Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Abstract
Democracia, Capitalismo
Agamben escreve em meados dos anos 70, mas sua descrição não
só se encaixa plenamente em nossa observação diária: amplificam-
se os supermercados nos shoppings e as brumas nas nuvens de
poluição, multiplicam-se os engarrafamentos e as cachoeiras
humanas nas escadas do metrô. A despeito da leveza sedutora da
virtualidade e da ilusão de domínio do tempo e do espaço, o mundo
pesa. Os velocímetros indicam altos limites de velocidade, mas os
automóveis andam em andamento de carroça. Além disso, a
destruição da experiência parece desenhar-se com mais nitidez com
a progressiva abstração da presença entre vozes e corpos, cujo
contato se faz de forma artificial, na virtualidade mediada por
aparelhos eletrônicos. A esse cenário Benjamin associa o
desaparecimento do narrador e da possibilidade de transmissão da
experiência, pela narração. Benjamin (2010:079) observa:
“Raramente nos damos conta que a relação ingênua do ouvinte com
o narrador está dominada pelo interesse de conservar o narrado.” O
ouvinte que escuta sem preconceito, desarmado e receptivo,
distraidamente atento, assegura a possibilidade de reprodução. Há
um circuito entre o narrador e seu ouvinte, ativado pelas
polaridades do dizer e do escutar, que, conectado a milhares de
outros circuitos, cria uma rede de histórias, feito malha percorrida
por correntes alternadas. Podemos então afirmar que todo narrador
clama por uma comunidade de escuta, e a existência desta
condiciona reciprocamente a daquele. Ações da experiência em
queda progressiva, como observamos em nossa sociedade de
consumo, atingem em cheio e ao mesmo tempo o narrador e sua
comunidade de escuta, que, ao desaparecer, condena o narrador à
busca de novas orelhas, frequentemente estranhas ao coletivo
original: musealiza-o. Comunidade de peregrinos, nichos de
mercado.
Narrador, Teatro
Profanação do Improfanável?
Fontes