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FACULDADE UNIÃO DAS AMÉRICAS - UNIAMÉRICA

CURSO DE PSICOLOGIA

MARGHERITA VASCONCELLOS

A RELAÇÃO COGNIÇÃO-EMOÇÃO NAS DISTORÇÕES COGNITIVAS

FOZ DO IGUAÇU - PR
2012
2

MARGHERITA VASCONCELLOS

A RELAÇÃO COGNIÇÃO-EMOÇÃO NAS DISTORÇÕES COGNITIVAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Psicologia da Faculdade União
das Américas – Uniamérica, de Foz do Iguaçu
/ PR, como requisito para obtenção do grau de
Psicologia.

Orientadora: Profa. Nazaré Almeida

FOZ DO IGUAÇU - PR
2012
3

MARGHERITA VASCONCELLOS

A RELAÇÃO COGNIÇÃO-EMOÇÃO NAS DISTORÇÕES COGNITIVAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Faculdade União das


Américas como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo.

Aprovado em _____ de___________________de 2012

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Profª. Msc. Nazaré de Oliveira Almeida – Orientadora
(Faculdade União das Américas)

___________________________________________________
Prof. Esp. Ruy Bueno de Camargo Junior
(Faculdade União das Américas)

____________________________________________________
Profª. Esp. Thais Helena Sant’Anna Lima
(Faculdade União das Américas)
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RESUMO

O trabalho atual teve por objetivo verificar a relação da cognição com a emoção,
quando disfuncional, na geração da distorção cognitiva e buscou esclarecer de que modo
ocorre essa influência. Para elucidar a questão, discorreu-se sobre aspectos presentes na
identificação dessas distorções por meio da revisão de literatura e buscou-se aprofundar o
entendimento da distorção cognitiva “Raciocínio Emocional”. O estudo envolveu a leitura da
Teoria do Constructo Pessoal (TCP); Teoria do Desamparo Aprendido e Estilo Explicativo;
Terapia Racional Emotivo Comportamental; e Teoria Cognitivo-Comportamental. Concluiu-
se que nem todos os fenômenos que envolvem emoção são mediados pela cognição num
primeiro instante. Existe a reação natural somática, que pode ser desencadeada pela amígdala
diante de situações que provocam emoções, na qual ela reage antes mesmo do pensamento
racional ser ativado pelo córtex frontal. Esses processos acontecem de modo inconsciente
mediados pela mente emocional, podendo ativar os pensamentos automáticos e crenças
irracionais existentes ao se deparar com algum elemento que desperte o processo emocional
automaticamente. Pode também desencadear uma resposta já padronizada pelo indivíduo, sem
que haja questionamento da mesma ou a autopercepção da ativação de determinado
comportamento pessoal. Desse modo, supõe-se que esse mecanismo do cérebro pode ser uma
das vias de manifestação das distorções cognitivas.

Palavras-chave: Distorções Cognitivas, Influência da Emoção, Emoção Disfuncional.


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ABSTRACT

The current work aimed to investigate the relationship of cognition and emotion, when
dysfunctional, in the generation of cognitive distortion and sought to clarify how this
influence occurs. To clarify the issue, spoke up about issues involved in identifying these
distortions through literature review and sought to deepen the understanding of cognitive
distortion "Emotional Reasoning." The study involved reading the Personal Construct Theory
(PCT), Theory of Learned Helplessness and Explanatory Style, Rational Emotive Behavioral
Therapy, and Cognitive Behavioral Theory. It was concluded that not all phenomena
involving emotion on cognition are mediated by the first moment. There is a natural reaction
somatic, which can be triggered by the amygdala in situations that provoke emotions in which
she reacts even before rational thought be enabled by the frontal cortex. These processes
happen unconsciously mediated emotional mind and can activate automatic thoughts and
irrational beliefs exist when faced with some element which triggers the emotional process
automatically. You can also trigger a response already standardized by the individual, without
questioning the same or self-perceived activation of certain personal conduct. Thus, it is
assumed that the mechanism of the brain may be one way of manifestation of cognitive
distortions.

Keywords: Cognitive Distortions, Influence of Emotion, Emotion Dysfunctional


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 7
2 TEORIAS COGNITIVAS ................................................................................................................. 9
2.1 TEORIAS COGNITIVAS QUE SE RELACIONAM COM A TERAPIA COGNITIVA-
COMPORTAMENTAL E COM O PROCESSO EMOCIONAL DO INDIVÍDUO............................... 9
2.1.1 Teoria do Constructo Pessoal (TCP), de George Kelly ............................................................. 9
2.1.2 Teoria do Desamparo Aprendido e Estilo Explicativo, de Martin Seligman ........................ 11
2.1.3 Terapia Racional-Emotivo-Comportamental (TREC), de Albert Ellis................................. 12
2.1.4 Teoria Cognitiva Comportamental, de Aaron Beck ............................................................... 14
2.2 ABORDAGENS DA TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL – PENSAMENTOS
AUTOMÁTICOS, CRENÇAS IRRACIONAIS E ESQUEMAS .......................................................... 14
2.3 DISTORÇÕES COGNITIVAS E SUA CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 16
2.4 ENTENDENDO AS EMOÇÕES, SUA RELAÇÃO COM A COGNIÇÃO E COM AS
DISTORÇÕES COGNITIVAS .............................................................................................................. 18
3. METODOLOGIA ........................................................................................................................... 34
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................................... 34
4 DISCUSSÃO SOBRE AS DISTORÇÕES COGNITIVAS .......................................................... 36
4.1 PONTOS IMPORTANTES NA IDENTIFICAÇÃO DAS DISTORÇÕES COGNITIVAS ........... 36
4.2 APROFUNDANDO O ENTENDIMENTO DA DISTORÇÃO COGNITIVA CLASSIFICADA
COMO "RACIOCÍNIO EMOCIONAL" ............................................................................................... 37
4.2.1 A somatização é um exemplo de doença proveniente de um raciocínio emocional .............. 39
4.2.2 Guerras são exemplos de raciocínio emocional ....................................................................... 39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 41
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 44
7 ANEXOS ........................................................................................................................................... 47
7.1 ANEXO 1 – LISTAGEM DAS PRINCIPAIS DISTORÇÕES COGNITIVAS .............................. 47
...................................................................................................................................................................
7

1 INTRODUÇÃO

As teorias psicológicas existem na tentativa de explicar e trazer algo que possa ser
prático no auxílio às mudanças de comportamento, aprendizagem e desenvolvimento humano.
Nesse estudo, a escolha do tema de pesquisa está relacionada a um maior
entendimento da natureza humana e dos aspectos mais comuns que contribuem para a criação
das distorções cognitivas, com o intuito de qualificar a abordagem na Terapia Cognitiva e no
contato com as pessoas em geral, de modo a ser mais assertiva e funcional.
O trabalho de psicoterapia que é realizado na Terapia Cognitiva tem como enfoque a
conscientização quanto às distorções cognitivas mantidas pelo paciente na sustentação de suas
crenças disfuncionais e a substituição das mesmas por outras mais adaptativas e funcionais.
Os pensamentos, sentimentos e comportamentos, refletem uma matriz cognitiva prévia criada
a partir de elementos relacionados à vivência do indivíduo, tais como mesologia, cultura
vigente, expectativas pessoais, experiências de vida, acontecimentos relevantes da infância,
dentre outros. Se essa matriz estiver restringida pelas distorções cognitivas, a percepção e
interpretação dos fatos ocorridos podem ser inadequadas ao contexto, prejudiciais ao próprio
indivíduo e às relações interpessoais estabelecidas a partir daí, gerando processos emocionais
mal resolvidos, falhas de comunicação e erros de abordagem, resultando em insatisfações e
mal-entendidos para as pessoas envolvidas.
De acordo com os estudos levantados neste trabalho, sabe-se que a emoção
disfuncional ou desadaptativa possui um papel relevante na criação e/ou manutenção da
distorção cognitiva.
Cabe então uma pergunta: de que modo a emoção se relaciona com a cognição
influenciando nas distorções cognitivas?
Assim, com o intuito de refinar o entendimento das distorções cognitivas, o objetivo
geral deste trabalho é verificar a relação da cognição com a emoção, quando disfuncional, na
geração da distorção cognitiva e, os objetivos específicos são:
 Discorrer sobre aspectos a serem considerados na identificação das distorções
cognitivas.
 Aprofundar entendimento da distorção cognitiva "raciocínio emocional".
Pode-se considerar que:
 Mais do que os fatos em si, é a forma como o indivíduo os interpreta que
influencia sua maneira de sentir e conduzir sua vida.
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 As distorções cognitivas, em geral, fazem parte dos erros perceptivos e


interpretativos dos fatos.
 A forma como o indivíduo estrutura o mundo mentalmente tem relação direta
com sua maneira de enxergá-lo, ou seja, há uma tendenciosidade nos
pensamentos, nas emoções e nos comportamentos que irão predominar na
atuação desse indivíduo, mesmo que ele não se dê conta disto.
 As distorções cognitivas quando trazidas à tona, podem desencadear
desentendimentos diversos e dificuldades de conviver com os demais e com o
mundo.
 Em geral, todos os indivíduos têm distorções cognitivas em algum nível de
manifestação.
A partir dessas questões, justifica fazer um levantamento bibliográfico do tema de
modo a expandir a compreensão dos mecanismos que são usados pelos indivíduos e que
interferem nas suas relações com os demais, criando ou piorando os problemas de ordem
pessoal e grupal.
Esta pesquisa se dará através de revisão bibliográfica acerca do tema a partir da década
de 1990, trazendo o enfoque de propositores da Teoria Cognitiva-Comportamental e de
pesquisadores que aprofundaram os estudos sobre as emoções e o "cérebro emocional".
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2 TEORIAS COGNITIVAS

As teorias psicológicas existem na tentativa de explicar e trazer algo que possa ser
prático no auxílio às mudanças de comportamento, aprendizagem e desenvolvimento humano.
"Psicologia cognitiva trata do modo como as pessoas percebem, aprendem, recordam
e pensam sobre a informação" (STERNBERG, 2000, p. 22).
Embora cognição e emoção possam ter vias de ativação no cérebro independentes em
alguns casos, os aspectos emocionais estão interligados aos aspectos cognitivos do indivíduo.
Existe uma interação contínua cognição-emoção que pode ser adaptativa e funcional ou não.
Nos casos em que esta interação é desadaptativa e disfuncional pode haver uma contribuição
da emoção para a criação e/ou manutenção de distorções cognitivas.
As Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCC) visam eliminar as distorções
cognitivas que o indivíduo mantém a partir da reestruturação dos pensamentos disfuncionais
presentes no seu funcionamento mental. Estes têm relação direta com o sistema de crenças e
valores do indivíduo construído ao longo da vida. As crenças irracionais embasam os
esquemas desadaptativos de manifestação do sujeito.

2.1 TEORIAS COGNITIVAS QUE SE RELACIONAM COM A TERAPIA COGNITIVA-


COMPORTAMENTAL E COM O PROCESSO EMOCIONAL DO INDIVÍDUO

As teorias cognitivas de algum modo tiveram relação e/ou inspiraram as Terapias


Cognitivo-Comportamentais (TCC). Assim, para auxiliar no entendimento funcional do
pensamento humano e seus mecanismos de processamento das informações internas e
externas, serão abordadas algumas teorias cognitivas importantes que se relacionam com a
terapia cognitiva-comportamental e com o processo cognitivo-emocional do indivíduo. A
inobservância de alguns aspectos relevantes abordados nestas teorias pode estar relacionada às
distorções cognitivas do pensamento. São elas:

2.1.1 Teoria do Constructo Pessoal (TCP), de George Kelly

A Teoria do Constructo Pessoal trabalha com o conceito de que cada indivíduo processa
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mentalmente, percebe e define o mundo, de maneira única, peculiar, diferente dos demais.
Logo, o constructo pessoal é a forma que cada indivíduo utiliza para perceber e interpretar
eventos.

Kelly enfatiza que as pessoas são livres para escolher a forma de ver o mundo e o
comportamento é decorrente dessas escolhas. Em qualquer momento do tempo,
nosso comportamento é determinado pela nossa construção da realidade, mas somos
livres para mudar tal construção ao longo do tempo – é a combinação entre livre
arbítrio e determinismo. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 331).

Ainda enfoca que a apreensão da realidade não é algo absoluto e sim fruto dos
esforços para interpretar e entender os eventos e fenômenos, havendo possibilidades e
construções alternativas para se escolher. As pessoas agem de acordo com sua percepção de
mundo.
Kelly propôs a teoria do alternativismo construtivo e do foco no construtor.
O alternativismo construtivo destaca a condição de se usar de possibilidades
alternativas na forma de lidar com o mundo, a partir da mudança de perspectiva pessoal.
Podem-se construir novas rotas, sem se sentir vítima das circunstâncias ou da própria
biografia (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; PERVIN & JOHN, 2004).
Assim, o alternativismo construtivo é uma maneira de se lidar com aquilo que está
inadequado na vida ou na manifestação do indivíduo e promover correções de rotas ou de
distorções cognitivas, por exemplo.
Para compreender o comportamento humano, deve-se reconhecer que as pessoas estão
tentando predizer e antecipar as consequências de suas ações; para compreender a personalidade
humana, deve-se identificar os constructos pessoais que os indivíduos utilizam para gerar suas
predições.
Quando se tem o foco no construtor, percebe-se que as declarações que as pessoas
fazem dizem mais sobre si do que sobre a realidade dos fatos. Não olhar para o discurso, mas
para a forma como a pessoa interpreta as coisas.
Desse modo, supõe-se que o indivíduo que possui uma forma de perceber o mundo
mais focada nas emoções, terá uma tendência a manter esse viés nas suas análises, o que pode
predispô-lo às distorções cognitivas.
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2.1.2 Teoria do Desamparo Aprendido e Estilo Explicativo, de Martin Seligman

A Teoria do Desamparo Aprendido surgiu da observação de Seligman na realização


de experimentos de aprendizagem com cachorros em laboratório.
A partir dos resultados alcançados, inferiu que o desamparo pode ser aprendido se
as circunstâncias forem adversas durante um período prolongado na vida do sujeito, levando-o
a concluir que, independente dos esforços que faça para sair das situações difíceis, jamais
conseguirá se sair bem ou se livrar dos problemas, perpetuando assim o pessimismo e o
sofrimento pessoal. Posteriormente, mesmo se as situações surgidas forem evitáveis ou
contornáveis, o sujeito se manterá passivo, apático e acomodado, eternizando esse estado de
impotência e de descrença nas novas possibilidades.
Algumas consequências do desamparo aprendido: depressão, estresse, desmotivação,
deficiências sociais, falta de agressividade, apatia e dificuldades sexuais.
Seligman (2012) estendeu esse raciocínio para os seres humanos. Entretanto, nos
seus experimentos com animais ocorreram algumas exceções em menor proporção, o que fez
sua teoria ser refutada por Teasdele.
Houve então a reformulação da Teoria do Desamparo Aprendido a partir de novos
elementos que foram surgindo. Incorporou na mesma a Teoria do Estilo Explicativo do sujeito
como elemento diferencial na manutenção ou não do desamparo aprendido, podendo sair
desta condição através do uso da vontade, resiliência e estilo otimista de ver os fatos e a vida.
Sendo assim, o estilo explicativo otimista ou pessimista tem relação direta com a
forma de perceber a realidade pelo sujeito, que através da sua atenção, utiliza seus filtros
mentais para selecionar os aspectos que vão confirmar os próprios esquemas.

Sua maneira habitual de explicar os maus acontecimentos, seu estilo explicativo, é


muito mais do que palavras que você anuncia quando fracassa. É um hábito de
pensar adquirido na infância e adolescência. Seu estilo explicativo emana
diretamente da maneira como vê o lugar que ocupa no mundo – se se considera uma
pessoa possuidora de méritos ou desprovida de qualidades, inútil. É a marca que o
distingue como otimista ou pessimista (SELIGMAN, 2012, p.76).

O estilo explicativo possui três variáveis básicas: permanência (relacionada ao


tempo); abrangência (relacionada ao espaço); e personalização (interiorização versus
exteriorização das justificativas).
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Posteriormente Seligman (2012) e colaboradores desenvolveram a teoria sobre o


otimismo aprendido usando o Estilo Explicativo Otimista, que tem por finalidade definir um
estilo de pensamento que irá promover um estilo de vida positivo.
Em relação à neurobiologia do otimismo e do pessimismo, pesquisadores já
relataram que:

[...] o pessimismo e a depressão estão relacionados ao funcionamento anormal do


sistema límbico, bem como a operações disfuncionais do córtex pré-frontal e do
sistema paralímbico. [...] parece haver marcadores neurobiológicos no cérebro que
estão ligados ao controle percebido e a pensamentos de depressão e pessimismo
(SNYDER & LOPEZ, 2009, p.173).

Isso vai ao encontro das ideias de Damásio (1996), quando traz a hipótese dos
marcadores somáticos que registram aprendizagens no cérebro a partir de pontos
emocionalmente significativos surgidos nas vivências dos indivíduos. De acordo com o
enfoque vivenciado, positivo ou negativo, ficará registrado este padrão tal qual um alarme do
cérebro emocional, que "apitará" quando surgir uma situação similar, influenciando nas
escolhas e decisões das futuras experiências.
Supõe-se por conta disso, que a memória emocional do desamparo aprendido somada
ao estilo explicativo pessimista adotado pelo indivíduo, possa desencadear uma ativação
negativa em maior ou menor grau pela via de manifestação rápida da memória emocional
(amígdala), que retém histórico de traumas e experiências com carga emocional forte,
predispondo o indivíduo às distorções cognitivas.

2.1.3 Terapia Racional-Emotivo-Comportamental (TREC), de Albert Ellis

Rangé (2001) ao abordar a Terapia Racional-Emotivo-Comportamental (TREC) de


Ellis, comenta que a mesma foi criada em 1955 com o intuito de ajudar o indivíduo a
promover mudanças em sua forma de pensar e consequentemente em sua vida, e deu origem à
vários métodos cognitivos.
Na TREC, Ellis criou o modelo A-B-C-D que significa:
 A = acontecimento.
 B = crença pessoal sobre o acontecimento (avaliação ou interpretação feita pelo
indivíduo).
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 C = as consequências pessoais observadas através dos sentimentos e


comportamentos.
 D = forma de combater as crenças irracionais, pelo uso de métodos lógico-
empíricos, usando de questionamentos racionais.
Ellis apud Rangé (2001), afirma que o comportamento surge a partir das ideias /
pensamentos do sujeito e as distorções cognitivas estão diretamente ligadas às perturbações
psicológicas.
Na sua teoria racional-emotiva, enfatiza que o ser humano tem uma tendência a
pensar irracionalmente, sendo ilógico e tirando conclusões sem as devidas evidências dos
fatos. Diz que raramente os indivíduos estão lúcidos para aquilo que orienta os próprios
pensamentos e conclusões que chegam.
A TREC surgiu para auxiliar os indivíduos a viverem uma vida mais plena, a se sentirem
emocionalmente melhores e serem felizes. Ela visa à promoção de mudanças mais permanentes
nos indivíduos a partir da reestruturação das suas crenças errôneas e irracionais.
Em sua abordagem, Ellis fez uma lista de onze crenças irracionais, a qual traz alguns
pensamentos mais peremptórios do indivíduo.
A fim de se contestar esses pensamentos irracionais, ele levantou algumas
conscientizações desejáveis ao sujeito, a saber:
 São as próprias pessoas que criam as suas perturbações psicológicas.
 O indivíduo tem condições de mudar suas perturbações, se assim investir.
 São as crenças irracionais e rígidas que promovem em grande parte os
desequilíbrios emocionais e comportamentais.
 O combate às crenças irracionais se dá através de procedimento científico,
usando de lógica e empirismo, substituindo-as por crenças racionais que levem
à mudança cognitiva, emocional e comportamental.
 A contestação das distorções cognitivas deve ser algo permanente na vida do
sujeito.
Assim, o terapeuta deve desafiar as crenças irracionais do paciente, ajudando-o a
pensar com racionalidade e lógica, usando de questionamentos que o impactem e façam-no
refletir, minimizando as influências das emoções negativas.
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2.1.4 Teoria Cognitiva Comportamental, de Aron Beck

Na tentativa de formular uma melhor abordagem para o tratamento da depressão, em


contraposição às abordagens psicanalíticas existentes que prevaleciam no início da década de
1960, Aaron Beck começou a desenvolver a Terapia Cognitiva. Beck centrou-se no Modelo
de Reestruturação Cognitiva para Depressão trazendo conceitos básicos de terapia cognitiva.
Teve a influência de algumas abordagens para compor o seu trabalho.
A partir de observações e análises dos casos dos pacientes com depressão, Beck pôde
inferir que certos padrões cognitivos com viés negativo de si mesmo, do mundo e do futuro,
integravam a forma de pensar desses indivíduos. Existia um padrão de distorção cognitiva
negativa recorrente, relacionada ao estado depressivo.
Assim, surgiram alguns conceitos e técnicas em terapia cognitiva que norteiam o
terapeuta para a detecção e entendimento das distorções cognitivas dos pacientes, de modo a
descobrir quais são os elementos mantenedores do pensamento disfuncional que necessitam
de correção e readaptação.

2.2 ABORDAGENS DA TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL –


PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS, CRENÇAS IRRACIONAIS E ESQUEMAS

A seguir são trazidos os principais conceitos e pressupostos que integram o Modelo


de Reestruturação Cognitiva.
Uma das premissas utilizadas na abordagem cognitiva é aquela que diz que as
emoções humanas têm como base o pensamento que também norteia o comportamento.
A realidade tem relação direta com a forma peculiar de cada indivíduo perceber e
interpretar as situações e os fatos. Assim, não são os fatores que vêm do externo que
atrapalham ou incomodam o indivíduo, mas a maneira como ele internaliza, raciocina, analisa
e reage àquilo que lhe acontece que vai ser determinante para si.
A maioria dos comportamentos inadequados e das perturbações emocionais são
consequências das distorções negativas e disfuncionais do pensamento e das crenças errôneas
ou exageradas do indivíduo.
Segundo Rangé (2011), na terapia cognitiva procura-se a identificação e
reestruturação de três níveis cognitivos: pensamentos automáticos; crenças intermediárias ou
subjacentes; e crenças nucleares ou centrais. Define esses elementos da seguinte forma:
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 Os pensamentos automáticos compõem o nível de cognição mais superficial.


São pensamentos breves, rápidos que surgem de maneira automática,
espontânea, sem uso do raciocínio ou da deliberação do indivíduo. Normalmente
são mais percebidos pela emoção negativa que desencadeiam, do que pelo
pensamento em si. Mostram-se repetitivos e não são questionados quanto à sua
veracidade ou utilidade. Podem ser identificados sem dificuldade e corrigidos a
partir de certo treino.
 As crenças intermediárias ou subjacentes são o segundo nível de cognição. São
formadas pelas regras, valores e pressupostos criados pelo indivíduo para
auxiliá-lo a lidar e se proteger das suas ideias absolutas, negativas e
desadaptativas que tem a seu respeito, que são suas crenças nucleares.
 As crenças nucleares ou centrais são o terceiro e mais profundo nível de
cognição e têm sua origem na infância. São verdades absolutas, inquestionáveis,
rígidas, negativas e globais sobre o que o indivíduo pensa de si. São mais
difíceis de serem acessadas e modificadas. Resultam da hipersensibilidade do
indivíduo às dificuldades enfrentadas, tais como oposição, rejeição, abandono e
componentes externos do ambiente.
Pode-se supor, ao menos em parte, que estes pensamentos automáticos e crenças
pessoais surjam através da via rápida de resposta do cérebro, que é a via da memória
emocional, dos marcadores biológicos do cérebro e também de manifestação de mecanismos
inconscientes.
A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) utiliza de técnicas que questionam o
viés de processamento cognitivo do indivíduo, para que ele possa perceber as suas
inadequações e distorções cognitivas, de modo a promover uma mudança no pensamento e no
sistema de crenças pessoal, e consequentemente, modificar suas emoções e comportamentos.
Jeffrey Young propôs uma nova técnica de terapia integradora complementar às
atuais utilizadas na TCC, que amplia os conceitos cognitivo-comportamentais e tratamentos
tradicionais. Assim, alguns conceitos que utilizou são importantes para entendermos os
acréscimos inseridos que fazem parte da Terapia do Esquema.
Segundo Young (2008), o conceito de esquema é amplo e usado em muitos campos
de estudos, inclusive na psicologia cognitiva. Um esquema pode ser adaptativo ou
desadaptativo e formado em qualquer época da vida, mas aqui a ênfase é naquilo que está
inadequado com o intuito de ajudar os pacientes a lidarem com suas dificuldades.
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Define esquemas desadaptativos remotos (EDR) ou simplesmente esquemas, como


padrões emocionais e cognitivos autoderrotistas, formados por memórias, emoções e reações
corporais, iniciados em fase remota da vida e replicados ao longo dela. O esquema é uma
estrutura ou um padrão criado que serve para ajudar o indivíduo a explicar e entender a
realidade e/ou a sua experiência, mediando a percepção e guiando as respostas. Então, um
esquema é uma estrutura que tem como conteúdo uma crença, que funciona como guia de
referência para interpretar informações e resolver problemas.
Ressalta que muitos dos esquemas foram formados no início da infância até a
adolescência. Na fase adulta, tais esquemas são sobrepostos às experiências posteriores na
tentativa de confirmá-los, mesmo quando não são mais aplicáveis, mantendo um viés
interpretativo que visa confirmar o próprio esquema. Aí reside uma visão imprecisa e
distorcida de si mesmo e do mundo.
Propõe que os esquemas são o resultado de necessidades emocionais fundamentais
insatisfeitas ou negligenciadas na infância, divididas em cinco domínios, a saber:
 Necessidade de segurança, cuidado, estabilidade e aceitação.
 Necessidade de autonomia, competência e senso de identidade.
 Necessidade de livre-expressão e validação das emoções.
 Necessidade de ser espontâneo e de lazer.
 Necessidade de se ter limites realistas e manter o autocontrole.
Observa que, além das experiências nocivas vivenciadas na infância e adolescência, a
influência do temperamento emocional também interfere na formação dos esquemas, pois de
acordo com os traços de personalidade do indivíduo, ele lidará com os eventos nocivos e
dolorosos de maneira peculiar.

2.3 DISTORÇÕES COGNITIVAS E SUA CLASSIFICAÇÃO

Hoje se fala muito em distorção cognitiva, mas pouco foi escrito de modo específico,
ampliando o assunto de maneira sistematizada. Mais frequentemente o conceito de distorção
cognitiva encontra-se diluído dentro da abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental
(TCC).
De maneira simplificada, pode se dizer que distorção cognitiva é uma forma de
processamento mental imprecisa e inadequada ao contexto, cujo conteúdo traz uma tendência,
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um viés, evidenciando uma ilogicidade ou uma incoerência no ato de pensar que distorce a
realidade e a análise dos fatos, gerando problemas de adaptabilidade com possíveis
repercussões negativas e sofrimento para o indivíduo que a mantém e aqueles com quem
convive.
Por trás da distorção cognitiva, pode haver um conteúdo emocional disfuncional
predominando na cognição do indivíduo, dando um teor desadaptativo aos seus pensamentos.
Existe uma listagem de 14 Distorções Cognitivas mais usuais que são divulgadas em
livros e sites da internet. Ela serve como um protocolo de avaliação que pode ser usado como
auxiliar na conceitualização cognitiva do paciente na Terapia Cognitivo-Comportamental, ou
para aqueles que tenham interesse no autoconhecimento.
Para efeito de ilustração, citaremos quatro distorções cognitivas aleatoriamente. A
lista das 14 distorções cognitivas mais usuais com suas respectivas definições retiradas de
Knapp (2004, p.32-33), está disponibilizada no Anexo 1.
 Raciocínio emocional (emocionalização) – é a distorção cognitiva na qual o
indivíduo presume que algo é verdadeiro porque tem um sentimento muito forte
sobre o assunto, sem que haja o devido questionamento racional se o
pensamento corresponde ou não ao real. Deixa os sentimentos e emoções
guiarem sua interpretação da realidade. Desconsidera as evidências contrárias ao
que pensa.
Exemplos: Sinto, logo está acontecendo. Estou passando mal, sinto que estou
tendo um infarto, logo deve ser verdade. Sinto que vai dar tudo errado hoje,
logo o dia vai ser horrível.
 Adivinhação – o indivíduo prevê algo que talvez nunca aconteça. Estabelece as
expectativas negativas como se fossem fatos; acha que no futuro as coisas vão
piorar.
Exemplos: Sei que meu chefe vai me demitir em breve. Sei que minha
empregada não vai fazer o que eu lhe pedi.
 Leitura mental – o indivíduo "já sabe" o que as outras pessoas estão pensando,
sem admitir que possa haver outras possibilidades. Deduz sem ter evidências.
Exemplos: Ele está me achando uma chata. Ela não gostou do meu trabalho.
Ela está tramando algo contra mim.
 Vitimização – o indivíduo se considera injustiçado, ou incompreendido pelos
demais. Atribui ao outro a culpabilidade do problema que vivencia, ou seja, ele é
vítima do sistema, não necessitando assumir sua parcela de responsabilidade
pelos sentimentos, comportamentos e acontecimentos consequentes.
Exemplos: Estou desse jeito por culpa dele. As pessoas vivem me explorando.
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Como se pode observar, a base da distorção cognitiva está nos pensamentos e


emoções disfuncionais, ou seja, naqueles que distorcem a realidade e geram crenças
desadaptativas, causando comportamentos inadequados, perturbação emocional e
atrapalhando o alcance das metas propostas pelo indivíduo.

2.4 ENTENDENDO AS EMOÇÕES, SUA RELAÇÃO COM A COGNIÇÃO E COM AS


DISTORÇÕES COGNITIVAS

Para explorar a relação da cognição e da emoção com as distorções cognitivas, será


iniciado pelo significado básico difundido através do dicionário. Em seguida, serão abordadas
as principais ideias e conceitos sobre emoções, disponíveis hoje, através das pesquisas sobre o
assunto, correlacionando-as com a cognição e sua influência nas distorções cognitivas.
A intenção é compreender um pouco melhor como se dá essa interação cognição-
emoção-distorção cognitiva.
Segundo o Dicionário Houaiss eletrônico (HOUAISS, 2001), para efeito de
diferenciação dos termos usados, a definição de mente, cognição e emoção é:

Mente – Sistema organizado no ser humano referente ao conjunto de seus processos


cognitivos e atividades psicológicas.
Cognição – 1. Conjunto de unidades de saber da consciência que se baseiam em
experiências sensoriais, representações, pensamentos e lembranças. 2. Um dos três
tipos de função mental (as funções mentais se dividem em afeto, cognição e
volição).
Emoção – 1. Agitação de sentimentos; abalo afetivo ou moral. 2. Reação orgânica
de intensidade e duração variáveis, geralmente acompanhada de alterações
respiratórias, circulatórias, etc., e de grande excitação mental.

Para expandir esse entendimento, será recorrido principalmente aos autores-


pesquisadores Martins (2004), Goleman (2001) e Damásio (1996; 2000) para compreender o
que é emoção, em função de suas pesquisas terem enfoque nas emoções versus cognições,
numa abordagem científica. Algumas observações de Callegaro (2005; 2011) e de Abreu
(2005) também serão trazidas, pois elucidam aspectos importantes relacionados à cognição e
às emoções. Outros autores serão comentados em menor escala.
Começaremos com Martins (2004) que faz algumas proposições básicas para efeito
de definição do que é e do que não é uma emoção.
O autor diz que a emoção mobiliza a mente e o corpo a partir de certas situações
externas ou internas que as desencadeiam.
19

Argumenta que a emoção não é uma sensação, mas a sensação pode provocar
emoções. O sentimento não é a circunstância que o provoca. Por exemplo, sentir-se frustrado
não é um sentimento e sim uma circunstância. Sentir que se deve fazer algo é o mesmo que
"pensar que" se deve fazer algo, diferente de se sentir algo. Distúrbios emocionais não devem
ser confundidos com emoções intensas, embora um estado patológico possa desencadear uma
emoção intensa. Por exemplo, a depressão não deve ser confundida com uma grande tristeza,
embora possa desencadeá-la.
Por definição, emoção é uma reação inata e global do organismo, relativamente
rápida e passageira; o auge da emoção surge e acaba tão logo o que a desencadeou
desaparece, perdurando por segundos apenas, na maioria das vezes. Ela refere-se à totalidade
do processo, incluindo o sentimento, as atividades cerebrais concomitantes, as reações
corporais, o impulso para a ação, as formas de expressão, etc. Para que as emoções continuem
ativas por mais tempo, o seu gatilho tem de ser continuamente evocado. A causa que
desencadeia a emoção em geral é imediata e conhecida, a menos que seja inconsciente ou
tenha relação com distúrbios orgânicos (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001; DAMÁSIO,
1996).
O estado de ânimo ou de espírito é mais duradouro do que a emoção. Pode-se mantê-
lo por dias ou meses. Nem sempre se sabe facilmente o que o provoca. Sua base é emocional
e conjugada com outros fatores que determinam sua permanência no tempo. Nesse caso, há
uma relação de afeto estabelecida através dos sentimentos e as percepções são atenuadas, se
comparadas ao forte calor das emoções (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001).
Além disso, Damásio (1996) propõe uma variação de sentimentos aos quais chamou
de sentimentos de fundo, porque tem origem em estados corporais de fundo e não em estado
emocionais. Atribui a estados do corpo entre emoções – mais estáveis, não mudam ao longo
das horas e dos dias, se mantendo contínuos, embora não seja comum que os percebamos. É
um estado geral do corpo – é uma resposta que está relacionada ao fato de se sentir bem ou
não, prazer e dor.
Dalgalarrondo (2000, p. 100 e 101), também nos ajuda a ampliar o entendimento da
dimensão dos sentimentos, trazendo as seguintes definições:
 Humor ou estado de ânimo – é o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional
basal e difuso no qual se encontra o indivíduo em determinado momento. É a
disposição afetiva de fundo que penetra a experiência psíquica.
20

 Emoção – é uma reação afetiva aguda, momentânea, desencadeada por estímulos


significativos internos ou externos. É intensa, de curta duração e pode ser
consciente ou inconsciente. Frequentemente vem acompanhada de reações
somáticas (neurovegetativas, motoras, hormonais, viscerais e vasomotoras).
 Sentimento – é um estado ou configuração afetiva estável. Se comparado à
emoção é mais atenuado em sua intensidade e menos passageiro. Em geral, tem
relação com conteúdo intelectual e valores.
 Afeto – são a qualidade e o tônus emocional que acompanha uma ideia ou
representação mental. Os afetos acoplam-se a ideias dando-lhe um 'colorido
afetivo'.
 Paixão – é um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade
psíquica como um todo, monopolizando a atenção e interesse do indivíduo numa
só direção, inibindo outros interesses.
Processos culturais podem encobrir a essência da emoção, ocultando-a, pois nem
sempre é bem-vista, podendo ser frequentemente considerada um distúrbio, desequilíbrio, ou
algo inútil e negativo – inapropriado para a vida civilizada.
Emoção é um fenômeno complexo, pois é influenciada e moldada por diversos
fatores, a saber: biológicos (genética, fisiologia, reações e expressões corporais, tendências
para a ação, etc.), culturais, cognitivos (ideias, raciocínios, memórias, expectativas, valores,
etc.), experiências e manifestações subjetivas (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001;
DAMÁSIO, 1996).
Assim, mesmo que a emoção seja uma tendência biológica para a ação, a maneira de
se reagir a um determinado fato, a forma de se demonstrar ou de conter as emoções, pode
variar de acordo com processos culturais adquiridos.
Goleman (2001) traz a ideia de que o indivíduo tem duas mentes: a emocional e a
racional. Para ele, a mente racional envolve a forma como se adquire compreensão dos fatos e
se toma consciência da realidade, sendo capaz de ponderar e refletir. A mente emocional é
uma forma de adquirir conhecimento, impulsiva e muitas vezes ilógica.

Há uma gradação entre controle racional e emocional da mente; quanto mais intenso
o sentimento, mais dominante é a mente emocional – e mais inoperante, a racional
[...] Essas duas mentes, a emocional e a racional, na maior parte do tempo operam
em estreita harmonia, [...] para que nos orientemos no mundo. Em geral há um
equilíbrio entre as mentes emocional e racional, com a emoção alimentando e
informando as operações da mente racional, e a mente racional refinando e, às vezes,
vetando a entrada das emoções. Mas são faculdades semi-independentes, cada uma,
21

[..,] refletindo o funcionamento de circuitos distintos, embora interligados, do


cérebro (GOLEMAN, 2001, p. 23).

Há um conjunto de emoções que fazem parte da herança da humanidade, chamadas


de emoções primárias ou básicas. São reações psicocorporais padronizadas, sustentadas por
mecanismos inatos, independentes e biologicamente úteis (MARTINS, 2004, p. 29;
GOLEMAN, 2001; DAMÁSIO, 1996).
A ideia das emoções básicas ou primárias é sustentada inicialmente pela pesquisa de
Paul Ekman, na qual ele identifica através de expressões faciais, quatro emoções básicas que
são universalmente reconhecidas, a saber: medo, raiva, alegria e tristeza.
Embora haja concordância de muitos estudiosos sobre a existência de emoções
universais, inatas e básicas, há ainda desacordo sobre quais seriam exatamente estas emoções
Dentre as mais identificadas por diversos pesquisadores, estão: raiva, tristeza, medo,
repugnância, amor, surpresa, alegria e interesse.
Greenberg & Safran (1987) apud Martins (2004), fazem uma distinção entre emoção
primária, secundária e instrumental. Para eles:
 Emoções primárias  refletem os sentimentos autênticos ou reais.
 Emoções secundárias  é uma resposta derivada de uma emoção primária.
Emoções instrumentais  são padrões de comportamento emocional relacionados à
influência e a manipulação dos outros, relações de poder e para se evitar responsabilidades.
Já Damásio (1996) nos diz que, emoções primárias são as "iniciais" (básicas, inatas e
pré-organizadas) e as secundárias são as "adultas". As primárias se relacionam principalmente
com os circuitos do sistema límbico, tais como amígdala e cíngulo. As secundárias já
envolvem imagens mentais, pois o processo inicia-se de modo deliberado e consciente,
através do pensamento. São distintas das emoções inatas, pois envolvem disposições pré-
frontais adquiridas. Entretanto, a aparelhagem cerebral para exprimir emoções primárias e
secundárias é a mesma.
Tudo no organismo tem uma função e assim é na biologia das nossas respostas
emocionais às diversas situações da vida. Desse modo, as emoções têm funções diretamente
relacionadas à nossa sobrevivência. A emoção tem o propósito de manter o equilíbrio e a
saúde física do organismo, nos tornando mais fortes, mobilizando nossa energia e criando um
impulso para a ação que visa superar um obstáculo ou dificuldade. Por exemplo, a raiva
constitui um grande impulso para a ação. Assim, não existem emoções inúteis ou negativas
22

em si. O seu efeito será negativo e infeliz, em curto ou longo prazo, sobre nós mesmos,
somente se forem distorcidas, negadas ou eliminadas. (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001).
Ao analisar a inibição da vivência das emoções, Martins (2004) nos alerta que os
indivíduos que são impedidos de manifestar as emoções primárias durante o seu processo
educacional e de socialização cultural, assumem formas secundárias e distorcidas de
expressão dos sentimentos e das emoções.
Continuando, uma vez contida uma emoção primária, ela se acumulará e será
transferida às próximas ocorrências na vida do indivíduo, comprometendo a sua capacidade
de avaliação da realidade adequadamente, ou seja, sem ter distorções. Por exemplo, uma
pessoa com raiva, mas que se sente impedida de descarregá-la através do choro, ou de
expressar o seu descontentamento, a qualquer descuido ou pequena ofensa dos demais numa
situação posterior, pode sentir como se recebesse uma afronta.
Orienta que, quando o indivíduo não experiencia determinada emoção por não se
sentir à vontade para manifestá-la, ele irá se deparar com sua inabilidade em lidar com esta
emoção. Exemplificando, as emoções podem ser camufladas por outras: uma sensação de
raiva pode desencadear uma tristeza ou até mesmo uma depressão, se o indivíduo não souber
lidar com ela ou expressá-la corretamente no momento adequado. Isso poderá se transformar
numa depressão e, nesse caso, a depressão será a camuflagem de algo que o indivíduo não
soube trabalhar dentro de si. Logo, uma emoção pode se transformar em outra, dificultando a
identificação daquilo que foi desencadeado inicialmente.
Martins (2004) alerta que equívocos na resposta emocional ou na avaliação podem
gerar distúrbios, neuroses, estresse, doenças, etc. Esses equívocos podem também ser
ativadores de distorções cognitivas.

[...] o processamento adequado das emoções é mais importante para o bom


desempenho intelectual do que o próprio quociente de inteligência (QI) e que a
ausência de sentimentos ou redução de emoções constituem uma fonte de
comportamentos irracionais. Contestando a crença de que as emoções prejudicam o
processo decisório e que devem ser evitadas, Damásio demonstra, com provas
experimentais, que pessoas com lesões neurológicas, e que por isso perderam o
contato com as próprias emoções, tornaram-se incapazes de tomar decisões
(MARTINS, 2004, p. 86).

Assim, nem sempre a emoção passa pela via do pensamento num primeiro instante.
Há situações na vida que o indivíduo tem tempo para ativar os seus processos cognitivos
observando, reunindo dados, analisando e raciocinando antes de chegar a alguma conclusão se
há perigo, ofensa, etc. Mas existem outras situações em que não há tempo hábil para entrar em
23

cena a atividade mental, exigindo uma resposta emocional imediata para ser eficiente. Neste
caso, as estruturas biológicas inatas são ativadas levando em conta os resultados de sua
aprendizagem anterior, disparando uma reação imediata, quase automática, usando o
julgamento sensorial por ser direto, imediato e não refletido. Tanto a avaliação, quanto a
reação emocional podem ser corretas ou incorretas, adequadas ou inadequadas (MARTINS,
2004; GOLEMAN, 2001).
Só recentemente surgiu um modelo científico sobre a mente emocional versus mente
racional, trazendo explicações do motivo pelo qual o indivíduo é racional em determinados
momentos e irracional em outros, salientando que a lógica da razão e da emoção é diferente
uma da outra. Trouxe uma lista das características que distinguem emoção dos processos
racionais, a partir de observações levantadas nos estudos de Paul Ekman (diretor do
Laboratório de Interação Humana da Califórnia) e também de Seymour Epstein (psicólogo
clínico da Universidade de Massachusetts) (GOLEMAN, 2001; DAMÁSIO, 1996).
Assim, são trazidas abaixo questões importantes a saber:
 A mente emocional age de maneira muito mais rápida do que a racional, de
modo impulsivo e irrefletido, antes mesmo de haver uma análise através do
pensamento, correlacionada à ação. O tempo de disparo entre uma emoção e a
avaliação da percepção de um acontecimento pela mente emocional é da ordem
de milésimos de segundo.
 Na mente emocional existe uma sensação de estar certa nas percepções e ações
que ela realiza. Quando surge o questionamento do motivo pelo qual se fez algo,
é que entra em ação a mente racional e o indivíduo se apercebe do que
aconteceu, porém não com a mesma agilidade da mente emocional.
 Sabendo que a emoção é proveniente de um impulso biológico que direciona
para a ação, o seu modo de funcionamento bastante veloz perde em precisão na
percepção dos fatos, as impressões são baseadas nos aspectos globais mais
salientes, captando tudo num relance, dispensando a análise pormenorizada dos
detalhes, de modo a se ter uma reação imediata e emergencial se necessária, tal
qual um radar para o perigo. Esse modo de funcionamento, por ser impreciso,
pode gerar equívocos indutores de erros.
 Em função da mente racional ser mais lenta para registrar os fatos e agir, se
comparada com a mente emocional, antes mesmo do indivíduo se dar conta
racionalmente, ele já pode estar sob o efeito de uma emoção. Desse modo, nas
24

questões que disparam emoções, o primeiro impulso, em geral, é uma resposta


que provém da mente emocional.
 Quando o sentimento ou emoção precede o pensamento, ou ocorre
concomitantemente, tem-se a sensação de que algo invadiu a si repentinamente,
sem haver programado, involuntariamente, a exemplo da raiva, do medo ou do
amor. Isso é fruto de uma resposta proveniente da via rápida do cérebro.
Contudo, a mente racional pode escolher logo em seguida, se quer ou não tentar
controlar o desenrolar da reação.
 De outro modo, a emoção também pode ser fruto de uma elaboração mental
consciente, racional, desencadeada a partir da análise de circunstâncias atuais
e/ou evocada pela rememoração de eventos passados significativos, ou mesmo
pela imaginação. Nesse caso, a cognição é responsável pela escolha das emoções
que serão ativadas – há escolha do que pensar. É um processo mais lento e que
precede o sentimento. As emoções mais elaboradas, ou ditas secundárias,
seguem essa rota, levando segundos ou minutos para serem formadas.
Damásio (1996) complementa estas afirmações acima quando diz que as emoções
acontecem sob a influência tanto das estruturas subcorticais, quanto das neocorticais. Informa
que a parte neocortical do cérebro, responsável pela racionalidade, não parece funcionar sem a
parte da regulação biológica, ou seja, a subcortical. Sabe-se que as emoções são
desencadeadas a partir de uma avaliação voluntária do processo mental. O filtro reflexivo
promove a variação de intensidade nas emoções, modulando-as. Ou seja, sentir as emoções
equivale a dizer que se tem consciência delas. "Os sentimentos são tão cognitivos como
qualquer outra imagem perceptual e tão dependentes do córtex cerebral como qualquer outra
imagem" (DAMÁSIO, 1996, p. 190).
Desse modo, existe a ideia da interdependência dos sistemas intelectual-emocional,
na qual só haveria um comportamento adequado, se ambos os sistemas estiverem integrados e
em sintonia. Para se ter um desempenho cognitivo adequado é necessário saber sentir
emoções e para se ter um bom desempenho emocional é necessário saber usar adequadamente
as cognições. A lógica escolhe como pensar e a emoção no que pensar (MARTINS, 2004).
A razão correta e a emoção saudável não se opõem. A razão enganada – as ideias
errôneas, os valores impostos, os raciocínios incorretos, as avaliações inapropriadas da
realidade – é que se opõem à emoção autêntica, da mesma forma apenas emoções que já
sofreram interferências e distorções opõem-se à razão. A emoção é uma mudança de estado
25

interior, é um reordenamento homeostático temporário, que tem como objetivo preparar e


motivar o organismo para que ele lide adequadamente com a nova situação. Quanto menor for
a capacidade de ação eficaz da pessoa para controlar ou modificar aquilo que a está
perturbando, maior será a intensidade da emoção negativa (MARTINS, 2004; GOLEMAN,
2001).
LeDoux (1995) apud Martins (2004), através de suas pesquisas, diz que geralmente é
o córtex cerebral que avalia os estímulos que chegam a nós através do pensamento. Mas
existe uma estrutura no cérebro emocional chamada amígdala, que processa os estímulos
relacionados às situações emergenciais e significativas, que envolvem emoções primárias,
funcionando como mediadora das respostas inatas e das aprendidas, das conscientes e
inconscientes, que necessitam de resposta rápida. Está conectada a diversas áreas cerebrais,
como o hipocampo, os núcleos septais e o núcleo dorso-medial do tálamo. Assim, esta região
pode discriminar antecipadamente se algo que chega até ó indivíduo é bom ou mau, antes
mesmo de saber do que se trata.
As exigências do ambiente promovem alterações no organismo. A ocorrência
frequente de uma mesma situação emocional cria, por um mecanismo de adaptação biológica,
mudanças na bioquímica do organismo. A plasticidade neural permite a ocorrência de
modificações estruturais em resposta às experiências do indivíduo. Tais mudanças envolvem a
facilitações transitórias e também duradouras de vias sinápticas, de novas sinapses e de
recrutamento dos neurônios para novas conexões (MARTINS, 2004; DAMÀSIO, 1996).

[...] experiências emocionais repetidas geram tendências ou vieses emocionais


permanentes, os quais, ainda que sejam passíveis de modificação posteriormente, só
o são com muito esforço, sendo necessário muitas vezes o uso de psicoterapia, ou de
tratamento farmacológico, ou de alguma prática disciplinar, por exemplo. [...] Esses
vieses emocionais têm correlatos fisiológicos (MARTINS, 2004, p.107).

[...] Se um sujeito encontra os estímulos remanescentes da situação da infância que


ocasionou o desenvolvimento do esquema, as emoções e sensações corporais
associadas ao evento são acionadas inconscientemente pelo sistema da amígdala; ou
se o indivíduo está consciente deste processo, as emoções e reações corporais são
ativadas mais rapidamente do que os pensamentos e avaliações conscientes – o
grupo de LeDoux verificou que a informação viaja rapidamente (doze
milissegundos) por uma via direta desde o tálamo até o núcleo basolateral da
amígdala, enquanto a via mais longa do tálamo ao córtex, que pode fazer distinções
mais elaboradas, leva dezenove milissegundos (cerca de 65% a mais de duração).
Esta ativação de emoções e reações corporais se processa automaticamente e
provavelmente permanecerá presente na vida do indivíduo, embora o grau de
ativação possa diminuir significativamente com o manejo do esquema.
(CALLEGARO, 2005, p.8).
26

Sabe-se desse modo, que um trauma vivenciado nos primeiros anos de vida, torna-se
um marcador somático para o indivíduo, registrando alterações permanentes nas estruturas
cerebrais do indivíduo (MARTINS, 2004; CALLEGARO 2005; YOUNG, 2008; DAMÁSIO,
1996).
A potenciação neuronal de longo prazo podem promover modificações permanentes
no cérebro através de mudanças neuroquímicas complexas e mais sutis, na amígdala e no
hipocampo, áreas cerebrais vinculadas às emoções (MARTINS, 2004).
As mudanças envolvem três áreas do cérebro, a saber:
1. O eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal (HHS) e o sistema do fator de
liberação de corticotropina (FLC).
2. O sistema noradrenérgico (da produção de noradrenalina).
3. O hipocampo e a amígdala.
Sabe-se que o hipocampo é um componente do sistema límbico envolvido com a
memória e com os distúrbios emocionais.
O trauma emocional precoce parece provocar uma hiperatividade de longa duração,
ou mesmo permanente, nos circuitos cerebrais produtores de FLC e noradrenalina, com os
consequentes efeitos neurotóxicos sobre o hipocampo, causando uma diminuição do seu
volume (perda neuronal) e, sobre a amígdala, tornando-a hiperativa.
Aparelhos sofisticados de medição vêm comprovando que não existe sentimento sem
alguma alteração corporal, pois o sentimento está diretamente relacionado ao valor da
situação para o sujeito, o que altera de algum modo a sua bioquímica cerebral, gerando uma
resposta corporal.
Os psicofármacos utilizados na psiquiatria, tal qual um tranquilizante para inibir a
ansiedade do indivíduo, por exemplo, atuam modificando o padrão neural do cérebro e até
certo ponto abrem um questionamento sobre a relação cognição-emoção, a saber:

[...] efeito de um tranquilizante qualquer [...] atua modificando os padrões de


estimulação neural, agindo sobre o mecanismo final e não sobre o significado das
situações para a pessoa. Isso demonstra que não pode ser o aspecto puramente
cognitivo, o responsável imediato pela emoção, pois o perfil de estimulação
encontra-se agora "travado" em determinado ponto, pelo efeito químico da droga,
inibindo a emoção de vir à tona (MARTINS, 2004, p. 246).

Existem alguns princípios regentes dos processos emocionais, que refletem


tendências de comportamento emocional a partir de situações vivenciadas e que podem estar
27

relacionados às crenças errôneas e pensamentos automáticos, tais como a Lei da realidade


aparente; Lei da mudança, da habituação e do efeito comparativo; e Lei do contraste afetivo
(MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001).
A Lei da realidade aparente que diz:
 As emoções são desencadeadas por acontecimentos avaliados como reais,
mesmo que sejam imaginários ou rememorados, desencadeando uma
intensidade proporcional ao grau de significância para o indivíduo. As
percepções captadas pelos sentidos exercem maior influência no processo
emocional adquirindo um peso maior do que se algo for simplesmente falado
ou demonstrado pela lógica. Por outro lado, aquilo que é verdadeiro se não
parece que é, não provoca as emoções.
A mente emocional possui uma lógica associativa. Por isso, imagens, filmes,
romances, música, rituais, etc., podem acessar a mente emocional como se
estivessem acontecendo. Já a mente racional não se importa muito com
símbolos e ritos, faz suas conexões a partir da lógica entre causa e efeito.
 O tom de voz na fala gera mais repercussão do que o conteúdo das palavras.
Para a avaliação emocional, as informações captadas pelos sentidos tem um
peso maior.

"[...] Este princípio explica a fraqueza da "razão" diante da força da emoção. Nos
casos de ansiedade fóbica, é notória a inutilidade de se tentar, apenas com palavras,
convencer o fóbico da inexistência do perigo que ele supõe existir" (MARTINS,
2004, p. 250).

Lei da mudança, da habituação e do efeito comparativo:


 Não é uma condição positiva ou negativa a causadora de emoção, mas a
mudança esperada na situação é que mexe com o processo emocional do
indivíduo. Se houver uma habituação à situação, mesmo que ela seja
desagradável, isso tende a provocar menos emoções.
Lei do contraste afetivo:
 Após a vivência de um estado muito desagradável, o retorno a um estado
agradável tende a ser supervalorizado. Esse princípio é muito utilizado nas
lavagens cerebrais. Outro exemplo é a Síndrome de Estocolmo.
 A vivência de um estado muito agradável, quando perdida, ao invés do
indivíduo voltar a se sentir de modo similar ao momento anterior a essa
28

satisfação, o que ocorre é que emocionalmente ele passa a se sentir como se


estivesse numa condição muito negativa, em intensidade similar à positiva
perdida.
 Privilégios recebidos passam a ser percebidos como um direito adquirido,
dificultando a sua retirada em algum momento.
Segundo Martins (2004), existem mecanismos que inibem a manifestação e vivência
integral da emoção aos quais denominou trindade da autonegação ou tríade inibitória. O
princípio da inibição emocional-intoxicação em geral acontece de modo automático,
inconsciente ou semiconsciente. Ao se conhecer os mecanismos psicofisiológicos utilizados
para bloquear as emoções tem-se uma ideia de como fazer para desbloqueá-las, a saber:
1. A disponibilidade de energia depende da respiração. Diminui-se a respiração para
diminuir a intensidade do processo, racionando a energia que o sustenta. A
contenção emocional é acompanhada da contenção respiratória. Com o tempo, há
uma estabilização da respiração num nível abaixo do normal/adequado. Se a
pessoa aumentar o seu ritmo respiratório, os sentimentos indesejados ameaçam
imergir, pois o processo já existe.
Através de exercícios respiratórios, supõe-se que consiga trabalhar alguns
aspectos emocionais do indivíduo.
2. Toda emoção cria uma tendência para a ação e inclui um conjunto integrado de
movimentos expressivos (exceto as contemplativas). Logo, não existe inibição
emocional sem alguma forma de contração muscular, seja pequena ou grande.
Exemplificando, o jovem que não consegue expressar os seus sentimentos à
garota que o atrai, fica tenso; também fica tenso aquele que sente medo e não ousa
fugir. A eliminação das tensões musculares crônicas deixa o organismo livre para
expressar a emoção desencadeada anteriormente e mantida pela tríade inibitória.
3. O terceiro componente é um mecanismo de fuga, através da retirada da
consciência dos ativadores emocionais tais como, ideias, estímulos sensoriais,
memórias verbais ou imagéticas que desencadeiam as emoções, e da mudança de
foco – desviando a atenção para outra atividade, por exemplo, ou através de
mecanismos mais radicais de repressão. Ou seja, o ativador é mantido fora de
consciência para que a emoção indesejada não seja desencadeada.
O trabalho de LeDoux sobre o cérebro emocional, traz a ideia de que as emoções
possuem vias inconscientes no cérebro e que, a expressão das mesmas, nem sempre é mediada
29

num primeiro momento pela cognição. Demonstra que o sistema emocional funciona de modo
independente do sistema cognitivo consciente. Ele refere-se a memórias emocionais
inconscientes no sentido de memórias que não estão disponíveis à consciência. Exemplifica a
situação com casos que ficaram famosos e, dentre eles, cita uma paciente de Claparède que
sofria de amnésia severa. A cada dia teria de ser reapresentada ao seu médico, pois não o
reconhecia. Um dia o médico colocou um pequeno alfinete na mão e quando a paciente
chegou ele foi cumprimentá-la. Ela recebeu uma alfinetada na mão. Ele saiu da sala e depois
retornou perguntando-lhe se ela já o havia visto antes. Ela não o reconheceu. Ele então
estendeu a mão para cumprimentá-la e ela imediatamente recuou a sua mão. Ela tinha um
conhecimento implícito do fato, mas não era capaz de se lembrar da experiência que o tinha
provocado. A amígdala estava formando as suas memórias, mas o sistema de memória do
lobo temporal (hipocampal) não o estava (LeDOUX, 1987; 1995; 1996; apud MARTINS,
2004).
Assim as pessoas fazem todo tipo de coisas por motivos dos quais não tem
consciência, porque o comportamento é produzido por sistemas cerebrais que operam
inconscientemente. As emoções podem ser desencadeadas sem a participação da atividade
avaliadora cortical, por estímulos que passam diretamente do tálamo para a amígdala.
Ainda discorre que a conexão da amígdala com o córtex não é simétrica. A amígdala
projeta fibras de volta para o córtex de modo mais intenso do que o córtex para a amígdala.
Desse modo, a capacidade da amígdala de controlar o córtex é maior do que a capacidade do
córtex de controlar a amígdala. Por isso é tão difícil, por exemplo, controlar uma ansiedade já
desencadeada. A amígdala pode controlar o córtex muito facilmente, porque tudo o que tem
de fazer é ativar muitas áreas de maneira genérica. Mas, para o córtex, desativar todas aquelas
áreas de forma seletiva é muito mais difícil (MARTINS, 2004, DAMÁSIO, 1996).

Os estudos atuais em neurociências apontam que as emoções são desencadeadas


mais rapidamente e podem existir independentemente das avaliações racionais e
pensamentos conscientes característicos dos níveis de processamento superior
cortical (CALLEGARO, 2005, p.8).

Goleman (2001) também argumenta nesta linha de raciocínio e traz a ideia da


seletividade tendenciosa da mente emocional, na medida em que ela descarta ou ignora
lembranças que possam abalar sua própria crença, se agarrando a tudo que possa mantê-la. A
mente emocional considera que suas crenças são totalmente verdadeiras, dificultando
30

intervenções da mente racional nos seus momentos de pico. Reforça que é complicado fazer
com que uma pessoa raciocine quando movida por alguma perturbação emocional. Os
sentimentos se autojustificam, se tornando provas convincentes.
Será que tal procedimento da mente emocional poderia estar relacionado com a
distorção cognitiva "raciocínio emocional" e outras cujo teor emocional é ilógico?
Por esses motivos, as terapias predominantemente verbais são um processo longo e
difícil. Além de ser impossível o acesso a determinadas memórias, o córtex está usando um
canal imperfeito para tentar controlar a amígdala. Ao referenciar LeDoux, afirma que não se
pode através de técnicas psicológicas, de apoio ou de terapia, trazer de volta essas memórias
simplesmente porque não é possível tomar uma memória que não foi codificada através do
hipocampo e transformá-la em memória hipocampal. A amígdala e o hipocampo codificam
seus sistemas de modo diferente, impossibilitando transpor uma informação da amígdala num
formato que o hipocampo consiga ler (MARTINS, 2004; CALLEGARO, 2005).
Ao afirmar que o hipocampo e a amígdala são estruturas límbicas responsáveis por
boa parte da aprendizagem e memória do cérebro, Goleman (2001) também valida a
importância das emoções. Ressalta que a amígdala funciona como um depósito de memória
emocional, que se for retirada, incapacita o indivíduo de fazer avaliações emocionais, bem
como de ter experiências relacionais envolvendo sentimentos, mantendo-o indiferente às
demais pessoas.
Apesar da dificuldade de recuperação psicológica e física dos traumas emocionais,
novos estudos demonstram que a psicoterapia consegue reconfigurar circuitos cerebrais nos
quais estejam armazenadas suas memórias, revertendo positivamente seus efeitos sobre o
indivíduo. Assim, a restauração do sistema emocional pode ser alcançada sendo necessário
trazer os ativadores emocionais à consciência, para desbloquear os processos emocionais que
não conseguem se manifestar, porque foram distorcidos. A correção das distorções cognitivas
resulta na eliminação dos ativadores emocionais negativos e, portanto, das emoções
desagradáveis.
Nesse aspecto, a emoção distingue-se claramente da cognição. A cognição cresce
sempre, com a experiência. Tudo aquilo que aprendemos intelectualmente, contribui para o
crescimento permanente do acervo pessoal. Mas a emoção natural é passageira, ou seja, é
sempre nova. Um problema nos distúrbios emocionais é exatamente a perda dessa capacidade
do sistema emocional de retornar ao seu estado original depois de vivida uma emoção. Um
31

dos objetivos da psicoterapia é ajudar o indivíduo a resgatar esta capacidade de "zerar" o seu
sistema emocional (MARTINS, 2004).
Damásio (2004) apud Callegaro (2011) nos diz que o afloramento dos sentimentos
morais, fruto do processamento emocional inconsciente, pode se tornar consciente e enviesar
o nosso sistema de crenças, impelindo às distorções cognitivas. Tais sentimentos elaboram
justificavas e racionalizações direcionando a cognição consciente, distorcendo conceitos do
que é justo da maneira que lhe convém, deixando o indivíduo convicto de que agiu bem.
A maior parte dos cientistas cognitivos hoje dá ênfase aos processos inconscientes ao
invés dos conscientes. A neuropsicologia traz muitos exemplos de influência do
processamento inconsciente no comportamento humano, a partir de estudos com pacientes
lesados em determinadas áreas do cérebro (CALLEGARO, 2011, DAMÁSIO, 1996).
Martins (2004) diz que é perfeitamente concebível, a partir do que se sabe hoje em
neurociência, que alguém possa passar por um trauma e continuar sofrendo suas
consequências emocionais mesmo sem ter nenhuma memória consciente dele.
As emoções e os sentimentos podem ser eficazes, mesmo quando mantidos
inconscientes. Existem muitas influências inconscientes na mente e no comportamento
humano e isso pode ser percebido através da psicologia social. (DAMÁSIO, 2000).
Também demonstrou a importância da presença dos processos emocionais
favorecendo a fixação das memórias pelo cérebro, facilitando a recordação de fatos novos.
Para exemplificar cita que, se contarmos duas histórias, cuja diferença consiste no alto teor
emocional de uma em relação a outra, o ouvinte se lembrará de um número bem maior de
detalhes daquela que tem o conteúdo emocional relevante.
Young et al (2003) apud Callegaro (2005) ressalta o fato de que os aspectos do
pensamento consciente sobre a experiência traumática e seus respectivos emocionais são
estocados em diferentes sistemas de memória cerebral, dificultando a modificação dos
esquemas em psicoterapia, quando usados apenas métodos cognitivos. Na mente, muitos dos
componentes cognitivos relacionados ao trauma se desenvolvem mais tarde, quando as
emoções e sensações corporais já estão armazenadas na memória emocional da amígdala.
Callegaro (2011) em seu livro "o novo inconsciente" traz a questão da atualização de
Aaron Beck, fundador da terapia cognitiva, em relação aos novos caminhos das neurociências.
Diz que Beck (2008) fez a proposição de expandir seu modelo cognitivo inicial que chamou
de modelo desenvolvimental, no qual incorpora os pensamentos automáticos, as distorções
cognitivas, os pensamentos disfuncionais e os vieses no processamento de informações,
32

levando em consideração os fatores genéticos, neuroquímicos e neurobiológicos em um


modelo integrado.
Beck (2008) apud Callegaro (2011) correlaciona a depressão a uma predisposição
genética, baseada em genes anômalos, deixando a amígdala hiper-reativa, induzindo vieses
cognitivos e avaliações distorcidas exageradas dos eventos estressantes. O estresse
desencadeado pela superavaliação das situações deixa o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal
(HHS) mais ativo, aumenta a produção de cortisol e a atividade límbica predomina sobre a
função frontal. Com a diminuição da atividade frontal e o aumento da atividade da amígdala,
desencadeia-se um déficit de percepção da realidade pelo indivíduo, bem como da capacidade
de avaliar adequadamente as cognições negativas, levando aos sintomas depressivos.
Abreu (2005) também traz uma abordagem interessante sobre as emoções e fala da
sua importância na abordagem terapêutica cognitiva-construtivista. Faz referência às técnicas
que sustentam a prática das Terapias Cognitivas, que consiste na substituição dos
pensamentos disfuncionais por outros mais funcionais e adaptativos.
Entretanto, Damásio (2004) apud Abreu (2005) reporta às recentes descobertas da
neurociência sobre as emoções e o pensamento, alterando o conceito tradicional de
intervenção terapêutica e dando um destaque diferenciado às emoções, daquele que vinha
sendo proposto até então pelas terapias cognitivas. Para elucidar melhor seu raciocínio, Abreu
comenta que há dois tipos globais de geração de significado que refletem a forma como nosso
organismo promove as trocas com o mundo. São elas:
1. Processamento conceitual – é lógico, reflexivo e mais vagaroso. Descreve as
bases da criação de significado pessoal via pensamento, realizado através das
crenças, do viés confirmatório dos esquemas e relacionados com os padrões de
interpretação. O conhecimento proveniente dos estímulos é processado
obedecendo a regras de raciocínio analítico, trazendo o conhecimento das
situações de maneira reflexiva, abstrata e intelectual. A abordagem cognitiva
tradicional busca corrigir as distorções cognitivas que refletem as crenças
irracionais dessa forma.
2. Processamento vivencial – é emocional e instantâneo. Os significados gerados em
nossa consciência advêm da atividade emocional, que retrata todos os conteúdos
implícitos ou consolidados pela experiência. O sentimento das situações é o
resultado de como nosso corpo reage às mudanças imediatas do mundo ao nosso
redor.
33

Greenberg & Safran (1987) apud Abreu (2005), argumenta que na terapia cognitiva
de Beck, para se compreender os significados pessoais, se busca controlar os pensamentos
automáticos irracionais usando o raciocínio lógico. No modelo cognitivo-construtivista leva-
se em conta as impressões corporais (sensoriais) somadas às desenvolvidas pelo raciocínio.
nos diz que primeiramente sentimos algo, para em seguida pensarmos alguma coisa a esse
respeito. Esta premissa coloca em destaque as emoções, que passam a ser vistas como
adaptativas, não necessitando ser extintas por estarem equivocadas ou disfuncionais.
Damásio (2004) apud Abreu (2005) comenta ainda que, por isso muitas vezes temos
conhecimento de que nossas crenças estão erradas, mas isto provoca pouco ou nenhum efeito
sobre as nossas emoções. De nada adianta corrigir um padrão de pensamento através de novas
crenças, se isso não atingir a estrutura emocional do indivíduo. Se a emoção antecede ao
pensamento, ela o controla e o deixa refém da neurobiologia emocional.
Assim Abreu (2005) enfoca que, pela abordagem cognitiva-construtivista, as
intervenções também são focadas na vida emocional e não apenas nas crenças irracionais,
conforme proposta da linha cognitiva. As emoções não são vistas como racionais ou
irracionais, mas como adaptativas. Quando uma pessoa não se sente à vontade para expressar
determinada emoção, o que ela vivencia é a consequência de não saber lidar com esta emoção.
Com isso, as emoções secundárias surgem e são vivenciadas de modo a encobrirem as
emoções primárias, numa tentativa de se negar aquilo que está sentindo, podendo piorar ainda
mais o quadro emocional.
Desse modo, reforça que na terapia deve-se usar a emoção como elemento de partida
e de chegada, ao invés de se tentar controlá-la, tratando-a apenas como irracionalidade do
pensamento. A racionalidade deve ser utilizada neste processo elucidando um sentimento
ainda de difícil compreensão para o indivíduo.
34

3. METODOLOGIA

Neste estudo buscou-se verificar a relação da cognição com a emoção, quando


disfuncional, na geração da distorção cognitiva e procurou esclarecer de que modo ocorre essa
influência.
Para elucidar a questão, discorreu-se sobre os aspectos considerados relevantes na
identificação dessas distorções, onde se buscou aprofundar o entendimento da distorção
cognitiva Raciocínio Emocional.

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para elucidar a questão foi utilizada a abordagem qualitativa centrada em pesquisa


exploratória por meio da qual se buscou maior familiaridade com o problema, com objetivo de
torná-lo mais explícito. O procedimento técnico envolveu uma pesquisa bibliográfica sobre as
teorias cognitivas e suas influências no comportamento humano.
A pesquisa bibliográfica seguiu as orientações de Gil (2009) e foi desenvolvida com base
em livros e artigos científicos já publicados em revistas especializadas, fundamentados em bases
científicas.
A técnica utilizada para a coleta de dados neste estudo foi a pesquisa bibliográfica, com
dados de fontes secundárias que serviram para aprofundar o conhecimento a respeito das
distorções cognitivas e de que forma os mecanismos usados pelos indivíduos interferem nas
suas relações com os demais, criando ou piorando os problemas de ordem pessoal e grupal.
A análise e interpretação de dados seguiram as orientações de Trivinos (2008) e foi feita a
partir da descrição analítica, procedida de interpretação referencial que envolve a analogia de
estudos assemelhados, de maneira que os resultados obtidos são comparados com resultados
similares, para destacar pontos em comum e pontos de discordância. As respostas foram dadas de
forma global e o método utilizado foi análise de conteúdo, enfocando a terapia cognitiva
comportamental, as distorções cognitivas e as emoções, envolvendo a análise da Teoria do
Constructo Pessoal (TCP), de George Kelly; Teoria do Desamparo Aprendido e Estilo
35

Explicativo, de Martin Seligman; Terapia Racional-Emotivo-Comportamental (TREC), de Albert


Ellis; e a Teoria Cognitiva Comportamental, de Aaron Beck.
36

4 DISCUSSÃO SOBRE AS DISTORÇÕES COGNITIVAS

Conforme informações trazidas neste trabalho, a teoria da evolução demonstra a


importância das emoções no desenvolvimento das espécies e a coloca como elemento
fundamental para a adaptação social do indivíduo. Em contrapartida, o processo emocional, se
não for adequadamente modulado pela cognição, pode se tornar uma fonte promotora de
distorções cognitivas.
Muitas distorções cognitivas ocorrem por conclusões precipitadas na análise dos
fatos, rigidez e inflexibilidade mental, medos, raivas, repugnâncias, mecanismos de defesa do
ego, a exemplo da repressão, superficialidade, dentre outros mecanismos que são originados
primariamente no aceite incondicional das emoções, sem questionamento das mesmas.
Desse modo, segue-se a análise de pontos importantes na identificação das distorções
cognitivas.

4.1 PONTOS IMPORTANTES NA IDENTIFICAÇÃO DAS DISTORÇÕES COGNITIVAS

A partir das Teorias Cognitivas introduzidas no capítulo 2, podemos deduzir que as


emoções são consequências da forma como o indivíduo recebe, internaliza, processa,
interpreta e organiza as informações dentro de si mesmo, refletindo suas crenças pessoais.
Se usarmos as ideias levantadas por George Kelly na Teoria do Constructo Pessoal,
veremos que as pessoas agem de acordo com sua percepção de mundo e que cada indivíduo
utiliza um constructo pessoal para perceber e interpretar eventos.
Assim, os indivíduos utilizam de filtros mentais/cognitivos na sua manifestação
geral, seja direcionando a atenção para o que lhes interessa, ou desviando de algo que não lhes
interessa e/ou esteja discordante consigo. Existe uma tendenciosidade natural na atuação das
pessoas, a partir da sua própria subjetividade. É a partir desses mecanismos que muitas vezes
são disparados pensamentos automáticos com viés emocional, que refletem as crenças
irracionais disfuncionais.
Um aspecto importante a ser questionado ou levado em conta, é o quanto a
subjetividade de cada um interfere positiva ou negativamente nos contextos que atua e/ou o
quanto isso lhe prejudica intimamente.
37

"Perturbam aos homens não as coisas, senão a opinião que delas têm". (RANGÉ,
2001, p.34).
Sem a pretensão de ser exaustiva, mas visando dar uma ideia de mecanismos de
distorção cognitiva que fazem as pessoas distorcer a realidade, são citados elementos que,
dependendo do viés cognitivo adotado ou filtro mental, podem influenciar na manifestação do
sujeito induzindo-o, ou servindo de causa, no surgimento de possíveis distorções cognitivas, a
saber:
 Ativação dos mecanismos de defesa do ego.

Os desafios do ambiente externo e de nossas pulsões internas, que nos ameaçam por
meio da ansiedade, podem ser conflitos com pessoas íntimas ou ameaças à nossa
autoestima (constrangimento, culpa, autodecepção e assim por diante). O ego,
governado pelo princípio da realidade, tenta lidar realisticamente com o ambiente.
Entretanto, às vezes precisamos distorcer nossa realidade para proteger o ego contra
as pulsões dolorosas ou ameaçadoras que provêm do id. Os processos que distorcem
a realidade para proteger o ego são chamados mecanismos de defesa (FRIEDMAN
& SCHUSTACK, 2004, p. 80).

 Ausência de criticidade na avaliação dos fatos, falhas de lógica e


incoerências.
 Ansiedade, impulsividade e precipitação.
 Estados emocionais exagerados, apelo emocional, expectativas pessoais.
 Presença de conflitos íntimos ou com os demais, traumas, memória prévia
marcante.
 Formas de avaliação da realidade apresentando tendenciosidade,
subjetividade humana, intencionalidade questionável.
 Questões culturais e mesológicas, valores e princípios.

4.2 APROFUNDANDO O ENTENDIMENTO DA DISTORÇÃO COGNITIVA


CLASSIFICADA COMO "RACIOCÍNIO EMOCIONAL"

Analisaremos a distorção cognitiva "raciocínio emocional" trazendo exemplos do dia


a dia, no intuito de ter um vislumbre das consequências de uma distorção cognitiva.
Dentro do raciocínio emocional o sujeito é aquilo que sente ser e expressa isto na sua
argumentação.
38

Raciocínio emocional (emocionalização) - Presumir que sentimentos são


fatos. "Sinto, logo existe". Pensar que algo é verdadeiro porque tem um
sentimento (na verdade, um pensamento) muito forte a respeito. Deixar os
sentimentos guiarem a interpretação da realidade. Presumir que as reações
emocionais necessariamente refletem a situação verdadeira
Exemplos: Eu sinto que minha mulher não gosta mais de mim. Eu sinto que
meus colegas estão rindo nas minhas costas. Sinto que estou tendo um enfarto,
então deve ser verdadeiro. Sinto-me desesperado, portanto, a situação deve ser
desesperadora.Tenho medo de andar de aviões, logo deve ser perigoso voar
(KNAPP, 2004).

Conforme foi trazido no capítulo dois, podem-se citar algumas características da


mente emocional, que coadunam com a distorção cognitiva raciocínio emocional;
 Reagir de modo impulsivo e irrefletido.
 Manutenção da sensação de estar certo nas ações que realiza.
 Agir rapidamente, sem pausa para pensar.
 Desprezo a detalhes, imprecisão nas observações.
 Sensação de ter sido invadido ou tomado de determinada emoção, a exemplo do
medo, da raiva ou do amor.
Não é difícil de supor, que pessoas acometidas de um raciocínio emocional
vivenciam angústias, ansiedade e medo em escala superior à média daquelas pessoas que
conseguem ter um raciocínio pautado na análise lógica e racional dos acontecimentos.
Pode-se citar em Dalgalarrondo (2000, p. 107), a angústia de separação, que
consiste em reações emocionais, a exemplo das vividas pelas crianças quando separadas da
mãe temporariamente e reagem emocionalmente através do choro, desespero e aflição, como
se fosse algo definitivo.
A pessoa com raciocínio emocional tem baixa criticidade, pois sua capacidade de
contestação daquilo que julga ser o correto é improvável. A pessoa pensa: se acontece
comigo, é porque deve ser verdade.
A tríade cognitiva da depressão é uma forma de expressão do raciocínio emocional,
a saber: o indivíduo mantém uma visão negativa e derrotista de si, do mundo e do futuro. A
pessoa se sente triste, tem uma visão pessimista de si e consequentemente deduz que tudo
deve estar ruim.
Outro transtorno que guarda correlação com o raciocínio emocional é a Síndrome do
Pânico. Pacientes com essa síndrome sentem forte medo e não conseguem dissociar os
sintomas que invadem a mente e o corpo da realidade. Sentem como se fossem morrer, ou
39

enlouquecer, ou sofrer algum dano horrível. Entretanto, os sintomas são fruto de um


raciocínio emocional intenso que desequilibra completamente o indivíduo, fazendo-o
somatizar essas reações.
Muitos quadros de patologias e transtornos mentais podem expressar o raciocínio
emocional na conduta do indivíduo.
O temperamento emocional comentado por Young (2008) também pode predispor o
indivíduo a desenvolver distorções cognitivas a partir do seu modo de funcionamento,
despertando reações nas demais pessoas que venham confirmar os seus esquemas
disfuncionais criados ao longo da vida.
Para efeito de ilustração, citamos abaixo dois exemplos de raciocínio emocional e
suas consequências para o(s) indivíduo(s).

4.2.1 A somatização é um exemplo de doença proveniente de um raciocínio emocional

A pessoa sente que não está passando bem, logo deve estar com alguma doença
grave. Ou então, os sentimentos são muito fortes e a pessoa se sente mal, repercutindo no
corpo físico como se estivesse doente de fato.
O ato de somatizar uma doença é um exemplo de raciocínio emocional. A pessoa
acha que tem algum problema a ponto de refletir no corpo físico os sintomas, ou ainda se
sugestiona, sente sem ter nenhuma doença detectável. Raciocínio emocional: sinto, logo deve
estar acontecendo.
Esse tipo de repercussão do pensamento distorcido é exemplificado por Buchalla
(2007), no seu artigo "As doenças da emoção", quando traz a questão da somatização,
conforme citação abaixo.

A medicina psicossomática deixou de ser um ramo de segunda classe. A influência


dos sentimentos sobre a saúde física nunca foi tão pesquisada e o controle das
perturbações psíquicas entrou para os receituários clínicos. [...] Mas o que é
exatamente somatização? Trata-se de um processo pelo qual distúrbios de origem
psíquica, emocional, traduzem-se em mal-estar, com ou sem causa orgânica definida
[...] (BUCHALLA, 2007).

4.2.2 Guerras são exemplos de raciocínio emocional


40

Esse comportamento é influenciado pelo raciocínio emocional onde acredita-se que o


outro é um perigo potencial. Para eliminar o perigo “eu extermino inúmeras pessoas porque
elas significam uma ameaça para mim ou para um grupo específico, mesmo que não sejam
perigosas”.
Para exemplificar o raciocínio emocional segue trecho da notícia "Bin Laden
atribui ao Ocidente guerra contra o Islã", na qual Osama Bin Laden afirma que uma
rejeição ao governo do Hamas é uma declaração de guerra:

Osama bin Laden falando em conferência no Afeganistão, maio de 1998. A rede de


televisão Al-Jazira, do Qatar, divulgou hoje uma nova mensagem sonora atribuída
ao líder da rede terrorista Al-Qaeda, Osama Bin Laden, na qual ele afirma que a
rejeição ao governo do Hamas pelo Ocidente é uma prova de "guerra dos cruzados
sionistas contra o Islã" (NOTÍCIAS TERRA, 2006).

Desse modo, não raro muitos personagens que ocuparam e que ocupam posições
importantes na história da humanidade, possuem distorções cognitivas nas suas avaliações do
que percebem, podendo gerar transtornos diversos e prejudicar pessoas inocentes.
Na distorção cognitiva raciocínio emocional, os tipos de técnicas que podem auxiliar
o indivíduo a romper com essa sequência de pensamentos e ações disfuncionais, passam pelo
modelo cognitivo de testagem da realidade, através da análise e questionamento dos
acontecimentos, visando gerar dúvidas sobre a veracidade daquilo que se sente e pensa.
Técnicas respiratórias podem ser conjugadas em alguns casos, para ajudar no
desbloqueio emocional.
De acordo com o que foi trazido até aqui, sabe-se que memórias emocionais geram
marcadores biológicos e são mais difíceis de contrapor com o uso da lógica e razão apenas.
Assim, a dessensibilização sistemática também pode ajudar o indivíduo na testagem das suas
crenças disfuncionais a fim de eliminá-las.
Muitas distorções cognitivas podem ser conjugadas com outras na hora que a pessoa
avalia e se manifesta. Leahy (2006) sugere levantar quais outras distorções cognitivas estão
sendo usadas para sustentar as crenças do indivíduo. No caso da distorção raciocínio
emocional, ele sugere outras que podem estar atuando de maneira concomitante nas
percepções e avaliações do indivíduo, a saber: leitura mental, adivinhação, catastrofização,
desqualificação do positivo, abstração seletiva, personalização, etc., devendo o terapeuta
atentar-se para tal situação.
41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no que foi levantado neste trabalho e exposto no texto, pode-se concluir
que nem todos os fenômenos que envolvem emoção são mediados pela cognição num
primeiro instante. Existe a reação natural biológica, que pode ser desencadeada pela amígdala
diante de situações que provocam emoções, na qual ela reage antes mesmo do pensamento
racional ser ativado.
Outra pronta resposta da amígdala ocorre em casos de depressivos, por exemplo, nos
quais ela se comporta de maneira hiper-reativa, pois a baixa atividade pré-frontal faz com que
a amígdala entre em ação de modo reativo e involuntário, despertando respostas emocionais
prévias à cognição.
Conforme comentado no texto, é importante salientar sobre os processos que
acontecem de modo inconsciente mediado pelas emoções, pois podem ativar os pensamentos
automáticos e crenças irracionais existentes, ao disparar algum elemento que desperte o
processo emocional automaticamente. Isso pode gerar uma resposta já padronizada pelo
indivíduo, sem que haja questionamento da mesma ou percepção de manifestação de
determinado comportamento. Tal mecanismo do cérebro pode ser uma das vias de
manifestação das distorções cognitivas.
Vale observar a questão do efeito dos psicofármacos, que agem tal qual um
tranquilizante, amortecendo a emoção primária da ansiedade, por exemplo. Ao modificar os
padrões de estimulação neural, ele age na manifestação expressiva do indivíduo (na forma) e
não no significado das situações (no conteúdo). Isso demonstra que não pode ser o aspecto
puramente cognitivo, o responsável imediato pela emoção, pois quando o elemento de
estimulação emocional encontra-se "travado" em determinado ponto pelo efeito químico da
droga, só o processo puramente cognitivo não consegue trazer à tona a emoção.
Segundo pesquisas realizadas na última década, existem evidências de situações nas
quais a ativação emocional ocorre antes da ativação cognitiva, para depois entrar em ação o
raciocínio lógico e a avaliação da emoção desencadeada. Entretanto, tais reações ocorrem em
situações específicas, como aquelas que ativam a amígdala, a exemplo do medo ou surpresa,
ou situações onde já existem marcadores somáticos no cérebro, e isso predispõe distorções
cognitivas, pois a avaliação emocional é mais superficial e precipitada do que a avaliação
cognitiva.
42

É relevante lembrar que quando se fala de emoção, não importa se os elementos que
a desencadearam são reais, relembrados ou imaginados, pois para o cérebro, as informações
são capazes de provocar emoções, independente de serem verdadeiras ou não. Naquilo que é
capaz de despertar a emoção, o que é percebido pelos sentidos tem um peso maior se
comparado àquilo que é apenas verbalizado ou logicamente demonstrado.
Tal argumento faz pensar que na maneira de trabalhar com o paciente na psicoterapia
é importante trazer a revivência do padrão emocional desencadeado no indivíduo pela
situação que gerou o stress, só que o ajudando a mediar esta ativação emocional através do
pensamento, corrigindo as suas distorções cognitivas.
Na psicoterapia, utiliza-se da cognição – certas áreas do cérebro (córtex pré-frontal),
para acessar com lógica e razão os aspectos emocionais circunscritos a outras áreas do cérebro
(sistema límbico), na tentativa de atualizar informações relevantes que possam contribuir para
o restabelecimento emocional. Mas, a revivência emocional deve ser desencadeada através de
técnicas que possam reverter os aspectos negativos previamente vivenciados, de modo a
realizar a dessensibilização sistemática emocional, incorporando novos padrões cognitivos
menos distorcidos.
George Kelly enfoca que a apreensão da realidade não é algo absoluto e sim fruto
dos esforços para interpretar e entender os eventos e fenômenos, havendo possibilidades e
construções alternativas para se escolher. As pessoas agem de acordo com sua percepção de
mundo.
Sendo assim, supõe-se que o indivíduo que possui uma forma de perceber o mundo
mais focada nas emoções, terá uma tendência a dar esse viés nas suas análises, o que pode
predispô-lo às distorções cognitivas.
Finalizando, percebeu-se a partir deste trabalho, que a tríade cognição-emoção-
distorção cognitiva pode ocorrer de diversas formas, mas em grande parte se devem aos
mecanismos biológicos do cérebro (via rápida ou lenta), aos vieses ou erros provenientes da
percepção-interpretação dos eventos internos e externos que acontecem com o indivíduo,
influenciados pelos seus valores e expectativas pessoais. Mesmo que em algumas situações a
emoção possa ter uma manifestação independente da cognição num primeiro momento,
posteriormente ela poderá ser mediada e controlada pela mesma. Assim, a emoção estará
sempre interligada direta ou indiretamente à cognição, consciente ou inconscientemente. A
forma de correção das distorções cognitivas passa por uma via cognitiva e por uma via
emocional, sendo que a preponderância do raciocínio lógico e funcional proveniente da via
43

cognitiva é que permitirá fazer as alterações de modo a alcançar resultados satisfatórios para o
indivíduo.
44

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47

7 ANEXOS

7.1 ANEXO 1 – LISTAGEM DAS PRINCIPAIS DISTORÇÕES COGNITIVAS

Segue abaixo a listagem das 14 principais distorções cognitivas que são explicitadas
na literatura hoje, segundo Knapp (2004, p. 32-33):

1. Catastrofização - Pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em
consideração a possibilidade de outros desfechos. Acreditar que o que aconteceu ou irá
acontecer será terrível e insuportável. Eventos negativos que podem ocorrer são tratados
como catástrofes intoleráveis, em vez de serem vistos em perspectiva.
Exemplos: Perder o emprego será o fim da minha carreira. Eu não suportarei a
separação da minha mulher. Se eu perder o controle, será meu fim.
2. Raciocínio emocional (emocionalização) - Presumir que sentimentos são fatos.
"Sinto, logo existe". Pensar que algo é verdadeiro porque tem um sentimento (na
verdade, um pensamento) muito forte a respeito. Deixar os sentimentos guiarem a
interpretação da realidade. Presumir que as reações emocionais necessariamente
refletem a situação verdadeira.
Exemplos: Eu sinto que minha mulher não gosta mais de mim. Eu sinto que meus colegas
estão rindo nas minhas costas. Sinto que estou tendo um enfarto, então deve ser
verdadeiro. Sinto-me desesperado, portanto, a situação deve ser desesperadora.
3. Polarização (pensamento tudo-ou-nada, dicotômico) - Ver a situação em duas
categorias apenas, mutuamente exclusivas, em vez de um continuum. Perceber eventos
ou pessoas em termos absolutos.
Exemplos: Deu tudo errado na festa. Devo sempre tirar a nota máxima, ou serei um
fracasso. Ou algo é perfeito, ou não vale a pena. Todos me rejeitam. Tudo foi uma perda
de tempo total.
4. Abstração seletiva (visão em túnel, filtro mental, filtro negativo) - Um aspecto de
uma situação complexa é o foco da atenção, enquanto outros aspectos relevantes da
situação são ignorados. Uma parte negativa (ou mesmo neutra) de toda uma situação é
realçada, enquanto todo o restante positivo não é percebido.
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Exemplos: Veja todas as pessoas que não gostam de mim. A avaliação do meu chefe foi
ruim (focando apenas um comentário negativo e negligenciando todos os comentários
positivos].
5. Adivinhação - Prever o futuro. Antecipar problemas que talvez não venham a existir.
Expectativas negativas estabelecidas como fatos.
Exemplos: Não irei gostar da viagem. Ela não aprovará meu trabalho. Dará tudo errado.
6. Leitura mental - Presumir, sem evidências, que sabe o que os outros estão pensando,
desconsiderando outras hipóteses possíveis.
Exemplos: Ela não está gostando da minha conversa. Ele está me achando inoportuno. Ele
não gostou do meu projeto.
7. Rotulação - Colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa ou situação,
em vez de rotular a situação ou o comportamento específico.
Exemplos: Sou incompetente. Ele é uma pessoa má. Ela é burra.
8. Desqualificação do positivo - Experiências positivas e qualidades que conflituam com
a visão negativa são desvalorizadas porque "não contam" ou são triviais.
Exemplos: O sucesso obtido naquela tarefa não importa, porque foi fácil. Isso é o que
esposas devem fazer, portanto, ela ser legal comigo não conta. Eles só estão elogiando
meu trabalho porque estão com pena.
9. Minimização e maximização - Características e experiências positivas em si mesmo,
no outro ou nas situações são minimizadas, enquanto o negativo é maximizado.
Exemplos: Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem. Obter notas boas não quer
dizer que eu sou inteligente, os outros obtém notas melhores do que as minhas.
10. Personalização - Assumir a culpa ou responsabilidade por acontecimentos negativos,
falhando em ver que outras pessoas e fatores também estão envolvidos nos
acontecimentos.
Exemplos: O chefe estava com a cara amarrada, devo ter feito algo errado. E minha culpa.
Não consegui manter meu casamento, ele acabou por minha causa.
11. Hipergeneralização - Perceber num evento específico um padrão universal. Uma
característica específica numa situação específica é avaliada como acontecendo em todas
as situações.
Exemplos: Eu sempre estrago tudo. Eu não me dou bem com mulheres.
12. Imperativos ("deveria" e "tenho-que") - Interpretar eventos em termos de como as
coisas deveriam ser, em vez de simplesmente considerar como as coisas são.
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Afirmações absolutistas na tentativa de prover motivação ou modificar um


comportamento. Demandas feitas a si mesmo, aos outros e ao mundo para evitar as
consequências do não cumprimento dessas demandas.
Exemplos: Eu tenho que ter controle sobre todas as coisas. Eu devo ser perfeito em tudo
que faço. Eu não deveria ficar incomodado com minha esposa.
13. Vitimização - Considerar-se injustiçado ou não entendido. A fonte dos sentimentos
negativos é algo ou alguém, havendo recusa ou dificuldade de se responsabilizar pelos
próprios sentimentos ou comportamentos.
Exemplos: Minha esposa não entende meus sentimentos. Faço tudo pelos meus filhos e eles
não me agradecem.
14. Questionalização (E se?) - Focar o evento naquilo que poderia ter sido e não foi.
Culpar-se pelas escolhas do passado e questionar-se por escolhas futuras.
Exemplos: Se eu tivesse aceitado o outro emprego, estaria melhor agora. E se o novo
emprego não der certo? Se eu não tivesse viajado, isso não teria acontecido. (KNAPP, 2004).

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