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CURSO DE PSICOLOGIA
MARGHERITA VASCONCELLOS
FOZ DO IGUAÇU - PR
2012
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MARGHERITA VASCONCELLOS
FOZ DO IGUAÇU - PR
2012
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MARGHERITA VASCONCELLOS
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Profª. Msc. Nazaré de Oliveira Almeida – Orientadora
(Faculdade União das Américas)
___________________________________________________
Prof. Esp. Ruy Bueno de Camargo Junior
(Faculdade União das Américas)
____________________________________________________
Profª. Esp. Thais Helena Sant’Anna Lima
(Faculdade União das Américas)
4
RESUMO
O trabalho atual teve por objetivo verificar a relação da cognição com a emoção,
quando disfuncional, na geração da distorção cognitiva e buscou esclarecer de que modo
ocorre essa influência. Para elucidar a questão, discorreu-se sobre aspectos presentes na
identificação dessas distorções por meio da revisão de literatura e buscou-se aprofundar o
entendimento da distorção cognitiva “Raciocínio Emocional”. O estudo envolveu a leitura da
Teoria do Constructo Pessoal (TCP); Teoria do Desamparo Aprendido e Estilo Explicativo;
Terapia Racional Emotivo Comportamental; e Teoria Cognitivo-Comportamental. Concluiu-
se que nem todos os fenômenos que envolvem emoção são mediados pela cognição num
primeiro instante. Existe a reação natural somática, que pode ser desencadeada pela amígdala
diante de situações que provocam emoções, na qual ela reage antes mesmo do pensamento
racional ser ativado pelo córtex frontal. Esses processos acontecem de modo inconsciente
mediados pela mente emocional, podendo ativar os pensamentos automáticos e crenças
irracionais existentes ao se deparar com algum elemento que desperte o processo emocional
automaticamente. Pode também desencadear uma resposta já padronizada pelo indivíduo, sem
que haja questionamento da mesma ou a autopercepção da ativação de determinado
comportamento pessoal. Desse modo, supõe-se que esse mecanismo do cérebro pode ser uma
das vias de manifestação das distorções cognitivas.
ABSTRACT
The current work aimed to investigate the relationship of cognition and emotion, when
dysfunctional, in the generation of cognitive distortion and sought to clarify how this
influence occurs. To clarify the issue, spoke up about issues involved in identifying these
distortions through literature review and sought to deepen the understanding of cognitive
distortion "Emotional Reasoning." The study involved reading the Personal Construct Theory
(PCT), Theory of Learned Helplessness and Explanatory Style, Rational Emotive Behavioral
Therapy, and Cognitive Behavioral Theory. It was concluded that not all phenomena
involving emotion on cognition are mediated by the first moment. There is a natural reaction
somatic, which can be triggered by the amygdala in situations that provoke emotions in which
she reacts even before rational thought be enabled by the frontal cortex. These processes
happen unconsciously mediated emotional mind and can activate automatic thoughts and
irrational beliefs exist when faced with some element which triggers the emotional process
automatically. You can also trigger a response already standardized by the individual, without
questioning the same or self-perceived activation of certain personal conduct. Thus, it is
assumed that the mechanism of the brain may be one way of manifestation of cognitive
distortions.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 7
2 TEORIAS COGNITIVAS ................................................................................................................. 9
2.1 TEORIAS COGNITIVAS QUE SE RELACIONAM COM A TERAPIA COGNITIVA-
COMPORTAMENTAL E COM O PROCESSO EMOCIONAL DO INDIVÍDUO............................... 9
2.1.1 Teoria do Constructo Pessoal (TCP), de George Kelly ............................................................. 9
2.1.2 Teoria do Desamparo Aprendido e Estilo Explicativo, de Martin Seligman ........................ 11
2.1.3 Terapia Racional-Emotivo-Comportamental (TREC), de Albert Ellis................................. 12
2.1.4 Teoria Cognitiva Comportamental, de Aaron Beck ............................................................... 14
2.2 ABORDAGENS DA TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL – PENSAMENTOS
AUTOMÁTICOS, CRENÇAS IRRACIONAIS E ESQUEMAS .......................................................... 14
2.3 DISTORÇÕES COGNITIVAS E SUA CLASSIFICAÇÃO ........................................................... 16
2.4 ENTENDENDO AS EMOÇÕES, SUA RELAÇÃO COM A COGNIÇÃO E COM AS
DISTORÇÕES COGNITIVAS .............................................................................................................. 18
3. METODOLOGIA ........................................................................................................................... 34
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................................... 34
4 DISCUSSÃO SOBRE AS DISTORÇÕES COGNITIVAS .......................................................... 36
4.1 PONTOS IMPORTANTES NA IDENTIFICAÇÃO DAS DISTORÇÕES COGNITIVAS ........... 36
4.2 APROFUNDANDO O ENTENDIMENTO DA DISTORÇÃO COGNITIVA CLASSIFICADA
COMO "RACIOCÍNIO EMOCIONAL" ............................................................................................... 37
4.2.1 A somatização é um exemplo de doença proveniente de um raciocínio emocional .............. 39
4.2.2 Guerras são exemplos de raciocínio emocional ....................................................................... 39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 41
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 44
7 ANEXOS ........................................................................................................................................... 47
7.1 ANEXO 1 – LISTAGEM DAS PRINCIPAIS DISTORÇÕES COGNITIVAS .............................. 47
...................................................................................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
As teorias psicológicas existem na tentativa de explicar e trazer algo que possa ser
prático no auxílio às mudanças de comportamento, aprendizagem e desenvolvimento humano.
Nesse estudo, a escolha do tema de pesquisa está relacionada a um maior
entendimento da natureza humana e dos aspectos mais comuns que contribuem para a criação
das distorções cognitivas, com o intuito de qualificar a abordagem na Terapia Cognitiva e no
contato com as pessoas em geral, de modo a ser mais assertiva e funcional.
O trabalho de psicoterapia que é realizado na Terapia Cognitiva tem como enfoque a
conscientização quanto às distorções cognitivas mantidas pelo paciente na sustentação de suas
crenças disfuncionais e a substituição das mesmas por outras mais adaptativas e funcionais.
Os pensamentos, sentimentos e comportamentos, refletem uma matriz cognitiva prévia criada
a partir de elementos relacionados à vivência do indivíduo, tais como mesologia, cultura
vigente, expectativas pessoais, experiências de vida, acontecimentos relevantes da infância,
dentre outros. Se essa matriz estiver restringida pelas distorções cognitivas, a percepção e
interpretação dos fatos ocorridos podem ser inadequadas ao contexto, prejudiciais ao próprio
indivíduo e às relações interpessoais estabelecidas a partir daí, gerando processos emocionais
mal resolvidos, falhas de comunicação e erros de abordagem, resultando em insatisfações e
mal-entendidos para as pessoas envolvidas.
De acordo com os estudos levantados neste trabalho, sabe-se que a emoção
disfuncional ou desadaptativa possui um papel relevante na criação e/ou manutenção da
distorção cognitiva.
Cabe então uma pergunta: de que modo a emoção se relaciona com a cognição
influenciando nas distorções cognitivas?
Assim, com o intuito de refinar o entendimento das distorções cognitivas, o objetivo
geral deste trabalho é verificar a relação da cognição com a emoção, quando disfuncional, na
geração da distorção cognitiva e, os objetivos específicos são:
Discorrer sobre aspectos a serem considerados na identificação das distorções
cognitivas.
Aprofundar entendimento da distorção cognitiva "raciocínio emocional".
Pode-se considerar que:
Mais do que os fatos em si, é a forma como o indivíduo os interpreta que
influencia sua maneira de sentir e conduzir sua vida.
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2 TEORIAS COGNITIVAS
As teorias psicológicas existem na tentativa de explicar e trazer algo que possa ser
prático no auxílio às mudanças de comportamento, aprendizagem e desenvolvimento humano.
"Psicologia cognitiva trata do modo como as pessoas percebem, aprendem, recordam
e pensam sobre a informação" (STERNBERG, 2000, p. 22).
Embora cognição e emoção possam ter vias de ativação no cérebro independentes em
alguns casos, os aspectos emocionais estão interligados aos aspectos cognitivos do indivíduo.
Existe uma interação contínua cognição-emoção que pode ser adaptativa e funcional ou não.
Nos casos em que esta interação é desadaptativa e disfuncional pode haver uma contribuição
da emoção para a criação e/ou manutenção de distorções cognitivas.
As Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCC) visam eliminar as distorções
cognitivas que o indivíduo mantém a partir da reestruturação dos pensamentos disfuncionais
presentes no seu funcionamento mental. Estes têm relação direta com o sistema de crenças e
valores do indivíduo construído ao longo da vida. As crenças irracionais embasam os
esquemas desadaptativos de manifestação do sujeito.
A Teoria do Constructo Pessoal trabalha com o conceito de que cada indivíduo processa
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mentalmente, percebe e define o mundo, de maneira única, peculiar, diferente dos demais.
Logo, o constructo pessoal é a forma que cada indivíduo utiliza para perceber e interpretar
eventos.
Kelly enfatiza que as pessoas são livres para escolher a forma de ver o mundo e o
comportamento é decorrente dessas escolhas. Em qualquer momento do tempo,
nosso comportamento é determinado pela nossa construção da realidade, mas somos
livres para mudar tal construção ao longo do tempo – é a combinação entre livre
arbítrio e determinismo. (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000, p. 331).
Ainda enfoca que a apreensão da realidade não é algo absoluto e sim fruto dos
esforços para interpretar e entender os eventos e fenômenos, havendo possibilidades e
construções alternativas para se escolher. As pessoas agem de acordo com sua percepção de
mundo.
Kelly propôs a teoria do alternativismo construtivo e do foco no construtor.
O alternativismo construtivo destaca a condição de se usar de possibilidades
alternativas na forma de lidar com o mundo, a partir da mudança de perspectiva pessoal.
Podem-se construir novas rotas, sem se sentir vítima das circunstâncias ou da própria
biografia (HALL, LINDZEY & CAMPBELL, 2000; PERVIN & JOHN, 2004).
Assim, o alternativismo construtivo é uma maneira de se lidar com aquilo que está
inadequado na vida ou na manifestação do indivíduo e promover correções de rotas ou de
distorções cognitivas, por exemplo.
Para compreender o comportamento humano, deve-se reconhecer que as pessoas estão
tentando predizer e antecipar as consequências de suas ações; para compreender a personalidade
humana, deve-se identificar os constructos pessoais que os indivíduos utilizam para gerar suas
predições.
Quando se tem o foco no construtor, percebe-se que as declarações que as pessoas
fazem dizem mais sobre si do que sobre a realidade dos fatos. Não olhar para o discurso, mas
para a forma como a pessoa interpreta as coisas.
Desse modo, supõe-se que o indivíduo que possui uma forma de perceber o mundo
mais focada nas emoções, terá uma tendência a manter esse viés nas suas análises, o que pode
predispô-lo às distorções cognitivas.
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Isso vai ao encontro das ideias de Damásio (1996), quando traz a hipótese dos
marcadores somáticos que registram aprendizagens no cérebro a partir de pontos
emocionalmente significativos surgidos nas vivências dos indivíduos. De acordo com o
enfoque vivenciado, positivo ou negativo, ficará registrado este padrão tal qual um alarme do
cérebro emocional, que "apitará" quando surgir uma situação similar, influenciando nas
escolhas e decisões das futuras experiências.
Supõe-se por conta disso, que a memória emocional do desamparo aprendido somada
ao estilo explicativo pessimista adotado pelo indivíduo, possa desencadear uma ativação
negativa em maior ou menor grau pela via de manifestação rápida da memória emocional
(amígdala), que retém histórico de traumas e experiências com carga emocional forte,
predispondo o indivíduo às distorções cognitivas.
Hoje se fala muito em distorção cognitiva, mas pouco foi escrito de modo específico,
ampliando o assunto de maneira sistematizada. Mais frequentemente o conceito de distorção
cognitiva encontra-se diluído dentro da abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental
(TCC).
De maneira simplificada, pode se dizer que distorção cognitiva é uma forma de
processamento mental imprecisa e inadequada ao contexto, cujo conteúdo traz uma tendência,
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um viés, evidenciando uma ilogicidade ou uma incoerência no ato de pensar que distorce a
realidade e a análise dos fatos, gerando problemas de adaptabilidade com possíveis
repercussões negativas e sofrimento para o indivíduo que a mantém e aqueles com quem
convive.
Por trás da distorção cognitiva, pode haver um conteúdo emocional disfuncional
predominando na cognição do indivíduo, dando um teor desadaptativo aos seus pensamentos.
Existe uma listagem de 14 Distorções Cognitivas mais usuais que são divulgadas em
livros e sites da internet. Ela serve como um protocolo de avaliação que pode ser usado como
auxiliar na conceitualização cognitiva do paciente na Terapia Cognitivo-Comportamental, ou
para aqueles que tenham interesse no autoconhecimento.
Para efeito de ilustração, citaremos quatro distorções cognitivas aleatoriamente. A
lista das 14 distorções cognitivas mais usuais com suas respectivas definições retiradas de
Knapp (2004, p.32-33), está disponibilizada no Anexo 1.
Raciocínio emocional (emocionalização) – é a distorção cognitiva na qual o
indivíduo presume que algo é verdadeiro porque tem um sentimento muito forte
sobre o assunto, sem que haja o devido questionamento racional se o
pensamento corresponde ou não ao real. Deixa os sentimentos e emoções
guiarem sua interpretação da realidade. Desconsidera as evidências contrárias ao
que pensa.
Exemplos: Sinto, logo está acontecendo. Estou passando mal, sinto que estou
tendo um infarto, logo deve ser verdade. Sinto que vai dar tudo errado hoje,
logo o dia vai ser horrível.
Adivinhação – o indivíduo prevê algo que talvez nunca aconteça. Estabelece as
expectativas negativas como se fossem fatos; acha que no futuro as coisas vão
piorar.
Exemplos: Sei que meu chefe vai me demitir em breve. Sei que minha
empregada não vai fazer o que eu lhe pedi.
Leitura mental – o indivíduo "já sabe" o que as outras pessoas estão pensando,
sem admitir que possa haver outras possibilidades. Deduz sem ter evidências.
Exemplos: Ele está me achando uma chata. Ela não gostou do meu trabalho.
Ela está tramando algo contra mim.
Vitimização – o indivíduo se considera injustiçado, ou incompreendido pelos
demais. Atribui ao outro a culpabilidade do problema que vivencia, ou seja, ele é
vítima do sistema, não necessitando assumir sua parcela de responsabilidade
pelos sentimentos, comportamentos e acontecimentos consequentes.
Exemplos: Estou desse jeito por culpa dele. As pessoas vivem me explorando.
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Argumenta que a emoção não é uma sensação, mas a sensação pode provocar
emoções. O sentimento não é a circunstância que o provoca. Por exemplo, sentir-se frustrado
não é um sentimento e sim uma circunstância. Sentir que se deve fazer algo é o mesmo que
"pensar que" se deve fazer algo, diferente de se sentir algo. Distúrbios emocionais não devem
ser confundidos com emoções intensas, embora um estado patológico possa desencadear uma
emoção intensa. Por exemplo, a depressão não deve ser confundida com uma grande tristeza,
embora possa desencadeá-la.
Por definição, emoção é uma reação inata e global do organismo, relativamente
rápida e passageira; o auge da emoção surge e acaba tão logo o que a desencadeou
desaparece, perdurando por segundos apenas, na maioria das vezes. Ela refere-se à totalidade
do processo, incluindo o sentimento, as atividades cerebrais concomitantes, as reações
corporais, o impulso para a ação, as formas de expressão, etc. Para que as emoções continuem
ativas por mais tempo, o seu gatilho tem de ser continuamente evocado. A causa que
desencadeia a emoção em geral é imediata e conhecida, a menos que seja inconsciente ou
tenha relação com distúrbios orgânicos (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001; DAMÁSIO,
1996).
O estado de ânimo ou de espírito é mais duradouro do que a emoção. Pode-se mantê-
lo por dias ou meses. Nem sempre se sabe facilmente o que o provoca. Sua base é emocional
e conjugada com outros fatores que determinam sua permanência no tempo. Nesse caso, há
uma relação de afeto estabelecida através dos sentimentos e as percepções são atenuadas, se
comparadas ao forte calor das emoções (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001).
Além disso, Damásio (1996) propõe uma variação de sentimentos aos quais chamou
de sentimentos de fundo, porque tem origem em estados corporais de fundo e não em estado
emocionais. Atribui a estados do corpo entre emoções – mais estáveis, não mudam ao longo
das horas e dos dias, se mantendo contínuos, embora não seja comum que os percebamos. É
um estado geral do corpo – é uma resposta que está relacionada ao fato de se sentir bem ou
não, prazer e dor.
Dalgalarrondo (2000, p. 100 e 101), também nos ajuda a ampliar o entendimento da
dimensão dos sentimentos, trazendo as seguintes definições:
Humor ou estado de ânimo – é o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional
basal e difuso no qual se encontra o indivíduo em determinado momento. É a
disposição afetiva de fundo que penetra a experiência psíquica.
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Há uma gradação entre controle racional e emocional da mente; quanto mais intenso
o sentimento, mais dominante é a mente emocional – e mais inoperante, a racional
[...] Essas duas mentes, a emocional e a racional, na maior parte do tempo operam
em estreita harmonia, [...] para que nos orientemos no mundo. Em geral há um
equilíbrio entre as mentes emocional e racional, com a emoção alimentando e
informando as operações da mente racional, e a mente racional refinando e, às vezes,
vetando a entrada das emoções. Mas são faculdades semi-independentes, cada uma,
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em si. O seu efeito será negativo e infeliz, em curto ou longo prazo, sobre nós mesmos,
somente se forem distorcidas, negadas ou eliminadas. (MARTINS, 2004; GOLEMAN, 2001).
Ao analisar a inibição da vivência das emoções, Martins (2004) nos alerta que os
indivíduos que são impedidos de manifestar as emoções primárias durante o seu processo
educacional e de socialização cultural, assumem formas secundárias e distorcidas de
expressão dos sentimentos e das emoções.
Continuando, uma vez contida uma emoção primária, ela se acumulará e será
transferida às próximas ocorrências na vida do indivíduo, comprometendo a sua capacidade
de avaliação da realidade adequadamente, ou seja, sem ter distorções. Por exemplo, uma
pessoa com raiva, mas que se sente impedida de descarregá-la através do choro, ou de
expressar o seu descontentamento, a qualquer descuido ou pequena ofensa dos demais numa
situação posterior, pode sentir como se recebesse uma afronta.
Orienta que, quando o indivíduo não experiencia determinada emoção por não se
sentir à vontade para manifestá-la, ele irá se deparar com sua inabilidade em lidar com esta
emoção. Exemplificando, as emoções podem ser camufladas por outras: uma sensação de
raiva pode desencadear uma tristeza ou até mesmo uma depressão, se o indivíduo não souber
lidar com ela ou expressá-la corretamente no momento adequado. Isso poderá se transformar
numa depressão e, nesse caso, a depressão será a camuflagem de algo que o indivíduo não
soube trabalhar dentro de si. Logo, uma emoção pode se transformar em outra, dificultando a
identificação daquilo que foi desencadeado inicialmente.
Martins (2004) alerta que equívocos na resposta emocional ou na avaliação podem
gerar distúrbios, neuroses, estresse, doenças, etc. Esses equívocos podem também ser
ativadores de distorções cognitivas.
Assim, nem sempre a emoção passa pela via do pensamento num primeiro instante.
Há situações na vida que o indivíduo tem tempo para ativar os seus processos cognitivos
observando, reunindo dados, analisando e raciocinando antes de chegar a alguma conclusão se
há perigo, ofensa, etc. Mas existem outras situações em que não há tempo hábil para entrar em
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cena a atividade mental, exigindo uma resposta emocional imediata para ser eficiente. Neste
caso, as estruturas biológicas inatas são ativadas levando em conta os resultados de sua
aprendizagem anterior, disparando uma reação imediata, quase automática, usando o
julgamento sensorial por ser direto, imediato e não refletido. Tanto a avaliação, quanto a
reação emocional podem ser corretas ou incorretas, adequadas ou inadequadas (MARTINS,
2004; GOLEMAN, 2001).
Só recentemente surgiu um modelo científico sobre a mente emocional versus mente
racional, trazendo explicações do motivo pelo qual o indivíduo é racional em determinados
momentos e irracional em outros, salientando que a lógica da razão e da emoção é diferente
uma da outra. Trouxe uma lista das características que distinguem emoção dos processos
racionais, a partir de observações levantadas nos estudos de Paul Ekman (diretor do
Laboratório de Interação Humana da Califórnia) e também de Seymour Epstein (psicólogo
clínico da Universidade de Massachusetts) (GOLEMAN, 2001; DAMÁSIO, 1996).
Assim, são trazidas abaixo questões importantes a saber:
A mente emocional age de maneira muito mais rápida do que a racional, de
modo impulsivo e irrefletido, antes mesmo de haver uma análise através do
pensamento, correlacionada à ação. O tempo de disparo entre uma emoção e a
avaliação da percepção de um acontecimento pela mente emocional é da ordem
de milésimos de segundo.
Na mente emocional existe uma sensação de estar certa nas percepções e ações
que ela realiza. Quando surge o questionamento do motivo pelo qual se fez algo,
é que entra em ação a mente racional e o indivíduo se apercebe do que
aconteceu, porém não com a mesma agilidade da mente emocional.
Sabendo que a emoção é proveniente de um impulso biológico que direciona
para a ação, o seu modo de funcionamento bastante veloz perde em precisão na
percepção dos fatos, as impressões são baseadas nos aspectos globais mais
salientes, captando tudo num relance, dispensando a análise pormenorizada dos
detalhes, de modo a se ter uma reação imediata e emergencial se necessária, tal
qual um radar para o perigo. Esse modo de funcionamento, por ser impreciso,
pode gerar equívocos indutores de erros.
Em função da mente racional ser mais lenta para registrar os fatos e agir, se
comparada com a mente emocional, antes mesmo do indivíduo se dar conta
racionalmente, ele já pode estar sob o efeito de uma emoção. Desse modo, nas
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Sabe-se desse modo, que um trauma vivenciado nos primeiros anos de vida, torna-se
um marcador somático para o indivíduo, registrando alterações permanentes nas estruturas
cerebrais do indivíduo (MARTINS, 2004; CALLEGARO 2005; YOUNG, 2008; DAMÁSIO,
1996).
A potenciação neuronal de longo prazo podem promover modificações permanentes
no cérebro através de mudanças neuroquímicas complexas e mais sutis, na amígdala e no
hipocampo, áreas cerebrais vinculadas às emoções (MARTINS, 2004).
As mudanças envolvem três áreas do cérebro, a saber:
1. O eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal (HHS) e o sistema do fator de
liberação de corticotropina (FLC).
2. O sistema noradrenérgico (da produção de noradrenalina).
3. O hipocampo e a amígdala.
Sabe-se que o hipocampo é um componente do sistema límbico envolvido com a
memória e com os distúrbios emocionais.
O trauma emocional precoce parece provocar uma hiperatividade de longa duração,
ou mesmo permanente, nos circuitos cerebrais produtores de FLC e noradrenalina, com os
consequentes efeitos neurotóxicos sobre o hipocampo, causando uma diminuição do seu
volume (perda neuronal) e, sobre a amígdala, tornando-a hiperativa.
Aparelhos sofisticados de medição vêm comprovando que não existe sentimento sem
alguma alteração corporal, pois o sentimento está diretamente relacionado ao valor da
situação para o sujeito, o que altera de algum modo a sua bioquímica cerebral, gerando uma
resposta corporal.
Os psicofármacos utilizados na psiquiatria, tal qual um tranquilizante para inibir a
ansiedade do indivíduo, por exemplo, atuam modificando o padrão neural do cérebro e até
certo ponto abrem um questionamento sobre a relação cognição-emoção, a saber:
"[...] Este princípio explica a fraqueza da "razão" diante da força da emoção. Nos
casos de ansiedade fóbica, é notória a inutilidade de se tentar, apenas com palavras,
convencer o fóbico da inexistência do perigo que ele supõe existir" (MARTINS,
2004, p. 250).
num primeiro momento pela cognição. Demonstra que o sistema emocional funciona de modo
independente do sistema cognitivo consciente. Ele refere-se a memórias emocionais
inconscientes no sentido de memórias que não estão disponíveis à consciência. Exemplifica a
situação com casos que ficaram famosos e, dentre eles, cita uma paciente de Claparède que
sofria de amnésia severa. A cada dia teria de ser reapresentada ao seu médico, pois não o
reconhecia. Um dia o médico colocou um pequeno alfinete na mão e quando a paciente
chegou ele foi cumprimentá-la. Ela recebeu uma alfinetada na mão. Ele saiu da sala e depois
retornou perguntando-lhe se ela já o havia visto antes. Ela não o reconheceu. Ele então
estendeu a mão para cumprimentá-la e ela imediatamente recuou a sua mão. Ela tinha um
conhecimento implícito do fato, mas não era capaz de se lembrar da experiência que o tinha
provocado. A amígdala estava formando as suas memórias, mas o sistema de memória do
lobo temporal (hipocampal) não o estava (LeDOUX, 1987; 1995; 1996; apud MARTINS,
2004).
Assim as pessoas fazem todo tipo de coisas por motivos dos quais não tem
consciência, porque o comportamento é produzido por sistemas cerebrais que operam
inconscientemente. As emoções podem ser desencadeadas sem a participação da atividade
avaliadora cortical, por estímulos que passam diretamente do tálamo para a amígdala.
Ainda discorre que a conexão da amígdala com o córtex não é simétrica. A amígdala
projeta fibras de volta para o córtex de modo mais intenso do que o córtex para a amígdala.
Desse modo, a capacidade da amígdala de controlar o córtex é maior do que a capacidade do
córtex de controlar a amígdala. Por isso é tão difícil, por exemplo, controlar uma ansiedade já
desencadeada. A amígdala pode controlar o córtex muito facilmente, porque tudo o que tem
de fazer é ativar muitas áreas de maneira genérica. Mas, para o córtex, desativar todas aquelas
áreas de forma seletiva é muito mais difícil (MARTINS, 2004, DAMÁSIO, 1996).
intervenções da mente racional nos seus momentos de pico. Reforça que é complicado fazer
com que uma pessoa raciocine quando movida por alguma perturbação emocional. Os
sentimentos se autojustificam, se tornando provas convincentes.
Será que tal procedimento da mente emocional poderia estar relacionado com a
distorção cognitiva "raciocínio emocional" e outras cujo teor emocional é ilógico?
Por esses motivos, as terapias predominantemente verbais são um processo longo e
difícil. Além de ser impossível o acesso a determinadas memórias, o córtex está usando um
canal imperfeito para tentar controlar a amígdala. Ao referenciar LeDoux, afirma que não se
pode através de técnicas psicológicas, de apoio ou de terapia, trazer de volta essas memórias
simplesmente porque não é possível tomar uma memória que não foi codificada através do
hipocampo e transformá-la em memória hipocampal. A amígdala e o hipocampo codificam
seus sistemas de modo diferente, impossibilitando transpor uma informação da amígdala num
formato que o hipocampo consiga ler (MARTINS, 2004; CALLEGARO, 2005).
Ao afirmar que o hipocampo e a amígdala são estruturas límbicas responsáveis por
boa parte da aprendizagem e memória do cérebro, Goleman (2001) também valida a
importância das emoções. Ressalta que a amígdala funciona como um depósito de memória
emocional, que se for retirada, incapacita o indivíduo de fazer avaliações emocionais, bem
como de ter experiências relacionais envolvendo sentimentos, mantendo-o indiferente às
demais pessoas.
Apesar da dificuldade de recuperação psicológica e física dos traumas emocionais,
novos estudos demonstram que a psicoterapia consegue reconfigurar circuitos cerebrais nos
quais estejam armazenadas suas memórias, revertendo positivamente seus efeitos sobre o
indivíduo. Assim, a restauração do sistema emocional pode ser alcançada sendo necessário
trazer os ativadores emocionais à consciência, para desbloquear os processos emocionais que
não conseguem se manifestar, porque foram distorcidos. A correção das distorções cognitivas
resulta na eliminação dos ativadores emocionais negativos e, portanto, das emoções
desagradáveis.
Nesse aspecto, a emoção distingue-se claramente da cognição. A cognição cresce
sempre, com a experiência. Tudo aquilo que aprendemos intelectualmente, contribui para o
crescimento permanente do acervo pessoal. Mas a emoção natural é passageira, ou seja, é
sempre nova. Um problema nos distúrbios emocionais é exatamente a perda dessa capacidade
do sistema emocional de retornar ao seu estado original depois de vivida uma emoção. Um
31
dos objetivos da psicoterapia é ajudar o indivíduo a resgatar esta capacidade de "zerar" o seu
sistema emocional (MARTINS, 2004).
Damásio (2004) apud Callegaro (2011) nos diz que o afloramento dos sentimentos
morais, fruto do processamento emocional inconsciente, pode se tornar consciente e enviesar
o nosso sistema de crenças, impelindo às distorções cognitivas. Tais sentimentos elaboram
justificavas e racionalizações direcionando a cognição consciente, distorcendo conceitos do
que é justo da maneira que lhe convém, deixando o indivíduo convicto de que agiu bem.
A maior parte dos cientistas cognitivos hoje dá ênfase aos processos inconscientes ao
invés dos conscientes. A neuropsicologia traz muitos exemplos de influência do
processamento inconsciente no comportamento humano, a partir de estudos com pacientes
lesados em determinadas áreas do cérebro (CALLEGARO, 2011, DAMÁSIO, 1996).
Martins (2004) diz que é perfeitamente concebível, a partir do que se sabe hoje em
neurociência, que alguém possa passar por um trauma e continuar sofrendo suas
consequências emocionais mesmo sem ter nenhuma memória consciente dele.
As emoções e os sentimentos podem ser eficazes, mesmo quando mantidos
inconscientes. Existem muitas influências inconscientes na mente e no comportamento
humano e isso pode ser percebido através da psicologia social. (DAMÁSIO, 2000).
Também demonstrou a importância da presença dos processos emocionais
favorecendo a fixação das memórias pelo cérebro, facilitando a recordação de fatos novos.
Para exemplificar cita que, se contarmos duas histórias, cuja diferença consiste no alto teor
emocional de uma em relação a outra, o ouvinte se lembrará de um número bem maior de
detalhes daquela que tem o conteúdo emocional relevante.
Young et al (2003) apud Callegaro (2005) ressalta o fato de que os aspectos do
pensamento consciente sobre a experiência traumática e seus respectivos emocionais são
estocados em diferentes sistemas de memória cerebral, dificultando a modificação dos
esquemas em psicoterapia, quando usados apenas métodos cognitivos. Na mente, muitos dos
componentes cognitivos relacionados ao trauma se desenvolvem mais tarde, quando as
emoções e sensações corporais já estão armazenadas na memória emocional da amígdala.
Callegaro (2011) em seu livro "o novo inconsciente" traz a questão da atualização de
Aaron Beck, fundador da terapia cognitiva, em relação aos novos caminhos das neurociências.
Diz que Beck (2008) fez a proposição de expandir seu modelo cognitivo inicial que chamou
de modelo desenvolvimental, no qual incorpora os pensamentos automáticos, as distorções
cognitivas, os pensamentos disfuncionais e os vieses no processamento de informações,
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Greenberg & Safran (1987) apud Abreu (2005), argumenta que na terapia cognitiva
de Beck, para se compreender os significados pessoais, se busca controlar os pensamentos
automáticos irracionais usando o raciocínio lógico. No modelo cognitivo-construtivista leva-
se em conta as impressões corporais (sensoriais) somadas às desenvolvidas pelo raciocínio.
nos diz que primeiramente sentimos algo, para em seguida pensarmos alguma coisa a esse
respeito. Esta premissa coloca em destaque as emoções, que passam a ser vistas como
adaptativas, não necessitando ser extintas por estarem equivocadas ou disfuncionais.
Damásio (2004) apud Abreu (2005) comenta ainda que, por isso muitas vezes temos
conhecimento de que nossas crenças estão erradas, mas isto provoca pouco ou nenhum efeito
sobre as nossas emoções. De nada adianta corrigir um padrão de pensamento através de novas
crenças, se isso não atingir a estrutura emocional do indivíduo. Se a emoção antecede ao
pensamento, ela o controla e o deixa refém da neurobiologia emocional.
Assim Abreu (2005) enfoca que, pela abordagem cognitiva-construtivista, as
intervenções também são focadas na vida emocional e não apenas nas crenças irracionais,
conforme proposta da linha cognitiva. As emoções não são vistas como racionais ou
irracionais, mas como adaptativas. Quando uma pessoa não se sente à vontade para expressar
determinada emoção, o que ela vivencia é a consequência de não saber lidar com esta emoção.
Com isso, as emoções secundárias surgem e são vivenciadas de modo a encobrirem as
emoções primárias, numa tentativa de se negar aquilo que está sentindo, podendo piorar ainda
mais o quadro emocional.
Desse modo, reforça que na terapia deve-se usar a emoção como elemento de partida
e de chegada, ao invés de se tentar controlá-la, tratando-a apenas como irracionalidade do
pensamento. A racionalidade deve ser utilizada neste processo elucidando um sentimento
ainda de difícil compreensão para o indivíduo.
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3. METODOLOGIA
"Perturbam aos homens não as coisas, senão a opinião que delas têm". (RANGÉ,
2001, p.34).
Sem a pretensão de ser exaustiva, mas visando dar uma ideia de mecanismos de
distorção cognitiva que fazem as pessoas distorcer a realidade, são citados elementos que,
dependendo do viés cognitivo adotado ou filtro mental, podem influenciar na manifestação do
sujeito induzindo-o, ou servindo de causa, no surgimento de possíveis distorções cognitivas, a
saber:
Ativação dos mecanismos de defesa do ego.
Os desafios do ambiente externo e de nossas pulsões internas, que nos ameaçam por
meio da ansiedade, podem ser conflitos com pessoas íntimas ou ameaças à nossa
autoestima (constrangimento, culpa, autodecepção e assim por diante). O ego,
governado pelo princípio da realidade, tenta lidar realisticamente com o ambiente.
Entretanto, às vezes precisamos distorcer nossa realidade para proteger o ego contra
as pulsões dolorosas ou ameaçadoras que provêm do id. Os processos que distorcem
a realidade para proteger o ego são chamados mecanismos de defesa (FRIEDMAN
& SCHUSTACK, 2004, p. 80).
A pessoa sente que não está passando bem, logo deve estar com alguma doença
grave. Ou então, os sentimentos são muito fortes e a pessoa se sente mal, repercutindo no
corpo físico como se estivesse doente de fato.
O ato de somatizar uma doença é um exemplo de raciocínio emocional. A pessoa
acha que tem algum problema a ponto de refletir no corpo físico os sintomas, ou ainda se
sugestiona, sente sem ter nenhuma doença detectável. Raciocínio emocional: sinto, logo deve
estar acontecendo.
Esse tipo de repercussão do pensamento distorcido é exemplificado por Buchalla
(2007), no seu artigo "As doenças da emoção", quando traz a questão da somatização,
conforme citação abaixo.
Desse modo, não raro muitos personagens que ocuparam e que ocupam posições
importantes na história da humanidade, possuem distorções cognitivas nas suas avaliações do
que percebem, podendo gerar transtornos diversos e prejudicar pessoas inocentes.
Na distorção cognitiva raciocínio emocional, os tipos de técnicas que podem auxiliar
o indivíduo a romper com essa sequência de pensamentos e ações disfuncionais, passam pelo
modelo cognitivo de testagem da realidade, através da análise e questionamento dos
acontecimentos, visando gerar dúvidas sobre a veracidade daquilo que se sente e pensa.
Técnicas respiratórias podem ser conjugadas em alguns casos, para ajudar no
desbloqueio emocional.
De acordo com o que foi trazido até aqui, sabe-se que memórias emocionais geram
marcadores biológicos e são mais difíceis de contrapor com o uso da lógica e razão apenas.
Assim, a dessensibilização sistemática também pode ajudar o indivíduo na testagem das suas
crenças disfuncionais a fim de eliminá-las.
Muitas distorções cognitivas podem ser conjugadas com outras na hora que a pessoa
avalia e se manifesta. Leahy (2006) sugere levantar quais outras distorções cognitivas estão
sendo usadas para sustentar as crenças do indivíduo. No caso da distorção raciocínio
emocional, ele sugere outras que podem estar atuando de maneira concomitante nas
percepções e avaliações do indivíduo, a saber: leitura mental, adivinhação, catastrofização,
desqualificação do positivo, abstração seletiva, personalização, etc., devendo o terapeuta
atentar-se para tal situação.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi levantado neste trabalho e exposto no texto, pode-se concluir
que nem todos os fenômenos que envolvem emoção são mediados pela cognição num
primeiro instante. Existe a reação natural biológica, que pode ser desencadeada pela amígdala
diante de situações que provocam emoções, na qual ela reage antes mesmo do pensamento
racional ser ativado.
Outra pronta resposta da amígdala ocorre em casos de depressivos, por exemplo, nos
quais ela se comporta de maneira hiper-reativa, pois a baixa atividade pré-frontal faz com que
a amígdala entre em ação de modo reativo e involuntário, despertando respostas emocionais
prévias à cognição.
Conforme comentado no texto, é importante salientar sobre os processos que
acontecem de modo inconsciente mediado pelas emoções, pois podem ativar os pensamentos
automáticos e crenças irracionais existentes, ao disparar algum elemento que desperte o
processo emocional automaticamente. Isso pode gerar uma resposta já padronizada pelo
indivíduo, sem que haja questionamento da mesma ou percepção de manifestação de
determinado comportamento. Tal mecanismo do cérebro pode ser uma das vias de
manifestação das distorções cognitivas.
Vale observar a questão do efeito dos psicofármacos, que agem tal qual um
tranquilizante, amortecendo a emoção primária da ansiedade, por exemplo. Ao modificar os
padrões de estimulação neural, ele age na manifestação expressiva do indivíduo (na forma) e
não no significado das situações (no conteúdo). Isso demonstra que não pode ser o aspecto
puramente cognitivo, o responsável imediato pela emoção, pois quando o elemento de
estimulação emocional encontra-se "travado" em determinado ponto pelo efeito químico da
droga, só o processo puramente cognitivo não consegue trazer à tona a emoção.
Segundo pesquisas realizadas na última década, existem evidências de situações nas
quais a ativação emocional ocorre antes da ativação cognitiva, para depois entrar em ação o
raciocínio lógico e a avaliação da emoção desencadeada. Entretanto, tais reações ocorrem em
situações específicas, como aquelas que ativam a amígdala, a exemplo do medo ou surpresa,
ou situações onde já existem marcadores somáticos no cérebro, e isso predispõe distorções
cognitivas, pois a avaliação emocional é mais superficial e precipitada do que a avaliação
cognitiva.
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É relevante lembrar que quando se fala de emoção, não importa se os elementos que
a desencadearam são reais, relembrados ou imaginados, pois para o cérebro, as informações
são capazes de provocar emoções, independente de serem verdadeiras ou não. Naquilo que é
capaz de despertar a emoção, o que é percebido pelos sentidos tem um peso maior se
comparado àquilo que é apenas verbalizado ou logicamente demonstrado.
Tal argumento faz pensar que na maneira de trabalhar com o paciente na psicoterapia
é importante trazer a revivência do padrão emocional desencadeado no indivíduo pela
situação que gerou o stress, só que o ajudando a mediar esta ativação emocional através do
pensamento, corrigindo as suas distorções cognitivas.
Na psicoterapia, utiliza-se da cognição – certas áreas do cérebro (córtex pré-frontal),
para acessar com lógica e razão os aspectos emocionais circunscritos a outras áreas do cérebro
(sistema límbico), na tentativa de atualizar informações relevantes que possam contribuir para
o restabelecimento emocional. Mas, a revivência emocional deve ser desencadeada através de
técnicas que possam reverter os aspectos negativos previamente vivenciados, de modo a
realizar a dessensibilização sistemática emocional, incorporando novos padrões cognitivos
menos distorcidos.
George Kelly enfoca que a apreensão da realidade não é algo absoluto e sim fruto
dos esforços para interpretar e entender os eventos e fenômenos, havendo possibilidades e
construções alternativas para se escolher. As pessoas agem de acordo com sua percepção de
mundo.
Sendo assim, supõe-se que o indivíduo que possui uma forma de perceber o mundo
mais focada nas emoções, terá uma tendência a dar esse viés nas suas análises, o que pode
predispô-lo às distorções cognitivas.
Finalizando, percebeu-se a partir deste trabalho, que a tríade cognição-emoção-
distorção cognitiva pode ocorrer de diversas formas, mas em grande parte se devem aos
mecanismos biológicos do cérebro (via rápida ou lenta), aos vieses ou erros provenientes da
percepção-interpretação dos eventos internos e externos que acontecem com o indivíduo,
influenciados pelos seus valores e expectativas pessoais. Mesmo que em algumas situações a
emoção possa ter uma manifestação independente da cognição num primeiro momento,
posteriormente ela poderá ser mediada e controlada pela mesma. Assim, a emoção estará
sempre interligada direta ou indiretamente à cognição, consciente ou inconscientemente. A
forma de correção das distorções cognitivas passa por uma via cognitiva e por uma via
emocional, sendo que a preponderância do raciocínio lógico e funcional proveniente da via
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cognitiva é que permitirá fazer as alterações de modo a alcançar resultados satisfatórios para o
indivíduo.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI974624-EI308,00.html>.
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explicar o inexplicável?. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 2003.
YOUNG, Jeffrey E.; KLOSKO, Janet S.; WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do esquema:
guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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7 ANEXOS
Segue abaixo a listagem das 14 principais distorções cognitivas que são explicitadas
na literatura hoje, segundo Knapp (2004, p. 32-33):
1. Catastrofização - Pensar que o pior de uma situação irá acontecer, sem levar em
consideração a possibilidade de outros desfechos. Acreditar que o que aconteceu ou irá
acontecer será terrível e insuportável. Eventos negativos que podem ocorrer são tratados
como catástrofes intoleráveis, em vez de serem vistos em perspectiva.
Exemplos: Perder o emprego será o fim da minha carreira. Eu não suportarei a
separação da minha mulher. Se eu perder o controle, será meu fim.
2. Raciocínio emocional (emocionalização) - Presumir que sentimentos são fatos.
"Sinto, logo existe". Pensar que algo é verdadeiro porque tem um sentimento (na
verdade, um pensamento) muito forte a respeito. Deixar os sentimentos guiarem a
interpretação da realidade. Presumir que as reações emocionais necessariamente
refletem a situação verdadeira.
Exemplos: Eu sinto que minha mulher não gosta mais de mim. Eu sinto que meus colegas
estão rindo nas minhas costas. Sinto que estou tendo um enfarto, então deve ser
verdadeiro. Sinto-me desesperado, portanto, a situação deve ser desesperadora.
3. Polarização (pensamento tudo-ou-nada, dicotômico) - Ver a situação em duas
categorias apenas, mutuamente exclusivas, em vez de um continuum. Perceber eventos
ou pessoas em termos absolutos.
Exemplos: Deu tudo errado na festa. Devo sempre tirar a nota máxima, ou serei um
fracasso. Ou algo é perfeito, ou não vale a pena. Todos me rejeitam. Tudo foi uma perda
de tempo total.
4. Abstração seletiva (visão em túnel, filtro mental, filtro negativo) - Um aspecto de
uma situação complexa é o foco da atenção, enquanto outros aspectos relevantes da
situação são ignorados. Uma parte negativa (ou mesmo neutra) de toda uma situação é
realçada, enquanto todo o restante positivo não é percebido.
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Exemplos: Veja todas as pessoas que não gostam de mim. A avaliação do meu chefe foi
ruim (focando apenas um comentário negativo e negligenciando todos os comentários
positivos].
5. Adivinhação - Prever o futuro. Antecipar problemas que talvez não venham a existir.
Expectativas negativas estabelecidas como fatos.
Exemplos: Não irei gostar da viagem. Ela não aprovará meu trabalho. Dará tudo errado.
6. Leitura mental - Presumir, sem evidências, que sabe o que os outros estão pensando,
desconsiderando outras hipóteses possíveis.
Exemplos: Ela não está gostando da minha conversa. Ele está me achando inoportuno. Ele
não gostou do meu projeto.
7. Rotulação - Colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa ou situação,
em vez de rotular a situação ou o comportamento específico.
Exemplos: Sou incompetente. Ele é uma pessoa má. Ela é burra.
8. Desqualificação do positivo - Experiências positivas e qualidades que conflituam com
a visão negativa são desvalorizadas porque "não contam" ou são triviais.
Exemplos: O sucesso obtido naquela tarefa não importa, porque foi fácil. Isso é o que
esposas devem fazer, portanto, ela ser legal comigo não conta. Eles só estão elogiando
meu trabalho porque estão com pena.
9. Minimização e maximização - Características e experiências positivas em si mesmo,
no outro ou nas situações são minimizadas, enquanto o negativo é maximizado.
Exemplos: Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem. Obter notas boas não quer
dizer que eu sou inteligente, os outros obtém notas melhores do que as minhas.
10. Personalização - Assumir a culpa ou responsabilidade por acontecimentos negativos,
falhando em ver que outras pessoas e fatores também estão envolvidos nos
acontecimentos.
Exemplos: O chefe estava com a cara amarrada, devo ter feito algo errado. E minha culpa.
Não consegui manter meu casamento, ele acabou por minha causa.
11. Hipergeneralização - Perceber num evento específico um padrão universal. Uma
característica específica numa situação específica é avaliada como acontecendo em todas
as situações.
Exemplos: Eu sempre estrago tudo. Eu não me dou bem com mulheres.
12. Imperativos ("deveria" e "tenho-que") - Interpretar eventos em termos de como as
coisas deveriam ser, em vez de simplesmente considerar como as coisas são.
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