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Um capiau no Vale do Ribeira

Esta semana tive a oportunidade de entender o que


é o sistema de semeadura direta, as muvucas que o
Oswaldinho me fala a 30 anos.

Confesso que fui para a expedição agoniado, tinha que ter a resposta ao processo
que recai sobre o assentamento Santa Helena de são Carlos, é necessário fazer lá
uma recomposição florestal pra valer.

Minha primeira experiência de fazer uma floresta crescer.

Domingo já comecei dando trabalho, me perdi do ponto de encontro no shopping


Eldorado em são Paulo. Fui o último a embarcar.

Chegamos a pousada de Eldorado e já fomos recebidos com bananas da região,


chegamos ao Vale do Ribeira.

De cara tive que enfrentar um agricultor convencido, aqueles que te enchem o saco
testando o agrônomo…

Como sou capiau, meio mineiro pela proximidade onde moro, afinal Piracaia é um
tirinho de Minas. Dei trela e ouvi tudo calado. Sentindo quem era o figura.

Minha ansiedade pela vivência veio acentuar uma característica que tenho nos
últimos tempos, dormir cedo e acordar mais cedo ainda. De fato cai da cama
naquele dia, fui como de costume ver o sol raiar a beira do rio Iguape. Tal minha
surpresa quando ouvi um som de um mini helicóptero a sobrevoar minha cabeça,
fiquei fascinado com a precisão de aplicação do produto e que o vento formado
pelas hélices do bichinho fazem a aplicação ficar perfeita. Mas não tendo como fugir
levei um banho do tal óleo mineral que dona Arlete, mais tarde, se referiria ao tal
líquido mau cheiroso, “banho tomado” fui pra cozinha filar um café e ver dona Arlete
preparar nossos quitutes para o café da manhã. Esqueci o celular, fui pegar no meu
quarto. O tal entendido me cercou… e agora me explicou por que o Promotor de
justiça tava errado em querer 50 metros de cada margem do grande rio para deixar
abandonar os bananais, justo na área mais bonita da cultura. Foram uns 15 minutos
de monólogo, e eu ouvindo querendo entender seus argumentos. Sem questionar,
só ouvindo. Nesta altura, já tinha aprendido tudo da fermentação natural dela, que
prometia fazer o melhor pão que comi na vida.

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Surpresa mesmo foi ver a cara da Aline sair do quarto com a cara amassada. 8
horas da manhã em ponto, dona Arlete tinha feito todo aquele banquete, já sabia de
cor, o que ia avançar de desejum, doce de batata doce, pão de batata doce, suco de
cupuaçu, café cheiroso e lógico o tal pão delicioso, versão vegana e versão
queijana. Fotografia feita na casa de pau a pique, bucho cheio, fomos lá enfrentar o
dia. Chegamos na hora do combinado na praça matriz de Eldorado. A nos esperar
os demais integrantes da trupe. Tudo gente boa, me chamou a atenção aquele
japonês, parecia um agrônomo pesquisador. Logo chegou nosso chefe desta
jornada, aquele gordinho alegre.

Fomos lá a caminho dos quilombos...Chama a atenção ao contraste do mar de


bananas que nos alojamos para o mar de morros florestados, vi uma coisa que
nunca tinha visto, app de banana, algo inédito, o resto tudo mata fechada. Tá tudo
certo pensei comigo.

Chegamos ao quilombo, como me sinto bem com esta gente simples. Primeira
atividade, aquela roda de apresentação que nos seguiu por toda a expedição, no
início meio contraída depois fomos nos soltando e antes do nome ser pronunciado
já sabíamos até o que a pessoa ia falar da instituição que representava, uma
dinâmica de tirar o chapéu.

Melhor almoço que tivemos, um banquete da roça, e muito mais um banquete


ancestral daquela gente simples. Bucho cheio, fomos lá visitar o tal espírito guardião
da floresta que o Oswaldinho me falava, que construção bonita, toda em barro de
adobe, pequenininha mais preciosa. Prosa boa que ouvimos daquelas lideranças, o
que mais saltou os olhos foi a confiança que eles emanavam, aquela senhora
recebia um pix com todo o ganho das famílias e saia pagando a cada uma com o
teco que lhes pertenciam. Com o idoso aprendi como vou preparar a sementes do
juçara que tenho no meu ponto de ônibus para São Paulo, todas as madrugadas de
Piracaia.

Emocionados seguimos viagem.

O 2º ponto de parada encontramos três apaixonados, um técnico que entende, um


gestor que ama, e um veio que paga pra trabalhar e só vai sair na expulsória, tal a
dedicação com que trabalha com aquelas Unidades de Conservação. Vimos o
terceiro setor através das ONGs criar florestas através das “muvucas”. O veio se
incorporou a nossa trupe, e por sinal, foi o animador da turma.

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A viagem prometia, fui me animando com o caminho, era verde que não se vê no
planalto e fui conhecer a tal serra da Macaca. Puxa vida, nunca tinha entrado numa
mata em estágio avançado de regeneração, beirando a estágio primário, de
arrepiar.

Pois então, vencido o êxtase chegamos até o quintal do tal japonês que me
impressionou no início da jornada. Era tanta beleza, tanta organização, tanto ideal
em prática que apesar de cansados ouvimos atentamente o que ele tinha a nos
contar, Trabalho que iniciou a tempos. Lá tirei foto como às minha filhas: as mudas
de frutas nativas que ele vai me ceder para o tal reflorestamento que me agoniava
no início desta empreitada.

E o dia não acabava, mas valeu a pena, fomos recebidos no início da noite pela
professora Fátima da UFSCAR Sorocaba, mãe de todos os semeadores do Brasil, é
para lá que os coletores de sementes entregam seus lotes a espera de sua
aprovação. Aula pedagógica explicando todos os procedimentos para selar nossas
sementes como “viáveis” para semear o Brasil e o mundo.

Pela noite pude conhecer o atual diretor do Departamento de Sementes, Matrizes e


Mudas da CATI, conversa vai conversa vem, me lembrando os parceiros com que
pude atuar quando trabalhava no ITESP. Pronto, ganhei uma seleção de sementes
para instalar no meu campo de mostrativo do Santa Helena.

Nova manhã, fomos visitar unidades de produção comerciais, grande escala, A


primeira delas de um jovem idealista que aos poucos vai conseguindo colocar sua
marca na propriedade da família, lá também pudemos conhecer a maravilhas
tecnológicas , entender o que a Marri tanto falava de sua empresa, a tal semeadura
direta por drones.

A segunda parada demostrou como o capitalismo vem se apropriando da


sustentabilidade das florestas, quebro minhas pernas, compreendi que tudo estava
certo, 1200 hectares certificados e 400 hectares de floresta num mar de cana e 100
hectares em regeneração por semeadura direta e pude conhecer o trabalho de
adequação das máquinas de plantio de SAF do Ernest, mais uma vez que o
Oswaldinho me falava. Repito tudo certo.

A terceira parada e a cereja do bolo, conheci meus mestres, os Eduardos, uma


propriedade que vem do bisavô da família, com estação ferroviária dentro dela e
com um mundareu de gente em 1908, como estampada o restaurante que nos

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serviu com amor. As três comitivas reunidas, aqueles jovens todos unidos por um
ideal, me arrepia todo. Lá encontrei uma amiga da APTA, dela ganhei batata doce,
ramas de mandioca, de inhame e de bananas para controlar meu kit floresta, mais
uma vez quebrei as pernas, tive que compreender a importância do herbicida para
controlar a braquiária inicial, o espaçamento 1 X 1, para logo fechar o dossel e
interagir com toda aquele gente que vive a muvuca.

Mas foi ao pé de ouvido com aquele guardião da floresta daquela unidade


pedagógica da semeadura direta no Brasil que tive respondida minha pergunta que
fui buscar no início desta empreitada. Em fim, sei como conduzir as florestas do
Santa Helena.

Para finalizar ganhei meu saquinho de muvuca de sementes do Codorna e ao voltar


de baixo de chuva pude reverenciar o Criador e agradecer por entender quem é que
manda.

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