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DESENVOLVIMENTO DE UM MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA

PASTAGEM EM UM SISTEMA DE PASTOREIO RACIONAL VOISIN

WESLLEY WAGNER HERCULANO DOS SANTOS1; HANIEL MONTEIRO


CARVALHO2; JAIME ROQUE MONTEIRO CARVALHO3; MARIA DO SOCORRO
SOUZA SILVA4; PABLO HENRIQUE FERREIRA DA SILVA5; LUÍZ FILIPE DAMÉ
SCHUCH6

1UniversidadeFederal de Pelotas – weslleywagner0207@gmail.com


2UniversidadeFederal de Pelotas – hani.carvalho@gmail.com
3Universidade Federal de Pelotas – jaime.monteirocarvalho1999@gmail.com
4Universidade Federal de Pelotas – socorrinha03.21@gmail.com
5Universidade Federal de Pelotas – pablohenriquegalego@gmail.com
6Universidade Federal de Pelotas – lfdschuch@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

A produção de carne e leite a pasto tem grande relevância para o Brasil


(IBGE, 2022). Os modelos predominantes de pastejo extensivo e contínuo,
atrelados ao uso de insumos químicos, silvicultura, produção de soja e introdução
de espécies exóticas sobre as pastagens naturais do bioma Pampa, no Rio Grande
do Sul, têm se expressado ineficientes sob o aspecto bioeconômico, pois, além de
acarretar na redução das áreas de pastagem natural, gera efeitos deletérios na
estrutura e vida no solo, resultando na degradação das pastagens e consequente
queda na oferta de forragem, bem como baixos índices zootécnicos (SEÓ et al.,
2017; MOREIRA et al., 2019). Esses fatores implicam na necessidade de
empenhar-se em sistemas de criação animal com maior eficiência de produção e
baixo custo energético, que possibilitem a colaboração da produção pecuária na
conservação do bioma Pampa (MMA, 2009). O Pastoreio Racional Voisin (PRV) é
um sistema de manejo de pastagem agroecológico que preconiza a gestão racional
da produção animal através de quatro leis universais (VOISIN, 1974; MACHADO,
2010; MACHADO FILHO et al., 2012). Essa gestão constitui-se em uma ciência
pastoral, ecológica e dinâmica na qual a prioridade são os fatores bióticos
envolvidos na relação entre a exploração e a evolução da pastagem (VOISIN,
1971).
Diante disso, além de buscar a vivência permanente com os pastos, o fazer
agroecológico busca a consonância entre ciência e arte através da observação
sensível, criatividade e diálogo com a natureza e entre os pares, elementos
inerentes à educação popular. Desse modo, a radicalidade do diálogo, a
autonomia, o trabalho coletivo e a práxis (ROMERO, 1998; OLIVEIRA et al., 2018),
são essenciais nos processos de pesquisa, ensino e aprendizagem que tenham
como objetivo o desenvolvimento da sustentabilidade nos processos de produção
agrária e de vida rural (FREIRE, 2015). Portanto, o presente trabalho tem o objetivo
de relatar a experiência vivenciada por estudantes das Turmas Especiais de
Medicina Veterinária (TEMV), com a colaboração de profissionais, pós-graduandos
e professores da medicina veterinária, no desenvolvimento de um método para
avaliação permanente da produção e evolução da pastagem manejada em sistema
de PRV.

2. METODOLOGIA
O projeto de PRV, implementado no Centro Agropecuário da Palma (CAP)
é constituído pelo total de oito hectares, sendo destes, cinco já divididos em
parcelas de 1.200 m2, pastoreadas por 24 animais. O manejo é conduzido por um
grupo gestor, composto pelos integrantes do projeto, que se divide em: frentes de
trabalho, coordenação e secretaria.
A partir dos princípios colocados por VOISIN (1971), e das projeções
realizadas em coletivo para os passos seguintes do projeto e seus objetivos,
verificou-se a necessidade de desenvolver um método de avaliação permanente da
evolução da pastagem. Tal atividade, que dialoga com pesquisa, ensino e
futuramente extensão, é relevante no que diz respeito a evolução do próprio
sistema, sendo ele focado em manejo de solo e forragem. Assim, foi feita uma
revisão bibliográfica narrativa (ROTHER, 2007) nas plataformas Scielo, periódicos
CAPES e Google Acadêmico com as palavras-chave: método, avaliação, Pastoreio
Racional Voisin, pastagem e bioma Pampa. Também foram estudados referenciais
teóricos indicados por pós-graduandos e professores integrantes do projeto. Além
disso, foram realizadas visitas à campo, na área do projeto, para observação e
reflexão sobre a atual dinâmica da pastagem na área, bem como reuniões de
planejamento e divisão de trabalho, debates, conversa com professores da
temática, escrita e estudo individual e coletivo (ROMERO, 1998; FREIRE, 2015;
OLIVEIRA et al., 2018). Após a construção de um modelo de método, o mesmo foi
posto em prática para experimentação e ao fim realizou-se uma reunião para
avaliação do processo e do método em si, guiados pelas perguntas “O que foi
bom?”, “O que foi desafiante?” e “O que fica de sugestão?” (SIPES, 2017).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O método experimentado se constituiu de técnicas de avaliação em


pastagem a partir do método quantitativo direto e indireto (RAMOS, 2021).
Consistiu em dividir a área total do PRV, já implementado, a partir de estimativa
visual, com uma classificação por produção de pasto em uma escala de três blocos,
sendo: bloco 1 constituído pelas parcelas de menor produção forrageira; bloco 2
com produção intermediária e bloco 3 com áreas de maior produção forrageira. Foi
escolhida, de maneira aleatória, uma parcela de cada bloco para a fixação de seis
pontos de amostragem. Cada ponto fixo de amostragem com 2x2 m foi subdividido
em quadrantes menores de 1 m2, denominados de A, B, C e D, no sentido Norte-
sul (EMBRAPA, 2006). Antes da entrada dos animais nas parcelas escolhidas, 1
m² de pasto, dentro do quadro A, foi cortado com auxílio de tesoura de jardinagem
a uma altura de cinco cm do solo, em cada um dos seis pontos fixos de
amostragem. As amostras foram pesadas em balança digital (Sf 400® alta precisão
eletrônica), para obtenção do peso em Matéria Verde (MV) e agrupadas por
parcela, estimando também a oferta de forragem nas mesmas. Em seguida, foram
secas em estufa (MARCONI®) à 60º C por 24h (SILVA & QUEIROZ, 2005) e
pesadas para obtenção do peso em Matéria Seca (MS). Após o pastoreio da
parcela avaliada, o quadro C foi então coletado e também mensuradas MV e MS,
agrupadas por parcela, determinando assim o consumo de forragem em cada
parcela, através da diferença nos pesos entre o pré e pós pastoreio.
Nos quadros B e D foi realizada a análise de diversidade de espécies por
contraste antes e depois do pastoreio, respectivamente, com identificação das
espécies predominantes bem como a altura do dossel, medida com uma trena. O
levantamento de espécies predominantes foi realizado após a identificação
botânica das forragens, por amostra e por parcela. A proposta de sequência para
as avaliações é que se realize as coletas nos pontos fixos a cada ciclo de pastoreio,
para acompanhamento da evolução ao longo do tempo, já que, conforme
MACHADO (2010), em PRV se verifica a lei da fertilidade crescente, a qual
determina que a fertilidade do solo, quando manejado sem agressão e com técnicas
que estimulem a biocenose, é crescente indo a limites ainda não identificados.
Diferentes estudos vêm sendo realizados aplicando diversos métodos de
acompanhamento do pasto em PRV. Em seu experimento MARTINS (2021),
também se baseou no método do quadrado, porém sua análise se voltou para as
espécies de plantas sobre semeadas, realizando análise bromatológica das
mesmas e comparando os resultados com o hábito de pastoreio das vacas e com
as características físico-químicas do solo. Outro estudo, realizado por LENZI
(2003), comparou o ganho de peso animal, através da pesagem no início e final do
experimento, com a produção de massa de forragem em MV e MS por área entre
os sistemas de pastejo contínuo e PRV. O mesmo encontrou resultados que
evidenciam maior produção de MS e ganho de peso dos animais em PRV. Nesse
sentido, essa correlação entre ganho de peso e oferta de forragem é interessante
para qualificar o acompanhamento do arranjo do complexo-solo-planta-animal
(MACHADO FILHO et al., 2012).

4. CONCLUSÕES

A partir da avaliação realizada ao fim do processo, se concluiu que a produção


de conhecimento através da práxis, explorar habilidades como a sensibilidade, a
observação, o diálogo e a resolução de problemas e exercitar a autonomia, são
desafios que viabilizam uma formação integral. Além disso, convidam a interpretar
a complexidade e expressar a criatividade de maneira coletiva, possibilitando o
sentimento de pertença do grupo ao projeto de PRV bem como desenvolver o
senso de responsabilidade coletiva. Também se elaborou projeções para as
próximas etapas do desenvolvimento do método, que envolvem entre outras
coisas, organizar um cronograma da parte prática, um checklist de ferramentas
para trabalho a campo e a realização de mais estudos em grupo. Ademais, fica a
demanda de uma abordagem sistemática sobre os elementos a serem avaliados
nos quadrantes de cada ponto fixo. Ainda, levar em consideração o possível efeito
da saliva do animal sobre o rebrote, as medições de altura específicas para cada
espécie analisada e, incluir na coleta dos dados, informações sobre análise do solo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Circular


Técnica 84: Métodos de amostragem para avaliação quantitativa de pastagens.
Porto Velho: EMBRAPA, 2006.

IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Em 2021, o


rebanho bovino bateu recorde e chegou a 224,6 milhões de cabeças. Rio de
Janeiro: Agencia IBGE notícias, 2022.

MACHADO FILHO, L. C. P.; OLIVEIRA, A. G. L.; HONORATO, L. A. Pastoreio


Racional Voisin: Manejo Sustentável de Pastagens. ANAIS DA 49º REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA. Brasília, p. 1-29, 2012.
FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 2015. 8º ed.

LENZI, A. Desempenho animal e produção de forragem em dois sistemas de


uso da pastagem: pastejo contínuo & Pastoreio Racional Voisin. 2003.
Dissertação (Mestrado)- Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

MACHADO, L. C. P. Pastoreio Racional Voisin: Tecnologia Agroecológica Para


o Terceiro Milênio. São Paulo: Expressão Popular, 2010. 2º ed.

MARTINS, J. Avaliação de pastagens consorciadas de inverno em sistema de


Pastoreio Racional Voisin (PRV) com diferentes adubações: produção e
qualidade da pastagem e comportamento animal. 2021. 49 f. Dissertação
(Mestrado)- Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2021.

MOREIRA, J. G.; CONTERATO, M. A.; MATTE, A. Transformações produtivas no


Pampa brasileiro. Revista Campo-Território, Uberlândia, v. 14, n. 33, p. 179-207,
2019.

OLIVEIRA, M. W. Lugares e intencionalidades no quefazer da pesquisa. In: CRUZ,


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MMA - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Campos Sulinos - conservação e


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RAMOS, B; CRUZ, N. T; PIRES, A. J. V; SOUZA, B. M. L; RODRIGUES, R. J;


FRIES, D. D; DIAS, D. L. S; BONOMO, P; RAMOS, B. L. P. Métodos de avaliação
em pastagens com ou sem animais. Pubvet, v.15, n.12, 2021.

ROMERO, N. F. Manejo fisiológico dos pastos nativos melhorados. Guaíba:


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ROTHER, E. T. Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paulista de


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