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CENA NÚMERO UM.

A luz incendeia o local, aparecendo Théo. Ele estava sentado em uma cadeira de madeira, em um
bar. Em sua mão estava um papel amarelado, seu olhar era de tristeza, e sua cabeça estava rodeada
de pensamentos negativos. Já que aquela carta, era última que ele leria de seu irmão.

Utilizava seu paletó amarelo mostarda, com detalhes pretos nas pontas das mangas, e seu chapéu
preto com detalhe cinza, e sua calça preta justa e seus chinelos de couro.

Théo piscava, ele não queria demonstrar nenhuma lágrima, ou fraqueza, ele não havia mais
ninguém, além de sua irmã.

O bar aonde estava sentado, estava sujo demais, cheirava a cachaça, havia pessoas bêbadas
brigando pelo local. Ele pensava como que seu irmão iria para aquele local todas as semanas, era
nojento.

Até que seus pensamentos se rompem quando percebe a presença de Paul. ‘melhor amigo’ de seu
irmão.

Suas roupas estavam sujas, seu casaco de veludo azul estava com manchas prateadas, seus
sapatos rasgados, e sua calça preta suja com pingos de tinta branca… Com isso, surgiu um ponto de
interrogação na cabeça de Théo. Franziu o cenho e dobrou as pernas.

Paul:Seu irmão era louco. Você acha que ele fez isso por quê? - Ele deu um gole em sua
cerveja, que Théo não sabia da onde surgiu.

Théo:Você ainda se pergunta? Tenho certeza que o principal motivo foi você. - Até mesmo
com raiva, Théo não alterava seu tom de voz, aquilo era seu principal. - Ele fez aquilo porque
não aguentava mais. Desde que você apareceu na vida dele, você estragou-a. - Théo olhava
para o reflexo do olhar de Paul. Tão frio e sombrio, não lhe assustava, apenas dava ódio. -
Imagino que deve estar feliz, já que pode ficar com o dinheiro do único quadro que meu irmão
vendeu, você ainda diz que ajuda.

Paul se levantou, e logo segurou mão de Théo, fazendo o mesmo levantar também.

Paul: Vamos, temos muito oque conversar… - os atores saem de cena, e assim, o local
escurece.
CENA NÚMERO DOIS.
Mãe de Van Gogh está de pé no interior do palco, com panos de prato em suas mãos, enquanto
secava talheres. E sentado numa grande mesa de madeira no centro da cozinha, estava seu marido,
Théo.

A cozinha da residência era com tons escuros, com rosa claro. Havia panelas penduradas em
ganchos nas paredes, as gavetas eram de madeiras, e havia uma grande fornalha com carvão que
Anna pegava todos os dias para fazer pelo menos um pernil, o dinheiro era pouco naquela época.

Utilizava seu vestido branco de gola alta, e seu chapéu marrom com uma violeta no meio, aquela era
a marca registrada de Anna.

Seu marido estava vestindo sua roupa de pastor, oque não combinava muito com ele, já que sempre
foi um homem abusivo e sem muito amor em seu coração. Era cabeça dura ignorante, do amargo ao
meio limão, mas, como Anna se apaixonou por ele? Nem ela mesma sabia, mas o rancor de um
casamento arranjado, ainda queimava em seu coração.

Théo: e aquela garota, hein? Não irá lhe ajudar na louça? Ela realmente é uma estúpida que
não sabe fazer absolutamente nada.

Anna: Ela já ajudou demais, querido. Não acha que você pode estar no lugar dela em alguns
segundos?

Então, entra em cena os três irmãos: Elisabeth, Théo e Van Gogh.

Estavam segurando bacias com água, suas roupas que eram claras, estavam pretas e manchadas.
O vestido de Elisabeth parecia que foi pisoteado por um caminhão de guerra, seus cabelos estavam
soltos, com os fios caindo em seu rosto.

Théo estava com uma regata branca, e com uma calça preta de cintura alta, e descalço. Van Gogh
com seu suspensório preto e com sua camisa branca de botão e seu short completamente marcado
de preto, esboçava um sorriso no rosto.

Elisabeth: Conseguimos pegar isso antes do entadercer, o que é bom! - Os mesmos


colocaram as bacias no chão, ainda ofegantes, a mãe sorriu, satisfeita com a ação de seus
filhos, mas o pai não se conteu e logo bufou.

Van Gogh: Havia… Uma bela vista, não? - Seu olhar estava aéreo, seu sorriso era nítido.

Théo (irmão): Sim. - fitou seu irmão. - Uma bela obra de arte, não acha? Daria um belo quadro.
- Colocou sua mão no ombro de Van Gogh e abriu um sorriso ladino, e sua irmã se aproximou.

Pai de Van Gogh se levantou da cadeira. E encarou seu filho, oque fez Van Gogh fechar o
sorriso.

Théo (Pai): Você ainda acha que com esses quadros… - Fez uma feição de nojo. - irá ter algum
futuro? Acorde! Dê razão para o maior, Deus.

Anna: Não comece, querido. Se ele gosta de pintar, deixe-o em paz.

Théo (Pai): Deixar ele em paz?! - aumentou o tom. - Você quer que seu filho seja um louco?
Olhe para o estado dele! Isso é uma vergonha! Vergonha para mim, para você, para a nossa
famíli… - Théo intenrrompeu sua fala.

Théo: Nem todos nós temos a mesma crença do que a sua! Dá para você ficar quieto? - Diz ele
se aproximando da mesa.

Elisabeth: Vocês brigam absolutamente com tudo, acho que todos daqui precisam de aju… -
Van Gogh chutou sua bacia, e respingou água na roupa de sua mãe, oque a assustou.

Van Gogh: Escute, papai. Se for louco é ser arte, eu quero ser louco para sempre. - E então
Van Gogh sai de cena.

Anna: É isso que você faz, esse garoto está mal educado demais, como você. E ainda diz que
ele é a vergonha da família. - Pegou as bacias com sua filha e saiu de cena, deixando seu filho
e seu marido.

Théo (Pai): Vocês são uma vergonha. Não é possível que vocês sejam feitos por Deus!

Théo (Irmão): Pare de colocar Deus no centro de tudo. Não existe apenas cristianismo como
religião, você sabe disso. - sua voz era serena, e olhava para o pai com um olhar de cautela.
Sabia que não poderia mexer com ele de forma brutal.

Théo (Pai): Louco. Saía da minha frente, seu insolente. Você é o meu pior orgulho. - dito e
feito. Théo não aguentou mais ficar no mesmo cômodo que seu pai, então, apenas mordeu os
lábios e saiu de cena.

As luzes se apagam.
Cena número três.
As luzes são acessas, assim, iluminando um quarto com paredes amarelo mostarda, com detalhes
marrom.

Havia uma cama, totalmente bagunçada, um armário com roupas bagunçadas no topo, e um chápeu
pendurado nas alavancas do objeto.

Os móveis eram de madeira escura, e no chão, um tapete azul escuro veludo.

Mas, não era oque mais chamava atenção ali, e sim, van gogh sentado num pequeno banco de
madeira baixo, com suas roupas, mãos e rosto sujos de tinta, enquanto segurava uma palheta de
cores em sua mão direita, um píncel em sua mão esquerda e um outro píncel em sua orelha.

Estava vibrado, com uma parte da língua para fora.

Van Gogh: AH! AH! Eu desisto! - Jogou o píncel no chão, mas, pegou rapidamente. - Não!
Espere, eu posso fazer mais… Hm… Isso daqui…- Sua tela já estava enxarcada de tinta. Ele
estava com ausência de sua criatividade, oque era estranho. Suspirou fundo com um olhar de
decepção, estava com olheiras profundas.

Até que sua irmã, Elisabeth adentra no recinto, com sua camisola longa, e seus cabelos
soltos.

Gogh, não mexeu a cabeça, e a encarou de canto de olho. Ela se sentou na cama, com as
mãos no joelho.

Van Gogh: O que foi? Perdeu algumas de suas peças íntimas? Queridinha do papai. - Ele se
virou totalmente para ela, mostrando seu estado.

Elisabeth: Ah! Van… Você ainda não se lavou? - ela parecia constrangida, olhando para o
mesmo da cabeça aos pés.- Ahm… mas isso não é o de importante, agora. - Se levantou,
caminhando lentamente até a outra ponta do cômodo.

Van Gogh: Então o que é importante? Você é esquisita, nunca fala na hora! Me dá aos nervos.
- O mesmo, fitava sua irmã, cada passo.

Elisabeth: Você destratou o papai hoje na cozinha!- Diz ela gesticulando- E ainda deixou
derrubar a bacia na roupa da mamãe! Você não acha que precisa de um pedidos de
desculpas?

Van Gogh: Desculpas? Não, não irei. - Ele volta a seu quadro com a mesma posição.

Elisabeth: Você é um mesmo mal educado! - Ela se aproximou e franziu as sombrancelhas,


como uma feição triste. - Eu apenas quero cuidar de você, Van. - Colocou suas mãos no
ombro do irmão.

Van Gogh: AH! - Gritou e se levantou, ainda com a palheta em suas mãos. - Já que quer tanto
cuidar de mim, por que não sai simplesmente daqui? Pedir desculpas para o papai é fácil,
porque é a favorita del… - Sua fala se rompe.

Elisabeth: EU NÃO SOU A FAVORITA DE NINGUÉM! QUANTAS VEZES TEREI QUE DIZER
ISSO!
Van Gogh: VOCÊ NUNCA SOFREU PELO PAPAI! SEMPRE FICA QUIETA QUANDO ACONTECE
ALGO COMIGO. - Elisabeth se encolheu, e Van Gogh se afastou.

Elisabeth: Esqueça, não dá para ter uma conversa com um louco. - Então saiu de cena.

Van Gogh se sentou novamente, no pequeno banco.

Van Gogh: Louco, sempre será louco. - Pegou seu píncel começou a fazer pequenas linhas na
tela branca, e misturava cores na palheta, mas nada parecia ao seu alcance.

Por trás do armário, surgiu dois atores. Utilizavam uma blusa azul, e suas calças brancas.
Demonstravam alegria no olhar, mas é óbvio, era isso que eles eram: a alegria de Van Gogh
surgindo no palco.

Alegria um: Olhe lá! Ele está tentando novamente… - Alegria número dois mexeu seu rosto.

Alegria dois: Quanta sujeira. Ele não se cansa de viver em um chiqueiro? Pelo que eu saiba,
ele não mora em uma fazend… - Alegria número um tampou sua boca, e fez um sinal de
silêncio.

Van Gogh estava remexendo sua cabeça para todos os lados, parecia estar incomodado.

Van Gogh: Minhas… Minhas mãos… - Ele encarava suas mãos sem parar, parecia que havia
visto seu pior pesadelo. - Eu preciso… Ok… Eu preciso. - E voltou a pintar seu quadro, mas
mesmo assim, seus olhos não paravam de se mover.

Alegria um: PELAS BATATAS! - As emoções saem de trás do armário. - Isso não está legal,
não, não. - Se aproximou de alegria dois.

Alegria dois: Está bom sim! O que quer fazer? Espamar mais? - Alegria um ficou em silêncio,
e deu um sorriso ladino. - Ah, não… - E então, alegria um pegou em sua mão, começando a
girar em volta de Van Gogh, que deu um sorriso e parecia estar mais animado.

Outras luzes se acendem, dando um clima mais alegre e iluminado ao local, e uma música
clássica começa a tocar, enquanto as alegrias a girar em torno de Van Gogh, elas sorriam e
estavam animadas.

Em cima dos três atores, havia uma luz forte, e amarela, fazendo um grande brilho. Van Gogh
pegava as tintas, rabiscava a tela com um sorriso no rosto, sabia que aquilo iria ficar bom de
qualquer maneira.

A música aumenta, a luz fica mais forte, as alegrias rindo mais, e Van Gogh com um sorriso de
ponta a ponta.

As alegrias se afastaram, mesmo assim de mãos dadas, a música fica mais alta, Van Gogh se
levanta, e pega seu apoio, aonde estava seu quadro.

E então, empurrou seu quadro e assim, amostrando o quadro que fez para sua irmã.

A música abaixa, as luzes ficam mais fortes ao quadro, a alegrias comemoram, e Van Gogh
abre os braços, sorrindo e alegre.

Van Gogh: ISSO! É ISSO AI! - Então as luzes se apagam totalmente


Cena número quatro.
Paul e Théo são vistos sentados a um banco de madeira, num campo, com uma casa de madeira
atrás, estava de dia, mas, um dia nublado.

Théo segurava vários papéis, era as cartas que seu irmão lhe enviava quando estava na faculdade
de artes.

Paul estava chupando seu cachimbo, oque não era agradável, principalmente para Théo.

Paul: Eu ainda não recebi o dinheiro, os quadros de seu irmão estão fazendo sucesso só
agora. Talvez, sua presença que era o fracasso, já que… Sua loucura era máxima. - Nisso,
Théo virou-se completamente para seu corpo.

Théo: Você pode ao menos parar de chamar meu irmão de louco? Essa… Não era a única
característica dele. - Ele já estava ficando irritado.

Paul: Então, como ele era? Se ele não fosse tão louco, não arrancaria sua orelha. - Então
entrou em cena, Anna.

Anna: Ah, Paul. Quanto tempo não é? - Seu rosto mostrava uma feição caída, utilizava seu
vestido azul claro, com babados, parecia trapos, mas mesmo assim, ficava bela. Usava sua
tiara com uma violeta no topo, e segurava uma panela com as duas mãos.

Paul se levantou com Théo, e guardou as cartas no bolso de seu jaleco.

Paul: É, bastante tempo. Meus pêssames pela família. - Anna sorriu fraco, sabia que Paul não
era flor que se cheire.

Théo: Mãe, algum sinal de Sien? Ela deveria saber o que aconteceu, além do mais…

Anna: Se ela realmente amasse meu filho, estaria aqui. - Sua voz soava tristeza. - Ajudando
sua sogra e… Dando conforto a família. Prostitutas enganosas, que só sabem sugar as almas
das pessoas. Como meu filho foi se envolver… - Abaixou sua cabeça, deixando algumas
lágrimas escorrerem.

Théo: Mãe… - Abraçou a mesma, secando suas lágrimas.

Paul: Irei cobrar os vinte dólares depois, lisença. - E então saiu de cena.

Anna: Esse infeliz… Isso é culpa de todos. TODOS! - Ela gritou e a panela foi ao chão.

Théo: A senhora precisa se acalmar, vamos, entre. - Ainda nos braços do filho, a mais velha
adentrou na residência. Théo olhou para trás e entrou na casa também.
Cena número cinco.
Os três filhos de Anna estão numa sala, aonde havia um sofá, e duas poltronas vermelhas escuras, e
as paredes eram brancas, um branco velho.

Van Gogh utilizava sua blusa marrom, com sua calça branca, estava sentado na poltrona, cantando
baixinho.

Théo usava seu jaleco azul, suas calças brancas, e não usava nada nos pés.

Elisabeth usava seu vestido rosa bebê, e um laço na cabeça. Ela e seu irmão estavam lendo um
jornal qualquer.

Até que o pai dos três adentra no cômodo, com seu jaleco verde escuro, com seus sapatos sujos e
sua calça marrom.

Théo (Pai): Vocês não apareceram no culto da manhã. - diz ele retirando seu jaleco e
colocando no sofá.- E quando chego aqui, não há nada na cozinha. Assim que vocês querem
arranjar dinheiro? - Encarou os três.

Elisabeth: Ah, Papai. Desculpe, não consegui acordar cedo, por conta…

Théo (Pai): Por conta do quê? Hein?! Você não faz absolutamente nada, Elisabeth. Deveria ter
a total vontade de ir para o culto! Nem isso você faz.

Théo: Pai, temos coisas a fazer. Elisabeth também, então não venha com suas palavras sem
noção.

Van Gogh: Além do mais, ajudamos a mamãe em casa. - Ele se levantou. - Uma coisa que você
não faz, e ainda fala de nós. Ora, tenha santa paciência, se olhe no espelho primeiro.

Théo encarou seu filho, com um olhar de ganância e fúria.

Théo (Pai): Seu pivete idiota. Você deveria se calar, não me conhece bem.

Van Gogh: Se dependesse de mim, eu nem consideraria você como pai. - Já era. Théo
levantou sua mão e deu um soco no rosto de seu filho, e o mesmo tampou sua face e caiu no
chão rapidamente.

Elisabeth: PAI! - Tentou segurar o braço do mais velho, mas, levou uma cotovelada ao invés
disso. Seu irmão a segurou por trás.

Théo: SE CONTROLE! VOCÊ ACHA MESMO QUE DEUS QUER TER UM FILHO DESSA
FORMA? - Gritou, e Van Gogh se apoiava na poltrona, mas ainda com a mão no rosto.

Théo (Pai) : E VOCÊ ACHA MESMO QUE EU QUERIA TER FILHOS COMO VOCÊS?! - Encarou
os três, estavam assustados. O nariz de Elisabeth sangrava, deixava cada vez mais Van Gogh
nervoso. - A pior coisa que eu fiz foi aceitar aquele maldito parto…

Van Gogh: Era melhor você ter fugido, para bem longe. - Anna chega ao local, com seu vestido
cor- de- rosa.

Anna: A comida está na mes… - Ela não termina a frase, quando vê a situação aonde seus
filhos estavam. Seu sorriso se fechou imediatamente. - O que fez? - Foi ate Van Gogh, o
levantando. E olhou para o marido. - O QUE FEZ COM MEUS FILHOS?!

Théo (Pai): FIZ OQUE VOCÊ NÃO FEZ COM ELES DESDE QUE OS COLOCOU NO MUNDO!
Deveria me agradecer.

Anna: Eu não devo nada você! Não chegue nem dois metros deles… - Théo deu um tapa em
seu rosto, e rapidamente seus filhos fora acolher sua mãe.

Théo (Pai): Bando de fracassados. - Ele saiu de cena deixando os quatro sozinhos no cômodo.

Anna caiu no chão, e seus filhos abraçaram a mesma.

Elisabeth: Mamãe…

Anna: Eu não sei como ainda amo o pai de vocês, eu… eu sinto muito. - As luzes se apagam.
Cena número seis.
As luzes se acendem lentamente, aparecendo novamente o quarto de Van Gogh.

Havia dois atores em cena: utilizavam roupas cinzas, estavam sentados no chão, de frente para o
outro.

Suas faces demonstravam incertezas e confusão. Mas, faz sentido elas ficarem assim, já que eram
as paranóias de Van Gogh ali.

Paranóia um: Iremos ficar aqui? Parados? Tenho mais oque fazer, então. - Tentou se levantar,
mas, o outro ator segurou em sua mão, percebendo a chegada de Vincent e de seu melhor
amigo, Paul. Vincent utilizava seu jaleco vermelho escuro, e suas calças bege. Paul usava seu
terno branco, e suas calças pretas.

Paul: Deveria arrumar mais seu quarto, aqui cheira a tinta. - Se sentou na cama, observando
seu amigo se sentando no pequeno banco.

Paranóia dois: E ele ainda acha que irá conseguir alguma coisa. Como pode… Irão humilhar,
chutar em seus próprios quadros. - O ator se levanta lentamente, andando pelo cômodo,
ficando perto de Paul.

Van Gogh: Sentir cheiro de tinta é bom, me faz bem. Além do mais tenho criatividade de sobra
e… - Paul intemrrompe.

Paul: Você ainda chama isso de criatividade? Precisa renovar, Vincent.

Paranóia um: Não é tão ruim. É ótimo, por sinal… - Foi até a outra paranóia. - Por que acha tão
ruim?

Paranóia dois: Porque ele não passa de um fracassado, não entende?

Van Gogh: Renovar, por que você não se renova? Você sempre reclama… E ainda diz…

Paul: Eu digo as verdades. Coisas que você não sabe receber. - Se levantou.

As paranóias vão para perto do armário, receiosas.

Paranóia um: Algo ainda irá acontecer… Volte. - Então, as duas saem de cena.

Van Gogh: Eu sei receber verdades sim. Você que quer controlar a MINHA arte! Sendo que não
tem nada haver com você!

Paul: Eu sou o único que está te ajudando! Ou você acha que aquele seu irmãozinho ou
aquela prostitura irá sair de casa para ver você? Nunca que eles fariam isso, eu promet… -
Van Gogh se levanta apontando uma navalha para o pescoço de Paul.

Van Gogh: CALE A SUA BOCA! OU EU…

Paul: OQUE?! IRÁ ME MATAR?! SEU LOUCO, EU DEVERIA TER QUEBRADO SEU PESCOÇO O
QUANTO ANTES!!! - Empurrou Vincent, e logo pegou na gola de sua camiseta e começou a
dar socos. - Eu… Vou embora. - Ajeitou seu chapéu e saiu de cena.

Vincent se rastejou até sua cama, e se sentou na mesma, com lágrimas nos olhos.
Van Gogh: Ah… Como pode acontecer… Como isso pode acontecer?... - Suas mãos tremiam,
estava assustado, mas, ainda segurava a navalha nas mãos. - Não… - Começou a se remexer
pela cama, parecendo buscar algo.

Então, as duas paranóias e mais seis atores entram em cena: a tristeza e a solidão.

Elas utilizavam uma blusa de cor roxo escuro, com uma calça preta, enquanto a solidão,
blusas marrons e calças beges.

Paranóia um: Realmente algo aconteceu, e isso é tudo culpa dele… - Disse encarando Van
Gogh, com um olhar pertubardor.

Tristeza um: Talvez sua aparência seja de desgosto… Por isso que aconteceu tudo isso… -
Sua voz parecia de choro, o ator caminhava pelo cômodo.

Tristeza dois: Ele já está com a navalha… Se ele se machucasse não iria fazer falta. - Se
sentou na cama, frente a frente com Van Gogh. - Vá… Não irá doer.

Solidão um: Não! Olhe… Ele está completamente sozinho, não há ninguém para ajuda-ló. Não
deixe ele fazer isso.

Solidão dois: Faça! Já que está completamente só. Vá que alguma pessoa aceite sua orelha. -
Ela deu uma risada.

Paranóia dois: Irá machuca-ló. - Foi caminhando até a cama, e se sentou. - Não faça.

Tristeza um: Não se machuque, não. Será mais feio…

Tristeza dois: Faça, está tudo bem, se machuque…

Paranóia um: Faça, aproveite a besteira que você fez!

Solidão dois: ACABE COM ISSO! FAÇA! DEIXE ESPAMAR!

Solidão um: Não! Não! Não faça! - Então, os atores começam a gritar para fazer e não fazer.
Aquilo deixava Van Gogh louco, e uma trilha sonora começou. Os atores gritavam, e Vincent
tampava os ouvidos.

Olhou para a navalha, e não pensou duas vezes. Fez um movimento brutal e a navalha caiu.
Os sentimentos se afastaram, assustados com a situação.

A música parou, o sangue escorria pelo lençol fino branco, e Van Gogh estava com sangue em
sua mão, e com sua orelha, oque era bem bizarro.

Tristeza um: A mãe dele gostava desse lençol. - Vincent se encolheu e começou a chorar alto.

Van Gogh: Isso não está acontecendo… NÃO ESTÁ ACONTECENDO! - Ele gritou e as luzes se
apagaram.
Cena número sete.
Théo e Elisabeth estavam num grande jardim, estava de dia, e o sol era enorme.

Elisabeth usava um vestido verde claro, com um chapéu branco, com detalhes verdes.

Théo usava seu jaleco preto e sua calça bege.

Os dois estavam com um olhar aéreo, além do mais, seu irmão se suicidou ali.

Elisabeth: Foi apenas seis semanas… Como pode? Apenas seis semanas, Théo. - Ela o
encarou.

Théo: Em seis semanas, tudo pode acontecer, você acha que Vincent iria esperar? Não sei
oque exatamente passava na cabeça dele, mas não era boa coisa.

Elisabeth: Óbvio que não eram coisas boas! Ele era considerado louco pela cidade toda,
não saía de casa sem ao menos receber um xingamento. Deveria saber como é a dor disso.

Théo: Os xingamentos eram de menos, Elisabeth. - Ele tirou seu chápeu. - Era oque passava
aqui. - colocou sua mão na cabeça de sua irmã. - Não aqui. - apontou para o coração da
mesma.

Elisabeth: Claro que também passava pelo coração. Você está dizendo besteiras. - Pegou
uma carta que estava escondida em seu vestido. - Acho que nem ao menos… - segurou o
choro - ele gostava de mim.

Théo: Ora, não diga besteiras, ele te amava. - abraçou a menina. - Ele amava a mim, a você,
a mamãe… E o… - Seu pai entrou em cena, com um charuto em seus lábios e com sua
bengala. Utilizava um suspensório com uma camiseta de botão branca, e sua calça preta. -
Ah! Papai. Você deveria estar em casa, não acha? - se soltou do abraço da irmã.

Théo (Pai): Sim, eu acho. - resmungou e se aproximou mais. - Estava a procura de


Elisabeth, preciso dela para meus remédios.

Elisabeth: Minha ajuda? Papai, você não é o único com dificuldades. Deveria entender que
estou ocupada demais e…

Théo (Pai): Eu sou seu pai. Deveria cuidar de mim nessa situação.

Elisabeth: Seu filho cometeu suicídio, Théo. - A feição do seu pai se fechou, nunca havia
chamado ele dessa forma. - Ele é meu irmão, eu também preciso de ajuda.

Théo (Irmão): Vá para casa, pai. Precisa descansar, não faça muito esforço. - Então, o pai do
mesmo apenas soltou fumaça pelo nariz e saiu do recinto lentamente. - Acho que… A única
pessoa que não amou Vincent, foi o papai.

Elisabeth: Você acha? Ele com certeza não ama nem a mamãe. - Encarou Théo novamente. -
Aliás… Aonde está ela?

Théo (Irmão): Deve estar na cozinha, como sempre. Vamos, ela precisa de ajuda. - Então, os
atores saem de cena.
Cena número oito.
Novamente, no quarto de Vincent, novamente sentado naquele banco baixo, pintando traços para
todos os lados da tela.

Usava seu chápeu, e um grande curativo e sua orelha, estava manchado de sangue. Utilizava seu
paletó azul escuro, e sua calça marrom. Suas mãos tremiam, enquanto pintava quadros, novamente,
fazia isso todos os dias, como forma de distração, para sair de seus traumas, sua cabeça estava
rodando, seus pensamentos invadiam seu corpo.

Uma melodia fraca tocava de fundo, mas estava baixa.

Até que entram em cena tristeza número um e tristeza número dois.

Tristeza um: Ele fez oque deveria. Fizemos a coisa certa. - Diz ela, vendo Vincent derramando
lágrimas.

Tristeza dois: Não… Olhe para o estado dele! Ele parece tão chateado. Isso não foi legal… Irá
receber mais críticas. - Ficou atrás de tristeza um.

Van Gogh: Está tão apavorante… - Pegou um pequeno espelho, se vendo. - é tudo minha
culpa… Tudo minha culpa. - Anna entra em cena, com seu vestido verde escuro.

Anna: Eu posso ver seu machucado? Achei remédios novos na drogaria. - Sua voz estava
calma e seu olhar demonstrava amor e afeto.

Tristeza um: Ela sempre chega para acabar com tudo… Franca. - Revirou os olhos e as duas
foram até a cama, e ali, saíram de cena.

Van Gogh: Não, não pode. Me deixe sozinho. - Disse ainda vidrado no quadro.

Anna respirou fundo e se aproximou.

Anna: Deve estar fedendo, e a ferida ainda aberta, Vincent. Deixe-me ver. - Tentou colocar suas
mãos no curativo, mas seu filho segurou seu pulso.

Van Gogh: Não toque, mamãe. Ou será louca como eu… Não será legal. Não toque em mim… -
Soltou seu pulso, e deu um leve empurrão.

Anna: Filho… Confie em mim, eu quero lhe ajudar! - Segurou seu pulso e o levantou, e a
manga de Vincent se levantou, aparecendo seus cortes, oque assustou Anna. - O…OQUE É
ISSO, VINCENT?! - Seus olhos se encheram de lágrimas, o desespero tomou conta de seu
corpo. Vincent se afastou e abaixou sua manga.

Van Gogh: SOLTE-ME! ME DEIXE EM PAZ! Saia daqui. - Gritou e abaixou sua cabeça, então
Anna pegou em seu rosto, revistando o mesmo.

Anna: Olhe para mim, Vincent, por favor! Eu preciso que você fique bem… Não me deixe
assim, Vincent! - Seu rosto já estava cheio de lágrimas, suas mãos trêmulas.

Van Gogh: ME SOLTE! - Tirou suas mãos do seu rosto. A mesma se afastou, e colocou suas
mãos na testa, chorando. - Você só veio se importar agora. - Disse pegando a navalha de seu
armário. - Agora, não tem mais volta, tudo já está acontecendo. - E então fez um corte em seu
braço, fazendo sangue espamar pelo chão. Sua mãe foi correndo para abraça-ló.
Anna: NÃO FAÇA ISSO, POR FAVOR! - Ela já estava sem chão, desesperada pedindo por
ajuda. - Eu não quero viver sem você, Vincent.

Van Gogh: Eu não quero ajuda, principalmente a sua. - Empurrou a mãe novamente, mas, foi
com tanta força para trás que acabou derrubando seu quadro que ainda estava pintando. Era
seu autoretrato, com a orelha cortada. Sua mãe encarou o quadro, e olhou para Vincent.

Anna encarou seu filho, ainda vendo seu próprio autoretrato.

Anna: Você é o meu orgulho. - Suas lágrimas pararam de escorrer, mas, suas mãos ainda
tremiam, e então, as luzes se apagam.

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