
No momento em que ele a soltou, ela desceu da cama
pelo outro lado. Andou até o armário e escancarou a
gaveta onde suas calcinhas ficavam. Ela sabia que seu
rosto continuava queimando de vermelho quando
marchou até o banheiro e fechou a porta. Ela se
apressava, mas ouvia tudo o que se passava no cômodo
ao lado.
– E eu achei que esse trabalho fosse ser chato – Tiger
disse e riu alto.
– Cale a boca – Fury rosnou – Nunca mais venha ao
nosso quarto quando a porta estiver fechada. Nunca
mais.
Ellie saiu vestindo uma calcinha novamente. Ela
marchou de volta até o armário e abriu outra gaveta para
pegar calças de ginástica para Fury. Ela olhou nos olhos
da enfermeira.
– Você tem que sair ou se virar enquanto ajudo Fury a
se vestir.
A enfermeira bufou para ela.
– Não há necessidade. Só vou dar um banho nele.
– Eu vou dar um banho nele. Você pode dar a ele os
remédios. Você tem que sair para que ele possa vestir
isso.
A enfermeira e Ellie se colocaram em posição de
defesa.
– É meu trabalho cuidar do senhor Fury.
Ellie apertou a boca.
– É meu trabalho cuidar dele. Por acaso, também sou
enfermeira.
– Oh-oh – Tiger rosnou suavemente – Briga por
território.
Fury franziu a testa, irado por terem interrompido-o
enquanto ele curtia sua Ellie – outra vez! Tudo em que
ele pensara era ir para casa ficar junto dela, para que
pudessem ficar sozinhos sem os olhares vigilantes da
segurança e da equipe do hospital. Ele sentira falta de
segurá-la nos braços, de ouvir a risada dela e de
conversar com ela até tarde da noite enquanto se
aninhavam. Ele também sentira saudade do gosto dela e
de ter as mãos dela em seu corpo. Recuperara-se o
suficiente para que pudessem fazer amor.
A enfermeira só deveria chegar bem mais tarde e ele
não estava feliz com quem haviam enviado. Ela olhava
para Ellie de um jeito que o fazia ter que segurar um
rosnado. Ninguém deveria olhar para sua mulher com
raiva e, se ele não tivesse prometido deixar que uma
enfermeira fosse à sua casa, faria Tiger levá-la para o
portão principal imediatamente.
As mulheres das Novas Espécies eram protetoras em
relação às suas posses. Ao observar Ellie, ele viu como
os ombros dela estavam esticados e a boca tensa, e
entendeu que Tiger não estava exagerando. As duas
mulheres estavam prestes a lutar por dominância.
De forma alguma ele permitiria que sua mulher
combatesse com outra. Ellie poderia ser ferida. Ele se
forçou a relaxar, esperando que sua calma também a
acalmasse e mostrasse que ela devia se sentir segura
sendo a mulher dele, e que a outra não representava
ameaça. Ele jamais deixaria que alguma mulher além de
Ellie o tocasse. Ele deixaria bem claro quem iria banhá-lo
vesti-lo se precisasse de ajuda, e que a enfermeira
deveria obedecer aos comandos de Ellie. Ele respirou
fundo.
– Ellie vai me dar os banhos – afirmou claramente –
Apenas Ellie.
A enfermeira olhou para Fury.
– Ela não é sua enfermeira. Eu sou.
– Não estou nem aí – Fury rugiu, com seu sangue
subindo por causa daquela humana rude – Ellie é a única
mulher que quero que me toque. Ellie? – Ellie virou a
cabeça e o olhar dela encontrou o dele. – Acalme-se. Eu
pertenço a você – ele fez contato visual com ela para
assegurá-la de que falava sério. – Não tenho casos. Você
é a única mulher que quero. – A única mulher que vou
querer para o resto da minha vida, ele emendou
silenciosamente. Estava certo de que ter uma parceira
era definitivamente para sempre. Cada segundo com Ellie
apenas estreitava mais os laços que tinha com ela – Você
é a mulher para mim.
– Eu sei disso. – a expressão tensa dela se suavizou.
– Não estraçalhe a garganta dela. – ele decidiu usar o
humor para chamar a atenção de Ellie e, se a enfermeira
ficasse assustada, paciência. Ele escondeu a risada –
Não importa o quanto ela mereça por entrar aqui e nos
interromper.
A enfermeira arfou e deu um pulo para longe de Ellie.
– Eles me disseram que você era humana. Você é uma
Nova Espécie? – o pânico contaminou sua voz.
Uma fagulha de diversão se acendeu em Fury com o
medo daquela humana irritante.
– Ela é uma Nova Espécie, sim. Ela está comigo.
Ellie suspirou.
– Sou humana como você. Não é exatamente uma
coisa muito boa, na minha opinião. – ela se aproximou de
Fury – Eu não iria estraçalhar a garganta dela. Credo! Eu
só não gosto da ideia de ela ficar tocando você.
Ele sorriu.
– Ciúmes?
Ela balançou levemente a cabeça. Sua raiva se desfez
por completo de seu rosto.
– Eu dou os banhos.
Fury esticou o braço para apertar a mão de Ellie.
– Só você. Agora, posso comer outro sanduíche?
Ainda estou com fome. – ele conteve a frustração –
Minha refeição foi interrompida.
Um sorriso tocou os lábios de Ellie. Ela derrubou as
calças de ginástica dobradas no colo dele, coberto pelo
lençol.
– Já que não estamos sozinhos, vista isso. – Ellie
encarou a enfermeira – Siga-me. Vou mostrar o quarto
de hóspedes enquanto Fury se veste. – ela lançou um
olhar zangado para Tiger – Você… pare de rir. Não é
engraçado. Pode ficar aqui um minuto e cuidar para que
ele não caia quando vestir as calças?
– Claro. – Tiger riu – Essa definitivamente não é uma
tarefa chata.
– Vá se foder – Ellie murmurou ao passar por ele.
– Isso você faz comigo na cama – Fury gritou,
gargalhando. Tiger riu com ele.

Ellie queria matar Belinda Thomas. Ela abriu as mãos e


tentou respirar fundo, mas não ajudou. Contou até dez,
devagar. Não, ainda estou puta. Ellie relaxou o maxilar. A
última coisa de que precisava era ir a um dentista por
causa de dentes quebrados. Seu sangue fervia.
A enfermeira estava com Fury de novo. A mulher
vestia um shortinho jeans que devia mandá-la para a
cadeia por atentado ao pudor, e coroava seu mau gosto
por moda com um top que mais parecia um sutiã. Com a
barriga bronzeada e chapada de fora, ela se curvava na
frente de Fury enquanto fingia aspirar o chão já limpo. O
olhar de Fury parecia cravado nos milímetros nus da
bunda que a mulher exibia.
– Fury?
A atenção dele se moveu instantaneamente para Ellie e
ele sorriu.
– Oi.
Belinda pulou de surpresa, lançou a Ellie um franzido
nada amigável enquanto se esticava e desligava o
aspirador.
– Você chegou cedo do trabalho hoje. – aquilo tinha
um tom próximo a uma acusação.
Ellie fez que sim com a cabeça.
– Esse é o novo uniforme das enfermeiras? Alguém
devia falar com o seu chefe.
A raiva piscou nos olhos da enfermeira.
– Está quente. Não preciso vestir uniforme de
enfermeira enquanto faço atendimento domiciliar.
– Bem, devia. Eu aspirei o chão ontem, você não
precisava fazer isso de novo.
Sobrancelhas escuras se ergueram.
– Talvez você devesse aprender a aspirar melhor –
respondeu a mulher de um jeito esnobe – Faço várias
coisas muito bem. Acho que apenas sou melhor nessas
coisas do que você. – a enfermeira piscou para Fury.
Ellie deu um passo na direção dela.
– Sua…
– Ellie! – a voz de Fury surgiu – Venha aqui. Senti sua
falta.
Ellie foi até Fury em vez de nocautear a enfermeira
vadia do jeito que queria. Sua ira se manteve ao sentar na
cama. Fury teve a coragem de parecer estar se
divertindo e aquilo a deixou ainda mais zangada. Ele
parecia gostar do ciúme dela e ela se sentia imatura com
aquilo. Belinda Thomas estava ousadamente flertando
com ele havia dias.
– Vou esquentar um pouco de óleo – Belinda gritou –
Preciso esfregar seus ombros. Vão ficar duros se eu não
fizer isso. – ela saiu do quarto carregando o aspirador.
– Não permita que te provoque – Fury pediu
delicadamente.
– Acabei de entrar em nosso quarto e peguei você
olhando para a bunda dela – Ellie resmungou. – E se ela
tocar em você com óleo quente, juro por Deus que saio
de casa, Fury.
O divertimento dele desapareceu instantaneamente.
– Não estou atraído por ela, Ellie. Estava olhando para
a bunda dela, mas é porque a pele dela é esquisita. Sua
bunda não é daquele jeito.
– Esquisita? – Ellie se segurou para não explodir.
– Ela tem dobras de pele embaixo da bunda e há
buracos. Sua bunda é cheia e macia. Adoro sua bunda.
– Você olha para a bunda dela porque ela tem celulite?
– Não tenho o que fazer. Ela pegou o controle e disse
que a televisão é ruim para minha recuperação. Quis
fazê-la devolver, mas Tiger disse que não devo torturá-la
para ela me contar onde o escondeu.
Ellie o fitou.
– Não posso viver assim. Ela está flertando com você.
Talvez você não saiba, mas ela está. Ela está me
deixando louca. Eu sou enfermeira, posso cuidar de você
e não ligo se você prometeu a Justice que ele podia
enviar uma para você.
– Você está com ciúme.
– Sim, caramba.
Fury deu um sorrisinho.
– Eu também te amo. Não se sinta assim, você é a
única que eu quero. Não fique abatida por causa dela. Sei
que ela está flertando. Ela pode fazer tudo o que quiser,
mas não importa, não sinto nada por ela – ele puxou Ellie
para o colo dele. – É por você que eu fico duro. Está
sentindo? Tudo por você, só por você.
– Hora de massagem no ombro – Belinda gritou.
Ellie fechou os olhos. Fury a segurou com mais força
nos ombros até que a cabeça dela pousasse em seu
ombro bom.
– Vá embora – Fury rosnou para Belinda – Ellie vai me
massagear.
– Agora, Fury – Belinda bufou – Sou uma
profissional. Diga a sua amiguinha aí para ir fazer outra
coisa enquanto cuido desse ombro.
Ellie ficou tensa. Fury rugiu, obviamente enraivecido.
– Ellie não é minha amiguinha. Ela vai ser minha
esposa. Nunca fale sobre ela como se ela significasse tão
pouco, sendo que ela é tudo para mim. Também avisei
para não me chamar pelo meu nome. Para você é senhor
Fury. Mandei você sair e, porra – ele rugiu – saia!
Os ouvidos de Ellie apitaram. Ela ouviu Belinda arfar e,
em seguida, a porta se bateu atrás dela. As mãos de Fury
esfregaram as costas dela.
– Ela foi embora.
Ellie levantou a cabeça.
– Obrigada. Eu confio em você, de verdade. É que…
– ela sacudiu a cabeça – Sei que tudo vai melhorar
quando você estiver totalmente recuperado e aquela
vagabunda for embora.
– Estamos sob muito estresse com outras pessoas em
nossa casa e não passamos muito tempo sozinhos. – ele
pausou e segurou o rosto de Ellie – Não vejo a hora de
ficar sozinho com você de novo. Não há nada que eu
queira mais do que simplesmente ficarmos juntos.
– Eu sei. É que ela realmente me tira do sério, Fury.
Honestamente, não consigo pensar em ninguém que eu
odeie mais e ela se joga em você. Consegue imaginar
como você se sentiria se eu tivesse um enfermeiro que
desse em cima de mim do jeito que ela dá em você?
– Não consigo. – ele deu um sorrisinho – Nenhum
homem ousaria. Seria duro para ele dar em cima de você
com mãos quebradas para impedi-lo de tocá-la e o
maxilar quebrado para impedi-lo de falar com você.
Ela riu.
– Ah, não me dê ideias do que fazer com aquela
mulher. Mal posso esperar para ela ir embora. Graças a
Deus falta pouco.
Ele riu.
– Sim, graças a Deus por isso. – os olhos dele
cintilaram – Me prometeram uma massagem com óleo
quente. Quer fazer isso?
– Eu adoraria.
– Não no meu ombro – ele rosnou suavemente – E tire
esse jeans. Espero que tenha mantido sua palavra e não
esteja de calcinha.
– Ei, eu prometi que queimaria todas se você não
parasse de me tocar, mas você parou no dia em que a
Enfermeira Bruxa entrou. – Ellie desceu do colo dele e se
afastou alguns passos da cama. Desceu o zíper do jeans
e o abriu – Mas não estou vestindo nenhuma, mesmo
assim.
O olhar de Fury se fixou na pele exposta dela. Ele
rosnou e agarrou a roupa de cama, arrancando-a. Ele se
levantou rapidamente. Ellie lambeu os lábios e olhou
nervosa para a porta.
– Precisamos colocar uma tranca naquilo.
Fury rosnou.
– Ela não ousaria.
Ellie levantou um dedo.
– Espere um pouco.
Ela se virou e correu até a escrivaninha. Pegou a
cadeira e levou-a até a porta para colocá-la sob a
maçaneta. Virou-se e agarrou a camisa, passou pela
cabeça e jogou-a no chão.
– Você não queimou os sutiãs. – Fury pegou no
elástico da calça, empurrou-a para baixo e chutou-a
longe.
– Eu tinha que trabalhar. Não quer que eu fique
balançando por aí na frente de outros homens, quer?
– Eu teria que matar alguém que ficasse olhando para
os meus seios.
Ellie riu, saindo de dentro do jeans.
– Seus seios, é?
Fury esticou os braços.
– Meus. – suas mãos os pegaram. Ellie passou os
braços em volta do pescoço dele.
– Massagem primeiro?
– Não. Eu fui o primeiro na última vez. Deite para
mim, Ellie. Você me deve uma refeição.
Ellie deslizou dos braços dele e subiu na cama. Ela
deitou de costas e sorriu para Fury enquanto ele ia até
ela.
– Se alguém interromper dessa vez, vou ter que matar
um. – Fury rosnou ao pegar nas coxas dela, suas mãos
acariciando a pele dela – Tenho uma arma na gaveta da
cabeceira.
Ellie riu.
– Você não devia ter me dito isso. Talvez eu a use com
aquela enfermeira.
Fury piscou para ela.
– Mais tarde ensino a dispará-la.
CAPÍTULO DEZOITO
– Não. – Fury rosnou as palavras. Um lampejo de
raiva passou por seus olhos escuros.
Ellie o observava com uma expressão sombria.
– Justice afirmou que é importante. O público quer me
ver e ter certeza de que estou bem agora. Eu poderia
dizer a eles que você está bem e se recuperando.
– Não. – Fury cruzou os braços.
Ellie voltou ao telefone.
– Ele não quer deixar, Justice, sinto muito.
Ellie ouviu e depois desligou. Sentou-se na beirada da
cama.
– Ele entende e vai só fazer um press release com uma
declaração nossa. Disse que alguém vai nos trazer isso
mais tarde para nossa aprovação, antes de ser liberado
hoje à noite.
– Não ligo para o que vai estar escrito. Ligue de novo
e fale para ele dizer o que acha que precisa ser dito.
Confio no julgamento dele.
– Está bem. – Ellie hesitou – Por que você não quer
que eu fale com os repórteres?
– Você não vai sair para lugar nenhum lá fora.
Atiraram em você, não vou deixar que você seja um alvo
outra vez.
A raiva dela se amainou.
– Você está preocupado comigo.
– Sempre me preocupo com você. É meu trabalho
protegê-la e isso significa que não deixarei que você seja
um alvo para mais ninguém.
– Ok.
– Ok? Você está aceitando? Nenhum argumento? – ele
não parecia completamente convencido – Você não vai
falar com os repórteres pelas minhas costas, vai?
– Já falei para Justice que não. Mesmo assim, eu
nunca faria isso. – Ellie franziu a testa para ele.
– Você não gosta que eu diga a você o que fazer.
Ela balançou os ombros.
– Sei que é por que você se preocupa comigo, e tem
razões para isso, já que levou dois tiros na última vez em
que estivemos com repórteres.
Fury relaxou na cama.
– Obrigado. – o tom de voz dele ficou mais duro.
– É hora de trocar suas ataduras e dar seus remédios
– disse Belinda ao entrar no quarto carregando a maleta
médica.
A irritação percorreu Ellie. Ela fez uma careta para
Fury para mostrar o que sentia, e depois se levantou.
– Acho que vou tomar um banho.
– Volte logo.
Ellie lançou um olhar zangado para a enfermeira ao
entrar no banheiro. Belinda ignorava a existência de Ellie.
Era assim desde que Fury gritara com a enfermeira.
Ninguém entrara de novo no quarto deles quando a porta
estava fechada. Ellie se despiu e regulou a água. Estava
cansada, e aquele fora um longo dia de trabalho.
Um suspiro alto passou por seus lábios, quando entrou
embaixo do jato quente de água. Fechou os olhos, tentou
relaxar e aproveitar o momento.
Entretanto, sua mente flutuou imediatamente ao
trabalho. Um dos seguranças humanos entrara no
alojamento para fazer uma inspeção e surpreendera uma
das mulheres pequenas das Novas Espécies, que fez uma
gritaria assim que o encontrou na cozinha.
Ellie precisou de uma hora para acalmar a mulher.
Depois, precisou fazer ligações para o departamento de
segurança, Darren Artino e Justice. Pedira para que
nenhum segurança homem tivesse permissão para entrar
no alojamento, a não ser que houvesse uma emergência,
até que o novo grupo de mulheres se acostumasse com
os homens. Fazer a segurança concordar fora um
suplício, mas Ellie vencera a batalha com a ajuda de
Justice. Para piorar, encontrara a Enfermeira Vagabunda
em casa e todo o estresse que vinha com ela.
A porta do banheiro se escancarou de repente. Bateu
na parede com tanta força que Ellie deu um pulo. Ela
agarrou a porta do chuveiro e puxou-a para abri-la. Fury
estava ali e a raiva enegrecia seu rosto. Ellie pegou a
toalha e se encolheu, com a dor se espalhando por sua
mão, e olhou para baixo. Ela viu o arranhão causado
quando bateu na quina de metal, que cortara sua mão de
leve. Sangue apareceu, mas ela ignorou. Era algo
pequeno, e sua preocupação estava fixa em Fury.
– O que foi? O que aconteceu?
Fury bateu a porta do banheiro, fechando os dois lá
dentro.
– Aquela mulher tem que ir embora.
Ellie enrolou a toalha no corpo e saiu do chuveiro. A
água pingava por todo o banheiro, porém ela não se
importou.
– A Enfermeira Vagabunda? Você está ensinando o
padre a rezar missa.
– Sim, essa! – Fury estremecia e empalidecia ao fitar
Ellie – Eu não a beijei. Ela me agarrou e colocou os
lábios dela nos meus. Tentou colocar a língua na minha
boca. – ele rugiu – Empurrei-a para longe e ela começou
a tirar a roupa. – ele rugiu de novo, enraivecido – Vim
para cá. Quero aquela mulher fora da minha casa.
Agora Ellie estava mais zangada que Fury.
– Ela o beijou?
– Ela me deu uma injeção e trocou minha atadura. De
repente, tentou me tocar quando se jogou no meu colo.
Tire-a daqui ou vou machucá-la, Ellie.
– Entre na fila.
Ellie derrubou a toalha e puxou a camisola do gancho
na porta. Não queria desperdiçar tempo indo até o quarto
pegar uma roupa, mas também não queria vestir de novo
a que estava suja. Ela estudou Fury, gravando suas
feições tensas. Ele a observava em silêncio.
– Vou cuidar disso.
– Não flertei com ela para provocar isso.
Ellie fez que sim com a cabeça.
– Acredito em você.
Fury agarrou Ellie de surpresa quando ela tentou
passar por ele. Ele a colocou nos braços e segurou o
rosto dela.
– Me beije.
– Deixe-me cuidar dela antes.
– Me beije – ele rugiu – O cheiro dela está em mim e
não estou suportando.
A ficha de Ellie caiu. Ela sabia como o olfato de Fury
podia ser sensível e ele gostava demais do cheiro dela,
sempre se esfregava nela para deixá-lo em suas roupas.
Era meio estranho, mas era ótimo saber que ele queria
sentir o cheiro dela aonde quer que fosse.
Ela se virou nos braços dele e o beijou. Esfregou o
corpo contra o dele. Ele parecia não se importar por ela
estar encharcada e a água molhar a camisola dela e a
roupa dele. Ela passou as mãos pelo rosto e pelo pescoço
dele, e se certificava de se esfregar em qualquer lugar
onde achava que Belinda teria pegado.
Os pés dela deixaram o chão e suas costas se
pressionaram de repente contra a parede. As mãos de
Fury deslizaram até seu quadril. Ele a levantou mais,
abrindo suas pernas até que elas estivessem em volta da
cintura dele. Ellie voltou à realidade e lutou nos braços de
Fury. Ela soltou o rosto dele e deixou as pernas caírem.
Tirou a boca da dele. No mesmo instante, ela viu o
sangue de seu ferimento, do qual havia se esquecido,
espalhado no maxilar e no rosto dele.
– Me solte, sangrei em você.
Fury pareceu instantaneamente preocupado.
– Você está sangrando? Está machucada? Eu estava
muito distraído para notar e estava tentando não inalar o
cheiro daquela mulher grudado em mim.
Ela ficou vermelha.
– Eu só arranhei a mão na porta do chuveiro. Acho
que bati na quina. Só preciso de um curativo e então vou
me acertar com a Belinda. Também estou de TPM;
portanto, ela vai se arrepender de ter mexido com você
hoje.
Algo nos olhos de Fury mudou. Ele inalou.
– Não sinto o cheiro da sua menstruação.
– Isso é muito louco. Breeze me avisou que vocês
conseguem sentir o cheiro da menstruação de uma
mulher a um quilômetro de distância. Explicou como
lidar com isso quando acontecer.
Fury rosnou suavemente.
– Ela precisava dizer.
– Ela disse que, de outro jeito, eu não conseguiria
chegar em casa sem ninguém sentir meu cheiro. – Ellie
sorriu de repente – Ela estava brincando, certo?
– É algo que excita – Fury rosnou, com a paixão
enegrecendo seus olhos.
– Por quê?
– Já deixou um homem encostar em você nesses
períodos?
Ellie negou. Ela nunca deixara. Seu ex-marido tinha
nojo e Ellie não tinha mesmo vontade de insistir. Não se
sentia exatamente sexy naquele período do mês,
inchando e tendo cólicas.
– Você fica mais quente e molhada por dentro. – ele se
aproximou mais de Ellie, pressionando-a com mais força
contra a parede – Já disse que é excitante? – ele rosnou
para ela e a prendeu com firmeza contra a parede.
– Fury, afaste-se. – Ellie riu e delicadamente empurrou
os ombros dele para colocar uma distância entre os dois
– Ainda não está descendo. Minha mão ainda está
sangrando e preciso ir falar com aquela enfermeira. Mas
se segure. Não devo demorar, e então vamos voltar a
isso.
Fury rosnou mais fundo, se recusou a se afastar e
continuou prendendo-a com força. Um desconforto
subiu pela coluna dela. Ela o empurrou com mais força.
– Fury? Por favor? Você está me esmagando, precisa
me soltar.
Ele se afastou, mas parecia ter sido a contragosto.
Ellie passou pelo espaço estreito entre o corpo dele e a
parede e se libertou.
Ellie sacudiu a cabeça para ele.
– Afaste-se, grandão. Estou falando sério. Preciso
chutar a bunda de uma enfermeira para fora dessa casa e
depois vamos colocá-lo de volta na cama. – ela o
acariciou – Depois vou cuidar de você. Ainda não está
totalmente curado. Ouviu o que Trisha disse: se me
pegar em pé pode estourar seus pontos. Só mais uns
dias, e aí poderemos transar de qualquer jeito que
quisermos, mas no momento precisamos pegar bem
leve, em uma cama.
O calor ferveu o corpo de Fury e ele lutou muito para
se controlar. Ele franziu a testa, combatendo a
necessidade de uivar. Ele respirava com força,
observando Ellie se movimentar pelo banheiro. Não era
com ela, mas ficara muito bravo repentinamente.
Ele a queria tanto que chegava a doer. Seu corpo
queimava com a necessidade de pegá-la, prendê-la na
parede de novo e possuí-la. Suas mãos se apertaram em
sua cintura enquanto ele lutava contra tal vontade. Ela
dissera não e ele nunca machucaria Ellie, nunca a
forçaria, e ele combatia o desejo de agarrá-la.
O que diabos há de errado comigo? Ele não encontrou
nenhuma resposta e inspirava e expirava. Sua carne
quente ficou mais quente e, conforme ele inalava o
perfume de Ellie, seu pau ficava mais duro, até latejar
dolorosamente.
Deve ser alguma reação por aquela mulher ter vindo
até mim e me tocado. Ele sabia que tinha se viciado
seriamente no cheiro de Ellie, precisando tê-lo sempre
em volta, caso contrário, sentia falta. Ele apenas não
percebera como aquela compulsão ficara forte até outra
mulher tocá-lo.
Certamente é um daqueles traços animais se
mostrando. Ele precisava conter aquilo por Ellie, mas
quanto mais tempo ele ficava ali, mais difícil era tentar
esconder sua necessidade de foder Ellie. Ele queria seu
pau dentro dela.
A vontade de sentir o gosto do sangue dela o fez babar
um pouco quando o cheiro dele provocou seu nariz.
Aquilo o chocou e o deixou um pouco assustado.
Apavorado, na verdade. Ele se afastou, sua respiração
ficou ofegante e ele tentou controlar a mente.
As necessidades foram se fazendo, até que ele não
conseguiu aguentar mais. Fury se virou de repente e
socou a parede. A agonia da dor se espalhando por seu
braço ajudou. A raiva retrocedeu o suficiente para que ele
voltasse a raciocinar.
A surpresa congelou Ellie no momento da explosão
violenta de Fury, e ela entendeu como aquela enfermeira
dos infernos podia chatear alguém. Ela entendia bem a
reação dele.
– Ainda bravo com o que ela fez? Esmurrar a parede
ajudou?
Ele se virou, chacoalhando a mão que ele acabara de
socar na parede.
– Não. Estou bravo porque não posso tocar você do
jeito que quero.
– Eu sei, mas não queremos que você volte para o
hospital, Fury. Agora volte para a cama e eu vou cuidar
da Enfermeira Beijoqueira. Vamos transar depois, na
cama, bem devagar para que você não distenda nada. –
ela colocou um curativo na mão – Vou me livrar dela de
uma vez por todas.
Fury bufou e abriu a porta do banheiro com força.
Ellie o seguiu até o quarto, deixou-o lá e saiu em busca
da enfermeira. Não desperdiçou tempo procurando uma
calcinha para vestir, já que a camisola ia até abaixo dos
joelhos. Não demoraria muito para mandar Belinda
Thomas recolher as merdas dela e cair fora. Nunca vira
Fury tão agitado.
Ellie encontrou a enfermeira sentada no sofá
parecendo irritada, segurando o controle remoto da TV.
Tiger estava sentado numa cadeira perto da porta,
folheando uma revista. Suas sobrancelhas se levantaram
quando Ellie entrou na sala vestindo a camisola.
– Meio cedo para ir deitar, não? – Tiger olhou para o
relógio – São só quatro da tarde.
– Você – ela apontou para Belinda –, você não é mais
necessária. Está demitida. Acabou. Diga o que quiser,
mas vá fazer suas malas e caia fora. – ela se virou para
Tiger – Tire-a de dentro de Homeland imediatamente, ou
juro que ela vai parar no centro médico em uma maca.
Ela não deve nunca mais voltar aqui.
– Você não pode me dizer o que fazer. – Belinda olhou
para Ellie – Fui contratada por Justice North para cuidar
de Fury. Só ele pode me demitir.
– Está bem. – ela deu passos duros até o telefone.
Agora sabia o telefone de Justice de cor e discou
rapidamente.
– Justice North falando – anunciou sua voz calma.
– Belinda Thomas se jogou em cima de Fury. Ele está
extremamente bravo e eu, pior ainda. Acabei de falar
para ela recolher as tralhas dela e sair, mas ela me disse
que só você pode demiti-la.
Ele pausou.
– Ela fez o quê?
– Ela se jogou em Fury. Fui tomar um banho e ela o
atacou na cama. Ele entrou no banheiro puto da vida.
Sorte a minha ele não ter me esmagado tentando tirar o
cheiro dela do corpo dele. Ele está mais do que zangado,
Justice, nunca o vi daquele jeito. Nós dois queremos que
ela vá embora e não precisamos mais dela. Vou tirar
folga nos próximos dias de trabalho e cuidar dele.
Apenas tire-a daqui, por favor.
A voz de Justice ficou profunda.
– Você está bem? Ele a machucou?
– Estou bem. Ele só está enraivecido porque ela deu
em cima dele e ficou muito agressivo, tentando tirar o
cheiro dela do corpo dele para ficar de novo com o meu.
– Ele a machucou? Fez sexo agressivo com você?
Preciso mandar a médica aí?
– Nós não transamos. Ele só se esfregou em mim e
quase me esmagou na parede. E daí? Quero essa mulher
fora daqui, Justice. Ele quer que ela saia. Você vai
demiti-la ou terei que quebrar os braços dela para ter
certeza de que ela não poderá mais trabalhar aqui?
Acredite em mim, vou fazer isso.
– Estou a caminho. Passe o telefone para o Tiger
agora.
Ellie voltou e deu o telefone a Tiger. Ele parecia
alarmado ao apanhá-lo. Ellie olhou para Belinda. Devia
estar saindo fogo de suas narinas, tamanho era o nível de
raiva que estava sentindo.
– Pegue suas tralhas. Ele está vindo para demiti-la.
Belinda se levantou.
– Sua…
– O quê? – Ellie gritou, completamente enraivecida.
Olhos verdes brilharam de raiva.
– Você vai ver só. – Belinda saiu pelo corredor.
Ellie tentou esfriar a cabeça. Olhou para Tiger. Ele
estava encostado na porta de entrada, longe dela, e a
expressão tensa em seu rosto a fez franzir o cenho. Ela o
fitou quando ele desligou.
– Você está bem? – Ellie estava preocupada, pois Tiger
parecia um pouco pálido.
– Ellie, venha comigo agora. – ele escancarou a porta
de entrada.
Ela olhou para baixo.
– Não vou sair de camisola. Por que quer falar comigo
lá fora? Aquela mulher está fazendo as malas e não pode
nos ouvir do quarto dela.
Tiger se moveu rapidamente na direção de Ellie.
– Droga, mulher, não discuta comigo. Você precisa
sair da casa agora mesmo.
Ellie recuou alguns centímetros. Tiger parou e a
farejou com a testa franzida.
– Sinto cheiro de sangue em você. Você disse a
Justice que Fury não a feriu.
– Ele não me machucou. – ela levantou a mão para
mostrar o curativo rosa – Eu a cortei um pouco quando
saí do chuveiro. Fury jamais me machucaria.
Ele farejou de novo.
– Não sinto muito o cheiro do seu sangue.
– É por que foi só um arranhão, não sangrou muito.
– Precisamos sair agora mesmo.
Ela se afastou mais.
– Não vou a lugar nenhum com você. Nem estou
vestida e, se você acha que vou deixar a Enfermeira
Vagabunda sozinha com Fury de novo, pense outra vez.
– Ellie – Tiger chiou –, eles entupiram Fury com
drogas para recuperação para ajudá-lo a se curar mais
rápido. Temos avaliado Fury para ver se há sinais de
ameaça, e agora ele está agindo de forma hostil. Você
está correndo perigo aqui e precisa ir a algum lugar
seguro. – ele olhou para o relógio – Ele recebeu
medicação há uns quinze minutos, certo?
Ellie olhou para ele.
– Belinda me disse que daria a ele a medicação quando
fui para o chuveiro. Fury disse que ela lhe deu uma
injeção. Por que eu estaria correndo perigo?
Tiger se moveu rapidamente e agarrou Ellie pela
cintura, girou-a e cobriu a boca dela com a mão. Os pés
dela abandonaram o chão. Tiger deu passos largos em
direção à porta com ela se debatendo em seus braços.
Em segundos, eles estavam do lado de fora.
– Quieta – rosnou Tiger no ouvido dela – E não tenha
medo, ele vai farejá-lo. Você disse que ele pegou seu
cheiro. Apenas respire fundo e vou explicar tudo, ok?
Você precisa falar baixo. Promete para mim?
Ellie estava furiosa, não com medo, quando balançou a
cabeça contra a mão dele. O corpo que a segurava foi
relaxando enquanto ele a colocava no chão e a soltava. A
mão dele descobriu sua boca. Ellie se virou para olhar
para ele.
– Por que fez isso? – ela cochichava.
– Não entende o quanto Fury foi ferido? – Tiger
franziu a testa – Um humano teria morrido. Só faz uma
semana, mas ele já está andando por aí, está se curando
muito rápido. Você não se perguntou nada sobre isso?
– Vocês se recuperam rápido, Fury me disse que isso
é normal para as Novas Espécies.
– É rápido até um certo nível, mas não tão rápido
como Fury, sem ajuda. Isso não está registrado ainda
mas, como parceira de Fury, você é uma Nova Espécie.
Precisa saber disso. Nem todos os registros foram
destruídos quando fomos descobertos. Alguns dos
médicos não mantinham todas as anotações e pesquisas
nos sistemas de computadores que destruíram quando
os centros de testes foram invadidos. Em alguns casos,
conseguimos até mesmo arranjar as fórmulas e as
composições químicas exatas de algumas drogas que
usavam em nós.
Aquela novidade a surpreendeu.
– Por que isso é segredo?
Ele hesitou.
– Alguma vez você se perguntou por que o presidente
dos Estados Unidos foi tão ávido em nos entregar uma
base militar para ser nossa casa e em concordar tanto
com quaisquer exigências que fizéssemos? Houve alguns
humanos que foram muito solidários e ficaram felizes em
aconselhar Justice. Falaram a ele sobre soberania.
Exigimos direitos humanos iguais e os recebemos. As
Novas Espécies se governam em solo americano, na
terra que nos deram. Também nos deram imunidade
diplomática. Somos considerados cidadãos americanos,
porém com concessões especiais.
– É claro que vocês são americanos, nasceram aqui.
É justo que tenham um lugar seguro para viver. Há
tantos grupos de ódio lá fora, que não seria seguro para
vocês tentarem se integrar à sociedade comum logo de
cara.
– As Indústrias Mercile receberam bilhões de dólares
para financiar estudos e pesquisas sobre drogas por
décadas. O presidente assinou o financiamento do
dinheiro dado à Mercile nos últimos seis anos. Veio de
fundos militares.
Ellie o fitou, confusa.
– E como isso se aplica a Fury nesse momento?
– A Mercile prometeu criar drogas que deixariam as
forças armadas mais fortes, as fariam combater melhor,
fariam com que se curassem rápido e até mesmo
elevariam seus sentidos. Uma vantagem farmacêutica
que outros países não teriam. Eles vacinam nossas
forças de combate para prevenir doenças quando são
enviadas a outros países. Imagine uma injeção que os
deixaria mais fortes, rápidos e mais difíceis de matar em
uma batalha. Isso faria com que guerras fossem
vencidas com mais facilidade, mais rapidamente e com
muito menos baixas. Ninguém sabia que a Mercile
ultrapassara barreiras morais e legais para conseguir os
avanços que prometeram desenvolver. Cada dólar que
receberam ajudou a nos escravizar e a pagar por sangue,
suor e tortura. As pessoas ficariam ultrajadas se
soubessem que o dinheiro de seus impostos estava
servindo a algo cruel. Todas as organizações de direitos
humanos do planeta se levantariam e alguns países
poderiam acusar o governo de crimes horrendos.
– Isso é horrível – ela sussurrou – Sinto muito. O que
isso tem a ver com Fury e por que você acha que ele
poderia ser perigoso? Quero voltar lá para dentro, Tiger.
Vá logo ao ponto.
– Eles criaram muitas drogas e os relatórios
recuperados afirmavam que alguns humanos que se
apresentaram como voluntários para testá-las morreram.
Um lote das drogas acelerou o processo de cura nas
Novas Espécies num ritmo fenomenal. – ele pigarreou –
Também levou uma pequena porcentagem das Novas
Espécies a uma insanidade temporária quando as
testaram em nós. Os médicos não largaram o estudo. De
acordo com algumas anotações, acreditavam que a
insanidade temporária valia a pena por alguém louco e
ferido. As Novas Espécies que tiveram esse efeito
colateral de insanidade agressiva sempre se recuperavam
rápido. Os humanos que participaram desse estudo não
tiveram tanta sorte; ou morriam, ou, se seus corpos se
recuperavam, suas mentes ficavam permanentemente
destruídas.
A mente dela deu um estalo.
– Você estava com medo de Fury ficar louco?
– Sim. As anotações não estavam completas. Não
sabemos quando a insanidade rebenta, ou quanto tempo
ela dura, caso ele seja um dos infelizes atingidos por ela.
Agressão e iras assassinas fazem parte desses efeitos
colaterais.
– E você acha que ele está apresentando-os?
– Você disse que ele estava enraivecido e muito
agressivo e que a forçou contra a parede quando sentiu
seu cheiro, Ellie. Me fale a verdade: é normal ele agir
assim? Você o conhece bem.
Ela hesitou, se lembrando da cena dentro do banheiro.
– Ele não me machucou e não acredito que fará isso.
Talvez ele só esteja bravo, porque aquela enfermeira
consegue irritar qualquer um. Não estou sob efeito de
drogas experimentais, mas ainda quero esganá-la.
– É melhor estar segura do que arrependida. Você
precisa ser mantida longe dele até que tenhamos certeza
de que ele não representa perigo. O lado humano das
Espécies parece se esvaecer durante essa reação e
nossos instintos animais assumem todo o controle.
Somos predadores naturais e talvez ele a tenha farejado
como uma presa, Ellie.
– Não seja ridículo – cuspiu Ellie – Fury me ama. Ele
só estava chateado porque a Enfermeira Vagabunda se
atirou nele. Ele não me machucou e não faria isso.
Tiger observou o rosto dela de perto.
– Não podemos correr riscos.
Ela hesitou.
– Eu entendo, mas não vou abandoná-lo. Vamos lá
falar com ele, e você vai ver que ele está bem.
Um carro encostou na frente da casa. Ellie se virou e
viu Slade abrir a porta do motorista e Justice sair do lado
do carona. Trisha e um estranho saíram do banco de
trás.
– Você está a salvo. – Justice parecia aliviado – Você
precisa ir embora. Tiger vai levá-la até a casa da doutora
Norbit.
Trisha entregou as chaves para a Nova Espécie alta.
– Essas são as da minha casa. Tenho um quarto de
hóspedes. – ela examinou Ellie dos pés à cabeça – Use
minhas roupas e qualquer outra coisa de que precise.
Meu armário é seu armário.
– Onde está a enfermeira? – Slade olhou em volta.
– Ainda lá dentro. – Tiger balançou os ombros – Ela
está fazendo as malas.
– Droga – Justice rosnou – Ele pode atacá-la, ela
começou isso. Tire Ellie daqui.
Slade puxou a porta de entrada e entrou na casa, com
Justice logo atrás dele. Trisha e o estranho ficaram do
lado de fora. Ellie estudou o homem com curiosidade.
– Este é o doutor Ted Treadmont. Ele é o cientista
chefe das Novas Espécies – disse Trisha – Você tem que
ir, Ellie. Pode voltar quando tudo estiver seguro.
– Quantas vezes preciso dizer que Fury não vai me
machucar até alguém me ouvir? Não vou sair daqui.
Tiger xingou.
– Ele vai me matar por isso. – de repente ele se
lançou, agarrou Ellie pela cintura e cobriu a boca dela
com a mão. Ele inclinou a cabeça na direção de Trisha –
Não fique parada aí, doutora Norbit. Pode por favor
abrir o porta-malas para mim? No painel há um botão
para abri-lo. Preciso deixá-la longe dele, caso ele
enlouqueça.
Trisha correu até o carro. Ellie se debatia e agarrava
os braços de Tiger, mas ele não a soltava e ela não
conseguia fazer mais do que sons baixos com a mão dele
firme sobre sua boca. Ela chutava as pernas dele, mas
não importava quantas vezes ela o atingisse com seus
pés descalços, ele não se afetava. O porta-malas se abriu
e Tiger jogou Ellie dentro.
– Não – Ellie gritou. O porta-malas se fechou com
força, deixando-a no escuro. Ellie chutava a porta e
gritava – Me solte!
O carro ligou. Ellie chutou de novo, mas a porta não
abria. Ela gritou, ainda chocada por ter sido trancada por
Tiger no porta-malas de um carro. Ela confiara nele.
Parou de gritar conforme o carro andava.
Ela odiava lugares pequenos e apertados. Lutou contra
um ataque de pânico. O carro se virou de repente e Ellie
rolou, batendo em algo duro. A dor fisgou seu joelho e
ela gritou de novo. Ela se arrebentaria toda de tanto ser
jogada para lá e para cá se ele continuasse fazendo
curvas fechadas naquela velocidade. O carro fez mais
uma dessas curvas e Ellie bateu contra a parte de trás do
banco do passageiro. A dor percorreu seu braço.
Ellie se encolheu e lutou para respirar normalmente,
até que o carro parou. Ela sabia que havia bastante ar,
mas aquilo não a impedia de sofrer. Sua claustrofobia
nunca fora tão forte. O porta-malas se abriu e Ellie
tentou freneticamente sair de dentro. Ela arfava grandes
tragos de ar fresco enquanto Tiger esticava o braço na
direção dela.
Ellie deu um tapa nas mãos dele. Ele deu um salto para
trás quando Ellie praticamente se jogou para fora do
porta-malas. Ela lhe lançou um olhar selvagem.
Tiger franziu a testa.
– O que há com você? Estamos na casa da doutora.
– Nunca mais me tranque num lugar pequeno! – Ellie
gritou. Ela cambaleou para trás. Lágrimas quentes
correram por seu rosto – Eu odeio lugares pequenos e
escuros!
– Pare de gritar – Tiger ordenou – Me desculpe. Se
acalme, Ellie. Respire fundo, você está bem. Inspire e
expire. Assim. Não sabia que você tinha enjoo de
buraco.
– Não tenho enjoo de buraco! – ela parou de gritar –
O que é enjoo de buraco?
– Você entra em pânico quando é colocada em lugares
escuros e pequenos. É como chamamos isso. Me
desculpe. Você está bem agora? É melhor entrarmos.
Essa camisola é fina e tenho medo de chamar atenções
indesejadas aqui. Essa é a área humana de Homeland.
A ficha caiu, ela percebeu que estava quase nua e
queria roupas imediatamente. Depois vou descobrir como
voltar para casa. Ellie concordou com a cabeça e seguiu
Tiger até a porta da frente. Ele abriu a porta. Ellie entrou,
se virou e deu um chute tão forte na canela de Tiger, que
seu pé doeu.
Tiger xingou e rosnou para ela.
– Por que fez isso?
– Por tudo. Não sofro de enjoo de buraco. Tenho
claustrofobia.
Ele franziu a testa.
– Não é a mesma coisa?
– Vá para o inferno. – Ellie saiu pisando duro na
direção do quarto de Trisha, lembrando-se de onde
ficava por causa de sua última visita. Ela bateu a porta
com força entre eles e foi até o armário da médica.
Ellie pegou uma calça de ginástica, um sutiã de
ginástica e uma camiseta grande de um show de rock a
que Trisha devia ter ido. Ela experimentou um par de
sapatos da médica, mas elas não usavam o mesmo
tamanho. Precisou ficar descalça. Ellie pegou o telefone
na mesa ao lado e ligou para casa, querendo falar com
Fury. Ela lançou um olhar nervoso à porta, com medo de
que Tiger entrasse no cômodo para impedi-la.
– Ellie? – Fury parecia estar irado.
– Oi, Fury. Eles me fizeram sair. Você está bem?
– Onde você está? – ele rosnou.
– Não diga a ele! – Tiger berrou, quase explodindo na
sala.
– Onde você está? – Fury repetiu, rugindo as palavras.
Tiger arrancou o telefone da mão dela e o bateu no
gancho. Ele olhou para Ellie.
– Não ouviu a coisa toda sobre cheiro e presa que
conversamos?
– Eu só queria que ele soubesse que estou segura e
perguntar como ele está. Vocês estão seriamente
exagerando se acham que Fury é um perigo para mim.
Tiger levantou uma sobrancelha.
– Mesmo? – ele pegou o telefone – Vamos ver o
quanto.
– Para quem está ligando?
– Justice.
Ellie se sentou na ponta da cama de Trisha, olhando
furiosamente para Tiger. Ele ouvia e um franzido
desfigurou seu rosto. Ele desligou.
– Alguma coisa está muito errada. Justice não atendeu
ao telefone. Caiu na caixa-postal dele depois de tocar seis
vezes.
– Então, ele está ocupado.
– Ele sempre atende. – Tiger discou outro número.
Ouviu e seu rosto ficou mais pálido antes de desligar.
– Slade também não atendeu e ele sempre atende no
terceiro toque. Os dois entraram na casa e não estão
atendendo os telefones. Merda. – ele discou outro
número. Depois de um minuto, xingou e desligou.
Balançou o telefone para Ellie – A doutora Norbit também
não atende.
– Talvez estejam conversando com ele nesse momento
e não queriam ser mal-educados atendendo o celular.
– Ligue para casa, fale com ele por alguns minutos
para ver como ele está, mas não diga onde você está.
Pode fazer isso?
Ellie aceitou o telefone.
– Isso é muito idiota.
– Só fale com ele. Você conhece Fury. Veja se ele está
sendo o seu homem ou se não é ele mesmo. Pergunte
onde Justice e Slade estão.
– Você vai se sentir estúpido.
– Vou arriscar. Apenas não diga a ele onde você está.
Promete?
– Claro – ela murmurou, feliz por falar com Fury.
Tiger estava sendo paranoico.
Fury atendeu no primeiro toque, rugindo o nome dela.
Ele parecia tão bravo, que ela mal reconheceu seu nome
vindo da boca dele.
– Sou eu. Você está bem?
– Onde você está?
– Eles estavam com medo de que você estivesse
reagindo a uma das medicações que está tomando e
acham que você é um perigo para mim. Estou bem.
Justice e Slade ainda estão aí?
– Onde você está? – ele pronunciou as palavras de
uma forma rude – Me diga agora mesmo, Ellie.
Ellie encontrou o olhar preocupado de Tiger, tendo que
admitir que Fury estava agindo de um jeito estranho.
– Estarei em casa daqui a pouco. Justice e Slade ainda
estão aí?
– Eles estão lá fora – Fury rosnou – Vou sair e
encontrá-la se não me disser onde está. Venha para casa
ficar comigo agora mesmo. Não me faça procurar por
você.
– Você tem que se acalmar. Os médicos só querem
examiná-lo, e irei direto para casa depois que tiverem
certeza de que tudo está bem.
– Estou indo atrás de você – ele rugiu e bateu o
telefone.
– Fury? – ela balançou a cabeça, chocada – Ele está
muito bravo. Disse que vem atrás de mim e desligou.
Pareceu uma… ameaça.
– Droga – Tiger gemeu – Ele está em total modo de
caça, como eu temia. Precisamos tirar você daqui
urgentemente. – Ele desligou o telefone, sacou o celular
do bolso de trás e discou.
– Aqui é Tiger. Perdi contato com Justice e Slade, eles
estavam na casa de Fury. Ele está feroz por causa da
medicação e está à caça da parceira. Estou na casa da
doutora Norbit com Ellie. Preciso que uma equipe seja
enviada à casa de Fury agora e preciso que outra seja
enviada para cá para tirá-la da zona de morte. – ele
desligou.
– Zona de morte? – Ellie arfou – Vocês ficaram todos
loucos? Se Fury está bravo, é por que vocês me tiraram
de casa e ele está preocupado.
Tiger agarrou os braços de Ellie com firmeza.
– Ele não está preocupado; está louco. Mexa esse
traseiro. Seu parceiro é um dos melhores localizadores
que temos. Precisamos tirá-la do alcance dele. – ele a
puxou para colocá-la em pé.
– Pare! – Ellie berrou e deu um puxão para se soltar
dele.
– Deixe-me lembrá-la do que já falei caso você não
tenha entendido na primeira vez. A droga que ele recebeu
pode dominar o lado humano dele e soltar o animal. Seu
parceiro está sendo sobretudo animal agora e, se estou
certo, se ele farejou você significa que ele está caçando
você como uma presa. Ser uma presa significa que ele
provavelmente vai machucá-la se a encontrar.
– Fury me ama. Ele só está bravo porque…
– Ele poderia matá-la. Imagine como ele vai se sentir
quando as drogas perderem o efeito no sistema dele e
precisar viver com algo sobre o qual ele não teve
controle. Vai ter que suportar a dolorosa realidade de que
matou a única coisa que ama. Agora, se você se importa
com ele, mexa seu traseiro, Ellie. Deixe-me levá-la a um
lugar seguro para assegurar que ele não faça algo que
destruirá vocês dois.
Ellie fitou Tiger. Havia muita coisa que não se sabia
sobre as Novas Espécies. É possível que ele esteja
certo? Fury agiu mesmo de uma forma meio louca no
momento em que entrou no banheiro. É claro que
abandoná-lo não era uma opção se ele precisasse dela.
– Preciso de mais algumas roupas e tenho que usar o
banheiro. Aonde vamos?
– Temos que tirá-la de Homeland, isso é certo. Aqui
não é grande o bastante para escondê-la e não
precisamos de um circo com humanos de testemunhas.
Ellie entrou no banheiro e abriu as portas dos
armários, procurando por aspirina, já que sentia uma dor
de cabeça vindo. A médica parecia não ter remédios no
banheiro. Ellie se virou, um pouco alarmada por ver
Tiger pairando na porta.
– Preciso usar o banheiro e isso não vai acontecer
com você me olhando. – ela avisou – Já ouviu falar
sobre privacidade?
– Apresse-se – Tiger exigiu – Talvez ele não tenha que
farejá-la se achar que a trouxemos até aqui.

Breeze saiu do carro e olhou sombriamente para os


dois homens. Justice e Slade esperavam do lado de fora
da casa de Fury. Ela esperara o pior quando recebeu a
ligação, mas Fury não machucara nenhum dos dois.
Fora informada da situação, do único plano de salvar a
Espécie macho, e concordara. Ela se aproximou deles
com temor.
Justice falou primeiro.
– Breeze, sinto muito por pedir isso. – os olhos dele
desceram aos pés dela e lá ficaram – Ele poderia ferir
mesmo a fêmea dele. Ela é muito mais frágil que nossas
mulheres. Ele poderia quebrar os ossos dela só de
segurá-la e ela provavelmente morreria se estiver
agressivo do jeito que tememos que esteja.
Breeze se encolheu.
– Eu entendo. Talvez ela me odeie por isso depois,
mas não vou deixar que seja morta. Vou entrar e lidar
com a situação.
Justice finalmente levantou os olhos.
– Sinto muitíssimo.
Breeze balançou a cabeça.
– Gosto muito de Ellie. Eu faria isso por você porque
me pediu, mas preciso fazer isso por ela.
– Ela vai entender quando explicarmos.
Breeze bufou para Justice.
– Homens não sabem de nada.
Aquela resposta o fez franzir o cenho.
– Se entrarmos e tentarmos prendê-lo, ele tentará nos
matar, ou nós teremos que matá-lo – Justice explicou
delicadamente – Até que possamos ir até ele, é muito
perigoso tranquilizá-lo. Mais drogas poderiam causar
uma overdose ou um infarto. Mandar você para lá para
acalmá-lo é a única coisa que podemos pensar em tentar.
Grite por ajuda se ele não deixar que você o ajude. Não
vou deixar que você morra. Teremos que apagá-lo sem
pensar nas consequências, se ele a atacar.
Breeze abriu a porta e entrou na casa. Fechou a porta
com firmeza atrás dela e parou, lutando contra o medo.
Ela só vira aquela situação uma vez antes e quase não
sobrevivera. Ela esticou os ombros. Ellie se tornara sua
amiga e aquele era um problema das Novas Espécies. Ela
só esperava que ele não a matasse de cara, já que ela não
era a mulher que ele queria.
Breeze congelou depois de alguns passos dentro da
sala, respirou fundo e então se afastou. Ela abriu a porta
com um puxão para falar com Justice.
– Quem esteve dentro dessa casa?
– Por quê?
– Me fale – Breeze rosnou.
– Eu, Tiger, Slade, Fury, Ellie e a enfermeira estivemos
aqui. Por quê?
Breeze o fitou.
– É uma enfermeira baixinha e de olhos verdes?
Justice fez que sim com a cabeça.
– Isso descreve a enfermeira, Belinda Thomas. O que
há de errado?
– Conheço esse cheiro. Ela trabalhava na minha seção
no centro de testes. Você nunca a conheceu? O nome
dela não é Belinda Thomas, é Beatrice Thorton.
– Tem certeza? – um lampejo frio e mortal passou
pelos olhos zangados de Justice.
Breeze mostrou a própria raiva ao exibir os dentes.
– Jamais esqueceria o cheiro de alguém tão mau. Ela
estava cuidado de Fury?
Justice empalideceu.
– É ela quem cuida da medicação.
Breeze rosnou mais fundo.
– Ela era uma das mais cruéis. Isso não é
coincidência. Ela era a encarregada dos testes de drogas
que faziam em nós.
Eles ouviram algo quebrar nos fundos da casa. Breeze
cerrou os punhos.
– Onde ela está?
– A segurança a levou enquanto providenciam a saída
dela de Homeland. Não pudemos pegar as coisas dela
ainda, então ela está esperando que sejam entregues. –
Justice esticou o braço para pegar o celular e percebeu
que, na pressa para fugir da ira de Fury, deixara-o no
quarto. Quando fora jogado na parede, ele caíra de seu
bolso – Vou fazer com que ela seja presa. – ele se virou e
foi até o carro para usar o rádio.
Breeze fechou a porta, preocupada com os sons que
vinham dos fundos da casa. Se o inimigo estivera dando
as drogas erradas para Fury, eles poderiam estar lidando
com algo muito grave. Breeze tremeu levemente e depois
esticou os ombros. Talvez ele conseguisse raciocinar, e
assim não seria tão grave quanto ela temia. Ela ouviu
mais coisas quebrando. Parecia que Fury começara a
destruir pelo menos um cômodo da casa.
– Estou indo – exclamou Ellie, olhando para Tiger, que
acenava para ela ir até a porta – Deixe-me vestir umas
meias antes. Não quero ficar andando descalça aonde
quer que iremos.
– Apresse-se. A equipe estará aqui a qualquer
momento e quero que estejamos prontos quando
chegarem. – ele deu passos largos em direção à porta de
entrada – Espero que Breeze consiga pará-lo antes que
saia de casa à sua procura.
Ellie ouviu o que ele disse e deu um passo em direção
a ele.
– Breeze? Por que Breeze iria à casa de Fury?
Tiger se virou.
– Ela vai tentar fazer com que ele a fareje. Ela sabe
que ele a mataria no estado em que está e quer salvar sua
vida. De todas as nossas mulheres, ela é a mais forte.
Queríamos uma do centro de testes de Fury, já que ele é
familiarizado com elas, mas elas tiveram muito medo. Já
viram isso acontecer no centro de testes quando davam
drogas demais a um de nossos homens. Apenas Breeze
foi corajosa o bastante e se dispôs a arriscar a própria
vida por você. Agora, se apresse, Ellie. Se Fury não
farejar Breeze, ele virá atrás de você.
– Ela vai deixar que ele a cheire? Por que isso seria
arriscar a vida dela?
Tiger xingou.
– Às vezes, se estamos em modo de caça, a ira pode
ser convertida em desejo sexual. – ele pausou – Não é
algo que uma mulher gostaria, Ellie. Se ele aceitar Breeze
no seu lugar, acredite em mim, será horrível para ela. Ele
ainda poderia matá-la.
Ellie sentiu como se tivesse levado um soco forte no
estômago.
– Você quer dizer que ela… ele… eles…
– Seria basicamente um sexo animal e violento, Ellie.
Agora faça o que precisa e vamos sair daqui. Não há
como dizer se ele vai aceitá-la ou não. Ele pode apenas
matá-la, e ela pode ser a única que consiga acalmá-lo.
Eles acham que, se derem mais drogas além das que ele
tomou, podem matá-lo. Estamos tentando salvar vocês
dois. – Tiger virou as costas para espiar pela janela,
vendo se a equipe chegava.
O coração dela martelou. Ela fechou os olhos e tudo a
atingiu. Filho da puta.
– Acho que vou vomitar.
Ela correu até o banheiro, bateu a porta e a trancou.
Ellie abriu toda a torneira na pia para abafar o barulho e
abriu a janela do banheiro.
CAPÍTULO DEZENOVE
Ellie tivera sorte. Tiger deixara a chave do carro na
ignição ao levá-la para dentro da casa de Trisha.
Provavelmente ele achava que ela continuava dentro do
banheiro, até que ele a viu passando como um raio pelo
jardim até a rua. Ele berrara quando ela puxou a porta do
carro para abri-la mas, quando ele chegou do lado de
fora, o motor ligara e deixara marcas de pneu pela rua
com a pressa dela para impedir que ele a parasse.
Ela estacionou o carro atrás da casa de Fury, olhou
em volta e se certificou de que ninguém a esperava ali
para impedi-la. Ela desligou o motor e saiu do carro.
Testou a grade do jardim, concluindo que não era
muito alta para pulá-la. Ellie xingou e se agarrou na parte
de cima. Não pulava um muro desde adolescente.
Aquilo se mostrou ser mais difícil do que ela
lembrava, mas conseguiu ir para o outro lado. Ela
mancava enquanto ia até o quarto dos fundos. Cortara o
pé ao pular de cima da cerca para o pátio. Falava
palavrões por não estar de sapatos. Suas mãos
queimavam e, ao olhar para baixo, viu alguns arranhões
que ganhara da textura áspera da parede. O som de
rosnados furiosos e vidro quebrando a fez mancar mais
rápido em direção aos fundos da casa de Fury e à porta
de correr de vidro do quarto deles.
– Não – Fury rugiu.
Ellie não pensou nem parou antes de agarrar a
maçaneta da porta de correr e escancarou-a. Ela passou
entre as cortinas e ficou chocada com a cena diante dela.
O quarto fora destruído. O armário estava no chão, a
cabeceira estava quebrada e o espelho que ficava acima
do armário fora estraçalhado em pedaços que se
amontoavam num canto do quarto. Breeze se aninhava
naquele mesmo canto, entre o closet e a porta do
banheiro, presa contra a parede. Uma marca vermelha se
exibia no rosto dela. Sangue de sua boca se espalhava
naquele lado e escorria por seu queixo e caía na camisa.
Breeze parecia amedrontada e Fury a prendera ali com
seu corpo a poucos metros dela. Ele rosnou de forma
selvagem. Rasgara a própria camisa e se agachou como
se fosse se lançar em Breeze. Seus punhos estavam
fechados.
– Fury? – a voz de Ellie tremia de choque e medo.
Fury virou a cabeça na direção dela. Seu olhar frio fez
Ellie dar um passo atrás. Ele rugiu para ela, um som
profundo e selvagem, e mostrou os dentes afiados.
– Cheguei – Ellie sussurrou.
– Corra – Breeze cochichou – Corra agora.
Ellie olhou para Breeze e viu de novo seus ferimentos.
Aquilo significava que Fury os fizera. Ellie ficou chocada
por ele ter mesmo atacado uma mulher. Isso aumentou o
medo dela, sabendo que ele perdera o controle. O
homem que ela conhecia e amava jamais atacaria Breeze.
O olhar dela retornou a Fury, incerta de que ele, naquele
estado, a reconheceria. Ele rosnou de novo e se
levantou, dando um passo na direção dela.
– Fuja – Breeze rosnou – Saia daqui.
Ellie ficou tensa, mas não interrompeu o contato visual
com ele.
– Fury? Consegue me ouvir?
Ele se lançou a Ellie. Ela cambaleou para trás,
apavorada com o olhar assustador no rosto dele. Breeze
pulou nas costas de Fury e os dois se estatelaram no
chão, quase aos pés de Ellie.
– Saia daqui – Breeze arfou, lutando para conter Fury
– Ele vai matar nós duas. Corra!
Fury jogou Breeze longe e ela bateu com força na
parede. Ellie ouviu o barulho quando Breeze atingiu o
gesso. O vidro quebrado do espelho trincou embaixo do
corpo dela quando pousou. Fury se agachou e seus
olhos selvagens se fixaram em Ellie. De novo, ele rosnou
ferozmente, do fundo da garganta. Ela via um estranho
fitando-a, alguém que não estava bem ali, totalmente
insano. Ela deu um passo atrás, e depois outro,
conforme Fury se levantava.
– Fique de joelhos – Breeze gemeu, se levantando do
chão cheio de cacos de vidros – Não olhe nos olhos
dele. Abaixe a cabeça.
Ellie estava tão apavorada que não hesitou em
obedecer às ordens de Breeze. Ela caiu de joelhos e se
curvou. Seus olhos se fecharam com força e ela tinha
medo de olhar para seu namorado seriamente drogado.
Ela sabia que Fury pairava sobre ela, estava muito perto,
pois podia ouvir a respiração pesada dele.
– Fury? – Breeze rosnou quando falou – Ouça-me.
Você não quer machucar Ellie. Você a ama, lembra? –
ouviu-se um som de tecido se rasgando – Olhe para
mim, Fury. Aqui.
Ellie levantou a cabeça e abriu os olhos. Breeze rasgara
a própria camisa para expor os seios. Ela esfregou a mão
em alguns dos cortes no braço feitos pelo vidro
quebrado quando caiu e espalhou-o nos seios. Ela
esticou as mãos lentamente na direção de Fury, como se
quisesse ter certeza de que o sangue chamaria a atenção
dele. Ele farejou, rosnou e deu as costas a Ellie para
encarar Breeze.
– Isso – Breeze cantou baixinho – Venha até mim.
Fury deu alguns passos hesitantes na direção dela e
começou a rosnar de novo. Breeze tremeu de medo e
empalideceu mais, mas não se afastou. O que fez foi
deixar as mãos que oferecera caírem lentamente ao lado
do corpo, depois fechou os punhos.
– Saia daqui agora – Breeze ordenou a ela
delicadamente.
Ellie sabia que Breeze falava com ela enquanto lutava
para se levantar.
– O que há de errado com ele?
– Aquela enfermeira trabalhava para a Mercile. Acho
que ela deu algo a ele que o deixou totalmente violento. –
Breeze sussurrou. Lentamente, ela chegou de novo ao
canto até suas costas se pressionarem contra a parede e
virou a cabeça com cautela até que conseguiu enxergar
Ellie.
– Saia daqui enquanto ele está focado em mim e no
sangue. Não sei se ele vai copular comigo ou me matar.
– ela lançou a Fury um olhar preocupado.
Copular com ela? Ellie pensou.
– Vou distraí-lo. Saia daqui, Breeze. Diga a todos para
ficarem de fora. Ele não vai me matar.
A cabeça de Breeze se virou na direção dela para
lançar-lhe um olhar chocado. Fury agora estava a
poucos milímetros da outra mulher. Ele farejou o sangue
no peito de Breeze e rosnou. Agarrou uma das mãos de
Breeze de repente e a puxou para a boca. Horrorizada,
Ellie observava Fury cheirar o sangue espalhado na
palma dela. Achou que aquilo era melhor do que ele
arrancar a mão dela com uma mordida.
– Saia daqui, Ellie – Breeze sussurrou.
– Saia você! – Ellie tirou as roupas rapidamente. Se
Fury quisesse uma mulher, ele teria uma: ela – Saia,
Breeze. Ele não vai me matar. Diga a eles para ficarem de
fora. Fury? – Ellie andou lentamente até ele e aumentou a
voz – Fury! Deixe a mulher ir embora, droga!
A cabeça de Fury se virou na direção de Ellie. Por um
instante, o pânico se instalou quando os olhos negros
dele se prenderam de forma faminta em seu corpo. Ela
ainda não enxergava Fury naqueles olhos.
– Ei, grandão, lembra de mim? Sou Ellie. Eu te amo e
você me ama. Deixe-a ir e venha até mim se quer tocar
uma mulher.
Ele soltou as mãos de Breeze e se virou. Seu olhar
percorreu o corpo dela novamente e suas narinas se
alargaram quando ele farejou. O coração de Ellie batia de
forma irregular. Breeze pegou em Fury, tentando fazer a
atenção dele se voltar a ela.
Fury lançou uma mão, atingindo o lado da cabeça de
Breeze. Ele a jogou em direção à porta, onde ela ficou
esparramada no carpete. Fury deu um passo na direção
de Ellie, e depois outro. Ela fazia que sim com a cabeça
para ele e deu um passinho atrás, na direção do banheiro.
Rezava para que ele a seguisse até lá dentro. Ela poderia
trancar a porta e tinha esperanças de que ele ficasse
arremessando-a de um lado para o outro num lugar
pequeno.
– Isso, Fury. Vamos, grandão. É a Ellie. Vamos para
dentro do banheiro, onde teremos mais privacidade. –
Ellie olhou em volta e viu Breeze apoiada nas mãos e nos
joelhos, se levantando.
– Breeze – Ellie pediu delicadamente – Saia. Diga para
eles ficarem de fora, não importa o que aconteça.
Ellie se afastou mais. Fury rosnava e lentamente ia até
ela. Ela se movia mais para perto do banheiro.
– Venha, amor – Ellie cantarolava para ele – Venha
para a Ellie. Vamos brincar.
– Fury! – Breeze rosnou o nome dele.
– Pare, Breeze. Fique fora disso. – Ellie exigiu – Não
olhe para ela, Fury. Olhe para mim. Estou bem aqui.
Aquele perfume o chamava. Fury farejava, lutando
contra o atordoamento que dominava sua mente, fazendo
com que fosse quase impossível raciocinar. Ele conhecia
a ira e a dor, tanta agonia… Sua visão se clareou
enquanto ele combatia a escuridão que enevoava sua
mente.
Uma mulher humana estava nua a alguns metros dele e
parecia familiar. Seus olhos azuis estavam arregalados,
apavorados, e ele a farejou de novo, lutando para
raciocinar. Ele estava de novo dentro da cela, haviam
feito algo a ele, e a humana devia ser a responsável, mas
de repente outras imagens preencheram sua mente.
Aquela humana sorrindo para ele, o som de sua risada
e suas mãos que acariciavam o rosto dele passaram
rapidamente por suas lembranças confusas. Ele a
conhecia bem, mesmo que não conseguisse pensar com
clareza. Ele farejou de novo, aquele perfume encheu seu
nariz e mais flashbacks passaram em suas lembranças.
Ele abaixou os olhos e uma luxúria pura o atingiu.
Queria agarrá-la, jogá-la e possuí-la. No entanto, hesitou.
Ele sabia que a machucaria e, por algum motivo,
importava que ele não o fizesse, não devia querer aquilo.
Ela era valiosa para ele de algum jeito. Ele lutou para
afastar a névoa que diminuía sua habilidade de raciocinar.
Esforçou-se para lembrar quem ela era e por que uma
humana significaria alguma coisa para ele, já que todos
eles eram seus inimigos.
Mais imagens vieram à tona, numa montagem
confusa. Ela sorrindo enquanto comia à mesa ao lado
dele, ela sentada no colo dele com os braços em volta
dele. Eles dividiam um chuveiro e ela lavava o peito dele
com suas mãos pálidas e pequenas, e ele se inclinava
para beijá-la. Seu nome estava na ponta da língua dele e,
então, enquanto lutava contra a dor escaldante de tão
quente, seu cérebro explodiu com o conhecimento.
Ellie se tornara seu mundo inteiro, a mulher que o
fazia feliz, e ele cambaleou em um passo na direção dela,
contendo a ira que tentava consumi-lo e os dolorosos
golpes de agonia que ameaçavam enfraquecer suas
pernas. Ele precisava abraçá-la, tocá-la, e sabia seu
nome. Ele a amava. O perfume dela o ajudava e ele
precisava se aproximar.
– Ellie – ele rosnou a palavra.
Algo finalmente cintilou nos olhos de Fury, um sinal
de reconhecimento e emoção real. Ellie sorriu.
– Sou eu, Fury. Venha até mim com calma, você não
quer me ferir.
Ele deu passos cambaleantes para a frente e, de
repente, parou na frente dela. Ela esticou os braços
lentamente na direção dele, queria confortá-lo, e então ele
a pegou. Os braços dele passaram em volta de sua
cintura e suas costas bateram contra a parede tão forte,
que o ar saiu de seus pulmões. Fury enfiou o rosto no
espaço entre seu ombro e seu pescoço para respirar em
sua pele. Ellie tomou fôlego. Breeze estava em pé no
meio do quarto, observando-os com uma expressão
preocupada.
– Estou bem – Ellie sussurrou – Pode sair.
Breeze hesitou.
– Ellie – Fury rosnou.
Ellie passou os braços com força em volta do pescoço
dele, abraçando-o.
– Sim, amor, sou eu.
Ele rosnou de novo e lambeu o pescoço dela. Ele
arfou. Sua mão em volta da cintura dela se moveu para
segurar a bunda dela, uma mão grande agarrou sua carne
macia com uma pegada que poderia deixar um
hematoma. Ellie balançava a cabeça na direção de Breeze
por cima do ombro dele, assegurando-a de que estava
bem. Breeze fez que sim com a cabeça, se afastando.
Ellie a viu sair do quarto e fechar a porta.
– Ellie – Fury rosnou.
– Estou aqui.
Ele endireitou a postura. Pressionou o peito contra o
dela e uma de suas mãos deixou o quadril dela. Tecido se
rasgou. Ellie fechou os olhos. Tentou acalmar a
respiração.
– Fury? Está me ouvindo? Fale comigo.
Ele rosnou. Um de seus braços agarrou sua cintura de
um jeito quase doloroso. A outra mão agarrou sua coxa.
Ele as abriu pressionando o quadril no meio dela. Ela
arfou de dor. Fury rosnava ferozmente, mas parou de
pressioná-la com tanta força.
– Fury?
Ele a soltou no mesmo instante e cambaleou para
longe. Ellie tremia enquanto se esforçava para manter o
equilíbrio depois de ele soltá-la repentinamente. Fury caiu
de quatro e emitiu um som terrível, cheio de dor e
sofrimento, que fez Ellie se encolher. Ela se ajoelhou
atrás e não hesitou em curvar o corpo sobre as costas
dele e passar os braços em volta da cintura dele.
– Estou aqui, Fury. Você vai ficar bem. Está me
ouvindo? Eu te amo.
Ele se mexeu de repente, virou seu corpo grande e
forte, o que fez com que Ellie saísse de sua posição
curvada e caísse de bunda no carpete. Fury acabou
pressionado contra ela em um segundo. Ele se curvou de
lado, encarando-a, usando as coxas dela como
travesseiro, e curvou as pernas em volta das costas dela.
Passou os braços com força em volta da cintura dela e
se prendeu nela. Seu rosto estava pressionado contra a
barriga dela e um choramingo suave veio de sua
garganta.
Ellie olhou para baixo. Vê-lo daquele jeito a destroçava,
e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela piscou para
contê-las. O olhar de medo e confusão no rosto dele
partiu seu coração. Ela tremia levemente ao passar os
dedos pelo cabelo dele com uma mão, enquanto a outra
esfregava as costas.
– Está tudo bem, Fury. Estou aqui. Vamos ficar bem.
– O que há de errado comigo? – ele gemeu e a apertou
mais.
– Eles acham que um dos remédios que deram a você
para sua recuperação está deixando-o meio maluco. Vai
ficar tudo bem.
Ele negou.
– Não. Eles estão errados. Já estive sob efeito dessas
drogas antes, mas essa é diferente. Repentina. – ele
tremeu forte, seu grande corpo tremia em volta dela – É
difícil raciocinar e sinto tanta raiva…
– Vai ficar tudo bem – Ellie jurou delicadamente –
Estamos juntos e vou ficar sentada aqui com você o
tempo que for necessário para que se sinta melhor. Você
não vai me machucar. Sei que não vai porque me ama
tanto quanto eu te amo.
O rosto dele roçou na barriga dela. Sua língua saiu e
lambeu a parte de baixo do seio dela. Fez cócegas. Ellie
recuou para que ele não fizesse aquilo de novo.
– Isso faz cócegas.
– Você está pelada.
– Bem, sim. Eu precisava chamar sua atenção.
– Você sempre a terá.
Os olhos de Ellie desceram pelo corpo de Fury e
notaram que ele rasgara a parte da frente do jeans. Fora
dali que viera o som de tecido se rasgando que ela ouviu
enquanto ele a prendia na parede. Ela tremeu. Se não o
tivesse acalmado, se não o tivesse tocado em seu lado
emocional, ele a teria possuído contra a parede
agressivamente, sem carinho ou consideração pela dor
dela ou pelos ferimentos dele. Ellie continuou
acariciando-o enquanto seus dedos percorriam o cabelo
dele.
– Fale comigo. Estou lutando para ficar com você,
mas a escuridão está muito perto.
Ellie olhou para a cabeça de Fury descansando em seu
colo e viu que ele a fitava. Seus olhos negros estavam
cheios de confusão ao encontrar os dela.
– Estou bem aqui, Fury. – ela forçou um sorriso,
tentando esconder seu alarme e sua preocupação – Vou
abraçá-lo até que sinta que voltou a ser você mesmo.
– Eu feri alguém? Está difícil de raciocinar e lembrar.
– Todos estão bem. – ela esperava que Breeze não
estivesse muito machucada, mas não falaria sobre aquilo,
lá.
Ele apertou os olhos para fechá-los.
– Quero você. – ele rosnou suavemente.
Ellie ficou tensa.
– Fury? Deixe-me vestir umas roupas.
Ele negou.
– Isso me distrai da minha ira, e não importaria; eu
ainda sentiria seu cheiro, não importa o que vista. Você
está sangrando. Machuquei você?
– Não. Estou com alguns cortes e arranhões porque
pulei a cerca dos fundos para chegar até você. – ela
virou o pé para ver os ferimentos com mais facilidade. O
corte parecia maior do que ela pensava, e ela viu sangue
espalhado no carpete – Meu pé está sangrando. Se você
se mexer um pouco, acho que consigo alcançar alguma
coisa para colocar embaixo dele, senão vou sujar o
carpete de sangue.
– Não dou a mínima.
Ellie riu.
– Você diz isso agora porque não está sendo você
mesmo, mas espere até amanhã, quando estiver tentando
encontrar um pedaço da mobília para colocá-la em cima
da mancha e escondê-la.
Fury gemeu.
– Eu te amo, Ellie.
– Eu também te amo. Como está se sentindo?
– Irado – ele rosnou – Tanta raiva e dor… Parece que
minha pele está pegando fogo.
– Apenas me abrace.
– Acho que não conseguiria soltá-la. Tem certeza de
que não a machuquei?
– Tenho. Você não me machucou, apenas me assustou
pra…
A porta do quarto se abriu com um barulho. Ellie
olhou para ela. Fury ficou tenso, rosnando.
O rosto de Trisha apareceu quando ela espiou dentro.
– Você está bem?
Ellie esfregava as costas de Fury, tentando acalmá-lo.
– Estamos bem agora – Ellie falou alto, para todos
ouvirem, esperando que fosse verdade. Sua voz ficou
mais suave – Relaxe, Fury. É só a doutora Trisha.
– Posso entrar? – Trisha sussurrou – Preciso
examiná-lo, se eu puder.
Ellie não tinha certeza se ele atacaria outras pessoas
que estivessem muito perto dele enquanto o estudava.
– Apenas segure em mim, Fury. Trisha precisa muito
examiná-lo para que possa ajudar.
– Não – ele rosnou. Seus braços se apertaram
dolorosamente em volta de Ellie enquanto ele virava a
cabeça para fitá-la – Você é minha. Eles não podem tirá-
la de mim.
– Não vou a lugar nenhum. Não vou me mexer, ok?
Por favor, deixe a doutora dar uma olhada em você.
Vamos ficar assim enquanto ela faz isso.
Fury respirou de forma trêmula e piscou na direção de
Ellie. Concordou com a cabeça e virou o rosto para a
barriga dela. Ellie olhou para Trisha.
Trisha adentrou o quarto devagar e se afastou da
porta.
– Preciso do Ted aqui também, Ellie. Pode ser que ele
identifique pelos sintomas qual droga deram a Fury.
Ellie se encolheu por estar nua.
– Pode me dar alguma coisa antes?
Trisha se moveu entre os escombros para ir até a
cama. Puxou o lençol do colchão e se aproximou deles,
hesitando. Tentou enrolá-lo em Ellie com cuidado, se
assegurando de que não encostava em Fury. Ellie
hesitou, entendeu que, para se cobrir, o lençol teria que
cobrir Fury também, já que ele se moldara ao seu corpo
e estava enrolado com firmeza em volta dela.
– Isso não vai funcionar. Que tal me dar uma das
camisas do armário? – de repente ela se lembrou que a
porta do armário estava contra o chão. Ela suspirou –
Que tal a que ele tirou? Está vendo em algum lugar?
Trisha jogou o lençol na cama e foi até o canto,
pisando cautelosamente sobre o espelho quebrado que
trincava sob seus sapatos. Pegou a camisa rasgada de
Fury e a levou até Ellie. Ela precisou se soltar de Fury
para vesti-la. No instante em que ela tirou as mãos de
seu cabelo e de suas costas, ele ficou tenso, abraçando-a
com mais força, e enfiou o rosto mais fundo na barriga
dela. Ellie colocou a camisa na frente dela para cobrir os
seios e voltou a acariciar Fury. A pegada dele se
afrouxou assim que o toque confortante dela voltou e ele
relaxou tanto, que seu rosto não se enterrava mais
dolorosamente contra a barriga dela.
– Estou bem aqui – Ellie sussurrou para confortá-lo –
Apenas me abrace. Eles vão dar um jeito nisso e fazer
você se sentir melhor. – Ellie olhou para Trisha – Acho
que você pode trazê-lo agora. Meus seios estão
cobertos, e você não consegue ver o resto do meu corpo
com Fury em volta de mim, consegue?
Trisha balançou a cabeça.
– Seja como for, somos médicos. Ele não a feriu?
– Estou bem. Eu disse, Fury jamais me machucaria.
Fury rosnou em resposta. Ellie o segurou com mais
força, usando uma mão para massagear as costas dele e
os dedos da outra para passá-los pelos cabelos.
– Quieto, Fury. Está tudo bem. Apenas se segure em
mim.
O doutor Ted Treadmont entrou no quarto e Justice
parou do lado de fora atrás dele. Justice farejou, ficou
tenso e seu olhar se fixou em Ellie com um franzido.
– Ele não me machucou. Pulei o muro dos fundos e
me machuquei um pouco, se está sentindo cheiro de
sangue.
– Eu sei. Estávamos ouvindo atrás da porta e
escutamos tudo o que você disse. Estou tentando sentir
o cheiro dele. – Justice permanecia na porta enquanto
estudava Fury cuidadosamente – Isso não está certo,
Ted. Ele está com um cheiro estranho, não é o mesmo
das drogas que ele está tomando há dias.
O doutor concordou com a cabeça.
– Eu sei. Esses sintomas não são causados pelo que
estou dando a ele.
– O que está havendo? – Ellie olhava para os dois
homens.
– A droga que demos a ele não devia ter feito isso. –
Ted se ajoelhou perto de Fury e Ellie. Abriu a mala e
olhou para Ellie – Preciso colher sangue. Achamos que
aquela enfermeira pode ter dado a ele outra coisa para
deixá-lo assim. Precisamos de um pouco de sangue para
fazer um teste.
Fury ficou tenso e rosnou, mas Ellie o abraçou mais
forte.
– Fury? Me escute. Estou com você e você está
comigo. Eles vão ajudar você, ok? Apenas relaxe.
Ele fez que sim contra a barriga dela.
Justice se virou e falou delicadamente com alguém no
corredor que estava fora do campo de visão.
– Vá conferir as coisas da enfermeira e a casa. Traga
qualquer droga que encontrar. – Justice encarou Ellie –
Como ele está?
– Bem. Como está Breeze?
– Preocupada com você.
– Estou bem.
Ellie observava Ted e Trisha, conforme examinavam
Fury. Ela o acariciava, fazia sons suaves e confortantes,
e falava para ele ficar bem quieto enquanto Trisha colhia
sangue do braço dele. Ele ficou tenso e rosnou algumas
vezes, mas continuou abraçando Ellie, ouvindo suas
palavras. O rosto dele se manteve pressionado contra a
barriga dela o tempo inteiro.
– Fury? – Ted falou delicadamente – O que está
sentindo, filho?
– Raiva – Fury sussurrou – Tesão. Dificuldade para
raciocinar. Minha pele queima. Confusão. Muita dor.
Quero comer a Ellie e, se não fizer isso, acho que vou
morrer.
Ellie ficou ruborizada, mas não ficou chocada. Ela
sabia que ele estava sexualmente excitado. O jeans dele
estava rasgado, com seu colo contra o dela. Ele vestia
cuecas boxer e ela não tinha como não sentir a saliência.
– Está sentindo vontade de ver sangue derramado? –
Ted pôs a mão na mala e retirou um frasco com um
líquido claro. Depois pegou uma seringa, removendo-a
da embalagem estéril.
Fury concordou com a cabeça.
– Quero desesperadamente estraçalhar alguma coisa.
– Filho, não vou fazer isso se você não quiser, mas
posso aplicar uma injeção? Vai colocá-lo para dormir.
Você vai ficar apagado por algumas horas e, assim
espero, o que quer que tenha sido injetado no seu
organismo terá desaparecido quando estiver de volta. Se
algo der errado, Trisha e eu estamos aqui para socorrê-lo
imediatamente.
O medo tomou Ellie.
– Não! Tiger disse algo sobre ele poder morrer se
mais drogas forem dadas a ele.
O médico olhou para ela de um jeito sinistro.
– Isso era uma preocupação quanto a outra droga,
mas não é a que pensávamos. Estou mais do que certo
de que ele pode receber um sedativo. Estamos bem aqui
a postos se estivermos errados. – ele levantou outra
injeção – Essa é para se o coração dele parar. Estamos
preparados, mas ele está sofrendo. Precisa ser sedado.
Fury ficou muito tenso, mas depois relaxou.
– Vá em frente – ele rosnou – Não me abandone, Ellie.
– ele se segurou nela com mais força.
– Não vou abandoná-lo. – Ellie prometeu
delicadamente.
Ted aplicou a injeção em Fury e em seguida balançou a
cabeça para Ellie.
– Vai levar só alguns minutos. Ele vai relaxar e dormir.
– Estou bem aqui, Fury – Ellie sussurrou para ele –
Não vou sair do seu lado. Quando você acordar, as
coisas estarão melhores, está bem? Serei a primeira coisa
que você vai ver.
Ele fez que sim contra a barriga dela. Alguns minutos
se passaram e ela notou que o corpo de Fury parecia
mais pesado, quase esmagando suas pernas. Precisou
segurá-lo contra o peito para impedir que a cabeça dele
rolasse para trás, num ângulo perigoso. Os braços dele
se afrouxaram em sua cintura, até que repousaram no
chão atrás dela. Ela balançou a cabeça para Trisha e Ted.
– Ele dormiu.
– Vamos tirá-lo de cima de você – Justice entrou no
quarto.
– Não vão não – contestou Ellie – Estou meio pelada.
– Vamos fazer de um jeito que não vai exibi-la aos
meninos. – Trisha se levantou – Ted, você e Justice
pegam os braços dele. Fechem os olhos quando o
levantarem. Vou dar a Ellie uma toalha para ela se enrolar.
Depois que a tirarmos debaixo dele, ela pode ir até o
banheiro e se vestir enquanto vocês o colocam na cama.
É a única coisa aqui que não está destruída.
Eles cuidadosamente manobraram Fury com os olhos
fechados e Ellie cobriu seu corpo nu com a toalha que
Trisha pegou. Pôs-se em pé com a ajuda de Trisha e
correu para o banheiro. Fechou a porta e se apressou
para vestir as roupas sujas, ainda espalhadas no chão,
onde as havia deixado. Ao voltar para o quarto, havia
mais pessoas. Fury estava deitado de costas,
inconsciente. Ellie foi até o lado dele e se sentou na
beirada do colchão. Agarrou a mão mole dele.
– Ele vai ficar bem – Ted assegurou-a.
– Veja isto – Trisha falou. Ela segurava uma garrafa
marrom-escura que retirara da maleta médica de Belinda
que fora levada ao quarto – É Freltridontomez.
Ted soltou um palavrão.
– Merda. Que bom que não o tranquilizamos quando
ele estava em pé. Ele poderia ter explodido de raiva com
injeção antes que ela fizesse efeito.
– O que é isso? – Ellie olhou para os dois médicos,
querendo uma resposta.
– É uma química que ataca a mente. Manda sinais
falsos ao cérebro de que há uma dor cegante, mas sem o
desconforto físico. Normalmente leva o paciente a sentir
raiva, confusão e destrói o pensamento racional.
Explicaria todos os sintomas de Fury. Ele pioraria
progressivamente com o passar das horas.
– Por que ela faria isso? – Trisha continuou mexendo
na maleta da suposta enfermeira – Ela sabia que isso
seria perigoso pra diabo. Pelo que li nos relatórios, eles
usavam essa droga ocasionalmente em algumas Espécies
para forçar brigas físicas entre as cobaias.
– Usavam mesmo – rosnou Tiger da porta – Já me
deram essa merda, não conseguia lembrar nem do meu
nome. Eu só queria matar alguém e qualquer coisa que
se mexesse me provocava. Quando saía dela, eu mal
podia me lembrar do que acontecera e, às vezes, não
lembrava de absolutamente nada.
Ellie fitou Tiger enquanto ele entrava no quarto, e se
perguntou se ele estava bravo por ela tê-lo largado na
casa de Trisha.
Ele lançou um olhar a ela.
– Você está ferrada comigo. Nunca mais fuja de mim
ou roube meu carro.
– Não seja estúpido o bastante para deixar a chave na
ignição. Eu disse que ele não me machucaria. – revidou
Ellie, brava por ele ter falado daquele jeito com ela.
– Eu tomei aquela decisão – Justice suspirou – Temi
que sua vida estivesse em perigo, Ellie.
– Bem, eu disse que ele não me machucaria.
– Você teve sorte – Trisha interveio – Li os relatórios
de um monte de cobaias em que a Mercile testou essa
droga. – Trisha sacudiu a cabeça – Uma raiva brutal,
insana e mortal costuma ser o resultado. Mas duvido que
eles tenham tentado virar um homem contra a mulher
por quem está apaixonado.
Breeze deu passos hesitantes dentro do quarto.
Limpara o rosto e vestira uma camisa nova. Ellie a
estudou com preocupação.
– Você está bem?
Breeze se aproximou e sentou na ponta da cama.
Franziu a testa para Ellie.
– Estou. Você, por outro lado, é ou muito tonta ou
muito apaixonada.
– Um pouco dos dois – Ellie admitiu.
Um sorriso passou pelo rosto de Breeze antes de ela se
encolher, tocando a boca delicadamente. Ela parecia
inchada e um hematoma começava a se formar. Ellie
estudou a área ferida.
– Sinto muito por ele ter batido em você. Sei que ele
não faria isso em condições normais.
– Ele queria você e foi ficando cada vez mais bravo
por eu estar no seu lugar. Entendi isso bem rápido. Ele
poderia ter me machucado muito mais, mas não o fez. –
Breeze lançou um olhar para Fury – Você escolheu bem,
Ellie. Ele é um homem incrível, com um controle
extremamente bom.
– Como pode dizer isso depois de ele ter batido em
você? Você devia estar bem magoada com ele. – Ellie
não entendia a reação de Breeze.
– Já vi nossos homens ficarem loucos e eles podem
provocar muita dor, mas ele lutou contra tudo. Só me
bateu quando eu o tocava ou tentava impedi-lo de ir até
você. Ele não tentou me ferir, mas me golpeou com
tapas para me afastar. – ela hesitou – Ele não a
machucou. Você não sabe como ele deve amá-la para
combater tudo o que estava se passando dentro dele para
se acalmar. – Breeze balançou a cabeça – Ele é um bom
macho, muito forte e muito protetor em relação a você.
Você escolheu bem, Ellie Brower.
Ellie concordou com a cabeça.
– Obrigada por se arriscar por mim.
– Que melação. – Tiger gemeu – Parem, por favor.
Slade riu.
– Eu não ia dizer, mas… abraço coletivo?
– Pare com isso – Justice ordenou suavemente. Ele
parecia um pouco irritado ao lançar olhares entre seus
homens – Isso é sabotagem. Slade, vá falar com aquela
enfermeira. – a raiva fez suas feições ficarem tensas –
Descubra por que ela fez isso e quem a ajudou, não
importa o que for preciso para isso.
O sorriso de Tiger se desfez.
– Posso ir com ele?
Justice o estudou com suspeita.
– Você passou um tempo com aquela mulher. Sente
algo por ela?
– Não. Estou bravo. Ela fez isso debaixo do meu
nariz. Se Slade tem problemas em apavorá-la para
conseguir respostas dela, eu não tenho. Não vou matá-la,
mas pode ser que ela deseje que eu faça isso.
– Está bem. – Justice pausou – Cuidado com as
câmeras e esteja ciente de que os humanos estarão
observando. Pode ser que eles não aprovem seu método.
– Sem problemas. – Slade deu um sorriso frio antes
de se virar e ir embora.
Ellie viu Tiger segui-lo, até que saíram de vista. A
atenção dela se moveu para Justice.
– Por que alguém faria isso a Fury?
– Você – Ted respondeu no lugar dele – Bem, seu
relacionamento com Fury tem dado o que falar na mídia
e os grupos de ódio não querem um romance de conto
de fadas.
– Acho que é mais que isso – declarou Trisha – As
Indústrias Mercile adorariam que Fury ficasse insano e
atacasse Ellie. Vamos encarar os fatos. Eles são vistos
como merda depois de manter pessoas trancadas nos
centros de testes e fazer experimentos ilegais. Ficam
afirmando que as Novas Espécies são mais animais que
humanas, tentando dessensibilizar a mídia e o público
que os apoia. Se um homem das Novas Espécies virasse
um assassino e matasse sua namorada humana que vive
com ele, seria bem grave. Ellie e Fury são os alvos
perfeitos, já que o mundo os observa tão de perto.
– Beatrice Thorton trabalhava para as Indústrias
Mercile – rosnou Breeze.
– Quem é Beatrice Thorton? – Ellie franziu o cenho.
– É uma ex-funcionária das Indústrias Mercile. Você a
conhecia pelo nome que ela usa agora, Belinda Thomas –
disse Justice enquanto ia até o armário caído e se
sentava na beirada dele.
– Aquela vadia trabalhava para as Indústrias Mercile?
– chocada, Ellie olhou boquiaberta para Breeze,
esperando uma confirmação.
– Eu reconheci o odor dela quando entrei na casa. – a
raiva fez a voz de Breeze se aprofundar quase a um
rugido – Eu jamais esqueceria um inimigo. Ela era a pior.
Torturava nosso povo e sempre enfiava agulhas em nós
com um grande sorriso de deboche. Ela gostava da
nossa dor. – Breeze se virou para Justice – Tem certeza
de que nunca a conheceu?
– Não. Ela deve ter trabalhado só na área feminina do
centro de testes.
– Acho que ela teria medo de que uma de vocês a
reconhecesse – Ted especulou.
– Talvez ela achasse que estaria segura, já que só
trabalhava com mulheres das Novas Espécies. – Ellie
olhou em volta do quarto – Quero dizer, a única mulher
na vida de Fury sou eu. Eles sabem que eu não
reconheceria. Trabalhei no centro de testes onde Fury
ficava preso e ela não trabalhava lá. É de conhecimento
público que todas as mulheres das Novas Espécies
moram em um alojamento e que não há muitas delas.
Assisto ao jornal e eles fazem parecer que há apenas
algumas.
– Você trabalhava para as Indústrias Mercile? – Ted
olhou para Ellie.
– Não é o que você está pensando. – Justice franziu a
testa na direção do médico – Ela trabalhava para Victor
Helio. Você o conheceu. Ele abordou Ellie quando ela
tinha um emprego nos escritórios corporativos das
Indústrias Mercile, sem saber o que eles realmente
faziam. Ele a abordou, contou a ela sobre o que
suspeitavam e pediu a ajuda dela para descobrir a
verdade. Ela roubou evidências, arriscou a vida para isso
e pegou o suficiente para conseguirem mandados de
busca. Alguns dos relatórios médicos e de testes que
você leu são os que ela roubou.
– Ah! – Ted relaxou – Você foi corajosa. O que a fez
fazer isso? Você sempre quis ser uma espiã ou trabalhar
para uma agência de polícia?
Ellie segurou uma bufada.
– Não, não sou tão aventureira. É que fiquei realmente
tocada quando Victor Helio veio até mim e me disse
quais eram os boatos. Eu precisava fazer qualquer coisa
que pudesse para ajudar a descobrir se eles realmente
estavam fazendo testes em pessoas. Fiquei horrorizada
com essa ideia.
– Você é uma boa pessoa. – em seguida, Ted falou
com Trisha – Se estão usando drogas para atacar as
Novas Espécies, precisamos estar cientes disso. Temos
que barrar todos os produtos que entram aqui e que
poderiam estar adulterados.
– Começando pela comida – Trisha concordou.
– Você acha possível? – Justice parecia cauteloso.
– Estou pensando sobre o que eu poderia fazer se
quisesse sabotar seu povo, Justice. Contaminar a comida
deixaria todos loucos – afirmou Ted de forma sombria.
– Isso também não afetaria os humanos? – Justice não
parecia convencido.
Ted deu de ombros.
– Claro, mas aposto que eles não ligam. Estão sendo
processados pelo que fizeram a vocês, e a única defesa
deles é declarar que vocês não são humanos. O que
poderia ferir mais as Novas Espécies do que fazer pelo
menos uma boa parte de vocês ficar louca o bastante
para tornar tudo um banho de sangue, com a imprensa a
par da história?
– Não sabemos nem se a trama é tão grande assim –
Justice rosnou – Não quero deixar ninguém em pânico.
– Certo – exclamou Ted – Vou começar a procurar
algo que neutralize o Freltridontomez. Assim, se o
usarem de novo, podemos usar injeções para dar um
antídoto a quem for afetado antes que alguém se
machuque. É a coisa mais segura a fazer. Como eu
disse, se o sedarmos enquanto estão sob o pico do
efeito, a raiva induzida pela droga provavelmente os
matará. Poderiam ter um derrame ou um infarto.
Trisha se levantou.
– Acha que conseguimos encontrar algo para isso?
Teremos que trabalhar depressa, Ted. Também devíamos
ordenar testes aleatórios na água e na comida que
chegam.
– Havia algumas anotações nos arquivos que
conseguimos sobre o Freltridontomez. Talvez eles
estivessem perto de achar uma droga para neutralizá-lo.
– Ted pegou a mala – Só porque não temos o resultado
final no papel, não significa que não está bem ali.
– Vamos. – Trisha pegou a mala dela. Antes de sair,
parou para sorrir para Ellie – Quando Fury acordar, pode
ser que ele tenha dor de cabeça e inflamações, mas ele
deve ficar bem. Caso contrário, ligue para nós.
Estaremos no centro médico.
– Uau! – Ellie murmurou quando o casal saiu. Ela
arqueou as sobrancelhas ao olhar para Justice – Acho
que minha cabeça deu um nó. Eles são sempre assim?
Ele fez que sim com a cabeça.
– Ted é o que você chamaria de paranoico, mas é o
melhor no que faz. Não acho que seja um ataque de
grandes proporções contra nós. Coma suas refeições
sem medo, Ellie. Se eles fossem atacar nossa comida ou
nossa água, não precisariam ter enviado uma mulher
para envenenar Fury com agulhas. Já teriam nos atacado
desse jeito.
– Acha que ela veio de um dos grupos de ódio ou da
Mercile?
– A Mercile faz mais sentido para mim. Dois coelhos
com uma cajadada só.
– Dois coelhos?
A sobrancelha dele se arqueou.
– Você acabou com eles, Ellie. Haveria melhor
vingança do que fazer aquele por quem você arriscou a
vida para salvar ser o homem que causou sua morte?
Fury poderia ter matado você. A má publicidade na mídia
teria sido esmagadora. Ted tem razão. A única defesa
que eles têm para seus crimes é convencer as pessoas de
que não somos humanos e, portanto, impossíveis de
sofrer abuso. Estão enfrentando acusações criminais,
mas também estamos processando-os por dinheiro.
A ficha dela caiu.
– Meu voto também é para Mercile. – ela verificou
Fury. Ele dormia em paz.
– Preciso fazer algumas ligações, Ellie. Quero checar
o que essa Beatrice Thorton está dizendo. Estarei na sala,
se precisar de alguma coisa.
– Você não precisa ficar. A propósito, obrigada por
tudo hoje. Bem, menos por fazer Tiger me jogar no
porta-malas de um carro e me sequestrar.
Ele se encolheu.
– Estarei no outro cômodo. Precisamos ficar por
perto para ter certeza de que Fury estará bem ao
acordar. – Justice inclinou a cabeça para seus homens o
seguirem.
Breeze se levantou.
– Vou para casa.
Ellie deu a Breeze um olhar sincero para expressar sua
gratidão.
– Você é mesmo uma amiga muito boa por ter vindo
aqui hoje e não me esquecerei disso. Obrigada do fundo
do meu coração.
– Nos vemos quando você voltar ao trabalho. Tire uns
dias de folga. Estamos bem no alojamento, não se
preocupe conosco.
– Obrigada.
Ellie observou todos saírem do quarto. Ela estava
sozinha com Fury outra vez. Se virou de lado e se
curvou contra o corpo quente dele.
– Eu te amo – ela sussurrou. Ela o abraçou, sabendo
que um deles poderia ter morrido. Aquilo a deixou muito
assustada.
CAPÍTULO VINTE
Ellie queria ir até o centro de detenção e socar Beatrice
Thorton, também conhecida como Enfermeira
Vagabunda, Belinda Thomas. Tiger e Slade haviam
interrogado a mulher até ela amolecer e confessar tudo.
Alguém das Indústrias Mercile a contratara para sabotar
as Novas Espécies pela má publicidade que renderia.
Acharam que fazer Fury parecer um animal incapaz
voltaria a opinião pública a favor deles.
Fury se recuperou completamente, mas estava muito
magoado por ter perdido o controle daquele jeito. A culpa
recaiu estritamente sobre os ombros da Enfermeira
Vagabunda por não ter escrúpulos. A ONE entregou a
mulher para as autoridades para ser processada por uma
longa lista de crimes, mas isso mal consolava Ellie ou
Fury.
A vadia quase destruíra suas vidas. Escolhera Fury
porque ele era de fácil acesso após levar os tiros. Ela só
precisaria ser contratada para ser enfermeira domiciliar e
subornar algumas pessoas na lista para se recusarem a
trabalhar para as Novas Espécies.
Beatrice Thorton admitira ter tido curiosidade para
saber como seria transar com Fury. Era por isso que
dera em cima dele e fizera Ellie sofrer. Quando
finalmente percebeu que não haveria nada entre ela e
Fury, decidiu colocar o plano em prática quando Ellie foi
tomar banho, esperando que ele ficasse louco e matasse
a mulher que amava. Era um esquema cruel e poderia ter
funcionado a favor da mulher, mas ela não contara com
a profundidade do amor de Fury por Ellie.
Justice fitava Ellie e Fury soturnamente.
– Eu juro, ela vai passar por maus bocados.
Prometeram que ela serviria de exemplo. Preciso mudar
totalmente nossos protocolos de segurança agora.
Decidimos começar a treinar alguns de nosso povo para
enfermagem. Assim, se precisarmos de ajuda no futuro,
não dependeremos totalmente de humanos para cuidados
de enfermagem.
Fury se mexeu na cadeira e olhou em volta do
escritório de Justice.
– Ela disse se sabia se a Mercile enviaria outros?
Os ombros de Justice caíram.
– Temos certeza de que tentarão se infiltrar outra vez.
Pelo menos não foi um ataque tão grande como nossos
médicos temiam. Nossos estoques de comida e nossa
água nunca foram adulterados. Só precisamos ter muito
cuidado com os totalmente humanos. – ele deu a Ellie
um olhar de quem pedia perdão – Sem ofensas. Eu
confiaria minha vida a você. É só com os estranhos que
temos que ter cuidado. De agora em diante, vamos
checar todo o histórico de qualquer humano que tenha
permissão para passar pelos portões.
– Precisamos depender mais de nós mesmos – Fury
concluiu – Há muitos totalmente humanos trabalhando
aqui. Se a Mercile quiser que a coisa se complique,
podem começar a tentar suborná-los para que deixem
alguém passar pela segurança para nos fazer mal.
– Vou deixá-lo encarregado disso. – Justice parecia
cansado – Será sempre uma batalha para nós, meu
amigo. Sempre haverá inimigos com quem teremos que
lidar. Espero que a Mercile seja completamente destruída
pelas ações judiciais e pela má publicidade. Espero que
um dia não existam mais. E, então, tudo com o que
teremos que lidar serão os humanos que acham que
somos uma abominação contra a humanidade.
Fury suspirou.
– Não se esqueça dos funcionários da Mercile que
foram presos e estão enfrentando vários anos na prisão.
Tenho certeza de que suas famílias e seus amigos têm
muita raiva de nós. Há também os que ainda estão lá fora
e que evitaram a prisão, precisamos ter cuidado com
eles. Nosso povo pode identificá-los, e esse incidente me
fez perceber o perigo que representamos para eles.
Aquela mulher poderia ter ido atrás de nossas mulheres
que sabiam como ela era e que podiam tê-la reconhecido.
Tivemos sorte por ela não as atacar também.
– Esse é apenas outro medo que teremos que
combater. – Justice passou os dedos pelo cabelo.
Ellie olhou para o relógio.
– Ei, me desculpem por sair, mas preciso ir ao
trabalho, as mulheres estão me esperando. Vamos fazer
uma festa de aniversário e não posso me atrasar.
Fury sorriu lentamente.
– Uma festa de aniversário?
Ellie se levantou e se inclinou para colocar o rosto dele
entre as mãos.
– Sim. Temos presentes, um bolo, enfeites e tudo
mais. Vai ser divertido.
Fury a beijou. Ellie deu um sorriso, se afastou e
acenou para os dois homens.
– Foi bom vê-lo, Justice. Vejo você em casa mais
tarde, Fury.
– Vai ver sim – ele rosnou – Eu e você temos planos
agora que me consideram completamente curado.
Um calor percorreu o rosto de Ellie, quando Justice
gargalhou. Ninguém sabia que Fury foi liberado para
sexo hoje de manhã? Provavelmente não. Ela saiu do
prédio e entrou no carrinho de golfe. Sentira falta dele.
Pegou a chave e dirigiu até o alojamento feminino.
Lá, todas estavam tremendo de excitação. Estavam
fazendo uma festa de aniversário para uma das mulheres,
preparando tudo enquanto ela estava em aula na escola
das Novas Espécies. Ellie assumiu o comando. As
mulheres haviam garantido que estariam em casa para
gritar para a aniversariante quando ela entrasse na
biblioteca.
A pobre e surpresa mulher pulou alguns metros para
trás, pareceu muito confusa, mas sorriu ao entender o
que haviam feito para ela. Ellie nunca havia visto a
mulher tão feliz, fazendo valer a pena cada probleminha
que houvera para planejar a festa surpresa.
Perto das seis da tarde, Ellie abriu a porta de entrada
de sua casa e de Fury. Ela pediu para ele voltar para casa
e correu até a cozinha. Escondera sanduíches na parte
de baixo da geladeira naquela manhã depois que Fury
saíra para uma reunião com a segurança. Ela puxou-os
para fora, pegou alguns refrigerantes, um saco de
batatas chips do armário da despensa e se apressou para
o quarto.
Dez minutos depois a porta de entrada bateu. Ellie
pulou da cama e olhou para o armário. Ela ria enquanto
se escondia dentro dele e aguardava. Fury sempre a
procurava assim que entrava na casa. Ela sabia que ele a
farejaria bem rápido e ele se divertiria com ela tentando
se esconder. Ela o ouviu chegar.
Ellie tentou não rir quando a porta do armário se abriu.
Fury franziu a testa, até que seus olhos deslizaram
lentamente pelo corpo nu dela. Ela sorriu.
– Você demorou para me achar.
– Por que está se escondendo?
Ellie deu um passo na direção dele.
– Achei que devia pelo menos fazer você trabalhar um
pouco.
– Trabalhar para quê? – o foco dele se mantinha nos
seios descobertos dela.
– Para mim. – ela agarrou a frente do uniforme dele –
Pensei em esperá-lo na cama, mas era muito fácil.
Fury a ajudou a tirar seu colete e chutou os sapatos.
– Eu gosto quando é fácil.
Ela deu uma risadinha.
– Viu o piquenique que arrumei? Achei que podíamos
ficar pelados, jantarmos juntos e talvez ver um pouco de
TV. Parece um jeito ótimo de passar a noite – ela
provocou.
Os lábios de Fury se contorceram.
– Está bem.
Ele saiu do alcance dela para impedir que ela o
tocasse. Abriu a calça e empurrou-a para baixo junto da
cueca. Por fim, as meias foram tiradas. Totalmente nu e
excitado, ele deu um sorriso largo para ela.
– Vamos comer. – ele se movimentou em direção à
cama.
Ellie o seguiu. Sentou no outro lado do colchão, com
as pernas abertas, de frente para ele, exibindo a boceta.
O olhar negro de Fury se fixou no colo dela. Ele respirou
longa e profundamente e rosnou baixinho do fundo da
garganta.
– O que foi, Fury? Não entendi direito o que você
disse. – Ellie deixou que seus olhos mostrassem seu
divertimento quando ele olhou para cima.
– Nada. – ele deu um sorriso zombateiro – Isso parece
estar muito bom. Adoro rosbife.
– Tentei colocar na cama tudo o que você adora. –
Ellie lambeu os beiços, deixando a língua passar
lentamente pelo lábio inferior e, depois, pelo de cima.
Fury olhou para a boca dela. Mordeu o sanduíche,
mastigou-o e engoliu-o.
– Que se dane isso – ele rosnou e jogou o sanduíche
de lado enquanto se lançava a ela.
Ellie caiu de costas na cama, rindo enquanto Fury a
derrubava e a prendia embaixo dele.
– A única coisa que quero mesmo comer é você.
– E o jogo?
Ele afastou o pescoço dela e roçou os lábios no
ombro.
– A única coisa que estou interessado em ver é você.
– ele pegou o seio dela, esfregando o dedão no mamilo –
Estou totalmente curado e planejo fazer tudo o que quero
com você.
– Trancou a porta de entrada?
– Com chave e tranca. Ainda tenho a arma na gaveta
da cabeceira também. Vou atirar em qualquer um que
entre nesse quarto.
Ellie arranhou as costas dele. Fury se arqueou contra
o corpo dela e rosnou.
– Vá devagar. Não me excite demais, não demoraria
muito para eu perder o controle. Quero que isso seja
bom para mim e para você.
– Você confia em mim?
Fury não hesitou.
– Com a minha vida.
– Posso ficar por cima?
A surpresa atravessou as feições de Fury, mas
algumas linhas apareceram no canto de seus olhos ao
fitá-la.
– Você quer ficar por cima? Estou esmagando-a com
meu peso? – ele levantou o peito de cima dela para deixar
alguns milímetros de espaço entre eles.
Ela o puxou de volta.
– Você nunca é pesado demais. Adoro sua pele
encostando na minha e adoro ficar embaixo de você. Só
quero montar em você. – o olhar dela o estudava
atentamente – Breeze mencionou que seus homens não
deixam as mulheres ficarem por cima, mas eu quero.
Pode pelo menos tentar por mim?
Fury cerrou os dentes.
– Quer que eu fique submisso a você?
Ela sorriu.
– Não. Quero que confie em mim e me deixe ficar por
cima. Acho que você vai gostar.
Ele rolou de repente, levando-a junto, até que ela
montasse nele, mas ele não parecia feliz em fazê-lo.
– Eu te amo. Se isso é tão importante para você, então
vou ser submisso. Vou provar que faria qualquer coisa
por você, até isso.
O sorriso de Ellie se desfez. Ele não parecia feliz, nem
excitado. Na verdade, parecia triste. Droga. Ela não
queria chateá-lo ou fazer com que ele reagisse mal. Ela
se esticou, montando na barriga dele. Mordeu o lábio,
tentada a fazer com que ele rolasse para cima dela de
novo, mas em vez disso examinou cuidadosamente o
corpo dele esticado sob o dela.
Ellie se apressou para olhar para baixo e ver a ereção
forte dele, feliz por aquilo não ter tirado o tesão dele
daquele departamento, e se moveu para se sentar nas
coxas dele. Ela se inclinou para a frente e lambeu um dos
mamilos dele, puxando aquele bico firme com a boca,
arqueando-se para deixar um espaço entre eles quando o
pau dele se enterrou em sua barriga.
Fury ficou tenso embaixo dela e rosnou. Ellie usava os
dentes para brincar com o mamilo dele e o chupou. As
mãos de Fury pegaram firme nela, mas ele não se
mexeu. Ela não podia deixar de notar como o pau dele
ficava mais e mais duro contra sua barriga.
– Ellie – ele rosnou – Faz muito tempo desde a última
vez em que estive dentro de você. Não posso esperar
mais. Estou tentando ficar submisso, mas não sou um
homem humano, não tenho a paciência que você espera
de mim.
Ela riu, soltando o mamilo dele, e se sentou. O sorriso
dela se esvaeceu.
– Relaxe.
Ele ergueu uma sobrancelha e baixou os olhos para a
carne protuberante na frente da barriga de Ellie. Seus
olhares se encontraram.
– Pareço relaxado para você?
Ellie levantou o quadril e pegou no pau de Fury.
Passou a mão em volta do membro duro e roçou as
pontas dos dedos na lateral dele, tracejando-o de leve
com as unhas. Ele deu um rosnado rouco e suas mãos
deixaram o quadril dela. Esticou os braços e agarrou a
cabeceira. A madeira rangeu em protesto quando suas
mãos a atingiram com força. O foco dela se moveu até
os dois, notou que as juntas dele estavam brancas e que
os músculos do corpo dele ficavam rígidos. Ela o fitou,
pensando em como o achava lindo.
Ellie se levantou até que sua boceta estivesse
posicionada acima do pau de Fury e se afundou
lentamente, se ajustando a ele até que seus corpos
estivessem perfeitamente alinhados. Ela sentiu um prazer
intenso. Ansiava por tê-lo enterrado fundo dentro dela e
sentir o que seus corpos faziam juntos.
Ela estava molhada e mais do que pronta para cavalgá-
lo e mostrar a ele como ser montado podia ser bom. Ela
gemia enquanto ele entrava mais fundo. Cada milímetro
escorregava de uma forma aconchegante para dentro da
boceta conforme descia nele até que estivesse totalmente
sentada bem onde era seu lugar.
Fury jogou a cabeça para trás e rosnava mais
profundamente enquanto a madeira rangia. Seu olhar se
virou para cima e viu que ele quebrara uma das barras da
cabeceira. Ele jogou o pedaço de madeira para o lado e
se agarrou no outro. Os olhares deles se encontraram.
Aquilo parecia importante para Ellie, e ele tinha que
admitir que ela ficava bem sexy em volta do quadril dele.
A sensação que o sexo apertado e quente dela
proporcionava em volta de seu pau o deixou lutando
contra a vontade de meter com força.
– Você vai me matar.
Ela começou a se mexer nele.
– Se isso é morrer, estou quase pronta. – Ellie gemeu
antes de cair nele, se levantou, requebrou o quadril e
desceu outra vez com força.
Fury soltou a cabeceira e levou os braços até ela. Uma
de suas mãos pegou o seio dela enquanto a outra
deslizou para o espaço entre os corpos deles. Ellie jogou
a cabeça para trás, gemendo mais alto enquanto Fury
esfregava o dedão em seu clitóris. Agitada, ela se mexia
nele ainda mais rápido, cavalgando-o de forma selvagem.
Fury rosnou, com seu quadril enfiando dentro dela,
usando os calcanhares na cama para fazer uma alavanca
e bater mais forte dentro dela.
Ele falou um palavrão selvagem quando seu pau
começou a inchar, suas bolas se apertaram contra ele, e
ele sabia que não podia mais segurar. O prazer que ele
sentia sempre que ela descia o corpo nele, combinado
aos músculos dela que se apertavam em volta de seu pau
e ao clímax iminente que vinha com seu dedo que se
esfregava no clitóris dela era como o paraíso. Ele rugiu,
tentando conter o gozo, e conseguiu segurá-lo até que
ela gritou seu nome enquanto ele a fazia gozar.
Fury tremeu debaixo dela, quase tirando-a de cima
dele, quando ele deu a última estocada. Ele gemia alto
enquanto gozava. Ele empurrava o quadril e gemia
profundamente por se sentir no paraíso. Ellie
desmoronou sobre o peito dele, os dois ofegantes.
Os braços dele se enrolaram nela e uma alegria pura o
fez sorrir. Ellie era o paraíso. Ela entrara na vida dele
quando ele estava no inferno, um anjo de luz e
esperança, mesmo que ele não tivesse percebido na
época por que sua atração por ela era tão intensa. Em
algum lugar, lá no fundo, deve ter entendido que ela era a
outra metade de sua alma.
Ele quase a perdera quando foi drogado e ficava
apavorado em pensar sobre como estivera perto de
machucar o que mais amava. Mesmo louco, sabia que
ela era especial, que importava, e ele não conseguiria
sobreviver se ela tivesse morrido. Sua preciosa Ellie fazia
a vida dele valer a pena. Estar com ele a deixara em
perigo, mas a vida sem ela não era vida. Ele não poderia
viver sem sua Ellie.
– Então – disse ela ofegante no peito dele – Como foi?
Todos os pensamentos ruins desapareceram. Fury riu.
– Vou me submeter a isso sempre.
Ellie o acariciou.
– Achei que você pudesse adorar isso.
– Eu amo simplesmente tudo sobre você. – ele rolou
de repente e prendeu-a debaixo dele.
Ellie o fitou enquanto passava as pernas em volta das
costas dele e os braços em volta do pescoço.
– Não consegue mais aguentar, hein?
– Quero ter certeza de que você não vai levantar.
– Estamos presos um ao outro. Não ousaria sair até o
inchaço diminuir. Eu disse, quero fazer de você um
“abraçador”.
– Você pode fazer isso, mas não é por isso que não
quero que você se levante ainda.
– Quer só me abraçar? Que lindo. – ela beijou o queixo
dele – Adoro quando você faz isso.
Ele riu.
– Também não é por isso, mas gosto quando ficamos
conectados, e abraçar você é a minha segunda coisa
favorita. Tenho tempo para me recompor. – ele se mexeu
dentro dela, dando estocadas delicadas – Essa é a minha
coisa favorita de fazer com você.
Ellie gemeu com o prazer instantâneo, o desejava, mas
aquilo a surpreendeu.
– De novo? Tão rápido?
Ele fez que sim com a cabeça, abaixando até seus
lábios roçarem o pescoço dela.
– De novo.
– Eu te amo tanto – ela sussurrou.
CAPÍTULO VINTE E UM
– Acalme-se – Ellie riu.
Fury andava de um lado para o outro e um rosnado
suave passou por seus lábios.
Ellie se aproximou dele, pegou-o pelo braço e puxou-o
para ficar de frente para ela. Esticou as mãos para
acariciar o rosto dele.
– Não vai acontecer nada de ruim.
– Sempre acontece algum desastre. – ele suspirou,
mas passou os braços em volta da cintura dela, enquanto
seu olhar intenso estudava o rosto dela – Tem certeza de
que não se importa em fazer desse jeito? Breeze e
algumas das outras mulheres me disseram que estou
cometendo um erro. Acham que você vai ficar
ressentida depois. Espero que elas andem vendo filmes
demais. Breeze me lembrou das famílias humanas e
acham que devíamos ter mais gente do seu povo aqui.
– Elas andam vendo filmes demais. É verdade e a
culpa é minha. Assistimos a um quase todos os dias para
ajudá-las a aprender sobre a vida normal… até certo
ponto. É isso o que quero. Você é minha família agora,
Fury. Amo minha família de sangue, mas eles não foram
muito compreensivos quanto ao nosso relacionamento,
quando conversei com eles. Preciso encarar o fato de
que, não importa o que eu faça ou com quem eu esteja,
eles não vão ficar felizes. Vão ter que lidar com isso; se
não conseguirem, que pena. Essa é a minha vida agora,
aqui com você. Você é tudo para mim.
Fury mordia o lábio inferior.
– E sobre filhos? Queria poder dá-los a você, mas não
posso. – a tristeza encheu seus olhos – Me desculpe.
– Não se desculpe. Quer ter uns?
O coração de Ellie pulou com a ideia de ter um
pequeno Fury correndo pela casa. Tinha certeza de que
seria um bebezinho adorável, mas sabia que isso jamais
aconteceria.
– Eu gostaria. – Fury a empurrou mais contra o peito
– Mas acima de tudo, quero você. Tudo o que importa é
que estamos juntos e sou muito grato por ter você, Ellie.
Você sempre será mais do que suficiente para me fazer
feliz.
– Eu gostaria de umas criancinhas. – ela olhou para
cima e sorriu para ele – Vamos dar um jeito nisso. Trisha
e Ted são ótimos médicos que talvez encontrem uma
forma de consertar o que foi feito a você, e, se não
conseguirem, sempre podemos adotar. Sempre há
opções. Se nunca tivermos filhos, tudo bem também.
Ele concordou com a cabeça.
– Precisamos pelo menos falar com os médicos. Seria
a primeira vez na minha vida em que não me importaria
em fazer testes e ser examinado. Nunca achei que fosse
dizer essas palavras depois de tudo o que foi feito
comigo naquela cela.
O coração de Ellie quase parou com as lembranças do
passado deles e de como se conheceram.
– Um dia você vai me perdoar pelo que fiz com você?
Ele encontrou os olhos dela e os fixou.
– Não precisa nem me perguntar isso. Já perdoei.
Você fez o que precisava para salvar todos nós.
Ela sorriu.
– Obrigada.
O sorriso de Fury vacilou.
– Tem certeza de que não vai se arrepender de hoje?
Está certa de que é isso que quer? Preciso que isso seja
perfeito para você.
– Ei – Ellie sussurrou – Não faça cara de triste. Estar
com você me deixa mais feliz do que estive a vida toda.
Quantas vezes tenho que dizer isso para que acredite em
mim? Eu te amo. Se você tivesse ideia de como isso me
faz feliz, nem pensaria em me fazer essa pergunta. Estou
certa de que isso é exatamente o que quero, desse jeito
mesmo, porque estou fazendo isso com você.
A porta da sala de conferências se abriu e Ellie virou a
cabeça para olhar para trás. Justice entrou e um grupo
de pessoas o seguiu. Ellie sorriu para os rostos
familiares.
– Tem certeza, Ellie? Podemos esperar e planejar algo
melhor, algo mais tradicional.
Ellie olhou para ele.
– Já falei. Não ligo para onde vai ser, nem como será
feito, Fury.
– Não quero que nada dê errado – Fury rosnou. –
Sem atiradores, sem enfermeiras loucas.
Ellie mordeu o lábio com força. Não queria rir. Ele
parecia estar muito certo de que algo daria errado.
– É por isso que decidimos fazer isso hoje, só com
algumas pessoas que sabem o que vamos fazer.
Ninguém pode estragar uma coisa que não está
esperando.
– Gosto da sua lógica.
Ellie se aproximou mais, ficando na ponta dos pés
para roçar os lábios na orelha dele.
– Adoro sua bunda e o fato de você estar totalmente
curado. Mal posso esperar para ficar sozinha com você.
– Ellie? – Slade falou.
Ellie virou a cabeça.
– Estou conversando aqui.
– E todos estão escutando. – Slade ria enquanto
tapava os ouvidos – Boa audição. Mas é bom saber que
Fury já está cem por cento.
Ruborizada, Ellie olhou para ele.
– Qual é, gente? Não podiam pelo menos fingir que
não estavam ouvindo?
Slade piscou.
– E onde estaria a graça? Você fica tão bonitinha
vermelha.
Fury rosnou, lançando ao amigo um olhar de aviso, e
Slade se afastou para se sentar. Ellie balançava a cabeça
enquanto Fury balançava os ombros.
Um homem de cabelos brancos entrou por último. Ele
vestia uma túnica preta e segurava uma bíblia. Ele se
posicionou na frente de Ellie e Fury. Seu olhar sério
passeou pela sala.
– Preciso que todos se sentem.
A sala ficou em silêncio. Ellie viu muitos rostos
confusos ao se sentarem, fitando o casal na frente deles
com o homem humano desconhecido. A maioria nem
sabia por que fora chamada a uma reunião obrigatória,
mas havia alguns que escondiam risos de que sabiam do
que se tratava. Breeze acenou para Ellie de uma cadeira
na frente. Ellie acenou de volta e depois olhou para Fury.
Seus olhares se encontraram e se fixaram.
– Estamos reunidos aqui hoje – o homem de cabelos
brancos declarou em voz alta – para unir Fury North e
Ellie Brower em casamento – ele tomou fôlego.
– Não fale – Fury deu ao ministro uma olhada
assustadora. – Não ouse perguntar se alguém tem
alguma objeção. Conversamos sobre isso.
O homem empalideceu e pigarreou.
– Fury, aceita Ellie como sua esposa?
– Sim.
O ministro abriu a boca, mas Fury rosnou outra vez.
Sobrancelhas brancas se ergueram e a voz ficou mais
baixa.
– O que mais você quer que eu corte?
Olhos escuros se estreitaram e Fury rosnou
suavemente de novo, enquanto Ellie segurava uma
risada. O ministro pigarreou de novo.
– Ellie, aceita Fury como seu marido?
– Sim.
– Eu os declaro marido e mulher – ele olhou para Fury
cautelosamente. – Foi rápido o bastante para você? Pode
beijar a noiva. Estão legalmente casados.
Um sorriso largo atravessou o rosto de Fury.
– Ninguém nos impediu.
– Alguém teria que ser muito rápido para protestar
contra e falar alguma coisa aqui – Ellie se inclinou na
direção dele e riu. – Agora me beije.
Fury abaixou a cabeça e Ellie fechou os olhos, com o
coração acelerado. A vida nunca seria chata com seu
marido. A boca dele possuiu a dela e ela se perdeu no
homem que amava, em uma sala cheia de testemunhas.
– Eles não deviam trocar alianças? – Halfpint
sussurrou a pergunta.
– Ah, eles vão trocar várias – Slade riu. – Acho que
colocar alguma coisa nela é a última coisa que Fury quer
nesse momento.
Breeze deu risada.
– Er, talvez tenhamos que separá-los ou sair da sala,
porque parece que ele vai aproveitar. Estão muito felizes
por estarem casados.
Justice se levantou.
– Vamos cair fora daqui – ele sussurrou, sabendo que
seu povo o ouviria. – Agora.
Ele olhou para o casal se beijando na sala,
entrelaçados, e emoções diferentes se agitaram. Ele
estava grato por eles terem encontrado tanta felicidade
juntos, mas, ao mesmo tempo, ansiava por encontrá-la
também.
Uma mão tocou seu ombro e ele tirou os olhos de Ellie
e Fury, encontrando o olhar de Tiger.
– Eles estão saindo – Tiger sussurrou. – Vou mandar
um de nossos homens ficar lá fora para impedir que
sejam incomodados. Slade está escoltando o ministro
para fora – ele pausou. – Eles estão tão emaranhados,
que a sala podia pegar fogo e eles nem perceberiam.
Justice olhou para a sala e sorriu.
– Vamos – ele fechou as portas da sala de
conferências quando chegaram no corredor. – Quero
isso um dia – ele admitiu.
Tiger pausou, inclinou um pouco a cabeça e observou
Justice por um longo momento.
– Eu teria muito medo de ter esse tipo de amor e
depois perdê-lo.
Justice concordou.
– Somos livres. Qualquer coisa é possível agora se
formos atrás.
Slade retomou a caminhada.
– Eles estão pelados e transando em cima de uma das
mesas?
– Provavelmente – Tiger sorriu. – Justice está ficando
sentimental e quer uma mulher para ele. Eu não. Gosto
da minha vida do jeito que é. E você?
Slade tinha na cabeça uma imagem da doutora Trisha e
o sorriso dela passou rapidamente por seus
pensamentos.
– Não estou decidido, mas quem sabe o que o futuro
guarda?

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