Você está na página 1de 4

Agentes de Riscos Químicos

DTL Documentação Técnica-Legal

INSALUBRIDADE DEVIDO USO DE ÓLEOS E GRAXAS MINERAIS.

Fonte: INSS - Manual de Aposentadoria especial – 2018

Par a discussão deste tema este manual reserva um item, no capítulo II – item 1.9.3 sobre
hidrocarbonetos. O centro da discussão é a associação da insalubridade e contabilização de tempo
especial para aposentadoria o potencial carcinogênico destes agentes químicos.

O item descreve a diferença entre hidrocarbonetos aromáticos e alifáticos e seus potenciais


carcinogênicos, descrevendo quando devem ser considerados insalubres ou não.

UFBA/NEEP/CEHO_Agentes de Riscos Químicos Prof Antonio Ribeiro


Agentes de Riscos Químicos
DTL Documentação Técnica-Legal

1. Contextualização_Hidrocarbonetos [HC]

São compostos orgânicos muito frequentes nos ambientes ocupacionais.

São originados do petróleo, xisto ou hulha, que fracionados ou por processos industriais levam ao
aparecimento de HC de cadeias pequenas ou grandes, fechadas (cíclicos) ou abertas, com ou sem anéis
aromáticos.

Os hidrocarbonetos aromáticos possuem cadeia carbônica fechada, apresentando pelo menos um anel
benzênico. Os alifáticos possuem cadeias abertas ou fechadas, sem anel benzênico.

Os HC com cadeias menores como os gases, solventes ou combustíveis formam vapores. Nos de cadeias
maiores, que contenham mais de nove carbonos, praticamente não são detectados vapores.

Existem HC aromáticos policíclicos (HAP ou PAH) cuja estrutura é formada por mais de um anel benzênico
(aromático) conjugado, como, por exemplo: pireno, criseno, naftaleno, fluoreno. As exposições ocupacionais
ocorrem por via respiratória quando na forma de aerossóis (particulados) e mediante absorção pela pele se
presente em líquidos (óleos). São fontes ocupacionais: fornos de coque, produção de eletrodos de grafite, de
alumínio (metal primário), pavimentação de rodovias com asfalto (piche), impermeabilização de telhados,
fabricação e manuseio de creosoto, tratamento e manuseio de dormentes de ferrovias tratados com creosoto –
usado para preservar madeira, óleos industriais residuais que contenham Hidrocarbonetos Aromáticos
Polinucleados – HAP. Entre vários compostos presentes nos HAP o benzoapireno é um marcador de sua
presença e pode ser usado como indicador do teor de HPA num produto.

A maioria dos HAP podem ser cancerígenos (pele, pulmão), podem causar efeitos mutagênicos, efeitos
adversos para reprodução humana ou dermatite por sensibilização.

As frações mais pesadas do petróleo, xisto ou hulha, com mais de quinze carbonos na cadeia, são ricas em
HAP.

Os óleos não refinados (mais antigos) contêm HAP e podem levar ao câncer de pele. Por isso, os óleos
minerais precisam ser altamente purificados para que contenham a mínima quantidade possível de HAP. O
óleo diesel contém HAP, enquanto que o Querosene não contém HAP. Em condições ambientais o óleo
diesel e o querosene não geram vapores, podendo gerar névoas. Para classificação de óleos minerais como
potencialmente carcinogênicos existe um teste chamado DMSO (dimetilsulfóxido), Método IP 346, que
quantifica compostos poliaromáticos por extração com solvente DMSO. De acordo com o Conservation of
Clean Air and Water in Europe – CONCAWE óleos com resultados da extração em DMSO com peso maior
que 3% (três por cento), devem ser comercializados com a advertência de que se trata de produtos
potencialmente carcinogênicos. Se o teor no óleo for menor que 3% (três por cento) não é insalubre e não
é cancerígeno. As graxas só terão HPA se houver nelas óleo com IP acima de 3% (três por cento). Quando a
NR-15 foi editada em 1978, possivelmente todos os óleos minerais continham HPA e eram cancerígenos.

Os HPA não constam no Anexo 11 da NR-15 e, portanto, a avaliação é qualitativa nas atividades mencionadas
no Anexo 13: manipulação de alcatrão, betume, antraceno, óleos minerais (se cancerígenos) ou outras
substâncias cancerígenas afins; operações com benzoapireno (puro ou contaminado com ele). Como exemplo
de avaliação, observa-se que nos Estados Unidos da América - EUA, conforme a ACGIH não há indicação de
limite de tolerância para os HPA, mas se recomenda que as exposições sejam controladas a níveis o mais baixo
possível. Há hidrocarbonetos na faixa de C5 a C15 (cadeias contendo de cinco a quinze carbonos) contendo
alifáticos, cicloalifáticos saturados e aromáticos, excluídos os HAP, que são denominados de Nafta. São naftas,
por exemplo, a gasolina, aguarrás, querosene. Outros produtos frequentes nos processos industriais são os

UFBA/NEEP/CEHO_Agentes de Riscos Químicos Prof Antonio Ribeiro


Agentes de Riscos Químicos
DTL Documentação Técnica-Legal

fluidos de usinagem que servem, principalmente, para lubrificar superfícies ou pontos de contato entre a
ferramenta de corte e a peça de matéria prima. Os nomes mais usados para os diferentes fluidos são: óleos puros
(antes continham HPA), emulsionados, sintéticos e de usinagem (refrigerantes e para trabalho em metal). Nos
anos 80 houve aumento da frequência de câncer de laringe, dermatoses ocupacionais e distúrbios respiratórios
relacionados ao uso desses fluidos. A partir de 1990, houve aumento do uso de fluido à base de água e fluido
químico e começaram a surgir casos de pneumonite por hipersensibilidade.

O grau de carcinogenicidade vai depender do grau de refino (Teste IP 346 > 3% de HAP no extrato em dimetil
sulfóxido – DMSO = potencialmente carcinogênico):

I - óleo pobre ou moderadamente refinado: carcinogênico humano suspeito; e

II - óleo altamente ou severamente refinado: não classificado como carcinogênico humano.

Os solventes voláteis, quando evaporam, produzem vapor que se torna parte do ar inalado. Podem, portanto, ser
absorvidos pela via respiratória, caracterizando a exposição que pode ser mensurada através das medições
ambientais e comparada com os limites de tolerância existentes.

Porém, alguns agentes, de acordo com suas propriedades físico-químicas, podem ser absorvidos também pela
pele o que, sem a devida proteção, pode estender seus efeitos aos tecidos mais profundos e promover efeitos
sistêmicos. No entanto, é importante saber que quando a exposição por meio da pele é relevante, certamente a
exposição por inalação já terá ultrapassado em muitas vezes o limite de exposição por via respiratória, se o
trabalhador não usar proteção adequada.

Assim, numa descrição consistente de exposição respiratória aos solventes aromáticos voláteis (tolueno, xileno),
mesmo havendo contato direto com a pele, a exposição respiratória é mais importante.

No reconhecimento de períodos de trabalho considerados especiais, os solventes aromáticos que tiverem limites
de tolerância estabelecidos no Anexo 11 da NR-15 (quantitativo) e que também estão citados no Anexo 13
(qualitativo), poderão ser analisados de acordo com um dos dois critérios, conforme esteja descrito na
demonstração ambiental, o modo de exposição e o período em análise.

UFBA/NEEP/CEHO_Agentes de Riscos Químicos Prof Antonio Ribeiro


Agentes de Riscos Químicos
DTL Documentação Técnica-Legal

2. Conclusão

a) na avaliação desses agentes químicos é necessária inicialmente a caracterização da composição do óleo ou


graxa, pois a exposição a alguns óleos pode constituir sério risco carcinogênico enquanto a outros,
altamente refinados, solúveis, com emulsificante, não haver riscos carcinogênicos;

b) no caso das graxas, o que pode conferir-lhes característica carcinogênica são os ingredientes do óleo usados
para preparar a graxa;

c) os óleos minerais são constituídos de mistura complexa de uma grande variedade de substâncias,
principalmente hidrocarbonetos de elevado peso molecular, podendo tanto ser alifáticos (hidrocarbonetos de
cadeias abertas ou fechadas – cíclicas – não aromáticas) como aromáticos (apresentam como cadeia
principal anéis benzênicos);

d) somente serão considerados agentes caracterizadores de período especial, aqueles que possuírem
potencial carcinogênico (presença de compostos aromáticos em sua estrutura molecular). Assim, sabe-se
que os óleos altamente purificados não têm potencial carcinogênico e podem ser usados inclusive em
medicamentos ou cosméticos;

e) óleos minerais contendo hidrocarbonetos policíclicos aromáticos são considerados potencialmente


carcinogênicos e, por essa razão, estão relacionados no Anexo 13 da NR-15, aprovada pela Portaria nº 3.214,
de 1978, do MTE para análise qualitativa;

f) existem métodos para classificar os óleos minerais potencialmente carcinogênicos e o não carcinogênicos.
Porém, as fichas dos produtos podem não conter tal informação e por isso há o entendimento frequente e
equivocado de que o contato direto da pele com quaisquer óleos minerais seja cancerígeno. Para buscar
tais informações pode-se recorrer à Ficha de Informações de Segurança do Produto Químico – FISPQ e/ou
bibliografia especializada; e

g) o manuseio ou manipulação de óleo mineral onde haja contato com a pele está previsto no Anexo 13 da NR-
15. Entretanto, até 5 de março de 1997, não poderá haver reconhecimento do período como especial, vez que
não está previsto o enquadramento por contato com a pele no Decreto nº 53.831, de 1964. Vale ressaltar que,
atualmente, a grande maioria dos óleos minerais são sintéticos, portanto, sem potencial de nocividade.

UFBA/NEEP/CEHO_Agentes de Riscos Químicos Prof Antonio Ribeiro

Você também pode gostar