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CENTRO TECNOLÓGICO
ANDRÉ PROVENSI
FLORIANÓPOLIS
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO
ANDRÉ PROVENSI
FLORIANÓPOLIS
2020
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automá-
tica da Biblioteca Universitária da UFSC.
Provensi, André
Superfícies Microaletadas Resfriadas por Sprays em um Ciclo de Refrigeração
Compacto: Fabricação e Avaliação Experimental do Desempenho Térmico / André
Provensi ; orientador, Jader Riso Barbosa Jr. , coorientador, Milton Pereira,
2020.
128 p.
Inclui referências.
O presente trabalho em nível de Mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora
composta pelos seguintes membros
Prof. Fábio Antonio Xavier, Dr. Eng. (Universidade Federal de Santa Catarina)
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado
adequado para obtenção do título de “Mestre em Engenharia Mecânica”.
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
Agradeço ao Prof. Jader, pelas inúmeras contribuições e grande auxílio durante o acompanha-
mento e desenvolvimento do trabalho e por ter participado da minha formação acadêmica desde
Ao Prof. Milton, pelo auxílio na fabricação das superfícies e à equipe do LMP pela disponibi-
Ao colegas de mestrado e do POLO, em especial Marcus Vinícius e Rafael Lima pelas suges-
À minha família, pelo apoio e suporte durante mais uma etapa da minha formação.
.
RESUMO
Nas últimas décadas, o grande crescimento da energia dissipada por componentes ele-
trônicos e da miniaturização de sistemas eletrônicos têm resultado em altos fluxos de calor que
necessitam ser removidos. O controle térmico apropriado contribui para o funcionamento se-
guro e aumento da vida útil de sistemas eletrônicos e seus componentes. Técnicas de resfria-
mento que se baseiam em mudança de fase como jatos, sprays e ebulição convectiva são apro-
priadas para a remoção de altos fluxos de calor e, quando associadas a um sistema de refrige-
ração, aliam a remoção de altos fluxos de calor com a transferência de calor a uma temperatura
menor que a temperatura ambiente. Para intensificar a eficiência da transferência de calor, pode-
se empregar modificações na superfície a ser resfriada. Modificações como superfícies estrutu-
radas, porosas e revestimento químico podem contribuir para aumentar a molhabilidade, au-
mentar o número de sítios de nucleação e aumentar a área de troca de calor, contribuindo, jun-
tamente com a mudança de fase, para elevar os valores de fluxo de calor que devem ser remo-
vidos. Nesse sentido, esta dissertação tem por objetivo avaliar a influência de superfícies mo-
dificadas sobre a transferência de calor de um sistema de refrigeração utilizando spray cooling.
A modificação realizada consiste em fabricar microaletas em uma superfície a qual é aquecida
e incide um spray que é formado pela colisão de dois jatos oblíquos. A superfície aquecida fica
localizada dentro de uma unidade de resfriamento que é integrado a um sistema de refrigeração
compacto que opera com um compressor linear e utiliza R-134a como fluido refrigerante. Fo-
ram fabricadas aletas com diferentes dimensões, e é avaliada a influência sobre a transferência
de calor e sobre o desempenho termodinâmico do sistema de refrigeração. A interação do spray
com as superfícies modificadas é observada com uma câmera de alta velocidade, possibilitando
identificar os fenômenos que ocorrem no interior da unidade de resfriamento. A utilização de
microaletas melhorou a distribuição do filme líquido, aumentou o fluxo de calor crítico em até
37,7 % e o coeficiente de transferência de calor máximo em até 3 vezes. A temperatura de
superfície foi reduzida e a performance termodinâmica do sistema de refrigeração não foi afe-
tada.
In the last decades, the great increase in energy dissipation by electronics and the min-
iaturization of electronic systems has resulted in high heat fluxes that need to be removed.
Proper thermal management contributes to the safe operation and increases the lifespan of elec-
tronic systems. Cooling techniques based on phase change such as jets, sprays and flow boiling
are proper to remove high heat fluxes, and when associated with refrigeration systems, combine
high heat flux removal and heat exchange at a temperature lower than the room temperature. In
order to intensify the heat exchange, it is possible to apply surface modification on the surface
to be cooled. Modifications such as structured surfaces, porous and chemical coating may in-
crease wettability, number of nucleation sites and the heat transfer area, contributing, alongside
with phase change, to enhance the values of heat flux that must be removed. In this context, this
study pursues to evaluate the influence of modified surfaces on the heat transfer of a refrigera-
tion system using spray cooling. The modification adopted herein consists of producing micro-
fins on a heated surface that is cooled by a spray formed by two colliding jets. The heated
surface is located inside a cooling unity integrated to a compact refrigeration system that works
with a linear compressor and utilizes R-134a as refrigerant fluid. Fins with different dimensions
were produced and its influence on the heat transfer and the refrigeration system thermody-
namic performance is evaluated. The interaction between spray and modified surfaces is ob-
served by a high-speed camera, being possible to identify the phenomena occurring inside the
cooling unity. Applying microfins improved the liquid film distribution, increased the critical
heat flux up to 37,7 % and the maximum heat transfer coefficient up to three times. The surface
temperature was reduced and the thermodynamic performance of the refrigeration system was
not affected.
Keywords: Spray cooling. Modified surfaces. Compact refrigeration system. High heat
flux removal.
LISTA DE FIGURAS
f Frequência [Hz]
ṁCHF,W Vazão mássica de líquido drenado sob a aparente linha de contato no CHF [kg.s-
1
]
T Período [s]
𝑡 Tempo [s]
V̇CHF,D
′′
Fluxo volumétrico no CHF [m.s-1]
ÍNDICES
W - Wet
SUMÁRIO
1 Introdução ........................................................................................................................... 1
1.1 Motivação e Objetivos ................................................................................................. 2
1.2 Estrutura do Documento .............................................................................................. 3
2 Revisão Bibliográfica ......................................................................................................... 4
2.1 Sistemas de Refrigeração de Altos Fluxos de Calor .................................................... 4
2.2 Spray Ccooling ............................................................................................................ 8
2.2.1 Mecanismos de Transferência de Calor no Spray Cooling .............................. 10
2.3 Superfícies Modificadas ............................................................................................ 12
2.4 Drenabilidade ............................................................................................................ 15
2.5 Objetivos Específicos ................................................................................................ 19
3 Bancada Experimental ...................................................................................................... 21
3.1 Bancada Experimental SPHINX ................................................................................ 21
3.2 Componentes ............................................................................................................. 22
3.3 Circuito Primário ....................................................................................................... 22
3.3.1 SPHINX (Unidade de Resfriamento) ............................................................... 26
3.4 Circuito Secundário ................................................................................................... 29
3.5 Equipamentos e Métodos de Medição ....................................................................... 30
3.6 Bancada para Testes de Drenabilidade...................................................................... 36
3.7 Procedimentos Experimentais.................................................................................... 38
3.7.1 Preparação do Bloco de Cobre ......................................................................... 38
3.7.2 Procedimentos na Bancada SPHINX ............................................................... 39
3.7.3 Procedimentos para Testes de Drenabilidade .................................................. 40
4 Fabricação das Superfícies ............................................................................................... 43
4.1 Laser Pulsado ............................................................................................................. 43
4.2 Preparação da Superfície do Bloco de Cobre ............................................................ 49
4.3 Fabricação das Microaletas ........................................................................................ 49
4.4 Escolha das Dimensões das Microaletas.................................................................... 54
4.5 Caracterização das Superfícies .................................................................................. 56
5 Resultados......................................................................................................................... 58
5.1 Superfícies Resultantes .............................................................................................. 58
5.1.1 Microscopia Óptica........................................................................................... 58
5.1.2 Interferometria .................................................................................................. 64
5.2 Testes de Drenabilidade ............................................................................................ 75
5.3 Bancada SPHINX ...................................................................................................... 80
5.3.1 Temperaturas de Saturação e Vazão Mássica de Refrigerante ......................... 80
5.3.2 Desempenho Térmico das Superfícies ............................................................. 84
5.3.3 Desempenho Termodinâmico do Sistema ...................................................... 100
6 Considerações Finais ...................................................................................................... 107
6.1 Conclusões ............................................................................................................... 107
6.2 Sugestões para Trabalhos Futuros ........................................................................... 109
7 Referências ..................................................................................................................... 110
APÊNDICE A – Análise de incerteza .................................................................................... 117
A.1 – Definições ................................................................................................................. 117
A.2 Incerteza dos parâmetros medidos ............................................................................. 118
A.3 Incerteza dos parâmetros calculados ........................................................................... 119
A.3.1 Entalpia específica ............................................................................................... 119
A.3.2 Título mássico de vapor ....................................................................................... 120
A.3.3 Taxa de transferência de calor da resistência em filme ....................................... 121
A.3.4 Temperatura da superfície aquecida .................................................................... 122
A.3.5 Coeficiente de transferência de calor ................................................................... 122
A.3.6 Temperaturas de condensação e evaporação ....................................................... 123
A.3.7 Métricas de performance ..................................................................................... 124
Apêndice B - Seções transversais das superfícies obtidas por interferometria ...................... 126
1
1 Introdução
Durante as últimas três décadas, a intensa miniaturização de equipamentos eletrônicos
e o aumento de energia dissipada em seus componentes têm criado uma necessidade de estra-
tégias inovadoras de refrigeração que sejam capazes de manter a temperatura desses sistemas
abaixo dos limites estabelecidos pela indústria (Liang e Mudawar, 2017). É essencial que se
estabeleça um controle da temperatura dos componentes eletrônicos por parte de seus projetis-
tas, pois esta tem sido apontada como o principal causador de falhas nesses dispositivos (Anan-
dan e Ramalingam, 2008; Tang et al., 2018).
Da mesma forma que Carneiro (2018), foram realizadas filmagens para visualizar a distri-
buição de líquido oriunda das superfícies microaletadas e como estas influenciam no escoa-
mento do líquido e na transferência de calor. Em uma bancada secundária desenvolvida no
escopo do presente trabalho, foram feitas análises de drenabilidade do líquido nas superfícies
de referência e modificadas, a fim de investigar a relação entre a dinâmica de uma gota quando
de seu contato com uma superfície modificada e a intensificação de transferência de calor ob-
servada. Apesar de trabalhos terem sido propostos na literatura para investigar a relação entre
a drenabilidade e a intensificação da transferência de calor em pool boiling (Rahman, 2014 e
Li et al., 2018), não há registro de estudos sistemáticos no contexto do spray cooling.
2 Revisão Bibliográfica
Inicialmente será apresentada uma breve contextualização sobre estratégias de resfria-
mento de altos fluxos de calor. Em seguida, serão abordados os fundamentos do spray cooling,
posteriormente serão mostradas diferentes estratégias de superfícies modificadas e como estas
influenciam a transferência de calor no spray cooling. Por último, será apresentada a análise de
drenabilidade e sua influência no fluxo de calor crítico de superfícies estruturadas.
Nesse sentido, Barbosa et al. (2012) realizaram uma revisão do estado da arte de siste-
mas compactos de refrigeração por compressão de vapor. Os autores destacam que sistemas de
refrigeração por compressão de vapor permitem trocar elevadas quantidades de calor enquanto
mantêm baixas temperaturas de evaporação. Dessa forma, quando comparada com técnicas
como ebulição convectiva em microcanais, jatos incidentes e spray cooling, a refrigeração por
compressão de vapor é a única tecnologia capaz de operar com temperatura de junção menor
que a temperatura ambiente, sendo uma alternativa viável para a refrigeração de sistemas ele-
trônicos. Além disso, é possível combinar a refrigeração por compressão de vapor com as tec-
nologias citadas anteriormente, o que aumenta o potencial para reduzir o tamanho do sistema.
Parafusos não perfurados foram acoplados em posições onde o líquido não escoaria e
não haveria formação de jatos. A quantidade e a maneira na qual os parafusos perfurados foram
dispostos na matriz de orifícios resultou no número e na configuração dos jatos paralelos que
7
incidiam sobre a superfície de um bloco de cobre aquecido, que desempenhava o papel do eva-
porador. A seção de orifícios paralelos era composta por uma base de policarbonato, um anel
metálico exterior, um anel interior de poliacetal e o dispositivo de expansão. A matriz de orifí-
cios permitia o encaixe de até 13 parafusos dispostos em arranjo desencontrado, cobrindo uma
área de 20 × 20 mm².
Figura 2.2 – Seção de orifícios oblíquos com jatos colidentes formando spray. Adaptado de
Carneiro (2018).
imagens obtidas pela câmera de alta velocidade, o Carneiro (2018) constatou a ocorrência de
áreas de secagem que começavam na periferia da superfície aquecida, a qual era constituída por
um bloco cilíndrico de cobre, como ilustrado na Figura 2.3, e aumentavam em direção ao centro
do bloco de cobre, até o ponto no qual apenas a região do círculo de impacto formado pelas
gotículas de spray que atingiam a superfície era a única região que permanecia molhada.
Figura 2.3 – Quadro mostrando as regiões de secagem na superfície do bloco de cobre (Car-
neiro, 2018).
Spray cooling pode ser definido como um método de resfriamento que utiliza um spray
de pequenas gotículas que incidem sobre uma superfície aquecida com o objetivo de aumentar
a condutância térmica de um dado processo por meio do mecanismo de mudança de fase (In-
cropera e De Witt, 2002).
Figura 2.4 – Curva de ebulição para spray cooling. Adaptado de Kim (2006).
A curva de ebulição pode ser obtida aumentando tanto o fluxo de calor quanto a tempe-
ratura da superfície (Kim, 2007). Para baixos graus de superaquecimento da superfície, a curva
de ebulição geralmente apresenta comportamento linear, o qual está relacionado em grande
parte à transferência de calor por convecção monofásica que acontece na superfície graças às
gotículas que impingem sobre a superfície aquecida e o filme de líquido. Conforme o grau de
superaquecimento da superfície aumenta, chega-se no ponto de Onset of Nucleate Boiling
(ONB) (Wolf et al., 1993). A partir de então, tem início a formação de bolhas que se misturam
com o líquido, aumentando significativamente o coeficiente de transferência de calor (Zhou et
al., 2019). O grau de superaquecimento da superfície sobe até que se atinja o fluxo de calor
crítico (Critical Heat Flux - CHF). Os mecanismos responsáveis pelo CHF não são ainda com-
pletamente compreendidos. Dois possíveis mecanismos são apontados como responsáveis por
10
dar início ao CHF, são eles a coalescência de bolhas no interior do filme de líquido e a suspen-
são do filme de líquido (liftoff) devido à sua evaporação (Yan et al., 2011).
Figura 2.5 – Mecanismos de transferência de calor atuando no spray cooling. Adaptado de Yan
et al. (2011).
spray que incidem sobre o filme também contribuem misturando o filme de líquido, o que con-
tribui para diminuir ainda mais a resistência térmica, aumentando a eficiência da transferência
de calor de forma significativa (Yan et al., 2011).
Figura 2.6 – Filme de líquido formado pela coalescência das gotículas do spray. Adaptado de
Yan et al. (2011).
Figura 2.7 - Convecção ocorrendo pela incidência de gotículas. Adaptado de Yan et al. (2011).
Figura 2.8 – Sítios de nucleação e partida das bolhas da superfície aquecida. Adaptado de Yan
et al. (2011).
Os sítios de nucleação secundários ocorrem devido à interação das gotículas com o va-
por saturado ao redor destas. As gotículas do spray se misturam com o vapor ao redor e aprisi-
onam bolhas dentro de si. Quando essas gotas atingem o filme de líquido, as bolhas de vapor
aprisionadas agem como sítios de nucleação secundários (Yan et al., 2011), conforme é mos-
trado na Figura 2.5. Esses sítios de nucleação secundários são muito importantes no mecanismo
de transferência de calor do spray cooling, já que aumentam o número total de sítios de nucle-
ação disponíveis para que bolhas cresçam e absorvam calor da superfície aquecida. (Yan et al.,
2011).
tícula, fluxo volumétrico e condição de superfície. De acordo com Zhou et al. (2019), recente-
mente mais pesquisas associadas a spray cooling focam em intensificação da troca de calor por
meio de modificações na topografia das superfícies.
Silk (2004) avaliou o efeito de superfícies aletadas sobre a transferência de calor utili-
zando spray cooling com água. As geometrias aplicadas pelos autores foram aletas cúbicas,
piramidais e em forma de canais com dimensões das aletas variando entre 1 e 2 mm, como
mostrado na Figura 2.9. Os resultados obtidos pelos autores mostraram aumento do fluxo de
calor crítico e melhora no coeficiente de transferência de calor para as três superfícies estuda-
das, com ganhos de até 55% no fluxo de calor crítico. As aletas formando canais foram as que
apresentaram melhor performance, seguidas pelas aletas cúbicas e piramidais. Os autores tam-
bém concluíram que o aumento a transferência de calor ocorre devido o direcionamento do
líquido aos espaços entre as aletas, mantendo o líquido em contato com a superfície aquecida
por mais tempo.
Xie et al. (2013) avaliaram de forma isolada a influência dos efeitos de microescala,
macroescala e geometria da superfície na performance do spray cooling de R-134a. Os efeitos
de microescala estão associados à rugosidade, da macroescala à presença de aletas e da sua
geometria. Os autores utilizaram como referência uma superfície plana e lisa e a compararam
com superfícies modificadas apenas na escala micro, apenas na escala macro e combinando as
duas. A modificação em microescala resultou em uma rugosidade de aproximadamente 3 μm,
e a modificação em macroescala consistiu em macroaletas com geometria quadrada, triangular
e retangular testadas em diferentes posições, como mostrado na Figura 2.10. As conclusões dos
autores foram que o arranjo geométrico com o qual as macroaletas são dispostas possui um
papel importante no aumento da troca de calor do spray cooling, além de apenas obter um
14
aumento de área, já que a maneira como as macroaletas estão dispostas influenciam na forma-
ção do filme de líquido formado pelas gotículas do spray e, se um determinado arranjo for mal
escolhido, o efeito do aumento de área pode ser anulado. As microestruturas aumentaram a
ebulição nucleada devido ao aumento no número de sítios de nucleação e ofereceu um aumento
na transferência de calor de 32%, próximo dos 36 % obtidos pela superfície somente macroa-
letada. Combinando a microescala e a macroescala, resultados ainda melhores foram obtidos,
com um aumento de 65% na transferência de calor. As superfície macroestruturadas, além de
melhorarem a transferência de calor, ainda possuem a vantagem de prolongar a transição entre
o regime de ebulição nucleada e o fluxo de calor crítico.
Bostanci et al. (2018) realizaram um estudo de spray cooling utilizando R134a e HFO-
1234yf e compararam uma superfície microporosa, uma polida com uma lixa de granulação
1200 e outra preparada por jateamento, sendo que a superfície porosa com R-134a apresentou
melhor performance, obtendo aumento de até 38,8 % no fluxo de calor crítico e 23,5% no coe-
ficiente de transferência de calor. Zhou et al. (2019) utilizaram spray cooling de R410A em
superfícies nanoporosas, superfícies macroaletadas de geometrias quadrada e piramidal, mos-
15
2.4 Drenabilidade
investigar a influência de superfícies estruturadas sobre o fluxo de calor crítico (CHF) no fenô-
meno de pool boiling. Durante esse fenômeno, há uma concorrência entre vapor gerado na su-
perfície e líquido que deve ser fornecido para que a mudança de fase continue ocorrendo. Tal
disputa ocorre até que seja atingido o CHF. A partir desse ponto, há a presença de ebulição em
filme e um abrupto e incontrolável aumento da temperatura da superfície. Apesar dos exatos
mecanismos físicos responsáveis pela ocorrência do CHF não serem ainda completamente com-
preendidos, uma série de correlações e modelos têm sido desenvolvidos, mostrando concordân-
cia razoável com resultados experimentais para superfícies planas. No entanto, quando se utiliza
superfícies estruturadas, os valores de CHF tendem a ser maiores do que os previstos pelos
modelos (Rahman, 2014). O efeito da drenabilidade oriundo da estruturação da superfície pode
ser avaliado por uma análise da linha aparente de contato líquido-vapor-sólido em uma super-
fície aquecida, ilustrada na Figura 2.12, onde uma parte da superfície é coberta por líquido e a
outra parte por vapor. Enquanto uma parte do líquido evapora ao longo da interface aparente
líquido-vapor, líquido adicional é transportado por baixo da linha aparente de contato e evapora
através da complexa interface líquido-vapor gerada pelas estruturas superficiais. Assim, o au-
mento no CHF para uma superfície estruturada pode ser relacionado ao calor latente proveni-
ente do líquido drenado, dado por
ṁCHF,W hlv Al
∆q′′CHF = q′′CHF,D − q′′CHF,ND = = V̇CHF,D
′′
ρl hlv ( ) (2.1)
At At
Al V̇CHF,D
′′
ρl
K D − K ND = ( 1/2 ) (2.2)
At ρv [σg(ρl − ρv )1/4 ]
onde K é o parâmetro adimensional. Portanto, a Equação 2.2 mostra que a diferença entre su-
perfícies drenantes e não drenantes é proporcional à fração de área molhada e ao fluxo volumé-
trico de líquido drenado.
17
Figura 2.12 – Representação do líquido sendo sugado pelas microestruturas e sendo transpor-
tado por baixo da linha aparente de contato líquido-vapor, mostrando o papel da drenabilidade
no aumento do fluxo de calor crítico. Adaptado de Rahman (2014).
1 dV
V̇0′′ = ( ) (2.3)
Aw dt t=0
onde dV/dt é vazão volumétrica e AW é área molhada aparente da superfície. Utilizando esse
método, contabiliza-se os efeitos do tamanho, forma, permeabilidade, ângulo de contato e po-
rosidade da superfície estruturada, todos em um único parâmetro.
18
Figura 2.13 – (a) Quadros mostrando instantes diferentes de um teste de drenabilidade e a va-
riação de altura e (b) gráfico do volume drenado em função do tempo. Adaptado de Rahman
(2014).
Para avaliar a influência das superfícies estruturadas sobre o CHF, Rahman (2014) plotou os
CHFs de várias superfícies testadas em função do fluxo volumétrico máximo, obtendo o gráfico
da Figura 2.14. Percebe-se que o CHF é diretamente proporcional ao fluxo máximo e ambos
estão correlacionados.
19
Figura 2.14 - Fluxo de calor crítico em função do fluxo volumétrico máximo. Adaptado de
Rahman (2014).
Com base nos trabalhos consultados na literatura, observa-se que a refrigeração por com-
pressão mecânica de vapor se apresenta como uma alternativa viável para remoção de altos
fluxos de calor. Vários pesquisadores têm proposto e estudado sistemas de refrigeração com-
pactos combinados com diferentes técnicas de resfriamento e avaliando a performance termo-
dinâmica do sistema, o comportamento dos componentes do ciclo de refrigeração e a transfe-
rência de calor. Para atender às futuras demandas de resfriamento de grande dissipação energé-
tica, novas maneiras de intensificar a transferência de calor precisam ser analisadas.
Dessa forma, neste trabalho será adotado o uso de superfícies aletadas com o objetivo de
melhorar os resultados obtidos por Carneiro (2018) para spray cooling na bancada SPHINX.
Visto que as filmagens realizadas por aquele autor revelaram a presença de secagem prematura
do filme de líquido sobre a superfície não modificada (plana) do bloco de cobre, superfícies
20
aletadas podem servir como uma alternativa para amenizar esse problema e intensificar trans-
ferência de calor. Além disso, segundo Chen et al. (2018), há poucos estudos detalhando os
exatos mecanismos envolvidos no spray cooling com superfícies modificadas. Nesse sentido,
as filmagens da unidade de resfriamento empregando superfícies aletadas podem contribuir
com conhecimentos adicionais para compreender os mecanismos da troca de calor entre spray
e superfície aquecida. Portanto, os objetivos específicos almejados neste trabalho são:
3 Bancada Experimental
Este capítulo descreve a bancada experimental SPHINX utilizada para a realização dos
experimentos com as superfícies microestruturadas e também a bancada desenvolvida nesta
dissertação para os testes de drenabilidade. Além dos componentes de cada bancada, serão
apresentados os procedimentos experimentais adotados em ambos os aparatos.
A bancada experimental SPHINX, ilustrada na Figura 3.1, foi projetada e construída por
Oliveira (2016), com o propósito de avaliar a performance térmica de jatos incidentes no con-
texto de um sistema de refrigeração compacto.
Na entrada da unidade de resfriamento, que age como evaporador, o líquido sofre expansão ao
passar por orifícios de pequeno diâmetro, formando jatos ou sprays que podem ser dispostos
em diferentes arranjos geométricos, com o intuito de fornecer uma distribuição uniforme do
líquido sobre uma superfície aquecida pela dissipação térmica de uma resistor (efeito Joule).
Na saída da unidade de resfriamento, utiliza-se um evaporador tubular secundário, também ali-
mentado por uma resistência elétrica, cujo objetivo é eliminar líquido da mistura bifásica para
proteger o compressor e garantir um valor de superaquecimento fixo ao vapor que entra nesse
último.
3.2 Componentes
O sistema de refrigeração mostrado na Figura 3.1 é composto por dois circuitos: primário
e secundário. O circuito primário opera com R-134a e é composto por: (1) compressor, (2)
medidor de vazão mássica, (3) condensador, (4) filtro de particulado (15 μm), (5) unidade de
resfriamento, (6) acumulador de líquido, (7) resistência do superaquecimento, (8) aquecedor de
ar, (9) refrigerador termoelétrico e (10) calorímetro. O circuito secundário opera com uma mis-
tura de água com etilenoglicol que funciona como um sumidouro de calor para o sistema e é
composto por: (11) reservatório de calor do lado quente e (12) medidor de vazão volumétrica.
Diversos medidores de pressão e temperatura estão instalados em diferentes pontos do circuito,
como mostrado na Figura 3.1.
Figura 3.2 – Compressor que integra o circuito primário da bancada SPHINX. Adaptado de
Carneiro (2018)
Figura 3.4 – Volume de controle para a realização do balanço energético. Adaptado de Car-
neiro (2018).
A energia que entra no volume de controle é composta pela potência elétrica dissipada
como calor pelo aquecedor de ar, 𝑊̇𝑎ℎ , a potência elétrica consumida pelo compressor, 𝑊̇𝑐𝑜𝑚𝑝 ,
e a potência elétrica consumida por todos os ventiladores dentro do calorímetro, 𝑊̇𝑓𝑎𝑛𝑠 . A ener-
gia que sai é composta por: taxa de calor rejeitada pelo refrigerador termoelétrico, 𝑄̇𝑇𝐸𝐶 , a po-
tência indicada, 𝑊̇𝑖𝑛𝑑 , e a taxa de transferência de calor transferida através das paredes do ca-
lorímetro, 𝑄̇𝑒𝑛𝑐 . Aplicando a primeira lei da termodinâmica em regime permanente ao volume
de controle, tem-se:
25
𝑑𝐸
𝐸̇𝑖𝑛 − 𝐸̇𝑜𝑢𝑡 = ) =0 (3.1)
𝑑𝑡 𝐶.𝑉
O lado esquerdo da Equação 3.3 é a taxa com a qual calor é dissipado pela carcaça do compres-
sor, 𝑄̇𝑠ℎ𝑒𝑙𝑙,𝑒𝑏 , e pode ser calculada em função das variáveis medidas no lado direito da Equação
3.3. Um procedimento adotado por Oliveira (2016) consiste em estabelecer as temperaturas
ambiente e no interior do calorímetro iguais a 25 ºC, sendo, dessa forma, nula a diferença de
temperatura entre o interior e o exterior do calorítmetro (∆𝑇𝑐𝑎𝑙 = 0). Nessa condição, a capaci-
dade de refrigeração do refrigerador termoelétrico é máxima e a taxa de transferência de calor
através das paredes do calorímetro pode ser desprezada. A Equação 3.4 fica, então
Como citado no Capítulo 2, Carneiro (2018), além da estratégia de jatos paralelos, estudou a
estratégia de jatos colidentes formando spray, sendo que esta última apresentou melhor perfor-
mance em relação à primeira. Além disso, a configuração de três jatos colidentes obteve melhor
performance em relação à de dois jatos colidentes, pois apresentou uma melhor distribuição de
líquido sobre a superfície aquecida. Nesse sentido, para explorar o potencial de melhorar a dis-
tribuição do filme de líquido utilizando a configuração de dois jatos colidentes, será utilizada a
configuração de dois jatos colidentes.
A seção de orifícios oblíquos utilizada neste trabalho, ilustrada na Figura 3.7, foi fabri-
cada por impressão 3-D a partir da resina transparente VeroClear RGD810, com orifícios de
diâmetro igual a 0,5 mm.
Figura 3.7 - Seção de orifícios oblíquos utilizada para formação de spray. Adaptado de Carneiro
(2018).
Os fenômenos que ocorrem no interior da SPHINX são observados através de uma câ-
mara de visualização feita de uma resina de poliéster com espessura da parede de 11 mm. O
material foi escolhido devido ao seu baixo índice de refração, alta transparência, baixo custo e
compatibilidade com R-134a. A câmara de resfriamento utilizada neste trabalho, ilustrada na
Figura 3.8, possui altura de 23,8 mm e foi selecionada por ter apresentado resultados superiores
àquela com altura de 9,8 mm, conforme o trabalho de Carneiro (2018).
28
A potência é fornecida pela parte inferior do bloco de cobre por uma resistência em filme
feita de uma liga níquel-cromo alimentada por uma fonte DC. A fonte é conectada ao sistema
de aquisição e tanto a tensão como a corrente podem ser controladas para fornecer a potência
requerida. Uma base de Teflon é utilizada para acomodar a resistência, inseri-la na unidade de
drenagem e pressioná-la contra a parte inferior do bloco de cobre. A resistência em filme e a
base são mostradas na Figura 3.9 (b). Para aumentar o contato entre a resistência e a superfície
inferior do bloco de cobre, uma camada fina de pasta térmica (Artic Silver 5) foi utilizada.
A Figura 3.9 (d) também ilustra 6 orifícios coplanares localizados a uma distância, ls , de
10,03 mm abaixo da superfície superior do bloco de cobre. Seis termorresistores (RTD) são
encaixados nos orifícios para medir a temperatura do bloco de cobre e estimar a temperatura da
superfície superior utilizando a lei de Fourier. A Figura 3.10 mostra o encaixe do bloco de cobre
e a resistência na unidade de drenagem. O-rings são utilizados para a vedação entre o as paredes
do bloco de cobre e a unidade de drenagem.
Figura 3.10 – Bloco de cobre encaixado unidade de drenagem e isolamento. Adaptado de Car-
neiro (2018).
por um banho térmico, uma válvula agulha para controle de vazão e um medidor de vazão
volumétrica. A concentração de etilenoglicol na mistura é de 90 % em volume.
As medições de pressão e temperatura nos pontos da Figura 3.1 são realizadas simulta-
neamente, conforme mostrado na Figura 3.12. Os RTDs e os transdutores de pressão são insta-
lados nas seguintes posições: entrada e saída do compressor, entrada e saída do condensador
(circuitos primário e secundário) e entrada e saída da unidade de resfriamento.
31
A aquisição de dados foi feita por um sistema de aquisição SCXI-1000 da National Ins-
truments conectado a um computador com LabView. O código LabView foi desenvolvido por
Oliveira (2016) e modificado por Carneiro (2018) para automatizar o funcionamento e permitir
32
operação remota. A frequência de aquisição foi fixada em 1000 Hz para um período de tempo
de 20 minutos após atingido o regime permanente. Duas condições devem ser atendidas para
que o critério de regime permanente seja satisfeito: 1) a variação de cada grandeza experimental
calculada a partir das medições obtidas em um intervalo de tempo selecionado deve ser menor
que dois desvios-padrões da própria variável e 2) o desvio-padrão de cada variável durante um
intervalo de 15 minutos deve ser menor ou igual à sua incerteza experimental.
Incerteza expandida (% em
Equipamento Fabricante Modelo
relação ao fundo de escala)
Termopar Omega Tipo T 0,22 ºC *
Sonda de temperatura Omega PT-100 1/16'' RTD 0,20 ºC *
Transdutor de pressão (0 - 30 bar) Omegadyne MMA500C1B2/C6T5A6CE 0,05 bar * (0,17 %)
Transdutor de pressão (0 - 10 bar) Omegadyne MMA150C1B2/C6T4A6CE 0,03 bar* (0,3%)
Medidor de vazão mássica Siemens SITRANS FC/MASS 2100 DI 1.5 0,05 kg/h (0,17 %)
Medidor de vazão volumétrica Seametrics SPX-038 0,07 L/min (1,47%)
Wattímetro digital Yokogawa WT333-N-C1/G5 0,3 W (0,02%)
Transdutor de potência Yokogawa 2375A10 0,65 W(0,33%)
* Valor máximo
As entalpias específicas também foram obtidas do software REFPROP 8.0 com as pres-
sões e temperaturas medidas. As entalpias específicas são necessárias no cálculo das varáveis
descritas a seguir.
A potência indicada, que é taxa de trabalho útil entregue ao fluido pelo compressor, é
calculada por:
Onde hcomp,i e hcomp,o, são as entalpias específicas na entrada e saída do compressor, respectiva-
mente.
𝑄̇𝑐
ℎ𝑠𝑝ℎ,𝑜 = ℎ𝑠𝑝ℎ,𝑖 + (3.8)
𝑚̇𝑟
onde a carga térmica, 𝑄̇𝑐 , é taxa de calor fornecida pela resistência posicionada sob o bloco
aquecedor de cobre. Fornecendo a entalpia específica e pressão na saída da SPHINX, ℎ𝑠𝑝ℎ,𝑜 e
𝑃𝑠𝑝ℎ,𝑜 , respectivamente, ao REFPROP 8.0, obtém-se o título mássico na saída 𝑥𝑠𝑝ℎ,𝑜 .
𝑄̇𝑐∗
ℎ𝑠 = (3.9)
𝐴𝑠 (𝑇𝑠 − 𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝 )
onde 𝑄̇𝑐∗ é a parte da carga térmica 𝑄̇𝑐 que efetivamente é trocada na superfície superior do
bloco de cobre, em contato com o fluido refrigerante. Oliveira (2016) avaliou numericamente,
por meio de simulações em CFD (Computational Fluid Dynamics) as perdas térmicas que ocor-
rem na unidade de drenagem e isolamento em função das propriedades termofísicas das partes
sólidas e da potência dissipada na resistência. Foi encontrado que, para uma ampla gama de
condições analisadas, mais de 95% dessa potência é efetivamente entregue à superfície do bloco
de cobre. Portanto, é considerado que 95% da potência fornecida pela resistência é transmitida
sob a forma de calor ao refrigerante na superfície superior do bloco.
v) Temperatura da Superfície
𝑙𝑠 𝑄̇𝑐∗
𝑇𝑠 = 𝑇̅𝑅𝑇𝐷 − (3.10)
𝑘𝑠 𝐴𝑠
onde, 𝑇̅𝑅𝑇𝐷 é a temperatura média dos RTDs, ks a condutividade térmica do cobre avaliada em
𝑇̅𝑅𝑇𝐷 e ls a distância entre os orifícios dos RTDs e a superfície superior do bloco de cobre.
𝑄̇𝑐
𝐶𝑂𝑃 = (3.11)
𝑊̇𝑐𝑜𝑚𝑝 + 𝑊̇𝑓𝑎𝑛
vii) Visualização
Uma câmera de alta velocidade Phantom V12.1 é utilizada para gravar os fenômenos
que acontecem no interior da unidade de resfriamento. As gravações foram realizadas a uma
taxa 7014 quadros por segundo com uma resolução de 1280 x 800 pixels. Duas fontes de luz
com LEDs foram utilizadas para iluminar o interior da unidade de resfriamento. Os equipamen-
tos são mostrados na Figura 3.13
36
Figura 3.13 – Câmera de alta velocidade e fontes de luz. Adaptado de Carneiro (2018).
Para executar os testes de drenabilidade, foi montada uma bancada anexa à bancada
SPHINX. A bancada, mostrada na Figura 3.14 é composta por uma mesa regulável com três
graus de liberdade, uma mesa micrométrica com controle de posicionamento fixada a um perfil
vertical de alumínio, que permite a movimentação de uma haste para aproximar e afastar um
tubo capilar verticalmente, e uma base para posicionar os blocos de cobre microestruturados. O
tubo capilar utilizado é feito de acrílico, e possui diâmetro externo de 5 mm e diâmetro interno
de 0,5 mm.
37
Figura 3.14 – Bancada para testes de drenabilidade e o tubo capilar utilizado em detalhe.
A câmera de alta velocidade utilizada nas filmagens da unidade de resfriamento também é uti-
lizada para capturar ao longo do tempo a variação do nível da coluna de líquido no interior do
tubo capilar. Nos trabalhos de Rahman (2014) e Li et.al. (2018), água foi utilizada tanto para
os testes de drenabilidade quanto para os experimentos de ebulição (pool boiling). Como o
fluido de trabalho utilizado no circuito primário da bancada SPHINX é R-134a, torna-se inviá-
vel a sua utilização para testes de drenabilidade à temperatura ambiente; portanto, álcool etílico
foi utilizado para os testes de drenabilidade neste trabalho. A escolha do álcool etílico se deve
ao fato deste possuir, em relação à água, tensão superficial mais próxima daquela do R-134a.
Dessa forma, considera-se que o comportamento do álcool etílico será mais próximo daquele
do R-134a do ponto de vista de molhabilidade, representando mais fielmente a maneira como
o R-134a interagiria quando em contato com microestruturas das superfícies.
38
iii) Transferir o bloco de cobre para um recipiente com água deionizada e mantê-lo por 5
minutos;
iv) Retirá-lo da água deionizada, retirar o excesso de água com um jato de ar comprimido e
secar o restante de líquido com ar quente de um soprador térmico.
iv) Após verificar a presença de jatos colidentes formando spray incidindo sobre a superfície,
a resistência em filme é ligada e é selecionada a potência de 25 W para ser fornecida;
vi) Conferir a vazão mássica do banho termostático para confirmar o valor de 180 kg/h. Caso
contrário, ajusta-se a válvula até atingir a vazão de 180 kg/h;
40
vii) Ajustar a vazão mássica de fluido refrigerante inserindo e liberando R-134a na bancada
até atingir o valor referência de 3 kg/h.
i) O tubo capilar é encaixado na extremidade de uma barra roscada acoplada na haste conec-
tada à mesa micrométrica;
ii) Posiciona-se um béquer com álcool etílico e o tubo é deslocado para baixo lentamente até
encostar no álcool etílico, fazendo com que este seja sugado para dentro do tubo;
iii) Após a coluna de líquido se estabilizar, o tubo é erguido até a sua posição original;
iv) Em seguida, com auxílio da câmera de alta velocidade para gerar uma imagem de alta
resolução, o tubo capilar é novamente deslocado para baixo, aproximando-o da superfície es-
truturada. A partir de então, o tubo é movido com deslocamentos de 0,1 mm até que a gota de
álcool etílico na ponta do capilar encoste na superfície e o líquido seja sugado, como mostrado
na Figura 3.16. Essa posição vertical do tubo capilar é tomada como referência no programa
que opera o deslocamento da mesa micrométrica;
41
Figura 3.16 – Dois quadros mostrando (a) a gota de álcool prestes a encostar na superfície e
(b) o instante no qual a gota toca a superfície.
vii) O tubo capilar é posicionado próximo da superfície estruturada, a câmera inicia a gravação
e é dado o comando para o braço mecânico mover o tubo capilar na posição de referência gra-
vada no passo (iv).
Uma vez medidos os valores das alturas e calculados os volumes em função do tempo, é
ajustado um polinômio de terceiro grau do tipo
𝑉(𝑡) = 𝐴1 𝑡 3 + 𝐴2 𝑡 2 + 𝐴3 𝑡 (3.12)
Figura 4.1 – Diagrama representando a quantidade de energia sendo entregue pelos pulsos do
laser em função do tempo.
44
Figura 4.2 – Parte interior do aparato contendo o scanner e a mesa sobre os eixos lineares.
(Silveira, 2020)
45
Figura 4.4 – Representação de uma fibra óptica com núcleo dopado. (Silveira,2020).
Na fabricação das superfícies deste trabalho, foi utilizada uma fonte de laser pulsado fa-
bricada por IPG Photonics, modelo YLPN-1-1x120-50-M de potência média máxima de 50 W
e comprimento de onda de 1061,3 nm. Essa fonte de laser possui oito larguras de pulsos prede-
finidas, sendo possível selecioná-las. A Tabela 4.1 mostra os parâmetros disponíveis da fonte
de laser.
YLPN
Taxa de repetição de pulso (kHz)
Duração de pulso (ns)
Mínima Nominal Máxima
1 120 5000 5000
2 60 3000 5000
4 30 1500 5000
8 15 750 5000
16 8 400 5000
30 4 220 2200
50 3 150 1500
120 2 50 505
O scanner possui uma abertura de 14 mm de diâmetro para entrada do feixe de laser. A reflexão
é realizada por dois espelhos planos de berílio com revestimento dielétrico próprio para o com-
primento de onda na faixa de 1064 nm, e posicionados ortogonalmente entre si. Basicamente,
o deslocamento angular de cada espelho garante que o feixe de laser se desloque numa direção
sobre uma superfície de trabalho. Como há dois espelhos ortogonais entre si, é possível posici-
onar o feixe de laser em qualquer posição dentro de um campo definido em X e Y pelo curso
angular de cada espelho. A velocidade com a qual o scanner se movimenta corresponde à taxa
de deslocamento do ponto focal do laser sobre a área de trabalho, em função da deflexão dos
espelhos. Essa velocidade é bastante elevada, na ordem de metros por segundo, o que torna a
varredura de superfícies de trabalho algo relativamente rápido em comparação com outros pro-
cessos. A concentração do feixe de laser em uma área muito pequena, no foco do feixe produ-
zido, gera uma grande densidade energética que chega a atingir o equivalente a milhares de
watts por centímetro quadrado. Por isso, o feixe de laser deve ser deslocado com velocidades
elevadas. Para lasers pulsados, taxas de repetição de pulso elevadas necessitam de velocidades
de deslocamento elevadas para garantir um adequado espaçamento entre pulsos (Jaeggi et al.,
2014).
Os feixes de laser refletidos, além de precisarem ser convergidos para um ponto focal,
é necessário que este ponto focal esteja sobre um mesmo plano, determinando assim uma área
de processamento na qual o laser gera o mesmo efeito sobre o material (mesma densidade de
energia entregue) para qualquer posição dentro desta área. Para tal, é utilizada uma lente f-θ
48
fabricada por Jenoptik modelo JENarTM 170-1030...1080-170 com comprimento focal de 170
mm. Ao contrário das lentes convencionais, lentes f-θ realizam a focalização do laser a uma
distância fixa. Dessa forma, quando um espelho é rotacionado, a trajetória do foco do feixe é
circular para lentes convencionais, como mostra a Figura 4.6(a). Para que o ponto focal se des-
loque de forma retilínea sobre um plano, é necessário o uso de lentes planificadoras. Com essas
lentes, quando o espelho sofre uma rotação de um ângulo θ, o ponto focal do laser sofre um
deslocamento que equivale à distância focal da lente, f, multiplicada pelo ângulo θ, como mostra
a Figura 4.6(b). Essa relação dá o nome à esse tipo de lente. (Silveira, 2020).
Figura 4.6 – Diferença da trajetória do feixe refletido ao passar por uma (a) lente convencio-
nal e (b) lente f-θ. (Silveira, 2020).
A Figura 4.7 ilustra a área que o scanner é capaz de varrer. No equipamento disponível,
a mesa pode se deslocar para se obter uma área de varredura maior; porém, neste trabalho, não
foi necessário utilizar o movimento da mesa, pois a área de varredura do scanner já atende as
dimensões necessários para este trabalho.
Figura 4.7 – Área máxima que pode ser varrida pelo scanner. (Silveira, 2020).
49
Figura 4.8 – Bloco de cobre antes e depois de ser preparado com a lixa 400.
Esses dois últimos passos repetem-se até que seja atingido o número necessário de regiões de
espaçamento de aleta, resultando na configuração mostrada na Figura 4.12.
Figura 4.14 – Sequência mostrando respectivamente o bloco de cobre antes do processo de fa-
bricação, o laser removendo material e a superfície resultante.
53
Utilizando um espaçamento de 10 μm entre cada linha, i.e., entre os centros de cada cratera,
tem-se o número de linhas adjacentes que o laser precisa realizar para que se remova material
correspondente ao espaçamento de aleta. Foi escolhido um espaçamento pequeno para garantir
uma boa sobreposição dos pulsos, o que resulta em melhor acabamento (Aguilar-Morales et
al.,2018).
54
valores na faixa de 55 a 76,2 μm. Os autores calcularam o valor do diâmetro de partida de bolha
com a equação de Cole e Rohsenow (Equação 4.1) para 6,5 bar, resultando em 62,9 μm, o que
está em moderada concordância com os valores experimentais, atribuindo a diferença a uma
possível variação do fluxo de massa ao longo do microcanal.
Na Equação 4.1 cpl é o calor específico de líquido saturado, ρl é a densidade de líquido saturado,
ρv é a densidade de vapor saturado, hlv é a entalpia de vaporização, g é a aceleração da gravidade,
Tsat é temperatura de saturação e σ é a tensão superficial. Vereen (2011) analisou experimental-
mente a dinâmica de bolhas de um escoamento de R134a em micro canais para pressões vari-
ando entre 6,2 e 13,3 bar e encontrou valores de diâmetro de bolha entre 80 e 185 μm. Outras
correlações não foram testadas por não se saber da sua aplicabilidade para R-134a.
S
200 400 600
200 S200L200 S400L200 S600L200
L 400 S200L400 S400L400 S600L400
600 S200L600 S400L600 S600L600
56
Para a microscopia óptica, foi utilizado um microscópio óptico LEICA DM 4000M lo-
calizado no Laboratório de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina, mostrado na
Figura 4.17. As fotografias foram tiradas diretamente da superfícies dos blocos microaletados.
Como as imagens obtidas por microscopia óptica fornecem apenas uma vista de topo das su-
perfícies dos blocos microaletados, pode-se tirar informações qualitativas, tais como regulari-
dade da microusinagem a laser e presença de rebarbas.
5 Resultados
Neste capítulo, serão apresentados os resultados da caracterização das superfícies obtidos
por microscopia óptica e interferometria. Em seguida, serão apresentados os resultados dos tes-
tes de drenabilidade realizados nas diferentes superfícies fabricadas, seguidos dos resultados
da bancada SPHINX, analisando separadamente o comportamento termodinâmico do sistema
de refrigeração compacto e o desempenho térmico das superfícies, os quais também serão in-
terpretados à luz dos resultados dos testes de drenabilidade.
As imagens mostradas da Figura 5.1 à Figura 5.9 são as micrografias das superfícies dos
blocos microaletados obtidas pelo microscópio óptico. Todas as imagens possuem ampliação
de 50 vezes.
Dois aspectos, mostrados na Figura 5.10, destacam-se nas micrografias: as regiões escu-
ras nas bordas das micro aletas e as regiões quadriculadas interligadas diagonalmente entre as
microaletas. As regiões quadriculadas correspondem às áreas nas quais os movimentos hori-
zontais e verticais do laser coincidiram, e consequentemente o número de passes que ocorreram
nessas regiões foi o dobro do número de passadas escolhido, removendo mais material. Assim,
essas regiões são mais profundas quando comparadas com o plano que contém a base das mi-
croaletas e o desnível entre estas é representado pela região escura no plano que contém as
bases das microaletas. As regiões escuras nas bordas das microaletas podem indicar a presença
de rebarbas oriundas de ressublimação de material ablado ou a inclinação das suas faces laterais.
Figura 5.10 – Detalhes observados nas microaletas e na região ao redor desta. Superfície
S200L200 com aumento de 100 vezes.
64
5.1.2 Interferometria
A partir dos dados obtidos por interferometria, foi possível determinar as dimensões das micro-
aletas fabricadas. Para tal, extrai-se o perfil obtido da seção transversal da porção das superfí-
cies analisadas no interferômetro, como mostrado na Figura 5.27. As seções transversais estão
localizadas no Apêndice B. Com o software ImageJ, são determinados o espaçamento de aleta,
largura de aleta e altura de aleta, que é uma variável de saída do processo de fabricação, em
função dos parâmetros selecionados do laser. Como houve variação da altura de aleta em lados
diferentes, esta será dividida em altura maior, Hfin, e altura menor, hfin. De acordo com a região
da superfície analisada pelo interferômetro, realiza-se o máximo possível de medições da di-
mensão desejada para cada perfil e é feita a média aritmética do conjunto de valores obtido. No
caso da Figura 5.27, é possível determinar 3 espaçamentos de aleta, 2 larguras de aleta e 2
alturas. O resultado das medições é mostrado na Tabela 5.1, Tabela 5.2 e Tabela 5.3. Na Tabela
5.1 e na Tabela 5.2 a diferença se refere ao valor medido da variável (espaçamento ou largura)
e o valor nominal dessa variável, conforme apresentado na Tabela 4.3.
Superfície Número de medições Espaçamento medido [μm] Diferença [μm] Diferença relativa
S200L400 3 255,2 55,2 21,6%
S200L600 2 262,4 62,4 23,8%
S400L200 1 456,1 56,1 12,3%
S400L400 2 459,0 59,0 12,9%
S400L600 2 463,8 63,8 13,8%
S600L200 1 668,7 68,7 10,3%
S600L400 3 682,2 82,2 12,0%
S600L600 1 641,4 41,4 6,5%
Superfície Número de medições Largura medida [μm] Diferença [μm] Diferença relativa
S200L400 3 349,7 -50,3 -14,4%
S200L600 2 537,0 -63,0 -11,7%
S400L200 2 155,4 -44,6 -28,7%
S400L400 2 341,6 -58,4 -17,1%
S400L600 2 535,7 -64,3 -12,0%
S600L200 2 145,3 -54,7 -37,7%
S600L400 2 340,8 -59,2 -17,4%
S600L600 2 556,5 -43,5 -7,8%
De acordo com a Tabela 5.1 e Tabela 5.2, a ordem de grandeza da diferença em micro-
metros mostrou-se semelhante tanto para o espaçamento de aleta quando para a largura de aleta,
com o primeiro apresentando desvios positivos e o segundo desvios negativos. Esse padrão na
75
diferença indica que o valor do diâmetro de cratera escolhido se mostrou acima do necessário
para atingir as dimensões com exatidão, já que, para um dado número de linhas adjacentes
percorridas pelo laser, a área de material que de fato sofre remoção é maior que aquela desejada
quando o laser produz uma região de espaçamento de aleta. Essa maior área removida é res-
ponsável por exceder a dimensão do espaçamento de aleta e, consequentemente, também leva
a uma largura de aleta menor do que o valor nominal. Uma explicação para esse comportamento
é devida a uma possível diferença na dimensão da cratera produzida pelo laser conforme a
camada de material a ser removida se torna mais profunda.
Os gráficos da Figura 5.28 a Figura 5.30 mostram, para um espaçamento de aleta fixo, os
resultados do volume de líquido drenado em função do tempo, a derivada da curva, calculada
do polinômio ajustado, o diâmetro da área molhada e o fluxo volumétrico. Nos gráficos do
volume e do diâmetro da área molhada, os marcadores representam os valores experimentais
instantâneos calculados nos frames. A curva entre os pontos experimentais do volume repre-
senta o polinômio ajustado. Nos gráficos da derivada e do fluxo volumétrico, os marcadores
foram mantidos para identificar a qual ponto experimental a grandeza pertence. Percebe-se que,
nos instantes iniciais, o diâmetro da área molhada apresenta uma queda e depois se estabiliza.
Esse comportamento ocorre devido à baixa tensão superficial do álcool etílico, que faz com que
a gota se deforme com intensidade quando encosta na superfície.
Nota-se que, para um mesmo espaçamento de aleta, o fluxo volumétrico máximo diminui
com o aumento da largura de aleta. Do ponto de vista hidrodinâmico, como o espaçamento
nominal entre aletas é o mesmo, a pressão capilar pode ser considerada constante, assim como
o gradiente de pressão; portanto, uma largura de aleta maior significa um caminho mais longo
que o fluido precisa percorrer, o que representa uma maior queda de pressão por atrito viscoso.
76
Para o espaçamento S200, houve uma grande queda no fluxo para as larguras L400 e
L600, enquanto que, para o espaçamento S400, somente a largura L600 apresentou a mesma
queda intensa. Apesar da força capilar do espaçamento S200 ser maior, as perdas por atrito
durante o escoamento sofridas pelo fluido também aumentam, de forma que, para as larguras
maiores que L200, a queda de pressão prejudica a drenabilidade de maneira intensa. Ao au-
mentar o espaçamento para S400, as perdas por atrito diminuem, causando grande impacto na
drenabilidade apenas para a largura L600. Para o espaçamento S600, não houve grande dife-
rença entre os valores de fluxo volumétrico, indicando que, para esse espaçamento, a pressão
capilar não atua de maneira tão significativa e o comprimento de aleta contribui com a maior
parte da queda de pressão.
77
Figura 5.28 – (a) Curva volume x tempo, (b) derivada, (c) diâmetro molhado aparente e (d)
fluxo volumétrico com espaçamento S200 fixo.
78
Figura 5.29 - (a) Curva volume x tempo, (b) derivada, (c) diâmetro molhado aparente e (d)
fluxo volumétrico com espaçamento S400 fixo.
79
Figura 5.30 - (a) Curva volume x tempo, (b) derivada, (c) diâmetro molhado aparente e (d)
fluxo volumétrico com espaçamento S600 fixo.
80
A Figura 5.31, Figura 5.32 e a Figura 5.33 mostram as temperaturas de saturação na uni-
dade de resfriamento (curvas inferiores) e no condensador (curvas superiores) para as superfí-
cies microestruturadas e não microestruturadas em função da carga térmica. Percebe-se que, em
relação à superfície polida, as superfícies microestruturadas apresentaram praticamente os mes-
mos valores de temperatura de saturação, o que permite uma comparação justa entre as diferen-
tes condições. Percebe-se, nas três figuras, que a temperatura de evaporação aumenta mais sig-
nificativamente com a carga térmica em virtude da maior condutância térmica global do con-
densador, em comparação com a unidade de resfriamento.
Figura 5.31 – Temperatura de saturação para as superfícies polida, lixa 400 e L200 fixo.
81
Figura 5.32 - Temperatura de saturação para as superfícies polida, lixa 400 e L400 fixo.
Figura 5.33 - Temperatura de saturação para as superfícies polida, lixa 400 e L600 fixo.
82
A Figura 5.34, Figura 5.35 e a Figura 5.36 mostram a vazão mássica de refrigerante para
as superfícies estruturadas e não estruturadas. Novamente, não foram observadas diferenças
significativas para as superfícies avaliadas. Os gráficos das temperaturas de saturação na uni-
dade de resfriamento e outros parâmetros do sistema de refrigeração explicam a similaridade
dos valores de vazão mássica. A baixa diferença nas temperaturas de saturação na unidade de
resfriamento entre as diferentes superfícies implica que o estado termodinâmico na saída da
unidade de resfriamento é similar para as mesmas e, por consequência, as propriedades termo-
dinâmicas também. Além disso, o grau de superaquecimento do fluido refrigerante é constante,
fazendo com que o estado termodinâmico na entrada do compressor também seja semelhante
para todas as superfícies. Como o deslocamento do pistão do compressor se mantém constante,
o produto da densidade do fluido pela vazão volumétrica deve apresentar valores próximos.
Mais uma vez, os resultados apresentados nesta seção servem como uma garantia que quaisquer
variações entre os desempenhos térmicos das superfícies no que diz respeito ao comportamento
térmico da temperatura superficial ou do coeficiente de transferência de calor devem ser atri-
buídas somente à microestrutura da superfície e não a diferentes condições de teste.
Figura 5.34 – Vazão mássica de refrigerante para as superfícies polida, lixa 400 e L200 fixo.
83
Figura 5.35 - Vazão mássica de refrigerante para as superfícies polida, lixa 400 e L400 fixo.
Figura 5.36 - Vazão mássica de refrigerante para as superfícies polida, lixa 400 e L600 fixo.
84
Ainda, percebe-se que, para potências abaixo de 175 W, a temperatura de superfície au-
menta de maneira aproximadamente linear com a potência, enquanto que, a partir de 175 W, a
temperatura de superfície sobe mais intensamente com o aumento da potência. Ao aproximar-
se do CHF, tanto as temperaturas das superfícies modificadas quanto a não modificada conver-
gem para um intervalo entre 26 e 35ºC.
A superfície tratada com lixa 400 foi a menos eficaz entre as superfícies modificadas,
apresentando maior temperatura de superfície para a carga térmica de 25 W em relação à su-
perfície polida, apenas mostrando vantagem em relação à essa última a partir da carga térmica
de 50 W. Já as superfícies microaletadas obtiveram melhor desempenho para toda a faixa de
carga térmica. Também é possível perceber que o espaçamento de aleta possui proporcionali-
dade inversa com a temperatura de superfície: as curvas das superfícies de espaçamento S600
são as que mais se aproximam da curva da superfície lixa 400, e conforme o espaçamento de
aleta é reduzido, mais as curvas se distanciam da curva da superfície lixa 400. Uma possível
explicação para esse comportamento está no efeito da capilaridade, conforme discutido anteri-
ormente. As superfícies com microaletas de menor espaçamento possuem um maior bombea-
mento capilar do fluido refrigerante, o que contribui para melhorar a distribuição e o forneci-
mento de líquido aos canais formados pelas microaletas. No entanto, para quantificar o real
efeito intensificador da capilaridade, é necessário descontar outros efeitos, como o aumento de
área de troca provocado pelas microaletas. Tal influência será analisada em detalhes quantifi-
cada ao final desta seção.
85
Figura 5.37 - Temperatura de superfície para as superfícies polida, lixa 400 e L200 fixo.
Figura 5.38 - Temperatura de superfície para as superfícies polida, lixa 400 e L400 fixo.
86
Figura 5.39 – Temperatura de superfície para as superfícies polida, lixa 400 e L600 fixo.
A Figura 5.40, Figura 5.41 e a Figura 5.42 mostram as curvas de ebulição para as super-
fícies analisadas. É importante destacar que as curvas de ebulição plotadas com os resultados
da bancada SPHINX diferem das curvas de ebulição tradicionais, pois a vazão de fluido refri-
gerante varia com a carga térmica. Os pontos indicados nas curvas das superfícies com espaça-
mento S200 e lixa 400 representam pontos experimentais cujas imagens foram obtidas com a
câmera de alta velocidade e as sequências de quadros são mostradas na Figura 5.44, Figura
5.45, Figura 5.46 e Figura 5.47. Os vídeos dos quadros apresentados podem ser acessados cli-
cando nas Figuras citadas anteriormente ou pelos QR codes localizados nas mesmas Figuras. A
Figura 5.43 mostra o coeficiente de transferência de calor para as superfícies analisadas.
modificada com a lixa 400 pode-se observar o mesmo comportamento para as curvas de ebuli-
ção e o coeficiente de transferência de calor, com exceção do primeiro ponto em ambas as
curvas.
participação da ebulição no processo de transferência de calor. Para essa mesma faixa, o espa-
çamento de aleta mostrou forte influência sobre o coeficiente de transferência de calor, com o
espaçamento S200 sobressaindo-se em relação aos demais, indicando que a capilaridade con-
tribui com a ebulição. Uma maior capilaridade pode ser responsável por uma maior taxa de
fornecimento de líquido para os espaços entre as microaletas e por manter o filme de líquido
uniforme, garantindo assim que a área na qual ocorre ebulição seja maior, devido à ativação de
mais sítios de nucleação.
Para cargas térmicas maiores que 175 W, o coeficiente de transferência de calor das su-
perfícies microaletadas começa a decrescer, aproximando-se dos valores da superfície modifi-
cada com a lixa 400. Como mostrado nos pontos J, N e Q da Figura 5.45, Figura 5.46 e da
Figura 5.47, respectivamente, o filme de líquido se concentra no centro do bloco de cobre e
apresenta dificuldade para atingir a periferia da superfície. Conforme a frente do filme de lí-
quido avança, as microaletas retêm o filme de líquido entre os canais e a alta taxa de ebulição
faz com que a taxa de líquido que evapora seja equivalente à taxa com a qual líquido é forne-
cido, impedindo que líquido chegue até a periferia do bloco de cobre, causando a secagem dessa
região. Dessa forma, a área na qual ocorre ebulição e convecção devido à presença do filme de
líquido sofre um decréscimo, causando a queda do coeficiente de transferência de calor. A se-
cagem na periferia da superfície aumenta junto com a carga térmica, reduzindo a quantidade de
líquido concentrado no centro da superfície até o momento que essa porção de líquido não é
capaz de sustentar de maneira estável a transferência de calor, atingindo o fluxo de calor crítico.
Nas curvas de ebulição, a secagem na periferia da superfície é diminui a inclinação da curva,
sendo necessário um superaquecimento de superfície maior para um mesmo incremento de
carga térmica.
89
Figura 5.40 – Curva de ebulição para as superfícies polida, lixa 400 e L200 fixo.
Figura 5.41 - Curva de ebulição para as superfícies polida, lixa 400 e L400 fixo.
90
Figura 5.42 - Curva de ebulição para as superfícies polida, lixa 400 e L600 fixo.
Figura 5.43 – Comparação entre os coeficientes de transferência de calor para todas as superfí-
cies.
91
Figura 5.44 – Quadros dos pontos indicados nas curvas de ebulição da superfície lixa 400 e
polida.
92
Figura 5.45 - Quadros dos pontos indicados nas curvas de ebulição da superfície S200L200 e
polida.
93
Figura 5.46 - Quadros dos pontos indicados nas curvas de ebulição da superfície S200L400 e
polida.
94
Figura 5.47 - Quadros dos pontos indicados nas curvas de ebulição da superfície S200L600 e
polida.
95
Para obter a área total aletada, são utilizados os parâmetros Spar e Sdar obtidos pelo sof-
tware que processa os dados obtidos pelo interferômetro. O parâmetro Spar corresponde à área
projetada de uma região selecionada, enquanto que o parâmetro Sdar corresponde à área desen-
volvida, ou seja, a área total da superfície da região selecionada, como mostrado na Figura 5.48.
A Figura 5.49 ilustra, para superfície S200L400, a célula unitária utilizada para se obter
os parâmetros Spar e Sdar com auxílio do software de processamento de imagens do interferô-
metro.
Figura 5.49 – Região selecionada para obter a razão entre Spar e Sdar para a superfície S200L400.
96
Uma vez obtidos os parâmetros Spar e Sdar para as superfícies microaletadas, multiplica-se a área
da seção transversal do bloco de cobre, As, pela razão entre os parâmetros Sdar e Spar, que repre-
senta o ganho de área devido às microaletas. Dessa forma, é possível estimar o valor da área
total aletada, 𝐴∗ , pela seguinte expressão
𝑆𝑑𝑎𝑟
𝐴∗ = 𝐴𝑠 (5.1)
𝑆𝑝𝑎𝑟
Os valores obtidos dos parâmetros Spar e Sdar são mostrados na Tabela 5.4.
𝑆𝑑𝑎𝑟
(𝑆, 𝐿) = 𝐵0 + 𝐵1 𝑆 + 𝐵2 𝐿 (5.2)
𝑆𝑝𝑎𝑟
Para calcular o valor da razão entre a área ajustada, Aajust, e a área projetada da superfície
S200L200, substitui-se S e L na Equação 5.2 por 200. Os valores da razão Aajust/As obtidos pelo
ajuste são listados na Tabela 5.4.
97
Tabela 5.4 – Parâmetros Spar e Sdar e áreas total da superfície aletada, A*, e ajustada, Aajust, para
as superfícies avaliadas. O valor da área projetada, As, é 6,4 cm2.
Superfície Sdar [mm²] Spar [mm²] Sdar / Spar A* [cm2] Aajust/As Aajust [cm2]
S200L200 - - - - 1,147 7,343
S200L400 426,421 382,473 1,115 7,135 1,117 7,155
S200L600 724,828 664,351 1,091 6,982 1,089 6,975
S400L200 410,240 363,545 1,124 7,222 1,118 7,155
S400L400 791,462 730,673 1,083 6,932 1,090 6,980
S400L600 1.055,925 996,898 1,059 6,778 1,061 6,795
S600L200 696,907 643,945 1,082 6,926 1,089 6,974
S600L400 1133 1064 1,065 6,815 1,059 6,780
S600L600 1580 1487 1,062 6,800 1,058 6,776
𝐴𝑠
ℎ𝑠∗ = ℎ𝑠 (5.3)
𝐴∗
A curva da superfície S200L200 plotada na Figura 5.50 foi obtida utilizando a razão Anom/As
originada do ajuste.
Ao levar em conta a área total aletada, percebe-se que, apesar da queda no coeficiente
de transferência de calor, as superfícies microaletadas ainda apresentaram aumento significa-
tivo em relação à superfície polida, indicando que a capilaridade desempenha um papel superior
na transferência de calor do que o aumento de área. Também é interessante notar que a diferença
entre os valores de coeficiente de calor diminuiu para superfícies com mesmo espaçamento,
indicando que a capilaridade é semelhante entre elas, o que é esperado, já que o espaçamento é
constante.
98
A Figura 5.51 mostra o fluxo de calor crítico em função do fluxo volumétrico máximo
dos ensaios de drenabilidade para as superfícies analisadas. Percebe-se que o fluxo de calor
crítico apresentou baixa correlação com o fluxo volumétrico máximo, principalmente quando a
comparação é realizada somente entre as superfícies microaletadas. Uma possível razão para a
baixa correlação é a diferença entre as condições sob as quais ocorre o fluxo de calor crítico em
pool boiling e spray cooling. Em pool boiling, a superfície e as microaletas encontram-se cons-
tantemente preenchidas por líquido, garantindo que haja uma determinada vazão de líquido
entre as microaletas, enquanto que, em spray cooling, a presença de líquido depende da dinâ-
mica das gotículas que incidem sobre a superfície.
Também é possível que a faixa de valores de fluxo volumétrico máximo gerada com as
superfícies aqui fabricadas não seja ampla o suficiente para detectar uma grande variação no
fluxo de calor crítico. No trabalho de Rahmann (2014), por exemplo, a faixa de valores de fluxo
volumétrico máximo foi de 0 a 5,2 mm/s e, em determinados intervalos de fluxo volumétrico
máximo, o fluxo de calor crítico não apresentou variações significativas. Além disso, o autor
também utilizou o mesmo fluido nos testes de drenabilidade e nos experimentos de pool boi-
ling, o que não pôde ser feito neste trabalho devido à inviabilidade de se trabalhar com R-134a
em condições ambientes. Apesar de pouco provável, já que tanto o R-134 e o álcool etílico são
fluidos molhantes, essa diferença entre os fluidos utilizados para testes de drenabilidade e ex-
perimentos também pode ter exercido influência sobre os resultados.
99
Tendo em vista que nos resultados de desempenho térmico das superfícies foi consta-
tado que a grande vantagem das microaletas se deu sobre o coeficiente de transferência de calor,
a Figura 5.52 mostra os valores máximos do coeficiente de transferência de calor com base na
área desenvolvida, ℎ𝑠∗ , em função da derivada máxima das curvas de volume drenado com o
intuito de identificar uma possível relação entre ambos. A derivada foi escolhida pois esta re-
presenta a vazão volumétrica de líquido que ocorre entre as microaletas, podendo assim existir
alguma relação entre o coeficiente de transferência de calor e a vazão volumétrica. O valor
máximo de ℎ𝑠∗ foi escolhido por excluir o efeito do aumento na área de troca de calor e enfatizar
a capilaridade propiciada pelas microaletas. De maneira semelhante ao fluxo de calor crítico, o
coeficiente de transferência de calor máximo também não apresentou correlação clara com de-
rivada máxima. Tal ausência de correlação possivelmente ocorre porque o ponto máximo de
coeficiente de transferência de calor se situa numa região da curva de ebulição onde a ebulição
predomina sobre a convecção oriunda do bombeamento capilar, o qual está relacionado com a
vazão volumétrica de líquido entre as aletas. Também é possível que a faixa de valores da de-
rivada máxima seja limitada e que o fato do fluido utilizado ser diferente do fluido de trabalho
tenham influenciado o resultado.
100
Nesta seção são discutidos os resultados de desempenho do sistema sob o ponto de vista
do sistema de refrigeração.
A Figura 5.53, Figura 5.54 e a Figura 5.55 mostram os resultados para a potência con-
sumida pelo compressor. Apesar das superfícies modificadas terem apresentado potências me-
nores em relação à superfície não modificada, os valores estão dentro da faixa de incerteza.
Portanto, pode-se considerar que a modificação das superfícies não alterou a potência consu-
mida pelo compressor.
101
Figura 5.53 – Potência do compressor para as superfícies polida, lixa 400 e L200 fixo.
Figura 5.54 - Potência do compressor para as superfícies polida, lixa 400 e L400 fixo.
102
Figura 5.55 - Potência do compressor para as superfícies polida, lixa 400 e L600 fixo.
A Figura 5.56, Figura 5.57 e a Figura 5.58 mostram o comportamento do COP do sis-
tema de refrigeração em função da carga térmica. Percebe-se que os valores do COP se situam
dentro das faixas de incerteza para todas as superfícies, da mesma forma que ocorreu com os
resultados de potência consumida pelo compressor. Sendo assim, é possível concluir que as
alterações na estrutura das superfícies não influenciaram o desempenho termodinâmico do sis-
tema de refrigeração, o que é um resultado importante do ponto de vista da estabilidade do
sistema em uma dada condição de operação. Tal comportamento pode ser explicado pelo fato
de que a carga térmica é fornecida por uma resistência elétrica (efeito Joule), a qual impõe uma
taxa de transferência de calor na unidade de resfriamento que independe do coeficiente de trans-
ferência de calor. Dessa forma, a variável dependente é a temperatura da superfície ao invés da
capacidade de refrigeração.
103
Figura 5.56 - COP para as superfícies polida, lixa 400 e L200 fixo.
Figura 5.57 - COP para as superfícies polida, lixa 400 e L400 fixo.
104
Figura 5.58 - COP para as superfícies polida, lixa 400 e L600 fixo.
A Figura 5.59, Figura 5.60 e a Figura 5.61 mostram o título mássico na saída da
SPHINX. As superfícies microestruturadas e a preparada com a lixa 400 apresentaram a vanta-
gem, em relação à superfície não modificada, de resultar maiores títulos mássicos quando se
aproximam do CHF. Enquanto que a superfície não modificada não ultrapassa valores de título
mássico de 90 %, as demais superfícies chegam a apresentar valores de até 95%, mostrando
que as superfícies modificadas foram mais eficientes em utilizar o líquido disponível para mu-
dança de fase para remover maiores cargas térmicas.
105
Figura 5.59 – Título mássico na saída da SPHINX para as superfícies polida, lixa 400 e L200
fixo.
Figura 5.60 - Título mássico na saída da SPHINX para as superfícies polida, lixa 400 e L400
fixo.
106
Figura 5.61 - Título mássico na saída da SPHINX para as superfícies polida, lixa 400 e L600
fixo.
107
6 Considerações Finais
6.1 Conclusões
Utilizando o aparato desenvolvido por Oliveira (2016) e partindo dos resultados obtidos
por Carneiro (2018) que revelaram a secagem prematura da superfície, foi investigado o poten-
cial para otimização da distribuição do filme de líquido empregando superfícies modificadas.
Entre as estratégias de resfriamento avaliadas por Carneiro (2018) para implementar no aparato
desenvolvido por Oliveira (2016), jatos paralelos que incidem diretamente sobre a superfície
aquecida e jatos colidentes formando spray, foi escolhida a segunda por ter apresentado maior
performance térmica em relação à primeira. A matriz de dois jatos colidentes foi adotada por
ter apresentado pior distribuição do filme de líquido em relação à matriz de três jatos colidentes,
sendo, assim, mais propício o seu potencial para otimizar a distribuição do filme de líquido.
Foram fabricadas por ablação a laser nove superfícies microaletadas com aletas de geome-
tria quadrada e com comprimentos de 200, 400 e 600 μm e espaçamentos entre aletas de 200,
400 e 600 μm. A caracterização das superfícies foi realizada por microscopia óptica e por in-
terferometria de luz branca. As superfícies modificadas foram testadas na bancada SPHINX
com a matriz de dois jatos colidentes e foram avaliados e comparados o desempenho térmico
das superfícies e o comportamento termodinâmico do sistema de refrigeração. Também foram
realizadas filmagens para analisar os fenômenos relacionados ao comportamento do filme de
líquido e aos mecanismos de transferência de calor. Foi construída uma bancada anexa à ban-
cada SPHINX para os testes de drenabilidade. Utilizando um tubo capilar de acrílico e álcool
etílico, foram realizados os testes de drenabilidade com as superfícies microaletadas.
Os testes de drenabilidade não revelaram relação clara entre o fluxo de calor crítico
e fluxo volumétrico máximo quando se compara apenas as superfícies microaleta-
das. É possível que a faixa de valores de fluxo volumétrico máximo obtida seja
muito estreita para que se observe a correlação entre fluxo de calor crítico e fluxo
volumétrico máximo. Portanto, para uma investigação mais precisa da correlação
entre fluxo de calor crítico e fluxo volumétrico máximo, é necessário analisar uma
faixa maior de valores para o fluxo volumétrico máximo.
Fabricar aletas com geometrias diferentes, como, por exemplo, a geometria pi-
ramidal presente na literatura.
Fabricar superfícies com altura de aleta maior e avaliar a influência desta no
desempenho térmico de superfície.
Modificar a superfície apenas na periferia da superfície do bloco de cobre dei-
xando o centro modificado apenas com a lixa 400 como uma tentativa de per-
mitir que, para altas cargas térmicas, o filme de líquido concentrado no centro
do bloco cobre continue escoando e atinja a periferia da superfície e valores
superiores para o fluxo de calor crítico possam ser atingidos.
Identificar o ponto de Leidenfrost das superfícies e avaliar a influência das mo-
dificações superficiais em relação a superfície polida sobre este e investigar
uma possível correlação com o aumento do fluxo de calor crítico proporcionado
pelas microaletas, servindo como um critério de comparação entre superfícies
além da drenabilidade.
110
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117
A.1 – Definições
𝑁 1/2
1
𝑠(𝑋) = [ ∑(𝑋𝑖 − 𝑋̅)2 ] (A.2)
𝑁−1
𝑖=1
onde
𝑁
1
𝑋̅ = ∑ 𝑋𝑖 (A.3)
𝑁
𝑖=1
pode ser calculada pelo método de série de Taylor para propagação de incerteza (Moffat, 1988)
𝑁 2
𝜕𝑅
𝑢(𝑅) = √∑ [ 𝑢(𝑋𝑗 )] (A.5)
𝜕𝑋𝑗
𝑗=1
2008). Para calcular a incerteza expandida é necessário utilizar o fator de abrangência para uma
probabilidade de 95%, k95.
𝑈 = 𝑘95 𝑢 (A.6)
O valor do fator de abrangência, k95, é de 2 para uma grande amostra de dados e considerando
uma distribuição normal de probabilidade (INMETRO, 2012)
2
𝑠(𝑋𝑗 )
𝑢𝑐𝑎𝑙𝑖𝑏𝑟 (𝑋) = √𝑢𝑟𝑒𝑓
2 2
+ 𝑢𝑐𝑓 + [max ] (A.7)
√𝑁
onde N é o tamanho da amostra e j é o ponto experimental, que vai de 1 até o número total de
pontos experimentais, EP, utilizados para o ajuste de curva.
𝐸𝑃
1 2
𝑢𝑐𝑓 =√ ∑(𝑋𝑟𝑒𝑓,𝑗 − 𝑋𝑐𝑓,𝑗 ) (A.8)
𝐸𝑃 − 2
𝑗=1
onde Xref,j e Xcf,j são os valores medidos pelo instrumento de medição de referência e o valor
obtido da curva ajustada, respectivamente. O procedimento descrito acima foi utilizado para
determinar a incerteza de temperatura, pressão absoluta, vazão mássica de refrigerante, vazão
volumétrica do fluido do circuito secundário e potência de entrada do calorímetro.
119
1,5
𝑢(𝑌) = √0,5𝑌 + 0,5𝑅𝑁𝐺 + 0,09(𝑓 − 10)𝑌 (A.9)
100 √3
onde RNG representa a faixa de valores determinada no instrumento para os parâmetros medi-
dos e f é a frequência de operação, em kHz.
A incerteza padrão combinada, u(h), para a entalpia específica como função da pressão
e temperatura
ℎ = ℎ(𝑃, 𝑇) (A.10)
𝜕ℎ 2 2 𝜕ℎ 2 2
𝑢 2 (ℎ)
= ( ) 𝑢 (𝑃) + ( ) 𝑢 (𝑇) (A.11)
𝜕𝑃 𝜕𝑇
onde u(P) e u(T) são as incertezas padrão combinadas da pressão e da temperatura obtidas da
calibração, respectivamente.
𝜕ℎ ℎ( 𝑃𝑗+1 , 𝑇) − ℎ(𝑃𝑗−1 , 𝑇)
≈ (A.12)
𝜕𝑃 2𝑢(𝑃)
onde Pj+1 é o valor médio da pressão da amostra acrescido de u(P) enquanto Pj-1 é o valor médio
da pressão da amostra decrescida de u(P). O mesmo procedimento é adotado para Tj+1 e Tj-1.
2 2 2 (A.14)
𝜕ℎ𝑗𝑐,𝑜 𝜕ℎ𝑗𝑐,𝑜 𝜕ℎ𝑗𝑐,𝑜
2
𝑢 (ℎ𝑗𝑐,𝑜 ) = ( ) 𝑢2 (ℎ𝑗𝑐,𝑖 ) + ( ) 𝑢2 (𝑄̇𝑐 ) + ( ) 𝑢2 (𝑚̇𝑟 )
𝜕ℎ𝑗𝑐,𝑖 ̇
𝜕𝑄𝑐 𝜕𝑚̇ 𝑟
(A.15)
𝑢(𝑄̇ 𝑐) 2 𝑢(𝑚̇ 𝑟 )𝑄̇𝑐 2
𝑢(ℎ𝑗𝑐,𝑜 ) = √𝑢2 (ℎ𝑗𝑐,𝑖 ) + [ ] +[ ]
𝑚̇𝑟 (𝑚̇𝑟 )2
𝜕𝑥𝑗𝑐,𝑜
2
𝜕𝑥𝑗𝑐,𝑜
2 (A.16)
2
𝑢 (𝑥𝑗𝑐,𝑜 ) = ( ) 𝑢2 (𝑃) + ( ) 𝑢2 (ℎ)
𝜕𝑃 𝜕ℎ
2 2 (A.17)
2
𝑥𝑗𝑐,𝑜 (𝑃𝑗+1 , ℎ) − 𝑥𝑗𝑐,𝑜 (𝑃𝑗−1 , ℎ) 𝑥𝑗𝑐,𝑜 (𝑃, ℎ𝑗+1 ) − 𝑥𝑗𝑐,𝑜 (𝑃, ℎ𝑗−1 )
𝑢 (𝑥𝑗𝑐,𝑜 ) = [ ] +[ ]
2 2
121
Nas Equações A.16 e A.17, P e h são a pressão e a entalpia avaliadas na saída da SPHINX,
respectivamente.
𝑄̇𝑐 = 𝑖𝑉 (A.18)
onde V e i são a voltagem e corrente elétrica fornecidas pela fonte de alimentação, respectiva-
mente.
𝜕𝑄̇𝑐
2
𝜕𝑄̇𝑐
2 (A.19)
̇ 𝑐)
𝑢2 (𝑄 =( ) 𝑢 2 (𝑉)
+( ) 𝑢2 (𝑖)
𝜕𝑉 𝜕𝑖
̇ 𝑐 ) = √[𝑖𝑢(𝑉)]2 + [𝑉𝑢(𝑖)]2
𝑢2 (𝑄 (A.20)
onde k é a razão entre a carga térmica que chega na superfície do bloco de cobre e a carga
térmica fornecida pela resistência em filme, como comentado Seção 3.5.
122
Como descrito na Seção 3.5, a temperatura da superfície é calculada por uma extrapo-
lação da lei de Fourier. Portanto, o método de propagação de incerteza precisa ser aplicado à
Equação 3.10, que pode ser escrita em função do diâmetro da superfície
4𝑙𝑠 𝑄̇𝑐∗
𝑇𝑠 = 𝑇̅𝑅𝑇𝐷 − (A.24)
𝜋𝐷2 𝑘𝑠
onde 𝑇̅𝑅𝑇𝐷 é a média aritmética das temperaturas medidas pelos RTDs inseridos no bloco de
cobre. Assim, a incerteza da temperatura da superfície fica
16 ∗ 2 2 (𝑙 )
4𝑙𝑠2 𝑄̇𝑐∗ 𝑢2 (𝐷)
+ ̇ 2 2 ̇∗
[𝑄 𝑢 𝑠 + 𝐿 𝑢 (𝑄𝑐 ) + (A.25)
𝜋𝐷4 𝑘𝑠2 𝑐 𝐷2
2 1/2
𝑙𝑠2 𝑄̇𝑐∗ 𝑢2 (𝑘𝑠 )
+ ]}
𝑘𝑠2
onde a incerteza expandida U(ls) e U(D) valem 0,05 mm, de acordo com o fabricante do instru-
mento de medição.
A incerteza da média das temperaturas do bloco de cobre, 𝑢(𝑇̅𝑅𝑇𝐷 ), pode ser obtida por
6
1
𝑢(𝑇̅𝑅𝑇𝐷 ) = √∑ 𝑢2 (𝑇𝑅𝑇𝐷,𝑗 ) (A.26)
6
𝑗=1
O coeficiente de transferência de calor descrito na Equação 3.9 também pode ser escrito
em função do diâmetro como
123
4𝑄̇𝑐∗
ℎ𝑠 = (A.27)
𝜋𝐷2 (𝑇𝑠 − 𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝 )
2 2
4 2𝑄̇𝑐∗ 𝑢(𝐷) 𝑄̇𝑐∗ 𝑢(𝑇𝑠 )
𝑢(ℎ𝑠 ) = {𝑢 (𝑄̇𝑐 ) + [
2 ∗
] +[ ]
𝜋𝐷 2 (𝑇𝑠 − 𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝 ) 𝐷 𝑇𝑠 − 𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝
(A.28)
2 1/2
𝑄̇𝑐∗ 𝑢(𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝 )
+[ ] }
𝑇𝑠 − 𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝
2
𝜕𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑
𝑢(𝑇𝑐𝑜𝑛𝑑 ) = √[ 𝑢(𝑃𝑐𝑜𝑛𝑑,𝑜 )] (A.31)
𝜕𝑃𝑐𝑜𝑛𝑑
2
𝜕𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝
𝑢(𝑇𝑒𝑣𝑎𝑝 ) = √[ 𝑢(𝑃𝑗𝑐,𝑜 )] (A.32)
𝜕𝑃𝑗𝑐,𝑜
Analogamente ao processo descrito para a entalpia específica, as derivadas parciais são aproxi-
madas por
fazendo as substituições
2 2
𝑢(𝑄̇𝑐 ) 𝑄̇𝑐 𝑢(𝑊̇𝑐𝑜𝑚𝑝 )
𝑢(𝐶𝑂𝑃𝑗𝑐 ) = {[ ] +[ 2]
𝑊̇𝑐𝑜𝑚𝑝 + 𝑊̇𝑓𝑎𝑛 (𝑊̇𝑐𝑜𝑚𝑝 + 𝑊̇𝑓𝑎𝑛 )
1/2
(A.37)
2
𝑄̇𝑐 𝑢(𝑊̇𝑓𝑎𝑛 )
+[ 2 ] }
(𝑊̇𝑐𝑜𝑚𝑝 + 𝑊̇𝑓𝑎𝑛 )
0,08𝑉 + 2𝑑
𝑢(𝑉) = (A.39)
100√3
125
0,02𝑖 + 4𝑑 (A.40)
𝑢(𝑖) =
100√3
São apresentadas nas Tabelas abaixo as incertezas expandidas dos parâmetros medidos
e calculados