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Crítica textual: disciplina que tem por objectivo reproduzir o texto na forma do original ou

equivalente (constitutio textus), eliminando para isso as intervenções espúrias da tradição


(quando se trata de textos antigos), ou, nos casos em que existam autógrafos e primeiras
edições (textos modernos), na forma que é definida pelo editor crítico como melhor
correspondendo à vontade do autor.

Crítica textual moderna: modalidade da crítica textual aplicada a textos com original
disponível, com o objectivo de o editar, corrigindo, se for o caso, os erros introduzidos na
tradição impressa.

Crítica textual tradicional: modalidade da crítica textual aplicada a textos com original
ausente, com o objectivo de o reconstituir, eliminando os erros introduzidos na tradição.

Ecdótica: termo cunhado por Henri Quentin para designar o conceito comum de crítica
textual (termo mais vulgarizado); as duas designações coexistem.

Filologia: disciplina que tem por objectivo a reprodução ou a reconstrução dos textos do
passado, tendo em conta quer as dimensões sincrónica e diacrónica quer os seus aspectos
linguísticos e históricos; culmina na crítica textual.

Original: texto escrito pelo autor ou por ele revisto e sob a sua responsabilidade publicado;
tanto pode ter a forma de um manuscrito autógrafo como de um dactiloscrito ou de um
impresso. É um conceito ambíguo porque, sendo entendido como um texto autêntico que
exprime a intenção do autor, mesmo no caso de autógrafos o texto aparece normalmente
com erros, lacunas ou hesitações do autor.

FILOLOGIA
by Rita Marquilhas | Dez 26, 2009 | 0 comments
Estudo do texto escrito na perspectiva de sua produção material, da sua transmissão através
do tempo e da sua edição. O que é essencial no texto que constitui o objecto da filologia é o
seu registo em suporte material, ficando os textos orais excluídos das preocupações desta
disciplina. O termo evoluiu de uma acepção muito lata, romântica sobretudo, que englobava
estudos literários e linguísticos, para o conceito estrito de disciplina concentrada na
recriação das coordenadas materiais e culturais que presidiram à fabricação e sobrevivência
de um texto escrito. A orientação última é a de preparar a edição do texto, daí que
a filologia culmine na crítica textual. Tem ainda, como disciplinas auxiliares, a codicologia,
a bibliografia material, a manuscriptologia e a paleografia, segundo as quais se descreve e
interpreta a dimensão material do texto: o livro, o documento e a letra que o enformam.

CRÍTICA TEXTUAL
by Carlos Ceia | Dez 30, 2009 | 0 comments
Disciplina filológica que emerge dos problemas de publicação de textos, manuscritos ou
impressos, antigos ou modernos. Estabelecido o pressuposto de que é o autor quem dá
autenticidade ao texto, e de que é esse texto autêntico que merece ser editado, a crítica
textual tem desenvolvido, desde o século XIX, técnicas de reconhecimento dos sinais de
“autorização” em duas grandes ordens de casos: o do original perdido (crítica textual
tradicional) e o do original conhecido (crítica textual moderna). A crítica textual tradicional, tal
como a lançou Karl Lachmann no século XIX (1850), começava por seguir um método de
recensão de todos os testemunhos da tradição de um texto (recensio), coligidos depois nas
suas variantes em ordem à respectiva hierarquização genealógica num stemma codicum; a
encimá-lo, estaria um ascendente teórico, muito próximo do original: o arquétipo. Para a
reconstrução desse arquétipo, o método de Lachmann propunha a avaliação, selecção e
emenda das variantes conforme as tendências maioritárias da tradição (emendatio). Para
chegar ao original (constitutio textus), seria finalmente necessário deduzir esse texto mítico
do estilo do autor (usus scribendi) e intuí-lo segundo o raciocínio do editor (iudicium). Como
as edições que seguissem esta metodologia chegariam a um texto contaminado por diversas
versões, híbrido na sua estrutura, surgiu, já no século XX, uma proposta alternativa feita por
Joseph Bédier (1928) em que a base da edição seria um só testemunho, o «bom manuscrit»
(manuscrito que o stemma revelava ser mais próximo do arquétipo), a ser emendado apenas
nos seus erros evidentes. Posteriormente, em Itália e nos anos 30, surgiu a nova filologia,
impulsionada por Giorgio Pasquali, que considerava a tradição do texto excessivamente
desprezada pelos métodos anteriores e pretendeu trabalhá-la na reconstituição
do contexto cultural de sobrevivência do texto. Um outro desenvolvimento deu-se em
ambiente anglo-saxónico, cujos filólogos estiveram sempre mais vocacionados para os
problemas postos pelas tradições impressas e pela questionável autoridade da primeira
edição (a editio princeps). Hoje, sobrevivem ensinamentos de todas estas propostas
metodológicas, especialmente as da escola italiana, a qual acabou por se orientar
pragmaticamente para a especificidade de cada diferente tradição, esbatendo-se a busca
obsessiva do arquétipo e do seu original.
À crítica textual moderna já se apresentam decisões diferentes, como a de eleger, entre os
autógrafos conservados, qual a versão a editar, ou a de saber dar, na edição crítica,
a imagem de um bem documentado trabalho de elaboração autoral do texto.

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