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29/03/2023, 12:24 Agulha Revista de Cultura: ZEBBA DAL FARRA | Mudez

mais

Agulha Revista de Cultura


1999-2023 | Criada por Floriano Martins

sábado, 25 de março de 2023 Agulha Revista de Cultura

ZEBBA DAL FARRA | Mudez


 Quando explodiu a Grande Guerra em 1914

o escritor Karl Kraus se opôs

ao entusiasmo da maioria:

Quem insufla as ações Índice # 2 (2022-2023)

[da guerra] Agulha Revista de Cultura #

profana a palavra e a ação Agulha Revista de Cultura #

Agulha Revista de Cultura #


e é duplamente desprezível.
Agulha Revista de Cultura #
 
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Os que agora nada têm a dizer Agulha Revista de Cultura #

porque a ação captura a palavra Agulha Revista de Cultura #

seguem falando. Agulha Revista de Cultura #

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Quem tiver algo a dizer
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que dê um passo adiante e se cale! Agulha Revista de Cultura #

  Agulha Revista de Cultura #

Seu contemporâneo Walter Benjamin Agulha Revista de Cultura #

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preferiu calar. [1]
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Grande Guerra de 1914 Agulha Revista de Cultura #

o discurso da propaganda Agulha Revista de Cultura #

atuou efetivamente Agulha Revista de Cultura #

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como arma.
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*** Agulha Revista de Cultura #

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MUDEZ Agulha Revista de Cultura #

Agulha Revista de Cultura #


 

Há um intento em marcha para livrar a linguagem de sua incômoda espessura, um intento de


apagar das palavras todo sabor e toda ressonância, o intento de impor pela violência uma linguagem Floriano Martins
lisa, sem manchas, sem sombras, sem rugas, sem corpo, a língua dos deslinguados, uma língua sem
outro, na qual ninguém se escute a si mesmo quando fala, uma língua despovoada. [2]

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O alerta do filósofo espanhol José Luis Pardo expõe a mudez da palavra contemporânea, esvaziada
e desincorporada pela disseminação crescente de uma linguagem meramente informativa. Desta
língua dos deslinguados extirpou-se o seu sabor de boca, pois

Para acessar a linguagem, temos que falar uma língua (a – ou as –materna/s, ao menos em
princípio) e falá-la desde dentro, com nossa própria voz (manifestando nossas dores e prazeres
com ela) e com nossa própria língua. E isso faz com que as palavras nos deixem um resíduo na
ponta da língua, um sabor de boca (doce ou amargo, bom ou mau), o que elas nos fazem saber
(nos dão a saborear) de nós mesmos e que ninguém mais do que nós pode saber, porque ninguém
mais pode saboreá-las com nossa língua e nossa boca, porque a ninguém mais podem soar como
a nós nos soam. [3]
 

Calibrada pelas exigências de padronização e modulação da produção em série, a palavra Editor

contemporânea deve objetivar os significados, explicitar, explicar. Em nosso mundo dominado pela FLORIANO MARTINS (Fort
verdade estatística, a objetivação da linguagem pode ser atestada, por exemplo, nos corretores de Poeta, editor, dramaturgo, e
plástico e tradutor. Criou em
texto digitais, cuja sugestão de probabilidades para a continuação das frases demonstra o estreito Revista de Cultura. Coorden
limite de nosso vocabulário cotidiano. Se as vozes artificiais são tão semelhantes às nossas, é porque coleção “Ponte Velha” de aut
da Escrituras Editora (São P
já falamos uma língua plana, mecânica, binária: curtir-não-curtir, seguir-não-seguir, concordar- projeto “Atlas Lírico da Amé
discordar, cancelar-celebrizar. Perdemos a capacidade de saborear e deixar as palavras da revista Acrobata. Esteve p
festivais de poesia realizados
escorregarem pela língua, de captar sua ressonância ao dizê-las e desfrutar de seu sabor, com a luz Bolívia, Chile, Colômbia, Cos
das imagens que suscitam, ao encontro do saber que propiciariam. República Dominicana, El S
Espanha, México, Nicarágua
Portugal e Venezuela. Curad
  Internacional do Livro do Ce
2008), e membro do júri do
*** Américas (Cuba, 2009), foi p
convidado da Universidade d
Não se trata de devorar (Ohio, Estados Unidos, 2010
livros de César Moro, Federi
Guillermo Cabrera Infante, V
mas de saborear as palavras. Hans Arp, Juan Calzadilla, E
Jorge Luis Borges, Aldo Pell
  Antonio Cuadra. Entre seus
recentes se destacam Un poc
surrealismo no hará ningún
Para saborear a comida (ensaio, México, 2015), Um
Poesia e surrealismo na Amé
é preciso destruir antes de deglutir Brasil, 2016), O iluminismo
(teatro, Brasil, em parceria c
o sentido do movimento é de fora para dentro 2016), Antes que a árvore se
completa, Brasil, 2020), 120
Mulheres surrealistas (ensai
para garantir prazeres e nutrição. [4] Naufrágios do tempo (novela
Lucía Estrada, 2020), e Las
  desaparecidas (poesia, Chile
floriano.agulha@gmail.com.
Ao contrário

o sentido vetorial da vocalidade poética aponta para fora Elys Regina Zils

eu saboreio para dizer

a alguém.

Saborear é um ato de lapidação e de descoberta

impulso da viagem da palavra

provocadora de sentidos

ao encontro de corpos.

O sabor coincidente com o dizer ratifica a não-linearidade da voz. [5]

Na deglutição
Editora
há sucessão de ações
ELYS REGINA ZILS (Brasil,
respirar, saborear, engolir. artista visual, tradutora. Dou
em Estudos da Tradução pel
PGET/Universidade Federal
  Catarina. Possui graduação e

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no dizer Espanhola e Literaturas e Le


também pela Universidade F
Catarina/Florianópolis, Bras
as ações são simultâneas Literatura Latino-americana
principalmente Vanguardas
expirar, saborear, ressoar, ritmar, lançar. Artísticas com ênfase em Lit
Surrealista Latino-american
Agulha Revista de Cultura (2
  Floriano Martins. Tradutora
Floriano Martins, da trilogia
*** dedicada ao surrealismo, qu
continente – Poesia e Surrea
MUDEZ América, 120 Noites de Eros
surrealistas, e Viagens do Su
sido responsável ainda, parc
  traduções de poetas hispano
o “Atlas Lírico da América H
Na virada do milênio, o dramaturgo e pintor suíço Valère Novarina atesta a condição contemporânea revista Acrobata. Contato: el
de circulação das palavras como se fossem moedas de troca.

Eis que agora os homens trocam entre si palavras como se fossem ídolos invisíveis, forjando nelas Índice # 1 (2012-2021)
apenas uma moeda:
ARC | Fase II | Edição # 01
  ARC | Fase II | Edição # 02

acabaremos mudos de tanto comunicar; ARC | Fase II | Edição # 03

  ARC | Fase II | Edição # 04

ARC | Fase II | Edição # 05


nos tornaremos enfim iguais aos animais,
ARC | Fase II | Edição # 06
porque os animais nunca falaram
ARC | Fase II | Edição # 07
mas sempre comunicaram, muito-muito bem.
ARC | Fase II | Edição # 08
Só o mistério de falar nos separava deles. ARC | Fase II | Edição # 09

No final, nos tornaremos animais: ARC | Fase II | Edição # 10

domados pelas imagens, ARC | Face II | Edição # 11

ARC | Fase II | Edição # 12


emburrecidos pela troca de tudo,
ARC | Fase II | Edição # 13
regredidos a comedores do mundo e a matéria para a morte.
ARC | Fase II | Edição # 14
 
ARC | Fase II | Edição # 15
O fim da história é sem fala. [6] ARC | Fase II | Edição # 16

  ARC | Fase II | Edição # 17

A experiência da palavra pela voz em relação ARC | Fase II | Edição # 18


significa a presença concreta de participantes ARC | Fase II | Edição # 19
implicados nesse ato de maneira imediata. [7]
ARC | Fase II | Edição # 20
Ocorre que as tecnologias e os espaços
ARC | Fase II | Edição # 21
virtuais abstraem a presença, digitalizam o
circuito entre os corpos: a voz, descarregada ARC | Fase II | Edição # 22
dos odores, suores, ruídos e silêncios do livre ARC | Fase II | Edição # 23
trânsito, emana agora de um corpo abstrato.
ARC | Fase II | Edição # 24
  ARC | Fase II | Edição # 25

*** ARC | Fase II | Edição # 26

Habito um texto como habito uma cidade ARC | Fase II | Edição # 27

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para orelhas atentas e olhos distraídos
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há sempre alguma surpresa
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em esquinas antigas. Agulha Revista de Cultura #

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MUDEZ
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Em carta de 22 de agosto de 1603, dirigida a seu amigo Francis Bacon, Lord Chandos preambula um Agulha Revista de Cultura #
relato de mudez, em gesto confessional.

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Eu terei de mostrar-lhe o que há dentro de mim - uma estranheza, uma doença, uma fraqueza – Agulha Revista de Cultura #
se você puder compreender que um abismo sem ponte, intransponível, me separa tanto dos Agulha Revista de Cultura #
trabalhos literários que eu presumo escreverei, quanto dos que escrevi, estes que hesito chamá-
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los meus, tão estranhos me parecem.
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Lord Chandos reclama um vínculo da linguagem com a natureza e uma unidade da existência,
cuja separação o afeta porque possui um sabor de boca, no rastro da palavra, ao passo que a língua Agulha Revista de Cultura #
se tornará crescentemente despovoada e falada por deslinguados. Agulha Revista de Cultura #

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Em poucas palavras: naquele tempo, embebido numa espécie de embriaguez permanente, toda a Agulha Revista de Cultura #

existência se apresentava como uma grande unidade: entre mundo mental e físico não havia Agulha Revista de Cultura #
contradição alguma, como tampouco entre o gentil e o animal, entre a arte e a barbárie, a solidão
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e a companhia; em tudo percebia a natureza […] e em toda a natureza me percebia a mim mesmo.
[8] Agulha Revista de Cultura #

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Este processo se inicia historicamente no umbral do século XVII, diz Foucault: Agulha Revista de Cultura #

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No seu ser bruto e histórico do século XVI, […] a linguagem faz parte da grande distribuição das
similitudes e das assinalações. Por conseguinte, deve, ela própria, ser estudada como uma coisa Agulha Revista de Cultura #

da natureza. Seus elementos têm, como os animais, as plantas ou as estrelas, suas leis de Agulha Revista de Cultura #
afinidade e de conveniência, suas analogias obrigatórias. […] A linguagem não é o que é porque
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tem um sentido; seu conteúdo representativo […] não tem aqui papel a desempenhar. As palavras
agrupam sílabas e as sílabas, letras, porque há, depositadas nestas, virtudes que as aproximam e Agulha Revista de Cultura #

as desassociam, exatamente como no mundo as marcas se opõem ou se atraem umas às outras. Agulha Revista de Cultura #
[9]
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Lord Chandos habita o limiar do divórcio entre as palavras e as coisas, nas bordas do
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Renascimento, e se insere no movimento de separação que ocorre na fronteira da modernidade, do
qual o corte anatômico [10] é seu gesto objetivo e preciso. Agulha Revista de Cultura #

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As coisas e as palavras vão separar-se. O olho será destinado a ver e somente a ver; o ouvido
somente a ouvir. O discurso terá realmente por tarefa dizer o que é, mas não será nada mais que Agulha Revista de Cultura #

o que ele diz. Imensa reorganização da cultura de que a idade clássica foi a primeira etapa, a mais Agulha Revista de Cultura #
importante talvez, posto ser ela a responsável pela nova disposição na qual estamos ainda presos Agulha Revista de Cultura #
— posto ser ela que nos separa de uma cultura onde a significação dos signos não existia, por ser
absorvida na soberania do Semelhante; mas onde seu ser enigmático, monótono, obstinado, Agulha Revista de Cultura #

primitivo, cintilava numa dispersão infinita. [11] Agulha Revista de Cultura #


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Lord Chandos vê palavras flutuando ao seu redor, mas que se desintegram em uma língua que já Agulha Revista de Cultura #
não diz. A cintilação vira um redemoinho que o captura, leva ao vazio e o impele a fugir.
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Em 18 de outubro de 1902, Hugo von Hofmannsthal publica Uma Carta, sobre a qual diz Jorge
Larrosa: Agulha Revista de Cultura #

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A carta está datada de 22 de agosto de 1603, e nela Lord Chandos descreve a seu amigo Francis
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Bacon os sintomas de uma estranha doença: as palavras abstratas, que naturalmente a língua
precisa dizer para expressar qualquer ideia, se esfarinhavam na minha boca como cogumelos Agulha Revista de Cultura #

podres. Porém, o rastro desta enfermidade atravessa o século XX e alcança dimensões de Agulha Revista de Cultura #
pandemia nessa sociedade que se chama a si mesma do conhecimento, da informação e da
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comunicação. [12]
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1603, 1902, 2023. Nos saltos temporais que o texto do escritor austríaco propõe e provoca, as Agulha Revista de Cultura #

palavras falham no seu propósito de dizer o mundo: a virada do século XVII, época do Agulha Revista de Cultura #
emudecimento da personagem Lord Chandos, quando “as coisas e as palavras vão separar-se”; o Agulha Revista de Cultura #
umbral do século XX, momento da criação do texto por Hofmannsthal, prenúncio da captura das
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palavras pela propaganda da guerra; e o momento atual, estágio avançado da saturação das
palavras. Agulha Revista de Cultura #

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Os gestos de Lord Chandos são um relato de mudez e um ato de fuga no sentido pré-moderno,
em que “o mundo é coberto de signos que é preciso decifrar, e estes signos, que revelam Agulha Revista de Cultura #

semelhanças e afinidades, não passam, eles próprios, de formas da similitude. Conhecer será, pois, Agulha Revista de Cultura #
interpretar: ir da marca visível ao que se diz através dela e, sem ela, permaneceria palavra muda,
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adormecida nas coisas.” [13]
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Evidencia-se aqui a diferença fundamental Agulha Revista de Cultura #
entre os emudecimentos pré-moderno e
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contemporâneo da palavra. Aquela palavra
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muda é promessa e desejo de expressão. Na
atualidade, a palavra é muda por saturação de Agulha Revista de Cultura #
informação comunicativa, por sua redução a Agulha Revista de Cultura #
dimensões modulares, próprias das
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produções em série. A objetividade científica,
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apoiada na linguagem verbal, atinge o contato
entre as pessoas, mediado pela palavra. O Agulha Revista de Cultura #
mundo global é dominado pela hegemonia Agulha Revista de Cultura #
científica, avalizada pela erudição. No saber
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até o século XVI, magia e erudição acolhiam-
se, ao mesmo tempo e no mesmo plano. Agulha Revista de Cultura #

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A superação das dicotomias entre corpo e voz, som e sentido, impõe um enfrentamento com a Agulha Revista de Cultura #
própria linguagem. Não por acaso, nota-se atualmente o surgimento de vários neologismos para dar Agulha Revista de Cultura #
conta da integridade destas instâncias fragmentadas: corpo-voz, corpovoz, corpo-vocal, corpooral,
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palavra-corpo. Contestando o estudo da literatura oral sem atentar para os corpos e vozes dos
sujeitos que a criaram e propagaram, Paul Zumthor propôs substituir oralidade por vocalidade. [14] Agulha Revista de Cultura #

Portanto, vocalidade pressupõe a solidariedade entre corpo e voz. Em situação teatral, nos Agulha Revista de Cultura #
processos de relações em movimento, para vocalidade diz-se vocalidade poética. Entre vocalidade e Agulha Revista de Cultura #
vocalidade poética, é a dimensão do adjetivo poética que posiciona ator, atriz, performer e aprendiz,
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no espaço entre ficção e não-ficção, terreno transitório próprio do contemporâneo.
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Na vocalidade poética, o grão da voz não nega o logos pelo protagonismo da phoné, mas aposta na Agulha Revista de Cultura #

vocalização do logos desvocalizado, [15] em um dizer que se constrói em trânsito, na dobra entre o Agulha Revista de Cultura #
íntimo e o público. Não se trata de isolar o som do sentido, mas de liberar conexões na ressonância. Agulha Revista de Cultura #
O dizer em trânsito se constitui entre nós, não se apoia na apropriação do texto pelo ator, mas antes
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que ele se deixe levar pelo fluxo das frases, exponha-se aos impulsos dos versos, contagie-se pelos
rastros das palavras na ponta da língua. Agulha Revista de Cultura #

Vocalizar o logos. Entre o fonético e o fonológico, entre dizer e cantar, entre som e sentido.
Colección ABRAXAS - Libr
 
Martins
***

Há um silêncio na escuta

silêncio fecundo

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como o da pausa presente na respiração

sopro de Artaud [16]

pausa de retomada do ciclo

fronteira entre os afetos presentes no já dito ARC Edições

em tensão com o dizer que virá.

Gesto e ação da palavra

exigem seu facho de sombra

seus espectros de silêncios


Atlas Lírico da América H
seus ruídos singulares. 2023

a vocalidade contemporânea

se arrisca em habitar essa fratura

em busca da ressonância perdida

capaz de soldar o dorso do tempo. [17] Conexão Hispânica 2021-2

***

O ator e a atriz em vocalidade poética superam a condição de falantes que também são. Valère
Novarina analisa esta superação poética, quando diz que

 
Escritura conquistada - P
Falar não é comunicar. Falar não é trocar nem fazer escambo – das ideias, dos objetos -, falar não hispanoamericana

é se exprimir, designar, esticar uma cabeça tagarela na direção das coisas, dublar o mundo com
um eco, uma sombra falada; falar é antes abrir a boca e atacar o mundo com ela, saber morder. O
mundo é por nós furado, revirado, mudado ao falar. Tudo o que pretende estar aqui como um real
aparente pode ser por nós subtraído ao falar. As palavras não vêm mostrar coisas, dar-lhes lugar,
agradecer-lhes educadamente por estarem aqui, mas antes parti-las e derrubá-las. [18]
 
Partituras do Maravilhos
A morte é condição de fecundidade. As palavras que minha voz murmura, balbucia, pronuncia,
acusticamente mortas quando atiradas ao ar no sentido dos outros, vivem pelo poder de nossas
escutas, fecundam nossos afetos, provocam nossos pensamentos, violam nossas peles, ressoam
nossas intimidades, impelem nossas ações.

Entretanto, condenadas pelo uso cotidiano e por sua configuração contemporânea de


informação, as palavras se esquivam do risco: nem vivem, nem morrem. Permanecem anestesiadas,
sem peso, sem espessura, sem volume, sem densidade. O perigo da exposição à singularidade da
voz do sujeito poético ameaça a ordem do capitalismo recente, cuja manutenção exige todos os Surrealismo Surrealistas
esforços dos especialistas, dos políticos, dos funcionários, dos jornalistas, para esvaziá-la de
conotação, de melodia, de ressonância, de música, de cor, e reduzi-la a simples portadora de
informação, à sua mínima condição utilitária.

***

Em discurso no Fórum Social Mundial de 2005, José Saramago atenta para o esvaziar da ideia de A Arte no Século XXI
democracia:

A democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada […] As


grandes decisões são tomadas numa outra esfera. E todos sabemos qual é. As grandes
organizações financeiras internacionais, os FMI’s, as Organizações Mundiais do Comércio, os
Bancos Mundiais, […] nenhum desses organismos é democrático. Como podemos falar de Centenário do Surrealism

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democracia, se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente
pelo povo? [19]
 

A palavra democracia parece ocultar a palavra capitalismo, proscrita dos noticiários. Não
obstante a distância entre democracia e capitalismo, diariamente somos bombardeados por frases
Séries Especiais
do tipo desrespeito à democracia, lutamos por liberdade e democracia, isso não condiz com a
democracia. Na manobra, a palavra democracia, que exige a igualdade como seu primeiro lema, Agulha Hispânica 2010-2011
encapsula o capitalismo, que exige a desigualdade, a competição e a exploração como condição de Agulha Revista de Cultura -
existência. 1999-2009

O rio da memória [Parte 1]


 
S36 | O RIO DA MEMÓRIA
A democracia é a máscara do capitalismo. CASTILLO

  S37 | O RIO DA MEMÓRIA


CORTÉS CABÁN
***
S38 | O RIO DA MEMÓRIA
MOSCHES
Falar contra a música, prescrevia Bertolt Brecht[20], na época da Ópera de Três Vinténs, para criar
um S39 | VOZES POÉTICAS | E

S40 | VOZES POÉTICAS | E


  MONTEJO

espaço de estranhamento S41 | VOZES POÉTICAS | JU


CALZADILLA
  S42 | VOZES POÉTICAS | B

um vazio provocador do confronto da palavra em circulação com os sentidos de suas múltiplas S43 | VIAGENS DO SURREA
camadas, ALFONSO PEÑA

S44 | VIAGENS DO SURREA


  SÁNCHEZ PELÁEZ

para quebrar a familiaridade das palavras, S45 | O RIO DA MEMÓRIA


REVISTAS
sua automação, seu desgaste, S46 | O RIO DA MEMÓRIA
MARTINS [Parte 1]
para rasgá-las, perfurá-las desde dentro:
S47 | O RIO DA MEMÓRIA
  MARTINS [Parte 2]

S48 | O RIO DA MEMÓRIA


vesti-las de assombro. MARTINS [Parte 3]

  S49 | ACAMPAMENTO MU
BELCHIOR
Em nossa época, vozes sitiadas que somos pelas palavras reduzidas à informação e à
S50 | O RIO DA MEMÓRIA
comunicação, uma missão contemporânea da vocalidade poética será pensar contra a língua, falar KLINTOWITZ
contra as palavras e cantar contra a música, pois
S51 | VOZES POÉTICAS | M
LUCCHESI
 
S52 | ACAMPAMENTO MU
cada palavra de teu idioma tem uma armadilha: HERMETO PASCOAL

Projeto Editorial Banda Hisp


mais adiante aprenderás a pensar Argentina

contra tua própria língua. [21] Projeto Editorial Banda Hisp

  Vanguardas no Século XX - A
Hispânica
Estranhar significa historicizar. Viagens do Surrealismo [Par

  AGULHA REVISTA DE CUL


ÍNDICE GERAL
***

Vocalidade poética contemporânea


LP5 Editora
prazer dialético

que corta

estranha

historiciza

e assombra.
Ibis Libris Editora
 
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***

À imagem mecânica e instrumental da linguagem que nos propõe o grande sistema de mercado que
vem estender sua rede sobre nosso Ocidente desorientado, à religião das coisas, à hipnose do
objeto, à idolatria, a esse tempo que parece se ter condenado a ser apenas o tempo circular de uma
venda perpétua, a esse tempo no qual o materialismo dialético, desmoronado, dá passagem ao Fundación Cultural Ester
materialismo absoluto

oponho

nossa descida em linguagem muda na noite da matéria de nosso corpo pelas palavras e a
experiência singular que cada falante faz, cada falador daqui, de uma viagem na fala; Sol Negro Edições

oponho

o saber que nós temos, que existe, bem no fundo de nós, não algo do qual seríamos proprietários
(nossa parcela individual, nossa identidade, a prisão do eu), mas uma abertura interior, Acrobata

uma passagem falada. [22]

***
Altazor
MUDA

A linguagem impronunciável do mundo


confirma uma língua esvaziada de
ressonância. Se a constatação do
esvaziamento da experiência com as palavras
Athena
nos atormenta, talvez da própria palavra
muda possa nascer uma vocalidade viva e
vibrante, pois, no dizer do poeta alemão
Friedrich Hölderlin (1770-1843),

onde há o perigo, cresce também o que


Blanco Móvil
salva.

Talvez a palavra muda

emudecida

possa engendrar
Diversos Afins
a palavra-broto

galho

muda de árvore

a palavra-mudança

transformação.
La Otra
 

 
NOTAS

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Este artigo é corolário direto do estágio pós-doutoral Linguagem, experiência e memória: poéticas da voz do
narrador e do cantor como sujeitos do ator, realizado na Universitat de Barcelona, em 2011, com financiamento
da Fapesp e supervisão de Jorge Larrosa. Desenvolvi seus temas principais no livro Palavra Muda. Sobre
poéticas para vozes em Estado de Sítio (DAL FARRA MARTINS, 2020).

1. KOVACSICS, 2007. Traduzido por Dal Farra.

2. PARDO, 2000. Traduzido por Dal Farra.


La Trini Cultural
3. PARDO, 2004. Traduzido por Dal Farra.

4. Diz Hannah ARENDT (1987), na seção Labor e fertilidade, de sua grande obra A condição humana: Ambos [o
trabalho e o labor] são processos devoradores que se apossam da matéria e a destroem: o trabalho realizado
pelo labor em seu material é apenas o preparo para a destruição final deste último. Podemos dizer que a
vocalidade poética – projeto de atuação da atriz, do narrador, do cantor, da performer – encontra-se entre o
ser e o fazer, entre o labor e o trabalho. O labor instaura um saber orgânico, necessário à manutenção
constante da vida; o trabalho, um saber poético, de fabricação. A observação de Hannah Arendt nos instiga a
indagar: o que a voz destrói quando se lança? De fato, há uma queima energética própria dos processos Matérika
corporais, mas há também uma espécie de poda no teor de memórias, pensamentos e emoções: quando eu
digo, coloco para fora, desabafo, confesso, declaro. Parece haver aí também uma destruição, no sentido da
transformação já inerente ao labor, quando garante a manutenção do ciclo vital.

5. BARTHES (1987) sugere uma anisotropia do texto: Se você mete um prego na madeira, a madeira resiste
diferentemente conforme o lugar em que é atacada: diz-se que a madeira não é isotrópica. O texto tampouco é
isotrópico: as margens, a fenda, são imprevisíveis. Assim também a voz e a vocalidade poética, pluralidade
corporal de ritmos, ressonâncias, respirações. TriploV

6. NOVARINA, 2003. Grifei.

7. ZUMTHOR, 2001.

8. HOFMANNSTHAL, 2010. Traduzido por Dal Farra.

9. FOUCAULT, 1992. Grifei.

10. David LE BRETON (2013) marca o surgimento do homem anatomizado no limiar da modernidade:
Dossiê sobre Surrealismo
Anteriormente o corpo não está singularizado do sujeito ao qual empresta um rosto. O homem é indissociável
de seu corpo, ele ainda não está submetido a esse singular paradoxo de ter um corpo. Durante toda a duração
da Idade Média, as dissecções são proibidas, impensáveis mesmo. A introdução violenta do utensílio nos corpos
seria uma violação do ser humano, fruto da criação divina. Além disso, seria atentar sobre a pele e a carne do
mundo. No universo dos valores medievais, o homem está tomado pelo universo, ele condensa o cosmo. Com
os anatomistas, […] nasce o dualismo contemporâneo que, de um modo igualmente implícito, considera o
corpo isoladamente, em uma espécie de indiferença em relação ao homem ao qual empresta seu rosto. […] O
corpo é posto em suspensão, dissociado do homem, ele é estudado por si mesmo, como realidade autônoma.

11. FOUCAULT, 1992. Grifei.


Surrealismo a palavra mágic
12. LARROSA, 2010. Traduzi. Grifei.

13. FOUCAULT, 1992. Grifei. 21 mulheres surrealistas

14. ZUMTHOR, 2000.

15. CAVARERO, 2011.

16. ARTAUD, 1983.

17. AGAMBEN, 2009.

18. NOVARINA, 2003.

19. SARAMAGO, 2005.


21 mulheres surrealistas
20. BRECHT, 1978.

21. Juan Goytisolo, escritor catalão. In: LARROSA, 2010. Traduzi. CEL - FLORIANO MARTIN

22. NOVARINA, 2003.

 
Referências

AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.

ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.

ARTAUD, Antonin. Um atletismo afetivo. In: O teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad, 1983.

BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1987. Acervo de Matérias

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2023/03/zebba-dal-farra-mudez.html 9/12
29/03/2023, 12:24 Agulha Revista de Cultura: ZEBBA DAL FARRA | Mudez
BRECHT, Bertolt. Estudos sobre Teatro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1978. março (22)

CAVARERO, Adriana. Vozes Plurais. Belo Horizonte, UFMG, 2011. fevereiro (23)

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1992. janeiro (27)

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HOFMANNSTHAL, Hugo von. Una Carta. Bogotá: Asolectura, 2010.
novembro (22)
KOVACSICS, Adan. Guerra y lenguaje. Barcelona: Acantilado, 2007.
setembro (11)
LARROSA, Jorge. Herido de realidad y en busca de realidad. Notas sobre los lenguajes de la experiencia. In:
DOMINGO, José Contreras y FERRÉ, Núria Pérez de Lara (org.). Investigar la experiencia educativa. Madrid: agosto (22)
Morata, 2010. julho (22)

LE BRETON, David. Antropologia do corpo e modernidade. São Paulo: Editora Vozes, 2013. junho (22)

NOVARINA, Valère. Diante da palavra. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003. maio (22)

PARDO, José Luis. La Intimidad. Valencia: Pre-Textos, 2004. abril (23)

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___. Carne de palabras. In: VALENTE, José Ángel. Anatomía de la palabra. Valencia: Pre-Textos, 2000.
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___. Los pájaros de la lengua. In: Estética de lo peor. Madrid: Pasos Perdidos, 2010.
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SARAMAGO, José. Discurso durante o Fórum Social Mundial. Porto Alegre: janeiro de 2005. Disponível em:
dezembro (111)
https://www.youtube.com/watch?v=m1nePkQAM4w. Acesso em 30/05/2018.
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ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Editora da PUC, 2000.
outubro (23)
 
setembro (54)
 
agosto (33)
  julho (43)

ZEBBA DAL FARRA. Músico, encenador, ator e cantor, é professor e pesquisador junho (33)
livre-docente sênior do Departamento de Artes Cênicas (ECA-USP). Atua nos
maio (22)
campos do teatro e da música, dedicando-se especialmente ao estudo da voz e
das vocalidades poéticas contemporâneas, em conexão com a canção brasileira. abril (22)
Em 2020, publicou os livros Palavra Muda. Sobre poéticas para vozes em Estado março (11)
de Sítio e O ser aprendiz. Um itinerário com Myrian Muniz, pela Editora Giostri.
fevereiro (22)
 
janeiro (127)
 
dezembro (201)

novembro (30)

outubro (33)

CHRISTINE BOUMEESTER (Indonésia, 1904-1971). Nossa artista convidada se setembro (11)


expressou através de colagens, óleos, litografias, desenhos, aquarelas. O ritmo agosto (11)
de sua plástica define a presença de modulações sugestivas, delicadas
passagens de cores e formas, em atmosfera quase onírica. Casada com o julho (22)
gravador Henri Goetz – que ela conheceu em Paris, para onde se mudou, em junho (22)
meados dos anos 1930, após residência em Amsterdã, cidade onde realizou sua
maio (22)
primeira individual–, o casal descobre no Surrealismo uma significativa
afinidade que definiria sua linguagem. As relações resplandeciam: Picasso, março (11)
Breton, Éluard, Wilfredo Lam, Hans Arp. Com a chegada da 2ª Guerra Mundial,
fevereiro (10)
Christine e Henri se recolhem na pequena Carcassonne, ao sul da França, e ali
se encontram com alguns integrantes do grupo surrealista belga (Raoul Ubac, dezembro (11)
René Magritte, Louis Scutenaire) e, juntos, fundam a revista La main à plume, que resistirá de 1941 a 1944. Após novembro (33)
este período Christine realiza uma série de exposições e é celebrada pela crítica como uma relevante artista
setembro (22)
abstrata, embora essa abstração seja fruto não de uma evasão de sentido, mas antes do recorte de uma paisagem
onírica onde a artista busca precisar novos valores imaginários. agosto (33)

  julho (22)

  junho (33)

maio (11)

abril (30)

março (22)

fevereiro (17)

janeiro (34)

novembro (33)

outubro (22)

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setembro (21)

agosto (22)

julho (11)

maio (11)

abril (43)

março (11)

fevereiro (23)

dezembro (13)

novembro (12)

outubro (12)

setembro (24)

agosto (79)

julho (13)

junho (22)

maio (35)

abril (12)

março (12)
Agulha Revista de Cultura
fevereiro (24)
Número 226 | março de 2023
dezembro (12)
Artista convidada: Christiane Boumeester (Indonésia, 1904-1971)
novembro (56)
editora | ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com julho (55)

ARC Edições © 2023 junho (90)

  maio (69)

abril (56)

março (23)

fevereiro (21)

janeiro (66)

dezembro (11)

novembro (23)

outubro (44)

setembro (56)
∞ contatos agosto (22)

Rua Reinhold Schroeder, 3545 Indaial SC 89086-370 BRASIL junho (15)

https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/ abril (14)

http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/ março (67)

novembro (312)
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com

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Postado por Elys às 15:07

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