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ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA DUREZA E DA MICROESTRUTURA

NA USINABILIDADE DO AÇO AO BORO ABNT 10B22

Roberto Aparecido Barillari


Universidade Paulista – UNIP

Tibério Cescon
Universidade Paulista – UNIP / Escola Politécnica -USP

Abstract

This paper studied the influence of hardness and microstructure in the machinability of
low carbon boron steel ABNT/AISI/SAE-10B22. This steel has practical importance in
modern manufacturing industry for its high machinability and good properties and is used
in the production of components such as: screws, pins for pistons, gears and bushing.
To select a range of microstructures and hardness several distinct heat treatments were
applied to samples of ABNT 10B22 steel. The microstructural changes for the ferritic -
pearlitic samples resulted in a small range of hardness, 68-73 HRB. For the quenched and
tempered samples the hardness was easily adjusted in the range 27 - 44HRC
The evaluation of machinability was performed by two different methods: (a) Maximum
cutting speed in the Brandsma test and (b) Roughness of the machined surface.
The maximum cutting speed, evaluated by the Brandsma method, is little affected by
hardness or phase distribution for ferrite - pearlite structures. For quenched and tempered
samples the maximum cutting speed decreases uniformly with the decreasing tempering
temperature. The machinability, utilizing the surface roughness criterion, is very dependent
on microstructure for pearlite- ferrite samples. Increasing tempering temperature reduces
continuously the surface roughness.
Key-words: steel ABNT/AISI/SAE-10B22, machinability, surface roughness, Brandsma
machinability test
Engenharia de Produto/Processo

1. INTRODUÇÃO
A usinagem de metais envolve um complexo sistema formado pela máquina, diversas
entradas e saídas bem como considerações internas ao sistema. Entre outros podem ser
considerados como entradas: material, ferramenta, movimento, controles e fluidos. Como
itens internos ao sistema podemos enumerar: forças, energia, temperatura, desgaste, zonas
estacionárias e vibrações. Entre as saídas podemos relacionar o custo por peça ou a
produtividade em peças por minuto. Apesar da mensuração da usinabilidade pelas saídas
ser mais significativa do ponto de vista econômico, os métodos de avaliação mais
empregados referem-se a uma ou mais entradas do sistema (Shaw,1967).
A complexidade das relações entre a usinabilidade e os aspectos metalúrgicos do material a
ser usinado derivam do fato da usinabilidade não ser uma propriedade intrínseca do
material e, portanto, ter significado distinto para diferentes observadores.(Lane, Stam e
Wolfe,1967).
A influência das principais variáveis metalúrgicas na usinabilidade dos aços foi e vem
sendo estudada extensivamente por vários autores, existindo razoável concordância quanto
a importância dos seguintes fatores: composição química, dureza, ductilidade, taxa de
encruamento, anisotropia e microestrutura do material.(Trent,1977; Chiaverini,1998;
Diniz, Marcondes e Coppini,1999). Naturalmente todos estes fatores não tem a mesma
importância. Para uma mesma classe de material, a dureza e a microestrutura competem
como a principal variável metalúrgica na usinabilidade Quanto aos fatores de engenharia
mais importantes na usinabilidade estão a velocidade e natureza do corte (contínuo ou
intermitente).
No presente trabalho foi estudada a influência da dureza e da microestrutura na
usinabilidade no aço ao boro ABNT 10B22, avaliada por dois critérios distintos: vida da
ferramenta em condições forçadas de usinagem pelo método de Brandsma e acabamento
superficial da superfície usinada. O aço ABNT é pouco estudado no aspecto usinabilidade
apesar de ser um material importante na indústria moderna, pela sua elevada usinabilidade
e bastante empregado na fabricação de parafusos, pinos de pistões, buchas e engrenagens.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
a) Material.
O material do presente trabalho foi elaborado pela Aços Villares, corrida n.º 2133754, com
composição química: C-0,208, Si-0,23, Mn-0,751, P-0,02, S-0,026 e B-19ppm ,
obedecendo a especificação ABNT/AISI/SAE-10B22. O material foi fornecido no estado
bruto de laminação em barras com diâmetro 100mm.
b) Tratamentos Térmicos
Das barras originais foram extraídos segmentos com 100mm para serem submetidos a
tratamentos térmicos visando provocar variações microestruturais no material. Amostras
distintas do material no estado bruto de laminação foram submetidas, em fornos com
atmosfera controlada da Brasimet S.A. Indústria e Comércio, aos seguintes tratamentos
térmicos:
(b1) Normalização a 880C por uma hora com resfriamento ao ar.
(b2) Normalização a 880C por uma hora com resfriamento ao ar seguida de recozimento
isotérmico com ciclo de 880C-1 hora, resfriamento no forno até 660C,
permanência por 2 horas seguido de resfriamento ao ar.
(b3) Normalização a 880C por uma hora com resfriamento ao ar seguida de recozimento
isotérmico com ciclo de 880C-1 hora, resfriamento no forno até 660C,
permanência por 2 horas seguido de resfriamento ao ar e posterior coalescimento
cíclico na faixa 680- 733C seguido de resfriamento ao ar.
(b4) No material no estado b4 aplicado um tratamento de têmpera de 840C 1 hora,
resfriamento em salmoura e revenimento a 200C por 2 horas.
(b5) No material no estado b4 aplicado um tratamento de têmpera de 840C 1 hora,
resfriamento em salmoura e revenimento a 400C por 2 horas.
(b6) No material no estado b4 aplicado um tratamento de têmpera de 840C 1 hora,
resfriamento em salmoura e revenimento a 600C por 2 horas.
c) Ensaio de dureza:
Os ensaios de dureza Rockwell foram executados em máquina de dureza Wilson com
leitura analógica. Os resultados indicados representam a média de doze leituras. A aferição
do aparelho foi feita com a utilização de padrões do fornecedor do próprio fabricante do
equipamento. Os ensaios foram executados em corpos de prova usinados, em superfícies
planas com remoção prévia de qualquer alteração superficial. Deu-se preferência ao uso da
escala Rockwell B, exceto para as de durezas mais elevadas que exigiram a utilização da
escala Rockwell C.
d) Corpos de Prova para Ensaios de Usinabilidade
De cada segmento de barra foram cortados discos com 30mm de espessura para a
preparação dos corpos de prova para os ensaios de usinabilidade. As dimensões finais
eliminaram toda alteração estrutural decorrente dos tratamentos térmicos.
e) Ensaios de Usinabilidade pelo Método de Faceamento Brandsma:
Os corpos de provas preparados segundo o item anterior foram fixados com placa de três
castanhas pneumática e ensaiados em Torno de Comando Numérico da ROMI - Tipo
Centur 30RV. Parâmetros do ensaio: Ferramenta de metal duro com cobertura de nitreto de
titânio classe TP-200 Sandivik, velocidade de corte de 55 a 65m/min, profundidade de
corte 6,3mm avanço por rotação 0,18mm/volta. Óleo solúvel de refrigeração Hysol X -
Castrol. Foram medidos os comprimentos de corte e a velocidade no momento da
soldagem da ferramenta no corpo de prova.
f) Ferramenta de Corte.
Pastilhas de metal duro com cobertura de nitreto de titânio
g) Tipo de Instrumento de medidas dimensionais
Paquímetro, micrômetro, relógio comparador digital e rugosímetro Mitutoyo
h) Exame Metalográfico
Procedimento usual de preparação de corpos de prova metalográfico submetidos a ataque
por Nital 1% e examinados e fotografados em banco metalográfico. Micrografias
registradas com aumentos de 100 e 400x.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do exame metalográfico das amostras no estado de fornecimento e após os
tratamentos térmicos relacionados em materiais e métodos forneceu os resultados
mostrados nas Figuras 1 a 6.Os resultados do ensaio de dureza, usinabilidade pelo método
de Brandsma estão sintetizados na Tabela 01.
Os tratamentos térmicos a que foram submetidas amostras do material em estudo
forneceram resultados de dureza no intervalo 68 HRB – 44 HRC. Na escala Rockwell B,
os valores se concentraram na estreita faixa 68-73 HRB e foram obtidos em tratamentos
térmicos que resultaram numa estrutura ferrítico – perlítica. Na escala Rockwell C o
intervalo foi bem mais amplo, 27 – 44 HRC e resultantes de um tratamento térmico de
têmpera e revenido com conseqüente formação de estruturas de martensita revenida em
diferentes graus de coalescimento dos carbonetos.
Os resultados do exame metalográfico mostraram que a estrutura original do material
(bruta de laminação) apresenta a ferrita predominantemente na forma acicular, com ilhas
de perlita penetradas por ferrita acicular, Figura 01 (b1). Com maior aumento observa-se
que a perlita está esboroada, isto é, os carbonetos das lamelas estão fragmentados e
tendendo a esferoidizar. Este fato permite estimar que o resfriamento do laminado foi
bastante lento ou controlado.
Na normalização não se alcançou o refino ideal da estrutura, Figura 01 (b2).. De fato,
obteve-se regiões de estrutura fina de ferrita e perlita juntamente com regiões formadas por
grandes ilhas de perlita que apresentam penetração de ferrita acicular. Esta microestrutura
é caraterística de falta de homogeneização da austenita na normalização, apesar de se ter
adotado temperaturas e ciclos de tempo recomendados para este aço. O duplo tratamento
de normalização e recozimento propiciou uma razoável homogeneização da austenita e a
obtenção de uma estrutura homogênea de ferrita e perlita. A pequena fração da ferrita que
permanece com características aciculares é pouco significativa, Figura 01 (b3). A adição
do coalescimento ao tratamento anterior de normalização e recozimento, Figura 01 (b4).
modificou a estrutura apenas no aspecto da cementita da perlita que apresentou
coalescimento. Este coalescimento só é observável com grande aumento ao microscópio
óptico.
Tabela 01 - Valores obtidos nos ensaios de dureza, usinabilidade e rugosidade nos corpos
de prova submetidos aos tratamentos descritos em 2. Materiais e Métodos

Corpo de Dureza Dureza Usinabilidade Rugosidade


Prova HRB (1) HRC (2) (3) Ra (m)
b1 73 65 6
b2 69 65 4
b3 69 68 3
b4 68 70 2
b5 44 35 10
b6 31 40 8
b7 27 50 7

(1) Leituras com desvio padrão de  2 HRB; (2) Leituras com desvio padrão de  1 HRC;
(3)Velocidade limite no ensaio de Brandsma em m/min.

É significativo, no aço em estudo que, apesar das modificações microestruturais


observadas nas estruturas ferrítico – perlíticas, produzidas nos diferentes tratamentos
térmicos, resultem em alterações de dureza muito reduzidas. Os resultados do ensaio de
usinabilidade das amostras ferrítico – perlíticas mostrado na Figura 02 indicam que índice
de usinabilidade não se alterou com a introdução da normalização ao produto laminado.
Já o tratamentos (b4) apesar de introduzirem alteração insignificante de dureza resultou
numa pequena melhoria de usinabilidade, cerca de 5%.
Se o índice de usinabilidade medido pelo ensaio de Brandsma se mostrou pouco sensível às
variações microestruturais no grupo de amostras ferrítico-perlíticas, amostras (b1-b4), o
mesmo não aconteceu com a estimativa de usinabilidade pela rugosidade superficial. A
Figura 03 mostra os resultados do ensaio de rugosidade das amostras ferrítico – perlíticas
em função da dureza. Neste caso a variação rugosidade varia amplamente. Pode-se estimar
o significado desta variação considerando-se que 6 Ra corresponde a um torneamento de
desbaste enquanto que 2 Ra corresponde a um torneamento fino.
Considerando-se a reduzida variação da dureza nas estruturas ferrítico-perlítica, podemos
ressaltar a predominância do fator microestrutural pela representação adotada na Figura 04
de correlacionar os tratamentos térmicos com a rugosidade superficial.
Os resultados da usinabilidade pelo método de Brandsma e pela estimativa da rugosidade
da superfície usinada para as amostras temperadas e revenidas revenida são mostrados nas
Figuras 05 e 06. Nestes casos observa-se a conhecida relação da queda da usinabilidade e a
correspondente elevação da rugosidade com o aumento da dureza. Esta correlação mais
previsível entre dureza e usinabilidade e entre dureza rugosidade superficial pode ser
atribuída a maior homogeneidade microestrutural, formada por um único microconstituinte
– martensita revenida.
Figura 01 - Microestruturas resultantes dos tratamentos térmicos efetuados

(b1) Estrutura bruta de laminação. Estrutura heterogênea de ferrita, predominantemente


acicular e perlita esboroada. Nital 1%. - 100X; (b2) Estrutura do material normalizado.
Estrutura heterogênea decorrente de falta de homogeneização da austenita Ferrita fina e
agregados de perlita. Nital 1%. - 100X ; (b3) Estrutura do material recozido. Estrutura
razoavelmente homogênea de ferrita e perlita. Parte da ferrita ainda exibe estrutura
acicular. Nital 1%. - 100X ; (b4) Estrutura do material coalescido. Parte da ferrita ainda
exibe acicularidade e a perlita esboroamento. Nital 1%. - 100X ; (b5) Estrutura do material
temperado e revenido a 200C. Estrutura homogênea de martensita revenida. Nital 1%. -
100X ; (b6) Estrutura do material temperado e revenido a 600C. Estrutura homogênea de
martensita revenida. Nital 1%. - 400X
Figura 02 Usinabilidade em função da dureza para as amostras com estrutura ferrítico-
perlítica

Figura 03 Rugosidade em função da dureza para as amostras com estrutura ferrítico-


perlítica

Figura 04 Rugosidade para os diferentes tratamentos térmicos das estruturas ferrítico -


perlíticas - 1= (b1), 2 = (b2), 3 = (b3) e 4 = (b4)

Figura 05 Usinabilidade em função da dureza para as amostras com estrutura de martensita


revenida
Figura 06 Rugosidade em função da dureza para as amostras com estrutura de martensita
revenida

4 CONCLUSÕES

Considerando-se a velocidade limite de corte pelo Método Brandsma e a rugosidade


superficial como indicadores de usinabilidade do material, podemos afirmar para o aço
ABNT/AISI/SAE 10B22:
a) As modificações microestruturais nas amostras ferrítico-perlítica resultaram numa
pequena variação da dureza, na faixa de 68-73 HRB e pequena variação no índice de
usinabilidade medido pelo método Brandsma. Mesmo a reduzida variação da velocidade de
corte, deve ser atribuída mais ao coalecimento dos carbonetos do que à variação da dureza.

b) Nas amostras com estrutura ferrítico-perlítica, a rugosidade diminui com o aumento do


grau de homogeneidade da microestrutura e com o coalecimento dos carbonetos. A ampla
faixa de valores obtidos, 2 - 6mRa, sugere acentuada influência da microestrutura neste
indicador.
c) Nas estruturas homogêneas de martensita revenida foi observada forte correlação entre a
dureza e os índices de usinabilidade. A velocidade de corte decresce continuamente com o
aumento da dureza e a rugosidade aumenta continuamente com a elevação da dureza.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHIAVERINI,V. Aços e Ferros Fundidos. São Paulo. Associação Brasileira de Metalurgia


e Materiais, 1998.
DINIZ, A.E., MARCONDES, F.C., COPPINI, N.L. Tecnologia da Usinagem
dos Materiais. São Paulo: MM Editora, 1999. p. 147-163, p. 117-129.
LANE,J.D.,STAM,J.W.,WOLFE,K.J.B. General Introductory Review of the Relationship
Between Metallurgy and Machinability. ISI Special Report 94.1967.p.65-70
SHAW,M.C. The Assessment of Machinability. ISI Special Report 94. 1967. p.1-9.
TRENT, E.M. Metal Cutting. London. Butterworths, 1977. p. 185-220.

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