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e Fernanda Maia
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01 - Passarinho do Relógio - Cuco
Cuco-cuco-cuco!
O passarinho do relógio
Está maluco
Ainda não é hora do batente
Ele fica impertinente
Acordando toda gente
Cena Um
“Projetos”
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Filho Mais Novo — Eu só quero um tamborim! Quando vem esse cobre?
D. H. — Calem-se! O projeto ainda não passou!
A. — Nem se sabe se passará... .
D. H. — Quando houver mais algum dinheiro nesta casa, a primeira despesa a
fazer é reformar a mobília da sala de visitas, que está toda bichada.
Filho Mais Velho — Ora, mamãe! a mobília pode esperar, e eu preciso muito de
um colete novo!
Filha — O meu chapéu está indecente! E um relógio não custa os olhos da
cara!
Filho Mais Novo — Não há menino pobre que não tenha um tamborim!
Dr. R. — Isso é lá com vosso pai!
A. — Se vier o aumento (o que duvido, porque quando a esmola é muita o
pobre desconfia), em primeiro lugar farei o possível para ficar livre de dois
agiotas que me tiram couro e cabelo, e tratarei de pagar aos outros credores.
Depois veremos. (Olhando tristemente para os pés.) Também eu preciso de
umas botinas, que estas, compradas há três anos, estão rasgadas e já levaram
duas meias solas e dois remontes!
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Mas ninguém faz um soirée,
Com meio metro de cetim,
De soirée,
Você num baile se destaca,
Mas não quero mais saber,
Papai me compra uma casaca.
Cena Dois
“A Despedida”
Filha — Que tem hoje papai? Acabou de tomar o café da manhã e, em vez de
sair como de costume, fechou-se no gabinete!
O Filho mais velho. — Algum trabalho urgente da repartição?
D. A. — Tua irmã diz bem: aquilo não é natural.
O Filho mais novo. — Ele estava muito preocupado durante o almoço. . .
FILHA — Não sei o que me diz o coração!
H. — Oh, menina, assim você me assusta! Parece que tem medo de que seu
pai se suicide!
O F. M. V. — Que lembrança!
O F. M. N. — Que razões haveria para papai suicidar-se?
FILHA — Quem sabe lá! — Vou espiar pelo buraco da fechadura . . . (Adianta-
se pé ante pé para o gabinete, cuja porta se abre. Antunes aparece com ares
solenes e uma carta lacrada na mão. Silêncio geral.)
Antunes (depois de uma longa pausa comovido.) — Minha
mulher. . . meus filhos.,. . o momento é solene. (Outra pausa.) Sentemo-nos.
(Sentam-se todos a olharem uns para os outros. Nova pausa.) Minha adorada
mulher. . . meus queridos filhos. . . vou sair, e não sei se voltarei a esta casa.
Todos. — Oh!
A. — Henriqueta, aqui tens o meu testamento!
H. — O teu testamento?!
A. — Sim; há viver e morrer!
H. — A tua vida corre perigo?
A. — (com voz sumida). Sim.
A S. (com um grito): Ah! já sei. . . não é outra coisa! Papai vai bater-se em
duelo! (Choradeira geral.)
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A. — Que é isso? Não chorem! Não me vou bater em duelo!
H. — Que vais então fazer?
A. — Não te esqueças de que o inquilino do chalé da rua dos Araújos está
devendo três meses vencidos... Não te esqueças de que o compadre
Malaquias não pagou ainda aqueles trezentos mil réis que me pediu. . . Não te
esqueças
.H. — Antunes, você vai se matar?
A. — Não! Nunca! Os meus papéis estão todos em ordem. A apólice do teu
seguro de vida está no cofre. A Funerária fará o meu enterro. Todas as
indicações estão na gaveta do meio. (Recrudesce a choradeira.)
H. — (debulhada em pranto). Pelo amor de Deus, mas onde você vai,
Antunes?
A. — (com um suspiro). Pela primeira vez na vida vou tomar o bonde. O bonde
da nova linha de S. Januário.
Quem trabalha
É quem tem razão
Eu digo
E não tenho medo
De errar
Antigamente
Eu não tinha juízo
Mas resolvi
Garantir meu futuro
Graças a Deus
Sou feliz
Vivo muito bem
A boemia
Não dá camisa
A ninguém
Passe bem!
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Quem trabalha
É quem tem razão
Eu digo
E não tenho medo
De errar
Cena Três
“O Grevista Poeta”
— Não se apresse mulherzinha que hoje não saio de casa. Pode servir o café
mais tarde que hoje ninguém se atrasa.
— Bem sei que é dia de labuta, mas mudei minha conduta. Sendo direto e
breve: a partir de hoje me encontro em greve!
— É o diabo, mas que remédio?! Não me resta outra opção. Parado me avança
o tédio; quase morro de aflição! Por mim, jamais pararia, pois é na lida de cada
dia que está a garantia de trazer pra casa o pão que alimenta a dona do meu
coração. Mas, se o patrão vive no abuso, não me resta outra opção: da greve
eu faço uso pra resolver a situação.
— Não julgue que me diverte estar sem fazer nada. Sou homem de trabalho,
me aflige ficar em casa. Que me dê um estupor se não prefiro o batente a na
cama ficar parado, dormindo feito um doente.
— Ainda se isso valesse alguma coisa! Você fica sem receber e daqui uns dia
volta para o serviço ganhando o mesmo que ganhava antes da greve!
— Lá por isso não, mulher, que o patrão é boa pessoa. Não é por gosto que
paro que eu não sou um qualquer à-toa. Assim que ao trabalho voltar, com o
patrão irei conversar para que, os dias em que não trabalhei, faça o favor de
não descontar.
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— Se ele me der o calote, mostro então do que sou capaz: aos companheiros
todos convenço, do faxineiro ao capataz, que juntos somos mais forte, os laços
ficam mais tensos. Convoco greve geral e viro o Brasil do avesso!
— Vira o Brasil do avesso de estômago vazio? Você que eu também ainda não
tomei café?
— Meu bem, fala-me de tudo, tudo suporto altaneiro, mas, pelo bem que me
quer, não me fale em dinheiro!
— Fala à brisa que sussurra, fala à fonte que murmura, fala às flores do jardim;
fala aos serros, campos, fragoas, fala às nuvens, fala às águas, mas não fale
pra mim!...
— Você é um doido!
— Um doido? Sim! Acertou! Um doido! Tem razão! Mas sou um doido sublime!
Um poeta de inspiração!
— Uma mulher como você, que é das mulheres a flor, não pode morrer de
fome, só pode morrer de amor!
— (vencida pela poesia). Que diabo de homem! Quando você terá juízo?
— Acender o gás! Pois você não sabe que hoje não há gás? Alguém esqueceu
de pagar a conta...
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— Meu Deus, que miséria a nossa! Não ter nem pão nem dinheiro!. . . Mas
então para que serve haver na esquina um vendeiro?
— O vendeiro já não nos fia nem um fósforo, muito menos um filão de pão!
— Se morro à falta de pão, à falta de amor não morro! A lua serena e casta de
noite vem trazer--me o seu socorro! Ó deusa augusta da noite, que aclaras o
mundo inteiro, sem temer que te suprimam o operário e o taverneiro; se de dia
te esconde o sol, a noite é inteira tua; és na vida meu farol, guiando-me por
essa rua.
Tá faltando um zero
No meu ordenado
Tá faltando um zero no meu ordenado
Tá faltando sola no meu sapato
Somente o retrato
Da rainha do meu samba
É que me consola
Nesta corda bamba
05 - Inimigo Do Batente
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Eu já não posso mais!
A minha vida não é brincadeira
Estou me desmilinguindo igual a sabão na mão da lavadeira
Se ele ficasse em casa ouvia a vizinhança toda falando
Só por me ver lá no tanque
Lesco-lesco, lesco-lesco
Me acabando
Cena Quatro
“Inofensiva Brahma”
H1— Que é isso, chefe? Que tem? Por que tanta alegria?
H2 — Que desgraça?!
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S — Pois foi o senhor mesmo quem nos contou. Não descobriram, no
Laboratório Municipal de Análises, que a cerveja é um veneno?
H2 — Sim, mas...
H2 — Não, mas...
S — Não, senhor.
H1 — Nem eu, mas deve ser um veneno terrível! E toda aquela história da
reação de Boedeker, chefe?
H2 — Então, hoje...
S — Não, senhor.
H2 — Sim, no entanto...
S — Pois é pena, porque ainda aí estão umas três dúzias de garrafas na copa!
H2 — (Eufórico) Três dúzias? Que me dizes? Vai buscar uma garrafa, dona
Rosália!
S e H1 – Não!
S — Que história de júri é essa? O senhor não está dizendo coisa com coisa!
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H1 — Pudera! Nesse estado...
H2 — Esse mesmo... Acontece que eles não tinham razão. Fizeram grossa
patifaria.
S — Valha-me Deus!
H1 — ... e você está mais mamado que um gambá, chefe. Melhor voltar pra
casa.
H1 e S – Oh!
S — De jeito nenhum!
06 - O Trem Atrasou
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Trago aqui um memorando da Central
O trem atrasou, meia hora
O senhor não tem razão
Pra me mandar embora !
Cena Cinco
“Higiene”
Na fila do refeitório:
C — Vai a sopa?
M — Sopa? Deus me livre! Pois vocês ainda são do tempo em que se tomava
sopa?
H1 — Por quê?
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S — Deixa-te disso, e come.
M — Não duvido, mas não como peixe! Nada, que meu pai não faz outro!
M — Paciência!
H1 — Ah! Agora o senhor não tem comido nada, nem mesmo pão!
M — Linguiças! Livra! Pois vocês não viram que a Prefeitura consentiu que um
fabricante de linguiças abatesse o gado rejeitado pela diretoria de higiene?
Pois vocês querem comer carne de animais tuberculosos? Com efeito! A isto é
que se chama vontade de morrer!
C — Prefere groselha?
M — Groselha? Depois do que tem acontecido?! Pelo sim, pelo não, o melhor é
não beber groselha, mesmo porque essa é a opinião do Barbosa Romeu.
C — Pois, meu querido, nada mais tenho que te ofereça. Só sobrou carne
assada.
M — Também não como disso. Sei lá como são feitos esses doces! Não meto
no estômago nada dessas coisas que vêm do estrangeiro em latas.
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M — Laranjas neste tempo? Boas! Deviam ser proibidas!
C — Não.
M — Então não vai. Não tenho confiança. Andam agora a misturá-lo com milho.
07 - Penerô Xerém
Na minha terra
Dá de tudo que plantar
O Brasil dá tanta coisa
Que eu num posso decorar
Dona Chiquinha
Bote o milho pra pilar
Pro angu, pra canjiquinha
Pro xerém, pro munguzá
Só passa fome
Quem não sabe trabalhar
Essa vida é muito boa
Pra quem sabe aproveitar
Pego na peneira
Me dano a sacolejar
De um lado fica o xerém
Do outro sai o fubá
Sacoleja, sacoleja,
sacoleja, sacoleja
Penerô Xerém
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C — Meu Deus!
Todos – Saúde!
09 - Apanhei Um Resfriado
(Almirante – 1937)
Cena Seis
Marcondes. — Então, Sousa? Não dizias que a tua eleição era certa,
certíssima?
Sousa. — E era! Eu teria sido eleito. . .
M. — . . . Se não fosses derrotado — boa dúvida!
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S. — Não é isso; eu teria sido eleito, se não houvesse fraude. Foi roubado,
escandalosamente roubado!.. .
M. — Dize antes a verdade: a tua candidatura não tinha a menor probabilidade
de êxito; eras um candidato de bobagem. Quais foram os teus elementos?
S. — Os meus bons desejos, a minha seriedade, a minha honradez, o meu
passado. . .
M. — Ora o teu passado! O passado, passado! Isso não vale nada quando não
se tem por si um partido, um grupo ou mesmo um homem! Mas querer subir
neste país sem outros degraus que não sejam os do próprio merecimento é o
cúmulo da ingenuidade!
S. — Pois deixa que te diga: fiquei surpreso da pequena votação que tive.
Confesso que esperava mais. Quando apresentei a minha candidatura, havia
um ponto negro no horizonte: o Coisa, uma das figuras mais influentes do
sindicato, que estava mal comigo; mas eu procurei-o, fizemos as pazes, e ele
prometeu que faria tudo por mim.
M. — Mas eu disse: você é um ingênuo! Pois você ainda se fia nas promessas
de um amigo urso? Se quer ser eleito, tem que aprender a jogar o jogo.
S. — Agora é tarde.
M. — Como tarde? Nunca é tarde para ser eleito! Você tem sempre alguma
votação.
S. — Sim, mas estou em vigésimo lugar.
M. — Queiram eles, e passarás para o primeiro. A coisa é tecer os pauzinhos.
8 - Amigo Urso
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E lá chegando sobre aquelas regiões
Vai vendo só quais as minhas condições
Morto de fome, de frio e sem abrigo
Sem encontrar em meu caminho um só amigo
Eis que de repente vi surgir na minha frente
Um grande urso e apavorado me senti
E ao vê-lo caminhando sobre o gelo
- Porque não dizê-lo?
Foi que me lembrei de ti
Espero que mandes pelo portador
O que não é nenhum favor, tô te cobrando o que é meu
Sem mais, queira aceitar um forte abraço
Deste que muito te favoreceu
O meu garoto já cresceu, dá cá o meu
Cena Sete
“O Terno”
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S – Désolée.
ZM – Isso não foi o que eu comi no almoço?
S – Não, aquilo era fricassé.
ZM – Ah, guarde essa língua estranha para você. Eu estou é arrasado. É o
meu fim.
S – Seu José Mariano, não fique assim. Olha, sem querer me intrometer, mas
eu poderia ajudar o senhor.
ZM – Como?
S – Modéstia a parte, eu entendo tudo de modas. Para um homem da sua
posição, não existe nada melhor que um terno feito sob medida.
ZM – Mas onde eu vou fazer um terno sob medida?
S – Num bom alfaiate.
ZM – Eu não conheço nenhum alfaiate, dona Rosália.
S – Isso não é um problema. Eu conheço o melhor alfaiate da cidade!
ZM – Mentira!
S – Eu jamais mentiria para o senhor!
ZM – Então chame esse homem aqui! Quero um terno novo para amanhã.
S – Eu não sei se ele conseguirá fazer um terno em...
ZM – Eu estou pagando, dona Rosália. Quero um terno sob medida aqui,
amanhã, depois do almoço.
S – Mas ele precisa tirar ao menos suas medidas.
ZM – Não precisa. A senhorita mesmo pode fazer isso.
S – Eu?
ZM – A senhorita. Eu só confio na senhorita. Vamos, se apresse! Tire as
medidas e as envie imediatamente para o seu alfaiate.
S – Não seria melhor se...
ZM – Imediatamente!
S – Sim, senhor...
(passagem de tempo)
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S – Não, senhor. E também não ligou para avisar sobre o atraso. Mas ele já
deve estar chegando. Ele é o melhor alfaiate da cidade.
ZM – Assim espero. A senhorita pediu para dona Chiquinha preparar o café
para servir ao alfaiate?
S – Sim, senhor.
ZM – O suco?
S – Sim, senhor.
ZM – A cerveja?
S – Ai!
ZM – O que foi, dona Rosália?
S – É o resfriado. Um espirro... A cerveja já está gelando também.
ZM – Ótimo. Espero que esse alfaiate seja mesmo tudo isso que a senhorita
me disse.
(A porta abre-se lentamente, e aparece o Alfaiate.)
A – Com licença.
S – Oh, desculpe! Por favor, entre. Dr. José Mariano, o alfaiate chegou.
ZM – Ah, entre, por favor! Estava esperando ansiosamente pelo senhor. Como
está?
A – Muito bem, e o senhor?
ZM – Como está o terno, homem!
A – Ah, está aqui. Ficou uma beleza!
S – O senhor recebeu as medidas que enviei, correto?
A – Sim, sim. Fiquei com um pouco de dúvida com as...
ZM – Dúvida? Que dúvida?
A – Não foi nada demais. Eu só preciso experimentar, para fazer os últimos
ajustes.
ZM – Tudo bem. O senhor aceita alguma coisa para beber? Café, suco,
cerveja?
S – Ai!
ZM – O que foi, dona Rosália?
S – Nada. É o resfriado.
A – O café foi torrado aqui?
S – Não.
A – Então eu aceito um copo d’água.
S – Só um instante.(Sai.)
ZM – Então, vamos com isso ou não?
A – Ah, sim! Aqui está o terno.
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ZM – O que é isso?
A – O seu terno, sob medida.
ZM – Tem alguma coisa estranha nele.
A – Vamos prová-lo?
ZM – Você tem certeza que esse é o meu terno?
A – Mas é claro. Foi feito com as medidas que dona Rosália tirou do senhor. Se
o senhor pudesse se despir, por favor...
ZM – Mas aqui assim, na sua frente?
A – Não se acanhe.
(Zé Mariano fica só de roupas de baixo.)
S – (entrando) Dona Chiquinha já vai trazer a... Ai!
ZM – Ai!
A – O que foi?
S – Desculpe, não sabia que o senhor estava sem... Eu espero lá...
ZM – Não, venha cá. Ajude o rapaz a me vestir.
S – Esse é o terno pro seu Zé Mariano? Não está faltando alguma coisa?
A – Eu fiz de acordo com as medidas que a senhorita me mandou.
ZM – Venham logo me ajudar a vestir esse terno que eu não estou
conseguindo enfiar o...
S – Mete aqui, doutor...
A – Não, precisa alargar um pouco a...
ZM – Cuidado que tá entalando...
(entra Cardoso.)
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C – Com licença, chefe. A dona Rosália não estava lá fora, eu fui entrando...
Mas o que vocês estão fazendo?
ZM – Cardoso, vem aqui ajudar.
DC – Vem logo que eu não sei nem o que fazer.
A – Eu fiz tudo de acordo com as medidas.
S – O senhor não se aproxime de mim.
C – Eu só queria ter uma palavrinha com o senhor em particular.
ZM – Primeiro me ajude a sair desse enrosco.
C – É um pouco urgente, chefe.
S – O senhor não se aproxime de mim, eu já disse!
A – Eu não entendo o que aconteceu...
DC – Jesus, que aperto!
ZM – Eu estou quase sufocando aqui.
DC – O senhor aceita um copo d’água?
A – A água é pra mim.
C – Não tem mais cerveja?
S- Ai! Tirem esse homem daqui!
ZM – Dona Rosália, a culpa disso é da senhorita!
DC – É pra buscar a cerveja?
ZM – Ai, se eu pego vocês!
A – Socorro!
C – Pode trazer a cerveja, dona Chiquinha!
S – Alguém me ajude, pelo amor de Deus!
ZM – Assim que eu sair daqui, vocês vão ver só. Eu pego esse alfaiate. E pego
a senhorita. E pego o Saturnino, aquele engraxate dos diabos! Eu exijo uma
explicação, seu alfaiate de meia tigela!
10 - Cortando O Pano
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Quando ele erra, estraga o pano todo
Quando ele acerta, a roupa não convém
(Sirene da fábrica).
11 - Sonora Garoa
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(Passoca – 1982)
Sonoro sereno
serena garoa
pela madrugada
não faço nada que me condene
a sirene toca
bem de manhãzinha
quebrando o silêncio
sonorizando a madrugada
Passa o automóvel
na porta da fábrica
o radinho grita
com voz metálica
uma canção
Sonora garoa
sereno de prata
sereno de lata
reflete o sol
bem no caminhão
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