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O QUE É POLÍTICA CULTURAL

e dicas de como colocar em prática

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O QUE É
POLÍTICA CULTURAL
e dicas de como colocar em prática

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Comissão de Cultura
Assembleia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro
Deputados membros efetivos:
ELIOMAR COELHO PRESIDENTE
MESA DIRETORA WALDECK CARNEIRO VICE-PRESIDENTE
LUIZ PAULO
PRESIDENTE André Ceciliano CARLOS MINC
1° VICE PRESIDENTE CHIQUINHO DA MANGUEIRA
Jair Bittencourt DANI MONTEIRO
2° VICE PRESIDENTE CHICO MACHADO
Chico Machado
3° VICE PRESIDENTE Deputados membros suplentes:
Franciane Motta ZEIDAN
4° VICE PRESIDENTE MÁRCIO CANELLA
Samuel Malafaia ROSENVERG REIS
1° SECRETÁRIO Marcos Muller
2° SECRETÁRIO Tia Ju Assessoria técnica:
3° SECRETÁRIO Renato Zaca Julia Moulin Souto
4° SECRETÁRIO Filipe Soares Flavio Aniceto
1° VOGAL Brazao Lucio Sanfilippo
2° VOGAL Dr. Deodalto
3° VOGAL Valdecy da Saúde
Secretário:
Haroldo Aquino
4° VOGAL Giovani Ratinho
SECRETÁRIO-GERAL DA MESA
Contato:
DIRETORA Marcus Vinicius Rego
comissaocultura.alerj@gmail.com

O QUE É POLÍTICA CULTURAL


e dicas de como colocar em prática

Roteiro: Richard Goodwin / PACATATU


Ilustrações e Diagramação: Amorim

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Alô prefeito, vereadores,
secretário de cultura,
gestores, lideranças
municipais e fazedores
de cultura!

Sou o Mestre Anacleto e E quem faz essas fantasias


comando uma das folias bonitas da folia sou eu,
de reis na nossa cidade, Dona Lindalva, junto com
a formosa Canindé do Sul. outras costureiras.
Vou levar uma prosa Agito muita coisa
com vocês sobre de cultura aqui em
o motivo da nossa Canindé. E nós vamos
folia existir: é a explicar direitinho
política cultural! como você também
Puxa uma cadeira aí. pode incentivar e
fazer a cultura
aí no seu município.

Sem falar no
patrimônio cultural,
Sim, no seu município, como
o material e o
anda o direito ao acesso
imaterial. Sua região
aos bens culturais? Seus
deve ter muita coisa
habitantes têm acesso a
interessante para
obras de arte? Tem contato
mostrar. E que
com música, pintura, teatro,
às vezes nem
cinema, desenho, dança, arte
é considerada
de rua, livros, tanta coisa?!
como arte...

Como estão os meios de E também nos Como está a formação


produção cultural? As ma- centros culturais, técnica na área cultural?
neiras de levar a cultura Deveria haver Ensinando como fazer,
até as pessoas, vários centros não só para as pessoas
em vários lugares espalhados experimentarem
do município – a pelos as artes, mas
começar pelas distritos. para formar
escolas? profissões
nessa área,
criando meios
de vida.

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E os direitos dos
cidadãos? Eles
participam das
decisões que afetam a
cultura no
seu município?

DIREITO À CULTURA

O
s direitos à educação e à saúde podem não ser plenamente respeitados, mas
ninguém tem dúvida de que eles existem. Os governos e a sociedade reconhecem
esses direitos e vão lidando com eles, procurando colocá-los em prática.

Pois a cultura também é um direito constitucional! A Constituição Brasileira, em seu ar-


tigo 215, estipula que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão
das manifestações culturais”.

E mais: “O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-


brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.”.

No Estado do Rio, isso está inclusive referendado na Lei 7035/2015, que instituiu o
Sistema Estadual de Cultura, o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura, e
apresentou as diretrizes do Plano Estadual de Cultura.

Mas, mesmo que a Constituição garanta esses direitos, falta uma maior compreensão
do que são os direitos à cultura e as consequentes ações e políticas para que sejam
viabilizados. Ou falta clareza de que, como direitos, devem estar na cesta básica de in-
vestimentos e prioridades, como as demais áreas, mesmo que cada uma tenha a sua
proporção de fatia do bolo. Não pode faltar a cultura no bolo do orçamento e da gestão.
Deixar a cultura de fora da receita das despesas é infringir as leis.

Devemos suprir as necessidades culturais dos cidadãos, por meio de políticas apro-
priadas no estado, nos municípios e na própria ação da sociedade. Teixeira Coelho, em
seu Dicionário Crítico de Políticas Culturais, diz que essas políticas “são um conjunto
de intervenções organizadas pelo Estado ou pela sociedade civil visando a satisfazer as
necessidades culturais da população”.
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COMO SATISFAZER AS NECESSIDADES
CULTURAIS DA POPULAÇÃO DE
SEU MUNICÍPIO?
Para isso é importante ter estabelecidos os 4 P:

olítica cultural
Política cultural é a intenção. O que se pretende com a cultura
no município. É o “por que”. Qual o motivo de se estar fazendo
cultura e aonde se pretende chegar.

lano de cultura
Plano de cultura é a estratégia. É o “como”. Planejar como
se vai executar a política cultural. Quais metas pretende se
alcançar. Quais as diretrizes, como fazer para alcançar as
metas. Um bom plano ajuda a colocar em prática a política
cultural que você definiu.
rogramas culturais
Programas culturais são as linhas de ações do plano
cultural. Quais os setores culturais que serão contemplados.
E como as ações culturais vão chegar até esses setores.
Para cada setor diferente, um programa definido. Podem
estar voltados para um apoio aos artistas, revelar novos
talentos, ou valorizar os mestres culturais. Ou então a
realização de festas e eventos. Ou fortalecer comunidades
tradicionais. Outros exemplos de programas culturais são
a valorização da cidadania, dos gêneros, ou das etnias; ou
a criação e manutenção de equipamentos como os museus,
as bibliotecas, os centros culturais. É importante que os
programas culturais estejam afinados com a política cultural,
formando um conjunto que faça sentido.

rojetos culturais
Projetos culturais são os meios concretos para que os pro-
gramas aconteçam. É o detalhamento passo a passo do que
será feito, na prática, dentro de cada programa, transfor-
mando as idéias em realidade. Um projeto procura prever
todos os itens do que irá acontecer, como, por exemplo, os
prazos, os locais, a quantidade de envolvidos e principal-
mente as despesas financeiras.

Os projetos culturais são resultado dos programas cul-


turais, que por sua vez devem responder ao plano cultural,
que é derivado da política cultural. Todos esses itens se
relacionam.

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Uma boa maneira de começar a fazer cultura, ou de organizar melhor as ações que estão
em curso, é planejar os quatro “P”.

Coloque no papel, discuta com a equipe, converse com as pessoas envolvidas.

Se você for uma autoridade pública, procure também “oficializar”os seus “P”para a cultura.
Encaminhe para aprovação na câmara de vereadores ou nas comissões adequadas na
legislação municipal. Envolva a população, através de audiências públicas ou divulgando
de forma transparente como os seus “P” estarão “p”ossibilitando e “p”romovendo a
cultura em sua região.

QUER TER UMA


POLÍTICA
CULTURAL
EFICAZ E
ABRANGENTE?

Vamos colocar 12 pontos importantes para que uma política cultural seja eficaz,
abrangente e produza resultados interessantes para a população.

1.É preciso ter um setor próprio responsável pela cultura em seu município.

É imprescindível a existência de um órgão específico para a cultura, assim como existe


em outras áreas básicas, como a educação, a saúde etc. Pode ser uma secretaria de Cul-
tura, uma fundação ou um instituto cultural. Nos casos em que isto não seja possível,
estando a cultura alocada numa subsecretaria, num departamento, em setor subordi-
nado a outro, é preciso que tenha o mínimo de autonomia, orçamento, equipe própria e
condições adequadas de trabalho. Criar e manter um setor próprio são passos básicos
para uma ação cultural no município.

O que foi,
Não é possível!! Rosalina?
Todo ano é a
mesma coisa!!

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É assim: a nossa Cadindé do Sul Eu já te falei,
tem muitos problemas, os recur- Olha aqui esse
orçamento... R0salina. Temos que
sos financeiros são apertados, e ter um setor próprio,
a Prefeitura tem que investir no com verba própria,
que considera mais urgente.. para não ficar
brigando pelo
Mas aí o que mesmo dinheiro
acontece? A verba – que já é
vai para outros pouco!
projetos e no fim
das contas não
sobra nada pra
Cultura.

Não é só questão de ver-


ba. Estou precisando de Você tem que insistir com
mais equipe, para viabili- o Prefeito para que seja Tá. Vou tentar.
zar uns projetos novos, criada uma secretaria Mas você sabe
só da Cultura. Aí poderá que o Prefeito
e o que acontece? Ao in- gosta mesmo é
vés de receber um refor- cuidar do seu orçamento
específico, com a sua de inaugurar
ço, a Prefeitura estradas.
acaba é usando equipe exclusiva.
o meu pessoal
pra dar conta
das coisas
de outros
setores.

Perfeito, Rosalina. Concordo com tudo o que está


dizendo. A Cultura não é tão importante quanto à
Saúde? Quanto à Educação? Na minha campanha mesmo,
prometi que iria dar muita força para a cultura
local. Chegou a hora. Os Canindenses merecem!

Ótimo! E não se esqueça


Vou propor a criação de uma nova de que precisamos
secretaria da Cultura. Assim também de espaço, de
você entra com um ítem proprio um local próprio onde
no Orçamento do Município, com funcione a Cultura, até
verba destinada especificamente para as pessoas nos
para a área cultural, além de procurarem....
maior autonomia para gerenciar
seu pessoal e seus projetos. E graças à campanha da
E ASSIM... Sra.Rosalina Gouveia, uma
batalhadora insistente
Melhorou muito, Sílvia. A Cultura pela Cultura em nosso mu-
precisa de autonomia para crescer e nicípio, pela primeira vez
dar frutos. Não pode ficar à sombra em sua história, Canindé
de outros setores do Sul tem uma Secretaria
do Município.
da Cultura! É a gestão do
Prefeito Lourival Batista
Gomes atendendo à rique-
za cultural de nossa ci-
dade!

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2. É necessário que a cultura tenha o CPF

O próximo passo é esse órgão próprio


criar um Sistema Municipal da Cultura.
Esse sistema precisa ser assegurado por
lei, sendo aprovado por votação na câ-
mara de vereadores. Ele será composto
por

• Um conselho municipal de cultura.


• O plano cultural para o município.
• Um fundo municipal de cultura.

É por isto que dizemos que esse sistema irá criar um CPF (conselho, plano, fundo) para
a cultura no município. Assim como o CPF da Receita Federal serve para identificar as
pessoas, esse CPF cria uma identidade para a ação cultural no seu município.

O conselho municipal de cul-


tura é constituído em parte
por representantes do poder
público e em parte por repre-
sentantes da sociedade civil.
É um espaço útil para a socie-
dade participar das decisões
sobre as ações culturais que lhe dizem respeito. O conselho participa da elaboração das
políticas culturais, acompanha a sua execução, fiscaliza as suas ações e avalia os seus
resultados.

O seu município tem um conselho de cultura formado? Caso não tenha, está mais do
que na hora de criar o seu conselho, convidando pessoas de representatividade e boa
atuação no meio cultural e social, além de autoridades municipais, e levar a proposta
para aprovação na câmara.

Você que é um agitador cultural na sua cidade, mesmo que não seja uma autoridade
pública, tem um papel importante nesse processo, procurando os gestores da cultura e
incentivando-os a criarem um conselho. E, existindo um conselho, acompanhar os seus
trabalhos, buscando colaborar com seu plano cultural.

Sim, porque não basta o conselho existir. Ele tem que ser atuante. Seu conselho munici-
pal de cultura tem se reunido, tem formulado políticas culturais, tem fiscalizado e avali-
ado os projetos culturais? E mais: tem havido uma participação efetiva da sociedade
civil no conselho? São questões importantes.

Escrevemos sobre o plano cultural ao mencionarmos os 4 P. Lembrando que um bom


plano cultural deve garantir a cidadania cultural, o direito de acesso e de usufruir dos
bens culturais, incentivar a produção cultural e preservar as memórias históricas, so-
ciais, artísticas, paisagísticas e ambientais do município a que se refere.
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O plano cultural de sua secretaria, de seu
departamento ou de sua instituição con-
templa todos esses itens? Quais os progra-
mas culturais dedicados a cada ítem?

No caso de um plano cultural para o mu-


nicípio, é essencial que seja debatido e
aprovado na câmera de vereadores, para que seja de conhecimento de todos os setores
– que podem colaborar e reforçar o plano – e contar com o respaldo da sua oficialização
na estrutura municipal.

O fundo municipal de cultura é o mecan-


ismo pelo qual serão financiadas as ações
culturais. Um fundo pode ser composto de
dotações orçamentárias do município, de
recursos do governo federal e estadual, de
contribuições privadas e de empresas, e
outras formas de arrecadação. Além de or-
ganizar o fluxo financeiro na área cultural, é também um instrumento para a captação
de recursos que serão acolhidos pelo fundo e gerenciados por este.

O fundo de cultura é interessante por centralizar a verba a ser aplicada nas ações cul-
turais, permitindo uma melhor administração; e por garantir que essa verba se destine
exclusivamente à área da cultura, pondo em prática o plano e os programas culturais.
Deve ser movimentado com empenho e transparência, para ser acompanhado por toda
a sociedade do município.

O fundo é o componente mais importante do CPF cultural, pois, como os gestores e os


agentes culturais bem sabem, o aporte financeiro é primordial para irrigar a lavoura
onde serão colhidos os frutos das atividades culturais.

O Sistema Municipal de Cultura deve interagir com o Sistema Nacional de Cultura, criado
pelo Artigo 216 da Constituição Federal e com o Sistema Estadual de Cultura, instituído
no Rio de Janeiro pela Lei 7035/2015. Recentemente, os sistemas estaduais e munici-
pais de cultura ganharam impulso com a Lei Emergencial de Cultura Aldir Blanc (Lei
Federal 14.017/2020) e a Lei Paulo Gustavo (Projeto de Lei Complementar 73/ 2021).
Procure conhecer essas leis, encontradas em sites da internet.

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Com essas estruturas criadas, vejamos algumas áreas em que podem atuar.

3. Patrimônio Cultural Local

Tendo identificado quais são os bens culturais do município, as manifestações artísticas


típicas do local e os elementos que compõem o seu patrimônio cultural, é interessante
definir um Programa Municipal de Patrimônio Cultural, colocando no papel formas de
preservá-los e ações para incentivá-los.

Quando se fala em patrimônio cultural, muitos pensam nos locais que compõem a
memória da municipalidade, de forma concreta, como prédios históricos, monumentos,
sítios arqueológicos etc. Esse é o Patrimônio Material, que abrange também os objetos
criados por ação humana, como obras de arte, utensílios, documentos, livros, fotogra-
fias, etc.

Olha, o mais urgente é


Então nesta reunião do cuidarmos do Casarão dos
conselho vamos fazer uma Tabordas, a edificação mais antiga
lista dos locais importantes de Canindé que ainda está de pé –
de Canindé para criarmos mas não vai ficar por
nosso Programa Municipal muito tempo,
de Patrimônio Cultural. está caindo
aos pedaços.

O prédio onde a nossa escola municipal


Era a sede da Fazenda
funciona há mais de cem anos, faz parte
do Riacho Seco, onde o
da história afetiva da cidade e deve ser
nosso povoado começou,
reconhecido como patrimônio cultural.
um lugar importante da
Quantos canindenses estudaram e se
história canindense que
formaram ali!
precisa ser preservado.

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Vai ser um absurdo a gente Querem derrubar a casa da família Martins
perder a casa onde nasceu o pra construir um prédio de apartamentos
poeta Jorge Martins, grande no lugar. Precisamos tombar o imóvel para
nome da literatura brasileira, podermos sempre homenagear nosso poeta.
a personalidade mais ilustre de
Canindé!

Aliás, por mais que E temos os nossos


o progresso seja monumentos, como a
importante, e a cidade Homenagem ao Canindense
esteja crescendo, as Desconhecido, o Cruzeiro
autoridades devem de São Suplício,
se preocupar com a até aquela estátua
especulação imobiliária, horrorosa na entrada
para que peças da cidade, que recebe
importantes do nosso os visitantes.
patrimônio não sejam
destruídas.

E, claro, temos
que declarar
patrimonio
cultural a
nossa praça
central, onde
as pessoas se
encontram!

Além dos bens


imóveis, o patrimônio
material de nossa
região pode incluir
também bens móveis:
obras de arte,
documentos históricos,
objetos antigos,
livros, nossa memória,
o registro de nossa
cultura.

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Por isso, proponho
todo o acervo do
Museu de Canindé
do Sul como nosso
patrimônio.

Quando se fala
Proponho também o acervo fotográfico do Chico em preservação,
Bonfim, que durante décadas registrou a vida na não é só cuidar do
cidade. E todos os documentos guardados sobre a patrimônio, manter em
fundação da Vila do Rio Seco, que depois virou boas condições, mas
Canindé. também desenvolver
ações que criem na
população o
sentimento de
preservação.

Existe também o Patrimônio Imaterial, que muitos não levam em consideração, mas tem
igual importância que o Material. São os elementos abstratos que fazem parte de uma
cultura, com as práticas da vida social de uma região. Inclui as festas e celebrações
populares e tradicionais, a sabedoria popular e as formas da população se expressar.
Músicas, danças, lendas folclóricas, culinária, costumes e festividades são exemplos de
Patrimônio Imaterial.

Um Programa Municipal de
Patrimônio Imaterial pode apoiar
manifestações musicais e sociais
como o jongo, as serestas,
rodas de samba, violeiros,
bandas e orquestras.

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Eventos como a festa do
Atividades religiosas e ÊÊÊÊÊ! padroeiro da cidade, a feira
folclóricas como a festa
do Divino, procissão de dos pequenos agricultores,
Corpus Christi, tradições como a distribuição
folia de reis ... de doces no dia de são cosme
e damião, e até comidas
típicas da região, como o
chuvisco de abóbora que vem
É NÓIS! gente de toda parte
comprar aqui.

Patrimônio Imaterial pode ser pessoas, e os


ofícios que exercem, como o saber das doceiras Vou batizar
que fazem esse chuvisco. Como a capoeira, com essa cachaça que
seus mestres. E os conhecimentos tradicionais de tô fabricando em
mães e pais de santo. Pode ser o feitio de cestas Canindé de...
de palha pelos povos tradicionais. Patrimônio!

Um Programa Municipal de Patrimônio Cultural deve estimular, apoiar a criação de mu-


seus, arquivos e salas de memória no município. Deve fazer inventários e levantamen-
tos, assim como registrar e apoiar as manifestações tradicionais, os mestres e mestras
das culturas populares, afro-brasileiras, indígenas, caiçaras e de outros grupos étnicos
e tradicionais.

A maior parte do Patrimônio


Imaterial são coisas
transmitidas de geração
para geração. Os gestores
culturais devem assegurar
essa continuidade, dando apoio
aos antigos e criando condições
para assumirem os novos.

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4. Estímulo ao Livro e à Leitura

Nesse setor, deve-se criar o Programa Municipal de Livro, Leitura e Bibliotecas. Seu ob-
jetivo principal é o de garantir que haja bibliotecas ou salas de leituras nos distritos do
município, mas também deve:

• Promover a integração desses espaços com as escolas.


• Assegurar a inclusão de todos no acesso aos livros.
• Buscar a maior diversidade entre os livros disponíveis.
• Incentivar entre os habitantes o hábito da leitura.
• Estimular a produção de textos.
• Apoiar as possibilidades locais de publicação de livros.

Gosto muito de
ficar aqui lendo na nossa
Biblioteca Municipal. Temos
livros os mais variados, e também
periódicos. Agora, uma biblioteca para
nós é um local de leitura, mas também
um lugar onde as pessoas que gostam de
ler – e aqueles que querem aprender a
gostar de ler – podem se encontrar
para viverem juntos o
universo da
literatura.

Além das
salas de leitura
normais, temos o espaço
da literatura infantil, onde
os pais podem trazer as
crianças para aprender o
gosto da leitura. Podem até
deixar as crianças
aqui sozinhas, temos
as monitoras que
Por isso, temos tomam conta.
uma programação com
mesas, palestras e
debates.

Você sabe que


desde pequeno se deve E para os
estimular o habito da adolescentes
leitura, né? A criança que separamos esse
lê está mais preparada local onde podem
para a vida. curtir os livros
infanto-juvenis e se
reunir para outras
atividades. Hoje, por
exemplo, é nosso Dia
dos Personagens.

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É preciso
acabar com
Promovemos um encontro onde a ideia de
as pessoas podem vir vestidas de biblioteca ser
algum personagem literário. um lugar
morto,
cheio de
mofo.

Os livros são
coisas vivas, Lembrando que
cheios de aventuras e nas bibliotecas
conhecimento. não só os
espaços como a
programação devem
levar em conta
as pessoas com
deficiências.

Eu queria
enfatizar o seguinte:
além das pessoas
irem até a biblioteca,
a biblioteca tem
quer ir até as
pessoas!

Nosso Programa Municipal de Livros, Leitura e Bibliotecas tem


criado bibliotecas em alguns distritos da região, principalmente
aquelas mais afastadas. E damos apoio para que os próprios
moradores criem bibliotecas comunitárias.

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E vamos passar a criar também
salas de leituras em locais
diferenciados, como nos clubes, nos
shoppings, nas grandes fábricas,
quem sabe pontos de empréstimo nas
ruas, em praças e terminais de
ônibus

Mas o foco principal do


Programa tem sido o incentivo à
leitura nas escolas, apoiando a
criação de bibliotecas estudantis
e muita programação literária
nas escolas – como
esta contação
de histórias.

Dona Rosalina, são


mesmo essenciais essas ações É preciso ações incentivando
incentivando a leitura. Agora, além as pessoas a escreverem,
de promover o consumo de livros através de cursos, oficinas,
é importante também promover a concursos que não só
produção de premiem textos como apoiem
livros. a publicação de livros, e
ajuda às editoras locais.
É interessante incluir, nas
bibliotecas, obras de autores
locais, principalmente as que
tenham como tema a vida e a
história da região.

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5. Espaços e centros culturais

É preciso estruturar no município uma rede de centros, espaços e equipamentos cul-


turais, que podem ser do próprio município ou mantidos através de parcerias com insti-
tuições afins da sociedade.

Quando a gente vai


executar alguma tarefa,
ou construir alguma Além de uma função
coisa, precisa ter o cultural, esses
equipamento necessário. espaços são locais
Além do equipamento ser de socialização,
adequado para a tarefa, onde as pessoas se
deve estar em bom encontram, trocam
estado e funcionando ideias, em contato
bem. com obras de arte e
umas com as outras.
Pois para fazer
cultura precisamos
dos equipamentos
culturais. São as É importante
edificações destinadas que os espaços
a práticas culturais, culturais criem
como teatros, cinemas, vínculos com as
arquivos, galerias, comunidades onde
bibliotecas, museus, salas elas se inserem,
de concerto, espaços inclusive abrindo
polivalentes, entre para manifestações
outros. culturais do local.

Os espaços culturais,
dentro da administração da Os centros
cultura, talvez sejam o item culturais são espaços
mais dificil de gerenciar, e o que apresentam
de maior custo, mas são os num mesmo local
lugares onde as atividades vários tipos de arte:
culturais mais aparecem. Teatros mostram
peças; cinemas, filmes;
museus, exposições.
um centro cultural
pode ter tudo isso e
muito mais.

A organização dos
Um centro cultural, espaços culturais
além de uma dentro de uma rede
programação com obras municipal – incluindo
de arte, deve buscar os que não são
também um enfoque administrados pela
educativo, sediando prefeitura – facilita
cursos, palestras e a elaboração de uma
oficinas. política cultural que
vai resultar na sua
programação.

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6. Pontos de cultura

Pontos de cultura são instituições autônomas, mas que estabelecem parcerias com o
poder público para realizar ações culturais locais. É preciso estruturar uma rede dos
pontos de cultura existentes no município, incentivar que novos pontos sejam criados,
e fornecer apoio financeiro e estrutural para eles, além de apoiar outras formas de orga-
nizações afins, como grupos, coletivos de arte, companhias teatrais etc.

Não dá mais, Foi o que aconteceu com Vocês poderiam


marlene. Nosso meu grupo de teatro, se juntar e
grupo de dança vai Jussara. Tivemos que organizar um Ponto
ter que fechar. São parar por falta de de Cultura aqui na
muitas despesas, e o grana. E olha que o comunidade. Os pontos
pessoal que ajudava pessoal tava animado recebem inclusive um
o grupo anda muito com os ensaios! apoio financeiro. Dá um
duro, parou de pulinho na
contribuir... Secretaria de
Cultura para
se informar
sobre pontos
de cultura.

Legal! Vamos E tem a escolinha


chamar também o de música pra crianças.
grupo de capoeira que Se a gente reunir
começou aqui, que tem algumas iniciativas aqui do
muita gente pedaço, podemos criar um
participando. ponto de cultura
bem atuante!

no gabinete No meio do ano,


da rosalina... nós vamos abrir uma
chamada pública com um
edital pra escolher os
participantes do nosso
Programa Dando
Pontos sem Nó.

Vou explicar como


podem se inscrever...

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Urrú! O Ponto de Cultura do
Morro do Macaco-Prego foi Nossa, Dona Rosalina! o Ponto
aprovado! teve um impacto grande na vida
Alguns das pessoas da comunidade.
meses
depois...
Sim, essas parcerias
são uma maneira
muito eficiente de
promover a cultura,
ampliando o alcance
da Secretaria,
e contando com
as pessoas que
realmente conhecem
as necessidades de
cada lugar.

agora, vocês têm que se organizar


para trabalharem direitinho na Puxa Secretária... o ponto pra
prestação de contas do Ponto. Temos nossa associação de grafiteiros
esse trabalho importante que é não foi aprovado...
acompanhar e fiscalizar tudo que os
pontos fazem.

Bem, nós temos que fazer uma não dá para incluir vocês no repasse do
seleção, porque a verba é contada. edital, mas ter um aval oficial da
Mas olha, vocês podem se cadastrar Prefeitura pode ajudar a conseguir um
na Secretaria, se autodeclarando patrocínio. E isso nos ajuda, pois
como Ponto de Cultura. queremos fazer um levantamento
Qualquer pessoa que de todos os grupos que estão
faz um trabalho fazendo cultura
cultural pode no município.
fazer isso.

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7. Espaços públicos

Os espaços públicos, por seu acesso democrático. são locais interessantes para manifes-
tações culturais: ruas, praças, largos, parques, orlas de praias ou de rios. É necessário
estimular e apoiar o uso artístico e cultural desses espaços (respeitando as regras am-
bientais locais ou gerais).

A letra da canção diz:


todo artista tem que ir
onde o povo está.1 E o
povo geralmente está
nas ruas – nos espaços
públicos. O poeta diz que
a praça é do povo.2 Os espaços públicos
são lugares bacanas
pra fazer manifestações
culturais: amplos, onde
cabem muita gente; abertos,
sem cobrança
de ingresso,
é só chegar.

Os gestores
culturais devem
procurar desenvolver
eventos públicos –
e apoiar os eventos
organizados em
locais públicos pelos Aqui em Canindé nós
ativistas culturais da temos o Festival de
região. Verão, uma semana
de shows num palco
montado à beira do Rio
Correntezas.

1- Fernando Brandt e Milton Nascimento


2- Castro Alves
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E cada
início de mês
promovemos
o Domingão
na Praça, com
várias atividades,
inclusive para
as crianças.

Eu gosto
muito é da Feira
do Livro, na Rua
da Matriz.

O apoio aos eventos


públicos não é só fazer
com que aconteçam, mas
que venham acompanhados
de uma boa infraestutura
e medidas de segurança.

Os eventos de rua não podem agredir o ambiente dos


seus locais. A limpeza deve ser item importante na
produção dos eventos. E conscientizar
o público para que curta os
eventos ao mesmo tempo em que
cuida dos locais onde acontecem.

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8. Artesanato e gastronomia

Se por um lado a palavra “cultura” é usada comumente para designar a produção artís-
tica, também designa os costumes, o conhecimento e a prática de grupos sociais. Cul-
tura é tudo que caracteriza o ser humano como membro de uma sociedade.
Assim, até a produção culinária de um grupo social é parte importante de sua cultura.
As formas de se fazer comida, com os sabores resultantes desse conhecimento, são tam-
bém manifestações culturais.
A produção artesanal é uma manifestação cultural. É preciso então estimular a cu-
linária local, o artesanato da região, apoiar as pessoas que detêm esse conhecimento e
estimular que seja passado adiante para novas gerações.
Os gestores e agentes culturais devem promover maneiras de tornar visíveis e com-
erciáveis os produtos desses conhecimentos, com feiras ecológicas, feiras orgânicas,
encontros de gastronomia e feiras de artesanato. Assim como criar casas do artesão e
outras ações de Economia Solidária que divulguem as vocações dos habitantes do mu-
nicípio.
Vamos a Canindé neste
Mmmmm... me fim de semana? A gente compra
deu vontade um estoque de chuvisco e
de comer complementa com o famoso
chuvisco de bolinho de ora pro nobis.
abóbora...

ÊÊÊÊ!

As comidas típicas Receitas e modos de


são uma das coisas A consolidação da produção preparo de comidas
que caracterizam gastronômica da sua região é um são uma forma
uma região, e assim instrumento para divulgar a cultura de transmissão
fazem parte de sua em outras localidades. de conhecimento
cultura. através das
gerações. Veja a
importancia disto
na cultura negra.

24
A gastronomia
cultural utiliza o
gosto pela comida
como maneira
de preservar
as tradições
e promover a
inclusão social,
oportunidades de
valorização e de
trabalho.

Lembrando que a cultura


gastronômica envolve não só o A secretaria de cultura criou
preparo de comidas, como formas de aqui a Associação das Doceiras de
cultivo, coleta e armazenamento dos Canindé, isso mudou as
alimentos. E os objetos usados nossas vidas!
nesses processos.

Eu adoro
consumir
cultura. Olha, tudo que falaram aqui sobre Gastronomia,
Ainda é a mesma coisa com o Artesanato. Tem lugar
mais que é conhecido pelo seu artesanato. é uma
quando é coisa que dá oportunidade pras pessoas
chuvisco! sobreviverem, mas também
pra expressar o jeito
que elas têm de criar
coisas.

Então, que nem o mestre E de ajuda também pra


Eu, por exemplo, falou sobre a comida: fazer ensinar pros mais novos
trabalho com isso e as peças de artesanato é o jeito da gente fazer.
sei que tô ajudando fazer nosso conhecimento Tem pouco artesão agora
a divulgar a nossa continuar através do em Canindé, a garotada
cultura aqui de tempo. Mas a gente vai indo pra outros
Canindé. precisa de caminhos... Uns até se
ajuda pra interessam, mas,
se manter como dá
nossa pouco
luta. dinheiro,
acabam
arrumando
outros
empregos.

25
Mas, acima de tudo, temos que
Sim, é como eu falei na
valorizar as pessoas: os artesãos.
outra página: a cultura não é só as
Reforçar sua importancia, criar
peças produzidas, mas a técnica, o jeito de
oportunidades de trabalho, maneiras
fazer, as ferramentas usadas, Tudo isso
de comercializar suas peças – e de
tem que ser
passarem adiante o que sabem, com
valorizado.
oficinas, cursos
etc.

Uma coisa importante que


fazemos em Canindé, por
exemplo, é montar a Feira do
Artesanato Local. E agora
pensamos em criar o Museu
do Artesanato.

Mestre, sabe uma


coisa que me dá uma
raiva danada? Tem gente
achando que quem faz
artesanato nem é artista
Mas tá no próprio nome, ué,
ARTEsanato!!!

26
9. Cultura e Educação

A educação e a cultura são setores tão interligados que pensadores, como Pierre Bor-
dieu, consideram que uma não existe sem a outra. Quando se coloca que as funções das
escolas são o aprendizado curricular, mas também a formação das pessoas como seres
humanos, percebemos a importância da cultura dentro do ensino. As escolas são não só
um lugar para receber informações, como também de trocas culturais. Um dos pontos
mais importantes de um órgão de cultura, portanto, é o estímulo a ações culturais nas
escolas da rede municipal

Para a
educadora
Vera Candau:

A participação cultural no sistema educativo deve dar uma atenção especial à cultura
local. As escolas costumam abordar a cultura como algo teórico, ou através do folclore
e em datas comemorativas, mas a cultura faz parte da vida cotidiana dos alunos. A in-
clusão de sua realidade aumentará o interesse deles pelo ensino, além da valorização de
sua autoestima.

A educadora
Carmen Anhoen Os professores têm o desafio de:
coloca alguns • buscar recursos didáticos para introduzir conteúdos e
objetivos para conceitos vindos de culturas variadas;
esta união
entre cultura • Facilitar o aproveitamento dos alunos pertencentes a
e educação diferentes grupos sociais;
• Estimular a autoestima de grupos sociais minoritários
ou excluídos;
• Educar para o respeito ao plural, ao diferente, para o
exercício da democracia;
• Enfatizar discursos e ações que problematizem
manifestações racistas, discriminatórias, opressoras e
autoritárias, que existem no cotidiano.

27
Estamos vendo então que o órgão de cultura
deve promover uma visão cultural na
educação não só em relação aos alunos mas
também junto aos professores, ajudando a
qualificá-los pra esses desafios.

A rede municipal de escolas de sua região já é uma rede de cultura montada e deve ser
aproveitada ao máximo. As crianças e adolescentes em idade escolar estão se desenvol-
vendo para serem participantes e promotores da cultura em sua região.

As ações educativo-culturais devem ser realizadas


além nas escolas, públicas ou particulares, mas também
disso:
em iniciativas próprias do órgão municipal de
cultura, promovendo cursos e oficinas de ações
e políticas culturais, educando pessoas para se
tornarem profissionais da cultura, os futuros
agentes e gestores que levarão adiante a defesa
da cultura local. Um exemplo disso é a criação
de oportunidades de estágios nas equipes dos
equipamentos culturais do município ou em
outros setores sob a administração do órgão
cultural.

Outro exemplo é estabelecer um Programa de Formação Técnica, englobando as escolas


de arte, os cursos de gestão cultural ou treinamentos específicos avulsos existentes no
município.

Através deste programa, os agentes e gestores culturais podem aproveitar os recursos


externos dedicados a esse setor, como os provenientes de organismos internacionais, das
leis federais e estaduais de incentivo à cultura, de editais diversos, convênios, parcerias,
etc. Podem também propor formas locais de financiamento e de fomento ao setor.

28
10. Cultura e Turismo

Vimos como a gastronomia, com as comidas típicas da região; o artesanato, com a


produção local; o patrimônio material, com os locais históricos e interessantes; e o
patrimônio imaterial, com as manifestações musicais e de outras artes; as festividades;
e os costumes locais ajudam a divulgar a sua cultura e a atrair pessoas para visitarem
seu município.

O Turismo Cultural vem se tornando uma parte cada vez mais importante do setor
turístico: aumenta a renda do município e gera empregos para os envolvidos.

A festa da
padroeira da
cidade atrai
muitos turistas.

assim como o nosso


AgostoFest, celebrando as
tradições dos imigrantes
que se estabeleceram
nesta região.

Mas o que chama


mesmo gente de fora
é o Festival de
Inverno, com uma
série de debates e
atrações
culturais.

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As ações nessa área podem seguir quatro linhas:

- fomento, incentivando grupos - divulgação do turismo cultural para


e atividades que farão parte do fora do município, de modo a atrair
turismo cultural. visitantes.

- preservação de locais, de - criação e manutenção de uma


costumes, de obras artísticas. estutura para acolher os visitantes.

É interessante criar
circuitos culturais, que
as pessoas possam
percorrer em um dia, num
fim de semana, ou mesmo em
mais dias...Nos aproximamos
do/da guia, que
está falando.

Hoje, vamos começar aqui no


mercado antigo, construído há 150
anos como entreposto de tropeiros.
Vamos passar por vários pontos
interessantes de Canindé...

... e terminar o
dia assistindo ao
jongo no Quilombo
Pacatatucotia.

Os gestores e agentes culturais devem desenvolver cuidados para evitar o turismo


predátorio, com impactos sobre o meio-ambiente ou gerando distorções entre a cultura
local. É preciso buscar um equilíbrio entre as expectativas do turista que vem de fora
e os direitos dos habitantes que morem no município. E os guias turisticos devem ser,
preferencialmente, cidadãos locais.
30
11. Ações Transversais na Cultura

A união faz a força. É importante estimular ações em conjunto com outros órgãos da
administração pública e também da sociedade civil, através de iniciativas em comum
que promovam a cidadania cultural. Nesse sentido, ações transversais devem ser uma
preocupação constante nos programas e projetos, associando Cultura e Promoção da
Igualdade Racial, Cultura e Gênero, Cultura LGBTQIA+, Cultura e Educação, Cultura e
Saúde, Cultura e Direitos Humanos, Cultura e Meio Ambiente, e o Combate à Intolerân-
cia Religiosa, entre outros, conforme a realidade de cada município. Essas parcerias
ampliam e reforçam as atividades do órgão de cultura, aumentam as oportunidades
de trabalho para agentes e gestores culturais e trazem mais recursos para o setor cul-
tural.
O setor
responsável pela cultura
Colocamos aqui no município deve estar sempre
que cultura é tudo em contato com os outros setores
que faz parte da da prefeitura, procurando pontos
vida das pessoas. em comum onde possa participar de
Assim, todas as suas atividades - informando como
ações da prefeitura, os demais setores podem
todos os órgãos participar dos projetos
municipais, tudo culturais, inclusive com
acaba tendo aporte de
relação com a recursos.
cultura.

Onde o setor cultural pode contribuir Outros temas


de maneira importante em ações transversais a serem
de outros departamentos e no promovidos são Ética,
fortalecimento da cidadania cultural, Igualdade Racial, Saúde
acompanhando e orientando as ações e Bem-Estar, atenção
para que respeitem a cultura local para o Meio-Ambiente,
e valorizem as características das as questões do
pessoas diversas que compõem Consumo e as de
essa cultura. Orientação Sexual,
São constantes
em todos os
departamentos.

Se a cultura é um
bem da humanidade,
deve ter entre seus
objetivos humanizar
cada vez mais os
seres humanos.

A transversalidade
vale não só para um intercâmbio com
departamentos municipais, em projetos
Nunca se
estaduais e federais, mas também iniciativas
esqueçam: a
da sociedade civil. faça um levantamento
diversidade é a
de quais são eles e de
nossa riqueza!
como a cultura pode participar.

31
12. Recursos Financeiros

Nenhuma das ações listadas aqui acontecerá sem os recursos financeiros para a sua
execução. É essencial fortalecer a área cultural dentro do Orçamento Municipal. Para
isso é preciso atuar junto ao Poder Executivo (prefeitura), que elabora a proposta orça-
mentária e depois a executa. E junto ao Poder Legislativo (câmara de vereadores), que
aprecia, vota e fiscaliza a sua execução.

O Orçamento Municipal é preparado em três fases:

* Planos plurianuais – que cobrem do 2º ao 4º ano de uma gestão e o 1º ano da


seguinte.
* A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) – elaborada e discutida anualmente, aprox-
imadamente no meio do ano. Traz os projetos estratégicos e as metas para o orçamento
do próximo ano.
* A Lei Orçamentaria Anual – elaborada e discutida no final do ano. É o orçamento em
si, com os programas, os projetos, as ações e os devidos valores previstos.

O órgão de cultura do município deve ter uma participação efetiva em todas essas fases.
Sem orçamento, não existe política pública, é importante salientar.

É interessante também estimular a capacitação dos agentes e gestores locais quanto ao


uso das leis de incentivo à cultura vigentes no país e no estado, e aos editais disponíveis,
a fim de angariar recursos de fora do município.

Além do conhecimento nas áreas artísticas, patrimoniais e sociais, e do talento para


produzir manifestações culturais, a equipe de um órgão cultural municipal deve incluir
pessoas capazes de:

• Elaborar projetos;
• Captar recursos;
• Conhecer as leis de incentivo à cultura;
• Estar atentos a questões legais, tais como o Direito Cultural;
• Conhecer as estratégias e ferramentas relacionadas ao Marketing Cultural;
• Conhecer os fundamentos do planejamento, orçamento e prestação de contas de um
projeto cultural;
• Fazer com que ações culturais sejam potencializadas como fatores de desenvolvimento
da região e de movimentação da economia local.

Os gestores devem também estar sempre atentos aos meios de arrecadar fundos, tanto
entre as empresas e patrocinadores locais quanto entre as possibilidades de verbas es-
taduais e federais, através de editais, das leis de incentivo à cultura, dos fundos de cul-
tura, do Vale-Cultura, do PNC (Plano Nacional de Cultura e do SNC (Sistema Nacional
de Cultura).

Então, além de agitadores culturais eficientes em colocar projetos em prática, procure


organizar a sua equipe, incluindo pessoas com conhecimentos ou habilidades no levan-
tamento e administração de recursos financeiros. E estejam atentos às possibilidades de
entrada de recursos, seja através de apoios e patrocinios do comércio e mecenato locais,
como de editais, projetos e leis federais e estaduais.  
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Sim, para fazer Além de sua importância
cultura – e para social, histórica, e na
preservar a cultura – formação das pessoas,
são necessários recur- entre outros fatores,
sos. Mas a verba desti- a Cultura tem um forte
nada a ações culturais potencial econômico,
não deve ser encarada promovendo renda,
como despesa gerando empregos e
e sim como fazendo o dinheiro
investimento. circular em
sua região.

Um estudo promovido em 2018 pela Fundação Getúlio Vargas acompanhou 174 projetos
culturais realizados no Estado do Rio de Janeiro e concluiu que para cada R$1 investido
em Cultura houve um retorno de R$13 para a economia estadual.

Parte desse valor retornou para os próprios cofres públicos, pois através de sua
arrecadação direta e da movimentação resultante da geração de renda e da criação
e sustentação de empregos, a Cultura contribuiu para um aumento considerável na
arrecadação de impostos. Tomando como exemplo um evento específico, a Feira Literaria
de Paraty (Flip): em 2018 os órgãos públicos envolvidos receberam em impostos 56% a
mais do que investiram de verba.

A Prefeitura de Natal, no nordeste brasileiro, realizou estudo semelhante, com


praticamente a mesma conclusão: cada R$1 investido em eventos culturais durante o
ano de 2019 resultou em R$12 sendo movimentados na economia da cidade.

E tem também
São as pessoas os efeitos de longo prazo,
trabalhando diretamente mais difíceis de medir, como a
nas ações culturais, valorização imobiliária de locais degra-
são os fornecedores dados e recuperados por ações cul-
de material para turais, a valorização de municípios
essas ações, os que se tornam conhecidos pela
estabelecimentos que identificação com elementos culturais,
se beneficiam com o a valorização das próprias
consumo em torno de pessoas se situando de forma
eventos, muita gente... melhor no meio social...

Os Reis Magos, A Cultura


A Cultura tem A Cultura
que inspiram a tem valor sim-
valor econômico, tem valor
nossa folia, vêm bólico – repre-
movimentando as como cidadania:
então anunciar: senta tudo o que
finanças locais. as pessoas
nós somos. tem direitos
culturais.

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Chegou o momento de refletir. O que está
sendo feito em cada um desses 12 pontos?
Os direitos culturais dos cidadãos
estão sendo resguardados?
Como as ações culturais do
município podem ser
aprimoradas?

E quem vai
escrever o final
desta publicação
é você. Coloque
no espaço abaixo
algumas idéias de
ações culturais
que podem ser
promovidas agora
em seu município.

VIVA A
CULTURA
BRASILEIRA!!

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